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Fernando Pessoa

1888 - 1935
Álvaro de Campos
SENSACIONISMO
FUTURISMO Relaciona-se ao Simbolismo e ao
foi um movimento modernista Futurismo, mas é algo único. Essa
lançado por Marinetti, autor proposta trata-se de um tentar captar
italiano (1876-1944), que se todas as sensações do mundo – intensas,
baseia numa concepção enérgicas, da vida moderna. A relação
exasperadamente dinâmica da com o Futurismo cria-se com a proposta
vida, voltada para o futuro – o da decomposição: no Futurismo,
presente -, para o combate do decomposição das formas; no
culto do passado e da tradição; Sensacinismo, das sensações diante das
prega o amor das formas formas (concreto).
nítidas, concisas e velozes; é
nacionalista e antipacifista. "Sentir tudo de todas as maneiras“;
“captar os objetos de vários ângulos e
É experimentar, viver o possibilidades.”
presente.
ISMOS: vanguardas, manifestos. Álvaro
de Campos escreveu “Ultimatum”, em
1917.
ÁLVARO DE CAMPOS

“... Nasceu em Tavira, em 15 de


outubro de 1890, é alto (1,75
de altura, mais 2cm do que eu),
magro e um pouco tendente a
curvar-se (...) Campos entre
branco e moreno, tipo vagamente
de judeu português, cabelo,
porém liso e normalmente
aparado ao lado, monóculo (...)
teve uma educação vulgar;
depois foi mandado para a
Escócia estudar engenharia,
primeiro mecânica e depois
naval”.

Fernando Pessoa, em carta ao


amigo Adolfo Casais Monteiro,
em 1935.
• As vanguardas: modernismo e futurismo
(O MOTOR, A ELETRICIDADE) O que é uma Ode?

✓ modernidade: estados de euforia (as do grego, canto. É um canto


inovações) e desforia (as sensações que a de exaltação e glorificação. A
modernidade cria) ode moderna segue a
mesma concepção, porém
com o aditivo da crítica,
• Relações efêmeras e superficiais capaz de exaltar o que é
• Uso da ode moderna: versos livres e bom e ruim.
brancos, ritmo fortemente acelerado
• Poesia em prosa
• Irreverência, ironia
• Subjetividade aflorada
• Tendência ao choque
• deseja a razão, mas ela é angustiante
• deseja o desapego com o pensar, porém este
é mais forte

• Vive a intersecção dos sentimentos, o sentir


tudo de todas as maneiras, ao mesmo tempo:
SENSACIONISMO
O Que Há
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, Três tipos de idealistas, e eu nenhum
Cansaço. deles:
A sutileza das sensações inúteis, Porque eu amo infinitamente o finito,
As paixões violentas por coisa nenhuma, Porque eu desejo impossivelmente o
Os amores intensos por o suposto em possível,
alguém, Porque quero tudo, ou um pouco mais, se
Essas coisas todas puder ser,
Essas e o que falta nelas eternamente; Ou até se não puder ser...
Tudo isso faz um cansaço, E o resultado?
Este cansaço, Para eles a vida vivida ou sonhada,
Cansaço. Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Há sem dúvida quem ame o infinito, Para eles a média entre tudo e nada, isto
Há sem dúvida quem deseje o impossível, é, isto...
Há sem dúvida quem não queira nada Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo,
cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimno, íssimo, íssimo,
Cansaço...
O sujeito em desajuste com o mundo.
Aniversário
Tabacaria
No tempo em que festejavam o dia dos meus
Não sou nada. anos,
Nunca serei nada. Eu era feliz e ninguém estava morto.
Não posso ser nada. Na casa antiga, até eu fazer anos era uma
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos tradição de há séculos,
do mundo. E a alegria de todos, e a minha, estava certa
Estou hoje vencido, como se soubesse a com uma religião qualquer.
verdade. No tempo em que festejavam o dia dos meus
Estou hoje lúcido, como se estivesse para anos,
morrer, Eu tinha a grande saúde de não perceber
E não tivesse mais irmandade com as coisas coisa nenhuma,
Falhei em tudo. De ser inteligente para entre a família,
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo E de não ter as esperanças que os outros
fosse nada. tinham por mim.
Que sei eu do que serei, eu que não sei o O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
que sou? É terem morrido todos,
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como
E há tantos que pensam ser a mesma coisa um fósforo frio...
que não pode haver tantos! Para, meu coração!
Vivi, estudei, amei, e até cri, Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
E hoje não há mendigo que eu não inveje só Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
por não ser eu. Hoje já não faço anos.
Duro.
Crítica à sociedade, digna de ironia e sarcasmo

Todas as cartas de amor são Ridículas.

Poema em Linha Reta.


Todas as cartas de amor são
Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Ridículas.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em Não seriam cartas de amor se não fossem
tudo. Ridículas
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas
As cartas de amor, se há amor,
vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Têm de ser
Indiscultivelmente sujo, Ridículas,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para Mas, afinal,
tomar banho, Só as criaturas que nunca escreveram
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Cartas de amor
Que tenho enrolado os pés publicamente nos É que são
tapetes das etiquetas,
Ridículas.
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e
arrogante, A verdade é que hoje
Que tenho sofrido enxovalhos e calado, As minhas memórias
Que quando não tenho calado, tenho sido mais Dessas cartas de amor
ridículo ainda; é que são
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços Ridículas
de fretes, (Todas as palavras esdrúxulas,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido
Como os sentimentos esdrúxulos,
emprestado sem pagar,
São naturalmente
Ridículas.)
Ricardo Reis - o discípulo
• 1887, Porto, apesar de não termos referências da morte do
heterônimo, José Saramago, em sua obra O ano da morte de
Ricardo Reis, trabalha o ano de 1936
• Formação clássica em colégio jesuíta: latinista e semi-helenista
• Médico e monarquista; moreno, alto e magro
• 1919: foi morar no Brasil
• Teórico do neopaganismo (novo bucolismo)
• O mais fiel discípulo de Alberto Caeiro: que ser como o mestre

• Estética:
▪ odes clássicas: curtas, ricas em inversões sintáticas
▪ ode é um canto de exaltação e glorificação
▪ temas: transitoriedade e morte = obsessão = pavor
▪Ética da abdicação: quem não quer nada, não perde nada.
Portanto, não sofre.
▪ tempo: é estático; efêmero, mas sem mudanças

Na busca pelo equilíbrio, Ricardo Reis torna-se desequilibrado.


(jamais será como o mestre)
• Estoicismo: é forma de Ricardo Reis se defender do mundo, não se importar com ele

▪ procura olhar o mundo sem envolvimento – frieza e desencanto


▪ esse processo o levará ao Epicurismo (Carpe Diem)
• Epicurismo: deve-se aproveitar a vida e seus prazeres porque a morte é a única
certeza, devemos temê-la – destino/fatalismo
• O olhar: o homem deve olhar as coisas do mundo como os Deuses – soberba de
quem renega tudo (uma forma de ignorar o mundo)
• A busca por um ideal de equilíbrio impossível atormenta Ricardo Reis: desejo de um
equilíbrio forjado que o leva ao sofrimento

• O tempo:

Transitório e ameaçado pelo


efêmero, mas Renova a decepção sentimento de
ESTÁTICO morte

Pessimismo mortal
A poesia do heterônimo
Ricardo Reis
Mestre, são • Este é um poema dedicado ao mestre Alberto Caeiro
plácidas Todas as
• A contemplação da natureza o salva do sofrimento,
horas porém não do tormento da transitoriedade
Que nós
perdemos, Se no
• Perceba! O tempo passa rápido mas é estático, pois
perdê-las, Qual nada muda. Se nada muda, não se cria expectativa de
numa jarra, Nós nada, logo se pode vencer melhor a dor
Não há tristezas
pomos flores.
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver,

Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
A vida deve ser tratada com
Lendo as crianças
descompromisso, aproveitando cada
Por nossas mestras,
momento ao máximo e com
E os olhos cheios tranquilidade, como uma criança
De Natureza...
(...)
Neo-paganismo O Deus Pã não Morreu,
Cada campo que mostra
Aos sorrisos de Apolo
• Reis o discípulo mais fiel do neo- Os peitos nus de Ceres —
paganismo de Alberto Caeiro Cedo ou tarde vereis
Por lá aparecer
• Ele teorizou o que o mestre praticou O deus Pã, o imortal.

• Ob: Cristo é apenas mais um deus no Não matou outros deuses


O triste deus cristão.
altar como os outros Cristo é um deus a mais,
Talvez um que faltava.
Pã continua a ciar
Os sons da sua flauta
Aos ouvidos de Ceres
Vale lembrar que a educação Recumbente nos campos.
que Ricardo Reis teve foi clássica
Os deuses são os mesmos,
num colégio jesuíta. Não se trata Sempre claros e calmos,
de ateísmo, e sim apenas de Cheios de eternidade
uma outra crença. E desprezo por nós,
Trazendo o dia e a noite
E as colheitas douradas
Sem ser para nos dar o dia e a noite e o trigo
Mas por outro e divino
Propósito casual.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois


Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,


Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

• O desejo de aproveitar ao máximo o dia com


Lídia advém do medo da morte, da única
coisa que é certa na vida e que chega sem
avisar.

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