A sociedade onde vive a formiguinha Z, principal personagem do filme
tem um governo monárquico divido em três principais classes sociais: operários e soldados, a nobreza composta principalmente pelos comandantes do exército, e a rainha junto com a família real. Uma pirâmide social semelhante a da época do feudalismo com exceção do clero. É impossível nesta sociedade alguma formiga realizar ascensão de classe, visto que cada uma delas está destinada a morrer na mesma classe que nasceu.
Na perspectiva de Durkheim está sociedade seria considerada primitiva,
apesar do grande número de habitantes o que prevalece nela é a consciência coletiva, o que permite que a sociedade fique coesa, deste modo as formigas naquela sociedade eram facilmente controladas por seus superiores e teriam bastante semelhança entre si. É perceptível essa predominância da consciência coletiva na cena anterior a formação da bola de demolição com as próprias formigas, onde em uma conversa entre Asteca e Z, ela diz que ele é insignificante na colônia, mas todas as formigas juntas significam bastante. E também em outro momento do filme em que o General diz: “O que vale é a colônia”. Mesmo que naquela sociedade havia uma divisão social do trabalho, era pequena, e aquela sociedade não era industrializada, logo esta divisão não era o critério que gerava coerção na colônia.
Operários tanto como soldados que estão na base da pirâmide social,
recebem as ordens de seus superiores (o General e a família real, principalmente a Rainha), sem questionar o real malefício ou beneficio que aquela ordem pode causar em si, só realizam julgamentos pensando no coletivo. Visto tudo isto que é demonstrado no filme, nesta sociedade predomina a solidariedade mecânica, uma união exterior entre as formigas causada pela predominância da consciência coletiva. O único ser inicialmente daquela sociedade que demonstra sua consciência individual é a formiga Z. É possível perceber isto na cena inicial do filme, em que ele aparenta estar fazendo uma consulta com um analista ou um psicólogo, e expressa sua indignação na dificuldade que tem de poder demonstrar sua consciência individual na colônia.
Na cena em que Z e seu irmão estão conversando no bar da colônia, o
irmão diz: “As formigas dominam o planeta Terra”, esta fala da uma ideia positivista de que a sociedade das formigas é superior a todas as demais, e portanto as outras devem copiá – la.
No bar da colônia, Z escuta outra formiga se referir a uma sociedade
chamada “Insetopia” onde todos seriam livres e não precisariam obedecer a regras, logo nesta sociedade a consciência individual prevalece. Para Z essa seria a sociedade ideal na qual ele poderia manifestar sua individualidade, mas ele mesmo julga tudo isto impossível. Provavelmente o nome desta sociedade faz referência ao livro “A Utopia” de Thomas More.
Ao decorrer do filme é possível perceber a mudança em algumas
formigas que passam a expressar sua consciência individual acima da coletiva graças à influência de Z. Na cena após o fim da batalha das formigas com os cupins, Barbeitos minutos antes de sua morte aconselha Z dizendo: “Não cometa o meu erro rapaz, não cumpra ordens a vida inteira, pense por você mesmo”.
Posteriormente, ao final do filme, já quando o formigueiro foi alagado,
percebe-se uma maior predominância da consciência individual naquela sociedade das formigas onde Z vive, e a permissão para exercer esta consciência livremente. Entretanto continua a ser uma sociedade arcaica onde entre as formigas existe uma solidariedade mecânica, só que agora com mais formigas exercendo sua consciência individual. É perceptível isso na cena em que as formigas que deviam ser eliminadas segundo o General para se criar uma sociedade superior, estão quase sendo afogadas e os soldados desobedecem à ordem do General e vão ajudar as demais formigas que estão correndo risco de morte. E também nos minutos finais do filme Z diz: “Encontrei meu lugar, mas agora foi eu que escolhi”, mostrando sua felicidade em poder exercer sua consciência individual, sem ser reprimido e receber sansões legais.
Além disso, também na perspectiva de Durkheim, o trabalho realizado
pelos operários e soldados pode ser considerado um fato social naquela sociedade. Pois ocorre de maneira generalizada afetando a maioria das formigas que habitam aquele formigueiro, principalmente as da base da pirâmide social que são a maioria. É exterior ao individuo, pois vai além da consciência individual das formigas, antes mesmo delas nasceram àquelas regras já existiam e elas não têm livre arbítrio para escolher trabalhar ou não, nem direito de opinar sobre.
E também porque é coercitivo, já que o trabalho é algo impositivo
naquela sociedade, caso a formiga não se submeta está destinadas a sofrer punições legais por não cumprir o seu trabalho, como pode ser percebido numa cena do filme onde o inspetor repreende o irmão de Z dizendo: “Quem não conseguir cumprir sua cota, será rebaixado”, e após isto repreende Asteca, a amiga de Z dizendo: “E que tal melhorar seu modo tirando a sua ração de hoje?”; ambas as falas do inspetor são vistas como sanções legais naquela sociedade.
Este fato social também pode ser considerado normal segundo
Durkheim, pois desempenha uma importante função social naquele formigueiro para a evolução, crescimento e proteção do mesmo. Além de representar um consenso social das formigas, pois prevalece à vontade coletiva, logo se encontra generalizado dentro do formigueiro.