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INICIAÇÃO

ESPORTIVA:
ESPORTES
INDIVIDUAIS E
COLETIVOS

Ericson Pereira
Corridas de velocidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever as diferentes provas de velocidade e as suas respectivas


características.
 Analisar as diferentes técnicas de corrida utilizadas nas provas de
velocidade.
 Identificar as demandas físicas e metabólicas nas diferentes provas
de velocidade.

Introdução
As provas de velocidade chamam a atenção em competições de atletismo
por, normalmente, intitularem o seu vencedor como “o atleta mais rápido
do mundo”. Elas estão presentes nos jogos olímpicos desde a Antiguidade,
quando eram denominadas stadium e os atletas corriam uma distância de
aproximadamente 200 metros. A provas de velocidade são mais curtas, e
detalhes fazem a diferença entre quem vence ou perde uma prova. Por
isso, a largada, a técnica de corrida e a chegada são etapas importantes
para atingir o máximo desempenho.
As provas de 100 metros rasos masculinos fazem parte do programa
olímpico desde 1896; já os 200 metros rasos masculinos foram incorpo-
rados em 1900. As mulheres começaram a correr as provas de velocidade
em 1928, com as provas de 100 metros rasos, depois, em 1948, os 200
metros rasos e, em 1964, os 400 metros rasos.
Neste capítulo, você vai estudar sobre as provas de velocidade e suas
características, identificando as formas de saída, os equipamentos, as
técnicas e a fisiologia envolvida nas provas. Você também vai analisar as
formas de treinamento e aprendizagem dessas corridas.
2 Corridas de velocidade

Provas de velocidade
As provas de velocidade no atletismo, segundo Fernandes (2003), estão
divididas em provas de velocidade pura, que são as provas de 100 e 200
metros rasos, e de velocidade prolongada, que é a prova de 400 metros
rasos, sendo realizadas tanto por homens quanto por mulheres. Nas provas
de velocidade pura, não há um arranque no fi nal da prova; o objetivo é
atingir a velocidade máxima o mais rápido possível e sustentá-la até o fi m
da corrida. Essa tarefa não é fácil, tendo em vista que, com o passar do
tempo, o organismo sofre depleção, e as reservas energéticas e a quantidade
de fibras musculares envolvidas no trabalho vão diminuindo, ocasionando
a perda da velocidade.
Quanto à classificação das provas de velocidade, as provas podem ser:

 rasas, sem nenhum obstáculo no caminho, nas quais os atletas correm em


raias individualmente do início até o final e utilizam obrigatoriamente
as saídas do tipo baixa; ou
 com barreiras, nas quais são dispostas barreiras, as quais o atleta deve
perpassar durante toda a prova.

O Quadro 1 apresenta os recordes mundiais das provas de velocidade.

Quadro 1. Comparação entre os recordes mundiais nas provas de velocidade

Homens

Tempo Velocidade
Prova Atleta Ano
(segundos) média

100 metros rasos Usain Bolt 9”58 37,57 km/h 2009

200 metros rasos Usain Bolt 19”19 37,52 km/h 2009

Wayde
400 metros rasos 43”03 33,47 km/h 2016
Van Niekerk

(Continua)
Corridas de velocidade 3

(Continuação)

Quadro 1. Comparação entre os recordes mundiais nas provas de velocidade

Mulheres

Tempo Velocidade
Prova Atleta Ano
(segundos) média

Florence
100 metros rasos 10”49 34,32 km/h 1988
Griffith-Joyner

Florence
200 metros rasos 21”34 33,74 km/h 1988
Griffith-Joyner

400 metros rasos Marita Kock 47”60 30,25 km/h 1985

Fonte: Adaptado de Senior... ([2019]).

Prova de 100 metros rasos


A prova de 100 metros rasos é a prova de atletismo mais curta e faz parte
dos jogos olímpicos desde a primeira edição, sendo considerada a prova mais
clássica, por seu vencedor ser considerado o homem ou a mulher mais rápido(a)
do mundo. Essa prova ocorre em uma reta na pista de atletismo, com os atletas
largando lado a lado, cada um na sua raia. Ela tem duração de aproximadamente
10 segundos para os homens e 11 segundos para as mulheres.
Nessa prova, os atletas buscam atingir a velocidade máxima o mais rápido
possível e sustentá-la até o final. Portanto, é usada a saída baixa; após o tiro de
partida, os atletas iniciam sua trajetória, criando a aceleração e atingindo a máxima
velocidade em torno de 50 a 60 metros. Após atingirem a velocidade máxima, eles
precisam sustentá-la o máximo possível até cruzar a linha de chegada.
Os Estados Unidos dominaram por muito tempo essa prova, sendo que,
de 28 finais olímpicas, ganharam 17. Um de seus ícones é Jesse Owens, que,
ao vencer essa prova em Berlim, em 1936, quando Adolf Hitler pregava a
superioridade da raça ariana, derrubou muitas atitudes de preconceito racial da
época. Dentre as mulheres, um grande destaque foi a americana Gail Devers,
com dois títulos olímpicos em 1992 e 1996. Atualmente, os jamaicanos estão
dominando tanto entre os homens quanto entre as mulheres, segundo a Asso-
ciação Internacional de Federações de Atletismo (CALDERÓN; SOUZA, 2010).
4 Corridas de velocidade

O link abaixo apresenta um pouco da história de Jesse Owens, um atleta negro que de-
fendeu, além de seu país, a igualdade entre as raças, em um período de segregação racial.

https://qrgo.page.link/mkdte

Prova de 200 metros rasos


A prova de 200 metros rasos é considerada a prova mais antiga no atletismo,
estando presente nos jogos antigos; porém, apenas em 1900 começou a
fazer parte do programa atual para os homens, e em 1948 para as mulheres.
Nela, os atletas usam a saída baixa e largam em curva, percorrendo os
primeiros 100 metros; então, chegam em uma reta, percorrendo o segundo
trecho de 100 metros, dando, assim, meia volta na pista de atletismo, cada
um em sua raia.
A prova tem duração de aproximadamente 20 segundos para os homens
e 22 segundos para as mulheres, praticamente dobrando o tempo dos 100
metros rasos. Portanto, é comum os atletas correrem o segundo trecho de
100 metros mais rápido do que o primeiro, ou muito próximo. Segundo
Calderón e Souza (2010), quando Usain Bolt bateu o recorde mundial, ele
correu os primeiros 100 metros em 9,92 segundos e o segundo trecho em
9,27 segundos, totalizando 19,19 segundos. Isso se deve ao fato de os atletas
correrem a segunda parte da prova de maneira lançada, ou seja, eles já vêm
embalados da primeira parte e não precisam criar uma aceleração, apenas
manter a atual. Assim, a perda de velocidade na segunda metade da prova
acaba sendo compensada pelo tempo que levam na aceleração até atingir
a velocidade máxima na primeira metade da prova. Além disso, como a
primeira parte é em curva, isso também cria uma dificuldade, devido à
corrida em curva tender a jogar o atleta para fora da curva, com a ação
da força centrífuga.
Entre os atletas de destaque, ainda temos Michael Johnson, que foi
recordista mundial entre 1996 e 2008, além de campeão olímpico entre os
homens. Entre as mulheres, pode-se destacar a recordista mundial Florence
Griffth-Joyner, Gwen Torrence, campeã olímpica em 1992, e a jamaicana
Elaine Thompson (SENIOR..., [2019]).
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Prova de 400 metros rasos


A prova de 400 metros rasos é a prova de velocidade mais longa, estando
presente nos jogos modernos desde sua primeira edição; porém, apenas em
1964 as mulheres começaram a disputar essa distância. Nessa prova, os
atletas correm uma volta inteira na pista de atletismo, usando a saída baixa
e correndo em suas respectivas raias. Os melhores corredores do mundo
correm em aproximadamente 45/46 segundos, no caso dos homens, e 49/50
segundos, para as mulheres. Podemos observar pelo tempo de prova que
ocorre uma perda maior em relação aos 100 e 200 metros rasos; isso se deve
aos processos de fadiga ao longo da prova, o que torna mais difícil sustentar
a velocidade máxima adquirida.
Essa é uma das provas em que os homens americanos possuem um retros-
pecto bem favorável, possuindo 20 títulos olímpicos. Dentre os destaques
está Michael Johnson, que foi o primeiro homem a ganhar o bicampeonato
olímpico nessa prova, além de ser o único a ganhar os 200 e os 400 metros
em uma mesma edição de jogos olímpicos, tendo sido o recordista mundial
até 2016. Dentre as mulheres, destacam-se a australiana e primeira campeã
olímpica de origem aborígene Cathy Freeman, além de Marie-Jose Perec,
que, assim como Johnson, foi bicampeã olímpica, além de ganhar os 200 e
400 metros em uma mesma edição de jogos olímpicos.

Largadas e chegadas
Na prova de 100 metros rasos, os atletas largam alinhados lado a lado,
pois estão em uma reta. Já nas provas de 200 e 400 metros rasos, como as
largadas ocorrem em curva, para compensar a diferença entre quem corre
na raia interna e quem corre na raia externa, é utilizada a saída escalonada.
Portanto, quem larga na raia externa fica posicionado alguns metros à frente
de quem larga nas raias internas. Além disso, normalmente, nas partidas dos
200 e 400 metros rasos, o bloco é posicionado tangente à linha da trajetória,
um pouco mais próximo à linha externa da raia; assim, os primeiros passos
são dados em linha reta.
Em todas essas provas, os atletas utilizam o bloco de partida para a
largada (Figura 1a), sendo realizada obrigatoriamente a largada do tipo baixa.
Durante a prova, normalmente os atletas usam uma sapatilha específica
para corridas (Figura 1b), que contém pregos no solado, o que fornece uma
maior aderência, proporcionando um tracionamento melhor junto à pista.
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Figura 1. (a) Bloco de partida utilizado para as largadas e (b) sapatilha para corridas em
pista de atletismo.
Fonte: (a) Mezzotint/Shutterstock.com; (b) Vaclav Volrab/Shutterstock.com.

As sapatilhas são usadas especificamente para corridas em pistas de atletismo, por


causa dos pregos. Como essas pistas são feitas de uma espécie de borracha, os pregos
conseguem penetrar e dar maior aderência para realizar o impulso. Em pistas mais
simples, de carvão ou terra, elas também podem ser usadas. Porém, nada impede
que o atleta corra descalço.

Para que o atleta tenha uma boa largada, além do treinamento técnico do
movimento da saída, também é necessário desenvolver uma boa velocidade
de reação, que é a capacidade do atleta em responder o mais rápido possível
a um estímulo externo. Para o treinamento dessa velocidade de reação, são
utilizados os canais sensoriais da visão, da audição e do tato. Assim, normal-
mente, no momento de uma saída, o atleta responde aos estímulos auditivo,
quando escuta o tiro de partida, e visual, quando, com sua visão periférica,
percebe a movimentação dos demais competidores ao seu lado.
Corridas de velocidade 7

Durante o processo de aprendizagem de crianças, pode-se estimulá-las a res-


ponder a diversos estímulos sensoriais, o que vai fazer com que melhorem sua
velocidade de reação. Por exemplo: a criança vai iniciar a corrida quando escutar
um apito — assim, estará usando o canal da audição; também poderá iniciar a
corrida quando o professor movimentar os braços, usando, assim, o canal da visão;
ou poderá iniciar a corrida quando receber o toque de alguém, usando, assim,
o canal do tato. Dessa forma, também é possível selecionar o estímulo, criando
uma complexidade maior de resposta. Por exemplo, a criança vai iniciar a corrida
com um sinal sonoro, mas você movimenta os braços; como foram movimentados
apenas os braços, ela deve permanecer parada e, só depois do apito, deve correr.
Com esse tipo de exercício, há uma seleção do estímulo utilizado.
Além disso, também devem ser trabalhadas as saídas em diversas posições,
criando, assim, uma adaptação motora a essas diferentes posições. Por exemplo,
a criança pode realizar uma saída ajoelhada e outra deitada, em decúbito ventral.
Assim, quando ela inicia a sua corrida, há uma adaptação motora da melhor forma
de sair da posição inicial e começar a correr. Isso é interessante, pois a criança
cria diversas formas de sair de uma posição para a outra e, observando os outros
colegas, acaba percebendo quais maneiras são mais rápidas e tenta reproduzi-
-las. Por isso, é interessante o professor deixar os alunos criarem suas próprias
posições, desenvolvendo, assim, a criatividade e, por experimentação, avaliando
quais posições são melhores.

No momento do impulso no bloco de partida, o atleta precisa estender


bem as articulações, impulsionando bem o bloco e coordenando os mo-
vimentos de braços e pernas, cuidando para que a perna posicionada no
bloco saia rapidamente e seja direcionada para realizar o primeiro contato
com o solo (Figura 2). A perna se apoia no solo, dando a primeira passada
e mantendo a inclinação do corpo. Nessas primeiras passadas, a panturri-
lha fica paralela ao solo; na fase de recuperação, o atleta gradativamente
aumenta a frequência e a amplitude da passada, endireitando o tronco
entre os 20 a 30 metros.
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Figura 2. Posição após a largada, com um impulso forte no bloco, estendendo bem as
articulações e coordenando o movimento de braços e pernas.
Fonte: MinDof/Shutterstock.com.

A chegada ocorre quando o atleta cruza a linha de chegada, sendo consi-


derada qualquer parte do tronco, desconsiderando a cabeça ou membros. Por
isso, os atletas normalmente realizam três tipos de chegadas. A primeira e mais
simples é apenas cruzando a linha de chegada. A segunda é projetando um
dos ombros à frente, sendo pouco usada, pois pode ocasionar um desequilíbrio
lateral. A terceira é com o atleta projetando o tronco à frente no momento
de passar a linha de chegada, sendo a mais utilizada por atletas experientes;
mesmo assim, estes podem se desequilibrar e acabar caindo durante a chegada.
Nas provas de velocidade em pista, a chegada ocorre sempre no mesmo
ponto da pista, e o que muda é o local da largada. Dessa forma, a estrutura de
chegada não precisa ser transportada ao longo da pista. O sistema de chegada,
denominado photo finish, é composto por uma câmera posicionada sobre a
linha de chegada, que produz uma combinação de imagens durante a passagem
dos atletas, podendo chegar a 1.000 imagens por segundo.
Nesta seção, foi possível identificar algumas características que são impor-
tantes para a corrida de velocidade e podem ser treináveis, como é o caso da
técnica de saída e da velocidade de reação. Na próxima seção, serão discutidas
as técnicas utilizadas nas corridas de velocidade.
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Técnicas de corrida utilizadas nas provas de


velocidade
Como nas corridas de velocidade o objetivo é manter os atletas na maior
velocidade pelo máximo de tempo possível, ter uma boa técnica contribui
para atingir mais rápido esse objetivo, que geralmente é alcançado entre os
50/60 metros da prova. Entre as variáveis cinemáticas observadas durante a
corrida estão a frequência da passada, a amplitude da passada e o tempo de
contato com o solo.
A frequência da passada (ou cadência) corresponde à repetição das pas-
sadas em uma unidade de tempo e à amplitude da passada, que corresponde à
distância percorrida em cada passada; juntos, esses fatores são importantes para
determinar a velocidade em uma corrida, segundo McNab (1983). A frequência
é mais difícil de melhorar, pois está relacionada à capacidade de transmissão
do estímulo nervoso e à contração da fibra muscular. Já a amplitude pode
ser melhorada com o aumento da força e a melhoria da técnica de corrida.
Segundo Barros e Dezem (1990), a amplitude da passada também pode ser
aumentada ao projetar o joelho para a frente e para cima.
Portanto, para melhorar a velocidade, segundo Schmolinsky (1982), um
velocista pode dar passos mais compridos ou mais rápidos, ou ambos. Porém,
há uma tendência em diminuir a frequência da passada ao longo da corrida,
enquanto o contrário ocorre com a amplitude da passada. A corrida pode ser
dividida em duas fases, considerando apenas um pé — ou seja, o movimento
se repete com a outra perna (CBAT; IAAF, 2017):

 a fase de apoio, na qual o pé do corredor encontra-se em contato com


o solo; e
 a fase de voo, na qual o pé do corredor está no ar.

Estas possuem ainda quatro subfases, que seriam:

 a fase de apoio anterior, na qual o pé toca o solo e o atleta absorve o


impacto;
 o impulso, em que o atleta empurra o solo para dar início à propulsão;
 a recuperação, em que inicia a fase de voo, e o atleta traz a perna para
a frente após empurrar o solo; e
 o balanceio anterior, em que ele projeta a perna para a frente antes de
tocar o solo.
10 Corridas de velocidade

Na fase de apoio anterior, ocorre uma desaceleração do atleta quando


toca o solo, que deve ser minimizada para evitar a perda de velocidade.
Na sequência, a fase de impulso tem por objetivo aplicar a maior força
possível no solo no menor tempo possível (Figura 3). Portanto, o tempo de
contato (TC) com o solo deve ser breve, diminuindo da mesma forma que a
velocidade aumenta. Por isso, o atleta de velocidade busca correr na ponta
dos pés. Observa-se que, quanto maior a velocidade, mais na ponta dos pés
acontece a corrida.

Figura 3. Descrição das fases da corrida. Nos momentos 1 e 3 ocorre a fase de apoio, e, no
momento 2, a fase de voo. No momento 1, ocorre a impulsão com a perna direita, enquanto
a perna esquerda realiza o balanceio anterior. No momento 3, podemos identificar a fase de
aterrissagem com a perna direita e a fase de recuperação com a perna esquerda.
Fonte: Adaptada de Michal Sanca/Shutterstock.com.

Dessa forma, a economia de energia é importante para a manutenção de


uma boa velocidade e está relacionada a uma boa técnica, a qual envolve
uma boa coordenação dos movimentos e o controle postural. O tronco é
a região que vai coordenar a interação da movimentação entre braços e
pernas, tendo uma leve inclinação para a frente, com a cabeça mantendo-
-se no prolongamento do tronco. Os braços têm a função de coordenar os
movimentos dos membros inferiores, tendo um aumento da amplitude do
Corridas de velocidade 11

movimento com o aumento da velocidade e mantendo, um ângulo de apro-


ximadamente 80 a 100 graus na articulação do cotovelo. Esse movimento
ocorre de forma anteroposterior e aumenta com o aumento da frequência
da passada (CBAT; IAAF, 2017).
Portanto, o atleta, durante o movimento de corrida, deve (CBAT; IAAF,
2017):

 realizar um tracionamento ativo com o solo, o que permite que o atleta


tenha um impulso efetivo, contribuindo para a manutenção da amplitude
da passada;
 correr de forma descontraída, evitando um excesso de tensão muscular
e o consequente gasto energético desnecessário, o que pode prejudicar
a coordenação dos movimentos;
 olhar para a frente, mantendo, dessa forma, o tronco alinhado e posi-
cionado de forma ereta;
 manter os ombros relaxados, contribuindo, assim, para a movimentação
dos braços e a coordenação entre os membros inferiores, além de evitar
gastos desnecessários de energia;
 correr de forma uniforme, equilibrada e coordenando as fases de apoio
e voo, o que torna a corrida mais contínua, melhorando a aplicação das
forças, principalmente devido à inércia.

Após entender sobre as fases da corrida e suas referidas importâncias para


o ganho e a manutenção da velocidade, na próxima seção serão abordados os
aspectos fisiológicos das corridas de velocidade.

Segundo Weineck (1999), pode-se encontrar alguns tipos de velocidade pura, como:
 Velocidade de reação — capacidade de resposta a um estímulo no menor tempo
possível; por exemplo, iniciar uma corrida após um apito.
 Velocidade de ação — capacidade de realizar movimentos únicos ou acíclicos; por
exemplo, um salto, o impulso no bloco de partida, na largada da corrida, ou um
chute, em esportes de combate.
12 Corridas de velocidade

 Velocidade de frequência — capacidade de realizar movimentos cíclicos com a


máxima velocidade; por exemplo, a passada se repete durante a corrida e, por isso,
é cíclica, e quanto mais rápida, maior será a velocidade.
Além disso, existem formas complexas de velocidade:
 Resistência de força rápida — capacidade de manutenção de movimentos ací-
clicos na máxima velocidade. Por exemplo, em uma sequência de saltos ou uma
sequência de chutes e socos em um esporte de combate, os movimentos não se
repetem ciclicamente, são aleatórios, mas executados com velocidade e, por isso,
precisam de força, para criar a aceleração e, assim, ter velocidade.
 Resistência de velocidade — capacidade de manutenção de movimentos cíclicos na
máxima velocidade. Por exemplo, a passada se repete durante a corrida e, por isso,
é cíclica e precisa de resistência para a manutenção da repetição desse movimento.

Demandas físicas e metabólicas nas diferentes


provas de velocidade
Segundo Weineck (1999), acredita-se que a velocidade é a capacidade física
menos treinável; isso está relacionado a fatores genéticos, principalmente
devido ao tipo de fibra muscular e sua inervação. Porém, a idade pré-escolar
e a pré-adolescência são épocas sensíveis à melhora da velocidade, e perdas
significativas ocorrem com o avanço da idade.
As fibras musculares do tipo II são as principais responsáveis por movimen-
tos de contração rápida; portanto, velocistas natos possuem um alto percentual
desse tipo de fibras. Além disso, a velocidade também depende das reservas
energéticas, bem como da mobilização dessas reservas energéticas. Assim, em
menos de 10 segundos, aproximadamente, as reservas de ATP-CP muscular são
consumidas, necessitando da produção de ATP pela via glicolítica (anaeróbia
lática). Isso resulta na produção de energia e na consequente formação e acú-
mulo de ácido lático, durando até aproximadamente 40 segundos, acionando,
em seguida, a produção de energia pela via aeróbia (oxidativa). Portanto, o
treinamento anaeróbio contribui para o aumento das reservas energéticas, e o
treino aeróbio contribuirá para a recuperação e ressíntese dos estoques de CP,
não devendo ser abandonado em função dos treinos anaeróbios.
Portanto, em uma corrida de 100 a 200 metros, estamos priorizando a
atuação do sistema ATP-CP, mas, para a manutenção da velocidade, o glico-
lítico começa a agir em conjunto. Já em uma prova de 400 metros, o sistema
priorizado é o glicolítico, ou seja, o sistema anaeróbio lático; assim, ao final de
uma prova como essa, o valor do lactato sanguíneo estará elevado, e o sistema
aeróbio (oxidativo) estará contribuindo para a produção de energia. Assim,
Corridas de velocidade 13

durante o treinamento, os sistemas anaeróbios são priorizados, buscando-se


aumentar os seus estoques de energia.

A capacidade de aceleração é algo fundamental para corredores de 100 metros.


Os melhores velocistas conseguem atingir a velocidade máxima rapidamente, e o
sistema ATP-CP tem uma grande contribuição nessa etapa, conseguindo recrutar um
maior número de fibras musculares. Já a resistência de velocidade é uma capacidade
importante para os corredores de 200 e 400 metros. Portanto, podemos concluir que
as provas de velocidade necessitam prioritariamente do sistema anaeróbio.

Formas de treinamento da velocidade


As corridas de velocidade possuem basicamente três etapas: a largada, o desen-
volvimento e a chegada. Portanto, o treino pode ser aplicado especificamente
para cada uma dessas etapas.
Para a etapa de largada, é importante desenvolver uma boa velocidade de
reação, além da velocidade de ação, que acaba exigindo uma boa capacidade
de força rápida. Afinal, é necessário ter força para poder colocar o corpo em
movimento, tirando ele da inércia com velocidade. Para o desenvolvimento
da velocidade de reação, é possível trabalhar com diferentes posições e usar
diferentes estímulos sensoriais que contribuirão para o seu desenvolvimento,
além de realizar a saída em diferentes pisos, como grama ou areia. Também
podem ser adicionados exercícios de aceleração na sequência. Como men-
cionado, a força rápida tem um papel fundamental na fase de aceleração,
portanto, essa é uma das capacidades que devem ser desenvolvidas. Segundo
Weineck (1999), a combinação de saltos contribui para o desenvolvimento
dessa força rápida. Portanto, saltos simples, saltos sequenciais (triplo, quá-
druplo, quíntuplo) e corrida com saltos contribuem para o desenvolvimento
dessa força rápida. Os treinamentos de pliometria também contribuem para
o ganho de força rápida, além de trabalhos com pesos.
Corridas em subidas e descidas também podem ser usadas, com distâncias
curtas. Na subida, é trabalhada a resistência de velocidade, pois o deslocamento
vertical devido à subida gera uma sobrecarga; como é um movimento cíclico
em velocidade, acaba estimulando essa capacidade. Na descida, estimula-se
14 Corridas de velocidade

a velocidade, principalmente devido à coordenação do movimento. Devido à


aceleração criada na descida, há uma maior velocidade, inclusive devido à ação
da gravidade; assim, para coordenar os movimentos e manter a velocidade,
os mesmos devem ser mais rápidos, ou a velocidade acaba diminuindo. Além
das corridas em subida, para o desenvolvimento da resistência de velocidade,
podem ser usadas roupas com lastros, corridas em areia, corridas tracionando
algo como trenó ou exercícios de contrarresistência. No caso da corrida com
tração (Figura 4), sugere-se uma carga em torno de 5 a 8% do peso corporal.
Outro recurso amplamente usado é a corrida com paraquedas.

Figura 4. Treino de resistência de velocidade com o uso do trenó com carga. Normalmente,
sugere-se o uso de 5 a 8% do peso corporal como carga.
Fonte: WoodysPhotos/Shutterstock.com.

Segundo Weineck (1999), para um bom aproveitamento do treino de ve-


locidade, algumas orientações podem ser seguidas:

 iniciar os treinos em idade escolar, pois contribuem principalmente


para a formação das fibras musculares;
 deve ser executado no início de cada sessão de treinamento;
 sinais de fadiga sinalizam para a finalização do treino, para não preju-
dicar o atleta ao realizar o aprendizado de um movimento tecnicamente
inadequado;
Corridas de velocidade 15

 para cada 10 metros percorridos, sugere-se 1 minuto de intervalo;


 deve ser realizado na velocidade máxima, por isso, deve-se dar ênfase
na velocidade;
 realizar um bom aquecimento para a prevenção de lesões;
 sugere-se estímulos de 8 a 10 segundos para desenvolver a velocidade.

Desenvolvimento da velocidade de forma lúdica


Como na idade escolar as crianças estão sensíveis ao desenvolvimento da
velocidade, sugere-se aplicar exercícios de forma lúdica, para que as crianças
sejam estimuladas brincando. Assim, as brincadeiras também são mais moti-
vadoras e atrativas. Podem ser usadas brincadeiras como pega-pega, corridas
de revezamento, corridas em roda e corridas com mudanças de direção.
Os jogos ou brincadeiras podem contribuir não apenas para a formação
motora da criança, mas também para desenvolver o raciocínio lógico, ou seja,
a capacidade cognitiva do aluno, ao envolver outras disciplinas escolares.

As corridas de velocidade podem ser amplamente utilizadas com as crianças, podendo


ser usados vários jogos. Um exemplo de jogo consiste em separar as crianças em quatro
colunas e posicionar um arco a aproximadamente 20 metros. A primeira criança deve
correr até o arco, entrar dentro dele e levá-lo até a cabeça; ao tirar o arco de sobre
a cabeça, deve retornar à sua coluna, e o próximo aluno corre até o arco e realiza o
mesmo movimento. É uma atividade simples, mas que estimula a velocidade, com a
corrida até o arco, a percepção corporal, ao passar o arco pelo corpo, e a velocidade
de reação, ao reagir aos estímulos para começar a correr. Pode-se variar a prática
aumentando o percurso ou colocando obstáculos até o arco.

Podemos concluir com este capítulo que as corridas de velocidade possuem


características diferentes, mas priorizam o sistema anaeróbio durante sua
execução, sendo necessário um amplo treinamento das capacidades físicas,
assim como de detalhes técnicos, para se obter um bom desempenho. De
certa forma, trata-se de uma atividade simples, que pode ser desenvolvida
com crianças.
16 Corridas de velocidade

BARROS, N.; DEZEM, R. O atletismo. 2. ed. São Paulo: Apoio, 1990.


CALDERÓN, V. P.; SOUZA, M. M. Atuações dos atletas e países na prova de 100 metros
rasos em todas as edições do Campeonato Mundial de Atletismo. Efdeportes.com,
Buenos Aires, a. 15, n. 143, abr. 2010. Disponível em: https://www.efdeportes.com/
efd143/100-metros-rasos-campeonato-mundial-de-atletismo.htm. Acesso em: 4 jun.
2019.
CBAT; IAFF. Atletismo: regras oficiais de competição 2016-2017. São Paulo: Phorte, 2017.
FERNANDES, J. L. Atletismo: corridas. 3. ed., rev. São Paulo: EPU, 2003.
MCNAB, T. Corridas de velocidade, fundo e meio fundo. Porto: Talus, 1983.
SCHMOLINSKY, G. Atletismo. Lisboa: Estampa, 1982.
SENIOR outdoor: 100 metres men. IAAF, Estocolmo, [2019]. Disponível em: https://www.
iaaf.org/records/all-time-toplists/sprints/100-metres/outdoor/men/senior. Acesso em:
4 jun. 2019.
WEINECK, J. Treinamento ideal: instruções técnicas sobre o desempenho fisiológico,
incluindo considerações específicas de treinamento infantil e juvenil. 1. ed. Barueri:
Manole, 1999.

Leituras recomendadas
MATTHIESEN, S. Q. Atletismo se aprende na escola. 2. ed. Jundiaí: Fontoura, 2009.
MATTHIESEN, S. Q. Fundamentos de educação física no ensino superior atletismo: teoria
e prática. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.

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