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ilusão
COM seu “mito da caverna”, Platão queria dizer que o real não é real e, no
fundo, não passa de uma simples “ideia do real”, uma espécie de ilusão, mera
“aparência” ou “sombra” daquilo que imaginamos ser a realidade que nos cerca.
Assim, segundo Platão, o homem tem acesso à realidade por meio das ideias que ele
mesmo forma sobre essa realidade. Logo, o que chega até a consciência do homem é
só a ideia – não a própria realidade.
Esta seria, por assim dizer, tão somente uma ilusão; até mesmo nós, que
parecemos existir de verdade, não seríamos senão apenas uma ideia de nós
mesmos. (Se bem que é sempre bom lembrar o cogito de Descartes: “Penso, logo
existo”.)
A maneira platônica de ver a “realidade”, de enxergá-la apenas como uma
sombra do real – projetada no fundo de uma caverna, a caverna da consciência –
ainda precisa ser mais bem explicada pelos filósofos, antes que alguém confunda
alhos com bugalhos e se atire por algum precipício imaginando que não existe
precipício, mas apenas uma “ideia de precipício”. Na minha opinião, isso que Platão
disse é só uma maneira de dizer que os homens não conseguem captar a realidade
como ela é, então, acabam se contentando com uma imagem dela, uma “sombra”
simplesmente.
Com isso, podemos concluir – se é que Platão estava mesmo certo -, que o
conhecimento humano pode facilmente confundir-se, e a qualquer momento pode
sair por aí tomando o que é pelo que não é, o certo pelo errado, o que existe pelo
que não existente; e vice-versa. Quer dizer, podemos nos enganar sobre a realidade
porque o que temos dela é apenas uma “ideia”, e as ideias podem ser falsas ou
verdadeiras. E podemos então falsificar a realidade com nossas ideias, fabricando
ilusões que tanto podem enganar os outros quanto a nós mesmos.
Isso é assustador, penso. Mas, mesmo essas coisas que disse Platão, e que
estou reproduzindo aqui sem tirar nem pôr, podem ser apenas mais uma “ideia da
realidade”, platônica. Mais uma, portanto, ilusão (agora do próprio Platão),
daquelas tantas de que a realidade afinal é constituída aos nossos olhos – ou pelos
nossos olhos -, que às vezes se iludem, e se iludem tanto que até já criamos a
expressão “ilusão de ótica” para explicarmos tudo aquilo que nos engana – inclusive
a tal “visão de mundo”, que outra coisa não é senão a “visão de tudo”; tudo o que
consideramos real.