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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

SILVANO TANSINI LESSI

UMA ANÁLISE DAS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS A


PARTIR DE DEUTERONÓMIO 16,1-17

SÃO BERNARDO DO CAMPO


2017
SILVANO TANSINI LESSI

UMA ANÁLISE DAS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS A


PARTIR DE DEUTERONÓMIO 16,1-17

Dissertação apresentada em cumprimento


às exigências do Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Religião da
Universidade Metodista de São Paulo,
como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. José Ademar Kaefer

SÃO BERNARDO DO CAMPO


2017
FICHA CATALOGRÁFICA
A Dissertação de Mestrado intitulada “UMA ANÁLISE DAS TRÊS PRINCIPAIS
FESTAS JUDAICAS A PARTIR DE DEUTERONÔMIO 16,1-17”, elaborada por
Silvano Tansini Lessi foi apresentada e aprovada em 05 de Outubro de 2017, perante
banca examinadora composta pelos professores Doutores José Ademar Kaefer
(Presidente/UMESP), Tércio Machado Siqueira (Titular/ UMESP) e Antônio Carlos
Frizzo (Titular/ITESP).

Prof. Dr. José Ademar Kaefer

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

Prof. Dr. Helmut Renders

Coordenador do Programa de Pós-Graduação

Programa: Pós-Graduação em Ciências da Religião


Área de Concentração: Linguagens da Religião
Linha de Pesquisa: Literatura e Religião no Mundo Bíblico
Esta pesquisa foi produzida com apoio da CAPES, que
ofereceu bolsa de estudos integral entre 2015 e 2017 e do
Instituto Ecumênico de Pós-Graduação da UMESP, que
ofereceu bolsa parcial entre 2015 e 2017.
“Dedico para Daniela Lessi,
Geovanna Lessi e
Marianna Lessi, os amores
da minha vida”.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a DEUS, já que Ele colocou pessoas tão especiais ao


meu lado, sem as quais certamente não teria dado conta!

Aos meus pais, José Moacir e Margarida, meu infinito agradecimento. Sempre
acreditaram em minha capacidade. Obrigado pelo amor incondicional!

Ao meu sogro Candido Reis, à minha sogra Carmem Reis meu agradecimento
especial, pois a seu modo sempre se orgulharam de mim e confiaram em meu trabalho.
Obrigado pela confiança!

Ao Prof. Dr. José Ademar Kaefer pela sua orientação, total apoio,
disponibilidade, pelo saber que transmitiu, pelas opiniões e críticas, total colaboração ao
solucionar dúvidas e problemas que foram surgindo ao longo da realização deste
trabalho, bem como por todas as palavras de incentivo.

A todos os meus amigos e amigas que sempre estiveram presentes me


aconselhando e incentivando com carinho e dedicação.

À todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a execução


desta Dissertação de Mestrado.

Ao Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira, pela atenção e dispor que sempre
demonstrou. Aos meus queridos irmãos da IASD Central de Santo Amaro, pelo
carinho e paciência para comigo.

A todos os colegas de classe, que estudaram as mesmas disciplinas durante


estes quatro semestres, que com suas observações e suas pesquisas, contribuíram
para o aprendizado das disciplinas e de alguma forma, para a produção desta
dissertação.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências da


Religião da UMESP, com os quais tive a honra de poder compartilhar de seus
conhecimentos.

A todos da secretaria do Programa de Pós-Graduação em Ciências da


Religião, pela atenção dispensada e por todo o apoio.
AGRADECIMENTO ESPECIAL

Meu agradecimento mais profundo só poderia ser dedicado a uma pessoa


“minha Esposa”. Incondicionalmente, o tempo todo ao meu lado, nos momentos mais
difíceis que não foram raros neste último ano, sempre me fazendo acreditar que
chegaria ao final desta difícil, porém gratificante etapa.

Este período nos mostrou a verdade sobre nosso relacionamento, somos uma
Família! Sou grato por cada gesto carinhoso, cada sorriso, e ansioso por estar ao seu
lado, com nossas filhas Geovanna Lessi e Marianna Lessi, o resto da minha vida.

Obrigado Daniela Lessi, meu amor!!!


“Os olhos do Senhor estão
sobre os justos; e os seus ouvidos,
atentos ao seu clamor”.

Salmos 34,15
LESSI, Silvano Tansini. UMA ANÁLISE DAS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS
A PARTIR DE DEUTERONÓMIO 16,1-17. São Bernardo do Campo: UMESP, 2017.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) - Faculdade de Humanidades e
Direito, Universidade Metodista de São Paulo - UMESP.

SINOPSE

A pesquisa trabalha as três principais Festas judaicas: Festa do pesah (juntamente com
a Festa dos pães ázimos), Festa das semanas e a Festa das tendas, trazendo um
embasamento teórico que perpassa os livros bíblicos do Antigo Testamento. Como pano
de fundo principal, esta pesquisa utilizou o conteúdo de Deuteronômio 16,1-17. Pode-se
dizer que não se conseguiu afirmar quando surgiram cada uma das Festas, entretanto
observou-se que estas Festas sofreram transformações no decorrer do tempo até os dias de
hoje. As comparações feitas através do estudo de textos do Antigo Testamento deram uma
visão melhor sobre estas transformações. A unificação da Festa do pesah com a Festa dos
pães ázimos, por serem Festas próximas uma da outra no calendário judaico, foi uma das
transformações importantes. Outra foi a centralização das três principais Festas no templo
de Jerusalém. A análise também perpassa pelos impactos que estas mudanças causaram
sobre o povo de Israel. O povo que tinha por costume comemorar as Festas num ambiente
familiar teve que mudar o local de suas adorações. A reforma feita pelo rei Josias também
teve grande impacto para o povo judeu. Podemos dizer que esta reforma teve uma
finalidade política e econômica. Por fim, também foram analisadas as mudanças que
ocorreram no calendário das três Festas. A Festa do pesah que era comemorada no mês de
Tisri passa a ser comemorado no mês de Abib no livro de Deuteronômio 16,1-17.

Palavras-chave: Festa do pesah, Festa dos pães ázimos, Festa das semanas, Festa das
tendas, Deuteronômio 16,1-17.
LESSI, Silvano Tansini. AN ANALYSIS OF THE THREE MOST IMPORTANT
JUDAIC FEASTS ACCORDING TO DEUTERONOMY 16,1-17. São Bernardo do
Campo, UMESP, 2017. Thesis (Master of Sciences of Religion) - Humanities and
Law Faculty, Universidade Metodista de São Paulo - UMESP.

ABSTRACT

The research deals with the three most important Judaic Feasts: The Feast of Pesah (
Feast of Unleavened Bread), The Feast of Weeks and the Feast of Tabernacles, with a
theoretical basis that has the view of the biblical books of The Old Testaments. As
backdrop, this research has used the content of Deuteronomy 16, 1-17. It's said that it
wasn't for sure when each of these feasts appeared, but it was said that these feasts have
suffered alterations in the course of time until nowadays. The comparisons made
through the study of the texts in The Old Testaments have given a better view about
these alterations. The unification of The Feast of Pesah with The Feast of Unleavened
bread since they were close by each other in the Judaic calendar was one of the most
important alterations. Another one was the centralization of the three important feasts in
the temple of Jerusalem. The analysis also shows the impacts that these changes have
caused over the people of Israel. The people who used to celebrate the feasts in a
familiar surrounding had to change the place of their worship. The change made by
King Josiah also had a great impact over the Jewish people. It's said that such change
had a political and economic reason. At last, it was analyzed the changes that had
occurred in the calendar of the feasts. The Feast of Pesah which used to be celebrated
in the month of Tisri was then celebrated in the month of Abib, in Deuteronomy 16, 1-
17.

KEY WORDS: Feast of Pesah, Feast of Unleavened Bread, Feast of Weeks, Feast of
Tabernacles, Deuteronomy 16, 1-17.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 18
CAPÍTULO I ................................................................................................................ 22
1 ANÁLISE EXEGÉTICA DE DEUTERONÔMIO 16,1-17 ................................... 22
1.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 22
1.2 TRADUÇÃO: DEUTERONÔMIO 16,1-17 ............................................................ 22
1.2.1 Tradução literal interlinear .................................................................................... 22
1.2.2 Tradução literal: Texto Massorético de Deuteronômio 16,1-17............................ 28
2 DELIMITAÇÃO DO TEXTO.................................................................................. 29
3 ANÁLISE DA ESTRUTURA DO TEXTO ............................................................. 32
4 ANÁLISE DA COESÃO DO TEXTO ..................................................................... 32
5 GÊNERO LITERÁRIO ........................................................................................... 34
6 DATA E AUTOR ....................................................................................................... 35
7 ANÁLISE DO CONTEÚDO .................................................................................... 39
7.1 A FESTA DO PESAH E PÃES ÁZIMOS (V.1-8 ) ................................................. 39
7.2 A FESTA DAS SEMANAS (V.9-12) ...................................................................... 47
7.3 A FESTA DAS TENDAS (V.13-15) ....................................................................... 50
7.4 RESUMO DAS PEREGRINAÇÕES ANUAIS (V.16-17) ..................................... 51
8 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS ............................................................. 52
CAPÍTULO II ............................................................................................................... 54
2 AS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS SEGUNDO OS LIVROS DO
ÊXODO, NÚMEROS E LEVÍTICO .......................................................................... 54
2.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 55
2.2 AS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS SEGUNDO: PESAH (ÊX 12,1-14; ÊX 23,18 E
34,25; LV 23,5-8; NM 28,16-25), SEMANAS (LV 23,15-22; NM 28,26-31), TENDAS
(LV 23,33-44; NM 29,13-39) ......................................................................................... 55
2.2.1 Textos sobre a Festa do pesah e pães ázimos (Êx 12,1-14; Êx 23,18 e 34,25; Lv
23,5-8; Nm 28,16-25) ..................................................................................................... 55
2.2.2 Comparação de Êx 12,1-14 com Deuteronômio 16,1-8 ........................................ 55
2.2.3 Comparação de Lv 23,5-8 com Deuteronômio 16,1-8 .......................................... 60
2.2.4 Comparação de Nm 28,16-25 com Deuteronômio 16,1-8..................................... 62
2.2.5 Textos sobre a Festa das Semanas (Lv 23,15-22; Nm 28,26-31) .......................... 63
2.2.6 Comparação de Lv 23,15-22 com Deuteronômio 16,9-12 .................................... 63
2.2.7 Comparação de Nm 28,26-31 com Deuteronômio 16,9-12................................... 66
2.2.8 Textos sobre a Festa das Tendas (Lv 23,33-44; Nm 29,13-39)............................. 70
2.2.9 Comparação de Lv 23,33-44 com Deuteronômio 16,13-15 .................................. 70
2.2.10 Comparação de Nm 29,13-39 com Deuteronômio 16,13-15............................... 76
3 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS ............................................................. 79
CAPÍTULO III ............................................................................................................. 81
3 A ORIGEM POPULAR DAS FESTAS: PESAH, SEMANAS E TENDAS......... 81
3.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 81
3.2 A ORIGEM DA FESTA DO PESAH....................................................................... 82
3.3 A ORIGEM DA FESTA DOS PÃES ÁZIMOS ...................................................... 85
3.4 A JUNÇÃO DA FESTA DO PESAH E A FESTA DO PÃES ÁZIMOS................ 87
3.5 A ORIGEM DA FESTA DAS SEMANAS ............................................................. 88
3.6 OS NOMES DA FESTA DAS SEMANAS ............................................................. 89
3.7 O TEMPO DA FESTA DAS SEMANAS................................................................ 90
3.8 A ORIGEM DA FESTA DAS TENDAS ................................................................. 91
3.9 OS NOMES DA FESTA DAS TENDAS ................................................................ 94
3.10 O TEMPO DA FESTA DAS TENDAS ................................................................. 95
4 A REFORMA DAS FESTAS PELO REI JOSIAS ................................................ 95
5 O CALENDÁRIO JUDAICO................................................................................... 98
6 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS ........................................................... 101
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 103
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 109
LISTA DE IMAGENS

Tabela 1 - ...................................................................................................... 32

Figura 1 - Estela de Hamurábi (c. 1700 a.C.) contendo 282 leis, as quais

proporcionam comparações interessantes de forma e detalhes com as leis

do Pentateuco (e.g. Dt 19,21)........................................................................ 38

Figura 2 - Cabana (Sucá).............................................................................. 93

Figura 3 – Lulav ........................................................................................... 95

Figura 4 – Equivalência dos Meses do Ano do Calendário Judeu

(Conforme calendário lunar = 354 dias)........................................................ 101

Figura 5 – O Calendário Judaico e a Correspondência com o Calendário

Ocidental......................................................................................................... 101
SIGLAS E ABREVIAÇÕES

Livros da Bíblia

Ag Ageu
Am Amós
Cr 1-2 Crônicas
Ct Cântico dos Cânticos
Dn Daniel
Dt Deuteronômio
Ec Eclesiastes
Eclo Eclesiástico / Sirácida
Ed Esdras
Et Ester
Ex Êxodo
Ez Ezequiel
Gn Gênesis
Hc Habacuque
Is Isaías
Jl Joel
Jn Jonas
Jó Jó
Jr Jeremias
Js Josué
Jud Judite
Jz Juízes
Lm Lamentações
Lv Levíticos
1 Mc Macabeus
2 Mc Macabeus
Ml Malaquias
Mq Miquéias
Na Naum
Ne Neemias
Nm Números
Ob Obadias
Os Oséias
Pv Provérbios
Rt Rute
Rs 1-2 Reis
Sb Sabedoria de Salomão
Sf Sofonias
Sl Salmos
Sm 1-2 Samuel
Tb Tobias
Zc Zacarias

LXX Septuaginta: With morphology. Electronic ed. Stuttgart: Deutsche


Bibelgesellschaft, 1979.
NBP Nova Bíblia Pastoral. São Paulo: Paulus, 2014.

NCBC The New Cambridge Bible Commentary

NOAB New Oxford Annotated Bible. New Revised Standard Version With The
Apocrypha, an Ecumenical Study Bible. Oxford: Oxford Uni-versity Press, 2010
[Kindle Edition].
OBO Orbis Biblicus et Orientalis

OBSO Oxford Biblical Studies Online

OTL The Old Testament Library

OTR Old Testament Readings (Routledge)

RIBLA Revista de Interpretação Bíblica Latino Americana

RV La Santa Biblia Reina-Valera 1960. Barueri: Sociedades Bíblicas Unidas,


1960.
SB Subsidia Bíblica

SS Semeia Studies (SBL)

SSN Studia Semitica Neerlandica

TDOT BOTTERWECK, G. Johannes; RINGGREN, Helmer; FABRI, Heiz-


Josef. Theological Dictionary of the Old Testament. 14 Vols. Grand Rapids/
Cambridge: William B. Eerdmans Publishing Company, 1975-2013.
TEL AVIV Journal of the Institute of Archaeology of Tel Aviv University
UCOIS The University of Chicago: Oriental Institute Seminars
UCOP University of Cambridge Oriental Publications
VT Vetus Testamentum
VTSup Supplements to Vetus Testamentum
WiS MEYERS, Carol (ed.). Woman in Scripture: A Dictionary of Named and
Unamed Women in the Hebrew Bible, The Apocryphal/Deutero- canonical Books, and
the New Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 2000 [Kindle Edition].
ZAW Zeitschrift für die Alttestamentliche Wissenschaft

Outras abreviações

a.C. antes de Cristo


apud citado por
AT Antigo Testamento
BH Bíblia Hebraica
d.C. Depois de Cristo
et al. et alii; e outros autores
gr. grego
heb. hebraico
i. e. id est; isto é
lat. latim
LXX septuaginta
v. verso/versículo
TM Texto Massorético
18

INTRODUÇÃO

O presente estudo pretende analisar as principais Festas judaicas, trazendo um


embasamento teórico que perpassa os livros bíblicos do Antigo Testamento, atribuídos
através da história como descrição dos ensinamentos de Deuteronômio, até renomados
escritores contemporâneos que analisam o tema sob o seu aspecto histórico e também
conceitual.
Mesmo num universo de dezenas de comemorações religiosas, as chamadas Festas
de tradição judaica são consideradas as principais Festas dentro do calendário Judaico: a
Festa do Pesah e pães Ázimos; a Festa das Semanas e a Festa das Tendas. Este trabalho
pretende aprofundar somente nestas três.
Como pano de fundo principal, esta pesquisa utilizou o conteúdo de Deuteronômio
16,1-17. Apesar de vários estudiosos proporem estruturas diferentes para esta perícope,
optou-se por uma divisão em quatro partes. A primeira parte (v.1-8), composta por três
subdivisões, pesah (v.1-4), local de adoração (v.5-7) pão ázimos (v.8), a segunda parte fala
da Festa das semanas (v.9-12), a terceira parte trata da Festa das Tendas (v.13-15) e para
finalizar, o resumo das peregrinações anuais (v.16-17).
O principal objetivo desta dissertação é comparar as Festas, ou seja, analisar as suas
mudanças através dos tempos, verificando as diferenças apresentadas entre o período
descrito no livro de Êxodo até Deuteronômio.
As referências quanto ao Pesah no livro de Êxodo, são de uma Festa, cujo formato
era cada família fazer a sua Festa particular, sacrificando um animal de um ano, assando-o
sem cortar nenhum osso e consumindo na sua integralidade antes de nascer o sol. Se a
família fosse pequena, poderiam então juntar-se a mais famílias para comer o cordeiro.
Este era um ritual familiar e tinha o objetivo de proteger este núcleo.
A partir do livro de Deuteronômio, houve uma transformação significativa, sendo a
Festa do pesah atualizada e levada para o templo, juntando-se às comemorações da Festa
dos Pães Ázimo. Como as duas Festas ocorriam em datas próximas, foram então fundidas
num mesmo evento.
Para o pesquisador Mckenzie (1984) a palavra pesah tem um significado e
etimologia incertos. No uso, o termo parece designar tanto a Festa como a manducação do
animal no banquete festivo. O ritual do pesah é apresentado pela primeira vez no livro de
Êx 12,1-28, onde está relacionado com a Festa dos Ázimos. O rito consiste de um banquete
em que um cordeiro de um ano é comido. O cordeiro devia ser assado inteiro, e aquilo que
19

não era comido no banquete devia ser queimado antes do dia seguinte. Os participantes do
rito comiam em pé e vestidos para viagem. Borrifava-se sangue nos umbrais das portas
para afastar o anjo destruidor, que matou os primogênitos dos egípcios. A Festa
mencionada em Deuteronômio 16,1-5 modifica a prática ritual: a imolação do cordeiro
torna-se um ato quase sacrifical que deve ser realizado só no santuário, e o banquete
também deve ser comido no santuário (MCKENZIE, 1984, pg. 696).
A Festa do pesah baseava-se na oferenda de um cordeiro, o melhor do rebanho,
como forma de pedir proteção à família. Já a Festa do Pães Ázimos baseava-se em
consumir um pão assado sem fermento, feito somente de farinha de trigo e água. A
preparação da massa não devia exceder a 18 minutos para garantir que a massa não
fermentasse. De acordo com a tradição judaico-cristã, o pão Ázimo foi feito
pelos israelitas antes da fuga do Antigo Egito, porque não houve tempo para esperar até a
massa fermentar.
Do mesmo modo, a Festa das semanas que era voltada à agricultura, era realizada
no âmbito familiar, sendo posteriormente, a partir de Deuteronômio, trazida para o templo
como forma de agradecimento a Deus com um ritual.
A Festa das Tendas também foi transformada. O livro de êxodo é bem sucinto
quanto a esta comemoração, dizendo apenas que os primeiros frutos do trabalho das
famílias deveriam ser celebrado. Já o livro de Deuteronômio é mais rico em detalhes,
explicando que a celebração deveria começar após a colheita dos produtos, sendo
observados no templo por um período de sete dias, numa comemoração alegre e festiva que
deveria incluir toda a família, os empregados, o levita, o estrangeiro, órfão e a viúva, ou
seja, todos os menos abastados ou excluídos socialmente deveriam acompanhar o dono da
oferta, já que nesta época a Festa já era realizada no templo em Jerusalém.
Se compararmos com o Cristianismo, as três principais Festas judaicas representam
o Pesah, o Pentecostes e Tabernáculos que são assim chamadas em II Cr. 8:13 "Na Festa
dos Pães Ázimos, e na Festa das Semanas, e na Festa das Tendas." Páscoa é Pesah, que
significa passagem, em hebraico, derivado do fato de o anjo destruidor ter passado por
sobre toda a terra do Egito, na morte dos primogênitos, na instituição do pesah. Pentecostes
deriva de Penta, cinco em grego, em virtude de ser comemorada cinquenta dias após o
pesah, que é também chamada de Festa das Semanas, em virtude de acontecer sete
semanas, após o pesah. A Festa dos Tabernáculos é a terceira das três Festas principais, e é
chamada de Sucote, derivada de Sukáh, em hebraico, que significa Tendas ou Cabanas.
20

No livro de Deuteronômio 16, os versículos 16-17 são os que se detêm a fazer um


resumo, descrito como Resumo das Peregrinações Anuais, que se aplica às três principais
Festas judaicas, que permitiam que em Israel fosse desenvolvido um senso de comunidade
nacional.
Dividido em três capítulos, este trabalho não pretende defender nenhuma tese ou
tirar conclusões fechadas. Isto seria impossível diante dos desencontros de informações e
da impossibilidade de precisão diante dos materiais encontrados. Segundo os pesquisadores
aqui citados, há dúvidas quanto aos períodos, quanto à época das ocorrências e até da
identidade dos criadores do livro de Deuteronômio. O que se pode determinar a partir da
pesquisa, são as transformações ocorridas através dos tempos, transformações que
envolveram o formato e, principalmente o local de suas realizações.
As tradições judaicas e cristãs, bem como muitos autores de correntes mais
conservadoras, afirmam que o conteúdo histórico do Pentateuco (livros de Genesis, Êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio) foi escrito por Moisés, por inspiração de YHWH.
Enquanto para muitos outros estudiosos, trata-se da propagação dos ensinamentos de
Moisés escrita por profetas que viveram em períodos posteriores.
O primeiro capítulo começa com uma tradução literal, analisando as variantes
textuais e as anotações massoretas. Depois segue-se com uma análise da formação do
Deuteronômio, a datação e o seu lugar vivencial. Por fim, a parte mais ampla do capítulo
traz a análise do conteúdo dessa passagem bíblica, como a sua composição, o seu uso e a
sua interpretação, principalmente pelos adeptos da religião de Israel.
No segundo capítulo fez-se a análise propriamente dita das três Festas, comparando
a forma descrita nos livros bíblicos de Êxodo, Números e Levíticos, procurando identificar
as principais diferenças das Festas judaicas e suas mudanças com o passar do tempo. Esta
análise buscou identificar como as Festas sofreram suas mudanças e se essas mudanças
tiveram alguma influência na sociedade judaica.
Já o terceiro capítulo faz uma avaliação da origem popular das principais Festas
judaicas “Pesah, Semanas e Tendas”. Foram investigados como cada Festa se originou ou
teve início, o desenvolvimento de cada uma e as transformações ocorridas com o passar do
tempo.
Mesmo em períodos não determinados, pois os registros históricos são imprecisos,
é possível identificar que as mudanças ocorreram de forma semelhante nas três Festas:
saindo de um contexto pequeno, local e familiar, e transformando-se em um evento de
grande impacto, onde o objetivo principal era ter um local único de adoração a YHWH e de
21

levar as ofertas como forma de agradecimento pelas bênçãos recebidas.


Para López (2004) o cronograma festivo descrito em Deuteronômio convida a todos
a levar suas oferendas de acordo com a bênção que o Senhor lhes dá. Segundo a teoria, a
generosidade não deveria ser exercitada somente com as pessoas necessitadas, mas também
com o Senhor YHWH. Dizia ainda, que era isso que o Senhor esperava como
agradecimento de seus filhos.
A análise também perpassa pelos impactos que estas mudanças causaram sobre o
povo de Israel. E, por fim, também foram analisadas as mudanças nos calendários das três
Festas, que foram objeto deste estudo.
Segundo Mcmurtry (2012) até os dias atuais o Pesah é celebrado pelos Judeus de
forma muito semelhante àquela que era celebrada na época de Jesus. Isso deve-se ao fato
de que o povo judeu é bastante fiel as tradições, valorizando e exercitando esses ritos para
que o seu objetivo e as suas características não se percam com o passar do tempo.
22

CAPÍTULO I

1 ANÁLISE EXEGÉTICA DE DEUTERONÔMIO 16,1-17

1.1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo faremos uma análise exegética histórico-literária do texto de


Deuteronômio 16,1-17. Iniciando pela tradução literal, analisando as variantes textuais.
Em seguida será realizada a análise da formação do Deuteronômio já dividido em frases e
estrofes no momento da tradução, depois a datação e o lugar vivencial do Deuteronômio
com seus autores e leitores.
Será apresentada a análise do conteúdo de Deuteronômio 16,1-17, que é uma
seção mais extensa, analisando a composição, o seu uso na liturgia e a interpretação do
texto, investigando sua produção e recepção pelos indivíduos da religião de Israel.
Através deste estudo procuraremos encontrar a formação de Deuteronômio e
observar sua linguagem e forma. Assim, perceberemos as principais mudanças dentro do
texto de Deuteronômio 16,1-17.

1.2 TRADUÇÃO: DEUTERONÔMIO 16,1-17

1.2.1 Tradução literal interlinear

pesah ‫ֶפסַח‬ ָׁ‫ְועָׁשִית‬ ‫הָָׁאבִיב‬ ‫אֶת־ח ֹדֶ ש‬ ‫שָׁמֹור‬1


1
e farás o abib o mês de Guarda2

‫הָָׁאבִי‬ ‫בְח ֹדֶ ש‬ ‫כִי‬ ‫אֱ ֹלהֶיָך‬ ‫לַיהוָׁה‬


o abib em mês de porquê teu Elohim a YHWH

‫ָׁלי ְ ָׁלה‬ ‫מִ מִ צ ְַרי ִם‬ ‫אֱ ֹלהֶיָך‬ ‫י ְהוָׁה‬ ‫הֹוצִיאֲ ָך‬
de noite. desde o Egito teu Elohim YHWH te fez sair3

1
ָׁ‫ ָׁעשִית‬verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ] ָׁעשָׁה‬e farás”
2
‫ שָׁמֹור‬verbo qal infinitivo absoluto.
3
‫ הֹוצִי ֲאָך‬verbo hiphil perfeito, 3ª. pessoa masculino singular, sufixo 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫]יָׁצָׁא‬
“te fez sair”
23

gado ‫צ ֹאן‬ ‫אֱ ֹלהֶיָך‬ ‫לַיהוָׁה‬ ‫ֶפסַח‬ ָׁ‫ְוזָׁ ַבחְת‬ 2

miúdo teu Elohim a YHWH pesah E sacrificarás4

‫שכֵּן‬
ַ ‫ְל‬ ‫י ְהוָׁה‬ ‫אֲשֶר־י ִ ְבחַר‬ ‫בַמָׁקֹום‬ ‫ּובָׁקָׁר‬
para fazer residir5 YHWH que escolher6 no local e gado graúdo

‫שָׁם‬ ‫שְ מֹו‬


ali. nome dele

‫י ָׁמִים‬ ‫שִ ְבעַת‬ ‫חָׁמֵּץ‬ ‫ָׁעלָׁיו‬ ‫ֹלא־ת ֹאכַל‬ 3

dias sete de algo fermentado com ele Não comerás7

‫כִי‬ ‫עֹנִי‬ ‫ֶלחֶם‬ ‫מַ ּצֹות‬ ‫ת ֹאכַל־ ָׁעלָׁיו‬


porque aflição pão de ázimos comerás com ele

‫לְמַ עַן‬ ‫מִ צ ְַרי ִם‬ ‫מֵּאֶרץ‬


ֶ ָׁ‫יָׁצָׁאת‬ ‫ְב ִחפָׁזֹון‬
8
para que Egito desde a terra do saíste com pressa

‫ִמצ ְַרי ִם‬ ‫מֵּאֶרץ‬


ֶ ‫צֵּאתְ ָך‬ ‫אֶת־יֹום‬ ‫תִ זְכ ֹר‬
9
Egito desde a terra de o teu sair o dia de recordes10

‫ַחי ֶיָך‬ ‫י ְמֵּי‬ ‫כ ֹל‬


tuas vidas. dias de todos

‫שִ ְבעַת‬ ‫ְבכָׁל־ ְג ֻבלְָך‬ ‫שְא ֹר‬ ‫לְָך‬ ‫וְֹלא־י ֵָּׁראֶ ה‬ 4

sete de em todo teu território fermento contigo E não aparecerá11

‫תִ זְבַח‬ ‫אֲ שֶר‬ ‫מִן־ ַה ָׁבשָׁר‬ ‫וְֹלא־יָׁלִין‬ ‫י ָׁמִים‬


12 13
sacrificares que de a carne e não pernoitará dias
4
‫ ְוזָׁ ַב ְח ָׁת‬verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]זָׁבַח‬sacrificarás”
5
‫שכֵּן‬ ַ ‫ ְל‬verbo verbo piel infinitivo construto. Raiz [‫“ ]שכן‬para fazer residir”
6
‫ ֲאשֶר‬verbo qal imperfeito 3ª. Pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]בחר‬que escolher”
7
‫ ת ֹאכַל‬verbo qal imperfeito 2ª. Pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]אכל‬não comerás”
8
ָׁ‫ יָׁצָׁאת‬verbo qal perfeito 2ª. Pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]יצא‬saiste”
9
‫ צֵּאתְ ָך‬verbo qal infinito construto sufixo 2ª. Pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]יצא‬o teu sair”
10
‫ תִ זְכ ֹר‬verbo qal imperfeito 2ª. Pessoa masculino singula. Raiz [‫“ ]זכר‬recordes”
11
‫ י ֵָּׁר ֶאה‬verbo niphal imperfeito 3ª. Pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]ראה‬aparecerá”
12
‫ תִ זְבַח‬verbo qal imperfeito 2ª. Pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]זבח‬sacrificares”
13
‫ יָׁלִין‬verbo qal imperfeito 3ª. Pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]לין‬pernoitará”
24

‫לַב ֹקֶר‬ ‫ה ִָׁראשֹון‬ ‫בַיֹום‬ ‫ָׁבע ֶֶרב‬


para o amanhecer. o primeiro no dia pelo entardecer

‫בְַאחַד‬ ‫אֶת־ ַה ָׁפסַח‬ ‫ִלזְב ֹ ַח‬ ‫תּוכַל‬ ‫ֹלא‬ 5

num de a pesah sacrificar14 poderás15 Não

‫לְָׁך‬ ‫נ ֹתֵּ ן‬ ‫אֱ ֹלהֶיָך‬ ‫אֲ שֶר־י ְהוָׁה‬ ‫שְ ע ֶָׁריָך‬


para ti. o que dá16 teu Elohim que YHWH teus portões

‫אֱֹלהֶיָך‬ ‫י ְהוָׁה‬ ‫אֲ שֶר־י ִ ְבחַר‬ ‫אִם־אֶ ל־הַמָׁקֹום‬ ‫כִי‬ 6

teu Elohim YHWH que escolher17 se ao local Porque

‫אֶת־ ַה ֶפסַח‬ ‫תִ זְבַח‬ ‫שָׁם‬ ‫שְ מֹו‬ ‫לְשַ כֵּן‬


a pesah sacrificarás ali nome dele para fazer residir18

‫מֹועֵּד‬ ‫הַשֶ מֶש‬ ‫כְבֹוא‬ ‫ָׁבע ֶָׁרב‬


19
época determinada o sol como entrar pelo entardecer

‫מִ מִ צ ְָׁרי ִם‬ ‫צֵּאתְ ָך‬


desde o Egito. teu sair

‫י ִ ְבחַר‬ ‫אֲ שֶר‬ ‫בַמָׁקֹום‬ ָׁ‫וְָא ַכלְת‬ ָׁ‫ּובִשַ לְת‬ 7

20 21
escolher que no local e comerás E cozinharás22

ָׁ‫ּו ָׁפנִית‬ ‫בֹו‬ ‫אֱֹלהֶיָך‬ ‫י ְהוָׁה‬


23
e virarás nele teu Elohim YHWH

‫לְא ֹ ָׁהלֶיָך‬ ָׁ‫ְו ָׁה ַלכְת‬ ‫בַב ֹקֶר‬


14
‫ ִלזְב ֹ ַח‬verbo qal infinitivo construto. Raiz [‫“ ]זבח‬sacrificar”
15
‫ תּוכַל‬verbo qal imperfeito 2ª. Pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]יכל‬poderás”
16
‫ נ ֹתֵּ ן‬verbo qal participo masculino singular absoluto. Raiz [‫“ ]נתן‬o que dá”
17
‫ ר ַ ְחבִי‬verbo qal imperfeito 3ª. Pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]בחר‬escolher”
18
‫כשְל‬ ִ ‫ ְן‬verbo piel infinitivo construto. Raiz [‫“ ]שכן‬para fazer residir”
19
‫ כְבֹוא‬verbo qal infinitivo construto. Raiz [‫“ ]בוא‬como entrar”
20
‫ י ִ ְבחַר‬verbo qal imperfeito 3ª. Pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]בחר‬escolher”
21
ָׁ‫ וְָא ַכלְת‬verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]אכל‬comerás”
22
‫ש ְל ָׁת‬ ַ ‫ ִב‬verbo piel waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]בשל‬cozinharás”
23
ָׁ‫ ּו ָׁפנִית‬verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]פנה‬virarás”
25

para as tuas tendas. e andarás24 pelo amanhecer

‫מַ ּצֹות‬ ‫ת ֹאכַל‬ ‫יָׁמִים‬ ‫שֵּ שֶת‬ 8

25
ázimos comerás dias Seis de

‫לַיהוָׁה‬ ‫ֲעצ ֶֶרת‬ ‫הַשְ בִיעִי‬ ‫ּובַיֹום‬


a YHWH assembleia festiva o sétimo mas no dia

‫ס‬ ‫מְ לָׁאכָׁה‬ ‫תַ ֲעשֶה‬ ‫ֹלא‬ ‫אֱ ֹלהֶיָך‬


obra. farás26 não teu Elohim

‫מֵּ ָׁהחֵּל‬ ‫תִ ְספָׁר־לְָׁך‬ ‫שָׁ בֻע ֹת‬ ‫שִ ְבעָׁה‬ 9

desde o começar27 enumerarás para ti28 semanas Sete

‫ִלסְפ ֹר‬ ‫תָׁ חֵּל‬ ‫בַקָׁ מָׁ ה‬ ‫ח ְֶרמֵּ ש‬


para anunciar começarás no cereal em pé foice

‫שָׁ בֻעֹות‬ ‫שִ ְבעָׁה‬


semanas. sete

‫אֱ ֹלהֶיָך‬ ‫לַיהוָׁה‬ ‫שָׁ בֻעֹות‬ ‫חַג‬ ָׁ‫ְועָׁשִית‬ 10

teu Elohim a YHWH semanas Festas de E farás29

‫תִ תֵּן‬ ‫אֲ שֶר‬ ‫י ָׁדְ ָך‬ ‫נִדְ בַת‬ ‫מִ סַת‬
30
deres que a tua mão a oferta voluntária de a medida de

‫אֱֹלהֶיָך‬ ‫י ְהוָׁה‬ ‫יְב ֶָׁרכְָך‬ ‫כַאֲ שֶר‬


31
teu Elohim. YHWH te abençoar conforme

24
ָׁ‫ ְו ָׁה ַלכְת‬verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]הלך‬andaras”
25
‫ ת ֹאכַל‬verbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]אכל‬comerás”
26
‫ תַ ֲעשֶה‬verbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]עשה‬farás”
27
‫ ֵּמ ָׁהחֵּל‬verbo hiphil infinitivo construto. Raiz [‫“ ]חלל‬desde o começar”
28
‫ תִ ְספָׁר־לְָׁך‬verbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]ספר‬enumerás”
29
ָׁ‫ ְו ָׁעשִית‬verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]עשה‬farás”
30
‫ תִ תֵּן‬verbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]נתן‬deres”
31
‫ יְב ֶָׁרכְָך‬verbo piel imperfeito 3ª. pessoa masculino singular, sufixo 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫]ברך‬
“abençoar”
26

‫אַתָׁ ה‬ ‫אֱֹלהֶיָך‬ ‫י ְהוָׁה‬ ‫ִל ְפנֵּי‬ ָׁ‫וְשָׁ מַ חְת‬ 11

tu teu Elohim YWHW perante E te alegrarás32

‫ְו ַה ֵּלוִי‬ ‫וַאֲ מָׁתֶ ָך‬ ‫ְו ַעבְדְ ָך‬ ‫ּובִתֶ ָך‬ ‫ּו ִבנְָך‬
e o levita e tua serva e teu escravo e tua filha e teu filho

‫ְו ַהי ָׁתֹום‬ ‫ְו ַהגֵּר‬ ‫בִשְ ע ֶָׁריָך‬ ‫אֲשֶר‬


e o órfão e o estrangeiro nos teus portões que

‫בַמָׁקֹום‬ ‫ְקִרבֶָך‬
ְ ‫ב‬ ‫אֲ שֶר‬ ‫ְוהַָׁאלְמָׁ נָׁה‬
no local em teu interior que e a viúva

‫לְשַ כֵּן‬ ‫אֱ ֹלהֶיָך‬ ‫י ְהוָׁה‬ ‫י ִ ְבחַר‬ ‫אֲ שֶר‬


33
para fazer residir teu Elohim YWHW escolher que

‫שָׁם‬ ‫שְ מֹו‬


ali. nome Dele

ָׁ‫וְשָׁ מ ְַרת‬ ‫בְמִ צ ְָׁרי ִם‬ ָׁ‫ָׁהי ִית‬ ‫כִי־ ֶעבֶד‬ ָׁ‫ְוזָׁכ ְַרת‬ 12

e guardarás34 em Egito foste35 que escravo E recordarás36

‫פ‬ ‫הָׁאֵּ לֶה‬ ‫אֶת־ ַהחֻקִים‬ ָׁ‫ְועָׁשִית‬


os estes. os estatutos e farás37

‫שִ ְבעַת‬ ‫לְָך‬ ‫תַ ֲעשֶה‬ ‫ַהסֻכ ֹת‬ ‫חַג‬ 13

sete de para ti farás38 as tendas Festa de

‫ּומִ י ִקְ בֶָך‬ ‫מִ ג ְָׁרנְָך‬ ‫בְָא ְספְָך‬ ‫י ָׁמִים‬


e do teu lugar. da tua eira em teu recolher39 dias

32
ָׁ‫ש ַמחְת‬ ָׁ ‫ ְו‬verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]שמח‬alegrarás”
33
‫ י ִ ְבחַר‬verbo qal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]בחר‬escolher”
34
ָׁ‫שמ ְַרת‬ ָׁ ‫ ְו‬verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]שמר‬quardarás”
35
ָׁ‫ ָׁהי ִית‬verbo qal perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]היה‬foste”
36
ָׁ‫ ְוזָׁכ ְַרת‬verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]זכר‬recordarás”
37
ָׁ‫ ְו ָׁעשִית‬verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]עשה‬farás”
38
‫ תַ ֲעשֶה‬verbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [ ‫“ ]עשה‬farás”
27

‫ּובִתֶ ָך‬ ‫ּו ִבנְָך‬ ‫אַתָׁ ה‬ ‫ְב ַחגֶָך‬ ָׁ‫וְשָׁ מַ חְת‬ 14

e tua filha e teu filho tu em tua Festas E te alegrarás40

‫ְו ַהי ָׁתֹום‬ ‫ְו ַהגֵּר‬ ‫ְו ַה ֵּלוִי‬ ‫וַאֲ מָׁתֶ ָך‬ ‫ְו ַעבְדְ ָך‬
e o órfão e o estrangeiro a o levita e tua serva e teu servo

‫בִשְ ע ֶָׁריָך‬ ‫אֲ שֶר‬ ‫ְוהַָׁאלְמָׁ נָׁה‬


nos teus portões. que e a viúva

‫אֱ ֹלהֶיָך‬ ‫לַיהוָׁה‬ ‫תָׁ ח ֹג‬ ‫י ָׁמִים‬ ‫שִ ְבעַת‬ 15

41
teu Elohim a YHWH Festas dias Sete de

‫יְב ֶָׁרכְָך‬ ‫כִי‬ ‫י ְהוָׁה‬ ‫אֲ שֶר־י ִ ְבחַר‬ ‫בַמָׁקֹום‬


42 43
te abençoará porque YHWH que escolher no local

‫ּובְכ ֹל‬ ‫תְ בּוָאתְ ָך‬ ‫בְכ ֹל‬ ‫אֱ ֹלהֶיָך‬ ‫י ְהוָׁה‬
e em todo teu produto em todo teu Elohim YHWH

‫שָׁמֵּ ַח‬ ‫אְַך‬ ָׁ‫ְו ָׁהי ִית‬ ‫י ָׁדֶ יָך‬ ‫מַ עֲשֵּה‬
44
alegre. certamente e serás tuas mãos feito de

‫י ֵָּׁראֶה‬ ‫בַשָׁ נָׁה‬ ‫ְפעָׁמִים‬ ‫שָׁ לֹוש‬ 16

45
aparecerá no ano vezes Três

‫אֱֹלהֶיָך‬ ‫י ְהוָׁה‬ ‫אֶת־ ְפנֵּי‬ ‫ְכּורָך‬


ְ ‫כָׁל־ז‬
teu Elohim YHWH perante todo o teu de qualidade masculina

‫ְבחַג‬ ‫י ִ ְבחָׁר‬ ‫אֲ שֶר‬ ‫בַמָׁקֹום‬


39
‫ בְָא ְספְָך‬verbo qal infinitivo construto sufixo 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]אסף‬recolher”
40
ָׁ‫ש ַמחְת‬ ָׁ ‫ ְו‬verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]שמח‬alegarás”
41
‫ תָׁ ח ֹג‬verbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]חגג‬Festas”
42
‫ יְב ֶָׁרכְָך‬verbo piel imperfeito 3ª. pessoa masculino singular, sufixo 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫]ברך‬
“abençoará”
43
‫ ֲאשֶר־י ִ ְבחַר‬verbo qal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]בחר‬escolher”
44
ָׁ‫ ְו ָׁהי ִית‬verbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]היה‬serás”
45
‫ י ֵָּׁר ֶאה‬verbo niphal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]ראה‬aparecerá”
28

em Festa de escolher46 que no local

‫ּו ְבחַג‬ ‫הַשָׁ בֻעֹות‬ ‫ּו ְבחַג‬ ‫הַמַ ּצֹות‬


e em Festa de as semanas e em Festa de os ázimos

‫אֶת־ ְפנֵּי‬ ‫י ֵָּׁראֶה‬ ‫וְֹלא‬ ‫ַהסֻכֹות‬


47
perante aparecerá e não as tendas

‫ֵּריקָׁם‬ ‫י ְהוָׁה‬
vazio. YHWH

‫ְכב ְִרכַת‬ ‫י ָׁדֹו‬ ‫ְכמַתְ נַת‬ ‫אִיש‬ 17

conforme a benção de mão conforme a dádiva de Cada um

‫נָׁתַ ן־לְָׁך ס‬ ‫אֲ שֶר‬ ‫אֱ ֹלהֶיָך‬ ‫י ְהוָׁה‬


deu para ti48 que teu Elohim YHWH

1.2.2 Tradução literal: Texto Massorético de Deuteronômio 16,1-17

1 - Guarda o mês de o abib e farás pesah a YHWH teu Elohim porque em


mês de o abib te fez sair YHWH teu Elohim desde o Egito de noite.
2 - E sacrificarás pesah a YHWH, teu Elohim, gado miúdo e gado graúdo
no local que escolher YHWH, para fazer residir nome Dele ali.
3 - Não comerás sobre ele/com ele algo fermentado, sete de dias
comerás com ele ázimos, pão de aflição, porque com pressa saíste
desde a terra do Egito, para que recordes o dia de o teu sair desde a
terra de Egito, todos dias de tuas vidas.
4 - E não aparecerá contigo fermento em todo teu território sete de dias, e
nem pernoitará de a carne que sacrificares pelo entardecer no dia o
primeiro para o amanhecer.
5 - Não poderás sacrificar a pesah, num de os teus portões, que YHWH,
teu Elohim, o que dá para ti.

46
‫ י ִ ְבחָׁר‬verbo qal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]בחר‬escolher”
47
‫ י ֵָּׁר ֶאה‬verbo niphal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]ראה‬aparecerá”
48
‫ נָׁתַ ן־לְָׁך‬verbo qal perfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz [‫“ ]נתן‬deu”
29

6 - Porque se ao local que escolher YHWH, teu Elohim para fazer residir
nome dele ali, sacrificarás a pesah pelo entardecer, como entrar o sol,
época determinada de teu sair desde o Egito.
7 - E cozinharás e comerás no local que escolher YHWH, teu Elohim,
nele e te virarás pelo amanhecer e andarás para tuas tendas.

8 - Seis de dias comerás ázimos, mas no dia o sétimo, assembleia festiva a


YHWH, teu Elohim, não farás obra.
9 - Sete semanas enumerarás para ti, desde o começar foice no cereal em
pé começarás para anunciar sete semanas.
10 - E farás Festa de semanas a YHWH, teu Elohim, a medida de a oferta
voluntária de a tua mão que deres conforme te abençoar YHWH teu
Elohim.
11 - E te alegrarás perante YHWH, teu Elohim, tu, e teu filho, e tua filha,
e teu escravo, e tua serva, e o levita que nos teus portões, e o estrangeiro,
e o órfão, e a viúva que em teu interior no local que escolher, YHWH, teu
Elohim, para fazer residir nome dele ali.
12 - E recordarás que escravo foste em Egito, e guardarás e farás os
estatutos os este.
13 - Festa de as tendas farás para ti sete de dias, em teu recolher da tua
eira e do teu lagar.
14 - E te alegrarás em tua Festa tu, e teu filho, e tua filha, e teu escravo, e
tua serva, e o levita, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva que nos teus
portões.
15 - Sete de dias Festa a YHWH, teu Elohim, no local que escolher
YHWH, porque te abençoará YHWH, teu Elohim em todo teu produto e
em todo feito de tuas mãos, e serás certamente alegre.
16 -Três vezes no ano aparecerá todo o teu de qualidade masculina
perante YHWH, teu Elohim, no local que escolher, em Festa de os
ázimos, e em Festa de as semanas e em Festa de as tendas, mas não
aparecerá perante YHWH vazio.
17 - Cada um conforme a dávida de mão, conforme a benção de
YHWH, teu Elohim que deu para ti.

2 DELIMITAÇÃO DO TEXTO
30

A perícope de Deuteronômio 16,1-17, pertence a um bloco narrativo chamado de


“livro da lei”. Esse bloco narrativo tem o seu início no capitulo 12,1 e termina com os
mandamentos que fazem referências as três peregrinações anuais ao santuário central: o
Pesah e do pão Ázimo (Matzá) (v.1-8), Semanas (xabu´ot) (v.9-12) e a Tendas (sukkōt )
(v.13-15), estas Festas são consideradas as principais Festas dentro do calendário Judaico.
Para López (2004) a perícope de Deuteronômio 16,1-17 está dentro do segundo
discurso de Moisés, fundamental em relação a sua importância, abrange a maior parte do
livro (Dt 4,44-28,68). Seus títulos o definem como a lei de Moisés (Dt 4,44) ou, mais
precisamente, como as normas, as leis e os preceitos de Moisés (Dt 4,45).
Nestes títulos se reflete claramente o fundamental do conteúdo, visto que o corpo
central do discurso é formado pelo código legal (Dt 12-25), observa-se três discursos feitos
por Moisés ao povo de Israel. Temos uma introdução que vai do Cap. 1,1-5, tendo o início
do primeiro discurso em (Dt 1,6-4,43), onde Moisés faz um retrospecto da atividade de
Javé em favor do povo de Israel, o povo é relembrado dos livramentos durante sua
peregrinação desde o Monte Sinai até a chegada ao Rio Jordão (1,6-3,29).
O segundo discurso está sendo concluído com uma seção oratória em que Moisés
apela a Israel para que atenda as exigências daquele que agiu em seu benefício (4,44-26,19)
(LÓPEZ, 2002, pg. 261). O coração do livro de Deuteronômio está no Cap. 5, depois de
uma breve introdução (4, 44-49) e continua até o final do Cap. 28. O terceiro discurso, Cap.
29,1-30,20, é realmente um apelo ao povo de Israel a aceitarem a aliança que Deus está
fazendo com eles. Este discurso é concluído com a declaração da escolha colocada perante
Israel, isto é, vida ou morte (30,15-20). Uma observação mais cuidadosa desta estrutura
revela que enquanto o segundo discurso é muito extenso Cap. 5 a 28, o primeiro Cap. 1 a 4
e o terceiro Cap. 29 a 30 são muito curtos. Parece que 1,1-5 é uma introdução editorial para
todo o livro, já que se refere ao fato de que Moisés encarregou-se de explicar esta lei (1,5).
Assim, 4,44-49 parece ser a introdução para o segundo discurso (THOMPSON, 1982, pg.
15).

Tabela 1 – Delimitação

Introdução 1,1-5
31

Primeiro Discurso: Atos de Yhwh 1,6-4,43

Segundo Discurso: Lei de Yhwh 4,44-26,19

Terceiro Discurso: Aliança com Yhwh 26,1-30,20

Conclusão 31,1-34,12

Fonte: elaborado pelo autor

Quando analisamos a delimitação da perícope de Deuteronômio 16,1-17,


percebemos uma perícope completa. O capítulo que antecede a perícope em questão é
Deuteronômio 15,19-23, faz um chamado a Israel a desfrutar dos bens e uma observância
as leis acerca dos primogênitos do gado, e observamos que o verso 23 “Somente o seu
sangue não comerás; sobre a terra o derramarás como água” finaliza a perícope. Para
López, Deuteronômio 15,19-23, faz parte das quatro leis “Deveres religioso-sociais”
(14,22-15,23) no livro de Deuteronômio (LÓPEZ, 2004, pg. 256). Uma última
demonstração de gratidão e confiança seria a oferta de animais primogênitos perfeitos a
Yahweh.
Logo a perícope de Deuteronômio 16,1-17, inicia no v.1 “Guarda o mês de Abib,
celebrando a Pesah ......” começa com o ‫שמֹור‬
ָׁ verbo qal infinitivo absoluto “Guardar” e
indica o início de uma nova orientação para o povo de Israel.
Desta forma, podemos encontrar uma separação entre o final do capítulo 15 e o
início do capítulo 16 de Deuteronômio. O ponto central da perícope de Deuteronômio 16,1-
17, é um calendário litúrgico (formalmente comparável aos calendários de Êx 23,14-17;
34,18-23; Lv 23), no qual se recolhem duas classes diferentes de Festas: o pesah, de origem
nômade, e as dos ázimos, das semanas e das tendas, de cunho tipicamente agrário.
A perícope de Deuteronômio 16,1-17, encerra-se convidando todos a levarem suas
ofertas ao local onde Deus havia escolhido, de acordo com a bênção que o Yahweh lhes dá.
Ninguém deve apresentar-se ao santuário de mãos vazias (Dt 16,17). A generosidade não
devia ser exercitada somente com as pessoas necessitadas. Já o v.18 começa uma nova
seção chamada “deveres dos juízes” que contém uma série de deveres aos juízes e ao
governo teocrático, com ênfase destacada sobre o poder judiciário, estabelece também
diretrizes para o comportamento civil numa sociedade teocrática. Os juízes e seus deveres
são tratados primeiro, em 16,18-20, já que eles eram o primeiro modo de governo civil
estabelecido sob a aliança, sendo assim, percebemos o começo de uma nova perícope.
32

Como podemos ver a perícope de Deuteronômio 16,1-17, está dentro do livro da lei
e fala das três principais Festas judaicas, estas Festas são consideradas as mais importantes
para os Judeus. Os principais estudiosos possuem um consenso com respeito a delimitação
da perícope.

3 ANÁLISE DA ESTRUTURA DO TEXTO

Apesar de vários pesquisadores proporem estruturas diferentes para a perícope de


Deuteronômio 16,1-17, a perícope é de fácil entendimento e clareza. Entre os
pesquisadores que propõem estruturas diferentes estão Carson (2009, pg. 332) que propõe
uma estrutura dividindo a perícope em três partes: o pesah e a Festa dos Pães Ázimos (1-8),
a Festa das Semanas (9-12) e a Festa das Tendas (13-17), já Watts (1994, pg. 292) propõe
que a estrutura, da perícope teria que ser dividida em 2 partes apenas: o pesah e a Festa dos
Pães Ázimos (1-8) e as demais Festas (9-17).
Através de estudos e pesquisas optou-se por apresentar a divisão da perícope de
Deuteronômio 16,1-17 em quatro partes. A primeira parte (v.1-8) será composta por três
subdivisões: pesah (v.1-4), local de adoração (v.5-7) e pão ázimos (v.8). A segunda parte
fala da Festa das semanas (v.9-12) e a terceira da Festa dos Tendas (v.13-15). Para finalizar
o resumo das peregrinações anuais (v.16-17).

 As Principais Festas Judaicas

I. A Festa do Pesah (v. 1-4)


a) O Local do Pesah (v. 5-7)
b) A Festa dos Pães Ázimos (v. 8)

II. A Festa das Semanas (v. 9-12)

III. A Festa dos Tendas (v. 13-15)

IV. Resumo das Peregrinações Anuais (v. 16-17)

4 ANÁLISE DA COESÃO DO TEXTO


33

Na perícope de Deuteronômio 16,1-17, é intercalada pelos relatos das três principais


Festas judaicas e atividades sociais. Temos a Festa do pesah (‫ ) ֶפסַח‬e Festa das semanas
(‫ )חַג שָׁ בֻעֹות‬como referências celebrativas e a Festa das Tendas (‫ )חַג ַהסֻכ ֹת‬como legislação.
Pode-se afirmar com certa segurança tendo por base a análise nos temas e semânticas que
perpassam toda a perícope. Quase todos os versículos são iniciados por verbos imperfeitos
com waw consecutivo, a indicação de texto narrativo.
O texto possui início, meio e fim (situação inicial, desenlace, ação transformadora e
situação final). Vamos analisar os termos que se repetem dentro da perícope e aqueles
termos que estão interligados. Ao analisarmos o campo semântico pesah (‫) ֶפסַח‬, percebemos
que ele aparece nos v.1, 2, 5 e enfatiza na saída do povo de Israel quando observamos que
nestes versos as palavras fez sair e saíste desde a terra do Egito aparecem nos mesmos
versos como um momento de libertação do povo da terra do Egito.
Os vocábulos no local (‫ ) ַבמָׁקֹום‬ocorre cinco vezes v. 2,7,11,15,16, temos que
observar a notável ênfase posta no local onde a Festa devia ser celebrada, são repetidos
diversas vezes na perícope de Deuteronômio 16, e podemos ver a relevância e a
importância que o autor colocava ao lugar que o povo tinha que adorar a Deus.
Uma outra ênfase que encontramos nome dele (‫שמֹו‬
ְ ) e observamos que ocorre três
vezes v. 2,6,11 para relatar que no templo YHWH estaria habitando naquele lugar. Também
o substantivo YHWH teu Elohim (‫ )י ְהוָׁה אֱֹלהֶיָך‬são as palavras que ocorrem mais vezes
dentro da perícope (quinze vezes), quase todos os versos da perícope v.
1,2,5,6,7,8,10,11,15,16,17, e está relacionado na maioria das vezes com YHWH (‫ )לַיהוָׁה‬que
aparece cinco vezes v. 1,2,8,10,15, observe que teu Elohim é uma afirmação para o povo
que YHWH era o Elohim deles, e que o povo devia adorar somente a YHWH como Deus e
que não existia nenhum outro Deus.
Uma outra palavra que ocorre várias vezes na perícope é o particípio relativo que
(‫ )אֲשֶ ר‬ocorre (catorze vezes) v. 2,4,5,6,7,10,11,14,15,16,17,18. Já o particípio negativo não
(‫ )ֹלא‬ocorre três vezes, sendo que duas vezes está no início dos versos 3,5,8 dando ênfase no
que o povo não deveria fazer durante as Festas de Deuteronômio 16.
Desta forma, percebe-se que existe uma coesão na perícope através dos termos e
assuntos que perpassam todo o texto de Deuteronômio 16,1-17. Podemos então considerar
que a perícope de Deuteronômio 16,1-17, tem seu início no verso 1, e até o verso 8 traz a
primeira Festa (Pesah e Pão Ázimos), dos versos 9-12 (Festa das Semanas), versos 13-15
(Festa das Tendas). Já nos versos 16-17 encontramos o fechamento da perícope com um
cronograma que estabelece o comparecimento diante de YHWH.
34

5 GÊNERO LITERÁRIO

O livro de Deuteronômio nos é apresentado sob a forma e estilo dos discursos de


Moisés, sendo dois breves, o primeiro e o terceiro, e um muito extenso, o segundo. Uma
análise cuidadosa dos discursos revela uma grande variedade de unidades literárias. Em
certa maneira o livro dá a impressão de extraordinária descontinuidade. Frequentemente
muda depressa de um tema para outro, com aparentes interrupções do fluxo de pensamento.
A despeito da grande repetição de vocabulário, há muitas mudanças de estilo, sendo uma
das mais importantes a grande variação do uso do singular “tu” e do plural “vós”. O livro
como um todo sugere a impressão de um mosaico notavelmente complexo de muitas peças
de material tradicional, de grande variedade, que tenham sido fundidas de modo a formar
uma unidade (THOMPSON, 1982, pg. 21).
Para Von Rad (2006) a perícope de Deuteronômio 16,1-17 é composta por uma
sequência litúrgica de vários eventos. No fato de a sequência litúrgica de um evento cúltico
ter que servir como moldura para uma grande obra literária teológica, podemos ver uma
vez mais, quanta dificuldade Israel encontrava para desenvolver teoricamente conteúdos
teológicos a partir de si mesmo. Esse estilo Deuteronômico, caracterizado pela infatigável
repetição de uma típica combinação de palavras, tem do princípio ao fim uma característica
exortativa e constitui uma palavra que se dirige ao interlocutor para conquistá-lo e cercá-lo
com juras carinhosas (RAD, 2006, pg. 216).
A natureza composta do livro poderia requerer que traçássemos o desenvolvimento
de ideias dentro dele, mas tudo o que podemos fazer aqui é indicar algumas ideias
principais. Deuteronômio é, antes de tudo, um livro da lei, um ponto frequentemente
negligenciado na erudição cristã. O propósito da lei é delinear um nível de performance
moral compatível com a auto-revelação de YHWH de Israel e da elevada vocação do povo
de judeu.
O núcleo central (12-26) contém os estatutos e leis do chamado pacto do país de
Moab. Enquanto este complexo se destaca exteriormente do restante do Pentateuco, como
unidade completa, o estilo mostra como uma obra literária que deve ser diferenciada das
demais fontes. A parte a amplidão do discurso é abundante e enfática, em íntima
correspondência com o seu escopo exortativo e a linguagem se caracteriza por locuções
típicas. Podemos simplesmente falar de um estilo deuteronomista que apelava para os
sentimentos da alma, com o seu pathos brando e envolvente (SELLIN e FOHRER, 2007,
pg. 323).
35

Do ponto de vista formal, encontramos no livro de Deuteronômio quatro tipos de


textos: narrativos, legais, parenéticos e poéticos. Predominam os textos legais ocupando a
parte central do livro comumente conhecido como Código deuteronomista (Dt 12-26), onde
se encontra a perícope de Deuteronômio 16,1-17 (LÓPEZ, 2004, pg. 239).
Podemos concordar com o pesquisador López quando ele diz que o estilo do código
legal deuteronômico é pessoal, persuasivo e procura convencer. Daí que numerosas leis são
acompanhadas por exortações ou admoestações e de motivações com caráter histórico (cf.
Dt,16,1). As seções históricas também não são homogêneas no aspecto formal, mesmo que
se possam detectar alguns fios condutores (LÓPEZ, 2002, pg. 263).
Pode-se dizer que o livro de Deuteronômio traz o seu ponto central um discurso
narrativo principal “a Lei”, a principal seção do livro que envolve a perícope de
Deuteronômio 16,1-17 é dedicada a uma narrativa da exposição da lei de Deus. O estilo
utilizado na perícope é uma oratória histórica fluente e solene, buscando atingir, comover e
influenciar os ouvintes.

6 DATA E AUTOR

Nos últimos anos o livro de Deuteronômio tem sido um dos livros mais contestados
com respeito à sua autoria mosaica. Para o autor Osvaldo (2006), apesar de Deuteronômio
dar evidências de que foi escrito por Moisés (cf. 1,5;31,9,24) e de o Antigo Testamento (1
Rs 8,53; 2 Rs 14,6) e o Novo Testamento (cf. Mt 19,7,8; At 3,22-23; Rm 10,19) afirmar
que Moisés como seu autor, apesar de as tradições hebraicas e cristã apoiar maciamente a
autoria mosaica, os críticos racionalistas, a partir do século 19, têm afirmado que
Deuteronômio é uma “fraude piedosa” produzida no século VII a.C. por reformistas de
Judá, que teriam usado o livro para dar ímpeto ás reformas religiosas de Josias, legitimando
e impondo Jerusalém como o único santuário aceitável em Israel. Afirmam que o tal “livro
da lei” mencionado em 2 Reis 22 era um documento recente, orientando a nação como
obra mosaica (OSVALDO, 2006, pg. 159).
Diante disso, seguem algumas considerações dos principais pesquisadores. Um dos
pesquisadores Jack Ford (2009) diz que o livro de Deuteronômio é composto quase que
inteiramente de discursos atribuídos a Moisés. Há também breves seções históricas
consideradas da narrativa de Moisés. Os estudiosos que o adotam, digamos, ponto de vista
de Wellhausen, sustentam com várias modificações, que Deuteronômio é uma composição
que contém algum material antigo, parte do qual derivado de Moisés, mas produzido por
36

um profeta ou escola de profetas pouco antes de 621 a.C. Neste ano, o livro da lei foi
descoberto por Hilquias, no Templo, e lido na presença do rei Josias (FORD, 2009, pg.
411).
Para Hoppe (1999) não existe um acordo universal quanto á crise especifica que
inspirou a criação do Deuteronômio. Uma das posições dos pesquisadores bíblicos,
mantidas a mais tempo, data do início do século XIX e identifica o livro de Deuteronômio
com o “livro da Lei” encontrado. Embora o livro inclua muito material datado do fim do
século VII a.C. e anterior, está claro que, na forma atual, o Deuteronômio data do Exílio
babilônico (587-539 a.C.). Essa data exílica para o Deuteronômio não elimina a
possibilidade de tradições mais primitivas terem sido usadas na criação do livro. Pelo
contrário, o Deuteronômio foi o resultado de uma reinterpretação consciente de antigas
tradições legais, a fim de dar a Israel, esperança para o futuro (HOPPE, 1999, pg. 188).
Entre os que defendem uma datação no século VII a.C, estão W. M. L. de Wete e
Julios Wellhausen, que argumentam basicamente que não há vestígios do Deuteronômio
nos profetas do século VIII a.C., ao passo que se percebe uma estreita relação entre
Deuteronômio e os profetas Jeremias e Ezequias (ambos do século VII). Não obstante,
argumentam também que nenhum outro conjunto de leis do Antigo Testamento
corresponde tão profundamente às medidas reformistas implantadas por Josias
(THOMPSON, 1982, pg. 58).
Von Rad (2006) diz que a configuração do Deuteronômio se deve aos levitas, que
não tinham nenhum interesse na monarquia do Norte, que no fim da monarquia estariam
empenhados num grande movimento de pregação. Quanto ao seu conteúdo, esta pregação
do Deuteronômio se prende a antiga tradição da anfictionia da aliança, conservada viva
pela prática do povo da terra. Como argumento para a origem do Norte, o autor aponta a
concordância entre Deuteronômio e Oséias (RAD, 2006, pg. 83).
Já López (2002) da mesma maneira como acontece com outros livros da Bíblia, o
Deuteronômio não se deve a um único autor, mas sim a vários autores e colaboradores. É o
resultado de um longo processo de formação que durou mais de séculos. A data chave é
proporcionada por 2 Reis 22-23. Neste texto conta-se que durante o reinado de Josias (640-
609 a.C.), mais concretamente no ano 622 a.C., realizaram-se reparações e reformas no
templo de Jerusalém, no curso das quais descobriu-se o “livro da lei”.

Os especialistas no assunto identificaram esse livro achado no templo com o


Deuteronômio atual, mas com uma versão menos desenvolvida. De acordo com isso, o ano
37

622 a.C. se transforma no ponto chave para a datação do Deuteronômio. Supõe-se que
nesta data já existia o núcleo primitivo do Deuteronômio atual. Ficaram por determinar as
origens do livro e seu desenvolvimento posterior. O Reino do Norte (Israel), anos antes da
queda de Samaria (721 a.C.) e Babilônia depois da destruição de Jerusalém (586 a.C.)
poderiam construir respectivamente os pontos de partida e de chegada, mais prováveis no
processo de composição do Deuteronômio (LÓPEZ, 2002, pg. 264).
A forma exata dos discursos de Moisés é impossível de precisar. Igualmente
impossível de precisar é a data exata da composição definitiva do livro. A posição adota
pelo presente comentário é que uma porção substancial de Deuteronômio vem de um
período muito anterior ao século VII a.C. Na verdade, pode ter assumido parte de sua
forma presente no período geral da Monarquia Unida. Tal posição daria uma data entre os
séculos XI e X a.C., dois ou três séculos depois da morte de Moisés (THOMPSON, 1982,
pg. 67).
Mediante estas colocações vamos analisar duas hipóteses: 1) Hipótese
Documentária Clássica. Defendida por Graf-Wellhausen, o Deuteronômio tem sua
formação principal (cap.12-26). No décimo oitavo ano do rei Josias (621 a.C.), os
trabalhadores que estavam reparando a casa do Senhor encontraram “o livro da lei”.
Quando foi lido para o rei, este rasgou as vestes, lamentando-se por seu povo ter sido
desobediente as palavras desse livro. Sua penitência provocou um avivamento religioso
(2Rs 22-23). 2) Hipótese Deuteronômista. Um grande número de pesquisadores chegaram
a datar “o livro da lei” de acordo com a teoria de que teria sido composto imediatamente
antes de sua descoberta em 621. Essa concepção não se sustenta diante do escrito
acadêmico do século XX. Alguns retrocedem a data de Deuteronômio aos dias de
Manassés, ou de Ezequias, ou de Amós, ou ainda antes, aos dias de Samuel. Alguns
concluíram que Deuteronômio era o resultado, não a causa, das reformas de Josias.

Figura 1 - Estela de Hamurábi (c. 1700 a.C.) contendo 282 leis, as quais proporcionam
comparações interessantes de forma e detalhes com as leis do Pentateuco (e.g. Dt
19,21).
38

Fonte: LASOR, HUBBARD, BUSH, A Torá pg.125

Na situação atual não existe nenhum consenso entre os pesquisadores. Estudos


sobre a crítica da reforma têm levado mais e mais estudiosos a reconhecer elementos bem
antigos em Deuteronômio. A possibilidade de que o livro esteja estruturado mais como os
tratados de suserania do segundo milênio do que os de meados do primeiro milênio
indicaria uma data mais remota. O estilo exortativo convence alguns estudiosos de que o
livro se baseia numa tradição que remonta ao próprio Moisés. Outros situam a tradição no
início da monarquia.
Ao analisarmos o livro de Deuteronômio conforme o temos, como muitas obras do
Antigo Testamento, parece ter sofrido um longo processo de composição. O processo
envolve atualização e modificação para atender ás necessidades de Israel, de acordo com as
mudanças ocorridas ao longo dos séculos. As coleções de leis diversas no discurso central
podem refletir esse processo de atualização. Ainda assim, o produto final, conforme
39

analisado por técnicas recentes, revela uma unidade notável, apesar da aparente diversidade
em suas formas de discurso. Para Lasor, Hubbard e Bush (1999) se forem removidas as
glosas aparentemente posteriores e talvez alguns materiais nos capítulos finais, resta pouco
de Deuteronômio que não possa ser proveniente da época de Moisés. Com certeza há mais
probabilidade de Deuteronômio ter exercido grandes influências sobre os profetas que de
os profetas o terem produzido. Depois de dois séculos de estudos críticos, a evidência
talvez pareça indicar que, se Deuteronômio não for um registro das próprias palavras de
Moisés, é pelo menos uma tradição que representa Moisés com precisão e reflete com
fidelidade a aplicação por ele dada as leis e aos estatutos da aliança de YHWH de acordo
com as necessidades dos israelitas (LASOR; HUBBARD; BUSH, 1999, pg. 126).

7 ANÁLISE DO CONTEÚDO

7.1 A FESTA DO PESAH E PÃES ÁZIMOS (V.1-8 )

“1. Guarda o mês de o abib e farás pesah a YHWH teu Elohim porque
em mês de o abib te fez sair YHWH teu Elohim desde o Egito de noite. 2.
E sacrificarás pesah a YHWH, teu Elohim, gado miúdo e gado graúdo no
local que escolher YHWH, para fazer residir o nome Dele ali. 3. Não
comerás sobre ele/com ele algo fermentado, sete de dias comerás com ele
ázimos, pão de aflição, porque com pressa saíste desde a terra do Egito,
para que recordes o dia de o teu sair desde a terra de Egito, todos dias
de tuas vidas. 4. E não aparecerá contigo fermento em todo teu território
sete de dias, e nem pernoitará de a carne que sacrificares pelo
entardecer no dia o primeiro para o amanhecer. 5. Não poderás
sacrificar o pesah, num de os teus portões, que YHWH, teu Elohim, o que
dá para ti. 6. Porque se ao local que escolher YHWH, teu Elohim para
fazer residir nome dele ali, sacrificarás o pesah pelo entardecer, como
entrar o sol, época determinada de teu sair desde o Egito. 7. E
cozinharás e comerás no local que escolher YHWH, teu Elohim, nele e te
virarás pelo amanhecer e andarás para tuas tendas. 8. Seis de dias
comerás ázimos, mas no dia o sétimo, assembleia festiva a YHWH, teu
Elohim, não farás obra”.

Vamos aprofundar os estudos analisando o conteúdo de Deuteronômio, suas frases,


estrofes, termos e seus vocábulos. Usaremos a tradução apresentada no início deste
capitulo, levaremos em conta o contexto histórico, e social do povo de Israel. Nesta
primeira etapa vamos analisar os versos 1-8 de Deuteronômio 16.
A primeira expressão que vamos destacar no v.1 é a expressão “mês de Abib”
(‫)אֶת־ח ֹדֶ ש הָָׁאבִיב‬. Esta expressão aparece duas vezes em nosso texto, considerado o primeiro
mês do ano religioso hebraico, chamado de Nisã depois do exílio babilônico. Foi na época
40

do Êxodo 12,2 que ele aparece pela primeira vez como o mês do pesah. Também
conhecido como o “mês das espigas verdes” Êx 9,31; Lv 2,14, este mês judeu, começava
entre o final de Março e o final de Abril, segundo a antiga tradição coincidia com o êxodo
do Egito e o rito pascal, os dois estavam ligados. A terminologia mais antiga sugere que a
lei em sua presente forma data de uma época em que a terminologia cananita ainda estava
em uso corrente. O fato de que Abib era na primavera, leva à conclusão que esta era uma
Festa da primavera e já que foi no mês de abib que YHWH tirara a Israel do Egito, a
historicização dessa Festa foi relativamente fácil para Israel.
O termo do v.1, 6 “te fez sair” (‫)הֹוצִיאֲָך‬, faz referência a libertação do povo de Israel
do cativeiro que eles viviam no Egito, e faz menção da libertação do Egito “de
noite” (‫) ָׁליְלָׁה‬. Podemos ver que o povo saiu as presas e não observamos uma preparação
para a viajem que eles iriam fazer. Uma outra ênfase que encontramos “YHWH o teu
Elohim” (‫ )י ְהוָׁה אֱֹלהֶיָך‬são as palavras que ocorre mais vezes dentro da perícope, (15 vezes),
quase todos os versos da perícope v. 1, 2, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 15, 16, 17, observe que teu
Elohim é uma afirmação para o povo que YHWH era o Elohim deles, e que o povo devia
adorar somente a YHWH como Deus e que não existia nenhum outro Deus. Esta expressão
é muito forte dentro da perícope, vemos uma repetição clara, onde o autor lembra a todo
momento Deus para o povo.
A palavra “pesah” (‫ ) ֶפסַח‬pode ser vista no v. 1, 2, 5, 6, faz uma referência para o
povo com respeito ao termo v. 3, 6 “o teu sair desde a terra do Egito” (‫)צֵּאתְ ָך ֵּמא ֶֶרץ ִמצ ְַרי ִם‬
podemos ver o pesah como um momento de libertação do povo da terra do Egito. São
oferecidas duas explicações diferentes para o significado do substantivo pesah: Primeira
são derivações do verbo psh, que apoiam as interpretações de pesah, uma derivação que
alguns estudiosos veem como meramente secundário, popular etimológica dos lexomas
historicamente não relacionados entre si e tenta em vez de derivar o significado de pesah de
uma consideração histórica dos arredores de Israel. Já na segunda os pesquisadores
interpretam pesah, como um rito da passagem, um festival lunar, um ritual de inspeção, e
apoiam o significado de psh como “passar por ou poupar”, outros a interpretam como
uma dança ritual ritmada retratando o Êxodo como uma dança lunar, ou como um rito de
fertilidade derivado dos saltos de fertilidade do longo dessas linhas interpretativas
(BOTTERWECK, 2011, pg. 1).
Para o pesquisador Mckenzie (1984) a palavra pesah tem um significado e
etimologia incertos. No uso, o termo parece designar tanto a Festa como a manducação do
animal no banquete festivo. O ritual do pesah é apresentado pela primeira vez no livro de
41

Êx 12,1-28, onde está relacionado com a Festa dos Ázimos. O rito consiste de um banquete
em que um cordeiro de um ano é comido. O cordeiro devia ser assado inteiro, e aquilo que
não era comido no banquete devia ser queimado antes do dia seguinte. Os participantes do
rito comiam em pé e vestidos para viagem. Borrifava-se sangue nos umbrais das portas
para afastar o anjo destruidor, que matou os primogênitos dos egípcios. A Festa
mencionada em Deuteronômio 16,1-5 modifica a prática ritual: a imolação do cordeiro
torna-se um ato quase sacrifical que deve ser realizado só no santuário, e o banquete
também deve ser comido no santuário (MCKENZIE, 1984, pg. 696).
Segundo o pesquisador Champlin (2001) a Festa do pesah que aparece em
Deuteronômio, e observada anualmente por Israel, durante toda a sua marcha pelo deserto,
agora estava sendo transferida para o santuário central, em Jerusalém. Logicamente, isso
foi feito por antecipação, mas acabou ocorrendo na realidade. Yahweh-Elohim baixou as
ordens acerca da festividade original, determinando a sua transferência. E o único Deus (o
Eterno Todo-poderoso, de acordo com os nomes usados) foi honrado dessa maneira.
(CHAMPLIN, 2001, pg. 818).
O “pesah” (‫ ) ֶפסַח‬e o “pães ázimos” (‫ )מַּצֹות‬estavam estreitamente relacionadas. Os
v.1-2 e 5-7 descrevem o pesah; os v.3-4,8 descrevem a Festa dos pães ázimos. Essas duas
Festas deviam lembrar o povo de Israel da obra redentora de YHWH a favor deles. A
importância do rito pascoal na celebração dos ázimos e a consequência subordinação dos
ázimos à pesah, mostram a importância crescente da Festa do pesah no povo de Israel. De
rito familiar (Êx 12) passou a ser uma Festa nacional, no santuário central. Para
compreender a importância do pesah e a sua união com os ázimos, nada melhor do que
mostrar a estrutura de Deuteronômio 16,1-7:

A. Observa o mês de Abib, celebrando o Pesah em honra a Javé, teu


Deus, porque foi uma noite do mês de Abib que Javé, teu Deus, te fez sair
do Egito (v.1).
B. Imolarás para Javé, teu Deus o Pesah, gado grande e miúdo, no lugar
que Javé tiver escolhido para fazer habitar o seu nome (v.2).
C. Não comerás pão fermentado com estas vítimas. Durante sete dias,
comerás pão sem fermento... (v.3a).
D. Pão da aflição, pois saíste da terra do Egito ás pressas. Para que te
lembres assim durante toda a tua vida do dia em que saíste da terra do
Egito (v.3b).
E. Não se encontrará fermento durante sete dias, em todo vosso
território. E da carne que tiveres imolado á tarde do primeiro dia, nada
se guardará para a manhã seguinte (v.4).

O ponto central da estrutura de Deuteronômio é construir por duas referências à


saída do Egito e pela “historização” dos ázimos. A saída do Egito encontra também um
42

eco importante nos marcos externos, que iniciam e concluem, além do motivo do pesah
(A/A’). Do pesah se fala em B/B’, onde são detalhadas as circunstâncias locais (em A/A’
se acrescentam as circunstâncias temporais). O rito do pesah é especificado em C/C’, ponto
de enlace entre o pesah e os ázimos (LÓPEZ, 2004, pg. 258).
Consequentemente o termo do v.2 “e sacrificarás pesah” (‫) ְוזָׁ ַבחְתָׁ ֶפסַח‬, este sacrifício
do pesah devia ser tomado de ambos, “o gado graúdo” (‫“ )ּו ָׁבקָׁר‬e o gado miúdo” )‫(צ ֹאן‬,
enquanto que para o pesah propriamente dita, indicava-se um cordeiro (Êx 12,3). A fim de
indicar o pesah de maneira mais específica, chamada de “a carne que sacrificares à tarde”
(‫)מִן־ ַה ָׁבשָׁר ֲאשֶר תִ זְבַח ָׁבע ֶֶרב‬.
Os animais que podiam ser sacrificados vinham dos rebanhos: touros e carneiros
Nm 28.19,24. Em Lv 1,14-16 e II Cr 30,21-24; 35,7-9 encontramos as cinco espécies de
animais que podiam ser sacrificadas. O animal apropriado para os sacrifícios era o carneiro,
posteriormente, porém outros animais passaram a ser incluídos. O touro não substituiu o
carneiro conforme alguns têm pensado. O Targum de Jonathan distingue entre tipos de
oferendas. O animal original era o carneiro. Outras oferendas chegaram a acompanhar o
original, extraídas dos rebanhos, especialmente no caso das ofertas pacíficas (CHAMPLIN,
2001, pg. 819).
Outro termo a ser analisado aparece nos v.2, 7, 11, 15, 16 é “no local que escolher
YHWH” (‫ ) ַבמָׁקֹום ֲאשֶר־י ִ ְבחַר י ְהוָׁה‬ou seja, no local central de adoração que veio a substituir
todos os demais santuários: o templo de Jerusalém. Quanto a essa “escolha”, feita por
YHWH, podemos ver Deuteronômio 12,5 que fala da centralização do culto.
Com o passar do tempo e com reformas feitas referente a Festa do pesah,
observamos que o livro da lei em Deuteronômio, centraliza o local de sacrifício do pesah
ao povo. Antes cada família fazia a sua celebração em suas casas, agora surge um novo
local. Esta mudança pode ser compreendida por meio da expressão “no local que escolher
YWHW teu Elohin”, (‫ ) ַבמָׁקֹום ֲאשֶר י ִ ְבחַר י ְהוָׁה אֱֹלהֶיָך‬que está em Deuteronômio 14,22.24.25;
15,19; 16,2.7.6.11.15.
O pesah deve ser mantido no lugar "YHWH optou por colocar nele seu nome" (v.
2b). O santuário originalmente mencionou a lei Deuteronômista, não é clara. Mas para
colocar em prática a lei, e manter o reino do sul, só podia ser entendido que foi construído
o templo de Salomão em Jerusalém.
Quando analisamos o v.6, 7 de Deuteronômio podemos ver que nesse santuário
deveria ir todo o povo de Israel para passar a noite do pesah (v.6, 7a), e na manhã seguinte,
aqueles que tomaram parte no culto deve ir "para as suas tendas", ou seja, para as suas
43

casas (v.7b). Com isso, o pesah é convertido novamente, como nos tempos antigos, em
uma Festa de peregrinação, quando tinha sido uma Festa de família há séculos. Através da
ligação do pesah para o santuário de Jerusalém devia garantir a pureza do ritual e garantir a
unidade do povo. Sempre em tempos de dificuldades e perigos religiosos, tem sido
motivado a força na unidade e é levado a unidade a pensar em se fortalecer. No entanto,
para o legislador Deuteronômista, a prescrição não foi ditada simplesmente por interesses
práticos. A lei da unidade de culto surgiu como uma consequência lógica da unidade
dogmática fundamental do YHWH (HAAG, 1980, pg. 84).
Para o pesquisador Römer (2008) existe apenas um único santuário legítimo em
Israel49, que corresponde ao templo de Jerusalém, embora o nome da cidade nunca seja
mencionado nem no Deuteronômio nem em todo o Pentateuco50. A centralização do culto
implica também centralização da economia e da política, como mostram as leis coligidas
em Deuteronômio 13-18 (RÖMER, 2008, pg. 11).
Muitos pesquisadores acreditam e avançam a hipótese de que o pesah era uma
combinação de duas Festas independente no início e alegam que a união destas Festas foi
uma consequência da centralização no templo de Jerusalém, tornando uma tendência
prática cultual de restringir o lugar do culto sacrificial a um único santuário. É usado o
livro de Deuteronômio para comprovar esta tese. Baseado no relato em 2 Reis 23, também
é muito frequentemente assumir que a primeira tentativa de centralizar o culto e,
consequentemente o pesah foi levada a cabo pelo rei judaico Josias no sétimo Século
(PROSIC, 2004, pg. 35).
Para a pesquisadora Prosic (2004) os objetivos na centralização nunca se
materializaram completamente. Apesar de se tornar o templo de Jerusalém nunca se tornou
o único templo onde YHWH foi adorado. Mesmo tão tarde quanto o período de Hasmoneo,
lá era o templo em Leontopolis, enquanto os samaritanos, mesmo depois de João Hircanus
destruiu seu santuário, obstinadamente se recusou a reconhecer a autoridade de Jerusalém e
continuou a considerar o Monte Gerizim como o lugar escolhido por YHWH.
A controvérsia entre os israelitas de Jerusalém e os samaritanos em relação ao
templo que será o único lugar legítimo do culto sacrificial talvez derive do livro do
Deuteronômio que, embora insista em um único santuário, nunca dá realmente a

49
Nos livros bíblicos, “Israel” é muitas vezes um termo altamente ideológico que denota, a partir de uma
perspectiva interna, os verdadeiros adoradores da divindade Javé.
50
Esta discrição pode ser explicada primeiramente pela ficção literária do Deuteronômio, segundo o qual a
eleição de Jerusalém ainda não é efetiva, já que o povo não entrou na terra e ainda não existe uma monarquia
(davídica). De modo mais geral, Jerusalém nunca é mencionada no Pentateuco, apesar de algumas alusões
claras (Gn 14; Dt 12). Este fato permitiu que o Pentateuco se tornasse a Escritura Sagrada não só para os
judaítas, mas também para os samaritanos (para os quais o lugar santo de Javé é o monte Garizim).
44

localização precisa do lugar ao qual o culto sacrificial deve ser restringida. Na maioria das
vezes, ele se refere a ele como o lugar que o Senhor escolherá para seu nome morar dentro.
Tanto quanto acadêmicos habitualmente conectar este lugar escolhido com Jerusalém, o
ponto é que ele poderia igualmente se referir ao Monte Gerizim ou para o assunto qualquer
outro local, enquanto o templo estiver na terra prometida e dedicado a Javé (PROSIC,
2004, pg. 36).
As leis do livro de Deuteronômio são instituídas para o futuro do povo de Israel.
Quando falamos da centralização do templo, podemos dizer que a centralização é parte de
um futuro idealizado e, como tal, uma projeção que ainda não foi encontrada e nesta
perspectiva, é possível afirmar que, em termos históricos, o Deuteronômio precedeu a
centralização. Por outro lado, é igualmente possível afirmar que, em vez de ser uma base
sobre a qual as disputas entre os judeus e os samaritanos foram construídas, a sua omissão
em Deuteronômio para nomear o templo central é um reflexo da realidade e pretende ser
um estratagema diplomático para dar legitimidade a Jerusalém e Gerizim.
Não podemos afirmar que o período histórico em que a legislação deuteronômica
foi formada. O que é importante é que, em termos de ligação da prática cultual a um único
lugar, há uma correspondência significativa entre a realidade da centralização e as
exigências do Deuteronômio.
Esse fato melhora significativamente a credibilidade deste livro bíblico como fonte
de informação. Nos tempos imediatamente antes da destruição do segundo templo, o culto
sacrificial, incluindo a observância das três principais Festas, foi realizado principalmente
no lugar escolhido de YHWH, como estipulado no Deuteronômio. Embora os efeitos da
centralização nas Semanas e Tendas dificilmente atraiam a atenção dos estudiosos, além de
reconhecer que eles deveriam ser realizados no santuário central, o Pesah é assumido como
tendo sido muito afetada por eles, tanto estrutural quanto funcionalmente. A linha básica do
raciocínio é que a observância do sacrifício do pesah, originalmente um rito familiar
realizado nas habitações familiares, foi transferido para o templo central, mudando assim o
seu caráter em uma Festa do templo de peregrinação.
A transformação levou à sua fusão com a Festa do pão Ázimos, o festival de
peregrinação original. Esta explicação baseia-se principalmente na diferença assumida na
apresentação do pesah nas fontes do Êxodo e nas comparações entre suas descrições e a do
Deuteronômio. As presumivelmente mais velhas fontes de E e J, que designam pão Ázimos
como uma Festa de peregrinação sem mencionar explicitamente o sacrifício do pesah, são
tomadas como prova de que este último não tinha o caráter de uma peregrinação antes da
45

centralização, uma vez que o Deuteronômio exige explicitamente que ela seja realizada no
templo no primeiro dia da Festa dos Pães Ázimos. É uma Festa de peregrinação que dura
sete dias e está marcada por dois traços distintivos, o sacrifício dos animais do pesah
(PROSIC, 2004, pg. 38). A centralização destas duas Festas tinha como objetivo fortalecer
o santuário central e unir o povo para uma adoração a YHWH no local onde ele havia
escolhido para ali morar. Embora o Deuteronômio não ser bem claro o local onde o povo
devia adorar a YHWH, podemos ver que os dados nos levar ao templo de Jerusalém como
local de adoração.
O termo “pão de aflição” (‫ ) ֶלחֶם עֹנִי‬que aparece no v. 3, assim chamado por causa
de sua associação com os terrores sofridos por Israel no Egito. Esse pão era insosso, tal
como as experiências dos filhos de Israel no Egito tinham sido sem atrativos. Esse pão
fazia-os lembrar da servidão e das privações pelas quais tinham passado. A circunstância
que ditava que não se deveria comer pão levedado acabou florescendo como uma Festa
separada, a dos Pães Ázimos. Alguns estudiosos supõem que essa Festa já existisse, e
acabou historicamente associada à Festa da Páscoa.
O povo de Israel, ao sair apressadamente do Egito, não foi capaz de fermentar a sua
massa, o que mostra a conexão e as circunstâncias históricas. Mediante as celebrações
anuais, Israel relembrar-se-ia de como YHWH os tirara do nada para a redenção na Terra
Prometida. A Festa do pesah e do Pães Ázimos nunca deveria ser esquecida. Servia de
memorial permanente do Poder divino, que os tinha libertado. Ação de graças e fidelidade
eram atitudes requeridas da parte do povo israelita, nessas comemorações.
O termo do v.7 “e cozinharás” (‫ש ְל ָׁת‬
ַ ‫)ּו ִב‬, para o pesquisador Pfeiffer (2001), esta
palavra faz referência a refeição do pesah, são encontradas em Êx 12,1-51 e Deuteronômio
16,1-8. A palavra traduzida como "cozinhar" (‫ ) ַׁלכִן‬aqui, é traduzido "ferver" em outros
lugares (por exemplo, Êx 23,19, 1 Samuel 2, 13-15). Isto parece contradizer Êx 12,9, onde
os israelitas são orientados a não comer o pesah cru ou cozido. No entanto, 2 Cr 35,13
relata a celebração de uma Festa do Pesah, durante o reinado de Josias, e explica que as
pessoas "cozidos (‫ ) ַׁלכִן‬os sacrifícios do pesah sobre o fogo aberto. O uso de ‫ ַׁלכִן‬com
"fogo" (‫ )ׁשְכ‬sugere que a palavra poderia ser usada para falar de ferver ou assar.
As referências à pesah imediatamente depois dessa designação v.5, 6 também
devem ser tomadas evidentemente nesse sentido restrito. 7.a cozerás, e comerás criam sem
necessidade, um conflito com Êx 12,9, traduzindo o verbo beishal por “cozer”. Só a adição
específica de “com água” ou “em panelas” é que dá a este verbo hebraico o significado
definido de “cozer”. Quando definido mais extensamente com “no fogo”, significa
46

claramente “assar”. Em si mesmo ele é ambíguo. Esta ambiguidade em Deuteronômio


16,7 deve-se ao fato que a maneira de se preparar o sacrifício para a refeição já fora
estabelecida e não era atual preocupação de Moisés (PFEIFFER, 2001, pg. 231).
Para Haag (1980) especificamente falando do "sacrifício" (zbh; v.2, 4, 6) do pesah,
enquanto prescrição yahvistica (Êx 12,21) e a prescrição sacerdotal no pesah (Êx 12, 6) fala
de imolar (sbt) o pesah. Certamente a imolação do animal pascal teve, desde os tempos
antigos, um caráter sacrificial. Mas enquanto o Código Sacerdotal insiste em eliminar o
caráter sacrificial, barramos na legislação Deuteronômica que empenha em insistir
precisamente, e enquadrar o pesah, através da sua ligação ao templo, no rito do culto de
sacrifício que foi feito lá. Era permitido cozinhar v.7 o pesah e, portanto divido em
pedaços, uma posição formal e determinada no Êx 12,9; Nm 9,12. Esta inovação foi
necessária porque a vítima sacrificial também tomou o gado maior (HAAG, 1980, pg. 85).
Levinson (2000) explica uma anomalia chave na lei do pesah em Deuteronômio
16,1-7, restringindo o sacrifício de animais do rebanho: "Vá, selecione genealógicos
animais para suas famílias e abate o cordeiro pascal" (Êx 12,21). Também fornece
instruções de reparação específica.
Devem comer o cordeiro na mesma noite, comerão assado no fogo, com pães
ázimos e ervas amargas. Não coma dele cru, nem cozido em água, mas sim assado sobre o
fogo, com a cabeça, pernas e órgãos internos (Êx 12,8-9). Deuteronômio diverge a partir
destes requisitos, tanto na especificação do animal para abate e nos meios para a sua
preparação:
‫ֱֹלהיָך ֹ֣צ ֹאן ּוב ָׁ ָָׁ֑קר ַבמָׁקֹום֙ ֲאשֶר־יִב ַ ְֹ֣חר י ְה ָ֔ ָׁוה ְלשַכֵּ ַ֥ן ש ְֶ֖מֹו ָׁשָֽׁם׃‬
ֶ֖ ֶ ‫ְוזָׁבַ ַ֥ חְתָׁ פֶ ֶּ֛ סַח לַיהוָׁ ַ֥ה א‬
E sacrificarás páscoa a YHWH teu Elohim gado miúdo e gado graúdo no local que
escolher YHWH para fazer residir nome dele ali (Dt 16,2).
‫ֱֹלהיָך ָ֑בֹו ּו ָׁפ ִנֹ֣יתָׁ ב ַָ֔ב ֹקֶר ְו ָׁה ַלכ ָׁ ְֶ֖ת לְאֹהָׁלֶ ָֽׁיָך׃‬
ֶ֖ ֶ ‫ֲשר יִב ַ ְֶּ֛חר י ְהוָׁ ַ֥ה א‬
ַ֥ ֶ ‫של ְָׁ֙ת ו ָׁ ְֹ֣א ַכלְתָָׁ֔ ַבמ ָׁ֕קֹום א‬
ַ ‫ּו ִב‬
E cozinharás e comerás no local que escolher YHWH teu Elohim nele e virarás pelo
amanhecer e andarás para as tuas tendas (Dt 16,7).
Para explicar a divergência do Deuteronômio, Levinson oferece esta sugestão: a
extensão do foco do cordeiro pascal a qualquer animal de rebanho ou bando está em
consonância com forte interesse do Deuteronômio no rebanho, e rebanho como estando
entre as bênçãos típicas da terra (Dt 7,13; 12,6). O vocabulário da lei em geral, incluindo a
"ferver" em vez de "assar", está de acordo com esta tendência no livro. Pesah é, portanto,
sujeita às exigências da construção teológica do Deuteronômio (LEVINSON, 2000, pg.
277).
47

No v. 8 encontramos o termo “assembleia festiva” (‫) ֲעצ ֶֶרת‬. O sétimo dia da Festa
era dia de assembleia solene a YHWH te Elohim (aseret). O termo é usado para descrever
reunião de gente para celebração de ritos públicos de qualquer espécie, especialmente no
sétimo dia do pesah ou no oitavo dia da Festa das Tendas, considerada uma reunião de
grande número de pessoas com determinado objetivo (THOMPSON, 1982, pg. 188).
Outra expressão que encontramos no v. 8 e deve ser destacada é “seis de dias
comerás ázimos” (‫ששֶת י ָׁ ִמים ת ֹאכַל ַמּצֹות‬
ֵּ ) essa festividade prolongava-se por seis dias, e o
sétimo dia era um sábado santo em que havia uma assembleia solene. Em outros trechos é
ordenado que o pão ázimo deveria ser comido por sete dias (Êx 12,1). Alguns
pesquisadores tentam harmonizar a questão, supondo que o ato de comer continuasse no
sétimo dia, e que esse dia também fosse um sábado santo, um dia de solene convocação.
Mas outros supõem que, em uma época posterior, houvesse algumas diferenças quanto ao
modus operandi da Festa. Nas diferenças podem surgir desenvolvimentos históricos
(CHAMPLIN, 2001, pg. 819).

7.2 A FESTA DAS SEMANAS (V.9-12)

“9. Sete semanas enumerarás para ti, desde o começar foice no cereal em
pé começarás para anunciar sete semanas. 10. E farás Festa de semanas
a YHWH, teu Elohim, a medida de a oferta voluntária de a tua mão que
deres conforme te abençoar YHWH teu Elohim. 11. E te alegrarás
perante YHWH, teu Elohim, tu, e teu filho, e tua filha, e teu escravo, e tua
serva, e o levita que nos teus portões, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva
que em teu interior no local que escolher, YHWH, teu Elohim, para fazer
residir nome dele ali. 12. E recordarás que escravo foste em Egito, e
guardarás e farás os estatutos os este”.

Nesta Festa chamada “Festa da Semana” em hebraico (‫שבֻעֹות‬


ָׁ ‫ )חַג‬é considerada uma
das ocasiões mais importante do povo de Israel por muitos séculos, provavelmente sua
origem fosse uma festividade agrícola dos cananeus. Ela marcava o início da colheita de
cevada, na primavera, no mês Abib, o primeiro mês do ano Judaico.
A Festa das Semanas, como as outras grandes Festas anuais, era uma ocasião de
alegria em que os adoradores participavam de uma refeição cerimonial ou Festa sacrifical
perante YHWH, na presença de Deus (Dt 12,7; 14,26; 26,11). A presente Festa, como as
outras, foi idealizada para a participação da família, dos servos, dos levitas, dos
estrangeiros residentes, dos órfãos e das viúvas. Era, afinal das contas, apenas uma
48

participação nas bênçãos abundantes com que Deus abençoara seu povo (THOMPSON,
1982, pg. 189).
Vamos analisar algumas expressões que estão nos versos 9-12, sobre a Festa das
Semanas. Uma das expressões que aparece duas vezes com ênfase no v. 9, no início e no
fim do verso é a expressão “sete semanas” (‫שבֻע ֹת‬
ָׁ ‫ש ְבעָׁה‬
ִ ), deste verso é tirado o nome da
Festa “Festas das Semanas”.
Ela prescreve não uma data fixa, mas apenas uma data relativa, respeitando as
condições climáticas e regionais do espaço geográfico. A Festa das Semanas apesar de ter
esse nome ela é celebrada durante um dia, no quinquagésimo dia, após as sete semanas
seguintes ao início da colheita dos cereais (KRAMER, 2006, pg. 49). Esta expressão “sete
semanas” (‫שבֻע ֹת‬
ָׁ ‫ש ְבעָׁה‬
ִ ), utilizada para abrir e concluir o v. 9, o verbo (‫ ) ְספָׁר‬utilizado duas
vezes, impondo à narrativa um caráter de obrigatoriedade e periodicidade a uma Festa que
tem um determinado tempo para começar (FRIZZO, 2009, pg. 90).
A expressão que aparece no v.10 "ofertas voluntárias da tua mão" (‫)נִדְ בַת י ָׁדְ ָך‬, a
palavra assim traduzida não aparece em nenhum outro lugar do Antigo Testamento. A
equivalente em aramaico significa “suficiência”. A ideia pode ser de uma oferta
proporcional ao nível social. A derivação da palavra é obscura. Isso permitiu que as
pessoas trouxessem ofertas de acordo com o quanto o YHWH havia dado a cada um (Dt
16,17). Este é um princípio universal de doar (2 Co 8-9).
A ideia é a de uma oferenda suficiente ou proporcional. Mas, a porção apropriada
foi deixada a cargo da consciência iluminada de cada um (Êx 34,20). Os v.16 e 17 fazem
essa ordem aplicar-se a todas as três Festas. Os sacrifícios oferecidos nessa ocasião eram
dois pães a serem movidos diante do Senhor, sete cordeiros, um touro jovem e dois
carneiros como oferta queimada, juntamente com as ofertas de cereal e de libações. O
sentido deste versículo é mais bem esclarecido no v.17. Os hebreus foram instruídos a dar
uma oferta voluntária de acordo com a medida em que YHWH lhes tivesse dado a colheita.
Não foi fixada nenhuma porcentagem específica, mas esperava-se a liberalidade (Dt 15,14).
Talvez Paulo tivesse em mente este versículo, ao afirmar qual o padrão cristão quanto às
dádivas (I Co 16,2). As doações devem ser de acordo com a prosperidade de cada um; e
entendemos que toda prosperidade é conferida pelo Senhor (Tg 1,17). Dentro do contexto
cristão, uma porcentagem de menos de dez por cento é uma proporção pequena
(CHAMPLIN, 2001, pg. 819).
Outra expressão que aparece em quase todo o bloco é “Festa” (‫ )חַג‬significa mais
que “festival”; inclui a ideia de uma peregrinação religiosa. De fato, deriva de um verbo
49

que significa “fazer uma peregrinação”, “fazer uma jornada a um objetivo de


reverência”. A palavra árabe haj descreve a sagrada peregrinação dos muçulmanos a
Meca. A palavra “Festa” (‫ )חַג‬originalmente significa “saltar” e, por sua vez, é a Festa
alegre com dança e instrumentos musicais. O termo é, particularmente, revelado para as
três grandes Festas de peregrinação: Pesah, Semanas, Tendas (Pesah, Chavuot, Sukkot, Dt
16,16), quando o povo subia a Jerusalém a pé cantando os belos salmos graduais).
O termo “oferta voluntária” (‫)נִדְ בַת‬, encontrado nos v.10 e 17 permitiu que as
pessoas trouxessem ofertas de acordo com o quanto o Senhor havia abençoado cada um (Dt
16,17). Este é um princípio universal de doar (2 Cor 8-9). Podemos afirmar que esta
expressão está ligada ao termo encontrado também no v.10 “conforme te abençoar YHWH
teu Elohim” (‫) ַכ ֲאשֶר יְב ֶָׁרכְָך י ְהוָׁה אֱֹלהֶיָך‬, salientamos que a oferta vai ser conforme a pessoa
foi abençoada por YHWH e que ela não precisa doar nada mais.
Para o pesquisador Sanchez (2002) a expressão do v.11 “e te alegrarás perante
YHWH” (‫ש ַמחְתָׁ ִל ְפנֵּי י ְהוָׁה‬
ָׁ ‫ ) ְו‬é um convite a uma festividade. A Festa é nada mais do que
uma ocasião de desestruturar o cotidiano de modo controlado, com a finalidade de
reconstruí-lo. No desejo de construir o novo, entrelaçam-se realidades religiosas e sociais.
O v.11 é um destaque significativo, ao acentuar certa interação, envolvendo YHWH, a
família e demais grupos sociais. Apresenta uma interação entre o ser divino e demais
setores sociais. Na esfera familiar: “tu” (‫“ )אַתָׁ ה‬e teu filho” (‫“ )ּו ִבנְָך‬e a tua filha” (‫ ;)ּובִתֶ ָך‬na
esfera social: “e o teu escravo” (‫“ ) ְו ַעבְדְ ָך‬e a tua serva” (‫“ ) ַו ֲאמָׁתֶ ָך‬e o levita” (‫“ ) ְו ַה ֵּלוִי‬e o
estrangeiro” (‫ ) ְו ַהגֵּר‬e o órfão (‫“ ) ְו ַהי ָׁתֹום‬e a viúva” (‫ ) ְוהַָׁא ְל ָׁמנָׁה‬que vive entre tuas portas.
Tal analogia, envolvendo relações feitas na esfera do culto e do social, assinala que
diante de YHWH, prevalece o vínculo de irmandade (SÁNCHEZ, 2002, pg. 297).
No v.12 “recordarás que escravo foste em Egito” (‫) ְוזָׁכ ְַרתָׁ כִי־ ֶעבֶד ָׁהי ִיתָׁ ְב ִמצ ְָׁרי ִם‬, temos
aqui a grande motivação do povo de Israel. YHWH interessa-se pelo bem-estar do povo de
Israel. Ele demonstrou isso ao libertar Israel da servidão no Egito, um tema repetido por
cerca de vinte vezes no Deuteronômio. Israel sofrera perseguições e privações quando
estava no Egito. Mas, YHWH foi generoso e propiciou um escape, e em seguida, um
território pátrio, a saber, a herança estipulada dentro do Pacto Abraâmico (Gn 15,18). Essas
bênçãos deveriam atuar como motivos para o povo de Israel mostrar-se generoso com os
membros menos afortunados e dependentes da sociedade.
A referência a escravidão do Egito no v.12 não tem a função de fundamentar a
Festa das Semanas, como ocorre no caso do pesah, mas a de explicar por que se deve
convidar para a Festa as classes sociais mais necessitadas.
50

7.3 A FESTA DAS TENDAS (V.13-15)

“13. Festa de as tendas farás para ti sete de dias, em teu recolher da tua
eira e do teu lagar. 14. E te alegrarás em tua Festa tu, e teu filho, e tua
filha, e teu escravo, e tua serva, e o levita, e o estrangeiro, e o órfão, e a
viúva que nos teus portões. 15. Sete de dias Festa a YHWH, teu Elohim,
no local que escolher YHWH, porque te abençoará YHWH, teu Elohim
em todo teu produto e em todo feito de tuas mãos, e serás certamente
alegre”.

A descrição contida em Deuteronômio 16,13-15 é mais rica em detalhes do que


Êxodo 23,16. A celebração deveria começar após a colheita dos produtos da eira e do lagar,
sendo observada no Templo por sete dias num clima de muita alegria e festividade. Em tal
ritual, deveriam estar presentes além da família e dos empregados, o levita, o estrangeiro, o
órfão e a viúva que pertence a mesma cidade do ofertante. Como a Festa era celebrada em
Jerusalém, significa que as pessoas mencionadas acompanhavam o celebrante (DIAS,
2004, pg. 22).
A frase do v.13 “Festa das Tendas” (‫ )חַג ַהסֻכ ֹת‬é tradicionalmente conhecida como a
Festa dos Tabernáculos. As "tendas" (BJ51) agora é preferível às "tabernáculos"
tradicionais (KJV52, ARC53), à luz do significado do termo ‫“ ָּהשַׁס‬cabana, cabine”, mas
"cabines" são frequentemente associadas com feiras de artesanato em Inglês americana
contemporânea. Mais claro é o termo Inglês "abrigos" (NIV54), mas isso não reflete a
natureza temporária do arranjo de vida. Esta Festa foi uma comemoração das andanças, dos
israelitas depois que saíram do Egito, sugerindo que a tradução como "abrigos
temporários" é mais apropriado.
A Festa dos tabernáculos ou das tendas, também chamada de “Festa da colheita”,
tal como a Festa dos Pães Ázimos, durava uma semana, isto é, do dia quinze ao vinte e um
do sétimo mês. Era seguida por um oitavo dia de descanso (Lv 23,36-39). O nome
Tabernáculo reflete o costume de habitarem em tendas durante o festival, o que servia de
lembrete da vida no deserto. O nome “colheita” indica que esta Festa era o ponto alto do
ano da agricultura, quando as uvas e os cereais já tinham sido colhidos (PFEIFFER, 2001,
pg. 232).

51 Bíblia de Jerusalém. Nova edição revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2010.
52 Bíblia King James Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica Ibero-Americana, 2013.
53 Almeida Revista e Corrigida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
54 Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional Português-Inglês. São Paulo: Editora Vida, 2003.
51

Nos calendários mais antigos esta é a Festa da armazenagem. Devia ser celebrada
quando houveres recolhido da tua eira e do teu lagar (v.13), ao tempo da colheita durante
o outono, nos meses de setembro e outubro.
Gratidão pela colheita e alegria festiva eram as características marcantes desta
Festa, o povo se reunia no templo de Jerusalém para comemorar a boa colheita que tiveram
naquele ano.

7.4 RESUMO DAS PEREGRINAÇÕES ANUAIS (V.16-17)

“16. Três vezes no ano aparecerá todo o teu de qualidade masculina


perante YHWH, teu Elohim, no local que escolher, em Festa de os
ázimos, e em Festa de as semanas e em Festa de as tendas, mas não
aparecerá perante YHWH vazio. 17. Cada um conforme a dávida de
mão, conforme a benção de YHWH, teu Elohim que deu para ti”.

Quando analisamos os dois últimos v.16 e 17 da nossa perícope percebemos que


Deuteronômio simplesmente repete a antiga lei, mas agora ela é aplicada às peregrinações
até o santuário central, em Jerusalém, o lugar escolhido por YHWH (Dt 12,5). O termo no
v.16 “aparecerá todo o teu de qualidade masculina” (‫ְכּורָך‬
ְ ‫)י ֵָּׁראֶה כָׁל־ז‬, significa que todos
tinham a obrigação de comparecer, excetos os cegos, as crianças, as mulheres, os servos, os
enfermos e os idosos que não podiam suster-se de pé.
Para o pesquisador Champlin (2001) uma pergunta bem interessante pode ser feita
no v.16 da perícope. Por que só os homens? Será que isso reflete o papel submisso das
mulheres? Certamente o antigo Oriente não era igualitário, mas as mulheres eram honradas
dentro de Israel (por exemplo, Provérbios 31).
Ela acredita que existem duas boas possibilidades: Primeira; as mulheres eram
necessárias em casa em um ambiente pecuário e agrícola, especialmente se os homens
estavam ausentes. Segunda; a prática dos homens só teria visivelmente marcado adoração
de Israel como diferente do culto da fertilidade dos cananeus, onde eram esperadas as
mulheres (CHAMPLIN, 2001, pg. 820).
O v. 16 faz uma observação que ninguém deveria ir de mãos vazias “e não
aparecerá perante YHWH vazio” (‫ )וְֹלא י ֵָּׁראֶה אֶת־ ְפנֵּי י ְהוָׁה ֵּרי ָׁקם‬refere-se a obrigação de
realizar os sacrifícios apropriados e levar as ofertas voluntárias adequadas. Cada
participante deverá levar suas ofertas segundo a bênção divina. A generosidade deve ser
exercitada tanto para com YHWH como também para pessoas necessitadas.
52

O modo de conclusão, no v.16 surge pela última vez a participação das Festas,
destacando novamente que o lugar de sua celebração é o santuário central. Entre os
aspectos distintivos destas Festas ressalta-se o fato de serem Festas de peregrinação.
O calendário festivo de Deuteronômio encerra-se convidando todos a levar suas
oferendas, de acordo com a benção que o Senhor lhes dá. Ninguém deve apresentar-se ao
santuário de mãos vazias (Dt 16,17). A generosidade não deveria ser exercitada somente
com as pessoas necessitadas, também com o Senhor, seu Deus. Era está a responsabilidade
que o Senhor esperava dos corações agradecidos dos seus filhos, que não apenas
reconhecessem o Senhor, mas que fossem agradecidos também pelos dons do seu amor
(LÓPEZ, 2004, pg. 283).
Os v.16 e 17 são versículos de resumo que se aplicam as três principais Festas
judaicas. Estas Festas permitiam que Israel desenvolve-se um senso de comunidade
nacional.

8 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS

O perícope de Deuteronômio 16,1-17, pertence a um bloco narrativo, chamado


“livro da lei” e neste livro encontramos as três principais Festas judaicas que estão sendo
estudadas “pesah, ázimos, semanas e tendas”. A perícope está dentro do segundo discurso
feito por Moisés.
Ao analisarmos a estrutura de Deuteronômio 16,1-17, chegou-se a uma divisão em
quatro partes que acreditamos ser a mais correta. Na primeira parte temos a Festa do Pesah
e a Festa do Ázimo nos v.1-8, na segunda parte temos a Festa das Semanas que está nos
v.9-12, na terceira parte a Festa das Tendas v.13-15 e o resumo final chamado de
peregrinação anual nos v.16-17. Esta divisão é a mais apropriada para o nosso estudo e foi
utilizada para a análise do conteúdo.
A perícope de Deuteronômio 16,1-17 para Von Rad (2006) é composta por uma
sequência litúrgica de vários eventos. No fato de a sequência litúrgica de um evento cúltico
ter que servir como moldura para uma grande obra literária teológica, podemos ver uma
vez mais, quanta dificuldade Israel encontrava para desenvolver teoricamente conteúdos
teológicos a partir de si mesmo. Esse estilo Deuteronômico, caracterizado pela infatigável
repetição de uma típica combinação de palavras, tem do princípio ao fim uma característica
exortativa e constitui uma palavra que se dirige ao interlocutor para conquistá-lo e cercá-lo
com juras carinhosas (RAD, 2006, pg. 216).
53

Vimos também que nos últimos anos o livro de Deuteronômio tem sido um dos
livros mais contestados com respeito à sua autoria mosaica. Porém temos evidência que o
escritor do livro de Deuteronômio foi Moisés. Chegamos à conclusão que a datação do
livro é de VII a.C. e a maioria dos pesquisadores concorda com esta ideia.
Aprofundamos nosso estudo analisando o conteúdo da perícope de Deuteronômio
16,1-17, suas frases, estrofes, termos e seus vocábulos, levamos em conta o contexto
histórico e social do povo de Israel. A Festa do pesah e a Festa do ázimos (v.1-8),
observamos que a palavra pesah tem um significado e etimologia incertos. No uso, o termo
parece designar tanto a Festa como a manutenção do animal no banquete festivo. O ritual
do pesah é apresentado pela primeira vez no livro de Êx 12,1-28 onde está relacionado com
a Festa dos ázimos. O rito consiste de um banquete em que um cordeiro de um ano é
comido. O cordeiro deveria ser assado inteiro, e aquilo que era comido no banquete devia
ser queimado no dia seguinte. Esta Festa era considerada familiar onde o chefe da casa
reunia a família para a participação da Festa e tinha como seu principal benefício, a
proteção da família e do rebanho.
A Festa mencionada em Deuteronômio 16,1-8 modifica a prática do ritual, a
imolação do cordeiro torna-se um ato quase sacrifical que deve ser realizado somente no
templo de Jerusalém, o banquete também deve ser comido no templo. Agora com a Festa
do pesah centralizada no templo, o chefe da família deveria se deslocar anualmente para o
templo para o grande dia festivo.
A Festa do pesah e a Festa dos pães ázimos estavam estreitamente relacionadas.
Estas duas Festas deviam lembrar o povo de Israel da obra redentora de YHWH a favor
deles. A importância do rito pesah na celebração dos ázimos mostram a importância
crescente da Festa do pesah no povo de Israel. De rito família (Êx 12) passou a ser uma
Festa nacional, no santuário central.
A Festa das Semanas (v.9-12) é considerada uma das ocasiões mais importantes do
povo de Israel por muitos séculos, sua origem é uma festividade agrícola. Ela marca o
início da colheita na primavera no mês chamado de Abib considerado o primeiro mês do
ano judaico. A Festa das semanas, como as outras grandes Festas anuais, era uma ocasião
de alegria em que os adoradores participavam de uma refeição cerimonial ou Festa
sacrifical perante YHWH. A presente Festa, como as outras, foi idealizada para a
participação da família, dos servos, dos levitas, dos estrangeiros residentes, dos órfãos e
das viúvas. Era, afinal das contas, apenas uma participação nas bênçãos abundantes com
que YHWH abençoará o seu povo com uma boa colheita.
54

Ao analisarmos a Festa das tendas (v.13-15) observamos que a celebração desta


Festa deveria começar após a colheita dos produtos da eira e do lagar, sendo observada no
templo de Jerusalém por sete dias num clima de muita alegria e festividade. Em tal ritual
deveria estar presente além da família e dos empregados, o levita, o estrangeiro, o órfão e a
viúva que pertence à mesma cidade de oferta. Como a Festa era celebrada em Jerusalém,
significa que as pessoas mencionadas acompanhavam o celebrante, o chefe da família. A
gratidão pela colheita e alegria festiva eram as características marcantes desta Festa, o povo
se reunia no templo para comemorar a boa colheita que tiveram naquele ano.
Após a análise dos dois últimos versos 16 e 17 da nossa perícope, percebeu-se que
Deuteronômio simplesmente repete a antiga lei, mas agora ela é aplicada ás peregrinações
até o santuário central em Jerusalém, o lugar escolhido por YHWH. Sendo assim, podemos
dizer que os últimos versos 16 e 17 são versículos de resumo que se aplica as três
principais Festas judaicas. Estas Festas permitiam que Israel devolve-se um senso de
comunidade nacional.

CAPÍTULO II

2 AS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS SEGUNDO OS LIVROS DO


55

ÊXODO, NÚMEROS E LEVÍTICO

2.1 INTRODUÇÃO

No capítulo anterior fizemos uma análise exegética histórico-literária do texto de


Deuteronômio 16,1-17, iniciando pela tradução literal, analisando as variantes textuais e as
anotações massoretas. Na sequência foi realizada a análise da formação do Deuteronômio,
já dividido em frases e estrofes no momento da tradução, depois a datação e o lugar
vivencial do Deuteronômio, com seus autores e leitores. Em seguida fizemos a análise do
conteúdo de Deuteronômio 16,1-17, que é uma seção mais extensa, analisando a
composição, o seu uso na liturgia e a interpretação do texto, investigando sua produção e
recepção pelos indivíduos da religião de Israel.
Este capítulo focará na análise das três principais Festas judaicas segundo os livros
do Êxodo, Números e Levíticos, procurando identificar as principais diferenças das Festas
judaicas e suas mudanças com o passar do tempo. Pretende-se identificar como as Festas
sofreram suas mudanças e se essas mudanças tiveram alguma influência na sociedade
judaica. Será realizada também uma breve comparação dos livros de êxodo, Números e
Levíticos com o texto de Deuteronômio 16,1-17 e identificar as mudanças que as Festas
sofreram.

2.2 AS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS SEGUNDO: PESAH (ÊX 12,1-14; ÊX 23,18 E


34,25; LV 23,5-8; NM 28,16-25), SEMANAS (LV 23,15-22; NM 28,26-31), TENDAS
(LV 23,33-44; NM 29,13-39)

2.2.1 Textos sobre a Festa do pesah e pães ázimos (Êx 12,1-14; Êx 23,18 e 34,25; Lv
23,5-8; Nm 28,16-25)

2.2.2 Comparação de Êx 12,1-14 com Deuteronômio 16,1-8

“1. E falou o SENHOR a Moisés e a Arão na terra do Egito, dizendo: 2.


Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro
dos meses do ano. 3. Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos
dez deste mês, tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos
pais, um cordeiro para cada casa. 4. Mas, se a família for pequena para
um cordeiro, então, tome um só com seu vizinho perto de sua casa,
conforme o número das almas; conforme o comer de cada um, fareis a
conta para o cordeiro. 5. O cordeiro, ou cabrito, será sem mácula, um
56

macho de um ano, o qual tomareis das ovelhas ou das cabras. 6. e o


guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e todo o ajuntamento da
congregação de Israel o sacrificará à tarde 7. E tomarão do sangue e pô-
lo-ão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o
comerem. 8. E naquela noite comerão a carne assada no fogo, com pães
asmos; com ervas amargosas a comerão. 9. Não comereis dele nada cru,
nem cozido em água, senão assado ao fogo; a cabeça com os pés e com a
fressura. 10. E nada dele deixareis até pela manhã; mas o que dele ficar
até pela manhã, queimareis no fogo. 11. Assim, pois, o comereis: os
vossos lombos cingidos, os vossos sapatos nos pés, e o vosso cajado na
mão; e o comereis apressadamente; esta é a Páscoa do SENHOR. 12. E
eu passarei pela terra do Egito esta noite e ferirei todo primogénito na
terra do Egito, desde os homens até aos animais; e sobre todos os deuses
do Egito farei juízos. Eu sou o SENHOR. 13. E aquele sangue vos será
por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por
cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu
ferir a terra do Egito. 14. E este dia vos será por memória, e celebrá-lo-
eis por Festa ao SENHOR; nas vossas gerações o celebrareis por
estatuto perpétuo55”..

Ao estudarmos o tema pesah encontramos alguns textos relevantes para a nossa


pesquisa. O texto de Êx 12,1-14 é conhecido como o primeiro que fala sobre o pesah,
apesar de não aparecer a palavra pesah, temos o consenso que este texto é uma celebração
do pesah. Êx 12,1-14, o texto institui a tradição de uma Festa. Como em outros casos,
também essa celebração é uma adaptação de ritos anteriores ás vezes compartilhados com
outros povos, que agora tem um novo significado em virtude de uma nova experiência
histórica e religiosa.
Antes de entramos no texto é importante ressaltar que a cerimonia do pesah não foi
inventada por Moisés na saída do povo do Egito. O pesah era um ritual de pastores, para a
propiciação dos deuses, quando havia a mudança dos pastos de águas purificadoras do
inverno para o verão e também uma forma de proteção do rebanho e da família.
Andiñach (2006) afirma que sacrificar um animal e comê-lo no círculo da família é
um rito dos povos nômades e está vinculado à gratidão pela vida e pela provisão de
alimentos. Pintar com sangue partes das habitações concedia imunidade a doenças e
animais selvagens, de modo que esse rito se tornou sinal de redenção. A adoção desse rito
como uma Festa em Israel implicou que fosse vinculado à gratidão e não pelos alimentos,
mas pela libertação da opressão. O sagrado instala-se, portanto, no tempo cíclico e
manifesta-se por meio de objetos cotidianos, como um cabrito, o sangue e a refeição da
família (ANDIÑACH, 2006, pg. 154).
Como podemos ver no v.2 “Este mês será para vós o princípio dos meses; será o

55
Almeida Revista e Corrigida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009
57

primeiro mês do ano” há uma nova ordenança a comemoração do pesah, indica que o ano
israelita tinha começado num tempo diferente, provavelmente com o mês mais tarde
chamado de tsiri, que corresponde ao nosso mês de setembro ou outubro. Como estamos
vendo no v.2 há uma mudança no calendário, o pesah que era comemorado no mês tsiri
passa a ser comemorado no sétimo mês “Abib” no calendário judaico, geralmente
corresponde aos meses de março-abril do nosso calendário. O texto de Deuteronômio 16,1
confirma esta alteração “Guarda o mês de Abib”, o início da Festa do pesah no templo
começava no mês de Abib, e com o passar do tempo este mês passou a se chamar Nisã. No
v.1 de Deuteronômio percebemos um propósito da inclusão do pesah entre os festivais da
primavera, um rito que era observado como um festival familiar, agora deve ser transferido
para o santuário em Jerusalém como parte da centralização total de todos os cultos (Dt
16,5).
O Êx 12,3 traz como deveria ser o preparo para a Festa do pesah, deviam começar
quatro dias antes do dia 14 do mês (Êx 12,6). A palavra ‫“ שֶה‬um cordeiro” é neutro se
aplica tanto a cordeiro como a cabrito, sem limitação de idade. Porém, a idade foi fixada
por estatuto (Êx 12,5) em um ano, e se podia escolher um cordeiro ou um cabrito. É
interessante observar que em geral os hebreus preferem cordeiro a cabrito.
Posteriormente, a tradição judaica fixou como dez o número de pessoas para quem
um cordeiro deveria ser repartido e também declarou que todos os membros da família,
homens, mulheres e crianças, deveriam participar da Festa. É interessante frisar que deveria
ser levado em conta a quantidade que cada um comeria, crianças e idosos não deveriam ser
contados da mesma forma que os homens em pleno vigor da vida. Consequentemente,
como podemos observar no v. 4 mais de duas famílias poderiam se unir para comemorar o
pesah.
Observou-se que o cordeiro deveria ser sem defeito e danos. Uma pessoa devota
ensinaria que o animal “cego”, “coxo” ou “enfermo” não seria aceitável na cerimônia do
pesah. Mais adiante (Lv 22,20-25) uma lei proibiu o uso de animais imperfeitos para o
sacrifício obrigatório, embora pudessem ser apresentados como oferta voluntária.
Para Botterweck (2011) as instruções para os rituais do pesah no livro Êx 12,1-14
aparentemente preservam uma tradição pré-sacerdotal de um evento de sacrifício comunal
(no nível do clã), que foi celebrado muito antes do surgimento das tradições historicizadas
do festival. É possível que Êx 12,1-14 seja um texto tardio, um velho costume que ainda
domina um pesah familiar, um tempo antes da existência do culto centralizado no templo
(BOTTERWECK, 2011, pg. 03).
58

Um detalhe bem interessante está no v. 6 e confirma que a Festa do pesah era


familiar e que o chefe de cada família deveria oferecer o sacrifício por si mesmo e por sua
família. Somente o líder da família poderia intervir pela família oferecendo o cordeiro no
momento do ritual do pesah. A palavra ‫“ ָׁהע ְַרבָׁ ָֽׁי ִם‬crepúsculo” significa literalmente “entre
as duas tardes”. Essa disposição é explicada de duas formas. Alguns dizem que a primeira
“tarde” começa com o pôr do sol e a segunda com o fim do crepúsculo. O pesquisador
Eben Ezra considera que o crepúsculo durava aproximadamente uma hora e 20 minutos. A
ordem de Deuteronômio 16,6 “Ali sacrificarás o pesah à tarde, ao pôr do sol”, parece
apoiar esse ponto de vista. Já outros consideram que a primeira “tarde” se inicia quando o
sol começa a se declinar de forma visível desde o zênite, por volta das três horas da tarde, e
a “segunda parte”, com o começo do pôr do sol.
O rito principal, a imolação da vítima pascal, deve ocorrer conforme o texto de
Deuteronômio 16,6 “á tarde, ao pôr-do-sol”. Com a ordem de retornar para casa pela
manhã “sairá pela manhã e voltará ás tuas tendas (Dt 16,7) podemos constatar que este
verso fortalece o verso anterior de Deuteronômio 16. A celebração dura da tarde a manhã,
mas isso só era possível numa época em que o pesah ainda não era associado a Festa dos
ázimos, que durava “sete dias” (Êx 23,15).
A preparação da refeição pascal requer tempo e deveria estar pronta antes da meia-
noite. A palavra “tarde” em hebraico, bem como em outras línguas, não se limita ao tempo
depois do pôr do sol. Em vista disso, o costume de sacrificar o animal a tarde pode já ter
estado em uso muito antes de as autoridades eclesiásticas da era rabínica o terem aprovado
oficialmente.
Moisés cumpriu o desígnio e instruiu as famílias hebreias a sacrificar um cordeiro,
molhando o umbral de suas portas com o sangue do animal abatido. Isso seria um sinal do
povo de Deus para que, quando o anjo da morte passasse pelo Egito, preservasse a vida do
primogênito dos lares marcados, como fora escrito em Êx 12,1-14. O Pesah é um memorial
e uma ordenança permanente. Os Judeus celebram o pesah hoje praticamente da mesma
forma, em substância, como celebravam no tempo de YHWH, porque eles preservam suas
tradições com tenacidade e fidelidade (MCMURTRY, 2012, pg. 17).
No mesmo livro, o anjo que fora enviado por YHWH arrebatou a vida de todos os
primogênitos do Egito, desde os animais até o filho do próprio faraó. Após esse ocorrido, o
faraó, temendo sofrer outras retaliações da ira daquele Deus, decidiu libertar o povo de
Israel, um fato que desencadeou o êxodo desse povo à terra de Canaã.
59

A justificativa de como seria construído o fundamento da realização do pesah e a


preservação da data e sua comemoração na posteridade, emerge da memória desse processo
de libertação. Na citação anterior do livro do Êxodo, é possível encontrar a prescrição para
que essa festividade se torne eterna, posteriormente, no mesmo capítulo, a seguinte
determinação:

“Portanto guardai isto por estatuto para vós, e para vossos filhos para
sempre. E acontecerá que, quando entrardes na terra que o Senhor vos
dará, como tem dito, guardareis este culto. E acontecerá que, quando
vossos filhos vos disserem: Que culto é este? Então direis: Este é o
sacrifício da páscoa ao Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel
no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas. Então o
povo inclinou-se, e adorou” (Êx 12,24-27).

Para o pesquisador Willi-Plein (2001) julga-se comumente que a própria lei pascal
Deuteronomista (Dt 16,1-8) difere da praxe suposta em Êx 12 em pelo menos dois pontos.
Em concordância com as demais fontes, também o Deuteronômio fala de uma pesah de
YHWH; conta, portanto no fundo, com a possibilidade de outras celebrações pascais, e vê o
sentido do pesah já vista na comemoração do êxodo. Nesse contexto os pães ázimos são
interpretados como “o pão da miséria”, que lembra a pressa da saída da casa da escravidão
(Dt 16,3). Também aí, portanto, os pães ázimos não pertencem a Festa dos ázimos, mas
essencialmente o pesah. Também o texto Deuteronomista acentua que da carne nada pode
ficar até de manhã, embora com uma curiosa combinação das datas. Mas, sobretudo é
inculcado que o abate não pode ser feito lá onde mora o povo, mas somente no santuário
central (WILLI-PLEIN, 2001, pg. 112).
Diferente de Êx 12, Dt 16,2 prevê para o pesah “gado miúdo e gado graúdo”, mas
talvez se trate de imolações secundárias. Outra discrepância segundo Willi-Plein (2001)
está na determinação (Dt 16,7) de que a carne deve ser “cozida e comida”, o que contradiz
claramente o que determina em Êx 12,8, a saber, que a carne deve ser comida depois de
“assada ao fogo” (e em hipótese nenhuma cozida em água: Êx 12,9), bem de acordo com a
forma primitiva de preparar carne, possivelmente também para diferenciá-la claramente da
carne sacrifical (WILLI-PLEIN, 2001, pg. 113).
Já o pesquisador Dias (2006) fala que o livro do Deuteronômio, ao legislar sobre a
celebração do pesah, como memorial eterno = Zikkaron, (“para te recordares assim
durante toda a tua vida”, Dt 16,1-7), já impõe a Festa do pesah como uma anamnese em
que a dimensão funciona quase à maneira “sacramental” cristã através da repetição
vivencial do acontecimento salvífico do Êxodo do Egito (2 Rs 23,21-23; Esd 6,19-22; Ez
60

45,18-20). O pesah não é apenas um acontecimento do passado histórico de Israel, a sua


historicização litúrgica tornou-a centro de gravidade e eixo de todo o culto ao longo do ano
litúrgico judaico, dando-lhe dimensão anamnésica-litúrgica-escatológica (DIAS, 2006, pg.
31).
Em Êx 23,18 e 34,25 encontramos a passagem pertence ao “Livro da Aliança, e o
segundo chamado livro do “Decálogo cultual”. Certamente, em Êx 23,18 “Não oferecerás
sangue do meu sacrifício com pão levado, nem ficará gordura da minha Festa durante a
noite até amanhã” o pesah não aparece de uma forma clara; no entanto, a analogia com Êx
34,25 “Não oferecerás o sangue do meu sacrifício com pão levado; nem ficará o sacrifício
da Festa do pesah da noite para a manhã”, mostra um paralelo com o pesah.
O nome desta Festa tem sua origem nos matstsôt que é a forma plural da raiz
matsats, que designa um pão sem fermento, geralmente preparado ás pressas para refeições
e hospedes inesperados. Na ocasião do êxodo, esta foi a refeição dos israelitas. A partir de
então, os matstsôt passaram a ser comidos anualmente junto com ervas amargas na
celebração do pesah (DIAS, 2004, pg.16).
Embora o livro da aliança seja considerado como a mais antiga coleção de livros de
Israel, a legislação sobre o culto Êx 23,18 deve ser de procedência posterior. É como
inclusão de um editor que, com fácil vocabulário, pretendia completar determinações do
livro da aliança de Êx 34,25 pertencente a antiga lei do culto (HAAG, 1980, pg. 32).
Para Hagg (1980) Êx 34 ocupa uma situação particular em especial no v. 25. A
norma diz assim na redação tradicional: “Não oferecerás o sangue do meu sacrifício com
pão levedado. Não ficará a vítima da Festa do pesah da noite para a manhã”.
As palavras pão levedado e Vitima em Êx 34,25 deram-lhe a oportunidade de se
reunir com prescrição de Deuteronômio 16,3 de modo que a determinação de
Deuteronômio 16,4b “também da carne que sacrificares á tarde, no primeiro dia, nada
ficará até pela manhã”, acrescenta a Êx 34,25a “Não oferecerás o sangue do meu
sacrifício com pão levado; nem ficará o sacrifício da Festa do pesah da noite para a
manhã”. Assim, é certo que tão Êx 34,25b foi inserido quando Deuteronômio 16,4b ainda
estava imediatamente para 16,3a. Porque em Deuteronômio 16,1-8, o v.3, 4a. e 8, são
exibidos como um extra adicionado, que pretende introduzir os seus direitos antigos, a
Festa dos pães ázimos, renegado pelo Deuteronômio. A introdução de Deuteronômio 16,
4b após Êx 34,25 foi realizada, portanto, entre a codificação da ordenança do pesah
Deuteronômico e sua ampliação através v.3, 4a. e 8 (HAAG, 1980, pg. 34).

2.2.3 Comparação de Lv 23,5-8 com Deuteronômio 16,1-8


61

“5. No mês primeiro, aos catorze do mês, pela tarde, é a Páscoa do


SENHOR; 6. E aos quinze dias deste mês é a Festa dos Asmos do
SENHOR: sete dias comereis Asmos; 7. No primeiro dia, tereis santa
convocação; nenhuma obra servil fareis; 8. Mas sete dias oferecereis
oferta queimada ao SENHOR; ao sétimo dia haverá santa convocação;
nenhuma obra servil fareis”.

Ao analisarmos o texto de Lv 23,5-8, percebemos que ele faz parte do Código de


Santidade e em certos lugares claramente mostra as marcas das tradições cultuais do Velho
Testamento que são preservadas neste corpo de leis. Se colocamos este Código de
Santidade no período imediato pré-exílico ou exílio precoce, os sinais desse período tardio
são inconfundíveis. Podemos ver que os v. 4-8 estão estabelecendo primeiro que a Festa do
pesah deve ser realizada no décimo quarto dia do primeiro mês. O pesah elemento aparece,
portanto, independentemente (como em Deuteronômio 16,1) ao lado ou antes da Festa dos
pães ázimos. A última Festa segue o pesah e começa no dia décimo-primeiro do primeiro
mês, dura uma semana inteira com grandes dias de celebração. Durante a semana as
oferendas queimadas devem ser apresentadas.
A legislação do pesah em Lv 23,5-8 pressupõe a celebração do pesah no santuário
central. Embora Lv 23,5-8 pega em Deuteronômio 16,1-7 a Festa do pesah e a Festa dos
pães ázimos e as associam juntas e em sequência, podemos identificar e distinguir em Lv
23,5-8 e Deuteronômio 16,1-7 duas observâncias separadas. Não temos nenhuma grande
diferença do texto de Lv 23,5-8 para os outros textos que falam sobre o pesah e a Festa dos
pães ázimos.
Na Festa dos pães Ázimos, que conforme Lv 23,6 era celebrada “aos quinze dias
deste mês”, só deveriam ser comidos os matsot por um período de sete dias. Este cuidado
em se comer apenas pães sem fermento significava a ausência de qualquer elemento da
colheita anterior, ou seja, deixava-se de lado, neste período, os alimentos feitos com
produtos da antiga colheita, que constituíam a mesa tradicional de todos os dias. O texto de
Deuteronômio 16,3 reafirma que o povo teria que comer apenas pães sem fermento durante
os sete dias da Festa. A Festa dos ázimos é associada à Festa do pesah, essas duas
celebrações são normalmente consideradas uma só Festa.
Percebe-se na referência sobre a Festa do pesah, ao inserir nesta celebração, a
prática dos ázimos e os textos da tradição sacerdotal (Lv 23,5-8; Nm 26,16-25; Êx 12,1-20)
falam de duas Festas sucessivas. Enquanto que o pesah, segundo a instituição de Êx 12,1-
14, é celebrada na lua cheia do décimo quarto dia do primeiro mês do ano (primavera), a
Festa dos Ázimos começa no dia seguinte à celebração do pesah, portanto, o décimo quinto
62

dia do mês determinado, sendo celebrada por sete dias (MALATY, 2005, pg. 231).
O v.7-8 fala de uma santa convocação “no primeiro dia, tereis santa convocação;
nenhuma obra servil fareis; 8 mas sete dias oferecereis oferta queimada ao SENHOR; ao
sétimo dia haverá santa convocação; nenhuma obra servil fareis”, percebe-se que o
primeiro e o último dia da Festa eram de santa convocação, no quais não se devia fazer
nenhuma obra servil. Quando comparamos com o texto de Deuteronômio 16,8 percebemos
que só temos a santa convocação no último dia da Festa, diferente de Lv 23,7-8 que fala da
santa convocação no primeiro e no último dia da Festa.

2.2.4 Comparação de Nm 28,16-25 com Deuteronômio 16,1-8

“16. Porém, no primeiro mês, aos catorze dias do mês, é a Páscoa do


SENHOR. 17. E, aos quinze dias do mesmo mês, haverá Festa; sete dias
se comerão pães asmos. 18. No primeiro dia, haverá santa convocação;
nenhuma obra servil fareis; 19. Mas oferecereis oferta queimada em
holocausto ao SENHOR, dois bezerros e um carneiro, e sete cordeiros de
um ano; ser-vos-ão eles sem mancha. 20. E a sua oferta de manjares
será de flor de farinha misturada com azeite; oferecereis três décimas
para um bezerro e duas décimas para um carneiro. 21. Para cada
cordeiro oferecereis uma décima, para cada um dos sete cordeiros; 22.
E um bode, para expiação do pecado, para fazer expiação por vós. 23.
Estas coisas oferecereis, além do holocausto da manhã, que é o
holocausto contínuo. 24. Segundo este modo, cada dia oferecereis, por
sete dias, o manjar da oferta queimada em cheiro suave ao SENHOR;
além do holocausto contínuo, se oferecerá isto com a sua libação. 25. E,
no sétimo dia, tereis santa convocação; nenhuma obra servil fareis”.

Os últimos dos principais textos sobre a Festa do pesah se encontra em Nm 28,16-


25. Quando analisamos o v.16 vemos que a única oferta especial ordenada para o pesah, 14
de Abib, era o cordeiro pascal em si (Êx 12,6). Esta Festa não fora observada desde que
Israel partira de Cades-Barneia. De acordo com o v.17 a Festa do Pasah ocorria na tarde do
dia 14 (Êx 12,6). O décimo quinto dia era o da Festa dos pães ázimos (Lv 23,6). O cordeiro
pascal era imolado no final da tarde do dia 14 e comido com pães ázimos e ervas amargas
depois do pôr do sol, isto é, já no dia 15. É interessante observar que em Dt 16,1-8 não
encontramos em nenhum momento que os pães ázimos teriam que ser comidos com ervas
amargas. Isso não significa que o povo não comia mais as ervas amargas, provavelmente o
deuteronomista não quis entrar nos detalhes do que o povo deveria comer e foi mais
objetivo falando apenas no pão sem fermento.
No livro de Nm 12,21-23 não dão qualquer indicação de que o ritual do pesah seja
associado a mudança de pastagens. Segundo Nm 12,22, este ritual foi realizado à noite.
Mais tarde datando da noite do dia 14/15 do primeiro mês (Lv 23,5, Êx 12,6) poderia estar
63

lembrando que o ritual noturno do pesah ocorreu durante a noite da primavera e lua cheia,
os dias e noites da lua cheia eram considerados perigoso durante o mês da primavera
(Provérbios 7,20). A lei sacrificial em Nm 28,16-25 desenvolve amplamente o tema da
expiação já elevado no Êx 12,1-14. O objetivo do pesah na separação de Israel entre as
nações (Êx 12,12-13), bem como sua função de expiação recentemente adquirida é para a
pureza do culto, para a exclusão dos incircuncisos do pesah.
Um detalhe bem interessante e que precisamos comentar é que no v. 19 “mas
oferecereis oferta queimada em holocausto ao SENHOR, dois bezerros e um carneiro, e
sete cordeiros de um ano; ser-vos-ão eles sem mancha”, encontramos uma orientação de
quantos bezerros, carneiros e cordeiros teriam que ser sacrificados, enquanto em Dt 16,2
“Sacrificarás para Yahweh teu Deus uma páscoa, ovelhas e bois...” não fala da
quantidade, mas sim que ovelhas e bois precisam ser sacrificados. O livro de Deuteronômio
é mais objetivo com as ordenanças.

2.2.5 Textos sobre a Festa das Semanas (Lv 23,15-22; Nm 28,26-31)

2.2.6 Comparação de Lv 23,15-22 com Deuteronômio 16,9-12

“15. Depois, para vós contareis desde o dia seguinte ao sábado, desde o
dia em que trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras
serão. 16. Até ao dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinquenta
dias; então, oferecereis nova oferta de manjares ao SENHOR. 17. Das
vossas habitações trareis dois pães de movimento; de duas dízimas de
farinha serão, levedados se cozerão; primícias são ao SENHOR. 18.
Também com o pão oferecereis sete cordeiros sem mancha, de um ano, e
um novilho, e dois carneiros; holocausto serão ao SENHOR, com a sua
oferta de manjares e as suas libações, por oferta queimada de cheiro
suave ao SENHOR. 19. Também oferecereis um bode para expiação do
pecado e dois cordeiros de um ano por sacrifício pacífico. 20. Então, o
sacerdote os moverá com o pão das primícias por oferta movida perante
o SENHOR, com os dois cordeiros; santidade serão ao SENHOR para o
sacerdote. 21. E, naquele mesmo dia, apregoareis que tereis santa
convocação; nenhuma obra servil fareis; estatuto perpétuo é em todas as
vossas habitações pelas vossas gerações. 22. E, quando segardes a sega
da vossa terra, não acabarás de segar os cantos do teu campo, nem
colherás as espigas caídas da tua sega; para o pobre e para o
estrangeiro as deixarás. Eu sou o SENHOR, vosso Deus”.

Segundo o pesquisador McMurtry (2012) a Festa das semanas, também conhecida


como Festa da colheita, shavout e, mais popularmente como pentecostes, faz parte do
antigo calendário israelita. O autor comenta que tentar abordar as origens dessa celebração,
64

seria uma tarefa extremamente exaustiva, já que a mesma data da época dos cananeus e
outros povos do Antigo Oriente Médio, dos quais não se possui muitas informações. A
Festa hebraica é chamada de Festa do shavout. Shavout significa “semanas” e se refere às
semanas que estão entre as Festas das primícias e do pentecostes. Esse é um tempo de
celebração pelo fato de Deus ter dado a lei aos judeus, por isso também é chamada de Festa
da entrega da lei, ou época da entrega da lei. É costume nesse período consumir somente
laticínios, porque as palavras da torá são comparadas ao sabor do leite e do mel na língua
(MCMURTRY, 2012, pg. 69).
Contudo, o autor comenta que é possível presumir que o costume da realização da
Festa das semanas, foi originalmente pertente aos cananeus, por três principais razões: os
agricultores sedentários cananeus tinham domínio de terras férteis dos vales de Canaã no
período em que os hebreus chegaram a esse local; de forma original, os hebreus não tinham
a prática agrícola, mas sim de pastoreio, logo, viviam como semi-nômades nas montanhas
centrais e regiões das ricas periferias das regiões agrícolas de Canaã; e, gradativamente o
povo israelita se tornou agricultor sedentário.
Conforme McMurtry (2012) no antigo testamento o processo litúrgico mais
desenvolvido relacionado a essa Festa, se dava em Lv 23,15-22, contudo, em Dt 16,9-15 é
possível notar uma liturgia que reflete um período distinto e, como consequência, um
ambiente novo de celebração. Sendo assim, relacionando o nome da Festa, pentecostes não
foi denominação própria da segunda Festa do antigo calendário, no antigo testamento, essa
Festa era, inicialmente, designada por diferentes nomes, como:

 Festa da colheita ou sega – em hebraico “hag haqasir”, já que trata do


período da colheita de grãos como trigo e cevada, sendo que Festa da
colheita fora seu nome original;
 Festa das semanas – em hebraico “hag xabu’ot”, cuja denominação se dá no
período em que dura a celebração, isto é, durante sete semanas, já que se
inicia cinquenta dias após a páscoa, devido à colheita da cevada, enquanto
que seu encerramento se dá sete semanas depois, na ocasião da colheita do
trigo;
 Dia das primícias dos frutos – em hebraico “yom habikurim”, cuja
denominação é justificada no fato de que há a entrega de uma oferta
voluntária a Deus, dos primeiros frutos que são colhidos da terra na saga.
Possivelmente a oferta das primícias ocorria em cada uma das três principais
65

festividades. Sendo que na páscoa havia a entrega da ovelha nascida naquele


ano, na segunda uma porção dos primeiros grãos e na terceira os primeiros
frutos; e,
 Festa de pentecostes – cuja razão para a denominação em questão pode ser
diversa, como o fato de que nos últimos trezentos anos do antigo testamento,
os gregos assumirem o poder do mundo, impondo sua língua, que se tornou
popular entre os judeus. Em hebraico a denominação pode ser “hag
haqasir” ou “hag xabu’ot”, mas suas denominações originais se perderam e
foram substituídas, predominantemente por pentecostes, que significa
justamente cinquenta dias depois da páscoa. De forma que, devido ao poder
do império grego, possivelmente o nome em questão se tornou popular a
partir de então.

No livro de Lv 23,15-22, encontramos a segunda Festa do ano - correspondente à


arranjo do calendário cultual - é a Festa das semanas. Esta seção trata primeiro de como
calcular o tempo em que essa Festa deve ser realizada lugar (v.15 e 16). Sete semanas ou
cinquenta dias devem ser contados o dia seguinte ao sábado (isto é, a partir do primeiro dia
da Festa dos pães ázimos). Mais uma vez a semana do festival é aberta e fechada com duas
grandes assembleias solenes.
Analisemos verso por verso. No v.16 observamos que esta Festa acontecia 50º dia
após a apresentação do molho da oferta movida, no dia 16 de abib, ou seja, no 6º dia do
terceiro mês no fim de maio ou começo de junho. Era conhecida como já vimos de “Festa
das semanas ou Festa das primícias” (Êx 34,22). Depois que o molho da oferta movida era
apresentado no começo da colheita, antes que a nova produção pudesse ser usada, o
pentecoste marcava o fim da estação da colheita, embora alguns grãos fossem guardados
para o cultivo nas montanhas mais altas.
Era o reconhecimento feliz da dependência de Israel em relação a YHWH como
doador de tudo. Nesta ocasião, não se apresentava um molho das primícias, mas dois pães
de flor de farinha levedados e cozidos, com sete cordeiros, um novilho e dois carneiros (Lv
23,17-18). Eram oferecidos também um bode como oferta pelo pecado e dois cordeiros
como oferta pacífica (v.19). Na celebração do pesah, nenhum fermento podia ser comido
ou encontrado na casa dos israelitas. No pentecoste, dois pães levedados (v.17) deviam ser
apresentados.
O v.22 repete a instrução dada em Lv 19,9-10. Parece apropriado que uma atenção
66

especial fosse dada ao pobre e ao estrangeiro em um tempo em que havia o bastante para
todo tempo da colheita. As dívidas, sacrifícios e ritos que serão oferecidos durante a Festa
das semanas são enumerados em detalhe. A seção conclui então com a demanda: "E
quando ceifa a colheita da tua terra, não colherás os cantos de teu campo, nem ajuntarás
a colheita da tua colheita; os deixarás para os pobres e para os estrangeiros: Eu sou o
Senhor vosso Deus” (v.22).
Já o v.24 fala que no primeiro dia do sétimo mês era um sábado, quando ocorria
“santa convocação”. Nesse dia as trombetas soavam pois, o dia da expiação estava
próximo e os primeiros nove dias do mês eram de preparação para esse solene dia. O
primeiro dia do sétimo mês do calendário religioso era o ano novo, o primeiro dia do
calendário civil. No primeiro dia do sétimo mês a grande Festa é iniciada por um ponto
característico "sopro de trombetas". Nenhuma obra pode ser feita, e os holocaustos têm que
ser apresentados a YHWH.
No dia das primícias, em outras palavras, naquele dia em que deveriam ser trazidas
oferendas apropriadas de ação de graças tornava-se um sábado ou descanso, e que nenhum
trabalho servil poderia ser feito durante o período (Lv 23,21).

2.2.7 Comparação de Nm 28,26-31 com Deuteronômio 16,9-12

“26. Semelhantemente, tereis santa convocação no dia das primícias,


quando oferecerdes oferta nova de manjares ao SENHOR, segundo a
vossa Festa das Semanas; nenhuma obra servil fareis. 27. Então,
oferecereis ao SENHOR por holocausto, em cheiro suave, dois bezerros,
um carneiro e sete cordeiros de um ano; 28. E a sua oferta de manjares
de flor de farinha misturada com azeite: três décimas para um bezerro,
duas décimas para um carneiro; 29. Para cada cordeiro uma décima,
para cada um dos sete cordeiros; 30. Um bode, para fazer expiação por
vós. 31. Além do holocausto contínuo e a sua oferta de manjares, os
oferecereis com as suas libações”.

Outro texto que fala sobre a Festa das semanas está em Nm 28,26-31. O v. 26 fala
sobre “o dia das primícias” esta é uma expressão incomum. Também é chamada de “Festa
da Sega, dos primeiros frutos do teu trabalho” (Êx 23,16) e “Festa das semanas”, na
época de ceifar os primeiros frutos da colheita do trigo (Êx 34,22; Dt 16,10 e Lv 23,15-21).
Outra frase bem interessante no v.26 “oferta nova de manjares” tem como
principal característica no seu dia a oferta nova de manjares. Consistia de dois pães
chamados de “primícias ao YHWH” (Lv 23,17). Eles eram feitos do primeiro trigo a
67

amadurecer. Junto com os pães, eram oferecidos, um novilho, dois carneiros, dois cordeiros
como oferta pacifica e um bode como oferta pelo pecado (Lv 23,18-19).
Além da Festa das semanas, o antigo calendário israelita apontava uma terceira
festividade a ocorrer no período outonal, entre setembro e outubro. Essa Festa também era
denominada de Festa da colheita, mas na sega das frutas, sobretudo da uva, figo e tâmara.
A bíblia hebraica denomina essa Festa de Festa dos tabernáculos ou das Tendas
(MCMURTRY, 2012, pg. 70).
O autor retoma dizendo que, ao passo em que o pesah era uma festividade caseira, a
Festa das semanas era uma celebração popular, realizada na roça ou nos locais de cultivo
do trigo e da cevada. Posteriormente, essa celebração foi transportada aos locais de culto,
especialmente no templo de Jerusalém, de forma que diversos relatos bíblicos não apontam
de forma clara a ordem em que acontecia o culto, mas presume-se que algumas etapas da
liturgia eram:

 A cerimônia era iniciada quando a foice era lançada sobre as espigas, de


forma que era necessário respeitar a recomendação do direito de respigar
dos pobres e estrangeiros;
 A festividade prosseguia com a peregrinação para o local de culto;
 O povo trabalhador se reunia com suas famílias, amigos e estrangeiros, de
forma que a cerimônia em questão se denomina “santa convocação” e tinha
como premissa o fato de que, durante aqueles dias não era permitido que
ninguém trabalhasse, já que esse período era considerado solene, para
desfrute da alegria e oferta de graças pela proteção de Deus;
 No local da Festa o feixe de trigo ou cevada era apresentado em oferta a
Deus, na qualidade de doador da terra e fonte de todo o bem;
 Os participantes da Festa se alimentavam de uma parte das ofertas
apresentadas pelos agricultores,

Durante as sete semanas da Festa, outros objetivos eram incluídos na celebração,


pois para além da ação de graças pela terra frutífera, tratava de consolidar a memória da
libertação dos escravos no Egito e cuidar para a obediência dos estatutos divinos
(MCMURTRY, 2012, pg. 71).
Sendo assim, o autor aponta que o pentecostes celebra a libertação e o descanso no
tempo perfeito, ocorrendo exatamente no tempo do fim da colheita da cevada – cuja data é
68

6 de Sivam. A Festa das semanas é a atzeret, isto é, a Festa que marca o final da temporada
do pesah. Algumas das principais características dessa festividade é o fato de que era alegre
e solene, a celebração tinha dedicação exclusiva a YHWH, a festividade era aberta a todos
os produtores, seus familiares, pobres, levitas e estrangeiros.
Todo o povo que se apresentava diante de YHWH, reconhecia e afirmava seu
compromisso de fraternidade e responsabilidade pela promoção de laços comunitários,
além do povo hebreu, era bem-vindo nessa festividade. A ação de graças era pelo dom da
terra e pelos estatutos divinos. Por se tratar de uma convocação, ninguém trabalhava e a
celebração também se dava sobre o ciclo da vida, cujo reconhecimento da palavra de Deus
se dava na origem da vida, da semente à árvore, do fruto ao alimento.
A Festa das semanas, como uma celebração ocorrer cinquenta dias após a páscoa,
também trata de relembrar a chegada ao Monte Sinai, local em que Moisés recebeu de
YHWH o dom da lei. Também como se estende por sete semanas, daí surge o nome “Festa
das semanas”.
O pesquisador Araújo (2015) por sua vez, explica que a terra e o trabalho eram
elementares à vida humana no antigo testamento, de forma que esses elementos
impossibilitavam pensar no homem sem essas realidades. No livro de Genesis 1-2, há a
descrição de que tudo fora criado por Deus e tudo se encontra sob domínio e cuidado do ser
humano.
Ainda com a capacidade de criação, também havia o extasiar-se perante à
grandiosidade e beleza universais. A primeira resposta humana à maravilha de Deus era
sentir algo extraordinário, divino, sobrenatural que pudesse dar sentido a tudo o que forma
o universo. Assim, o povo de Israel enxergava o universo como algo vindo da bondade de
Deus (ARAÚJO, 2015, pg. 325).
O autor prossegue dizendo que o povo de Israel, consciente de que todas as coisas
são criação de um único YHWH e que tudo se encontra sob seu domínio, também se
conscientizou de que tudo era um dom divino. A terra para o plantio, a chuva para fazê-lo
crescer, o fruto que nasce da terra, tudo é uma benção de YHWH para o povo eleito. Por
outra perspectiva, a estiagem também era encarada como castigo de YHWH.
A Festa das semanas era, para o povo de Israel, o momento de dizer à YHWH sobre
sua gratidão a tudo que é sua obra, demonstrar que o povo da aliança se sentia agradecido
por ser lembrado, tratado com carinho e ter terra e chuva para cultivar
Conforme o pesquisador Araújo (2015) o Salmo 65 apresenta uma imagem clara da
relação de Deus e seu povo, abençoando os trabalhos, uma ação que é própria e divina, isto
69

é, a prova de que Deus atua junto ao homem, participando de seus esforços e do trabalho
humano. Assim, se para os cananeus e outros povos vizinhos era preciso um culto de
fertilidade, em uma relação de subordinação às forças de uma divindade atuando por meio
das forças da natureza, o povo de Israel tinha a participação ativa de Deus no trabalho
humano (ARAÚJO, 2015, pg. 326).
O autor comenta que a torá não reprime a autonomia do homem, mas sim, lhe
permite uma plena liberdade. O livro sagrado é, de fato, para o povo da aliança, um fruto
vindo diretamente das mãos de YHWH para ensinar seus filhos, garantir-lhes a vida, a
presença de YHWH entre seu povo. A torá é para esse povo, o fruto mais valioso dado por
YHWH aos homens, sobretudo ao povo de Israel, que recebeu das mãos do próprio YHWH
o fruto da liberdade. O autor comenta que o relato que narra a descida do espírito santo é
relacionado diretamente à revelação do Sinai – com o vento, o fogo e as línguas. De forma
que no evento do pentecostes cristão, novamente Deus demonstra seu amor, abrindo-o a
todos os povos. O bom fruto é oferecido pelo espírito santo, que estabelece na terra a lei do
amor no coração da humanidade. O autor comenta que, em sua origem mais antiga, a Festa
das semanas era campestre, no término da colheita de cereais (ARAÚJO, 2015, pg. 327).
Esse momento era importante na vida dos trabalhadores dedicados ao cultivo da
terra, de forma que não era possível deixar passar sem recordar a YHWH, sem exteriorizar
sua gratidão. Dessa forma, os produtos, devido às graças divinas, puderam ser colhidos do
solo, as primícias eram separadas e ofertadas a YHWH. Por essa razão também essa
celebração se denomina Festa das primícias.
No período do templo, a Festa das semanas era caracterizada pelas peregrinações,
em que grandes grupos de agricultores vinham de todas as províncias do país, a celebração
era animada e pitoresca. Os peregrinos vinham de longe e faziam longas caminhadas e em
grupos eles se dirigiam a Jerusalém. Cada pessoa trazia a sua oferta em cestos, as primícias
de trigo, cevada e frutas. Esses produtos que atribuíram renome ao solo de Israel. Quando
chegavam a cidade santa, eram acolhidos pelos sacerdotes, adentravam o templo e faziam a
oferta de seu cesto aos sacerdotes. A cerimônia era completada com a evocação de hinos e
toques de harpa, além de outros instrumentos musicais.
Ao relatar sobre os costumes da Festa das semanas, o autor aponta que os três dias
precedentes a ela, são exclusivamente dedicados ao estudo da Torá e outros textos
sagrados. A população se prepara para receber a Festa, como os israelitas no deserto, que se
preparavam, por ordem de Moisés, para o “terceiro dia”. Costumava-se passar a primeira
70

noite da festividade em vigília, entregando-se a debates sagrados com amigos (ARAÚJO,


2015, pg. 330).
O pesquisador McMurtry (2012) aponta que a Festa das semanas, tanto no antigo
quanto no novo testamento, era uma celebração cosmopolita, o que significa que reunia
muitas pessoas de todas as raças e condições sociais. A variável entre os relatos é a
quantidade de participantes do evento, pois no ato dos apóstolos, relata-se que uma
multidão se reunia em Jerusalém, ao passo que o relato de Deuteronômio, diz respeito a um
público bem menor (MCMURTRY, 2012, pg. 80).
O autor comenta que a fraternidade era motivada entre agricultores na Festa das
semanas, tanto de acordo com os textos de Levítico quanto de Deuteronômio. Porém, essa
fraternidade é apresentada, de forma plena, na reunião que é relatada no livro atos dos
apóstolos, por meio do termo grego “koinonia comunhão”. Tal comunhão entre
trabalhadores do campo que, na prática, formaram o mutirão para a colheita do trigo.

2.2.8 Textos sobre a Festa das Tendas (Lv 23,33-44; Nm 29,13-39)

2.2.9 Comparação de Lv 23,33-44 com Deuteronômio 16,13-15

“33. E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: 34. Fala aos filhos de Israel,
dizendo: Aos quinze dias deste mês sétimo, será a Festa dos
Tabernáculos ao SENHOR, por sete dias. 35. Ao primeiro dia, haverá
santa convocação; nenhuma obra servil fareis. 36. Sete dias oferecereis
ofertas queimadas ao SENHOR; ao dia oitavo, tereis santa convocação e
oferecereis ofertas queimadas ao SENHOR; dia solene é, e nenhuma
obra servil fareis. 37. Estas são as solenidades do SENHOR, que
apregoareis para santas convocações, para oferecer ao SENHOR oferta
queimada, holocausto e oferta de manjares, sacrifício e libações, cada
qual em seu dia próprio; 38. Além dos sábados do SENHOR, e além dos
vossos dons, e além de todos os vossos votos, e além de todas as vossas
ofertas voluntárias que dareis ao SENHOR. 39. Porém, aos quinze dias
do mês sétimo, quando tiverdes recolhido a novidade da terra,
celebrareis a Festa do SENHOR, por sete dias; ao dia primeiro, haverá
descanso, e, ao dia oitavo, haverá descanso. 40. E, ao primeiro dia,
tomareis para vós ramos de formosas árvores, ramos de palmas, ramos
de árvores espessas e salgueiros de ribeiras; e vos alegrareis perante o
SENHOR, vosso Deus, por sete dias. 41. E celebrareis esta Festa ao
SENHOR, por sete dias cada ano; estatuto perpétuo é pelas vossas
gerações; no mês sétimo, a celebrareis. 42. Sete dias habitareis debaixo
de tendas; todos os naturais em Israel habitarão em tendas; 43. para que
saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em
tendas, quando os tirei da terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.
44. Assim, pronunciou Moisés as solenidades do SENHOR aos filhos de
Israel”.
71

A Festa das tendas, cabanas ou tabernáculos, é uma festividade em comemoração


da colheita de outono, considerada a terceira principal Festa judaica. O primeiro dia da
Festa das tendas é o 15º dia do sétimo mês do ano, de forma que a natureza do evento é
uma santa convocação cujo regime segue o mesmo de um sábado semanal com abstenção
das atividades normais do cotidiano, para a dedicação desse período em consagração de
Deus.
A ideia da Festa é a colheita dos frutos típicos da época, marcando a saída do ano
agrícola, ramos de palmeira e árvores frondosas, além de viver ao longo de sete dias das
tendas (sukkot), isto é, habitações provisórias. Esta festividade reserva diversos
significados, sendo um estatuto perpétuo a toda Israel, que recordava ao povo o êxodo do
Egito.
Conforme o pesquisador McMurtry (2012) a Festa das tendas era um tempo de
alegria e celebração que envolvia estrangeiros, de forma que cada sétimo ano, no ano
sabático, os escravos eram libertados, a torá era lida publicamente durante os sete dias nas
tendas. O templo de Salomão fora dedicado durante os dias dessa festividade, de forma que
Esdras e Neemias guardaram o festival. O autor comenta que existem dois principais rituais
que ocorrem durante a Festa das tendas, são eles:

a) Os sacerdotes tocavam os shofares durante os sete dias da Festa.


Quatro plantas eram usadas na celebração dos Tabernáculos: a Palma
(Lulav), o Salgueiro (Aravah) e ramos de Murta (Hadassa) que eram
amarradas em feixes utilizando um fio de ouro, referidos coletivamente
como Lulavs, porque o Lulav era a planta principal, e esse pacote era feito
com a mão direita; e na mão esquerda ia o etrog (a folha do limão), sendo
então movidas em conjunto e enquanto se curvavam, acenavam em seis
direções; para os quatro cantos da Terra, para cima e para baixo (para o
céu e para a Terra). [...]
b) No primeiro dia da Festa, 13 touros eram sacrificados, 12 no segundo,
11 no terceiro, diminuindo a cada dia até que sete touros eram
sacrificados no sétimo dia, perfazendo um total de 70 touros. Os rabinos
dizem que os 70 touros representavam as setenta nações do mundo. [...]
c) O sétimo dia foi chamado Hosha’Na Rabba que significa o Dia do
Grande Hosana (MCMURTRY, 2012, pg. 108).

O autor comenta que foi Ezequiel quem profetizou a restauração dessa festividade,
bem como fora Oséias que mencionou em suas profecias o evento, contudo, a mais
específica referência relacionada a essa celebração, encontra-se na grande profecia
messiânica do milênio, quando YHWH já estiver governando com seus eleitos toda a
Terra. Zacarias profetiza que os gentios, durante o milênio, observarão as Festas de
Elohim, ou então serão punidos por Ele, caso não as observarem.
72

McCurtry (2012) explica que no oitavo dia da Festa das tendas, o último grande dia
dessa festividade, também é um dia de santa convocação, de descanso. Esse dia era
denominado de assembleia de encerramento, de forma que foi Salomão quem observou a
convocação do oitavo dia e se despediu do povo no nono dia. Esdras também fez a
convocação de uma assembleia solene no oitavo dia (MCMURTRY, 2012, pg. 109).
Encontramos no livro de Lv 23,33-44 a ordem divina para a comemoração da Festa
das tendas, que expõe que aos quinze dias do sétimo mês, a Festa das tendas será dada ao
senhor durante sete dias. No primeiro deve ocorrer a santa convocação, nenhum trabalho
servil deve ser executado. Durante sete dias devem ser oferecidas ofertas queimadas ao
senhor, ao oitavo dia haverá outra santa convocação, as ofertas queimadas serão
apresentadas.
Este dia será solene, não será realizado nenhum trabalho servil, no primeiro dia
serão tomados os frutos das árvores, as folhas das palmeiras e ramos de árvores cheias de
folhas, durante sete dias o homem se alegrará perante o senhor. Esta Festa será celebrada
durante sete dias, todos os anos, seu estatuto é perpétuo pelas próximas gerações. Durante
sete dias os homens habitarão em tendas, para que saibam que Deus fez os filhos de Israel
nelas habitarem quando foram retirados do Egito.
A tenda em si, para os pouco familiarizados, era o local em que o senhor habitava
no meio de seu povo, recebendo dele adoração e sacrifício, falando com ele no período da
antiga aliança. Esta é a temática da Festa das tendas, quando YHWH habita com seu povo,
de forma que o uso das áreas e utensílios das tendas, tal como a disposição dos rituais deste
evento, se encontram nos capítulos 25, 26 e 27 do livro do Êxodo.
O pesquisador Dias (2006) explica que a Festa das tendas era celebrada no início do
mês de tichri, entre setembro e outubro, lembrando a estadia no deserto dos israelitas em
busca da terra prometida, cujas habitações eram tendas, já que viviam como peregrinos.
Esta Festa se tornou em uma data de alegria, a Festa da alegria da lei (simhat thorah), a
Festa histórica da aliança que aclama a Javé e libação da agua, que é celebrada de forma
popular em meio à natureza e com a evocação de cânticos e em tendas fabricadas com
ramos de árvores (DIAS, 2006, pg. 23).
Outra expressão que está no v. 34 é mês sétimo esse era um mês atarefado em
Israel. Nesse mês ocorria a Festa do Ano Novo ou das trombetas (v.23-25). Isso tinha
começo no primeiro mês do ano civil, que correspondia ao primeiro mês do ano religioso, o
mês de tishri, anteriormente chamado ethanim. Em seguida, havia também o dia da
73

expiação, no décimo dia daquele mês (v.26-32). E havia a Festa dos tabernáculos, que
começava no dia quinze daquele mês.
Quando o povo de Israel já possuía casas permanentes, esta Festa prosseguiu. E
então o povo deixava suas residências confortáveis a fim de viver em tendas por sete dias.
Estas tendas eram feitas de ramos de árvores. Isso os israelitas faziam a fim de relembrar as
durezas por que passaram, mas também os cuidados divinos protetores e providenciais que
beneficiaram seus antepassados no deserto.
No v.35 há um chamado a uma “santa assembleia”. Ou seja, reuniões sagradas e
nacionais, de fundo religioso, cuja finalidade era o de ajudar o povo a unir-se em torno do
YHWH e sua nova maneira de viver. Essas eram as festividades de um povo separado:
auxílios à espiritualidade. O termo “assembleia” significa que o povo era chamado para
“reunir-se”. Esta Festa era uma ocasião de celebração e de alegria, com grande regozijo e
em meio a sonidos de trombetas, eles carregavam ramos de salgueiros ao interior do
templo, de tal modo que as pontas ficavam penduradas, formando uma espécie de cúpula.
As tendas eram preparadas para servirem de habitações pelo espaço de sete dias, e o povo
habitava nelas em meio a demonstrações de alegria, lembrando-se de como YHWH havia
tirado o povo de Israel do Egito, provendo-lhes, no deserto, o necessário, embora então eles
não dispusessem de residências fixas. Os ramos também eram usados para fazer as tendas
nas quais os israelitas moravam durante a Festa.
Era, portanto, a ocasião mais feliz do ano, quando amigos e vizinhos renovavam o
companheirismo e moravam juntos em amor e harmonia. A Festa das tendas comemorava
o tempo em que Israel viveu em tendas no deserto durante os 40 anos de peregrinação (Dt
16,12-15).
No v. 36 a expressão “Ofertas queimadas” aparece por duas fezes neste versículo.
Nos dias do segundo templo eram oferecidos os seguintes holocaustos: treze touros, dois
carneiros, catorze cordeiros, com o acompanhamento das apropriadas ofertas de cereais,
além de uma libação e de um bode como oferta pelo pecado (Nm 29,12-39). Em seguida
vinham as ofertas pacíficas, os votos, as ofertas voluntárias. Enquanto esses sacrifícios
eram oferecidos, os levitas entoavam o hallel festivo, o que sucedia também nas Festas do
pesah e das semanas. O termo hallel significa “louvor”, referindo-se aos Salmos 113-118.
O processo era repetido em cada um dos sete dias da Festa, exceto pelo fato de que o
número de animais era menor. A tarde do segundo dia, naquilo que era chamado de Festa
secundária, bem como em cada uma das cinco noites sucessivas, era celebrado o “regozijo
do transporte de água”, no átrio do templo. Eram acesos quatro grandes candelabros de
74

ouro, no centro do átrio e a luz que emanava deles tornava-se visível na cidade inteira. Em
torno dessas lâmpadas homens piedosos dançavam diante do povo cantando hinos e
cânticos de louvor. Também eram usados instrumentos musicais.
A expressão “sábados do Senhor” aparece no v.38, a referência é aos vários semi-
sábados que estavam envolvidos nas Festas (v.7,8,21,25 e 36), bem como ao sábado pleno
do dia da expiação (v.28), e naturalmente, devemos entender os sacrifícios levados a efeito
naqueles dias, e não meramente o descanso que era assim ordenado. Não há que duvidar de
que também estão em foco os sábados regulares, ou seja, os sábados semanais, os quais
tinham suas próprias exigências e sacrifícios.
Outros sacrifícios oferecidos eram as ofertas voluntárias e as ofertas voluntárias-
votivas, ou seja, aqueles tipos de ofertas voluntárias que incluíam alguma forma de voto,
bem como ofertas que expressavam um agradecimento piedoso. As Festas e jejuns
especiais, as celebrações anuais descritas neste capítulo, não excluíam os sábados
regulares, nem as várias outras formas de ofertas. As atividades comuns da vida podiam
continuar normalmente, além da observância dos dias especiais de Festa.
Os dois versículos anteriores 37 e 38 são gerais, referindo-se às várias festividades
anuais, bem como aos deveres religiosos regulares do sábado e seus sacrifícios. Todavia, os
v.39-43 fazem-nos voltar à Festa das tendas cuja descrição fora interrompida no v.36. Os
elementos do v. 39 são repetidos com base nos v.34-36, onde são oferecidas as notas
expositivas. Em adição a isso, porém, este versículo identifica a Festa em questão como
uma celebração agrícola, visto que ocorria por ocasião da colheita dos frutos da terra.
Estão em pauta a cevada, o trigo, o azeite e o vinho e os produtos usados em vários
tipos de oferenda. Por essa razão, a Festa é chamada de “Festa da colheita” (Êx 23,16;
34,22). Esta Festa ocorria durante o outono, quando a colheita já havia terminado. Quando
comparamos com Deuteronômio 16,13-16 observamos que o autor desconhece o acréscimo
do oitavo dia com santa assembleia, como encontramos em Levítico.
O texto faz referência ao caráter alegre da Festa e a obrigação da participação de
todos que moram na cidade indistintamente (filhos, servos, levitas, estrangeiros, órfãos,
viúvas) (Dt 16,16). A obrigação de apresentar-se diante de YHWH e a proibição de
apresentar-se com mãos vazias são mantidos (v.16-17), bem como o clima de alegria
familiar e social da Festa e sua centralidade em Jerusalém.
O v.40 fala que tal como os sacerdotes tinham de ser homens sem defeito (Lv
21,17) e os animais sacrificados precisavam ser perfeitos (Lv 22,20), assim também os
ramos usados durante essa Festa precisavam ser tirados de árvores formosas, precisavam
75

ser ramos de árvores frondosas. Eram permitidos ramos de várias espécies vegetais:
palmeiras, salgueiros e ramos de várias árvores frondosas, para que formassem um dossel
espesso. Nos dias do segundo templo, as normas vigentes especificavam que, se os ramos
tivessem sido tirados de “árvores incircuncisas” (Lv 19,23) ou de primícias imundas (Nm
18,11-12), ou se exibissem alguma forma de defeito, seu uso estaria vedado. Os ramos de
árvores frondosas querem dizer árvores cuja folhagem cobre abundantemente os galhos.
A expressão “vos alegrareis” também encontrado no v. 40 leva o povo a se alegrar
pela colheita abundante, posteriormente, tanto por essa razão como também por estarem
lembrando a redenção de Israel da servidão egípcia, após o que os filhos de Israel
desfrutaram segurança e abundância no deserto, em face da providência de YHWH. Essa
alegria era expressa por meio de cânticos, danças, louvor, cerimonial música instrumental,
leituras, agitação de ramos etc.
Todos os israelitas, aqueles que estavam vivendo nos dias de Moisés, quando a
Festa foi instituída, como também aqueles que ainda nasceriam, em todas as gerações
subsequentes, deveriam continuar observando a Festa. O v.41 reforça a declaração sobre
estatuto perpétuo “vossos descendentes”. Ninguém deveria pensar que esta Festa se
limitava aos “tempos de Moisés”. O versículo aponta para todos os “israelitas nativos”.
As crianças pequenas, que não eram capazes de resistir aos rigores da vida ao ar livre, por
serem pequenas demais, estavam isentas, mas não as crianças em geral. A Mishnah
isentava as mulheres em geral (Mishnah Succah, cap. 2, sec. 6), mas todos os israelitas do
sexo masculino, mesmo que fossem pequenos, tinham de participar da Festa.
Já o v.43 vincula a Festa original da colheita com o êxodo histórico, quando Israel
foi livrado da servidão aos egípcios. A antiga Festa da colheita assumiu um novo
significado quando foi ligada à redenção de Israel do Egito. O agradecimento por um
suprimento abundante, da parte de YHWH, tornou-se um agradecimento específico pela
redenção e pela provisão e cuidados protetores que o povo de Israel desfrutou em sua
experiência no deserto.
O povo de Israel, que veio a ocupar segura e felizmente a terra de Canaã, deveria
relembrar-se de um período passado de provisões divinas especiais, quando seus
antepassados estavam em necessidade, em perigos diversos, estrangeiros no deserto,
quando YHWH cuidou deles.
O capitulo de Levítico 23 termina assegurando-nos que Moisés, o mediador entre
YHWH e o povo de Israel, havia cumprido o seu dever, tendo transmitido tudo quanto lhe
76

fora ordenado dizer aos filhos de Israel (23,2). Cabia a Israel pôr em prática todos os
complicados estatutos e mandamentos que YHWH havia determinado.

2.2.10 Comparação de Nm 29,13-39 com Deuteronômio 16,13-15

“13. E, por holocausto, em oferta queimada, de cheiro suave ao


SENHOR, oferecereis treze bezerros, dois carneiros e catorze cordeiros
de um ano; ser-vos-ão eles sem mancha. 14. E, pela sua oferta de
manjares de flor de farinha misturada com azeite, três décimas para um
bezerro, para cada um dos treze bezerros, duas décimas para cada
carneiro, entre os dois carneiros; 15. E, para um cordeiro, uma décima,
para cada um dos catorze cordeiros; 16. E um bode, para expiação do
pecado, além do holocausto contínuo, a sua oferta de manjares e a sua
libação. 17. Depois, no segundo dia, doze bezerros, dois carneiros,
catorze cordeiros de um ano, sem mancha; 18. E a sua oferta de
manjares e as suas libações para os bezerros, para os carneiros e para os
cordeiros, conforme o seu número, segundo o estatuto; 19. E um bode,
para expiação do pecado, além do holocausto contínuo, a sua oferta de
manjares e as suas libações. 20. E, no terceiro dia, onze bezerros, dois
carneiros, catorze cordeiros de um ano, sem mancha; 21. E as suas
ofertas de manjares e as suas libações para os bezerros, para os
carneiros e para os cordeiros, conforme o seu número, segundo o
estatuto; 22. E um bode, para expiação do pecado, além do holocausto
contínuo, e a sua oferta de manjares, e a sua libação. 23. E, no quarto
dia, dez bezerros, dois carneiros, catorze cordeiros de um ano, sem
mancha; 24. A sua oferta de manjares e as suas libações para os
bezerros, para os carneiros e para os cordeiros, conforme o número,
segundo o estatuto; 25. E um bode, para expiação do pecado, além do
holocausto contínuo, a sua oferta de manjares e a sua libação. 26. E, no
quinto dia, nove bezerros, dois carneiros e catorze cordeiros de um ano,
sem mancha; 27. E a sua oferta de manjares e a suas libações para os
bezerros, para os carneiros e para os cordeiros, conforme o número,
segundo o estatuto; 28. E um bode, para expiação do pecado, além do
holocausto contínuo, e a sua oferta de manjares e a sua libação. 29. E,
no sexto dia, oito bezerros, dois carneiros, catorze cordeiros de um ano,
sem mancha; 30. E a sua oferta de manjares e as suas libações para os
bezerros, para os carneiros e para os cordeiros, conforme o seu número,
segundo o estatuto; 31. E um bode, para expiação do pecado, além do
holocausto contínuo, a sua oferta de manjares e a sua libação. 32. E, no
sétimo dia, sete bezerros, dois carneiros, catorze cordeiros de um ano,
sem mancha; 33. E a sua oferta de manjares e as suas libações para os
bezerros, para os carneiros e para os cordeiros, conforme o seu número,
segundo o seu estatuto; 34. E um bode, para expiação do pecado, além
do holocausto contínuo, a sua oferta de manjares e a sua libação. 35. No
oitavo dia, tereis dia de solenidade; nenhuma obra servil fareis; 36. E,
por holocausto, em oferta queimada de cheiro suave ao SENHOR,
oferecereis um bezerro, um carneiro, sete cordeiros de um ano, sem
mancha; 37. A sua oferta de manjares e as suas libações para o bezerro,
para o carneiro e para os cordeiros, conforme o seu número, segundo o
estatuto; 38. E um bode, para expiação do pecado, além do holocausto
contínuo, e a sua oferta de manjares, e a sua libação. 39. Estas coisas
fareis ao SENHOR nas vossas solenidades, além dos vossos votos, e das
vossas ofertas voluntárias, com os vossos holocaustos, e com as vossas
77

ofertas de manjares, e com as vossas libações, e com as vossas ofertas


pacíficas”.

Nm 29,13-39 traz poucos detalhes diferentes da Festa das tendas abordado assim
em Lv 23,33-44, no entanto, vamos salientar alguns detalhes importantes no texto de Nm
29,13-39.
Os v.14 e 15 trazem a expressão “pela oferta de manjares”, esse tipo de ofertas
sempre acompanhavam os sacrifícios de animais. Cada novilho era acompanhado por três
quartas partes de um efa de farinha, cada carneiro, por duas quartas partes, e cada cordeiro,
por uma quarta parte de um efa de farinha, tudo misturado com as devidas quantidades de
azeite. Essa oferta também acompanhava as oferendas diárias e as oferendas de dia de
sábado, e também havia as libações normais. Ficava entendido que YHWH aspirava o
aroma agradável (v.13), e bebia do vinho vertido à base do altar de bronze, ou dos
holocaustos, deleitando-se e aceitando as oferendas.
No v. 16 nos é apresentado “um bode”, esse animal era sacrificado como oferta
pelo pecado. Quanto a esse símbolo (Lv 6,25 e 30 e 4,1-35) era oferecido em adição ao
holocausto contínuo dos sacrifícios diários (Nm 28,3-6). Ademais, visto que o dia caía em
um sábado, provavelmente também era feito em adição às oferendas próprias de um sábado
(Nm 28,9-10).
As oferendas dos seis dias que se sucediam a Festa que aparece no v. 17, eram as
mesmas que eram oferecidas no primeiro dia (29,12), exceto pelo fato de que a cada dia, o
número de novilhos diminuía, um por dia. Isso significa que no sétimo dia da Festa eram
oferecidos sete novilhos. Talvez essa redução gradual do número de novilhos oferecidos
simbolizasse a lua, em quarto minguante, ou talvez fosse um artifício para indicar o
número “sete”, o número da perfeição, no último dia. Por isso, no primeiro dia, treze
novilhos fossem oferecidos propositadamente. Alguns estudiosos veem nisso outro
simbolismo: a redução gradual do pecado diante de YHWH, à medida que o povo de
YHWH põe em prática a sua fé. Atingir simbolicamente o número “sete” é algo que fala
do sistema sacrificial que, finalmente, atingiu perfeição no único e perfeito sacrifício.
O v.19 é idêntico ao v.16, exceto pelo fato de que aqui está em pauta o segundo dia
da Festa. Todos os sacrifícios e ofertas de manjares eram os mesmos nos dois dias, mas um
novilho a menos era sacrificado. As oferendas diárias continuavam, as oferendas do sábado
também continuavam, tal como também as libações.
Esses quinze versículos (20-34) não nos proveem nenhuma informação nova além
daquelas que já nos tinham sido dadas até o v. 18. A única diferença é que, nos dias
78

sucessivos, do “terceiro” ao “sétimo”, um novilho a menos era oferecido a cada dia, de tal
modo que, tendo começado com treze, no primeiro dia, sete novilhos eram oferecidos no
sétimo dia.
Podemos ver no v.35 que no “oitavo dia” termina o ciclo de sete dias da Festa das
tendas, havia uma celebração especial, uma espécie de apêndice da Festa. Estritamente
falando, porém, não fazia parte da Festa, mas era uma espécie de confirmação do ciclo que
acabara de ser devidamente observado. Era um dia de sábado.
Os v.36-38 mostram que os mesmos tipos de animais eram sacrificados, mas em
número menor. Apenas um novilho (em lugar de sete), apenas um carneiro (em lugar de
dois), apenas sete cordeiros (em lugar de catorze), mas igualmente um bode, e tudo
acompanhado pelas devidas ofertas de manjares e libações, tal como se fizera nos outros
sete dias.
Além das ofertas do sábado, havia aquelas outras descritas nestes três versículos,
associadas à Festa das tendas, além dos sacrifícios diários, que jamais eram
descontinuados, sem importar a grande matança que havia em ocasiões especiais.
Encontramos no v.39 um sumário e uma exortação à obediência. Este versículo
atuava como incentivo ao povo de Israel para que efetuasse todas as oferendas e sacrifícios
que tinham sido ordenadas como oferendas diárias, oferendas sabáticas, para as várias
festividades especiais que aparecem nos capítulos 28 e 29 de Números.
McMurtry (2012) explica que o significado espiritual desta festividade paira que, de
todas as menções feitas a ela, tanto no antigo quanto no novo testamento, existem símbolos
que envolvem seu significado espiritual para a contemporaneidade. A colheita significa que
a Festa das tendas é a última Festa judaica no ano litúrgico. A sétima Festa no sétimo mês.
A colheita representa o coroamento dos esforços em diversas atividades.
As tendas em si, representam a mudança a que se destinam os sete dias da Festa,
pois os israelitas saiam de suas casas para habitar em tendas, logo, as tendas devem ser um
período para que o indivíduo rompa com a rotina em que vive, entrando em algo novo em
Deus. A busca pela ruptura com condicionamentos mentais, tradições, buscando a inserção
de algo novo em YHWH. Além disso, as tendas representam os dias de restauração de
Jerusalém, como narra Neemias, que demonstra uma variedade espiritual. A tenda que é
construída para a festividade, representa essa habitação em que o homem é o ramo que
forma essa tenda, unidos pelo laço do amor e formando uma tenda única, um santuário que
deve servir de habitação a YHWH (MCMURTRY, 2012, pg. 110).
79

Durante a Festa das tendas, segundo o autor, o monte do templo ficava totalmente
iluminado com tochas e lanternas, uma cena que é utilizada também por YHWH para
ilustrar um ensinamento: “No templo completamente iluminado Jesus declarou ser Ele
mesmo a verdadeira luz, e essa declaração é diretamente ligada ao versículo do Hallel
[...] salmo 118:27” (MCMURTRY, 2012, pg. 111).
O autor aponta que juntamente a todo o contexto da Festa das tendas, há um
constante lembrete sobre o número sete, o número da perfeição espiritual. O sukkot é a
sétima Festa celebrada por sete dias durante o sétimo mês do calendário religioso. Gênesis
aponta que YHWH descansou no sétimo dia após a criação, ao passo que a Festa das tendas
é uma época de júbilo. YHWH dá a alegria como mandamento, em Deuteronômio 16, 13-
14, bem como aponta que esse período deve ser de intensa alegria, que até mesmo a Terra
deve sentir a felicidade.
O autor também comenta que a Festa das tendas também é denominada de Festa do
ajuntamento ou seiva, pois exatamente como toda colheita é armazenada em um mesmo
lugar no tempo do sukkot – o que explica a razão para os judeus colocarem a palha do
milho nas portas das casas ao final de setembro – também a Festa da colheita celebra o
ajuntamento de todos os povos.
A Festa das Tendas era a última Festa agrícola celebrada durante o ano depois de
terminar a colheita (Êx 23,16; 34,22). Era uma Festa de peregrinação quando o povo de
Israel saia para adorar a YHWH no santuário central de Jerusalém (Dt 16,15). Era uma
Festa muito alegre a qual o povo expressava sua alegria e a gratidão a YHWH (Lv 23,40;
Jz 21,19-21; Dt 16,14). Durante a Festa, os israelitas moravam em tendas feitas de ramos
de palmeiras e ramos de árvores frondosas. A Festa é um memorial do tempo em que
YHWH fez Israel habilitar em tendas durante sua peregrinação no deserto depois da saída
do Egito.
Hoje em dia, quando o Templo não existe, os judeus as comemoram onde quer que
estejam e cumprem seus rituais não apenas para relembrar os eventos do passado, mas para
recordar as principais crenças judaicas. Uma particularidade importante de Deuteronômio
16 é a não prescrição de preceitos cultuais, tais como sacrifícios, em direta oposição com
Nm 29, que gira somente em torno de aspecto sacrifical da Festa. Característica da tradução
Deuteronomista é a ênfase no aspecto coletivo, da comunidade reunida, que se abre
também para o estrangeiro, diferente de Lv 23, que é restrito ao povo israelitas.

3 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS
80

As três principais Festas judaicas passaram por momentos diferentes e sofreram


transformações no decorrer de sua história. Neste capítulo foram realizadas comparações
dos textos de Êxodo, Números, Levítico que falam das três principais Festas judaicas com
o texto de Deuteronômio 16,1-17 e procuramos mostrar as mudanças que as Festas
sofreram com o passar do tempo.
Os primeiros textos analisados neste capítulo falam sobre a transformação da Festa
do pesah. Nota-se que a Festa do pesah a princípio era uma Festa familiar que tinha como
principal objetivo a proteção do rebanho e da família. É importante ressaltar que a
cerimonia do pesah não foi inventada por Moisés na saída do povo do Egito. A Festa do
pesah foi resgatada por YHWH e destinada somente a adoração a ele. Percebemos que as
suas transformações foram bem pontuais mais que tiveram uma importância muito grande.
Por exemplo, o mês de adoração que eram no mês de Tsiri passa para o mês de Abib no
calendário judaico.
A preparação da Festa deveria ser quatro dias antes e era usado um cordeiro ou
cabrito e não tinha limite de idade para o animal. Porém, a idade foi fixada por estatuto (Êx
12,5) em um ano. Com o passar do tempo e a centralização da Festa no templo, o cordeiro
de um ano sem defeito e dano passou a ser o principal animal para o sacrifício. Diferente de
Êx 12, Dt 16,2 prevê para o pesah “gado miúdo e gado graúdo”, mas talvez se trate de
imolações secundárias. Outra discrepância está na determinação (Dt 16,7) de que a carne
deve ser cozida e comida” o que contradiz claramente o que determina em Êx 12,8, a saber
que a carne deve ser comida depois de “assada ao fogo”.
Ao analisarmos os textos sobre a Festa das semanas percebemos que dois temas
principais marcam a Festa: a gratidão e a comunhão. É uma gratidão pelos frutos da terra,
que no caso do trigo e da cevada são a base da alimentação do povo. É a gratidão pela terra
que produz, pelo pedaço de chão que se tem para morar e trabalhar. Gratidão por elementos
concretos e palpáveis da vida que YHWH dá, em dimensões que vão além da pessoa,
estendem-se ao grupo, à comunidade e à sociedade. A transformação da Festa das semanas
foi quase inevitável em Israel, uma vez que ao longo da história toda tradição e costumes
foram sendo reinterpretado a partir da fé em YHWH.
Considerada a terceira principal Festa judaica a Festa das tendas é uma festividade
em comemoração da colheita de outono. Seu principal objetivo é a colheita dos frutos da
época, marcando a saída do ano agrícola. Também considerada uma Festa familiar que era
realizada no próprio campo, com o passar do tempo foi centralizada no templo e a família
81

passou construir tendas no templo como um ato de adoração a YHWH. Apesar de suas
mudanças a Festa das tendas foi a que ao estudarmos os textos sofreu menos alterações.
Apesar de todas mudanças as três principais Festas judaicas continuam tendo uma
importância significativa para o povo judeu e diante disso, mesmo existindo outras Festas,
A Festa do pesah, a Festa dos pães ázimos e a Festa das tendas são consideradas as
principais Festas judaicas para o povo judeu.

CAPÍTULO III

3 A ORIGEM POPULAR DAS FESTAS: PESAH, SEMANAS E TENDAS

3.1 INTRODUÇÃO

Nos capítulos anteriores estudamos a análise exegética histórico e literário, fizemos


82

uma tradução literária analisando as variantes textuais, a análise da formação do


Deuteronômio, datação, lugar, autores e leitores. Foi feita também uma análise do conteúdo
da perícope de Deuteronômio 16,1-17 que foi uma seção mais extensa e com detalhes de
conteúdo.
Foi realizada uma análise das três principais Festas judaicas segundo os livros do
Êxodo, Números e Levíticos, procurando identificar as principais diferenças das Festas
judaicas e suas mudanças com o passar do tempo. Identificou-se como as Festas sofreram
suas mudanças e se tiveram alguma influência na sociedade judaica. Uma breve
comparação dos livros de êxodo, Números e Levíticos com o texto de Deuteronômio 16,1-
17 identificou as mudanças que as Festas sofreram.
Este capitulo tem como objetivo falar da origem popular das principais Festas
judaicas “Pesah, Semanas e Tendas” a partir do desenvolvimento da análise dos textos
bíblicos dos capítulos I e II. Como cada uma delas sofreram as suas mudanças e quais
foram as suas principais relevâncias para o povo de Israel. Falaremos também do nome de
cada Festa, o calendário destas Festas, bem como se sofreram algum tipo de mudança.
Analisaremos o calendário judaico e suas transformações no decorrer do tempo.

3.2 A ORIGEM DA FESTA DO PESAH

Ao falarmos da origem do pesah entramos num campo de muitas incertezas, e não


conseguimos ter dados suficientes para esclarecer sobre a celebração no período pré-
israelitas. O que podemos perceber através dos estudos dos textos no Antigo Testamento é
que o pesah tinha, na sua origem, um sabor tipicamente pastoral: migração para novas
pastagens na lua cheia da primavera; vestimentas para a viagem; alimentos de ocasião
(ervas amargas e pão cozidos sobre chapas de pedra); sacrifício para a fecundidade do
rebanho e sangue propiciatório contra as ciladas da viagem (RAVASI, 1985, pg. 59).
O pesah tem como sua origem uma celebração em que os pastores têm como o
recurso mais importante e precioso o rebanho. Quando colocamos o pesah como uma
celebração de pastores, estamos distinguindo o pesah das outras três Festas (Festa dos
Ázimos, Festa das Semanas, Festa das Tendas), estas Festas são consideradas como Festas
de peregrinação mencionadas nos mais antigos calendários litúrgicos (Êx 23,14-17; 34,18-
23), nota-se que a Festa do pesah não está representada nestes textos. No judaísmo, é a
etapa mais solene do calendário civil e litúrgico. Ocupa, porém, essa posição privilegiada
somente depois de ter percorrido um complexo itinerário, cujos inícios se perdem nas
83

arcaicas tradições nômades de povos pré-israelitas.


Para o pesquisador Lacoste (1998) o pesah era chamada de Festa da primavera, a
celebração ocorria durante a lua cheia, desenrola-se, portanto, de noite e reunia toda a
família. Seu ponto alto é a oferenda de um animal a YHWH, em sinal de dedicação e num
gesto de súplica, visando obter a proteção divina. A partir da imolação de um animal,
cordeiro ou cabrito, de um ano de idade, o pai de família cumpria o rito do sangue, depois
presidia uma refeição em que a carne da vítima tinha sido previamente assada. A vítima
oferecida é comida em uma refeição que sela a unidade dos membros da família entre si e
com YHWH (LACOSTE, 1998, pg. 1349).
Provavelmente no início, esta oferenda não era para YHWH, mas a alguma outra
divindade protetora do rebanho. Essa divindade talvez tivesse ligada à fertilidade ou a
doenças do rebanho, e sua ira precisava ser aplacada com oferendas. Só mais tarde é que
YHWH é incorporado na tradição até se tornar uma Festa anual do templo, sendo
introduzido como norma para todo o povo.
O rito do sangue e a refeição pascal são os elementos mais característicos do antigo
sacrifício do pesah. De início era só refeição, o pascal é um acréscimo posterior, quando a
Festa passa a ser ligada à tradição do Êxodo. O rito do sangue está associado ao rito da
refeição, que a completa manifestando a comunhão com a divindade que concede a chuva e
favores a fecundidade do rebanho. Dessa forma, o ritual está nitidamente separado do
âmbito secular. O sentido é que essa refeição alimenta, mas de forma diferente, não
devendo ser confundida com as refeições regulares.
A intenção do redator bíblico é mostrar que a revelação bíblica está associada à
história ou pretende ser histórica, pois o povo sabe que o lugar privilegiado para o
conhecimento e a celebração é a história. O pesah, nascido como rito não histórico e
naturalista, também faz parte da corrente histórica e humana, é retirada da natureza e é
inserida na história. O rito do sangue consiste em ungir as entradas das tendas com sangue
da vítima pascal, é um rito de proteção de valor, destinado a desviar as potências hostis e a
proteger delas a morada.
Com o sangue nas portas das tendas para afastar toda a força maligna, ou “o
exterminador” (no hebraico maxehit, Êx 12,13.23) ou saqueador, bando de destruição (1
Sm 13,17; 14,15), o exterminador maxehit poderia ser qualquer tipo de agressor,
enfermidade, desgraça, peste ou acidente que poderia ocorrer com os membros da família
ou os seus animais.
O medo do exterminador maxehit marca o pesah pré-israelita. Estas forças poderiam
84

trazer danos à vida dos pastores (Êx 12,1-13. 21-28). O rito é destinado a afastar os seres
que se encontravam fora da morada, já que a aplicação do sangue é feita só sobre as
ombreiras da entrada (Êx 12,23), mas também visava a proteção dos animais da família.
Não temos nenhuma referência de um santuário, nem sacerdote no pesah pré-israelita, era
uma celebração noturna e familiar.
Para Vaux (2003) o pesah aparece como um ritual de pastores e é um sacrifício de
nômades ou seminômades, aquele de todos os rituais israelitas que mais se aproxima dos
sacrifícios dos antigos árabes: não há intervenção de sacerdotes, não há relação com o altar,
mas há a importância do rito de sangue. Acontece na primavera o sacrifício de um animal
novo para obter a fecundidade do rebanho. É uma Festa que pode marcar, como tem sido
proposto, a partida para a transumância de primavera, mas que não é suficientemente
explicada por ela. É geralmente uma oferenda para o bem do rebanho, como era a antiga
Festa árabe do mês de radjab, o primeiro mês da primavera. Os outros detalhes do pesah
acentuam esse caráter de Festa de nômades, come-se a vítima assada no fogo, sem que haja
necessidade de utensílios de cozinha, ela é comida com pão sem fermento, o que é ainda
hoje pão dos beduínos, e com ervas amargas, que não são legumes cultivados em uma
horta, mas plantas do deserto que os beduínos sabem escolher para temperar sua
alimentação frugal.
De acordo com Vaux (2003) esta Festa não é a oferenda dos “primogênitos” do
rebanho, os textos mais detalhados sobre a escolha da vítima e sobre os ritos da Festa não
estão escritos em lugar nenhum. Porém, Êx 34,19-20 inseriu a lei dos primogênitos entre a
prescrição da Festa dos ázimos e sua conclusão natural no v.20b, como mostra a
comparação com Êx 23,15, e Êx 13,1-2. 11-16, aproxima da lei dos primogênitos do pesah
e dos ázimos. É uma ligação artificial, para a qual a décima praga serviu de intermediária
na noite do pesah, YHWH feriu os primogênitos do Egito e poupou as casas marcadas pelo
sangue do sacrifício pascal, é por isso, diz Êx 13,15, que se imolam os primogênitos dos
animais e que se resgatam os primogênitos do homem. Mas, esta ligação é secundaria, nada
a expressa no ritual pascal e a lei dos primogênitos é dada à parte no velho Código da
Aliança (Êx 22,28-29) (VAUX, 2003, pg. 526).
Por isso, para compreender plenamente as páginas pascais do Êxodo, é necessário
“celebrá-las” na liturgia, como o fará sistematicamente o judaísmo. O pesah torna-se
então, uma Festa eminente eclesial a dois níveis. Antes de tudo a nível familiar, como o
atesta Êx 12,3-4: “Ao dez deste mês cada um tomará para si um cordeiro por família (...).
Mas se a família for pequena para um cordeiro, então se juntará com o vizinho (...)”. O
85

pesah é sinal de unidade profunda da família, que se acha completa ao redor do cordeiro
em uma ceia de comunhão. A tenda familiar, portanto, é o primeiro lugar para a celebração
e o chefe da tenda o pai é o presidente desta pequena assembleia litúrgica. Considerada
uma Festa muito antiga, a Festa do pesah remonta à época em que os israelitas ainda eram
seminômades, ela é até anterior ao Êxodo.

3.3 A ORIGEM DA FESTA DOS PÃES ÁZIMOS

Enquanto o rito do pesah teve sua origem na esfera semi-nômade, a Festa dos pães
Ázimos (Matzá) pertencia à esfera agrícola e as observâncias são de fundos diferentes, é
portanto, característica de povos sedentários, que por meio dela, celebram o início da ceifa.
Devemos começar a considerar o nome da Festa. É chamado a Festa dos pães Ázimos em
Êx 23,15; 34,18.
Não é possível estabelecer o vínculo entre o pão não-levado e a Festa, mas sabe-se
que este costume é muito antigo e que também existia fora de israel. Em dois textos (Êx
23,14-16 e 34,18-23), a Festa aparece junto com duas outras Festas anuais, também
relacionadas com o ciclo da colheita. Dessa forma, estamos diante de uma celebração
originalmente agrária, que foi depois vinculada com a história da libertação. Significativo é
que esta migração se deu de um ritmo cíclico, pertencente ao âmbito do sagrado e
ritualístico, para um evento pontual e irrepetível, relacionado com a história (ANDIÑACH,
2006, pg.157).
O primeiro documento legislativo importante ao lidar com a Festa do pão Ázimo
pertence a um dos extratos mais antigos da lei judaica “o Código da Aliança”. Isto assume
uma posição decisiva em favor da interpretação histórica da Festa: Êx 23,14-16 “Três
vezes no ano me celebraras Festa. A Festa dos pães Ázimos guardarás; sete dias comerás
pães ázimos, como te tenho ordenado, ao tempo apontado no mês de abibe; porque nele
saíste do Egito...”
Não se pode concluir muito do texto porque existe um silêncio sobre o rito do
cordeiro. No entanto, esse texto é significativo pois fala sobre a "Festa dos pães ázimos",
aplicando o nome agrícola. Nota-se também como ele justifica sua prescrição do texto
legislativo: "porque nele saíste do Egito”. Esta justificativa é importante e nos diz
algo sobre a necessidade de explicar a liturgia, uma vez que deixa o único simbolismo
simplesmente natural. Um observador contemporâneo ao participar de uma refeição com
pão sem fermento, podia compreender o seu significado óbvio, especialmente dentro de um
86

contexto específico (MAERTENS, 1964, pg. 113).


O significado original do rito parece ter sido o seguinte: Os agricultores reunidos
nos santuários e a terra cultivada na colheita de cevada, a fim de desfrutar os primeiros
grãos novos e os pães frescos em uma devota observância. Nada fermentado era permitido,
pois o novo não podia ser misturado com a produção do ano anterior. Ofertas à deidade,
sacrifícios e agradecimentos cerimônias de entrega provavelmente estavam ligadas a esse
rito.
Toda celebração é dirigida para YHWH. O texto de Êx 23,14 que remete as ações
de YHWH para com o povo de Israel é característico. A colheita de ação de graças é para
YHWH sozinho. Porém, enquanto o festival é tirado da religião de Baal, as ações culticas
excluem o mito da natureza.
O festival é centralizado, os homens têm de aparecer "diante da face do Senhor
Deus" (Êx 23,17; 34,24) e no Êx 33,19 a casa do Senhor é mencionada. A existência de um
santuário central certamente deve ser pressuposto para o culto nos calendários de Êx 33 e
34. Tentativas foram feitas para historicizar a Festa dos pães Ázimos, bem como o pesah.
O lugar ocupado pela Festa dos pães Ázimos no culto do calendário das três Festas anuais
mostra claramente que era uma Festa de peregrinação como foi celebrado todos os anos. As
duas passagens Êx 33,15 e 34,18, aponta para o período anterior à monarquia. Para o
período monárquico de 1 Reis 9,25 (2 Crônicas 8,13) testemunha o status e a importância
da primavera festiva (KRAUS, 1965 pg.47)
Para Vaux (2003) a Festa dos pães ázimos é uma Festa agrícola que só começou a
ser celebrada após a entrada em Canaã, como diz Lv 23,10 a propósito do primeiro feixe. É
possível que os israelitas tenham emprestado esta Festa dos cananeus. Pode-se evocar a
este respeito a execução dos descendentes de Saul no lugar alto de Gibeá, 2 Sm 21,9-11,
acontecida no princípio da ceifa da cevada, seguindo um ritual não israelita (VAUX, 2003,
pg. 528).
É importante dizer que para Vaux (2003) em Israel a Festa dos ázimos sempre
estiveram ligados a semana, elas duram sete dias, Êx 23,15; 34,18, de um sábado a outro,
Êx 12,16; Dt 16,8; Lv 23,6-8, o que justificou a inserção da lei do sábado após a dos
ázimos em Êx 34,21, com a informação “foi no tempo...da ceifa”, que começa com os
ázimos. Esta relação com o sabá indica que não se trata só de sete dias quaisquer
consagrados a uma Festa, com equivalentes fora de Isarel, mas de uma Festa ligada ao
sistema da semana, e isto é confirmado pela contagem fixa a Festa das semanas sete
semanas após os ázimos, Lv 23,15; Dt 16,9.
87

A Festa dos ázimos mesmo de origem cananéia assumiu, parece que desde a sua
adoção, um caráter propriamente israelita. Sendo uma Festa agrícola, ela dependia do
amadurecimento da colheita e não podia ter data mais precisa que o mês de Abib, tal é o
estado dos calendários de Êx 23 e 34 e também do Deuteronômio.

3.4 A JUNÇÃO DA FESTA DO PESAH E A FESTA DO PÃES ÁZIMOS

Observou-se que a Festa do pesah era celebrada no mesmo mês da Festa dos pães
ázimos, e precisamente na lua cheia. Quando ela foi transformada pelo Deuteronômio e
pela reforma de Josias em uma Festa de peregrinação, como já era a Festa dos pães ázimos,
pareceu conveniente unir as duas datas, a própria prescrição antiga e independente de
comer pão sem fermento no pesah favoreceu esta combinação, talvez também a influência
de ritos locais, como o do santuário de Gilgal, Js 5,10-12. A data do pesah, já fixada na lua
cheia, continuou como era e os ázimos lhe foram ligados, seguindo-a imediatamente
durante sete dias.
No décimo quarto dia do primeiro mês é celebrada o pesah e no décimo quinto o
festival semanal de pão sem fermento começa (Lev. 23,4). No período após o Exílio a
Festa do pesah e do pão ázimo tinha o status e a dignidade da Festa principal da
comunidade cultural em Jerusalém. As medidas adotadas pelo rei Josias (2 Reis 23,21)
foram decisivas para este desenvolvimento, e seus significados tornaram-se cada vez mais
evidentes no período que se seguiu. Mas, é possível que a marca do predomínio do festival
da primavera foi influenciada pelo arranjo do calendário babilônico, em que o ano começou
na primavera (Êx 12,2). Particularmente por contraste com os grandes festivais de Ano
Novo com os quais os exilados se tornaram, a tradição da Festa do pesah e da pão ázimo
parece ter crescido em importância. Este desenvolvimento pode ser visto também no Norte
no período após o exílio.
Devemos observar que a celebração do pesah e a dos ázimos foram mais tarde
unidas à saída do Egito e associadas à lei sobre os primogênitos (Êx 13,1. 11-16). Este
nexo se explica pelo relato da décima praga (Êx 11) que atinge os primogênitos do Egito ao
passo que o flagelo poupa os israelitas graças ao sangue da vítima pascal (Êx 12,13). Por
essa razão, Êx 13,15 declara que todo primogênito do homem deve ser resgatado. Isso,
porém não transforma ao pesah num rito de oferenda dos primogênitos do rebanho
(LACOSTE, 1998, pg. 1350).
O texto de Deuteronômio 16,1-8 parece, a primeira leitura a unir Festa do pesah
88

com a Festa dos pães ázimos mais estreitamente ainda que os textos sacerdotais
apresentados. Para Vaux (2003) o texto é compósito. Os v.1,2,4b-7 são relativos ao pesah:
ela é celebrada no mês de abib, mas o dia não é indicado. A vítima pode ser escolhida entre
o gado grande ou pequeno e deve ser imolada ao pôr-do-sol, não no lugar onde se quiser,
mas “no lugar escolhido por YHWH para lá fazer habitar o seu nome”, a saber, em
Jerusalém. É neste santuário que ela deve ser assada e comida durante a noite, de manhã
cada um volta para casa. Já os v.3,4 e 8 remetem, por outro lado, aos ázimos, durante sete
dias, se comerá ázimos, um “pão de miséria” (VAUX, 2003, pg. 523).
Tanto a Festa do pesah, como a Festa dos pães ázimos eram Festas separadas e com
o passar do tempo e por serem duas Festas próximas na questão de datas, elas foram unidas
com um só proposito.

3.5 A ORIGEM DA FESTA DAS SEMANAS

Estudar a fundo a origem da Festa das semanas nos trará imensas hipóteses que
muitas vezes não iriamos conseguir solucioná-las. Tércio Siqueira (2016) diz:

“seria extremamente exaustivo tentar abordar a origem dessa Festa a


partir dos cananeus, ou de outros povos do Antigo Oriente Médio.
Todavia, é perfeitamente justo suspeitar que o costume de realizar a
Festa das semanas pertencia aos cananeus56”.

O autor expõe três razões que o leva a suspeitar que a Festa das semanas tem uma
forte descendência canaanita, e concordo com estas suspeitas.
A primeira é que os agricultores sedentários cananeus dominavam os férteis vales
de Canaã quando os hebreus chegaram a Canaã. Segunda hipótese seria que originalmente
os hebreus ou israelitas não eram agricultores, mas pastores de ovelhas, vivendo como
seminômades nas montanhas centrais e estepes localizadas nas periferias das ricas regiões
agrícolas de Canaã. A terceira e última hipótese é que pouco a pouco, o povo israelita veio
torna-se agricultor e sedentário. É interessante notar que todas estas hipóteses fortalecem o
desenvolvimento de que o povo teve com o passar dos tempos e com suas conquistas.
Não temos quase nada sobre a Festa das semanas no período pre-exilico, mas
encontramos bons materiais do período pós-exílico e os períodos judaicos tardios, que nos
últimos tempos tem sido minuciosamente investigado, obtivemos bons resultados sobre o

56
http://portal.metodista.br/fateo/materiais-de-apoio/estudos-biblicos/a-Festa-de-pentecostes-no-antigo-
testamento.
89

significado da Festa das semanas através dos estudos destes materiais.


Para Kraus (1965) a Festa das semanas é uma celebração que o povo israelita
herdou da cultura dos cananeus. Ela era expressão de gratidão pela colheita do trigo e da
cevada. Por isso, o jubilo da colheita e a alegria da Festa são as notas principais da
celebração (KRAUS, 1965, pg. 57).
A Festa das semanas foi ligada a história da salvação. Utilizando a indicação de Êx
19,1 segundo a qual os israelitas chegaram ao Sinai no terceiro mês após sua saída do
Egito, que aconteceu no meio do terceiro mês, se fez da Festa das semanas a comemoração
da Aliança. Já 2 Cr 15,10 mesmo que sem referência expressa à Festa das semanas, coloca
no terceiro mês uma Festa religiosa do reinado de Asa, para uma renovação da Aliança. A
ligação torna-se explicita no livro dos Jubileus, que põe no dia da Festa das semanas todas
as alianças que ele encontra no Antigo Testamento, desde a de Noé até a do Sinai. Era na
Festa das semanas que a seita de Qumram, que a si mesma chamava de comunidade da
Nova aliança, celebrava a renovação da Aliança, a mais importante de suas Festas (VAUX,
2003, pg. 530).
Afirma-se que a Festa das semanas tem em seu contesto uma Festa agrícola e sua
origem é anterior ao êxodo do Egito, comemorava a colheita de cereais no final da
primavera. Os hebreus adotaram essa prática antiga e em Israel costumavam oferecer os
cereais e os frutos dessa época do ano.

3.6 OS NOMES DA FESTA DAS SEMANAS

A Festa das semanas possui vários nomes, por exemplo: Hag há-Qatsir, Festa da
colheita (Êx 23,16), trata-se da última colheita do ano, a sega do trigo. Concretizava-se a
feição agrícola, na época do Templo, pela oferenda de dois pães.
Hag há-Shavuot, Festa das semanas (Dt 16,10; Êx 34,22), relativa as sete semanas
de ´omer: “contarás sete semanas. A partir do momento em que lançares a foice nas
espigas, começaras a contar sete semanas. O início da Festa acontece cinquenta dias depois
da Festa do pesah, com a colheita da cevada e finaliza com a colheita do trigo. Celebrarás
então a Festa das semana...(Dt 16,9-10).
Yom há-Bikkurim, dia das primícias (Nm 28,26), primícias da colheita, era como se
consideravam os dois pães mencionados em Lv 23,17, não se podiam oferecer as demais
primícias, sem antes as ter apresentado a YHWH (AVRIL, 1997, pg. 52). Para Tércio
90

Siqueira, este nome tem sua razão de ser na entrega de uma oferta voluntária, a YHWH,
uma oferta dos primeiros frutos da terra colhido naquela sega (Nm 28,26)

3.7 O TEMPO DA FESTA DAS SEMANAS

Como vimos anteriormente, a Festa do pesah era uma Festa caseira, celebrada com
a família em suas casas, já a celebração da Festa das semanas era uma celebração agrícola,
originalmente, realizada no local de plantio, no lugar onde se cultivava a cevada o trigo
entre muitos produtos que o povo plantava naquela época.
Segundo os livros de Lv 23,15-16; Dt 16,9 a Festa das semanas era realizada após
sete semanas da celebração da Festa dos pães ázimos. De acordo com Lv 23,15 as “sete
semanas” devem ser contadas a partir do dia seguinte o sábado. Em Dt 16,9 são “sete
semanas” desde o momento em que você começa a colocar a foice na colheita. Este cálculo
significa que a colheita da cevada e a colheita de trigo estão ligados por um período de sete
semanas, ou que a partir da Festa dos pães ázimos “sete semanas” ou “cinquenta dias” (Lv
23,16) devem ser contados. A Festa das Semanas foi originalmente o festival que concluiu
um período especial de sete semanas. Os costumes e ritos ligados a esta Festa foram
originalmente direcionados exclusivamente com a colheita (Êx 23,16; 34,22).
Para Kraus (1965) o júbilo da colheita e a alegria festiva são as principais
celebrações. Não há dúvida de que os israelitas adotaram as semanas da população cananea
nativa, o que significa que a todo o período das “sétimas semanas” foi retomado pelos
regulamentos culturais do Antigo Testamento. Não podemos afirmar com certeza o
significado original deste período “sete semanas”. Há pouca evidência para nos ajudar no
ambiente cananeu, mas não devemos ignorar o fato de que o “período de sete” era um
importante elemento da tradição cultica ugarítica (KRAUS, 1965, pg. 59).
Poucos textos como este de Lv 23,15-16 exprimem com sobriedade e profundidade
o sentido das Festas agrícolas e sua reinterpretação histórica realizada pelo povo bíblico.
Como qualquer uma das Festas de primícias, a das semanas expressa a atitude consciente
de Israel, de que os frutos da terra são dons de YHWH.
Fazendo as contas das “sete semanas”, a Festa das semanas acontecia na época
correspondente ao início do verão. Segundo Pereira (1997) a fixação destas datas
provavelmente decorreu da regulamentação sacerdotal que anexou a Festa das semanas à
Festa dos ázimos, regidas pelo ciclo agrícola. Porém, os ázimos foram conjugados com as
festividades do pesah, que era calculada pelo ciclo lunar que regia e definia os meses do
91

calendário. Isto aconteceu em torno do século VII a. E.C. para a organização da vida
religiosa (PEREIRA, 1997, pg. 19).

3.8 A ORIGEM DA FESTA DAS TENDAS

Nenhuma das três grandes e principais Festas anuais de Israel foi tão complexa em
sua história e sua tradição como foi a Festa das tendas. Por mais que tentemos afirmar
quando a Festa começou, quais eram seus principais objetivos, não temos detalhes de
quando começou e aonde começou. Podemos considerar que os principais mantenedores
desta Festa a tinham como uma Festa agrícola, a Festa das tendas estava vinculada à
perspectiva produtiva.
Deuteronômio 31,10 fala de uma celebração que veio "a cada sete anos" no tempo
da Festa das tendas. Em 1 Rs 8,1 fala de atos de adoração que devem ser considerados
quando chegarmos a examinar as tradições locais de Jerusalém. Segundo 1 Rs 9,25, no
tempo de Salomão, o festival de outono, celebrado no Templo e acompanhado de
sacrifícios, foi a principal Festa do ano. As oferendas de sacrifício são a tônica do festival
na regulação, Ez 14,2. Zc 14,16 reflete tradições características da Festa das tendas.
O pesquisador Araújo (2011) fala que no geral, pode-se afirmar que não existe
quase nenhum elemento comum entre os diversos relatos a respeito da Festa das tendas (Ex
23; 34; Lv 23; Nm 29 e Dt 16). Existe apenas uma característica que forma o fio condutor
entre estes diversos relatos, com exceção de Nm 29,23 o caráter agrícola da Festa, que
permanecerá durante o decorrer dos séculos como um elemento distintivo da Festa das
tendas. As demais características variam de livro para livro do Pentateuco.
Em geral, os textos falam de sete dias mais um, que é o oitavo (Lv 23; Nm 29; Dt
16). Os relatos da Festa das tendas, no Pentateuco, apenas afirmam a obrigação da
celebração anual desta Festa, junto com as outras duas, pesah e semanas, respectivamente.
Nos relatos que sucedem o Pentateuco encontraremos a Festa em relação com a vida
pública de Israel (ARAÚJO, 2011, pg. 20).
A ação de graça para a colheita e alegria festiva foram a chave para a Festa (Dt
16,14, Lv 23,40). Os costumes do original agrícola podem ser claramente vistos em Juízes
21,19-21, danças faziam parte da Festa das tendas, em que se celebravam de modo alegre
as provisões de YHWH no deserto (Dt 16,15, Lv 23,41). No livro de Nm 8,18 “descanso
solene” observamos que, sobre o governo de Neemias foi acrescentado um dia a mais neste
período festivo.
92

Podemos dizer que o semanário da construção das tendas, era composto por vários
ramos de árvore de diferentes espécies e tamanhos, por exemplo: palmeiras e oliveiras.
Durantes os sete dias a família habitava nestas tendas realizando várias modalidades de
expressões religiosas, dentre ela destaca-se a leitura dos textos sagrados, que era a prática
constante no conjunto celebrativo, pois a identidade singular da formação de cada
praticante vinha deste momento de adoração.

Figura 2 - Cabana (Sucá)

Fonte: Avril, 1997, pg. 88

A partir de então, e sob a ótica dos camponeses, o espaço de representação era


construído para o desenrolar da solenidade, o qual passava a adquirir dimensões de
plenitude. Isso ocorria devido ao fato de que o local de produção tornar-se-ia ressignificado
pelos partidários da mesma crença, que atribuíam outro sentido àquele território,
revestindo-o de uma função simbólica específica para abrigar a presença do sagrado, numa
Festa de ação de graças. Assim, a árvore e os seus ramos representavam a fertilidade da
terra para essa civilização agrária, contudo, após o período do exílio babilônico, essa
exaltação atravessou por um processo de ressignificação (PETRUSKI, 2016, pg. 157).
A Festa das tendas sofreu sua primeira mudança quando passou a significar e a
comemorar a peregrinação de quarenta anos do povo de Israel no deserto do Sinai, durante
este período o povo viveu em tendas e estavam a caminho da terra prometida. Desta forma,
a Festa agrícola tem sua primeira transformação, ao ser situada na vida nômade do povo no
deserto.
A pesquisadora Petruski (2016) diz que a modificação de perspectiva é justificada a
partir do momento que os expatriados vivenciaram algumas celebrações que os moradores
da Mesopotâmia faziam para o seu Deus da chuva e da fertilidade chamado Baal, e
93

relacionaram-na com a sua, pois a mesma possuía uma proximidade com a realizada pelos
cativos. Assim, quando os exilados retornaram à sua terra, e o culto se tornou centralizado,
a primeira mudança no conjunto celebrativo se operou.
Tal mudança estava relacionada ao local de sua execução, isto é, ela deixou de estar
centrada no campo para ocorrer no interior ou no entorno do santuário, onde se
desenvolviam todas as demais cerimônias nacionais desse povo. Assim, operou-se uma
espiritualização histórica, ou seja, de uma Festa agrária retirou-se todos os seus elementos
agrários, para dar luz a acontecimentos ligados ao deserto, relacionados, sobretudo, à
Aliança do Sinai (PETRUSKI, 2016, pg. 158).
Considerada a Festa da última colheita do ano, sobretudo do vinho e do óleo, a Festa
das tendas era celebrada com um ritual muito rico e original. Tinha particular importância o
assim chamado rito de Lulav57 e a Libação da água58. O rito de lulav está ligado ao
mandamento do Levítico, segundo o qual a Festa das tendas deve ser celebrada do seguinte
modo: “No primeiro dia, tomai frutos de cedro, ramos de palma, feixes de mirto e dos
salgueiros das ribeiras, e alegrai-vos diante de YHWH, vosso Deus, durante sete dias” (Lv
23,40).
Os peregrinos fieis a estas normas se dirigiam ao templo de Jerusalém, trazendo na
mão esquerda um cedro e na mão direita um ramo de palma entrelaçada com mirto e
salgueiro, cantando louvores (Sl 113-118) os agitavam no ar, na direção dos quatro pontos
cardeais.

Figura 3 - Lulav

57
O Lulav é a maior folha da palmeira.
58
Ritual realizado durante a Festa das tendas (Ez 47,1-10; Zc 14,6-16; Jo 7,37-39).
94

Fonte: https://br.pinterest.com/explore/lulav-and-etrog/?lp=true

De acordo com outra interpretação, Lulav representam as diversas categorias de


Israel e do gênero humano, que embora diferentes umas das outras, foram todavia, uma só
realidade e unidade.
No Lulav, eram utilizadas quatro espécies de plantas: a palmeira, o mirto ou murta,
o salgueiro e a cidreira. As três primeiras eram reunidas num feixe simbolizando a colheita
do outono. Um detalhe que precisamos considerar em relação à Festa das tendas é que se
buscava pela chuva na próxima estação de plantio, pois era ela que preparava e fertilizava a
terra para um novo período de boa colheita.
O rito de Libação da água se desenvolvia da seguinte maneira: os sacerdotes
carregavam, por toda a noite, a água em garrafas douradas, da fonte de Siloé até o átrio do
templo, acompanhados pela população em Festa, que trazia tochas e lanternas, dançavam,
cantavam, recitavam salmos de peregrinação (124-134) e tocavam instrumentos musicais.
A água era utilizada de manhã como libação durante o culto da manhã.
Vale lembrar que para esse povo seria uma maldição se as chuvas não caíssem no
período certo, como pode ser constatado nos textos em Dt 28,23-24; 38-40 e Lv 26,10-20.
As Sagradas Escrituras também trazem alguns relatos de tristeza do povo em relação a falta
de chuvas nos campos, levando padecimento e penúria a determinadas comunidades (Jr
14,2-6 e Am 4,7-8) (PETRUSKI, 2016, pg. 158).
É uma Festa muito popular até hoje em Israel, quando é costume criar pequenas
cabanas (Sucá) nos jardins das casas, onde se celebra a ocasião. A Festa, que normalmente
é celebrada no mês de setembro (15 de Tishrei, no calendário hebraico), com uma semana
de duração, recorda ao judeu a história da salvação, sobretudo a peregrinação de 40 anos
pelo deserto, quando o povo hebreu não possuía casa própria e nem terra, vivendo em
cabanas, em tendas. É uma das três Festas em que o povo peregrinava até o Templo de
Jerusalém, uma das três mais importante, junto com o pesah e semanas.

3.9 OS NOMES DA FESTA DAS TENDAS


95

Quanto ao nome da Festa, também aqui não temos um fio condutor. A obra do
Êxodo usa a expressão “Festa da Colheita” (Êx 23,16; 34,22) porque é uma celebração de
ação de graças para as bênçãos da colheita, enquanto Levítico e Deuteronômio preferem a
expressão “Festa das tendas” (Lv 23,34 e 43; Dt 16,13 e 16; 31,10) porque comemorou a
proteção de YHWH ao povo, e como eles moravam em cabanas durante a sua permanência
no deserto. Uma particularidade é Lv 23, que junto com a expressão “Festa das tendas”
também usa “Festa do Senhor”. Lv 23, ordena o uso de ramos e habitar em tendas durante
sete dias, como memória da saída do Egito e caminhada do deserto.
O nome da Festa em hebraico “sukkot”, que literalmente significa "cabines" ou
"cabanas", é representado na Vulgata latina como tabernacula, da qual derivamos a
designação “Festa dos Tabernáculos” esta expressão é usada mais no Novo Testamento.

3.10 O TEMPO DA FESTA DAS TENDAS

De acordo com o Código da Aliança, a Festa das Tendas deveria acontecer no final
da temporada da colheita, nos últimos dias do ano civil (Êx 23,16). Se compararmos com o
nosso calendário, o período ora citado corresponde ao mês de Outubro.
Para a pesquisadora Petruski (2016) nas primeiras vezes em que essa festividade se
sucedeu, não havia estabelecido um dia fixo para a sua salinização, pois a mesma dependia
do tempo de amadurecimento dos frutos, o que era variável na região devido ás
interferências climáticas. A instituição de uma data fixa para sua execução só ocorreu após
o período do primeiro exílio babilônico em 598 a.C., quando os sacerdotes do Templo a
firmaram no 15º dia do 7º mês – Tishri (que era o último mês do calendário). Uma vez que
o dia dos judeus começa ao pôr-do-sol, a Festa começa ao pôr-do-sol na conclusão do dia
14 e continua por sete dias até o pôr-do-sol após o 21º dia no mês judeu Tishri. Assim, após
o término da colheita e a partir do instante em que a mesma estivesse devidamente
armazenada e salvaguardada, era o momento de cumprir com o que YHWH havia
estabelecido aos homens (PETRUSKI, 2016, pg. 154).

4 A REFORMA DAS FESTAS PELO REI JOSIAS


96

De acordo com o relato da reforma em 2 Rs 22,23, que parece ser baseado, em


geral, em anais oficiais, enquanto 2 Cr 34,35 é menos fidedigno, o sumo sacerdote
Helcides descobriu o livro da lei ou Protodeuteronômio no Templo de Jerusalém. Essa
afirmação tem sido interpretada de várias maneiras. Não pode, porém, ser colocada
nenhuma questão quanto a uma possível fraude sacerdotal ou quanto a uma descoberta no
sentido de origens lendárias para legitimar documentos novamente compostos. Devemos
supor que realmente foi descoberto um rolo, depois de ter estado no Templo durante um
tempo considerável. Isso podia ser fruto do costume de se depositarem documentos
importantes no Templo (2 Rs 19,14). Se o Protodeuteronômio se originou como um livro
da Lei composto no Reino do Norte e revisto em Jerusalém, é razoável supor que tenha
sido conservado no Templo depois de ser revisado e talvez no contexto das medidas
iniciais tomadas contra os cultos assírios, redescoberto mais ou menos acidentalmente.
Quando o rei Josias recebeu o rolo pelo sacerdote Helcias ele percebeu que a lei não estava
sendo obedecida e ordenou imediatamente a consulta a YHWH. O rei aconselhou-se com
os anciões de Judá e convocou uma assembleia geral do povo no recinto do templo de
Jerusalém. Com a leitura do rolo pelo rei Josias houve uma comoção pelo povo e todos os
aceitaram como uma nova lei que não estava sendo colocada em prática. Todas as
obrigações que foram lidas do rolo tornaram-se obrigatórias para o rei e o povo.
Seguindo a aceitação do livro da Lei, Jerusalém e seus arredores junto do Templo
foram purificados. Os pertences do culto assírio foram removidos e destruídos, naquilo que
ainda não tinha sido feito. A reforma fez uma tentativa de eliminar o culto de Baal da vida
religiosa de Israel, houve a eliminação dos vasos religiosos e imagens dedicadas a Baal e
Asherah (2 Rs 23,4-6). Este esforço foi reforçado pela legislação de Deuteronômio 7,15. O
segundo ato foi a centralização do culto em Judá, todos os santuários existentes por toda a
zona rural foram considerados culturalmente impuros e ordenou-se a todos os sacerdotes de
YHWH que se apresentassem em Jerusalém (SELLIN e FOHRER, 2007, pg. 382).
Willi-Plein (2001) fala que logo que a informação do conteúdo do livro fora lida o
rei Josias encaminha uma rigorosa reforma cultual (2 Rs 22,3-5. 8-10), cujo o objetivo é o
cumprimento da exigência deuteronomista de centralizar o culto. Correspondendo à
unicidade de YHWH (Dt 6,4 será, daí para frente, o fundamento da profissão de fé
israelita), deverá haver também um só santuário, onde ele deixará habitar seu nome e onde
ele deixará os israelitas sentirem sua benignidade, no culto sacrifical.
A reforma de Josias identifica esse único lugar do culto com Jerusalém. Também
Israel tornou-se potencialmente unificado, reunindo-se três vezes por ano, nas três
97

principais Festas de peregrinação (Dt 16), no único lugar, na presença de YHWH (WILLI-
PLEIN, 2001, pg. 120).
Em Deuteronômio 16,1-8 vemos o processo pelo qual Deuteronômio (como o
"Livro da Lei" que foi a base da reforma de Josias em 2 Reis 22) procura elevar o pesah,
que os israelitas celebraram anteriormente em casa, em um festival de peregrinação e ao
mesmo tempo, a fim de preservar o número tradicional de três Festas de peregrinação e
para colocá-lo no lugar da Festa dos pães Ázimos, que também foi observada na primavera
(KRAUS, 1965 pg.50).
Em 2 Reis 23,21 “Deu ordem o rei a todo o povo, anunciando: Celebrai o
sacrifício de pesah, a Yahweh, o Eterno, vosso Deus, exatamente como está escrito no
Livro da aliança!”, aprendemos como foi adotada e observada a lei prática de adoração no
período de Josias. Esse relato faz ponto especial que não pode ser negligenciado e
certamente o povo não havia guardado tal pesah nos dias dos juízes que julgaram Israel,
nem em todos os dias dos reis de Israel, nem dos reis de Judá, mas no décimo oitavo ano do
rei Josias foi o pesah guardado ao Senhor em Jerusalém.
Esta passagem destina-se a deixar bem claro que quando pensamos na Festa do
pesah como peregrinação e Festa do santuário, não devemos pensar nisso como uma
inovação absoluta, mas como a reintrodução de um velho costume do período antes da
monarquia. A tendência tem sido considerar esta referência a uma tradição cultual do
período dos juízes como sem fundamento histórico e para vê-lo como a reivindicação de
um conservador movimento consciente da tradição.
Se perguntarmos se existe alguma evidência nas tradições do Antigo Testamento do
período dos juízes de um pesah que todo o Israel celebrou, somos confrontados por Josué
5,10-11.

“Enquanto os filhos de Israel estavam acampados em Gilgal,


celebravam o sacrifício de pesah, no décimo quarto dia do mês, ao pôr
do sol, nas planícies de Jericó. 11 No dia seguinte à pesah, comeram dos
produtos daquela terra: pães sem fermento e grãos de trigo tostados”.

Que se refere a Festa do pesah e a Festa dos pães Ázimos que foi comemorada por
"todo Israel" em Gilgal. Na medida que Josias incluiu a Festa do pesah como uma das
Festas de peregrinação e centralizou a Festa no templo, isso significou uma mudança
extraordinária e nova para o período monárquico.
As medidas adotadas pelo rei Josias (2 Reis 23,21) foram decisivas para este
98

desenvolvimento e seus significados tornaram-se cada vez mais evidentes no período que
se seguiu. A adoração que Israel praticava com a Festa do pesah e do pão ázimo não caiu
completa do céu, mas foram sendo aperfeiçoadas com o passar do tempo. A Festa do pesah
e a Festa dos pães ázimos eram ao princípio duas Festas separadas, e o que parece, a
primeira era mais antiga que a segunda. E é possível que elas tenham sido juntadas com as
Festas das semanas e das tendas pela primeira vez na Reforma de Josias.
Podemos considerar este aspecto da “reforma” de Josias como nada além de uma
ação administrativa para apertar o controle estatal sobre agricultura, indústria e comércio.
Josias representando as preocupações da classe dominante que buscava a riqueza,
apropriou-se destas tradicionais celebrações religiosas. Ao centralizar as três principais
Festa judaicas Josias também estaria fortalecendo o seu governo economicamente, tudo
estaria centralizado no templo de Jerusalém fortalecendo o seu governo e sua
administração.

5 O CALENDÁRIO JUDAICO

Com o desenvolver da organização e estruturação da sociedade judaica no pós-


exílio, as Festas já assimiladas passam por uma regulamentação, ou seja, estabelece-se um
calendário padrão a ser seguido.
As tradições do calendário cultual passam por uma adaptação muito decisiva e
ajuste no Deuteronômio. A observância das três grandes Festas anuais é estabelecida neste
calendário cultual abrangente. Como em Êx 23,I7 e 34,23, depois das três ordenanças o
mandamento principal é novamente definido como um resumo em uma fórmula final.
Se começarmos a partir desta fórmula conclusiva em Deuteronômio 16,16-17,
podemos ver imediatamente o primeiro problema que o texto deuteronômico apresenta. O
v.16, em comum com os calendários culticos mais velhos, tais como encontramos em Êx
23,14-17 e 34,18-23, exige para a primavera apenas uma Festa dos pães ázimos. Já no livro
de Deuteronômio 16,1-8, por outro lado, surge um festival chamado de pesah com
regulamentos detalhados, dos quais não houve menção nas antigas leis cultuais ou que foi
indicado com apenas algumas notas rituais em conexão com o calendário do culto (Êx
23,18, 19b; 34, 2, 5, 26b).
Os requisitos Deuteronômicos, portanto, pela primeira vez incluem o pesah nos
regulamentos culticos do calendário de festividade, e relaciona-o com a Festa dos Pães
Ázimos. Para Kraus (1965) isto dá origem a uma discrepância, que deve ser explicadas por
99

uma análise do texto. Uma Festa de sete dias de pães ázimos, cujo último dia deve ser
celebrado por uma assembleia cultual (Dt 16,8) não pode ser conciliada com o regulamento
em (Dt 16,7), de acordo com o qual deve voltar à sua casa na manhã seguinte a refeição do
pesah.
Se compararmos o calendário cultual do Deuteronômio com os regulamentos mais
antigos em Êx 23,10 e Êx 34,18 o que particularmente, juntamente com muitos pontos de
detalhe é que uma demanda de centralização e uma extensão do círculo dos que tomam
parte no culto vem à tona. Estes parecem ser os objetivos dos autores que são responsáveis
pela concepção deuteronômica.
Também não devemos ignorar as conexões com as reformas do culto de Josias, rei
da Judéia. Entretanto, seria um erro não tomar nota dos traços característicos da teologia e
da tradição Deuteronomistas que também apontam para o período mais antigo. Diferentes
extratos de regulamentos e conceitos em Deuteronômio 16,1-17 não podem ser plenamente
compreendidos e adequadamente explicados meramente do ponto de vista da crítica
literária (KRAUS, 1965, pg. 28).
Portanto, o primeiro resultado provisório da nossa análise a ser observado, é que o
calendário cultual Deuteronômico está ligado ao regulamento relativo ao pesah com a
instituição da Festa dos pães ázimos, ligam o regulamento relativo do pesah com a
instituição da Festa dos pães sem fermento que a tendência para a centralização emerge, e
que, em comparação com práticas anteriores, o círculo dos que participam no culto é
alargado.
MCMurtry (2012) classifica as três Festas judaicas, cujas festividades anuais eram:
Pesah – 14 de abib (nisã); Pães Ázimos – 15-21 de abib (nisã); Semanas, ou Pentecostes –
6 de sivã; Toque de Trombeta – 1° de etanim (tisri); Dia da Expiação – 10 de etanim (tisri);
e, Tendas – 15-21 de etanim (tisri), com uma assembleia solene no dia 22. As festividades
periódicas antes do exílio, que eram: Sábado semanal; Lua nova; Ano sabático (a cada 7
anos); e, Ano do jubileu (a cada 50 anos). E as festividades pós-exílio, que eram:
Festividade da Dedicação – 25 de quisleu; e, Festividade de Purim – 14, 15 de adar
(MCMURTRY, 2012, pg. 15).

Figura 4 – Equivalência dos Meses do Ano do Calendário Judeu (Conforme


calendário lunar = 354 dias)
100

Fonte: Dias, 2006, pg. 37

1º. Nisan Março/Abril (30 dias)


2º. Iyyar Abril/Maio (29 dias)
3º. Sivan Maio/Junho (30 dias)
4º. Tammuz Junho/Julho (29 dias)
5º. Av Julho/Agosto (30 dias)
6º. Elul Agosto/Setembro (29 dias)
7º. Tichri Setembro/Outubro (30 dias)
8º. Marhechwan Outubro/Novembro (29/30 dias)
9º. Kislev Novembro/Dezembro (29/30 dias)
10º. Tevet Dezembro/Janeiro (29 dias)
11º. Chevat Janeiro/Fevereiro (30 dias)
12º. Adar Fevereiro/Março (29 dias)
13º. VeAdar (mês “embolístico” ou totobUhm = “junto”, de 30 dias
em sete vezes de cada ciclo de 19 em 19 anos lunares e
sempre nos anos 3,6,8,11,14,17,19)

Figura 5 – O Calendário Judaico e a Correspondência com o Calendário Ocidental

Fonte: Coelho, 1999, pg. 25

O autor explica que as três principais Festas judaicas, que eram periódicas, por
vezes foram denominadas de “Festas da peregrinação”, uma vez que reunia todos em
Jerusalém, em épocas fixas, cujas celebrações eram designadas pelo termo hebraico
“Moh‛édh”. Contudo, o termo “hhagh” era utilizado para se referir de forma exclusiva a
cada uma das celebrações.
101

Essas são as principais Festas que fazem parte da tradição judaica, desde as mais
antigas até as contemporâneas. Contudo, a essa pesquisa interessam apenas as três
primeiras, que são conhecidas, majoritariamente, como as três principais Festas judaicas.

6 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS

Ao analisar as três principais Festas judaicas, percebemos que não podemos afirmar
com toda a clareza como elas surgiram. O que sabemos é que cada uma destas Festas
sofreu transformações com o decorreu do tempo.
A Festa do pesah que era usada para a proteção do rebanho e da família e era uma
Festa familiar foi com o passar do tempo sendo transformada até chegar ao templo de
Jerusalém. Logo no início da Festa do pesah ela não tinha como objetivo adorar a YHWH,
provavelmente ela tinha como objetivos adorar a outras divindades protetoras dos
rebanhos.
O pesah é sinal de unidade profunda da família, que se acha completa ao redor do
cordeiro em uma ceia de comunhão. A família, portanto, é o primeiro lugar para a
celebração e o chefe da família o pai é o presidente dessa pequena assembleia litúrgica.
Considerada uma Festa muito antiga como já vimos, a Festa do pesah remonta à época em
que os israelitas ainda eram seminômades, e podemos dizer que ela é até anterior ao Êxodo
e sofreu alterações até ser centralização no templo de Jerusalém.
A Festa dos pães ázimos tem como sua origem a esfera agrícola e as observâncias
são de fundos diferentes, é portanto, característica de povos sedentários, que por meio dela
celebram o início da ceifa. Não é possível estabelecer o vínculo entre o pão não-levado e a
Festa, mas sabemos que esse costume é muito antigo e que também existia fora de Israel. A
Festa dos ázimos assumiu, parece que desde a sua adoção, um caráter propriamente
israelita, sendo uma Festa agrícola, ela dependia do amadurecimento da colheita e não
podia ter data mais precisa que o mês de abib.
Vimos também que a Festa do pesah e a Festa dos pães ázimos eram duas Festas
separadas, porém comemoradas no mesmo mês, e precisamente na lua cheia. Com a
reforma do rei Josias estas duas Festas foram unidas em uma comemoração apenas. No
décimo quarto dia do primeiro mês é celebrado a Festa do pesah e no décimo quinto a
Festa dos pães ázimos. No período após o Exilio a Festa do pesah e a Festa dos pães
ázimos tinham o status e a dignidade da Festa principal da comunidade cultural em
Jerusalém.
A segunda Festa do calendário judaico é a Festa das semanas, sua origem não
102

sabemos com certeza, o que sabemos que era uma Festa também voltada para a agricultura,
e que depois com o passar do tempo foi centralizada no templo. Para Kraus (1965) a Festa
das semanas é uma celebração que o povo israelita herdou da cultura dos cananeus. Ela era
expressão de gratidão pela colheita do trigo e da cevada. A Festa das semanas também foi
ligada à história da salvação. Os israelitas adotaram essa pratica antiga e em Israel
costumavam oferecer os cereais e os frutos dessa época do ano no templo de Jerusalém
como um ato de agradecimento pela boa colheita.
Considerada a terceira Festa mais importante, a Festa das tendas era uma Festa
muito complexa. Por mais que tentemos afirmar quando a Festa começou, quais eram seus
principais objetivos, não temos detalhes a este respeito. Podemos considerar que os
principais mantenedores desta Festa a tinham como uma Festa agrícola, a Festa das tendas
estava vinculada à perspectiva produtiva da colheita. É uma Festa muito popular até os dias
de hoje no templo de Jerusalém em Israel e como de costume o povo cria pequenas cabanas
(Sucá) nos jardins das casas e no templo de Jerusalém, onde se celebra a Festa.
Quando estudamos a reforma de Josias vimos com clareza as transformações que as
Festas sofreram, estes relatos estão principalmente no livro de 2 Rs 22-24. A reforma de
Josias identifica um único lugar do culto em Jerusalém. Também Israel tornou-se
potencialmente unificado e tendo somente um local de adoração. Os templos que existiam
fora de Jerusalém foram todos destruídos e os sacerdotes foram convidados a adorar
somente a YHWH no templo central de Jerusalém. Esta reforma também teve um objetivo
político e econômico. Com a centralização das Festas em Jerusalém Josias pretendia
fortalecer a economia de Jerusalém.
Ao estudarmos o calendário judaico percebemos que com o desenvolver da
organização e estruturação da sociedade judaica no pós-exilio, as Festas já assimiladas
passam por uma regulamentação, ou seja, estabelece-se um calendário padrão a ser seguido
pelo povo. As tradições do calendário cultual passam por uma adaptação muito decisiva e
ajuste no Deuteronômio. A observância das três grandes Festas anuais é estabelecida neste
calendário cultual abrangente. Os requisitos Deuteronômicos, portanto, pela primeira vez
incluem o pesah nos regulamentos culticos do calendário de festividade, e relaciona-o com
a Festa dos pães ázimos.
103

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As Festas assinalam importantes momentos na vida de uma pessoa ou


comunidade. Elas sempre fizeram parte das tradições do povo de YHWH, que celebrava
ocasiões especiais como, por exemplo, nascimento, colheitas e outros tipos de festividades.
Fizeram também parte dessas tradições especialmente as Festas religiosas que eram
observadas anualmente, como expressão de culto em gratidão e honra a YHWH.
A presente dissertação buscou analisar as três principais Festas judaicas - a Festa
do Pesah e Pães Ázimos; a Festa das Semanas e a Festa das Tendas -. Nesse contexto, além
de pesquisadores da atualidade, foram consultados vários comentários bíblicos, os livros
bíblicos do Antigo Testamento, que formam o Pentateuco (Genesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio).
O estudo baseou-se, prioritariamente, na análise do texto de Deuteronômio, livro
bíblico do Antigo Testamento que tem seu conteúdo bastante debatido por estudiosos
contemporâneos, que contestam e divergem sobre a sua criação e autoria em grande parte
das exposições e afirmações ali encontradas.
Analisando, principalmente, a perícope de Deuteronômio 16,1-17, que explica as
principais Festas judaicas, pode-se afirmar que o texto procura levar o povo a uma
adoração a YHWH, no local onde foi escolhido para que se apresente em agradecimento
pelas bênçãos da proteção e boa colheita.
Seguindo o estudo da perícope de Deuteronômio 16,1-17, entende-se que o estudo
das Festas judaicas nos mostra um simbolismo ainda maior, pois a cada período bíblico o
formato das Festas judaicas era atualizado, sendo modificado em seu modo de realização,
local e época do ano.
No livro de Êxodo, por exemplo, as três Festas aparecem como ritos de adoração e
agradecimento a um Deus que protege o rebanho, as colheitas e principalmente a família.
Já em Deuteronômio esses ritos são modificados e a sua realização passa a se desenvolver
no templo de Israel, lugar definido como único para celebrar e levar as ofertas das famílias
a YHWH.
A primeira parte do trabalho procurou debruçar-se sobre o texto, começando pela
tradução literal interlinear: texto Massorético de Deuteronômio, a delimitação do texto, que
trata da perícope de Deuteronômio 16,1-17, pertencente a um bloco narrativo, chamado de
“livro da lei”. Este bloco narrativo também conhecido como terceiro grande discurso de
Moisés, tem o seu início no capitulo de Deuteronômio 12,1 e termina com os mandamentos
104

que fazem referências às três peregrinações anuais ao santuário central: a Festa do Pesah
(hag pesah) e dos Pães Ázimos (hag matzá) (v.1-8), Festa das Semanas (hag xabu´ot) (v.
9-12) e a Festa das Tendas (hag sukkōt) (v.13-15). Essas Festas são consideradas as
principais Festas judaicas dentro do calendário judaico.
Conforme Von Rad (1966) a perícope de Deuteronômio mostra a dificuldade que
Israel encontrava para desenvolver conteúdos teológicos teóricos a partir de si mesmo. Esse
estilo Deuteronômico, caracterizado pela repetição de uma típica combinação de palavras,
tem do princípio ao fim uma característica exortativa e constitui-se de palavras dirigidas ao
interlocutor a fim de conquistá-lo.
O conteúdo da perícope também é estudado neste capítulo, evidenciando o
contexto histórico e social do povo de Israel ao longo das frases, estrofes e termos. No
segundo capítulo o caminho percorrido foi comparativo. Fez-se uma análise das três Festas
judaicas citadas acima e a comparação das suas versões entre os livros de Êxodo, Números
e Levítico com a perícope de Deuteronômio 16,1-17 que foi a base desta pesquisa. Quanto
à Festa do Pesah e Pães Ázimos, se compararmos o Livro de Êxodo e Deuteronômio pode-
se afirmar que é a que mais apresenta transformações e mudanças relevantes.
A Festa do Pesah tem seu início como um ritual pequeno, que ocorre no seio
familiar, cujo objetivo era a gratidão pela proteção do rebanho e pela proteção da família.
No decorrer da história se torna a mais importante comemoração do ano, para a qual as
famílias se deslocam até o templo de Jerusalém, em peregrinação, para festejar no único
local designado como sagrado para receber o povo que trazia suas ofertas e rituais, este
com objetivo de gratidão, pela proteção de YHWH. Um dos principais motivos da
centralização da Festa no templo de Jerusalém também visa a centralização do tributo, que
o povo trazia em forma de oferta, para a manutenção de toda a estrutura do templo,
composta por sacerdotes e um grande grupo de funcionários. Visa também a unificação do
Estado em torno da proposta da reforma do rei Josias, no século VII a.C,. pois, um culto
descentralizado representa um país difícil de governar.
O livro de Êxodo diz como deveria ser o preparo para esta Festa: começar quatro
dias antes do dia 14 do mês (Êx 12,6). Posteriormente, a tradição judaica fixou como dez o
número de pessoas para quem um cordeiro deveria ser repartido e também declarou que
todos os membros da família, homens, mulheres e crianças, deveriam participar da Festa.
Há outras diferenças significativas na comparação entre Êxodo e Deuteronômio sobre a
Festa do Pesah. Entre elas a escolha do animal a ser oferecido no ritual, a forma de preparo
para o consumo pelas pessoas, o mês de sua realização e o horário do oferecimento do
105

sacrifício.
Para o pesquisador Dias (2006) o livro do Deuteronômio impõe à Festa ao pesah
uma anamnese em que a dimensão funciona quase à maneira “sacramental.” “O pesah
não é apenas um acontecimento do passado histórico de Israel, a sua historicização
litúrgica tornou-a centro de gravidade e eixo de todo o culto ao longo do ano litúrgico
judaico, dando-lhe dimensão anamnésica-litúrgica-escatológica” (DIAS, 2006, pg. 31).
Em relação à Festa das Semanas, também conhecida como Festa da Colheita ou
Pentecostes, o pesquisador McMurtry (2012) diz que falar das suas origens seria uma tarefa
extremamente exaustiva, já que a mesma, data da época dos cananeus e de outros povos do
Antigo Oriente Médio, dos quais não se possui muitas informações.
Segundo ele, é possível presumir que o costume da realização da Festa das
Semanas foi originalmente pertencente aos cananeus, por três principais razões: os
agricultores sedentários cananeus tinham domínio de terras férteis dos vales de Canaã no
período em que os hebreus chegaram a esse local; de forma original, os hebreus não tinham
a prática agrícola, mas sim de pastoreio, logo, viviam como seminômades nas montanhas
centrais e regiões das ricas periferias das regiões agrícolas de Canaã; e, gradativamente o
povo israelita se tornou agricultor sedentário. Contudo, esta conclusão de McMurtry (2012)
deve ser contestada, uma vez que já há meio século se tem comprovado de que o povo de
Israel é originário do próprio povo cananeu. Mas, se pode resgatar desta teoria a
confluência entre povos seminômades das estepes, que praticavam o pastoreio e os povos
sedentários que praticavam a agricultura. Esta mescla de costumes está por trás da Festa
das semanas.
Duas preocupações cruciais surgem quando se analisa a Festa das Semanas: a
gratidão pelos frutos da terra, que no caso do trigo e da cevada são a base da alimentação
do povo, e a comunhão, uma forma de gratidão que vai além da pessoa, estendendo-se ao
grupo, à comunidade e à sociedade. A transformação da Festa das Semanas foi quase
inevitável em Israel, uma vez que ao longo da história toda a tradição e costumes foram
sendo reinterpretados a partir da adoração à YHWH.
A Festa das Semanas marca o final da temporada do pesah e as principais
características do evento é o fato de que era alegre e solene. A celebração tinha dedicação
exclusiva à YHWH e era aberta a todos os produtores, seus familiares, pobres, levitas e
estrangeiros. A participação de todos familiares, pobres, levitas e estrangeiros era muito
importante e significava que não deveria haver diferenças na sociedade e povo de YHWH.
106

A prática da Festa das semanas vai contra uma sociedade que exclui os pobres e
estrangeiros de participar das celebrações.
A transformação da Festa das Semanas foi quase inevitável em Israel, uma vez
que ao longo da história toda a tradição e costumes foram sendo reinterpretados a partir da
adoração à YHWH e a centralização da Festa no templo de Jerusalém foi de uma
importância considerável para o povo judeu.
Já a Festa das Tendas ou Tabernáculos era um evento em comemoração à colheita
de outono e era considerada a terceira principal Festa judaica. O primeiro dia da Festa das
Tendas era o 15º dia do sétimo mês do ano. A ideia da Festa era a colheita dos frutos
típicos da época, marcando a saída do ano agrícola, além de viver ao longo de sete dias em
tendas, ou seja, habitações provisórias.
A tenda em si, para os pouco familiarizados, era o local em que o senhor habitava
no meio de seu povo, recebendo dele adoração e sacrifício, falando com ele no período da
antiga aliança. Essa é a temática da Festa das tendas, quando YHWH habita com seu povo,
de forma que o uso das áreas e utensílios das tendas, tal como a disposição dos rituais desse
evento, se encontram nos capítulos 25, 26 e 27 do livro do Êxodo. As tendas eram
preparadas para servir de habitações pelo espaço de sete dias, e o povo habitava nelas em
meio a demonstrações de alegria, lembrando-se de como YHWH havia tirado o povo de
Israel do Egito, provendo-lhes, no deserto, o necessário.
Tendo iniciado também como Festa familiar, com o passar do tempo foi
centralizada no templo e a família passou a construir tendas no templo como um ato de
adoração a YHWH. Mesmo tendo sido atualizada, entre as três principais Festas de
tradição judaica, foi a que sofreu menor impacto, em termos de mudanças ou alterações.
A terceira e última parte deste trabalho foi dedicada à análise da origem popular
das principais Festas judaicas “Pesah, Ázimos, Semanas e Tendas”. Também foram
exploradas as mudanças sofridas por estes eventos através dos tempos e as suas principais
relevâncias para o povo de Israel, tanto no período do Antigo Testamento, como também as
heranças deixadas e que ainda têm reflexos nos dias atuais. Depois de todo o estudo
realizado sobre as três principais Festas judaicas, não é possível afirmar com precisão
como foi o surgimento de cada uma delas. O que ficou claro por meio da pesquisa foram as
transformações que elas tiveram, envolvendo desde o formato de execução, período do ano
e, principalmente, o seu simbolismo para o povo.
Ao falarmos da origem do pesah, não se tem dados suficientes para esclarecer
sobre a sua celebração no período pré-israelita. O que se sabe é que esta Festa originou-se
107

como uma celebração em que os pastores têm como o recurso mais importante e precioso,
o rebanho. Quando colocamos o pesah como uma celebração de pastores, estamos
distinguindo o pesah das outras três Festas (Ázimos, Semanas e Tendas), consideradas
como Festas de peregrinação, mencionadas nos mais antigos calendários litúrgicos (Êx
23,14-17; 34.18-23). No judaísmo, o Pesah, é a etapa mais solene do calendário civil e
litúrgico. Este privilégio ocorre depois de ter percorrido um complexo itinerário, cujos
inícios se perdem nas arcaicas tradições nômades de povos pré-israelitas.
Vimos também que a Festa do ázimos tem como sua origem a esfera agrícola.
Observamos que a Festa do pesah e a Festa dos pães ázimos eram duas Festas separadas
mas comemoradas no mesmo mês, e com o passar do tempo por serem bem próximas elas
foram unidas.
A Festa das semanas também tem como sua origem uma Festa voltada à
agricultura. Para Kraus (1965) a Festa das semanas é uma celebração que o povo israelita
herdou da cultura dos cananeus. Ela era expressão de gratidão pela colheita do trigo e da
cevada. A Festa das semanas também foi ligada à história da salvação. Os israelitas
adotaram essa prática antiga e em Israel costumavam oferecer os cereais e os frutos dessa
época do ano no templo de Jerusalém como um ato de agradecimento pela boa colheita.
Considerada uma Festa muito complexa, mas que sofreu poucas mudanças no
decorrer dos tempos, a Festa das Tendas é considerada a terceira Festa mais importante no
calendário judaico. Por mais que tentemos afirmar quando a Festa começou, quais eram
seus principais objetivos, não temos detalhes de quando começou e aonde começou.
Podemos considerar que os principais mantenedores desta Festa a tinham como uma Festa
agrícola, a Festa das tendas estava vinculada à perspectiva produtiva da colheita. É
considerada até os dias de hoje uma Festa muito popular no templo de Jerusalém em Israel
e como de costume o povo constrói pequenas cabanas (Sucá) nos jardins das casas e no
templo de Jerusalém, onde se celebra a Festa. Não é no templo, mas ao redor, fora das
muralhas, onde era o templo em Jerusalém. O templo não existe mais.
Neste último capítulo também foram analisadas a reforma que estas três
principais Festas tiveram no período do rei Josias. Considerado um dos principais
reformistas das três grandes Festas citadas acima. Josias quando encontra o livro perdido
de Deuteronômio, lê o livro e percebe que precisa fazer algumas reformas nestas três
Festas. Seu interesse, além de religioso, é sobretudo político, pois via no culto o meio para
centralizar o poder e ampliar seu domínio sobre novos territórios. Uma das reformas que
estudamos foi a unificação da Festa do pesah e a Festa dos pães ázimos, bem como a
108

centralização das três Festas no templo de Jerusalém. Também Israel tornou-se


potencialmente unificado, tendo somente um local de adoração. Os templos que existiam
fora de Jerusalém foram todos destruídos e os sacerdotes foram convidados e obrigados a
adorar somente a YHWH no templo central de Jerusalém. Esta reforma também teve um
objetivo político e econômico. Com a centralização das Festas em Jerusalém Josias
pretendia fortalecer a economia e o poder de Jerusalém.
Ainda serão necessárias muitas pesquisas sobre a três principais Festas judaicas. O
estudo destas Festas no Novo Testamento, que não foi apontado neste estudo, pode ser de
grande esclarecimento e pode trazer respostas mais claras sobre o significado das Festas.
De certa forma, acredito que os meus estudos sobre a três principais Festas judaicas não
terminam aqui e que este estudo foi somente o ensaio para uma nova etapa de estudos
sobre este assunto tão significativo para a compreensão da cultura dos povos da Bíblia e
para os que hoje se orientam por ela.
109

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