Principais abordagens do
desenvolvimento humano: a
epistemologia genética
AULA
de Piaget
Marise Bezerra Jurberg
Meta da aula
Apresentar o trabalho de Jean Piaget e
sua importância para a Psicologia e para
a Educação, assim como suas aplicações
nesses dois campos do saber.
objetivos
Pré-requisito
Para melhor entendimento desta aula, consulte
os conteúdos da Aula 3 sobre Aristóteles e,
na mesma aula, sobre empirismo.
Psicologia e Educação | Principais abordagens do desenvolvimento humano: epistemologia
genética de Piaget
INTRODUÇÃO Você já pensou nas relações que se estabelecem entre o sujeito que conhece
e o mundo que ele tenta conhecer?
Nesta aula você terá contato com uma das mais importantes teorias cogniti-
epistemologia vistas que tentou responder a esta pergunta: a e p i s t e m o l o g i a genética de
Crítica das ciên- Jean Piaget (1896-1980), brevemente apresentada na aula sobre inatismo,
cias, de seu valor,
suas origens, leis de quando sua teoria, embora privilegiasse aspectos genéticos e, portanto,
desenvolvimento,
biológicos, foi considerada interacionista.
alcance e relações
com a experiência A epistemologia em Piaget relaciona-se mais à teoria do conhecimento.
humana; estudo
crítico do conhe- Defende que o sujeito do conhecimento não é o indivíduo ou o “eu” psico-
cimento científico;
termo também uti-
lógico, mas um sujeito epistêmico, ou seja, um sujeito universal, ideal; um
lizado como teoria sujeito que não corresponde, portanto, a nenhum indivíduo em particular.
do conhecimento,
ou gnosiologia, mas Esse sujeito epistêmico sintetiza todas as possibilidades de cada pessoa e,
distingue-se desta,
segundo alguns ao mesmo tempo, pode ser comparado ao sujeito da Biologia, quando esta
autores, por analisar ciência descreve as características de determinada espécie, por exemplo. Pode
os conhecimentos a
posteriori. ser comparado também ao sujeito da Medicina, quando esta descreve, por
exemplo, o aparelho digestivo humano sem especificar nenhuma pessoa. Ao
afirmar que esse aparelho possui uma estrutura determinada, a Medicina não
está tratando de um indivíduo em particular, mas buscando indícios gerais
para aplicar em futuros diagnósticos de uma pessoa que vier a apresentar
diferenças em relação ao padrão.
Só conhecendo o que é universal, comum a todos os seres humanos, será
possível conhecer o que cada indivíduo tem de específico. Além disso, sem
conhecer o que é comum na espécie humana, como determinar o que teria
origem cultural? Na linguagem piagetiana, “sem conhecer a forma, seria
impraticável falar em conteúdo”, do mesmo modo que, sem um continente,
não há um conteúdo (PIAGET, 1996).
Uma vez que não se restringe a explicar o conhecimento de um adulto, Piaget
caracteriza a epistemologia como sendo genética. É preciso que se conheçam
as condições pelas quais passa uma criança até chegar à sua fase adulta (onto-
gênese). Assim, é possível entender como ela apresenta sua capacidade de
conhecer, e analisar seu conhecimento adquirido face às experiências vividas
nas trocas com o meio ambiente.
Suas questões básicas são, portanto, a construção do conhecimento e o
desenvolvimento da inteligência, organizando o desenvolvimento infantil em
uma série de estágios sequenciais, como veremos mais adiante.
Para Piaget, só o funcionamento da mente é inato. Herdamos uma mente
que funciona e cuja capacidade de realizar operações estará limitada à fase
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de desenvolvimento do indivíduo. Tudo o que conhecemos vai se formando
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à proporção que atingimos estágios de maturação biológica mais avançados
AULA
nas relações com o meio. Tudo é construído paulatinamente. Daí, o melhor
termo para classificar a abordagem piagetiana ser construtivismo.
Este termo ficou mais conhecido e difundido nas últimas décadas, sendo
Piaget seu maior expoente. O construtivismo de Jean Piaget fundamenta-se
no evolucionismo bergsoniano e no estruturalismo. Segundo o evolucionis-
mo de Bergson (FIGUEIREDO, 1995), o ser humano evoluiu do reino animal,
possuindo uma força vital desencadeada pelos instintos e pela inteligência.
Do estruturalismo, Piaget baseia sua crença na realidade como sendo um
conjunto de elementos relacionados entre si. Uma interação que implica,
caso se modifique um dos elementos, modificação nos demais.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Piaget
Jean Piaget (1896-1980) nasceu na cidade de Neuchâtel, na Suíça, e é considerado o maior expoente
do estudo do comportamento infantil, organizando o desenvolvimento cognitivo em uma série de
estágios. Foi um dos mais importantes pesquisadores de Educação e Pedagogia. Mudou-se para Zuri-
que em 1918, onde trabalhou em um laboratório de psicologia e estagiou numa clínica de psiquiatria.
Estudou psicopatologia na universidade de Sorbonne, na França, tendo realizado pesquisas sobre as
características do pensamento infantil com crianças francesas e com deficientes mentais. Na Suíça,
foi diretor do Instituto Jean-Jacques Rousseau e lecionou Psicologia Infantil em Genebra.
Fez seus estudos de Psicologia do desenvolvimento entrevistando milhares de crianças, mas iniciou
observando o crescimento de seus próprios filhos. Publicou seu primeiro livro em 1923, A linguagem
e o pensamento na criança, no qual tratou de egocentrismo versus socialização; nos anos 1920,
publicou mais dois livros: em 1924, O raciocínio da criança, em que discute os traços principais da
lógica infantil e, em 1926, A representação do mundo na criança, no qual caracteriza o método
clínico. Continuou sistematizando sua teoria até 1955, ano em que escreveu Da lógica da criança
à lógica do adolescente e passou a dedicar-se à epistemologia (aspectos estruturais) e à pesquisa
psicológica, coordenada por Bärbel Inhelder, sua colaboradora a partir deste ano.
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genética de Piaget
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denominou “método clínico”, foram sistematizadas e descritas em um de
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seus livros mais famosos: O nascimento da inteligência na criança, de 1936,
AULA
editado no Brasil em 1982.
A epistemologia genética consiste numa fusão das teorias existentes, pois
Piaget não acreditava que todo o conhecimento fosse, a priori, inerente ao
próprio sujeito, nem que se originasse totalmente das observações do meio
que o cerca (empirismo). Para ele, o conhecimento é gerado através de uma
interação radical do sujeito com seu meio, a partir de estruturas previamente
existentes no sujeito.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 1
Agora, com base no que você leu, argumente por que a abordagem epis-
têmica de Piaget constituiu uma novidade dentro da dimensão inatismo
x ambientalismo.
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Resposta Comentada
Como novidades, a teoria piagetiana trouxe uma visão mais intera-
cionista, o que significa que não era mais importante separar o que
no comportamento humano seria decorrente de tendências inatas
daquilo que teria sido influenciado pelo ambiente. A dicotomia entre
ambientalismo versus inatismo – mais tarde denominada empirismo
versus racionalismo – deixa de ter sentido, uma vez que reconhece
que apenas o funcionamento da inteligência é inato, conforme diz
o texto acima. As estruturas da mente vão sendo criadas a partir
das sucessivas experiências do indivíduo, das suas ações sobre os
objetos. Daí Piaget ser considerado um construtivista, pois defende
“a elaboração contínua de operações e de estruturas novas”.
Adaptação
Assimilação Acomodação
12 CEDERJ
Piaget observou que as crianças não raciocinam como os adultos,
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e só gradualmente vão se inserindo nas regras, valores e símbolos que
AULA
caracterizam a maturidade psicológica. E é nesse processo que entram
a assimilação e acomodação.
A assimilação consiste em incorporar objetos do mundo exterior a
esquemas mentais que já foram formados ou que são preexistentes. Por
exemplo: a criança que já possui uma imagem mental de uma ave como
um animal que voa, põe ovos e possui penas e asas, ao ver um morcego,
tenderá a assimilá-lo a um esquema que, no entanto, não corresponde
totalmente ao que ela já conhece como ave. Ela generaliza, com base em
algumas características comuns entre os dois animais. Já a acomodação
refere-se a modificações dos sistemas de assimilação, por influência do
mundo externo. Após perceber que o morcego não possui penas nem
põe ovos, e que seus filhotes mamam, a criança vai realizar adaptações
em seu conceito “geral” de ave como animal que voa.
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Objeto de
Sujeito Conhecimento
Assimilação
!
Esses processos serão compreendidos quando estudarmos os estágios
(ou estádios, para alguns autores) pelos quais passa o desenvolvimento
humano.
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Esse progresso ocorre de tal forma que são esses primeiros
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esquemas de ação que permitem à criança uma primeira classificação
AULA
do mundo. Os processos elementares de classificação existem desde os
atos mais primitivos, e as propriedades atribuídas aos objetos dependem
somente da ação que o sujeito pode exercer sobre eles, sem que nada
garanta a permanência de suas qualidades fora dessa ação. É ainda nos
primeiros anos de vida que se pode afirmar que os objetos exteriores
continuam existindo, ainda que o sujeito não os veja. A inteligência,
antes de tudo, é adaptação; é a forma de equilíbrio para a qual tendem
todas as estruturas.
É a partir de esquemas motores, ou seja, das ações do ser humano,
que ocorre a troca entre o organismo e o meio, dentro de um processo
de adaptação progressiva, visando constante equilibração. Piaget (1975)
defende que o equilibrio entre assimilação e acomodação é necessário,
pois se um indivíduo só assimilasse, ele só desenvolveria alguns esque-
mas cognitivos muito gerais, o que comprometeria sua capacidade de
diferenciação. Por outro lado, se ele só acomodasse, desenvolveria uma
grande quantidade de esquemas cognitivos bastante específicos, o que
comprometeria sua capacidade de generalização. Objetos e fatos que
pertencem à mesma classe seriam entendidos como diferentes, geran-
do igualmente problemas de aprendizagem, ou melhor, problemas de
“adaptação”, na linguagem piagetiana.
A equilibração cognitiva é também ampliadora, ou seja, os dese-
quilíbrios não conduzem a um retorno à forma anterior de equilíbrio,
mas a uma forma melhor, caracterizada pelo aumento das dependências
mútuas ou das implicações necessárias (PIAGET; CHOMSKY, 1985).
Cada estrutura deve ser concebida como uma forma particular
de equilíbrio. Essas estruturas vão se sucedendo, conforme uma lei de
evolução, determinada de tal forma que, assim que a criança chega a
um determinado nível de desenvolvimento, este garante um equilíbrio
mais amplo e mais estável aos processos seguintes, intervindo naquele
que o precedeu. A inteligência não é mais do que um termo genérico
que designa as formas superiores de organização ou de equilíbrio das
estruturas cognitivas.
Piaget (1966), ao caracterizar a sequência de desenvolvimento da
inteligência em seus quatro estágios, deixa clara a incorporação gradativa
de novas experiências e sua importância para que a criança vá atingindo
os estágios subsequentes.
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Abstração
Empírica
Ação Descoberta
Figura 11.2: Abstração empírica.
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Ao agir sobre objetos, o sujeito descobre suas propriedades e
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passa a dispor de informações retiradas de suas características físicas.
AULA
A abstração será referente às ações e manipulações exercidas sobre o
objeto. Como exemplo, observemos uma criança que pega, pela primeira
vez, um sorvete tipo picolé, já sem invólucro: ela o segura, percebe que
é gelado, que lhe pinga das mãos, que derrete continuamente (em locais
com vento ele derrete mais rapidamente); começa a chupá-lo pela extre-
midade superior, até que encontra a ponta do palito, que lhe incomoda
o céu da boca; percebe que pode continuar consumindo-o pelas laterais,
observa que às vezes morde um pedaço maior, que lhe parece mais gelado.
Tais descobertas sobre as propriedades físicas do objeto farão parte de
sua abstração empírica.
Abstração
Reflexiva
Coordenações
Invenção
das Ações
Figura 11.3: Abstração reflexiva.
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18 CEDERJ
Como exemplo, podemos tomar as leis da aprendizagem formula-
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das por Ivan Pavlov (1849-1936), a partir de observações feitas quando
AULA
estudava o processo da digestão. A partir de um fato (a salivação do cão
como reação à comida na boca), ele observou que os animais também
passaram a salivar com a presença do experimentador ou quando aces-
savam o laboratório. Daí, Pavlov estabeleceu uma relação possível entre
esses dois fatos (hipótese) e tentou associar outros estímulos ao alimento.
A partir de casos particulares, portanto, chegou à lei da associação entre
dois estímulos, às leis da extinção, da discriminação e da generalização,
dentre outras. Esse conjunto de leis levou-o à construção da teoria de
aprendizagem por condicionamento, objeto de estudos da Aula 14.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 2
Resposta Comentada
Quanto aos mecanismos de assimilação e acomodação, observamos
que a resposta (a) demonstra que a criança ainda não deve ter
assimilado o significado da palavra em questão, ou seja, ela ainda
não internalizou o objeto (bicicleta) e, portanto, não pode encaixá-lo
em sua estrutura cognitiva. A criança que respondeu simplesmente
apontando o objeto, já o assimilou, já possui a imagem mental do
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20 CEDERJ
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Inteligência
AULA
Definida por dois aspectos interdependentes
Adaptação Organização
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Adaptação Organização
Assimilação Acomodação
Estrutura
Função
Aspecto interno
Aspecto externo
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por um processo de desorganização, para que possam novamente, a partir
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do contato com novos conceitos, reorganizar-se, estabelecendo um novo
AULA
conhecimento. Esse mecanismo pode ser denominado de equilibração
das estruturas mentais, ou seja, a transformação de um conhecimento
prévio em um novo (PIAGET; GRÉCO, 1974).
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Subestágios
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1.3. Reprodução de eventos interessantes (4 a 8 meses).
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O bebê começa a apresentar reações circulares secundárias, que
AULA
envolvem o meio externo:
– a criança já apresenta coordenação visão-preensão; esta
constitui uma fase de transição (fase pré-intencional) entre
a adaptação elementar e a adaptação intencional, que
caracterizará o próximo estágio; começa a apresentar um
comportamento dirigido a um fim; os fins, no entanto, são
estabelecidos somente depois de o comportamento ter sido
efetuado;
– inicia-se a noção de objeto permanente, ou seja, a criança
acompanha a trajetória do objeto em movimento e antecipa as
posições pelas quais ele irá passar, e também procura objetos
parcialmente escondidos.
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quando, por exemplo, diz que “o carro do papai vai ‘dormir’
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na rua”. Quando em companhia de outras crianças da mesma
AULA
idade, observa-se que elas falam enquanto brincam, mas é um
monólogo coletivo, em que todas falam ao mesmo tempo sem
que haja verdadeiramente um diálogo.
– Desenvolvimento da capacidade de usar símbolos, que possuem,
nesta fase, significados diferenciados de seus significantes e
são individuais (ex: qualquer coisa pode simbolizar qualquer
coisa); os símbolos guardam alguma semelhança com o que
eles representam, como acontece nos desenhos infantis desta
fase; capacidade de usar signos, que constituem significados que
também são diferenciados de seus significantes, sendo conven-
cionais, posto que sua origem é social (PIAGET, 1971).
– As formas pelas quais as representações de objetos e eventos
podem ser efetuadas pelas crianças são várias: através da imita-
ção diferida, do jogo simbólico, do desenho, da imagem mental
e do uso da linguagem oral. A imitação diferida vai marcar
a passagem do nível sensório-motor para o nível simbólico;
nela, não há modelo a seguir, a ser imitado; constitui a forma
de representação sobre a qual se sustentam as demais, predo-
minando, portanto, a acomodação. O jogo simbólico (jogo de
faz de conta) constitui uma forma de expressão espontânea da
criança que permite que ela possa vivenciar diversos papéis
à medida que tenta dramatizar necessidades, quer sejam elas
intelectuais ou afetivas, e nele predomina a assimilação. O
desenho (ou imagem gráfica) pode ser visto como algo inter-
mediário entre o jogo e a imagem mental, e costuma aparecer
entre 2 e 2 anos e meio de idade. De início, são rabiscos, depois
aparecem figuras que começam a se fechar, até que a criança
consegue fechá-las em forma de círculos. Ao tentar representar
a figura humana, a criança limita-a a dois ou três elementos
(rosto, tronco e pernas, por exemplo); figura esta que vai se
aprimorando, com o acréscimo gradual de novos elementos, à
proporção que a criança se desenvolve.
Como o estágio anterior, este apresenta subestágios, uma vez que
uma criança de 2 ou 3 anos possui um nível bem diferente de outra de
6 anos de idade.
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Subestágios
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– finalismo: a criança acredita que tudo à sua volta tem uma
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função, a qual justifica a sua existência;
AULA
– artificialismo: acredita que tudo que há no meio ambiente
foi, de alguma forma, construído pelo homem;
– animismo: acredita que tanto os objetos como os animais
são dotados de pensamento e de intenções;
– anomia: a criança, até 5 a 6 anos, apresenta anomia, isto é,
ela é indiferente às regras coletivas, interessando-se muito
mais pelo exercício motor, pelas fantasias simbólicas e, até
mesmo, pela companhia de outras crianças, do que pela
participação em uma atividade coletiva com regras.
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– no pensamento concreto, o possível está subordinado ao real, enquanto
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no pensamento formal, o real está subordinado ao possível;
AULA
– o pensamento concreto está limitado à solução de problemas concre-
tos, palpáveis; ele está preso às experiências acessíveis, ao conteúdo;
o pensamento formal pode lidar com todas as classes de problemas,
podendo operar com a lógica de um argumento, independente de seu
conteúdo;
– o pensamento concreto lida com cada problema isoladamente (as ope-
rações não são coordenadas); o pensamento formal consegue aplicar
várias operações de forma simultânea e sistemática, na solução de
problemas; assim, o pensamento concreto não integra suas soluções por
meio de teorias gerais, enquanto o pensamento formal possui a capa-
cidade de empregar teorias e hipóteses na solução de problemas.
ATIVIDADE
Atende ao Objetivo 3
ComentÁRIO
Caso você tenha escolhido desenhos, tente compará-los quanto ao
número de elementos desenhados, lembrando que uma criança de
3 anos desenharia a figura humana com três elementos (cabeça,
pernas e olhos); antes dos 2 anos, ela faz apenas rabiscos (garatu-
jas) e, aos 2 anos, ela está tentando fechar um círculo, que poderá
ser qualquer coisa.
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genética de Piaget
Caso tenha escolhido perguntar o que ela entende por colher, por
exemplo, verifique se a resposta limita-se a descrever o objeto, ou
falar sobre sua utilidade (comer, por exemplo), ou se já generaliza,
o que demonstra abstrações mais complexas (talher, por exemplo,
ou peça do faqueiro).
Discuta suas observações com a tutora presencial, em seu próximo
encontro.
32 CEDERJ
os dados são adaptados a si próprio, ocorrendo a acomodação. Segundo
11
o esquema piagetiano, nenhum conhecimento nos chega do exterior sem
AULA
que sofra alguma alteração de nossa parte. Tudo o que aprendemos é
influenciado por aquilo que já tínhamos aprendido.
Na perspectiva piagetiana, a educação forma um todo indissociá-
vel, não sendo possível que se busque formar pessoas autônomas no
domínio moral se elas forem submetidas a um aprendizado passivo,
sem que tentem descobrir, por si mesmas, a verdade (PIAGET, 1982). A
passividade intelectual impede o caminho para a liberdade moral. Reci-
procamente, se a moral de uma criança consiste somente em submissão
à vontade adulta, se as únicas relações sociais envolvidas no processo de
aprendizagem escolar são aquelas que ligam cada aluno a um professor,
que detém todo o poder, a criança tampouco será intelectualmente ativa.
Piaget afirma ainda que...
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ATIVIDADE
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Atende ao Objetivo 4
AULA
4. Leia o texto abaixo e depois responda à questão proposta no final.
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genética de Piaget
Resposta Comentada
O sistema educativo pode produzir sujeitos muito acomodativos, que
valorizem mais a reprodução dos padrões do que o desenvolvimento
da autonomia e da criatividadade. Um aluno com hiperacomodação
vai obedecer cegamente às regras, sem questioná-las. Não apre-
sentando pensamento crítico, acaba submetendo-de às regras da
escola, de seu grupo de colegas, ou outras quaisquer, aparentando-
se submisso ou como um aluno muito “bem disciplinado”.
A pobreza de seus contatos com os objetos confere-lhe também
pobreza de subjetividade e, consequentemente, do pensamento críti-
co e da sua capacidade criativa. Enfim, um aluno hiperacomodado,
que não dá problemas de disciplina, mas que assimila mal.
R esumo
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11
AULA
O desenvolvimento das funções motora, verbal e mental foi dividido em quatro
estágios:
• estágio sensório-motor (dos 0 aos 18/24 meses): aquisição da capacidade de admi-
nistrar seus reflexos básicos para gerar ações prazerosas ou vantajosas; período
anterior à linguagem, no qual o bebê desenvolve a percepção de si mesmo e
dos objetos à sua volta;
• estágio pré-operatório (dos 2 aos 7 anos): surgimento da capacidade de dominar
a linguagem e a representação do mundo por meio de símbolos; a criança é
egocêntrica e não é capaz de se colocar no lugar de outra pessoa;
• estágio das operações concretas (dos 7 aos 11/12 anos): aquisição da noção de
reversibilidade das ações; lógica nos processos mentais e habilidade de discri-
minar os objetos por similaridades e diferenças;
• estágio das operações formais (dos 11/12 anos aos 15/16 anos): entrada na idade
adulta, em termos cognitivos; o adolescente passa a ter o domínio do pensa-
mento lógico e dedutivo, o que o habilita à experimentação mental, a relacionar
conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses.
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