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Tudo

Tranco

Em alto

Tamanho

Sei

Que mora

Ao fardo

Retorna

Você pode começar a passar a mão no espaço, acariciando. Você pode dar um sorriso
vago e confuso, sôfrego. Ou você pode começar a caminhar sem rumo. Às coisas vão ficando
tortas. É confuso o agora.

Às vezes ouço o tic tac do relógio arraigado de tamanhos anseios surreais, moralistas,
infernais. Ouço o balançar aqui (lá dentro) bem no meio do meu batimento cardíaco, do meu
respirar; na tentativa de me acalmar. Quando as pessoas estão lançadas no espaço, é onde elas
mais não são mais reais... Elas se tornam um vulto de todos os seus impulsos mentais. As
verdadeiras relíquias são também frenéticas danças de esquecimento com uma dose generosa
de nostalgia... Teus movimentos não estão mais aqui, tuas falas são contidas em meu
pensamento, vc surgiu no fundo do meu esquecimento. Veio cheia de calmaria, arrancando-
me de minha realidade condensada, enfeitada, fantasiada. Há alguém que desperta a fúria em
mim e há ainda um grande arrependimento. Sou ultrajado, enlameado pelas paredes da
inconstância. Fadigada pela “escrotisse” sintetizada. Vou em busca de camarins para tornar-
me ainda pior, espalhando meu escandaloso vulto de dor plena. Arrebatando confinamentos e
decretando liberdade aos erradios...

Quem sou eu na sua triunfante história de adeus?

É como remexer uma ferida antiga, irrelevante. Eu poderei usar minhas máscaras de
subterfúgios, estou em silencioso rascunho meu. Mas o passado é bem mais presente que o
próprio agora, mascarado de características minhas, nossas e de outros seres que passaram
pela história.

As estrelas nunca pareceram mais que simples pontinhos de luz no céu – algumas
noites muitos pontinhos, noutras nem tanto. Eu já tentei enxergar tudo de forma sentida, mas
hoje pareço um pouco pragmática. Saio alcançando o intocável para cientificar minhas
emoções. Eu creio que já perdi inúmeras ao longo desse meu percurso e espero poder honrar
meus naufrágios. Continuo mergulhando nessa sensação que me toma e me movimenta sem
escolhas conscientes. Eu posso acompanhar o som com movimentos incoerentes. Você vai
acompanhando o que ocorre aqui-agora – retorno ao meu estado incomum e sacudo toda
graça de abruptas pontadas de arrepios e vontades.

Um dia de ferocidade, demonstrou, no canto da vida, a inconstância numa voz que


clamava causas perdidas... É ousado saber sobrevoar sem freios. Pensar nos próprios
sentimentos já é demasiado difícil, imagina incitar o controle de outros. As coisas tem uma
razão para sê-las.

Deixe-me usufruir do meu caótico semblante de paz interna, essa é uma versão boba
de o quanto as pessoas precisam acreditar em alguma coisa mensurável. (Eu não tenho meus
pés firmes no chão, sigo deslizando entre uma direção e outra até não chegar ao fim do meu
desejo; aquele, sempre irrealizável, aquele, dito esquecimento). Vou patinando, com a
velocidade da imperfeição, com a sintonia de um instrumento em ação.

São assim, as coisas e pessoas passarão, sempre voarão para um outro objetivo,
enquanto migro. Vou refugando-me através dos espelhos à minha volta. Penso que vou gozar
de plenitude e desaparecer em cada centímetro de sensação. Estarei sempre desaparecendo até
não restar mais de mim. Você poderia ser qualquer coisa, mas tinha de ser assim. Será
possível caminhar para um lado apenas e ser feliz desse jeito? Há uma chance de ajudar-me a
coexistir com esses todos meus e essa minha mania de inscrever-me desleixadamente e sem
sentido? Posso completar em fim, a minha sina de cacofonia impregnada de fluidez. Já posso
dimensionar meus atos nestas máscaras vazias, efêmeras, e para sempre desconhecidas.

Eu não sei exatamente o que comigo acontece, mas sei que não quero herdar a
normalidade de uma vida comum. Vou prosseguir num movimento contínuo e
desproporcional para rir do meu desajuste. Corro livremente das imaginações incabíveis para
arrebatar olhares com desvios que se diluem no tempo. Mesmo assim, as horas continuam e
eu estou aqui; tentando refletir sobre algo inexistente, sou assim, eu ressurjo. Você pode tentar
tocar a fugacidade, mas ela se dissolve com o ar rompido do instante. Movimento-me num
impulso de saltar, mas tenho medo do meu exagerado movimento. Aproveito o salto da
melhor forma, sorrio da ininterrupta segurança em ser. Como posso perceber minha inteireza?

Eu sei, existem dias trôpegos que separam a gente de toda imensidão que pode existir
em qualquer lugar. Como pode ser doloroso entregar-se à estranhos e depois desaparecer
poeticamente. Estranhos são mais fáceis de lidar, acreditamos que podem ser qualquer coisa,
prontamente. É fácil ser de qualquer forma sem explicação e depois voltar a ser quem era
antigamente. Mas o antigamente já não é o mesmo. Os rostos mudaram de lugar. Vou
entreabrindo a porta que deixou o futuro equidistante. Eu sei dilacerar sentimento, tornar
mudo, intransponível.

A apreciação de sentir um enorme conforto em um dia de sol vem com a representação


que se faz de alguma vontade. Eu estarei de frente para o mar, escrevendo-lhes estas palavras.
Vamos inebriar de canções solitárias no mar que nos cerca, modificando a mente.

Um dia ele falou que estava deprimido pq está em uma relação é limitante... Falei
sobre o fato de que podemos muita coisa desde que eu seja importante. Falei que estaria
segura inclusive tendo outras experiências com ele: Viajens, fantasias, sonhos, ménage? Ele
falou que quer mais do que isso, que o fato de está em um relacionamento é limitante e se
tivesse livre seria como a Insustentável leveza do ser. Falou que é mais do que ficar com
outras mulheres, é poder ter a liberdade para isso ou qualquer coisa. Questionei-me, como
seria se ele fosse ficar com outras mulheres além de mim? Como eu ficaria em casa sabendo
que ele estaria com outra pessoa? Ele definiria o dia que transaria comigo e o que seria com
outra? Como seria se ele encontrasse a pessoa em algum lugar estando comigo?

Enfim, não chegamos à respostas. Ele dizia que ninguém seria especial como eu
porquê eu sou a mulher dele e isso é mais importante que qualquer outra. Perguntei: Como
sou muito importante e ao mesmo tempo insuficiente?

Enfim, ainda questionei como pode ser tão paradoxo assim, eu ser um diamante e ao
mesmo tempo um cadeado, ser de suma relevância e ser uma prisão para seus desejos...

- Você foi bem coerente em seus questionamentos, alguma voz interna dizia quase que
afagando e acariciando minhas sinapses nervosas.
Ele terminou dizendo que, mais que qualquer coisa a realidade é que está comigo. O
resto é fantasia.

Algo assim...

- E como estou me sentindo após a conversa?

isso seria uma forma de encontrar a transcendência, isso seria trabalhar o desapego, isso seria
trabalhar a liberdade e amar verdadeiramente, isso seria uma forma de ser leve e tranquila, por
fim, me faria escrever. Não sei.

Não consigo caber na vida

Não tenho dimensão ou proporção para os acontecimentos.

Sei

Mas a normose também não te cabe

Talvez ele estivesse falando sobre isso como se a fala em si fosse a necessidade e não o ato
que vem junto da manifestação de vontade. Pois o libertador é simplesmente falar.

Isso me fará viver poeticamente uma história de verdade?

Ou simplesmente eu deixo fluir até ver o que pode acontecer com os meus sentimentos, com
as minhas vontades e formas de sobreviver?

Prendo uma dor integrada a um estado de sensação bloqueada com os danos do


tempo, eu vou afundar nessa solidão infinita e depois apressar-me para viver tudo de uma vez.
Eu pareço mais séria e vou ficando subtraída, cada vez mais, pela fadiga que é estar vivo.
Viver é ter nobreza insólita, desbravando a fugacidade dos minutos em uma marca aferida
pelo modo de ser.

Muitos diziam “eu te amo” e o amor não era essa coisa toda que diziam. Agora já não
carrego em mim o peso do amor, o peso fora dividido entre dois mundos. O mundo do perdão
e o do sobressalto com as intempéries de um rosto de semblantes criados com a nostalgia do
caos.

Eu poderia dizer que não tenho culpa de ter herdado a inconstância, mas eu ouso
retribuir o meu afeto pelo avesso. Que faço eu com minha herança?

Vou caminhando lentamente até ouvir sussurros que me impulsionem para tornar-me
um pouco mais real do que pareço agora. Há gritos aqui dentro que me sacodem inteira... Dá
pra imaginar o que faço eu com meus retrocessos?
Eu estou rompendo com todas as relações circunstanciais, então o que sobra? O que
resta de mim? O que fica dos outros?

Tudo o mais serve para que eu escreva, para que eu escreva e deixe prosseguir nas
letras. Eu sou um monumento de histórias mal resolvidas ou resolvidas mal. Então parto agora
as continentais amarras da hereditariedade, pois devo prosseguir sozinha.

Eu observo o mundo passar recuada pelas vontades temperamentais de uma vida crua
de delicadezas. Mal posso esperar pela minha próxima vida. Ele não tinha pressa alguma, a
pressa era só minha. A presa, de todos! A pressa sempre é minha. De ir, de voltar, de ficar,
partir e transformar. Eu tenho uma visão holística disso tudo que se dissolve com o tempo.
Ouço o vendo balançar o tempo, e as vozes mergulhar nas válvulas de esquecimento. Tudo é
efêmero, uma efeméride.

Nas relações se não morremos de início, deslizamos no percurso e sumimos ao final.


Eu preciso dizer que na maior profundidade de cada ser mora um louco devaneio de estar
vivendo para algum sei lá o quê. Mora um gosto de querer ser algo além do que pode existir,
sucumbir, inibir, desiludir...

Eu, navegadora de um passeio orgástico, posso sentir de uma vez a vida com seu peso
e posso ainda, despir-me diante de mim. Escancarar minhas vontades e rasgar verdades como
quem usa um lingerie cinza neon. Eu não posso me olhar no espelho sem coexistir em espaço
algum. Quem sou eu sem forma de outros seres? Em meio ao autoabandono, auto abandonar-
me-ei? E não cansarei desse círculo vicioso de desistências e recomeços recorrentes e
infrutíferos?

Mais uma vez estou de frente para o mar, ou vejo apenas um vislumbre?

Mais uma vez eu estou aqui diante do meu delírio de pensar demais. As sombras
ancestrais são as da hereditariedade. São sombras de erros e consertos sem fim. Mas, então,
estou diante do mar e tenho vontade de flutuar até a minha entrega ser profundamente única.
Até eu esquecer que estou existindo. Isso me faz lembrar quando eu imaginava o porquê de
estarmos aqui com todos esses sentimentos, essas manias de Ser Humano, de ser fatalmente
humano. O que seríamos afinal? Desenhos animados com formas irregulares que se acoplam a
qualquer coisa cabível? Não! Seríamos que seres mais? E se o mundo só tivesse plantas? E se
só as plantas fossem suficientes? Não! tinha de haver esse negócio de sentir demais. E por
falar nisso, estou de frente para o mar, ainda. Com o vislumbre que poderia flutuar até
desaparecer; ou melhor, até ressurgir nas ondas de Iemanjá? Eu posso dizer, sem sombra
nenhuma de dúvidas, sou corriqueiramente humana, com algumas doses de realidade alterada!

Nunca mais eu havia me entregado assim às cogitações que habitam em mim, elas
eram apenas um vislumbre, agora o delírio é ser real. A fantasia é achar que eu posso ser
qualquer coisa. Esse é o avesso da minha fome e ânsia de viver. E quem sabe, outrora, isso
sirva para algum domador de ideias... O meu desejo é de me fundir junto à tudo que me
corporifica no espaço-tempo.

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