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DIREITO PROCESSUAL

PENAL
Professor: Renato Ercolin
AÇÃO PENAL
Ação Penal

A persecução penal se dá em duas etapas: a) investigação e b) ação penal (processo)

Não se pode falar em pena nem medida de segurança sem que tenha havido processo. Essa garantia
está na Constituição Federal:

Art. 5º, CF:

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

Conceito: O direito de ação consiste na possibilidade de exigir a tutela jurisdicional com base em
um fato que violou a lei.
AÇÃO PENAL
Características:

1. Direito público: O direito de ação pertence ao Direito Processual Penal, que é público, servindo
para fazer atuar o Direito Penal.
2. Direito subjetivo: existe um titular, que tem o direito de exigir do Estado a prestação
jurisdicional.
3. Direito autônomo e abstrato: ele não se confunde com o direito material invocado e existe
independentemente da procedência ou improcedência do pedido.
4. Direito específico: deve estar atrelado a um caso concreto
AÇÃO PENAL
Condições da ação ou condições de procedibilidade

Condições genéricas (são exigidas para qualquer ação penal):

1) legitimidade “ad causam”: É a legitimidade para promover a ação penal. A legitimidade ativa pertence ao
Ministério Público na ação pública e à vítima na ação privada. A legitimidade passiva exige uma pessoa humana que
tenha 18 anos completos na data do fato.
E quanto à pessoa jurídica? Ela pode figurar no polo passivo de ação penal?
R.: Sim, nos crimes ambientais.
Entendia-se que para que a pessoa jurídica pudesse ser responsabilizada era necessário que a pessoa física também
fosse responsabilizada conjuntamente, figurando no polo passivo da ação penal tanto a pessoa jurídica como a pessoa
física responsável pelo ato criminoso, que agiu no interesse daquela, visando beneficiá-la. Assim, deveria haver a
“dupla imputação”.
A teoria da dupla imputação foi adotada pelos tribunais até que o tema foi submetido à apreciação do STF, no ano de
2013, que entendeu que não era necessária a imputação simultânea à pessoa física causadora do dano e à pessoa
jurídica (RE 548.181/PR).
Assim, deixou-se de adotar a teoria da dupla imputação, sendo permitido que a pessoa jurídica responda sozinha no
polo passivo da ação penal.
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2) interesse de agir: é a necessidade de acionar o Poder Judiciário. Só há interesse de agir se ficar demonstrado
que é preciso o provimento jurisdicional. No âmbito penal o interesse de agir sempre existirá quando se
desejar punir uma infração penal, pois sem a intervenção judicial não é possível aplicar uma sanção (pena)

3) possibilidade jurídica do pedido: o pedido formulado deve encontrar amparo no ordenamento jurídico.
Não se pode pedir a imposição de pena de prisão para um fato que seja atípico. Ex.: pedir a condenação penal
pela prática do incesto. Trata-se de fato não criminoso.
Igualmente, não se pode pedir uma pena que não esteja prevista.
Ex.: pedir condenação a pena de morte para o crime de tráfico de drogas. A lei não prevê esse tipo de pena.

4) justa causa: é o lastro probatório mínimo quanto à existência do crime e indícios de autoria.
Opinio delicti: é o convencimento do membro do Ministério Público de que existe justa causa para o
oferecimento da ação penal.
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Condições específicas (são exigidas apenas para algumas ações penais): Em alguns casos, além das condições
genéricas, serão exigidas condições específicas. Ex.: Requisição do Ministro da Justiça; Representação do
ofendido; Trânsito em julgado da sentença que anula o casamento, no caso do art. 236, CP.

Carência da ação: Faltando alguma das condições da ação, o autor será carecedor da ação, acarretando a
extinção do processo e o seu arquivamento.

Condição de procedibilidade: É exigida para o exercício do direito de ação (Ex.: Representação do ofendido nos
crimes de ação penal pública condicionada. É necessária para que o processo tenha início).

Condição de prosseguibilidade: Nesse caso o processo já foi iniciado e está em tramitação, mas exige-se uma
condição para que ele prossiga regularmente. (Ex.: art. 91 da Lei nº 9.099/95)

Condição objetiva de punibilidade: É a condição exigida para que o fato se torne punível concretamente. (Ex.:
Alguns crimes cometidos no exterior só serão puníveis no Brasil se forem atendidas algumas condições. Art. 7º,
§ 2º, do CP, exige que o autor do crime ingresse no Brasil; Ex.2: Existência de sentença anulatória de
casamento, no crime de induzimento a erro ao matrimônio. Art. 236, CP)
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Classificação da ação penal: A ação penal pode ser pública ou privada.

A ação penal pública se subdivide em (a) incondicionada e (b) condicionada.

A ação penal privada se subdivide em (a) exclusivamente privada; (b) personalíssima; (c) subsidiária
da pública

Regra: A ação penal sempre será pública, promovida pelo Ministério Público, salvo quando a lei
expressamente declarar que ela é privativa do ofendido, conforme dispõe o art. 100 do CP:

“Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do
ofendido”
AÇÃO PENAL
Ação Penal Pública

Ação Penal Pública Incondicionada

Em regra, a ação penal será pública, conforme dispõe o art. 100, do Código Penal. Nesse caso, o
órgão responsável por oferecer a denúncia (ajuizar a ação penal) é o Ministério Público, por meio do
Promotor de Justiça (se for na justiça estadual), pelo Procurador da República (se for na justiça
federal) ou Promotores da Justiça Militar (se for na justiça militar da união).

Titularidade: Ministério Público


(art. 129, I, CF; art. 24, CPP; art. 100, § 1º, CP)

Exceção: Quando o Ministério Público não oferece a ação penal no prazo legal a vítima pode
promover a ação penal privada subsidiária da pública (art. 5º, LIX, CF; art. 29, CPP).
AÇÃO PENAL
Também é possível se falar em ação penal pública subsidiária da pública. Trata-se da hipótese em
que um outro órgão público pode oferecer ação penal se houver inércia do Ministério Público.

Exemplo: Art. 2º, § 2º, do Decreto-Lei nº 201/67, que versa sobre os crimes de responsabilidade dos
prefeitos. Caso o Procurador-Geral de Justiça não ofereça a ação penal em desfavor do prefeito, o
Procurador-Geral da República poderá oferecê-la (Lembrando que o prefeito possui prerrogativa de
foro, sendo processado no Tribunal).

Atenção: O art. 26 do CPP não foi recepcionado pela Constituição Federal (Riscar este artigo do
Código). Trata-se do denominado “processo judicialiforme”, em que a ação penal, nas
contravenções, era iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida
pela autoridade judiciária ou policial.
AÇÃO PENAL
Princípios da ação penal pública incondicionada:

1. Oficialidade: o Ministério Público é o órgão oficial;


2. Oficiosidade: o Ministério Público deve agir ex officio. Não há necessidade de autorização para a
instauração da ação penal pública incondicionada.
3. Obrigatoriedade: quando houver justa causa (prova do crime e indícios de autoria)o Ministério Público é
obrigado a oferecer a ação penal. Há exceções. Ex: Transação penal (art. 76 da Lei 9.099/95); acordo de
colaboração premiada (art. 4, § 4º, da lei 12.850/2013).
4. Indisponibilidade: O Ministério Público não pode desistir da ação penal já proposta nem do recurso
interposto. Poderá, todavia, pedir a absolvição do réu. Exceção: suspensão condicional do processo (art.
89 da Lei 9.099/95, em que o Ministério Público oferece a denúncia e propõe a suspensão condicional do
processo).
5. Divisibilidade: O Ministério Público pode denunciar alguns corréus e pedir diligências em relação aos
demais investigados. (Obs.: Se houver justa causa em relação a todos os investigados, desde já o
Ministério Público deve denunciar todos, não podendo escolher quem será denunciado).
6. Intranscendência: a ação penal não pode passar da pessoa do infrator (não pode ser direcionada ao seu
herdeiro, por exemplo)
7. Ne bis in idem: ninguém pode ser processado duas vezes pela mesma infração penal.
AÇÃO PENAL
Ação Penal Pública Condicionada

Titularidade: Ministério Público. No entanto para agir o Ministério Público dependerá da


manifestação da vontade do ofendido ou do Ministro da Justiça, conforme o caso.
(art. 129, I, CF; art. 24, CPP; art. 100, § 1º, CP)

Por que se diz que a ação penal pública é condicionada? Ao que ela está condicionada?
Ela está condicionada à representação da vítima ou à requisição do Ministro da Justiça.

Natureza jurídica da representação e da requisição: Condição de procedibilidade.


Sem essa condição o processo não pode ter início.

Em qual órgão pode ser oferecida a representação?


R: perante a autoridade policial, o Ministério Público e o juiz (ar. 39 CPP)
AÇÃO PENAL
Legitimidade para representar:

1. Vítima menor de 18 anos: quem representa é o seu representante legal. Caso haja colidência
de interesses entre a vítima e o representante legal, nomeia-se curador especial.
2. Vítima mentalmente enferma: representante legal.
3. Vítima maior de 18 anos e menor de 21 anos: exclusivamente a vítima. Segundo o Código Civil,
a capacidade plena se dá aos 18 anos completos. Assim, verifica-se que a súmula 594 do STF
perdeu o sentido (“Os direitos de queixa e representação podem ser exercidos,
independentemente, pelo ofendido ou por seu representante legal);
4. No caso de morte da vítima ou se declarada judicialmente a sua ausência: o direito de
representação ou de prosseguir na ação passará ao cônjuge, companheiro, ascendente,
descendente ou irmão. (art. 24, § 1º, e art. 31 do CPP)
Como deve se materializar a representação?
Não há necessidade de rigor formal, isto é, de que seja realizado um “termo de representação”.
Basta que haja a documentação da vontade em ver o autor do crime processado. Se a manifestação
da vontade se der de forma oral, a autoridade que a receber deve consignar esta informação por
escrito.
AÇÃO PENAL
Retratação: A vítima pode se retratar da representação oferecida, desde que isso seja feito até o
oferecimento da denúncia. Assim, se a vítima representou contra o autor do fato, mas depois
perdeu o interesse em vê-lo processado, ela pode voltar atrás, se retratando, desde que o faça
antes do oferecimento da denúncia (art. 25, CPP)

É possível haver a retratação da retratação?


É possível, desde que ocorra dentro do prazo decadencial.

Prazo: a representação deve ser oferecida no prazo de seis meses, contado a partir do
conhecimento da autoria do crime.
Atenção: Não se conta o prazo a partir da ocorrência do fato, mas a partir de quando se descobre
quem foi o seu autor.
Trata-se de prazo decadencial, contado na forma do art. 10 do CP (inclui-se o dia do início e exclui-se
o dia do vencimento; não se interrompe, não se suspende nem se prorroga). Assim, se o dia final
cair num feriado ou final de semana, não haverá a prorrogação para o dia útil seguinte.
AÇÃO PENAL
Ausência de vinculação do Ministério Público à representação: A existência de representação não
significa que o órgão do Ministério Público está obrigado a denunciar o suposto autor do fato. A
representação é uma condição para que se apure o fato criminoso e autorize, se for o caso, que seja
oferecida denúncia. Assim, se ao final da investigação o membro do Ministério Público entender
que sequer houve crime, ele poderá promover o arquivamento dos autos.

Coautoria e representação somente contra um ou alguns dos coautores: O ofendido não pode
escolher contra quem vai oferecer a representação. Ele deve oferecer contra todos ou então não
representar contra ninguém.
AÇÃO PENAL
Requisição do Ministro da Justiça: Esta requisição não significa ordem, mas solicitação. É uma
condição de procedibilidade para a apuração e o processamento de determinados crimes (Ex.:
ofensa contra a honra do Presidente da República. Art. 145, parágrafo único do CP)

Em qual órgão é feita a requisição do Ministro da Justiça?


R.: A requisição do MJ é feita ao Ministério Público, na figura do Procurador Geral, por meio de um
ato formal.

A requisição é uma condição de procedibilidade processual, podendo também ser entendida, sob
outro enfoque, como um ato administrativo político.

Prazo para a requisição: A lei não prevê prazo para a requisição, razão pela qual se entende que
enquanto não estiver extinta a punibilidade do ofensor, poderá haver a requisição (Ex.: prescrição
do delito)
AÇÃO PENAL
Requisitos da ação penal pública (requisitos da denúncia)

1. exposição do fato criminoso: O fato criminoso deve ser precisamente narrado, contendo todas as suas
circunstâncias. Se o crime for culposo, deve ser narrada qual a modalidade da culpa, especificando o
comportamento culposo do denunciado. Se a denúncia for vaga, genérica (ex.: apenas fazer referencia ao
inquérito policial; não descrever a conduta de cada denunciado), ela será inepta e deverá ser rejeitada.
2. identificação do acusado: É possível que não seja conhecida a qualificação do acusado, mas pode ser feita
a denúncia se houver dados que sirvam para identificá-lo.
3. classificação jurídica: O membro do Ministério Público deve indicar qual é o dispositivo que foi violado,
mas essa classificação jurídica não vincula o juiz, que pode entender que o acusado violou outro
dispositivo.
4. rol de testemunhas: as testemunhas devem ser indicadas no momento do oferecimento da denúncia, sob
pena de preclusão (Rito ordinário e primeira fase do rito do Júri: 8 testemunhas por fato; Segunda fase do
rito do Júri – Plenário – 5 testemunhas por fato; rito sumário: 5 testemunhas por fato; Lei de Drogas: 5
testemunhas)
5. redigida em língua portuguesa: redigida no idioma oficial.
6. subscrita por membro do Ministério Público: Promotor de Justiça; Procurador da República, etc.,
conforme o caso. Se só o estagiário assinar a Denúncia, ela será nula
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Prazo: (para oferecimento da denúncia – art. 46 do CPP):
• 5 dias se o réu estiver preso
• 15 dias se estiver solto (contados da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos
do inquérito policial).

Há leis especiais que trazem prazos específicos.


• 10 dias = Lei de drogas – art. 54, Lei 11.343/2006
• 10 dias = Crime eleitoral - art. 357, Código Eleitoral
• 48 horas = Lei de Abuso de autoridade – art. 13, Lei 4.898/65
• 02 dias = crimes contra a economia popular – art. 10, § 2º, Lei 1521/51
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Denúncia alternativa: Imputa-se ao acusado mais de uma conduta criminosa, sendo que apenas uma
ocorreu, mas o membro do Ministério Público não tem certeza de qual foi. Há divergência quanto a sua
admissibilidade, mas entende-se majoritariamente que a denúncia não pode ser alternativa. Ela deve ser
precisa para permitir o exercício do contraditório e da ampla defesa.

Denúncia genérica e crimes societários: Se o crime for cometido por mais de um agente, a ação penal
deve ser o mais precisa possível quanto à conduta delituosa de cada um. No caso de crimes cometidos
por meio de pessoa jurídica (crimes societários), a ação penal deve descrever a conduta do sócio, do
administrador, do responsável legal, etc. O simples fato de ser sócio de uma PJ não significa que haverá
responsabilidade penal por crime cometido por meio da pessoa jurídica (Ex.: crimes tributários). A
conduta atribuída ao sócio/representante legal deve ser descrita de forma individualizada, de forma
direta e objetiva. A denúncia genérica nos crimes societários é inepta.

Desnecessidade da existência de Inquérito Policial: Se o Ministério Público já possuir elementos de


informação suficientes para oferecer a ação penal não será necessária a instauração de inquérito policial.
Aditamento da denúncia: A denúncia que já foi oferecida pode ser aditada para diversas finalidades. Ex.:
para incluir novo acusado; para incluir fato novo (uma qualificadora; um crime novo...). De qualquer
modo, havendo o aditamento, deve ser oportunizado ao acusado se manifestar sobre tudo o que for
acrescentado.
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AÇÃO PENAL PRIVADA

Titularidade: O ofendido ou o seu representante legal (ar. 30 CPP). Na ação privada o titular não é o Ministério
Público!
Há uma substituição processual, onde o ofendido, falando em nome próprio, está defendendo um direito alheio (o
direito de punir do Estado)

Espécies da ação privada:


a) Exclusivamente privada: nesta ação, se a vítima morrer, o direito de queixa passa para o cônjuge,
companheiro(a), ascendente, descendente ou irmão;
b) Personalíssima: nesse caso não se transmite o direito de queixa. É uma exceção. Único exemplo atualmente.:
art. 236, CP (induzimento a erro essencial no casamento ou ocultação de impedimento para o casamento).
c) Privada subsidiária da pública: cabível quando o Ministério Público não oferece denúncia no prazo legal, nos
casos de ação penal pública.
Nesse caso, transcorrido o prazo para o Ministério Público oferecer ação penal e tendo ele ficado inerte, o ofendido
poderá manejar a ação penal privada subsidiária, no prazo de seis meses, iniciados do encerramento do prazo para o
MP (em regra, após os 5 dias, se o réu estiver preso ou 15 dias, se estiver solto, conforme art. 46 do CPP). Atenção:
não cabe a ação penal privada subsidiária se o MP requereu o arquivamento dos autos do inquérito policial.
AÇÃO PENAL
Ação penal exclusivamente privada

A peça acusatória se chama queixa ou queixa-crime e as partes são chamadas de querelante (quem
oferece a queixa, que é o ofendido ou o seu representante legal) e o querelado (é o réu, quem
praticou a infração penal)

Princípios da ação penal privada:


a) Princípio da oportunidade ou conveniência: a vítima decide se quer ou não ingressar com a
queixa. Ela não está obrigada; (pode deixar decair o direito, pode renunciar)
b) Princípio da disponibilidade: a vítima pode dispor da queixa, ou seja, pode desistir (pode
perdoar o agente, pode deixar ocorrer a perempção)
c) Princípio da indivisibilidade: a vítima deve mover a queixa contra todos os autores do fato. Não
pode escolher o réu;
d) Princípio da instranscendência ou da pessoalidade: a ação penal só pode ser proposta contra a
pessoa que praticou a infração penal
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Legitimidade para intentar a ação exclusivamente privada:

a) Vítima menor de 18 anos: o direito de ação é do seu representante legal. Caso haja colidência
de interesses entre a vítima e o representante legal, nomeia-se curador especial.
b) Vítima mentalmente enferma: representante legal.
c) Vítima maior de 18 anos e menor de 21 anos: exclusivamente a vítima. Segundo o Código Civil,
a capacidade plena se dá aos 18 anos completos. Assim, verifica-se que a súmula 594 do STF
perdeu o sentido (“Os direitos de queixa e representação podem ser exercidos,
independentemente, pelo ofendido ou por seu representante legal);
d) No caso de morte da vítima ou se declarada judicialmente a sua ausência: o direito de ação
passará ao cônjuge ou companheiro, ascendente, descendente ou irmão. (art. 31 do CPP).
e) Ação privada proposta por pessoa jurídica: É possível que a pessoa jurídica seja vítima de crime
que se processa mediante ação penal privada (Ex.: crime de difamação, art. 139 do CP – fere a
honra objetiva da vítima). Nesse caso, o seu representante legal é quem tem legitimidade
AÇÃO PENAL
Requisitos da queixa-crime: são os mesmos da denúncia, exceto quanto a ser subscrita por membro do
Ministério Público, pois a queixa é assinada por advogado.
1. exposição do fato criminoso;
2. identificação do acusado;
3. classificação jurídica;
4. rol de testemunhas;
5. redigida em língua portuguesa;
6. subscrita por advogado.

Quanto às formalidades da queixa-crime, convém destacar alguns aspectos:


- A queixa pode ser assinada pela própria vítima, se ela for advogada. Se não for, deve contratar alguém com
habilitação técnica (advogado)
- A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do
mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem
de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal (art. 44 do CPP)
AÇÃO PENAL
- Vítima pobre:
Art. 32. Nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento da parte que comprovar a sua pobreza, nomeará
advogado para promover a ação penal.
§ 1o Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder prover às despesas do processo, sem privar-se dos
recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da família.
§ 2o Será prova suficiente de pobreza o atestado da autoridade policial em cuja circunscrição residir o
ofendido.

Atualmente entende-se que o juiz deve encaminhar a vítima pobre para a Defensoria Pública, só nomeando
advogado se no local não existir Defensoria Pública devidamente estruturada.

- custas judiciais: o CPP prevê custas para as ações intentadas mediante queixa, salvo para o caso de vítima
pobre (art. 806)

- Na ação privada o Ministério Público atuará como fiscal da lei.


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Prazo para oferecimento da queixa-crime: 6 meses, contados do dia em que se descobrir quem foi o
autor do fato. O prazo é decadencial.

Extinção da punibilidade: Nos crimes que se processam mediante queixa-crime, há causas de extinção da
punibilidade que merecem ser estudadas a parte. São elas: a) decadência; b) renúncia; c) perdão do
ofendido; d) perempção.

a) Decadência: é a perda do direito de ação penal privada (ou de representação) em razão do seu não
exercício no prazo legal, de 6 meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime. O
prazo decadencial não se interrompe, não se suspende, nem se prorroga. O prazo deve se contar até o
oferecimento da peça acusatória, não importando o momento do recebimento da queixa-crime.

b) Renúncia: é um ato unilateral (não depende de aceitação do autor do fato) e voluntário, (é


extraprocessual), em que o ofendido abdica do direito de oferecer a queixa-crime (ocorre antes do
oferecimento da queixa-crime). Ela pode ser expressa (feita por escrito) ou tácita (quando pratica ato
incompatível com a vontade de processar. Ex.: a vítima convida o autor do fato para ser padrinho do filho)
AÇÃO PENAL
c) Perdão do ofendido: O ofendido pode perdoar o autor do fato, acarretando a extinção da sua
punibilidade, caso este aceite. Esse perdão só é cabível na ação penal exclusivamente privada e na
ação penal personalíssima. Não cabe na ação penal privada subsidiária, onde o MP deve retomar a
ação. (Não se confunde com o perdão judicial, que é concedido pelo juiz, nas hipóteses legais – são
coisas distintas).

- Momento: O perdão do ofendido se dá depois do início da ação penal e antes do trânsito em


julgado da sentença.
- Ele pode ser expresso ou tácito.
- É um ato bilateral, pois depende da aceitação do querelado para produzir efeitos (que também
pode ser expressa – declaração formal – ou tácita – caso não se manifeste no prazo de 3 dias)
- Mais de um querelado: perdão concedido a um se estende a todos (princípio da indivisibilidade);
- Mais de um querelante: o perdão concedido por um deles não prejudica o direito dos outros.
- Perdão parcial: é possível. Ex.: Há dois crimes e o querelante perdoa um deles.
AÇÃO PENAL
d) Perempção: É a perda do direito de prosseguir no exercício da ação penal. Trata-se de uma
sanção imposta ao querelante negligente, implicando a extinção da punibilidade do querelado. Só é
aplicável na ação penal exclusivamente privada e na ação penal personalíssima. Ocorrida a
perempção a ação não pode ser reiniciada.

Hipóteses de perempção: (art. 60 do CPP):


I - quando, iniciada a ação penal, o querelante deixar de promover o andamento do processo
durante 30 dias seguidos
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo,
para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem
couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo
a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.
AÇÃO PENAL
Ação Penal Adesiva: É o nome dado ao caso em que figuram no polo ativo, em conjunto, o
Ministério Público e o querelante, quando se tratar de hipótese de conexão ou continência entre
crimes de ação penal pública e de ação penal de iniciativa privada.

Ação Penal Popular: Existe entendimento de que o habeas corpus e a denúncia proposta contra
determinados agentes políticos, pela prática de crime de responsabilidade, perante a Câmara dos
Deputados (Presidente da República e Ministro de Estado), Senado Federal (Ministros do STF e PGR)
ou Assembléia Legislativa (Governador), seriam hipóteses de ação popular, pois o art. 654 do CPP
dispõe que qualquer pessoa pode impetrar HC e os artigos 14, 41 e 75 da Lei 1.079/50 dispõe que
qualquer cidadão poderá denunciar as autoridades referidas por crime de responsabilidade.
A crítica que se dá a essas hipóteses é no sentido de que não poderiam ser consideradas ações
penais populares, pois não se tratam de ações penais condenatórias, já que o HC é uma ação
constitucional voltada à tutela da liberdade de locomoção e a “denúncia” prevista na Lei que define
os crimes de responsabilidade é, na realidade, uma notitia criminis, além de que os denominados
crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas, cuja sanção é a destituição do
cargo e não a imposição de pena privativa de liberdade.
AÇÃO PENAL
Ação Penal Secundária: É o nome dado a situação em que a lei prevê uma modalidade de ação penal
para determinado crime, mas, conforme as circunstâncias do caso, a ação pode variar, prevendo a lei,
secundariamente, outra modalidade de ação penal. Ex.: O crime de injúria (art. 140, CP) se processa
mediante ação privada (queixa-crime). No entanto, caso se trate de injúria racial 9art. 140, § 3º,) a ação
penal será pública condicionada à representação (art. 145, parágrafo único do CP)

Ação de Prevenção Penal: Trata-se da ação ajuizada com a finalidade de aplicar ao inimputável (art. 26,
caput, do CP) medida de segurança. É a denominada absolvição imprópria, onde o acusado é absolvido,
mas a ele é aplicada a medida de segurança (internação ou tratamento ambulatorial)

Ação penal nos crimes contra a dignidade sexual: A partir da Lei nº 13.718/2018, todos os crimes contra
a dignidade sexual são de ação penal pública incondicionada.

Ação penal ex officio: Não existe. Antes da Constituição Federal de 1988 havia o denominado processo
judicialiforme, que se caracterizava pela possiblidade do processo ser iniciado por meio de portaria do
magistrado ou do delegado, nos casos de contravenções penais (antiga redação do art. 531 do CPP –
revogado e atual redação do art. 26 do CPP, não recepcionado).
AÇÃO PENAL
Ação penal nos crimes contra a honra (art. 145 do CP: injúria, calúnia e difamação): A regra é a ação
penal privada. Todavia, existem as seguintes peculiaridades:
a) Injúria real: é a praticada mediante violência ou vias de fato, que por sua natureza ou pelo
meio empregado se considerem aviltantes (art. 140, § 2º, CP). Se resultar em lesão corporal, a
ação penal será pública (condicionada a representação se for lesão leve ou culposa e
incondicionada se for de natureza grave ou gravíssima);
b) Injúria racial: ação penal pública condicionada a representação.
c) Crime contra a honra do Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro: Ação
penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça.
d) Crime contra a honra de funcionário público no exercício das funções: Dupla legitimidade,
concorrente. Súmula 714 do STF: “É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa,
e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por
crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.”

Ação penal nos crimes de lesão corporal leve com violência doméstica e familiar contra a mulher:
Ação penal pública incondicionada. (Súmula 542 do STJ: “A ação penal relativa ao crime de lesão
corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.”.)
AÇÃO PENAL
Rejeição da denúncia ou queixa: As hipóteses que autorizam a rejeição da denúncia ou da queixa
estão previstas no art. 395 do CPP. Conforme dispõe o referido artigo, a ação penal (denúncia ou
queixa) será rejeitada quando:

I – for manifestamente inepta: ocorre quando não atender os requisitos do art. 41 do CPP (Ex.: Não
narra nenhum fato criminoso; Não indica quem é o acusado)

II – faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal.


AÇÃO PENAL
Os pressupostos processuais podem ser subjetivos e objetivos.
Subjetivos:
a) relativos ao juiz (investidura: estar investido no cargo de acordo com a legislação;
competência: limite da jurisdição dentro do qual o juiz poderá atuar; e imparcialidade:
ausência de suspeição e impedimento) e
b) relativos às partes (capacidade de ser parte: idade igual ou superior a 18 anos na data do fato
para estar no polo passivo; e capacidade postulatória: habilitação técnica, exceto no caso de
habeas corpus.)
Objetivos:
a) extrínsecos: ausência de fato impeditivo para o trâmite processual (Ex.: ausência de coisa
julgada ou de litispendência);
b) intrínsecos: respeito ao devido processo legal, às formalidades. (Ex.: presença de instrumento
de mandato – procuração – para que o advogado represente o réu).
Também será rejeitada a ação penal se faltar alguma das condições da ação (genéricas ou
específicas)
AÇÃO PENAL
III – faltar justa causa: deve haver, no mínimo, indícios de autoria e prova da materialidade, sob
pena de faltar justa causa.

Rejeição parcial: É possível. Ex.: Rejeita quanto a um crime e recebe em relação a outro.

Recurso cabível contra a rejeição: Recurso em Sentido Estrito (art. 581, I, CPP)
Obs: No caso de crimes de menor potencial ofensivo, quando a ação penal é rejeitada cabe
apelação (art. 82 da Lei nº 9.099/95)

Repropositura da ação: A depender do fundamento da rejeição, a ação penal poderá ser proposta
novamente. Ex.: Se a rejeição ocorrer porque o fato é atípico, não haverá possiblidade de ser
proposta nova ação. Todavia, se for rejeitada por falta de representação, a ação penal poderá ser
proposta novamente assim que for suprida a omissão e efetuada a representação.

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