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Resumo do Capítulo 9 – Economia e Trabalho.

1. Introdução

O capítulo 9 entra em uma discussão dos mercados de trabalho nas economias modernas, iniciando
com uma análise do que diferencia esses mercados em relação à organização do trabalho em
sociedades mais antigas. Posteriormente, entra-se na discussão da qualidade dos empregos presentes
nos diferentes setores da economia e em como isso cria mercados segmentados de diferentes
características. Cada país, por seu turno, regula e organiza esses mercados de diferentes maneiras e
lidam diversamente com as grandes corporações e com a expansão expressiva do comércio
internacional iniciada entre o fim dos anos 80 e começo dos anos 90. Por fim, o autor do livro
discute o possível futuro do trabalho e como corporações e trabalhadores interagirão.

2. Promessa e história do trabalho

Logo no início da primeira seção do capítulo o autor formula uma pergunta para servir como base
para o seu texto: o trabalho é salvação ou danação? Contudo, em vez de respondê-la diretamente, o
autor busca mostrar que a situação é mais complexa. “Pequenas” revoluções, como a introdução dos
computadores como ferramenta de trabalho, criam tanto benefícios no âmbito da eficiência como
também desconfortos no ambiente de trabalho. Ainda mais profundas e ambíguas foram as
“grandes” revoluções que ocorreram na história do trabalho humano, as quais o autor divide em
três: o desenvolvimento da agricultura, da indústria moderna e do setor de serviços.

A revolução agrícola transformou profundamente o modo de viver dos homens de 10 mil anos atrás,
deixando de se organizar em tribos nômades e passando a viver em assentamentos estáveis aonde a
maioria dos habitantes trabalhava no cultivo de plantas e criação de animais. A produtividade de
alimentos disparou e foi possível sustentar maiores populações de humanos, que com o tempo
também começaram a realizar trocas entre si, criando fluxos de comércio que ligaram diferentes
regiões e levaram no século XV ao crescimento dos mercados (relações sociais de trocas de bens e
serviços regidos por preços, determinados através da oferta e demanda de cada item).

A revolução industrial aprofundou ainda mais as relações de mercado ao introduzir inovações no


processo produtivo que aumentaram significativamente a capacidade de abastecimento. Esse
processo de transformação produtiva teve início na Inglaterra do século XVIII e se espalhou pelo
mundo ao longo dos séculos seguintes. Uma característica marcante do processo de industrialização
foi a intensificação da divisão do trabalho, cada parte do processo é operada por trabalhadores
especializados na tarefa necessária para realizá-la. Se por um lado isso levou a trabalhadores
realizarem atividades extremamente repetitivas, essa especialização também se intensificou tanto a
ponto de dar abertura para que pessoas com habilidades específicas pudessem criar um enorme setor
de serviços, que hoje agregam hoje mais da metade da mão de obra nos países desenvolvidos.

Os benefícios dessas mudanças, contudo, não são distribuídas homogeneamente e há pessoas que se
beneficiam de uma posição privilegiada no mercado de trabalho (são “salvas’ pelo seu emprego), já
outras trabalham em situação precária.

3. “Bons” versus “maus” empregos

O autor traduz essa divisão entre situações no mercado de trabalho em pessoas que possuem “bons”
e “maus” empregos. Os primeiros possuem as seguintes características:

• Requerem educação superior;


• Possuem altos salários;
• Não possuem supervisão estrita;
• Encorajam a criatividade;
• Possuem ambientes de trabalho agradáveis;
• Oferecem segurança, oportunidade de promoção e benefícios diversos (como um seguro de
saúde ou pagamentos de creche para os filhos).
Por sua vez, os maus empregos apresentam características diametralmente opostas e comumente
requerem a realização de tarefas repetitivas.

Pesquisas sociológicas buscam esclarecer qual desses tipos de empregos é ou tende a se tornar
predominante. Dentre as teses que surgiram a partir dessas pesquisas está a “tese da
desqualificação” de Harry Braverman (1974): para pagar menos pelo trabalho realizado e assim
maximizar os lucros, as empresas buscam dividir atividades complexas em tarefas simples e
repetitivas. Na indústria a expressão máxima disso é o fordismo e o taylorismo, que colaboram para
simplificar e automatizar as ações dos trabalhadores no processo produtivo. Também há
manifestação de fenômenos que corroboram com a tese de Braverman no setor de serviços, como na
introdução de computadores no ambiente de trabalho dos escritórios levando a um aumento da
supervisão do trabalho desqualificado.

Outra expressão da degradação do trabalho no capitalismo é o aumento do trabalho em tempo


parcial e do setor informal. Os trabalhadores em tempo parcial predominantemente possuem
salários mais baixos, pouca proteção sindical, desregulamentação das normas de emprego e adesão
involuntária, a maioria dos trabalhadores optam por trabalho parcial por falta de opção ou
necessidade de lidar com outras responsabilidades (como filhos ou parentes idosos). Já os trabalhos
do setor informal agregam os “empresários de si mesmo”, pessoas qualificadas ou não que vendem
seus serviços para diversos clientes.
Por outro lado, há dados que não apontam essa desqualificação como tendência geral e sim como
específica para certas categorias. Grande parte do setor de serviços possui remunerações altas e
desempenham tarefas que exigem muita criatividade e inovação, esse setor também possui
distribuição de renda similar ao industrial (como apontado pelo setor de estatísticas do governo dos
Estados Unidos). Inovações que mudam a produção podem até degradar muitos empregos, mas
também criam novas indústrias com funções muito bem remuneradas, gerando uma polarização das
condições de trabalho (com poucos empregos estando em uma situação intermediária).

David Gordon e seus colaboradores rotularam essa dinâmica de “segmentação do mercado de


trabalho”, composta pelos seguintes mercados:

• Mercado primário: constituído por trabalhadores de alto nível de educação formal


(normalmente homens brancos) que trabalham em grandes corporações altamente
capitalizadas, possuem estabilidade, rendimentos altos e benefícios generosos;
• Mercado secundário: formado por trabalhadores desqualificados e de baixo nível de
educação formal (normalmente mulheres, jovens e membros de minorias raciais). Trabalham
em pequenas firmas, em postos instáveis, com salários baixos e poucos benefícios.

Cada um desses mercados possui diferentes formas de se organizar e há barreiras significativas


entre cada um deles. Os sindicatos, por exemplo, possuem um papel de grande relevância na
proteção dos trabalhadores do mercado primário, sendo capazes de oferecer resistência a decisões
controversas da gerência, barganhar por melhores salários e pleitear maior poder de decisão, seja no
chão de fábrica ou nas decisões de cúpula. Organizações sindicais ou profissionais também criam
sistemas de recrutamento que criam um mercado de trabalho interno, com poder de controlar o nível
salarial, as promoções e diminuir a competição dentro do mercado externo. Há outras barreiras para
a competição e que segregam os mercados de trabalho primário e secundários: poucas posições para
iniciantes, faltas de redes informais que liguem trabalhadores do mercado secundários a boas
oportunidades de emprego e falta de qualificação desses mesmos trabalhadores.

4. O problema dos mercados

A partir das características apresentadas é possível dizer que o mercado secundário é um mercado
livre e o primário é um mercado regulado. No primeiro os salários são regulados como se fossem o
preço do “bem mão de obra”, já no segundo o poder de barganha dos trabalhadores conta também
para determinar o valor dos rendimentos. A tendência do livre mercado é que ele deprima os
salários e aumente as desigualdades, por isso os governos tendem a intervir neles para organizá-los
de alguma forma, seja com salários-mínimos, redes de proteção social e outras regulações que
redistribuem o poder dentro das estruturas de mercado.
O nível e a orientação dessas regulações são variáveis entre diferentes culturas e espaços de tempo,
e dependem do quanto a sociedade está pronta para aceitar a operação do livre mercado. No século
XX essas diferenças entre as sociedades levou à criação de três grandes sistemas socioeconômicos:
o capitalismo, caracterizado pela propriedade privada dos meios de produção, a competição dentro
dos mercados visando lucros e pela interferência pontual dos governos nos mercados (normalmente
com o objetivo de criar mercados, garantir segurança, estabilidade e infraestrutura); o comunismo,
erguido nos pilares da propriedade pública dos meios de produção, do planejamento estatal e da
ausência de competição de mercados; por último, a social-democracia, que possui propriedade
mista dos meios de produção (com certas indústrias sendo públicas) e um alto grau de intervenção
do estado nos mercados, mas com os mesmos objetivos que no capitalismo.

5. A corporação, a globalização e o futuro

Dos três sistemas destacados só o capitalismo e a social-democracia sobreviveram para o século


XXI, com uma grande aproximação entre elas. Ambas estão também submetidas à pressão da
organização dominante nas economias modernas, a corporação, e à nova fase de expansão do
comércio internacional, a globalização. A corporação expressa-se em grandes oligopólios,
monopólios e conglomerados de operação tanto nacional quanto mundial. Até mesmo as leis
antitruste possuem capacidade limitada de lidar com elas, não sendo várias vezes possível evitar
fusões ou dividir essas empresas, muito porque essas grandes empresas possuem as técnicas mais
modernas de produção e marketing, tornando-as competitivas internacionalmente e inovadoras.

Isso garante uma enorme competitividade aos países que possuem essas empresas na fase de
globalização do capitalismo, uma vez que elas são capazes de distribuir o seu capital de forma
descentralizada e levar vantagem ao explorar as condições econômicas de países em
desenvolvimento (como salários baixos e impostos reduzidos). Contudo, pode ser argumentado que
os trabalhadores tanto dos países desenvolvidos quanto dos em desenvolvimento acabam perdendo
nesse processo: os primeiros perdem seus empregos com a transferência das fábricas para os países
periféricos, e os segundos são submetidos a condições de trabalho precárias (apesar de serem
melhores que as condições anteriormente presentes).

Neste panorama o futuro das condições de trabalho depende da interação entre as escolhas das
corporações e a atuação das organizações trabalhistas. As primeiras podem incorporar as novas
tecnologias ao mesmo tempo que capacitam seus trabalhadores para lidar com elas ou podem buscar
poupar mão de obra, a tendência predominante dependerá do setor. Por seu turno, as organizações
profissionais têm o poder de mediar essas transformações e organizar o trabalho de acordo com as
necessidades sociais.

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