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Em 1814 uma obra escrita pelo toxicologista Mateu Jopsepp Bonaventura Orfila i

Rotger se tornou um documento importante da área forense, contendo métodos de


análises químicas, informações sobre sintomas de envenenamentos, abordagem de
antídotos, etc. Esses estudos na área pós mortem consagraram a carreira do especialista.

A toxicologia pós mortem permite estudos abrangentes em diversas áreas e embora seja
muito aplicada na Toxicologia Forense para averiguar causas de morte em um âmbito
legal, pode ser utilizada para determinação de drogas de abuso, fármacos de uso
terapêutico, nas mortes naturais etc.

1.1

Na medicina legal, a toxicologia pós-mortal é utilizada para estudo de mortes que


implicam nas esferas jurídico sociais, onde o cadáver é amplamente avaliado. Nesse
contexto, os médicos realizam o procedimento denominado “autópsia” que consiste no
estudo do cadáver para determinar a causa da morte.

Quando ocorre a morte de um indivíduo o documento “Declaração de Óbito” deve ser


emitido pelas Secretarias Municipais da Saúde com a finalidade de confirmar a morte,
atestar qual (is) a (s) causa (s) da morte. Esse documento deve ser registrado em fórum
judicial. Os profissionais que podem preencher o documento são: médico legista que
atue no IML (instituto médico legal), qualquer outro médico quando não há IML local
ou pelo perito policial.

No âmbito legal, quando há o diagnóstico médico da causa da morte, este serve como
objetivo para a realização da necrópsia e isso pode encaminhar para uma determinada
causa jurídica da morte (p. ex. homicídio). O processo de identificação envolve desafios
para a finalização dos resultados, pois há diversos fatores que devem ser levados em
consideração (p. ex. perfil psicológico da vítima).

O estudo do perfil da vítima (“autópsia psicológica”) é realizado por meio de entrevistas


e permite obter informações da causa jurídica do óbito. No caso de abuso de fármacos e
outras drogas a partir do perfil da vítima pode-se direcionar para um grupo específico e
então determinar os componentes a partir de estudos toxicológicos.

Com isso, é possível observar que embora o médico legista seja o responsável pelo
preenchimento da Declaração de óbito, vários outros profissionais estão envolvidos no
processo, dando origem a um trabalho multidisciplinar, com participação da toxicologia
e diversas outras áreas.

1.2 Fenômenos pós mortem


O organismo humano se mantém vivo pelo funcionamento de uma série de reações
químicas que acontecem a todo instante, mantendo um equilíbrio físico e químico.
Quando ocorre a morte, um processo é iniciado e esse equilíbrio deixa de existir. Assim,
com o tempo, o corpo fica sujeito a reações microbianas, químicas e físicas de
desintegração. Não é possível determinar quando esse processo se inicia ou termina. No
contexto jurídico e social, é necessário determinar um período para a morte. Assim, esse
indivíduo deixa de ser integrante de um meio social. A morte é judicialmente e
clinicamente determinada quando o cérebro já não funciona mais, sendo esse fenômeno
irreversível.

A morte pode ser considerada como um fenômeno lento e progressivo que se divide em
etapas. Geralmente o tempo entre a morte e a necrópsia é de 6 horas.

Os efeitos biotanatológicos acontecem após a morte e se caracteriza pelas mudanças


físico químicas e inicio do processo de desintegração do organismo. É importante
estimar esses efeitos pelo fato de algumas reações metabólicas continuarem
acontecendo por um tempo, assim, fármacos continuam sendo metabolizados.

Os fenômenos cadaverídicos podem ser classificados em dois tipos: abióticos e


transformativos.

Nos fenômenos abióticos ocorre a desidratação, o resfriamento, manchas de hipóstase


cutânea, e rigidez no cadáver. Alguns sinais observados nessas alterações de
ressecamento da pele são: dessecamento dos lábios e das mucosas, coloração mais
amarelada, alterações do globo ocular (formação de tela viscosa, aparecimento de um
fino vél que recobre a superfície da córnea, perda da tensão do globo ocular etc.),
mancha esclerótica etc. É importante conhecer essas alterações para que não haja
associação com causas traumáticas.

No resfriamento da pele ocorre redução da temperatura corporal. Algumas alterações se


tornam obstáculos na estimação do IPM (ex. determinação da massa corporal do
cadáver). Assim, é necessário o uso de técnicas para a determinação do IPM.
Nas hipóstases cutâneas se apresentam em formato de placas e são importantes para o
diagnóstico da real causa da morte. Essas manchas se desenvolvem pelo acumulo de
sangue em função da outras alterações. Normalmente, aparecem em torno de 2 a 3 horas
após a morte e varia com a fluidez do sangue. Após 12 horas as hipóstases podem
mudar de posição e se manter fixas

A rigidez cadavérica ocorre devido a alteração química da musculatura, o que causa seu
enrijecimento e dificuldades de movimento. Nos músculos ocorre o esgotamento de
oxigênio e a glicose é consumida anaeróbicamente. O ácido lático reduz o pH e causa a
formação do complexo actomiosina, que culmina no enrijecimento do musculo. Com a
falta de ATP esse complexo não se desafaz e o musculo se mantem rígido. Essa
alteração tende a ser vista horas depois da morte, mas depende da temperatura.

Os fenômenos transformativos podem ser destrutivos (ex. autólise e putrefração) ou


conservadores (ex. mumificação). A autólise e a putrefração são os achados mais
importantes para achados toxicológicos pós mortais.

A autólise resulta da morte celular em consequência da falta de oxigênio e nutrientes. É


caracterizada por fenômenos fermentativos anaeróbicos nas células, mediado por
enzimas da própria célula e que resultam na destruição celular. O tempo de vida celular
varia de cada tecido. A putrefação cadavérica consiste na fermentação da matéria
orgânica por ação de bactérias. O intestino é o órgão inicial, evidenciado alterações no
abdome.

O desenvolvimento normal da putrefração varia conforme a ação de fatores intrínsecos e


extrínsecos. A putrefração é mais rápida nos bebês e nos adultos do que em adultos. A
obesidade aumenta a rapidez do processo. A causa mortis tem influência da
temperatura.

2. As analises toxicológicas como ferramenta no auxilio


diagnostico das intoxicações forense

As analises toxicológicas aplicadas ao estudo pós mortem requer conhecimentos de


Toxicologia Legal. Nas analises toxicológicas utiliza-se ensaios químicos como a
cromatografia em camada delgada e imunoensaios como método de triagem. E a
cromatografia em camada gasosa e líquida para confirmação. Pode-se empregar a
cromatografia gasosa o detector de ionização por chamas, detector de nitrogênio e
fósforo e detector de captura de elétrons. Já para fase liquida o detector de arranjo
diodos e o detector de fluorescência.

2.1 Material biológico para analises toxicológicas


Várias matrizes biológicas podem ser utilizadas:

Sangue  obtido por punção das veias subclávias e/ou femorais do cadáver. Quando
não é possível, utiliza-se o sangue da cavidade cardíaca ou o sangue da cavidade
cardíaca. Vale salientar que sangue presente na cavidade cardíaca pode estar muito
concentrado de analitos e da cavidade toráxica contaminado

Humor Vítreo  sangue presente na cavidade posterior dos olhos. Constitui matriz
simples e estável. E um componente transparente, incolor e coeso. Quando comparada a
urina e sangue é considerada uma matriz simples e oseu uso é indicado para a
determinação de vários agentes tóxicos na Medicina Legal.

Conteudo estomacal  é importante para analise após a morte principalmente em casos


de intoxicação de substancias administradas por via oral. O estomago e órgãos
adjacentes devem ser enviados ao laboratório devidamente fechados. As analises dessa
matriz pode indicar componentes que ainda não foram absorvidos.

Fígado  E um dos tecidos mais importantes nas analises pos mortem, pois é um órgão
onde há interação com muitos xenobióticos e onde ocorrem as principais reações de
metabolização de compostos. E um órgão muito vascularizado. Umas das desvantagens
dessa matriz se deve a quantidade alta de lipídeos na sua constituição, o que leva a
necessidade de procedimentos como o clening up.

Rins  órgão responsável pela eliminação da maioria dos xenobióticos. Muito


importante para as análises.

Urina  é um dos fluidos mais utilizados nas analises toxicológicas, principalmente nas
etapas de triagem. E a matriz de eleição para a maioria dos imunoensaios. Apresenta a
maior concentração de metabólitos. Apresenta uma grande quantidade de água e pouca
quantidade de interferentes.

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