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ARTIGO DE OPINIÃO

A normalização da destruição ambiental

Em meio a maior crise sanitária e econômica dos últimos anos o desmatamento e


incêndios florestais cresceram no Brasil, enquanto muitas atividades econômicas
permaneceram paralisadas por um longo período, as ações ilegais de degradação ambiental
progrediram em ritmo mais acelerado.

Mesmo com intensa repercussão na imprensa, de lideres e representantes da


comunidade internacional, 2020 também será marcado pelo avanço do desmatamento, fato
que não é uma surpresa, tendo como base a fala do ministro do meio ambiente em reunião
com todo o colegiado de ministros no dia 22 de abril com o presidente da república.

Os números do desmatamento na Amazônia neste mês de julho cresceram 28% se


comparado com o mesmo período do ano passado de acordo com os dados do alerta do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), sendo constatado 6.803 focos de incêndio na
região contra 5.318 em 2019, números que apresentam uma curva crescente em relação aos
anos anteriores.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) divulgou em 18/11/2019 a


estimativa da taxa de desmatamento para os nove estados da Amazônia Legal Brasileira. O
valor estimado é de 9.762 km² para o período de agosto de 2018 a julho de 2019. Esse valor
representa um aumento de 29,54% em relação a taxa de desmatamento apurada pelo
PRODES 2018 que foi de 7.536 km².

Esta taxa é fruto dos dados gerados pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento
na Amazônia Legal por Satélite (PRODES). O mapeamento utilizou imagens do satélite
Landsat ou similares para registrar e quantificar as áreas desmatadas maiores que 6,25
hectares. O PRODES considera como desmatamento a remoção completa da cobertura
florestal primária por corte raso, independentemente da futura utilização destas áreas.

O projeto PRODES realiza o monitoramento por satélites do desmatamento por corte


raso na Amazônia Legal e produz, desde 1988, as taxas anuais de desmatamento na região,
que são usadas pelo governo brasileiro para o estabelecimento de políticas públicas. As taxas
anuais são estimadas a partir dos incrementos de desmatamento identificados em cada
imagem de satélite que cobre a Amazônia Legal. A primeira apresentação dos dados é
realizada para dezembro de cada ano, na forma de estimativa. Os dados consolidados são
apresentados no primeiro semestre do ano seguinte.

O PRODES utiliza imagens de satélites da classe LANDSAT (20 a 30 metros de


resolução espacial e taxa de revisita de 16 dias) numa combinação que busca minimizar o
problema da cobertura de nuvens e garantir critérios de interoperabilidade. As imagens do
satélite americano LANDSAT-5/TM foram, historicamente, as mais utilizadas pelo projeto, mas
as imagens do sensor CCD a bordo do CBERS-2/2B, satélites do programa sino-brasileiro de
sensoriamento remoto, foram bastante usadas. O PRODES também fez uso de imagens LISS-
3 do satélite indiano IRS-1 e também das imagens do satélite inglês UK-DMC2. Atualmente faz
uso massivo das imagens do LANDSAT 8/OLI, CBERS 4 e IRS-2. Independente do
instrumento utilizado, a área mínima mapeada pelo PRODES é de 6,25 hectares.

As estimativas do PRODES são consideradas confiáveis pelos cientistas nacionais e


internacionais. Esse sistema tem demonstrado ser de grande importância para ações e
planejamento de políticas públicas da Amazônia. Resultados recentes, a partir de análises
realizadas com especialistas independentes, indicam nível de precisão próximo a 95%.
A taxa anual de desmatamento PRODES tem sido usada como indicador para
a proposição de políticas públicas e para a avaliação da efetividade de suas implementações. 
Os dados espaciais do PRODES são utilizados em: (a) Certificação de cadeias produtivas do
agronegócio como a Moratória da Soja e o Termo de Ajustamento de Conduta da Pecuária-
TAC da Carne; (b) Acordos intergovernamentais como a Conferência das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas (COP 21) e os Relatórios de Inventário Nacional de Emissões de Gases
de Efeito Estufa e (c) Doações monetárias pelo Fundo Amazônia, que usam o PRODES como
dado de referência à atividade de desmatamento na Amazônia Legal.

A Tabela 1 apresenta a distribuição da estimativa do desmatamento para o ano de


2019 por estados.

Tabela 1 – Distribuição da estimativa por estado.


A Tabela 2 apresenta as variações da taxa para cada estado entre os anos de 2018 e
2019. A análise desta tabela mostra um crescimento do desmatamento nos estados que já
indicavam maior contribuição, com exceção do estado de Rondônia, que tem uma expressiva
taxa de desmatamento e mostrou uma pequena diminuição no desmatamento entre 2018 e
2019.

Tabela 2 – Valores absolutos e variação percentual para cada estado.

Como apresentado na Tabela 2, os estados do Pará, Mato Grosso, Amazonas e


Rondônia apresentam 84,13% de todo desmatamento observado nas cenas prioritárias. Isso
fica espacialmente explícito na Figura 1, que apresenta o mapa de calor para ocorrência de
desmatamento.

Figura 1 – Mapa de calor da ocorrência de desmatamento nas 99 cenas prioritárias usadas na
estimativa do PRODES 2019.
As perspectivas para 2020 são desalentadoras. Os dados do PRODES incluirão o
desmatamento que já ocorreu de agosto de 2019 em diante, que até agora totaliza 3.929
quilômetros quadrados, segundo o sistema de monitoramento Deter. (O total oficial produzido
pelo sistema PRODES será ainda maior, já que o Deter não detecta todo o desmatamento.)

A desastrosa politica ambiental do atual governo já reconhece que o desmatamento em


2020 foi além do limite tolerável, como dito pelo vice-presidente general Hamilton Mourão, o
mesmo que preside o conselho da Amazônia, órgão que tem a responsabilidade promover
ações conjuntas entre governo federal (ministérios, Ibama, Inpe, Incra e outros) com os
governos estaduais, que compreendem a região da Amazônia Legal.
As medidas estabelecidas pela presidência da republica, previram o envio das forças
armadas para contenção dos focos de incêndio, e o decreto de proibição de uso do fogo em
propriedades rurais por 120 dias, tais posicionamentos são analisado pelos especialistas, como
boas medidas pelo grau de urgência, mas com ressalvas, destacam que as mesmas são
paliativas e não são capazes de evitar no próximo período de estiagem que novos incêndios
aconteçam.

O posicionamento do governo só acontece logo após uma reunião com


investidores internacionais que buscam de fato um resultado na questão do desmatamento da
floresta, almejando melhoras da imagem da produção nacional no exterior e sinalizando uma
postura mais enérgica ao mercado.

Existe uma ambiguidade do discurso com as ações da cúpula do poder em


Brasília, ao mesmo tempo em que acontece uma mobilização para conter o avanço dos
desmatamentos e incêndios florestais, também ocorre um desmonte das estruturas dos órgãos
federais responsáveis pela fiscalização e produção de informação sobre a floresta.

O marco desta postura foi a demissão de Ricardo Galvão, diretor do Inpe ate
julho de 2019, por não aceitar a fidelidade dos dados que este apresentou, isso também
aconteceu com o diretor de proteção ambiental do Ibama, que deflagrou uma megaoperação
contra o garimpo ilegal em terras indígenas, desagradando o presidente e mais tarde os
principais fiscais do órgão.

O desmonte da fiscalização e preservação ambiental nos principais órgãos e


institutos brasileiros colocam em xeque as ações estabelecidas pelo governo, pois a garantia
de cumprimento e rigor da lei não se sustenta em um cenário de terra arrasada que se
encontra a pauta ambiental do país.

Os rompimentos de acordos internacionais rondam e ameaçam o Brasil, que


isolado, assisti o aumento da preocupação e mobilização para o enfrentamento da crise
ambiental como peça chave para um futuro melhor em todo o mundo, o isolamento é
acompanhado com a diminuição da importância do país frente a questão ambiental.

A postura antiambientalista do governo atual volta a despertar a ira internacional,


mobiliza empresas contra o governo e compromete o futuro dos exportadores, especialmente
os do agronegócio.

Para a Jornalista Mírian Leitão (https://www.brasil247.com/brasil/politica-ambiental-de-


bolsonaro-e-desastrosa-para-o-brasil-diz-miriam-leitao) o estrago para a imagem do Brasil da
desastrada política ambiental do governo é evidente. Três influentes órgãos dedicaram grande
espaço ao assunto recentemente: “The Guardian”, “The New York Times” e “Economist”. Eles
são lidos por dirigentes de empresas e fundos de investimentos que prestam contas a
acionistas e cotistas. Isso pode, também, alimentar barreiras contra o agronegócio. O maior
preço a pagar, contudo, é de todo o país, que perde patrimônio natural, paga o salário de
servidores que são constrangidos no exercício de seu dever e sofrerá as consequências
climáticas da insensatez. A economia não está encapsulada em seus conceitos. Precisa ser
capaz de ver além dos dogmas para entender o que também é desperdício, risco e prejuízo.

Segundo o Analista Carlos Drumond


(https://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/politica-de-bolsonaro-para-o-meio-ambiente-
afunda-a-imagem-do-brasil/) O risco de uma hecatombe no País com reflexos no mundo é
elevadíssimo e vai muito além da vital questão ecológica. Ela ameaça diretamente o
agronegócio, principal fonte de divisas externas da economia brasileira, tábua de salvação do
comércio exterior, e lança dúvidas sobre a conclusão do acordo comercial entre o Mercosul e a
União Europeia, as exportações serão violentamente afetadas se o Inpe parar de medir o
desmatamento. O cientista explicou a CartaCapital como a destruição da floresta afeta as
vendas externas: “A maior parte dos países que trabalham com a questão da preservação do
meio ambiente e principalmente com a do aquecimento global tem restrições contra os que
exportam sem o que eles chamam de ‘selo verde’, uma certificação de que aquela exportação,
principalmente de carne, mas também de grãos, não saiu de uma floresta virgem desmatada.
Acontece que a competição para vender produtos agrícolas no mundo é muito grande e, se o
Brasil desmatar a Amazônia para exportar, mesmo que seja pouco, os nossos competidores
vão nos acusar de usar a floresta para plantio e exportação. Isso resultará em um corte violento
nas exportações brasileiras”.

Ainda segundo o periódico Mídia Ninja no ano passado, os dois países


doadores do Fundo Amazônia, Alemanha e Noruega, suspenderam os repasses de recursos
ao Brasil. Desde a criação do Fundo, a Noruega já havia doado cerca de R$ 3,19 bilhões, e
agora congelou aproximadamente de R$ 133 milhões. Já o governo alemão suspendeu R$ 155
milhões. Num total, cerca de US$ 1,3 bilhão em doações foram recebidas pelo fundo.

O Fundo Amazônia era responsável por distribuição do recurso para diversas áreas de


preservação da floresta, principalmente, de combate aos crescentes incêndios que vem
devastando a região. Além disso também era destinado aos órgãos de fiscalização ambiental,
como por exemplo, o Ibama, pelo PrevFogo, que possibilitou a compra de equipamentos de
proteção para brigadistas e de combate ao fogo, além de caminhões e caminhonetes para
transportar as equipes

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