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6.

Concurso de Pessoas

O concurso de pessoas trata da execução de um crime por mais de um agente (art. 29 do Código
Penal).
Via regra, os tipos penais necessitam apenas de um indivíduo para a sua prática. Eventualmente,
quando tais delitos são praticados por mais de um indivíduo, dizemos que ocorreu o chamado concurso
eventual (concurso de pessoas opcional). Excepcionalmente, entretanto, o Código Penal e outras leis
especiais apresentam figuras típicas que exigem a pluralidade de agentes para a sua configuração: são
os chamados delitos de concurso necessário.

6.1. Autoria, coautoria e participação


Os indivíduos que concorrem para a realização de uma infração penal podem ser: autor/coautor
(aquele que pratica o núcleo do tipo penal, executa a conduta típica) e partícipe (aquele que realiza
conduta acessória, auxiliar; induz, instiga ou auxilia o autor). Dependendo da situação, o indivíduo pode
ser considerado qualquer dessas partes.
Por força da teoria do domínio do fato, uma participação importante (como a de quem dá ordens
para a realização de condutas criminosas) poderá ser considerada como autoria e não como participação,
mesmo que o autor não pratique o núcleo do tipo penal.

6.1.1. Outras classificações de autoria

a. Autoria imediata: é a regra, é aquela que ocorre quando o próprio indivíduo executa a conduta
delituosa diretamente;
b. Autoria mediata: é aquela utilizada por um indivíduo que se utiliza de um terceiro como instrumento
para executar seu intento criminoso. Nesse caso, a conduta será imputada ao autor mediato e não ao
terceiro que agiu de forma inocente. A autoria mediata possui diversas variações, como: executor
inimputável; obediência hierárquica, coação moral irresistível, erro de proibição inevitável e erro de tipo
inevitável provocado por terceiro. Não é cabível a autoria mediata nos crimes de mão própria nem nos
crimes culposos;
d. Autoria de reserva: é aquela autoria perpetrada pelo indivíduo que “fica esperando para ver se vai dar
tudo certo”.

6.1.2. Participação
O partícipe atua induzindo, instigando ou auxiliando os autores principais do delito. Pode ser
material, quando o agente auxilia na prática de uma determinada conduta delituosa, ou moral, que se
caracteriza no induzimento ou na instigação dos outros envolvidos na prática do delito.
A participação, por expressa previsão no CP, pode ser considerada de menor importância, ato em
que poderá ser reduzida a pena do partícipe de 1/6 a 1/3 (art. 29, §1º CP)
Pode ser que dois indivíduos combinem de praticar um determinado crime e que um deles
pratique uma conduta mais grave do que foi anteriormente combinado entre ele e seu parceiro. Nessa
situação, se não era previsível esse resultado mais grave, o indivíduo que concordou apenas com a
prática de um delito mais leve deverá responder por ele. Entretanto, se o resultado mais grave for
previsível, o partícipe ainda responderá pelo delito menos grave, mas com a pena aumentada da metade
(art. 29, §2º CP).

6.2. Requisitos do Concurso de Pessoas


Para a configuração do concurso de pessoas, não basta simplesmente que dois autores concorram
para a execução de um crime. Existem requisitos que precisam ser observados.
O primeiro deles é a pluralidade de agentes, pois é necessário que existam duas ou mais pessoas
concorrendo para o crime. Se um dos agentes for menor de 18 anos, ainda assim há o concurso de
agentes, respondendo o maior pelo CP e o menor pelo ECA.
O segundo requisito é a relevância de cada uma das condutas. Para que ocorra o concurso de
pessoas, deve haver relevância causal e jurídica da conduta de cada um dos agentes. Se a conduta de
um determinado autor ou partícipe não influir na causa da infração penal, será considerada um
irrelevante penal e, consequentemente, não haverá concurso de pessoas.
O próximo requisito é o vínculo subjetivo entre os agentes. Os indivíduos envolvidos devem
possuir vontade de agir em conjunto. Deverá existir a unidade de desígnios entre os agentes delitivos,
havendo um não uma combinação prévia entre eles. Caso contrário, existirá a chamada autoria colateral,
onde dois agentes concorrem para um mesmo resultado delituoso, mas não conhecem a vontade um do
outro. Nesse caso, cada um responderá pelo ato que praticou de forma desvinculada.
O último requisito é a identidade da ação penal. Via de regra, os indivíduos devem responder pelo
mesmo crime, como consequência da aplicação da teoria monista. Excepcionalmente, no entanto, os
agentes praticam condutas concorrendo para um único fato, porém respondem cada um por um crime
(corrupção ativa e passiva, por exemplo).
6.3. Comunicabilidade de circunstâncias pessoais (art. 30, CP)

a. Elementares são os dados que integram o tipo penal.


b. Circunstâncias são outros dados relacionados ao crime, que não afetam o tipo penal básico,
mas que podem influenciar a pena cominada.

6.4. Impunibilidade (art. 31 do CP)


Tratam-se de situações que não são puníveis se o crime não chegar, pelo menos, a ser tentado.

a. Ajuste: é o acordo sobre a prática do delito. Em regra, o mero ajuste não irá ensejar a
punibilidade dos indivíduos, pois o delito nunca saiu da esfera de cogitação;
b. Determinação: é a participação daquele que faz nascer a vontade de delinquir em um terceiro.
c. Instigação e auxílio: a instigação (estímulo a uma ideia já existente) e o auxílio (prestação
material de ajuda na preparação do delito) via de regra também não serão puníveis se o crime
não entrar ao menos na fase de execução.

7. Penas

Partindo do ponto em que um indivíduo pratica uma infração penal, e desde que a persecução
penal seja executada seguindo o devido processo penal, surge a possibilidade de submeter o agente
delitivo a uma pena: a consequência jurídica aplicável em razão de sua conduta. O primeiro passo para
que possamos entender o conceito de pena e de sanção penal é fazer uma observação: sanção penal é
um gênero do qual pena e medida de segurança são espécies.

7.1. Classificações da Pena

7.1.1 Penas Privativas de Liberdade


Tratam do encarceramento (recolhimento do indivíduo à prisão). Estão dividas em: reclusão,
detenção (ambas aplicáveis a crimes) e prisão simples (aplicável à contravenções penais).
A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto, podendo ser
iniciada em regime fechado. Já a pena de detenção pode ser cumprida em regime semiaberto ou aberto,
podendo regredir para o regime fechado, sem, entretanto, poder iniciar o cumprimento neste. O artigo
33, §1º estabelece os conceitos dos regimes básicos aplicáveis ao cumprimento de pena.
O primeiro regime diferenciado é a prisão domiciliar, que se dá com o recolhimento do apenado
em sua residência particular e está previsto na LEP. O segundo é o RDD (regime disciplinar diferenciado),
também previsto na LEP. Ele constitui uma sanção disciplinar ao preso, seja ele provisório ou condenado.
O RDD é uma modalidade rigorosa, que permite o recolhimento do preso em cela individual, reduzindo as
visitas semanais e o direito do preso a sair de sua cela (apenas 2h por dia para banho de sol).
A aplicação do RDD é possível nos seguintes casos: prática de crime doloso e que ocasione a
subversão da ordem ou disciplina internas do presídio (rebelião, p. ex.); presos que apresentam alto
risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou sociedade; e presos sobre os quais
recaiam fundadas suspeitas de envolvimento em organizações criminosas ou quadrilhas.

a. Fixação do regime inicial de cumprimento de pena

 Pena > 8 anos  Pena > 4 e < 8 anos Pena <= 4 anos
Reclusão – regime fechado; Reclusão – semiaberto Reclusão – aberto (primário)
Detenção – semiaberto. (primário) ou fechado ou fechado (reincidente)
(reincidente) Detenção – aberto (primário)
Detenção – semiaberto. ou semiaberto (reincidente)
 Súmulas sobre regimes iniciais:
STJ: 269, 440
STF: 718, 719 e SV 56

b. Progressão de Regime
É o direito que o apenado adquire de progredir para um regime menos gravoso. Em regra, um
condenado com bom comportamento, depois de cumprir 1/6 de sua pena, poderá ser transferido para um
regime menos rigoroso. Nos crimes contra a Administração Pública, a progressão fica condicionada à
reparação do dano ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais.
Os crimes hediondos possuem regra própria para a progressão de regime. Caso o apenado tenha
sido condenado pela prática de delito hediondo, passa a ter direito de progressão de regime após cumprir
2/5 de sua pena, se primário, ou 3/5 de sua pena, se reincidente.

c. Regressão de Regime (art. 118, LEP)

d. Regramentos específicos dos regimes

- Regras do Regime Fechado (art. 34 do CP): deve ser cumprido em penitenciária; apenado
trabalha internamente no período diurno e; é possível o trabalho externo, desde que em serviços ou
obras públicas realizados por órgãos públicos ou entidades privadas.
- Regras do Regime Semiaberto (art. 35 do CP e Súmula 493 do STJ): deve ser cumprido em
colônia agrícola, industrial ou similar; apenado trabalha internamente no período diurno; é possível o
trabalho externo e; é possível a frequência a cursos profissionalizantes, de segundo grau e ensino
superior.
- Regime Aberto (art. 36 do CP): deve ser cumprido em casa de albergado; apenado deve
trabalhar, frequentar curso ou exercer outra atividade, permanecendo recolhido no período noturno e em
seus dias de folga; a frequência ao trabalho ou cursos ocorre sem vigilância.

e. Institutos que podem reduzir a pena

- Remição
É um instituo que permite ao preso redimir sua pena através do trabalho e do estudo. O preso
tem descontado dias em sua pena, de modo que possa cumpri-la de forma antecipada. A remição através
do trabalho é computada nos regimes fechado e semiaberto e através do estudo para todos os regimes e
liberdade condicional.

- Detração
O condenado poderá “abater” a pena que já cumpriu em sua pena condenatória, de modo que
possa cumprir apenas o restante.

7.1.2. Penas Restritiva de Direitos


Reguladas pelos artigos 43 a 48 do CP, as penas restritivas de direito substituem a pena privativa
de liberdade. São previstas de forma autônoma, independente de cominação na parte especial. O seu
cumprimento extingue a pena privativa de liberdade substituída e em caso de descumprimento pode
admitir, como garantia de eficácia da restrição imposta, a reconversão em privação de liberdade.

7.1.2.1 Pressupostos
Os requisitos para aplicação das penas restritivas de direitos dependem da natureza do crime, da
duração da pena e de indicadores relativos ao agente do crime, como a reincidência. As regras
fundamentais que regem o sistema de substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de
direito estão contidas no art. 44 do CP.

7.1.2.2. Espécies

a. Prestação pecuniária
É uma quantia fixada pelo juiz, entre 1 e 360 salários mínimos, a ser paga em dinheiro à vítima,
seus dependentes, entidades públicas ou privadas de destinação social. Havendo aceitação do
beneficiário, a prestação pecuniária pode ser de outra natureza (art. 45 §§1° e 2° CP);

b. Perda de bens e valores


É a perda em favor do Fundo Penitenciário Nacional dos bens e valores pertencentes ao
condenado em razão da prática do crime, nela sendo incluída a maior quantia entre o prejuízo ou o
provento obtido pelo agente ou por terceiro (art.45, §3° CP);
c. Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas
Consiste no cumprimento de tarefas gratuitas de acordo com a aptidão do condenado na razão de
1 hora de trabalho por 1 dia de condenação em entidades comunitárias ou estatais, como escolas,
hospitais e orfanatos. O tempo mínimo de condenação para substituição por prestação de serviços à
comunidade é de 6 meses, podendo a condenação superior a 1 ano ser cumprida em tempo inferior ao
previsto na sentença, desde que não menor que a metade da pena privativa de liberdade aplicada (art.46
e §§ 1°, 2°, 3° e 4° CP);

d. Interdição temporária de direitos


Consiste em proibições específicas que se relacionam com a natureza do crime que o agente foi
condenado, como (art.47 CP): I — proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem
como do mandato eletivo; II — proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de
habilitação especial, de licença ou autorização do poder público; III — suspensão de autorização ou de
habilitação para dirigir veículo; IV — proibição de frequentar determinados lugares;

e. Limitação de fim de semana


É a permanência aos sábados e domingos por 5 horas diárias em casa de albergado ou outro
estabelecimento adequado, em que poderão ser ministradas palestras ou outras atividades educativas
(art.48 e parágrafo único CP).

7.1.2.3. Conversão das penas restritivas de direito


A conversão da pena restritiva de direito em privativa de liberdade ocorre nas hipóteses de
descumprimento injustificado da restrição imposta ou de nova condenação por outro crime, na forma dos
§§ 4º e 5º do art. 44 do CP

7.1.3. Pena de Multa


A multa como pena é o pagamento feito pelo condenado ao fundo penitenciário nacional (art. 49
do CP). O art. 2º, V, da Lei Complementar nº 79/199431, estabelece que: ”Art. 2º Constituirão recursos
do FUNPEN: (...) V — multas decorrentes de sentenças penais condenatórias com trânsito em julgado;
(...)”.
A pena de multa vem expressamente prevista no tipo penal (princípio da legalidade) de forma
alternativa ou de forma cumulativa à pena privativa de liberdade. A pena de multa pode ser ainda
substitutiva da pena privativa de liberdade (art.58, parágrafo único c/c art. 44, §2° CP) para crimes
dolosos cuja pena seja igual ou inferior a 1 ano, para crimes culposos ou dolosos cometidos sem violência
ou grave ameaça, quando a pena for maior de 1 ano e não superior a 4 anos, cumulada com pena
restritiva de direitos. Após o trânsito em julgado a pena de multa transforma-se em dívida de valor, não
podendo ser convertida em pena privativa de liberdade (art.51 CP).

7.1.3.1. Sistema dias-multa


A aplicação da pena de multa obedece ao critério de dias-multa, segundo sua quantidade e valor:

a) A quantidade é aplicada segundo a culpabilidade do autor, variando de no mínimo 10 e no máximo


360 dias-multa (art.49, caput CP). Na multa substitutiva a quantidade deve ser proporcional a pena
privativa de liberdade substituída;
b) O valor dia-multa é calculado segundo a capacidade econômica do condenado, variando de 1/30 até 5
vezes o salário mínimo (art.49, §1° CP), podendo ser aumentada até o triplo se considerada ineficaz pelo
juiz, ainda que aplicada no máximo (art.60, §1° CP).

7.2. Efeitos da Condenação


O primeiro e principal efeito da condenação é a imposição de uma sanção penal, seja ela uma
pena ou medida de segurança. Os efeitos secundários da condenação dividem-se em efeitos penas e
extrapenais.
Os efeitos penais são: reincidência; revogação de sursi anterior; revogação de livramento
condicional; impedimento de concessão de privilégios específicos; impossibilidade de concessão de
suspensão condicional do processo (lei nº 9.099/95) e demais institutos restritos a réus primários.
Os efeitos extrapenais podem ser de aplicação automática (ou genéricos) ou de aplicação
fundamentada (ou específicos). Os efeitos genéricos são a obrigação de reparar o dano causado à vítima
e o confisco (art. 91, II, do CP). Os efeitos específicos são a perda do cargo, função pública ou mandato;
incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela, e; inabilitação para dirigir veículo
quando utilizado como meio para a prática de crime doloso. As condições em que os efeitos específicos
irão ocorrer estão no art. 92 do Código Penal.

7.3. Cominação
Cominação é a imposição abstrata das penas pela lei; o Código Penal, nos Artigos 53 ao 58,
determina regras a respeito. No tocante às penas privativas de liberdade, elas têm seus limites (máximo
e mínimo) estabelecidos no preceito secundário de cada tipo penal incriminador. Não se pode combinar
pena privativa de liberdade com restritivas de direitos (exceção: CTB – a pena de suspensão da
habilitação será aplicada cumulativamente com a pena privativa de liberdade; e CDC, artigo 78).

8. Medidas de Segurança

As medidas de segurança são chamadas de medida de prevenção especial, pois têm função
preventiva e terapêutica, ou seja, de efetivamente tratar o indivíduo que praticou um fato típico e
jurídico. Nesse caso, não há que se falar em culpabilidade, mas sim em periculosidade do agente. Esta
pode ser ficta ou presumida, quando o agente é inimputável, ou real, quando há uma averiguação de
periculosidade para a determinação de tal circunstância, como ocorre com os semi-imputáveis.

8.1. Espécies (art. 96 do CP)


A internação, chamada pela doutrina de medida detentiva, é aplicável aos agentes inimputáveis
em delitos puníveis com reclusão. O tratamento ambulatorial, chamado pela doutrina de medida
restritiva, é aplicável aos agentes inimputáveis em delitos puníveis com detenção.

8.2. Aplicação da medida


Tais medidas são aplicáveis a inimputáveis e a semi-imputáveis. Uma vez que o magistrado
identificar que o delito foi praticado por autor inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento, irá prolatar sentença absolutória imprópria, ou seja,
absolverá o agente, aplicando-lhe uma medida de segurança.
O semi-imputável, ao contrário do inimputável, possui uma capacidade ao menos parcial de
entender o caráter ilícito de seus atos. Desse modo, não ficará isento de pena nem será absolvido: será
condenado, mas terá sua pena diminuída de 1/3 a 2/3. Se o juiz, entretanto, entender que este necessita
de tratamento, pode substitui a pena aplicada pelo tratamento ambulatorial ou pela internação (art. 98
do CP). Se a doença mental ocorrer depois da condenação, o juízo da execução penal pode substituir a
pena aplicada por uma medida de segurança. Recuperando a saúde mental, o apenado deve voltar a
cumprir a pena normalmente.

8.3. Prazos (art. 97 do CP)


O juiz fixará um prazo mínimo de 1 a 3 anos para internação ou tratamento ambulatorial. Uma
vez que esse prazo acabe, ocorre uma perícia médica, na qual se avalia a periculosidade do agente
delitivo. Se persistir a periculosidade, o indivíduo continuará submetido à medida de segurança e a
perícia médica deverá ser repetida de ano em ano ou a qualquer tempo, a depender do juiz da execução.
O legislador penal fala em prazo máximo indeterminado das medidas de segurança. Porém o STF
entendeu que esta não pode ultrapassar 40 anos, assim como a pena privativa de liberdade. O STJ
entende que o tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena
abstratamente cominado ao delito praticado.

8.4. Desinternação e Extinção da Punibilidade


Se a perícia médica constatar que o agente não mais apresenta sinais de periculosidade, o
magistrado irá conceder a desinternação ou liberação do indivíduo, sempre em caráter condicional, de
modo que o agente seja novamente submetido à medida se praticar fato indicativo de sua periculosidade
antes de decorrer um ano de sua liberação.
Por fim, caso ocorra a extinção da punibilidade do agente por qualquer motivo, não se impõe
medida de segurança nem subsiste a medida de segurança que já foi imposta, por força do artigo 96,
parágrafo único, CP.

9. Ação Penal

Quando alguém pratica um fato criminoso, surge para o Estado o poder-dever de punir o infrator.
Esse poder-dever, esse direito, é chamado de ius puniendi. Entretanto, o Estado, para que exerça
validamente e legitimamente o seu ius puniendi, deve fazê-lo mediante a utilização de um mecanismo
que possibilite a busca pela verdade material, mas que ao mesmo tempo respeite os direitos e garantias
fundamentais do indivíduo. Esse mecanismo é o processo penal, que é iniciado pela ação penal.

9.1. Condições da Ação Penal


No processo penal, a ação deve obedecer a algumas condições. Sem elas, a ação penal ajuizada
deve ser rejeitada de imediato pelo Juiz (art. 395, II, CPP).

A. Possibilidade jurídica do pedido


Para que esteja configurada essa condição da ação, basta que a ação penal tenha sido ajuizada
com base em conduta que se amolde em fato típico.
B. Interesse de agir
No processo penal, a via judicial é obrigatória, não podendo o Estado exercer seu ius puniendi
fora do processo penal. Aqui, o interesse de agir está mais ligado a questões como a utilização da via
adequada. A justa causa não é condição da ação, apenas considerada assim pela doutrina.

C. Legitimidade ad causam ativa e passiva


A legitimidade é o que se pode chamar de pertinência subjetiva para a demanda.
A inimputabilidade puramente biológica é causa de ilegitimidade passiva, pois os menores de 18
anos não respondem criminalmente, estando sujeitos às normas do ECA. Entretanto, se estivermos
diante dos demais casos de inimputabilidade, não é hipótese de ilegitimidade passiva, pois a análise da
inimputabilidade do agente dependerá da avaliação dos fatores, circunstâncias do delito, podendo se
concluir pela sua inimputabilidade ao fim do processo.
Quanto à pessoa jurídica, é pacífico o entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido de
que a pessoa jurídica pode figurar no polo ativo do processo penal. O STF e o STJ entendem que a
pessoa jurídica pode figurar no polo passivo de ação penal por crime ambiental, conforme previsto no art.
225, §3º da CRFB, regulamentado pela lei 9.605/98. Quanto aos crimes contra a ordem econômica, por
não haver regulamentação legal, a jurisprudência não vem admitindo que a pessoa jurídica responda por
tais crimes.

9.2. Espécies de Ação Penal


A ação penal pode ser pública incondicionada, pública condicionada ou privada.

a. Ação Penal Pública Incondicionada


É a regra no ordenamento processual brasileiro. Sua titularidade pertence ao Ministério Público,
de forma privativa, nos termos do art. 129, I da CRFB. Independente de qual seja o crime, quando
praticado em detrimento de patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal será
pública (art. 24, §2º do CPP). Por se tratar de uma ação penal em que há forte interesse público na
punição do autor do fato, qualquer pessoa do povo poderá provocar a atuação do MP.

> Princípios que regem esta ação:

- Obrigatoriedade: Havendo indícios de autoria e prova da materialidade do delito, o membro do MP deve


oferecer a denuncia, não podendo deixar de fazê-lo, pois não pode dispor da ação penal.
- Indisponibilidade: Uma vez ajuizada a ação penal pública, não pode seu titular dela desistir ou transigir,
nos termos do art. 42 do CPP.
- Oficialidade: A ação penal pública será ajuizada por um órgão oficial: o MP. Entretanto, pode ocorrer de,
transcorrido o prazo legal para que o MP ofereça a denúncia, este não o faça nem promova o
arquivamento do IP, ou seja, fique inerte. Nesse caso, a lei prevê que o ofendido poderá promover ação
penal privada subsidiária da pública. Assim, podemos concluir que a ação penal pública é exclusiva do
MP, durante o prazo legal.
- Divisibilidade: Havendo mais de um infrator, pode o MP ajuizar a demanda somente em face de um ou
alguns deles, reservando para os outros o ajuizamento posterior, de forma a conseguir mais tempo para
reunir elementos de prova.

Importante ressaltar que o membro do MP não está obrigado a ajuizar a denúncia sempre que for
instaurado um inquérito policial. Ele só ajuizará a denúncia se estiverem presentes: prova de
materialidade e indícios de autoria. Caso não estejam presentes esses requisitos, o membro do MP
deverá requerer o arquivamento do IP.
O prazo para que o MP ofereça a denúncia é de 5 dias se o réu estiver preso e 15 dias em caso de
réu solto.
O oferecimento em momento posterior não implica nulidade da denúncia, que pode ser oferecida
enquanto não estiver extinta a punibilidade do delito.

b. Ação Penal Pública Condicionada


Aplica-se a esta espécie de ação penal tudo o que foi dito a respeito da ação penal pública,
havendo, no entanto, alguns pontos especiais. Aqui, para que o MP possa exercer legitimamente o seu
direito de ajuizar a ação penal pública, deverá estar presente uma condição de procedibilidade, que é a
representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça, a depender do caso. Frise-se que a
ação penal só será condicionada se a lei expressamente dispuser nesse sentido.

- Ação Penal Pública Condicionada à Representação


A representação admite retratação, mas somente até o oferecimento da denúncia. Admite-se,
ainda, a retratação da retratação.
Caso ajuizada ação penal sem a representação, esta nulidade processual pode ser sanada
posteriormente, caso a vítima a apresente em juízo (desde que realizada dentro do prazo de 6 meses que
a vítima possui para representar, nos termos do art. 38 do CP).
Não se exige forma específica para a representação, bastando que descreva claramente a
intenção de ver o infrator ser processado. A jurisprudência admite que o simples registro de ocorrência
em sede policial, desde que conste informação de que a vítima pretende ver o infrator punido, pode ser
considerado como representação.
A representação não pode ser dividida quanto aos autores do fato. Ou se representa em face de
todos eles ou não há representação. Entretanto, embora não possa haver fracionamento da
representação, isso não impede que o MP denuncie apenas um ou alguns dos infratores, pois um dos
princípios da ação penal pública é a divisibilidade.
A legitimidade para oferecer a representação é do ofendido, se maior de 18 anos e capaz (art. 34
do CP). Se o ofendido for menor ou incapaz, terá legitimidade o seu representante legal. Porém, se o
ofendido não possuir representante legal ou os seus interesses colidirem com o do representante, o juiz
deve nomear curador (art. 33 do CPP). Se o ofendido falecer, aplica-se a ordem de legitimação prevista
no artigo 24, §1º do CPP.
O prazo para representação é de 6 meses, contados da dará em que veio a saber quem é o autor
do delito. Se o ofendido for menor de idade, o prazo só começa a fluir quando este completar 18 anos. Se
a vítima vier a falecer, o prazo começa a correr para os legitimados quando tomarem conhecimento do
fato ou de sua autoria ou, no caso de já ser conhecido, do óbito da vítima.
A representação pode ser oferecida perante o MP, a autoridade policial ou mesmo perante o juiz.

- Ação Penal Pública Condicionada à Requisição do Ministro da Justiça


Prevista apenas para determinados crimes, nos quais existe um juízo político acerca da
conveniência em vê-los apurados ou não. Diferentemente da representação, não há prazo decadencial
para o oferecimento da requisição, podendo esta ocorrer enquanto não estiver extinta a punibilidade do
crime. O MP não está vinculado à requisição, podendo deixar de ajuizar a ação penal.

c. Ação Penal Privada Exclusiva


É a modalidade de ação penal privada clássica. É aquela na qual a Lei entende que a vontade do
ofendido em ver ou não o crime apurado e o infrator processado são superiores ao interesse público em
apurar o fato.

> Princípios desta ação

- Oportunidade: Na ação penal privada, compete ao ofendido ou aos demais legitimados proceder a
análise da conveniência do ajuizamento da ação.
- Disponibilidade: O titular da ação penal (ofendido) pode desistir da ação penal proposta (art. 51 do
CPP).
- Indivisibilidade: O ofendido não é obrigado a ajuizar a queixa, mas se o fizer deve ajuizar a queixa em
face de todos os agentes que cometeram o crime, sob pena de sua renuncia tácita aproveitar aos agentes
que foram acionados judicialmente.

O prazo para ajuizamento da ação penal privada é decadencial de seis meses e começa a fluir da
data em que o ofendido tomou ciência de quem foi o autor do delito. O STF e o STJ entendem que se a
queixa foi ajuizada dentro do prazo legal, mas perante juízo incompetente, mesmo assim terá sido
interrompido o prazo decadencial, pois o ofendido não ficou inerte.
Caso o ofendido venha a falecer, poderão ajuizar a ação penal, seu cônjuge, ascendentes,
descendentes e irmãos, necessariamente nessa ordem. Essas mesmas pessoas também tem legitimidade
para dar seguimento à ação penal, caso o ofendido ajuíze a queixa e, posteriormente, venha a falecer.
Se já foi ajuizada a ação penal, os legitimados tem prazo de 60 dias para dar seguimento à ação
penal, sob pena de perempção. Se ainda não foi ajuizada a ação penal, o prazo começa a ocorrer a partir
do óbito do ofendido, exceto se ainda não se sabia, nesse momento, quem era o provável infrator. No
caso de já ter se iniciado o prazo decadencial de seis meses, os sucessores terão como prazo aquele que
faltava para o ofendido.

» Renúncia, perdão e perempção


O ofendido pode renunciar ao direito de ajuizar a ação e se o fizer somente a um dos infratores, a
todos se estenderá (art. 49 do CPP). A renúncia só pode ocorrer antes do ajuizamento da demanda e
pode ser expressa ou tácita. Com relação à tácita, o STJ firmou entendimento no sentido de que a
omissão tem que ser VOLUNTÁRIA, ou, seja, ele deve ter, de fato, querido não processar o infrator. Em
se tratando de omissão INVOLUNTÁRIA (mero esquecimento, p. ex.), não se pode considerar ter ocorrido
renúncia tácita, devendo o MP requerer a intimação do querelante para que se manifeste quanto aos
demais infratores.
Após o ajuizamento da demanda o que poderá ocorrer é o perdão do ofendido. O perdão, à
semelhança do que ocorre com a renúncia ao direito de queixa, também pode ser expresso ou tácito. O
perdão pode ser judicial ou extrajudicial. Diferentemente da renúncia, que é ato unilateral, o perdão é ato
bilateral, ou seja, deve ser aceito pelo querelado. Todavia, é importante ressaltar que, em razão do
princípio da indivisibilidade da ação penal privada, o perdão oferecido a um dos infratores se estende aos
demais. Porém, se algum deles recusar, isso não prejudica o direito dos demais.
Na ação penal privada pode ocorrer, ainda, a perempção da ação penal, que é a perda do direito
de prosseguir na ação como punição ao querelante que foi inerte ou negligente no processo (art. 60 do
CPP).

d. Ação Penal Privada Subsidiária da Pública


Trata-se de hipótese na qual a ação penal é, na verdade, pública, ou seja, o seu titular é o MP.
No entanto, em razão da inércia do MP em oferecer a denúncia no prazo legal, a lei confere ao ofendido o
direito de ajuizar uma ação penal privada que substitui a ação penal pública (art. 29 do CPP). Entretanto,
o ofendido tem um prazo de seis meses para oferecer a ação penal privada, que começa a correr no dia
em que se esgota o prazo do MP para oferecer a denúncia (art. 38 do CPP).
Ao final de seis meses, a vítima perde o direito de ajuizar a queixa-crime subsidiária, ocorrendo a
decadência do direito. Todavia, o MP continua podendo ajuizar a ação penal pública, até a extinção da
punibilidade.
Para que surja o direito de ajuizamento da queixa-crime subsidiária, é necessário que haja inércia
do MP. Assim, não cabe esta ação se: o MP requer a realização de novas diligências, promove o
arquivamento do inquérito, adota outras providências.
Por fim, não é admissível o perdão do ofendido na ação penal privada subsidiária da pública, pois
se trata de ação originalmente pública, na qual só se admitiu o manejo da ação privada em razão de
circunstância temporal (art. 105 do CP).

- Atuação do MP (art. 29 do CPP).

e. Ação Penal Personalíssima


Trata-se de modalidade de ação penal privada exclusiva, cuja única diferença é que, nesta
hipótese, somente o ofendido (mais ninguém, em hipótese alguma) poderá ajuizar a ação. Assim, se o
ofendido falecer, nada mais haverá a ser feito, estando extinta a punibilidade, pois a legitimidade não se
estende aos sucessores. Além disso, se o ofendido é menor, o seu representante não pode ajuizar a
demanda. Assim, deve o ofendido aguardar a maioridade para ajuizar a ação penal privada.

10. Punibilidade

Punibilidade é a consequência do crime, ou seja, quando se pratica o fato típico, ilícito e culpável
aquele comportamento descrito na lei em abstrato é concretizado com o comportamento da pessoa. A
punibilidade só é verificada depois que houver a condenação. Nesse sentido, pretensão nasce com o
cometimento da infração penal, no entanto é importante esclarecer que somente após a condenação
definitiva é que o Estado irá exercer essa pretensão.
Existem dois momentos da punibilidade: a pretensão punitiva, ou seja, essa pretensão estatal de
obter o título jurisdicional (o título executivo que é a sentença condenatória) e a pretensão executória
(após trânsito em julgado o Estado se valerá desse título efetivamente).
Quando falamos de extinção de punibilidade devemos nos atentar para esses dois momentos:
primeiro uma pretensão do Estado obter esse título através do devido processo legal e o segundo
momento que ocorre após o trânsito e julgado da sentença obtendo, assim, o título da pretensão
executória.

10.1. Extinção da Punibilidade


Inicialmente, as causas extintivas de punibilidade estão arroladas no artigo 107 do Código Penal,
sendo esse rol meramente exemplificativo. Dessa forma, existem outras causas extintivas de punibilidade
que podem estar arroladas em outros pontos da legislação, como, por exemplo, o que com o delito de
peculato culposo, que possui uma previsão específica de causa extintiva de punibilidade para a sua
conduta.

a. Morte do agente
Por expressa previsão do artigo 107 do CP, o falecimento gera a extinção da punibilidade do
agente, haja vista que a pena não poderá passar da pessoa do condenado, excetuada a obrigação de
reparar o dano e a decretação de perdimento de bens, que podem ser estendidas aos sucessores nos
termos do artigo 5º da CRFB. Uma vez que ocorre o falecimento do agente, pelo princípio da
personalidade, cessa a persecução penal: a ação penal não se instaura; se estiver instaurada, ela cessa;
e se já finalizada, não se executa a pena aplicada.
A morte não impede que a vítima intente ação civil para reparação e dano contra os herdeiros do
autor. Mesmo com a morte do agente delitivo, os familiares podem intentar a ação de revisão criminal.
b. Anistia
É o perdão oferecido pelo Congresso Nacional, atingindo um FATO específico, não uma pessoa.
Este tem efeitos retroativos e faz cessar os efeitos penais, porém não atinge os efeitos civis da sentença
condenatória.

c. Graça
É um perdão oferecido pelo Presidente da República, atingindo uma PESSOA e não um fato.
Extingue apenas a pena principal, sendo mantidos os efeitos secundários (penais e civis) da sentença
condenatória. É inadmissível em crimes hediondos e equiparados.

d. Indulto
É uma graça em modalidade coletiva, atingindo diversas pessoas. Possui os mesmos efeitos
citados anteriormente.

e. Decadência
É a perda do direito de agir pelo decurso de determinado lapso temporal, estabelecido em lei,
provocando a extinção da punibilidade do agente. Ou seja, o ofendido demorou muito para representar
ou para realizar a queixa, motivo pelo qual o direito de agir se esvaiu e cessou a existência do direito de
punir. Via de regra, é de 6 meses o prazo para o exercício do direito, a contar da data do conhecimento
da autoria. Não cabe decadência em ação penal pública incondicionada.
O prazo de decadência não pode ser suspenso, prorrogado ou interrompido. A instauração de IP
não suspende também o prazo. Nos casos de dúvida, se houve ou não o fim do prazo e se ocorreu a
decadência, deve-se decidir em FAVOR DO OFENDIDO, permitindo-se que ele ajuíze a ação penal.

f. Renúncia
A renúncia é um instituto que só se aplica a ação penal privada e, nesta, o ofendido decide que
não quer mais ver o autor punido por algum motivo. Tendo em vista que nesse caso temos um direito
disponível, o ofendido pode optar por renunciar a ele, dizendo ao Estado que não quer mais que o ius
puniendi seja exercido em desfavor do acusado. A renúncia é unilateral, pré-processual, indivisível e
irretratável.

g. Perdão
Uma vez que o ofendido exerceu seu direito à ação penal privada, pode ser que ele volte atrás
depois do início da ação penal. A principal diferença entre a renúncia e o perdão é que a queixa-crime já
foi oferecida e a ação já foi iniciada. Iniciada a ação penal, portanto, não se fala mais em renúncia e sim
no chamado perdão do ofendido. O perdão é simples, visto que o querelante irá manifestar ao judiciário o
interesse em ver o autor perdoado pelo que fez. O perdão é bilateral e pós-processual.
O acusado tem o direito de não aceitar o perdão, por interesse em levar o julgamento até o final
e ser absolvido. Uma vez que o querelante decide perdoar o querelado, este tem três dias para se
manifestar, valendo seu silêncio como aceitação. Se houverem vários acusados, a rejeição ao perdão
manifestada por um deles não prejudica aos demais.

h. Perempção
Na perempção ocorre uma negligência do querelante, que ingressa em juízo para ver o acusado
punido, mas deixa de cumprir suas obrigações processuais. Ela ocorre nos seguintes casos:

- Quando o querelante falece ou se torna incapaz e seus sucessores não comparecem em juízo para
substitui-lo em até 60 dias;
- Quando o querelante deixa de dar andamento no processo por 30 dias consecutivos;
- Quando o querelante deixar de comparecer a um ato do processo ao qual deva estar presente, sem
motivo justificado;
- Quando o querelante deixa de formular pedido de condenação nas alegações finais (se for possível
subentender que o ofendido ainda quer ver a punição do querelado e que apenas esqueceu de incluir
esse pedido nas alegações finais, não deverá ser declarada a perempção);
- No caso de querelantes pessoas jurídicas, quando estas se extinguirem e não deixarem sucesso.

i. Abolitio criminis
Outra causa extintiva de punibilidade é a abolitio criminis, ou seja, o surgimento de lei nova mais
benéfica que deixa de considerar um fato como crime. Ela não faz cessar os efeitos extrapenais da
sentença, de modo que os efeitos civis, por exemplo, permanecem.

j. Retratação
Em alguns casos, a lei autoriza o agente delitivo a retratar-se (retirar o que foi dito). E, ao
permitir que ele o faça, extingue sua punibilidade pelo delito praticado (ex.: art. 342, §2º e art. 143, CP).
k. Perdão Judicial
Em alguns casos, a lei permite que o magistrado deixe de aplicar a sanção penal do autor de um
delito. O entendimento majoritário é de que ocorre a chamada sentença declaratória de extinção de
punibilidade. Porém, de acordo com o artigo 120 do CP, estamos diante de sentença condenatória sem
efeito de reincidência.

11. Prescrição

A prescrição é a perda do direito de punir do Estado diante de sua inércia. Ou seja, o Estado não
exerceu o ius puniendi no prazo legal, de forma que ocorreu a extinção da punibilidade do agente.
Alguns delitos foram considerados imprescritíveis por nosso constituinte e estão arrolados dessa
forma na própria CRFB. A regra geral, portanto, é considerar apenas dois delitos como imprescritíveis em
nosso ordenamento jurídico: o racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático.

11.1. Espécies

11.1.1. Prescrição da Pretensão Punitiva (PPP) – artigo 109 do Código Penal


A prescrição da pretensão punitiva tem o condão de excluir tanto os efeitos secundários como
principais da sentença condenatória (se houver). Dessa forma, remove tanto efeitos penais quanto
extrapenais.

A. Prescrição Propriamente Dita


A prescrição propriamente dita ocorre antes da sentença condenatória. Enquanto não se tem a
pena definitiva, deve-se regular o prazo prescricional pela pena máxima cominada ao delito. Ou seja,
nessa espécie de PPP, verifica-se se, entre o prazo inicial (art. 111 do CP) e a sentença condenatória, se
operou a prescrição, nos prazos estabelecidos pelo art. 109 do CP.

B. Prescrição Superveniente
A prescrição superveniente ocorre entre a publicação da sentença condenatória recorrível e o
trânsito em julgado da sentença. Nesse caso, o prazo prescricional (art. 109 do CP) será calculado com
base na pena cominada ao delito. No caso da prescrição superveniente, inicia-se a contagem do prazo
prescricional a partir da publicação da sentença condenatória recorrível.

C. Prescrição Retroativa
A prescrição retroativa ocorre entre a publicação da sentença recorrível e o recebimento da
denúncia (tem haver com a duração do processo de conhecimento).

11.1.2. Prescrição da Pretensão Executória (PPE)


Ocorre depois de transitar em julgado a sentença condenatória, tanto para a acusação quanto
para a defesa. Essa modalidade é mais simples, afinal de contas, já temos uma pena cominada com o
trânsito em julgado. Basta calcular a prescrição com base na pena aplicada e de acordo com art. 109 do
CP. A única observação é que, caso o condenado seja reincidente, os prazos de prescrição previstos no
art. 109 aumentam de 1/3.

11.2. Causas interruptivas e impeditivas da Prescrição (arts. 116 e 117 do CP).

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