22/05/2013

INTRODUÇÃO
Assim como os animais desenvolvem estilos
próprios de comportamento que lhes permitem
a reprodução e a sobrevivência, o homem
também desenvolveu processos de convivência,
reprodução, acasalamento e defesa. Desse modo,
apresenta uma série de atitudes “instintivas”,
isto é, ações e reações que se desenvolvem de
forma espontânea, dispensando o aprendizado,
como respirar, engatinhar, alimentar-se.

O aprendizado faz parte

Proveniente de sua bagagem genética, o homem
demonstra também ser capaz de sentir medo, da vida humana
prazer ou frio e de estabelecer relações de
amizade e parentesco. Porém, quer por
dificuldades impostas pelo ambiente, quer por
particularidades da própria espécie, o homem
também desenvolveu habilidades e
comportamentos que dependem de aprendizado.
Assim, as crianças aprendem a conter sua fome e
a comer em horários regulares, aprendem a
brincar e a obedecer e, mais tarde, quando
crescem, a trabalhar, comerciar, administrar,
governar.

Tornar-se humano
Lendas e mitos relatam histórias de heróis que,
mesmo crescendo no isolamento, tornaram-se
Sociologicamente o humanos – Reno e Remo, Tarzan, Mogli –
homem, portanto,
distingue-se das demais apresentando comportamentos compatíveis com os
espécies existentes porque demais seres humanos. Entretanto, para se tornar
grande parte de seu
comportamento não se humano, o homem tem de aprender com seus
desenvolve naturalmente
em sua relação com o semelhantes uma série de atitudes que jamais
mundo, nem se transmite à poderia desenvolver no isolamento.
sua descendência pelos
genes. Ele é um animal que
necessita de aprendizado
para adquirir a maior
parte de suas formas de
comportamento. Precisa
aprender a tornar-se
humano!

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“Comparado aos outros

Entre as outras espécies animais, animais, o homem não vive
uma cria, mesmo separada do seu apenas em uma realidade mais
grupo de origem, apresentará, com ampla, vive, pode-se dizer, em
o tempo, as mesmas atitudes de uma nova dimensão da
seus semelhantes, na medida em
que estas decorrem, sobretudo, de realidade [...] o homem vive em
sua bagagem genética e se um universo simbólico”.
desenvolvem de forma espontânea. CASSIRER, Ernst 1997, 48.

Sistema de símbolos
A transformação de um bebê em um homem,
propriamente dito, dependerá de um longo
aprendizado. Essa característica da humanidade
é fruto da capacidade de criar sistemas de
símbolos que constituem as linguagens, por
meio das quais somos capazes de nos A base do imaginário e do conhecimento
comunicar, transmitindo aos outros o legado de humano é a íntima identidade entre
nossa experiência de vida, compartilhando os linguagem, experiência e realidade, que por
sentidos que a ela atribuímos. sua vez é fruto de suas experiências e visões
de mundo transmitidas via a comunicação.

Distinguido pelo pensamento

O pensamento humano é único. É capaz de
transformar a experiência vivida em um
discurso com significado e transmiti-la aos
demais seres da sua espécie e a seus
descendentes. Concebe acontecimentos, ações e
reações sob forma de imagem, que podem Ao pensar, ser capaz de projetar, ordenar, prever e interpretar, o
homem, sempre vivendo em grupos, começou a travar com o
provocar sentimentos e fazer refletir. Distingue mundo ao seu redor uma relação dotada de significado e sentido.
o passado do presente e projeta as ações O conhecimento do mundo transformou-se em um legado
futuras. cumulativo fundamental para interpretar a realidade e agir sobre
ela, ou seja, deu origem à cultura humana. Através dela os homens
recriam a realidade segundo suas necessidades e pontos de vista.

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Uma vez que cada cultura tem
raízes, significados e características
próprias, todas elas revelam, como
processos cognitivos, a mesma
complexidade. Como culturas, todas
são igualmente simbólicas, frutos da
capacidade criadora do homem e
adaptações de uma vida comum
situada em tempo e espaço
determinados. Resultam de uma
incessante recriar, compartilhar e
transmitir da experiência vivida e
aprendida.
As formas de interpretação da vida tendem a se
perpetuar por meio dos ritos e mitos. Mas é o
conhecimento acumulado nas tradições que
possibilita operar transformações na cultura e
na sociedade que as criou. Quando novos
obstáculos se apresentam, exigindo a busca de
diferentes formas de pensar o mundo, o
conhecimento existente evita que se parta do
zero para buscar novas fórmulas a serem
aplicadas aos problemas. As culturas são
essencialmente dinâmicas, desenvolvendo
mecanismos de conservação e mudança em
permanente ajuste.
As diferenças entre as culturas não são de
qualidade nem de nível: as diferenças culturais
devem-se às circunstancias que as cercam,
plenas de necessidades e obstáculos a serem
ultrapassados e de tradições herdadas do
passado. Os diferentes hábitos alimentares, a
presença ou não de escrita, o uso das fontes
energéticas ou o desenvolvimento tecnológico
são aspectos da cultura que só se explicam em
função de sua história e das necessidades
enfrentadas. Cada elemento da vida social –
tecnologia, linguagem ou relações de
parentesco – está ligado a um conjunto de
padrões sociais e uma modificação em qualquer
um deles altera todo o conjunto.
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As culturas humanas
como processo
O conhecimento – conjunto de informações e
sentidos atribuídos à realidade e transmitidos
às gerações – possibilitou ao homem enfrentar
os problemas de sobrevivência, defesa e
perpetuação da espécie. Os obstáculos
estimularam o desenvolvimento de ideias e seu
compartilhamento. Aceita pelo grupo, essa
“melhor forma” tendia a se repetir,
transformando-se em ritual, como resposta da
existência humana.
Todas as culturas
apresentam
padrões
igualmente
abstratos e
significativos.
Conclusão
Estas reflexões mostraram que o estudo da Antropologia
oferece questionamentos para a teologia cristã. Hoje em dia
sabemos que a teologia não é um saber isolado, autônomo,
mas um saber que se constrói em diálogo com outros tipos
de saberes. Diálogo, neste caso, significa que há um respeito
mútuo dos saberes, caracterizado pela aceitação dos valores
e limites de cada área do conhecimento (respeito que não
elimina a possibilidade de desacordos e conflitos).
Por exemplo, a teologia não é um saber que visa explicar o
funcionamento da vida social. É um saber, porém, que
oferece interpretações críticas sobre como deve ser vivida a
vida em sociedade. Para oferecer suas próprias
interpretações, porém, a teologia deve aprender com a
sociologia e com a antropologia como uma sociedade
normalmente funciona.