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Antonio Augusto Pereira Prates, Maria Ligia de Oliveira Barbosa

A EXPANSÃO E AS POSSIBILIDADES DE DEMO-

DOSSIÊ
CRATIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL

Antonio Augusto Pereira Prates*


Maria Ligia de Oliveira Barbosa**

Diante da expansão e diversificação recentes do sistema de ensino superior brasileiro, este artigo discute
as possíveis tendências à sua modernização e democratização. O artigo busca desenvolver questões fun-
damentalmente associadas aos valores socialmente atribuídos aos diplomas do ensino superior, principal-
mente na relação entre o domínio quase absoluto de uma visão patrimonialista sobre o ensino superior e
o esgarçamento dos conteúdos científicos e (ou) pedagógicos associados aos diversos diplomas. O patri-
monialismo aparece na preferência pelo bacharelado, em detrimento dos diplomas de licenciatura e tec-
nológicos, nas vocações socialmente marcadas, nos horários e turnos dos diferentes cursos e modalidades,
no desinteresse pelas áreas técnicas e na pedagogia do cultivo. Mais ainda, o patrimonialismo aparece na
dialética entre saberes e a força social dos diplomas. A possível instalação de um credencialismo radical no
Brasil permite analisar a relação entre o domínio patrimonial e a cultura profissional, indicando os limites
da democratização do sistema de ensino superior.
Palavras-chave: Ensino Superior. Credenciais. Cultura profissional. Patrimonialismo.

Por longos anos, o Sistema de Ensino Su- mou-se, no país, um complexo campo acadê-
perior (SES) no Brasil, como em todo o mundo, mico, desenvolvendo-se um sistema de ensino
foi claramente um espaço para socialização de superior relativamente ampliado e inclusivo.
uma elite mais preparada, distinta – pelo seu A matrícula desse sistema, em todos os seus
capital cultural certificado – dos mandantes níveis, passa de 1 milhão de estudantes em
e mandatários espalhados por todo o país. Se 1998 para, aproximadamente, 7,5 milhões em
as disputas entre os setores da elite permitem 2012, segundo o Censo do Ensino Superior do
a Simon Schwartzman (1987) opor os sabe- MEC. Tanto por essa expansão significativa da
res modernos aos tradicionais como recursos matrícula – que, mesmo assim, ainda nos dei-
utilizados nas disputas por poder, os estudos xa bastante distante dos níveis de participação

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de Octavio Dulci (1983; 2002) sobre os pactos atingidos em países desenvolvidos: 42% dos
das elites mineiras indicam que nem tão dis- jovens entre 18 e 24 anos nos Estados Unidos
tintas são as faces diferentes desse grupo. Já em 2011 (dados do National Center for Educa-
na primeira metade do século XX, doutores e tion Statisitcs) contra os nossos atuais 15,10%
coronéis se davam muito bem na organização e de matrícula líquida em 2012 – quanto pela
regulação da vida social. “Os donos do poder” implementação de diversas políticas institu-
conhecem as regras do jogo social e as estra- cionais, principalmente as cotas, verifica-se
tégias de convivência dentro desses quadros. uma entrada importante de estudantes negros
No entanto, nas últimas décadas, como e de oriundos das classes populares.
mostrou Carlos Benedito Martins (2006), for- Martins (2006 p. 1002) destaca o caráter
* Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Fi-
global desses processos:
losofia e Ciências Humanas, Departamento de Sociologia
e Antropologia. Uma das tendências centrais do ensino superior
Av. Antonio Carlos, 6627. Pampulha. Cep: 31270-901. Belo
Horizonte – Minas Gerais – Brasil aaprates@oi.com.br contemporâneo, em escala internacional, diz res-
** Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de peito à ampliação do seu acesso, fenômeno que se
Filosofia e Ciências Sociais, Departamento de Sociologia. iniciou a partir da segunda metade do século XX.
Largo de São Francisco 1. Centro. Cep: 20051070. Rio de
Janeiro – Rio de Janeiro – Brasil mligiabarbosa@gmail.com Um conjunto de fatores tem contribuído para esse

http://dx.doi.org/10.1590/S0103-49792015000200006 327
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processo, tais como a valorização do conhecimento Temos, então, um modelo de SES moder-
técnico e científico como um dos ingredientes cen- no e democrático? Essa seria uma questão es-
trais das sociedades modernas, pressões por direitos
sencial, como já foi sugerido no estudo mencio-
sociais, aspirações de mobilidade social por meio do
sistema educacional, por parte dos estudantes e de
nado de Carlos Benedito Martins e pelo texto
suas famílias, necessidade da aquisição de compe- de François Dubet, também neste dossiê. De
tências técnicas para enfrentar um mercado de tra- forma ampla, pode-se dizer que se trata de com-
balho cada vez mais instável e seletivo, transforma- preender a relação entre políticas que buscam
ções no conteúdo das profissões, trazendo de volta melhorar o coeficiente de igualdade de chances
para os bancos escolares uma população adulta e já
educacionais entre pessoas de estratos e grupos
integrada em atividades profissionais etc.
distintos na sociedade, e os critérios de equida-
Um ponto importante a anotar aqui seria de que permeiam essas políticas. Em processos
o fato de que o ensino superior deixa de ser, de expansão do sistema de ensino ancorados,
segundo Martins, voltado para sua tradicional inclusive, em diversas políticas públicas, como
e restrita clientela de elite e passa a incorporar foi o caso brasileiro, essa seria uma reflexão da
parcelas de alguns grupos que antes não pas- maior importância para qualificar de forma lú-
savam por essas instituições. O grande número cida e tornar menos ingênuas essas próprias po-
de alunos que são os primeiros de suas famí- líticas e a nossa compreensão das possibilida-
lias a chegarem a esse nível de ensino é uma des efetivas de democratização desse sistema.
evidência dessa incorporação. Essa discussão enquadra-se perfeitamente no
O mesmo estudo destaca ainda as ten- contexto brasileiro atual. Desde as políticas de
dências de retração do setor público e de ex- expansão do sistema público, passando pelas
pansão do setor privado, assim como uma am- políticas de cotas e de bolsas estudantis, como
pliação das funções das instituições do ensino muito bem mostra Dubet, é totalmente perti-
superior. Fenômeno que acontece no mundo nente a discussão da equidade para evitarmos
todo, esse crescimento foi acompanhado, no simplificações sociológicas que possam com-
caso brasileiro, de um processo intenso de dife- prometer os resultados dessas políticas.
renciação institucional: ao lado das tradicionais Mesmo fora do ambiente acadêmico, sur-
universidades, surge uma infinidade de centros gem questões importantes sobre um possível
universitários e faculdades isoladas, bem como sucateamento dos diplomas (o retorno da infla-
ção de diplomas, tão combatida por Bourdieu?),
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institutos de educação técnica ou tecnológica


em nível superior. Mais que isso, identificam- ou sobre a natureza excessivamente acadêmica
se novas formas de diversificação técnico-fun- (currículo muito extenso e pouco prático, bei-
cional: novos temas, áreas recém delimitadas rando a inutilidade no mercado de trabalho).
na divisão técnica do trabalho, especialidades Não faltam também as queixas sobre a incapa-
novas, abordagens diferenciadas. São novos cidade de formação da mão de obra qualificada
cursos, com nomes, objetivos e formas diferen- necessária num mundo do trabalho mais com-
tes dos que tradicionalmente compunham esse plexo e moderno. Os debates recentes sobre a
quadro. E, obviamente, surgem novos diplomas falta de mão de obra qualificada em algumas
ou certificados. A principal linha de diferencia- áreas, particularmente as engenharias, têm evi-
ção aparece nos três tipos de cursos possíveis. denciado algumas dessas mazelas.1
Permanece o bacharelado e especificam-se os Nesse quadro, reforça-se a questão sobre
cursos de licenciatura, que deixam de ser cons- os sentidos sociais atribuídos ao sistema de
tituídos de meras disciplinas complementares
1
A coletânea publicada pela Rede de Pesquisa Formação
aos bacharelados e se tornam cursos indepen- e Mercado de Trabalho, ABDI/IPEA, expressa bem esses
dentes. Também se desenvolve a alternativa de debates. Disponível em <http://redebrasileirademea.ning.
com/profiles/blogs/rede-de-pesquisa-forma-o-e-mercado-
formação superior tecnológica. de-trabalho-colet-nea-de>.

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ensino superior em suas novas condições, que crática portuguesa e seus prolongamentos no país
devem ser ainda melhor caracterizadas a partir abrem caminhos importantes de pesquisa, em ter-
mos de suas transformações, choques e conflitos
de abordagens sociológicas. Nosso artigo busca
com outras tendências também presentes, como as
desenvolver questões fundamentalmente asso- do capitalismo moderno e as derivadas da política
ciadas aos valores socialmente atribuídos aos de massas (Schwartzman, 2013, p. 210).
diplomas do ensino superior e que se expressam
de forma contundente na relação entre o domí- Acrescentaríamos, utilizando uma ex-
nio quase absoluto de uma visão patrimonialista pressão do próprio Schwartzman (1987), a
sobre esse sistema de ensino e o esgarçamento tendência de implantação dos “conhecimentos
dos conteúdos científicos e (ou) pedagógicos as- modernos” na universidade brasileira.
sociados aos diversos diplomas, mas também na Uma das características fundamentais
relação entre os formatos institucionais do ensi- da dominação patrimonial é o caráter persona-
no superior e as posições ou ocupações no mer- lista e casuístico das relações sociais, que se
cado de trabalho. Dessa forma, tentamos avançar oporia ao ordenamento moderno dessas mes-
na análise2 da expansão do ensino superior dei- mas relações, onde prepondera uma racionali-
xando de lado algumas perspectivas mais des- dade universalista e racional-legal. Nas formas
critivas e buscando construir uma abordagem tradicionais, prevalece a vontade do senhor.
propriamente analítica dos processos sociais Em sociedades modernas, dominariam as re-
constitutivos desse crescimento. gras (Campante, 2003), que tenderiam a ter va-
lidade o mais universal possível.
É interessante notar que, entre os pou-
Domínio dE uma visão patrimo- cos estudos na área de educação que recorrem
nialista no ensino superior ao conceito de patrimonialismo, essa forma
social aparece normalmente como entrave aos
São suficientemente significativos os processos de democratização em andamento
estudos sobre a força do patrimonialismo na (Mendonça, 2000, por exemplo). Reforçando
sociedade brasileira, mostrando seus efeitos essa ideia de que o patrimonialismo entrava a
sobre as práticas políticas e administrativas instalação de procedimentos democráticos na
que até hoje perduram no seu interior. Nes- gestão do sistema público de educação, busca-
te artigo, estenderemos um pouco o conceito mos, aqui, caracterizar e enfatizar alguns tra-

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de patrimonialismo para o espaço do ensino ços do patrimonialismo que seriam essenciais
superior. Obviamente, consideramos que as para o próprio funcionamento do ensino supe-
análises conhecidas e reconhecidas de Sérgio rior brasileiro.
Buarque de Holanda e Raymundo Faoro, assim
como aquelas de Schwartzman, permitem esse
tipo de extensão. OS TRAÇOS PATRIMONIALISTAS
Se, para Weber, o Patrimonialismo ex- NO SISTEMA DE ENSINO SUPERIOR
pressa uma forma tradicional de exercício da
dominação, na A preferência pelo bacharelado

[...] experiência brasileira, as análises de Faoro so-


bre o papel histórico da tradição patrimonial-buro- Traçar as linhas do que seriam as caracte-
rísticas patrimonialistas do nosso SES significa
2
Ver, a esse respeito, o livro organizado por Margaret Ar- delimitar aqueles atos e valores praticados regu-
cher (1982), em particular a introdução. Nesse trabalho,
a autora inglesa busca formular conceitos que possam larmente e distintamente nas instituições desse
efetivamente explicar os processos sociais envolvidos na sistema. As formas dominantes dos processos
expansão e desenvolvimento dos diversos sistemas de en-
sino superior em cada país. educativos na sociedade brasileira, as concep-

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ções mais fortes que definem o seu funciona- com mais de dois terços das preferências.
mento acabam se expressando nas práticas As possíveis razões para essas tendências
cotidianas dos atores do SES. É fundamental da abertura de cursos, por um lado, e das ma-
entender quais são essas regularidades no fun- trículas, por outro, são variadas, pois é possível
cionamento do SES e quais os seus efeitos sobre distinguir critérios e racionalidades distintas.
as trajetórias sociais distintas dos indivíduos As decisões de abrir novos cursos, quais cursos
que passam ou tentam passar por esse sistema. e o tipo de grau a ser conferido a eles são orien-
O primeiro desses traços seria a pre- tadas por lógicas diferentes daquela do indiví-
ferência ampla – tanto do ponto de vista do duo que procura se qualificar. A decisão desse
número de cursos quanto daquele de alunos último tanto pode ser orientada pelo desejo de
– pela formação nos bacharelados. Dos quase realização pessoal quanto por critérios instru-
30.000 cursos que funcionavam em 2010, mais mentais que visam a obter o maior rendimento
da metade (55,6%) eram bacharelados. possível do seu investimento na escolarização.

Preferências socialmente marcadas e horá-


rias dos cursos

Seria importante destacar também que


essas preferências pelo tipo de grau são bas-
tante marcadas do ponto de vista social: cur-
sos de licenciatura ou tecnológicos são – em
De outro lado, também se verifica que alguns casos, com fortes indicações de precon-
a evolução do número de matrículas por grau ceitos por parte tanto de famílias quanto de
acadêmico, entre 2001 e 2010, reafirma o pre- agentes do próprio sistema de ensino3 – “pre-
domínio dos bacharelados, apesar da entrada feridos” pelos alunos de origem mais modesta.
dos tecnólogos como uma alternativa crescen- Já o estudo de Braga et al (2001) indicava essa
te. Para que se possa ter uma ideia da amplitu- tendência para a Universidade Federal de Mi-
de desses números, em 2001
foram 3.036.113 matrículas e,
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em 2010, chegou-se a um total


de 6.379.298. As matrículas
nos cursos tecnológicos pas-
saram de 2,30% em 2001 para
12,25% do total em 2010. Já
a matrícula nos bacharelados
oscila entre 67,08% e 66,26%
no mesmo período. Conside-
rando os dados do Censo da
Educação Superior de 2013,
essa situação se acentua ainda
um pouco mais, pois os bacha-
relados assumem 67,50% das
matrículas e as licenciaturas 3 Há alguns anos, Alison Wolf cunhou uma frase que ca-
caem para 18,9% do total, sempre numa posi- racteriza perfeitamente esse tipo de perspectiva: Cursos
técnicos são excelentes soluções para os filhos dos outros.
ção de domínio dos bacharelados, que contam Ver o capítulo três de Wolf, 2001.

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nas Geral – UFMG, com um claro aumento da Mas, na medida em que se somam outras carac-
demanda para os cursos menos prestigiados e terísticas do modo de funcionamento do SES no
de licenciatura para alunos de grupos sociais Brasil, a distribuição dos alunos e cursos pelos
menos afluentes. Já para os alunos das classes diferentes turnos pode indicar a existência de
médias educadas, a escolha recaía principal- formas ou mecanismos que tornam menos fácil e
mente sobre os cursos muito prestigiados e menos adequada (ao tipo de vida desses alunos) a
com um número muito elevado de alunos dis- permanência de estudantes das classes populares
putando cada vaga. Como já havia sido indi- na universidade pública. É sempre bom lembrar
cada por Paul e Valle Silva (1998), a existência que estratégias sociais, como mostram estudos da
de cursos noturnos é um fator decisivo para escolha racional e de linha bourdieusiana, não
garantir a entrada e a permanência de estudan- são plenamente conscientes, seja pela ausência
tes de origem social mais modesta. Também de informações completas, seja pela marca da
no artigo de Braga et al (2001) e naquele de posição de classe na constituição do habitus, que
Zago, 2006, os horários de funcionamento dos tende a naturalizar uma determinada perspectiva
cursos superiores permitem aumentar efetiva- específica como sendo universal. Desse segundo
mente as oportunidades de acesso e perma- ponto de vista, o fato de entrar para uma universi-
nência dos alunos de classes populares. A esse dade de elite já é um ganho (certamente é), e o in-
respeito, as informações sobre os cursos notur- divíduo que consegue esse feito não se aprofunda
nos e diurnos, segundo a categoria administra- na relegação que é feita no interior dessa mesma
tiva da instituição, permitem avaliar o quanto instituição (os famosos excluídos do interior, de
se poderia esperar, nesse item específico, de Pierre Bourdieu), tanto pelos horários quanto
abertura efetiva do SES às classes populares. pelo desprestígio social das carreiras efetivamen-
Percebe-se nitidamente, nesses dados, te abertas aos menos afluentes.
que as universidades de elite, principalmente
as públicas federais, têm as menores proporções
de matrículas em cursos noturnos. Desse ponto Desinteresse pelas áreas técnicas
de vista pelo menos, parecem ser as instituições
privadas aquelas que oferecem maiores oportu- Esse domínio do bacharelado não poderia
nidades para a permanência dos estudantes mais ser tratado, em si mesmo, como um indicador
pobres. Obviamente, esse não é o único fator. da presença de uma visão patrimonial no inte-

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rior do sistema de ensi-
no superior. No entanto,
além da massiva pre-
ferência pelo título de
bacharel, o fato de que
a opção pelas licencia-
turas e pelos cursos tec-
nológicos seja feita pelos
estudantes originários
das camadas menos
afluentes da população
e que agora têm acesso
ao ensino terciário refor-
çaria o argumento patri-
monialista. Ainda que
as desigualdades entre

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os percursos escolares sejam uma característica gia do cultivo. Esse termo já foi cunhado clas-
de quase todos os sistemas de ensino (Barbosa, sicamente por Weber, que se referia a ela como
2012, Prates; Faleiro, 2014; Shavit, 1993, 1998; sendo a forma educativa do patrimonialismo, o
Brunello, 2007), sempre com maior prestígio e princípio da dominação tradicional. Análises
recompensa econômica para o ensino acadêmi- do discurso dos pensadores da educação brasi-
co e para o bacharelado, o caso brasileiro parece leira mostram a força dessa orientação, particu-
agregar dimensões quase senhoriais aos diplo- larmente entre aqueles ocupantes de posições
mas. Elas se traduzem, inicialmente, numa des- mais à esquerda no espectro político. Entre eles,
valorização das carreiras e dos trabalhos técni- a pedagogia do cultivo seria a orientação domi-
cos – como mostram, de forma bastante clara, nante, que se mostra particularmente enfática
os debates sobre a falta de engenheiros (Gusso; no desprezo sistemático pela formação técnica
Nascimento, 2011; Nascimento, 2014; Barbosa; e tecnológica, vista como mero adestramento. O
Zuccarelli, 2014) e outros profissionais qualifi- ideal, para qualquer tipo de atividade, inclusi-
cados nessa área. É interessante notar a dimi- ve trabalhos técnicos, seria a pessoa cultivada,
nuta proporção de formandos em engenharias que se distinguiria pela extensão da sua cultura
e ciências no Brasil (11,2%), diante do gigantis- geral. Assim, toma-se o homem culto do século
mo chinês (mais de 45%) e também da robustez XIX como o modelo do que deveria ser o indiví-
dos números da Organização para a Coopera- duo contemporâneo (Barbosa, 2010).
ção e Desenvolvimento Económico (OCDE) Esses importantes agentes da elaboração
ou da União Europeia (acima de 20%) (Gusso; de políticas públicas, inclusive para o ensino
Nascimento, 2011). Já na Fundação da Escola superior, partilham essa visão do mundo, que
de Minas de Ouro Preto, em 1876, faculdade de se propõe a ignorar a divisão técnica do tra-
engenharia em moldes modernos e arrojados, o balho, inclusive no campo científico. Desse
Imperador D. Pedro II foi “obrigado” a transferir ponto de vista, apenas importa a divisão entre
alunos do Rio de Janeiro para a instituição mi- quem concebe ou dirige o trabalho e aqueles
neira, visando a garantir o seu funcionamento. que o executam. Qualquer formação ou trei-
Os filhos das elites burocráticas e agrícolas de namento mais especializado é visto como um
Minas Gerais davam preferência aos cursos de anátema que deve ser extirpado, pois denigri-
Direito em São Paulo, Recife ou Coimbra. A en- ria o homem integral, tal como é entendido
genharia era um trabalho não muito valorizado nessa perspectiva. São propostas formações
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(Carvalho, 1976; Adorno, 1988). enciclopédicas e superficiais em detrimento


Obviamente, esse tipo de dado apenas de abordagens tecnicamente fundamentadas e
indica um padrão de valorização das diferen- conteúdos cientificamente trabalhados.
tes ocupações, característico de cada socieda- Poder-se-ia traduzir a pedagogia do cultivo,
de. Ao longo dos anos, a procura pelas enge- na forma brasileira atual, pela preferência explí-
nharias e por outras carreiras de perfil mais cita por generalidades supostamente cultivadas à
técnico ou científico é variável. No entanto, especialização competente (Barbosa, 2014).
parece prevalecer, entre os filhos das elites
brasileiras, um conjunto de noções pouco afei-
tas ao investimento nesses tipos de ocupações. Dialética entre saberes e a força social dos
diplomas

A pedagogia do cultivo Ainda como fator de caracterização do


patrimonialismo no SES brasileiro, pode-se
Outro traço patrimonialista seria a fortís- considerar a dialética entre o conteúdo dos
sima presença do que se denomina a pedago- saberes e dos conhecimentos e a força dos di-

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plomas. O domínio do título ou credencial pa- corrigir o problema da repetência (repetindo


rece separar-se do conteúdo técnico e mesmo algumas das políticas de promoção automática
de uma visão iluminista do mundo associada nos anos 1980) na disciplina Cálculo I, campeã
ao domínio do profissionalismo cientificista, absoluta de reprovações. Ao invés de buscar
e dos chamados “saberes modernos”. É como formas adequadas para o ensino de disciplinas
se os títulos e diplomas fossem relevantes não abstratas e complexas (Crato, 2006), propõe-se
pelo seu conteúdo em termos de conhecimen- que, nelas, não seja avaliado o aprendizado.
tos aprendidos, mas pelo fato de oferecerem Não importa que os alunos aprendam, e sim
direitos e poderes sociais a seus portadores. que obtenham os diplomas. Boa parte dos cur-
Obviamente, não se trata de dizer que um ad- sos de educação matemática e as etno-discipli-
vogado poderia substituir um cirurgião. No nas diversas funcionam dessa forma: recusa-se
entanto, boa parte das formações tecnicamen- aos alunos o direito de aprender em troca de
te distintas como física ou biologia acaba se lhes oferecer a dádiva do diploma (Barbosa,
abrindo para trabalhos não distinguíveis tecni- 2010; Crato, 2006).
camente (Ojala, 2008). Caberia perguntar se a Nesse quadro, a instituição escolar apa-
visão mencionada anteriormente – que prefere receria quase apenas como um mecanismo de
ignorar a divisão técnica do trabalho – produz legitimação da herança social através da diplo-
efetivamente profissionais pouco distintos, mação dos filhos das famílias mais afluentes,
que, mesmo assim, são absorvidos pelo mer- até em algumas universidades de qualidade,
cado de trabalho, ou se esses profissionais in- sem qualquer papel importante na transmis-
distintos apenas conseguem os espaços menos são de conhecimentos ou na preparação técni-
prestigiados desse mercado. ca para o trabalho. Nesse sentido, os diplomas
superiores teriam um valor fortemente posi-
cional. Claro que isso é bem sabido (Bertolin,
Um credencialismo radical no Brasil? 2011; Schwartzman, 2011), e uma possível
inovação da nossa análise seria associar o tí-
Particularmente nesse item, essa análise tulo posicional ao academicismo e ao patrimo-
aproxima-se muito de uma perspectiva radi- nialismo. Tudo somado e conduzindo a inefici-
calmente credencialista que, do nosso ponto ências do sistema.
de vista, seria exagerada. Em tal perspectiva,

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como mostra Bills (2004), os diplomas teriam
funções exclusivamente sociais e nenhum Limites de uma possível democratização
conteúdo técnico. Mesmo reconhecendo o va-
lor posicional atribuído à educação em nossa Em termos de análises sociológicas mais
sociedade, é possível ainda distinguir proces- qualificadas, aborda-se, aqui, uma questão im-
sos de formação profissional que geram identi- portante e bastante paradoxal, que poderia ser
dades sociais diferenciadas e, inclusive, cons- enunciada da seguinte forma: mesmo com uma
tituem-se em espaços para organização e ação engenharia institucional eficiente (do ponto
coletiva (Barbosa, 2003). No entanto, mesmo de vista da democratização das oportunidades
assim, o nosso SES parece, por vezes, dar mais educacionais), que conseguisse excluir total-
ênfase à credencial concedida que à formação, mente a dimensão ritualística da credencial
ao aprendizado e até mesmo a algum tipo de acadêmica no mercado de trabalho, deixando
mérito que pudesse estar associado à passagem somente sua dimensão indicadora de méri-
pela universidade. A valorização maior da cre- to, ainda assim não poderíamos pensar num
dencial que do seu conteúdo pode ser percebi- sistema democrático com igualdade de opor-
da, por exemplo, em políticas aventadas para tunidades na alocação de postos de trabalho.

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A EXPANSÃO E AS POSSIBILIDADES DE DEMOCRATIZAÇÃO...

Essa maior equalização das oportunidades não principais recursos legítimos para a conquista
ocorreria ainda assim, pois os próprios critérios e manutenção de posições sociais privilegia-
meritocráticos, como já sugeria Weber (1975, das, a definição das regras do jogo social, nes-
p. 240-241), podem expressar uma dimensão se campo, torna-se um componente crucial das
estamental do grupo que controla a elaboração relações de poder.
e a legitimação deles. Nesse ponto, recorremos
novamente a Margaret Archer (1982): usar a
educação como critério para alocar posições Domínio estamental, cultura profissional
na sociedade é certamente mais democrático
do que utilizar critérios adscritos, como a fa- O argumento, assim, vai mais longe e
mília de origem, a raça ou o sexo, tipicamente qualifica o tipo de domínio, especialmente
patrimoniais. Isso não muda o fato de o uso aquele existente no SES. Não é apenas uma va-
da escolaridade como critério ser expressão de lorização dos certificados escolares. É também
uma forma específica de dominação legítima, a instalação de formas específicas de perceber
no sentido clássico dado por Weber: trata-se da e organizar o mundo, marcadas pelo profissio-
probabilidade de adesão, em alguma medida nalismo e pelo cientificismo, tal como são defi-
voluntária, por parte dos dominados, às regras nidos em cada grupo que tem controle político,
de funcionamento do sistema de ordem social econômico e social sobre o SES. Ou seja, é o
(Weber, 1964). Nesse sentido, compreende-se domínio do certificado escolar com caracterís-
a valorização da escola, mesmo (em alguns ca- ticas estamentais dos grupos profissionais que
sos, principalmente) por aqueles que recebem controlam o SES. Assim, a perspectiva médica
tão pouco dela. E compreende-se o desprezo organiza a área de saúde, tanto nas formas da
de algumas aristocracias ou elites tradicionais divisão técnica do trabalho entre as diferentes
pelas formas modernas de conhecimento cien- especialidades médicas quanto nas hierarquias
tífico, base do domínio das profissões tal como entre os médicos e entre eles e os demais pro-
elas existem atualmente. fissionais da área de saúde. O mesmo acontece
Num estudo bastante recente e que com as áreas do direito ou da engenharia. Con-
mostra como o mundo tem se transformado siderando-se apenas as profissões imperiais
radicalmente pela importância dada à educa- (Coelho, 1999; Vargas, 2010), já se tem vasto
ção, principalmente aquela de nível terciário, material para entender o significado desses
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Baker (2014) argumenta que se produziu uma traços estamentais e seu impacto sobre o SES.
verdadeira revolução educacional. Essa revo- Este último se torna um campo (no sentido
lução teria criado uma sociedade que, em seus bourdieusiano do termo) onde se travam verda-
princípios de funcionamento e hierarquiza- deiras batalhas sobre qual deve ser o conteúdo
ção, seria definida pela educação. Numa abor- das formações diversas, quais as relações entre
dagem que talvez se aproximasse daquela de elas, quais as prioridades e os ordenamentos.
Raymond Williams e sua Long Revoluton (não Tomando como exemplo a preparação profissio-
mencionada no texto, no entanto), Baker des- nal dos professores, fica evidente o impacto das
taca inúmeras dimensões que se reorganiza- regras sociais e organizacionais do SES. Como
ram em função dos impactos da massificação demonstrou Schwartzman (2003), a formação
da escolaridade. O texto merece uma discus- de professores sempre foi relegada às partes
são mais detida. Entretanto, reforça o nosso menos prestigiadas desse sistema. Atualmente,
argumento do domínio da escolaridade ou da a mesma formação é feita nos cursos noturnos
educação certificada como elemento essencial de licenciatura nas universidades públicas ou
das formas sociais modernas. Na medida em nas licenciaturas em instituições particulares.
que o ensino superior se destaca como um dos Todos eles, ou quase, são destinados aos alunos

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que são os primeiros de suas famílias a ter aces- As desigualdades sociais a partir do SES
so ao ensino superior.4
Numa análise que foi objeto de debates A força dos títulos acadêmicos, ou do
importantes, Garry Stevens (1991) assumia viés acadêmico, parece ter também um efeito
claramente para a arquitetura, sua área de atu- de desqualificação da experiência e de outros
ação, os sentidos dessa atuação corporativa. títulos, valorizando os bacharelados em detri-
mento das licenciaturas e dos cursos tecnoló-
The basic idea is that architecture reproduces itself
through a formal system of education, which is pro-
gicos, como critério principal de hierarquiza-
perly located in universities. The state credentials ção social. Trata-se de uma expressão das di-
graduates, formally certifying them as competent, mensões patrimoniais que organizariam o do-
relying on professional proxies to monitor the qua- mínio estamental e profissional moderno num
lity of educational programs. Apart from teaching, sistema de ensino superior ainda marcado pe-
the academics also produce research or scholar-
las formas tradicionais de exercício do poder.
ship, which informs their teaching and increases the
knowledge base of the profession.5
Talvez a forma mais adequada de exame dessa
questão seja verificar como funcionam os fato-
Isso tudo indica que todo o sistema, res, tais como os diferentes tipos de diplomas
ainda que revestido de todos os parâmetros do ensino superior, e o tipo de instituição que
de igualdade e legitimidade, continua sendo emite esses diplomas na definição das posi-
afetado, em seu funcionamento, por critérios ções ou ocupações no mercado de trabalho.
alheios ao sistema meritocrático, como bem A contribuição da sociologia das orga-
tem demonstrado a literatura sociológica con- nizações para a análise da educação superior
temporânea sobre o nível de desigualdade do tem destacado o peso dos fatores “tipo de di-
acesso aos sistemas de ensino superior, devido ploma”, por um lado (se mais acadêmico ou
à fatores relacionados à origem social das pes- profissional), e tipo de instituição educacio-
soas. (Hout; Raftery; Bell, 2003; Lucas, 2001. nal que emite o diploma, por outro (se mais
Prates; Collares, 2015). São produtos sociais de profissional ou mais acadêmica). Prates (2007)
disputas estamentais. Mais democráticas, tal- tem insistido que o ambiente institucional
vez, mas certamente não neutras. Nesse sen- das organizações educacionais que emitem
tido, pode-se sugerir, com base na sociologia os diplomas pesa muito na determinação do
das profissões, que, mesmo considerando o di- “valor” do diploma. No Brasil, por exemplo,

Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 74, p. 327-339, Maio/Ago. 2015


ploma como credencial acadêmico-meritocrá- as instituições públicas oferecem um clima
tica, o controle social exercido pelo estamento acadêmico, como ambiente de aprendizagem,
profissional sobre os tipos de conhecimento que, independentemente do conteúdo progra-
por ele requerido o transformaria em recurso mático do curso, aumenta diferencialmente as
de poder social. No contexto brasileiro atual, habilidades profissionais dos seus alunos em
esse fato poderia ser visto como um possível relação às suas congêneres privadas. O estu-
retrocesso histórico pela revitalização, com do de Prates e Faleiros (2014), com dados da
roupagem nova, de um sistema credencialista Pesquisa Nacional por Amostra por de Do-
estamental típico do modelo da “velha” socie- micílios (Pnad), mostra, por exemplo, que os
dade patrimonial. egressos de cursos tecnológicos das institui-
ções públicas têm uma chance maior do que
os formados em instituições privadas de assu-
4
Os estudos incluídos no livro organizado por Heringer mirem postos de trabalho de maior prestígio
e Honorato (no prelo) dão excelentes indicações sobre o
modo de funcionamento e o público destinado aos cursos ocupacional. Mas, por outro lado, como sugere
de Pedagogia.
Barbosa (2010a), no Brasil, hoje, a credencial
5
Disponível em <http://www.archsoc.com/kcas/His-
toryed.html>. Acessado em 15/01/2015. vocacional do tecnólogo é socialmente desva-

335
A EXPANSÃO E AS POSSIBILIDADES DE DEMOCRATIZAÇÃO...

lorizada frente à do bacharel. Há, sim, um peso ção, produção e distribuição dos conhecimen-
importante, em termos de prestígio social, do tos científicos e técnicos. Isso pode ser tradu-
diploma de bacharelado de quatro anos relati- zido de duas formas. Primeiro, pelo efeito in-
vamente ao de curso tecnológico de dois anos, direto do aumento de capital social que esses
ou ate mais longo, independentemente do di- cursos oferecem, especialmente se associados
ferencial de conhecimento que cada um pos- ao formato institucional de uma instituição de
sa oferecer. É importante notar que os saberes pesquisa. Segundo, pelo efeito simbólico de
práticos, dominantes nos cursos de natureza status que os associa a uma característica rele-
vocacional ou tecnológica,6 são extremamente vante do estilo de vida das elites patrimoniais.
valorizados em empresas e mesmo pelos traba- De outra parte, entretanto, o bacharelismo está
lhadores. No entanto, as regras em torno das no cerne do dilema sugerido, de acordo com
credenciais e do seu uso no sistema produti- Weber, pelo processo de racionalização na so-
vo dão ênfase ao título de bacharel (Barbosa, ciedade ocidental. Nesse caso, caberia pergun-
2010). No estudo de Prates e Faleiros, men- tar se não seria o credencialismo uma resposta
cionado acima, quando é analisado o caso da ótima à demanda do sistema meritocrático re-
Universidade de São Paulo - Leste (USP-LES- querido pelo processo, generalizado na socie-
TE), percebe-se claramente que, embora todos dade, de burocratização racional-legal.7
os cursos oferecidos nessa instituição fossem Mas então, sendo assim, mesmo que o
de bacharelado com duração de quatro anos, diploma traga, como credencial, um conteúdo
o conteúdo desses cursos era tipicamente de técnico, esse conteúdo de conhecimento pode
natureza vocacional, voltado para preparação estar refletindo as demandas estamentais de fe-
de trabalhos específicos. Os próprios profes- chamento de acesso, e não as necessidades reais
sores sofriam as consequências emocionais de do processo tecnológico em questão. Questão
certa dissonância cognitiva: eles eram, em sua essencial para uma boa sociologia dos currícu-
grande maioria, jovens doutores, formados em los, ela demandaria estudos que saíssem das ge-
universidades de prestígio acadêmico e, embo- neralidades sobre o funcionamento de escolas
ra estivessem na USP, a melhor universidade subordinadas ao capitalismo para chegar às su-
brasileira, trabalhavam em uma escola “quase tilezas e especificidades das diferentes formas
vocacional”. Durante todo tempo da entrevista, de conhecimento (e ensino) em cada área.
esses profissionais faziam questão de enfatizar As dificuldades do sistema de ensino
Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 74, p. 327-339, Maio/Ago. 2015

que a missão deles, na instituição, era não dei- superior em acompanhar a evolução da divi-
xá-la perder o vínculo com a pesquisa básica, são técnica dos trabalhos, tornando-se incapaz
herdado da “instituição-mãe”, a USP-Butantã. de qualificar adequadamente para o mercado,
poderiam estar associadas ao domínio dessa
perspectiva, que, também, se ligaria às inefici-
Conclusões ências na produção de inovações e no registro
de patentes, já devidamente destacadas nos es-
O bacharelismo academicista constitui tudos de Guimarães (2011).
um fator determinante no sistema de apropria- Nesse quadro, a ineficiência social seria
mais destacada, diante do alargamento das po-
6
As definições de educação vocacional são muito varia- líticas de inclusão no sistema universitário: os
das. No entanto, no texto mencionado acima, Wolf (2001,
p. 58) oferece uma noção razoável. “ ‘Vocational education’
instead refers to courses for Young people which are of- 7
Obviamente, quando se fala aqui em burocracia e sistema
fered as a lower-prestige alternative to academic second- educacional, não estamos assumindo que essas sejam “for-
ary schooling, and which lead to manual, craft, and, more ças” estruturais objetivas que moldam o comportamento
recently, secretarial jobs. ‘Technical’ education slots into das nossas instituições. Nesse ponto, concordamos total-
the hierarchy above vocational and below academic, and mente com Collins quando enfatiza o conflito de interes-
leads, in theory, to the technician jobs which increased in ses e de ideologias como fonte primordial de colocação em
number during the twentieth century.” marcha dessas “forças” estruturais.

336
Antonio Augusto Pereira Prates, Maria Ligia de Oliveira Barbosa

novos grupos que conseguem entrar para um considerada, como já indicava Ferreira (2000),
curso superior seriam excluídos (do interior, uma expressão do domínio das classes médias
como diria Pierre Bourdieu,), seja pela desva- educadas sobre o sistema de ensino como um
lorização de alguns títulos, seja pela subordi- todo. Não se trata de ações conscientes, clara-
nação de carreiras e de tipos de formação. mente voltadas para a exclusão desses novos
A ineficiência social apareceria como grupos que chegam ao ensino superior. Seria
o resultado mais central do academicismo tal apenas a expressão das formas de perceber o
como ele se organiza no SES brasileiro. O Aca- mundo que estabelecem aquele problema clás-
demicismo apareceria como um retrocesso da sico da vida social: a perfeita racionalidade
forma de dominação, reafirmando o bachare- das escolhas individuais pode se combinar em
lismo ou patrimonialismo contra uma perspec- efeitos perversos coletivos, não desejados por
tiva mais técnica ou mais profissional. nenhum desses atores ou agentes. No caso, a
Embora analisando de uma perspectiva geração de um sistema de ensino superior que
distinta, o texto de Dubet, neste dossiê, des- é excludente, mesmo quando abre suas portas
trincha as várias dimensões imbricadas no fe- para grupos sociais antes ausentes. É quase
nômeno da democratização do sistema de en- como se esse sistema abrisse, ao lado da por-
sino superior nas sociedades contemporâneas, ta principal, uma série de entradas de serviço.
enquanto o nosso trata da questão do uso dos Que só dão acesso aos espaços subordinados.
diplomas como marca social de status, favore-
cendo os grupos sociais que podem monopoli-
Recebido para publicação em 15 de janeiro de 2015
zar o acesso a eles. Contudo, de uma maneira Aceito em 15 de março de 2015
geral, essa perspectiva pode ser incluída na
mesma temática da relação entre a credencial
do diploma escolar e os seus efeitos sobre a REFERÊNCIAS
mobilidade social através do mercado de tra-
balho. Coloca-se em pauta uma questão. Pode- ADORNO, S. Os aprendizes do poder. O bacharelismo liberal
na política brasileira. São Paulo, Paz e Terra, 1988, 202 p.
ria o viés acadêmico, ou o domínio de um ba- ARCHER, M. S. (ed.). The sociology of educational
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BAKER, David P. The schooled society: the educational
ao dar toda a força ao social, ao título e não ao

Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 74, p. 327-339, Maio/Ago. 2015


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diante do quadro que começou a ser esboçado mudanças. Salvador: EDUFBA, v.1, p. 67-101, 2010a

por Goldthorpe (1997), quando o autor inglês ______. Desafios da escola contemporânea: a formação do
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aponta as dificuldades para o funcionamento encontros da Rede PUC sobre Infância, Adolescência e
Juventude. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, p. 135-
de uma sociedade minimamente meritocrá- 155, 2010
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tema de ensino superior brasileiro possa ser de artigos, v. 4. Formação de Profissionais das áreas de

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A EXPANSÃO E AS POSSIBILIDADES DE DEMOCRATIZAÇÃO...

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338
Antonio Augusto Pereira Prates, Maria Ligia de Oliveira Barbosa

THE EXPANSION AND DEMOCRATIZATION L’EXPANSION ET LES POSSIBILITÉS D’ DE


POSSIBILITIES OF HIGHER EDUCATION IN DÉMOCRATISATION DE L’ENSEIGNEMENT
BRAZIL SUPÉRIEUR AU BRÉSIL

Antonio Augusto Pereira Prates Antonio Augusto Pereira Prates


Maria Ligia de Oliveira Barbosa Maria Ligia de Oliveira Barbosa

Given the expansion and diversification of Compte tenu de l’expansion et la diversification


the recent Brazilian higher education system, récentes du système d’enseignement supérieur au
this article discusses possible trends for its Brésil, cet article examine les tendances possibles pour
modernization and democratization. The article la modernisation et la démocratisation de ce système.
seeks to develop issues on the values socially L’article cherche à développer des questions associées
assigned to higher education diplomas. It focuses aux valeurs socialement attribuées à des diplômes
mainly on the relationship between the almost d’enseignement supérieur. Il analyse principalement la
absolute dominance of a patrimonial vision on relation entre la domination d’une vision patrimoniale
higher education and the fraying of scientific/ sur l’enseignement supérieur et l’effilochage du
or pedagogical contents associated with various contenu pédagogique et/ou scientifique associé
diplomas. Patrimonialism appears in the preference à divers diplômes. Le patrimonialisme apparaît
by BA at the expense of license and technological dans la préférence pour le diplôme académique au
diplomas; in vocations socially marked; in the détriment des certificats pour professeurs ou pour les
schedules and shifts of different courses; in the lack techniciens; des vocations socialement marquées; les
of interest on technical areas and in the pedagogy of horaires de différents cours; le manque d’intérêt par les
cultivation. Moreover, the patrimonial view appears domaines techniques; et de la pédagogie de l’homme
in the Dialectic of Knowledge and the Social Force cultivé. En outre, le patrimonialisme apparaît dans la
of diplomas. The possible installation of a radical dialectique entre la connaissance et la force sociale et
credentialism in Brazil allows for the analysis of the les diplômes. L’installation possible d’un “diplômanie”
relationship between patrimonial dominance and radical au Brésil permet d’analyser la relation entre la
the professional culture, indicating the limits of the domination patrimoniale et la culture professionnelle,
higher education system democratization. indiquant les limites de la démocratisation du système
d’éducation supérieures.

Key words: Higher Education. Credentials. Profes- Mots-Clés: Enseignement supérieur. Diplômes.
sional culture. Patrimonialism. Culture professionnelle. Domination traditionnelle.

Antonio Augusto Pereira Prates – Doutor em Sociologia e Política. Professor de Sociologia da

Caderno CRH, Salvador, v. 28, n. 74, p. 327-339, Maio/Ago. 2015


Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de
Sociologia e Antropologia. Trabalha principalmente nos seguintes temas: Sociologia das Organizações,
Instituições e Ação Coletiva, Burocracia Pública, Teoria Sociológica e Sociologia do Ensino Superior.
Publicações recentes: Natureza administrativa das instituições de ensino superior, gestão organizacional
e o acesso aos postos de trabalho de maior prestígio no mercado de trabalho. Sociedade e Estado (UnB.
Impresso), v. 27, p. 25-44, 2012; Ampliação do sistema de ensino superior nas sociedades contemporâneas
no final do sec. XX: os modelos de mercantilização e diferenciação institucional - o caso brasileiro.
Estudos de Sociologia (São Paulo), v. 15, p. 125-146, 2010; Redes sociais em comunidades de baixa renda:
os efeitos diferenciais dos laços fracos e dos laços fortes. Revista de Administração Pública (Impresso),
v. 43, p. 1118-1146, 2009.
Maria Ligia de Oliveira Barbosa – Doutora em Ciências Sociais. Professora Associada da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Departamento de Sociologia.
Coordenadora do LAPES (Laboratório de Pesquisa em Ensino Superior/UFRJ/CNPq). Tem experiência
na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Educação, atuando principalmente nos seguintes
temas: desigualdades sociais, hierarquias sociais e profissões, políticas educacionais. Vice-Presidente
para América Latina do RC04 – Sociology of Education – da International Sociological Association
(ISA) 2010-2014 e 2014-2018. Publicações recentes: Esboço de uma morfologia da sociologia brasileira.
RBS - Revista Brasileira de Sociologia, v. 1, p. 147-178, 2013; The expansion of higher education in
Brazil: credentials and merit. Multidisciplinary Journal of Educational Research, v. 3, p. 251-271,
2012; Desempenho individual e organização escolar na realização educacional. Revista Sociologia &
Antropologia, v. 2, p. 159-184, 2012.

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