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MUNDURUKU, Daniel. O caráter educativo do movimento Indígena. pag. 43 a 58.

São Paulo: Paulinas, 2012.

O capitulo tem o intuito de nos contar acerca do nascimento do Movimento


Indígena e ressaltar a importância dos evento individuais que sucederam após seu
início, é mister lembrar que todos os eventos ocorridos foram de grande valia para o
movimento, pois, somando os acontecimentos teremos a oportunidade de realização
através destes. Essa somatória de eventos tem o nome de possibilidade pois é
observado o ambiente social em que o indivíduo se insere seguindo o que lhe for
mais favorável ao seu desenvolvimento pessoal e coletivo.

A literatura possui uma quantidade considerável (não o suficiente) de obra e


autores engajados nos Movimentos Indigenas e de acordo com Roberto Cardoso de
Oliveira é que o Movimento Indígena é o acontecimento mais relevante na pauta
movimentos sociais dos últimos tempos (p.44). Até meados da década de 60’ havia
um certo preconceito com a palavra índio por parte da comunidade indígena, pois
retrata o desprezo que este povo sofreu e vem sofrendo, sendo taxados de
empecilho ao progresso, como seres antiquados e matutos, devido seus
comportamentos tribais, cultura complexa e incompreendida, características essas
que desenvolveu nos outros uma necessidade de “concertar” aquele povo
“selvagem”. Por não haver contato com outras comunidades indigenas muitas
acabavam por lutar isoladamente por suas reivindicações, situação que mudou a
partir década de 70’, ação que ficou conhecida como simulacro, descrito por Silvia
Caiuby Novaes (p.44) que seria uma representação de si a partir do modelo cultural
do dominador.

Adiante deste marco do inicio dos anos 70’, os primeiros lideres notavam que
a apropriação de códigos impostos era extremamente necessario para intensificar e
alastra suas lutas, não por uma única comunidade mais por todo um povo. A
apropriação em si foi benéfica ao desenvolvimento do movimento, pois além de
mobilizar os povos mobilizou tambem os lideres, e foi criada alianças com outros
expoentes da sociedade civil organizada.

As comunidades tem sua cultura voltada ao conhecimento empírico, a


oralidade e a memória, são conceitos pétreos e gerais, não baseados na unidade
mais sim no coletivo. Voltando o texto alguns parágrafos acima, somos introduzidos
a um modelo de identidade proposto por Silvia Caiuby Novaes (pag. 44) no entanto
para Gilberto Velho a identidade é uma relação de comunicação entre o individuo e
a sociedade com o proposito de atualizar a memoria social. É um processo que
acontece na medida em que os fatos cotidianos vão acontecendo e ambos
(indivíduo e sociedade) aprendem a se impor e expor na medida certa criando sua
identidade propria ou coletiva. Baseado em suas identidades temos o terceiro e
último elemento da tríade que é o projeto, que seria o resgate e a preservação e
suas identidades individuais tendo a finalidade de garantir a continuidade de um
caminho e seguir com o destino especifico e pré-estabelecido e sem ela a visão
social se embranquece e o impede de enxergar, logo, mensurar os contextos e
processos históricos que os rodeiam o que tornaria inconsistente a vontade dos
líderes de gerar e conduzir o movimento indígena sem um projeto.

Antes de falarmos sobre as raízes do movimento indígena é necessario


lançarmos um olhar minucioso sobre a história, tanto do povo indígena quanto dos
agentes colonizadores e suas políticas, afinal o objetivo do livro é traçar a história
indígena e fazer um levantamento dos dados e fatos dos últimos 30 anos. Até então
as comunidades indigenas ainda lutavam por suas causas isoladas e “de repente”
decidiram ir contra o status quo e juntaram suas forças e lutar pelo “inimigo” em
comum. A partir daí constituiu-se um “sentimento de fraternidade indígena” que
segundo Roberto Cardoso seria a reciprocidade com as outras tribos visto que seus
problemas e lutas eram o mesmo (p.46). Com isso o termo índio foi adotado pela
comunidade indígena a passou a ser utilizado como símbolo de resistência pelo
movimento. Durante toda a história essa foi a primeira vez em que os povos
indigenas estabeleceram suas reivindicações e foram lutar por seus direitos e se
fazerem ouvidos. Esse projeto levou aos povos indigenas conquistas imensuráveis
no mercado de trabalho, saúde, educação e etc.

É de conhecimento público que o Movimento Indígena não surgiu do nada na


década de 70’, no entanto esse foi o período foi quando aconteceu o boom do
movimento, com a criação da assembleia dos chefes indigenas, idealizada e
realizada pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), no intuito de reunir os lideres
indigenas de todas as regiões, juntando mais de 200 povos, com o pretexto de
discutirem questoes como a defesa do território indígena, e obviamente as reunioes
não se abstinham apenas a boletins informativos e reivindicações, mais discutia-se
tambem o papel do indígena na historia e como cidadão. Após isso o movimento foi
ganhando cada vez mais repercussão (considerando que a primeira assembleia
contou com 17 lideres apenas) aonde até a Igreja Católica se colocou a favor dos
direitos indigenas, no entanto, pairava sobre o ar atenção pelo conflito de interesse
entre a Igreja, o Movimento Indígena e os apoiadores da ditadura (ver relatorio da
Comissão do Verdade de 2014), após os atritos, em 1980 decidiu-se criar uma
instituições independentes como a União das Nações Indígenas (UNID) e a União
das Nações Indigenas (UNI), aonde posteriormente viria a acontecer as
assembleias, com mais liberdade e sem o mediador entre o Movimento Indígena e o
Estado, tornando as reivindicações mais diretas.

Um dos primeiros atos do grupo recém estabelecido foi abrir os diálogos com
os lideres regionais, locais e com o Estado, construindo assim alianças duradouras
entre os povos. As ações foram em primeira mão mais centralizadas e focadas nas
capitais como São Paulo e Brasília, pois a luta envolvia tambem movimentação e
especulação política, algo que por sinal durou anos. Nos anos 90’ pairava sobre o
movimento uma crescente excitação acerca das promessas que a constituição
recém aprovada os havia feito, inclusive a que previa a demarcação das terras
indigenas dentro de 5 anos, e o balde de água fria veio quando a promessa não foi
cumprida. Neste período houve o surgimento de Instituições que prestavam serviços
ao Governo na área de políticas públicas, sendo algumas delas criadas e dirigidas
por grupos indigenas, segunda a legislação obviamente. De início tudo fluía bem até
haver problemas com a prestação de contas das verbas direcionadas as Instituições,
no entanto que começou sendo um problema se tornou uma benfeitoria pois a partir
disse implementou-se meios para a capacitação dos lideres indigenas na questão de
administração de recursos públicos.

A década de 90’ se tornou importante para a consolidação do movimento


Indígena e seus ideais, afinal a crescente demanda de projetos voltada para as
comunidades indigenas mostrou e provou que este povo jamais foi incapaz ou
ignorante, apenas os faltavam oportunidades e acima de tudo mostrou que suas
vozes estavam sendo ouvida e acatada. No entanto a luta precisava se expandir
para além das regiões, a luta tinha que ser nacional, pensamento este que já estava
sendo articulado na política, situação esta que posteriormente incentivaria a ‘Marcha
Indígena” que juntou cerca de 3.600 indigenas diversos e fizeram uma caravana
intermunicipal onde havia palestras e manifestos para conscientizar os cidadãos não
apenas sobre as causas indigenas mais sim de todos os movimentos sociais. Após a
movimentação da Marcha Indígena houve a “Conferencia Indígena” em Porto
Seguro, durante a comemoração dos 500 anos de “descobrimento” do Brasil foi um
projeto isolado que contou com a participação de mais de 6 mil indigenas da aldeia
Pataxós da Coroa Vermelha e integrantes do Movimento Negro com a pauta “Brasil:
500 anos de resistência Indígena, Negra e Popular- Brasil outros 500” no entanto a
conferencia infelizmente acabou com o conflito entre os manifestantes e os militares.

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