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Apesar do apoio real, Belchior encontrou dificuldades impostas pelo então

superintendente de todas as minas do Brasil, Dom Francisco de Souza. Mas,


com a morte de Dom Francisco em 1611 e o constante fracasso nas buscas das
riquezas minerais, a corte espanhola lembrou-se das promessas de Belchior de
que as minas por ele descobertas seriam capazes de calçar as ruas de Madri
com prata.  O então Governador-Geral do Brasil, Dom Luís de Souza,
recebeu carta do rei de Espanha instando que se contatasse Belchior Dias
Moreia. Na carta era garantida ao sertanista o foro de fidalguia, a
administração das minas e terras que pretendesse, contanto que informasse a
localização das minas e passasse a explorá-la o quanto antes.

Assim, em fins de 1617, o Capitão-Mor de Sergipe João


Mendes acompanhado de Cristóvão da Rocha, pessoa de destaque em
Sergipe e o Ouvidor Gaspar de Oliveira, em nome do Governador-Geral do
Brasil chegam à fazenda Jabibiry, para acertarem os detalhes da expedição
que levaria às minas. Belchior recebe a comitiva, mas, desconfiado, diz que só
revelará a localização das minas com a confirmação das vantagens ofertadas
pelo rei e não depois.  A confirmação real só viria em 1619. Alegando serem
tais concessões muito pouco em razão da imensidão de riquezas a ser gerada,
Belchior exigiu mais concessões, dentre elas a hereditariedade do foro de
fidalguia e da administração das minas, além de mais trinta léguas de terras
igualmente hereditárias, onde teria poder total sem necessidade de prestar
contas aos governadores-gerais, aos tribunais e juízes, além dos direitos de
instituir hábitos de cavaleiros de Cristo e apresentar párocos às freguesias dos
seus distritos. Tudo lhe foi concedido e depois de grandes preparativos a
comitiva composta do próprio Governador Dom Luís de Souza e do
Desembargador Francisco Fonseca Leitão, contando ainda com o capitães-
mores do Espírito Santo, Gaspar Allures de Siqueira e de Sergipe, João
Mendes e de um mineiro castelhano Fernão Gil, trazido do Peru
especialmente para essa entrada, partiu em meados de 1619, sob o comando
de Belchior que os levou até a Serra de Itabaiana.
Vista parcial da Serra de Itabaiana, onde, ainda hoje, muitos acreditam ser o local das
Minas de Prata de Belchior Dias
O técnico castelhano submeteu vários exemplares de rocha a testes sem
encontrar nenhum traço de qualquer tipo de metal precioso. Segundo relato do
próprio Governador em carta ao Rei Felipe II, Belchior ainda tentou oferecer a
localização de nova mina de grande rendimento próximo ao rio Real. Mas
entendendo que ele estava confuso e variava, Dom Luís de Souza ordenou o
retorno da expedição para São Cristóvão onde os exemplares de rocha foram
submetidos a novos exames, confirmando a inexistência dos metais preciosos.
Belchior foi então preso e conduzido para Salvador onde permaneceria
encarcerado até que as despesas com a expedição fossem repostas à Fazenda
Real. Para liberta-lo, sua família pagou a indenização, permitindo que
retornasse para sua fazenda onde, octogenário, morreria em 1622.

A história das minas de prata da Serra de Itabaiana, no entanto, não terminaria


aí. Segundo Maria Thétis Nunes, embasada em documentação de Vasco
Fernandes César de Menezes, Governador da Bahia em 1726, Belchior teria
encontrado na realidade minas de prata no interior da Bahia. Porém, sempre
desconfiado das promessas das autoridades metropolitanas, levou a comitiva
para a Serra de Itabaiana onde pretendia submete-los a prova. Com a
confirmação de suas suspeitas optou por não revelar a verdadeira localização
das minas. Esse pensamento levaria muitos outros sertanistas à procura das
Minas de Prata de Belchior Dias Moréia, não apenas na Serra de Itabaiana,
mas por todo o sertão sergipano e de partes da Bahia, criando todo tipo de
lenda sobre riquezas incalculáveis, que, por sua vez, levou a inúmeras
expedições organizadas nos anos e séculos a frente com o intuito de descobrir
o local exato das minas. Graças a essas expedições grande parte do interior do
estado sergipano foi explorado, auxiliando no melhor conhecimento de seu
território, na criação de novas rotas e novos pastos para o gado e de novos
núcleos de povoamento.

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