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Resumo
SPH é um método numérico versátil e frequentemente utilizado para resolver problemas
de dinâmica dos fluidos. Este relatório o usa para encontrar resultados na análise de dois
desses problemas. Como um estudo de caso, analisa-se o escoamento de Couette-
Stokes, que ocorre num fluido inicialmente estacionado entre duas placas planas infinitas
paradas, e que inicia seu movimento após uma delas adquirir velocidade. Os resultados
obtidos são comparados pelos determinados analiticamente e por outro método numérico,
o MDF. Após descrever esse problema, este trabalho também denota os cálculos e
obtenção dos esforços gerados por um fluido que encontra-se no interior de um
reservatório em suas paredes, por meio do SPH, e estuda os erros e correções desses ao
compará-los com os resultados analíticos desses esforços. São feitas explanações de
como foram aplicados cada método em ambos os problemas, e conclui-se que o SPH é
adequado para a resolução de questões dessa natureza, por apresentar resultados com
baixa discrepância em relação aos analíticos.
1. INTRODUÇÃO
Os métodos numéricos são ferramentas úteis a pesquisadores e engenheiros, pois
possibilitam a solução de problemas analíticos complexos de maneira relativamente mais
simples. Neste sentido, métodos numéricos clássicos, como o Método das Diferenças
Finitas (MDF), cumprem o papel de, além de resolver problemas, ajudar alunos de
graduação na compreensão de problemas complexos. No entanto, o MDF é apenas mais
um método numérico em meio a vários, inclusive frente a métodos numéricos com
filosofias completamente diferentes do tradicional. Os métodos sem malha, por exemplo,
apresentam discretização do domínio em partículas, devido à sua abordagem
Lagrangiana. O método SPH (Smoothed Particle Hydrodynamics) foi criado por Joseph
Monaghan, Leon Lucy e R. Gingold, em um primeiro momento para análise de problemas
em astrofísica. Basicamente, nele divide-se o objeto de estudo (sólido ou fluido) em nós,
de tal modo que é feita a discretização dos elementos que o compõem. Esses nós
interagem entre si, segundo restrições de vizinhança, isto é, apenas os mais próximos
podem transferir propriedades físicas uns para os outros. Essas propriedades podem ser
relacionadas à temperatura, velocidade, aceleração, etc. Por isso, ele é um método muito
abrangente e que é utilizado em inúmeros problemas físicos diferentes. Por ser um
método eficaz na área de dinâmica dos fluidos, o SPH será utilizado para determinar a
força resultante em uma fronteira plana, submersa. Por se tratar de um problema
bidimensional e mais difícil de implementar, será resolvido, como um estudo de caso, o
escoamento de Couette transiente, já que se trata de um problema unidimensional.
1.1 Objetivos
O principal objetivo desse trabalho é avaliar o desempenho do método numérico SPH em
problemas de dinâmica dos fluidos, no que tange a facilidade de implementação e
obtenção da solução. Para isso, aplica-se o SPH para calcular a força resultante em uma
fronteira submersa considerando o líquido em repouso e na obtenção do perfil de
velocidade do Couette transiente unidimensional. Em relação ao estudo da força
resultante em uma comporta, os resultados do SPH serão comparados com a solução
analítica e o erro relativo, calculado. Além disso, emprega-se uma avaliação dos
parâmetros numéricos nas forças calculadas. Já em relação ao perfil de velocidade do
Couette transiente unidimensional, tenciona-se avaliar se os resultados fornecidos pelo
SPH são compatíveis com os resultados do MDF e, desse modo, verificar o
comportamento do perfil de velocidade do líquido escoante.
2. METODOLOGIA
2.1. Estudo de caso: Escoamento de Couette transiente
Este relatório compara os resultados dos métodos MDF e SPH quando aplicados em um
problema clássico da mecânica dos fluidos, conhecido como escoamento de Couette em
regime transiente. Ele consiste na vazão de um fluido que encontra-se entre duas placas
planas infinitas nas direções do seu plano e que estão inicialmente estáticas com
velocidade nula. No primeiro instante de análise, a placa superior adquire velocidade
diferente de zero e, por viscosidade, transfere quantidade de movimento para o fluido, que
também inicia seu movimento. Após intervalos de tempo diferentes, o perfil de velocidade
desse fluido deve demonstrar comportamentos distintos, de tal modo que ele venha a
convergir para uma reta em um tempo que tende a infinito. Os dois métodos utilizados
para a análise devem apresentar resultados semelhantes e compatíveis, porquanto
ambos são métodos eficazes e que são confiáveis para representar um escoamento
nessas condições em casos reais. Inclusive, a solução encontrada pode ser aplicada em
problemas da engenharia como nos escoamentos em reatores químicos, mancais e na
perfuração de poços de petróleo e gás.
Figura 2.1 Placas planas paralelas. A placa de cima apresenta velocidade constante V.
Fonte: próprio autor.
O estado inicial do problema descrito está evidenciado na figura 2.1. A partir da análise
desse problema com simplificação da equação de Navier-Stokes, encontra-se a igualdade
expressa na equação 2.1:
∂v x ∂2 v x
=ν . (2.1)
∂t ∂ y2
A variável vx é a componente da velocidade na direção x, e ν é a viscosidade cinemática.
Nesse trabalho, a equação 2.1 será resolvida por meio de dois métodos, detalhados a
seguir.
2.1.1. SPH
Para determinar resultados de problemas que envolvem a transferência de propriedades
físicas entre partículas, o SPH é considerado eficaz na maioria dos casos. Ele consiste na
interpolação de uma função por meio de uma integral de convolução, que pode ser
descrita do seguinte modo:
A I (r )=∫ A(r ') W (‖r−r '‖, h) dr ' . (2.2)
sendo que A corresponde à função da qual procura-se resultados, W é chamado de
kernel ou núcleo de suavização e dr’ é um elemento diferencial volumétrico. De acordo
com a equação 2.2, à medida que W tende a uma função Delta, a exatidão da
interpolação aumenta. Nesse caso, o kernel tem a propriedade de tender a Delta quando
h, que é o parâmetro relacionado ao raio do núcleo de suavização de W e que controla a
região de influência da partícula, tende a zero.
Para facilitar os cálculos, essa integral é aproximada pelo somatório das contribuições de
cada partícula que compõe o corpo ou fluido em análise (equação 2.3). Baseado em
Monaghan (2005), para o problema de uma dimensão, considerou-se, para o
comportamento de cada partícula, as perturbações causadas apenas por quatro de suas
vizinhas, duas de cada lado, pois as que estão a uma distância maior têm influência
desprezível nos resultados. A figura 2.2 ilustra esse problema.
Figura 2.2 Exemplo simples de como as partículas podem ser dispostas na direção y para
analisar o escoamento. Na imagem, o comportamento da partícula preenchida de preto é
o observado. Fonte: próprio autor.
Ab
A ( r )=∑b m b W (‖r a−r b‖,h) , (2.3)
ρb
sendo que ρ é a massa específica e m é a massa da partícula.
A primeira derivada dessa equação recai diretamente sobre o núcleo de suavização e a
segunda derivada, já aplicada na equação 2.1, é mostrada na equação 2.4. Esta foi obtida
por meio da combinação do SPH com o MDF, e foi resolvida numericamente por meio do
método de integração de Runge-Kutta de segunda ordem.
dv x 4 mb μ a μ b
=∑ b .( v −v )(F ab) . (2.4)
dt ρa ρb (μ a + μb ) xa xb
sendo que μ é a viscosidade dinâmica e Fab é uma função escalar cujo valor é obtido de
acordo com a equação 2.5:
r ab ∇ W ab
F ab= . (2.5)
r +(0,01 h)2
2
ab
2.1.2. MDF
O método das diferenças finitas é utilizado para solucionar equações diferenciais por meio
da aproximação dos seus termos pela expansão deles na série de Taylor. Para o
escoamento a ser estudado, um caso específico da equação de Navier-Stokes que
configura uma equação diferencial parcial foi alvo desse método. Com base nos estudos
de Burden e Faires (2001), a partir da expansão de funções em séries de Taylor, obtém-se
uma expressão do que seria a derivada de f(x), de acordo com o estabelecimento de
relações entre as expressões a seguir:
f ' ' ( x)Δ x 2 f ' ' ' (x)Δ x 3
f (x+ Δ x)=f (x )+ f ' (x ) Δ x+ + +… , (2.6)
2 6
v n+1 n
x ,i −v x ,i vnx , i+1−2 vnx , i +v nx ,i−1
Δt
=ν ( Δy ) . (2.14)
Isolando-se vx,in+1:
νΔt n νΔt n
n+1
v x ,i =
Δy
n
(
2 ( v x , i+1 +v x ,i −1 ) + 1−2
Δy
2 vx,i). (2.15)
Diferente da primeira parte deste relatório, o problema possui duas dimensões, o que
implica um aumento na sua complexidade. De qualquer forma, o raciocínio permanece o
mesmo, e as mudanças são mais percebidas na forma de retratar a geometria desse
problema.
O próximo passo é calcular a pressão hidrostática em cada partícula desse fluido, por
meio das fórmulas analíticas já conhecidas na mecânica dos fluidos. Com base nesses
valores encontrados, determina-se numericamente a pressão nas paredes do
reservatório, por meio da equação 2.16, encontrada no artigo de Oger (2006).
P(r )=∑b P b W (‖r a −r b‖, h)ωb , (2.16)
sendo que ω é o elemento diferencial de volume da partícula b e P sua pressão. Note que
a equação 2.16 nada mais é do que a aplicação da equação 2.3 para a pressão P, uma
vez que ωb = mb / ρb. O último passo é calcular a força por unidade de largura, segundo a
equação 2.17:
F=∑ P i dx (2.17)
i
3. RESULTADOS
3.1. Estudo de caso: Escoamento de Couette transiente
Na figura 3.1a-d, explicita-se comparativamente os valores encontrados por meio de cada
método, inclusive o analítico, para o perfil de velocidade no Couette transiente. Neste
relatório, quatro entradas de tempo foram usadas para observar os comportamentos da
velocidade segundo cada método.
O MDF e a solução analítica coincidem identicamente em todos os casos. Já o SPH
possui um comportamento muito semelhante aos outros dois, porém há uma discrepância
visível entre eles. Isso ocorreu, provavelmente, devido às condições de contorno
utilizadas no SPH.
Investiga-se a força por unidade de largura nas três fronteiras da figura 2.3: vertical,
formada pelos pontos (0, H) a (0, 0); horizontal, formada pelos pontos (0, 0) a (L, 0) e
inclinada, formada pelos pontos (L, 0) a (L + H / tan(θ), H) e com índice 3. Para
determinar o erro relativo de cada fronteira (equação 3.1), cria-se um índice para cada
fonteira: 1 para vertical (Er1), 2 para horizontal (Er2) e 3 para inclinada (Er3).
Dois parâmetros numéricos e um físico foram variados para verificar as suas influências
nos resultados e seus erros. Na tabela 3.1, eles são denotados por dx, que é o
distanciamento entre as partículas, c, que corresponde ao coeficiente que determina a
região de influência de cada partícula (o comprimento de suavização do kernel) e θ, que é
o ângulo de inclinação da parede direita do reservatório.
dx (m) c (h/dx) Theta (graus) Er1 (%) Er2 (%) Er3 (%)
Parâmetros iniciais 0,25 1,20 75 0,14 0,14 45,34
1-Variando dx 0,2 1,20 75 0,14 0,14 48,03
0,1 1,20 75 0,14 0,14 50,98
2-Variando c 0,25 1,00 75 0,24 0,24 52,57
0,25 1,40 75 0,01 0,01 39,72
0,25 1,60 75 0,01 0,01 35,32
0,25 1,80 75 0,03 0,03 31,84
0,25 2,00 75 0 0 28,95
3-Variando theta 0,25 1,2 45 0,14 0,14 40,36
0,25 1,2 60 0,14 0,14 46,30
0,25 1,2 85 0,14 0,14 51,59
0,25 1,2 90 0,14 0,14 0,14
Assim, uma correção pode ser feita para que esse somatório resulte para todos os casos
em 1, evidenciada nos três passos descritos a seguir, pelas equações 3.2, 3.3 e 3.4.
Quando essa adequação é feita, os novos resultados numéricos encontrados se
aproximam muito mais dos analíticos – Er1 e Er2 se anulam, e o maior valor para Er3 é
de 0,24%.
W (‖r i−r j‖,h)=W ij , (3.2)
W ij
W c ,ij= N , (3.3)
∑ W ij
i
m
Pi=∑ P j W c , ij ρ j . (3.4)
j j
4. CONCLUSÃO
Em relação ao perfil de velocidade no Couette transiente, fica evidente que o método SPH
fornece resultados congruentes e compatíveis com a realidade, o que foi denotado pela
semelhança entre o comportamento mostrado pelo SPH e pelo MDF, juntos à solução
analítica. Além disso, é ideal para ser implementado computacionalmente, devido a sua
versatilidade.
Em relação ao cálculo da força nas fronteiras vertical, horizontal e inclinada da figura 2.3,
após o kernel sofrer uma correção para que se comporte como uma Delta de Dirac, o erro
percentual encontrado na comparação entre os resultados obtidos pelo SPH e por
cálculos analíticos torna-se pequeno, quase nulo. Por isso, é evidente que esse método
numérico é eficaz na solução do problema relatado.
5. REFERÊNCIAS
Burden, R. L.; Faires, J. D..Numerical analysis. 7. Pacific Grove. 2001.
Cleary, P. W.; Monaghan, J. J.; Conduction Modelling Using Smoothed Particle
Hydrodynamics. Clayton, Australia, 1999.
Monaghan, J. J.; Smoothed particle hydrodynamics, 2005.
Oger, G. Two-dimensional SPH simulations of wedge water entries. Nantes, França: 2006.