Brasília-DF.
Elaboração
Rebeca Confolonieri
Julio Cesar Pissuti Damalio
Produção
Apresentação................................................................................................................................... 5
Introdução...................................................................................................................................... 8
Unidade i
URINÁLISE............................................................................................................................................. 9
CAPÍTULO 1
Introdução à Urinálise....................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
Função e Doenças Renais................................................................................................. 14
CAPÍTULO 3
Exame físico da Urina........................................................................................................ 17
CAPÍTULO 4
Exame químico da Urina................................................................................................... 20
CAPÍTULO 5
Exame microscópico da Urina........................................................................................ 25
CAPÍTULO 6
Controle de Qualidade em Urinálise............................................................................... 37
Unidade Ii
OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS........................................................................................................... 40
CAPÍTULO 7
Fluidos Serosos................................................................................................................. 40
CAPÍTULO 8
Fluido Sinovial................................................................................................................... 43
CAPÍTULO 9
Fluido Seminal (Sêmen)....................................................................................................... 46
CAPÍTULO 10
Fluido Amniótico............................................................................................................... 52
CAPÍTULO 11
Suor.................................................................................................................................... 54
CAPÍTULO 12
Saliva................................................................................................................................... 56
CAPÍTULO 13
Suco Gástrico................................................................................................................... 58
CAPÍTULO 14
Líquido Cefalorraquidiano............................................................................................. 60
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 65
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
7
Introdução
O Caderno de Estudos e Pesquisa “Urinálise e Fluidos Biológicos” foi elaborado com o objetivo de
proporcionar a você, aluno(a), conhecimentos básicos aplicados na área laboratorial, assim como
sua interação com outras áreas das ciências da saúde.
O exame de urina é um meio específico de avaliação da função renal do organismo humano, sendo,
portanto, um forte elemento diagnóstico no estudo das patologias em geral.
Para a avaliação fidedigna de todos esses fluidos biológicos, o emprego de técnicas sensíveis e
específicas é fator preponderante para o bom desenvolvimento da análise. Nesse sentido, abordar-
se-ão a maneira correta para a coleta de cada amostra, quem pode realizá-la e como são feitas suas
análises específicas.
Este Caderno lhe fornecerá, ainda, uma visão detalhada das estruturas físicas, químicas e
microscópicas da urina e dos outros tipos de fluidos biológicos, oportunidade em que serão
abordadas as análises dos líquidos serosos, líquido sinovial, líquido seminal, líquido amniótico,
suor, saliva e suco gástrico, apontando o significado clínico e sua importância. Ademais, seu estudo
será enriquecido com ilustrações recentes aplicadas principalmente à Medicina Laboratorial.
Objetivos
»» Aprofundar conhecimentos sobre os líquidos biológicos do organismo.
8
URINÁLISE Unidade i
CAPÍTULO 1
Introdução à Urinálise
História e Importância
A medicina laboratorial teve início com a análise da urina. Embora os métodos não fossem sofisticados,
a observação da urina permitia ao médico obter informações diagnósticas a partir da turvação, cor,
odor, volume, viscosidade e até mesmo pela presença de açúcar ao perceberem que certas amostras
atraíam formigas. Os meios modernos de urinálise ampliaram seu campo de ação, abrangendo não só
o exame físico, mas também a análise bioquímica e a microscopia do sedimento urinário.
No século XVII, com a invenção do microscópio, foi possível realizar o exame do sedimento urinário
e criar métodos para sua quantificação.
Além da amostra de urina ser de obtenção rápida e fácil, fornece informações sobre muitas das
principais funções metabólicas do organismo, por meio de exames laboratoriais simples. Essas
características se ajustam às tendências atuais em favor da medicina preventiva.
Devido ao fato de o exame urinário ser um método muito valioso de triagem metabólica, pode-se
detectar, além de doenças renais, o início assintomático de patologias como o diabetes mellitus e
as hepatopatias.
Formação e Composição
A formação da urina ocorre nos rins, como um ultrafiltrado do plasma, a partir do qual são reabsorvidos
glicose, aminoácidos, água e outras substâncias essenciais ao metabolismo do organismo.
9
UNIDADE I │ URINÁLISE
Para ter certeza de que um determinado FLUIDO é realmente urina, pode-se dosar ureia e creatinina
nessa alíquota já que tais substâncias se encontram presentes em altas concentrações se comparadas
a outro FLUIDO corporal.
Volume
O volume urinário depende da quantidade de água excretada pelos rins, portanto, a quantidade
excretada, em geral, é determinada pelo estado de hidratação do organismo.
»» ingestão de líquidos;
O débito urinário médio é de 1.200mL a 1.500mL, porém podem ser considerados normais os
valores limites de 600 mL a 2.000 mL.
Redução do volume diário normal de urina, também chamado de oligúria, geralmente se dá quando
o organismo se encontra em um estado de desidratação devido à perda excessiva de água em
decorrência de episódios de vômito, diarreia, transpiração ou queimaduras graves.
Quando ocorre anúria, ou seja, cessação do fluxo urinário, a oligúria pode ser resultante de qualquer
tipo de lesão renal grave ou até de uma diminuição do fluxo sanguíneo para os rins.
Coleta
O recipiente da amostra deve ser devidamente etiquetado com o nome do paciente, data e hora da
colheita, lembrando que as etiquetas devem ser postas sobre o recipiente e não sobre a tampa.
Amostras mantidas à temperatura ambiente por mais de uma hora, sem conservantes, podem
apresentar as seguintes alterações:
10
Urinálise │ UNIDADE I
A orientação e preparação adequadas dos pacientes, principalmente quando do sexo feminino, não
se constitui, na prática diária, um procedimento dos mais simples. Por isso, frequentemente no
deparamos com amostras de urina inadequadamente colhidas, que apresentam características de
contaminação com fluxo vaginal.
No caso de pacientes do sexo feminino, elas devem ser orientadas a lavarem cuidadosamente as mãos
e, após enxaguá-las, afastar os lábios vaginais e lavar os órgãos genitais externos em torno da uretra
com água e secar com lenços de papel ou limpar com lenços de higiene. Após essa higiene, os lábios
vaginais devem ser mantidos afastados até a micção e durante ela. A primeira parte jato da micção deve
ser desprezada. Após isso, se colhe aproximadamente 50 mL e se despreza o restante. As pacientes
devem colher a amostra de urina imediatamente após realizar a higiene, sem se levantarem do vaso;
caso contrário, o procedimento de higiene deve ser repetido. O rigor necessário na higiene dos órgãos
genitais externos torna o êxito do procedimento de coleta difícil de ser alcançado.
Como alternativa para o procedimento de higiene, recomenda-se que a paciente proceda à colheita
da urina após lavar bem as mãos e, com os dedos indicador e médio, afastar bem os grandes lábios
vaginais. Com leve pressão, promover a retificação da uretra feminina, que normalmente apresenta
uma curva descendente de, aproximadamente, 45° (Quadro 1).
11
UNIDADE I │ URINÁLISE
Os pacientes do sexo masculino devem ser orientados a lavarem cuidadosamente as mãos e, após
enxaguá-las, retrair o prepúcio, se existente, para permitir cuidadosa lavagem da glande peniana,
apenas com água, ou então realizar essa limpeza com lenços de higiene. Após essa higiene, sem
permitir que o prepúcio volte a cobrir a glande peniana, deve ser realizada a coleta desprezando o
primeiro jato da micção, recolhendo, assim, no frasco fornecido pelo laboratório, aproximadamente
50 mL do jato médio. Por fim, desprezar o restante da urina dessa micção (Quadro 2).
Tipos de Amostras
Para se obter uma amostra de urina significativamente fidedigna em relação ao estado metabólico
do paciente, é necessário controlar alguns aspectos da coleta (Tabela 1), como:
»» hora;
»» duração;
12
Urinálise │ UNIDADE I
»» dieta;
»» medicamentos ingeridos; e
»» método de colheita.
Fonte: STRASINGER, S.K. Uroanálise e Fluidos Biológicos. 3. ed. São Paulo: Editora Premier, 2000, p. 7.
A urina do paciente com poliúria possui alta densidade. Nesse caso, deve-se
investigar a possibilidade de diabetes mellitus.
13
CAPÍTULO 2
Função e Doenças Renais
Fisiologia Renal
O ser humano possui dois rins que têm cor vermelho-escura em forma de um grão de feijão e cada
um deles contém, aproximadamente, 1 a 1,5 milhões de néfrons. Os néfrons controlam a capacidade
renal de depurar seletivamente resíduos provenientes do sangue e, ao mesmo tempo, de manter a
água essencial e o equilíbrio eletrolítico no organismo, por meio das seguintes funções renais:
»» filtração glomerular;
»» reabsorção tubular; e
»» secreção tubular.
O sistema urinário, encarregado da produção, coleta e eliminação da urina, está localizado no espaço
retroperitonial, de cada lado da coluna vertebral dorsolombar. Em uma pessoa adulta, cada um dos
rins mede 12 cm e pesa 130 a 170g.
É constituído pelos rins direito e esquerdo; pela pelve renal, que recebe os coletores de urina do
parênquima renal; pelos ureteres, bexiga e uretra. Os rins são envolvidos por uma cápsula fibrosa
que, no nível do hilo renal, se deixa atravessar pela artéria renal, pela veia renal e pela pelve coletora,
que se continua com o ureter. O parênquima renal apresenta duas regiões bastante distintas: a
região periférica, cortical ou córtex renal, e a região central, medular ou medula renal (Figura 1).
14
Urinálise │ UNIDADE I
»» É responsável pela eliminação dos resíduos tóxicos produzidos pelo nosso organismo
como a ureia e o ácido úrico. É a sua função de filtração, de limpeza ou de depuração.
»» A partir do controle do volume (líquidos) e dos sais, exerce grande influência sobre
a pressão arterial e venosa do nosso organismo.
Doenças Renais
Entre as principais doenças renais, destacam-se:
»» Cálculo Renal: a cólica renal, com dor no flanco e costas, é muito característica, quase
sempre com sangue na urina. Em certos casos, pode haver eliminação de pedras.
»» Insuficiência Renal Aguda: é causada por uma agressão repentina ao rim, por falta
de sangue ou pressão para formar urina ou por obstrução aguda da via urinária. A
principal característica é a total ou parcial ausência de urina.
»» Insuficiência Renal Crônica: surge quando o rim sofre a ação de uma doença que
deteriora irreversivelmente a função renal, apresentando-se com retenção de ureia,
anemia, hipertensão arterial, entre outros.
15
UNIDADE I │ URINÁLISE
»» Doenças Multissistêmicas: o rim pode se ver afetado por doenças reumáticas, diabete,
gota, colagenases e doenças imunológicas. Podem surgir alterações urinárias em
doenças do tipo nefrite, geralmente com a presença de sangue e albumina na urina.
16
CAPÍTULO 3
Exame Físico da Urina
Coloração
A variedade da cor da urina vai desde a ausência de cor até o negro, podendo ser devido a
funções metabólicas normais, atividade física, substâncias ingeridas ou patologias. Porém, é de
responsabilidade clínica determinar se essa alteração de cor é normal ou indicativo de doença.
As descrições de cor mais comuns são: amarelo-claro; amarelo; amarelo-escuro e âmbar. Para uma
boa análise da amostra coletada deve-se olhar através do recipiente contra um fundo branco, sempre
em local com boa iluminação.
Muitas colorações anormais na urina são de natureza não patogênica, sendo causadas pela ingestão
de alimentos, vitaminas e medicamentos bastante pigmentados.
Aparência / Aspecto
É um termo geral usado para se referir à transparência da amostra urinária. Os termos utilizados
para descrever a aparência são: límpido, ligeiramente turvo e turvo.
Turvação
As quatro principais substâncias que causam a turvação são os leucócitos, as hemácias, as células
epiteliais e as bactérias. Outras substâncias incluem lipídios, sêmen, muco, linfa, cristais, leveduras,
matéria fecal e contaminação externa.
17
UNIDADE I │ URINÁLISE
Densidade Urinária
É definida como uma medida da densidade das substâncias químicas dissolvidas na amostra. Sua
medida é feita para verificar a capacidade de concentração e diluição do rim.
Em uma urina normal, os valores da densidade variam de 1.015 a 1.025, no volume de 24 horas. Já
em amostras colhidas ao acaso, pode variar de 1.003 a 1.030.
No exame de urina tipo I, a densidade fornece informações preliminares importantes e pode ser
facilmente determinada com o uso de urodensímetro, refratômetro, ou tiras reativas.
Odor
É uma propriedade física observável, pois, assim que recém-colhida a urina possui um odor
característico de seus componentes aromáticos. O odor é classificado como próprio, sui generis
ou característico.
Quando a amostra fica muito tempo em repouso, o cheiro de amônia passa a ser predominante
devido à degradação da ureia. A urina em decomposição adquire um odor pútrido ou amoniacal
devido à fermentação bacteriana.
18
Urinálise │ UNIDADE I
a. a cor;
b. a turvação;
c. a densidade;
19
CAPÍTULO 4
Exame Químico da Urina
Tiras Reativas
A tira reagente é a técnica mais amplamente usada na detecção de substâncias químicas na urina.
Uma única tira pode conter até 10 tipos de testes. São constituídas por pequenos quadrados de
papel absorvente impregnados com substâncias químicas e aderidos a uma tira de plástico.
Uma escala de comparação de cores é anexada às tiras reagentes, usualmente no rótulo do seu
recipiente. O desempenho delas deve ser testado diariamente usando soluções de controle baixo,
normal e alto.
Os testes são feitos mergulhando rapidamente as tiras em uma urina recente, bem
homogeneizada. O excesso deve ser removido, tocando a borda da tira brevemente em um papel
absorvente. O contato da tira com a urina faz com que ocorra uma reação química e, então, a
mudança cromática.
As áreas de teste da tira devem ser observadas nos intervalos de tempo específicos. As mudanças de
cor das almofadinhas de reagentes devem ser comparadas visualmente com a cor da escala fornecida
junto com as tiras.
Automação em Urinálise
A automação no procedimento de urinálise tem permitido aos laboratórios o fornecimento de
resultados mais precisos e seguros.
O intervalo de tempo entre a coleta do material e o processamento do teste é crítico nos exames de
urina. Por isso, a automação, tanto da análise morfológica quanto química das amostras, tem se
tornado um diferencial nos serviços laboratoriais.
Alguns laboratórios têm leitoras automáticas de tiras. Esses instrumentos detectam eletronicamente
as mudanças de cor nas almofadinhas de reagentes. A tira reagente é mergulhada na amostra pelo
técnico e a tira úmida é inserida no aparelho. Os resultados são mostrados em um painel digital e
pode ser impresso automaticamente.
O uso desses instrumentos elimina o erro técnico devido às diferenças de tempo de leitura ou à
interpretação das cores.
20
Urinálise │ UNIDADE I
pH
Os pulmões e os rins são os principais reguladores do equilíbrio ácido-básico do organismo.
Existem alguns fatores que podem influenciar na mudança do valor do pH urinário: a dieta, o uso
de medicações, doenças renais e doenças metabólicas, como diabetes mellitus.
Proteínas
A análise da proteína é mais indicativa para se concluir um quadro de doença renal, mas também
pode ser causada por outras condições como infecções do trato urinário.
A albumina, por ter baixo peso molecular, é a principal proteína sérica encontrada na urina normal.
A urina normal contém quantidade muito baixa de proteínas, sendo em média menos de 10 mg/dL
ou 150 mg por 24 horas.
A principal fonte de erro na utilização das tiras reagentes ocorre quando a urina é extremamente
alcalina e anula o sistema de tamponamento.
Glicose
A análise da glicose é a prova de detecção que está incluída em todos os exames físicos de urina e,
muitas vezes, é o principal objetivo dos programas preventivos de saúde pública.
A presença de glicose detectável na urina é chamada de glicosúria, o que indica que a glicose
sanguínea ultrapassou o limiar renal da glicose. Essa condição ocorre no diabetes mellitus.
Cetonas
Os chamados corpos cetônicos são produtos derivados do metabolismo dos ácidos graxos, tendo
origem hepática.
O termo cetona engloba três produtos intermediários do metabolismo das gorduras: acetona, ácido
beta hidroxibutírico e ácido acetoacético; portanto, quando o organismo metaboliza gordura de
21
UNIDADE I │ URINÁLISE
forma incompleta, são excretadas cetonas na urina. Esses compostos da cetona não se apresentam
em quantidades iguais na urina. A acetona e o ácido beta-hidroxibutírico são produzidos a partir do
ácido acetoacético, sendo relativamente constante em todas as amostras as proporções de 78% de
ácido beta-hidroxibutírico, 20% de ácido acetoacético e 2% de acetona.
Entre as razões clínicas para esse aumento do metabolismo das gorduras citam-se a incapacidade de
metabolizar carboidratos como ocorre no diabetes mellitus; o aumento da perda de carboidratos por
vômitos; e a ingestão insuficiente de carboidratos associada à carência alimentar e redução de peso.
Como as acetonas evaporam na temperatura ambiente, a urina deve ser bem tampada e refrigerada
se não for testada rapidamente.
Sangue
O sangue pode estar presente na urina em forma de hemácias íntegras ou de hemoglobina, que é
um produto da destruição das hemácias. Quando em grande quantidade, pode ser detectado a olho
nu. A hematúria produz urina vermelha e opaca; por outro lado, a hemoglobinúria se apresenta na
coloração vermelha e transparente.
Na análise microscópica do sedimento urinário, observa-se a presença de hemácias íntegras, mas não a
de hemoglobina livre produzida por distúrbios hemolíticos ou por lise das hemácias no trato urinário.
O método mais preciso para determinar as presença de sangue é a avaliação química, pois, uma vez
detectado, se pode utilizar o exame microscópico para distinguir a hematúria da hemoglobinúria.
A hematúria tem mais relação com distúrbios de origem renal ou urogenital, e o sangramento
seria resultante de traumatismo ou irritação dos órgãos desse sistema. Entre algumas causas de
hematúria estão os cálculos renais, as doenças glomerulares, tumores, traumatismos, pielonefrites,
e exposição a produtos tóxicos ou a drogas.
A hemoglobinúria pode ocorrer como resultado da lise das hemácias no trato urinário ou pode
ser causada por hemólise intravascular e a subsequente filtração de hemoglobinas através dos
glomérulos. Isso ocorre em casos de anemias hemolíticas, reações transfusionais, queimaduras
graves, infecções e exercício físico intenso.
Bilirrubina
A bilirrubina é um composto amarelo, muito pigmentado, devido ser um produto da degradação da
hemoglobina.
Sua forma direta ou conjugada atravessa o túbulo renal e aparece na urina; portanto, a bilirrubina é
encontrada mais comumente em pacientes com icterícia mecânica.
A hepatite e a cirrose são exemplos comuns de doenças que produzem lesão hepática. As provas
rotineiras para detecção de bilirrubina com tiras reativas utilizam a diazotização.
22
Urinálise │ UNIDADE I
Há um teste qualitativo, no qual se realiza a agitação da urina formando uma espuma amarelada ou
amarelo-esverdeada e cor âmbar, que indicará pesquisa positiva para bilirrubina, usando amostra
recente. O reativo usado nessa prova é o Reativo de Fouchet.
Urobilinogênio
Como a bilirrubina, o urobilinogênio é um pigmento biliar resultante da degradação da hemoglobina.
É derivado da bilirrubina pela ação da flora bacteriana intestinal. Aproximadamente metade da
sua produção é reabsorvida, retornando ao fígado, e uma parte pequena cai na circulação, sendo
excretada pelos rins.
Por ação da luz e do ar atmosférico, o urobilinogênio que fica no intestino se oxida formando a
urobilina (pigmento responsável pela característica cor das fezes).
O urobilinogênio aparece na urina porque, ao circular no sangue, a caminho do fígado, pode passar
pelos rins e ser filtrado pelos glomérulos. Se houver obstrução do ducto biliar, haverá o impedimento
da passagem normal de bilirrubina para o intestino.
Por meio do exame qualitativo, usando o Reativo de Ehrlich, o urobilinogênio reage com o
p-dimetilaminobenzaldeído, formando uma coloração vermelho-cereja.
Nitrito
A prova para detecção de nitrito é útil para o diagnóstico precoce das infecções da bexiga (cistite), pois
muitas vezes os pacientes são assintomáticos ou têm sintomas vagos, que levariam o médico a pedir
uma cultura de urina. A prova com nitrito também poderá ser empregada para avaliar o sucesso da
terapia com antibióticos e para examinar periodicamente pessoas que têm infecções recorrentes.
Alguns dos microrganismos que, frequentemente, causam Infecção do Trato Urinário (ITU) são a
Escherichia coli, a Klebsiella sp, o Proteus sp e a Pseudomonas sp. As bactérias Gram negativas
produzem enzimas que convertem os nitratos urinários em nitrito. Não se destina a substituir a
cultura de urina como principal prova de diagnóstico e controle das infecções bacterianas, mas sim
a detectar os casos em que a necessidade de cultura pode ser evidente.
Leucócitos
A presença de leucócitos indica uma possível infecção do trato urinário.
Essa prova não tem o objetivo de medir a concentração de leucócitos, e os fabricantes recomendam
que a quantidade seja feita por exame microscópico.
23
UNIDADE I │ URINÁLISE
Densidade
A capacidade renal de reabsorver seletivamente substâncias químicas essenciais e água a partir do
filtrado glomerular é uma das funções mais importantes do organismo.
O complexo processo de reabsorção, muitas vezes, é a primeira função renal a se tornar deficiente;
por isso, a avaliação da capacidade de reabsorção renal é um componente necessário do exame de
urina (sumário).
24
CAPÍTULO 5
Exame Microscópico da Urina
Introdução
O exame do sedimento microscópico da urina é importante para avaliação do estado funcional do
rim. Durante a análise, pode-se verificar a presença ou evolução de infecções; doenças e traumas do
trato urinário. Além disso, certos resultados, como a presença de cristais anormais, podem sugerir
uma desordem metabólica.
É de extrema valia que todas as amostras de urina sejam analisadas o mais breve possível para evitar
a deterioração celular e multiplicação de bactérias ou de outro micro-organismo.
A amostra a ser analisada deverá ser recente e obtida conforme solicitação médica: em frasco limpo e
devidamente identificado. Os elementos que compõem o sedimento urinário podem sofrer diversas
mudanças estruturais, devido a mudança de pH, decomposição bacteriana, baixa densidade (urinas
muito diluídas), alterações provocadas por medicações e até mesmo pelo tipo de dieta.
A melhor maneira pela qual o exame microscópico é realizado tem que ser consistente, incluindo
a observação de, no mínimo, dez campos em menor e maior aumento (100 e 400x). A observação
em menor aumento tem por objetivo avaliar a disposição dos elementos, a composição geral do
sedimento e a presença ou não de cilindros. A identificação e contagem de todos os elementos
presentes são realizadas em aumento de 400x.
Componentes do Sedimento
Hemácias
A presença de hemácias (Figura 2) na urina possui grande relação com lesões na membrana
glomerular ou nos vasos do sistema urogenital. A observação de hematúria pode ser essencial para
diagnóstico de cálculo renal.
Figura 2 – Hemácias
Fonte: <http://tecnicasparaestudos.blogspot.com.br/2008/06/hematria-eliminao-de-um-nmero-anormal.html>.
Acesso em: 2 out. 2012.
25
UNIDADE I │ URINÁLISE
As hemácias são estruturas que podem ser confundidas, por exemplo, com células leveduriformes.
Possuem forma de discos bicôncavos ou esféricos e sem núcleo.
Aquelas de tamanhos variáveis e que têm protrusões celulares são denominadas dismórficas e
aparecem mais em casos de hemorragia glomerular. Hemácias dismórficas também podem ser
encontradas nas amostras de pacientes que realizaram exercícios físicos intensos.
Hemácias devem ser avaliadas quanto à quantidade e morfologia (presença ou ausência de dismorfismo
eritrocitário). A célula mais relacionada com a hemorragia glomerular é o acantócito (Figura 3).
Figura 3 – Acantócito
Leucócitos
Os leucócitos (Figura 4) são os glóbulos brancos; já os piócitos constituem os leucócitos degenerados
resultantes da luta contra infecção microbiana.
Diferente das hemácias, os leucócitos são mais facilmente visualizados e identificados por
apresentarem grânulos citoplasmáticos e núcleos lobulados.
Figura 4 – Leucócitos
A presença de leucócitos na urina costuma indicar que há atividade inflamatória nas vias urinárias.
Em geral, sugere infecção urinária, mas pode estar presente em várias outras situações, como
traumas, drogas irritativas ou qualquer outra inflamação não causada por um agente infeccioso.
26
Urinálise │ UNIDADE I
Células Epiteliais
Como as células epiteliais (Figura 5) provêm do tecido de revestimento do sistema urogenital é
bastante comum encontrá-las nos exames de urina. Em geral são registradas como raras, moderadas
e numerosas.
Essas células originam-se das vias urinárias baixas e altas, podendo estar aumentadas em várias
infecções do trato genital. Porém, em urinas de mulheres estarão presentes em quantidades
variáveis, sendo mais intensamente durante a gestação.
Células menos comuns no sedimento urinário são as da bexiga e do túbulo renal, que, por sua vez,
podem ser indicadoras de doença renal.
Cilindros
Presença de cilindros na amostra de urina pode representar um grave prognóstico, tornando sua
investigação obrigatória, pois são os únicos elementos exclusivamente renais encontrados no
sedimento urinário.
Hialinos
Os cilindros hialinos (Figura 6) são mais frequentemente encontrados e são constituídos quase
que inteiramente por proteína de Tamm-Horsfall. Seu achado anormal pode acontecer em
casos de desidratação, exposição ao calor, estresse emocional, e após a realização de exercício
físico intenso.
27
UNIDADE I │ URINÁLISE
São incolores e têm um índice de refringência semelhante ao da urina; portanto, podem passar
despercebidos se as amostras forem analisadas com muita luminosidade. Contudo, o ideal é abaixar
o condensador do microscópio para uma visualização mais eficaz.
Hemáticos
Esse tipo de cilindro é formado, no túbulo, por aglutinação das hemácias. Sua presença indica
diminuição do fluxo urinário tubular e está relacionada com os processos de glomerulites.
Os sedimentos que contêm cilindros hemáticos também devem conter hemácias livres.
Leucocitários
Os cilindros leucocitários (Figura 8) têm sempre origem renal e são indicativos de doença renal
intrínseca, observados com maior frequência na pielonefrite, porém ocorrem em qualquer tipo de
inflamação dos néfrons. São formados por leucócitos entrelaçados em uma matriz proteica.
28
Urinálise │ UNIDADE I
Esses cilindros são refringentes, com grânulos e, a menos que tenham sido desintegrados, serão
visíveis os núcleos multilobulados. A observação de leucócitos livres no sedimento também ajudará
na sua identificação.
De Células Epiteliais
Esse tipo de cilindro é acompanhado por cilindros hemáticos e leucocitários, pois tanto a
glomerulonefrite quanto a pielonefrite produzem lesão tubular. A identificação é facilitada por
microscopia de fase.
Granulares
Os cilindros granulares (Figura 10) – finos e/ou grosseiros – são formados pela degeneração dos
elementos celulares em seu interior.
29
UNIDADE I │ URINÁLISE
Céreos
Os cilindros céreos (Figura 11) são refringentes, com textura rígida e, por isso, se fragmentam ao
passar pelos túbulos.
Figura 11 – Cilindro Céreo
Adiposos
Os cilindros adiposos (Figura 12) são formados pela agregação à matriz, de gotículas lipídicas livres,
de corpos gordurosos ovais e de lipídios provenientes da desintegração destes.
30
Urinálise │ UNIDADE I
Largos
A presença dos cilindros largos (Figura 13) indica acentuada diminuição da função renal, com
tendência à uremia. Muitas vezes esse cilindro é chamado de “Cilindro da Insuficiência Renal”.
Por serem moldados pelos túbulos contorcidos distais, o seu tamanho pode variar à medida que a
doença altera a estrutura tubular.
Bactérias
A urina presente na bexiga não contém flora bacteriana, mas sistematicamente se contamina com
germes da flora normal da uretra e dos órgãos genitais.
Aquelas amostras que ficam à temperatura ambiente por tempo prolongado podem conter
quantidades detectáveis de bactérias, que, na verdade, representam apenas a multiplicação dos
organismos contaminantes.
Os laboratórios só registram a presença de bactérias (Figura 14) quando elas forem observadas em
amostras recém-colhidas e em conjunto com leucócitos.
Figura 14 – Bactérias
31
UNIDADE I │ URINÁLISE
Leveduras
As leveduras (Figura 15) são ovoides e podem ser observadas com brotamento ou em cadeia (hifas).
Em pacientes com diabete mellitus podem ser visualizadas as leveduras. Já no sedimento urinário
das mulheres com candidíase, a mais comumente encontrada é a Candida albicans.
Parasitas
Os protozoários do tipo Trichomonas (Figura 16) são os mais comumente encontrados no sedimento
urinário, devido à contaminação por secreções vaginais.
Figura 16 – Trichomonas sp
É um organismo flagelado, sendo facilmente identificado devido a seu movimento rápido no campo
microscópico. É transmitido sexualmente. Além de provocar infecção do trato urinário, pode causar
infecção de vias superiores quando não tratada.
32
Urinálise │ UNIDADE I
Espermatozoides
Os espermatozoides (Figura 17) são encontrados na amostra de urina após relações sexuais ou em
casos de ejaculação noturna.
Figura 17 – Espermatozoides
Somente deve ser mencionado em urinas masculinas; caso contrário, não mencionar a presença.
Muco
O muco (Figura 18) encontrado na maioria das urinas é formado pela precipitação de mucoproteínas
e são compostos de fibrinas.
Aparece em forma de rede, dando uma ideia de teia de aranha, e pode estar aumentado nas uretrites.
Deve-se tomar cuidado para não confundi-lo com cilindros hialinos.
Cristais
Embora algumas formações cristalinas sejam normais (Tabela 2), a presença de cristais no sedimento
urinário pode, em determinados casos, estar ligada ao aparecimento de cálculo renal. A formação
dos cristais se dá pela precipitação dos sais da urina submetidos a alterações de pH, temperatura ou
concentração, o que afeta sua solubilidade.
33
UNIDADE I │ URINÁLISE
Em urinas ácidas são encontrados: uratos amorfos, oxalato de cálcio, ácido úrico, além de leucina,
tirosina, cistina, e ácido hipúrico. A coloração varia do amarelo ao castanho-avermelhado. São
várias as formas: losangular, rosetas, cunhas e agulhas.
Nas urinas alcalinas são encontrados: fosfatos amorfos, fosfato triplo, carbonato de cálcio e fosfato
de cálcio. As formas são: prismas, granulares, placas, halteres e esferas.
A identificação de cristais em amostras com pH neutro pode ser difícil, pois os mesmos que
normalmente são encontrados em urinas classificadas como ácidas ou alcalinas podem também
estar presentes em urina neutra.
A principal razão ao realizar identificação desse tipo de elemento na urina é detectar a presença
de alguns tipos anormais (Tabela 3), que podem representar certos distúrbios, como doenças
hepáticas, erros inatos do metabolismo, ou lesão renal causada pela cristalização de metabólitos
de drogas nos túbulos.
Tabela 2 – Cristais normais encontrados na urina
Intoxicação com
Oxalato de Ácido / Neutro Incolor
Produtos Químicos
Cálcio (Alcalino) (“Envelopes”)
ou Cálculos Renais
Pacientes
Submetidos à
Ácido Úrico Ácido Marrom-amarelado
Quimioterapia e
Gota
Associado a
Incolor (“Tampa de
Fosfato Triplo Alcalino Bactérias que
Caixão”)
Metabolizam Ureia
Fosfato de Alcalino
Incolor Cálculos Renais
Cálcio Neutro
Produzido por
Marrom-
Biurato de Bactérias que
Alcalino amarelado (“Maçãs
Amônio Metabolizam a
Espinhosas”)
Ureia
Fonte: STRASINGER, S.K. Uroanálise e Fluidos Biológicos. 3. ed. São Paulo: Premier, 2000, p. 93.
34
Urinálise │ UNIDADE I
Ácido /
Tirosina Incolor / Amarelo Hepatopatia Grave
Neutro
Erro Metabólico
Cistina Ácido Incolor
Congênito
Pacientes Mal
Ácido /
Sulfonamida Verde Hidratados =
Neutro
Lesão Tubular
Ingestão
Ácido /
Ampicilina Incolor Insuficiente de
Neutro
Líquidos
Fonte: STRASINGER, S.K. Uroanálise e Fluidos Biológicos. 3. ed. São Paulo: Premier, 2000, p. 94.
Artefatos
Os artefatos são encontrados em urinas coletadas em frascos sujos ou em condições impróprias. O
que mais confunde são as gotículas de óleo e os grânulos de amido (Figura 19), que nada mais são
que o pó do talco das luvas utilizadas.
35
UNIDADE I │ URINÁLISE
36
CAPÍTULO 6
Controle de Qualidade em Urinálise
Introdução
O termo “Controle de Qualidade (CQ)” designa todo um processo, cujo fim é assegurar a qualidade
do atendimento ao paciente. Nos laboratórios de análises clínicas, qualquer programa de CQ deve
incluir técnicas de CQ na coleta e na manipulação das amostras, na realização de reações e provas, na
regulagem e manutenção dos instrumentos, no registro dos resultados, na atuação e nos requisitos
do pessoal técnico, na segurança e na existência de uma documentação que comprove a observância
do programa.
História e Significado
A análise microscópica da urina tem por finalidade detectar e identificar os elementos insolúveis,
para cuja presença contribui o sangue, os rins, a parte inferior do sistema urogenital e a contaminação
externa. Esses elementos são as hemácias, os leucócitos, os cilindros, as células epiteliais, as
bactérias, as leveduras, os parasitas, o muco, os espermatozoides, os cristais e os artefatos. Portanto,
o exame do sedimento urinário deverá compreender tanto a identificação quanto a quantificação
dos elementos encontrados.
A microscopia é a parte mais demorada a ser feita na análise da urina. Porém, sua realização é
um auxiliar valioso no diagnóstico. Sua fidedignidade por meio da padronização das técnicas, do
aprimoramento do controle de qualidade e a educação constante do pessoal técnico ainda tem
sofrido muitos investimentos a fim de obter melhoras.
Metodologia
A análise microscópica passa por diversas variações metodológicas, entre as quais o modo de
preparo do sedimento, a quantidade exata de sedimento analisado, os métodos e os equipamentos
utilizados para tornar o material visível e a forma como os resultados são registrados.
37
UNIDADE I │ URINÁLISE
4. Centrifugar o tubo a 2.000 RPM (Rotações Por Minuto) por 5 minutos. Evitar
centrifugação demorada para não causar compactação dos elementos, nem
deformação dos cilindros.
6. Homogeneizar bem o sedimento e passar uma gota para uma lâmina de vidro. As
gotas devem ter tamanho uniforme, sendo suficientemente pequenas para não
transbordar da lâmina. Se a quantidade de líquido for excessiva, os elementos mais
pesados, como os cilindros, serão empurrados para fora da área visível quando
realizar a colocação da lamínula.
11. A terminologia usada no registro dos resultados pode variar de um laboratório para
outro, mas deve ser invariável num mesmo laboratório.
12. A correlação dos resultados da microscopia deve ser feita com os resultados dos
exames físicos e bioquímicos para assegurar a precisão do registro dos dados
obtidos. As amostras, cujos resultados não apresentarem correlações, deverão ser
reexaminadas para verificação de erros técnicos e de transcrição.
38
Urinálise │ UNIDADE I
Existem vários métodos de CQ para averiguar a reatividade das tiras reagentes de urina. Como os
comercializados não abrangem os componentes do sedimento para aferição da análise microscópica,
é preciso utilizar aferidores próprios.
»» Cada turno matinal escolhe uma amostra de volume suficiente para servir de
amostragem.
»» Depois de realizada a análise matinal, a amostra deverá ser refrigerada para ser
submetida a uma análise completa pelos turnos seguintes.
Antes da análise, deve-se aguardar que a amostra atinja a temperatura ambiente. Enquanto não
estiver sendo utilizada, deverá ficar acondicionada em refrigerador. Essa é uma maneira barata de
inspecionar o desempenho.
Em cada setor do laboratório, deve estar à disposição dos funcionários um material de consulta
atual, a fim de permitir sua atualização constante. É essencial que a área de trabalho seja de tamanho
adequado à rotina, que esteja sempre organizada e seja segura para a boa qualidade do trabalho e
ânimo do pessoal. Em todos os momentos devem ser tomadas as devidas medidas de segurança na
manipulação dos líquidos biológicos.
39
OUTROS FLUIDOS Unidade Ii
BIOLÓGICOS
CAPÍTULO 7
Fluidos Serosos
Introdução
O Líquido Seroso (LS) é aquele situado nas cavidades fechadas do organismo com a função de
lubrificá-las, já que as superfícies entram em contato durante o movimento. Essas cavidades
(pleural, pericárdica e peritoneal) são revestidas por duas membranas conhecidas como serosas.
Uma delas reveste as paredes da cavidade (membrana parietal) e a outra cobre os órgãos do interior
da cavidade (membrana visceral) (Figura 20).
Transudatos são resultantes de um processo mecânico no qual ocorre um distúrbio sistêmico que
resulta em um rompimento do equilíbrio entre filtração e reabsorção do líquido.
40
OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II
Coleta
Os líquidos serosos são colhidos por aspiração com agulha nas respectivas cavidades. Os
procedimentos são conhecidos como:
Geralmente, a quantidade colhida de cada líquido é grande para que cada alíquota fique disponível
em cada seção do laboratório.
Para a contagem celular é necessária uma amostra com anticoagulante; para a cultura, um tubo
estéril; e para as análises bioquímicas, uma amostra heparinizada. Também é preciso colher uma
amostra não heparinizada para a observação de coagulação espontânea.
Análise
Líquido Pleural
Sua cor é transparente e amarelo-claro. A turvação em geral está ligada à presença de leucócitos e
indica infecções bacterianas, tuberculose ou distúrbio imunológico como artrite reumatoide.
A presença de sangue pode significar lesão traumática (hemotórax), lesão na membrana (como nas
neoplasias), ou pode decorrer de aspiração traumática. O encontro de neutrófilos significa que há
uma infecção bacteriana; já a visualização de linfócitos será sugestivo de tuberculose ou neoplasia.
41
UNIDADE II │ OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS
Glicose baixa está associada à tuberculose, inflamação reumatoide e neoplasia. Amilase elevada
significa presença de pancreatite. E pH baixo se relaciona com tuberculose, neoplasia e ruptura
esofágica.
Líquido Pericárdico
Encontrado entre as membranas pericárdicas. Normalmente é pequena a quantidade de líquido (10
a 50 mL).
Sua coloração é transparente e amarelo-claro. O líquido encontra-se turvo nas infecções e neoplasias.
Nos distúrbios metabólicos, o líquido aspirado é transparente.
Líquido Peritoneal
O acúmulo de líquido na cavidade peritoneal é chamado ascite, por isso esse líquido é comumente
denominado ascítico e não peritoneal.
Líquidos turvos indicam infecções; líquidos esverdeados são encontrados quando há derrame biliar.
Valores elevados de hemácias podem indicar traumatismo hemorrágico, enquanto que valores
elevados de leucócitos podem indicar cirrose, peritonite bacteriana.
Glicose baixa está relacionada à peritonite tuberculosa e neoplasia. Amilase elevada pode indicar
quadros de pancreatite ou perfuração gastrintestinal. Ureia ou creatinina elevadas podem significar
ruptura da bexiga. E fosfatase alcalina elevada pode se associar à perfuração intestinal.
42
CAPÍTULO 8
Fluido Sinovial
Introdução
O Fluido Sinovial ou Líquido Sinovial (LS) tem a função de proteger, nutrir e lubrificar as cartilagens
não vascularizadas das articulações (Figura 21). Derivado do plasma sanguíneo por ultrafiltração
e enriquecido de mucoproteínas secretadas pelos sinoviócitos do tecido sinovial, esse líquido
apresenta-se normalmente límpido e transparente, de cor amarelada, contendo 2 g/dL de proteínas
isentas de fibrinogênio (não coagula espontaneamente) e não apresenta cristais.
O aumento na quantidade das proteínas totais está relacionado com a gravidade de afecções das
articulações e, principalmente, de artrites e doenças reumáticas, em que a análise dos constituintes
do LS encontra aplicação diagnóstica e prognóstica.
Coleta
A amostra geralmente recebida pelo laboratório é aspirada do joelho com agulha, num procedimento
chamado Artrocentese, realizada em condições de esterilidade estrita.
43
UNIDADE II │ OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS
A quantidade normal de LS contida na cavidade articular do joelho é inferior a 3,5 mL, aumentando
nos distúrbios articulares.
O LS deve ser colhido em condições estéreis e em frasco com e sem anticoagulante. O mais utilizado
é a heparina ou o EDTA líquido. Esses anticoagulantes evitam a presença de artefatos que poderiam
prejudicar a análise da amostragem.
O paciente deve estar de jejum de, no mínimo, 6 horas, de forma a permitir um equilíbrio da glicose
do plasma com a do LS. Deve ser colhida uma glicemia de jejum. O LS pode fornecer informações
úteis para o diagnóstico das seguintes situações: suspeita de infecção (artrite supurativa aguda),
artrite devido a ácido úrico (gota) ou a pirofosfato de cálcio (pseudo-gota) e diagnóstico diferencial
de artrite.
Análise
A análise do LS começa pela determinação do volume total colhido. A aparência e coloração são
observadas em um tubo transparente contra um fundo branco. A leucocitose e a presença de cristais
e gotas de gordura, ou outras células degeneradas, podem produzir um aspecto turvo. A coloração
avermelhada produzida pela presença de sangue deve ser diferenciada entre coleta traumática e
condições patológicas, como fratura, atingindo a superfície articular, tumor, artrite traumática,
artropatia neurogênica, artrite hemofílica, entre outras.
O valor da glicose dosada é inferior em cerda de 0 a 10 mg/dL à do sangue. Irá encontrar-se
diminuída nas artrites bacterianas (incluindo a tuberculosa). O aumento da concentração de
proteínas pode ocorrer em casos de gota, artrite reumatoide e artrite séptica, refletindo tanto o
aumento da permeabilidade vascular como a síntese de imunoglobulinas (anticorpos).
A análise imunológica pode ser feita pela determinação do fator reumatoide, que, embora
inespecífico, esteja presente em cerca de 60% dos pacientes com artrite reumatoide. A detecção de
Adenosina Deaminase (ADA) em concentração elevada é indicativa da tuberculose.
44
OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II
A avaliação microscópica inclui a contagem celular total e diferencial, que podem ser efetuadas
por meio da contagem celular em câmara de Neubauer, seguida da análise de distensão corada
por corantes do tipo Leishman ou May-Grünwald-Giemsa. Um microscópio de luz polarizada deve
ser usado para a avaliação da presença de cristais. Qualquer cristal presente no líquido sinovial é
considerado anormal, sendo muito comuns os cristais de ácido úrico, associados ao acometimento
por Gota.
As provas microbiológicas devem sempre incluir a coloração de Gram e, sempre que a tuberculose for
suspeita, a coloração de Ziehl-Neelsen. A cultura é positiva na maioria das atrites não gonocóccicas,
mas a Neisseria gonorrhoeae é isolada em apenas cerca de 50% dos casos positivos. A cultura para
Mycobacterium tuberculosis é positiva em cerca de 80% dos casos. Esse germe pode também ser
detectado por meio de técnicas de biologia molecular.
Fonte: STRASINGER, S.K. Uroanálise e Fluidos Biológicos. 3. ed. São Paulo: Premier, 2001, p. 165.
45
CAPÍTULO 9
Fluido Seminal (Sêmen)
Introdução
Líquido seminal é a parte do sêmen sem espermatozoides. Esse fluido limpa o canal da uretra,
diminuindo o pH ácido da urina para que não contamine o esperma e mate os espermatozoides;
assim, facilita que a ejaculação saia forte, para alcançar o útero o mais rápido possível. Tem em
sua composição secreções da vesícula seminal (80%), da próstata e glândula bulbouretral, além de
muito componente proveniente do epidídimo e testículos.
O exame a ser realizado para análise do líquido seminal é o espermograma. As principais razões
para sua avaliação são:
»» estado de pós-vasectomia.
a. glândulas bulbouretrais;
b. testículos e epidídimos;
c. opróstata; e
d. vesículas seminais.
Essas frações diferem-se em termos de composição e, para que o líquido seja normal, deve haver
mistura delas durante a ejaculação. Como a composição das frações do sêmen é variável, sua coleta
deverá ser bem feita para que a análise/avaliação da fertilidade masculina seja precisa. Portanto,
para isso os pacientes devem receber orientações claras e detalhadas sobre a obtenção do material.
Coleta
A amostra é coletada por meio da masturbação. O local a ser coletada é em frasco estéril, após 3
dias (no mínimo) até 5 dias (no máximo) de abstinência sexual, período em que também não deve
se masturbar, pois a quantidade e qualidade do esperma é afetada pela quantidade de vezes que o
homem ejacula. O exame é realizado sempre pela parte da manhã. O paciente deverá inicialmente
lavar bem as mãos com água e sabão antes de entrar para realizar a coleta.
46
OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II
Não é recomendado o uso de preservativos durante a coleta, pois podem conter substâncias
espermicidas, favorecendo um resultado sem qualidade e certamente errado.
Normalmente, há revistas e/ou vídeos eróticos que facilitam a coleta do material. Deve-se evitar
perda do sêmen, à custa de ser necessária uma nova coleta.
Preferencialmente, a amostra deverá ser colhida no laboratório; porém, como existem casos
especiais, a coleta poderá ser autorizada em domicílio, desde que o paciente mantenha o
frasco contendo o sêmen em temperatura ambiente e não demore mais do que uma hora para
entregar ao laboratório. Um dos parâmetros que deverá ser anotado é a hora exata do término
da coleta.
As amostras recentes são coaguladas e devem-se liquefazer nos 30 minutos seguintes após a
coleta; portanto, conclui-se que a hora em que foi realizada a obtenção da alíquota é de extrema
importância para a avaliação da sua liquefação. A análise não pode ser iniciada enquanto a
liquefação não tiver ocorrido.
Análise
Sempre serão avaliados os seguintes parâmetros nos casos de fertilidade e/ou infertilidade: volume,
viscosidade, pH, contagem do número de espermatozoides, motilidade, morfologia e viabilidade
dos espermatozoides.
Volume
O volume normal é de 2,0 a 5,0 mL. Para verificar essa medida, deve-se despejar o conteúdo do
frasco em um tubo cônico graduado. Juntamente com a inversão da amostra pode-se avaliar a
viscosidade, sendo que, se estiver normal, a alíquota gotejará no recipiente e não se mostrará
aglutinada ou filamentosa.
Valores abaixo de 2,0 mL podem representar fatores obstrutivos, como agenesia de deferentes,
agenesia de vesículas seminais, fibrose cística, obstrução pós-cirurgias de próstata e obstruções pós-
infecções. Podem também mostrar ejaculação retrógrada (para a bexiga) em casos de pacientes com
Diabetes, lesão medular ou doenças neurológicas.
pH
O pH normal é ligeiramente alcalino, variando entre 7,3 e 8,3. Caso a relação entre o líquido
prostático e o seminal esteja elevada, o pH poderá ser mais ácido.
Isso é muito importante quando ocorre a deposição do sêmen no fundo da vagina em uma relação
sexual. O pH da vagina é muito ácido (ao redor de 4,0). Ao encontrar esse ambiente hostil, o sêmen
básico “neutraliza” a acidez da vagina, mantendo os espermatozoides vivos.
47
UNIDADE II │ OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS
Número de Espermatozoides
Com relação à quantidade do número de espermatozoides, os valores normais geralmente vão de
20 a 160 milhões por mililitro, sendo consideradas limítrofes as quantias entre 10 e 20 milhões
por mililitro.
Fonte: <http://metodoslabideanellydiazpuentes.blogspot.com.br/2009/11/conteo-de-celulas-en-camara-de-neubauer.html>.
Acesso em: 28 set. 2012.
Contudo, a diluição do sêmen antes de realizar a contagem é essencial para promover a imobilização
dos espermatozoides. Geralmente, o diluente tradicional contém bicarbonato de sódio e formalina
(formol). Mas antes de introduzir o diluente na amostra, deve-se tomar cuidado para não contaminar
a amostra com ele, a fim de, antes, determinar a motilidade.
A baixa contagem dos espermatozoides pode ser causada por falta do meio de nutrição, normalmente
produzido pelas vesículas seminais. Isso significa que há ausência ou deficiência de frutose na amostra.
Motilidade
Depois de chegarem ao colo do útero, os espermatozoides precisam deslocar-se por meio das tubas
uterinas e alcançar o óvulo; portanto, trata-se de uma avaliação subjetiva a ser realizada por exame
microscópio da amostra não diluída, em que se determina a porcentagem de espermatozoides com
motilidade ativa.
48
OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II
»» C = Não progressivos; e
»» D = Imóveis.
A soma de A+B deve ser superior a 50%. Quando o valor é menor do que 50%, testes de vitalidade
devem ser feitos para sabermos se os espermatozoides parados estão vivos ou não. A varicocele pode
causar uma alteração de motilidade.
Morfologia
A morfologia espermática (Figura 23) deve ser avaliada periodicamente ou quando o sêmen
apresentar suspeita de alterações morfológicas. No exame são avaliadas e registradas as alterações
presentes em cada estrutura, separadamente. Os defeitos podem ocorrer em um dos segmentos da
célula espermática ou em mais de uma estrutura, simultaneamente.
Existem, porém, alterações encontradas nos espermatozoides. Entre muitas, as mais encontradas
são (Figura 24):
»» Piriforme: cabeça em forma de gota, com a parte afinada voltada para a peça
intermediária;
49
UNIDADE II │ OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS
»» Vacuolizados;
»» Bicefálico;
»» Globócito;
»» Bi e/ou Policaudal;
»» Cauda Enrolada;
»» Macrocefálico;
»» Microcefálico;
»» Cabeça fusiforme;
Viabilidade
Na análise de viabilidade, observa-se a quantidade, em porcentagem, de espermatozoides vivos e
mortos (Figura 25).
50
OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II
Amostra de Pós-Vasectomia:
51
CAPÍTULO 10
Fluido Amniótico
Introdução
O Fluido Amniótico ou Líquido Amniótico (LA) encontra-se no saco embrionário que circunda o
feto, protegendo-o como um amortecedor.
É formado pelo metabolismo das células do feto, pela água que atravessa a placenta e, nos últimos
estágios do desenvolvimento, pela urina do feto (por volta da 36ª semana).
A análise clínica do líquido avalia o bem-estar e a maturidade do feto. Como o líquido é produto do
metabolismo fetal, os componentes fornecem informações sobre os processos metabólicos que nele
estão ocorrendo e o progresso na maturação do feto.
Coleta
O LA é colhido por aspiração com agulha no saco amniótico, procedimento chamado de
amniocentese (Figura 26). Trata-se de uma técnica relativamente segura que pode ser realizada
no próprio laboratório.
As amostras devem ficar protegidas da luz e ser examinadas imediatamente. Necessário serem
tomadas precauções especiais com as amostras destinadas à análise citogenética, pois as células
devem se manter vivas para cultura em laboratório.
52
OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II
Análise
O exame de rotina mais antigo do líquido amniótico avalia a profundidade da anemia produzida
no feto pela anemia hemolítica. A destruição das hemácias do feto por anticorpos presentes na
circulação materna provoca o aparecimento do seu produto de degradação, a bilirrubina, no líquido
amniótico. Dosando-se a bilirrubina é possível determinar o grau de hemólise e avaliar o perigo que
a anemia representa para o feto.
Nos casos de ruptura prematura das membranas amnióticas pode ocorrer infecção da mãe e do feto.
Nesses casos, é feita análise para detectar a presença de leucócitos, método indicativo de infecções.
A alfa-fetoproteína é uma proteína sintetizada pelo fígado do feto, portanto é encontrada no líquido
amniótico por ser excretada na sua urina.
53
CAPÍTULO 11
Suor
Introdução
Suor, também chamado de transpiração, é a perda de fluido líquido, consistido principalmente
de cloreto de sódio e ureia em solução, que é secretado pelas glândulas sudoríparas na pele de
mamíferos. Animais com poucas glândulas de suor, como os cachorros, conseguem resultados
similares ofegando, evaporando água do revestimento molhado da cavidade oral e faringe.
Nos humanos, o suor é uma forma de excretar dejetos de nitrogênio, mas é também, e
fundamentalmente, forma de regular a temperatura. A evaporação de suor da superfície da pele
tem um efeito refrescante. Então, na água quente, ou quando o indivíduo sente calor por causa de
exercício, mais suor é produzido. Esse fluido é aumentado por nervosismo e náusea; e diminuído
por resfriados. A transpiração excessiva também é chamada de hiperidrose ou hiper-hidrose.
O suor acumulado em certas áreas do corpo humano, tais como pés, axilas e virilhas, podem ser
atacados por fungos e bactérias, o que pode ocasionar odores desagradáveis. Por isso, é de extrema
importância que haja uma higienização adequada desses locais. O cheiro do suor também pode
variar entre as diferentes raças humanas, uma vez que a quantidade de glândulas sudoríparas pode
variar entre pessoas de diferentes etnias.
Coleta
Para obter uma amostra correta de suor é bastante difícil, principalmente levando em consideração
que o paciente deverá ser induzido a transpirar e que a qualidade do material pode ser prejudicada
por contaminação ou evaporação.
A quantidade mínima de suor a ser coletado é de 75 mg. A obtenção da alíquota pode ser feita com
o uso de almofadas de gaze e papel de filtro.
Existe um meio de evitar a coleta desse líquido – aplicando-se em eletrodo de cloreto à pele após
estimulação e medindo-se a concentração diretamente. Como a quantidade de sódio presente deve
ser próxima à concentração de cloreto, alguns laboratórios preferem medir ambos os parâmetros
para controlar melhor a qualidade do procedimento.
Análise
A análise do suor é realizada porque a determinação do nível de eletrólitos (sódio e cloreto) pode
confirmar o diagnóstico de fibrose cística, que se apresenta na infância. Trata-se de uma doença
metabólica que afeta as glândulas secretoras de muco.
54
OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II
Os indicadores mais comuns dessa doença são os antecedentes familiares de fibrose cística,
desenvolvimento precário, obstrução intestinal no recém-nascido, bem como insuficiência
pancreática ou sofrimento respiratório no lactente.
A demonstração de níveis elevados de sódio e cloreto no suor de pacientes que apresentem qualquer
desses sintomas, ou todos eles, serve para confirmar o diagnóstico de fibrose cística.
55
CAPÍTULO 12
Saliva
Introdução
A saliva é um dos mais complexos, versáteis e importantes fluidos do corpo, que supre um
largo espectro de necessidades fisiológicas. É composta por água e diversos componentes que
iniciam a digestão e protegem o trato respiratório e digestório contra vírus e bactérias. Também
desempenha diversas funções. Em condições ideais de saúde, o ser humano produz de 1 a 2 litros
de saliva por dia.
Suas propriedades são essenciais para a proteção da cavidade bucal, do epitélio gastrointestinal e da
orofaringe. Além de umedecer os tecidos moles e duros da cavidade bucal, tem função de destaque
no controle da quantidade de água do organismo. Quando o corpo está com falta de água, a boca fica
seca, manifestando a sede.
Coleta
Para realizar a coleta deve ser solicitado um tubo especial, sendo mais conhecido o Salivette®
(Figura 27).
Figura 27 – Salivette®
Preparação
A coleta deve ser feita até duas horas após o horário habitual do paciente acordar ou conforme
solicitação médica. Não há necessidade de jejum após dieta leve. Se, contudo, o exame for feito
após as principais refeições (almoço e jantar), deve haver um intervalo de três horas entre a
refeição e a coleta.
O paciente não pode fazer tratamento dentário nas 24 horas que antecedem ao exame. Antes da
coleta, é necessário ficar três horas sem escovar os dentes. É preciso serem informados todos os
medicamentos em uso.
56
OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II
Procedimento
»» abrir o Salivette® e remover o swab;
»» manter o swab durante 3 minutos ou o tempo necessário para sentir que está
saturado de saliva;
»» fechar firmemente.
Centrifugar por 2 minutos e transferir a saliva para o tubo de transporte/alíquota (tubo padrão). O
volume mínimo necessário de saliva é 1,0 mL.
Análise
A análise resulta em uma avaliação da função adrenal. O cortisol é o principal hormônio
glicocorticoide produzido pelo córtex adrenal humano.
Os níveis de cortisol são regulados por meio de um balanço com o Hormônio Adrenocorticotrófico
(ACTH) da pituitária e hipotálamo, respectivamente. Níveis elevados de ACTH estimulam a córtex
adrenal a liberar cortisol que, ao atingir determinados níveis, suprimem o ACTH num feedback
negativo. Alguns fatores fora desse eixo metabólico podem interferir no processo, como febre,
inflamações, dor, stress e hipoglicemia. O cortisol e o ACTH normalmente apresentam variações
circadianas com picos no período da manhã, sendo os maiores níveis encontrados em torno das
8 horas da manhã e os menores mais tarde. Assim, é aconselhável colher amostra às 8 horas para
diagnóstico de insuficiência adrenal e depois das 16horas para diagnóstico de síndrome de Cushing.
A saliva é um líquido claro, viscoso, alcalino (pH entre 6 e 7), que contém em sua
composição: 95% de água, 3% de substâncias orgânicas e 2% de sais minerais. Além
disso, também apresenta dois tipos de secreção proteica: uma secreção serosa e
rica em ptialina, que contribui para digestão do amido; outra secreção mucosa, que
contém mucina, elemento lubrificante que facilita a mastigação e a passagem do
bolo alimentar pelo esôfago por meio da deglutição.
Para saber mais a respeito da Síndrome de Cushing, recomendamos que você pesquise
no seguinte endereço da web: <http://www.medicinanet.com.br/conteudos/
revisoes/1696/sindrome_de_cushing.htm>
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CAPÍTULO 13
Suco Gástrico
Introdução
A determinação laboratorial da acidez gástrica é muito importante e considerada útil para o
diagnóstico e o tratamento de úlcera péptica, anemia perniciosa e na monitoração de cirurgias.
Atualmente, outros métodos estão em uso para a detecção desses distúrbios, como, por exemplo,
exame endoscópico direto das lesões, técnicas radiológicas, medida dos níveis de gastrina sérica,
exame citológico do conteúdo gástrico para detecção de neoplasias, exame imunológico do soro
para avaliação do fator anti-intrínseco e anticorpos contra células parietais encontradas da anemia
perniciosa, e eletrodos sensíveis ao pH (que transmitem a leitura do pH quando introduzidos no
estômago).
A análise do suco gástrico tem por sua maior finalidade confirmar resultados obtidos por meio de
outros métodos.
Coleta
A obtenção do conteúdo gástrico é realizada por intubação nasal ou oral do paciente. Para ter certeza
de que a coleta foi um sucesso, a posição do tubo é verificada por exame fluoroscópico do estômago.
Durante a coleta do material, deve-se pedir ao cliente que não degluta quantidade excessiva de
saliva, pois ela neutraliza a acidez gástrica.
Análise
A rotina realizada nas amostras de suco gástrico é de:
»» aparência;
»» volume;
»» acidez titulável; e
»» pH.
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OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II
Normalmente, sua cor é verde-clara e contém muco. Em jejum, não deve conter partículas de
alimentos, afinal, sua presença é indicativo de digestão incompleta.
É preciso registrar casos em que haja presença de bile em grande quantidade (que confere à amostra
uma coloração verde-amarelada) e aparências sanguinolentas.
O volume é expresso em mililitros. Juntamente com a acidez titulável, seu valor serve para
determinar a produção total de ácido.
O pH possui uma boa correlação com os valores da acidez titulável, principalmente em pessoas com
anormalidades na produção do ácido gástrico. Sua determinação também serve de monitoração
indireta dos pacientes em estado crítico.
A acidez gástrica é produzida pela estimulação das células parietais pela gastrina, o
que produz o ácido clorídrico.
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CAPÍTULO 14
Líquido Cefalorraquidiano
Introdução
O Líquido Cefalorraquidiano ou Líquor (LCR) é o terceiro principal fluido biológico (Figura 28). O
seu exame é utilizado para o diagnóstico de pelo menos quatro das principais afecções neurológicas,
como as infecções; hemorragias; doenças degenerativas; e doenças neoplásicas.
Fonte: <http://draramispedroteixeira.blogspot.com.br/2011/09/liquido-cefalorraquidiano-liquor.html>.
Acesso em: 3 out. 2012.
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OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II
Coleta
A coleta só pode ser realizada por um profissional especializado, que saiba evitar a ocorrência de
acidentes, mesmo fatais, em casos imprevisíveis.
As amostras devem ser colhidas em três tubos estéreis, marcados conforme a ordem que forem
sendo obtidos:
Se possível, recomenda-se coletar o 4º tubo para análises que venham a ser solicitadas, pois
amostras destinadas a outros tipos de avaliações bioquímicas e sorológicas mais específicas devem
ser congeladas (como no caso da dosagem do VDRL – Venereal Disease Research Laboratories –
para diagnosticar Sífilis).
Durante a obtenção da amostra, pode se formar uma fibrina dentro do tubo algum tempo após a
coleta. Esse fenômeno leva à suspeita de meningite tuberculosa.
Análise
A rotina do exame de LCR inclui suas propriedades físicas, o exame de citologia, de seus aspectos
bioquímicos e imunológicos. Em casos de processo inflamatório, realiza-se a pesquisa do
agente etiológico.
Em condições normais, o LCR é límpido, incolor, levemente alcalino, com a densidade entre 1.006
a 1.009 e contém até 4 células por mm3.
Nos homens, a taxa de proteína é pouco maior do que nas mulheres, sendo maior nos velhos do que
em pessoas jovens.
A coloração normal desse fluido é límpido e incolor “como água de rocha”. A terminologia mais
adequada para descrever a aparência do LCR é: cristalino; opaco ou turvo; leitoso; xantocrômico; e
sanguinolento.
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UNIDADE II │ OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS
A turvação pode ser resultado de elevada concentração de proteínas ou lipídios, mas também ser
indicativo de infecção, sendo a opacidade causada pela presença de leucócitos.
O exame citológico é realizado pela contagem global de células por mm3 e pela contagem específica
dessas células (neutrófilos, linfócitos, monócitos, plasmócitos, células histioides e outras), que, por
sua vez, deve ser feita em um esfregaço corado.
A análise bioquímica mais frequentemente realizada no LCR é a dosagem proteica. Glicose, lactato,
glutamina e desidrogenase láctica (DHL) também são dosados no LCR.
Para a realização do exame microbiológico é preciso que a contagem global esteja com mais de
4 células por mm3. Em seguida, após a centrifugação do tubo, separa-se o sobrenadante para as
análises imunológicas. Então, utilizando o sedimento, será feito o exame a fresco do LCR entre
lâmina-lamínula para a pesquisa de fungos. Confeccionam-se diversos esfregaços:
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OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II
Eventualmente, faz-se a pesquisa de cápsulas misturando-se, numa lâmina, uma alçada de LCR
com uma gora de Tinta Nanquim ou Tinta da China; então, cobre-se com uma lamínula e examina-
se ao microscópio, com objetiva de imersão. Esse preparo tem por finalidade detectar umas das
causas mais comuns de meningite fúngica, o Cryptococcus neoformans (Figura 30).
Fonte: STRASINGER, S.K. Uroanálise e Fluidos Biológicos. 3. ed. São Paulo: Premier, 2001, p. 147.
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Para (não) Finalizar
O laboratório clínico deve ter procedimento da qualidade, bem documentado e atualizado, de modo
que contribua para a uniformidade de execução por todo o pessoal técnico do exame microscópico
do sedimento urinário. Todos devem fazer a avaliação do sedimento urinário usando o mesmo
procedimento, investigando a presença das mesmas entidades sedimentares e usando os mesmos
critérios de identificação.
Hoje em dia, poucos são os profissionais que ainda se sentam diante do microscópio para realizar
100% de uma rotina laboratorial em urinálise. A automação está crescendo e cada dia que passa os
aparelhos estão mais modernos e eficazes em suas análises.
Devido à crescente automatização dos procedimentos, cada vez mais profissionais qualificados terão
a oportunidade de continuar na prática manual das análises laboratoriais. Portanto, a dedicação e
atualização são de extrema importância para que venhamos a ser destaque entre muitos profissionais
diante dos métodos convencionais.
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REFERÊNCIAS
BARROS, E.; MANFRO, R.C.; THOMÉ, F.S.; GONÇALVES, L.F.S. Nefrologia – Rotinas,
Diagnósticos e Tratamentos. 2. ed. Porto Alegre: Editora: Artmed, 1999.
CHAMPE, PC; HARVEY, RA. Bioquímica Ilustrada. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
DEVLIN, T. M. Manual de Bioquímica com Correlações Clínicas. 4. ed. São Paulo: Edgard
Blucher, 1998.
GUYTON, A. C; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro, Guanabara
Koogan S.A., 2002.
HENRY, J.B. Diagnósticos Clínicos e Tratamento por Métodos Laboratoriais. 20. ed.
Barueri: Editora Manole, 2008.
HIRATA, Mário Hiroyuki. Manual de Biossegurança. 1. ed. São Paulo: Manole, 2002.
MARZOCCO, A.; TORRES, B. B. Bioquímica Básica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
1999.
MOURA, R.A.; WADA, C.S; PURCHIO, A.; ALMEIDA, T.V. Técnicas de Laboratório. 3. ed. Rio
de Janeiro: Editora Atheneu, 2006.
PEREIRA, O. dos S.; JANINI, J. B. M. Atlas de Morfologia Espermática. São Paulo: Atheneu,
2001.
RAVEL, Richard. Laboratório Clínico: aplicações clínicas dos dados laboratoriais. 6. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.
RUBIN, E.; FARBER, J. L. Patologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
STRASINGER, S. K. Uroanálise e Fluidos Biológicos. 3. ed. São Paulo, Editora Premier Ltda,
2000.
STRASINGER, S.K. Uroanálise e Fluidos Biológicos. 3. ed. São Paulo: Editora Premier, 2001.
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Referências
Sites pesquisados
<www.scielo.br>
<www.comciencia.br>
<www.abcdasaude.com.br/lista-d.php>
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