O Protestantismo
Laurent Gagnebin
Vitória
2014
O livro “Le protestantisme”, foi escrito por Laurent Gagnebin e traduzido por
Jorge Pinheiro como “O Protestantismo” e publicado pelo instituto PIAGET da BBCC
(Biblioteca básica de Ciência e Cultura). O autor Laurent Gagnebin caracteriza-se por
uma experiência que o credencia à abordagem de tal tema de maneira clara, prática e de
conteúdo, tendo em vista sua experiência de 18 anos como pastor de uma igreja
reformada, Além de sua experiência acadêmica como doutor em teologia pela
universidade de Lausanne e de professor e deão da mesma área na Faculdade Livre de
teologia protestante de Paris. Como anexos o livro possui um glossário (páginas 103 a
110) trazendo definição e conceito às principais palavras do contexto protestante e
católico. Um quadro de referências (páginas 111 e 112), Uma suficiente bibliografia
lançando mão de enciclopédia, textos fundamentais ao protestantismo, sobre teologia
protestante, história do protestantismo em geral, história do protestantismo francês,
introdução ao protestantismo e seus princípios, inquéritos e reflexões sobre o
protestantismo hodierno, (páginas 113 a 115). Algumas notas cronológicas para a
história do protestantismo desde o cisma do oriente em 1054 à Concórdia de Leuenberg
em 1973, (páginas 116 a 122). Confissões de fé descrevendo o símbolo dos Apóstolos,
O símbolo de Nicéa-Constantinopla e a declaração de fé de 1938. Índice remisso
destacando as páginas dos temas alusivos, (páginas 127 a 139).
Característico de um livro da BBCC o conteúdo é apresentado em duas seções,
sendo: Uma exposição para compreender e um ensaio para refletir. Em seu índice na
página 133, é relacionado o prefácio, as duas seções, suas subdivisões e os anexos. A
primeira seção é apresentada sob o título: A essência do protestantismo, (páginas 13 a
56). A segunda seção recebe o tema de A maneira de ser do protestantismo (páginas 57
a 100)
No prefácio, o autor apresenta uma ilustração a fim de introduzir o tema de
comunhão do homem com o próximo e com Deus presente no protestantismo.
Apresenta também a proposta de um estudo do livro em duas partes. Ainda descreve
que sua proposta geral não é tratar de “protestantismos” e sim do protestantismo que
historicamente constitui-se a partir do século XVI em oposição ao catolicismo.
A primeira parte “A essência do protestantismo” destaca em primeiro lugar a fé,
dos grandes reformadores. Tido como pai do protestantismo Martim Lutero levantou-se
contra os dogmas do catolicismo Romano pregando a salvação pela Graça contra o
comércio religioso redigindo suas 95 teses, invocando a autoridade da Bíblia. “Lutero,
Ulrich Zwinglio, e João Calvino são considerados como os três primeiros e mais
importantes reformadores”. Destaca-se ainda a diferença das igrejas Luteranas e
reformadas, dando ainda menção ao nascimento e a crença reformista dos Batistas.
Lembra o autor que fazem parte da história pré-reformista o primeiro grande cisma e o
anglicanismo de Henrique VIII. A reforma traz “Uma mensagem de libertação”. A
mensagem dos reformadores confronta a pregação cristã existente no período, trazendo
liberdade ao salvo uma vez que não necessita de intermediário humano para se achegar
a Deus. A Salvação vem de Deus e não das obras. Tanto a fé como a salvação é fruto da
graça de Deus, “a expressão ter fé é suspeita”. A graça de Cristo jamais se faz merecida,
pois somos todos frutos de seu amor por meio da justificação em Cristo. Outra
mensagem pregada peculiar da reforma vem de Calvino e é conhecida como a doutrina
da predestinação em todas as suas vertentes. Em segundo lugar a Bíblia constitui-se
para o protestante como a sua regre de fé e prática. A reforma protestante imbuiu-se de
que a Bíblia fosse acessível a todos se despojando da ideia de que o poder da
interpretação pertencesse a um grupo específico. Assim a Bíblia é traduzida e lida em
outras línguas, a língua do povo. “Os crentes são todos sacerdotes através do batismo”.
Como tema central da Bíblia é Jesus a autoridade máxima. Tanto os escritores bíblicos
foram inspirados como os leitores o são. Por meio do espírito Santo é possível ter o
conhecimento da escritura e ao mesmo tempo a palavra divina que está sobre ela,
diminuindo assim o risco de distorção entre o que é humano e o que é divino. Para o
protestante, o estudo da escritura é importante tanto quanto o ouvir da inspiração divina.
Em terceiro lugar, a igreja é ao mesmo tempo um evento e uma instituição, no entanto é
mais evento do que instituição. Parte de Deus o ser igreja. “É uma convocação de Deus
dirigida aos homens, antes de ser uma instituição humana e uma comunidade”. A igreja
existe por causa do evangelho e este a ultrapassa. O culto a Deus e seus sacramentos são
uma resposta a ele como autor, as glórias são dadas a Deus. A igreja está além de uma
instituição visível, pois, onde houver dois ou três... Cabe ao protestantismo manter
vívida a sua essência fazendo sempre a sua autocritica
A segunda seção: A maneira de ser do protestantismo divide-se em duas partes
sendo a primeira intitulada de: Pluralidade, liberdade e simplicidade, e a segundada de:
Geografia da Salvação e história da Salvação, rumo a uma complementaridade. Esta
segunda parte compara o protestantismo ao catolicismo. Uma vez que o catolicismo
distanciou-se dos princípios fundamentais do cristianismo, coube ao protestantismo
restaura-lo. Gerou-se aí um combate que mesmo após tentativas de caminhada conjunta
através do ecumenismo a distancia prevalece. O protestantismo caracteriza-se por sua
pluralidade tendo em vista a sua diversidade de denominações e vertentes enquanto que
a igreja católica prima por ser manter única. “O protestantismo assemelha-se a uma
grande família muito unida, mas repartida por casas diferentes, enquanto o catolicismo é
semelhante a uma grande casa habitada por famílias diferentes”. No protestantismo há
liberdade, não havendo imposição sobre ordem de culto ou liturgia enquanto que no
catolicismo a imposição é característica. A doutrina do sacerdócio universal dos crentes
contradiz toda estrutura católica. Para o protestante a beleza do culto ou da vida não está
nos templos majestosos ou nas indumentárias religiosas e sim na simplicidade de um
coração contrito. A estrutura do protestantismo não está em seus templos, suas cores e
seus vitrais. Não está presa a locais sagrados ou pessoas sagradas. No entanto
reconhece-se que tanto a geografia da salvação quanto a sua história se fazem
importantes. A Deus toda a glória!
Todo o livro é muito bem ilustrado com gravuras, referencias e fatos históricos e
teológicos importantíssimos. O autor foi muito feliz em sua abordagem uma vez que
tratou de protestantismo e não protestantismos, pois que o segundo geraria uma série de
controvérsias. Cito por exemplo os ditos sacramentos, (talvez por força da tradução). os
batistas nunca tiveram o batismo e a ceia como tais, e sim como memoriais. No demais
um livro de alta qualidade e recomendável leitura tanto para acadêmicos como para
leigos.