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1. Introdução
O capítulo 9 entra em uma discussão dos mercados de trabalho nas economias modernas, iniciando
com uma análise do que diferencia esses mercados em relação à organização do trabalho em
sociedades mais antigas. Posteriormente, entra-se na discussão da qualidade dos empregos presentes
nos diferentes setores da economia e em como isso cria mercados segmentados de diferentes
características. Cada país, por seu turno, regula e organiza esses mercados de diferentes maneiras e
lidam diversamente com as grandes corporações e com a expansão expressiva do comércio
internacional iniciada entre o fim dos anos 80 e começo dos anos 90. Por fim, o autor do livro
discute o possível futuro do trabalho e como corporações e trabalhadores interagirão.
Logo no início da primeira seção do capítulo o autor formula uma pergunta para servir como base
para o seu texto: o trabalho é salvação ou danação? Contudo, em vez de respondê-la diretamente, o
autor busca mostrar que a situação é mais complexa. “Pequenas” revoluções, como a introdução dos
computadores como ferramenta de trabalho, criam tanto benefícios no âmbito da eficiência como
também desconfortos no ambiente de trabalho. Ainda mais profundas e ambíguas foram as
“grandes” revoluções que ocorreram na história do trabalho humano, as quais o autor divide em
três: o desenvolvimento da agricultura, da indústria moderna e do setor de serviços.
A revolução agrícola transformou profundamente o modo de viver dos homens de 10 mil anos atrás,
deixando de se organizar em tribos nômades e passando a viver em assentamentos estáveis aonde a
maioria dos habitantes trabalhava no cultivo de plantas e criação de animais. A produtividade de
alimentos disparou e foi possível sustentar maiores populações de humanos, que com o tempo
também começaram a realizar trocas entre si, criando fluxos de comércio que ligaram diferentes
regiões e levaram no século XV ao crescimento dos mercados (relações sociais de trocas de bens e
serviços regidos por preços, determinados através da oferta e demanda de cada item).
Os benefícios dessas mudanças, contudo, não são distribuídas homogeneamente e há pessoas que se
beneficiam de uma posição privilegiada no mercado de trabalho (são “salvas’ pelo seu emprego), já
outras trabalham em situação precária.
O autor traduz essa divisão entre situações no mercado de trabalho em pessoas que possuem “bons”
e “maus” empregos. Os primeiros possuem as seguintes características:
Pesquisas sociológicas buscam esclarecer qual desses tipos de empregos é ou tende a se tornar
predominante. Dentre as teses que surgiram a partir dessas pesquisas está a “tese da
desqualificação” de Harry Braverman (1974): para pagar menos pelo trabalho realizado e assim
maximizar os lucros, as empresas buscam dividir atividades complexas em tarefas simples e
repetitivas. Na indústria a expressão máxima disso é o fordismo e o taylorismo, que colaboram para
simplificar e automatizar as ações dos trabalhadores no processo produtivo. Também há
manifestação de fenômenos que corroboram com a tese de Braverman no setor de serviços, como na
introdução de computadores no ambiente de trabalho dos escritórios levando a um aumento da
supervisão do trabalho desqualificado.
A partir das características apresentadas é possível dizer que o mercado secundário é um mercado
livre e o primário é um mercado regulado. No primeiro os salários são regulados como se fossem o
preço do “bem mão de obra”, já no segundo o poder de barganha dos trabalhadores conta também
para determinar o valor dos rendimentos. A tendência do livre mercado é que ele deprima os
salários e aumente as desigualdades, por isso os governos tendem a intervir neles para organizá-los
de alguma forma, seja com salários-mínimos, redes de proteção social e outras regulações que
redistribuem o poder dentro das estruturas de mercado.
O nível e a orientação dessas regulações são variáveis entre diferentes culturas e espaços de tempo,
e dependem do quanto a sociedade está pronta para aceitar a operação do livre mercado. No século
XX essas diferenças entre as sociedades levou à criação de três grandes sistemas socioeconômicos:
o capitalismo, caracterizado pela propriedade privada dos meios de produção, a competição dentro
dos mercados visando lucros e pela interferência pontual dos governos nos mercados (normalmente
com o objetivo de criar mercados, garantir segurança, estabilidade e infraestrutura); o comunismo,
erguido nos pilares da propriedade pública dos meios de produção, do planejamento estatal e da
ausência de competição de mercados; por último, a social-democracia, que possui propriedade
mista dos meios de produção (com certas indústrias sendo públicas) e um alto grau de intervenção
do estado nos mercados, mas com os mesmos objetivos que no capitalismo.
Isso garante uma enorme competitividade aos países que possuem essas empresas na fase de
globalização do capitalismo, uma vez que elas são capazes de distribuir o seu capital de forma
descentralizada e levar vantagem ao explorar as condições econômicas de países em
desenvolvimento (como salários baixos e impostos reduzidos). Contudo, pode ser argumentado que
os trabalhadores tanto dos países desenvolvidos quanto dos em desenvolvimento acabam perdendo
nesse processo: os primeiros perdem seus empregos com a transferência das fábricas para os países
periféricos, e os segundos são submetidos a condições de trabalho precárias (apesar de serem
melhores que as condições anteriormente presentes).
Neste panorama o futuro das condições de trabalho depende da interação entre as escolhas das
corporações e a atuação das organizações trabalhistas. As primeiras podem incorporar as novas
tecnologias ao mesmo tempo que capacitam seus trabalhadores para lidar com elas ou podem buscar
poupar mão de obra, a tendência predominante dependerá do setor. Por seu turno, as organizações
profissionais têm o poder de mediar essas transformações e organizar o trabalho de acordo com as
necessidades sociais.