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MARLENE GOMES DE FREITAS

O cuidar na graduação em Enfermagem à luz da


Teoria da complexidade de Edgar Morin

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Ciências da
Coordenadoria de Controle de Doenças da
Secretaria de Estado da Saúde de São
Paulo, para obtenção do título de Mestre
em Ciências.
Área de concentração: Saúde Coletiva.

SÃO PAULO

2005
MARLENE GOMES DE FREITAS

O cuidar na graduação em Enfermagem à luz da


complexidade de Edgar Morin

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Ciências da
Coordenadoria de Controle de Doenças da
Secretaria de Estado da Saúde de São
Paulo, para obtenção do Título de Mestre
em Ciências.
Área de concentração: Saúde Coletiva.

Orientadora: Profa Dra Ana Lúcia da Silva

SÃO PAULO

2005
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pelo Centro de Documentação – Coordenadoria de Controle de Doenças/SES

©reprodução autorizada pelo autor

Freitas, Marlene Gomes de


O cuidar na graduação em enfermagem à luz da teoria da complexidade
de Edgar Morin. / Marlene Gomes de Freitas – São Paulo, 2005.
Dissertação (mestrado)—Programa de Pós-Graduação em Ciências da
Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde
de São Paulo.

Área de concentração: Saúde Coletiva


Orientadora: Ana Lúcia da Silva

1. Filosofia em enfermagem 2. Cuidados de enfermagem 3.


Conhecimento 4. Cuidadores/tendência 5. Educação em enfermagem
5. Assistência à Saude

SES/CCD/CD-083/05
Dedico este trabalho ao meu pai, Raimundo (in memorian) e a
minha mãe, Lindaura, aos quais devo a oportunidade de estar
neste mundo e por me mostrarem o caminho do amor e do
respeito ao outro.
AGRADECIMENTOS

Esta pesquisa resultou de muita luta e esforço, paciência e renúncias,


porém foi muito gratificante e sem a colaboração, incentivo e apoio que
recebi nesta difícil jornada não teria conseguido chegar ao fim dessa
produção científica. Por isso sinto a necessidade de agradecer de modo
especial às pessoas que caminharam lado a lado nesse meu caminho.

A Deus, por ter me iluminado com sua sabedoria e grandiosidade em todo o


percurso de meus estudos.

Ao Santo Expedito, meu amigo mais bondoso pela força, coragem no


momento de solidão.

À Profa. Dra. Ana Lúcia da Silva, pelas orientações, pela paciência nos
momentos difíceis e por acreditar em meu potencial.

À querida minha irmã Marilene Freitas pelo constante apoio e afeto.

Ao Antonio Xavier, pelo companheirismo, cumplicidade, paciência e carinho.

À minha amiga, Simone de Oliveira Camillo, mestra de todas as horas, pelo


estímulo constante.

À amiga Fernanda da Silva, pelo incentivo e por estar sempre disponível nos
momentos de conflitos.

Aos queridos amigos Benedicto Anselmo e Maykon Anderson pela


dedicação, carinho e amizade.

À Dra Ruth Miranda e Dra. Akiko kanazawa pela atenção e pelo apoio.
As amigas Karen e Juliana, pelo apoio e fiel dedicação.

Aos amigos da Secretaria da Pós-Graduação do Instituto de Saúde,


Aparecida Vieira de Melo e Enaura de Almeida pelo carinho e auxílio sempre
que necessário.

A todos o meu muito obrigada.


LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Nomes fictícios dos entrevistados, idade, experiência no


cuidar em enfermagem, tempo de gravação e local das entrevistas na ordem
em que foram coletadas............................................................................... 35
QUADRO 2 – Sinalizadores Pedagógicos complexos .............................39
RESUMO

Freitas, Marlene Gomes de. O cuidar na graduação em Enfermagem à luz


da Teoria da complexidade de Edgar Morin. São Paulo, 2005 122f.
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Ciências
Coordenadoria de Controle de Doenças – CCD - Área de Concentração em
Saúde Coletiva - Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

Os objetivos deste estudo foram: reconhecer, descrever como


graduandos e recém-graduados de enfermagem compreendem o ensino do
cuidar e analisar como identificam o aprendizado teórico-prático do cuidar
em enfermagem à luz da Teoria da Complexidade de Edgar Morin. Trata-se
de pesquisa qualitativa realizada no segundo semestre de 2004 e primeiro
semestre de 2005 em uma Universidade particular da cidade de São Paulo.
Realizamos 12 entrevistas semi-estruturadas. A análise pautou-se na
Análise de Conteúdo de Bardin, na modalidade temática. Identificamos sete
Sinalizadores Pedagógicos Complexos: 1 ensino-aprendizagem para o
cuidar complexo; 2 potencialidades para o cuidar complexo; 3
reconhecimento da complexidade do ser humano para o cuidar; 4 cuidado
humanizado: dimensões; 5 contexto sócio-profissional; 6 a prática do cuidar
complexo; 7 – conceito de cuidar complexo. Os Sinalizadores Pedagógicos
Complexos foram analisados e interpretados a partir dos princípios e das
características do pensamento complexo de Edgar Morin. Percebemos que
algo dinâmico se expressou na narrativa dos entrevistados. Estes
sinalizadores expressaram o modo de ser e do cuidar mesmo sem o
conhecimento direto da Teoria da Complexidade de Edgar Morin. Sendo
assim, há necessidade de refletirmos sobre o ensino de enfermagem para o
cuidar, um ensino que busque a compreensão do humano, do pensar de
forma aberta, globalizada, ética, dialógica, recursiva e hologramática,
direcionando-o para religação dos saberes fragmentados. Os dados nos
remetem a necessidade de repensar como relacionar e inter-relacionar no
cuidar em enfermagem, as partes ao todo e o todo as partes para o “cuidar
complexo”.

PALAVRAS CHAVES: 1. Filosofia em Enfermagem. 2. Cuidados de


Enfermagem. 3. Conhecimento. 4. Cuidadores/tendências. 5. Educação em
Enfermagem. 6. Assistência à Saúde.
ABSTRACT

Freitas, Marlene Gomes de. The care in Nursing Graduate Course under
the Edgar Morin’s Theory of Complexity. São Paulo, 2005 122 pages.
Dissertation (Master Degree) – Post-graduate program in Sciences Diseases
Control Coordination - CCD – Concentration Area Collective Health – São
Paulo State Health Secretary.

The objectives of the present study were: to recognize and describe


how graduate and recently graduated students in Nursing understand the
teaching of care and analyze how the practical-theoretical learning of care is
identified under the Theory of Complexity of Edgar Morin. It is a qualitative
research undertaken during the second term of 2004 and first term of 2005 in
a private University in the city of São Paulo. Twelve semi structured
interviews were made. The analysis was based on Badin’s content analysis,
thematic type. Seven Complex Pedagogical Signals were identified: 1
teaching-learning for a complex care; 2 potentialities for complex care; 3
recognition of human being’s complexity to the care; 4 humanized care:
dimensions; 5 social professional environment; 6 the complex care practice;
7 the complex care concept. The Complex Pedagogical Signals were
analyzed and interpreted from the principles and characteristics of complex
thinking of Edgar Morin. It was noticed that something dynamic was
expressed in the interviewee’s report. Such signals express the way of being
and care even though the Complexity Theory of Edgar Morin is not directly
known. Thus, it is relevant to think of the teaching of Nursing for the care, a
teaching that aims the human being understanding, open minded thinking,
globalized, ethical, with dialogue, recursive and hologramatic, directing to a
re-connection of fragmented pieces of knowledge. The pieces of information
direct us to a need of rethinking how to relate and inter-relate in the Nursing
Care, parts with the whole and the whole with parts to a “complex care”.

KEY WORDS: 1. Philosophy in Nursing 2. Nursing care 3. Knowledge 4.


Care giver/tendencies 5. Nursing Education 6. Health assistance.
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.........................................................................................11

1 - CUIDAR HUMANO EM ENFERMAGEM ............................................. .17

2 - MARCO TEÓRICO .................................................................................20

2.1 - A complexidade Moriniana ...................................................................20

2.2.- A educação e a Teoria da Complexidade............................................ 26

2.3.- A condição humana e a Teoria da Complexidade ..............................28

3 - OBJETIVOS.......................................................................................... 32

3.1 - Geral ....................................................................................................32

3.2 - Específicos ..........................................................................................32

4 CAMINHO METODOLÓGICO .................................................................33

4.1- Cenário e sujeitos da pesquisa ...........................................................34

4.2 - Procedimentos para coleta de dados .................................................36

4.2.1 - Coleta de dados ...............................................................................36

4.3 - Procedimentos para análise de dados ................................... .............37

4.3.1 - Análise de dados ..............................................................................37

5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................39

5.1 Ensino aprendizagem para o cuidar complexo ......................................40

5.2 Reconhecimento da complexidade do ser humano para o cuidar..........43

5.3 Potencialidades para o cuidar complexo................................................47


5.4 A prática do cuidar complexo ................................................................50
5.5 Conceito de cuidar complexo .................................................................54
5.6 Cuidado humanizado: dimensões...........................................................58
5.7 Contexto sócio profissional ....................................................................62

6 - VERDADES PROVISÓRIAS .............................................................66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................72

ANEXO A - TERMO DE CONCORDÂNCIA DA INSTITUIÇÃO................... 75

ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO.........76


ANEXO C - ROTEIRO PARA ENTREVISTA ............................................. 77
ANEXO D - GUIA PARA ANÁLISE DAS ENTREVISTAS........................... 78
ANEXO E - ENTREVISTAS NA ÍNTEGRA .................................................79
APRESENTAÇÃO

“A arte de vida não pode obedecer a uma regra


estabelecida de uma vez por todas. Enfrentou a lei
suprema da vida: tudo o que não se regenera,
degenera. Necessita de uma polirregeneração
permanente” (Morin, 2005 p.138).

É necessário apresentar algumas reflexões para compreender as


inquietações com o tema que fizeram erigir a idéia e propósitos deste
trabalho, bem como, acompanhar esse caminho em direção ao presente
estudo: o cuidar em enfermagem à luz da Teoria da complexidade de Edgar
Morin.
Desde o último ano de minha graduação em 1989, muito tem me
incomodado o saber-fazer em enfermagem. Nesse mesmo ano estagiei em
uma Unidade de Terapia Intensiva para adultos. Uma unidade com 17 leitos,
ocupados por homens e mulheres doentes; profissionais tais como médicos,
enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem e
nutricionistas, circulavam e solicitavam ao mesmo tempo alguma coisa:
prontuários, exames laboratoriais, cânula para aspiração, dietas entre
outras; clientes que diziam, “enfermeira estou passando mal”, outros
apresentavam parada respiratória, os profissionais agitados e barulhentos
pois tinham que falar em tom cada vez mais alto. Apesar da minha
formação acadêmica ter sido influenciada pelo modelo biomédico, não
aceitava esta prática fragmentada, repetitiva que dividia o ser ao invés de
somar. Não compreendia como era possível, conciliar toda a informação,
organizar o que parecia desorganizado para realizar o “cuidar”.
Era notória a preocupação dos auxiliares, técnicos de enfermagem e
enfermeiros em seus procedimentos para os cuidados de higiene corporal,
curativo, medicamentos e outros, entretanto suas preocupações maiores
estavam sempre voltadas ao funcionamento dos equipamentos tais como:
bomba de infusão, respiradores mecânicos, monitores cardíacos, e outros.
Apesar da minha pouca experiência, sabia da ênfase dado ao conhecimento
técnico-científico para o atendimento biológico para manter o ser humano
vivo. O cuidar na Unidade de Terapia Intensiva era tecnicista e mecânico,
desprovido, muitas vezes, dos sentimentos do doente e de seus familiares.
Não compreendia como o cuidado de enfermagem se dava nesse
conturbado ambiente de aparelhos que pareciam ser mais importantes do
que os seres humanos que ali estavam. Em meus pensamentos, pensava:
Como esses profissionais desvalorizavam a si próprios? Pareciam homens
robotizados, programados para uma produção em série. Falavam: “Se parar
parou”, “É paciente terminal”, “Não temos mais nada para fazer”. Ainda
ouvia de familiares: “Tenha paciência com minha mãe”, “cuidem bem
daquela senhora”, “vocês não irão se arrepender”.
Essas situações estimularam minha inquietação em relação a uma
forma de um cuidar distante. Essa inquietude levou-me a refletir sobre como
poderia contribuir para que a enfermagem não passasse de uma relação
padronizada sem estímulo e sem contato físico.
Apesar do meu descontentamento com o saber e fazer em
enfermagem, concluí o curso de graduação e no início de 1990, recebi uma
proposta para trabalhar como enfermeira e por coincidência na mesma
unidade em que havia estagiado.
Enquanto responsável pela unidade, tentava proporcionar harmonia
àquele ambiente e àquele que se entregava aos nossos cuidados. Falava
aos funcionários sobre a importância da equipe de enfermagem em
aproximar-se do paciente, do tocar, ouvir, perceber aquela pessoa que ali
estava necessitando de nosso atendimento. Observava o comportamento e
a ação dos graduandos de enfermagem durante o seu estágio de Unidade
de Terapia Intensiva. Tudo se repetia: a preocupação com as técnicas e
manuseio dos equipamentos sempre em destaque, deixando para segundo
plano o cuidado humano.
No ano de 1997 ingressei na docência. Deparei-me novamente com
um modelo cartesiano-mecanicista, onde as disciplinas eram isoladas e o
ensino prático também reproduzia este mesmo modelo: refletindo um
cuidado desumano e distante prestado pelos graduandos aos pacientes.
Estava claro, em minhas observações enquanto docente, que o
resultado dos procedimentos técnicos era parte de um fazer, mas não de um
cuidar, pois melhorávamos apenas o aspecto físico e biológico, enquanto o
social, espiritual e sua história humana, ficavam em segundo plano.
Nessa mesma época vivi um acontecimento que redirecionou meu
olhar sobre o fazer enfermagem, ao acompanhar meu pai, portador de
neoplasia pulmonar com metástase óssea internado em Unidade de Terapia
Intensiva. Observava, passivamente como recebia os cuidados de
enfermagem: enfermeiros, técnicos em enfermagem e auxiliares de
enfermagem, todos pontuais em seus procedimentos como: troca de cateter,
ministrar medicamentos, cuidados de higiene, aspirações endotraqueais.
Porém era mantido com as mãos amarradas ao leito, como segurança para
que não se extubasse, apesar de sua lucidez e consciência. A equipe de
enfermagem, preocupada com todos aqueles cuidados, não percebia que
ele tentava uma comunicação, através de mímicas faciais como sorriso,
olhares e o polegar com o sinal de “positivo”.
A conduta de uma fisioterapeuta chamou-me a atenção ao soltar suas
mãos. Comunicava-se com ele; falava e perguntava coisas do tipo “o senhor
fumava?”, “Tem muita secreção”, “tenha mais um pouco de paciência”, “logo
iremos tirar esse tubo” e entre uma fala e outra, parou de realizar seus
procedimentos técnicos e solicitou a uma auxiliar de enfermagem uma
seringa e um pouco de café no copo. Continuei a observá-la. Em dado
momento percebeu que ele gostava de café e o ofereceu. Apesar dos vários
reflexos de tosse, era notória a expressão de felicidade em seu rosto.
Percebi então que isso era uma parte do cuidar humano, aonde o todo vai
além da soma das partes, onde cada parte faz a diferença nesse todo.
Estas situações me fizeram refletir sob a necessidade de um novo
pensar, da busca de compreender como os graduandos e recém-graduados
de enfermagem vêem e fazem o cuidar, considerando a subjetividade e o
conhecimento apreendido no decorrer de suas existências. Há necessidade
de despertá-los para uma nova construção do conhecimento que os ajude a
conhecer e reconhecer a multidimensionalidade do ser humano quando
cuida e quando é cuidado. Daí minha preocupação com a formação dos
graduandos e recém-graduados, na busca da conquista de um cuidar
diferente em enfermagem.
Este estudo foi o resultado de uma pesquisa qualitativa, que se
propôs ao estudo do “cuidar em enfermagem”. Buscou investigar, junto a
graduandos e recém-graduados de um curso de Graduação em
Enfermagem, consciências relacionadas ao cuidar à luz da Teoria da
Complexidade de Edgar Morin.
A razão de realizar o estudo tem origem em nossas vivências
profissionais que atestam a existência de uma prática de enfermagem
centrada na doença e na tecnologia material. Não podemos esquecer que
apesar do avanço tecnológico, este não poderá substituir a ação da
enfermeira na busca por conhecimentos e saberes técnico-científicos
relacionados à dimensão do ser humano.
Historicamente, as ciências da saúde e o ato de cuidar estavam
vinculadas à práticas religiosas, alicerçadas em crenças, dogmas e
misticismo. No Egito e na Grécia, as atividades de prevenção e tratamento
eram funções dos sacerdotes, que embora já tivessem conhecimentos
detalhados relacionados ao corpo humano, mantinham a população distante
desses saberes. Na Idade Média, muitas mulheres que conheciam os
processos de tratamento e cura das doenças eram queimadas, sob
acusação de prática de bruxaria.
No final dos séculos XVIII e século XIX consagraram como marco na
evolução da ciência e da tecnologia, a expansão de conhecimentos dos
mecanismos de diagnósticos e tratamento das doenças. Apesar dos
conhecimentos científicos e tecnológicos terem propiciado condições para o
uso, compreensão e avaliação de equipamentos como a bomba de infusão,
respirador mecânico, entre outros, ainda existe uma distância imensa entre o
saber e fazer cuidado na enfermagem. Hoje, estamos sem dúvida, numa
época em que almejamos por solidariedade e respeito às diferenças; busca-
se compreender o mundo por meio de novos paradigmas, uma busca em
direção a satisfação consigo e com os outros, para melhor compreender a
vida e a dimensão humana. Em pleno século XXI acreditamos que é
chegado o momento de pensar e repensar o formal e informal na formação
de futuros enfermeiros destacando a importância do ensino para o cuidar,
que passa desapercebido diante da parafernália tecnológica dos hospitais.
Necessitamos propiciar além do ensino do cuidado técnico, um ambiente de
reflexão para aprimorar a excelência do ensino para o “cuidar complexo” em
enfermagem.
Fazer enfermagem não é só dar medicamentos ou aliviar o sofrimento
físico. Da mesma forma que fazer enfermagem não é uma idéia ou algo
apenas imaginado em que o outro não é sentido, sua natureza não é
percebida e suas experiências não são consideradas. Fazer enfermagem é
cuidar do outro é cuidar do eu, é perceber, é se preocupar e estar com outro,
é estar para ouvir, ver, experimentar e conhecer.
No senso comum, a palavra cuidar denota uma ação, um significado de
fazer alguma coisa: Cuidar é confortar, alimentar, tocar, aliviar a dor, ouvir,
hidratar, medicar, tratar e preparar para curativos, cirurgias, exames e para a
morte.
Buscando elucidar as reflexões apresentadas, surgiu o problema
desse estudo, o cuidar em enfermagem. É importante informar que cuidar
é conhecido como papel específico e definidor da enfermagem.
Historicamente falando, a enfermagem sempre se caracterizou por cuidar de
pessoas. Mas, o que é esse cuidar? Para compreendermos o propósito do
objeto desse estudo, iniciamos por perguntar qual o interesse pelo cuidar.
Por que a atenção à necessidade do outro.
A necessidade de mais e mais conhecimento e o compromisso em
contribuir com a melhoria das atividades desenvolvidas na universidade em
que trabalho impulsionou-me à realização do mestrado. Busquei
conhecimentos em outras áreas do saber, participando de um grupo de
estudo, voltado para área da educação. O ingresso no mestrado acentuou
ainda mais minhas indagações sobre o cuidar em enfermagem. Ao cursar, a
disciplina “Cuidar em Saúde”, na área de concentração de Saúde Coletiva,
que tem como referencial teórico a Teoria da Complexidade de Edgar Morin,
deparei-me com a análise crítico-reflexiva sobre “As diversas faces do cuidar
em Saúde” (Silva e Ciampone, 2003). Desde então, através dos escritos de
Edgar Morin as minhas inquietações foram abrandadas e ficaram mais
claras, pois este autor me deu mais compreensão sobre como fazer melhor
para aprender, ensinar e aprender apreender.
O pensamento complexo de Edgar Morin propõe uma epistemologia
da complexidade contrapondo-se ao pensamento simplificador, incapaz de
exprimir a unidade e a diversidade presente.
Desse modo na busca por saber de que modo graduandos e recém-
graduados de enfermagem compreendem ou percebem o “cuidar” em
enfermagem interrogamos: Como compreendem o ensino do cuidar? Como
identificam o aprendizado teórico-prático do cuidar em enfermagem à luz da
Teoria da Complexidade de Edgar Morin?
Fazem-se necessárias novas formas de pensar, sentir e agir sobre o
cuidar. O cuidar é o verdadeiro instrumento dos profissionais enfermeiros. O
“ser que cuida”, ao se manifestar ao outro, transmite este estado de espírito
que penetra nesta relação e possibilita o encontro com o outro. (Heidegger,
1988).
Esse é o momento da intersubjetividade, quando um ser procura
desvendar o outro. É uma atitude que vai além de executar técnicas,
administrar medicações ou aliviar o sofrimento físico. Cuidar em
enfermagem não é apenas uma idéia ou algo imaginário, onde o outro não é
sentido, sua natureza não é percebida e suas experiências são ignoradas.
Fazer enfermagem é cuidar do outro e do eu, estar para ouvir, ver, sentir e
conhecer. É envolver-se, preocupar-se, estar com o outro no lugar do outro e
perceber suas necessidades, fisiológicas como emocionais proporcionando-
lhe conforto e segurança.
Considero esse trabalho inacabado por tratar-se do ensinar e
aprender a cuidar do ser humano.
CAPÍTULO 1
O CUIDAR HUMANO EM ENFERMAGEM

A enfermagem tem o cuidado como seu foco principal e não deve ser
analisada isoladamente de suas raízes. Historicamente, a Enfermagem
sempre se caracterizou por cuidar de pessoas.
Mas, que cuidar é esse? Consideramos que a essência da profissão
de Enfermagem é o “cuidar” e envolve dimensões do ser humano com
ênfase na promoção da saúde física e mental.
O enfermeiro lida diretamente com o processo saúde-doença, portanto
deve em todos os momentos promover a saúde, repensando o cuidar físico
como o psíquico. O cuidar, enquanto prática, é tão antigo quanto a
existência humana, mas, no entanto, apenas na segunda metade do século
XIX se estabelece como profissão, a partir de Florence Nigthingale na
Inglaterra, que proporcionou melhores condições de higiene, contribuindo
para o funcionamento dos hospitais e a cura das pessoas. Seus
ensinamentos foram aplicados, resultando na diminuição do índice de
mortalidade da época.
Passados 150 anos do marco Nigthingaleano e por mais que a
tecnologia material avance nas instituições de saúde, será difícil inventar
máquinas que consigam substituir os profissionais de enfermagem que
prestam cuidado com o olhar, o sorriso, o toque e a escuta, permitindo às
pessoas cuidadas falarem de suas vidas, suas famílias, seus passados,
seus medos da morte, de não se recuperarem, seus arrependimentos,
mágoas, esperanças e planos.
Horta (1979, p.3) afirma que cuidar é atender às necessidades
humanas básicas intrinsecamente ligadas ao ser humano, que necessita de
cuidados de outros seres humanos. Desse encontro do Ser-enfermeiro com
o Ser-cliente surge uma interação resultante das percepções, ações que
levam ao cuidar em enfermagem.
Nunes (1995) refere que cuidar é o resultado de um momento anterior
que se caracteriza por se estabelecer um estado interior, um sentir-se “estar
com o outro”. Para a autora compreender o cuidar é o enfoque central do
fazer do enfermeiro.
Com relação ao cuidar em enfermagem, Silva AL. (1996) refere que o
cuidar é um processo de interação dinâmica, única, intuitiva e criativa.
Gamboa (1997) afirma que cuidar é o resultado de um processo no
qual, delicadamente, se conjugam sentimentos, valores, atitudes e princípios
científicos com o objetivo de satisfazer os indivíduos nele relacionados.
Para Boff (1999) o cuidado se opõe ao descuido e ao descaso, pois
cuidar é mais que um ato é uma atitude. O cuidar abrange mais que um
momento de atenção, de zelo e de desvelo, o cuidado representa uma
atitude de ocupação, preocupação, de responsabilidade e de envolvimento
afetivo com o outro. Afirma que o cuidado se encontra na raiz primeira do ser
humano, antes que ele faça qualquer coisa, sem o cuidado, ele deixa de ser
humano. Se não receber cuidado, desde o nascimento até a morte, o ser
humano desestrutura-se, perde sentido e morre.
O cuidado humano consiste em uma forma de viver, de ser, de se
expressar. É uma postura ética e estética frente ao mundo. “É um
compromisso com o estar no mundo e contribuir com o bem estar geral, na
preservação da natureza, da dignidade humana e da nossa espiritualidade.
É contribuir na construção da história, do conhecimento, da vida” (Waldow,
2001, p.129).
Se, ao longo da vida, não fizer com cuidado tudo o que empreender,
acabará por prejudicar a si mesmo e por destruir o que estiver à sua volta.
Por isso, o cuidado deve ser entendido na linha da essência humana; o
cuidado há de estar presente em tudo. Nas palavras de Martin Heidegger:
“cuidado significa um fenômeno ontológico-existencial básico. Traduzindo:
um fenômeno que é a base possibilitadora da existência humana enquanto
humana” (Boff, 1999, p. 34).
Para Constanaro (2001, p. 29) “ter cuidado com alguém ou alguma
coisa é um sentimento inerente ao ser humano, ou seja, é natural da espécie
humana, pois faz parte da luta pela sobrevivência e percorre toda a
humanidade”.
Após esse conjunto de pensamentos, retomamos a reflexão sobre o
“cuidar”. Todo ser humano deve ser cuidado para continuar a existir.
Devemos buscar na educação, enquanto formação para o profissional
enfermeiro, recursos pedagógicos que caminhem para o cuidar humano.
A realidade nos coloca a necessidade de reflexão sobre novos
pensamentos, novas posturas e comportamentos, em encontro a grandes
mudanças decorrentes da globalização e do desenvolvimento tecnológico
científico. Compreendemos que é necessário o ganho de habilidades,
capacidades físicas e biológicas para acompanharmos o avanço da
tecnociência e a evolução humana.
Nesse novo século, novos paradigmas são questionados, levando a
necessidade da transdisciplinaridade, que visa incentivar a comunicação
entre as diversas áreas do saber e a busca por relações entre os campos de
conhecimento. Nesse sentido, percebemos nos docentes de enfermagem
pouco interesse por saberes transdisciplinares; por conseguinte,
intervenções são necessárias para caminharmos rumo à essência da
Enfermagem enquanto profissão do Cuidar Humano.
.
CAPÍTULO 2
MARCO TEÓRICO

“O cérebro existe num corpo, o corpo existe no mundo


e o organismo age, move-se, caça, reproduz-se,
sonha, pensa. É dessa atividade permanente que
emergem o sentido de seu mundo e as coisas...”.

Francisco Varela

2.1 A complexidade Moriniana

Para o estudo em questão optou-se pela Teoria da Complexidade de


Edgar Morin. Entendemos que é preciso substituir um pensamento que isola
e separa por um pensamento que distingue e une. É preciso substituir um
pensamento disjuntivo e redutor por um pensamento complexo.
O pensamento que é complexo não pode ser linear. O pensamento
complexo integra os modos de pensar, opondo-se aos mecanismos
reducionistas. Assim,

“a complexidade do pensamento leva-nos ao


paradoxo do uno e do múltiplo e à convivência
com a ambivalência. Cabe ao homem, através do
conhecimento, interpretar os aspectos ambíguos
da realidade, sem desconsiderar sua
multidimensionalidade, levando em conta a
inseparabilidade entre o pensamento e ação”
(Petraglia, 2001, p.23).
O pensamento complexo é o pensamento que compreende que o
conhecimento das partes depende do conhecimento do todo e que o todo
depende do conhecimento das partes, que enfrenta a incerteza, que une,
que substituirá a causalidade linear e unidirecional por uma causalidade em
círculo; corrigirá a rigidez da lógica pelo dialógico1 capaz de conceber
noções ao mesmo tempo complementares e antagonistas, ligará a
explicação à compreensão em todos os fenômenos humanos (Morin, 2004,p.
89).
O novo paradigma da Complexidade2 apresenta-se como um
movimento que analisa o mundo, as relações norteadoras do saber e os
princípios científicos-acadêmicos com os quais são decodificadas a dinâmica
ambiental e as transformações e interações dos componentes biológicos,
físicos e químicos que constituem os ambientes e cosmos, bem como as
interações psicobiológicas, sociais e transcendentes dos humanos.
A Complexidade é a qualidade do que é complexo. O termo vem do
latim: complexus, que significa o que abrange muitos elementos ou várias
partes, o que é tecido junto. A base da epistemologia da complexidade
desenvolvida advém de três teorias que se inter-relacionam: a teoria da
informação, a cibernética e a teoria dos sistemas. A teoria da informação se
ocupa essencialmente de analisar problemas relativos à transmissão de
sinais no processo comunicacional. A cibernética é a ciência que estuda as
comunicações e seus controles, em que a causa atua sobre o efeito, que por
sua vez atua sobre a causa. E a teoria dos sistemas afirma que o todo é
mais que a soma das partes, indicando que o todo é também menos que a
soma das partes, pois a parte tem qualidades que são inibidas pelo todo
(Morin, 2003b, p.216).

________________
1
O termo dialógico quer dizer une que duas lógicas, dois princípios que deviam excluir-se
reciprocamente, mas, são indissociáveis em uma mesma realidade. ... a dialógica permite assumir
racionalmente a inseparabilidade de noções contraditórias (Morin, 2004, 9.96).
2
Paradigma de complexidade ao conjunto dos princípios de intelegibilidade que, ligados uns aos
outros, poderiam determinar as condições de uma visão complexa do universo (físico, biológico,
antropossocial (Morin, 2003b, p.330).
Um aspecto importante da Teoria da Complexidade é percebermos
que a complexidade incorpora as noções de ordem, desordem e
organização presentes em todos os sistemas. Ordem-desordem é uma
relação inseparável, é um processo fundamental para a evolução do
universo e é norteador da relação dialógica e ao mesmo tempo una,
complementar, concorrente e antagônica (Morin, 2003a, p. 195).
A noção de complexidade dificilmente pode ser conceituada. Por um
lado porque está emergindo e por outro porque não pode deixar de ser
complexa (Morin, 2003b, p.305). Podemos comprovar na resposta de uma
criança quando em sua escola foi questionada se sabia o que era
complexidade, ela respondeu: - “Complexidade é uma complexidade que é
complexa” (Morin e Lê Moigne, 2000).
Edgar Morin propõe uma reforma da maneira de pensar das pessoas.
Uma reforma que supere o reducionismo, pois esse impende às pessoas de
compreender a complexidade da realidade, incluindo aí o próprio homem.
Ele propõe o que se denomina Pensamento Complexo3 (Morin, 2002).
A reforma necessária do pensamento é aquela que gera um
pensamento do contexto e do complexo. Segundo Morin,

“o pensamento contextual busca a relação de


inseparabilidade e as inter-retroações com o
contexto planetário. O complexo requer um
pensamento que capte relações, inter-relações,
realidades que são ao mesmo tempo solidárias e
conflitivas como a própria democracia que é o
sistema que se nutre de antagonismos e, que
simultaneamente os regula; que respeite a
diversidade, ao mesmo tempo em que a unidade;
um pensamento organizador que conceba a
relação recíproca entre todas as partes” (Morin,
Silva e Glodet, 2002, p.19-20).
_______________
3
Pensamento Complexo é aquele em que todo conhecimento das informações ou de dados é
contextualizado, globalizado, tem caráter multidimensional, liga e enfrenta a incerteza, une e substitua
a causalidade unilinear e unidirecional por uma causalidade em círculo e multirreferencial. Corrige a
rigidez da lógica pela dialógica, capaz de conceber noções ao mesmo tempo complementares e
antagônicas. É a união entre a unidade e multiplicidade (Morin, 2000.p.13.
A reforma do pensamento deverá ser capaz de evoluir da lógica
clássica à dialógica complexa, que consiste na superação das
especializações que levou a fragmentação da cultura científica e humanista.
Deve-se superar o predomínio do conhecimento científico cuja
importância é inegável, mas que, por si mesmo não dá conta de todas as
necessidades de compreensão do ser humano (Morin, Silva e Glodet, 2002,
p.19-20).
O novo paradigma da complexidade, grande norteador do sentir,
pensar e agir humanos, não se reduz à complexidade a uma idéia clara e
distinta passível de ser definida como no paradigma cartesiano. Como na
vida não há certezas absolutas, não podemos nos livrar das incertezas.
(Morin, 2002, p. 61).
Morin (2004, p.93) apresenta sete princípios básicos, a base da
epistemologia da complexidade. São complementares e interdependentes e
capazes de explicar o que há de mais complexo no universo.

Primeiro Princípio - Dialógico: consiste em manter a unidade. O


desafio é unir noções antagônicas, ou seja, unir o que aparentemente
deveria repelir-se simultaneamente. Unir o indissociável. Com isso o
indivíduo ao se transformar, estará também transformando o meio ambiente
e a sociedade. (Morin, 2004, p.95).

Segundo Princípio - Hologramático: Assim como num holograma,


cada parte contém praticamente a totalidade da informação do objeto
representado. Uma parte não está somente dentro do todo. O todo está
também dentro da parte. O indivíduo não está somente dentro da sociedade,
mas a sociedade, enquanto “todo”, está também dentro do indivíduo. Como
exemplo, cada célula do nosso organismo contém a totalidade do código
genético do nosso corpo. (Morin, 2004, p.94).

Terceiro Princípio – Retroativo: consiste em romper com o princípio


da causalidade e linearidade, onde a causa age sobre o efeito e o efeito
retroage sobre a causa. Exemplificando, a própria sociedade retroage para
produzir os indivíduos por meio da educação, linguagem e escola. “A técnica
produzida pelas ciências transforma a sociedade, mas também
retroativamente, a sociedade tecnologizada transforma a própria ciência”,
(Morin, 2004.p.94).

Quarto Princípio – Recursivo ou Recorrente: é um princípio que vai


além da pura retroatividade, noção de regulação com as de auto-produção e
auto-organização, do ponto de vista biológico, traduz que o indivíduo é ao
mesmo tempo produto e produtor. Os efeitos e os produtos são necessários
ao processo que os produz. O produto é produto daquilo que o produz.
Exemplificando, o ciclo de reprodução, ao se acasalar com o indivíduo de
outro sexo, torna-se produto de uma reprodução, contudo ainda produto
(Morin, 2004, p.95).

Quinto Princípio – Autonomia/dependência: este princípio refere a


concentração do ser humano em si, na capacidade de auto-organizar e se
auto-produzir para seu processo vital. A autonomia do indivíduo depende
da formação cultural e da energia que captamos biologicamente do
ecossistema. Portanto, para a sobrevivência da espécie, por exemplo, todo
organismo vivo depende da matéria, energia e informação de organização
de outro ser vivo para poder continuar sua perpetuação (Morin, 2004, p.95).

Sexto Princípio - Sistêmico organizacional: permite religar o


conhecimento das partes com o desenvolvimento do todo e vice-versa.
Como dizia Pascal, “considero impossível conhecer as partes sem conhecer
o todo, assim como conhecer o todo sem conhecer particularmente as
partes” (Morin, 2004, p.93).

Sétimo Princípio - Reintrodução do conhecimento em todo


conhecimento: esse princípio opera a restauração do sujeito e revela o
problema cognitivo central, ou seja, da percepção à teoria científica, todo
conhecimento é uma reconstrução, uma tradução feita por uma mente, um
cérebro em sua cultura. Segundo Morin (2004, p.96), “a reforma do
pensamento é de natureza não programática, mas sim paradigmática porque
concerne a aptidão dos seres humanos para organizar o conhecimento”.
Para Morin (2003b, p. 98) “O conhecimento não se reduz a informações, ele
precisa de estrutura teórica para dar sentido às informações”. Ao
recebermos muitas informações com estruturas mentais insuficientes,
cairemos no desconhecimento, pois o conhecimento é sempre tradução e
construção.
A vida contemporânea nos coloca a possibilidade da reflexão sobre a
necessidade de novas posturas de comportamentos que sejam influenciados
pelo modo de pensar, o que determina as práticas que se estabelecem e se
desenvolvem nas sociedades. É preciso re-introduzir o papel do sujeito
observador em todo o conhecimento, pois esse não reflete a realidade, ele
constrói a realidade.
Precisamos conhecer o conhecimento, pois sabemos que o
conhecimento não é o acúmulo de dados ou informação, mas sim sua
organização. Trata-se com isso de uma construção que é incerta porque o
sujeito encontra-se inserido na realidade que pretendemos conhecer.
Compreendemos que é necessário conhecer o conhecimento
científico. A ciência que desenvolve metodologias tão surpreendentes e que
separa os objetos dos indivíduos necessita de novos paradigmas para
construção do conhecimento e da sobrevivência humana.
O pensamento complexo não é uma nova lógica e sim o que rompe a
ditadura da simplificação. Pensar na epistemologia de complexidade tornou-
se necessário quando nos deparamos com a necessidade de articular,
relacionar e contextualizar.
O pensamento complexo só pode ser entendido por uma mente
aberta, flexível que não reduz a multidimensionalidade a explicações
simplistas (Morin, 2004, p.88).
2.2 A educação e a Teoria da Complexidade

Inicialmente pensamos em buscar no ensino-aprendizagem o ensino


do cuidar em enfermagem. A missão primordial do ensino para o cuidar em
enfermagem implica muito mais em aprender a religar do que, aprender a
separar, o que foi feito até o presente. A compreensão de si e do outro
como uma promessa para o cuidar em enfermagem, substituir o que isola e
o que fragmenta o saber e o sentir.
O saber hoje se encontra parcelado e disperso, herança do
desenvolvimento técnico e científico originado no século XIX, devemos
repensar numa perspectiva de complexidade. (Petraglia, 2001, p. 22).
A educação deve levar em conta a complexidade do real, a
importância das relações das partes que integralizam os todos.
Precisamos buscar na educação a base para o pensamento complexo,
tendo visto que somente com essa aprendizagem conseguiremos sair do
estado de desarticulação e fragmentação do saber. A reforma do
pensamento deve levar a reforma do ensino (Morin, 2004, p.20).
Digamos que, até o presente, o que domina é um paradigma
cartesiano que é o que separa. No ser humano, por exemplo, existe a
dimensão biológica que direciona o modo de ensino na saúde. Morin fala
que para ser professor é importante religar as questões a partir do ser
humano, mostrando seus aspectos biológicos, psicológicos, sociais.

“...a atitude de contextualizar e globalizar é uma


qualidade fundamental do espírito humano que o
ensino parcelado atrofia...o conhecimento
pertinente é aquele que é capaz de situar toda a
informação em seu contexto e, se possível, no
conjunto global no qual se insere.O conhecimento
deve mobilizar não apenas uma cultura
diversificada, mas também a atitude geral do
espírito humano para propor e resolver problemas
(Morin, 2000, p,13).
Numa era globalizada, com intensidade e a rapidez das informações
tecnológicas e científicas, tornou-se impossível a absorção de tantos
conhecimentos. Nesse sentido Minayo (1996) alerta para as propostas de
novos valores e amplas perspectivas.
Há necessidade de que aprimoremos o conhecimento. Precisamos
formar profissionais criativos, com habilidades, reflexivas e interativas para o
cuidar de pessoas.
A educação precisa ser repensada a partir de uma visão totalizadora,
já que nossa formação escolar e, mais ainda, a universitária nos ensinam a
separar os objetos de seu contexto, as disciplinas uma das outras. A
separação e fragmentação das disciplinas são incapazes de captar “o que
está tecido em conjunto”, isto é, o complexo (Morin, 2000, p. 11).
Desse modo, o ensino superior deixará de ser tão somente formador
de profissionais e técnicos para facilitar ao sujeito revisitar seu destino como
cidadão sensível. “Não se trata apenas de modernizar a cultura, mas de
culturalizar a modernidade” (Morin, 2000, p. 10).
Ao valorizar o sensível na formação, estaremos facilitando a religação
das disciplinas, estaremos re-emergindo, na modernidade, a cultura
humana.
A enfermagem como profissão firmou-se de forma significativa nesse
último século XX, na área científica de prestação de serviços, voltado ao
cuidado do outro.
Após essas considerações é oportuno ressaltar a importância do
ensino-aprendizagem em romper as cegueiras do conhecimento, como
próprio Morin brindou-nos como uma profunda reflexão: Os sete saberes
Necessários à Educação do Futuro, a saber:

“... as cegueiras do conhecimento: o erro e a


ilusão, os princípios do conhecimento pertinente,
ensinar a condição humana, ensinar a identidade
terrena, enfrentar as incertezas, ensinar a
compreensão, e a ética do gênero humano –
constituem eixos e, ao mesmo tempo caminhos
que se abrem a todos os que pensam e fazem
educação... (Morin, 2003c, p.12)”.
É na educação que podemos caminhar do reducionismo, do
pensamento sistêmico ao pensamento “complexus” sobre o cuidar de
pessoas, onde o todo é mais que a soma das partes e as partes, é mais
nesse todo.
Portanto, o professor deverá ter potencialidades para transmitir
ao aluno o que a humanidade já aprendeu acerca de si mesmo e da
natureza.

2.3 A condição humana e a Teoria da Complexidade

De acordo com Morin para que se pense o humano precisamos


conhecer o que desconhecemos do humano. Precisamos entender “Quem
somos?”, “onde estamos?”, “de onde viemos e para onde vamos?”, conhecer
o humano não é expulsá-lo, mas aí situá-lo (Morin, 2003a, p.25).
“... a terra se autoproduziu e auto-organizou na
sua dependência ao sol e tornou-se biofísica
complexa a partir do momento em que se
desenvolveu bioesfera, Da terra efetivamente,
originou-se á vida, e do desenvolvimento
multiforme da vida policelular originou-se a
animalidade; por fim o mais recente
desenvolvimento de um ramo do mundo animal
tornou-se humano” (Morin, 2003a, p.29).

A importância da hominização é primordial à educação para condição


humana, por que nos mostra como a animalidade e a humanidade
constituem juntas, nossa condição humana (Morin, 2003c).
Para Morin (2003c, p.48) devemos reconhecer nosso duplo
enraizamento no cosmos físico e na esfera viva e, ao mesmo tempo nosso
desenraizamento propriamente humano. Estamos simultaneamente dentro e
fora da natureza. “Somos originários do cosmos, da natureza, da vida, mas,
devido à própria humanidade, à nossa cultura, à nossa mente, à nossa
consciência, tornamos-nos estranhos a este cosmos”.
“... o ser humano nos é revelado em sua
complexidade: ser ao mesmo tempo biológico e
cultural, o cérebro do qual pensamos, a boca, pela
qual falamos, a mão, que escrevemos, são
totalmente biológicos e ao mesmo tempo culturais
no ser humano” (Morin, 2004, p.40).

A partir daí, como um ponto de holograma traz, no âmago de nossa


singularidade, não somente toda a humanidade e toda a vida, mas também
quase todo o cosmos, incluindo seu mistério, que sem dúvida, jaz no fundo
da natureza humana (Morin, 2004, p. 41).
O ser humano define-se como trindade indivíduo/sociedade/espécie: o
indivíduo é um termo dessa trindade que contém o outro.
“... não só os indivíduos estão na espécie, mas
também a espécie está nos indivíduos, não só os
indivíduos estão na sociedade, mas a sociedade
também está nos indivíduos...os indivíduos são os
produtos do processo reprodutor da espécie
humana, mas este processo deve ele mesmo ser
produzido pelos indivíduos” (Morin, 2003a, p. 52).

Para entendermos a noção de sujeito é importante termos ciência da


relação com o outro, faz parte de uma relação dialógica que o torna
propriamente humano sendo meio e fim uns dos outros. A unidade não está
apenas nos traços biológicos da espécie homo sapiens, a diversidade não
está apenas nos traços psicológicos, culturais, sociais do ser humano. Morin
nos alerta que a diferença de indivíduo para indivíduo, é o fato que cada
indivíduo é um sujeito4 (Morin, 2003a, p. 74).

_____________
4
Sujeito supõe um indivíduo, mas a noção de indivíduo só ganha sentido ao encontrar a noção de
sujeito. A definição primeira do sujeito deve ser bio-lógica. Trata-se de uma lógica de auto-afirmação
do indivíduo vivo, pela ocupação do centro do seu mundo, o que corresponde literalmente à noção de
egocentrismo. Ser sujeito implica situar-se no centro do mundo para conhecer e agir... Como cada
indivíduo vive e experimenta-se como sujeito, essa unicidade singular é coisa humana mais
universalmente partilhada. Ser sujeito faz de nós seres únicos, mas essa unicidade é o aspecto mais
em comum. (Morin, 2003a, p.74-75).
Para restaurar a noção de sujeito é preciso pensar que toda
organização biológica necessita de uma dimensão cognitiva, onde os genes
constituem um patrimônio hereditário de natureza cognitiva/informativa da
célula.
Morin (2003a, p. 53) fala em todo comportamento humano: atividades
biológicas, espirituais e corporais. Faz analogia do indivíduo com o ponto do
holograma5 que conserva o todo da espécie, da sociedade, porém mantêm
sua singularidade.
A definição biológica do que é sujeito, faz comparação do egocentrismo
inato à condição humana e que este é, em parte, responsável pela
singularidade do “sujeito” humano. De forma quase poética podemos viajar
pelas inúmeras variáveis que subsidiam a idéia de que mesmo o todo
humano é composto por milhões de partes que se integram e combinadas
dão a forma total.
O todo é a forma direta de expor as partes, o homem somente se realiza
como ser humano pela cultura e na cultura “Não há cultura sem cérebro
(aparelho biológico de competência para agir, perceber, saber, atender, mas
não há mente (mind) isto é, a capacidade de consciência e pensamento sem
cultura” (Morin, 2003c. p. 52).
O fator cultura, torna a discussão ainda mais ampla e complexa, se
analisada sobre diversas óticas religiosas, várias concepções para o
fundamento humano. As culturas surgiram e influenciaram suas sociedades,
mesmo em caso de grandes miscigenações, como ocorre no Brasil. Isso
define a idéia de que “O outro é virtual em cada um e deve atualizar-se para
que cada um se torne si mesmo”, “A necessidade do outro é radical”; mostra
a incompletude do Ego/Eu sem reconhecimento, amizade, amor
(Morin,2003a, p.78).

_______________
5
Holograma é a imagem física cujas qualidades de relevo, de cor e de presença são devidas ao fato
de cada um dos seus pontos incluírem quase toda a informação do conjunto que ele representa
(Morin, 2003b, p.181).
Diante disso o indivíduo torna-se irredutível, sendo aberrante qualquer
tentativa de dissolvê-lo na espécie e na sociedade. O indivíduo humano
dispõe das qualidades do espírito, de uma superioridade em relação à
espécie e sociedade, pois tem consciência e a plenitude da subjetividade.
Atrelado a essas idéias, Morin (2003c, p. 63) fala que é preciso
compreender a condição humana no mundo como a condição do mundo
humano. A compreensão humana chega quando sentimos e concebemos os
humanos como sujeito. O sujeito humano é complexo por natureza e por
definição.
Trata-se de compreender que a unidade é múltipla e que o múltiplo é
uno. O ser humano apresenta uma unidade genética comum a todos por
isso é uno e múltiplo simultaneamente. E nesse contexto concordamos com
Morin quando define o homo complexus.

“... se o homo é, ao mesmo tempo, sapiens e


demens, afetivo, lúdico, imaginário, poético,
prosaico, sé é um animal histérico, possuído por
seus sonhos e, contudo, capaz de objetividade,
de cálculo, de racionalidade, é por ser homo
complexus. O ser humano é um ser racional e
irracional, capaz de medida e desmedida; sujeito
de afetividade intensa e instável. Sorri, ri, chora,
mas sabe também conhecer com objetividade; é
sério e calculista, mas também ansioso,
angustiado, gozador, ébrio, extático; é um ser de
violência e de ternura. De amor e de ódio; é um
ser invadido pelo imaginário e pode reconhecer o
real, que é consciente da morte, mas que não
pode crê nela; que secreta o mito e a magia, mas
também a ciência e a filosofia; que é possuído
pelos deuses e pelas idéias, mas que duvida dos
deuses e crítica as idéias; nutre-se dos
conhecimentos comprovados, mas também de
ilusões e de quimeras Morin (2003a, p. 140;
2003c, p.59-60).

Dessa forma é preciso conhecer o complexo do humano para


conceber o cuidar humano em enfermagem, o cuidar complexo.
Ao sinalizar estas considerações do marco teórico, apresentamos a
seguir os objetivos desta pesquisa.
CAPÍTULO 3
OBJETIVOS

3.1 Geral
¾ Reconhecer como o graduando e recém-graduado de enfermagem
compreendem o ensino do cuidar na óptica da complexidade de Edgar
Morin .

3.2 Específicos

¾ Descrever como o graduando e recém-graduado compreendem o ensino


do “cuidar”.
¾ Analisar como o graduando e recém-graduado de enfermagem
identificam o aprendizado teórico-prático para o cuidar complexo.
CAPÍTULO 4
CAMINHO METODOLÓGICO

O método se aplica sempre a um idéia. E não há um


método para caçar idéias. Ou, o que dá na mesma,
com as idéias tudo é válido: a analogia, o plágio, a
inspiração, o seqüestro, o contraste, a contradição, a
especulação, o sonho, o absurdo (...)
Jorge Wagensberg

Trata-se de uma pesquisa qualitativa. Esse tipo de pesquisa tem como


objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, aprimoramento de
idéias, descoberta de intuições e descrição das características de
determinada população ou fenômeno (Gil, 1991).
A pesquisa qualitativa baseia-se em concepções amplas, que não
aceitam que o indíviduo seja estudado de maneira fragmentada, trazendo a
idéia de que a compreensão da totalidade deve ser considerada não só
individualmente, mas também, nas inter-relações com o outro e o meio,
sobretudo, a comunicação entre os sujeitos e o pesquisador.
O método de investigação deste estudo originou-se dos pressupostos
teóricos aqui defendidos, pois, como lembra Morin “a teoria não é nada sem
o método”, a teoria quase se confunde com o método ou, melhor, teoria e
método são os dois componentes indispensáveis do conhecimento complexo
(Morin,2003b, p.337). Entendendo o método como um caminho de
investigação acoplado à teoria e dela próprio. A Complexidade não tem
metodologia, mas pode ter o seu método, o que ele chama de lembrete. O
pensamento complexo é um estilo de pensamento e de aproximação da
realidade.
Consideramos a questão a ser estudada a partir das perspectivas de
graduandos e recém-graduados em enfermagem envolvidos no processo do
“ensino do cuidar”. Adotamos a idéia de que o pesquisador precisa
desenvolver e construir métodos, caminhos de aproximação da realidade,
sem ignorar os princípios da lógica e do rigor científico, mas não perdendo
de vista a busca da articulação da teoria com a realidade.

4.1 Cenário e sujeitos da pesquisa

Minayo (1996) refere que o campo, na pesquisa qualitativa, é o


recorte feito pelo pesquisador em termos de espaço, representando uma
realidade empírica a ser estudada a partir das concepções teóricas que
fundamentam o objeto da investigação.
O cenário para esta pesquisa foi um dos campus de uma instituição
particular de ensino da cidade de São Paulo. Escolhemos como atores,
graduandos e recém-graduados.
Os atores da pesquisa foram graduandos do último semestre do 4º
ano do Curso de Graduação em Enfermagem e recém-graduados nos
primeiros 6 meses. O número de entrevistados não foi estabelecido
previamente. Seguimos o critério de amostragem teórica, que consiste na
contínua coleta e pré-análise de dados que levam o pesquisador à
construção das pré-categorias.
O critério para finalizar a coleta de dados foi o momento em que
ocorreu a repetição das pré-categorias, não havendo nenhum dado adicional
foi obtida a saturação. Neste momento as entrevistas foram interrompidas.
Entrevistamos 10 graduandos e 02 recém-graduados.
Com base no marco teórico-metodológico, optamos por apresentar
individualmente os entrevistados do estudo, modificando por questões éticas
seus nomes. Os dados estão localizados no Quadro 1.
Quadro 1 – Nomes fictícios dos entrevistados, idade, experiência no cuidar
em enfermagem, tempo de gravação e local das entrevistas. São Paulo;
2005.

Nomes Idade Trabalha na área Tempo de gravação Local da


fictícios entrevista
1 - Betânia 43 não 45 min
2 - Nilcéia 43 não 40 min
3 – Gilson 34 não 1h20min
4 – Gal 26 sim 35 min
5- Petrônio 35 sim 1h Cenário
6 - Clarice 40 sim 1h10min do
7 – Ana 27 sim 35 min estudo
8– Luana 24 não 55 min
9 - Solange 34 não 45 min
10 – Magali 32 não 1h20min
11 – Juciléia 27 não 45 min
12 – Elis 28 não 1h10 min
4.2 Procedimentos para coleta de dados

4.2.1 Coleta de dados

Foi enviada uma carta solicitando ao Diretor do Curso de Graduação


em Enfermagem, autorização para a realização da pesquisa (Anexo A).
Após parecer nº 17/04 favorável do Comitê de Ética em Pesquisa,
optamos pela entrevista como uma forma de obter informações próprias dos
entrevistados, descrição de situações e elucidação de detalhes. É
necessário lembrar que por se tratar de uma pesquisa que envolve seres
humanos e conforme preconizado na resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, foi oferecido o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido (TCLE) (Anexo B) em duas vias. Após minuciosa explicação dos
objetivos da pesquisa, assegurando liberdade em participar ou não, aqueles
que concordaram, leram e assinaram o TCLE. Na seqüência foi agendada
uma data para a entrevista.
Utilizamos um roteiro com questões norteadoras (Anexo C) sugerindo
a eles um processo de reflexão sobre o cuidar em enfermagem, não de
modo apenas objetivo, mas sentindo sua visão geral e particular sobre o
cuidar e o seu processo de aprendizagem na Universidade e no curso. A
escolha do roteiro evita mudanças bruscas entre as questões. A grande
vantagem da entrevista semi-estruturada é permitir correções,
esclarecimentos e adaptações tornando-a eficaz na obtenção das
informações desejadas. Segundo (Lüdke e André, 1986) enquanto outros
instrumentos têm seu destino selado no momento em que saem das mãos
do pesquisador que os elaborou, a entrevista ganha vida ao se iniciar o
diálogo entre o entrevistador e o entrevistado.
4.3 Procedimentos para análise de dados

4.3.1 Análise de dados

Para representar o tratamento dos dados, utilizamos a Análise de


Conteúdo que segundo Bardin trata-se:

“...um conjunto de técnicas de análise das


comunicações visando obter, por procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que
permitam a inferência de conhecimentos relativos às
condições de produção, recepção (variáveis inferidas)
destas mensagens” (Bardin, 1977, p.42).

A pesquisa buscou revelar o que acontece no mundo do cuidar na


ótica de graduandos e recém-graduados de enfermagem. Considerando às
características inerentes as dimensões biológicas, psicológicas, sociais e
culturais, optamos pela “Análise de Conteúdo” (Bardin, 1977).
Como método, não possui qualidades mágicas e raramente se retira
mais do que nela se investe e algumas vezes menos (...) no final das contas
nada há que substitua as idéias brilhantes”(Bardin, 1977, p.20). Na busca
por significados manifestos e latentes da “Análise de Conteúdo”, utilizamos
a Análise Temática. É a técnica mais comumente utilizada para o tratamento
de dados de uma pesquisa qualitativa, cujo objetivo é a busca do sentido ou
dos sentidos de um texto (Minayo, 1996 e Silva, 2000).
Para Minayo, o trabalho da pesquisa qualitativa, é com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos que
não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. A pesquisa
qualitativa torna-se importante para a compreensão de valores culturais das
representações de grupos sobre temas específicos e compreensão das
relações entre atores e objeto da pesquisa.
Adotamos os seis passos propostos por Silva (2000); Silva e
Ciampone (2003).
O primeiro passo: após a transcrição na íntegra das entrevistas
gravadas (ANEXO E) realizamos uma leitura dos textos. Posteriormente,
procederam-se outras re-leituras, intercalando a escuta do material gravado
com a leitura do material transcrito.
O segundo passo: nova re-leitura-grifamos palavras e frases dos
textos originais, identificando o cuidar complexo. Procedimento realizado em
todas as entrevistas.
O terceiro passo: na seqüência, realizamos o primeiro recorte das
palavras e frases destacadas em cada entrevista;
O quarto passo: nova re-leitura desses recortes seguidos de um
segundo recorte das frases e palavras em cada entrevista, para que
tivéssemos de maneira mais apurada seus significados e os sentidos;
O quinto passo: após a obtenção das frases e das palavras com seus
significados e sentidos apurados por entrevistas, buscamos identificar o
cuidar complexo em todas as frases, para a construção dos sinalizadores
pedagógicos complexos;
O sexto passo: após a construção dos sinalizadores pedagógicos
complexos, procedeu-se à discussão dos dados onde pudemos conhecer e
analisar conceitos ou idéias relacionadas para o cuidar complexo;
Em função do marco conceitual escolhido, adotamos a terminologia,
Sinalizador Pedagógico Complexo, para apreender os princípios da
complexidade oriundos dos discursos (Camillo, 2004).
Seguindo o mesmo raciocínio do parágrafo anterior, adotaremos os
sete princípios da complexidade e as características do pensamento
complexo, como fundamento para o constructo do cuidar complexo.
No sentido de facilitar a construção dos sinalizadores pedagógicos,
elaboramos um guia (ANEXO D), a fim de subsidiar a análise das
entrevistas.
CAPÍTULO 5
RESULTADO E DISCUSSÃO DOS DADOS
“Se não esperas o inesperado, não o encontrarás”
Heráclito

Após a análise das entrevistas, elaboramos os sinalizadores


pedagógicos complexos dispostos no Quadro 2.

Quadro 2 – Sinalizadores pedagógicos complexos realizados ao cuidar em


enfermagem. São Paulo, 2005.

5.1 Ensino Aprendizagem para o cuidar complexo

5.2 Reconhecimento da complexidade do ser humano para o cuidar

5.3 Potencialidade para o cuidar complexo

5.4 A prática do cuidar complexo

5.5 Conceito de cuidar complexo

5.6 Cuidado Humanizado: Dimensões

5.7 Contexto sócio-profissional

A seguir, a discussão de cada um deles.

5.1 Ensino Aprendizagem para o cuidar complexo


Neste primeiro sinalizador pedagógico complexo, acreditamos que é
chegado o momento de repensar a formação profissional. Para Moretto
(2000), os alunos apreendem as técnicas que devem ser escolhidas de
acordo com cada situação. A ênfase no processo de aprendizagem exige
que se trabalhe com técnicas, mas que incentivem a participação dos
alunos, a interação entre eles, o debate, o diálogo.
De acordo com Vila e Rossi (2002) o cuidado em enfermagem é
considerado um dos mais complicados, por ser necessário o conhecimento
de si e do outro para saber ensinar e aprender esse cuidar. O aspecto
humano do cuidado de enfermagem, a rotina diária que envolve o ambiente,
faz com que os graduandos e recém-graduados, na maioria das vezes,
esqueçam de tocar, conversar e ouvir o ser humano. Morin (2003a) coloca:
“... o termo humano é rico, contraditório ambivalente; de fato. É demasiado
complexo para os espíritos formados no culto das idéias claras e distintas”.
Entendemos que a busca pela qualidade de vida passa pelo assistir-
cuidar em saúde; pelo ensinar-aprender em educação; pelo assistir-aprender
em saúde-educação, mas também pelo pesquisar nessas duas áreas do
conhecimento (Silva e Conversani, 2002 p.55-58).
Precisamos pensar na reforma do pensamento, na contribuição do
ensino oferecido nas instituições educacionais; fugirmos da tendência
predominante do ensino e do pensamento atual, para privilegiar o
conhecimento das partes e até mesmo pensar que só pelo conhecimento
das partes é que se chega ao conhecimento do todo. Conforme Morin
(2000), é necessário enraizar o conhecimento físico e biológico numa
cultura, numa sociedade, numa história, numa humanidade. A partir daí, cria-
se a possibilidade de comunicação entre as ciências.
Para Morin (2003a, p.81), devemos nos preocupar com o ser humano
que é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social.
Por fim, indiquemos um modo de pensar que seja capaz de ligar e
solidarizar conhecimentos separados, um pensamento capaz de integrar o
local específico em sua totalidade, que seja capaz de não permanecer
fechado no local e no específico, apto a favorecer o sentido da
responsabilidade e da cidadania. (Morin, 2000).
As frases selecionadas representam justamente, a preocupação dos
entrevistados em associarem e ligarem os saberes para o ensino do cuidar
complexo:
1 – “...o supervisor de estágio fala da importância de olhar, conversar com o
paciente, pois podemos perceber o não verbal. Além dos cuidados de
higiene, medicação, ele precisa de carinho, atenção uma palavra ou simples
segurar na mão... (Luana)
2 – “... a visão do cuidar do 1º ano até o 4º ano mudou completamente. Hoje
converso com os pacientes e os deixo falar (Clarice)”.
3 - “...a importância do conhecimento para cuidar, para desenvolver práticas
que aliviam os problemas agudos. (Petrônio).
4 – “... os professores falam do cuidado com o paciente da importância do
tocar, do lado humano (Solange)”.

Silva e Conversani (2002, p.56) apontam que o ensino superior tem


valorizado um ensino-teórico-prático disciplinar e segmentado. A
transdisciplinaridade é incipiente. Nesse sentido, profissionais são
graduados de forma fragmentada, reproduzindo práticas verticalizadas e
segmentados como reflexo do ensino não contextualizado.
Da mesma forma, Morin (2004, p.13) destaca que existem
inadequações cada vez mais amplas, profundas e graves entre os saberes
separados, fragmentados, compartimentados entre as disciplinas e, por
outro lado, realidades e problemas cada vez mais polidisciplinares,
transversais, multimensionais, (...) A hiperespecialização impede de ver o
global (que ela dilui). (...) O retalhamento das disciplinas (no ensino) torna
impossível apreender “o que é tecido junto”, isto é, o complexo.

Vejamos algumas frases representativas.


1 – “... uma queixa quanto ao ensino da parte teórica deveria combinar a
parte prática, a universidade deveria associar o teórico com o prático”
(Gilson).
2 – “... algumas matérias na graduação, o cuidar foi abordado de maneira
diferenciado, deixando de ser mecânico sendo mais humanizado (Petrônio)”.

Ensinar e educar para o cuidado não é tarefa fácil. Waldow (2001)


aponta como sendo a finalidade do cuidar em enfermagem: o alívio do
sofrimento humano, a manutenção da dignidade e facilitação dos meios para
manejar as crises, com as experiências do viver e do morrer.
Sendo o ser humano um ser complexo, o cuidar em enfermagem é
também uma ação complexa, transdisciplinar. Concordamos com o
pensamento complexo, que para reformar o ensino capacitando-o a formar
profissionais (enfermeiros) competentes e solidários, sensíveis é necessário
uma reforma do pensamento. Assim:
“... é preciso substituir um pensamento que isola e
separa, por um pensamento que distingue e une.
É preciso substituir um pensamento disjuntivo e
redutor por um pensamento do complexo, no
sentido originário do termo complexus: o que é
tecido junto” (Morin, 2004, p.89).

Santos (2003) em outras palavras refere que:

(...) o ensino como uma teia de aranha, com seu


centro demarcado e seus vários pedaços,
poderíamos perceber ainda que o centro deste
ensino não é o método, nem o professor, nem o
aluno, mas que todos juntos ou um por vez,
porque na Complexidade o centro do ensino é
mutável, é móvel, dependendo da necessidade
que se apresenta. .... “pois não esquecemos que
às vezes o todo, na nossa representação da teia
de aranha é maior e menor que a soma das
partes. Mas têm horas que um pedacinho, ou
seja, uma parte que compõe a teia de aranha (a
especialização) é mais importante” (Santos ,2003,
p.148).
Precisamos buscar conhecer a humanidade traduzida em forma de
saber e de conhecimento deixado de lado pela atividade acadêmica, hoje tão
necessária para educar e educar-nos (Morin, Ciurana e Motta, 2003).
O papel da universidade, na qualidade de centro de pesquisa e
criação do saber, pode ajudar a resolver os problemas da sociedade
principalmente porque as instituições de ensino estão bem colocadas para
enriquecer o diálogo entre as pessoas, os povos e entre as culturas.
Concordamos com Delors (2003) quando refere que a responsabilidade do
professor não consiste simplesmente em transmitir informações, mas
participar da construção do conhecimento.

“... para articular e organizar os conhecimentos e


assim reconhecer e conhecer os problemas do
mundo, é necessária a reforma de pensamento,
para reconhecer o caráter multidimensional na
dimensão humana...” (Morin, 2003c, p.35-38).

Diante do que foi exposto compartilhamos com a necessidade de


ensino-aprendizagem para o conhecimento do cuidar complexo, devemos
buscar a construção com referência ao contexto, global e ao complexo
centrado na condição humana, conhecer e reconhecer-se em sua
humanidade comum e na diversidade cultural inerente a tudo que é humano.

5.2 Reconhecimento da complexidade do ser humano para o cuidar

A situação mostra o quanto é importante conhecer a si mesmo para


cuidar do outro. As frases encontradas para esse Sinalizador Pedagógico
Complexo refletem a conscientização dos entrevistados sobre a importância
do humano. Percebemos a preocupação dos entrevistados em reconhecer
as principais dimensões do ser humano: o sentir, o pensar, o falar e o agir.
Todos estão entrelaçados. Trata-se de uma abordagem integrada e
integradora. (Zauhy e Mariotti, 2002). Para trabalhar a interação entre o
sentir, o pensar, o falar e o agir são necessários buscar o modo de pensar,
ou sistema de pensamento por meio do qual construímos o nosso mundo e
conhecemos o humano.
Em se tratando do reconhecimento da complexidade do ser humano
para o cuidar, é importante compreender que a unidade é múltipla e que o
múltiplo é uno.

“... o ser humano apresenta uma unidade genética


comum a todos, por isso é uno e múltiplo
simultaneamente. Do mesmo modo, apresenta
uma identidade cultural semelhante comum ao
seu meio, capaz de diferir de meio para meio.
Assim em cada situação um indivíduo reage,
muitas vezes, de um modo semelhante à sua
cultura, mas é único quando expressa sua
afetividade. Ou seja, cada qual possui um jeito
todo próprio de manifestar-se, de ver a vida e de
senti-la. (Petraglia, 2001, p.24-25).

De acordo com (Morin 2003a, p 51) o ser humano define-se antes de


tudo, como trindade indivíduo/sociedade/espécie: o indivíduo é um termo
dessa trindade. Cada um desses termos contém os outros. Como refere
Morin:

“... indivíduo, sociedade, espécie são assim,


antagônicos e complementares. Imbricados, não
estão realmente atrelados; há a perplexidade da
morte entre o indivíduo e efêmero e a espécie
permanente; há o antagonismo do egocentrismo e
do sociocentrismo. Cada um dos termos dessa
trindade é irredutível, ainda que dependa dos
outros. Isso constitui a base da complexidade
humana” (Morin, 2003a, p.52).

Ao mesmo tempo há uma unidade humana, e esta por sua vez traz
em si os princípios de suas múltiplas diversidades. Assim, de acordo com
Morin (2003c, p.55): “... compreender o humano é compreender sua unidade
na diversidade, sua diversidade na unidade”. É preciso conceber a unidade
do múltiplo, a multiplicidade do uno”.
Embora o sujeito individual seja singular, é um ponto de holograma
contendo toda a trindade ele não está sozinho porque o Outro e Nós
moramos nele.

“... o indivíduo é irredutível, sendo aberrante


qualquer tentativa de dissolvê-lo na espécie e na
sociedade. É o indivíduo humano, vamos repetir,
que dispõe das qualidades do espírito e mesmo
de uma superioridade em relação à espécie e à
sociedade, pois só ele tem a consciência e a
plenitude da subjetividade” (Morin, 2003a, p. 73).

Eis algumas frases que demonstram esses valores.

1 – “... a gente via as pessoas, no chão deitadas porque tem sono por causa
da medicação, as vezes a gente queria ... que isso seria o lado humano...
levantar a pessoa, colocar no banco ou sentado e você não podia ...”
(Betânia).
2 – “...amplitude da pessoa como ser humana as necessidades que ela têm
como ser humano ...” (Gilson)
3 – “... que o ser humano é uma máquina complexa ... mas a gente têm que
saber que nós também somos...” (Elis)
Para Morin (2003c, p.59) o ser humano é um ser racional e irracional,
capaz de medida e desmedida; sujeito de afetividade intensa e instável.
Sorri, chora é sábio e louco, é rico, contraditório, ambivalente; de fato, é
demasiado complexo e trazem em si, caracteres antagonistas, portanto,
Homo complexus, que integra o processo evolutivo do universo e é parte
constitutiva dele. O homem evolui com o universo e não no universo.
Os entrevistados, assim como o ser humano, é um ser ao mesmo
tempo singular e múltiplo diverso e uno sendo ao mesmo tempo biológico,
psíquico, social, espiritual, ou seja, um ser complexo. Para Morin (2003a,
p.78) “... A relação com o outro se inscreve virtualmente na relação consigo
mesmo para o cuidar”.
Da mesma forma Silva e Conversani (2002) falam: o ser humano não
é só um ser biológico. É também um ser psico-sócio-cultural e espiritual. É
um todo complexo que interage consigo mesmo, com sua família e com a
sociedade.
As frases selecionadas demonstram a necessidade de se colocar no
lugar do outro para o cuidar.

1 – “... o ser humano é colocar-se no lugar do outro...” (Magali).


2 – “... cuidar é auto-avaliar, quando você se olha para dentro de você
mesma, entender o porque estou aqui né....cuidar de pessoas é uma
grandeza...” (Nilcéia).
3 – “... cuidar coisa complexa, conhece tudo, mas ele é uma pessoa, ele
pensou naquele dia, o que ele está querendo falar... o cuidar é troca, ser
muito mais ouvido, falado ... estar ali é o cuidar, aquela troca é a essência...
o complexo do cuidar é ler nas entre linhas o que ele está querendo dizer....
porque ele é ser humano ...” (Magali)

Dessa forma, reconhecemos que para o cuidar envolve


múltiplas dimensões, da relação com o outro e para si mesmo, que se
compreenda que o conhecimento das partes depende do conhecimento do
todo e que o conhecimento do todo depende do conhecimento das partes. O
indivíduo vive para si e para o outro dialogicamente (Morin, 2003a).

“...O ser humano nos é revelado em sua


complexidade: ser ao mesmo tempo biológico e
totalmente cultural. O cérebro por meio do qual
pensamos, a boca, pela qual falamos, a mão com
a qual escrevemos, são órgãos totalmente
biológicos e, ao mesmo tempo, totalmente
culturais”. (Morin, 2004, p.40).

A compreensão humana nos chega quando sentimos e concebemos


os humanos como sujeito, ela nos torna abertos a seus sofrimentos e
alegrias. Permite-nos reconhecer no outro os mecanismos egocêntricos de
autojustificação, que estão em nós, que fazem degenerar em conflitos
inexplicáveis (Morin 2004).
O graduando desenvolve essa atitude, na medida que reconhece e
reflete sobre a existência de uma vida mental em si mesmo e nos clientes, o
que o leva a se interessar pelo comportamento humano (racional e
irracional) (Martins, 2001).
Embora encontrem dificuldades para cuidar, os graduandos
reconhecem a complexidade do ser humano para o cuidar.

5.3 Potencialidades para o cuidar complexo

Os entrevistados em seus discursos reconhecem atitudes que


favorecem o cuidar complexo. As potencialidades geralmente são descrita
por atitudes de comunicação não verbal e denotam compromisso e
envolvimento com a ação cuidativa; além disso, os procedimentos técnicos
executados com amor e carinho foram definidos, por nós, como
potencialidades para o cuidar.
Sabemos que a comunicação é intrínseca ao ser humano; esta é uma
necessidade humana básica no relacionamento interpessoal. É através dela
que podemos estabelecer empatia, tolerância, disponibilidade, preocupação,
confiança, diálogo, valorização, troca de experiências, ouvir, refletir com
outro.

“...Somos por excelência seres de comunicação.


No encontro comunicativo com os outros, nós
descobrimos quem somos, nos compreendemos,
crescemos em humanidade, mudamos para
melhor e nos tornamos fator de transformação da
realidade em que vivemos. Isso significa,
simplesmente, viver em estado de graça,
compaixão pelas pessoas e pela vida” (Silva, AL.
1996, p.9).

A comunicação não se constitui apenas na palavra verbalizada.


Temos de aprender a captar as mensagens, interpretá-las, comunica-se de
corpo inteiro através de sinais do corpo (fisionomia tensa, olhar triste, enfim,
o corpo fala alto e sem máscaras (Silva, MJP. 1996). Falando em
comunicação:

“... É a sabedoria que nasce da inquietude


científica na busca pelo conhecimento e da
compreensão do ser humano, mas que também
se coloca a serviço deste a partir do
reconhecimento de sua vulnerabilidade e feridas
da vida, criando uma comunhão geradora de
solidariedade” (Silva, MJP.1996).

O ser humano é físico porque tem um corpo físico composto por


elemento químico; é biológico porque esse corpo está vivo; é psíquico
porque ele comporta uma mente; é social porque vivemos em sociedades; é
cultural porque as sociedades produzem culturas; é histórico; é ambiental
porque vivemos num meio ambiente.
As seguintes verbalizações refletem a potencialidade dos
entrevistados, para o cuidar complexo.

1 – “... o cuidar acima de tudo é amar, dedicar-se, ter respeito, ser


humano...”( Gal).
2 – “ ... Cuidar é você conhecer o paciente é observar o teu paciente é você
manter um, uma comunicação com seu paciente, seus medos, o que ele
espera daquele tratamento, dos cuidados que eles estão, tá recebendo.
Você conhecendo possa estar desenvolvendo assim ações de cuidado ...”
(Petrônio).
3 – “... o cuidar é o lado pessoal, você nasceu com ele...”(Solange)

Em algumas ocasiões quando nos reunimos para o cuidar complexo,


será que estamos atentos às sensações que “bloqueiam” nossa capacidade
de ouvir? Sem essa atenção, o empenho para ouvir a totalidade do que é
dito terá pouco significado. Mas se pudermos ter consciência que estamos
“bloqueando” a comunicação, e ao mesmo tempo atentarmos ao conteúdo
dito, falado seremos capazes de defender às potencialidades para o cuidar
complexo.
A pessoa que cuida com ciência e consciência ao prestar atendimento
no sentido de realizar um procedimento em alguém, passará a refletir junto a
pessoa a ser cuidada, o cuidado a ser prestado.
O primeiro passo para o sucesso nas profissões relacionadas à saúde
do homem é ter uma boa compreensão do ser humano, das suas
necessidades, capacidades e desejos. Conforme Olivieri (1985).

“... além da capacidade de comunicação,


indispensável para interagir com a grande
variedade de indivíduos em fases diversas da
vida, profissões, costumes e cultura diferentes,
tem o profissional de saúde, que cultivar,
sobretudo, a capacidade de relacionamento inter-
subjetivo, isto é entre ele e o paciente ... O
tratamento pode ser impessoal, porém o cuidado
com o ser-doente é empático; deve interpretar o
Ser. (Olivieri, 1985, p.15).

“ ...saber que o mundo do doente é dele, e sentir a


necessidade de orientar-se como pessoa humana
no mundo do outro, em vez de procurar
considerar o doente um simples organismo em
nosso mundo, ou seja, interpretá-lo...”(Olivieri,
1985, p.18).

Entendermos é outro ponto fundamental e para interpretá-lo é preciso


transportar-se para o outro, imaginar-se no lugar dele. Nessa concepção os
seres não se tornam seres porque são representados para o homem, mas
porque projetam o Ser pelo próprio Ser.
Morin (2003a, p.74) “... ser sujeito supõe um indivíduo, mas esse
comporta a noção de sujeito. A definição deve ser bio-lógica. Lógica auto-
afirmativa do indivíduo vivo que ocupa o centro do mundo”.
Embora singular, o sujeito é um ponto do holograma contendo toda a
trindade humana (Indivíduo, sociedade, espécie). O sujeito humano é
complexo por natureza e por definição, pois ao mesmo tempo apresenta-se
como singular, comum, comunicador e incomunicável. Precisamos
incorporá-lo à trindade humana, situá-lo numa cultura, numa história (Morin,
2003a, p 51).
Dessa maneira, os entrevistados percebem que para o cuidar é
preciso antes de tudo, assim como aceitar o outro é compreendê-lo, uma
condição essencial para sua existência.
Eis algumas frases que expressam essas idéias.

1 – “... para melhorar, só se conhecendo e acreditando, somos uma


potência, somos capazes de motivar, influenciar e deixar ser influenciado...”
(Magali).
2 – “... cuidar é ver o paciente como um todo, como uma pessoa que tem
família, casa e emprego...” (Luana).
3 – “ ... o emocional tem muito a vê com o paciente para o centro cirúrgico, a
expressão do olhar já muda, você vê a reação do paciente num todo ...”
(Ana).

É interessante ressaltar que com relação as potencialidades para o


cuidar complexo, fica evidenciado que os entrevistados percebem, respeitam
o outro em seus hábitos, costumes, práticas, saber-fazer, saberes, normas,
estratégias, crenças, valores, mitos, que se reproduz em cada indivíduo, que
gera e regenera a complexidade social.
Falarmos do cuidar como é vivido, é olhar em nós mesmos é falar da
história, de como fomos e somos cuidados. É pelo cuidado essencial que o
ser humano expressa sua complexidade, sua bipolaridade, sua
ambivalência.

5.4 A prática do cuidar complexo

As frases encontradas para esse sinalizador complexo, refletem como


os entrevistados realizam a prática do cuidar complexo.
O estado de solicitude é uma constante, expresso pela preocupação
com o outro. O cuidar é feito a muitas mãos, evidencia-se como podemos
constatar, a preocupação dos entrevistados em ter um ambiente para o
cuidar, visando resultados positivos nesse cuidar. Podemos perceber nas
seguintes frases

1 – “... falo bom dia, me apresento. Porque (...) como ele vai querer que uma
pessoa cuide dele se não sabe quem é que está cuidando dele, perguntando
como foi a noite, se não foi boa o que a gente pode fazer para melhorar,
está com fome, o senhor quer banho, o senhor quer café, gosta de escovar
os dentes antes ou após o café...” (Luana).
2 – “... ao chegar no paciente, dar atenção, perguntar como está se sentindo,
se teve uma boa noite, dúvidas referentes algum procedimento...”(Clarice).
3 – “... o meu cuidar além de tudo, ver, conversar, deixar ele falar é
ouvir...”(Solange).

Um dos aspectos importantes na prática do cuidar é o contato com o


cliente, a comunicação. Muitas vezes, embora o profissional tenha a
intenção de estabelecer um bom contato, fatores comunicacionais tendem a
afastá-lo e podem mesmo ocasionar erros. Atualmente informamos aos
clientes sobre seu diagnóstico e tratamento, permitindo-lhe que decida sobre
o que deseja (Martins, 2001).
Na prática do cuidar complexo, não podemos separar, isolar o objeto
do sujeito (espécie, do cérebro, da razão). Segundo Morin (2003a, p 65) “O
tesouro da humanidade está na diversidade criadora, mas a fonte da sua
criatividade está na sua unidade geradora”.
Ainda no que se refere à prática do cuidar, os progressos gigantescos
nos conhecimentos no âmbito das especializações levaram a fragmentação,
a disjunção entre as humanidades e as ciências, assim como a separação
das ciências em disciplina hiperespecializadas. Para Morin (2003c) o modo
das realidades globais e complexas fragmenta-se; o humano desloca-se;
sua dimensão biológica. Nestas condições as mentes formadas pelas
disciplinas perdem suas aptidões naturais para contextualizar e de globalizar
os saberes do mesmo modo que para executá-los (Morin 2003c, p. 64).
O mundo tecnológico não pode substituir o corpo e o toque, o afago,
aperto de mão que oferece apoio e suporte conforme percebemos nos
discursos dos entrevistados:

1 – “... hoje eu cuidei de uma paciente, em que ela só queria segurar na


minha mão...” (Luana)
2 – “ ... cuidar é estar presente, ter carinho com as pessoas ...” (Luana)
3 – “... em meu estágio de Pronto Socorro ao medicar uma senhora que
estava com crise de bronquite, segurei em suas mãos e ela me apertou
muito forte. Ao seu toque, conversei e preparei a medicação, ela foi para
casa melhor do que chegou, não só pela terapêutica medicamentosa mas
pelo apoio emocional ...”(Nilcéia).
4 – “... cuidar é diferenciado, o calar é ouro e o falar é prata. Está sendo uma
lição de vida...” (Magali).

Às vezes esquecemos-nos de ouvir esse que, segura em nossas


mãos e nos fala de coisas pelo toque forte, pelo riso, pelo olhar. No afã de
aplicar nossas técnicas e conhecimentos, às vezes esquecemos esse saber
que mora em cada um de nós. É preciso atentar como percebemos o outro,
um outro diferente de nós, e de que forma entramos em relação com ele.
No mundo de hoje, torna-se cada vez mais evidente a necessidade de
clareza nas comunicações entre as pessoas. Estudo tem mostrado que, ao
contrário do que parece nossa principal dificuldade não é falar mas sim ouvir
(Zauhy, Mariotti, 2002).
Assim,
“ ... é claro que pretendemos viver em harmonia
com nós mesmos e com a natureza, devemos ser
capazes de nos comunicar livremente num
movimento criativo,... essa questão é sutil e muito
complexa. Mas talvez se possa dizer que alguém
chega a fazer alguma coisa (e não só pensar ou
falar), tende a acreditar que já está ouvindo o
outro de modo adequado (Bohm, 2005, p. 31).
O cuidado, mesmo em silêncio, é interativo e promove o crescimento,
ajudar o paciente a crescer envolve ajudá-lo a enfrentar momentos difíceis,
mantendo se presente e solidária (Waldow, 2001). Há situação em que se
consegue estabelecer uma espécie de mútuo entendimento. O cuidar nesse
sentido, não tem tempo nem espaço, ou seja, somente o momento é
vivenciado em sua totalidade.
O cuidar de um ser é um desvendar, é um falar, descobrir através do
sentir, por linguagem adequada que possa naquele instante de busca, atingir
realmente a necessidade daquele ser.
Não devemos confundir comunicação e compreensão, porque a
comunicação é comunicação de informação às pessoas ou grupos que pode
entender o que significa a informação. Mas a compreensão é um fenômeno
que mobiliza os poderes subjetivos de simpatia para entender uma que
também é sujeito (Morin, 2002b).
A compreensão complexa do ser humano não aceita reduzir o outro a
um único aspecto e o considera na sua multidimensionalidade. A
compreensão é ao mesmo tempo meio e fim da comunicação humana. O
planeta necessita, em todos os sentidos de compreensões mútuas.
De fato a disjunção, a redução, a especialização fechada e falsa são
problemas essenciais que Morin (2003c, p. 104) coloca “... a importância da
educação para a compreensão, em todos os níveis educativos e em todas
as idades. O desenvolvimento da compreensão necessita da reforma
planetária das mentalidades; esta deve ser a tarefa da educação do futuro.
Para Morin (2005, p. 115) a compreensão humana comporta não
somente a compreensão da complexidade do ser humano, mas também a
compreensão das condições em que são forjadas as mentalidades e
praticadas as ações.
5.5 Conceito de cuidar complexo

Nesse sinalizador pedagógico complexo os entrevistados expressam


o significado de cuidar complexo. Faremos uma retrospectiva acerca de
concepções de cuidar e do significado de cuidar.
A história da civilização demonstra que o cuidar sempre esteve
presente nas diferentes dimensões do processo de viver, adoecer e morrer,
mesmo antes do surgimento das profissões, (Waldow, 2001).
O desenvolvimento teórico do cuidar em enfermagem iniciou na
década de 50 com Madeleine Leininger pioneira em conceber Enfermagem
como arte e ciência do cuidar mesmo antes de formalizar sua teoria
Transcultural do Cuidado6.
Bittes (1996) assinala que o cuidado e o cuidar estão presentes em
todo o processo de desenvolvimento de pessoas, cabendo a nós enfermeiro
uma parte deste cuidado e esta parte ser aquela que lida com a vida. É dela
que queremos cuidar e mesmo quando ela se esvai, ainda estaremos lá
cuidando do corpo, zelando pela dignidade humana.
Já Boff (1999, p.33), vê o cuidado como parte da natureza e da
constituição do ser humano, afirma que o modo de ser cuidado revela de
maneira concreta como é o ser humano e que sem cuidado deixa de existir.
O cuidado como modo-de-ser essencial é ainda algo mais que um ato é uma
atitude entre outras. “... portanto, abrange mais que um momento de
atenção, de zelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de
responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro”.

“ ... o ser humano é um ser de participação, um


ator social, um sujeito histórico pessoal e coletivo
de construção de relações sociais o mais
igualitárias, justas, livres e fraternas....(Boff, 1999,
p. 35).
______________
6
Teoria Transcultural do cuidado é embasada na crença de que as práticas do cuidado da
enfermagem devem ser derivadas de estudo criteriosas de crenças, valores e
comportamentos de cuidado diversos culturais. Para Leininger em todas as culturas, o
cuidado/cuidar é uma necessidade humana essencial para o completo desenvolvimento do
ser humano, para a manutenção da saúde e sobrevivência das pessoas. (Bittes, 1996).
Boff (1999) ressalta ainda que injetar cuidado em tudo é
imprescindível para desenvolver a dimensão humana.
Gamboa (1997) preconiza que cuidar não é um ato único, nem
mesmo a soma de procedimentos técnicos ou qualidades humanas. Trata-se
do resultado de um processo em que se conjugam sentimentos, valores,
atitudes e princípios científicos, com a finalidade de satisfazer os indivíduos
envolvidos.
Para Waldow (2001) o cuidado requer conhecimento do outro ser,
caracteriza pelo relacionamento de forma integral com outro ser, em que
ambos reagem e se relacionam como pessoas. Se a arte é uma forma de
conhecimento é através dele que são expressos os sentimentos e
comportamentos dos povos.

“... a dimensão estética do cuidar refere-se aos


sentidos e valores que fundamentam a ação num
contexto inter-relacional, de modo que haja
coerência e harmonia entre o sentir, o pensar
(conhecer/fazer) e o fazer” (Waldow, 2001, p.164).

A arte da enfermagem inclui a disponibilidade de receber o outro ser,


em compreender sua experiência, permitir que o outro expresse seus
sentimentos e não considerar o ser cuidado como uma mera categoria
patológica ou como um papel e, sim, como uma pessoa única.
O cuidar, independentemente do pouco ou nenhum valor a ele
atribuído, continuará sendo essencial para a sobrevivência das espécies,
promoção da vida e preservação do planeta. O cuidar envolve
verdadeiramente uma ação interativa onde ação e comportamento estão
calcados em valores e no conhecimento do ser que cuida para com o ser
que é cuidado. ( Waldow, 2001).
“...os objetivos de cuidar envolvem, entre outros
aliviar, confortar, ajudar, favorecer, promover,
restabelecer, restaurar, dar, fazer, (...)O cuidado é
imprescindível em todas as situações de
enfermidades, incapacidades e durante o
processo de morrer.” Waldow (2001, p.129).
Cuidar significa compreender o humano, envolve a ação de pensar e
repensar o outro, respeitar suas crenças seus valores, seus direitos. É
colocar-se no lugar do outro.
Vejamos agora, os discursos dos entrevistados, que nos remete ao
conceito de cuidar complexo.

1 – “... cuidar é tudo. É a essência da enfermagem. É uma troca. Cuidar é


uma coisa...” (Magali).
2 – “...cuidar é assistir olhando todos os ângulos e respeitando suas crenças,
suas limitações, seus direitos, informando do que está acontecendo...”
(Juciléia).
3 – “... cuidar é essência. É um processo onde você vai receber e vai doar...”
(Magali).
4 – “... cuidar é abrangente. É ver o ser humano em toda sua essência...”
(Clarice).
5 – “... cuidar é um conceito assim global. Tanto no aspecto da técnica de
enfermagem quanto no seu aspecto psicológico é as duas partes. O cuidar é
de uma maneira geral técnico e psíquico...” (Solange).

Diante do exposto, percebemos que o cuidar sempre esteve presente


na história humana. O cuidar é como forma de viver e de se relacionar. Se
não receber cuidado, desde o nascimento até a morte, o ser humano
desestrutura-se, definha, perde sentido e morre. Assim, sem o cuidado o
homem perde sua natureza humana. É essencialmente um ser de
necessidades a serem satisfeitas. Para Heidegger (1988) o filósofo do
cuidado, no livro Ser e Tempo, do ponto de vista existencial, o cuidado
antecede toda atitude e situação do ser humano, o que significa dizer que o
cuidado encontra-se em toda atitude e situação de fato.
O cuidar, independente do pouco ou nenhum valor atribuído,
continuará sendo essencial para a sobrevivência das espécies, promoção da
vida e preservação do planeta. Concordamos com Boff (1999) quando refere
que cuidado significa então desvelo, solicitude, diligência, zelo, atenção bom
trato.
Ligado ao conceito de cuidar, temos a essência do ser humano, visto
como ápice do processo de evolução, o centro de todos os outros seres
(antroprocentrismo) e considera que as demais coisas, especialmente a
natureza só tem sentido quando ordenadas ao ser humano. Por fim, um ser-
no-mundo-com-outros sempre se relacionando. O ser humano é um ser de
cuidado, mais ainda, sua essência se encontra no cuidado. Colocar cuidado
em tudo o que se projeta e faz, eis a característica singular do ser humano.
Dessa forma, Morin (2003a) ressalta: o indivíduo vive para si e para o
outro dialogicamente; o outro significa, ao mesmo tempo, o semelhante e o
dessemelhante; semelhante pelos traços humanos ou culturais comuns;
dessemelhante pela singularidade individual.

“... a relação com o outro está na origem. O outro


é virtual em cada um e deve atualizar-se para que
cada um se torne si mesmo. Paradoxalmente o
princípio da inclusão (amor) é necessário ao
princípio da exclusão que, pondo-nos centro do
mundo, permite-nos aí situar o outro...” (Morin,
2003a, p.78).

Para Morin (2005, p.112) a compreensão do outro engloba a


compreensão objetiva, mas comporta um elemento subjetivo, a
compreensão complexa engloba explicação. A compreensão complexa é
multidimensional: não reduz o outro a somente um dos seus traços, dos
seus atos, mas tende a tomar em conjunto as diversas dimensões ou
diversos aspectos da sua pessoa.
5.6 Cuidado humanizado: dimensões

O cuidado não pode ser falado e pensado como objeto independente


de nós. Precisamos pensar e falar a partir do cuidado como é vivido e como
se estrutura em nós mesmos. Nesse sentido, entendemos que o cuidado
humanizado envolve múltiplas dimensões. Torna-se necessário o
reconhecimento do ser humano, considerando que todas culturas humanas
tem formas, padrões, significados, símbolos, expressões e estruturas de
cuidado para conhecer, explicar e predizer (Neves, 2002).
O cuidado somente surge quando a existência de alguém tem
importância para nós, quando estamos dispostas a participar de seu destino,
de suas buscas, de seu sofrimento.
Boff em outras palavras refere que:
“ ... não temos cuidado. Somos cuidado. Isto
significa que o cuidado possui uma dimensão
ontológica que entra na constituição do ser
humano. É um modo-de-ser singular do homem e
da mulher. Sem cuidado deixamos de ser
humanos” (Boff, 1998, p.89).

A relação não é sujeito-objeto, mas sujeito-sujeito, o ser humano pode


escutar e interpretar esses sinais. Cuidar é entrar em sintonia com,
auscultar-lhes o ritmo e afinar-se com ele. Há algo nos seres humanos que
não se encontra nas máquinas, o sentimento, a capacidade de emocionar-
se, de envolver-se, de afetar, de sentir afeto. (Boff, 1999).

“ ... Só nós humanos podemos sentar-nos à mesa


com o amigo frustrado, colocar-lhe a mão no
ombro, tomar um copo de cerveja e trazer-lhe
consolação e esperança. Construímos o mundo a
partir de laços afetivos, esses laços tornam as
pessoas e as situações preciosas, portadoras de
valor. Preocupamos-nos com elas. Tomamos
tempo para dedicar-nos a elas. Sentimos
responsabilidade pelo laço que cresceu entre nós
e nos outros. A categoria cuidado recolhe todo
esse modo de ser. Mostra como funcionamos
enquanto seres humano” (Boff, 1999, p.99)
Morin (2004, p 38) defende que estamos, a um só tempo, dentro e
fora da natureza. Somos seres simultaneamente cósmicos, físicos,
biológicos, culturais, cerebrais, espirituais, filhos do cosmos, tornamo-nos
estranhos a esse cosmos em conseqüência de nossa humanidade, cultura,
espírito e consciência.

“... A vida terrestre é marginal do cosmos, somos


marginais da vida. O homem surgiu
marginalmente no mundo animal, e seu
desenvolvimento marginalizou-o ainda mais. Os
únicos seres vivos, na terra, que dispõe de um
aparelho neurocerebral hipercomplexo, e os
únicos que dispõe de uma linguagem para
comunicar-se de indivíduo a indivíduo” (Morin
2004, p.36).

Em se tratando da realidade, a tecnociência busca a clareza da


explicação. As humanidades buscam a sutileza da compreensão. Ambas,
quando isoladas, são necessárias – mas insuficientes – para compreender e
explicar a complexidade da vida e das sociedades humanas. Por isso o
tecnocientífico e o humano precisam conviver juntos, eles se
complementam.

“... a tecnologia não atua, ou não age de modos


objetivos, concretos e eficaz com que o opera no
lado mecânico e concreto do nosso viver. Esse
imenso âmbito inclui os sentimentos, emoções,
intuição e subjetividade. É um lado humano
quanto a dimensões práticas, objetivas e concreta
de nossas vidas. (Zauhy, Mariotti, 2002, p.15)”.

Assim, podemos considerar que o aspecto religioso é uma dimensão


humana, como a arte e a política, quando nos referimos à espiritualidade
entendemos o termo no sentido antropológico e menos num sentido
especificamente religioso. Significa a capacidade que o ser humano, tem de
dialogar com o seu eu profundo e entrar em harmonia com os apelos que
vêm de sua interioridade. Petraglia (2001, p. 90).
As frases selecionadas representam justamente a preocupação dos
entrevistados com a necessidade de unir o lado técnico ao humano.

1 – “... Humanização: é sermos humano e não simplesmente profissional


técnico. Um ser humano que têm todas as necessidades, a socialização...
cuidar, conversar, o psicológico da pessoa ela pode melhorar...” (Gilson).

2 – “... A religiosidade influenciando o cuidar, despertando na pessoa a


importância de colocar-se no lugar do outro, sentindo e vivendo, tendo mais
carinho, um cuidado humanizado proveitoso... para ambas as partes, você
vê a recuperação do paciente, você sabe que a enfermeira contribuiu...”
(Petrônio).
3 – “ ... sua profissão e em particular, a dedicação de corpo e alma de seu
pai ao cuidar de sua avó, buscando na religião forças para esse
cuidar....”(Gilson).

A obra de Morin reconhece o valor da religião, da arte, dos mitos.


Morin, Silva e Glodet (2003b, p.139) “... devemos ir do físico ao social e
também ao antropológico, porque todo o conhecimento depende de nosso
entendimento, isto é, de nosso espírito-cérebro de homo sapiens”. O
conhecimento físico, e igualmente biológico, numa cultura, numa sociedade,
numa história, numa humanidade. Para Morin certamente, cada ser humano
abriga ao mesmo tempo, uma racionalidade, uma mística, uma fé e uma
dúvida fé, mas, que em geral são compartimentadas e não se comunicam.
Toma como exemplo, a fé de Pascal: a fé improvável em um mundo menos
bárbaro, em uma inteligência mesmo cega e a fé imperturbável na verdade
do amor. Nunca pode encerrar-se numa fé. Sua fé conservou-se em dúvida,
mas, assumir a contradição o levou a assumir a complexidade e elaborar o
pensamento complexo. (Morin, 2003b).
É preciso lembrar do princípio retroativo. Os recortes das entrevistas
permitem o conhecimento dos processos auto-reguladores. Ele rompe com o
princípio da causalidade linear: a causa age sobre o efeito e o efeito age
sobre a causa.
Olivieri (1995, p.11) diz: “...O homem é apenas um ouvinte
privilegiado e um respondente da existência. O relacionamento com os
outros é uma relação de poder ouvir a voz do Ser...”.
Além da capacidade da comunicação, indispensável para interagir
com a grande variedade de indivíduos em fases diversas da vida, profissões,
costumes e cultura diferentes, sobretudo, a capacidade de relacionamento
intersubjetivo, isto é, entre ele e o paciente. É preciso considerar que o
paciente tem realmente na sua consciência, um sentir, um saber, uma
maneira de enxergar o mundo, o seu “tempo vivido”.
As frases selecionadas representam a preocupação dos graduandos em
associarem a importância do cuidado humanizado com a comunicação.

1 – “... Cuidado humanizado, chegar mais próximo do paciente, ouvir o


paciente, de sentir o paciente, de tocar nesse paciente...” (Petrônio).

2 - “ ... cuidado diferenciado é mais ou menos, essa humanização, em saber


ouvir o paciente, está mais próximo do paciente, estabelecer uma
comunicação, um bom cuidado é a comunicação...” ( Petrônio).

Para Morin, Silva e Clodet (2002) a educação, as ciências humanas, a


filosofia, a epistemologia, quer comunicar. O cientista e o sábio não podem
eximir-se do esforço de alcançar a clareza. Tudo é comunicação.

“...a dialética, contudo, foi substituída pela


dialógica, em nome da articulação do simples e
do complexo, da ordem e da desordem, do
separável e do não separável. Conhecer é uma
aventura inigualável que leva ao coração do homo
sapiens, ludens, demens, faber (Morin, Silva,
Clodet, 2002, p.15).

O discurso dos entrevistados nos conduziu ao resgate do Sinalizador


Pedagógico Complexo no que concerne ao cuidado humanizado, porém
sabemos que para tal, de acordo com Morin (2003a) todos os seres
humanos têm em comuns traços que fazem a humanidade da humanidade:
uma individualidade e uma inteligência de novo tipo, uma qualidade cerebral
que permite o surgimento do espírito, o qual permite o surgimento da
consciência, com uma maior participação dos sujeitos para o cuidado.
Morin (2003a, p.140) “... se o homo é ao mesmo tempo, sapiens e
demens, afetivo, lúdico imaginário, poético, prosaico, se é um animal
histérico, possuído por seus sonhos e, contudo, capaz de objetividade, de
cálculo de racionalidade, é por ser homo complexus” .
Boff (1999), mostra como exemplo a fábula de Higino, que enfatiza o
cuidado acompanhando o ser humano durante toda a sua vida, ao longo de
todo o ser percurso. A fábula diz que o cuidado foi quem primeiro moldou o
ser humano, empenhando dedicação, ternura, devoção, sentimento e
coração, criou responsabilidade e fez surgir a preocupação com o ser. Essas
dimensões, verdadeiros princípios constituintes, entraram na composição do
ser humano. Viraram carne e sangue. Sem tais dimensões o ser humano
jamais seria humano.
De acordo com Zauhy, Mariotti (2002) humanizamos a medida que
compartilhamos espaço, comida, intimidade e cuidados. Somos filhos do
cuidado sem ele não existiria a espécie humana. Eis um caminho em que
aqueles que trabalham com saúde podem humanizar e humanizar as
relações entre as pessoas e o cuidando.

5.7 Contexto sócio-profissional

Conhecer o humano é, antes de qualquer coisa situá-lo no universo e


não separá-lo dele. Todo conhecimento deve contextualizar seu objeto, para
ser pertinente. “Quem somos?” é inseparável de “Onde estamos?”, “De onde
viemos?”, “Para onde vamos?” Destaca a necessidade do ser humano de
se conhecer e refletir suas inquietudes para melhor entender a necessidade
do mundo (Morin, 2003c, p. 47).

“...compreender o humano é compreender sua


unidade na diversidade, sua diversidade na
unidade. É preciso conhecer a unidade do
múltiplo, a multiplicidade do uno” (Morin, 2003c,
p.55).

Os entrevistados assim relatam:

1 – “... o todo é um ser humano, têm os problemas, têm uma família um lar,
ele foi ou é importante para alguém...” (Ana).
2 – “... uma enfermeira: ela sabia cuidar, ela podia dizer alguma
coisa...”(Magali).
Segundo Boff (1999), o ser humano vive distendido entre a utopia e a
história. Ele está no tempo onde as duas se encontram. O ser humano
constrói a sua existência no tempo, precisa do tempo para crescer,
aprender, madurar, ganhar sabedoria e até a para Morrer.

“... no tempo vive a tensão entre a utopia que o


anima a sempre olhar para cima e para frente e a
história real que o obriga a buscar mediações, dar
passos concretos e olhar com atenção para o
caminho...” (Boff, 1999, p.82).

O profissional de saúde foi preparado quase que de modo exclusivo


para as visões quantitativas, objetivas e concretas, transformando o tempo
em uma coisa, uma mercadoria, como mostrou Marx apud Morin (2003b, p.
247-248) em seus estudos sobre o tema. Seguindo a mesma linha, a
apropriação do tempo e a mecanização da gestualidade das pessoas foram
também consagradas como o ponto central do taylorismo – a gerência
científica das linhas de produção industrial, que Charles Chaplin satirizou em
Tempos Modernos.
Se quisermos que algo se modifique, num determinado grupo,
organização ou instituição, é preciso adequar o modo como os serviços são
planejados e organizados, é necessário entrelaçarmos com a cultura de
Serviços de Saúde.
Eis, portanto, o desafio: transformar nossa cultura de serviços de
saúde: modificar seus modos básicos de fazer. Como sabemos, incluem
longas filas, demora nos atendimentos, escassez de meios, desvalorização
das pessoas (tanto os que buscam atendimento quanto os profissionais de
saúde), em muitos casos predomínio da frieza e da tecnoburocracia, em
prejuízo do humano. Como todos sabem, nossa sociedade se caracteriza,
entre outras coisas, pelo imediatismo. Queremos tudo no menor prazo,
menor tempo possível (Zauhy e Mariotti, 2002).
Percebemos nos discursos a influência do tempo, levando a
desumanização das ações de saúde.

1-“...o número de funcionários influenciando no cuidado


diferenciado...”(Petrônio).
2 - “ ...a influência das duplas jornadas de trabalho no cuidar...” (Petrônio).
3 – “ ... professores, mostravam a importância.... o tempo, esse dificulta o
cuidar...” (Elis).

Sabemos que o cuidado diferenciado: é reconhecer a complexidade


do ser humano, ver, sentir, ouvir, tocar, pensar e estar no lugar do outro.
Segundo Waldow (2001) cuidado foi associado ao mostrar
preocupação e amor, promovendo apoio psicológico, sendo agradável e
amiga, dispondo de tempo para realizar um bom trabalho, ele ressalta que o
cuidado como uma prática é a essência da enfermagem cita algumas
reflexões:
“... a prática da enfermagem é essencialmente
moral em sua natureza; o respeito e o cuidado
pelas pessoas constituem a ética essencial da
enfermagem; o respeito, como uma ética de
enfermagem, é evidenciado pelo respeito a
clientes, a familiares, ao self, a colegas e à
profissão; o cuidado como uma ética de
enfermagem é evidenciado pelo cuidado de
clientes, familiares, self, colegas e à profissão; o
respeito e o cuidado são elementos necessários,
porém não são elementos suficientes da
enfermagem (inclui-se o conhecimento como
imprescindível); o respeito pelas pessoas precede
o cuidado na relação enfermeira-cliente; o
cuidado não é possível quando não existe
respeito; a enfermagem não é possível quando
inexiste o cuidado...” (Waldow, 2001, p.167-168).

A enfermagem é testemunha, em seu cotidiano, de inúmeros


problemas relativos a questões morais e éticas tais como atitudes e a
comportamentos incorretos, porém a verdadeira presença contribui para
afirmar a pessoa.
As frases a seguir demonstram a compreensão dos entrevistados em
relação ao cuidado no contexto sócio-profissional.

1 – “... você vê a recuperação do paciente, você vê o paciente chegar e


conseguir sair daquele quadro. O cuidado de enfermagem ele é essencial.
Além do cuidado ... o médico ter feito uma prescrição, se não tiver um
enfermeiro 24hs...(Petrônio).
2 – “... foi uma enfermeira eu estava no 1º ano de uma faculdade... mesmo
que... ela não saiba. Ela deu uma contribuição toda especial... eu queria ser
uma enfermeira que deixa as marcas que ela deixou, marcas boas para as
pessoas poder lembrar de você...” (Magali).

Se entendermos quem somos e o que estamos fazendo, para que


viemos, compreenderemos que há algo mais do que a singularidade ou que
a diferença de indivíduo para indivíduo. Conseguiremos pensar e repensar
no contexto sócio-profissional com o propósito de extrair elementos que
possam contribuir para que cada situação possa conduzir a prática de
enfermagem dentro de uma conduta moral que reflita os valores pessoais e
profissionais de forma harmoniosa.
CAPÍTULO 6
VERDADES PROVISÓRIAS

“Aprender é descobrir o que já se sabe. Praticar é


demonstrar o que se sabe. Ensinar é lembrar aos outros
que eles sabem tanto quanto você. Todos são alunos,
praticantes, professores”.
Richard Bach

Inicialmente é importante destacar que preocupações constantes com


a pessoa humana, confinada em um leito hospitalar, esquecida pela doença,
motivaram a realização deste estudo.
Pensamos que o cuidado humano é a exteriorização de um estado de
valor próprio. Quando os profissionais identificam em seus papéis e se
sentem integrados em seu meio, inevitavelmente se tornam mais motivados
com a percepção de si e dos outros que estão a sua volta, preocupados em
ter suas necessidades atendidas assim como em contribuir para a satisfação
das necessidades dos outros. Daí nossa preocupação em reconhecer como
os envolvidos da prática do cuidar, graduandos e recém-graduados de
enfermagem, concebem o ensino do cuidar e como percebem a interação da
relação do outro e de si mesmo.
O cuidado como uma conduta implica uma gama de atitudes e
sentimentos que permitem a quem executa e a quem o recebe, uma
interação capaz de produzir efeitos extremamente benéficos para ambas as
partes.
Falamos em afeto, em conforto, em compaixão, em zelo, em colocar-
se totalmente no lugar do outro, em um cuidar verdadeiramente humano, o
cuidar complexo. Partimos do pressuposto que graduandos e recém-
graduados realizam, de alguma forma, o cuidar complexo sem clareza para
tal, ou seja, sem a plena consciência de estarem utilizando-se dos princípios
da complexidade na prática do cuidar em enfermagem. Buscamos por meio
desse estudo captar “o que” da complexidade apreendem no cuidar em
enfermagem.
É necessário dar ênfase a esses aspectos no ensino acadêmico, pois
a atitude de contextualizar e globalizar é uma qualidade do espírito humano
que o ensino parcelado atrofia e que, ao contrário deve ser sempre
desenvolvida (Morin, 2002).
Como dizia Marx apud Petraglia (2002, p. 76) “quem educará os
educadores?”. Acreditamos que não existem regras, métodos de ensinar o
complexo, devemos caminhar e nesse andar fazer um caminho na busca por
conhecer a humanidade e o saber do conhecimento deixado pela
hiperespecialização.
Morin (2002) diz: a noção de homem encontra-se fragmentada entre
as disciplinas, que separam ao invés de unir, é preciso aprender a
reaprender a religar os saberes fragmentados.
É preciso que os educadores iniciem o processo de reforma do
pensamento. É preciso a persistência e dedicação quando se acredita nas
próprias idéias. E, dessa maneira, o ser humano, por meio da educação,
será capaz de reformular seu pensamento e refletir-se conscientemente na
necessidade de repensar, de reformar o pensamento. (Petraglia, 2002).
Por meio da Teoria da Complexidade defendida por Edgar Morin,
buscamos reflexões sobre o paradigma da complexidade relacionado ao
cuidar em enfermagem, a partir de saberes oriundos das Ciências Naturais,
Humanas e Sociais, tendo como objetivo a visão de que o ser humano não
pode ser disjunto, partido, reduzido a uma simples doença.
Em geral lidamos bem com as coisas divididas, objetos fragmentados,
sujeito separado do objeto. Precisamos compreender que tudo que nos
cerca tem uma relação, que tudo tem a ver com tudo, tudo depende de tudo.
Encontramos em Silva e Ciampone (2003) que temos dificuldade de
entender que não estamos separados daquilo que observamos, daí a
dificuldade em trabalhar neste referencial, principalmente porque foi preciso
reconhecer e somar o que há muito tempo compartilho com um modelo
cartesiano, linear e que leva a fragmentação das disciplinas, era preciso
incluir nesse pensamento linear, o pensamento complexo. A consulta ao
marco teórico foi constante, para entendermos como os entrevistados
identificam e compreendem o ensino do cuidar.
O marco teórico utilizado mostrou-se de fundamental importância no
sentido de permitir conhecer e analisar, bem como descrever a
compreensão do ensino do cuidar à luz da Teoria da Complexidade de
Edgar Morin. Para o alcance dos propósitos deste estudo utilizamos a
entrevista semi-estruturada. Partimos de um roteiro com questões
norteadoras que possibilitou a construção da narrativa discursiva e com base
nos princípios Morinianos, identificamos Sinalizadores Pedagógicos
Complexos valorizando uma nova percepção do cuidar que abre novos
horizontes para se pensar e fazer enfermagem.
Dos Sinalizadores Pedagógicos Complexos destacamos:
A responsabilidade do educador consiste em participar da construção
do conhecimento, situando-o num contexto, para facilitar a aprendizagem de
aprender a religar, a problematizar, a contextualizar, bem como refletir e
integrar o saber, religando-os.
É preciso que os educadores iniciem o processo de reforma do
pensamento. É preciso persistência e dedicação quando se acredita nas
próprias idéias. Dessa maneira, o ser humano, mediado pela educação, será
capaz de reformular seu pensamento e refletir conscientemente sobre um
cuidar humano sensível.
As razões apontadas implicam outra questão fundamental: o preparo
dos docentes. Em primeiro lugar, os docentes devem reafirmar a importância
do cuidado e seu significado; em segundo, devem desenvolver estratégias
que motivem e mobilizem para um cuidar diferente, o cuidar complexo; e em
terceiro, devem ter potencialidade em termos de conhecimento e experiência
para o cuidar humano.
O estudo nos mostra a percepção de graduandos e recém-graduados
para o cuidar complexo. Apresentam suas potencialidades influenciadas pelo
comportamento mútuo, pelas experiências passadas, pelos valores, crenças
de cada um. Mesmo não conhecendo o paradigma da complexidade,
percebe o cuidar em enfermagem à luz da Teoria da Complexidade de
Edgar Morin.
Nas potencialidades para o cuidar identificadas, percebemos que
reconhecem a importância de conhecerem-se a si mesmos para cuidar do
outro.
Percebemos que para o cuidar em enfermagem precisamos: ter um bom
relacionamento com o outro e consigo mesmo, identificar dimensões
filosóficas, esclarecer e compartilhar o conhecimento do cuidar àquele que é
ao mesmo tempo singular e múltiplo, diverso e uno sendo ao mesmo tempo
biológico, psíquico, social, espiritual, ou seja, um ser complexo.
Identificamos que o cuidado não pode ser falado e pensado como
objeto independente de nós. Precisamos pensar, falar como o cuidado é
vivido e como se estrutura em nós mesmos. Nesse sentido, entendemos que
o cuidado humanizado envolve dimensões filosóficas e epistemológicas.
Precisamos lembrar: não existe a dualidade, mas um todo complexo e
articulado. Portanto, nos remetemos à compreensão da dimensão humana
quando nos compreendemos.
Entendemos que a compreensão de todo o processo envolvido na
questão de cuidar complexo é mais abrangente do que o apresentado aqui.
Nesse mundo: físico, biológico, social, intelectual, precisamos
enfrentar as incertezas por meio da construção do conhecimento do ensino-
aprendizagem para o cuidar em enfermagem, um processo contínuo e
dinâmico, uma aventura incerta por comportar em si mesmo, o risco de
ilusão verdadeiro. Isso significa que o conhecimento é uma tradução seguida
de uma reconstrução. Precisamos chegar a compreensão, precisamos
compreender, perceber, ouvir o outro no mundo.
No mundo de hoje, ao contrário do que parece, nossa principal
dificuldade não é falar e sim ouvir, podemos perceber na fala de Magali “... o
calar é ouro e o falar é prata...” p.52.
Podemos perceber nos Sinalizadores Pedagógicos Complexos 5 e 6,
que a enfermagem como profissão busca definir sua cultura, ou seja, quais
os produtos decorrentes de sua atividade, sejam materiais ou espirituais,
concretos ou subjetivos. Portanto, precisamos contextualizar o conhecimento
adquirido, vivido de forma a buscar na Teoria da Complexidade de Edgar
Morin, a reforma necessária para a transformação da nossa cultura de
serviços de saúde: modificando seus modos de saber-fazer, saber-ser,
saber-conhecer e saber-estar com outro.
A verdade provisória sobre o conceito de cuidar complexo, nos mostra
que o cuidado só existe por que existe o humano e esse por que recebeu
cuidado. Se não receber cuidado desde o nascimento até a morte, o ser
humano desestrutura-se, definha, perde o sentido morre (Heidegger, 1998).
Por meio dos Sinalizadores Pedagógicos Complexos, vislumbramos o
aprendizado teórico-prático para o cuidar complexo. Percebemos uma
constante sensibilização e um grande interesse pelo cuidar “diferente”, uma
preocupação com outro, a busca por compreender o outro. Nesse sentido,
compartilhamos com Morin a necessidade da Teoria da Complexidade para
questionarmos a fragmentação e o esfacelamento do conhecimento, em que
o pensamento linear oriundo do século XX, colocava o desenvolvimento da
especialização, o avanço tecnológico como supremacia da ciência,
contrapondo-se ao saber generalista e globalizante. A complexidade parte
da noção de totalidade e incorpora a solidariedade, que coloca lado a lado
razão e subjetividade humana. Precisamos incluir no pensamento linear o
pensamento complexo para o cuidar em enfermagem com isso corrigirá a
rigidez da lógica pelo dialógico, capaz de ao mesmo tempo, conceber
noções complementares e antagônicas e completar o conhecimento da
integração das partes em um todo, pelo reconhecimento da integração do
todo no interior das partes.
É importante refletirmos que a complexidade Moriniana é um desafio
que nos incita a pensar de uma forma diferente, incluindo nesse pensar a
ambivalência, o antagonismo, a concorrência entre opostos que ao mesmo
tempo se completam.
Devemos direcionar nosso olhar para além do aparente e refletirmos
sobre todo o exposto, e que o ensino-aprendizagem seja cada vez mais
libertador que propicie a formação de profissionais com mentes e almas
abertas das mais variadas experiências e promova seres humanos
profissionalizados e cidadãos com mais saúde, com mais consciência de si e
dos outros, com mais capacidade para compreender e amar, com mais
potencialidades para o cuidar complexo em enfermagem.
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Secretaria Municipal de Saúde; 2002.
ANEXO A

TERMO DE CONCORDÂNCIA DA INSTITUIÇÃO

São Paulo, de outubro de 2004


À
Diretora do Curso de Graduação em Enfermagem
Ilma Sra.

Na qualidade de pós-graduanda do Programa de Pós Graduação em


Ciências da Coordenadoria de Controle de Doenças – CCD da Secretaria de
Estado da Saúde de São Paulo, sob a orientação da Profa. Dra. Ana Lúcia
da Silva, solicitamos autorização para a realização da Pesquisa intitulada “O
cuidar na ótica de graduandos de enfermagem à luz da complexidade de
Edgar Morin”.

Esta pesquisa tem por objetivo perceber como os graduandos e


recém-graduados em Enfermagem entendem e fazem o cuidar em
enfermagem, sob o olhar da complexidade, se reconhecem fatores
facilitadores e os que dificultam o cuidar.

Os resultados obtidos com este trabalho serão valiosos, no sentido de


alertar e orientar aos futuros enfermeiros a importância do cuidar humano.
Por mais que a tecnologia avance nas instituições de saúde, será difícil
inventar máquinas que consigam substituir os profissionais de enfermagem.
Certa de podermos contar com sua colaboração para a realização
desta pesquisa, agradece antecipadamente sua atenção e reiteramos votos
de estima e apreço.

Atenciosamente

Profa. Dra Ana Lúcia da Silva Marlene Gomes de Freitas


Orientadora Orientanda
ANEXO B

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA


COORDENADORIA DE CONTROLE DE DOENÇAS - CCD DA
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE SÃO PAULO – ÁREA DE
CONCENTRAÇÃO: SAÚDE COLETIVA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário (a), de uma
pesquisa. Após ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir, no caso de
aceitar fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que está em duas
vias. Uma delas é sua e a outra é da pesquisadora responsável. Em caso de não
concordar você não será penalizado (a) de forma alguma. Você tem liberdade de
retirar-se da pesquisa a qualquer momento, sem prejuízo algum. Em caso de
dúvida você pode procurar o Comitê de Ética do Instituto de Saúde, pelo telefone
(011) 3105-9047 r. 209, posgradcolet@isaude.sp.gov.br, ou a pesquisadora
responsável pelo telefone (011) 3858-6289 e-mail gomes.freitas@uol.com.br

Eu, .................................................................................abaixo assinado,


concordo em participar do estudo, “O cuidar na ótica de graduandos de
enfermagem à luz da complexidade de Edgar Morin”. Fui devidamente informado
(a) e esclarecido (a) pela pesquisadora Marlene Gomes de Freitas, sob a
orientação da Profa. Dra Ana Lúcia da Silva, que este trabalho tem como objetivo
reconhecer como o graduando ou recém-graduado em enfermagem compreende
o ensino do cuidar na ótica da complexidade de Edgar Morin e que serei
entrevistado (a) utilizando-se de um gravador. Nenhum serviço ou compensação
será oferecido em decorrência da minha participação. Minha assinatura neste
documento, por livre e espontânea vontade, representa a anuência para agir
como sujeito nesta pesquisa. Fica assegurado, a mim, os seguintes direitos:
liberdade para interromper a participação em qualquer fase da entrevista, no
momento em que julgar necessário, assegurando-me a confidência de qualquer
resposta quando for solicitado, assim como o sigilo de minha identidade e o de
conhecer os resultados obtidos a meu respeito. Estou ciente de que meu nome
permanecerá no anonimato, uma vez que no roteiro para entrevista não consta o
nome do participante da pesquisa.

São Paulo, de de 2005


Assinatura do Entrevistado ______________________________________
Assinatura da Pesquisadora _____________________________________
ANEXO C

ROTEIRO PARA ENTREVISTA

A) DADOS SÓCIO DEMOGRÁFICOS

Idade: __________________ Sexo: ( ) masculino ( ) feminino


Religião: __________________
Têm filhos: ( ) sim ( ) não – Quantos ____ _________________
Trabalha: ( ) sim ( ) não
Graduado: ( ) Recém-graduado ( )

B) QUESTÕES NORTEADORAS

1) Como você percebe(u) o ensino do cuidar no curso de graduação em


enfermagem ?
• Fale de suas experiências sobre o cuidar em enfermagem.
• Expresse o significado de cuidar em enfermagem.
• Fale das facilidades que encontra no cuidar em enfermagem.
• Fale das dificuldades que encontra para cuidar em enfermagem.
• Sinta-se à vontade para comentar outros fatos que julgar necessário.
ANEXO D

GUIA PARA ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

Diante dos objetivos deste estudo, elaboramos este guia a fim de


subsidiar a análise das entrevistas. Para sua construção elencamos os sete
princípios e as características do pensamento complexo (Morin, 2003).
Havendo necessidade de consulta ao conteúdo dos princípios e/ou das
características sinalizamos nos itens a e b

a) Os sete princípios para o pensamento complexo


1 – Hologramático
2 – Recursivo
3 – Retroativo
4 – Dialógico
5 – Sistema Organizacional
6 – Reintrodução do Conhecimento
7 – Autonomia/Dependência

b) Características do Pensamento Complexo


• Ambigüidade
• Complementariedade
• Retroação
• Relação Humana
• Generaliza/une /não divide
• Sociedade cria e recria
• Não exclui
• Religa
• Integra
• Incompletude
• Humanidade do Conhecimento
• Contextualização
• Crítica a simplificação
• Espiral
• Respeita o concreto
• Solidariedade
• Interação
ANEXO E

ENTREVISTAS NA ÍNTEGRA

Legenda de sinais que foram usados nas transcrições

... – pausa brusca de pensamento, mudança de assunto ou pequenos


trechos ininteligíveis.

P – Pergunta
R - Resposta

1 – Entrevista com Betânia

P -(1) Como você percebe o ensino do cuidar no curso de graduação?

R – Bom, eu percebi que o cuidar do curso do... 1º ao 3º ano você não tem
como cuidar do paciente porque você não tem acesso ao paciente né...
Você só vai ter acesso ao paciente a partir do 4º ano e ai você não tem
tempo pra você poder colocar em prática, o que você apreendeu na teoria,
então, assim um resumo o curso ele tem muita teoria e pouca parte prática.

P - Reforçando a pergunta: No momento do bloco teórico os professores não


abordavam o cuidar e se abordavam como eles falavam ?

R - Eles abordavam que o cuidar do paciente na enfermagem é


holisticamente, só que ..,. assim, como você não tem acesso ao paciente
você não pode colocar em prática esse cuidar.

P - Solicitando mais esclarecimento sobre o cuidar holístico.

R - É eu acho assim, na minha opinião é holístico. É tudo só que assim o


enfoque maior eu acho que é no exame físico, não hosliticamente,
psicologicamente que entraria aí, o psicológico do paciente né o conversar
com o paciente, né porque às vezes uma conversa que você tenha já
levantam o astral do paciente né, principalmente as patologias mais graves
né.

P - Reforçando a pergunta: como o cuidar é/foi ensinado no bloco teórico?

R - Holística mais voltado ao exame físico a clinica do paciente, não a


essência né.
P -(2) Fale de suas experiências sobre o cuidar em enfermagem

R – É ... essa experiência que eu tive assim é também... não da pra você
cuidar holisticamente é tudo muito rápido, então você ta fazendo um
procedimento de repende você para e passa para outra pessoa e vai porque
esta acontecendo outra coisa que é mais importante né, então, isso também
dificulta né, porque você pode assim, parar você esta arrumando uma cama
você para e vai pra uma outra coisa. Vai passar uma sonda nasogástrica é
mais importante então você passa para outra pessoa para o próprio auxiliar
que trabalha no hospital né e vai ver o outro procedimento, né e isso
também dificulta o cuidar holístico do paciente que tanto se fala nas aulas.

P - Solicitando mais esclarecimento sobre o cuidar no seu dia-a dia,


exemplifique como era esse cuidar.

R - É teve; teve vários dias que às vezes até você quer fazer alguma coisa,
mas como você e graduando você não pode né. No psiquiátrico mesmo
assim agente via as pessoas, no chão deitadas porque tem sono por causa
da medicação, às vezes agente queria que isso seria o lado humano
levantar a pessoa colocar no banco ou sentado e você não podia você fica
assim intimidada de fazer isso e será que eu posso né então você não
pode praticar o que você quer ser no futuro você entendeu..

P – (3) Expresse o significado de cuidar em enfermagem

R - Eu acho que é possível eu pretendo cuidar como foi me passado


holisticamente, mas não só fisicamente né, principalmente assim no
psiquiátrico né que ai você vê carência que as pessoas são muito carentes
então o paciente que te dá para conversar você vê que ele se senti melhor,
ele se abre com você né ele conta coisas que talvez não conte para outras
pessoas né e ai agente tenta na medida do possível como o conhecimento
que agente tem que agente adquire aqui né, a minimizar né o sofrimento
dessa pessoa né.

P - Pergunta como você faria esse cuidar, como ele seria para você.

R - Ali se eu pudesse fazer eu faria muita coisa acho eu faria muita coisa eu
passaria o dia inteiro eu conversaria sabe eu, eu acho teria que ter mais
atividades para ele, inclusive eu sugerir né, para a professora junto com o
meu grupo né e ele falaram que não porque ai possa ser que o hospital
passa a ser um clube, né se tiver, futebol, vôlei eu já não concordo com isso
né que as pessoas iriam lá internar porque lá tem futebol vôlei, tem sei lá
desenho, né preencher aquele tempo né aquele tempo todo ali parado, mas
não a conduta é diferente o que mais me chocou foi esse hospital.
P – (4 e 5) Fale das facilidades e das dificuldades que encontra no cuidar em
enfermagem

R - É isso... não poder fazer nada porque eu sou graduanda, então espero
assim na hora que eu tiver o meu COREN que eu for tipo num hospital,
desse eu tentar colocar em prática o que eu tenho na minha cabeça o que
eu aprendi né.

P - Perguntando novamente você acha que se você fosse fazer isso mesmo
como graduando alguém iria te proibir de fazer

R - Eu acho que não, embora todo mundo fala que é hierárquico que você
vai ter que passar eu acho que não, eu acho que sim né porque acho que
humanização é o principal né principalmente para esse tipo de patologia né
no caso e diferente de você numa uti cuidar fazer um curativo é totalmente
diferente isso na maioria das vezes o paciente são sedados então fica mais
difícil né.

P - Perguntando sobre o estágio na UTI como o cuidar é/foi prestado?

R - É bem automático mesmo. É banho. É aspiração. É isso, aqueles


cuidados do dia a dia esse tipo de paciente sedado então eu acho que fica
mais difícil, apesar de que eu acho que assim às vezes agente conversava
com ela, ela também mexia apertava a mão né.

P – Fale do seu cuidar na enfermaria

R - É lá era assim bem automático porque tinha esse problema às vezes


você estava em um procedimento você tinha que interromper e passar para
um a pessoa né para ver o outro procedimento que seria mais importante
para o momento porque talvez não teria outra oportunidade de ver

P-(6) Sinta-se à vontade para comentar, outros fatos que julgar necessário.

R - É o que eu tenho a dizer é isso a hora que eu tiver como exercer a


profissão, se eu tiver oportunidade de exercer assim eu quero tentar colocar
em prática essa humanização que foi passada pelos professores durante a
graduação inteirinha do 1º ao 4 º né.

2- Entrevista com Nilcéia

P - (1) Como você percebe o ensino do cuidar no curso de graduação

R – Bom o que eu tenho percebido é que os professores se preocupam em


estar passando a responsabilidade do cuidado técnico, deixando muito claro
o cumprimento dos procedimentos técnicos de acordo com os horários
estabelecidos. Um exemplo: É foi em pediatria onde a mãe de um bebe, ela
não concordava com o horário estabelecido pelo professor ou pelo hospital é
o horário do banho né, que seria do período da manhã entre 8h e 9h por
estar um pouco frio e ela ter o hábito de dar banho no bebe a partir do meio
dia, ela gostaria de estar fazendo isso de acordo com a sua rotina. E eu
encontrei dificuldade por que o meu professor ele não concordava e queria
de todas as formas que eu obrigasse a mãe sei lá, convencesse a realizar o
banho naquele momento. Porém não foi o que fiz, eu conversei com o
professor né, levei a situação e falei que a mãe tinha o direito né tinha
prioridade ele acabou concordando e nesse caso o banho foi realizado no
horário que a mãe queria.

P - Fale mais do cuidar abordado pelo prof em sala de aula

R - O que eu pude perceber em sala de aula é que alguns professores, eles


se preocupam em destacar o cuidado de uma maneira global, apesar de ter
sido colocado a importância de ouvir, sentir, perceber e olhar. Quando
chegamos diante do paciente sentimos dificuldade em trabalhar todas essas
informações, por que temos inibição medo e muita preocupação com o
horário de medicação, não temos a informação correta, muitas vezes da
patologia que aquele paciente têm apesar do professor de estágio se
esforçar muito pra nos levar tudo aquilo que precisamos, muitas vezes por
medo, por insegurança acabamos... É ficando mesmo inibidos e inseguros.

P – (2) Fale de suas experiências sobre o cuidar em enfermagem

R - Bom o cuidar teve momentos bons e momentos de conflitos, por que eu


tenha que cumprir uma carga horária e tarefas deixando de prestar mais
atenção às necessidades individuais de cada paciente, como levar apoio
emocional, às vezes ele precisam de um simples tocar, falar alguém que os
ouçam os que de atenção que os façam sentir é reconhecidos e amados, o
ser humano é muito carente e quando agente chega em campo de estágio,
né por conta das tarefas das realizações de procedimentos nós não temos o
tempo necessário e nós acabamos assim, em sala de aula almejando isso,
né nos pensamos que quando chegássemos ao campo de estágio teríamos
assim um contato muito maior com o paciente e com as suas necessidades
e o que eu percebi é que isso às vezes não ocorre, isso pra mim, né no meu
caso foi conflitante.

P -(3) Expresse o significado de cuidar em enfermagem

R - É muito difícil definir o cuidar, porque o cuidar é... Abrangente é você ver
realmente o ser humano em toda sua essência. Cuidar é isso é tudo
depende de quem presta o cuidado.
P – (4 e 5) Fale das facilidades e das dificuldades que encontrou no cuidar
em enfermagem

R - A facilidade é algo individual, depende da empatia do cuidador para com


aquele que esta sendo cuidado. Ao realizar o cuidado precisamos
disponibilizar tempo para perceber as necessidades físicas, emocionais,
espirituais de cada um, enfim, sentir, ouvir tocar, percebê-lo como um todo e
que recebe influência do meio em que esta. Em relação às dificuldades
encontradas e esta relacionada à cobrança que alguns profissionais
educadores é eles estão apenas preocupados com o cumprimento de
procedimentos técnicos, sem se voltarem para a necessidade do paciente a
necessidade que eles tem de ser amados, respeitados que eles existem que
eles estão ali e que eles precisam não só muito mais do que a medicação
eles precisam de apoio emocional eles precisam de carinho de acolhimento.
Em um de meus estágios, eu tive como experiência a presença de uma
senhora que veio ao Pronto Socorro, ela foi medicada porque ela estava
com uma crise de bronquite, sinusite, renite e uma serie de outras “ites” e
quando eu fui preparar o procedimento ao explicar pra ela como seria
realizado, eu segurei em suas mãos e ela me apertou muito forte eu
correspondi ao seu toque e pude observar lágrimas em seus olhos e o
desespero em que ele estava de ter alguém para conversar, alguém que a
apoiasse então, eu conversei com ela é preparei a medicação acabei agindo
de uma forma carinhosa até usando termos como querida a qual a deixou
muito mais confiante, muito mais segura, ela acabou recebendo a
medicação indo pra casa muito melhor do que chegou não só pela
terapêutica medicamentosa, mas sim pelo apoio emocional que ela recebeu.

P - (6) Sinta-se à vontade para comentar, outros fatos que julgar necessário.

R - Silêncio por alguns segundos e fala: Não tenho nada para complementar;

3 - Entrevista com Gilson

P-(1) Como você percebe o ensino do cuidar no curso de graduação

R - O ensino aqui na faculdade no meu ponto de vista, ele correspondeu às


expectativas que eu tinha aqui. Foi, é uma área nova pra mim, minha área,
eu trabalho com outra, outra tipo de área que é segurança e dentro desse,
dessa ampla visão que eu tive escolhi a enfermagem porque aconteceram
coisas que me fez ver a necessidade de cuidar das pessoas né. E nos
ensinamentos aqui pela faculdade eu, na minha visão correspondeu ao que
eu pensava é, porém eu acho assim e muito técnico é mais técnico apesar
de alguns professores abrangerem o que é o cuidar com o ser humano a
humanização. Mais não foi totalmente diversificado o que é essa
humanização é mais a parte técnica você ensina aprendi todos os tipos de
procedimentos, tipo de material como deve ser feito, mas agora quanto à
humanização do paciente foi relatada assim por alguns professores, mas
bem que superficialmente. Eu acho que além de tudo é agente tem que ver.
Nos temos que ver as necessidades do paciente como ser humano, não,
não é só a parte que eu tenho de cuidar dele e de medicamento é os
procedimentos técnicos. Muitas vezes o paciente ele melhora simplesmente
com uma conversa ele se sente só é tem necessidade de ver um parente
que às vezes não pode entrar, cabe né a você determinar se essa pessoa
pode entrar ou não uma criança principalmente pessoal às pessoas na fase
terminal da vida, né agente tem que ceder algumas coisas porque se esta
em fase terminal, podendo ou não a pessoa eu posso fazer com que a
pessoa se sinta um pouco melhor nessa fase dela, não negando tudo
quando não tem jeito não tem jeito não pode extrapolar também.

P - Solicitando mais esclarecimento sobre o que os docentes falaram sobre


humanização

R - Humanização é sermos humanos, pessoa pra pessoa e não


simplesmente profissional técnico com o paciente, porque apesar de ser um
paciente ali um cliente mais é um ser humano que tem todas as
necessidades que eu tenho é posso me colocar no lugar dela como doente é
estar me sinto só, pessoas ao meu redor que eu nem conheço mais a
socialização. Cuidar, conversar, ver se ele estar precisando de alguma coisa
o que esta afetando ele ali naquele estado de estar acamado por estar
dentro de uma unidade hospitalar, se ele tem necessidade de ver pai, mãe
irmão, irmãs, tios e tias é isso que vai fazer bem pra ele com que ele
melhore até. Porque muito dessa melhora também é relacionado com o
psicológico da pessoa, da pessoa doente. Muitas vezes não é só
medicamento os cuidados técnicos que vai fazer com que essa pessoa
melhore, o psicológico tem que estar bom pra ela poder melhorar.

P – (2) Fale de suas experiências sobre o cuidar em enfermagem;

R - Ele é muito mais que somente as técnicas os padrões de procedimento


medicamento e tudo que for prescrito por médico, cirurgias, parte técnica da
enfermagem ela tem essa ampla amplitude da pessoa como ser humana as
necessidades que ela tem como ser humana ela estando doente ou não ela
estando enferma ou não né é uma traz o lado familiar dela pra dentro do
hospital também, isso influi muito na cura do paciente.

P – Fale mais sobre sua experiência no cuidar

R - Minha área eu sou policial militar parte de segurança, vejo muitos


acidentes nas ruas tragédias, não, mas, o que me levou mais não foi isso,
isso, foi me levado ao curso devido a uma avó que eu tinha muito, ela ficou
doente por em média três ou quatro anos e eu vi meu pai cuidar dessa
minha avó, mãe dele ele cuidou em todos os aspectos gerais do que pode e
não podia foi feito e eu achei muito bonito da parte dele porque hoje em dias,
as pessoas não ligam mais umas pras outras e o fato de eu trabalhar e ver
muita tragédia, mas principalmente o fato de ver meu pai cuidar do jeito que
ele cuidou da mãe dele que hoje dia é muito raro isso.

P - Como você percebeu o jeito de cuidar de seu pai

R - Ela passou adoecer, não me recordo à idade correta dela 77/78 anos
com osteoporose e outras doenças que eu não me lembro ele morando no
interior ela aqui em São Paulo e várias vezes ele largava tudo na cidade em
que mora que é Araraquara interior e corria pra São Paulo, a internava aqui
e ficava todo o período de internação, ela o melhorava ai ele voltava para
residência dele com minha mãe, ficava um certo tempo longe, dependia das
necessidades que ele tinha na vida particular dele lá e principalmente parte
financeira que é muito importante, hoje em dia se você tem uma parte
financeira boa é o que corresponde ao seu tipo de tratamento, ele se desfez
de carro que ele tinha, de terreno de casa, tudo pra cuidar da mãe dele no
que foi preciso e sem nenhum tipo, sem pensar ele não queria saber se iriam
causar danos a ele ou não, o principal foi cuidar da mãe, se dedicou de
corpo e alma a cura da mãe aos cuidados tanto que ele posterior a isso dois
anos já nessa correria vem para São. Paulo volta pro interior ele resolveu
levar a mãe pra o interior morar junto com ele, isso causou danos
particulares ao casamento dele, quase teve um período de separação
porque essa minha avó era muito complicada e várias vezes ele teve que
levar ela para São José do Rio Preto hospital de base ficou internada lá
várias vezes e nenhum momento ele pensou em desistir desse cuidar da
mãe dele né, porque as pessoas fraqueza é simplesmente interna, larga
como a gente vê muito nos hospitais que eu tive oportunidade de passar e
em nenhum momento ele fraquejou, muito religioso e dedicado a Deus,
então ele retirou forças da fé que ele tem pra tratar sempre, sempre levando
a mãe dele para qualquer tipo especialista que ele pode para tentar a cura
dela, mas devido às complicações das doenças uma hora chegou e ela não
resistiu teve parada renal, disfunção renal e parada total de funcionamento
dos órgãos ela teve hiper edema, assim absurdo e aconteceu que ela
chegou ao óbito. Mais mesmo assim ele sentiu-se muito confortável porque
fez o que pode por ela enquanto vida.

P - Fale das suas experiências do cuidar enquanto graduando

R - Experiências que eu tive no hospital foram vários hospitais, algumas eu é


achei totalmente aproveitado e em outros aspectos não. É a realidade que
vemos principalmente em hospital publico alguns deles que eu passei é bem
ruim. Eu acho que é ruim. O descaso com pessoas que necessitam do
cuidar é muito grande, eu não sei se é o tempo que a pessoa esta ai
trabalhando passa não relevar mais a, a gravidade da dor ou da doença que
a pessoa ta ou se a pessoa já entrou nessa área com descaso mesmo,
agora que eu pude tirar de proveito eu tirei alguma vezes não, porque
professora teve estágio que nós não colocamos nem a mão no paciente não
tivemos é acesso nem ao prontuário do paciente, realmente fomos é cumprir
horário em estágio, não aprendi nada, não vi prontuário, não vi patologia,
não fiz nenhum tipo de cuidado ao paciente.

P - Solicitando que fale de algum campo que foi possível fazer o cuidar e
como fez

R - Juntamente com bastante esse que foi um dos melhores é uma


professora excelente, deu todo tipo de apoio e ensinamento que ele conhece
e pode nos passar, ela deu total amplitude dos cuidados técnicos e a sua
parte pessoal, o que você poderia fazer ao paciente ela passou os
conhecimentos técnicos que é para isso que nós estávamos lá e da parte
particular pessoal pude conversar com o paciente, entrevistar, ver que tipo
de vida esse paciente tinha, tipo de moradia é o aspecto social dele as
condições de vida e que ele levava e associar isso ao tipo de doença devido
ao que ele estava ali. Quanto aos cuidados foi muito bom eu vi melhora do
paciente eu vi o paciente ter alta e com a cura da doença ou parcialmente e
demais foi tratamento residencial. Agora na parte humana mesmo é muito
pouco é perceptível, assim grandiosamente eu não sei, nem sei se procedi
da maneira correta, mas, é observando o pessoal que já trabalha, na área no
hospital os próprios funcionários à parte de humanização é eu diria que é
quase nenhuma, quase nenhuma é mais a parte técnica mesmo tem que dar
uma injeção dá, tem que proceder a uma passagem de sonda procede,
ninguém conversa com o paciente mal ouve o que o paciente tem a dizer.

P - Mas, enquanto graduando você conseguiu ser diferente em relação aos


que prestavam o cuidar naquele campo.

R - Dentre os hospitais que passei, teve acho que dois lugares só que foi
possível que foi nos aberto à vontade para ficar com o paciente, eu tentei
mudar conversando muito com o paciente, ouvindo ele principalmente
ouvindo ele tem necessidade de falar e alguém para ouvir ele precisa
conversar e que alguém ouça ele e às vezes não é agente fazendo muitas
perguntas a ele que ele se senti a vontade é deixando ele falar, ele fala das
necessidades da família do tio do cachorro que ele ta com vontade de ir pra
casa, teve paciente que se abriu totalmente ele até palavrão ele falou ele
falou que estava de saco cheio de estar ali dentro que ele só iria sentir se
bem hora que saísse dali e voltasse pra casa. Eu senti que isso é uma coisa
que o paciente senti necessidade realmente, mas, é um ato que não ocorre.
E em outros hospitais agente nem teve a oportunidade de ter essa relação
com os paciente e também não ouve tempo também.

P – (3) Expresse o significado de cuidar em enfermagem


R - Cuidar pra mim, abrangendo a parte técnica profissional e de
humanização eu acho que foi num amplo aspecto eu tenho que saber a
parte técnica assim demais, por que qualquer medicamento errado que eu
der ao paciente vou esta lesando ele assim enormemente é muito importante
você saber a parte técnica medicamentosa, teórica você saber é o remédio
que eu vou dar o que vai causar no paciente e os efeitos colaterais se eu
vou ter um resultado bom ou ruim para o paciente, não é ao que eu aprendi
é para o paciente. Tenho que saber tudo isso, certa parte eu não me
considero totalmente apto a esta procedendo certos tipos de procedimentos
porque, agente não se aprende tudo isso na parte teórica, eu acho que é
muito prático e muitas dessas coisas nos não tivemos oportunidade, então
eu não posso me considerar apto, tenho uma base, mas não uma aptidão
total. E na parte humana é mesmo agente presenciando todos esses tipos
de dificuldades que é encontrada nos hospitais de uma maneira geral
funcionário, parte de medicamento parte de material, mesmo vendo isso, eu
acho que nos mesmo acabamos pecando nessa parte por não, direcionar
melhor o tempo e disponibilizar um tempo pra você ta com o paciente
ouvindo ele o que ele tem a dizer quanto ao profissional, quanto ao hospital,
como ele foi cuidado quais as necessidades que ele tem enquanto estiver
internado, necessitando que uma pessoa ampare ele em todos os aspectos
se ele pode comer próprio dele ou se ele tem a necessidade que alguém de
a comida na boca dele eu acho que em tudo tem que ouvir o paciente ele vai
te dizer o que você tem que fazer ou não fazer pra ele, ele vai relatar qual a
importância sua pra ele, ele vai te dizer direcionar, é como você cuidar da
melhor maneira dele próprio vai estar dizendo, se você tiver oportunidade de
ouvir. Mas muitas vezes nos não temos e também pecamos por descaso.

P – (4 e 5) Fale das facilidades e das dificuldades que encontrou no cuidar


em enfermagem

R - A dificuldade de realizar também é muito grande, haja vista que além da


parte técnica é falta de material, falta medicamento e às vezes falta de
funcionários uma coisa que deu pra perceber bem e às vezes sobra muito
paciente pra você cuidar e você não tem esse tempo disponível pra ta dando
atenção ao paciente, isso é complicado.

P - (6) Sinta-se à vontade para comentar, outros fatos que julgar necessário.

R - Eu tenho a relatar uma queixa quanto ao ensino, nos temos muita parte
teórica, lógico isso é extremamente necessário, mas deveria combinar com a
parte prática, o que foi passado em sala de aula ser cobrado e ser passado
na parte prática, você aprendi muito mais, do que você ter uma carga teórica
enorme durante um ou dois anos e se for ver a parte prática, só no último
ano e de repente você já esqueceu alguma coisa, não recorda direito e ser
cobrado, muitas vezes nós não fomos cobrados e quem não é dá área como
eu, eu me senti muito prejudicado na parte de estágio, teve muitas coisas
que eu não tive oportunidade de ver aprender, sei porque o colega que já
trabalhava passou ou o professor teve oportunidade de conversar e passar
como que é, mas, na prática mesmo não pude apreender. Eu acho que a
universidade deveria associar o teórico com o prático e uma vez mais poder
cobrar muito mais desta forma.

4 – Entrevista com Gal

P - (1) Como você percebe o ensino do cuidar no curso de graduação

R – Para mim, meus professores de uma forma geral, eles passam esse
cuidar de uma maneira muito assim intensificada, e principalmente agora
com esse negócio de humanização, agente esta vendo muita coisa sobre
isso e eu acho que falta um pouco de interesse dos alunos e não dos
professores de está ali exemplificando, de está sempre explicando de uma
forma correta, porque acho que a grande dificuldade que agente tem aqui é
o professor mostrar e falar da maneira que tem que ser e os alunos falarem
do hospital que trabalham que não acontece assim. Porque o papel do
professor é mostrar o que tem que ser feito, não o que hospital X não
acontece.

P - Explique o que ser humano

R - È humanizar o cuidado, é dedicar ao cuidado do paciente na sua


totalidade, não vê ele como uma doença ou como órgão, mas sim como um
todo, ele como um todo e cada cliente com a sua individualidade, cada um
com o seu eu né, ele tem que prescrever, cuidar de cada um de maneira
diferente, não é porque são as mesmas patologias, mas são pacientes
diferentes.

P – (2) Fale de suas experiências sobre o cuida em enfermagem

R - Bom eu trabalho né, em Centro Cirúrgico assim, a parte mais o que eu


presto lá é receber o paciente na porta ele já vem sedado, então a gente não
tem aquele contato muito intenso com ele, como o pessoal da Clínica
Médica, não tem aquela relação porque ele vem fica ali duas horas e vai
embora.

P - Fale mais do cuidar do paciente na recuperação pós-anestésica

R - Temos que cuidar, observar drenos, curativos é, anotar sinais vitais, mas
assim o cuidado banho, troca de fraldas essas coisas agente não tem,
porque geralmente ele sai sondado, conversar é mais complicado, dar apoio
psicológico ele não pode deambular.
P – (3) Expresse o significado de cuidar em enfermagem

R - Na minha opinião, o cuidar é prestar assistência para o cliente que esteja


necessitando é daquele cuidado, o qual naquele momento não pode
executar. O cuidador precisa acima de tudo amar, dedicar-se, ter respeito,
manter a privacidade daquele paciente, ah..., O ser humano.

P - (4 e 5) Fale das facilidades e das dificuldades que encontrou no cuidar


em enfermagem

R - Dificuldade, agente sempre tem alguma coisa, mas o falta um pouquinho


assim é... Às vezes um material que te falta, você não pode prestar aquele
cuidado por completo, é temos que improvisar muito. Isso dificulta muito o
cuidado da gente, e ter uma boa relação, às vezes ele é uma interação
difícil, porque às vezes ele não que ou às vezes ah...

P -(6) Sinta-se à vontade para comentar, outros fatos que julgar necessário.

R - Quanto ao cuidar esta muito defasada, eu acho que é um déficit muito


grande com o pessoal da enfermagem em relação ao cuidado, que agente
trata mais o paciente enquanto ao número de leito, quanto à doença sua
patologia, esta subindo a vasectomia não o paciente em si, não é só na
enfermagem, é médico enfermeiros, auxiliares de enfermagem eu acho que
passar por uma, eu não diria reciclagem eu diria por um treinamento,
educação continuada, mas atrai esse pessoal pra esse plano de cuidado, né
porque é uma coisa e eu vejo no meu setor, uma coisa: agente conversa
com ele e nem olha nos olhos do paciente, né às vezes fala com ele e às
vezes induzindo uma resposta; senhor não tem né alergia, é isso aí...

Silêncio e nada mais.

5- Entrevista com Petrônio

1- ) P – Como você percebe o ensino do cuidar do curso de graduação

R- Dentro da graduação assim hoje, eles têm em algumas matérias como


semiologia e semiotécnica, ... Ele tem abordado esse cuidar diferenciado,
mesmo em pediatria estamos vendo esse cuidar diferenciado, essa maneira
de você ta prestando cuidado ao eu paciente, a teu cliente né,...Uma
maneira, mais deixando de ser aquela coisa mecânica, sendo uma coisa
mais humanizada.

P – Explique “essa coisa mecânica”


R – Mecânica é quando você chega, pega um plantão, não sei se é porque o
profissional enfermeiro esta até sobre carregado hoje, você recebe um
plantão, você passa visita no teu paciente de maneira que você não perde
assim tempo, não perde tempo no leito ao lado do teu paciente pra ta
ouvindo, você só chega se apresenta faz aquela, aquela visita de 5 e 10
minutos perante o leito, durante esse tempo você não pode ouvir, avaliar o
paciente, você não perdeu tempo ali 20, 30, 40 minutos com teu paciente,
então fica difícil você prestar uma assistência a esse paciente humanizado.
E essa coisa mecânica é você chegar, vê os sinais vitais, já chega lá já
anota, não para pra ouvi o paciente pra explicar qual o procedimento você
esta fazendo, qual a finalidade daquele procedimento, né você ta
preocupado em mais em..., Um número, chega e você não se preocupa com
o paciente.

P - Você percebe isso nos hospitais em que tem estagiado

R – Isso tem acontecido nos hospitais, durante no decorrer do estágio né,


isso mudou muito principalmente hospital público né que têm carência de
funcionário, carência de profissional enfermeiro, o enfermeiro ta responsável
por dois, três setores diferentes, então ele não pode dizer que ta
desenvolvendo um cuidar né, um cuidar de enfermagem, que esse paciente
ta recebendo um tratamento humanizado por que não ta né.

P – (2) Fale de suas experiências sobre o cuidar em enfermagem

R - Meu cuidado, hoje com o conhecimento que eu venho obtendo hoje na


faculdade, assim não posso comparar com o cuidado que foi dispensado
que eu dispensava no meu paciente no passado. Hoje o aluno de graduação
ele já começa a desenvolver um cuidado mais de maneira mais técnico-
científico, hoje já obtenho, tive conhecimento no decorrer do curso que... O
cuidado dispensado ao paciente hoje vai ter um cuidado diferenciado né

P – Fale desse cuidado diferenciado, explique melhor.

R – Esse cuidado diferenciado é mais ou menos, que possa focar essa


humanização que tanto hoje vem sendo discutida, essa humanização na
saúde, humanização na enfermagem, é isso o enfermeiro hoje em saber
ouvir o paciente, é o enfermeiro está mais próximo do paciente, é o
enfermeiro estabelecer uma comunicação, eu acho que hoje o que falta no
cuidado pra desenvolver um bom cuidado é a comunicação.

P – Você acha que isso ainda falta

R – Falta, acho que o erro ainda é a comunicação né você não para pra
ouvir o paciente você vê o histórico, esta mais preocupado hoje em ta lá
administrando medicação esta fazendo outra coisa de natureza mecânica
né, deixando de ouvir o paciente, sentir o paciente de você ta avaliando
melhor.

P -(3) Expresse o significado de cuidar em enfermagem

R - Cuidar em enfermagem significa pra mim, é... Ter um conhecimento pra


que se possaaaa... Desenvolver-se no se dia a dia o seu ambiente de
trabalho né, ações de práticas que venha a, melhorar a assistência prestada
ao paciente de maneira que venha aliviar os problemas gerados que
contribuiu para que ele chegasse até ali no hospital né,

P – Para maior esclarecimento, explique melhor que cuidar é esse?


Prestado ao indivíduo.

R- Esse cuidar seria, você avaliar o paciente vê que tipo de cuidado você
estaria prestando pra ele, né ... Dentro do próprio da avaliação de
enfermagem do próprio SAE né, do que você vai ta fazendo com ele quais
são os cuidados que vai ser dispensado pra esse paciente de acordo com a
patologia do paciente que você vai ta aplicando.

P- Explique melhor quais são esses cuidados, quando você fala em cuidar.

R – Cuidado humanizado né, eu acho que é isso que está faltando um


tratamento assim mais humanizado, chegar mais próximo do paciente, não
deixar que esse cuidado seja assim muito cuidado mecânico, podendo estar
desenvolvendo coisas mecânicas e perdendo assim, a enfermagem hoje não
perde muito tempo com paciente, de parar de ouvir o paciente, de sentir o
paciente de tocar nesse paciente, para que nesse tratamento humanizado,
ocorra aproximação com o paciente e com as ações de enfermagem que
venha obter resultados satisfatórios.

P –Seu conceito para cuidar em enfermagem

R – Cuidar pra mim, em primeiro lugar é você conhecer o paciente é


observar o teu paciente é você manter um, uma comunicação com seu
paciente pra que o mesmo ele venha sentir a vontade pra expressar quais
são os seus sentimentos, quais são os seus medos, o que ele espera
daquele tratamento, do que ele espera dos cuidados que eles estão, ta
recebendo, a partir daí você conhecendo melhor o teu paciente, você pode,
possa estar desenvolvendo assim ações de cuidado que... Realmente
venha resolver o problema... Reconhecendo mais seu paciente. Falta
comunicação né mais uma vez, acho que falta comunicação, as pessoas
hoje não tem tido assim muito tempo pra, pra ouvir.
P - Fale das facilidades e das dificuldades que encontra no cuidar em
enfermagem

R – Pra se dar um cuidado digno assim de enfermagem eu acho que,...


Principalmente nas instituições públicas, que tem carência mesmo de
profissionais era você ter um número maior de profissionais, um número de
paciente pra aí você conseguir da um tratamento diferenciado. Acho que a
carência de profissionais é que leva, faz com que você talvez não
desenvolva um trabalho realmente focado o que é o cuidar.

P –Reforçando você acredita que o número insuficiente de profissionais


interfere no cuidar prestado.
O número insuficiente de profissionais digno de enfermagem. A Instituição
de ensino tem “soltado” muita gente no mercado hoje, mas não sei onde as
pessoas estão sendo absorvidas. Principalmente no setor público tem
carência desses profissionais.

P – As instituições de ensino estão liberando esses profissionais, porque


eles não fazem esse cuidar.
R – Acho que esse profissional fica desmotivado talvez com o serviço
público com o salário, terminam negligenciando, terminam negligente e
sendo conivente com o sistema.

P – Fale agora o que dificulta o cuidar

R-O que dificulta o cuidar hoje em enfermagem e que impede que o


profissional enfermeiro ele desenvolva ações, de enfermagem de maneira
humanizada, é o salário acho que às vezes o salário que é oferecido no
mercado talvez não é tão condizente, a pessoa tem outra visão durante o
tempo na graduação e quando ele sai, terminam se decepcionando e o
próprio sistema, né torna-se um círculo vicioso né, que o profissional antigos
que já estão no mercado termina desmotivando e eles terminam igualando
também, não procura fazer diferente. O número de profissionais é pouco
profissionais para muito paciente, jornada intensa de trabalho, esse baixo
salário faz com os profissionais de saúde talvez tenha que trabalhar dupla
jornada em dois hospitais diferentes, cansaço também, eles trabalham em
um hospital privado e outro no hospital público, claro que no hospital privado
ele vai se dar mais e no hospital público ele já vai chegar cansado, vai
terminar negligenciando...Em termos de salário no Brasil, ninguém esta
satisfeito realmente com o que ganha né, mas se tivesse um salário digno se
o profissional pudesse trabalhar só ne uma instituição um período integral,
ele poderia se esta se dando mais.

P – Durante suas atividades fale do cuidar prestado por você

R – Durante o tempo em que trabalhei com auxiliar de enfermagem, não sei


se pelo fato de trabalhar em um hospital religioso, foi hospital que é dirigido
por freiras. Existe o sentimento muito de religiosidade, da maneira que esta
cuidando se colocando no lugar do outro de você está, colocando no outro
lado, de estar sentindo e vivendo aquela situação. O cuidado que eu
desenvolvia há um tempo atrás meu primeiro emprego, tenho certeza que
era um cuidado humanizado, mesmo sem saber o que era humanização,
hoje já desenvolvia esse trabalho humanizado era você ter, assim carinho
pelo que você faze e gostar do que você faz, é você fazer de maneira com
aquilo que você desenvolvendo, fazendo com aquele paciente aquilo esta
sendo proveitosas para ambas as partes. Você vê a recuperação do
paciente, você vê o paciente chegar e conseguir sair daquele quadro, você
sabe que a enfermeira contribui com aquilo o cuidado de enfermagem ele é
essencial além do cuidado médico, do que ele passa, mas o enfermeiro esta
24h, não adianta o médico ter feito uma prescrição e a enfermagem ter
seguido, mas se não tiver um profissional enfermeiro 24h aquele cliente ele
não sairia daquele quadro.

P –Ficou claro que você percebe a importância do cuidar, sinta-se à vontade


para comentar outros fatos que julgar necessário.

R – Cuidar pra mim, mais uma vez assim eu venho até enfocar, é a
comunicação como sua linguagem terapêutica é você saber ouvir, é você
saber entender que o cliente, o paciente precisa é você ter assim, colocar
em prática todo o conhecimento durante assim esse quatro anos que você
passa em um a universidade, todo esse conhecimento teórico que você
adquiriu e você vai poder colocar em prática que você muda esse quadro
que está aí. A enfermagem tem muito a contribuir nesse processo de
mudança de cuidar,...de...do paciente.

R - Silêncio por alguns segundos, sendo colocado algo mais para comentar,
nada sendo falado foi encerrado a entrevista.

6 – Entrevista com Clarice – Recém -Graduada

P - (1) Como você percebeu o ensino do cuidar no curso de graduação

R – Eu acho que o cuidar foi posto pra nós de alguma forma por alguns dos
professores. Alguns se preocupam com o paciente e não só em dá o
cuidado com o paciente, outros já não, eles queriam que você realizasse a
técnica, que você soubessem teoria, mas, esquecia o lado do paciente, a
importância que o paciente têm, o importante é que você tinha que dar
atenção pra esse paciente. As vezes até você chegar no paciente era melhor
do que você fazer procedimento, um toque no paciente, um bom dia, um
diferencial para o paciente isso era muito importante, alguns professores
nunca, nunca tocou nisso, alguns sim eles destacavam isso pra mim, eles
me passaram. Tínhamos professores que passaram muito isso, outros só
passaram mesmo na minha vida não acrescentaram nada.

P – Fale se alguns professores acrescentaram coisas referentes o cuidar,


como eles explicavam o cuidar.

R – Eles sempre falavam que, quando a gente chegasse em algum paciente


à primeira coisa que a gente tinha ao chegar no paciente, era tira, era dar
atenção a esse paciente, não chegar já ir entrando e manipulando paciente,
sem perguntara ele como ele estava se sentindo se ele teve uma noite boa,
se ele estava com alguma dúvida em algum procedimento que alguém fez
nele, vê se ele está com algum problema com família, se tinha algum
problema que estava atrapalhando o tratamento dele. Se alguma coisa
estava atrapalhando ele, ah!!!!... eu tive uma experiência quando eu fiz o
técnico e a menina, a paciente no centro obstétrico ela não queria ficar lá:
- eu não quero ter o nenê agora, eu preciso ir embora vocês não vão me
segurar aqui e tudo mundo forçando a ficar aqui, aí eu, falei não, deixa-me
conversar com ela, fui conversar com ela e qual era o problema dela, ela
tinha deixado o filho em casa sozinho e ninguém tinha dado o telefone pra
ela ligar, pra alguém ir recepcionar o filho que estava chegando da escola, o
marido viajando, então a partir do momento que eu liguei, ligamos pra mãe
dela é a mãe dela conversou com ela, que já estava com o filho, ela ficou
numa boa no hospital, colaborativa, que ela estava até mordendo as
auxiliares (risos), então quer dizer, foi o que ouvi o outro lado dela não só de
cuidar dela pra ter o nenê nada disso, tava vendo qual era a preocupação
dela e isto estava atrapalhando ela de ter o nenê dela né. Então foi uma
coisa assim que isso foi me passado, que agente tem que olhar pro outro
lado do paciente às vezes ele está com um problema que passa
desapercebido, que agente só esta preocupado em dar assistência, ainda
mais nos enfermeiros, né.

P –(2) Fale de suas experiências sobre o cuidar em enfermagem, quando


realizou os estágios?

R – Eu comecei fazer estágio no 1º ano, semiologia e semiotécnica, e vou


te falar uma coisa, eu fui lá pra cuidar. Eu não queria mais saber de nada
(risos), fui o que era pra fazer é isso e eu fazia, eu não me preocupava muito
no 1º ano, eu não me preocupava com o outro lado do paciente só via o
cuidar dele, se eu fosse lá para fazer um curativo e o curativo estava
realizado pronto minha função acabou ali. Aí...depois, do 2º, 3º ano que a
gente foi tendo as outras materiais a minha visão mudou completamente. Aí
eu gostava, por que eu gosto muito mais do cuidar de, de eu tenho muita
facilidade para conversar com as pessoas, de instruir uma mãe, de instruir
um paciente de como fazer um curativo de como ele procederia em casa eu
gosto de deixar sempre uma abertura pro paciente, eu não gosto nunca de
igual eu vejo colega minha que até hoje, que...verifica uma PA, por exemplo,
e faz UmmUmmmm... e saí daqui a pouco você volta, a pressão aumentou
não sei quanto porque, deixou aquele pessoa só aquele um que você fez
que você não explicou deixou o paciente ansioso, que você tem que falar
olha, deu uma alteração eu vou passar pro médico, vamos ver qual vai ser o
procedimento agora, não deixar o paciente naquela expectativa porque isso
acaba atrapalhando mais o tratamento ainda, então eu não tinha essa visão,
essa visão eu adquirir depois, nem do 2ºano eu tinha, acho que foi do 3º
para o 4º, com alguns professores que agente foi, conversando mesmo.

P – Os professores tinham uma preocupação em despertar no aluno esse


cuidar, explique melhor.

R - Eu tive uma professora, por exemplo, que antes de a gente entrar para
reconhecer o campo ela falava: olha aqui as pessoas são é carentes, elas
precisam de atenção tem pessoas que estão aqui sem acompanhante que
estão com alguns problemas, de financeiros do tratamento aqui não é, então
vamos dar mais atenção as essa pessoa, vamos dar é vamos direcionar o
nosso tratamento, mas nunca esquecendo de vê o lado da pessoa, do
paciente eles têm os traumas deles com alguns procedimentos, vamos
começar a tirar, vamos esclarecer essas dúvidas, a enfermeira sempre tem
que esclarecer dúvida do paciente não tem que conta toda a patologia, mas
sempre tem que esclarecer, nunca pode deixar o paciente inseguro, a gente
tem que falar isso é nosso dever falar com o paciente o que esta
acontecendo, por que alguns médicos, entram faz o exame dele (batida na
mão) e rua, aí o paciente você entra lá ta com aquele olho, você fala o que
aconteceu ele não é que o Doutor passou aqui o que será que ele achou de.
mim, será que eu vou ter alta ou alguma coisa assim, olha eu sempre falo
vou verificar eu vou olhar o relatório do médico, e depois eu do uma posição
pra o senhor ou pra quem fosse, então isso ajudou muito assim meu
relacionamento com os paciente demais, mas foi alguns professores que me
passaram, mas agora outros.

P – Qual era a preocupação desse outros professores

R – Era ver se você estava é fazendo a técnica, aquilo estava sendo


estipulado, então é passagem de sonda, deixa-me ver se você esta fazendo
corretamente, não viu que antes eu expliquei o procedimento pro paciente,
olha vai ser assim assim eu fazia isso, explicava tudo que eu ia fazer eu sei
a técnica eu não tenho a prática de fazer, mas eu sabia técnica, eu podia até
erra na hora de passar uma sonda, errar assim que eu digo de contaminar
alguma coisa assim, mas o procedimento com o paciente eu sempre quis
falar,, sempre até uma punção eu sempre falo, olha vai ser assim vai arder
você depois que eu fazia, olha observa também se tiver hiperemia né eu não
falava hiperemia porque se não né, então vai ficar vermelhinho dava uma
explicação, mas você dava atenção, você fica atento e chama o auxiliar ou a
enfermeira mesmo e comunica, eu sempre gostei de fazer isso.
P – Como você faz o cuidar hoje

R – Hoje eu continuo, por enquanto continua do mesmo jeito que eu sai do


4º, preocupação com o paciente mesmo e também comigo eu também gosto
da minha segurança então gosto sempre de ta alerta ao que eu vou fazer,
pra eu fazer corretamente, mas me protegendo também, por que às vezes
você quer tanto ajudar o paciente que você acaba esquecendo de você
como profissional, então eu sempre atenção em posição de como eu vou
carregar um paciente se eu tiver que ajudá-lo, pra mim não me prejudicar
também, na postura que eu tenho que fazer eu procuro sempre me policiar
com isso, sabe porque pra mim ta ajudando o paciente eu tenho que ta bem
também.

P – Como você trabalha esse cuidar com sua equipe

R – Eu também sou assim com minha equipe, eu quando to vendo alguma


coisa, que esta prejudicando a ela mesmo, eu alerto também falo olha a
gente gosta muito de ajudar as pessoas a gente faz o impossível, o
enfermeiro tem um pouco disso né, as vezes você que ser samaritano assim
, você não pensa só, você quer fazer mais, né mesmo o impossível as
vezes tem uma coisa no setor e busca a gente tem sempre essa mania de
sempre quere fazer mais do que a gente pode, mas eu sempre me preocupo
com isso , eu sempre falo pra elas sempre quando vai no paciente do sexo
masculino sempre estar em duas pessoas, levantar o paciente pra não ter
problema, mesmo com o médico eu sempre falo, porque a gente sabe
desses outros problemas que tem de denúncia, não é, eu sempre falo você
pra elas sempre tem que valorizar o serviço de você, então quando vai
carregar uma maca, sempre ir em duas, transportar um paciente eu falo da
postura. Nós fizemos um..., o pessoal da fisioterapia foi pra lá fazer em
criança aí eu falei porque você não faz uns exercícios que uma possa fazer
na outra pra relaxar, pra respirar , aí elas ensinaram então uma faz na outra
quando ta muito estressado eu achei, eu gosto de vê esse lado da minha
equipe eu acho muito importante porque eles tem que estar bem pra mim
também está bem né, a equipe tem que trabalhar unida, eu acho que isso é
importante.

P – 3- Expresse o significado de cuidar em enfermagem

R - Eu gosto de ver o cuidar no todo, mental, físico eu não vejo só o


paciente só fisicamente no cuidar, como eu já te falei, eu gosto de ver o
lado, o outro lado do paciente também , pois eu acho que ele tem que ta
bem mentalmente, também pra ter uma melhora, eu acho que um paciente
que não está bem consigo mesmo, ele não consegue uma melhora do
quadro dele, então eu gosto de vê o paciente como um todo, eu vejo ele
inteirinho mesmo, não é só cuidado.
P Explica melhor o que significa inteirinho

R – Eu o vejo mentalmente e fisicamente, um cuidado físico é fácil de a


gente dar, muito fácil por que a gente tem técnica, tem procedimento tem
tudo, agora a parte mental, tem instituições que não tem psicólogos
disponível pra essa coisa, dúvida do paciente com câncer, a mãe que
descobre na hora do parto que é HIV positivo, então eu gosto de vê sempre
o lado, o todo do paciente as dificuldades que ele vai ter ali por diante,
imagina-o descobrir naquele momento, que é um momento de gloria de ter
um filho, que ele é HIV positivo é muito triste pra pessoa.
Né.

P – Como você cuidaria dessa pessoa do exemplo citado

R – Acho não eu tenho certeza que iria orientá-la como vai processo daqui
por diante, encaminhar ela pro um outro órgão né que vai cuidar dela, quais
os procedimentos dela com o bebê agora, o que ele vai ter fazer, né pra
criança, maioria das vezes não é HIV positivo, você tem que tomar algum
cuidado, medicação que tem que da pra ela própria, com certeza vou
instruir e encaminhar essa pessoa

P – 4 e 5) Fale das facilidades e das dificuldades que encontrou no cuidar


em enfermagem

R – O que facilitaria, ia facilitar se as pessoas tivessem mais informação


sobre é cuidar, que todos os nossos professores acadêmicos né, é
professores de estágio conseguissem transmitir isso pra todos os alunos,
pois existe pessoas que não tem isso dentro de si, tem outros que tem,
algumas não, algumas tem que aprender a fazer, então acho que teria que
esse ensino teria já que vim de base também né, tudo bem tem pessoas que
são assim mesmo por natureza que qualquer lugar você vê que a pessoa é
disposta, é comunicativa algumas pessoas não, então acho que a gente
tinha que colocar um pouco mais na cabeça dessas pessoas que a
enfermagem não é só um cuidar físico, que você tem que ter toda uma
preocupação com o paciente né, não só o cuidar vejo gente muito mau
educado, entra no quarto acedendo a luz sem antes bater numa porta, essa
educação não é de faculdade, educação é de base, isso vêm de casa é de
berço. A faculdade, não vai conseguir colocar na cabeça de uma pessoa
dessa, que ele tenha que bater na porta e pedir licença, mesmo que não
seja em um hospital particular, porque no particular eu tenho certeza que ela
vai bater na porta, mas no público ele não vai, porque a pessoa as vezes
não tem formação, não tem nada então ela não vai cobrar nada de você.

P - Agora fale das dificuldades do cuidar em enfermagem

R – Acho o que dificulta também é a visão de dentro de um hospital, eu acho


que as nossas não tem as vezes essa visão, as vezes você faz um
procedimento desse, chama atenção até de um amigo seu, acha que é
frescura é exagero é de você ser muito educado, acham que você tem que
ser mais firme, ser estúpida não quer dizer ser firme, as vezes você
consegue muito mais coisa sendo gentil e educada do que xingando, então
acho que falta também visão da administração é além do próprio pessoal
das chefias, mas acho que falta mesmo é a base nos profissionais da
saúde. Acho que algum mais antigo não tem assim muito, a maioria não tem
essa visão, eles querem resultados eles não querem qualidades, eles
querem resultados.

P -6 – Sinta-se a vontade para comentar, outros fatos que julgar necessário.

R – Eu tive uma experiência assim, que eu tinha, eu não sou da área,


quando eu me formei eu não era dá área da enfermagem nem auxiliar nem
técnica, e algumas do meu grupo já eram auxiliar e técnica, então quando a
gente chegava nos estágios, eu esperava tanto delas, por ser auxiliar e
técnica e eu me decepcione de mais com isso, porque elas tinham atitudes
que não eram de uma pessoa que estavam se graduando em enfermagem
e o que mais me entristeceu foi que saíram daqui com essa visão ainda, não
conseguiu absorver nada do que foi passado. Eu entrei dentro de um Co no
estágio, quando chegamos lá estava um caos, meu professor infelizmente
era péssimo e quando nos chegamos lá tinha paciente com xixi, retro-
placentário no chão, fezes então eu falei: vamos por uma ordem dar banho,
melhorar o astral, nos estamos fazendo estágio, não tem agora parto, vamos
evoluir os pacientes, tinha banho pra dá, tinha cadeira pra sentar, a bola pra
fazer a dinâmica né toda. Aí, vamos gente, vamos limpar, trocar as camas,
eu não isso é coisa de auxiliar, não é coisa de enfermeiro. Eu falei olha eu
falei na hora, eu sinto tanto por você, que vocês estão saindo da faculdade
com essa visão, que enfermeiro não precisa por a mão em nada, vocês
estão muito errado, foi um desabafo meu ali na hora. Mas eu fiquei
decepcionada de ver que alguém que já trabalha na área e eu não
trabalhava tinha esta ainda visão.

7- Entrevista com Ana

P - 1) Como você percebe o ensino do cuidar no curso de graduação

R - O cuidar na enfermagem que eu venho aprendendo no curso de


graduação é que os professores tentam passar pra gente, que as vezes não
é só a gente olhar o paciente como um paciente independente de sua
patologia da sua doença, é observar como um todo como ser humano é dar
assistência de enfermagem que ele mas eu acho que vai mais além né, na
ajuda em tudo que a enfermagem não é só aquele momento, a técnica que
a gente tem que testar, não é só tarefas de rotinas de trabalho, eu acho que
é um tudo um enfoque né, é quando o paciente fala de seu problema, né a
gente acaba ouvindo participando, então eu só acho acaba cuidando do
paciente como um todo faz parte que a gente ta ali todo momento com
ele, então ele se abre bastante contando seus problemas, as vezes tem
coisas que a família não sabe.

P - Reforçando a pergunta se essa forma de cuidar,foi colocado pelos


professores em sala de aula ou é uma coisa sua.

R - È mais minha, assim nessa fase de observação do paciente,


principalmente o emocional né tem muito a vê com o paciente, ah! Quando a
gente fala assim o paciente vai para o CC, a expressão do olhar já muda,
você vê a reação do paciente num todo, então naquele momento que ele
está passando, então aquilo eu observo, não que os professores façam
exatamente isso, mas eu acabo observando isso no meu dia-a-dia,
experiência de trabalho.

P – Como o professor fala esse cuidar em sala de aula.

R – O cuidar que o professor passa pra gente é aquilo que eu falei, é mais a
técnica, não mexe muito com o emocional do paciente eles até falam pra
gente observar, mas a gente não aprende a lidar é mais diretamente a
patologia é mais o cuidar daquele paciente, da gente preparar ele pra ele
passar pela aquela situação. O paciente no pré-operatório, vou conversar
com ele diminuir a ansiedade, explicar como vai ser feito, mas é dessa forma
que elas explicam desse jeito, a gente tem que ficar apresentando para o
paciente né, elas acabam passando, mas eu acho que vai além dessa fase
que eu te falei, porque a gente percebe alguma coisa extra que não é só
falado.

P – Você falou que o paciente tem que ser visto como o todo, explique o que
significa pra você esse todo.

R – Eu acho o todo é um ser humano né, eles tem os problemas deles, acho
que no hospital ele é um simples paciente, mas ele tem uma família ele tem
um lar, ele foi importante pra alguém ou esta sendo então a gente tem que
dar bastante valor a isso, eu acho.

P –2) Fale de suas experiências sobre o cuidar em enfermagem;

R – O cuidar é muito mais técnica né, pra gente fazer a coisa assim na forma
de evitar infecção hospitalar, passar pro paciente, tudo aquilo que vai ser
feito, é mais baseado nisso, mais científico mais...diante de cada patologia
desenvolver cada função. A matéria de um todo o curso, o foco acho que é
mais esse, é essa preocupação de saber o diagnóstico, que a gente de
saber de enfermagem, de cuidar, levantamento de dados até envolve na
história né que a gente busca do paciente quando a gente vai colher a
coleta de dados, mas eu acho que não entra aí nessa parte como um todo,
acho que acaba fugindo bastante, acho que é mais a parte de patologia, da
técnica tudo aquilo, bem técnico mesmo.

P – 3) Expresse o significado de cuidar em enfermagem

R - Cuidar pra mim pessoalmente é o que eu havia falado vai além desses
cuidados prestados pela enfermagem, é uma profissão, a gente tem uma
função de chegar fazer o nosso papel da melhor forma possível né,
agradando o paciente, que ele é a prioridade dentro do hospital e a gente
esta aprendendo para cuidar de alguém, mas eu acho que é pra gente
perceber mais no olhar do paciente, do que ele esta sentindo, ir mais ao
fundo, conversar, os paciente são muito sozinhos sabe. As vezes o médico
passa, a gente fala aí Dr. é isso e eles pedem esperam um pouquinho, a
enfermeira talvez por falta de tempo não é nem por propósito, porque é
muito corrido, mas eu acho que vale muito apenas, a gente parar perguntar
o que esta acontecendo, conversar porque diante dessa conversa a gente
busca mais informações o paciente reage, a ansiedade diminui , ele acaba
confiando no profissional então as pessoas tem que perceber mais isso,
porque isso passa batido.

P – Qual o significado de cuidar

R – Cuidar pra mim é tudo ele é todas as funções que o paciente pode
demonstrar, o que ele esta sentindo no momento, tudo interfere.

P – Reforçando o cuidar vai além do cuidar, fale o quer dizer:

R – O cuidar de paciente acamado com AVC, aí esta lá é por etapas,


aquelas etapas que tem que ser seguida você tem chegar fazer a escala do
paciente, acaba ficando uma rotina, uma coisa decorativa, eu acho que não
tinha que ser assim. Aí você chega, banho no leito arruma material, a
técnica, um balde com água e sabão, água limpa né, céfalo-caudal toda
aquela técnica aí pronto, né como se fosse as vezes num boneco e não é
durante esse percurso o paciente sintomas, reações o paciente que falar
alguma coisa, não posso ficar desse lado não, não pode então essas
coisas, acho que é muito certinho aquela regra que deve ser seguida e acho
que as vezes não é desse jeito.

P - Quem é o ser humano

R – Dentro do hospital você dizer ser humano ele é uma pessoa, a gente
não pode vê-lo só como um paciente que teve AVCI ou AVCH, ele tem uma
história de vida né, a gente tem que prevenir ele quando ele sai daquele
hospital pra que não aconteça novamente, orientar a família, conversar,
acho que é isso que falta, falta de orientação de conversar com o paciente
de esclarecer mais, que as vezes é por falta de conhecimento que os
pacientes acabam tendo tanto patologias, por falta de orientação então acho
que, precisava mais disso.
P - 4 e 5) Fale das facilidades e das dificuldades que encontrou para cuidar
em enfermagem

R - Eu acho que enfermagem também, ta bastante relacionada, a nossa


profissão com o nosso caráter eu acho tem haver, porque as vezes você
não consegue ser duas pessoas ao mesmo tempo, eu sou Amanda
enfermeira, eu se a Amanda aluna com o meu comportamento de casa, as
vezes a gente tem que muda é diferente, mas o nosso caráter a nossa
personalidade acho que é a mesma, não adianta olhar nos olhos do
paciente e falar assim pra ele, você não pode fazer isso, mentir olhando nos
olhos de uma pessoa, não, não consigo por mais que a profissão, você tem
que ter responsabilidade, você tem que se impor né tudo bem que o
paciente, mas acho que você não pode separar eu seu Amanda
enfermeira,acho que é robô muda, então facilitaria as pessoas serem mais
verdadeiras né demonstrar assim na escola também os dois lados porque
fica complicado se uma pessoa, uma enfermeira as vezes no hospital é
totalmente diferente, daí chega no ambiente assim em casa é outra pessoa
eu não sei eu não consigo mudar tanto, as vezes falo do paciente na minha
casa eu vejo, trago de experiência eu levo pra minha casa, as vezes lá
mesmo converso com o paciente se tem algum problema, converso diminui
a ansiedade, então eu acho que falta isso, é personalidade da pessoa de ta
facilitando a profissão, acho que anda junto sabe, as duas coisas caminham
junto..

P – O que dificulta.

R – Acho que é você gosta do que faz, ta bastante relacionado a isso, acho
que fica mais fácil quando você faz uma coisa é gosta, acho que tudo é
anda mais rápido né fica mais a vontade de trabalhar, eu particularmente
adoro o que eu faço, não me vejo em outra profissão então pra mim as
vezes por mais tumultuado que esta o plantão por mais intercorrência que
tenha eu consigo me sair bem né, eu converso eu vou dando risada eu
brinco e faço meu serviço da melhor forma possível e as vezes eu percebo
que tem pessoas que não gosta do que faz, parece que tudo acontece com
aquelas pessoas, nada dão certo, eu acho que também vai desse lado,
acho que a enfermagem é uma profissão que deve ser muito respeitada,
mais infelizmente acho que não é todos, acho que tem muito haver da
pessoa, do ser humano da gente, da sua personalidade eu acho que vai
além daquilo o que diferencia das outras profissões, tem que merecer, igual
o advogado vai defende, a gente é diferente por que a gente está lidando
com vida, com ser humano você não pode erra, não pode rasgar um papel e
jogar no lixo, está brincando com a vida de uma pessoa, então eu acho que
isso diferencia bastante.
P-6) Sinta-se a vontade para comentar, outros fatos que

R – Uma experiência, onde um paciente idoso estava também com um


acompanhante idoso ela tentava me ajudar de várias formas né, ela me
ajudou dá banho no leito, virar o paciente, assim na mudança os pacientes e
tem horário pra almoçar esses acompanhantes né e era 10h30, eu estava
bastante tarefada com a medicação e ela percebeu, então eu falei a
senhora não pode esquecer do horário do almoço e ela respondeu mas eu
tenho medo de elevador, mas eu falei não a senhora tem que ir. Depois me
consciência parou, alguma coisa me falou não posso deixar ela sem
almoçar, daí fui conversei com a enfermeira, falei ah, tem uma paciente
idoso né que a acompanhante ela precisa almoçar, já está passando o
horário do almoço e ela tem medo de elevador, daí a enfermeira conversou
comigo falou já que você gostaria de ajudar, pode ir, aí eu fui desci com ela
acompanhei, pedia pra segurança orientar, que ela não sabia, então eu acho
que foi uma experiência se fosse talvez outra pessoa não daria nem
importância , então acho que ta ligado muito ao nosso caráter, a nossa
dignidade eu não conseguiria deixar uma pessoa sem almoço, o dia inteiro
no hospital acompanhando outro, cuidando, ajudando a enfermagem, ficar
sem almoçar porque ela simplesmente tem medo de elevador, eu acharia
uma falta de respeito, desumanização, eu acho que tão esta muito
relacionado não só quanto a profissão quanto ao nosso caráter.

P – Explique desumanização

R - Desumanização é quando a pessoa não tem humanidade, consegue


ser egoísta, ignorar o problema do outro né por que as vezes a gente acaba
sendo desumano nessa parte, a gente acaba ignorar o problema das
pessoas, finge não vê as coisas, está do seu lado o problema, você virá e
fala não vi, eu acho que uma pessoa desumano é isso.

8 – Entrevista com Luana

P - 1) Como você percebe o ensino do cuidar no curso de graduação

R - Não, não depende muito do professor, tem professor que passa mais o
lado humano e outros professores, passa mais o lado técnico. Mas o que a
gente a prende mais é o lado técnico, banho na técnica, pressão na técnica,
medicação na técnica, lavagem das mãos na técnica, mas, o cuidar do
paciente a gente na aprende, o cuidar do paciente como ser humano, como
pessoa, a gente aprende as técnicas nas práticas pra poder ir para um
campo de estágio, ou depois profissionalmente ter as técnicas a prática não
é bem assim .

P – Explique como os professores passam o cuidar em sala de aula


R – Assim passar, passar passo a passo não passa, ele tenta mostra que a
pessoa, que o paciente Além de todo ele é uma pessoa que tem sentimento,
que tem família, tem a sua casa que ele deve retornar pra sua casa, não
sendo se não tiver condições de voltar vamos se por, tem uma patologia um
infarto ele vai ter seqüelas um IAM, então a gente tem que, tentar fazer com
que ele se sinta o melhor possível em casa pois a gente não consegue ver
isso na faculdade, não consegue, não consegue, você não consegue
imaginar, o paciente depois, consegue imaginar ele antes mas e o depois
dele e o cuidado com ele, como você vai ensinar ele vamos se por, a
escovar os dentes se lado direito tem hemiparesia, você na prática é fácil,
você falar assim você tem que orientar seu paciente, auxiliar seu paciente,
mas na prática eu acho que é muito diferente.

P – Exemplifique esse lado humano, o que significa humano para você

R – Ai, eu acho que eu vou entrar em mais detalhe, se fosse meu pai, eu
trato os pacientes como alguém da minha família e se fosse meu pai, como
ele iria sair do hospital e como ele iria se sentir em casa, sabe, do lado
assim da família como será que ele iria se comportar perante a família,
depois de uma seqüela, eu acho que a gente age muito teoricamente, vou
te dar um banho, vou virar o senhor, estou limpando as suas costas, vou
puncionar uma veia, mas ninguém explica pra ele o que é puncionar um
acesso o que o banho pra ele o porque ele ta tomando aquele banho,
ninguém pergunta pra ele o senhor que tomar banho agora, não a gente vai
lá e faz como se fosse uns robozinhos, olha estou fazendo isso, não vê o
lado do paciente será que eu vou querer que uma menina cuida de minha eu
sendo homem, eu sendo pai de uma menina quase da mesma idade dela
eu penso assim.

P – O professor em sala de aula não alerta no aluno pra isso

R- Alerta mais não com as palavras, eu acho assim que pra quem não
trabalho em hospital, que ta na área da enfermagem é muito difícil vê esse
outro lado. Por isso, nós temos enfermeiras robozinhos.

P – 2) Fale de suas experiências sobre o cuidar em enfermagem

R – Eu, primeiro lugar eu me apresento, falo meu nome o que eu sou,


vamos se por se vou pra o estágio vou falar assim: bom dia, meu nome é (Li)
sou graduando em enfermagem, tudo bem com o senhor, que já quebra um
pouco mesmo o paciente esteja entubado eu falo bom dia pra ele e me
apresento, porque como ele vai querer que uma pessoa cuide dele se não
sabe nem quem é que tá cuidando dele, então eu me apresento e pergunto
tudo bem o senhor ta sentindo dor, ta com fome como foi sua noite, por mais
que ele fala assim, não ta tudo bem que eu to no hospital, mas pelo menos
eu perguntei, sua noite foi boa, não, não foi o que a gente pode fazer pra
melhorar, o senhor quer banho, o senhor quer café, gosta de escova os
dentes antes do café depois do café, eu procuro agir se for um senhor como
se fosse meu avô, se for uma menina como se fosse minha irmã, porque eu
não tenho filho, não sei como é ser mãe, mas se for uma senhora como se
fosse minha mãe, eu acho isso é muito assim, vamos tem pessoas que acha
que, enfermagem é chegar e da banho em todo mundo e já acabou o
serviço, ou se não se já mediquei, já dei banho não tem mais nada pra fazer,
vou sentar e vou ficar aqui, até minhas 12 ou 6 horas passar. Então é isso, e
o seu paciente será que ele não tem sentimento, será que ele não tem
medo de ta ali, será que pra ele tudo aquilo não é um desconhecido, vamos
supor numa UTI, todo mundo acha que Uti é um bicho de sete cabeças, ai
ta na UTI, ta morrendo as vezes não, as vezes ta lá pra uma observação
mais exata pra um controle mais exato então eu penso assim, primeiro lugar
eu tenho que me apresentar como pessoa e falar, vou chamar o paciente
pelo nome, bom dia Sr. José tudo bem com senhor, como o senhor passou
a noite. Se for a noite boa noite, como foi o seu dia, ah! Foi ruim, vamos
tentar descansar o senhor ta aqui pra descansar não pra pensar nos
problemas a gente vai tentar ajudar o senhor né eu penso assim.

P -3) Expresse o significado de cuidar em enfermagem

R – Falar de enfermagem é difícil, Marlene porque eu amo o que eu faço de


verdade, eu fiz faculdade de economia durante oito meses eu não era feliz.
Eu não gosto de papel, eu gosto de cuidar de ta ali, de saber o que, que o
paciente precisa qual é neces...., o que tá fazendo falta agora, vamos supor
o paciente ta na UTI e o que faz falta pra ele é família, porque não liberar a
família, pra vê ele mais vezes sabe, quando não tem aquela ai só pode
entrar três horários, não o que ele precisa nesse momento é a família porque
não o cuidar com a família do lado, eu posso deixar a família entrar ficar
meia hora a senhora pode se retirar que eu vou fazer um procedimento,
depois entra novamente, eu que acho que o cuidar é ter amor a si próprio,
depois ter amor ao próximo. Se você não se ama, você não consegue amar
o próximo, não consegue cuidar, se você não se imaginar no lugar daquela
pessoa você não vai conseguir cuidar dela. Se eu tivesse entubada como eu
gostaria que cuidassem de mim, será que eu gostaria que chegassem lá e
falasse, ah! Eu vou dar banho nessa menina aqui, ela ta como uma sedação
nem ta ouvindo, será que eu não to ouvindo, o que eles estão falando?
Quem prova pra mim. Muita gente fica entubada sedado e disse que ouviu
tudo, eu acho que o cuidar é muito mais além do que banho, punção,
curativo, não custa você perder meia hora, não vai acabar seu plantão por
meia hora se você ouvi o paciente, eu penso assim.

P – 4 e 5) Fale das facilidades e das dificuldades que encontra no cuidar em


enfermagem

R – As vezes o que dificulta é patologia eu acho que depende muito tem


paciente assim com algumas patologias, igual paciente oncológica é muito
difícil de você trabalhar porque ele é revoltado pela doença dele e ele não vê
que você ta ali pra ajudar, eu penso assim e pra facilitar eu acho assim, as
pessoas deviam gostar mais dos outros pra facilitar o serviço da
enfermagem, a assistência da gente. Acho que você deveria, não, porque
todo mundo faz enfermagem porque acha que é uma coisa fácil de arrumar
emprego. Muita gente acha que é um ramo fácil e ela esquece que ela vai
cuidar de vida, isso ela não está trabalhando com computador, com mesa,
com cadeira, trabalha com outra vida que sta ali. Eu acho que a vida é a
coisa mais importante que você tem. Então, acho que pra facilitar, acho que
falta amor. Eu acho que falta amor na profissão. Como é que você não gosta
do que você faz. Eu me formei, eu trabalhei, eu estudei pra ta aqui, pra dá o
melhor de mim para pessoa que está ali, eu penso assim.

P – Explique porque você acha que a patologia dificulta o cuidar

R – Então, ele precisa de cuidado, mas ele não aceita o cuidar; tem alguns
pacientes que não aceitam. Eu já tive pacientes que me mandaram “sai do
quarto, não quero falar com ninguém” sabe, que no primeiro momento ele te
agride e não aceitam o cuidar. Então alguma patologia dificulta, mas, se
você se demonstrar presente, vamos supor, ele me mandou embora agora,
mas daqui a meia hora, uma hora eu volto e me apresento de novo e falo as
mesmas coisas para ele. Será que se eu começar a falar as mesmas coisas,
falar que eu estou ali pra ajudar ele, ele vai regredindo, ele vai assim,
progredindo, regredindo não, progredindo. Ele vai começar a aceitar mais,
mas tem pessoas que acham assim: ai, porque não me aceitou uma vez...é
a doença que faz isso com ele. Muita gente fala, eu acho que a patologia
dificulta, mas se você, você tem que tentar melhorar. Eu acredito que se a
gente gosta do que faz, a gente consegue melhorar, porque a enfermagem
às vezes tem gente meio ruim. Eu acho, eu to me formando, eu to
estudando, fazendo graduação em enfermagem pra ser diferente, não quero
ser igual, quero ser diferente, quero ser A enfermeira. Eu acredito que você
tem estudar muito pra isso, que a faculdade, ela não te mostra tudo, não
adianta você vir aqui ficar 4 horas, 3 horas e a professora fica falando e
você: ah! essa aula ta chata, ah! Ela não está me ensinando cuidar, tudo
bem, ela não está te ensinando, mas porque quando você vai pra prática,
você não faz diferente do ela te ensinou?. Você tem a teoria e você tem o
seu “eu acho” que eu queria ser cuidado assim, mas dentro dos princípios
científicos, é claro, não saindo fora. Com a teoria, mas com pouquinho mais
de carinho com as pessoas que tão ali.

P – Você tem percebido nos supervisores na prática que eles têm a


preocupação em explicar, ensinar esse cuidado em Enfermagem. Como eles
fazem esse cuidar na prática;.

R - Alguns tentam cuidar dessa parte. Alguns olham pro paciente como se
ele fosse só patologia, só doença...é um IAM, esquece que ele também não
come direito, não consegue conversar, às vezes tem dificuldades, às vezes
chora. Não consegue ver esse outro lado, só consegue ver que é uma
doença que a gente tem que tratar assim, assim, assim. Alguns conseguem
ver o paciente como um todo e não só como uma doença, mas uma pessoa
que tem família, que tem casa, que tem emprego, que precisa voltar pra
esse emprego, que não vai mais poder voltar pra esse emprego

P – Alguns supervisores percebem esse cuidar diferente. Como eles


ensinam os alunos esse cuidar

R – Assim, primeiro a gente faz um histórico, né?. Chega, conversa com o


paciente, aí, você começa a descobrir coisas sobre ele, a carência que eles
precisam, então o supervisor procura mostrar pra você assim: “olha, esse
paciente tem mais dificuldade, vamos supor, em conversar, então, o jeito
dele é ficar calado, mas você vai ter que perceber no tom verbal dele o que
ele está precisando. Agora, tem uns que falam demais, às vezes, eles falam
até pra fugir da doença sabe, eles falam, falam, falam, falam, então o
supervisor, ele tanta mostra pra você o que ele precisa naquele momento
além dos cuidados de enfermagem, além do banho, além da medicação,
além de tudo isso, ele passa pra você que aquela pessoa precisa de algo
mais, de mais carinho, atenção, de uma palavra, ou às vezes de só você
segurar na mão dele já ta bom. Hoje eu cuidei de uma paciente que ela só
queria segurar na minha mão e não perdi tempo de ficar meia hora do lado
dela segurando na mão dela, porque ele tava com medo de ficar ali. Ela já ta
na UTI já faz 5 meses. Então hoje era o último dia que ele ia pro quarto, ela
só queria segurar na minha mão um pouquinho. Eu acho que não matar
você, o outro paciente não ai morrer de você perder 20 minutos por segurar
uma mão.

P-6) Sinta-se a vontade para comentar, outros fatos que julgar necessário

R – Olha, tem um que é assim, minha mãe fala que meu avô sentiu muito
quando aconteceu isso, agora ele não é mais vivo. Mas meu avô estava
internado e eu fui visitá-lo e meu avô não gostava de ficar barbudo e eu falei:
“avô, não fizeram a sua barba? “ Isso é uma forma de você demonstrar pra
gente que você está cuidando dele, sabe e ele começou a chorar na hora,
porque ele percebeu, porque eu sei que meu avô não gosta, não gostava de
ficar barbudo. Então, ele ficou 15 dias no hospital e não fizeram a barba dele
e não custava que uma pessoa perdesse meia hora, ir lá e aparar a barba
dele, não vai cair sua mão, você não vai morrer por perder 15 minutos. Ah !
a paciente gosta de tirar o esmalte, você não vai perder de ir lê e tirar o
esmalte dela. Ah! Ela gosta de passar um batom, você pede pra família:
“você não pode trazer um batom para eu passar nela?” sabe não custa, ele
gostava de fazer isso antes dela estar no hospital, porque ele não pode
passar batom quando ele ta ali dentro? Eu penso assim, que você deve
pensar: “se eu estivesse lá?” Eu adoro ficar com meus brincos e se não
deixasse eu por meus brincos, eu iria querer por meus brincos, ia querer
pentear meu cabelo, passar um batom, não custa ver o paciente como uma
pessoa, não só como um paciente. E eu comecei a enfermagem por causa
do meu avô, ele foi atendente durante 30 anos sem ganhar nada. Ele
morava na roça, ele aplicava a injeções, instalava um soro e não ganhou
nada por isso.
Toda vez que eu cuido de um velhinho, eu penso: poderia ser meu avô. Por
isso que não deixo nenhum velhinho barbudo...(risadas)

9 – Entrevista com Solange

P - 1) Como você percebe o ensino do cuidar no curso de graduação

R - Eu acho, é na faculdade, a gente aprende o ato de cuidar é como


técnica e também é o professor tenta demonstrar também o lado humano, só
que eu acho que o lado humano ele depende de cada pessoa também é,
porque é alguma coisa que a gente já traz de nós mesmos pra cuidar de
outras pessoas, então eu acho que a faculdade ela dá a técnica e esse outro
lado eu acho que é um desenvolvimento nosso é pessoal que você vai lidar
com algumas pessoas e a sua forma de tratar as pessoas, nesse sentido.

P – Então quando você fala desse lado humano, explique melhor se a sua
família interferiu no lado humano.

R - Eu não sei, se a família mais é alguma assim pessoal porque eu no


trabalho, por exemplo tem várias pessoas que trabalham comigo que
auxiliares, enfermeiros que a gente percebe o comportamento de cada um,
não importa se aquela pessoa ela é teve uma formação mais o modo como
ela lida com a pessoa é diferente, tem diferença algumas elas visam a
técnica e mau tem, querem ter contato com o paciente, sendo que outras
não, outras além de ter a técnica com o paciente, ver o lado científico, ela
tem mais o seu lado de conversar, mais trocar essa, não digo intimidade,
mais você tratar aquela pessoa como pessoa, conversar é coisas...

P – Os professores despertam no aluno esse lado humano

R – Então como eu disse, é tentam porque na aula que a gente tem, a gente
aprende a técnica e todos os professores falam desse lado humano de você
tocar o paciente, ter cuidado com o paciente, mas como eu te disse, isso
depende na, no trabalho, no dia-a-dia na prática, a gente vai depender de
cada pessoa, mesmo com a fala do professor eu acho que o lado humano
depende de cada pessoa.

P– 2) Fale de suas experiências sobre o cuidar em enfermagem

R – No estágio que eu fiz no Antonio Giglio, é assim a forma que eu


abordo o paciente, a minha preocupação é como abordar como o paciente
vai me receber, então como graduanda a gente se preocupa, não sei se pela
formação que a gente tem na faculdade mas a gente tem mais preocupação
em como você vai é, contactuar com o paciente pra saber a reação dele com
você, do que você com ele, então é de como graduanda, eu acho que é isso,
quando você trabalha na área eu acho que deve ser um pouco diferente, eu
quando eu for exercer a profissão porque tem outras responsabilidades, já
são é um, você tem que cuidar de outros, é outros pessoas. Então não visa
só o cuidar com o paciente, mas enquanto graduanda, a minha
preocupação pelo menos é em abordar o paciente como ele vai reagir
comigo.

P- Fale desse cuidar.

R – O meu cuidar além de tudo que eu tenho que vê no paciente, é tento é


conversar com paciente, pra saber alguma coisa que da vida dele, de a
maneira como ele vive, como que é a vida dele, porque eu acho que
interfere também dependendo da doença interfere no problema do paciente
na, porque a clinica o que ele tem ali no momento, então eu acho que alivia
também, eu acho que é um desabafo e também que não que você tenha que
ser impertinente, de ficar perguntando as coisas para o paciente mas você
tem que ta abordar o paciente e deixar com que ela fale, idoso que é mais
menos isso, se você dá a ele ouvido, os idosos vão falar, acho eles se
sentem aliviados com isso então eu acho que não custa você parar e ouvir
um pouquinho, perder seu tempo um pouquinho ouvindo e eu acho que eles
podem enriquecer, bastante descobrir bastante coisa do paciente eu acho
que você dá atenção eu acho que você ta no hospital em que você não
conhece ninguém, as pessoas estranhas vão e mexe com você e você não
tem nenhum contato com pessoal, eu acho que essa pessoalidade assim
essa intimidade que você tem que saber sobre a família, sei lá as vezes não
por interesse mas assim, saber descontrair o paciente.

P – Explique melhor o que você quer dizer:

R – Existe o cuidar dentro das técnicas isso é, eu acho que tem a técnica e
o que eu estou falando é o lado pessoal, que ninguém já te falei, o seu
lado pessoal aquele que você aprende na faculdade, eu acho que você vai
desenvolver ou não quando você tiver trabalhando, porque você ta
trabalhando, você seguir sua técnica e não importa o paciente, ele ta lá,
você fez a sua parte mas este lado humano que eu acho o que vêm , que
você tem nasceu com ele, sei lá você se envolve.

P-3) Expresse o significado de cuidar em enfermagem

R – Cuidar em enfermagem é um conceito assim global, tanto no aspecto da


técnica de enfermagem, quanto no seu aspecto psicológico também do
paciente. Eu acho que é numa maneira geral, acho que tem que ser as duas
partes, você deixar o paciente assim no ambiente que ele sinta se melhor e
não colocar empecilho assim, o paciente não pode perguntar nada de mim e
sabe colocar aquela barreira, é você falar ou deixar o paciente, trocar
algumas coisas acho que ele vai se sentir melhor, vai se sentir mais
familiarizado no ambiente que já é tão estranho. O cuidar é de uma maneira
geral, tanto técnico quanto psiquicamente.

P – Fale de suas experiências no cuidar de enfermagem

R- Eu trabalho em uma UTI, então tem muito paciente, procedimento


então quando eu acho também que depende da quantidade de trabalho,
porque quando você têm tempo, você para, você conversar bastante tempo
com o paciente, mas as vezes quando não dá tempo também que acho que
não é uma culpa nossa e as vezes você é obrigado a fazer daquela forma e
não dá atenção que você acha,eu acho pelo menos que eu merecia, que o
paciente merecia ter.

P– 4 e 5) Fale das facilidades e das dificuldades que encontra no cuidar em


enfermagem

R - Olha é como eu te falei eu acho que uma coisa pessoal, então é difícil
você é do lado pessoal é difícil você fala como por exemplo uma outra
pessoa, é você vê o seu colega de trabalho, você eu por exemplo tenho
muitos colegas de trabalho que eles trabalham corretamente, mas que eu
não gostaria que um familiar meu tivesse com ele, porque eles fazem o
trabalho só, mas então é difícil você lidar com pessoa, você falar tentar, é
como eu já vi é funcionária, amiga minha é responder a idoso, respondendo
é sabe, sendo grossa eu acho que não sei, eu tenho uma personalidade
que eu não consigo ser grossa com ninguém, principalmente , então esse
lado humano então é muito difícil você falar o que facilitaria ou não, se você
tivesse tempo se eu tivesse tempo suficiente no meu horário de trabalho
nossa eu daria atenção a todos, eu faria eu daria um, eu faria o meu trabalho
como eu realmente gostaria de fazer, tendo tempo suficiente pra fazer a
técnica, você dando uma atenção pra o paciente, Conversando com o
paciente esse lado assim do trabalho em si o tempo eu achei importante,
mas pelo lado humano é difícil de falar porque é a personalidade de cada
pessoa ta.

P – O que dificulta então

R – Pelo lado humano, os nossos colegas de trabalho a gente não conhece


como eles são, quais os problemas dele é o que eles fazem eles ser assim,
talvez problemas em casa por isso que eu acho que vem de casa, talvez
eles tenham vários problemas dentro de casa, ele vêm trabalhar, mas ele faz
o trabalho dele e não quer saber do que, ele não que ouvi nada ele só que
fazer o trabalho dele e acabou, então você não sabe como é a vida dele,
qual os princípios deles.

P-6) Sinta-se a vontade para comentar, outros fatos que julgar necessário
A vontade tem que despertar isso no aluno tanto no lado técnico quanto o
lado pessoal de cada pessoal, mas como eu te disse pra desenvolver o lado
pessoal da pessoa eu acho é difícil porque é uma coisa que já nasce, talvez
não seja assim de nascença, mas, você desenvolve no decorrer da sua vida,
depende o que aconteça na sua vida de como é a sua vida é difícil você
expressar com outra pessoa.

P – Tem mais alguma coisa pra falar.

R – Eu tenho uma coisa que, eu não sei que, eu não sei como que, como
que seria assim a legislação, como que é né, a gente da saúde da área
pra se contratar um funcionário na área da saúde, eu acho que ela não faz
muita exigência, é eu trabalhei numa empresa e nessa empresa tinha um
refeitório e o pessoal que trabalhava no refeitório, como fazia comida pra
todo mundo da empresa, eles faziam um teste de sanidade mental nas
pessoas, porque eles faziam comida pra todos, então quando você ta numa
cozinha, você não sabe o que aquela pessoa é capaz de fazer de colocar na
comida, de se vingar por algum motivo então faziam isso porque mesmo
você passando por um psicólogo, ele, acho que ele não vai detectar, coisas
da sua personalidade eu acho que na área da saúde também deveria ter,
porque principalmente na área da saúde, porque acho que se contrata
bastante pessoas, você trabalha com pessoas aquelas pessoas você não
conhece realmente quem são e na área de enfermagem as vezes na UTI
Onde eu trabalho, tem paciente assim grave e o auxiliar, o enfermeiro
qualquer um que seja na área da saúde, ele entra no quarto para trabalhar
com o paciente, ele fecha a porta você não sabe o que ele ta fazendo ali
dentro é um trabalho de confiança eu acho que você tem que despertar
confiança pras pessoas confiarem naquilo que você faz, e porque a partir do
momento que eu tiver dentro de um quarto do paciente, se você quiser jogar
medicação no lixo você joga e fala que não faz, não é verdade? Então você
não conhece realmente, você não conhece a personalidade das pessoas,
então isso dificulta o cuidar, então não tem um critério assim psicológico pra
contratar um, um funcionário na área da saúde, não importa que seja
auxiliar, enfermeiro em que área que seja na da área da saúde, mas eu eu
acho que não basta só conhecimento aquele conhecimento que você tem
com a outra pessoa, porque enquanto você esta com a porta fechada, você
não sabe do que aquela pessoa é capaz de fazer.

10 - Entrevista com Magali

P - 1) Como você percebe o ensino do cuidar no curso de graduação

R. Bem, na graduação eu entendi que o cuidar é tudo, é tudo não adianta


você aplicar bem uma injeção, saber dar um bom banho no leito, é você
pode aprender todas as técnicas, você pode ser muito bom em fisiologia em
patologia em tudo, mas o cuidar na graduação é tudo é a essência da
enfermagem porque quando a gente cuida de uma pessoa o que, que você
faz com essa pessoa com certeza você se doa porque todo cuidado é uma
essência, então parte de você que vai para essa pessoa é uma troca por
isso o cuidar é uma coisa bastante complexa

P.- Explique porque esse cuidar é complexo

R. esse cuidar é uma coisa bastante complexa, eu diria assim: porque


quando você chega na unidade você se apresenta pro paciente então você
não sabe nada daquela pessoa de repente você vai invadir né; aquele
mundo dele você não sabe quais são as perspectivas dele o que, que aquela
doença você, você viu tudo né você pega o prontuário dele ai você viu qual
é a patologia que ele tem , você conhece tudo dele com relação a patologia
e porque que ele ta ali mas ele é uma pessoal e assim qual a perspectiva
dele, o que, que ele pensou naquele dia é o que, que ele ta querendo falar
tudo isso é no cuidar que você vai ver, o cuidar quando você vai lá aplicar
um injeção, quando você ta ali vendo junto com ele o resultado de um
exame quando você ta discutindo com ele é um troca que a gente ta
fazendo então é, ele precisa ser muito mais é ouvido ele precisa muito mais
de cuidado muitas vezes assim é no ato de falar de poder falar porque
muitas vezes só medicação, muitas vezes o simples falo de você estar ali é
o cuidar, não aquela injeção que você aplicou que agente sabe que é
necessário mas você estar ali aquela troca é essência eu acho que é o
mais complexo do cuidar é você conseguir é lê nas entre linhas o que é que
ele ta querendo te dizer porque ele é um ser humano e o ser humano que
com certeza quando você adentrou o quarto dele ele ta esperando alguma
coisa de você . Pra mim isso é a complexidade do cuidar .

P- O professor despertou em você a importância do cuidar

R Eu sempre tive essa percepção olhando pra dentro de mim mesmo nas
poucas vezes que eu fui hospitalizada eu queria mais do que uma pessoa ir
no meu quarto do que simplesmente uma pessoa é me fala o que ela ia
fazer né, a minha vida tava ali eu estava totalmente aberta então é uma
troca não é simplesmente uma pessoa chegar, e não te conhece né não
sabe nada de você então assim não é só isso então quando você é paciente
porque no meu caso foi um dos momentos que eu mais me peguei assim
eu quero ser enfermeira se eu for enfermeira eu tenho que ser assim porque
eu vi em mim essa necessidade como ser humano tem essa necessidade
de atenção então eu nunca achei que uma auxiliar, seja técnico ou até
mesmo enfermeiro o trabalho dele fosse simplesmente de ir lá e fazer uma
injeção claro que ele não é um psicólogo,ele não é um psicólogo pra saber
disso mas ele pode usar aquele pequeno tempo com qualidade mas ver
além do paciente.

P. Fale da preocupação do cuidar de alguns professores

R- Todos os professores sem exceção, todos os professores nos pediram


que nos olhássemos o ser humano que nós não fragmentássemos o
paciente que a gente não olhasse mão que esta edemaciada, o pé
diabético, nada disso vamos olhar a pessoa porque muitas vezes é tive uma
médica que disse isso ela dizia muitas vezes ele só ta lá pra conversar a
patologia só foi um escape .

P -Como você conceituaria o cuidar

R- cuidar pra mim, o cuidar é uma essência é um processo é você doa


parte de você quando você coloca suas mãos em outra pessoa porque nós
sabemos que existe a essência de todo ser e como tudo que você faz seja
uma comida, seja uma leitura qualquer coisa você coloca sua essência
então o cuidar é o processo, é um processo onde você vai receber e onde
você vai doar.

P. Nos estágio você percebe que existe uma preocupação do supervisor ou


do colega com esse cuidar

R Em algumas pessoas eu percebo em outras não os professores estão


sempre atentos né nós temos que olhar o ser humano pelo todo né já mais
invadir o paciente, conversar com ele, vê é sempre isso. A fala do nosso
supervisor jamais nenhum professor jamais nenhum professor deixa a
desejar nesse aspecto o paciente ta sempre em primeiro plano né o banho
dele não é nada tudo isso faz parte, mas, ele ta em primeiro plano, jamais
você vai adentrar o quarto e... né eu tenho que fazer isso, isso e isso não,
primeiro eu vou olhar a pessoa vou estar ali nas entre linhas porque nem
sempre ela ta receptiva e mesmo assim você vai te que continuar dando o
seu melhor mesmo que ela não esteja é ... receptiva a você e com as
colegas de estágio vejo e muito essa preocupação em outros não porque eu
acredito que isso é do ser humano, isso é algo que vem de você se você
aprendeu você tem com você que você trata as pessoas como você gostaria
de ser tratado você num é grosseiro não é mal educado se você tem esse
principio com você que é um principio muito importante que vem de infância
que algumas pessoas também aprende no decorrer da vida isso é tudo.

P O que é ser humano para você.

R – Eu acho que ser humano é quando a gente consegue se colocar no


mesmo lugar, quando você consegue se colocar no lugar do outro. Não é
simplesmente você pegar um comadre por exemplo e aquecê-la porque esta
em dia frio, isso é simples, eu acho ser humano é você se colocar no lugar
daquela pessoa e você sempre pensar mas eu gostaria que falasse comigo
nesse tom, mas eu gostaria que invadisse minha privacidade desse jeito,
mas ei gostaria que não me explicasse as coisas quando eu pergunto, eu
gostaria que você paciente comigo quando eu não to bem, isso pra mim é
ser humano é sempre você fazer pelo próximo aquilo que você gostaria o
que fosse feito com você .

P – 2) Fale de suas experiências sobre o cuidar em enfermagem

R - Geralmente o meu cuidar, sempre é diferenciado né até agora eu fiz três


estágios e os três professores, sempre me agraciaram me dizendo que havia
algo de diferente que eu tinha um jeito de abordar o paciente, mesmo
quando ele não estava receptivo eu calava, muitas vezes eu calava, eu digo
que o calar é ouro e o falar é prata. Então eu nunca tive problemas com
meus pacientes, mesmo quando eles não querem tudo bem, eu não vou
tentar convencê-lo naquele momento eu dou um tempo pra ele, depois eu
voltar aí a gente acaba sempre rindo e ele fala ai que legal você esclareceu,
olha eu estava achando que era outra coisa, não escondo nem um momento
que sou graduanda de enfermagem to no 4 ano, jamais vou fazer uma coisa
pra prejudicá-lo se eu não puder ajudá-lo não vou atrapalhar. Eu nunca tive
problema com nenhum paciente até aqui minha jornada é pequena né mas
não tive nenhum problema com o paciente pra ta sendo muito bom , esta
sendo uma lição de vida.

P – O que facilitaria e dificultaria esse tipo de cuidar

R - Eu creio que esse cuidar ele só é possível quando o ser humano se auto
avalia, quando você se olha pra dentro de você mesma quando você procura
entender e o porque eu estou aqui né. Então você se avalia dia após dia
você se melhora então quando você faz isso com você , é você falar estou
trabalhando muito, deixa eu parar um pouco, quando você prioriza as coisas,
mas sem se mutilar porque muitas vezes a gente acaba se mutilando, né e
quando você vai se mutilando, vai trabalhando muito você vai se
estressando e ai você não para nem pra pensa, que espécie de ser humano
estou sendo o que eu estou fazendo com toda essa grandeza né de poder
cuidar de pessoas, porque isso é uma grandeza pra poucos, isso é uma
grandeza, então eu falo o que dificulta no meu ponto de vista, isso não tenho
dúvida pode ser que eu mude amanhã, mas hoje é falta de conhecimento da
pessoa dela própria, então ela esta doente muitas vezes . E como uma
pessoa doente ela vai conseguir cuidar de pessoas que também esta
doente, por que muitas vezes você vê pessoas que ela deveria estar
deitado em uma cama sendo cuidada e não cuidando e aí o processo fica
mais difícil pra aquela pessoa que esta recebendo o cuidado, porque ele fica
com o que sobro ele fica com as migalha, com restos porque você já esta
enfadado. Silêncio ... com relação o que podia ser feito pra melhorar, isso é
só se conhecendo é acreditando que agente não esta aqui por acaso,
acreditando que tem alguma coisas que nos move, têm que ter, a gente, nós
somos uma potência, nossa nós somos capazes de motivar, capazes de
mudar as pessoas, as pessoas muitas vezes que estão lá, mas eu nasci
assim vou morrer assim, mas tarde ela esta se avaliando e não quer mudar,
você nunca deve mudar se você esta no caminho certo, se você esta
fazendo o que é certo, você esta com paz de espírito, você não deve mudar
por que nos precisamos influenciar pessoas e não deixar ser influenciado
por esse tipo, por esses modelos de pessoas sequeladas pela vida.
(Silêncio)

P. Sinta-se a vontade para comentar alguma coisa

R – É a verdade que a três anos atrás eu tive um irmão que teve morte
cefálica e foi um processo muito doloroso pra gente, muito difícil por que a
gente vive em um país onde a nossa mídia ela se preocupa muito com
coisas que nem sempre enaltece o ser humano né, Nós não sabíamos de
todo o processo que era, que ele teve morte cefálica, eu já estava cursando
enfermagem era desejo dele doação dos órgãos e nós fizemos tudo
direitinho e nesse momento nós fomos assistido por uma enfermeira e
aquela mulher me marcou muito, foi uma pessoas assim que em enquanto
eu viver ela vai ta, talvez ela nem lembre mais ela vai ter um lugar muito
especial aqui no meu coração porque ela era uma pessoa humana, ela
soube entender toda a nossa dor ela não tentou nos coagir, já era uma
decisão tomada mas mesmo assim ela reunião nós membros da família nos
assistiu, ela ligava pra gente isso foi uma coisa marcante, ele preciso ficar 72
horas, isso foi uma agonia pra gente porque você imagina, quando você
recebe Diagnóstico de morte a pessoa morreu, então você que enterrar
aquele seu amado porque você fala, poxa , você fala ele precisa descansar
e ai nos tivemos que ter a paciência de esperar 72 h, então isso foi muito,
assim desumano pra gente, mas ao mesmo tempo eu tentava, eu e meu
marido que também é enfermeiro, nos tentávamos acalmar a família,
explicando que a partir dele duas pessoas iriam enxergar e que a partir
dele uma duas pessoas iriam receber rim, sabe a gente precisa ser forte
naquele momento, pra que outras pessoas pudessem ser felizes e se Deus
deu tanta inteligência pro homem ao ponto de detectar uma morte cefálica
ao ponto de ser capaz de retirar os órgãos, pra que outra pessoa pudessem
seguir sua vida, então a gente ia ser muito pequena de não esperar 72h e
pra nos foi muito difícil, mas essa enfermeira assistência que ela nos deu, foi
fora de série, elas nos ligava, sabe foi maravilhoso, independente não tem
nada a ver o que eles fizeram com relação a toda a parte de Velório, não é
nada disso que contou pra gente, porque quando você perde a pessoa, onde
ela vai ser enterrada isso tipo de coisa é importante, porque é um corpo de
uma pessoa que você ama, mas é pequeno mas agora o que ela fez a
postura dela, sabe a comoção pela família nos deu um tempo pra ficar
sozinho, você querem doar tudo, você não querem, como que é então foi um
trabalho tão bonito e não foi o médico, porque muitas vezes no nosso país o
médico é valorizado, foi uma enfermeira então eu fico com muito prazer, eu
estava no primeiro ano de faculdade e assim eu sempre pego um pouco de
cada pessoa, eu gosto eu nunca gosto de olhar só os defeitos eu os vejo e
deixo de lado eu sou assim uma catalisadora de bons exemplo, então assim
mesmo que ela não saiba mas ela tem uma contribuição toda especial, para
o perfil da enfermeira que eu quero ser, porque eu quero ser uma enfermeira
que deixa as marcas que ela deixou , marcas boa pra as pessoas poder
lembrar de você e falar pausa, Conhecido a Maria Aparecida, foi tão bom
tão bom né, de repente os desfecho da nossa história não foi boa, mas ela
nos assistiu, ela pode nos dizer alguma coisa e esse poder dizer alguma
coisa, volta lá para o cuidar é só quando você sabe cuidar é que você tem
alguma coisa pra dizer

11 – Entrevista com Juciléia

P - 1) Como você percebeu o ensino do cuidar no curso de graduação

R - Bom é, o cuidar foi passado pra mim de maneira, bem rígida e bem
insistente por todos os professores que eu tive, que tinham oportunidade de
abordar esse tema o cuidar. Eles sempre enfatizaram a importância do
cuidar e como cuidar respeitando sempre o cliente.

P – Explique essa maneira rígida

R – Eles queriam implantar na gente o hábito do cuidar, e para implantar o


hábito de cuidar, eles tinham que quebrar uma série de barreiras de
preconceito que as vezes a gente têm com algumas coisas, pra gente se
acostumar com esse hábito de cuidar e foi aí que agente, não sou eu como
o pessoal da minha turma pegou essa coisa do cuidar mais firme, de levar
mais a sério de ter um pouco mais de responsabilidade, de entender
melhor do que simplesmente ir lá mecanicamente e fazer o cuidar.

P – Exemplifique como eles explicavam esse cuidar

R – Bom eles usavam muito assim pra gente se pôr no lugar do cliente que
estava sendo cuidado por nos ou se agente não se conseguisse colocar no
cuidar, imaginar que ali poderia estar algum ente querido, alguém que
agente queira bem, imaginar como a gente gostaria que essa pessoa fosse
tratada e a partir daí agente elaborar o que agente fosse fazer de
tratamento pra esse pessoa, de cuidar dessa pessoa, imaginando que
pudesse ser alguém mais próximo da gente e não uma pessoa estranha.

P – 2 ) Expresse o significado de cuidar em enfermagem

R – Cuidar pra mim é assistir o paciente de maneira holística, olhando todos


os ângulos e respeitando ele, das suas crenças, de suas limitações, dos
seus direitos e tentando deixar ele, informado do que esta acontecendo, não
só com ele ma como as tarefas que vão ser realizadas e porque, porque aí
ele aceita melhor e aí ele entende qual é o meu papel que é o papel de
cuidador.
P – O que você entende por holístico

R – De olhar ele por inteiro, não me atentar simplesmente a patologia dele,


porque embora um exemplo embora ele seja paciente como uma úlcera por
pressão, ele é um paciente com uma úlcera por pressão, que tem uma
história de vida, que têm uma crença, que têm uma religião, que muitas
vezes pra ele é vergonhoso ele estar expondo aquela lesão dele pra ser
cuidada, então, isso pra mim isso é holístico é você é respeitar os limites do
cliente e fazer ele entender, o que é necessário pra ele, pra melhora desse
agravo, mas sem entrar na intimidade dele, sem atrapalhar a intimidade
dele, a privacidade dele.

P – 3) Fale de suas experiências sobre o cuidar em enfermagem?

R – Algumas vezes fiz esse tipo de cuidar, em vários estágios e assim


algumas vezes foi bem recebido, porque tem pessoas que são mais fáceis,
elas entendem melhor, elas entendem que estão aí para serem cuidadas e
que meu papel é de cuidador e têm outras que reagem com agressividade,
que eles acham que nós que estamos lá pra cuidar somos culpados pela
doença dele. Então muitas vezes eu recebia os dois lados, recebi ao lado da
pessoa me entender, de me agradecer e agente consegui fazer um bom
tratamento, e receber o lado de agredida de ser maltratada às vezes até
xingar mesmo com palavras de baixo calão, por eles acharem que eles
estavam ali por minha causa, porque eu sou remunerada pra isso.

P Agora como recém formada como você faz o cuidar, houve mudança

R - Não mudou é assim como foi uma coisa bem intensa em todo sos quatro
anos de graduação e antes disso eu tinha feito curso técnico que também
batia nessa tecla do cuidar que é uma coisa importante, ficou enraizado em
mim isso, então eu sempre olho as pessoas como se pudesse ser um
parente meu e eu faço por ele o que eu posso fazer de melhor, porque se
fosse um parente meu eu queria que fosse feito o melhor por ele.

P – 4 e 5) Fale das facilidades e das dificuldades que encontra no cuidar em


enfermagem

R – Olha eu acho assim que alguns fatores facilitadores disso, é a boa


vontade de quem estar prestando o cuidar, isso facilita muito a partir do
momento que você estar aberto pra prestar esse cuidado, pra prestar
esclarecimento de alguma dúvida do cliente , o seu ato de cuidar fica mais
fácil. E ...... também a própria compreensão a própria integração da equipe
em busca desse mesmo tipo de cuidar, então se as pessoas começam a
pensar como você se fosse começa plantar esse semente, que pense que
sempre um parente seu e faça o seu melhor, as coisa fluem de maneiras
mais positivas. E uma coisa que dificulta muito assim é que as pessoas, os
próprios cuidadores eles têm muito preconceitos, eu trabalho em uma
Instituição pública e lá a gente tenha oportunidade de presenciar não só da
equipe de enfermagem porque mas também até da equipe médica,
preconceitos com clientes porque ele é bandido, porque ele é muito pobre,
porque ele não têm conhecimento, então eu acho que esse fator do
preconceito dos próprios profissionais dificultam muito esse cuidar de
maneira efetiva, esse cuidar que melhora mesmo o cliente.

P-Explique o significado de cuidador

R – O cuidador pra mim, é o papel que qualquer um membro da equipe de


enfermagem pode exercer, seja ele o auxiliar, técnico, enfermeiro e assim
pra mim esse cuidador é aquela pessoa que vai lá, que assisti esse cliente e
tentar ajudar ele nas necessidades deles, se eles têm uma dificuldade pra
conseguir comer sozinho que esteja lá disponível pra dar essa comida pra
ele, pra ajudar ele tomar um banho, pra realizar um curativo ou mesmo para
falar um bom dia, porque o cuidador têm que olhar, ele têm que ser um
membro da equipe que veja o paciente como um todo, então as vezes, você
entra mecanicamente no quarto, você faz tudo o que precisa ser feito, banho
curativo, mas você esquece de olhar para o cliente e falar pra lê bom dia, o
senhor passou bem, o senhor está bem, isso pra eles muitas vezes faz a
diferença, principalmente assim na população idosa eu vejo essa diferença
de recepção, porque o idoso ele é mais fechado então quando você chega e
perguntar como ele esta ele te Recepciona de uma maneira e quando você
chega impondo horário pra banho, pra isso pra aquilo ele responde de outra
e muitas vezes essa outra maneira é agressiva.

P -6 ) Sinta-se a vontade para comentar, outros fatos que julgar necessário

R – Bom eu acho que uma coisa que vale apenas acrescentar, é que nos da
equipe de enfermagem somos cuidadores, só que muitas vezes a própria
equipe ou o próprio enfermeiro que é um membro direcionador dessa
equipe, ele esquece que cuidar não é cuidar só daquele cliente, ele também
têm cuidar e preservar a equipe dele e esse cuidar e preservar a equipe é
difícil, porque as pessoas saudáveis são difíceis, as pessoas que estão ali
trabalhando com a doença muitas vezes elas têm momento de depressão ou
de alegria, porque elas muitas não consegue separar a vida profissional da
vida pessoal e as vezes o enfermeiro como direcionado e educador ele
também esquece dessa parte de cuidar de sua equipe, ele lembra de cuidar
do doente, mas ele não lembra de preservar o bom humor, o bom astral um
equilíbrio da própria equipe, eu acho que isso é uma coisa que vale apenas
se reforçada nas Universidades.

12 – Entrevista com Elis – Recém-Graduada

P - 1) Como você percebeu o ensino do cuidar no curso de graduação


R – Bom , foi de certa forma proveitoso pra mim, por que ouve durante o
curso em sala de aula dinâmica de grupo que teve alguns professores que
enfatizaram bastante, a respeito da humanização, é claro que alguns alunos
não participaram pois não estavam na sala, mas foi de certa forma bem
enfatizado assim é.

P – Explique essa dinâmica

R – Em relação a morte e morrer, como a gente lidaria com o familiar, o


cuidado com o corpo, é as vezes no momento da perda a família esta em um
momento emocional muito forte, aí a gente como dá assistência porque
muitas vezes as pessoas que esta passando pr esse estresse da perda, vai
desenvolver pico hipertensivo, vai ter um momento de a gente dar o cuidado
né, tentar acalmar essas pessoas, uma palavra de conforto, intervir se for
caso com terapia medicamentosa, então foi muito bom , muito proveitoso
mesmo.

P – Explique melhor como os professores ensinavam o cuidar

R – A eles abordavam, ouve uns que passou filme, mostrava a maneira de


cuidar um trabalho humanizado, como abordar o paciente, ser cordial
perguntar o que esta sentindo, como esta hoje, um bom dia, uma boa tarde
um sorriso, muitas vezes a pessoa que ouvi de você umas palavras
agradáveis, confortáveis em um momento de dor, um momento que está
passando pó ruma perda, ou perdeu, uma amputação, ou uma doença que
evolui para terminal, então todo um carinho pra lidar com a situação é tudo.

P – Fale do cuidar humanizado ensinado pelo professor

R – Ele falava que a gente tinha que conversar com ele, colher informações
que fizesse com que a gente pudesse fazer um plano assistencial, colhendo
informações com ele esta, as vezes uma pergunta que você faz ele vai te
dar uma resposta, você vê a ansiedade nas palavras, o gesto que você
percebe esse tipo de coisa, a partir disso você vai montar seu plano
assistencial, tanto da patologia clínica, como do psicológico da pessoa né ,a
gente acaba esquecendo isso, ou vai lá no mecânico ou cópia do colega
muitas vezes na evolução da enfermagem você percebe assim no seu dia-a-
dia, inclusive na atuação que o colega tava repetindo as vezes a demanda é
muito grande ele repete o plano assistencial do outro, ele não se dá não
trabalho de ao leito conversar com o paciente, ouvi momento no estágio que
o professor, ele pediu que nos fossemos, chegássemos ao paciente e
comprar o plano assistencial com o nosso e comparasse as diferenças.
Porque às vezes no contato direto com o paciente, consegue desenvolver
um trabalho melhor.

P – 2)Fale das diferenças encontradas


R- Muitas vezes, o repete, um repetia evolução do outro, não falava do novo
às vezes ele não estava ansioso ontem mas hoje ele já está, as vezes ele
não se agravou ontem mas hoje ele se agravou, então existia assim um
problema, o problema aumentou ou ele diminuiu, então não se dava o
trabalho de falar diminuiu a dor dele diminui, a dor dele permanece as vezes
acaba medicando e não vê se o paciente alívio essa dor. Percebemos a
diferença em professores, professor que não tiveram aquela atenção
entendeu, ele falava coisas que claro a gente sabia que lê tinha que passar,
mas ele não se preocupava em ir mais a fundo mais além é digamos uma
parada cárdio-respiratório, olha gente vocês vão auscultar, vê a colocação
da cânula, somente a parte técnica, era isso.

Então meu cuidar como aluno, eu buscava assimilar o que foi de melhor eu
procurava distinguir o certo do errado e agir da melhor forma possível pra
dar o melhor plano assistencial, formular esse plano de uma forma coerente
correta, porque de acordo com as minhas expectativas, com os resultados
que viesse de encontro com o que eu queria, quanto para o paciente, quanto
para minha, evolução profissional e isso foi muito gratificante, porque nesse
momento eu tive esse contato direto com o paciente eu pude perceber que
foi a escolha certa na minha profissão e eu sei que vou levar muita coisas
boas para os alunos que eu espero ter um dia e ensinar o que é certo e o
que é errado, enfatizar que o errado ele têm que ser aprendido e não
assimilado, pra que a gente não faça por onde acontecer os erros

P – Como era seu cuidar.

R – Quando eu chegava no paciente eu boa noite, eu me apresentava né,


meu nome Elis..., Identificava-me como estagiária é dizia a ele que a gente
era monitorizado pra lê não se preocupar, por que muitas vezes o paciente
fica inseguro, nossa o que será vai acontecer comigo agora, estou na mão
de pessoas que não sabe. Eu mostrei pra lê que a gente sabia o que estava
fazendo que a gente tinha sido preparado pra gente poder chegar até ele e a
gente abordava dessa forma, boa noite meu nome é Elis, explicava pra ele
todo o procedimento que ia ser feito é o que se esperava, ele perguntava
mas pra que isso, a respondia isso é pra seu bem dava todas as orientações
sobre os procedimentos realizados.

P – 3) Expresse o significado de cuidar em enfermagem

R – Cuidar é como humanização, ela fala muito no cuidar é humanizar é


você usar de humanidade, ser cordial, saber o que você faz para que os
erros não aconteçam, ir de encontro com tudo aquilo que você aprendeu a
ética, a moral e ver o indivíduo de uma maneira holística, buscar tirar o
máximo daquela entrevista, e traçar um plano assistencial que traga o
retorno positivo a você e sempre que não se esquecendo que o ser humano
é uma máquina complexa, mas a gente têm que saber que nós também
somos um, e queremos ser tratado de forma igual e o igual têm que ser o
melhor, porque tratando melhor a gente, a gente vai estar sempre satisfeito,
a gente vai sempre ter boas recordações e ter valor a profissão que a gente
têm, porque é uma profissão muito difícil, a gente passa por altos e baixo e
experiência é sempre válida e o melhor nunca é perdido, né seja aqui ou em
outro plano astral , a gente sempre vai ter uma recompensa eu acredito
muito nisso.

P – 4 e 5) Fale das facilidades e das dificuldades que encontra no cuidar em


enfermagem

R – Isso na minha experiência em estágio é ouve momento em que na


correria, o tempo escasso a gente acabava não tendo tempo pra dar aquela
plano assistencial, então tinha que ser traçado um tempo pra que as coisas
fluíssem pra que se tirassem o máximo de proveito daquele momento, pra
que se analisasse o paciente da maneira holística como eu enfatizei
anteriormente e busca-se assim traçar um trabalho com o tempo que a gente
tinha mas que prolongasse aquilo um pouco mais sabendo administrar
aquele tempo, teria sido bem mais proveitoso, às vezes na correria o
professor ele nos falava faz os procedimentos os parâmetros da uma
evolução e já termina e outros não, outros já preocuparam-se, pegava um
pra três em cima daquilo nos fazíamos uma evolução muito eu acho que o
tempo ele tem que saber ser administrado e seria muito mais proveitoso se
o professor preocupasse com isso, um o outro se preocupa, outros não.
È o tempo sim, o tempo dificulta o cuidar, sei que no OS é difícil mas dá
pra se fazer uma entrevista, nem que seja rápida mais dá, com o paciente
que seja possível fazê-lo, né, mas numa clínica médica, uma clínica cirúrgica
o tempo dá pra se fazer, um minutinho alguns segundos a mais dá pra se
fazer um bom trabalho, eu sou testemunha disso, porque eu tive professores
que conseguiram mostrar esse tempo pra cada um de nós.

P - O que facilita esse cuidar

R - Facilita o cuidar, eu falei muito no enfermeiro, mas, atuação da equipe


em si atuação da equipe multiprofissional acho que facilita, muitas vezes o
que eu não vi o auxiliar viu, se eu tivesse interação com o grupo eu vou ter
um retorno melhor disso, ele vai me passar, eu passei nas alas e não
percebi uma coisa o auxiliar que estava lá, vai chegar até mim vai dizer qual
o problema e eu vou até o problema eu acho que o trabalho da equipe
multipofissional é muito importante, também, com certeza facilita o cuidar

P -6 – Sinta-se a vontade para comentar, outros fatos que julgar necessário

R – Olha eu quero dizer que, é uma profissão que tenho muito orgulho de
exercê-la é a todos aqueles que chegarem até a um bom número de
pessoas, eu peço que abrace a profissão, tirem grandes lições por que eu
tiro a cada dia, eu adquiro mais experiência, tiro só coisas boas e só levo
pra minha vida, pro meu dia-a-dia espero que isso aconteça na vida de cada
um também.

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