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A GEOGRAFIA ESCOLAR E A CIDADE: UM OLHAR SOBRE A DINAMICA

COTIDIANA DE UMA PERIFERIA DO RIO DE JANEIRO

Priscilla Abrantes da Silva


Museu da Vida - COC / FIOCRUZ
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
priscillabrantes@gmail.com

INTRODUÇÃO

Vivenciamos um período expressivo de crises que se aprofundam por diversos


setores de nosso planeta, se expandindo e transformando a nossa prática cotidianamente.
Essa conjuntura de crises que nos aprisiona a cada dia mais se interliga as etapas de
mundialização do modo capitalista de vida e de produção. Dentro desse contexto
presenciamos um sistema de (des)ordem que se sustenta sob interesses antagônicos,
opondo uma ideologia dominante a outra dominada e articulando-se por relações de
poder que refletem valores hegemônicos, a partir de um cotidiano programado que se
transforma em uma categoria mistificadora de controle, como ressalta Fani (2007) na
obra “O espaço urbano: novos escritos sobre a cidade”.
Com o meio urbano não é diferente, em meio a tanta (des) ordem à cidade
possui um papel central, que se interliga ao processo caótico de exclusão que assola o
nosso meio. No entanto, que papel é esse? Quais interesses se fazem presentes no
espaço urbano? Para Vainer ¹: “A cidade é uma mercadoria a ser vendida, num mercado
extremamente competitivo, em que outras cidades também estão à venda.” (VAINER,
2002, pág.78). E acerca das transformações geradas a partir desse processo de
“mercadificação” no espaço citadino GOMES, ET AL.(2013) ressaltam que:
O que predomina nos dias atuais é a lógica do valor de troca
generalizado e sem limites, a cidade sendo moldada como um
palco de transações, onde as classes de baixa renda são
subjugadas e descartadas do jogo de embelezamento e
investimento de um espaço que na teoria pertence á todos, mas
que na prática passa a ser apropriado por poucos.

Verifica-se que essa lógica da “City Marketing” reproduz práticas pontuais e


individualistas, reforçando as disparidades sociais e segmentando a vida da maioria de
seus habitantes, transformando o espaço da cidade em mercadoria a ser consumida por
quem melhor pode pagar por ela. Entretanto, como essas mudanças, tão incessantes e
impetuosas, são trabalhadas no contexto escolar?
A discussão do cotidiano percebido e construído pelos alunos é de extrema
importância para a sua formação critica-reflexiva, e a busca de ações que repensem a
prática docente em geografia é uma das principais pautas em debate na perspectiva do
ensino geográfico, onde a aprendizagem desta disciplina em sala de aula é alvo de
grandes discussões dentro da comunidade de geógrafos. Teóricos importantes destacam
a influência que o conhecimento geográfico possui na construção de nossa existência ao
submeter nossas concepções e posições teóricas à realidade, abrindo o nosso olhar e a
nossa percepção para as relações que estão constituídas ao nosso redor, nos levando a
buscar uma compreensão de si e do real como algo concreto, que é criado e recriado a
partir de nossas interações com o mundo. Assim sendo, buscando analisar a importância
da relação entre os conteúdos teóricos e as práticas educacionais que envolvem a
geografia escolar, as reflexões aqui apresentadas são o resultado de uma pesquisa
qualitativa realizada com alunos e professores da disciplina de geografia na região
periférica de Manguinhos, localizada na zona norte do estado do Rio de Janeiro, onde
buscou-se compreender a importância do estudo da cidade nas séries iniciais da
geografia escolar.

METODOLOGIA

A realização deste trabalho, que ainda encontra-se em fase de desenvolvimento,


efetua-se pela pesquisa bibliográfica, a ida a campo, e por atividades e entrevistas com
professores e alunos que realizam diversos tipos de atividades na região de Manguinhos.
Os levantamentos bibliográficos ocorreram por análises de fontes primárias e
secundárias de diversas origens abrangendo o campo histórico e geográfico do espaço
em análise; as idas a campo serviram como observações empíricas e o desenvolvimento
de atividades e de entrevistas visam nos mostrar se a partir da integração de
acontecimentos do cotidiano nas aulas de geografia ocorreu ou não uma melhoria na
compreensão e nas reflexões críticas dos educandos acerca da realidade que eles
vivenciam.
Nesse sentido, procura-se a partir desta exposição destacar a relevância de uma
prática escolar que leve a provocação do alunado, estimulando a construção do seu olhar
para as relações que se fazem presentes no seu dia a dia, levando-o a reconhecer-se
como sujeito atuante dentro do seu território e contribuindo para uma aprendizagem que
busque instigar o educando a pensar o seu espaço de vivência geograficamente.

MANGUINHOS: UM TERRITÓRIO DE EXCEÇÃO, UMA HISTÓRIA


DE PESSOAS E LUGARES

O contexto histórico do Brasil é fundamentado por um processo secular de


desigualdades, segregações, e privações de direitos em relação às populações de baixo
poder aquisitivo, onde o território da favela se configura como uma das principais
representações desse movimento. Dentro desse cenário de disparidades sociais temos o
complexo de Manguinhos que é parte integrante do mosaico de favelas que compõem o
estado do Rio de Janeiro.
O Complexo Manguinhos¹ se compõe pelas seguintes favelas: Chp-2, Mandela
de Pedra, Parque Carlos Chagas, Parque João Goulart, Vila Turismo, Vila União (RA-
São Cristóvão) e Vitória de Manguinhos (CONAB). Estando localizado na zona norte
da cidade do Rio de Janeiro e compreendendo-se entre a Avenida Brasil, Avenida
Democráticos e a Linha Amarela e segmentando-se pela rua Leopoldo Bulhões e a linha
ferroviária do ramal Saracuruna, que interliga a área central da cidade à região
metropolitana.
Complexo de Manguinhos – Fonte: LTM/FIOCRUZ
O nome Manguinhos (diminutivo de mangue) é devido à composição histórico
ambiental e social do lugar, que surgiu em uma região alagadiça formada as margens da
Baía de Guanabara e que ao longo dos anos foi sendo caracterizada por uma violência
social, que marca diretamente o cotidiano de seus moradores, que sobrevivem em
condições de total exceção e sem acesso a direitos básicos e fundamentais a qualquer ser
humano. À medida que locais como Gávea, Leblon, Botafogo e Copacabana possuem
um alto índice de IDH, dos 126 bairros que constituem a cidade maravilhosa,
Manguinhos está entre as cinco piores posições junto com a favela da Maré, Acari
(Parque Columbia), Costa Barros, e Complexo do Alemão, ocupando o centésimo
vigésimo segundo lugar, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Com um total de aproximadamente 60.000 habitantes a ocupação de
Manguinhos ao longo do século XX foi norteada por politicas públicas e projetos
urbanos que em sua grande maioria desconsideraram a realidade do lugar e de seus
moradores, destacando-se entre estes o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
No momento atual Manguinhos vivencia a instauração da Unidade de Polícia
Pacificadora (UPP), programa voltado para a segurança pública iniciado em 2008. A
implementação da UPP na comunidade vem se estabelecendo de maneira conflituosa e
hostil. Representando de modo categórico a coerção do poder público através da
manutenção da força policial, que não leva em conta as especificidades de Manguinhos
e o contexto de informalidade e privações pelo qual perpassam os seus habitantes.
No entorno da região temos a presença e a atuação da Fundação Oswaldo Cruz
(FIOCRUZ), que desenvolve pesquisas e trabalhos sociais com a população dos
complexos de Manguinhos e da Maré, buscando relacionar os conhecimentos sobre
cidadania, saúde, ambiente e políticas públicas dos referidos territórios. Em
Manguinhos é grande a incidência de problemas de saneamento, pobreza, violência e
saúde pública que coabitam lado a lado com a FIOCRUZ. E através de ações
encabeçadas pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP) com o
Fórum Social de Manguinhos, do Laboratório Territorial de Manguinhos e da exposição
itinerante Maguinhos Território em Transe, a Fundação Oswaldo Cruz visa contribuir
para a promoção da saúde, integrando ciência e cidadania, promovendo a formação do
resgate da memória coletiva das comunidades ao sistematizar conhecimentos sobre o
lugar de forma crítica e propositiva.
Partimos da premissa de que conhecer e entender as condições de vida dos
moradores desse território de exceção é o ponto central para compreendermos as
dinâmicas sócio-políticas que se estabelecem em Manguinhos. Chamando a atenção
para o jogo de interesses que cerca a cidade do Rio de Janeiro e suas periferias, que vem
excluindo e calando a voz de inúmeras pessoas, pois como ressalta Moreira (1982,
p.14), “por detrás de todo arranjo espacial estão relações sociais, que nas condições
históricas do presente são relações de classes ocultadas sob máscaras sociais”.
Acreditamos que a designação prestada ao Rio de Janeiro de “cidade
maravilhosa” não possui legitimidade para a maioria de sua população, que sobrevive
em circunstâncias anormais de extremos vazios sociais. Que tipo de representação de
cidade está em jogo? Cidade maravilhosa para quem? Nesse contexto, Maricato (2009)
nos comprova que:
A representação da “cidade” é uma ardilosa construção
ideológica que torna a condição de cidadania um privilégio e
não um direito universal: parte da cidade toma o lugar do todo.
A cidade da elite representa e encobre a cidade real. Essa
representação, entretanto, não tem a função apenas de encobrir
privilégios, mas possui, principalmente, um papel econômico
ligado à geração e captação da renda. (IN: ARANTES, et. al.,
2009, p. 165).

Logo, a construção de caminhos que nos leve a transformação da realidade atual


de Manguinhos e de suas perversidades se faz a partir do debate, da discussão e da
reflexão dos acontecimentos que se fazem presentes no espaço da cidade do Rio de
Janeiro, para que a partir desse processo possamos reconhecer nossa atuação como
sujeitos históricos e cidadãos.

A CIDADE E A GEOGRAFIA ESCOLAR

De acordo com as considerações apresentadas na obra de Léfèbvre sobre a


cidade e o urbano, cada momento histórico e modo de produção contribuíram para
produzir a cidade que vivemos, sendo esta a materialização do modo de vida urbano.
Onde o espaço que é produto, condição e meio de reprodução das relações sociais
confere fortes particularidades que modificam a sua composição. Dessa forma, o urbano
é uma manifestação que se consolida em escala mundial através do processo de
implosão-explosão que se estabelece na atmosfera da cidade; é uma forma social que se
afirma a partir da simultaneidade (1986, p. 159), enquanto a cidade é um objeto espacial
que ocupa um lugar e uma situação (1972, p. 65).
Incorporado nessa lógica de representações e simbologias da cidade e do
urbano; do global e do local, o ensino de geografia se materializa de forma complexa e
dicotômica em sua práxis social. Tomando como base que a realidade que vivenciamos
se transforma aceleradamente, Sposito (2002) realiza uma discussão interessante ao
enfatizar a necessidade de relacionarmos às escalas que tencionam a nossa construção
como sujeitos históricos pontuando a importância de articularmos o desvendamento dos
impasses e conflitos que se fazem presentes em nosso cotidiano, a partir das estruturas
que se estabelecem no espaço e no tempo:
Considerar a articulação complexa entre as escalas, a partir dos
quais se estrutura o sistema-mundo, é o primeiro passo na
direção de se apreender o escopo e a natureza das mudanças em
curso, considerando-se a gênese do processo de
internacionalização da economia, que sustenta o
desenvolvimento capitalista. As possibilidades e limites de
construção de uma sociedade mais justa e humana passam, por
um lado, pelo desvendamento das formas como se relacionam o
espaço e o tempo, na atualidade, e, por outro, pelo
reconhecimento claro dos impasses e conflitos que marcam
nossa sociedade. (Sposito, 2002, p.1)

Nesse contexto a geografia escolar possui um papel central: ajudar as pessoas a


entenderem o mundo em que vivem, seus impasses e conflitos globais e locais. De
acordo com Robert Moraes, essa é a meta principal do sentido formativo da geografia:
conduzir a argumentação, estimular uma prática transformadora que possibilite à
formação de indivíduos que questionem as eventuais injustiças que se compõem em
nosso corpo social, refletindo, discutindo e agindo diante das intencionalidades que
arquitetam a sociedade. Logo, a geografia escolar está inerente ao processo de
cidadania, que ante a qualquer jurisprudência, é uma construção social que tem como
base o “ter e exercer” direitos, onde a sala de aula se estabelece como um dos palcos de
formação deste principio. Assim sendo, para Carlos, 2008, p.8:
A sala de aula ganha importância na formação do cidadão – que
se realiza ou mesmo se concretiza na possibilidade de um
trabalho criativo - que leve o aluno a pensar o mundo em que
vive a partir de sua condição real de existência. O ato de
conhecer transforma o indivíduo e sua condição no mundo, o
que o transporta para novos modos de ver o mundo. [...] a
geografia aparece como possibilidade de pensar o mundo real e
a sociedade num mundo fragmentado, apesar de global. (Carlos.
2008, p. 8)

Neste sentido o papel da geografia escolar na formação de cidadãos críticos e


reflexivos acerca de sua atuação no mundo é irrefutável. Cabendo ao professor a
incumbência de problematizar aos educandos a sua realidade, mostrando o significado
da sua condição no mundo, pensando o real a partir daquilo que cerca o dia a dia do
alunado, compreendendo e respeitando os saberes dos educandos. Entretanto as relações
de poder que norteiam as politicas educacionais brasileiras acabam dificultando esse
processo, desmotivando a prática docente, tornando-a cansativa, ociosa, pragmática e
mecânica, para os alunos e professores. Conforme ressalta Freire no trecho em que se
refere à luta contra o desrespeito dos poderes públicos pela educação e pelo professor:
Um dos piores males que o poder público vem fazendo a nós, no
Brasil, historicamente, desde que a sociedade brasileira foi
criada, é o de fazer muitos de nós correr o risco de, a custo de
tanto descaso pela educação pública, existencialmente cansados,
cair no indiferentismo fatalistamente cínico que leva ao
cruzamento dos braços. ”Não há o que fazer” é o discurso
acomodado que não podemos aceitar. (Freire, 1996, p.27)

Contudo por mais voraz que possam ser as intencionalidades dos poderes
públicos e privados perante a composição da cidade e da escola, é a partir da atuação
dentro de sala de aula que podemos alcançar significativas mudanças na produção do
conhecimento e do meio que nos cerca, ultrapassando os muros escolares, se permitindo
apreender o novo, não se deixando levar pela abstração que em muitos momentos se
incorpora em nossa prática, um novo que nos envolve dando um sentido real ao que é
ensinado. Deste modo, a educação geográfica se (re) faz como um meio privilegiado de
discussão e contestação das legitimações que se estabelecem em nossos espaços de
vivências, ao salientar que a rua, o bairro, a cidade, e o mundo não se organizam de
maneira uniforme e análoga, mas sim multidimensionalmente, onde um vai influenciar
de forma direta ou indireta a composição do outro, e compreendermos esse processo de
inter-relações de diferentes formas, e por diferentes aspectos é um dos caminhos para
que se possa construir a unidade na diversidade (Oliveira, 1994).

RESULTADOS PRELIMINARES

A primeira etapa desta investigação desenvolvida junto à comunidade de


Manguinhos foi através da Rede CCAP – Centro de Cooperação e Atividades Populares,
com a Turma da Professora Franciele de aproximadamente oito alunos entre 12 e 14
anos. Todos os estudantes são moradores da região e vivenciam diariamente as tensões
estabelecidas no referido território. O objetivo principal da atividade era instiga-los a
pensarem no tipo de construção politica, social e espacial que se estabelece na
comunidade, e com isso provocar uma reflexão sobre a ação dos poderes publico e
privado no planejamento urbano da cidade do Rio de Janeiro. A fim de alcançarmos o
propósito estabelecido foi discutida uma proposta de saída de campo por Manguinhos,
em que seriam realizadas três paradas estratégicas ao longo do trabalho, para o debate a
respeito da realidade ali percebida.
A organização da atividade transcorreu da seguinte maneira: No primeiro
momento ocorreu uma discussão com os estudantes acerca do que é viver na favela, e
como a mídia se apoderou desse processo para vender uma imagem que não condiz com
a realidade dos moradores, foi utilizado durante esse debate o recurso de vídeos do
youtube, onde os alunos assistiram o Clipe musical de uma renomada marca de
refrigerantes que utiliza aspectos culturais do funk carioca. Após essa conversa
introdutória a professora e os alunos dividiram-se em quatro duplas que ao longo da
saída a campo desempenharam diferentes papeis, ficando responsáveis pela filmagem, e
pela captação de materiais. A primeira parada foi às margens do rio Faria Timbó, onde
nesse momento foram discutidos os aspectos históricos e ambientais, a origem do nome
Manguinhos e as condições de saneamento e escoamento de água na região, e a partir de
materiais produzidos pelos próprios alunos com garrafas pet e barbante foi feita uma
coleta da água, para que em aulas futuras esse material possa ser analisado. Nesse
momento os alunos argumentaram os problemas relacionados ao lixo, ao esgoto e ao
acesso a água potável. A segunda parada foi na entrada do projeto Horta Favela, que
surgiu após as obras implementadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Os estudantes analisaram o efeito do PAC no espaço de Manguinhos e relataram a enchente
ocorrida no ano de 2010 que inundou boa parte dos conjuntos habitacionais inaugurados pelo
projeto, onde muitos moradores perderam tudo que tinham. A terceira é ultima parada foi ao
longo do campo de futebol da Coreia (tal denominação se dá pelo fato do campo localizar-se
na comunidade da Coreia, uma das favelas que formam o complexo de Manguinhos).
Durante o percurso passamos por uma área de concentração e vendas de drogas, importante
relatar que há poucos metros de distância havia uma guarita da UPP com policiais
fortemente armados. Esse acontecimento chamou a atenção dos alunos para as politicas de
seguranças que englobam o território de Manguinhos, e através da fala da aluna “T” foi
possível detectar o forte distanciamento existente entre a PM e a população: “os policiais
chegam atirando e não se preocupa em saber quem tá na rua, pra eles todo preto é bandido
e vagabundo”. Chegando à área em questão observamos o processo de aterramento que está
sendo feito na região, os alunos ficaram surpresos com a quantidade de lixo misturada aos
compartimentos de solos que estavam expostos, separamos uma pequena quantidade do
material para futuras análises. Próximo à estação de linha férrea nos deparamos com um dos
cenários que se estabelecem em Manguinhos, casas demolidas, valas ao céu aberto, uma
grande quantidade de porcos próximos ás crianças que brincavam junto ao esgoto, e alguns
usuários de drogas. No final do saída de campo nos encaminhamos para a sala de aula e lá
separamos as fotos e os materiais que foram recolhidos.
As próximas etapas da pesquisa se referem à execução de entrevistas de caráter
qualitativo com alunos e professores, e posteriormente a sistematização dos dados obtidos,
com a finalidade de analisar quais tipos de mudanças ocorreu na percepção geográfica dos
alunos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para GOMES, et al.(2013) “a conjuntura a qual estamos inseridos nos leva a


uma alienação (re) produzida como materialidade no cotidiano (GOMES, et al., 2013,
p.8)”. E para que possamos alcançar um corpo social mais humano e igualitário, que
identifique e reflita sobre as legitimações desse processo, necessitamos de uma quebra
dessa estrutura, uma revolução, que mobilize as classes populares a partir de suas
vivências e experiências de vida, em um movimento contínuo de subversão contra as
lógicas globais / locais vigentes, transformando o cotidiano no lugar da indignação e das
lutas individuais e coletivas. Sendo o espaço escolar um dos principais alicerces de
mudança da realidade, pois quando o processo educacional é concebido como um
exercício critico, as modificações na visão de mundo dos alunos e também dos próprios
professores se tornam intrínsecas a prática social.
Por fim acreditamos que a constituição de um espaço mais humano e igualitário
perpassa diretamente pela ação e pela relação dialógica estabelecida no meio escolar, e a
busca por alternativas que levem a reflexão e ao debate das disparidades de nosso corpo
social
REFERÊNCIAS

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