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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Letras e Artes


Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Yê, Mastaba!
Coletivo Preto e Grupo de Estudos em relações étnicos-raciais na Arquitetura e Urbanismo
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CARTA ABERTA À COMUNIDADE DA FAU - UFRJ:


CONSIDERAÇÕES À PROPOSTA DE REFORMA CURRICULAR

Rio de Janeiro, 25 de novembro de 2020

Prezado Núcleo Docente Estruturante (NDE), e toda comunidade da Faculdade de


Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),

Nós, membros do Coletivo Preto e Grupo de Estudos em Relações Étnico-raciais na


Arquitetura e Urbanismo Yê, Mastaba!, da FAU UFRJ, sob o apoio do Grupo de Pesquisa
EtniCidades da FAU UFBA, orientamos a revisão da proposta do Projeto Pedagógico do
Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, previsto para ser implementado
no presente ano de 2020, tendo vigência até o ano de 2030.
É urgente que o conteúdo referente à abordagem das relações étnico-raciais, e ao
ensino de culturas e histórias afro-brasileiras, africanas, e indígenas, seja incluído no
currículo escolar obrigatório - em teoria e em prática; sendo reconhecidas, legitimadas,
valorizadas, e protagonizadas todas as contribuições dos povos originários e das populações
negras do Brasil para a construção das cidades e da sociedade. Ao longo desta carta, serão
expostos alguns dados pertinentes a essa reformulação e, por fim, propostas passíveis de
serem incluídas na nova grade curricular.
O estado do Rio de Janeiro é composto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) no ano de 2010, por uma população de 15.989.929 habitantes, sendo que
destes, 1.978.681 se declaram pretos, 6.288.095 se declaram pardos e 15.894 indígenas,
totalizando uma população negra formada por 8.282.67 cidadãos, tornando-a maioria da
população do estado do Rio de Janeiro. Sob a escala nacional, dados produzidos pelo IBGE
em 2018, indicam que a porção majoritária da população brasileira é negra - cerca de 55%, ou
seja, tanto na escala estadual quanto na escala nacional, todas as questões que reivindicam a
visibilização dessa população, ao contrário do que somos induzidos a pensar, não se referem
às pautas minoritárias, e sim majoritárias.
Ainda conforme o IBGE, o estado do Rio de Janeiro é composto por cerca de 90
municípios. Compreendendo aproximadamente 32 comunidades quilombolas, reconhecidas
pela Fundação Cultural Palmares (FCP), sendo duas delas certificadas pelo Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (Incra), 847 terreiros e casas religiosas de matrizes
africanas, como o candomblé, a umbanda e suas derivações. Segundo o livro “Presença do
axé: mapeando terreiros no Rio de Janeiro”, o estado conta também com a presença de
comunidades indígenas, ribeirinhas, povos étnicos, como ciganos, caiçaras, povos originários
e seus diversos grupos étnico-raciais. E mesmo que a presença de tais territórios seja

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identificada na cidade do Rio, suas histórias, e culturas de formação, continuam a ser


invisibilizadas pelo sistema de ensino das escolas de arquitetura.
Também de acordo com pesquisas publicadas pelo IBGE - em 2019, são inúmeros os
dados que comprovam as desigualdades raciais presentes na sociedade brasileira. Sobre a
distribuição de rendimento e condições de moradia temos 12,5% da população negra
residindo em domicílios sem coleta de lixo, contra 6% da população branca; 17,9% da
população negra sem abastecimento de água por rede geral, contra 11,5% da população
branca; 42,8% da população negra sem esgotamento sanitário por rede coletora ou pluvial,
contra contra 26,5% da população branca; além disso, a 44,8% da população negra também
têm menos acesso aos bens duráveis do que os brancos, contra 21% da população branca.
Sobre os dados de mercado de trabalho temos 47,3% da população negra em ocupações
informais, contra 34,6% da população branca; 64,2% da população negra desocupada, contra
34,6 da população branca; 32,7% da população negra subutilizada, contra 66,1% da
população branca; sendo também importante destacar que 62,7% do trabalho infantil é
realizado por crianças negras, e quando se trata de trabalho infantil doméstico, esse índice
aumenta para 73,5%. Sobre os dados da educação temos 9,1% da população negra, acima de
15 anos, analfabeta, contra 3,9% da população branca; 58,1% da população negra com
estudos de conclusão do ensino médio, contra 76,8% da população branca; e a taxa de
ingresso ao ensino superior de 35,4% entre a população negra, e 53,2% entre a população
branca.
Além disso, dados do IBGE também comprovam que a população negra é a maior
vítima em casos de violência, tendo 2,7 mais chances de ser vítima de assassinato do que os
brancos; ao todo, os negros somam 75,9% dos brasileiros assassinados no período analisado
de 2008 a 2018; esses mesmos dados nos mostram que, em 2018, 4.519 mulheres foram
mortas no Brasil, o que significa que uma mulher morreu assassinada a cada duas horas no
país, sendo que 68% delas eram negras; o percentual de mulheres negras vítimas de estupro é
de 52%; em 2019, foram registradas 5 mil mortes violentas de crianças e adolescentes, sendo
que 75% eram negras. Em Porto Alegre, no dia 19 de novembro de 2020, João Alberto
Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, pai de 4 filhos, foi brutalmente assassinado por
seguraças brancos do mercado Carrefour. Em Minneapolis, nos Estados Unidos, no dia 25 de
maio de 2020, George Floyd, um homem negro de 46 anos, pai de Gianna, foi brutalmente
assassinato por policiais brancos. Além disso, no Rio de Janeiro, entre janeiro e julho de
2019, a polícia militar (PM) matou 1.075 pessoas, sendo 80% delas negras, ou seja, em
apenas um semestre, no município do Rio de Janeiro, 860 pessoas negras foram mortas pela
violência policial do Estado, 860 famílias negras tiveram suas vidas desestruturadas por um
Estado racista, e genocida. João Pedro Mattos, Amarildo Dias de Souza, Claúdia Silva
Ferreira, Ágatha Vitória Sales Félix, Marielle Francisco da Silva e tantas outras milhões de
vidas negras brutalmente interrompidas, poderiam ter seus casos de assassinato e tortura

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evitados, se seus assassinos, e torturadores, tivessem tido acesso a uma educação sensível
sobre as populações negras, com uma formação crítica sobre os conflitos das relações
étnico-raciais no Brasil, sendo reconhecidas as vulnerabilidades da formação sócio-espacial
das territorialidades negras.
Dessa forma, referenciado na Lei 10.6391, implementada em 2003, que prevê a
obrigatoriedade do ensino de conteúdos referentes às culturas e histórias afro-brasileiras e
africanas nos currículos escolares; referenciado no CNE/CP Resolução 1/20042, que institui a
inclusão de conteúdos referentes ao ensino das relações étnico-raciais nas disciplinas e
atividades curriculares dos cursos de ensino superior; e referenciado na Lei 11.6453,
implementada em 2008, que estende a atuação da Lei 10.639 para o ensino de conteúdos
referentes às culturas e histórias indígenas; orientamos a revisão da proposta para que as
ementas possam abordar de maneira consistente em suas referências e práticas, as relações
étnico-raciais, afropindorâmicas e afrodiaspóricas, de maneira que tais temáticas sejam
incluídas no currículo escolar obrigatório, de maneira a sanar o déficit existente ao longo da
história do curso de arquitetura e urbanismo Brasil e mundo afora.
Para isso, é necessário compreendermos que a trajetória da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da UFRJ é marcada por adversidades. No período de sua origem, enquanto se
fundava a Escola Real das Ciências, Artes e Ofícios, em 1816, através da Missão Artística
Francesa liderada pelo arquiteto francês Auguste Grandjean de Montignyo, o Estado
Brasileiro ainda não havia abolido a escravidão, e nem mesmo havia proclamado a
República; ou seja, em 72 dos 204 anos de existência de um ensino sistematizado de
arquitetura, a escravização da população negra no Brasil foi organizada, institucionalizada e
viabilizada por um Estado colonial português.
Ainda que alguns avanços possam ser reconhecidos para a reparação das
desigualdades sociais que acometem a população negra brasileira, são latentes todas as
formas de extermínio, apagamento e invisibilização de sua presença no cenário urbano; pois o
projeto político genocida e epistemicida, iniciado no período colonial, ainda está em curso. O
não reconhecimento da diversidade e dos conflitos étnico-raciais presentes em nossa
sociedade, é o que tem impedido que sejam promovidas verdadeiras análises críticas sobre as
realidades sociais presentes, sendo perpetuadas as tradições coloniais direcionadas para
naturalização do racismo, através da conformação dos papéis sociais que pessoas negras e
pessoas brancas devem exercer. Como nos fala Silvio Almeida (2019):
O racismo constitui todo um complexo imaginário social que a todo momento é
reforçado pelos meios de comunicação, pela indústria cultural e pelo sistema
educacional. Após anos vendo telenovelas brasileiras, um indivíduo vai acabar se

1
Lei 10.639: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm
2
CNE/CP Resolução 1/2004: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/res012004.pdf
3
Lei 11.645: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm

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convencendo de que mulheres negras têm vocação natural para o trabalho doméstico,
que a personalidade de homens negros oscila invariavelmente entre criminosos e
pessoas profundamente ingênuas, ou que homens brancos têm personalidades
complexas e são líderes natos, meticulosos e racionais em suas ações. E a escola
reforça todas essas percepções ao apresentar um mundo em que negros e negras não
têm muitas contribuições importantes para a história, literatura, ciência e afins,
resumindo-se a comemorar a própria libertação graças à bondade de brancos
conscientes. (ALMEIDA, 2018, pg. 65)
Sendo assim, compreendidos de que as problemáticas sociais da sociedade brasileira
estão atreladas com a problemática do racismo, o esforço para a construção de um ensino
verdadeiramente diverso e inclusivo deve estar primariamente comprometido com o combate
das desigualdades raciais, sendo revelada sua presença, e sua atuação na manutenção das
estruturas coloniais de poder - destacando, em nosso caso, sua presença na produção de
conhecimento científico, e na produção de espaço na cidade. De acordo com Nilma Lino
Gomes (2005):
Quanto mais a sociedade, a escola, e o poder público negam a lamentável existência
do racismo entre nós, mais o racismo existente no Brasil vai se propagando e
invadindo nossas mentalidades, as subjetividades, e as condições sociais dos negros.
O abismo racial entre negros e brancos no Brasil existe de fato. As pesquisas
científicas e as recentes estatísticas oficiais do Estado brasileiro que comparam as
condições de vida, emprego, saúde, escolaridade, entre outros índices de
desenvolvimento humano, vividos por negros e brancos, comprovam a existência de
uma grande desigualdade racial em nosso país. Essa desigualdade é fruto da estrutura
racista, somada a exclusão social e a desigualdade socioeconômica que atingem toda
a população brasileira e, de um modo particular, o povo negro. (GOMES, 2005, pg.
47)
Assim, a formação humanista do arquiteto e urbanista - expressa no Art.5o. da
Resolução CNE/CES nº 24 e a compreensão de sua missão social sobre as questões éticas,
estéticas, e culturais, socioambientais e construtivas, destinada à construção de uma
sociedade e cidade, mais igualitária e justa, só é capaz de se tornar efetiva se sua formação
profissional for capaz de produzir verdadeiras análises críticas sobre os conflitos das relações
étnico-raciais presentes, estando comprometida, integralmente, com o combate do racismo
estrutural de nossa sociedade. Do contrário, como temos visto, uma formação de arquitetura

4
Art.5o. da Resolução CNE/CES nº 2:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=5651-rces002-10&Itemid=30
192

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hegemônica que nega a presença do racismo entre nós e oculta os conflitos étnico-raciais, a
partir da sobreposição de outras questões sociais, é o que tem contribuído para que as
desigualdades sociais presentes sejam perpetuadas, fornecendo instrumentos metodológicos
incapazes de realizar as transformações sociais necessárias.
Outra questão importante a ser compreendida é sobre a política de Ações Afirmativas
- implementada em 2011 pela Universidade Federal do Rio Janeiro, segundo Moehlecke
(2002: 203) como “uma ação reparatória/compensatória e/ou preventiva, que busca corrigir
uma situação de discriminação e desigualdade infringida a certos grupos no passado, presente
ou futuro, através da valorização social, econômica, política e/ou cultural desses grupos,
durante um período limitado”. Fundamentando-se na concepção de ação afirmativa enquanto
estratégia de reparação frente a uma situação de desigualdade estrutural, como o é a
desigualdade racial no Brasil, entendemos que a mesma deve proporcionar patamares
mínimos de inclusão sem, contudo, limitar o acesso de grupos marginalizados a espaços de
poder, ferramentas que possibilitem o ensino em patamar de igualdade para o ingresso e
concomitante revisão dos seus fundamentos referenciais teóricos e metodológicos a fim de
ampliação no debate e nas práticas que tangem todos os grupos distintos.
Dito isto e partindo da concepção das Leis aqui inscritas enquanto estratégias de
reparação frente a uma situação de ausência de referencial no que tangem os currículos de
ensino em Arquitetura e Urbanismo, entendemos que a mesmo deve proporcionar: i)
ferramentas que possibilitem uma ementa disciplinar referenciada na arquitetura
étnico-racial; ii) buscar ampliação das narrativas e práticas que posicionem a racialidade
como ponto-chave para se pensar espaços menos desiguais e mais antirracistas; iii)
articulação com ensino-pesquisa-extensão no que tange compartilhar saberes com grupos
externos à universidade. Considerando essas questões e os outros pontos qualitativos e
quantitativos expostos no presente texto, foram feitas as seguintes proposições:
1. Criar uma Comissão de Acompanhamento da construção da proposta da Reforma
Curricular, apoiada pelo corpo discente desta instituição com contribuições externas que
mutuamente estão dispostas a estarem na produção desta construção coletiva, dispondo de
arcabouço no referido tema para auxiliarem no que for necessário;
2. Assumir e considerar os modos de morar e habitar as cidades, entendendo a lógica
dos povos originários;
3. Refletir a partir da produção de territórios quilombolas, indígenas, dos povos
étnicos como ciganos, caiçaras, povos originários, espaços de resistências e técnicas
construtivas advindas do continente africano e diaspórico;
4. Debater a respeito das influências e referências existentes e resistentes, fazendo
com que haja uma revisão bibliográfica na ementa de todas as disciplinas;
5. Racializar o currículo de Arquitetura e Urbanismo em todas as suas esferas
disciplinares, como projeto, tecnologias da construção, história e teoria e e ademais.

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Desta maneira, sabendo que as disciplinas integradas de História da Arquitetura e


Arte 1 (DHT) e História das Teorias do Urbanismo 1 (DPUR), ofertadas no 1° período da
graduação e atualmente terão como título, respectivamente Arquitetura 1 e Cidade 1,
totalizando 2 Créditos e 30h em cada, seguirão com ementa semelhante, abordando a
construção teórico-prática da cidade do Rio de Janeiro e suas referências, através de
metodologia já estabelecida na universidade, torna-se pertinente o prosseguimento, através de
uma ordem cronológica e espacial, da reflexão acerca da paisagem construída no território
brasileiro, elaborou-se propostas de implementação de uma disciplina subsequente às
disciplinas integradas de Arquitetura 1 e Cidade 1, além de 1 proposta de eletiva a ser
ofertada semestralmente na grade curricular da universidade, onde:
A. Na 1º opção, cria-se uma nova disciplina obrigatória na grade curricular do 1°
ciclo de fundamentação, com obtenção de 2 créditos, com enfoque na proposições
explicitadas acima, e passa-se a ter adição de 30 horas no total do currículo geral. Nas
disciplinas obrigatórias existentes (tais como projeto de arquitetura, projeto urbano,
disciplinas de teoria, história e suas variações) oferta-se a criação de Seminários com
convidados externos à universidade, como lideranças quilombolas e indígenas, de terreiros e
demais povos étnicos;
B. Na 2º opção, altera-se a carga horária da disciplina CIDADE 2, ofertada no 2º
período letivo, dividindo-a em duas disciplinas de 2 créditos, para possibilitar o retorno à
disciplina de ARQUITETURA 2 com enfoque nas proposições solicitadas acima;
C. Na 3º opção, haveria a restauração e reestruturação dos programas das
disciplinas existentes (das teorias do 1º e 2º período) e Arquitetura no Brasil (1/2/3), a fim da
permanência obrigatória destes conteúdos de maneira integral; enfatizando a importância dos
conteúdos relacionados à contribuição indígena, negra e européia, serem passados de forma
igualitária, expondo a relevância destes na produção arquitetônica brasileira;
D. E, a respeito das eletivas, elaboram-se projetos de disciplinas
optativas/eletivas a serem cursadas a partir do 3º período, com sua fundamentação direta no
diálogo com territórios étnicos, onde seriam compreendidos, à priori, os Departamentos de
Tecnologia da Construção (DTC), de Projeto de Arquitetura (DPA), de Urbanismo e Meio
Ambiente (DPUR) e de História e Teoria (DHT), que poderiam se debruçar, a exemplo, em
algumas das propostas de disciplinas presentes no documento da Carta Manifesto assinada
por arquitetos urbanistas, estudantes de graduação e pós-graduação de todo o país, a respeito
da presença do ensino das relações étnico-raciais, cultura africana e afro-brasileira, realizado
no Seminário Salvador e Suas Cores, na FAU UFBA (AFROCIDADES, 2018).

Nós, do Yê, Mastaba!, somos compostos por estudantes de graduação, concluintes e


estudantes de pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional, tendo como objetivo o

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comprometimento com a produção, pesquisa e extensão universitária. Unidos desde 2017,


buscamos trazer à memória os saberes ancestrais, de forma a celebrar, legitimar e validar esse
conhecimento nos espaços do campo acadêmico. Sintam-se à vontade para entrar em contato
conosco, através de nossos canais oficiais de comunicação: nosso endereço de e-mail e nossa
página no instagram.
Estimamos possibilitar, a partir desta carta, a abertura de um diálogo indispensável e
improrrogável com todo o corpo docente, discente e técnico-administrativo da FAU UFRJ,
em busca de um firme compromisso com a cidadania, a multiplicidade e o antirracismo.

Atenciosamente,
Coletivo e Grupo de Estudos Yê, Mastaba! - FAU UFRJ
yemastaba@gmail.com
https://www.instagram.com/yemastaba/

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS:

AFROCIDADES, FAU UFBA. Carta-aberta às Faculdades de Arquitetura e


Urbanismo do Brasil. Salvador e Suas Cores 2018: 8: Cidades da Diáspora Negra – Laços
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ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.
BEZERRA, Roberto Cláudio Frota. In: Diretrizes Curriculares Nacionais para
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Africana. Brasília, DF: 2005.
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16.01.2003.
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MOEHLECKE, Sabrina. Ação afirmativa: história e debates no Brasil. Cadernos

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de Pesquisa, São Paulo, Autores Associados e Fundação Carlos Chagas, nº 117, nov. 2002, p.
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PEREIRA, Gabriela Leandro. Corpo, discurso e território: a cidade em disputa
nas dobras da narrativa de Carolina Maria de Jesus. 1º ed. - São Paulo: ANPUR e
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TRINDADE, Azoilda Loretto da (org.). Africanidades brasileiras e educação: salto
para o futuro. Rio de janeiro: TV escola /MEC, 2013.
VIEIRA, Vanessa dos Santos. Territorializando um quilombo urbano: a
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arquitetura e urbanismo) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2019.

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