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TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO DE CRIANÇAS COM PBO

Este protocolo é apenas uma recomendação e as orientações podem variar de paciente para paciente.
Por isso antes de iniciar o tratamento, coloque seus neurônios para fosforilar e não se prenda a receitas
de bolo.
O guideline do Kwait divide o tratamento em cinco fases divididas de forma cronológica. É interessante
notar que cada uma das fases possui objetivos bem delimitados. Eu pessoalmente achei esta
organização muito interessante, pois não é um protocolo burro, que engessa o tratamento, mas sim algo
dinâmico e que permite adaptações em cada uma das fases.

FASES DE TRATAMENTO
Fase 1. Primeiras duas semanas
Fase 2. De 2 semanas aos 4 meses
Fase 3. Dos 4 aos 6 meses
Fase 4. Dos 6 meses ao primeiro ano
Fase 5. Do primeiro ao quarto ano.

Em relação aos cuidadores:


A participação da mãe (ou do cuidador) é fundamental para o sucesso do tratamento. A pessoa
responsável pelos cuidados da criança deverá assistir a todas as sessões para aprender com o
fisioterapeuta e/ou Terapeuta Ocupacional as técnicas de manuseio e os ajustes posturais.

Fase 1: Primeiras 2 semanas


Objetivos Específicos: Educar o cuidador no manuseio e posicionamento da
criança nas atividades de vida diária.

Nesta fase, a ênfase do tratamento é para a capacitação da mãe e/ou cuidador, com instruções e
demonstrações de cuidados domiciliares.

1. Manuseio e posicionamento:
• Instrua os pais para manter o braço preferencialmente em supinação e rotação externa (posição oposta
à “gorjeta do garçom”).
• Educar os pais para observar a cabeça do paciente e mantê-la o máximo de tempo possível na linha
média e usar uma almofada em forma de “C” (Fig. 1 e 2). Quando o paciente estiver em prono, não
permita que a cabeça fique posicionada somente para um dos lados, modifique a posição de modo que
alterne entre ambos os lados.

• Oriente para que o braço não fique solto no espaço quando a criança estiver no colo (Fig3). A mãe pode
manter o cotovelo flexionado sobre o peito, mas não por longos períodos de tempo (Fig4).

• Oriente a NUNCA puxar ou levantar a criança pelo braço afetado.


Ensine aos pais a maneira correta de envolvê-lo em cobertas (Fig.5).

2. Atividades da vida
diária:
• Para vestir uma blusa ou casaquinho na criança, comece sempre pelo braço afetado e para despir, inicie
sempre pelo o braço não afetado.
• Banho e higiene: Orientar a mãe para manter a axila sempre limpa e seca. No banho, apóie o ombro
afetado e a escápula com uma mão (evite de deixar o bracinho balançando sem apoio) e lave o bebê com
a sua outra mão livre.
• Alimentação: manter sempre o braço afetado fletido sobre o tórax do bebê ao alimentá-lo, e lembrar a
mãe para alimentar o bebê tanto pela direita quanto pela esquerda.

3. Mobilização Passiva:
Mobilize suavemente na ADM passiva as articulações do ombro, cotovelo e articulações do
punho (estabilizar a articulação proximal e movimentar a distal).
Fase 2: De duas semanas - 4 meses
Objetivos específicos:
A) Melhorar a ADM, Sensibilidade e força muscular.
B) Prevenir encurtamentos musculares
C) Garantir ao aquisição dos marcos de desenvolvimento motor adequados à
idade (controle da cabeça, reações de endireitamento).

1. Continuar as mesmas condutas de cuidados domiciliares da primeira fase.


2. Se já houver encurtamento muscular, utilizar de modalidades de calor superficial, durante 15 min (eu
pessoalmente nunca fiz calor superficial como pré-cinesioterapia em bebês... se alguém tiver alguma
experiência colabore com o Blog!).
3. Exercícios suaves e lentos dentro da ADM disponível devem ser utilizados para manter a flexibilidade

das articulações (Fig. 6 e 7). 4.


Treinamento motor precoce com atividades adequadas a faixa etária (por favor, respeitem os marcos
motores!) devem ser utilizados para incentivar movimento e evitar compensações com padrões de
movimento inadequados (Fig8).
5. A estimulação tátil é na extremidade afetada pode ser feita ao se utilizar materiais com diferentes
texturas, vibração e técnicas de escovamento para aumentar a percepção tátil do braço afetado.
6. Exercícios de descarga de peso são utilizados para aumentar o input proprioceptivo e co-contração

isométrica (Fig9). Estágio 3:


dos 4 aos 6 meses
Objetivos específicos:
A) Aumentar/manter a ADM, sensibilidade e força muscular.
B) Alcançar os marcos motores e habilidades apropriadas à idade (rolar, reações
de proteção e alcance).
C) Prevenir contraturas e deformidades articulares.

1. Continuar o mesmo programa dos estágios 1 e 2.


2. Encorajar atividades bimanuais para prevenir a negligência da extremidade envolvida. Principalmente
para prevenir o desuso aprendido.
3. Caso seja necessário, pode-se utilizar órteses para prevenir maiores deformidades ou para iniciar os
movimentos (Apêndice C do guideline original).
4. Terapia com bolas e rolos podem também ser utilizados para aumentar a mobilidade, força e input
proprioceptivo e reações vestibulares, de retificação, equilíbrio, reações de proteção e coordenação (Fig

10 e 11). Observação: Fique


atento para alterações circulatórias quando aplicando as órteses, como pontos de pressão vermelhos,
edema, dormência ou resfriamento.

Estágio 4: Dos seis meses ao primeiro ano de vida.


Objetivos específicos:
A) Aumentar/manter a ADM, sensibilidade e força muscular.
B) Alcançar os marcos motores e habilidades apropriadas à idade (sentar,
engatinhar, ortostatismo e marcha).
C) Prevenir contraturas e deformidades articulares.

1. Continuar o mesmo programa dos estágios 1, 2 e 3.


2. Conforme a criança cresce, a força e a coordenação melhoram pelo uso ativo do braço afetado. Fisio e
TO devem estar atentos para utilizar atividades apropriadas ao desenvolvimento de modo a desenvolver e
estimular habilidades funcionais específicas (Fig 12 e 13).
3. Embora o uso de eletroestimulação seja controverso e sua eficácia não tenha sido devidamente
testada, ela pode ser usada em caso de mau prognóstico (a partir do sexto mês), com Eletro estimulação
tipo Galvânica de 15 repetições para evitar a atrofia muscular e aumentar a percepção do membro Ref
(1).

Estágio 5: De um a 4 anos.
Objetivos específicos:
A) Alcançar os marcos motores e habilidades apropriadas à idade ( habilidades
com jogos e movimentos finos)
B) Prevenir o desuso aprendido.
C) Prevenir contraturas e deformidades articulares.

1. Quando apresenta contratura muscular, utilizar modalidades de calor superficial, durante 15 min.
seguido de massagem ou técnica de liberação miofascial (lembrando que se houver alteração da
sensibilidade esta conduta dever ser realizada com extrema cautela) .
2. Incentive as atividades bimanuais como jogos nos quais a criança precise segurar uma bola (basquete,
queimado), subir uma escada, natação (Fig 14 e 15). Avalie bem o paciente, pois dependendo da
gravidade da lesão estas atividades podem ser prejudiciais (principalmente aquelas em que a criança se
pendura, como na figura 14 - se eu não tenho bons estabilizadores proximais, corre-se o reisco de uma
nova lesão nervosa, desta vez do plexo inferior. Portanto MUITA ATENÇÃO!) .

3. Facilitar as atividades da vida diária e os movimentos finos para aumentar a força e a coordenação do
braço afetado e mão.
4. Hidroterapia:
Ele pode ser introduzido nesta fase para evitar a tensão muscular, melhorar o controle muscular,
aumentar a ADM, além de ser divertido para a criança.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes de iniciar o tratamento, algumas considerações:
1. Se houver luxação de ombro ou cotovelo, a articulação afetada deve ser estabilizada e apenas
exercícios em cadeia cinética fechada deverão der utilizados.
2. Em casos de artrite juvenil de ombro, deve ser evitada a compressão articular (aproximação do úmero
contra a glenóide) e todos os exercícios deverão ser realizados dentro da ADM livre de dor.
3. Apenas mobilizações suaves devem ser utilizadas quando há lesão dos tecidos moles.
4. Se houver fratura na clavícula, inicie o tratamento após duas semanas de repouso, e uma radiografia
recente se faz necessária para confirmar a consolidação da fratura.
5. O tratamento deve ser interrompido se o paciente desenvolver uma doença infecciosa, ferida aberta, ou
febre.
6. Modalidades térmicas de tratamento não devem ser utilizadas se houver perda de sensibilidade.

REFERÊNCIAS
PHYSICAL THERAPY MANAGEMENT of obstetric brachial plexus injury - Committee of Physical Therapy
protocols, Office of Physical Therapy Affairs, Ministry of Health,
Kuwait.

Guidelines on initial management and referral of Obstetric Brachial Plexus Palsy - Yorkhill
Hospital,Glasgow, National Obstetric Brachial Plexus Injury Service

Exercícios de ADM Passiva para criança com PBO

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