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A simples visão dos arcos dourados em frente ao McDonalds faz sua barriga doer de fome Resultados de

e pensar em hambúrguer? Nesse caso, você está exibindo uma forma elementar de apren­ Aprendizagem
dizagem denominada condicionamento clássico. O condicionam ento clássico ajuda a expli­ RA15-1 O q u e é
car fenômenos tão diversos quanto chorar ao ver uma noiva casando, temer o escuro e aprendizagem?
apaixonar-se. RA 15-2 Como
O condicionamento clássico é um de uma série de diferentes tipos de aprendizagem aprendemos a formar
identificados pelos psicólogos, mas uma definição geral abrange todas elas: a aprendizagem associações entre
é uma mudança relativamente permanente no comportamento produzida pela experiência. estímulos e respostas?
Como sabemos quando um comportamento foi influenciado por aprendizagem - ou
que é resultado de aprendizagem? Parte da resposta está relacionada à questão natureza-
-criação, um dos temas fundamentais que subjazem ao campo da psicologia. Na aquisição
apredizagem Mudança
de comportamentos, a experiência - que é essencial para a definição de aprendizagem - é a
relativamente permanente no
parte da “criação” na questão natureza-criação. comportamento produzida
Entretanto, nem sempre é fácil identificar se uma mudança no comportamento deve- pela experiência.
-se à natureza ou à criação, pois algumas mudanças no comportamento ou no desem­
penho ocorrem apenas pela maturação e não envolvem a experiência. Por exemplo, as
crianças tornam-se melhores jogadoras de tênis com a idade em parte porque sua força
aumenta com seu tamanho - um fenômeno maturacional. Para compreender quando
ocorreu aprendizagem, precisamos diferenciar mudanças a partir de melhoras que resul­
tam da prática.
De modo semelhante, mudanças de curto prazo no comportamento que se devem a
outros fatores que não aprendizagem, tais como declínios no desempenho provenientes de
fadiga ou falta de esforço, são diferentes das alterações de comportamento que se devem
à aprendizagem real. Se Serena Williams tem um mau dia na quadra de tênis por causa
de tensão ou fadiga, isso não significa que ela não aprendeu a jogar corretamente ou que
“desaprendeu” a jogar bem. Como não existe uma correspondência de um para um entre
aprendizagem e desempenho, é difícil compreender quando uma aprendizagem verdadeira
ocorreu.
Não há dúvida de que estamos preparados para a aprendizagem desde que nascemos.
Os bebês exibem um tipo de aprendizagem simples chamado habituação. H abitu ação é a
diminuição na resposta a um estímulo que ocorre após apresentações repetidas do mesmo
estímulo. Por exemplo, bebês pequenos podem inicialmente demonstrar interesse por um
estímulo novo, tal como um brinquedo de cores brilhantes, mas ele logo perderá o interesse
caso veja o mesmo brinquedo várias vezes. (Adultos também exibem habituação: recém-ca-
sados em breve deixam de notar que estão usando uma aliança de casamento.) A habituação
permite-nos ignorar coisas que deixaram de prover novas informações.
A maior parte da aprendizagem é considerada mais complexa do que a habituação, e o
estudo da aprendizagem tem ocupado o centro do campo da psicologia. Ainda que filósofos
desde o tempo de Aristóteles tenham especulado sobre as bases da aprendizagem, a primei­
ra pesquisa sistemática sobre ela foi realizada no início do século XX, quando Ivan Pavlov
(este nome lhe soa familiar?) desenvolveu o arcabouço para a aprendizagem denominado
condicionamento clássico.
170 Capítulo 5 Aprendizagem

Os fundamentos do
condicionamento clássico
Ivan Pavlov, um fisiologista russo, nunca pretendeu fa­
zer pesquisa psicológica. Em 1904, ele ganhou o Prêmio
Nobel por seu trabalho sobre digestão, testemunho de
sua contribuição para aquele campo. Contudo, Pavlov é
lembrado não por sua pesquisa em fisiologia, mas por
suas experiências sobre os processos básicos de apren­
dizagem - trabalho que iniciou de forma acidental
Ivan Pavlov (centro) desenvolveu os princípios do condiciona­ (Marks, 2004; Samoilov & Zayas, 2007; Grant & Win-
mento clássico. gate, 2011).
Pavlov vinha estudando a secreção dos ácidos esto­
macais e a salivação em cães em resposta à ingestão de
diversas quantidades e tipos de alimento. Enquanto fazia isso, ele observou um fenômeno
curioso: às vezes, as secreções estomacais e a salivação iniciavam-se nos animais quando
eles ainda não tinham comido. A simples visão do experimentador que normalmente trazia
o alimento ou até o som dos passos dele eram suficientes para produzir salivação nos cães.
A genialidade de Pavlov está em sua capacidade de reconhecer as implicações de sua des­
coberta. Ele percebeu que os cães estavam respondendo não apenas com base em uma ne­
cessidade biológica (fome), mas também como resultado de aprendizagem - ou, como ela
condicionamento passou a ser chamada: condicionamento clássico. Condicionam ento clássico é um tipo de
clássico Tipo de aprendizagem no qual um estímulo neutro (tal como os passos do experimentador) passa
aprendizagem no qual um a produzir uma resposta depois de ser emparelhado com um estímulo (tal como a comida)
estímulo neutro passa a
que naturalmente produz aquela resposta.
produzir uma resposta
Para demonstrar o condicionamento clássico, Pavlov (1927) afixou um tubo à glându­
depois de ser emparelhado
com um estímulo que
la salivar de um cão, o que lhe permitia medir precisamente a salivação. Ele, então, soava
naturalmente produz aquela uma sineta e, apenas alguns segundos depois, dava carne para o cachorro. Esse empare-
resposta. lhamento ocorria repetidamente e foi planejado de modo cuidadoso para que sempre
transcorresse a mesma quantidade de tempo entre a apresentação do sinal e da carne. De
início, o cão salivava somente quando a carne era apresentada, mas, em breve, ele com e­
çou a salivar ao som da sineta. Na verdade, mesmo quando Pavlov parou de apresentar a
carne, o cão salivava depois de ouvir o som. O cão havia sido classicamente condicionado
a salivar à sineta.
Como se pode ver na Figura 1, os processos básicos do condicionamento clássico que
subjazem à descoberta de Pavlov não são complicados, porém a terminologia que ele usou
não é simples. Primeiramente, considere o diagrama na Figura la. Antes do condiciona­
mento, existem dois estímulos não relacionados: o soar de uma sineta e a carne. Sabemos
que normalmente o soar de uma sineta não leva à salivação, mas a alguma resposta irre­
estímulo neutro Estímulo levante, como levantar as orelhas ou talvez uma reação de sobressalto. A sineta é assim
que, antes do
chamada de estímulo neutro, pois ela é um estímulo que, antes do condicionamento, não
condicionamento, não
produz naturalmente a
produz naturalmente a resposta em que estamos interessados. Também temos a carne, que
resposta de interesse. naturalmente faz o cão salivar - a resposta que estamos interessados em condicionar. A car­
ne é considerada um estímulo incondicionado (EIC), porque a comida colocada na boca
estímulo incondicionado
de um cão automaticamente faz com que ocorra salivação. A resposta que a carne produz
(£IC ) Estímulo que produz
naturalmente uma resposta
(salivação) é denominada resposta incondicionada (RIC) - uma resposta natural, inata,
sem ela ter sido aprendida. reflexiva que não está associada a uma aprendizagem prévia. As RICs são sempre causadas
pela presença de EICs.
resposta incondicionada
A Figura lb ilustra o que acontece durante o condicionamento. A sineta soa imedia­
(RIC) Resposta que é
natural e não necessita de tamente antes de cada apresentação da carne. O objetivo do condicionamento é que o cão
treinamento (p. ex., salivação associe a sineta ao EIC (carne) e, assim, seja produzido o mesmo tipo de resposta que o
com o cheiro de comida). EIC.
Módulo 15 Condicionamento Clássico 171

(a) Antes do condicionamento FIG U R A 1 O processo


básico do condicionamen­
Estímulo neutro Resposta não relacionada à carne
to clássico, (a) Antes do
condicionamento, o soar
Levantar as
orelhas da sineta não produz sali-
vação - representando a
sineta um estímulo neutro.
Em contraste, a carne natu­
ralmente causa salivação,
representando a carne um
estímulo incondicionado
(EIC) e a salivação uma
resposta incondicionada
(RIC). (b) Durante o condi­
cionamento, a sineta soa
imediatamente antes da
(b) Durante o
apresentação da carne, (c)
condicionamento Com o tempo, o soar da si­
neta por si só causa saliva­
Estímulo neutro Resposta incondicionada (RIC)
ção. Agora podemos dizer
que o condicionamento
foi consumado: o estímulo
anteriormente neutro da
campainha agora é consi­
derado um estímulo con­
dicionado (EC) que produz
uma resposta condiciona­
da (RC) de salivação.

Estímulo condicionado (EC) Resposta condicionada (RC)


a Alerta de
Som de sineta estudo

>- Salivação A Figura 1


71 pode ajudá-lo
a compreender
o processo
(e a terminologia) do
condicionamento
clássico, que pode causar
confusão.
Após alguns emparelhamentos da sineta e da carne, a sineta por si só faz o cão salivar
(como na Fig. lc). Quando o condicionamento está completo, a sineta evoluiu de um es­
tímulo neutro para um estímulo condicionado (EC). Nesse ponto, a salivação que ocorre estímulo condicionado
como uma resposta ao EC (sineta) é considerada uma resposta condicionada (RC). Depois (EC) Estímulo antes neutro
do condicionamento, então, o EC produz uma RC. que foi emparelhado com
A sequência e o tempo de apresentação do EIC e o EC são especialmente importantes. um estímulo incondicionado
Como um aviso luminoso defeituoso em um cruzamento ferroviário que é ativado depois para produzir uma resposta
anteriormente causada
que o trem passou, um estímulo neutro que segue um EIC tem pouca chance de tornar-
somente pelo estímulo
-se um EC. No entanto, assim como um aviso luminoso funciona melhor se é ativado
incondicionado.
imediatamente antes de um trem passar, um estímulo neutro que é apresentado im ed ia­
tam ente antes do EIC está mais inclinado a resultar em condicionamento bem-sucedido. resposta condicionada
(RC) Resposta que, após
A pesquisa demonstrou que o condicionamento é mais eficaz se o estímulo neutro (que se
condicionamento, segue
tornará um EC) antecede o EIC por um intervalo que pode variar de 0,5 a vários segun­ um estímulo anteriormente
dos, dependendo do tipo de resposta que está sendo condicionada (Wasserman & Miller, neutro (p. ex., salivação ao
1997; Bitterman, 2006). soar de uma sineta).

f.
fc
*
«aL.
172 Capítulo 5 Aprendizagem

Embora a terminologia que Pavlov usou para descrever o condicionamento clássico


possa parecer confusa, o seguinte resumo pode facilitar a compreensão e a recordação das
relações entre estímulos e respostas:

• Condicionado = aprendido.
• Incondicionado = não aprendido.
• Um estímulo incondicionado (EIC) acarreta uma resposta incondicionada (RIC).
• Emparelhamentos de EIC-RIC não são aprendidos e não são treinados. Eles ocorrem
de maneira natural.
• Durante o condicionamento, um estímulo anteriormente neutro é transformado em
estímulo condicionado (EC).
• Um EC acarreta uma resposta condicionada (RC), e um emparelhamento de EC-RC é
uma consequência de aprendizagem e treinamento.
• Uma RIC e uma RC são semelhantes (como a salivação no experimento de Pavlov), mas
a RIC ocorre naturalmente, ao passo que a RC é aprendida.

Aplicando os princípios do condicionamento


ao comportamento humano
Os experimentos de condicionamento iniciais foram realizados com animais, mas logo se
constatou que os princípios do condicionamento clássico explicavam muitos aspectos do
comportamento humano cotidiano. Recorde, por exemplo, a ilustração anterior de como
as pessoas podem sentir a barriga doer quando veem os arcos dourados do McDonalds.
A causa dessa reação é o condicionamento clássico: os arcos anteriormente neutros torna­
ram-se associados à comida dentro do restaurante (o EIC), fazendo os arcos se tornarem um
EC que produz a RC de fome.
Respostas emocionais são especialmente propensas a serem aprendidas por processos
de condicionamento clássico. Por exemplo, como algumas pessoas desenvolvem medos de
ratos, aranhas e outros animais que geralmente são inofensivos? Em um estudo de caso
hoje considerado não ético, o psicólogo John B. Watson e sua colega Rosalie Rayner (1920)
demonstraram que o condicionamento clássico estava na raiz desses medos condicionando
um bebê de 11 meses, chamado Alberto, a sentir medo de ratos. O “pequeno Alberto”, como
a maioria dos bebês, inicialmente tinha medo de barulhos altos, mas não de ratos.
No estudo, os experimentadores faziam soar um barulho alto sempre que o pequeno
Alberto tocava um ratinho de pelúcia branco. O barulho (o EIC) produzia medo (a RIC).
Depois de apenas alguns emparelhamentos do barulho e do rato, Alberto começou a de­
monstrar medo do rato em si, explodindo em lágrimas quando o via. O rato, então, havia
se tornado um EC que produzia a RC, o medo. Além disso, os efeitos do condicionamen­
to perduraram: cinco dias depois, Alberto reagiu com algum grau de medo não apenas
quando via o rato, mas quando via objetos com aparência semelhante ao rato de pelúcia
branco, incluindo um coelho branco, um casaco de pele de foca branco e até uma máscara
de Papai Noel. (A propósito, embora não saibamos ao certo o que aconteceu ao pobre
Alberto, parece que ele era uma criança doente que morreu aos cinco anos de idade. De
qualquer forma, Watson, o experimentador, foi condenado por usar procedimentos eti­
camente questionáveis que jamais seriam realizados hoje; Beck, Levinson, & Irons, 2009;
Powell, 2011.)
A aprendizagem por meio de condicionamento clássico também ocorre durante a idade
adulta. Por exemplo, você pode não ir ao dentista com a frequência devida por causa de
associações prévias de dentistas à dor. Em casos mais extremos, o condicionamento clássico
pode acarretar o desenvolvimento de fo b ia s, que são medos irracionais intensos que abor­
daremos posteriormente neste livro. Por exemplo, uma fobia a insetos pode desenvolver-se
Módulo 15 Condicionamento Clássico 173

em alguém picado por uma abelha. A fobia de insetos poderia ser tão grave que a pessoa
acaba privando-se de sair de casa.
O transtorno de estresse pós-traum ático (TEPT), que acomete alguns veteranos de guer­
ra e pessoas que tiveram experiências traumáticas, também pode ser produzido por con­
dicionamento clássico. Mesmo anos depois de suas experiências no campo de batalha, os
veteranos sentem um ataque de medo e ansiedade ante um estímulo, tal como um barulho
intenso (Kastelan et al., 2007; Roberts, Moore, & Beckham, 2007; Schreurs, Smith-Bell, &
Burhans, 2011).
Todavia, o condicionamento clássico também está relacionado a experiências agradá­
veis. Por exemplo, você pode gostar especialmente do aroma de certo perfume ou loção
pós-barba porque lembranças de um amor do passado lhe vêm à cabeça sempre que você
sente tal aroma. Ou ouvir determinada música pode trazer-lhe emoções de alegria ou amar­
gura devido a associações que você desenvolveu no passado.
Por conta de uma expe­
O condicionamento clássico também explica por que as drogadições são tão difíceis de
riência anterior desagra­
tratar. Os aditos aprendem a associar certos estímulos - tais como a parafernália usada para
dável, uma pessoa pode
consumir drogas, como uma seringa ou uma sala onde eles usam a droga - às sensações esperar uma ocorrência
agradáveis produzidas pela substância. Assim, o simples ato de ver uma seringa ou entrar semelhante quando esti­
em uma sala pode produzir reações associadas à droga e um intenso desejo por ela (James ver diante de uma situa­
et al., 2011). ção comparável no futuro,
processo conhecido como
generalização de estímulo.
De que modos você pensa
Extinção
__________ 2?_________________________________________________________________________ que esse processo ocorre
na vida cotidiana?
O que aconteceria se um cão que tivesse sido condicionado a salivar ao soar de uma sineta
nunca mais recebesse comida quando a sineta tocasse? A resposta está em um dos fenôme­
nos básicos da aprendizagem: extinção. Ocorre extinção quando uma resposta previamente extinção Fenômeno básico
condicionada diminui de frequência e por fim desaparece. de aprendizagem que ocorre
Para produzir extinção, é preciso cessar a associação entre ECs e EICs. Por exemplo, se quando uma resposta
anteriormente condicionada
tivéssemos treinado um cão para salivar (a RC) ao soar de uma sineta (o EC), poderiamos
diminui de frequência e por
produzir extinção soando repetidamente a sineta, mas não fornecendo a carne (o EIC).
fim desaparece.
A princípio, o cão continuaria salivando quando ouvisse a sineta; porém, depois de algumas
dessas ocorrências, a quantidade de salivação provavelmente diminuiria, e o cão de modo
eventual pararia de responder totalmente à sineta. Nesse ponto, poderiamos dizer que a
resposta foi extinta. Em síntese, ocorre extinção quando o EC é apresentado repetidamente
sem o EIC (ver Fig. 2).
F3GURA 2 A quisição,
extinção e recuperação
espontânea de uma res­
posta condicionada (RC)
classicamente. (a) Uma RC
aumenta gradualmente de
força durante o treinamen­
to. (b) Contudo, se o estí­
mulo condicionado (EC)
é apresentado per se em
vezes suficientes, a RC gra­
dualmente desaparece e
ocorre extinção, (c) Depois
de uma pausa (d) em que
o EC não é apresentado,
pode ocorrer recuperação
espontânea. Entretanto, a
extinção costuma ocorrer
Tempo novamente logo depois.
174 Capítulo 5 Aprendizagem

Não devemos esquecer que a extinção pode ser um fenômeno útil. Considere, por
exemplo, como seria se o medo que você sentiu ao assistir à cena do assassinato no chuveiro
no clássico do cinema Psicose nunca se extinguisse. Você poderia tremer de medo toda vez
que tomasse banho.
recuperação espontânea Depois que uma RC foi extinta, ela desapareceu para sempre? Não necessariamente.
Ressurgimento de uma Pavlov descobriu esse fenômeno quando voltou a seu cão alguns dias depois de o compor­
RC extinta após um tamento condicionado ter aparentemente sido extinto. Se a sineta soasse, o cão voltava a
período de repouso e sem salivar - efeito conhecido como recuperação espontânea, ou o ressurgimento de uma RC
condicionamento adicional.
extinta depois de um período de tempo e sem condicionamento adicional.
Alerta de A recuperação espontânea também ajuda a explicar por que é tão difícil superar as dro-
estudo gadições. Por exemplo, cocainômanos considerados “curados” podem sentir um impulso
Lembre-se irresistível a usar a droga outra vez se forem posteriormente confrontados por um estímulo
de que com fortes associações com à cocaína, tal como um pó branco (Rodd et al., 2004; Plowright,
generalização Simonds, & Butler, 2006; Díaz 8c De la Casa, 2011).
de estímulos
refere-se a estímulos
que são semelhantes
um ao outro, ao passo Generalização e discriminação______________
que discriminação de
estímulos refere-se Apesar das diferenças de cor e forma, para a maioria das pessoas uma rosa é uma rosa.
a estímulos que são O prazer que sentimos diante da beleza, do aroma e da graça da flor é semelhante para dife­
diferentes um do outro. rentes tipos de rosas. Pavlov percebeu um fenômeno semelhante. Seus cães com frequência
salivavam não apenas ao soar da sineta que foi usada durante o condicionamento original,
mas também ao som de uma campainha.
generalização de estímulos Esse comportamento é consequência da generalização do estímulo. Generalização de
Processo no qual, depois estímulos é um processo no qual, depois que um estímulo foi condicionado para produzir
que um estímulo foi determinada resposta, estímulos semelhantes ao estímulo original produzem a mesma res­
condicionado para produzir
posta. Quanto maior a semelhança entre dois estímulos, maior a probabilidade de genera­
determinada resposta,
lização do estímulo. O pequeno Alberto, que, como mencionado anteriormente, foi condi­
estímulos semelhantes ao
estímulo original produzem cionado a ter medo de ratos brancos, passou a ter medo também de outros objetos brancos
a mesma resposta. peludos. Contudo, de acordo com o princípio da generalização de estímulos, é improvável
que ele fosse ter medo de um cão preto, pois sua cor o teria diferenciado suficientemente do
estímulo causador do medo original.
A RC produzida por um novo estímulo geralmente não é tão intensa quanto a resposta
original; contudo quanto mais semelhante é o novo estímulo ao antigo, mais semelhante
será a nova resposta. É, portanto, improvável que o medo sentido pelo pequeno Alberto em
relação à máscara de Papai Noel fosse tão grande quanto seu medo aprendido de um rato.
Todavia, a generalização de estímulos permite-nos saber, por exemplo, que devemos frear
em todos os sinais vermelhos, mesmo que haja pequenas variações de tamanho, forma e
tonalidade.
discriminação de estímulos A discrim inação de estím ulos, em contraste, ocorre quando dois estímulos são su­
Processo que ocorre ficientemente distintos um do outro a ponto de que um produz uma RC, mas o outro
quando dois estímulos são não. A discriminação de estímulos confere a capacidade de diferenciar entre estímulos.
suficientemente distintos
Por exemplo, minha cadela Cleo vem correndo até a cozinha quando ouve o som do
um do outro a ponto de que
abridor de latas elétrico, que ela aprendeu que é usado para abrir sua lata de ração quan­
um produz uma RC, mas o
outro não; a capacidade de do o jantar está prestes a ser servido. Ela não pula na cozinha com o som do processador
diferenciar entre estímulos. de alimentos, embora o som seja parecido. Em outras palavras, ela distingue o som do
abridor de latas do som do processador. Da mesma forma, nossa capacidade de diferen­
ciar o comportamento de um cão rosnando do de outro que está balançando o rabo pode
levar a um comportamento adaptativo - evitando o cão que rosna e acariciando o cão
amistoso.
Módulo 15 Condicionamento Clássico 175

Além do condicionamento
clássico tradicional: desafiando
pressupostos básicos________________________
Embora Pavlov tenha teorizado que toda aprendizagem não é mais do que sequências lon­
gas de RCs, essa noção não foi confirmada por pesquisas subsequentes. Revela-se que o
condicionamento clássico oferece uma explicação apenas parcial de como as pessoas e os
animais aprendem; na verdade, Pavlov estava errado em alguns de seus pressupostos bási­
cos (Hollis, 1997).
Por exemplo, segundo Pavlov, o processo de ligar estímulos e respostas ocorre de manei­
ra mecanicista irrefletida. Em contraste com essa perspectiva, os teóricos da aprendizagem
influenciados pela psicologia cognitiva alegam que os aprendizes desenvolvem ativamente
compreensão e expectativa sobre quais EICs em particular combinam com ECs específicos.
O som de uma sineta, por exemplo, dá ao cão algo sobre o que pensar: a chegada iminente de
comida (Rescorla, 1988; Kirsch et al., 2004).
As explicações tradicionais a respeito de como o condicionamento clássico opera tam­
bém foram questionadas por John Garcia, um psicólogo da aprendizagem. Ele constatou
que alguns organismos - incluindo humanos - são biologicamente preparados para aprender
de modo rápido a evitar alimentos que tenham o mesmo cheiro ou gosto que algo que os fez
ficarem doentes. Por exemplo, um cão aprende de modo rápido a evitar comida deteriorada
que anteriormente o fez passar mal. Da mesma forma, se toda vez que come amendoins
você fica com desconforto estomacal durante várias horas, com o tempo aprende a evitar
amendoins. Na verdade, você pode desenvolver uma aversão gustativa adquirida, quando
o paladar de determinado alimento está associado a sintomas desagradáveis, como náusea
ou vômito. Se você desenvolvesse uma aversão gustativa a amendoins, o simples gosto (ou
mesmo o cheiro ou, em casos mais extremos, a visão de um amendoim) poderia produzir
esses sintomas desagradáveis (Garcia, 1990, 2003).
A parte surpreendente da descoberta de Garcia foi sua demonstração de que pode­
ria acontecer condicionamento mesmo quando o intervalo entre a exposição ao EC da
comida estragada e a resposta de mal-estar fosse de até oito horas. Além disso, o condi­
cionamento persistia por períodos muito prolongados e, às vezes, ocorria após uma única
exposição.
Essas descobertas tiveram implicações práticas importantes. Por exemplo, para evitar
que corvos roubem ovos, os avicultores podem adicionar um produto químico a um ovo e
deixá-lo em um lugar onde os corvos o encontrem. A substância faz os corvos adoecerem
temporariamente, mas não causa danos permanentes. Após a exposição a um ovo quimica-
mente carregado, os corvos já não os acham tão apetitosos (Cox et al., 2004; Baker, Johnson,
& Slater, 2007; Bouton et al., 2011).

Recapitule
RA15-1 O que é aprendizagem ? - um estímulo que normalmente não produz resposta
• Aprendizagem é uma mudança relativamente perma­ relevante - é repetidamente emparelhado com um estí­
nente no comportamento produzida pela experiência. mulo (chamado de EIC) que produz uma resposta natu­
ral não treinada.
Ra15-2 Como aprendemos a formar associações entre estí­
mulos e respostas? • Ocorre condicionamento quando um estímulo neutro
é repetidamente apresentado de imediato antes do EIC.
• Uma forma importante de aprendizagem é o condiciona­
Depois de repetidos emparelhamentos, o estímulo neu­
mento clássico, que ocorre quando um estímulo neutro
tro produz a mesma resposta produzida pelo EIC. Quan-
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1. Aprendizagem; 2. Pavlov, clássico. 3. estímulo incondicionado,
resposta incondicionada; 4. estímulo condicionado; 5. extinção
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