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Concurso de Pessoas
O concurso de pessoas trata da execução de um crime por mais de um agente (art. 29 do Código
Penal).
Via regra, os tipos penais necessitam apenas de um indivíduo para a sua prática. Eventualmente,
quando tais delitos são praticados por mais de um indivíduo, dizemos que ocorreu o chamado concurso
eventual (concurso de pessoas opcional). Excepcionalmente, entretanto, o Código Penal e outras leis
especiais apresentam figuras típicas que exigem a pluralidade de agentes para a sua configuração: são
os chamados delitos de concurso necessário.
a. Autoria imediata: é a regra, é aquela que ocorre quando o próprio indivíduo executa a conduta
delituosa diretamente;
b. Autoria mediata: é aquela utilizada por um indivíduo que se utiliza de um terceiro como instrumento
para executar seu intento criminoso. Nesse caso, a conduta será imputada ao autor mediato e não ao
terceiro que agiu de forma inocente. A autoria mediata possui diversas variações, como: executor
inimputável; obediência hierárquica, coação moral irresistível, erro de proibição inevitável e erro de tipo
inevitável provocado por terceiro. Não é cabível a autoria mediata nos crimes de mão própria nem nos
crimes culposos;
d. Autoria de reserva: é aquela autoria perpetrada pelo indivíduo que “fica esperando para ver se vai dar
tudo certo”.
6.1.2. Participação
O partícipe atua induzindo, instigando ou auxiliando os autores principais do delito. Pode ser
material, quando o agente auxilia na prática de uma determinada conduta delituosa, ou moral, que se
caracteriza no induzimento ou na instigação dos outros envolvidos na prática do delito.
A participação, por expressa previsão no CP, pode ser considerada de menor importância, ato em
que poderá ser reduzida a pena do partícipe de 1/6 a 1/3 (art. 29, §1º CP)
Pode ser que dois indivíduos combinem de praticar um determinado crime e que um deles
pratique uma conduta mais grave do que foi anteriormente combinado entre ele e seu parceiro. Nessa
situação, se não era previsível esse resultado mais grave, o indivíduo que concordou apenas com a
prática de um delito mais leve deverá responder por ele. Entretanto, se o resultado mais grave for
previsível, o partícipe ainda responderá pelo delito menos grave, mas com a pena aumentada da metade
(art. 29, §2º CP).
a. Ajuste: é o acordo sobre a prática do delito. Em regra, o mero ajuste não irá ensejar a
punibilidade dos indivíduos, pois o delito nunca saiu da esfera de cogitação;
b. Determinação: é a participação daquele que faz nascer a vontade de delinquir em um terceiro.
c. Instigação e auxílio: a instigação (estímulo a uma ideia já existente) e o auxílio (prestação
material de ajuda na preparação do delito) via de regra também não serão puníveis se o crime
não entrar ao menos na fase de execução.
7. Penas
Partindo do ponto em que um indivíduo pratica uma infração penal, e desde que a persecução
penal seja executada seguindo o devido processo penal, surge a possibilidade de submeter o agente
delitivo a uma pena: a consequência jurídica aplicável em razão de sua conduta. O primeiro passo para
que possamos entender o conceito de pena e de sanção penal é fazer uma observação: sanção penal é
um gênero do qual pena e medida de segurança são espécies.
Pena > 8 anos Pena > 4 e < 8 anos Pena <= 4 anos
Reclusão – regime fechado; Reclusão – semiaberto Reclusão – aberto (primário)
Detenção – semiaberto. (primário) ou fechado ou fechado (reincidente)
(reincidente) Detenção – aberto (primário)
Detenção – semiaberto. ou semiaberto (reincidente)
Súmulas sobre regimes iniciais:
STJ: 269, 440
STF: 718, 719 e SV 56
b. Progressão de Regime
É o direito que o apenado adquire de progredir para um regime menos gravoso. Em regra, um
condenado com bom comportamento, depois de cumprir 1/6 de sua pena, poderá ser transferido para um
regime menos rigoroso. Nos crimes contra a Administração Pública, a progressão fica condicionada à
reparação do dano ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais.
Os crimes hediondos possuem regra própria para a progressão de regime. Caso o apenado tenha
sido condenado pela prática de delito hediondo, passa a ter direito de progressão de regime após cumprir
2/5 de sua pena, se primário, ou 3/5 de sua pena, se reincidente.
- Regras do Regime Fechado (art. 34 do CP): deve ser cumprido em penitenciária; apenado
trabalha internamente no período diurno e; é possível o trabalho externo, desde que em serviços ou
obras públicas realizados por órgãos públicos ou entidades privadas.
- Regras do Regime Semiaberto (art. 35 do CP e Súmula 493 do STJ): deve ser cumprido em
colônia agrícola, industrial ou similar; apenado trabalha internamente no período diurno; é possível o
trabalho externo e; é possível a frequência a cursos profissionalizantes, de segundo grau e ensino
superior.
- Regime Aberto (art. 36 do CP): deve ser cumprido em casa de albergado; apenado deve
trabalhar, frequentar curso ou exercer outra atividade, permanecendo recolhido no período noturno e em
seus dias de folga; a frequência ao trabalho ou cursos ocorre sem vigilância.
- Remição
É um instituo que permite ao preso redimir sua pena através do trabalho e do estudo. O preso
tem descontado dias em sua pena, de modo que possa cumpri-la de forma antecipada. A remição através
do trabalho é computada nos regimes fechado e semiaberto e através do estudo para todos os regimes e
liberdade condicional.
- Detração
O condenado poderá “abater” a pena que já cumpriu em sua pena condenatória, de modo que
possa cumprir apenas o restante.
7.1.2.1 Pressupostos
Os requisitos para aplicação das penas restritivas de direitos dependem da natureza do crime, da
duração da pena e de indicadores relativos ao agente do crime, como a reincidência. As regras
fundamentais que regem o sistema de substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de
direito estão contidas no art. 44 do CP.
7.1.2.2. Espécies
a. Prestação pecuniária
É uma quantia fixada pelo juiz, entre 1 e 360 salários mínimos, a ser paga em dinheiro à vítima,
seus dependentes, entidades públicas ou privadas de destinação social. Havendo aceitação do
beneficiário, a prestação pecuniária pode ser de outra natureza (art. 45 §§1° e 2° CP);
7.3. Cominação
Cominação é a imposição abstrata das penas pela lei; o Código Penal, nos Artigos 53 ao 58,
determina regras a respeito. No tocante às penas privativas de liberdade, elas têm seus limites (máximo
e mínimo) estabelecidos no preceito secundário de cada tipo penal incriminador. Não se pode combinar
pena privativa de liberdade com restritivas de direitos (exceção: CTB – a pena de suspensão da
habilitação será aplicada cumulativamente com a pena privativa de liberdade; e CDC, artigo 78).
8. Medidas de Segurança
As medidas de segurança são chamadas de medida de prevenção especial, pois têm função
preventiva e terapêutica, ou seja, de efetivamente tratar o indivíduo que praticou um fato típico e
jurídico. Nesse caso, não há que se falar em culpabilidade, mas sim em periculosidade do agente. Esta
pode ser ficta ou presumida, quando o agente é inimputável, ou real, quando há uma averiguação de
periculosidade para a determinação de tal circunstância, como ocorre com os semi-imputáveis.
9. Ação Penal
Quando alguém pratica um fato criminoso, surge para o Estado o poder-dever de punir o infrator.
Esse poder-dever, esse direito, é chamado de ius puniendi. Entretanto, o Estado, para que exerça
validamente e legitimamente o seu ius puniendi, deve fazê-lo mediante a utilização de um mecanismo
que possibilite a busca pela verdade material, mas que ao mesmo tempo respeite os direitos e garantias
fundamentais do indivíduo. Esse mecanismo é o processo penal, que é iniciado pela ação penal.
Importante ressaltar que o membro do MP não está obrigado a ajuizar a denúncia sempre que for
instaurado um inquérito policial. Ele só ajuizará a denúncia se estiverem presentes: prova de
materialidade e indícios de autoria. Caso não estejam presentes esses requisitos, o membro do MP
deverá requerer o arquivamento do IP.
O prazo para que o MP ofereça a denúncia é de 5 dias se o réu estiver preso e 15 dias em caso de
réu solto.
O oferecimento em momento posterior não implica nulidade da denúncia, que pode ser oferecida
enquanto não estiver extinta a punibilidade do delito.
- Oportunidade: Na ação penal privada, compete ao ofendido ou aos demais legitimados proceder a
análise da conveniência do ajuizamento da ação.
- Disponibilidade: O titular da ação penal (ofendido) pode desistir da ação penal proposta (art. 51 do
CPP).
- Indivisibilidade: O ofendido não é obrigado a ajuizar a queixa, mas se o fizer deve ajuizar a queixa em
face de todos os agentes que cometeram o crime, sob pena de sua renuncia tácita aproveitar aos agentes
que foram acionados judicialmente.
O prazo para ajuizamento da ação penal privada é decadencial de seis meses e começa a fluir da
data em que o ofendido tomou ciência de quem foi o autor do delito. O STF e o STJ entendem que se a
queixa foi ajuizada dentro do prazo legal, mas perante juízo incompetente, mesmo assim terá sido
interrompido o prazo decadencial, pois o ofendido não ficou inerte.
Caso o ofendido venha a falecer, poderão ajuizar a ação penal, seu cônjuge, ascendentes,
descendentes e irmãos, necessariamente nessa ordem. Essas mesmas pessoas também tem legitimidade
para dar seguimento à ação penal, caso o ofendido ajuíze a queixa e, posteriormente, venha a falecer.
Se já foi ajuizada a ação penal, os legitimados tem prazo de 60 dias para dar seguimento à ação
penal, sob pena de perempção. Se ainda não foi ajuizada a ação penal, o prazo começa a ocorrer a partir
do óbito do ofendido, exceto se ainda não se sabia, nesse momento, quem era o provável infrator. No
caso de já ter se iniciado o prazo decadencial de seis meses, os sucessores terão como prazo aquele que
faltava para o ofendido.
10. Punibilidade
Punibilidade é a consequência do crime, ou seja, quando se pratica o fato típico, ilícito e culpável
aquele comportamento descrito na lei em abstrato é concretizado com o comportamento da pessoa. A
punibilidade só é verificada depois que houver a condenação. Nesse sentido, pretensão nasce com o
cometimento da infração penal, no entanto é importante esclarecer que somente após a condenação
definitiva é que o Estado irá exercer essa pretensão.
Existem dois momentos da punibilidade: a pretensão punitiva, ou seja, essa pretensão estatal de
obter o título jurisdicional (o título executivo que é a sentença condenatória) e a pretensão executória
(após trânsito em julgado o Estado se valerá desse título efetivamente).
Quando falamos de extinção de punibilidade devemos nos atentar para esses dois momentos:
primeiro uma pretensão do Estado obter esse título através do devido processo legal e o segundo
momento que ocorre após o trânsito e julgado da sentença obtendo, assim, o título da pretensão
executória.
a. Morte do agente
Por expressa previsão do artigo 107 do CP, o falecimento gera a extinção da punibilidade do
agente, haja vista que a pena não poderá passar da pessoa do condenado, excetuada a obrigação de
reparar o dano e a decretação de perdimento de bens, que podem ser estendidas aos sucessores nos
termos do artigo 5º da CRFB. Uma vez que ocorre o falecimento do agente, pelo princípio da
personalidade, cessa a persecução penal: a ação penal não se instaura; se estiver instaurada, ela cessa;
e se já finalizada, não se executa a pena aplicada.
A morte não impede que a vítima intente ação civil para reparação e dano contra os herdeiros do
autor. Mesmo com a morte do agente delitivo, os familiares podem intentar a ação de revisão criminal.
b. Anistia
É o perdão oferecido pelo Congresso Nacional, atingindo um FATO específico, não uma pessoa.
Este tem efeitos retroativos e faz cessar os efeitos penais, porém não atinge os efeitos civis da sentença
condenatória.
c. Graça
É um perdão oferecido pelo Presidente da República, atingindo uma PESSOA e não um fato.
Extingue apenas a pena principal, sendo mantidos os efeitos secundários (penais e civis) da sentença
condenatória. É inadmissível em crimes hediondos e equiparados.
d. Indulto
É uma graça em modalidade coletiva, atingindo diversas pessoas. Possui os mesmos efeitos
citados anteriormente.
e. Decadência
É a perda do direito de agir pelo decurso de determinado lapso temporal, estabelecido em lei,
provocando a extinção da punibilidade do agente. Ou seja, o ofendido demorou muito para representar
ou para realizar a queixa, motivo pelo qual o direito de agir se esvaiu e cessou a existência do direito de
punir. Via de regra, é de 6 meses o prazo para o exercício do direito, a contar da data do conhecimento
da autoria. Não cabe decadência em ação penal pública incondicionada.
O prazo de decadência não pode ser suspenso, prorrogado ou interrompido. A instauração de IP
não suspende também o prazo. Nos casos de dúvida, se houve ou não o fim do prazo e se ocorreu a
decadência, deve-se decidir em FAVOR DO OFENDIDO, permitindo-se que ele ajuíze a ação penal.
f. Renúncia
A renúncia é um instituto que só se aplica a ação penal privada e, nesta, o ofendido decide que
não quer mais ver o autor punido por algum motivo. Tendo em vista que nesse caso temos um direito
disponível, o ofendido pode optar por renunciar a ele, dizendo ao Estado que não quer mais que o ius
puniendi seja exercido em desfavor do acusado. A renúncia é unilateral, pré-processual, indivisível e
irretratável.
g. Perdão
Uma vez que o ofendido exerceu seu direito à ação penal privada, pode ser que ele volte atrás
depois do início da ação penal. A principal diferença entre a renúncia e o perdão é que a queixa-crime já
foi oferecida e a ação já foi iniciada. Iniciada a ação penal, portanto, não se fala mais em renúncia e sim
no chamado perdão do ofendido. O perdão é simples, visto que o querelante irá manifestar ao judiciário o
interesse em ver o autor perdoado pelo que fez. O perdão é bilateral e pós-processual.
O acusado tem o direito de não aceitar o perdão, por interesse em levar o julgamento até o final
e ser absolvido. Uma vez que o querelante decide perdoar o querelado, este tem três dias para se
manifestar, valendo seu silêncio como aceitação. Se houverem vários acusados, a rejeição ao perdão
manifestada por um deles não prejudica aos demais.
h. Perempção
Na perempção ocorre uma negligência do querelante, que ingressa em juízo para ver o acusado
punido, mas deixa de cumprir suas obrigações processuais. Ela ocorre nos seguintes casos:
- Quando o querelante falece ou se torna incapaz e seus sucessores não comparecem em juízo para
substitui-lo em até 60 dias;
- Quando o querelante deixa de dar andamento no processo por 30 dias consecutivos;
- Quando o querelante deixar de comparecer a um ato do processo ao qual deva estar presente, sem
motivo justificado;
- Quando o querelante deixa de formular pedido de condenação nas alegações finais (se for possível
subentender que o ofendido ainda quer ver a punição do querelado e que apenas esqueceu de incluir
esse pedido nas alegações finais, não deverá ser declarada a perempção);
- No caso de querelantes pessoas jurídicas, quando estas se extinguirem e não deixarem sucesso.
i. Abolitio criminis
Outra causa extintiva de punibilidade é a abolitio criminis, ou seja, o surgimento de lei nova mais
benéfica que deixa de considerar um fato como crime. Ela não faz cessar os efeitos extrapenais da
sentença, de modo que os efeitos civis, por exemplo, permanecem.
j. Retratação
Em alguns casos, a lei autoriza o agente delitivo a retratar-se (retirar o que foi dito). E, ao
permitir que ele o faça, extingue sua punibilidade pelo delito praticado (ex.: art. 342, §2º e art. 143, CP).
k. Perdão Judicial
Em alguns casos, a lei permite que o magistrado deixe de aplicar a sanção penal do autor de um
delito. O entendimento majoritário é de que ocorre a chamada sentença declaratória de extinção de
punibilidade. Porém, de acordo com o artigo 120 do CP, estamos diante de sentença condenatória sem
efeito de reincidência.
11. Prescrição
A prescrição é a perda do direito de punir do Estado diante de sua inércia. Ou seja, o Estado não
exerceu o ius puniendi no prazo legal, de forma que ocorreu a extinção da punibilidade do agente.
Alguns delitos foram considerados imprescritíveis por nosso constituinte e estão arrolados dessa
forma na própria CRFB. A regra geral, portanto, é considerar apenas dois delitos como imprescritíveis em
nosso ordenamento jurídico: o racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático.
11.1. Espécies
B. Prescrição Superveniente
A prescrição superveniente ocorre entre a publicação da sentença condenatória recorrível e o
trânsito em julgado da sentença. Nesse caso, o prazo prescricional (art. 109 do CP) será calculado com
base na pena cominada ao delito. No caso da prescrição superveniente, inicia-se a contagem do prazo
prescricional a partir da publicação da sentença condenatória recorrível.
C. Prescrição Retroativa
A prescrição retroativa ocorre entre a publicação da sentença recorrível e o recebimento da
denúncia (tem haver com a duração do processo de conhecimento).