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E SOCIOLOGIA
JURÍDICA
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
Estudo Transversal
UNIASSELVI
Indaial - 2021
Estudos Transversais
Índice nizam a utilidade dessas disciplinas, sua função é detectar as fontes sociais de
toda a ordem na formulação das leis e as consequências que as leis, mutuamen-
1 INTRODUÇÃO te, acarretam e sofrem novamente.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU Por sua vez, as distinções entre a Sociologia do direito e a Antropologia do
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL
Direito não são evidentemente radicais, ao contrário, elas vêm da mesma raiz.
Seus objetos com frequência se confundem, assim como seus métodos teóricos
e a presunção científica de obter a melhor compreensão possível do fato. Nou-
3 CIÊNCIA JURÍDICA
tras palavras, a presunção científica está em ver as coisas além da letra, da regra
formal. É questionar seus significados, tentando ver as leis como elas são, por
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA que são como são e não as aceitando dogmaticamente, nem presumindo como
deveriam ser, segundo critérios éticos e morais.
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
Nessa ótica, o estudo sociológico e antropológico do Direito pode apre-
sentar uma dupla vantagem. Primeiramente, o conhecimento resultante dessas
REFERÊNCIAS áreas do conhecimento leva a um entendimento mais amplo da norma jurídica,
permeada por cultura e interesses. Em segundo lugar, por causa dessa ampli-
ficação interpretativa, ajuda a disseminar a importante percepção de que os
problemas de uma sociedade estão, com frequência, nas leis e a solução desses
3 CIÊNCIA JURÍDICA
Os fatos sociais têm três características básicas, quais sejam: 1) são exte-
riores aos indivíduos, portanto, não nascem com os indivíduos; 2) são anterio-
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA res aos indivíduos, isto é, já existiam antes de cada um de nós nascermos; e 3)
têm poder coercitivo sobre os indivíduos, influenciando-os. Então, fato social
é algo que existe sem que seja inerentemente criado por qualquer indivíduo
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
isolado, além de já estar definido antes de sua existência e que tem o poder de
direcionar suas escolhas e ações.
REFERÊNCIAS
Ora, o direito tem precisamente tais características, ou seja, é uma criação
coletiva, histórica e dialógica de longo tempo e exerce coerção sobre os indiví-
duos que tendem a ser recompensados ao seguirem as orientações das insti-
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
Se admitimos que o direito é um fato social, anterior, exterior e coerciti-
vo, além de independente das vontades dos indivíduos, então aceitamos que
REFERÊNCIAS o Direito funciona como um condicionante dos comportamentos individuais.
Todavia, não podemos tratar os fatos sociais como algo vindo do nada ou sim-
Índice plesmente de uma consciência divina. Não! O direito, como todo o fato social,
é uma construção humana em sociedade e existente em todas as sociedades
1 INTRODUÇÃO
humanas, pela necessidade básica de indivíduos viverem coletivamente.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU O que precisamos deixar claro é que as leis não se originam da inteligência
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL de um indivíduo isoladamente. São sempre uma construção coletiva, de longo
tempo, que atravessa gerações e muda conforme as necessidades e demandas
que surgem em sociedade. Nesse sentido, como sugere o jurista brasileiro Feli-
3 CIÊNCIA JURÍDICA
pe Augusto de Miranda Rosa (2009), a norma jurídica é o “reflexo da realidade
social”. É assim que se entende contemporaneamente o Direito, isto é, como
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA um fato invariavelmente social.
Portanto, toda a lei expressa uma vontade coletiva, isto é, uma força co-
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
ercitiva que induz os indivíduos a agirem de determinada maneira. As leis mais
universais são aquelas que, em geral, são as mais facilmente aceitas, por ex-
REFERÊNCIAS pressarem necessidades e desejos da vontade geral, isto é, da maioria. Isso não
exclui o fato de que muitas leis vigoram por força da imposição (autoritária) ou
da influência política (democrática) de determinados grupos sociais e expres-
sam, implicitamente, as vontades desses grupos.
Índice Então, ainda que se admita que o direito é uma representação geral que
incorpora diferentes forças, com distintos pesos, ainda assim, é um instrumento
1 INTRODUÇÃO
existente em todas as sociedades, cuja função geral é o controle social. Desse
modo, a lei é uma expressão dessas forças sociais em disputa pelo poder, mas
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU também em acomodação do poder, refletindo os objetivos filtrados da socie-
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL dade como um todo. Embora a distribuição do poder seja desigual, tende à
estabilidade mínima. Ainda que minimamente estável, o Direito moderno não é
estático, já que as sociedades são dinâmicas.
3 CIÊNCIA JURÍDICA
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO Nessa perspectiva, é importante não perder um detalhe fundamental a defi-
nir a Sociologia Jurídica, coisa que esses autores não ignoram: é que o Direito é, ao
mesmo tempo e o tempo todo, uma expressão da realidade social e um indutor de
REFERÊNCIAS comportamentos sociais com fins de integração social (ANTONOV, 2014). Isso é, ao
mesmo tempo que a fonte da norma jurídica é a sociedade, a norma jurídica é fonte
comportamental da sociedade. Por um lado, como disse Montesquieu (1689-1755),
bons homens fazem boas leis e, na sequência, boas leis formam bons homens.
Índice Essa necessidade de estudar a letra em si, de conhecer o que a lei for-
malmente diz que deve, pode e não pode ser feito, é o que autores, como o
1 INTRODUÇÃO sociólogo e jurista escandinavo Alf Ross, denominam de estudo doutrinário da
lei. É quando o investigador da norma jurídica (um advogado, um jurista ou um
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU estudante de direito) lê a lei de forma estritamente doutrinária, querendo en-
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL tendê-la literalmente no seu sentido arbitrário, não se importando em estudar
seus fundamentos, nem a questionando moralmente (ROSA, 2009).
3 CIÊNCIA JURÍDICA
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
2.1 PARA ALÉM DO DOGMA
É assim que se procede do ponto de vista pragmático em relação às leis.
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO Admitindo seu poder coercitivo e punitivo, é natural que saibamos o que ela
quer dizer na prática, a fim de poupar incômodos. No entanto, Alf Ross afirma
que, do ponto de vista da “Ciência Jurídica”, “[...] o estudo doutrinário da lei ja-
REFERÊNCIAS
mais pode ser separado da Sociologia do Direito”, porque a doutrina jurídica – e
sua “ideologia” –, “é sempre uma abstração da realidade social” (ROSA, 2009,
p. 32).
Índice Assim, é importante que, para uma formação jurídica sólida, o estudioso
do direito ambicione ter o conhecimento de um legislador e não apenas de um
1 INTRODUÇÃO
despachante. Nessa direção, o jurista brasileiro Felipe Augusto de Miranda Rosa
observa que Ross nos ajuda a entender que esse é um dos maiores desafios do
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU Direito contemporâneo, qual seja, justamente, o de entender o Direito como
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL fato social que é, e “não apenas como um conjunto de normas que formam um
sistema lógico, disciplinador da vida em sociedade” (ROSA, 2009, p. 32).
3 CIÊNCIA JURÍDICA
Nessa direção, é necessário lembrar de uma distinção progressivamente
estabelecida durante o século XX no Direito. Tem a ver com a evolução do Direi-
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA to e sua própria presunção científica, isto é, seu reconhecimento como Ciência
Jurídica. Trata-se da diferença entre a doutrina jurídica (ou o Direito Normativo
e dogmático) e a Filosofia do Direito e a Sociologia Jurídica. São três disciplinas
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
que têm o mesmo objeto, qual seja, o fenômeno jurídico. No entanto, essas
disciplinas estudam o fenômeno por ângulos diversos.
REFERÊNCIAS
O Direito Normativo estuda o fenômeno na perspectiva de suas normas es-
pecíficas, da letra em si, isto é, do que especificamente diz a lei. O objetivo é com-
preender as normas estritamente no interior do sistema jurídico, ou seja, dentro
Índice da ordem jurídica. Trata-se de saber o que a lei quer dizer e não o porquê de sua
existência, qual sua origem, a quem interessa e outros significados subjacentes.
1 INTRODUÇÃO
A preocupação está em averiguar sua coerência lógica com o sistema e, por sua
natureza dogmática e normativa, em apreendê-la no seu aspecto doutrinário.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL Por sua vez, o objetivo da Filosofia do Direito está no exame dos funda-
mentos ontológicos e da natureza filosófica do fenômeno. Busca compreender
e justificar a lei no sentido de afirmar a sua necessidade vital. Em outras pala-
3 CIÊNCIA JURÍDICA
vras, a Filosofia do Direito está profundamente vinculada aos juízos de valor, à
ética e à moral. Nisso, busca os fundamentos do Direito em princípios essenciais
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA como o bem e o mal, o amor, o senso de justiça, a fraternidade, a igualdade etc.
Índice O filósofo estadunidense John Rawls é um dos nomes mais lidos na Filoso-
fia do Direito contemporânea.
1 INTRODUÇÃO
FIGURA 1 – UMA TEEORIA DA JUSTIÇA
3 CIÊNCIA JURÍDICA
REFERÊNCIAS
Já, a Sociologia do Direito estuda a lei ou o caso jurídico como um fato da
vida social, de uma maneira pretensamente imparcial. Alegoricamente, pode-
-se dizer que o olhar sociológico sobre o Direito é, ou pretende ser, o olhar do
cientista diante do objeto, procurando decifrá-lo, estabelecendo causas e con-
Índice sequências sociais. É seu objetivo, por exemplo, analisar as situações de crime
não de um ponto de vista individual, psicológico, moralista ou legal. O interesse
1 INTRODUÇÃO é, simplesmente, demonstrar as relações de causa e efeito do fenômeno com a
sociedade.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL
Portanto, a Sociologia Jurídica é o olhar “de fora” sobre a ordem jurídica.
Isso não quer dizer que haja garantias de que o sociólogo (ou a Sociologia do
Direito) assegure completa imparcialidade (neutralidade) com relação ao ob-
3 CIÊNCIA JURÍDICA
jeto que analisa. A pretendida objetividade científica nas Ciências Humanas e
Sociais é sempre questionável e, em se tratando do fenômeno jurídico, isso é
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA ainda mais necessário. Se há uma possibilidade de se obter um entendimento
científico e não meramente dogmático ou valorativo do fenômeno, é preciso
estudá-lo sociologicamente.
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
Índice sofia e a ciência. Não obstante, a afirmação de Jorion coincide com a aceitação
crescente da ideia de que não é possível estudar cientificamente o Direito sem
1 INTRODUÇÃO a Sociologia.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU O fato é que, do ponto de vista da constituição da Sociologia do Direito,
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL
a relação sinérgica entre o Direito e a Sociologia e o lugar da norma jurídica na
Sociedade tornou-se um campo das ciências desde os esforços notáveis de Max
Weber (1864-1920) e Émile Durkheim (1858-1917), os fundadores da “Ciência
3 CIÊNCIA JURÍDICA
da Sociedade”. Lembremos a importância de outro clássico fundador da Socio-
logia, o alemão Karl Marx (1818-1883), que também tratou o Direito como um
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA objeto exclusivamente relacionado às forças sociais e que refletia, segundo ele,
os interesses das classes dominantes na sociedade.
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
Embora possa parecer óbvia, essa relação de origem e consequência entre
o Direito e a sociedade não faz parte do senso comum. No entanto, essa relação
REFERÊNCIAS é tão profunda e esclarecedora quanto necessária à formação jurídica. Essa é
a função da Sociologia do Direito, ou seja, interpretar amplamente as leis e as
mais variadas situações do direito, promovendo a relação da lei com o fenôme-
no jurídico, invariavelmente originário das estruturas sociais e ao mesmo tem-
po interferente na Sociedade.
Índice
2.2 UMA RETROSPECTIVA HISTÓRICA: UMA
1 INTRODUÇÃO DEFINIÇÃO PARA ALÉM DO DOGMA
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU Conquanto, os fundadores da Sociologia citados anteriormente, além dos
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO precursores como Montesquieu e outros tenham estudado as relações entre lei
SOCIAL
e sociedade, foi somente após a Segunda Guerra Mundial – principalmente nos
EUA –, que surgiu um movimento sociológico no Direito acadêmico. Esse movi-
3 CIÊNCIA JURÍDICA mento foi um esforço de pesquisadores do Direito, mais que da Sociologia, que
inauguraram uma tradição de jurisprudência sociológica a fim de demonstrar
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA tanto a influência da norma jurídica na Sociedade, quanto a interferência dos
fatos sociais no fenômeno jurídico (DEFLEM, 2008).
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO Nesse sentido, estavam preocupados em ir além dos limites técnicos do
dogmatismo jurídico, aprofundando a investigação até os fundamentos teóricos
do Direito, através das Ciências Sociais. Nesse sentido, acabaram reascendendo o
REFERÊNCIAS
interesse de sociólogos, retomando o esforço dos clássicos de estudar o Direito.
A partir dos anos 1970, esse movimento dos sociólogos tornou-se mais intenso e,
com isso, a moderna Sociologia do Direito se afirmou como disciplina específica
interdisciplinar, ampliando o leque cognitivo da Sociologia e do Direito.
Índice Isso contribuiu para que outras ciências sociais desenvolvessem aborda-
gens para o estudo do Direito, trazendo várias e novas perspectivas das Ciên-
1 INTRODUÇÃO
cias Sociais e Humanas, permitindo um ambiente de interdisciplinaridade que
trouxe amplos benefícios à Sociologia como ao Direito. Este desenvolvimento
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU permitiu um movimento de absorção da Sociologia para dentro do Direito. Não
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL obstante, também trouxe o Direito para as Ciências Sociais, aprofundando o in-
teresse investigativo e de pesquisa empírica não apenas na Sociologia, mas na
Antropologia e na Ciência Política.
3 CIÊNCIA JURÍDICA
Índice jurídicos são atos morais (lembrando que moral significa literalmente o conjunto de
valores, costumes e hábitos de cada Sociedade). Nos dizeres de Durkheim (1966, p.
1 INTRODUÇÃO
8 apud MIRANDA NETO et al., 1986, p. 352), “os atos morais são normas de conduta
sancionadas. A sanção é a característica geral de todos os atos desse tipo”.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL Nessa perspectiva, vale mencionar a definição do sociólogo e jurista esta-
dunidense William Graham Sumner (1840-1910), que apresenta o Direito como
tendo “raízes nos folkways. Não se encontra fora deles. Não é de origem in-
3 CIÊNCIA JURÍDICA
dependente e não pode ser aplicada aos folkways para comprová-los. Neles
está sempre o direito” (MIRANDA NETO et al., 1986, p. 352). Lembrando que
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA folkways é termo empregado para se referir aos costumes, Sumner adverte que
os costumes precedem as leis.
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
Em oposição, franca à Filosofia do Direito e ao Direito doutrinário, o sociólogo
alemão René Konig (1906-1992) critica a percepção reducionista de que as normas es-
REFERÊNCIAS tariam estritamente vinculadas à esfera do direito e da educação formal. Para ele, as
normas estão inseridas em um contexto bem mais abrangente dos costumes e regras
sociais, em que a norma jurídica representa apenas um “capítulo importante, é verda-
de, mas um entre muitos” (KONIG, 1959 apud MIRANDA NETO et al., 1986, p. 352).
Índice Por fim e ao cabo dessas definições preliminares, vale usar a explicação
da importante Encyclopedya Britannica sobre o significado de law, segundo a
1 INTRODUÇÃO
qual, Sociologia da lei é “a disciplina e também a área profissional preocupada
com os costumes, práticas e regras de conduta de uma comunidade, que são
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU reconhecidas como vinculativas pela comunidade. A aplicação do conjunto de
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL regras ocorre por meio de uma autoridade de controle” (BRITANNICA, c2020a).
Nessa perspectiva, fica evidenciada a concepção contemporânea e eminente-
mente sociológica do Direito.
3 CIÊNCIA JURÍDICA
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Índice como um preceito doutrinário, um dogma sobre o qual não cabe questiona-
mento, tão somente compreensão do seu funcionamento em si.
1 INTRODUÇÃO
Por sua vez, a perspectiva filosófica, que é moral e ética, está orientada
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU para a avalização sobre seus efeitos do ponto de vista dos valores e das finalida-
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL des últimas, que resumimos na ideia da justiça social e do bem-estar dos indiví-
duos. Essa avaliação jurídico-filosófica tem, portanto, um sentido existencial e
de comprometimento com o caráter crítico da interpretação e do conhecimen-
3 CIÊNCIA JURÍDICA
to da lei. É o Direito sempre questionado com relação aos fins a que se destina
e a quem efetivamente serve.
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
Por sua vez, a perspectiva da Sociologia do Direito é externa, observando
o fenômeno jurídico “de fora” ou, se quisermos assim dizer, “para fora” do sis-
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
tema legal. Por esse método de compreensão pretensamente objetiva do fato,
buscamos os vínculos causais e de consequência com a sociedade em suas vá-
REFERÊNCIAS rias esferas de relações. Procuramos compreender qual o significado profundo,
isto é, em que esfera de interesses, disputas e visão de mundo dos indivíduos
podemos encontrar suas origens e perceber consequências, inclusive de forma
mensurável.
Índice As diferenças entre essas perspectivas não devem, porém, significar falta
de complementariedade para o estudioso do Direito. A Sociologia do Direito,
1 INTRODUÇÃO
por exemplo, gera informações que a Filosofia do Direito usa para sustentar suas
reflexões existenciais. Perspectivas internas da lei também podem ser úteis ao
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU prover dados técnicos que, com frequência, melhoram a análise e evitam erros
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL de julgamento. Posicionada exteriormente em relação ao fenômeno jurídico, a
Sociologia não deve perder a dimensão filosófica de vista e tampouco negligen-
ciar o caráter restritivamente técnico da lei.
3 CIÊNCIA JURÍDICA
Índice mativa (Durkheim 1893a, 1893b apud DEFLEM, 2008). Na condição de regra, a
lei se refere a um complexo institucionalizado de normas destinadas a regular
1 INTRODUÇÃO as interações sociais e integrar a Sociedade. As práticas da lei referem-se a to-
das as funções, posições, interações e organizações envolvidas com as normas
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU (DEFLEM, 2008, p. 18).
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL
Como nos ajuda a entender o sociólogo Mathieu Deflem, o caráter “ine-
rentemente normativo” do Direito não deve ser confundido com sua avaliação
3 CIÊNCIA JURÍDICA
moral ou ética (DEFLEM, 2008, p. 18). Na condição de prescrições sobre como
as interações sociais devem funcionar e como a sociedade dever ser organiza-
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA da, as normas são, nas palavras de Weber (1999) “tipos ideais”. Na prática dos
indivíduos, sempre haverá variações mais ou menos próximas do estado ideal
sugerido pelas leis e regras. Nesse sentido, leis e regras dizem como as coisas
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
devem ser, não como elas de fato são ou acontecem.
Índice orientadas por valores, ideais e interesses, tanto quanto passam a influenciar
comportamentos de indivíduos cujas escolhas e ações terão origem nessas re-
1 INTRODUÇÃO
gras. E regras vão se consolidando historicamente como fatos sociais.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU Paralelamente, observe-se que as práticas do Direito também são com-
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL postas por valores, por moral e por concepções éticas do que é certo e erra-
do. Esse conteúdo normativo define o que é legítimo, gerando as justificativas
necessárias para a aplicação da lei, autorizando cumpridores das regras e pu-
3 CIÊNCIA JURÍDICA
nindo violadores. Não obstante ao fato da universalidade de certas demandas
humanas, a forma de obtê-las, por sua vez, pode variar bastante. Assim, valores
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA e ideais são componentes culturais, estando vinculados aos costumes de cada
sociedade, embora muitos sejam intercontinentais ou universais.
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
O fato é que, justamente por esse caráter variável de valores e ideais que
orienta a organização das leis em cada sociedade, as leis são um objeto muito
REFERÊNCIAS mais complexo do que muitos apreciadores do dogma do Direito doutrinário
gostariam. Mais que isso, por conta dessa complexidade, desde Weber, sabe-
mos que o Direito é essencialmente um objeto da Sociologia. Ou ainda, na me-
Índice lhor definição de Durkheim, o Direito é um fato social. Assim, nem tudo que é
sociológico está relacionado às leis, mas toda lei está relacionada ao contexto
1 INTRODUÇÃO
social.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU Em obra intitulada Sociology of Law, que nos ajuda a conduzir esta abor-
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL dagem, Mathiew Deflem (2008) traz uma bela passagem, explicando o caráter
eminentemente sociológico das leis. Para isso, menciona o estudioso jurídico
Richard Abel (1995, p. 1 apud DEFLEM, 2008, p. 19) que, certa vez, teria afirma-
3 CIÊNCIA JURÍDICA
do jocosamente que seu trabalho de análise sobre o Direito cobria “Tudo sobre
a lei, exceto as regras.” Ele estava observando que a compreensão do Direito
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA passa por buscar o “espírito das leis”, ideia imortalizada por Montesquieu.
Índice Nessa perspectiva, leis devem ser estudadas para além de sua função so-
cial óbvia, declarada, de interesse pela justiça. Ter isso como objetivo de co-
1 INTRODUÇÃO nhecimento sempre tem sua importância, mas o conhecimento jurídico que se
restringe a isso, não é propriamente um conhecimento jurídico. A norma jurídi-
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU ca deve ser compreendida com relação as suas origens de ordem moral, ética,
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL cultural, incluindo as disputas de poder e interesses setoriais de toda ordem,
mais ou menos coincidentes com o interesse público.
3 CIÊNCIA JURÍDICA
Não obstante, além de buscar as ramificações de origem do Direito, tam-
bém é necessário observar as ramificações criadas a partir dele, isto é, suas
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA inúmeras consequências sociais, as esperadas e as inesperadas. Nesse sentido,
por exemplo, uma lei de proteção aos pobres ou de garantias às amplas liber-
dades políticas e econômicas sempre terá justificativas razoáveis, as melhores
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
intenções, além de resultados efetivos ao longo do tempo de aplicação. Alguns
desses resultados podem não ser os esperados, nem os desejados. Podem não
REFERÊNCIAS ter sido previstos ou sorrateiramente previstos.
Índice Assim, um conceito sociológico de Direito não omite o estudo das regras,
mas sim diferencia entre os objetivos proclamados das normas jurídicas, por um
1 INTRODUÇÃO lado, e os atuais funcionamento e consequências da lei, por outro. Nesse sen-
tido, a perspectiva sociológica do Direito, assim como a antropológica – como
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU veremos depois – rompe com a importante, porém restrita, compreensão inter-
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL na, técnica e dogmática da norma jurídica. Assim o faz, permitindo a abertura
para análises sociológicas do Direito em seus múltiplos e relevantes aspectos e
dimensões (DEFLEM, 2008).
3 CIÊNCIA JURÍDICA
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
3 CIÊNCIA JURÍDICA
Isso é tratar o Direito como um fato social e, nos dizeres de Edmond Jorion,
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO é o que permite que o estudo do Direito possa ser chamado de Ciência Jurídica
(DEFLEM, 2008, p. 20). Assim, sociólogos jurídicos sempre tratarão a norma
jurídica no interior do contexto social, identificando ramificações de causa e
REFERÊNCIAS
efeito, de origem e consequências. Nessa direção, o jurista estadunidense Lon
Duvois Fuller (1971), afirma que seria mais conveniente falar do Direito como
uma questão social que implora por elucidação sociológica, assim como fazem
outras instituições sociais e práticas sociais (DEFLEM, 2008, p. 20).
Por extensão, é importante lembrar também que esse objetivo está direta-
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA mente comprometido em fazer com que estudantes, estudiosos e profissionais
do Direito sejam capazes de amplificar sua compreensão sobre as leis. A par-
tir do fenômeno jurídico, decisões são tomadas por governantes, legisladores,
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
juízes, trabalhadores, empresários e chefes de famílias. Nesse sentido, o valor
cognitivo e ético da Sociologia Jurídica está em demonstrar que o fenômeno
REFERÊNCIAS jurídico de toda ordem é melhor compreendido à luz das relações entre a lei e
o ambiente social. Numa expressão, o Direito é um fato social.
Índice Para um exemplo de como o Direito precisa ser compreendido como fato
social, apresentamos a crônica a seguir como uma demonstração corriqueira
1 INTRODUÇÃO
acerca disso. O objetivo geral não é apresentar uma análise rigorosamente cien-
tífica e imparcial como deve ser toda a análise sociológica. A intenção é apro-
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU veitar uma crônica de jornal que mostra como essa relação entre o Direito e
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL a sociedade é bem mais comum do que se possa imaginar, sendo possível de
percebê-la antes mesmo de estabelecer essa relação através do método pro-
priamente científico.
3 CIÊNCIA JURÍDICA
Índice
SOBRE A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: EDUCAÇÃO, LEIS OU MU-
1 INTRODUÇÃO
DANÇA DE PROCEDIMENTOS?
Índice
zatória. Isso nos conduz a sugerir que o ECA, principal instituição em defesa
1 INTRODUÇÃO dos direitos dos jovens brasileiros, incluindo os delinquentes, precisa ser
revisto. É preciso reconhecer que a mesma lei que conscientiza os benefi-
ciados de seus direitos, os habilita a usá-la em favor da sua “vitimização” e
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU impunidade.
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL Jovens e adultos infratores agem motivados por alguns fatores e suas ações,
bem ou mal, são calculadas. Estou sugerindo que os infratores pensem nas
consequências de suas ações, seja aos outros, seja a si mesmos. Com re-
3 CIÊNCIA JURÍDICA
lação aos outros, em geral, pouco se importam. Com relação a si próprios,
tem noção sobre as consequências. Se a punição for menor que o risco ou
a recompensa (“inimputabilidade” legal, recompensa material ou moral),
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
a tendência de sua decisão será correspondente. Trocando em miúdos:
menor a punição, maior o estímulo à infração. Passando a régua: não há
civilização sem regras rígidas, baseadas na recompensa à obediência cons-
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO ciente de leis em respeito ao próximo e na punição severa aos infratores.
Índice
já sabe. Não devem restar dúvidas de que infratores de 16 a 21 anos, ain-
1 INTRODUÇÃO
da que criminosos, não podem conviver com adultos criminosos. Embora
tenham discernimento entre o certo e o errado aos 15, não teriam resis-
tência psicológica, nem moral, aliciados por criminosos de 30. Se o sistema
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU não funciona aos maiores, é lógico que não funcionará com os menores.
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO Trocando em miúdos: adolescente na cadeia não significa amadurecimen-
SOCIAL to moral e sim criminal. Passando a régua: só lhes faltaria a certificação
estatal de “criminoso graduado”.
3 CIÊNCIA JURÍDICA Por essa razão, a lei prevê e faz cumprir o sistema socioeducativo. E fun-
ciona? Segundo dados do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA), é de 20% a reincidência nesse sistema, enquanto
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA no sistema prisional é de 60%. As informações são desencontradas, senão,
veja-se a discrepância: a Carta Capital informa, com dados do CNJ (quer
mais insuspeito?), que a reincidência entre os adolescentes é de 43%, mais
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO que o dobro informado pelo CONANDA, enquanto dos adultos é de 70%
(FONTE: DMF/CNJ). Afinal, quem fala sério? Seja qual for a resposta, as
discrepâncias revelam que os argumentos estão contaminados por parcia-
REFERÊNCIAS lidade, sentimentos e interesses inconfessados.
Índice
A solução, dizem os mais vagos, é pela educação (e pela melhoria de vida
1 INTRODUÇÃO
etc.). Ouve-se isso de intelectuais, políticos, delegados e juízes. Ninguém
parece se perguntar como que o aumento da escolaridade e a melhoria de
vida têm vindo acompanhados do aumento do crime. No Brasil, os índices
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU de violência aumentaram tanto quanto os índices de escolaridade e quali-
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO dade de vida. Como entender esse fenômeno, que parece transformar em
SOCIAL mito os dogmas do bem-estar e a “sociologização” do crime? Coloquemo-
-nos no lugar do professor humilhado por um delinquente “inimputável”
que a resposta começa a surgir. Plausível seria que algum honesto parla-
3 CIÊNCIA JURÍDICA
mentar sugerisse incluir qualquer ofensa à autoridade professoral como
crime hediondo.
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA Contudo, considerando a educação um fato social universal e de primeira
grandeza, não se trata, essencialmente, da sua falência, nem das leis. O
modelo de educação em voga é que não responde aos sintomas de ano-
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO mia social que vivemos com relação à violência. Nessa direção, é neces-
sário reconhecer que o atual sistema educacional desestimula o senso de
responsabilidade e a meritocracia em favor de um igualitarismo utópico.
REFERÊNCIAS É esse, de fundo, o panorama da desumanização dos indivíduos, quando
uma visão lúdica e boas intenções inibem o que temos de mais humano,
isto é, a responsabilização sobre nossos atos. E de boas intenções, dizem,
o inferno está cheio.
Índice
Por extensão, e por conta de leis irrealistas e desavisadamente antirrepu-
1 INTRODUÇÃO blicanas, escola e comunidade são destituídos de sua autoridade moral,
obrigadas a conviver com a indisciplina, o desrespeito à autoridade profes-
soral, a violência e a humilhação promovida por delinquentes que ao invés
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU da punição recebem a proteção jurídica, degenerando os pilares da civiliza-
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO ção e edificando o império da mediocridade e da vergonha. Nessa direção,
SOCIAL
não há o que tergiversar: esse modelo educacional faliu e nós brasileiros
jogamos fora a chance de nos tornar a decantada potência econômica que
3 CIÊNCIA JURÍDICA
poderíamos ser. Esqueça-se. Resta, novamente, à classe média cuidar da
educação privada de seus filhos, pagando duas vezes a conta e ainda acu-
sada de alienada e egoísta.
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
Quanto às leis, assim como o modelo educacional, disseminam as premis-
sas do Estado de direito e bem-estar, presas a uma concepção rousseuau-
niana de que o ser humano é bom por natureza e é a sociedade que o
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
corrompe. Que sociedade, afinal? Ah, permitam-me revelar esse velho se-
gredo: a sociedade capitalista, é claro. Fundada na propriedade privada,
é “origem de toda a desigualdade social”. Responsável pela privação dos
REFERÊNCIAS bens inalcançáveis, é o “sistema” que conduz ao crime. A concordar com
esse raciocínio infantil na cabeça de pródigos intelectuais e paladinos da
lei, resta agradecer ao divino que a maioria dos injustiçados seja tão imbe-
cil e covarde que não se rebele contra a sociedade. Na cultura jurídica do
Índice
Estado de bem-estar, a consequência é a mesma que na educação, a saber,
1 INTRODUÇÃO a desumanização do infrator. Tratando-o como vítima, culpa-se a socieda-
de, e retira-se dele a responsabilização pelos seus atos.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU Se tivéssemos aqui o tempo do mundo, nos daríamos ao luxo de sugerir
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO que, no longo prazo, somente uma mudança conceitual na educação e nas
SOCIAL
leis nos tira dessa anomia social em que nos metemos. Para ser honesto,
estamos só no início dela, pela simples razão de que os agentes ideológicos
e políticos responsáveis pela manutenção desse estado de coisas ainda são
3 CIÊNCIA JURÍDICA
jovens e farão prevalecer por muito suas ideias e influências. Paradoxal-
mente, em nome da justiça e na defesa das “vítimas do sistema”, suas posi-
ções ainda serão a causa de muita brutalidade e pouca produtividade. Isso
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
não nos impede de insistir na necessidade de uma mudança conceitual na
educação e nas leis: a substituição de concepções filosóficas oriundas de
leituras anacrônicas de Rousseau, em favor da disseminação de valores li-
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO berais e republicanos, na tradição de John Locke, a fim de concertar o curso
civilizatório. Isso é coisa para 20 anos de trabalho de uma elite emergente
ainda imberbe.
REFERÊNCIAS
Diante de um problema tão complexo, é evidente que as soluções não são
fáceis. Não obstante, com os recursos cognitivos e institucionais, seria uma
covardia nacional não construir novos procedimentos, em resposta, digo,
Índice
em respeito à vontade geral. Nessa direção, o método exige reconhecer os
1 INTRODUÇÃO objetivos, o estado das coisas e as alternativas. O projeto de redução da
maioridade penal será votado. Trata-se de aprová-lo ou não. A fim de que o
debate seja socialmente útil, precisamos lembrar que o objetivo geral deve
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU ser a diminuição da violência e a proteção dos honestos. Na sequência,
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO os principais objetivos são a ressocialização dos adolescentes infratores, a
SOCIAL eficiência do gasto público e, em resposta ao clamor geral, a punição exem-
plar.
3 CIÊNCIA JURÍDICA
Com relação ao objetivo geral, parece fundamental que seja claramente
aceito e não sucumba às ideologias, ao corporativismo e às circunstâncias.
Posições sectárias ou idílicas, preconceituosas em relação aos pobres ou
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
à classe média são praticamente inúteis, ou na maioria das vezes prejudi-
ciais. Cidadãos honestos não têm a obrigação cívica de tolerar a delinqu-
ência, nem devemos vitimizar o delinquente às custas de quem cumpre a
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO lei. Somente depois de assumir essa posição concernente ao direito civil,
primeiro pilar do Estado de direito, é que deveríamos socializar as causas
da violência. Entre o buon savage de Rousseau e o hominis lúpus homini de
REFERÊNCIAS Hobbes, evoquemos o homem autônomo de Locke e Kant. É justo, nessa
perspectiva, que sugerimos a mudança conceitual na educação e nas leis,
mas explicá-lo é um capítulo à parte.
Índice
Quanto às circunstâncias, naturalmente, é inevitável reconhecer que os
1 INTRODUÇÃO problemas do sistema prisional (más condições e superlotação) devem ser
considerados. Não podem, porém, ser a explicação ou justificativa a impe-
dir mudanças de procedimento, sob pena de ignorar a regra de número um
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU na política, qual seja, a de que os meios devem se submeter às finalidades,
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO desde que, evidentemente, estas sejam republicanas.
SOCIAL
Por fim, é desejável avaliar alternativas e mudanças de procedimento, con-
siderando os principais objetivos subsequentes, que são a ressocialização
3 CIÊNCIA JURÍDICA
e a eficiência no gasto do recurso público, mas também a punição exem-
plar. A ressocialização tem o intuito humanitário e o interesse produtivo
que une gregos e troianos. Toda sociedade precisa da regeneração moral
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
e da força de trabalho de seus jovens. Se os outros dois objetivos não são
tão unânimes, qualquer pessoa de bom senso há de concordar com o uso
racional do dinheiro público. A mesma sensatez vale para admitir que a
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO punição exemplar diminui a reincidência e, fundamentalmente, atende ao
clamor da vontade geral, inconformada com a impunidade, que penaliza os
bons e incentiva os maus.
REFERÊNCIAS
Antes que alguém se sinta sem resposta, resumamos o que se pode admitir
como punição à delinquência juvenil: se o coitado furtou a própria mãe,
agrediu uma senhora, ameaçou alguém com arma ou desrespeitou uma
professora, vai varrer a calçada pública, tirar o mato dos canteiros, carpir
Índice
um lote (com protetor solar, é claro). Vai limpar a sala de aula, o banheiro
1 INTRODUÇÃO da escola, juntar o lixo das ruas. Uma educação sem noção de trabalho e
respeito à sociedade que trabalha duro, vale absolutamente nada além de
levar o País à rabeira do processo civilizatório. Um dos fatores que expli-
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU cam os avanços do processo civilizatório é o reconhecimento das causas
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO de certos recuos. Erramos e pronto. Corrijamos, capazes de superar os cor-
SOCIAL
porativismos. São as elites, políticas e intelectuais que, cientes dos erros e
das correções necessárias, renovam e inovam, para que a vida siga o bom
curso. Não há, insista-se, não há desenvolvimento sem isso.
3 CIÊNCIA JURÍDICA
Índice
Já existem informações estatísticas que nos permitam estudos comparati-
1 INTRODUÇÃO vos sobre as experiências desse gênero. É preciso intensificar os estudos,
comparando-as entre si e com o funcionamento do serviço estatal. Nem
todas as conclusões sobre as experiências vão na mesma direção. Ainda as-
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU sim, países como Inglaterra, França, EUA, Austrália, África do Sul, Canadá,
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO Bélgica, Chile e, também, o Brasil já apresentam resultados que todos nós e
SOCIAL
nossos parlamentares precisamos conhecer. Embora sejam dados do siste-
ma prisional (de adultos), esses estudos permitem respostas às perguntas
e aos genuínos objetivos contidos na proposta de redução da maioridade
3 CIÊNCIA JURÍDICA
penal, seja relacionado à proteção dos cidadãos honestos, à ressocializa-
ção como aos gastos públicos.
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
Se pudéssemos contar com um Congresso maduro, comandado por lide-
ranças de firmes convicções conceituais, inclusive sobre o papel do Estado,
ele poderia assumir a defesa de uma tal bandeira, contando com o apoio
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO da população, que espera que seus parlamentares a representem. É o que
espera a trabalhadora doméstica que, humilhada e desconsolada, vai a pé
do trabalho para casa, depois de entregar o dinheiro do ônibus a um de-
REFERÊNCIAS linquente imprestável que acabou de ameaçá-la com uma arma. É o que
também espera a família cuja filha, educada para ter um futuro brilhante,
foi assassinada na frente de casa por dois zumbis, do mesmo tipo que in-
cendeiam ônibus, comandados por bandidos de dentro de presídios, hu-
Índice
milhando os profissionais da segurança pública e degenerando a civilização
1 INTRODUÇÃO cristã ocidental.
Reconheçamos que o fato é ainda mais complexo do que ora exposto. Não
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU mencionamos aqui o importante problema das drogas, de mãos em mãos
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO entre delinquentes e criminosos. É outro capítulo à parte a ser incluído na
SOCIAL
interpretação do tema, mas não muda uma palavra do que se disse até
aqui. Não obstante, longe da presunção da verdade, do conhecimento am-
plo ou especializado, está o propósito livre e democrático da provocação
3 CIÊNCIA JURÍDICA
ao debate de interesse público. Não é fácil abrir mão de nossas convicções
ideológicas e passionais, suportar de forma empática a divergência opinati-
va e buscar acordos revisionistas. É necessário despertar a vontade política
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
e o compromisso republicano a fim de resolver algo inadiável, ao invés de
nos comportarmos como avestruzes diante do problema.
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO FONTE: Adaptado de BIRKNER, W. M. K. Sobre a redução da maioridade penal: educa-
ção, leis ou mudança de procedimentos? Jornalismo digital, Canoinhas, região e mais,
Canoinhas, 4 ago. 2019. Disponível em: https://www.jmais.com.br/sobre-a-reducao-da-
-maioridade-penal-educacao-leis-ou-mudanca-de-procedimentos/. Acesso em: 9 dez.
REFERÊNCIAS 2020.
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO Tendo realizado, até aqui, uma definição sumária de Sociologia do Direi-
to, façamos o mesmo com a disciplina coirmã: a Antropologia Jurídica. Nessa
empreitada, precisamos saber que a Antropologia constitui com a Sociologia e
REFERÊNCIAS
a Ciência Política, o chamado tripé das Ciências Sociais e dali derivam outras.
A diferença nem sempre é clara entre elas, porque os objetos de investigação,
Índice muitas vezes, coincidem, a exemplo do Direito. Não obstante, enquanto a So-
ciologia busca aspectos da estrutura social mais evidentes e atuais, a Antropo-
1 INTRODUÇÃO
logia busca explicações remotas na cultura.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU Como acabamos de dizer, é com frequência que essas ciências sociais assim se
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL comportam contemporaneamente. Isso não quer dizer que a Sociologia não se preo-
cupe com questões históricas remotas, nem que a Antropologia não se preocupe com
as questões mais evidentes do cotidiano. Assim como a Sociologia e a Antropologia
3 CIÊNCIA JURÍDICA
tem ramificações no Direito, dentro do Direito é possível tratar de um mesmo tema
do ponto de vista sociológico e antropológico. Antes, vamos a uma definição de An-
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA tropologia Jurídica e depois para um exemplo de como isso acontece.
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
4.1 DEFINIÇÃO INTRODUTÓRIA
REFERÊNCIAS
Do ponto de vista das origens, o desenvolvimento da Antropologia Jurídica
tem ramificações na Filosofia Política desde Montesquieu, o autor do célebre
Do espírito das leis. De forma essencialmente a mesma, as origens metodoló-
gicas e intelectuais dessa área do conhecimento se localizam em outro clássico
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU Ora, esses ilustres pensadores franceses perceberam a importância da cul-
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL tura enraizada em cada Sociedade na constituição das leis, da governança e,
portanto, da política. É preciso dizer: quando falamos em política, inerentemen-
te falamos de regras e leis de organização das relações sociais. Um como o ou-
3 CIÊNCIA JURÍDICA
tro, e tantos intelectuais depois deles demonstraram como as formas de pensar
e agir do povo determinaram as constituições. Numa já mencionada definição
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA de Sociologia Jurídica, as leis expressam as folkways, isto é, as formas de pensar,
a formação religiosa, o etos de um povo.
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
Na esteira desses pensadores, muitos antropólogos do século XX contribu-
íram para o Direito e para a Ciência Política (filha da Filosofia do Direito), estu-
REFERÊNCIAS dando os sistemas políticos de países. Como nos traz a Enciclopédia Britânica,
foram pesquisadores como Elizabeth Colson, com a publicação de African Poli-
tical Systems (1940), que introduziram a Antropologia Jurídica. Igualmente, Os
Sistemas Políticos de Highland Burma de Edmund R. Leach (1954) e O Governo
REFERÊNCIAS
3 CIÊNCIA JURÍDICA
Desse modo, sociologicamente, a tendência é demonstrar a relação entre
a lei da previdência e os interesses das diversas corporações, assim como ao
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA tema das finanças públicas, às concepções ideológicas, ao conflito de classes,
ao tema da justiça social e do desenvolvimento econômico etc. Já, do ponto
de vista antropológico, o tema pode ser vinculado a aspectos da formação so-
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
cial brasileira. Vai desde o tema da desigualdade, igualmente caro à Sociologia,
passando pela instrução depauperada das elites até ao patrimonialismo, todos
REFERÊNCIAS enraizados na cultura política e reveladores do “espírito” das leis.
Índice
Podemos encontrar um exemplo de análise crítica do sistema jurídico bra-
1 INTRODUÇÃO sileiro no artigo de Gustavo Silveira Siqueira, doutor em Direito pela UFMG
e professor da Universidade Estácio de Sá. Siqueira procura demonstrar
como o direito brasileiro beneficia determinadas classes sociais em detri-
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU mento de outras. Por meio de pesquisa interdisciplinar, o autor procura
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO demonstrar o distanciamento entre o Direito oficial e certas demandas so-
SOCIAL
ciais, por conta da sobreposição de “uma classe privilegiada”, que usaria o
direito para tutelar os movimentos sociais ao invés de assegurar sua parti-
cipação da elaboração das leis.
3 CIÊNCIA JURÍDICA
FONTE: SIQUEIRA, S. G. Antropologia jurídica no Brasil: história do direito, movimentos
sociais e Direito. In: XIX ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI, 2010, Fortaleza. Anais [...].
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA Florianópolis: Fundação Boiteux, 2010. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/
conpedi/manaus/arquivos/anais/fortaleza/3919.pdf. Acesso em: 2 dez. 2020.
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
Não obstante, a obra de DaMatta é também um convite à reflexão sobre
uma das melhores definições do evolucionismo, apresentada pelo sociólogo
REFERÊNCIAS estadunidense Talcott Parsons (1902-1979), autor de Sociedades: perspectivas
evolucionárias e comparativas (1966), entre muitas. Nessa obra, Parsons decre-
ta que o desenvolvimento das nações requer diálogo e leis, sendo que uma leva
a outra. Criticada pelos antievolucionistas, a ideia é um libelo do evolucionismo
Índice nas Ciências Sociais, ao expressar a crença liberal conservadora no diálogo e nas
reformas legais, no lugar do conflito e das revoluções políticas.
1 INTRODUÇÃO
Como uma coisa conduz à outra, essa propensão ao desprezo pela evolu-
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
ção lenta tem muitos reflexos na cultura governamental e nas leis. Por razões
antropológicas a serem investigadas, a cultura política brasileira demonstra cer-
REFERÊNCIAS ta aversão à evolução resiliente, construída por meio do diálogo, entre disputas,
recuos e pequenos avanços. Desde a proclamação da República, o Brasil já teve
seis constituições federais e a Constituição de 1988 já tem mais de 100 emen-
das revisionistas (BRASIL, 2020).
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Índice
4.3 PATRIMONIALISMO
1 INTRODUÇÃO
Outro autor muito importante para uma análise sociológica e antropológi-
ca honesta da cultura política brasileira foi o jurista brasileiro Raymundo Faoro
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
(1925-2003). Em seu clássico, Os donos do poder: formação do patronato polí-
SOCIAL tico brasileiro, primeira edição de 1958, o autor gaúcho fez uma minuciosa aná-
lise da história do Brasil, demonstrando os efeitos da monarquia portuguesa no
3 CIÊNCIA JURÍDICA
País. Implantou-se, no Brasil, um modelo institucional que consolidou o Estado
grande e centralizado, a partir do qual se desenvolveu a economia e a cultura
patrimonialista que se reflete nas leis brasileiras até hoje.
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
Índice
A fundação do Estado moderno, como o conhecemos, está baseada em al-
1 INTRODUÇÃO gumas características fundamentais, entre as quais: a impessoalidade das
decisões do governante, cujas ações de governo deixam de representar a
vontade pessoal do rei para estarem amparadas nas leis.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL
A confusão entre o patrimônio pessoal do rei e tudo que o Estado arrecada
foi típica das monarquias medievais e pré-constitucionais. Max Weber chamou
3 CIÊNCIA JURÍDICA
isso de patrimonialismo e Raymundo Faoro utilizou o conceito para explicar o
“espírito das leis” no Brasil. Como demonstra o jurista, no caso da monarquia
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA portuguesa, não havia propriedade privada formal no reino português, portan-
to, tudo pertencia ao Rei e toda propriedade era uma concessão dele. Assim, a
nobreza portuguesa era dependente do rei e, portanto, o apoiava em troca de
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
privilégios.
REFERÊNCIAS Naturalmente, esse modelo foi transposto ao Brasil com a vinda da coroa
portuguesa, em 1808. Se todo patrimônio é do rei, o rei concede e tira. Isso fez
com que a oligarquia brasileira, tal qual a nobreza portuguesa, sempre depen-
desse dos favores reais. Sem poder para se contrapor ao monarca, tornavam-se
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU A Constituição de 1988 fortaleceu o corpo político e burocrático, expandiu
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL a máquina administrativa, amparada na justificativa do Estado de bem-estar
social e de Direitos. É correto dizer que ampliou o atendimento aos mais ne-
cessitados, mas não fez isso sem confluir a expansão de direitos democráti-
3 CIÊNCIA JURÍDICA
cos com a preservação e alargamento de direitos setoriais, da manutenção de
aposentadorias especiais, de privilégios, distinções e regras de duvidosa função
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA republicana, gerando uma economia judiciária às custas do aumento da carga
tributária, dificultando a economia produtiva. Tudo na lei.
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
E o aprofundamento da investigação antropológica do Direito é também
uma “viagem interdisciplinar”. Ela começa nas normas jurídicas, segue o curso
REFERÊNCIAS da história, atravessa aspectos culturais e desemboca na realidade social, com
paradas obrigatórias na economia e na política. Para além das abordagens con-
vencionais, nos permite ver melhor os problemas da desigualdade social e do
subdesenvolvimento econômico. E aqui está a utilidade da Antropologia do Di-
Índice
O texto a seguir é um artigo de jornal, através do qual se manifesta uma
1 INTRODUÇÃO opinião que pode ser contestada. Não há presunção da verdade, tão so-
mente o espírito da provocação. Para os efeitos de nossa abordagem sobre
a importância da Sociologia e da Antropologia jurídicas, o seguinte texto
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU demonstra as possíveis ramificações entre a cultura e a lei, que podem in-
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO teressar a estudantes e pesquisadores do Direito.
SOCIAL
UM CASO DE ANTROPOLOGIA JURÍDICA
3 CIÊNCIA JURÍDICA
Dr. Walter Marcos Knaesel Birkner
Sociólogo
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
A soltura de um traficante condenado, o dinheiro na cueca de um
político e o plágio de um juiz do STF têm muito em comum, fatos unidos
por um fio antropológico que explica por que não damos certo. Nos falta
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO a frugalidade, o senso de igualdade republicana e moderação conservado-
ra que devia estar no espírito das leis. Isso para não falar de uma leitura
adequada da Bíblia e uma rigorosa ética do trabalho, o que nos faria ter
REFERÊNCIAS vergonha na cara e punir toda essa patifaria. Quem disse que este País não
é sério sempre teve razão.
Índice
a decisão definitiva, tem respaldo na letra da lei e, como disse o juiz: “cum-
1 INTRODUÇÃO prir a lei não gera arrependimento”. E os outros dez do STF que suspende-
ram sua decisão, agiram ilegalmente? Então tá! A deputada Janaína Pas-
choal (PSL-SP) acha que a decisão deve ser investigada e me faz lembrar o
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU famoso livro de Truman Capote, A sangue frio, em que o autor se apaixona
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO pelo criminoso. Só pode ser isso.
SOCIAL
O senador Chico Rodrigues (DEM-RR) é flagrado com dinheiro na cue-
ca, numa operação da Polícia Federal. Dá uma explicação comovente, pede
3 CIÊNCIA JURÍDICA
licença de 121 dias para a assunção do suplente, ninguém menos que seu
próprio filho. Será julgado por seus pares, senadores, que o farão com o
mesmo interesse público com que sabatinaram o próximo juiz da suprema
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
corte. Ou seja: acabar com os excessos persecutórios do “lavajatismo” que
causaram tanta “injustiça” e constrangimento. E com o apoio presidencial,
Dr. Moro! Coisa linda!
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
Quanto à acusação de plágio do indicado ao STF, tem até uma boa
história para justificar a cola, inclusive a conivência do plagiado, coisa de
REFERÊNCIAS amigos. O fato? 17 páginas de “control C, control V”, sem aspas, nem men-
ção ao verdadeiro autor (segundo a Revista Crusoé, confirmado pelo siste-
ma Plagium do Estadão). É plágio e corrosão de caráter. De um criminoso?
Não, de um funcionário da Justiça que, como outros mencionados, se vale
Índice
da farsa em nome da fama e da fortuna e revela a utilidade das cadeiras de
1 INTRODUÇÃO Sociologia e Antropologia Jurídicas.
Índice
É esse fio antropológico que une os três atos: 1) a pavonice enerve de um
1 INTRODUÇÃO juiz ressentido e alheio ao enorme dano moral e financeiro causado por
sua excentricidade à 2) busca de fortuna ilícita de um político miserável
que envergonha o País, e 3) a condescendência geral com o roubo de ideias
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU em busca de fama, algo ilegal, por um representante da lei, como fosse
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO isso um mal menor. Pelo amor de Deus! Antes que desistamos de tudo,
SOCIAL
lembremo-nos de estudar o “espírito das leis”, cuja parte boa nos lembra:
fiscaliza teu senador.
3 CIÊNCIA JURÍDICA
Resguardadas as exceções, nossa elite é pouco ilustrada, nada burra, mas
lhe falta a grandeza da ambição de ser respeitada. Com todas as variações,
é a ambição de ser respeitado, o ensinamento das grandes nações. Por pa-
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
radoxal que pareça, essa ambição está na cultura da igualdade e da fruga-
lidade, isto é, da vida sem excessos, da parcimônia e da labuta do homem
burguês. É isso e mais algumas coisas não dissonantes disso, que explica a
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO vergonha na cara e o desejo de ser reconhecido por feitos e exemplos, não
pela fortuna às custas do roubo ou do privilégio.
REFERÊNCIAS A frase, segundo a qual, “o Brasil não é um País sério”, foi inadvertidamen-
te atribuída ao então primeiro-ministro francês Charles de Gaule, em 1962,
num episódio tão hilário quanto verdadeiro: o conflito diplomático intitu-
lado Batalha das lagostas. É só procurar na internet. A solução apontada
Índice
pelo Brasil foi risível, para dizer o menos e mereceu o comentário anterior,
1 INTRODUÇÃO mas não de Gaule. Foi do próprio embaixador brasileiro, Alves de Souza,
consternado com a inapetência do Brasil a assumir a condição de uma na-
ção respeitável.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO FONTE: Adaptado de BIRKNER, W. M. K. Um caso de antropologia jurídica. Jornalismo
SOCIAL digital, Canoinhas, região e mais, Canoinhas, 25 out. 2020. Disponível em: https://www.
jmais.com.br/um-caso-de-antropologia-juridica/. Acesso em: 9 dez. 2020.
3 CIÊNCIA JURÍDICA
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
Seguramente, a Antropologia e a Sociologia jurídicas vão muito além das
sugestões temáticas apresentada aqui. O esforço investigativo nessas áreas já
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO nos brindou com muitos temas, incluindo os mais hodiernos e frequentemen-
te abordados, no interior dos estudos identitários contemporâneos. Exemplo
disso, a quem interessar, é o livro Antropologia e direito: temas antropológicos
REFERÊNCIAS
para estudos jurídicos, que trata temas como minorias, gênero, família, identi-
dade, natureza, diversidade, religião, raça, indivíduo, aborto, violência conjugal
entre muitos outros (LIMA, 2012).
Não cabe aqui uma análise pormenorizada sobre as saídas possíveis, mas
sabe-se que dependem do aprofundamento investigativo das leis e suas rami-
REFERÊNCIAS Adepto dessa crítica, o jurista Orlando Villas Boas Filho, professor de Direi-
to da Universidade de São Paulo (USP), afirma que tais ciências são fundamen-
tais à “compreensão da complexidade social na qual se inscreve a regulação
jurídica”, preparando “o futuro jurista para a complexidade que caracteriza a
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Índice
REFERÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO ANTONOV, M. Portraits of Legal Scholars. G.D. Gurvitch: A Project of Sociology
of Law. Law. Journal of The Higher School of Economics, n. 4, p. 63-74, 2014.
Disponível em: https://law-journal.hse.ru/en/2014--4/141117076.html. Aces-
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
so em: 9 dez. 2020.
SOCIAL
BIRKNER, W. M. K. Por que o Brasil cresce pouco? Uma pergunta de tirar o
sono. Revista Brasileira de Desenvolvimento Regional, v. 1, n. 5, 2017. Dispo-
3 CIÊNCIA JURÍDICA nível em: https://proxy.furb.br/ojs/index.php/rbdr/article/view/6562. Acesso
em: 9 dez. 2020.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU DAMATTA, R. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO brasileiro. São Paulo, Rocco, 1997.
SOCIAL
Índice VILLAS BOAS FILHO, O. Antropologia jurídica. In: Enciclopédia jurídica da USP.
Tomo Teoria Geral e Filosofia do Direito. 2017. Disponível em: https://enciclo-
1 INTRODUÇÃO pediajuridica.pucsp.br/verbete/42/edicao-1/antropologia-juridica. Acesso em:
9 dez. 2020.
2 SOCIOLOGIA DO DIREITO (OU WEBER, M. Economia e sociedade. Volume 2. Brasília: UnB, 1999.
SOCIOLOGIA JURÍDICA): FATO
SOCIAL
3 CIÊNCIA JURÍDICA
4 ANTROPOLOGIA JURÍDICA
5 NA FORMA DE CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS