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ATIVIDADE DO PRODUTOR EXECUTIVO

NA ORGANIZAÇÃO DE UM SHOW MUSICAL

Carla Pereira

Resumo:
O presente artigo tem por objetivo discutir a atividade do produtor executivo na
organização de um show musical. No primeiro momento, teço algumas considerações
sobre eventos, em seguida discuto a atividade do produtor executivo e, por fim, abordo
a produção de um show musical, através de entrevista com músicos de uma banda de
Rock.
Palavras-chave: evento - produtor executivo – show musical

INTRODUÇÃO

No âmbito do mercado mundial de eventos, o Brasil vem se destacando cada vez


mais não apenas por suas características peculiares que vão dos atrativos naturais até
a hospitalidade do seu povo, mas também devido ao seu grande potencial. Não é por
acaso que empresas estrangeiras ou multinacionais estão se instalando no Brasil. E o
Rio Grande do Sul, mais especificamente Porto Alegre, também tem se destacado nos
mais variados eventos: a capital gaúcha faz parte da rota de turnês de shows
internacionais. Do ano passado até agora, diversas celebridades da música passaram
por Porto Alegre, como bandas de Rock, cantores da música Pop internacional, Reggae
e até famosos Dj´s. (Revista dos Eventos).
De acordo com Cleuza Gimenes (CESCA, 1997, p.14), o evento é “a execução
do projeto devidamente planejado de um acontecimento”. Portanto, pode-se entender o
significado de evento como o conjunto de atividades profissionais desenvolvidas com o
objetivo de alcançar o seu público-alvo pelo lançamento de produtos, apresentação de
uma pessoa, empresa ou entidade, visando estabelecer o seu conceito ou recuperar a
sua imagem.
Evento é um fato que desperta a atenção, podendo ser notícia e, com isso, torna-
se uma mídia poderosa de divulgação. Mas cada evento é único e seu grau de
dificuldade de execução está associado a fatores como prazos, planejamento e
relevância e não, como pode parecer à primeira vista, simplesmente ao seu porte ou
magnitude. Independente da razão do evento, a tarefa de planejar, organizar e executar
deve ser assessorada por um profissional gabaritado para que o resultado seja
revertido sempre em sucesso.
Segundo Simões (1995),
[...] evento é um acontecimento criado com a finalidade específica de
alterar a história da relação organização-público, em face das
necessidades observadas. Caso esse acontecimento não ocorresse, a
relação tomaria rumo diferente e, certamente problemático.

Portanto, de acordo com a definição de um especialista na área, evento significa


a ação do profissional mediante pesquisa, planejamento, organização, coordenação,
controle e implantação de um projeto, visando atingir seu público-alvo com medidas
concretas e resultados projetados.
Os eventos, conforme as características e peculiaridades que apresentam,
podem ser classificados em relação à área de interesse e em relação ao público que
atingem. Como este artigo aborda um evento específico, o show musical, o evento em
relação ao público pode ser definido em dois tipos:
- Eventos fechados: ocorrem em situações específicas e com público-alvo definido, que
é convocado e/ou convidado a participar;
- Eventos abertos: são propostos a um público e podem ser divididos em evento aberto
por adesão e evento aberto em geral. O evento aberto por adesão é aquele
apresentado e sujeito a um determinado segmento de público, que tem a opção de
aderir mediante inscrição gratuita e/ou pagamento de taxa de participação. O evento
aberto em geral é aquele que atinge todas as classes de público.
Em relação à área de interesse, há uma grande diversidade de eventos que
podem ser classificados em Evento Científico: que trata de assuntos referentes às
ciências naturais e biológicas; Evento Cultural: ressalta os aspectos de determinada
cultura, para conhecimento geral ou promocional; Evento Desportivo: está ligado a
qualquer tipo de evento do setor esportivo, independente de sua modalidade; Evento
Folclórico: trata de manifestações de culturas regionais de um país, abordando lendas,
tradições, hábitos e costumes típicos. Tratando de show musical neste artigo, o evento
em relação à área de interesse pode ser classificado em Evento Artístico: quando está
relacionado a qualquer manifestação de arte ligada à música, pintura, poesia, literatura
e outras; e pode ser classificado também em Evento Promocional: quando promove um
produto, pessoa, entidade ou governo, quer seja promoção de imagem ou apoio ao
marketing. Cleuza Gimenes (CESCA, 1997).

1. O Produtor Executivo e Produção de show musical

A metodologia utilizada nesta análise foi de pesquisa qualitativa por meio de


entrevistas pessoais com músicos de banda de rock, empresário e seu produtor
executivo.
A entrevista foi realizada primeiramente com o empresário e o produtor no
estúdio onde os músicos ensaiavam suas músicas.
- “Cara, você toca muito bem! Sua banda é muito boa!! Você agora só precisa de
um produtor!”. Foi o que escutou do dono de um bar o baterista Vitor, da Banda Drive
no início da carreira. Ele relatou que diversas pessoas assistiam aos ensaios da banda,
mas foi depois deste comentário que começaram a busca de produtores, marcando
reuniões para a apresentação do CD demo1. Foi quando sentiram a falta de bons
produtores no mercado.
Trabalhar com produção de show musical é, para muitos, a porta de entrada para
o ramo artístico, mas há muita gente atuando nessa atividade sem conhecimento
teórico algum. Começam trabalhando como rodies2, bilheteiros, iluminadores,
seguranças, técnicos de som, assistentes de palco. Em seguida, tornam-se produtores

1
O chamado CD de demonstração. É um material utilizado para a divulgação e promoção de artistas junto a
produtores musicais, jornalistas, empresários de casa de shows, produtores artísticos, Dj´s, organizadores de evento,
executivos de selos e gravadoras.
2
Profissional que dá apoio aos músicos no palco durante os shows.
culturais ou até mesmo empresários3. E, por fim, passam a realizar todas as atividades
do produtor executivo.
Conforme dMart4,
“[...] em uma definição mais formal, a produção executiva é a que
organiza, planeja, administra e controla recursos, profissionais e
serviços necessários para a realização de um show musical” [...] “Muitos
artistas, contratantes, e o público em geral pensam que o produtor
executivo deve “fazer ou resolver tudo”, este engano ocorre porque não
têm conhecimento do que faz um produtor e da estrutura que envolve a
organização de um show”.

A atividade do produtor executivo é diretamente proporcional ao seu


envolvimento na organização do show. Se o produtor executivo for quem contrata tudo
e todos no evento, sua responsabilidade pode ser integral. Se o produtor tiver sido
contratado por um empresário para prestar serviços específicos, sua responsabilidade é
limitada a este serviço. Usualmente, os produtores executivos contratados por show são
chamados de “free-lancers” ou “frilas”.
Ale Barreto5 esclarece que “as atividades do produtor executivo se desenvolvem
em três partes: pré-produção, produção e pós-produção. Mas estas são divididas
com o Produtor de Estrada6“.
Pré-produção é a “planta da obra”, iniciar a construir o evento, o cronograma de
atividades, orçamentos, divulgação, pensar em quem será a equipe, relacionar todas as
necessidades da produção, ver que tipos de contratos será preciso, solicitações,
autorizações e pagamentos de direitos autorais que deverão ser providenciados, a
divulgação que será realizada, e fundamentalmente, saber todos os custos que terá que
pagar. A produção é o grande dia, o show! Esta é à parte do produtor de estrada, que
irá acompanhar a banda. Na produção monta-se o QG7, no qual são distribuídas as
atividades de montagem da infra-estrutura, acompanha-se a equipe de produção e os
artistas, envolvendo transporte, alimentação, hospedagem, segurança, bilheteria. É
importante também que o produtor de estrada planeje como será a relação dos

3
Pessoa Jurídica que organiza e comercializa shows e eventos musicais.
4
Rodrigo dMart, Jornalista (TVErs), músico (Doidivanas) e escritor.
5
Alexandre Barreto, Produtor Cultural da Independência.
6
Gerencia a carreira dos músicos nas viagens.
7
Quartel-General local onde serão organizadas as atividades, tipo um escritório.
profissionais de segurança em casos de tumulto, alcoolismo e consumo de drogas.
Antes da abertura do local do show para a entrada do público, é importante fazer uma
checagem final, verificar se tudo está como previsto. A pós-produção é o fechamento
do evento que envolve os relatórios, pagamentos, bem como atar os contatos e
avaliação.
Conforme já exposto, cada evento necessita de cuidados específicos para que
seja realizado com sucesso. No caso do evento de que trata este artigo, o show
musical, considerado como uma promessa de entretenimento, de momentos de
distração, ou de momentos inesquecíveis, vibrantes, não só para o público/platéia, mas
também para os músicos/artistas é necessário que aja uma boa organização e
profissionais qualificados são fatores fundamentais para que o evento seja um sucesso.
Ao trilhar esse caminho, cabe ao produtor seguir alguns passos: primeiramente
deve ser encaminhada uma proposta aos artistas, contendo o nome do evento, o nome
dos organizadores com telefone para contato, a data e o horário em que irá ocorrer, o
tempo de duração do show, se terá entrada gratuita ou será cobrado ingresso e o que
estará incluído no cachê dos músicos. Quando a banda for contratada, é necessário
firmar um contrato com os artistas, que pode ser feito diretamente (o que é mais raro)
ou através do representante, empresário, produtor executivo ou agente.
É preciso fazer um planejamento do show, pois na organização ocorrem
variáveis previsíveis e, infelizmente, imprevisíveis e são essas últimas que podem
comprometer todo o espetáculo. No dia do show tudo pode acontecer, por isso, é
fundamental que sejam apontadas medidas alternativas para os imprevistos que
possam ocorrer, verificando os detalhes e eliminando o amadorismo, para que não
surjam erros. Exemplos clássicos devem ser lembrados sempre: se faltar luz? Às vezes
a troca de um simples transformador pode causar um dano grande. E se chover? Caso
o show seja ao ar livre.
Se for o próprio produtor executivo quem irá organizar um espetáculo, é
importante saber quando produzir. Uma data mal planejada afugenta o público, e um
show com reduzida platéia não só desmotiva os músicos, como também fragiliza a
imagem do trabalho de produção, assustando contratantes e patrocinadores, enfim,
tudo que não se quer. É importante que se tenha conhecimento se não ocorrerão no
mesmo dia shows similares e em locais próximos que poderão concorrer entre si pela
audiência. Em entrevista feita com os músicos da Banda Drive8 eles contam que já
fizeram um show onde, logo após sua apresentação quem tocou foi uma banda de
pagode: o público era pequeno já que os estilos são completamente diferentes.
Referindo-se a shows em geral, uma boa estratégia para o produtor seria realizar
eventos em datas comemorativas, como por exemplo, um show de música afro no dia
20 de novembro - Dia da Consciência Negra. Juntar várias bandas e fazer um festival
no dia 13 de julho - Dia Mundial do Rock. Contudo, para o evento sair como o
esperado, não basta pensar apenas em datas, é preciso pensar em uma boa
divulgação e, para isso, é preciso contratar um profissional. Geralmente quem presta
este tipo de serviço são os promotores de festas, Relações Públicas, agências de
publicidade e propaganda, mas o mais qualificado é, sem dúvida, o produtor executivo.
Após todas essas etapas, é chegada a hora de o produtor executivo pensar nas
necessidades de produção, artistas e técnicos. Para os artistas há necessidades
básicas como transporte, alimentação, hospedagem e camarim. Quanto ao transporte,
é preciso saber quantas pessoas virão além dos músicos, pois geralmente a banda já
tem seus próprios técnicos. Além disso, deve se informar também sobre a quantidade,
dimensões e peso dos instrumentos e equipamentos. Se o transporte for aéreo, é
preciso contar com um produtor responsável pelo recebimento que deverá providenciar
a companhia aérea, o número do vôo, o horário da chegada e deverá estar no
aeroporto com um cartaz ou placa com o nome dos artistas, para facilitar a
comunicação. Quanto à hospedagem, após a decisão do hotel, da pousada ou casa,
precisa informar-se com os artistas sobre a divisão dos quartos. Quanto a alimentação,
que também deve estar incluída no contrato, é preciso determinar o local para as
refeições, principalmente no caso de hospedagem em hotel. Em relação ao camarim,
que é o lugar onde os artistas ficam antes e depois do show: deve ser perto do palco,
com banheiro. O espaço deve ser confortável, com bebidas, algumas frutas e biscoitos
proporcionando um ambiente acolhedor.

8
Banda Gaúcha de Rock, composta pelos músicos: Vitor(bateria), Rubão(guitarra), Harlen(baixo) e Pack (vocal).
Cada técnico deve ter seu crachá identificando a função. Geralmente cada banda
tem seus técnicos. A Banda Drive, por exemplo, tem os rodies, pessoas encarregadas
em cuidar do som, luzes e monitores. Toda a infra-estrutura deve estar pronta horas
antes para que os músicos possam fazer a passagem de som. Supervisionar os
trabalhos dos técnicos é também atividade do produtor executivo.
Por fim, vale ressaltar a afirmação de Edson Crescitelli9 “o tempo dos amadores
em organizações de eventos está acabando. A concorrência é cada vez maior e
somente os que apresentarem um grau de profissionalismo maior irão se destacar”.

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por tudo que vimos, a atividade de produção de um evento como um show


musical, exige um profissional qualificado e competente que se forma à medida que
pesquisa e se capacita, consciente de que seus procedimentos são decisivos para que
o objetivo do evento seja, de fato, atingido. Daí a indiscutível relevância da presença do
produtor executivo em eventos de sucesso.

9
Edson Crescitelli, Diretor da MV Produções.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

• CESCA, Cleuza Gertrude Gimenes. Organização de Eventos. São Paulo:


Summus, 1997.
• LUKOWER, Ana. Cerimonial e Protocolo. São Paulo: Contexto, 2003.
• J.V. Cerney. O Poder da Comunicação: A Arte de Vencer Por Meio das
Palavras. 2º ed. São Paulo: Ibrasa, 1978.
• MATIAS, Marlene. Organização de Eventos: procedimentos e técnicas. 3º
edição. São Paulo: Manole, 2004.
• MELO NETO, Francisco Paulo de. Criatividade em Eventos. São Paulo:
Contexto, 2001.
• PREDEBON, José. Abrindo o lado inovador da mente. 5º ed. Ed. Atlas,
2004.
• Revista dos Eventos. Disponível em: <http:// www.revistadoseventos.com.br >
Acesso em: 2, 3 e 4 de jun. 2007.

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