Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Aos meus pais, José Moacir e Margarida, meu infinito agradecimento. Sempre
acreditaram em minha capacidade. Obrigado pelo amor incondicional!
Ao meu sogro Candido Reis, à minha sogra Carmem Reis meu agradecimento
especial, pois a seu modo sempre se orgulharam de mim e confiaram em meu trabalho.
Obrigado pela confiança!
Ao Prof. Dr. José Ademar Kaefer pela sua orientação, total apoio,
disponibilidade, pelo saber que transmitiu, pelas opiniões e críticas, total colaboração ao
solucionar dúvidas e problemas que foram surgindo ao longo da realização deste
trabalho, bem como por todas as palavras de incentivo.
Ao Prof. Dr. Tércio Machado Siqueira, pela atenção e dispor que sempre
demonstrou. Aos meus queridos irmãos da IASD Central de Santo Amaro, pelo
carinho e paciência para comigo.
Este período nos mostrou a verdade sobre nosso relacionamento, somos uma
Família! Sou grato por cada gesto carinhoso, cada sorriso, e ansioso por estar ao seu
lado, com nossas filhas Geovanna Lessi e Marianna Lessi, o resto da minha vida.
Salmos 34,15
LESSI, Silvano Tansini. UMA ANÁLISE DAS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS
A PARTIR DE DEUTERONÓMIO 16,1-17. São Bernardo do Campo: UMESP, 2017.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) - Faculdade de Humanidades e
Direito, Universidade Metodista de São Paulo - UMESP.
SINOPSE
A pesquisa trabalha as três principais Festas judaicas: Festa do pesah (juntamente com
a Festa dos pães ázimos), Festa das semanas e a Festa das tendas, trazendo um
embasamento teórico que perpassa os livros bíblicos do Antigo Testamento. Como pano
de fundo principal, esta pesquisa utilizou o conteúdo de Deuteronômio 16,1-17. Pode-se
dizer que não se conseguiu afirmar quando surgiram cada uma das Festas, entretanto
observou-se que estas Festas sofreram transformações no decorrer do tempo até os dias de
hoje. As comparações feitas através do estudo de textos do Antigo Testamento deram uma
visão melhor sobre estas transformações. A unificação da Festa do pesah com a Festa dos
pães ázimos, por serem Festas próximas uma da outra no calendário judaico, foi uma das
transformações importantes. Outra foi a centralização das três principais Festas no templo
de Jerusalém. A análise também perpassa pelos impactos que estas mudanças causaram
sobre o povo de Israel. O povo que tinha por costume comemorar as Festas num ambiente
familiar teve que mudar o local de suas adorações. A reforma feita pelo rei Josias também
teve grande impacto para o povo judeu. Podemos dizer que esta reforma teve uma
finalidade política e econômica. Por fim, também foram analisadas as mudanças que
ocorreram no calendário das três Festas. A Festa do pesah que era comemorada no mês de
Tisri passa a ser comemorado no mês de Abib no livro de Deuteronômio 16,1-17.
Palavras-chave: Festa do pesah, Festa dos pães ázimos, Festa das semanas, Festa das
tendas, Deuteronômio 16,1-17.
LESSI, Silvano Tansini. AN ANALYSIS OF THE THREE MOST IMPORTANT
JUDAIC FEASTS ACCORDING TO DEUTERONOMY 16,1-17. São Bernardo do
Campo, UMESP, 2017. Thesis (Master of Sciences of Religion) - Humanities and
Law Faculty, Universidade Metodista de São Paulo - UMESP.
ABSTRACT
The research deals with the three most important Judaic Feasts: The Feast of Pesah (
Feast of Unleavened Bread), The Feast of Weeks and the Feast of Tabernacles, with a
theoretical basis that has the view of the biblical books of The Old Testaments. As
backdrop, this research has used the content of Deuteronomy 16, 1-17. It's said that it
wasn't for sure when each of these feasts appeared, but it was said that these feasts have
suffered alterations in the course of time until nowadays. The comparisons made
through the study of the texts in The Old Testaments have given a better view about
these alterations. The unification of The Feast of Pesah with The Feast of Unleavened
bread since they were close by each other in the Judaic calendar was one of the most
important alterations. Another one was the centralization of the three important feasts in
the temple of Jerusalem. The analysis also shows the impacts that these changes have
caused over the people of Israel. The people who used to celebrate the feasts in a
familiar surrounding had to change the place of their worship. The change made by
King Josiah also had a great impact over the Jewish people. It's said that such change
had a political and economic reason. At last, it was analyzed the changes that had
occurred in the calendar of the feasts. The Feast of Pesah which used to be celebrated
in the month of Tisri was then celebrated in the month of Abib, in Deuteronomy 16, 1-
17.
KEY WORDS: Feast of Pesah, Feast of Unleavened Bread, Feast of Weeks, Feast of
Tabernacles, Deuteronomy 16, 1-17.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 18
CAPÍTULO I ................................................................................................................ 22
1 ANÁLISE EXEGÉTICA DE DEUTERONÔMIO 16,1-17 ................................... 22
1.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 22
1.2 TRADUÇÃO: DEUTERONÔMIO 16,1-17 ............................................................ 22
1.2.1 Tradução literal interlinear .................................................................................... 22
1.2.2 Tradução literal: Texto Massorético de Deuteronômio 16,1-17............................ 28
2 DELIMITAÇÃO DO TEXTO.................................................................................. 29
3 ANÁLISE DA ESTRUTURA DO TEXTO ............................................................. 32
4 ANÁLISE DA COESÃO DO TEXTO ..................................................................... 32
5 GÊNERO LITERÁRIO ........................................................................................... 34
6 DATA E AUTOR ....................................................................................................... 35
7 ANÁLISE DO CONTEÚDO .................................................................................... 39
7.1 A FESTA DO PESAH E PÃES ÁZIMOS (V.1-8 ) ................................................. 39
7.2 A FESTA DAS SEMANAS (V.9-12) ...................................................................... 47
7.3 A FESTA DAS TENDAS (V.13-15) ....................................................................... 50
7.4 RESUMO DAS PEREGRINAÇÕES ANUAIS (V.16-17) ..................................... 51
8 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS ............................................................. 52
CAPÍTULO II ............................................................................................................... 54
2 AS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS JUDAICAS SEGUNDO OS LIVROS DO
ÊXODO, NÚMEROS E LEVÍTICO .......................................................................... 54
2.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 55
2.2 AS TRÊS PRINCIPAIS FESTAS SEGUNDO: PESAH (ÊX 12,1-14; ÊX 23,18 E
34,25; LV 23,5-8; NM 28,16-25), SEMANAS (LV 23,15-22; NM 28,26-31), TENDAS
(LV 23,33-44; NM 29,13-39) ......................................................................................... 55
2.2.1 Textos sobre a Festa do pesah e pães ázimos (Êx 12,1-14; Êx 23,18 e 34,25; Lv
23,5-8; Nm 28,16-25) ..................................................................................................... 55
2.2.2 Comparação de Êx 12,1-14 com Deuteronômio 16,1-8 ........................................ 55
2.2.3 Comparação de Lv 23,5-8 com Deuteronômio 16,1-8 .......................................... 60
2.2.4 Comparação de Nm 28,16-25 com Deuteronômio 16,1-8..................................... 62
2.2.5 Textos sobre a Festa das Semanas (Lv 23,15-22; Nm 28,26-31) .......................... 63
2.2.6 Comparação de Lv 23,15-22 com Deuteronômio 16,9-12 .................................... 63
2.2.7 Comparação de Nm 28,26-31 com Deuteronômio 16,9-12................................... 66
2.2.8 Textos sobre a Festa das Tendas (Lv 23,33-44; Nm 29,13-39)............................. 70
2.2.9 Comparação de Lv 23,33-44 com Deuteronômio 16,13-15 .................................. 70
2.2.10 Comparação de Nm 29,13-39 com Deuteronômio 16,13-15............................... 76
3 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS ............................................................. 79
CAPÍTULO III ............................................................................................................. 81
3 A ORIGEM POPULAR DAS FESTAS: PESAH, SEMANAS E TENDAS......... 81
3.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 81
3.2 A ORIGEM DA FESTA DO PESAH....................................................................... 82
3.3 A ORIGEM DA FESTA DOS PÃES ÁZIMOS ...................................................... 85
3.4 A JUNÇÃO DA FESTA DO PESAH E A FESTA DO PÃES ÁZIMOS................ 87
3.5 A ORIGEM DA FESTA DAS SEMANAS ............................................................. 88
3.6 OS NOMES DA FESTA DAS SEMANAS ............................................................. 89
3.7 O TEMPO DA FESTA DAS SEMANAS................................................................ 90
3.8 A ORIGEM DA FESTA DAS TENDAS ................................................................. 91
3.9 OS NOMES DA FESTA DAS TENDAS ................................................................ 94
3.10 O TEMPO DA FESTA DAS TENDAS ................................................................. 95
4 A REFORMA DAS FESTAS PELO REI JOSIAS ................................................ 95
5 O CALENDÁRIO JUDAICO................................................................................... 98
6 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS ........................................................... 101
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 103
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 109
LISTA DE IMAGENS
Tabela 1 - ...................................................................................................... 32
Figura 1 - Estela de Hamurábi (c. 1700 a.C.) contendo 282 leis, as quais
Ocidental......................................................................................................... 101
SIGLAS E ABREVIAÇÕES
Livros da Bíblia
Ag Ageu
Am Amós
Cr 1-2 Crônicas
Ct Cântico dos Cânticos
Dn Daniel
Dt Deuteronômio
Ec Eclesiastes
Eclo Eclesiástico / Sirácida
Ed Esdras
Et Ester
Ex Êxodo
Ez Ezequiel
Gn Gênesis
Hc Habacuque
Is Isaías
Jl Joel
Jn Jonas
Jó Jó
Jr Jeremias
Js Josué
Jud Judite
Jz Juízes
Lm Lamentações
Lv Levíticos
1 Mc Macabeus
2 Mc Macabeus
Ml Malaquias
Mq Miquéias
Na Naum
Ne Neemias
Nm Números
Ob Obadias
Os Oséias
Pv Provérbios
Rt Rute
Rs 1-2 Reis
Sb Sabedoria de Salomão
Sf Sofonias
Sl Salmos
Sm 1-2 Samuel
Tb Tobias
Zc Zacarias
NOAB New Oxford Annotated Bible. New Revised Standard Version With The
Apocrypha, an Ecumenical Study Bible. Oxford: Oxford Uni-versity Press, 2010
[Kindle Edition].
OBO Orbis Biblicus et Orientalis
Outras abreviações
INTRODUÇÃO
não era comido no banquete devia ser queimado antes do dia seguinte. Os participantes do
rito comiam em pé e vestidos para viagem. Borrifava-se sangue nos umbrais das portas
para afastar o anjo destruidor, que matou os primogênitos dos egípcios. A Festa
mencionada em Deuteronômio 16,1-5 modifica a prática ritual: a imolação do cordeiro
torna-se um ato quase sacrifical que deve ser realizado só no santuário, e o banquete
também deve ser comido no santuário (MCKENZIE, 1984, pg. 696).
A Festa do pesah baseava-se na oferenda de um cordeiro, o melhor do rebanho,
como forma de pedir proteção à família. Já a Festa do Pães Ázimos baseava-se em
consumir um pão assado sem fermento, feito somente de farinha de trigo e água. A
preparação da massa não devia exceder a 18 minutos para garantir que a massa não
fermentasse. De acordo com a tradição judaico-cristã, o pão Ázimo foi feito
pelos israelitas antes da fuga do Antigo Egito, porque não houve tempo para esperar até a
massa fermentar.
Do mesmo modo, a Festa das semanas que era voltada à agricultura, era realizada
no âmbito familiar, sendo posteriormente, a partir de Deuteronômio, trazida para o templo
como forma de agradecimento a Deus com um ritual.
A Festa das Tendas também foi transformada. O livro de êxodo é bem sucinto
quanto a esta comemoração, dizendo apenas que os primeiros frutos do trabalho das
famílias deveriam ser celebrado. Já o livro de Deuteronômio é mais rico em detalhes,
explicando que a celebração deveria começar após a colheita dos produtos, sendo
observados no templo por um período de sete dias, numa comemoração alegre e festiva que
deveria incluir toda a família, os empregados, o levita, o estrangeiro, órfão e a viúva, ou
seja, todos os menos abastados ou excluídos socialmente deveriam acompanhar o dono da
oferta, já que nesta época a Festa já era realizada no templo em Jerusalém.
Se compararmos com o Cristianismo, as três principais Festas judaicas representam
o Pesah, o Pentecostes e Tabernáculos que são assim chamadas em II Cr. 8:13 "Na Festa
dos Pães Ázimos, e na Festa das Semanas, e na Festa das Tendas." Páscoa é Pesah, que
significa passagem, em hebraico, derivado do fato de o anjo destruidor ter passado por
sobre toda a terra do Egito, na morte dos primogênitos, na instituição do pesah. Pentecostes
deriva de Penta, cinco em grego, em virtude de ser comemorada cinquenta dias após o
pesah, que é também chamada de Festa das Semanas, em virtude de acontecer sete
semanas, após o pesah. A Festa dos Tabernáculos é a terceira das três Festas principais, e é
chamada de Sucote, derivada de Sukáh, em hebraico, que significa Tendas ou Cabanas.
20
CAPÍTULO I
1.1 INTRODUÇÃO
ָׁלי ְ ָׁלה מִ מִ צ ְַרי ִם אֱ ֹלהֶיָך י ְהוָׁה הֹוצִיאֲ ָך
de noite. desde o Egito teu Elohim YHWH te fez sair3
1
ָׁ ָׁעשִיתverbo qal waw consecutivo perfeito 2ª pessoa masculino singular. Raiz [“ ] ָׁעשָׁהe farás”
2
שָׁמֹורverbo qal infinitivo absoluto.
3
הֹוצִי ֲאָךverbo hiphil perfeito, 3ª. pessoa masculino singular, sufixo 2ª. pessoa masculino singular. Raiz []יָׁצָׁא
“te fez sair”
23
שכֵּן
ַ ְל י ְהוָׁה אֲשֶר־י ִ ְבחַר בַמָׁקֹום ּובָׁקָׁר
para fazer residir5 YHWH que escolher6 no local e gado graúdo
20 21
escolher que no local e comerás E cozinharás22
25
ázimos comerás dias Seis de
תִ תֵּן אֲ שֶר י ָׁדְ ָך נִדְ בַת מִ סַת
30
deres que a tua mão a oferta voluntária de a medida de
24
ָׁ ְו ָׁה ַלכְתverbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]הלךandaras”
25
ת ֹאכַלverbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]אכלcomerás”
26
תַ ֲעשֶהverbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]עשהfarás”
27
ֵּמ ָׁהחֵּלverbo hiphil infinitivo construto. Raiz [“ ]חללdesde o começar”
28
תִ ְספָׁר־לְָׁךverbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]ספרenumerás”
29
ָׁ ְו ָׁעשִיתverbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]עשהfarás”
30
תִ תֵּןverbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]נתןderes”
31
יְב ֶָׁרכְָךverbo piel imperfeito 3ª. pessoa masculino singular, sufixo 2ª. pessoa masculino singular. Raiz []ברך
“abençoar”
26
ְו ַה ֵּלוִי וַאֲ מָׁתֶ ָך ְו ַעבְדְ ָך ּובִתֶ ָך ּו ִבנְָך
e o levita e tua serva e teu escravo e tua filha e teu filho
בַמָׁקֹום ְקִרבֶָך
ְ ב אֲ שֶר ְוהַָׁאלְמָׁ נָׁה
no local em teu interior que e a viúva
ָׁוְשָׁ מ ְַרת בְמִ צ ְָׁרי ִם ָָׁׁהי ִית כִי־ ֶעבֶד ְָׁוזָׁכ ְַרת 12
32
ָׁש ַמחְת ָׁ ְוverbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]שמחalegrarás”
33
י ִ ְבחַרverbo qal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]בחרescolher”
34
ָׁשמ ְַרת ָׁ ְוverbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]שמרquardarás”
35
ָׁ ָׁהי ִיתverbo qal perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]היהfoste”
36
ָׁ ְוזָׁכ ְַרתverbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]זכרrecordarás”
37
ָׁ ְו ָׁעשִיתverbo qal waw consecutivo perfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]עשהfarás”
38
תַ ֲעשֶהverbo qal imperfeito 2ª. pessoa masculino singular. Raiz [ “ ]עשהfarás”
27
ְו ַהי ָׁתֹום ְו ַהגֵּר ְו ַה ֵּלוִי וַאֲ מָׁתֶ ָך ְו ַעבְדְ ָך
e o órfão e o estrangeiro a o levita e tua serva e teu servo
41
teu Elohim a YHWH Festas dias Sete de
ּובְכ ֹל תְ בּוָאתְ ָך בְכ ֹל אֱ ֹלהֶיָך י ְהוָׁה
e em todo teu produto em todo teu Elohim YHWH
שָׁמֵּ ַח אְַך ְָׁו ָׁהי ִית י ָׁדֶ יָך מַ עֲשֵּה
44
alegre. certamente e serás tuas mãos feito de
45
aparecerá no ano vezes Três
ֵּריקָׁם י ְהוָׁה
vazio. YHWH
46
י ִ ְבחָׁרverbo qal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]בחרescolher”
47
י ֵָּׁר ֶאהverbo niphal imperfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]ראהaparecerá”
48
נָׁתַ ן־לְָׁךverbo qal perfeito 3ª. pessoa masculino singular. Raiz [“ ]נתןdeu”
29
6 - Porque se ao local que escolher YHWH, teu Elohim para fazer residir
nome dele ali, sacrificarás a pesah pelo entardecer, como entrar o sol,
época determinada de teu sair desde o Egito.
7 - E cozinharás e comerás no local que escolher YHWH, teu Elohim,
nele e te virarás pelo amanhecer e andarás para tuas tendas.
2 DELIMITAÇÃO DO TEXTO
30
Tabela 1 – Delimitação
Introdução 1,1-5
31
Conclusão 31,1-34,12
Como podemos ver a perícope de Deuteronômio 16,1-17, está dentro do livro da lei
e fala das três principais Festas judaicas, estas Festas são consideradas as mais importantes
para os Judeus. Os principais estudiosos possuem um consenso com respeito a delimitação
da perícope.
5 GÊNERO LITERÁRIO
6 DATA E AUTOR
Nos últimos anos o livro de Deuteronômio tem sido um dos livros mais contestados
com respeito à sua autoria mosaica. Para o autor Osvaldo (2006), apesar de Deuteronômio
dar evidências de que foi escrito por Moisés (cf. 1,5;31,9,24) e de o Antigo Testamento (1
Rs 8,53; 2 Rs 14,6) e o Novo Testamento (cf. Mt 19,7,8; At 3,22-23; Rm 10,19) afirmar
que Moisés como seu autor, apesar de as tradições hebraicas e cristã apoiar maciamente a
autoria mosaica, os críticos racionalistas, a partir do século 19, têm afirmado que
Deuteronômio é uma “fraude piedosa” produzida no século VII a.C. por reformistas de
Judá, que teriam usado o livro para dar ímpeto ás reformas religiosas de Josias, legitimando
e impondo Jerusalém como o único santuário aceitável em Israel. Afirmam que o tal “livro
da lei” mencionado em 2 Reis 22 era um documento recente, orientando a nação como
obra mosaica (OSVALDO, 2006, pg. 159).
Diante disso, seguem algumas considerações dos principais pesquisadores. Um dos
pesquisadores Jack Ford (2009) diz que o livro de Deuteronômio é composto quase que
inteiramente de discursos atribuídos a Moisés. Há também breves seções históricas
consideradas da narrativa de Moisés. Os estudiosos que o adotam, digamos, ponto de vista
de Wellhausen, sustentam com várias modificações, que Deuteronômio é uma composição
que contém algum material antigo, parte do qual derivado de Moisés, mas produzido por
36
um profeta ou escola de profetas pouco antes de 621 a.C. Neste ano, o livro da lei foi
descoberto por Hilquias, no Templo, e lido na presença do rei Josias (FORD, 2009, pg.
411).
Para Hoppe (1999) não existe um acordo universal quanto á crise especifica que
inspirou a criação do Deuteronômio. Uma das posições dos pesquisadores bíblicos,
mantidas a mais tempo, data do início do século XIX e identifica o livro de Deuteronômio
com o “livro da Lei” encontrado. Embora o livro inclua muito material datado do fim do
século VII a.C. e anterior, está claro que, na forma atual, o Deuteronômio data do Exílio
babilônico (587-539 a.C.). Essa data exílica para o Deuteronômio não elimina a
possibilidade de tradições mais primitivas terem sido usadas na criação do livro. Pelo
contrário, o Deuteronômio foi o resultado de uma reinterpretação consciente de antigas
tradições legais, a fim de dar a Israel, esperança para o futuro (HOPPE, 1999, pg. 188).
Entre os que defendem uma datação no século VII a.C, estão W. M. L. de Wete e
Julios Wellhausen, que argumentam basicamente que não há vestígios do Deuteronômio
nos profetas do século VIII a.C., ao passo que se percebe uma estreita relação entre
Deuteronômio e os profetas Jeremias e Ezequias (ambos do século VII). Não obstante,
argumentam também que nenhum outro conjunto de leis do Antigo Testamento
corresponde tão profundamente às medidas reformistas implantadas por Josias
(THOMPSON, 1982, pg. 58).
Von Rad (2006) diz que a configuração do Deuteronômio se deve aos levitas, que
não tinham nenhum interesse na monarquia do Norte, que no fim da monarquia estariam
empenhados num grande movimento de pregação. Quanto ao seu conteúdo, esta pregação
do Deuteronômio se prende a antiga tradição da anfictionia da aliança, conservada viva
pela prática do povo da terra. Como argumento para a origem do Norte, o autor aponta a
concordância entre Deuteronômio e Oséias (RAD, 2006, pg. 83).
Já López (2002) da mesma maneira como acontece com outros livros da Bíblia, o
Deuteronômio não se deve a um único autor, mas sim a vários autores e colaboradores. É o
resultado de um longo processo de formação que durou mais de séculos. A data chave é
proporcionada por 2 Reis 22-23. Neste texto conta-se que durante o reinado de Josias (640-
609 a.C.), mais concretamente no ano 622 a.C., realizaram-se reparações e reformas no
templo de Jerusalém, no curso das quais descobriu-se o “livro da lei”.
622 a.C. se transforma no ponto chave para a datação do Deuteronômio. Supõe-se que
nesta data já existia o núcleo primitivo do Deuteronômio atual. Ficaram por determinar as
origens do livro e seu desenvolvimento posterior. O Reino do Norte (Israel), anos antes da
queda de Samaria (721 a.C.) e Babilônia depois da destruição de Jerusalém (586 a.C.)
poderiam construir respectivamente os pontos de partida e de chegada, mais prováveis no
processo de composição do Deuteronômio (LÓPEZ, 2002, pg. 264).
A forma exata dos discursos de Moisés é impossível de precisar. Igualmente
impossível de precisar é a data exata da composição definitiva do livro. A posição adota
pelo presente comentário é que uma porção substancial de Deuteronômio vem de um
período muito anterior ao século VII a.C. Na verdade, pode ter assumido parte de sua
forma presente no período geral da Monarquia Unida. Tal posição daria uma data entre os
séculos XI e X a.C., dois ou três séculos depois da morte de Moisés (THOMPSON, 1982,
pg. 67).
Mediante estas colocações vamos analisar duas hipóteses: 1) Hipótese
Documentária Clássica. Defendida por Graf-Wellhausen, o Deuteronômio tem sua
formação principal (cap.12-26). No décimo oitavo ano do rei Josias (621 a.C.), os
trabalhadores que estavam reparando a casa do Senhor encontraram “o livro da lei”.
Quando foi lido para o rei, este rasgou as vestes, lamentando-se por seu povo ter sido
desobediente as palavras desse livro. Sua penitência provocou um avivamento religioso
(2Rs 22-23). 2) Hipótese Deuteronômista. Um grande número de pesquisadores chegaram
a datar “o livro da lei” de acordo com a teoria de que teria sido composto imediatamente
antes de sua descoberta em 621. Essa concepção não se sustenta diante do escrito
acadêmico do século XX. Alguns retrocedem a data de Deuteronômio aos dias de
Manassés, ou de Ezequias, ou de Amós, ou ainda antes, aos dias de Samuel. Alguns
concluíram que Deuteronômio era o resultado, não a causa, das reformas de Josias.
Figura 1 - Estela de Hamurábi (c. 1700 a.C.) contendo 282 leis, as quais proporcionam
comparações interessantes de forma e detalhes com as leis do Pentateuco (e.g. Dt
19,21).
38
analisado por técnicas recentes, revela uma unidade notável, apesar da aparente diversidade
em suas formas de discurso. Para Lasor, Hubbard e Bush (1999) se forem removidas as
glosas aparentemente posteriores e talvez alguns materiais nos capítulos finais, resta pouco
de Deuteronômio que não possa ser proveniente da época de Moisés. Com certeza há mais
probabilidade de Deuteronômio ter exercido grandes influências sobre os profetas que de
os profetas o terem produzido. Depois de dois séculos de estudos críticos, a evidência
talvez pareça indicar que, se Deuteronômio não for um registro das próprias palavras de
Moisés, é pelo menos uma tradição que representa Moisés com precisão e reflete com
fidelidade a aplicação por ele dada as leis e aos estatutos da aliança de YHWH de acordo
com as necessidades dos israelitas (LASOR; HUBBARD; BUSH, 1999, pg. 126).
7 ANÁLISE DO CONTEÚDO
“1. Guarda o mês de o abib e farás pesah a YHWH teu Elohim porque
em mês de o abib te fez sair YHWH teu Elohim desde o Egito de noite. 2.
E sacrificarás pesah a YHWH, teu Elohim, gado miúdo e gado graúdo no
local que escolher YHWH, para fazer residir o nome Dele ali. 3. Não
comerás sobre ele/com ele algo fermentado, sete de dias comerás com ele
ázimos, pão de aflição, porque com pressa saíste desde a terra do Egito,
para que recordes o dia de o teu sair desde a terra de Egito, todos dias
de tuas vidas. 4. E não aparecerá contigo fermento em todo teu território
sete de dias, e nem pernoitará de a carne que sacrificares pelo
entardecer no dia o primeiro para o amanhecer. 5. Não poderás
sacrificar o pesah, num de os teus portões, que YHWH, teu Elohim, o que
dá para ti. 6. Porque se ao local que escolher YHWH, teu Elohim para
fazer residir nome dele ali, sacrificarás o pesah pelo entardecer, como
entrar o sol, época determinada de teu sair desde o Egito. 7. E
cozinharás e comerás no local que escolher YHWH, teu Elohim, nele e te
virarás pelo amanhecer e andarás para tuas tendas. 8. Seis de dias
comerás ázimos, mas no dia o sétimo, assembleia festiva a YHWH, teu
Elohim, não farás obra”.
do Êxodo 12,2 que ele aparece pela primeira vez como o mês do pesah. Também
conhecido como o “mês das espigas verdes” Êx 9,31; Lv 2,14, este mês judeu, começava
entre o final de Março e o final de Abril, segundo a antiga tradição coincidia com o êxodo
do Egito e o rito pascal, os dois estavam ligados. A terminologia mais antiga sugere que a
lei em sua presente forma data de uma época em que a terminologia cananita ainda estava
em uso corrente. O fato de que Abib era na primavera, leva à conclusão que esta era uma
Festa da primavera e já que foi no mês de abib que YHWH tirara a Israel do Egito, a
historicização dessa Festa foi relativamente fácil para Israel.
O termo do v.1, 6 “te fez sair” ()הֹוצִיאֲָך, faz referência a libertação do povo de Israel
do cativeiro que eles viviam no Egito, e faz menção da libertação do Egito “de
noite” () ָׁליְלָׁה. Podemos ver que o povo saiu as presas e não observamos uma preparação
para a viajem que eles iriam fazer. Uma outra ênfase que encontramos “YHWH o teu
Elohim” ( )י ְהוָׁה אֱֹלהֶיָךsão as palavras que ocorre mais vezes dentro da perícope, (15 vezes),
quase todos os versos da perícope v. 1, 2, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 15, 16, 17, observe que teu
Elohim é uma afirmação para o povo que YHWH era o Elohim deles, e que o povo devia
adorar somente a YHWH como Deus e que não existia nenhum outro Deus. Esta expressão
é muito forte dentro da perícope, vemos uma repetição clara, onde o autor lembra a todo
momento Deus para o povo.
A palavra “pesah” ( ) ֶפסַחpode ser vista no v. 1, 2, 5, 6, faz uma referência para o
povo com respeito ao termo v. 3, 6 “o teu sair desde a terra do Egito” ()צֵּאתְ ָך ֵּמא ֶֶרץ ִמצ ְַרי ִם
podemos ver o pesah como um momento de libertação do povo da terra do Egito. São
oferecidas duas explicações diferentes para o significado do substantivo pesah: Primeira
são derivações do verbo psh, que apoiam as interpretações de pesah, uma derivação que
alguns estudiosos veem como meramente secundário, popular etimológica dos lexomas
historicamente não relacionados entre si e tenta em vez de derivar o significado de pesah de
uma consideração histórica dos arredores de Israel. Já na segunda os pesquisadores
interpretam pesah, como um rito da passagem, um festival lunar, um ritual de inspeção, e
apoiam o significado de psh como “passar por ou poupar”, outros a interpretam como
uma dança ritual ritmada retratando o Êxodo como uma dança lunar, ou como um rito de
fertilidade derivado dos saltos de fertilidade do longo dessas linhas interpretativas
(BOTTERWECK, 2011, pg. 1).
Para o pesquisador Mckenzie (1984) a palavra pesah tem um significado e
etimologia incertos. No uso, o termo parece designar tanto a Festa como a manducação do
animal no banquete festivo. O ritual do pesah é apresentado pela primeira vez no livro de
41
Êx 12,1-28, onde está relacionado com a Festa dos Ázimos. O rito consiste de um banquete
em que um cordeiro de um ano é comido. O cordeiro devia ser assado inteiro, e aquilo que
não era comido no banquete devia ser queimado antes do dia seguinte. Os participantes do
rito comiam em pé e vestidos para viagem. Borrifava-se sangue nos umbrais das portas
para afastar o anjo destruidor, que matou os primogênitos dos egípcios. A Festa
mencionada em Deuteronômio 16,1-5 modifica a prática ritual: a imolação do cordeiro
torna-se um ato quase sacrifical que deve ser realizado só no santuário, e o banquete
também deve ser comido no santuário (MCKENZIE, 1984, pg. 696).
Segundo o pesquisador Champlin (2001) a Festa do pesah que aparece em
Deuteronômio, e observada anualmente por Israel, durante toda a sua marcha pelo deserto,
agora estava sendo transferida para o santuário central, em Jerusalém. Logicamente, isso
foi feito por antecipação, mas acabou ocorrendo na realidade. Yahweh-Elohim baixou as
ordens acerca da festividade original, determinando a sua transferência. E o único Deus (o
Eterno Todo-poderoso, de acordo com os nomes usados) foi honrado dessa maneira.
(CHAMPLIN, 2001, pg. 818).
O “pesah” ( ) ֶפסַחe o “pães ázimos” ( )מַּצֹותestavam estreitamente relacionadas. Os
v.1-2 e 5-7 descrevem o pesah; os v.3-4,8 descrevem a Festa dos pães ázimos. Essas duas
Festas deviam lembrar o povo de Israel da obra redentora de YHWH a favor deles. A
importância do rito pascoal na celebração dos ázimos e a consequência subordinação dos
ázimos à pesah, mostram a importância crescente da Festa do pesah no povo de Israel. De
rito familiar (Êx 12) passou a ser uma Festa nacional, no santuário central. Para
compreender a importância do pesah e a sua união com os ázimos, nada melhor do que
mostrar a estrutura de Deuteronômio 16,1-7:
eco importante nos marcos externos, que iniciam e concluem, além do motivo do pesah
(A/A’). Do pesah se fala em B/B’, onde são detalhadas as circunstâncias locais (em A/A’
se acrescentam as circunstâncias temporais). O rito do pesah é especificado em C/C’, ponto
de enlace entre o pesah e os ázimos (LÓPEZ, 2004, pg. 258).
Consequentemente o termo do v.2 “e sacrificarás pesah” () ְוזָׁ ַבחְתָׁ ֶפסַח, este sacrifício
do pesah devia ser tomado de ambos, “o gado graúdo” (“ )ּו ָׁבקָׁרe o gado miúdo” )(צ ֹאן,
enquanto que para o pesah propriamente dita, indicava-se um cordeiro (Êx 12,3). A fim de
indicar o pesah de maneira mais específica, chamada de “a carne que sacrificares à tarde”
()מִן־ ַה ָׁבשָׁר ֲאשֶר תִ זְבַח ָׁבע ֶֶרב.
Os animais que podiam ser sacrificados vinham dos rebanhos: touros e carneiros
Nm 28.19,24. Em Lv 1,14-16 e II Cr 30,21-24; 35,7-9 encontramos as cinco espécies de
animais que podiam ser sacrificadas. O animal apropriado para os sacrifícios era o carneiro,
posteriormente, porém outros animais passaram a ser incluídos. O touro não substituiu o
carneiro conforme alguns têm pensado. O Targum de Jonathan distingue entre tipos de
oferendas. O animal original era o carneiro. Outras oferendas chegaram a acompanhar o
original, extraídas dos rebanhos, especialmente no caso das ofertas pacíficas (CHAMPLIN,
2001, pg. 819).
Outro termo a ser analisado aparece nos v.2, 7, 11, 15, 16 é “no local que escolher
YHWH” ( ) ַבמָׁקֹום ֲאשֶר־י ִ ְבחַר י ְהוָׁהou seja, no local central de adoração que veio a substituir
todos os demais santuários: o templo de Jerusalém. Quanto a essa “escolha”, feita por
YHWH, podemos ver Deuteronômio 12,5 que fala da centralização do culto.
Com o passar do tempo e com reformas feitas referente a Festa do pesah,
observamos que o livro da lei em Deuteronômio, centraliza o local de sacrifício do pesah
ao povo. Antes cada família fazia a sua celebração em suas casas, agora surge um novo
local. Esta mudança pode ser compreendida por meio da expressão “no local que escolher
YWHW teu Elohin”, ( ) ַבמָׁקֹום ֲאשֶר י ִ ְבחַר י ְהוָׁה אֱֹלהֶיָךque está em Deuteronômio 14,22.24.25;
15,19; 16,2.7.6.11.15.
O pesah deve ser mantido no lugar "YHWH optou por colocar nele seu nome" (v.
2b). O santuário originalmente mencionou a lei Deuteronômista, não é clara. Mas para
colocar em prática a lei, e manter o reino do sul, só podia ser entendido que foi construído
o templo de Salomão em Jerusalém.
Quando analisamos o v.6, 7 de Deuteronômio podemos ver que nesse santuário
deveria ir todo o povo de Israel para passar a noite do pesah (v.6, 7a), e na manhã seguinte,
aqueles que tomaram parte no culto deve ir "para as suas tendas", ou seja, para as suas
43
casas (v.7b). Com isso, o pesah é convertido novamente, como nos tempos antigos, em
uma Festa de peregrinação, quando tinha sido uma Festa de família há séculos. Através da
ligação do pesah para o santuário de Jerusalém devia garantir a pureza do ritual e garantir a
unidade do povo. Sempre em tempos de dificuldades e perigos religiosos, tem sido
motivado a força na unidade e é levado a unidade a pensar em se fortalecer. No entanto,
para o legislador Deuteronômista, a prescrição não foi ditada simplesmente por interesses
práticos. A lei da unidade de culto surgiu como uma consequência lógica da unidade
dogmática fundamental do YHWH (HAAG, 1980, pg. 84).
Para o pesquisador Römer (2008) existe apenas um único santuário legítimo em
Israel49, que corresponde ao templo de Jerusalém, embora o nome da cidade nunca seja
mencionado nem no Deuteronômio nem em todo o Pentateuco50. A centralização do culto
implica também centralização da economia e da política, como mostram as leis coligidas
em Deuteronômio 13-18 (RÖMER, 2008, pg. 11).
Muitos pesquisadores acreditam e avançam a hipótese de que o pesah era uma
combinação de duas Festas independente no início e alegam que a união destas Festas foi
uma consequência da centralização no templo de Jerusalém, tornando uma tendência
prática cultual de restringir o lugar do culto sacrificial a um único santuário. É usado o
livro de Deuteronômio para comprovar esta tese. Baseado no relato em 2 Reis 23, também
é muito frequentemente assumir que a primeira tentativa de centralizar o culto e,
consequentemente o pesah foi levada a cabo pelo rei judaico Josias no sétimo Século
(PROSIC, 2004, pg. 35).
Para a pesquisadora Prosic (2004) os objetivos na centralização nunca se
materializaram completamente. Apesar de se tornar o templo de Jerusalém nunca se tornou
o único templo onde YHWH foi adorado. Mesmo tão tarde quanto o período de Hasmoneo,
lá era o templo em Leontopolis, enquanto os samaritanos, mesmo depois de João Hircanus
destruiu seu santuário, obstinadamente se recusou a reconhecer a autoridade de Jerusalém e
continuou a considerar o Monte Gerizim como o lugar escolhido por YHWH.
A controvérsia entre os israelitas de Jerusalém e os samaritanos em relação ao
templo que será o único lugar legítimo do culto sacrificial talvez derive do livro do
Deuteronômio que, embora insista em um único santuário, nunca dá realmente a
49
Nos livros bíblicos, “Israel” é muitas vezes um termo altamente ideológico que denota, a partir de uma
perspectiva interna, os verdadeiros adoradores da divindade Javé.
50
Esta discrição pode ser explicada primeiramente pela ficção literária do Deuteronômio, segundo o qual a
eleição de Jerusalém ainda não é efetiva, já que o povo não entrou na terra e ainda não existe uma monarquia
(davídica). De modo mais geral, Jerusalém nunca é mencionada no Pentateuco, apesar de algumas alusões
claras (Gn 14; Dt 12). Este fato permitiu que o Pentateuco se tornasse a Escritura Sagrada não só para os
judaítas, mas também para os samaritanos (para os quais o lugar santo de Javé é o monte Garizim).
44
localização precisa do lugar ao qual o culto sacrificial deve ser restringida. Na maioria das
vezes, ele se refere a ele como o lugar que o Senhor escolherá para seu nome morar dentro.
Tanto quanto acadêmicos habitualmente conectar este lugar escolhido com Jerusalém, o
ponto é que ele poderia igualmente se referir ao Monte Gerizim ou para o assunto qualquer
outro local, enquanto o templo estiver na terra prometida e dedicado a Javé (PROSIC,
2004, pg. 36).
As leis do livro de Deuteronômio são instituídas para o futuro do povo de Israel.
Quando falamos da centralização do templo, podemos dizer que a centralização é parte de
um futuro idealizado e, como tal, uma projeção que ainda não foi encontrada e nesta
perspectiva, é possível afirmar que, em termos históricos, o Deuteronômio precedeu a
centralização. Por outro lado, é igualmente possível afirmar que, em vez de ser uma base
sobre a qual as disputas entre os judeus e os samaritanos foram construídas, a sua omissão
em Deuteronômio para nomear o templo central é um reflexo da realidade e pretende ser
um estratagema diplomático para dar legitimidade a Jerusalém e Gerizim.
Não podemos afirmar que o período histórico em que a legislação deuteronômica
foi formada. O que é importante é que, em termos de ligação da prática cultual a um único
lugar, há uma correspondência significativa entre a realidade da centralização e as
exigências do Deuteronômio.
Esse fato melhora significativamente a credibilidade deste livro bíblico como fonte
de informação. Nos tempos imediatamente antes da destruição do segundo templo, o culto
sacrificial, incluindo a observância das três principais Festas, foi realizado principalmente
no lugar escolhido de YHWH, como estipulado no Deuteronômio. Embora os efeitos da
centralização nas Semanas e Tendas dificilmente atraiam a atenção dos estudiosos, além de
reconhecer que eles deveriam ser realizados no santuário central, o Pesah é assumido como
tendo sido muito afetada por eles, tanto estrutural quanto funcionalmente. A linha básica do
raciocínio é que a observância do sacrifício do pesah, originalmente um rito familiar
realizado nas habitações familiares, foi transferido para o templo central, mudando assim o
seu caráter em uma Festa do templo de peregrinação.
A transformação levou à sua fusão com a Festa do pão Ázimos, o festival de
peregrinação original. Esta explicação baseia-se principalmente na diferença assumida na
apresentação do pesah nas fontes do Êxodo e nas comparações entre suas descrições e a do
Deuteronômio. As presumivelmente mais velhas fontes de E e J, que designam pão Ázimos
como uma Festa de peregrinação sem mencionar explicitamente o sacrifício do pesah, são
tomadas como prova de que este último não tinha o caráter de uma peregrinação antes da
45
centralização, uma vez que o Deuteronômio exige explicitamente que ela seja realizada no
templo no primeiro dia da Festa dos Pães Ázimos. É uma Festa de peregrinação que dura
sete dias e está marcada por dois traços distintivos, o sacrifício dos animais do pesah
(PROSIC, 2004, pg. 38). A centralização destas duas Festas tinha como objetivo fortalecer
o santuário central e unir o povo para uma adoração a YHWH no local onde ele havia
escolhido para ali morar. Embora o Deuteronômio não ser bem claro o local onde o povo
devia adorar a YHWH, podemos ver que os dados nos levar ao templo de Jerusalém como
local de adoração.
O termo “pão de aflição” ( ) ֶלחֶם עֹנִיque aparece no v. 3, assim chamado por causa
de sua associação com os terrores sofridos por Israel no Egito. Esse pão era insosso, tal
como as experiências dos filhos de Israel no Egito tinham sido sem atrativos. Esse pão
fazia-os lembrar da servidão e das privações pelas quais tinham passado. A circunstância
que ditava que não se deveria comer pão levedado acabou florescendo como uma Festa
separada, a dos Pães Ázimos. Alguns estudiosos supõem que essa Festa já existisse, e
acabou historicamente associada à Festa da Páscoa.
O povo de Israel, ao sair apressadamente do Egito, não foi capaz de fermentar a sua
massa, o que mostra a conexão e as circunstâncias históricas. Mediante as celebrações
anuais, Israel relembrar-se-ia de como YHWH os tirara do nada para a redenção na Terra
Prometida. A Festa do pesah e do Pães Ázimos nunca deveria ser esquecida. Servia de
memorial permanente do Poder divino, que os tinha libertado. Ação de graças e fidelidade
eram atitudes requeridas da parte do povo israelita, nessas comemorações.
O termo do v.7 “e cozinharás” (ש ְל ָׁת
ַ )ּו ִב, para o pesquisador Pfeiffer (2001), esta
palavra faz referência a refeição do pesah, são encontradas em Êx 12,1-51 e Deuteronômio
16,1-8. A palavra traduzida como "cozinhar" ( ) ַׁלכִןaqui, é traduzido "ferver" em outros
lugares (por exemplo, Êx 23,19, 1 Samuel 2, 13-15). Isto parece contradizer Êx 12,9, onde
os israelitas são orientados a não comer o pesah cru ou cozido. No entanto, 2 Cr 35,13
relata a celebração de uma Festa do Pesah, durante o reinado de Josias, e explica que as
pessoas "cozidos ( ) ַׁלכִןos sacrifícios do pesah sobre o fogo aberto. O uso de ַׁלכִןcom
"fogo" ( )ׁשְכsugere que a palavra poderia ser usada para falar de ferver ou assar.
As referências à pesah imediatamente depois dessa designação v.5, 6 também
devem ser tomadas evidentemente nesse sentido restrito. 7.a cozerás, e comerás criam sem
necessidade, um conflito com Êx 12,9, traduzindo o verbo beishal por “cozer”. Só a adição
específica de “com água” ou “em panelas” é que dá a este verbo hebraico o significado
definido de “cozer”. Quando definido mais extensamente com “no fogo”, significa
46
No v. 8 encontramos o termo “assembleia festiva” () ֲעצ ֶֶרת. O sétimo dia da Festa
era dia de assembleia solene a YHWH te Elohim (aseret). O termo é usado para descrever
reunião de gente para celebração de ritos públicos de qualquer espécie, especialmente no
sétimo dia do pesah ou no oitavo dia da Festa das Tendas, considerada uma reunião de
grande número de pessoas com determinado objetivo (THOMPSON, 1982, pg. 188).
Outra expressão que encontramos no v. 8 e deve ser destacada é “seis de dias
comerás ázimos” (ששֶת י ָׁ ִמים ת ֹאכַל ַמּצֹות
ֵּ ) essa festividade prolongava-se por seis dias, e o
sétimo dia era um sábado santo em que havia uma assembleia solene. Em outros trechos é
ordenado que o pão ázimo deveria ser comido por sete dias (Êx 12,1). Alguns
pesquisadores tentam harmonizar a questão, supondo que o ato de comer continuasse no
sétimo dia, e que esse dia também fosse um sábado santo, um dia de solene convocação.
Mas outros supõem que, em uma época posterior, houvesse algumas diferenças quanto ao
modus operandi da Festa. Nas diferenças podem surgir desenvolvimentos históricos
(CHAMPLIN, 2001, pg. 819).
“9. Sete semanas enumerarás para ti, desde o começar foice no cereal em
pé começarás para anunciar sete semanas. 10. E farás Festa de semanas
a YHWH, teu Elohim, a medida de a oferta voluntária de a tua mão que
deres conforme te abençoar YHWH teu Elohim. 11. E te alegrarás
perante YHWH, teu Elohim, tu, e teu filho, e tua filha, e teu escravo, e tua
serva, e o levita que nos teus portões, e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva
que em teu interior no local que escolher, YHWH, teu Elohim, para fazer
residir nome dele ali. 12. E recordarás que escravo foste em Egito, e
guardarás e farás os estatutos os este”.
participação nas bênçãos abundantes com que Deus abençoara seu povo (THOMPSON,
1982, pg. 189).
Vamos analisar algumas expressões que estão nos versos 9-12, sobre a Festa das
Semanas. Uma das expressões que aparece duas vezes com ênfase no v. 9, no início e no
fim do verso é a expressão “sete semanas” (שבֻע ֹת
ָׁ ש ְבעָׁה
ִ ), deste verso é tirado o nome da
Festa “Festas das Semanas”.
Ela prescreve não uma data fixa, mas apenas uma data relativa, respeitando as
condições climáticas e regionais do espaço geográfico. A Festa das Semanas apesar de ter
esse nome ela é celebrada durante um dia, no quinquagésimo dia, após as sete semanas
seguintes ao início da colheita dos cereais (KRAMER, 2006, pg. 49). Esta expressão “sete
semanas” (שבֻע ֹת
ָׁ ש ְבעָׁה
ִ ), utilizada para abrir e concluir o v. 9, o verbo ( ) ְספָׁרutilizado duas
vezes, impondo à narrativa um caráter de obrigatoriedade e periodicidade a uma Festa que
tem um determinado tempo para começar (FRIZZO, 2009, pg. 90).
A expressão que aparece no v.10 "ofertas voluntárias da tua mão" ()נִדְ בַת י ָׁדְ ָך, a
palavra assim traduzida não aparece em nenhum outro lugar do Antigo Testamento. A
equivalente em aramaico significa “suficiência”. A ideia pode ser de uma oferta
proporcional ao nível social. A derivação da palavra é obscura. Isso permitiu que as
pessoas trouxessem ofertas de acordo com o quanto o YHWH havia dado a cada um (Dt
16,17). Este é um princípio universal de doar (2 Co 8-9).
A ideia é a de uma oferenda suficiente ou proporcional. Mas, a porção apropriada
foi deixada a cargo da consciência iluminada de cada um (Êx 34,20). Os v.16 e 17 fazem
essa ordem aplicar-se a todas as três Festas. Os sacrifícios oferecidos nessa ocasião eram
dois pães a serem movidos diante do Senhor, sete cordeiros, um touro jovem e dois
carneiros como oferta queimada, juntamente com as ofertas de cereal e de libações. O
sentido deste versículo é mais bem esclarecido no v.17. Os hebreus foram instruídos a dar
uma oferta voluntária de acordo com a medida em que YHWH lhes tivesse dado a colheita.
Não foi fixada nenhuma porcentagem específica, mas esperava-se a liberalidade (Dt 15,14).
Talvez Paulo tivesse em mente este versículo, ao afirmar qual o padrão cristão quanto às
dádivas (I Co 16,2). As doações devem ser de acordo com a prosperidade de cada um; e
entendemos que toda prosperidade é conferida pelo Senhor (Tg 1,17). Dentro do contexto
cristão, uma porcentagem de menos de dez por cento é uma proporção pequena
(CHAMPLIN, 2001, pg. 819).
Outra expressão que aparece em quase todo o bloco é “Festa” ( )חַגsignifica mais
que “festival”; inclui a ideia de uma peregrinação religiosa. De fato, deriva de um verbo
49
“13. Festa de as tendas farás para ti sete de dias, em teu recolher da tua
eira e do teu lagar. 14. E te alegrarás em tua Festa tu, e teu filho, e tua
filha, e teu escravo, e tua serva, e o levita, e o estrangeiro, e o órfão, e a
viúva que nos teus portões. 15. Sete de dias Festa a YHWH, teu Elohim,
no local que escolher YHWH, porque te abençoará YHWH, teu Elohim
em todo teu produto e em todo feito de tuas mãos, e serás certamente
alegre”.
51 Bíblia de Jerusalém. Nova edição revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2010.
52 Bíblia King James Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica Ibero-Americana, 2013.
53 Almeida Revista e Corrigida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
54 Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional Português-Inglês. São Paulo: Editora Vida, 2003.
51
Nos calendários mais antigos esta é a Festa da armazenagem. Devia ser celebrada
quando houveres recolhido da tua eira e do teu lagar (v.13), ao tempo da colheita durante
o outono, nos meses de setembro e outubro.
Gratidão pela colheita e alegria festiva eram as características marcantes desta
Festa, o povo se reunia no templo de Jerusalém para comemorar a boa colheita que tiveram
naquele ano.
O modo de conclusão, no v.16 surge pela última vez a participação das Festas,
destacando novamente que o lugar de sua celebração é o santuário central. Entre os
aspectos distintivos destas Festas ressalta-se o fato de serem Festas de peregrinação.
O calendário festivo de Deuteronômio encerra-se convidando todos a levar suas
oferendas, de acordo com a benção que o Senhor lhes dá. Ninguém deve apresentar-se ao
santuário de mãos vazias (Dt 16,17). A generosidade não deveria ser exercitada somente
com as pessoas necessitadas, também com o Senhor, seu Deus. Era está a responsabilidade
que o Senhor esperava dos corações agradecidos dos seus filhos, que não apenas
reconhecessem o Senhor, mas que fossem agradecidos também pelos dons do seu amor
(LÓPEZ, 2004, pg. 283).
Os v.16 e 17 são versículos de resumo que se aplicam as três principais Festas
judaicas. Estas Festas permitiam que Israel desenvolve-se um senso de comunidade
nacional.
8 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS
Vimos também que nos últimos anos o livro de Deuteronômio tem sido um dos
livros mais contestados com respeito à sua autoria mosaica. Porém temos evidência que o
escritor do livro de Deuteronômio foi Moisés. Chegamos à conclusão que a datação do
livro é de VII a.C. e a maioria dos pesquisadores concorda com esta ideia.
Aprofundamos nosso estudo analisando o conteúdo da perícope de Deuteronômio
16,1-17, suas frases, estrofes, termos e seus vocábulos, levamos em conta o contexto
histórico e social do povo de Israel. A Festa do pesah e a Festa do ázimos (v.1-8),
observamos que a palavra pesah tem um significado e etimologia incertos. No uso, o termo
parece designar tanto a Festa como a manutenção do animal no banquete festivo. O ritual
do pesah é apresentado pela primeira vez no livro de Êx 12,1-28 onde está relacionado com
a Festa dos ázimos. O rito consiste de um banquete em que um cordeiro de um ano é
comido. O cordeiro deveria ser assado inteiro, e aquilo que era comido no banquete devia
ser queimado no dia seguinte. Esta Festa era considerada familiar onde o chefe da casa
reunia a família para a participação da Festa e tinha como seu principal benefício, a
proteção da família e do rebanho.
A Festa mencionada em Deuteronômio 16,1-8 modifica a prática do ritual, a
imolação do cordeiro torna-se um ato quase sacrifical que deve ser realizado somente no
templo de Jerusalém, o banquete também deve ser comido no templo. Agora com a Festa
do pesah centralizada no templo, o chefe da família deveria se deslocar anualmente para o
templo para o grande dia festivo.
A Festa do pesah e a Festa dos pães ázimos estavam estreitamente relacionadas.
Estas duas Festas deviam lembrar o povo de Israel da obra redentora de YHWH a favor
deles. A importância do rito pesah na celebração dos ázimos mostram a importância
crescente da Festa do pesah no povo de Israel. De rito família (Êx 12) passou a ser uma
Festa nacional, no santuário central.
A Festa das Semanas (v.9-12) é considerada uma das ocasiões mais importantes do
povo de Israel por muitos séculos, sua origem é uma festividade agrícola. Ela marca o
início da colheita na primavera no mês chamado de Abib considerado o primeiro mês do
ano judaico. A Festa das semanas, como as outras grandes Festas anuais, era uma ocasião
de alegria em que os adoradores participavam de uma refeição cerimonial ou Festa
sacrifical perante YHWH. A presente Festa, como as outras, foi idealizada para a
participação da família, dos servos, dos levitas, dos estrangeiros residentes, dos órfãos e
das viúvas. Era, afinal das contas, apenas uma participação nas bênçãos abundantes com
que YHWH abençoará o seu povo com uma boa colheita.
54
CAPÍTULO II
2.1 INTRODUÇÃO
2.2.1 Textos sobre a Festa do pesah e pães ázimos (Êx 12,1-14; Êx 23,18 e 34,25; Lv
23,5-8; Nm 28,16-25)
55
Almeida Revista e Corrigida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009
57
primeiro mês do ano” há uma nova ordenança a comemoração do pesah, indica que o ano
israelita tinha começado num tempo diferente, provavelmente com o mês mais tarde
chamado de tsiri, que corresponde ao nosso mês de setembro ou outubro. Como estamos
vendo no v.2 há uma mudança no calendário, o pesah que era comemorado no mês tsiri
passa a ser comemorado no sétimo mês “Abib” no calendário judaico, geralmente
corresponde aos meses de março-abril do nosso calendário. O texto de Deuteronômio 16,1
confirma esta alteração “Guarda o mês de Abib”, o início da Festa do pesah no templo
começava no mês de Abib, e com o passar do tempo este mês passou a se chamar Nisã. No
v.1 de Deuteronômio percebemos um propósito da inclusão do pesah entre os festivais da
primavera, um rito que era observado como um festival familiar, agora deve ser transferido
para o santuário em Jerusalém como parte da centralização total de todos os cultos (Dt
16,5).
O Êx 12,3 traz como deveria ser o preparo para a Festa do pesah, deviam começar
quatro dias antes do dia 14 do mês (Êx 12,6). A palavra “ שֶהum cordeiro” é neutro se
aplica tanto a cordeiro como a cabrito, sem limitação de idade. Porém, a idade foi fixada
por estatuto (Êx 12,5) em um ano, e se podia escolher um cordeiro ou um cabrito. É
interessante observar que em geral os hebreus preferem cordeiro a cabrito.
Posteriormente, a tradição judaica fixou como dez o número de pessoas para quem
um cordeiro deveria ser repartido e também declarou que todos os membros da família,
homens, mulheres e crianças, deveriam participar da Festa. É interessante frisar que deveria
ser levado em conta a quantidade que cada um comeria, crianças e idosos não deveriam ser
contados da mesma forma que os homens em pleno vigor da vida. Consequentemente,
como podemos observar no v. 4 mais de duas famílias poderiam se unir para comemorar o
pesah.
Observou-se que o cordeiro deveria ser sem defeito e danos. Uma pessoa devota
ensinaria que o animal “cego”, “coxo” ou “enfermo” não seria aceitável na cerimônia do
pesah. Mais adiante (Lv 22,20-25) uma lei proibiu o uso de animais imperfeitos para o
sacrifício obrigatório, embora pudessem ser apresentados como oferta voluntária.
Para Botterweck (2011) as instruções para os rituais do pesah no livro Êx 12,1-14
aparentemente preservam uma tradição pré-sacerdotal de um evento de sacrifício comunal
(no nível do clã), que foi celebrado muito antes do surgimento das tradições historicizadas
do festival. É possível que Êx 12,1-14 seja um texto tardio, um velho costume que ainda
domina um pesah familiar, um tempo antes da existência do culto centralizado no templo
(BOTTERWECK, 2011, pg. 03).
58
“Portanto guardai isto por estatuto para vós, e para vossos filhos para
sempre. E acontecerá que, quando entrardes na terra que o Senhor vos
dará, como tem dito, guardareis este culto. E acontecerá que, quando
vossos filhos vos disserem: Que culto é este? Então direis: Este é o
sacrifício da páscoa ao Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel
no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas. Então o
povo inclinou-se, e adorou” (Êx 12,24-27).
Para o pesquisador Willi-Plein (2001) julga-se comumente que a própria lei pascal
Deuteronomista (Dt 16,1-8) difere da praxe suposta em Êx 12 em pelo menos dois pontos.
Em concordância com as demais fontes, também o Deuteronômio fala de uma pesah de
YHWH; conta, portanto no fundo, com a possibilidade de outras celebrações pascais, e vê o
sentido do pesah já vista na comemoração do êxodo. Nesse contexto os pães ázimos são
interpretados como “o pão da miséria”, que lembra a pressa da saída da casa da escravidão
(Dt 16,3). Também aí, portanto, os pães ázimos não pertencem a Festa dos ázimos, mas
essencialmente o pesah. Também o texto Deuteronomista acentua que da carne nada pode
ficar até de manhã, embora com uma curiosa combinação das datas. Mas, sobretudo é
inculcado que o abate não pode ser feito lá onde mora o povo, mas somente no santuário
central (WILLI-PLEIN, 2001, pg. 112).
Diferente de Êx 12, Dt 16,2 prevê para o pesah “gado miúdo e gado graúdo”, mas
talvez se trate de imolações secundárias. Outra discrepância segundo Willi-Plein (2001)
está na determinação (Dt 16,7) de que a carne deve ser “cozida e comida”, o que contradiz
claramente o que determina em Êx 12,8, a saber, que a carne deve ser comida depois de
“assada ao fogo” (e em hipótese nenhuma cozida em água: Êx 12,9), bem de acordo com a
forma primitiva de preparar carne, possivelmente também para diferenciá-la claramente da
carne sacrifical (WILLI-PLEIN, 2001, pg. 113).
Já o pesquisador Dias (2006) fala que o livro do Deuteronômio, ao legislar sobre a
celebração do pesah, como memorial eterno = Zikkaron, (“para te recordares assim
durante toda a tua vida”, Dt 16,1-7), já impõe a Festa do pesah como uma anamnese em
que a dimensão funciona quase à maneira “sacramental” cristã através da repetição
vivencial do acontecimento salvífico do Êxodo do Egito (2 Rs 23,21-23; Esd 6,19-22; Ez
60
dia do mês determinado, sendo celebrada por sete dias (MALATY, 2005, pg. 231).
O v.7-8 fala de uma santa convocação “no primeiro dia, tereis santa convocação;
nenhuma obra servil fareis; 8 mas sete dias oferecereis oferta queimada ao SENHOR; ao
sétimo dia haverá santa convocação; nenhuma obra servil fareis”, percebe-se que o
primeiro e o último dia da Festa eram de santa convocação, no quais não se devia fazer
nenhuma obra servil. Quando comparamos com o texto de Deuteronômio 16,8 percebemos
que só temos a santa convocação no último dia da Festa, diferente de Lv 23,7-8 que fala da
santa convocação no primeiro e no último dia da Festa.
lembrando que o ritual noturno do pesah ocorreu durante a noite da primavera e lua cheia,
os dias e noites da lua cheia eram considerados perigoso durante o mês da primavera
(Provérbios 7,20). A lei sacrificial em Nm 28,16-25 desenvolve amplamente o tema da
expiação já elevado no Êx 12,1-14. O objetivo do pesah na separação de Israel entre as
nações (Êx 12,12-13), bem como sua função de expiação recentemente adquirida é para a
pureza do culto, para a exclusão dos incircuncisos do pesah.
Um detalhe bem interessante e que precisamos comentar é que no v. 19 “mas
oferecereis oferta queimada em holocausto ao SENHOR, dois bezerros e um carneiro, e
sete cordeiros de um ano; ser-vos-ão eles sem mancha”, encontramos uma orientação de
quantos bezerros, carneiros e cordeiros teriam que ser sacrificados, enquanto em Dt 16,2
“Sacrificarás para Yahweh teu Deus uma páscoa, ovelhas e bois...” não fala da
quantidade, mas sim que ovelhas e bois precisam ser sacrificados. O livro de Deuteronômio
é mais objetivo com as ordenanças.
“15. Depois, para vós contareis desde o dia seguinte ao sábado, desde o
dia em que trouxerdes o molho da oferta movida; sete semanas inteiras
serão. 16. Até ao dia seguinte ao sétimo sábado, contareis cinquenta
dias; então, oferecereis nova oferta de manjares ao SENHOR. 17. Das
vossas habitações trareis dois pães de movimento; de duas dízimas de
farinha serão, levedados se cozerão; primícias são ao SENHOR. 18.
Também com o pão oferecereis sete cordeiros sem mancha, de um ano, e
um novilho, e dois carneiros; holocausto serão ao SENHOR, com a sua
oferta de manjares e as suas libações, por oferta queimada de cheiro
suave ao SENHOR. 19. Também oferecereis um bode para expiação do
pecado e dois cordeiros de um ano por sacrifício pacífico. 20. Então, o
sacerdote os moverá com o pão das primícias por oferta movida perante
o SENHOR, com os dois cordeiros; santidade serão ao SENHOR para o
sacerdote. 21. E, naquele mesmo dia, apregoareis que tereis santa
convocação; nenhuma obra servil fareis; estatuto perpétuo é em todas as
vossas habitações pelas vossas gerações. 22. E, quando segardes a sega
da vossa terra, não acabarás de segar os cantos do teu campo, nem
colherás as espigas caídas da tua sega; para o pobre e para o
estrangeiro as deixarás. Eu sou o SENHOR, vosso Deus”.
seria uma tarefa extremamente exaustiva, já que a mesma data da época dos cananeus e
outros povos do Antigo Oriente Médio, dos quais não se possui muitas informações. A
Festa hebraica é chamada de Festa do shavout. Shavout significa “semanas” e se refere às
semanas que estão entre as Festas das primícias e do pentecostes. Esse é um tempo de
celebração pelo fato de Deus ter dado a lei aos judeus, por isso também é chamada de Festa
da entrega da lei, ou época da entrega da lei. É costume nesse período consumir somente
laticínios, porque as palavras da torá são comparadas ao sabor do leite e do mel na língua
(MCMURTRY, 2012, pg. 69).
Contudo, o autor comenta que é possível presumir que o costume da realização da
Festa das semanas, foi originalmente pertente aos cananeus, por três principais razões: os
agricultores sedentários cananeus tinham domínio de terras férteis dos vales de Canaã no
período em que os hebreus chegaram a esse local; de forma original, os hebreus não tinham
a prática agrícola, mas sim de pastoreio, logo, viviam como semi-nômades nas montanhas
centrais e regiões das ricas periferias das regiões agrícolas de Canaã; e, gradativamente o
povo israelita se tornou agricultor sedentário.
Conforme McMurtry (2012) no antigo testamento o processo litúrgico mais
desenvolvido relacionado a essa Festa, se dava em Lv 23,15-22, contudo, em Dt 16,9-15 é
possível notar uma liturgia que reflete um período distinto e, como consequência, um
ambiente novo de celebração. Sendo assim, relacionando o nome da Festa, pentecostes não
foi denominação própria da segunda Festa do antigo calendário, no antigo testamento, essa
Festa era, inicialmente, designada por diferentes nomes, como:
especial fosse dada ao pobre e ao estrangeiro em um tempo em que havia o bastante para
todo tempo da colheita. As dívidas, sacrifícios e ritos que serão oferecidos durante a Festa
das semanas são enumerados em detalhe. A seção conclui então com a demanda: "E
quando ceifa a colheita da tua terra, não colherás os cantos de teu campo, nem ajuntarás
a colheita da tua colheita; os deixarás para os pobres e para os estrangeiros: Eu sou o
Senhor vosso Deus” (v.22).
Já o v.24 fala que no primeiro dia do sétimo mês era um sábado, quando ocorria
“santa convocação”. Nesse dia as trombetas soavam pois, o dia da expiação estava
próximo e os primeiros nove dias do mês eram de preparação para esse solene dia. O
primeiro dia do sétimo mês do calendário religioso era o ano novo, o primeiro dia do
calendário civil. No primeiro dia do sétimo mês a grande Festa é iniciada por um ponto
característico "sopro de trombetas". Nenhuma obra pode ser feita, e os holocaustos têm que
ser apresentados a YHWH.
No dia das primícias, em outras palavras, naquele dia em que deveriam ser trazidas
oferendas apropriadas de ação de graças tornava-se um sábado ou descanso, e que nenhum
trabalho servil poderia ser feito durante o período (Lv 23,21).
Outro texto que fala sobre a Festa das semanas está em Nm 28,26-31. O v. 26 fala
sobre “o dia das primícias” esta é uma expressão incomum. Também é chamada de “Festa
da Sega, dos primeiros frutos do teu trabalho” (Êx 23,16) e “Festa das semanas”, na
época de ceifar os primeiros frutos da colheita do trigo (Êx 34,22; Dt 16,10 e Lv 23,15-21).
Outra frase bem interessante no v.26 “oferta nova de manjares” tem como
principal característica no seu dia a oferta nova de manjares. Consistia de dois pães
chamados de “primícias ao YHWH” (Lv 23,17). Eles eram feitos do primeiro trigo a
67
amadurecer. Junto com os pães, eram oferecidos, um novilho, dois carneiros, dois cordeiros
como oferta pacifica e um bode como oferta pelo pecado (Lv 23,18-19).
Além da Festa das semanas, o antigo calendário israelita apontava uma terceira
festividade a ocorrer no período outonal, entre setembro e outubro. Essa Festa também era
denominada de Festa da colheita, mas na sega das frutas, sobretudo da uva, figo e tâmara.
A bíblia hebraica denomina essa Festa de Festa dos tabernáculos ou das Tendas
(MCMURTRY, 2012, pg. 70).
O autor retoma dizendo que, ao passo em que o pesah era uma festividade caseira, a
Festa das semanas era uma celebração popular, realizada na roça ou nos locais de cultivo
do trigo e da cevada. Posteriormente, essa celebração foi transportada aos locais de culto,
especialmente no templo de Jerusalém, de forma que diversos relatos bíblicos não apontam
de forma clara a ordem em que acontecia o culto, mas presume-se que algumas etapas da
liturgia eram:
6 de Sivam. A Festa das semanas é a atzeret, isto é, a Festa que marca o final da temporada
do pesah. Algumas das principais características dessa festividade é o fato de que era alegre
e solene, a celebração tinha dedicação exclusiva a YHWH, a festividade era aberta a todos
os produtores, seus familiares, pobres, levitas e estrangeiros.
Todo o povo que se apresentava diante de YHWH, reconhecia e afirmava seu
compromisso de fraternidade e responsabilidade pela promoção de laços comunitários,
além do povo hebreu, era bem-vindo nessa festividade. A ação de graças era pelo dom da
terra e pelos estatutos divinos. Por se tratar de uma convocação, ninguém trabalhava e a
celebração também se dava sobre o ciclo da vida, cujo reconhecimento da palavra de Deus
se dava na origem da vida, da semente à árvore, do fruto ao alimento.
A Festa das semanas, como uma celebração ocorrer cinquenta dias após a páscoa,
também trata de relembrar a chegada ao Monte Sinai, local em que Moisés recebeu de
YHWH o dom da lei. Também como se estende por sete semanas, daí surge o nome “Festa
das semanas”.
O pesquisador Araújo (2015) por sua vez, explica que a terra e o trabalho eram
elementares à vida humana no antigo testamento, de forma que esses elementos
impossibilitavam pensar no homem sem essas realidades. No livro de Genesis 1-2, há a
descrição de que tudo fora criado por Deus e tudo se encontra sob domínio e cuidado do ser
humano.
Ainda com a capacidade de criação, também havia o extasiar-se perante à
grandiosidade e beleza universais. A primeira resposta humana à maravilha de Deus era
sentir algo extraordinário, divino, sobrenatural que pudesse dar sentido a tudo o que forma
o universo. Assim, o povo de Israel enxergava o universo como algo vindo da bondade de
Deus (ARAÚJO, 2015, pg. 325).
O autor prossegue dizendo que o povo de Israel, consciente de que todas as coisas
são criação de um único YHWH e que tudo se encontra sob seu domínio, também se
conscientizou de que tudo era um dom divino. A terra para o plantio, a chuva para fazê-lo
crescer, o fruto que nasce da terra, tudo é uma benção de YHWH para o povo eleito. Por
outra perspectiva, a estiagem também era encarada como castigo de YHWH.
A Festa das semanas era, para o povo de Israel, o momento de dizer à YHWH sobre
sua gratidão a tudo que é sua obra, demonstrar que o povo da aliança se sentia agradecido
por ser lembrado, tratado com carinho e ter terra e chuva para cultivar
Conforme o pesquisador Araújo (2015) o Salmo 65 apresenta uma imagem clara da
relação de Deus e seu povo, abençoando os trabalhos, uma ação que é própria e divina, isto
69
é, a prova de que Deus atua junto ao homem, participando de seus esforços e do trabalho
humano. Assim, se para os cananeus e outros povos vizinhos era preciso um culto de
fertilidade, em uma relação de subordinação às forças de uma divindade atuando por meio
das forças da natureza, o povo de Israel tinha a participação ativa de Deus no trabalho
humano (ARAÚJO, 2015, pg. 326).
O autor comenta que a torá não reprime a autonomia do homem, mas sim, lhe
permite uma plena liberdade. O livro sagrado é, de fato, para o povo da aliança, um fruto
vindo diretamente das mãos de YHWH para ensinar seus filhos, garantir-lhes a vida, a
presença de YHWH entre seu povo. A torá é para esse povo, o fruto mais valioso dado por
YHWH aos homens, sobretudo ao povo de Israel, que recebeu das mãos do próprio YHWH
o fruto da liberdade. O autor comenta que o relato que narra a descida do espírito santo é
relacionado diretamente à revelação do Sinai – com o vento, o fogo e as línguas. De forma
que no evento do pentecostes cristão, novamente Deus demonstra seu amor, abrindo-o a
todos os povos. O bom fruto é oferecido pelo espírito santo, que estabelece na terra a lei do
amor no coração da humanidade. O autor comenta que, em sua origem mais antiga, a Festa
das semanas era campestre, no término da colheita de cereais (ARAÚJO, 2015, pg. 327).
Esse momento era importante na vida dos trabalhadores dedicados ao cultivo da
terra, de forma que não era possível deixar passar sem recordar a YHWH, sem exteriorizar
sua gratidão. Dessa forma, os produtos, devido às graças divinas, puderam ser colhidos do
solo, as primícias eram separadas e ofertadas a YHWH. Por essa razão também essa
celebração se denomina Festa das primícias.
No período do templo, a Festa das semanas era caracterizada pelas peregrinações,
em que grandes grupos de agricultores vinham de todas as províncias do país, a celebração
era animada e pitoresca. Os peregrinos vinham de longe e faziam longas caminhadas e em
grupos eles se dirigiam a Jerusalém. Cada pessoa trazia a sua oferta em cestos, as primícias
de trigo, cevada e frutas. Esses produtos que atribuíram renome ao solo de Israel. Quando
chegavam a cidade santa, eram acolhidos pelos sacerdotes, adentravam o templo e faziam a
oferta de seu cesto aos sacerdotes. A cerimônia era completada com a evocação de hinos e
toques de harpa, além de outros instrumentos musicais.
Ao relatar sobre os costumes da Festa das semanas, o autor aponta que os três dias
precedentes a ela, são exclusivamente dedicados ao estudo da Torá e outros textos
sagrados. A população se prepara para receber a Festa, como os israelitas no deserto, que se
preparavam, por ordem de Moisés, para o “terceiro dia”. Costumava-se passar a primeira
70
“33. E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: 34. Fala aos filhos de Israel,
dizendo: Aos quinze dias deste mês sétimo, será a Festa dos
Tabernáculos ao SENHOR, por sete dias. 35. Ao primeiro dia, haverá
santa convocação; nenhuma obra servil fareis. 36. Sete dias oferecereis
ofertas queimadas ao SENHOR; ao dia oitavo, tereis santa convocação e
oferecereis ofertas queimadas ao SENHOR; dia solene é, e nenhuma
obra servil fareis. 37. Estas são as solenidades do SENHOR, que
apregoareis para santas convocações, para oferecer ao SENHOR oferta
queimada, holocausto e oferta de manjares, sacrifício e libações, cada
qual em seu dia próprio; 38. Além dos sábados do SENHOR, e além dos
vossos dons, e além de todos os vossos votos, e além de todas as vossas
ofertas voluntárias que dareis ao SENHOR. 39. Porém, aos quinze dias
do mês sétimo, quando tiverdes recolhido a novidade da terra,
celebrareis a Festa do SENHOR, por sete dias; ao dia primeiro, haverá
descanso, e, ao dia oitavo, haverá descanso. 40. E, ao primeiro dia,
tomareis para vós ramos de formosas árvores, ramos de palmas, ramos
de árvores espessas e salgueiros de ribeiras; e vos alegrareis perante o
SENHOR, vosso Deus, por sete dias. 41. E celebrareis esta Festa ao
SENHOR, por sete dias cada ano; estatuto perpétuo é pelas vossas
gerações; no mês sétimo, a celebrareis. 42. Sete dias habitareis debaixo
de tendas; todos os naturais em Israel habitarão em tendas; 43. para que
saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em
tendas, quando os tirei da terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus.
44. Assim, pronunciou Moisés as solenidades do SENHOR aos filhos de
Israel”.
71
O autor comenta que foi Ezequiel quem profetizou a restauração dessa festividade,
bem como fora Oséias que mencionou em suas profecias o evento, contudo, a mais
específica referência relacionada a essa celebração, encontra-se na grande profecia
messiânica do milênio, quando YHWH já estiver governando com seus eleitos toda a
Terra. Zacarias profetiza que os gentios, durante o milênio, observarão as Festas de
Elohim, ou então serão punidos por Ele, caso não as observarem.
72
McCurtry (2012) explica que no oitavo dia da Festa das tendas, o último grande dia
dessa festividade, também é um dia de santa convocação, de descanso. Esse dia era
denominado de assembleia de encerramento, de forma que foi Salomão quem observou a
convocação do oitavo dia e se despediu do povo no nono dia. Esdras também fez a
convocação de uma assembleia solene no oitavo dia (MCMURTRY, 2012, pg. 109).
Encontramos no livro de Lv 23,33-44 a ordem divina para a comemoração da Festa
das tendas, que expõe que aos quinze dias do sétimo mês, a Festa das tendas será dada ao
senhor durante sete dias. No primeiro deve ocorrer a santa convocação, nenhum trabalho
servil deve ser executado. Durante sete dias devem ser oferecidas ofertas queimadas ao
senhor, ao oitavo dia haverá outra santa convocação, as ofertas queimadas serão
apresentadas.
Este dia será solene, não será realizado nenhum trabalho servil, no primeiro dia
serão tomados os frutos das árvores, as folhas das palmeiras e ramos de árvores cheias de
folhas, durante sete dias o homem se alegrará perante o senhor. Esta Festa será celebrada
durante sete dias, todos os anos, seu estatuto é perpétuo pelas próximas gerações. Durante
sete dias os homens habitarão em tendas, para que saibam que Deus fez os filhos de Israel
nelas habitarem quando foram retirados do Egito.
A tenda em si, para os pouco familiarizados, era o local em que o senhor habitava
no meio de seu povo, recebendo dele adoração e sacrifício, falando com ele no período da
antiga aliança. Esta é a temática da Festa das tendas, quando YHWH habita com seu povo,
de forma que o uso das áreas e utensílios das tendas, tal como a disposição dos rituais deste
evento, se encontram nos capítulos 25, 26 e 27 do livro do Êxodo.
O pesquisador Dias (2006) explica que a Festa das tendas era celebrada no início do
mês de tichri, entre setembro e outubro, lembrando a estadia no deserto dos israelitas em
busca da terra prometida, cujas habitações eram tendas, já que viviam como peregrinos.
Esta Festa se tornou em uma data de alegria, a Festa da alegria da lei (simhat thorah), a
Festa histórica da aliança que aclama a Javé e libação da agua, que é celebrada de forma
popular em meio à natureza e com a evocação de cânticos e em tendas fabricadas com
ramos de árvores (DIAS, 2006, pg. 23).
Outra expressão que está no v. 34 é mês sétimo esse era um mês atarefado em
Israel. Nesse mês ocorria a Festa do Ano Novo ou das trombetas (v.23-25). Isso tinha
começo no primeiro mês do ano civil, que correspondia ao primeiro mês do ano religioso, o
mês de tishri, anteriormente chamado ethanim. Em seguida, havia também o dia da
73
expiação, no décimo dia daquele mês (v.26-32). E havia a Festa dos tabernáculos, que
começava no dia quinze daquele mês.
Quando o povo de Israel já possuía casas permanentes, esta Festa prosseguiu. E
então o povo deixava suas residências confortáveis a fim de viver em tendas por sete dias.
Estas tendas eram feitas de ramos de árvores. Isso os israelitas faziam a fim de relembrar as
durezas por que passaram, mas também os cuidados divinos protetores e providenciais que
beneficiaram seus antepassados no deserto.
No v.35 há um chamado a uma “santa assembleia”. Ou seja, reuniões sagradas e
nacionais, de fundo religioso, cuja finalidade era o de ajudar o povo a unir-se em torno do
YHWH e sua nova maneira de viver. Essas eram as festividades de um povo separado:
auxílios à espiritualidade. O termo “assembleia” significa que o povo era chamado para
“reunir-se”. Esta Festa era uma ocasião de celebração e de alegria, com grande regozijo e
em meio a sonidos de trombetas, eles carregavam ramos de salgueiros ao interior do
templo, de tal modo que as pontas ficavam penduradas, formando uma espécie de cúpula.
As tendas eram preparadas para servirem de habitações pelo espaço de sete dias, e o povo
habitava nelas em meio a demonstrações de alegria, lembrando-se de como YHWH havia
tirado o povo de Israel do Egito, provendo-lhes, no deserto, o necessário, embora então eles
não dispusessem de residências fixas. Os ramos também eram usados para fazer as tendas
nas quais os israelitas moravam durante a Festa.
Era, portanto, a ocasião mais feliz do ano, quando amigos e vizinhos renovavam o
companheirismo e moravam juntos em amor e harmonia. A Festa das tendas comemorava
o tempo em que Israel viveu em tendas no deserto durante os 40 anos de peregrinação (Dt
16,12-15).
No v. 36 a expressão “Ofertas queimadas” aparece por duas fezes neste versículo.
Nos dias do segundo templo eram oferecidos os seguintes holocaustos: treze touros, dois
carneiros, catorze cordeiros, com o acompanhamento das apropriadas ofertas de cereais,
além de uma libação e de um bode como oferta pelo pecado (Nm 29,12-39). Em seguida
vinham as ofertas pacíficas, os votos, as ofertas voluntárias. Enquanto esses sacrifícios
eram oferecidos, os levitas entoavam o hallel festivo, o que sucedia também nas Festas do
pesah e das semanas. O termo hallel significa “louvor”, referindo-se aos Salmos 113-118.
O processo era repetido em cada um dos sete dias da Festa, exceto pelo fato de que o
número de animais era menor. A tarde do segundo dia, naquilo que era chamado de Festa
secundária, bem como em cada uma das cinco noites sucessivas, era celebrado o “regozijo
do transporte de água”, no átrio do templo. Eram acesos quatro grandes candelabros de
74
ouro, no centro do átrio e a luz que emanava deles tornava-se visível na cidade inteira. Em
torno dessas lâmpadas homens piedosos dançavam diante do povo cantando hinos e
cânticos de louvor. Também eram usados instrumentos musicais.
A expressão “sábados do Senhor” aparece no v.38, a referência é aos vários semi-
sábados que estavam envolvidos nas Festas (v.7,8,21,25 e 36), bem como ao sábado pleno
do dia da expiação (v.28), e naturalmente, devemos entender os sacrifícios levados a efeito
naqueles dias, e não meramente o descanso que era assim ordenado. Não há que duvidar de
que também estão em foco os sábados regulares, ou seja, os sábados semanais, os quais
tinham suas próprias exigências e sacrifícios.
Outros sacrifícios oferecidos eram as ofertas voluntárias e as ofertas voluntárias-
votivas, ou seja, aqueles tipos de ofertas voluntárias que incluíam alguma forma de voto,
bem como ofertas que expressavam um agradecimento piedoso. As Festas e jejuns
especiais, as celebrações anuais descritas neste capítulo, não excluíam os sábados
regulares, nem as várias outras formas de ofertas. As atividades comuns da vida podiam
continuar normalmente, além da observância dos dias especiais de Festa.
Os dois versículos anteriores 37 e 38 são gerais, referindo-se às várias festividades
anuais, bem como aos deveres religiosos regulares do sábado e seus sacrifícios. Todavia, os
v.39-43 fazem-nos voltar à Festa das tendas cuja descrição fora interrompida no v.36. Os
elementos do v. 39 são repetidos com base nos v.34-36, onde são oferecidas as notas
expositivas. Em adição a isso, porém, este versículo identifica a Festa em questão como
uma celebração agrícola, visto que ocorria por ocasião da colheita dos frutos da terra.
Estão em pauta a cevada, o trigo, o azeite e o vinho e os produtos usados em vários
tipos de oferenda. Por essa razão, a Festa é chamada de “Festa da colheita” (Êx 23,16;
34,22). Esta Festa ocorria durante o outono, quando a colheita já havia terminado. Quando
comparamos com Deuteronômio 16,13-16 observamos que o autor desconhece o acréscimo
do oitavo dia com santa assembleia, como encontramos em Levítico.
O texto faz referência ao caráter alegre da Festa e a obrigação da participação de
todos que moram na cidade indistintamente (filhos, servos, levitas, estrangeiros, órfãos,
viúvas) (Dt 16,16). A obrigação de apresentar-se diante de YHWH e a proibição de
apresentar-se com mãos vazias são mantidos (v.16-17), bem como o clima de alegria
familiar e social da Festa e sua centralidade em Jerusalém.
O v.40 fala que tal como os sacerdotes tinham de ser homens sem defeito (Lv
21,17) e os animais sacrificados precisavam ser perfeitos (Lv 22,20), assim também os
ramos usados durante essa Festa precisavam ser tirados de árvores formosas, precisavam
75
ser ramos de árvores frondosas. Eram permitidos ramos de várias espécies vegetais:
palmeiras, salgueiros e ramos de várias árvores frondosas, para que formassem um dossel
espesso. Nos dias do segundo templo, as normas vigentes especificavam que, se os ramos
tivessem sido tirados de “árvores incircuncisas” (Lv 19,23) ou de primícias imundas (Nm
18,11-12), ou se exibissem alguma forma de defeito, seu uso estaria vedado. Os ramos de
árvores frondosas querem dizer árvores cuja folhagem cobre abundantemente os galhos.
A expressão “vos alegrareis” também encontrado no v. 40 leva o povo a se alegrar
pela colheita abundante, posteriormente, tanto por essa razão como também por estarem
lembrando a redenção de Israel da servidão egípcia, após o que os filhos de Israel
desfrutaram segurança e abundância no deserto, em face da providência de YHWH. Essa
alegria era expressa por meio de cânticos, danças, louvor, cerimonial música instrumental,
leituras, agitação de ramos etc.
Todos os israelitas, aqueles que estavam vivendo nos dias de Moisés, quando a
Festa foi instituída, como também aqueles que ainda nasceriam, em todas as gerações
subsequentes, deveriam continuar observando a Festa. O v.41 reforça a declaração sobre
estatuto perpétuo “vossos descendentes”. Ninguém deveria pensar que esta Festa se
limitava aos “tempos de Moisés”. O versículo aponta para todos os “israelitas nativos”.
As crianças pequenas, que não eram capazes de resistir aos rigores da vida ao ar livre, por
serem pequenas demais, estavam isentas, mas não as crianças em geral. A Mishnah
isentava as mulheres em geral (Mishnah Succah, cap. 2, sec. 6), mas todos os israelitas do
sexo masculino, mesmo que fossem pequenos, tinham de participar da Festa.
Já o v.43 vincula a Festa original da colheita com o êxodo histórico, quando Israel
foi livrado da servidão aos egípcios. A antiga Festa da colheita assumiu um novo
significado quando foi ligada à redenção de Israel do Egito. O agradecimento por um
suprimento abundante, da parte de YHWH, tornou-se um agradecimento específico pela
redenção e pela provisão e cuidados protetores que o povo de Israel desfrutou em sua
experiência no deserto.
O povo de Israel, que veio a ocupar segura e felizmente a terra de Canaã, deveria
relembrar-se de um período passado de provisões divinas especiais, quando seus
antepassados estavam em necessidade, em perigos diversos, estrangeiros no deserto,
quando YHWH cuidou deles.
O capitulo de Levítico 23 termina assegurando-nos que Moisés, o mediador entre
YHWH e o povo de Israel, havia cumprido o seu dever, tendo transmitido tudo quanto lhe
76
fora ordenado dizer aos filhos de Israel (23,2). Cabia a Israel pôr em prática todos os
complicados estatutos e mandamentos que YHWH havia determinado.
Nm 29,13-39 traz poucos detalhes diferentes da Festa das tendas abordado assim
em Lv 23,33-44, no entanto, vamos salientar alguns detalhes importantes no texto de Nm
29,13-39.
Os v.14 e 15 trazem a expressão “pela oferta de manjares”, esse tipo de ofertas
sempre acompanhavam os sacrifícios de animais. Cada novilho era acompanhado por três
quartas partes de um efa de farinha, cada carneiro, por duas quartas partes, e cada cordeiro,
por uma quarta parte de um efa de farinha, tudo misturado com as devidas quantidades de
azeite. Essa oferta também acompanhava as oferendas diárias e as oferendas de dia de
sábado, e também havia as libações normais. Ficava entendido que YHWH aspirava o
aroma agradável (v.13), e bebia do vinho vertido à base do altar de bronze, ou dos
holocaustos, deleitando-se e aceitando as oferendas.
No v. 16 nos é apresentado “um bode”, esse animal era sacrificado como oferta
pelo pecado. Quanto a esse símbolo (Lv 6,25 e 30 e 4,1-35) era oferecido em adição ao
holocausto contínuo dos sacrifícios diários (Nm 28,3-6). Ademais, visto que o dia caía em
um sábado, provavelmente também era feito em adição às oferendas próprias de um sábado
(Nm 28,9-10).
As oferendas dos seis dias que se sucediam a Festa que aparece no v. 17, eram as
mesmas que eram oferecidas no primeiro dia (29,12), exceto pelo fato de que a cada dia, o
número de novilhos diminuía, um por dia. Isso significa que no sétimo dia da Festa eram
oferecidos sete novilhos. Talvez essa redução gradual do número de novilhos oferecidos
simbolizasse a lua, em quarto minguante, ou talvez fosse um artifício para indicar o
número “sete”, o número da perfeição, no último dia. Por isso, no primeiro dia, treze
novilhos fossem oferecidos propositadamente. Alguns estudiosos veem nisso outro
simbolismo: a redução gradual do pecado diante de YHWH, à medida que o povo de
YHWH põe em prática a sua fé. Atingir simbolicamente o número “sete” é algo que fala
do sistema sacrificial que, finalmente, atingiu perfeição no único e perfeito sacrifício.
O v.19 é idêntico ao v.16, exceto pelo fato de que aqui está em pauta o segundo dia
da Festa. Todos os sacrifícios e ofertas de manjares eram os mesmos nos dois dias, mas um
novilho a menos era sacrificado. As oferendas diárias continuavam, as oferendas do sábado
também continuavam, tal como também as libações.
Esses quinze versículos (20-34) não nos proveem nenhuma informação nova além
daquelas que já nos tinham sido dadas até o v. 18. A única diferença é que, nos dias
78
sucessivos, do “terceiro” ao “sétimo”, um novilho a menos era oferecido a cada dia, de tal
modo que, tendo começado com treze, no primeiro dia, sete novilhos eram oferecidos no
sétimo dia.
Podemos ver no v.35 que no “oitavo dia” termina o ciclo de sete dias da Festa das
tendas, havia uma celebração especial, uma espécie de apêndice da Festa. Estritamente
falando, porém, não fazia parte da Festa, mas era uma espécie de confirmação do ciclo que
acabara de ser devidamente observado. Era um dia de sábado.
Os v.36-38 mostram que os mesmos tipos de animais eram sacrificados, mas em
número menor. Apenas um novilho (em lugar de sete), apenas um carneiro (em lugar de
dois), apenas sete cordeiros (em lugar de catorze), mas igualmente um bode, e tudo
acompanhado pelas devidas ofertas de manjares e libações, tal como se fizera nos outros
sete dias.
Além das ofertas do sábado, havia aquelas outras descritas nestes três versículos,
associadas à Festa das tendas, além dos sacrifícios diários, que jamais eram
descontinuados, sem importar a grande matança que havia em ocasiões especiais.
Encontramos no v.39 um sumário e uma exortação à obediência. Este versículo
atuava como incentivo ao povo de Israel para que efetuasse todas as oferendas e sacrifícios
que tinham sido ordenadas como oferendas diárias, oferendas sabáticas, para as várias
festividades especiais que aparecem nos capítulos 28 e 29 de Números.
McMurtry (2012) explica que o significado espiritual desta festividade paira que, de
todas as menções feitas a ela, tanto no antigo quanto no novo testamento, existem símbolos
que envolvem seu significado espiritual para a contemporaneidade. A colheita significa que
a Festa das tendas é a última Festa judaica no ano litúrgico. A sétima Festa no sétimo mês.
A colheita representa o coroamento dos esforços em diversas atividades.
As tendas em si, representam a mudança a que se destinam os sete dias da Festa,
pois os israelitas saiam de suas casas para habitar em tendas, logo, as tendas devem ser um
período para que o indivíduo rompa com a rotina em que vive, entrando em algo novo em
Deus. A busca pela ruptura com condicionamentos mentais, tradições, buscando a inserção
de algo novo em YHWH. Além disso, as tendas representam os dias de restauração de
Jerusalém, como narra Neemias, que demonstra uma variedade espiritual. A tenda que é
construída para a festividade, representa essa habitação em que o homem é o ramo que
forma essa tenda, unidos pelo laço do amor e formando uma tenda única, um santuário que
deve servir de habitação a YHWH (MCMURTRY, 2012, pg. 110).
79
Durante a Festa das tendas, segundo o autor, o monte do templo ficava totalmente
iluminado com tochas e lanternas, uma cena que é utilizada também por YHWH para
ilustrar um ensinamento: “No templo completamente iluminado Jesus declarou ser Ele
mesmo a verdadeira luz, e essa declaração é diretamente ligada ao versículo do Hallel
[...] salmo 118:27” (MCMURTRY, 2012, pg. 111).
O autor aponta que juntamente a todo o contexto da Festa das tendas, há um
constante lembrete sobre o número sete, o número da perfeição espiritual. O sukkot é a
sétima Festa celebrada por sete dias durante o sétimo mês do calendário religioso. Gênesis
aponta que YHWH descansou no sétimo dia após a criação, ao passo que a Festa das tendas
é uma época de júbilo. YHWH dá a alegria como mandamento, em Deuteronômio 16, 13-
14, bem como aponta que esse período deve ser de intensa alegria, que até mesmo a Terra
deve sentir a felicidade.
O autor também comenta que a Festa das tendas também é denominada de Festa do
ajuntamento ou seiva, pois exatamente como toda colheita é armazenada em um mesmo
lugar no tempo do sukkot – o que explica a razão para os judeus colocarem a palha do
milho nas portas das casas ao final de setembro – também a Festa da colheita celebra o
ajuntamento de todos os povos.
A Festa das Tendas era a última Festa agrícola celebrada durante o ano depois de
terminar a colheita (Êx 23,16; 34,22). Era uma Festa de peregrinação quando o povo de
Israel saia para adorar a YHWH no santuário central de Jerusalém (Dt 16,15). Era uma
Festa muito alegre a qual o povo expressava sua alegria e a gratidão a YHWH (Lv 23,40;
Jz 21,19-21; Dt 16,14). Durante a Festa, os israelitas moravam em tendas feitas de ramos
de palmeiras e ramos de árvores frondosas. A Festa é um memorial do tempo em que
YHWH fez Israel habilitar em tendas durante sua peregrinação no deserto depois da saída
do Egito.
Hoje em dia, quando o Templo não existe, os judeus as comemoram onde quer que
estejam e cumprem seus rituais não apenas para relembrar os eventos do passado, mas para
recordar as principais crenças judaicas. Uma particularidade importante de Deuteronômio
16 é a não prescrição de preceitos cultuais, tais como sacrifícios, em direta oposição com
Nm 29, que gira somente em torno de aspecto sacrifical da Festa. Característica da tradução
Deuteronomista é a ênfase no aspecto coletivo, da comunidade reunida, que se abre
também para o estrangeiro, diferente de Lv 23, que é restrito ao povo israelitas.
3 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS
80
passou construir tendas no templo como um ato de adoração a YHWH. Apesar de suas
mudanças a Festa das tendas foi a que ao estudarmos os textos sofreu menos alterações.
Apesar de todas mudanças as três principais Festas judaicas continuam tendo uma
importância significativa para o povo judeu e diante disso, mesmo existindo outras Festas,
A Festa do pesah, a Festa dos pães ázimos e a Festa das tendas são consideradas as
principais Festas judaicas para o povo judeu.
CAPÍTULO III
3.1 INTRODUÇÃO
trazer danos à vida dos pastores (Êx 12,1-13. 21-28). O rito é destinado a afastar os seres
que se encontravam fora da morada, já que a aplicação do sangue é feita só sobre as
ombreiras da entrada (Êx 12,23), mas também visava a proteção dos animais da família.
Não temos nenhuma referência de um santuário, nem sacerdote no pesah pré-israelita, era
uma celebração noturna e familiar.
Para Vaux (2003) o pesah aparece como um ritual de pastores e é um sacrifício de
nômades ou seminômades, aquele de todos os rituais israelitas que mais se aproxima dos
sacrifícios dos antigos árabes: não há intervenção de sacerdotes, não há relação com o altar,
mas há a importância do rito de sangue. Acontece na primavera o sacrifício de um animal
novo para obter a fecundidade do rebanho. É uma Festa que pode marcar, como tem sido
proposto, a partida para a transumância de primavera, mas que não é suficientemente
explicada por ela. É geralmente uma oferenda para o bem do rebanho, como era a antiga
Festa árabe do mês de radjab, o primeiro mês da primavera. Os outros detalhes do pesah
acentuam esse caráter de Festa de nômades, come-se a vítima assada no fogo, sem que haja
necessidade de utensílios de cozinha, ela é comida com pão sem fermento, o que é ainda
hoje pão dos beduínos, e com ervas amargas, que não são legumes cultivados em uma
horta, mas plantas do deserto que os beduínos sabem escolher para temperar sua
alimentação frugal.
De acordo com Vaux (2003) esta Festa não é a oferenda dos “primogênitos” do
rebanho, os textos mais detalhados sobre a escolha da vítima e sobre os ritos da Festa não
estão escritos em lugar nenhum. Porém, Êx 34,19-20 inseriu a lei dos primogênitos entre a
prescrição da Festa dos ázimos e sua conclusão natural no v.20b, como mostra a
comparação com Êx 23,15, e Êx 13,1-2. 11-16, aproxima da lei dos primogênitos do pesah
e dos ázimos. É uma ligação artificial, para a qual a décima praga serviu de intermediária
na noite do pesah, YHWH feriu os primogênitos do Egito e poupou as casas marcadas pelo
sangue do sacrifício pascal, é por isso, diz Êx 13,15, que se imolam os primogênitos dos
animais e que se resgatam os primogênitos do homem. Mas, esta ligação é secundaria, nada
a expressa no ritual pascal e a lei dos primogênitos é dada à parte no velho Código da
Aliança (Êx 22,28-29) (VAUX, 2003, pg. 526).
Por isso, para compreender plenamente as páginas pascais do Êxodo, é necessário
“celebrá-las” na liturgia, como o fará sistematicamente o judaísmo. O pesah torna-se
então, uma Festa eminente eclesial a dois níveis. Antes de tudo a nível familiar, como o
atesta Êx 12,3-4: “Ao dez deste mês cada um tomará para si um cordeiro por família (...).
Mas se a família for pequena para um cordeiro, então se juntará com o vizinho (...)”. O
85
pesah é sinal de unidade profunda da família, que se acha completa ao redor do cordeiro
em uma ceia de comunhão. A tenda familiar, portanto, é o primeiro lugar para a celebração
e o chefe da tenda o pai é o presidente desta pequena assembleia litúrgica. Considerada
uma Festa muito antiga, a Festa do pesah remonta à época em que os israelitas ainda eram
seminômades, ela é até anterior ao Êxodo.
Enquanto o rito do pesah teve sua origem na esfera semi-nômade, a Festa dos pães
Ázimos (Matzá) pertencia à esfera agrícola e as observâncias são de fundos diferentes, é
portanto, característica de povos sedentários, que por meio dela, celebram o início da ceifa.
Devemos começar a considerar o nome da Festa. É chamado a Festa dos pães Ázimos em
Êx 23,15; 34,18.
Não é possível estabelecer o vínculo entre o pão não-levado e a Festa, mas sabe-se
que este costume é muito antigo e que também existia fora de israel. Em dois textos (Êx
23,14-16 e 34,18-23), a Festa aparece junto com duas outras Festas anuais, também
relacionadas com o ciclo da colheita. Dessa forma, estamos diante de uma celebração
originalmente agrária, que foi depois vinculada com a história da libertação. Significativo é
que esta migração se deu de um ritmo cíclico, pertencente ao âmbito do sagrado e
ritualístico, para um evento pontual e irrepetível, relacionado com a história (ANDIÑACH,
2006, pg.157).
O primeiro documento legislativo importante ao lidar com a Festa do pão Ázimo
pertence a um dos extratos mais antigos da lei judaica “o Código da Aliança”. Isto assume
uma posição decisiva em favor da interpretação histórica da Festa: Êx 23,14-16 “Três
vezes no ano me celebraras Festa. A Festa dos pães Ázimos guardarás; sete dias comerás
pães ázimos, como te tenho ordenado, ao tempo apontado no mês de abibe; porque nele
saíste do Egito...”
Não se pode concluir muito do texto porque existe um silêncio sobre o rito do
cordeiro. No entanto, esse texto é significativo pois fala sobre a "Festa dos pães ázimos",
aplicando o nome agrícola. Nota-se também como ele justifica sua prescrição do texto
legislativo: "porque nele saíste do Egito”. Esta justificativa é importante e nos diz
algo sobre a necessidade de explicar a liturgia, uma vez que deixa o único simbolismo
simplesmente natural. Um observador contemporâneo ao participar de uma refeição com
pão sem fermento, podia compreender o seu significado óbvio, especialmente dentro de um
86
A Festa dos ázimos mesmo de origem cananéia assumiu, parece que desde a sua
adoção, um caráter propriamente israelita. Sendo uma Festa agrícola, ela dependia do
amadurecimento da colheita e não podia ter data mais precisa que o mês de Abib, tal é o
estado dos calendários de Êx 23 e 34 e também do Deuteronômio.
Observou-se que a Festa do pesah era celebrada no mesmo mês da Festa dos pães
ázimos, e precisamente na lua cheia. Quando ela foi transformada pelo Deuteronômio e
pela reforma de Josias em uma Festa de peregrinação, como já era a Festa dos pães ázimos,
pareceu conveniente unir as duas datas, a própria prescrição antiga e independente de
comer pão sem fermento no pesah favoreceu esta combinação, talvez também a influência
de ritos locais, como o do santuário de Gilgal, Js 5,10-12. A data do pesah, já fixada na lua
cheia, continuou como era e os ázimos lhe foram ligados, seguindo-a imediatamente
durante sete dias.
No décimo quarto dia do primeiro mês é celebrada o pesah e no décimo quinto o
festival semanal de pão sem fermento começa (Lev. 23,4). No período após o Exílio a
Festa do pesah e do pão ázimo tinha o status e a dignidade da Festa principal da
comunidade cultural em Jerusalém. As medidas adotadas pelo rei Josias (2 Reis 23,21)
foram decisivas para este desenvolvimento, e seus significados tornaram-se cada vez mais
evidentes no período que se seguiu. Mas, é possível que a marca do predomínio do festival
da primavera foi influenciada pelo arranjo do calendário babilônico, em que o ano começou
na primavera (Êx 12,2). Particularmente por contraste com os grandes festivais de Ano
Novo com os quais os exilados se tornaram, a tradição da Festa do pesah e da pão ázimo
parece ter crescido em importância. Este desenvolvimento pode ser visto também no Norte
no período após o exílio.
Devemos observar que a celebração do pesah e a dos ázimos foram mais tarde
unidas à saída do Egito e associadas à lei sobre os primogênitos (Êx 13,1. 11-16). Este
nexo se explica pelo relato da décima praga (Êx 11) que atinge os primogênitos do Egito ao
passo que o flagelo poupa os israelitas graças ao sangue da vítima pascal (Êx 12,13). Por
essa razão, Êx 13,15 declara que todo primogênito do homem deve ser resgatado. Isso,
porém não transforma ao pesah num rito de oferenda dos primogênitos do rebanho
(LACOSTE, 1998, pg. 1350).
O texto de Deuteronômio 16,1-8 parece, a primeira leitura a unir Festa do pesah
88
com a Festa dos pães ázimos mais estreitamente ainda que os textos sacerdotais
apresentados. Para Vaux (2003) o texto é compósito. Os v.1,2,4b-7 são relativos ao pesah:
ela é celebrada no mês de abib, mas o dia não é indicado. A vítima pode ser escolhida entre
o gado grande ou pequeno e deve ser imolada ao pôr-do-sol, não no lugar onde se quiser,
mas “no lugar escolhido por YHWH para lá fazer habitar o seu nome”, a saber, em
Jerusalém. É neste santuário que ela deve ser assada e comida durante a noite, de manhã
cada um volta para casa. Já os v.3,4 e 8 remetem, por outro lado, aos ázimos, durante sete
dias, se comerá ázimos, um “pão de miséria” (VAUX, 2003, pg. 523).
Tanto a Festa do pesah, como a Festa dos pães ázimos eram Festas separadas e com
o passar do tempo e por serem duas Festas próximas na questão de datas, elas foram unidas
com um só proposito.
Estudar a fundo a origem da Festa das semanas nos trará imensas hipóteses que
muitas vezes não iriamos conseguir solucioná-las. Tércio Siqueira (2016) diz:
O autor expõe três razões que o leva a suspeitar que a Festa das semanas tem uma
forte descendência canaanita, e concordo com estas suspeitas.
A primeira é que os agricultores sedentários cananeus dominavam os férteis vales
de Canaã quando os hebreus chegaram a Canaã. Segunda hipótese seria que originalmente
os hebreus ou israelitas não eram agricultores, mas pastores de ovelhas, vivendo como
seminômades nas montanhas centrais e estepes localizadas nas periferias das ricas regiões
agrícolas de Canaã. A terceira e última hipótese é que pouco a pouco, o povo israelita veio
torna-se agricultor e sedentário. É interessante notar que todas estas hipóteses fortalecem o
desenvolvimento de que o povo teve com o passar dos tempos e com suas conquistas.
Não temos quase nada sobre a Festa das semanas no período pre-exilico, mas
encontramos bons materiais do período pós-exílico e os períodos judaicos tardios, que nos
últimos tempos tem sido minuciosamente investigado, obtivemos bons resultados sobre o
56
http://portal.metodista.br/fateo/materiais-de-apoio/estudos-biblicos/a-Festa-de-pentecostes-no-antigo-
testamento.
89
A Festa das semanas possui vários nomes, por exemplo: Hag há-Qatsir, Festa da
colheita (Êx 23,16), trata-se da última colheita do ano, a sega do trigo. Concretizava-se a
feição agrícola, na época do Templo, pela oferenda de dois pães.
Hag há-Shavuot, Festa das semanas (Dt 16,10; Êx 34,22), relativa as sete semanas
de ´omer: “contarás sete semanas. A partir do momento em que lançares a foice nas
espigas, começaras a contar sete semanas. O início da Festa acontece cinquenta dias depois
da Festa do pesah, com a colheita da cevada e finaliza com a colheita do trigo. Celebrarás
então a Festa das semana...(Dt 16,9-10).
Yom há-Bikkurim, dia das primícias (Nm 28,26), primícias da colheita, era como se
consideravam os dois pães mencionados em Lv 23,17, não se podiam oferecer as demais
primícias, sem antes as ter apresentado a YHWH (AVRIL, 1997, pg. 52). Para Tércio
90
Siqueira, este nome tem sua razão de ser na entrega de uma oferta voluntária, a YHWH,
uma oferta dos primeiros frutos da terra colhido naquela sega (Nm 28,26)
Como vimos anteriormente, a Festa do pesah era uma Festa caseira, celebrada com
a família em suas casas, já a celebração da Festa das semanas era uma celebração agrícola,
originalmente, realizada no local de plantio, no lugar onde se cultivava a cevada o trigo
entre muitos produtos que o povo plantava naquela época.
Segundo os livros de Lv 23,15-16; Dt 16,9 a Festa das semanas era realizada após
sete semanas da celebração da Festa dos pães ázimos. De acordo com Lv 23,15 as “sete
semanas” devem ser contadas a partir do dia seguinte o sábado. Em Dt 16,9 são “sete
semanas” desde o momento em que você começa a colocar a foice na colheita. Este cálculo
significa que a colheita da cevada e a colheita de trigo estão ligados por um período de sete
semanas, ou que a partir da Festa dos pães ázimos “sete semanas” ou “cinquenta dias” (Lv
23,16) devem ser contados. A Festa das Semanas foi originalmente o festival que concluiu
um período especial de sete semanas. Os costumes e ritos ligados a esta Festa foram
originalmente direcionados exclusivamente com a colheita (Êx 23,16; 34,22).
Para Kraus (1965) o júbilo da colheita e a alegria festiva são as principais
celebrações. Não há dúvida de que os israelitas adotaram as semanas da população cananea
nativa, o que significa que a todo o período das “sétimas semanas” foi retomado pelos
regulamentos culturais do Antigo Testamento. Não podemos afirmar com certeza o
significado original deste período “sete semanas”. Há pouca evidência para nos ajudar no
ambiente cananeu, mas não devemos ignorar o fato de que o “período de sete” era um
importante elemento da tradição cultica ugarítica (KRAUS, 1965, pg. 59).
Poucos textos como este de Lv 23,15-16 exprimem com sobriedade e profundidade
o sentido das Festas agrícolas e sua reinterpretação histórica realizada pelo povo bíblico.
Como qualquer uma das Festas de primícias, a das semanas expressa a atitude consciente
de Israel, de que os frutos da terra são dons de YHWH.
Fazendo as contas das “sete semanas”, a Festa das semanas acontecia na época
correspondente ao início do verão. Segundo Pereira (1997) a fixação destas datas
provavelmente decorreu da regulamentação sacerdotal que anexou a Festa das semanas à
Festa dos ázimos, regidas pelo ciclo agrícola. Porém, os ázimos foram conjugados com as
festividades do pesah, que era calculada pelo ciclo lunar que regia e definia os meses do
91
calendário. Isto aconteceu em torno do século VII a. E.C. para a organização da vida
religiosa (PEREIRA, 1997, pg. 19).
Nenhuma das três grandes e principais Festas anuais de Israel foi tão complexa em
sua história e sua tradição como foi a Festa das tendas. Por mais que tentemos afirmar
quando a Festa começou, quais eram seus principais objetivos, não temos detalhes de
quando começou e aonde começou. Podemos considerar que os principais mantenedores
desta Festa a tinham como uma Festa agrícola, a Festa das tendas estava vinculada à
perspectiva produtiva.
Deuteronômio 31,10 fala de uma celebração que veio "a cada sete anos" no tempo
da Festa das tendas. Em 1 Rs 8,1 fala de atos de adoração que devem ser considerados
quando chegarmos a examinar as tradições locais de Jerusalém. Segundo 1 Rs 9,25, no
tempo de Salomão, o festival de outono, celebrado no Templo e acompanhado de
sacrifícios, foi a principal Festa do ano. As oferendas de sacrifício são a tônica do festival
na regulação, Ez 14,2. Zc 14,16 reflete tradições características da Festa das tendas.
O pesquisador Araújo (2011) fala que no geral, pode-se afirmar que não existe
quase nenhum elemento comum entre os diversos relatos a respeito da Festa das tendas (Ex
23; 34; Lv 23; Nm 29 e Dt 16). Existe apenas uma característica que forma o fio condutor
entre estes diversos relatos, com exceção de Nm 29,23 o caráter agrícola da Festa, que
permanecerá durante o decorrer dos séculos como um elemento distintivo da Festa das
tendas. As demais características variam de livro para livro do Pentateuco.
Em geral, os textos falam de sete dias mais um, que é o oitavo (Lv 23; Nm 29; Dt
16). Os relatos da Festa das tendas, no Pentateuco, apenas afirmam a obrigação da
celebração anual desta Festa, junto com as outras duas, pesah e semanas, respectivamente.
Nos relatos que sucedem o Pentateuco encontraremos a Festa em relação com a vida
pública de Israel (ARAÚJO, 2011, pg. 20).
A ação de graça para a colheita e alegria festiva foram a chave para a Festa (Dt
16,14, Lv 23,40). Os costumes do original agrícola podem ser claramente vistos em Juízes
21,19-21, danças faziam parte da Festa das tendas, em que se celebravam de modo alegre
as provisões de YHWH no deserto (Dt 16,15, Lv 23,41). No livro de Nm 8,18 “descanso
solene” observamos que, sobre o governo de Neemias foi acrescentado um dia a mais neste
período festivo.
92
Podemos dizer que o semanário da construção das tendas, era composto por vários
ramos de árvore de diferentes espécies e tamanhos, por exemplo: palmeiras e oliveiras.
Durantes os sete dias a família habitava nestas tendas realizando várias modalidades de
expressões religiosas, dentre ela destaca-se a leitura dos textos sagrados, que era a prática
constante no conjunto celebrativo, pois a identidade singular da formação de cada
praticante vinha deste momento de adoração.
relacionaram-na com a sua, pois a mesma possuía uma proximidade com a realizada pelos
cativos. Assim, quando os exilados retornaram à sua terra, e o culto se tornou centralizado,
a primeira mudança no conjunto celebrativo se operou.
Tal mudança estava relacionada ao local de sua execução, isto é, ela deixou de estar
centrada no campo para ocorrer no interior ou no entorno do santuário, onde se
desenvolviam todas as demais cerimônias nacionais desse povo. Assim, operou-se uma
espiritualização histórica, ou seja, de uma Festa agrária retirou-se todos os seus elementos
agrários, para dar luz a acontecimentos ligados ao deserto, relacionados, sobretudo, à
Aliança do Sinai (PETRUSKI, 2016, pg. 158).
Considerada a Festa da última colheita do ano, sobretudo do vinho e do óleo, a Festa
das tendas era celebrada com um ritual muito rico e original. Tinha particular importância o
assim chamado rito de Lulav57 e a Libação da água58. O rito de lulav está ligado ao
mandamento do Levítico, segundo o qual a Festa das tendas deve ser celebrada do seguinte
modo: “No primeiro dia, tomai frutos de cedro, ramos de palma, feixes de mirto e dos
salgueiros das ribeiras, e alegrai-vos diante de YHWH, vosso Deus, durante sete dias” (Lv
23,40).
Os peregrinos fieis a estas normas se dirigiam ao templo de Jerusalém, trazendo na
mão esquerda um cedro e na mão direita um ramo de palma entrelaçada com mirto e
salgueiro, cantando louvores (Sl 113-118) os agitavam no ar, na direção dos quatro pontos
cardeais.
Figura 3 - Lulav
57
O Lulav é a maior folha da palmeira.
58
Ritual realizado durante a Festa das tendas (Ez 47,1-10; Zc 14,6-16; Jo 7,37-39).
94
Fonte: https://br.pinterest.com/explore/lulav-and-etrog/?lp=true
Quanto ao nome da Festa, também aqui não temos um fio condutor. A obra do
Êxodo usa a expressão “Festa da Colheita” (Êx 23,16; 34,22) porque é uma celebração de
ação de graças para as bênçãos da colheita, enquanto Levítico e Deuteronômio preferem a
expressão “Festa das tendas” (Lv 23,34 e 43; Dt 16,13 e 16; 31,10) porque comemorou a
proteção de YHWH ao povo, e como eles moravam em cabanas durante a sua permanência
no deserto. Uma particularidade é Lv 23, que junto com a expressão “Festa das tendas”
também usa “Festa do Senhor”. Lv 23, ordena o uso de ramos e habitar em tendas durante
sete dias, como memória da saída do Egito e caminhada do deserto.
O nome da Festa em hebraico “sukkot”, que literalmente significa "cabines" ou
"cabanas", é representado na Vulgata latina como tabernacula, da qual derivamos a
designação “Festa dos Tabernáculos” esta expressão é usada mais no Novo Testamento.
De acordo com o Código da Aliança, a Festa das Tendas deveria acontecer no final
da temporada da colheita, nos últimos dias do ano civil (Êx 23,16). Se compararmos com o
nosso calendário, o período ora citado corresponde ao mês de Outubro.
Para a pesquisadora Petruski (2016) nas primeiras vezes em que essa festividade se
sucedeu, não havia estabelecido um dia fixo para a sua salinização, pois a mesma dependia
do tempo de amadurecimento dos frutos, o que era variável na região devido ás
interferências climáticas. A instituição de uma data fixa para sua execução só ocorreu após
o período do primeiro exílio babilônico em 598 a.C., quando os sacerdotes do Templo a
firmaram no 15º dia do 7º mês – Tishri (que era o último mês do calendário). Uma vez que
o dia dos judeus começa ao pôr-do-sol, a Festa começa ao pôr-do-sol na conclusão do dia
14 e continua por sete dias até o pôr-do-sol após o 21º dia no mês judeu Tishri. Assim, após
o término da colheita e a partir do instante em que a mesma estivesse devidamente
armazenada e salvaguardada, era o momento de cumprir com o que YHWH havia
estabelecido aos homens (PETRUSKI, 2016, pg. 154).
principais Festas de peregrinação (Dt 16), no único lugar, na presença de YHWH (WILLI-
PLEIN, 2001, pg. 120).
Em Deuteronômio 16,1-8 vemos o processo pelo qual Deuteronômio (como o
"Livro da Lei" que foi a base da reforma de Josias em 2 Reis 22) procura elevar o pesah,
que os israelitas celebraram anteriormente em casa, em um festival de peregrinação e ao
mesmo tempo, a fim de preservar o número tradicional de três Festas de peregrinação e
para colocá-lo no lugar da Festa dos pães Ázimos, que também foi observada na primavera
(KRAUS, 1965 pg.50).
Em 2 Reis 23,21 “Deu ordem o rei a todo o povo, anunciando: Celebrai o
sacrifício de pesah, a Yahweh, o Eterno, vosso Deus, exatamente como está escrito no
Livro da aliança!”, aprendemos como foi adotada e observada a lei prática de adoração no
período de Josias. Esse relato faz ponto especial que não pode ser negligenciado e
certamente o povo não havia guardado tal pesah nos dias dos juízes que julgaram Israel,
nem em todos os dias dos reis de Israel, nem dos reis de Judá, mas no décimo oitavo ano do
rei Josias foi o pesah guardado ao Senhor em Jerusalém.
Esta passagem destina-se a deixar bem claro que quando pensamos na Festa do
pesah como peregrinação e Festa do santuário, não devemos pensar nisso como uma
inovação absoluta, mas como a reintrodução de um velho costume do período antes da
monarquia. A tendência tem sido considerar esta referência a uma tradição cultual do
período dos juízes como sem fundamento histórico e para vê-lo como a reivindicação de
um conservador movimento consciente da tradição.
Se perguntarmos se existe alguma evidência nas tradições do Antigo Testamento do
período dos juízes de um pesah que todo o Israel celebrou, somos confrontados por Josué
5,10-11.
Que se refere a Festa do pesah e a Festa dos pães Ázimos que foi comemorada por
"todo Israel" em Gilgal. Na medida que Josias incluiu a Festa do pesah como uma das
Festas de peregrinação e centralizou a Festa no templo, isso significou uma mudança
extraordinária e nova para o período monárquico.
As medidas adotadas pelo rei Josias (2 Reis 23,21) foram decisivas para este
98
desenvolvimento e seus significados tornaram-se cada vez mais evidentes no período que
se seguiu. A adoração que Israel praticava com a Festa do pesah e do pão ázimo não caiu
completa do céu, mas foram sendo aperfeiçoadas com o passar do tempo. A Festa do pesah
e a Festa dos pães ázimos eram ao princípio duas Festas separadas, e o que parece, a
primeira era mais antiga que a segunda. E é possível que elas tenham sido juntadas com as
Festas das semanas e das tendas pela primeira vez na Reforma de Josias.
Podemos considerar este aspecto da “reforma” de Josias como nada além de uma
ação administrativa para apertar o controle estatal sobre agricultura, indústria e comércio.
Josias representando as preocupações da classe dominante que buscava a riqueza,
apropriou-se destas tradicionais celebrações religiosas. Ao centralizar as três principais
Festa judaicas Josias também estaria fortalecendo o seu governo economicamente, tudo
estaria centralizado no templo de Jerusalém fortalecendo o seu governo e sua
administração.
5 O CALENDÁRIO JUDAICO
uma análise do texto. Uma Festa de sete dias de pães ázimos, cujo último dia deve ser
celebrado por uma assembleia cultual (Dt 16,8) não pode ser conciliada com o regulamento
em (Dt 16,7), de acordo com o qual deve voltar à sua casa na manhã seguinte a refeição do
pesah.
Se compararmos o calendário cultual do Deuteronômio com os regulamentos mais
antigos em Êx 23,10 e Êx 34,18 o que particularmente, juntamente com muitos pontos de
detalhe é que uma demanda de centralização e uma extensão do círculo dos que tomam
parte no culto vem à tona. Estes parecem ser os objetivos dos autores que são responsáveis
pela concepção deuteronômica.
Também não devemos ignorar as conexões com as reformas do culto de Josias, rei
da Judéia. Entretanto, seria um erro não tomar nota dos traços característicos da teologia e
da tradição Deuteronomistas que também apontam para o período mais antigo. Diferentes
extratos de regulamentos e conceitos em Deuteronômio 16,1-17 não podem ser plenamente
compreendidos e adequadamente explicados meramente do ponto de vista da crítica
literária (KRAUS, 1965, pg. 28).
Portanto, o primeiro resultado provisório da nossa análise a ser observado, é que o
calendário cultual Deuteronômico está ligado ao regulamento relativo ao pesah com a
instituição da Festa dos pães ázimos, ligam o regulamento relativo do pesah com a
instituição da Festa dos pães sem fermento que a tendência para a centralização emerge, e
que, em comparação com práticas anteriores, o círculo dos que participam no culto é
alargado.
MCMurtry (2012) classifica as três Festas judaicas, cujas festividades anuais eram:
Pesah – 14 de abib (nisã); Pães Ázimos – 15-21 de abib (nisã); Semanas, ou Pentecostes –
6 de sivã; Toque de Trombeta – 1° de etanim (tisri); Dia da Expiação – 10 de etanim (tisri);
e, Tendas – 15-21 de etanim (tisri), com uma assembleia solene no dia 22. As festividades
periódicas antes do exílio, que eram: Sábado semanal; Lua nova; Ano sabático (a cada 7
anos); e, Ano do jubileu (a cada 50 anos). E as festividades pós-exílio, que eram:
Festividade da Dedicação – 25 de quisleu; e, Festividade de Purim – 14, 15 de adar
(MCMURTRY, 2012, pg. 15).
O autor explica que as três principais Festas judaicas, que eram periódicas, por
vezes foram denominadas de “Festas da peregrinação”, uma vez que reunia todos em
Jerusalém, em épocas fixas, cujas celebrações eram designadas pelo termo hebraico
“Moh‛édh”. Contudo, o termo “hhagh” era utilizado para se referir de forma exclusiva a
cada uma das celebrações.
101
Essas são as principais Festas que fazem parte da tradição judaica, desde as mais
antigas até as contemporâneas. Contudo, a essa pesquisa interessam apenas as três
primeiras, que são conhecidas, majoritariamente, como as três principais Festas judaicas.
6 CONSIDERAÇÕES INTERMEDIÁRIAS
Ao analisar as três principais Festas judaicas, percebemos que não podemos afirmar
com toda a clareza como elas surgiram. O que sabemos é que cada uma destas Festas
sofreu transformações com o decorreu do tempo.
A Festa do pesah que era usada para a proteção do rebanho e da família e era uma
Festa familiar foi com o passar do tempo sendo transformada até chegar ao templo de
Jerusalém. Logo no início da Festa do pesah ela não tinha como objetivo adorar a YHWH,
provavelmente ela tinha como objetivos adorar a outras divindades protetoras dos
rebanhos.
O pesah é sinal de unidade profunda da família, que se acha completa ao redor do
cordeiro em uma ceia de comunhão. A família, portanto, é o primeiro lugar para a
celebração e o chefe da família o pai é o presidente dessa pequena assembleia litúrgica.
Considerada uma Festa muito antiga como já vimos, a Festa do pesah remonta à época em
que os israelitas ainda eram seminômades, e podemos dizer que ela é até anterior ao Êxodo
e sofreu alterações até ser centralização no templo de Jerusalém.
A Festa dos pães ázimos tem como sua origem a esfera agrícola e as observâncias
são de fundos diferentes, é portanto, característica de povos sedentários, que por meio dela
celebram o início da ceifa. Não é possível estabelecer o vínculo entre o pão não-levado e a
Festa, mas sabemos que esse costume é muito antigo e que também existia fora de Israel. A
Festa dos ázimos assumiu, parece que desde a sua adoção, um caráter propriamente
israelita, sendo uma Festa agrícola, ela dependia do amadurecimento da colheita e não
podia ter data mais precisa que o mês de abib.
Vimos também que a Festa do pesah e a Festa dos pães ázimos eram duas Festas
separadas, porém comemoradas no mesmo mês, e precisamente na lua cheia. Com a
reforma do rei Josias estas duas Festas foram unidas em uma comemoração apenas. No
décimo quarto dia do primeiro mês é celebrado a Festa do pesah e no décimo quinto a
Festa dos pães ázimos. No período após o Exilio a Festa do pesah e a Festa dos pães
ázimos tinham o status e a dignidade da Festa principal da comunidade cultural em
Jerusalém.
A segunda Festa do calendário judaico é a Festa das semanas, sua origem não
102
sabemos com certeza, o que sabemos que era uma Festa também voltada para a agricultura,
e que depois com o passar do tempo foi centralizada no templo. Para Kraus (1965) a Festa
das semanas é uma celebração que o povo israelita herdou da cultura dos cananeus. Ela era
expressão de gratidão pela colheita do trigo e da cevada. A Festa das semanas também foi
ligada à história da salvação. Os israelitas adotaram essa pratica antiga e em Israel
costumavam oferecer os cereais e os frutos dessa época do ano no templo de Jerusalém
como um ato de agradecimento pela boa colheita.
Considerada a terceira Festa mais importante, a Festa das tendas era uma Festa
muito complexa. Por mais que tentemos afirmar quando a Festa começou, quais eram seus
principais objetivos, não temos detalhes a este respeito. Podemos considerar que os
principais mantenedores desta Festa a tinham como uma Festa agrícola, a Festa das tendas
estava vinculada à perspectiva produtiva da colheita. É uma Festa muito popular até os dias
de hoje no templo de Jerusalém em Israel e como de costume o povo cria pequenas cabanas
(Sucá) nos jardins das casas e no templo de Jerusalém, onde se celebra a Festa.
Quando estudamos a reforma de Josias vimos com clareza as transformações que as
Festas sofreram, estes relatos estão principalmente no livro de 2 Rs 22-24. A reforma de
Josias identifica um único lugar do culto em Jerusalém. Também Israel tornou-se
potencialmente unificado e tendo somente um local de adoração. Os templos que existiam
fora de Jerusalém foram todos destruídos e os sacerdotes foram convidados a adorar
somente a YHWH no templo central de Jerusalém. Esta reforma também teve um objetivo
político e econômico. Com a centralização das Festas em Jerusalém Josias pretendia
fortalecer a economia de Jerusalém.
Ao estudarmos o calendário judaico percebemos que com o desenvolver da
organização e estruturação da sociedade judaica no pós-exilio, as Festas já assimiladas
passam por uma regulamentação, ou seja, estabelece-se um calendário padrão a ser seguido
pelo povo. As tradições do calendário cultual passam por uma adaptação muito decisiva e
ajuste no Deuteronômio. A observância das três grandes Festas anuais é estabelecida neste
calendário cultual abrangente. Os requisitos Deuteronômicos, portanto, pela primeira vez
incluem o pesah nos regulamentos culticos do calendário de festividade, e relaciona-o com
a Festa dos pães ázimos.
103
CONSIDERAÇÕES FINAIS
que fazem referências às três peregrinações anuais ao santuário central: a Festa do Pesah
(hag pesah) e dos Pães Ázimos (hag matzá) (v.1-8), Festa das Semanas (hag xabu´ot) (v.
9-12) e a Festa das Tendas (hag sukkōt) (v.13-15). Essas Festas são consideradas as
principais Festas judaicas dentro do calendário judaico.
Conforme Von Rad (1966) a perícope de Deuteronômio mostra a dificuldade que
Israel encontrava para desenvolver conteúdos teológicos teóricos a partir de si mesmo. Esse
estilo Deuteronômico, caracterizado pela repetição de uma típica combinação de palavras,
tem do princípio ao fim uma característica exortativa e constitui-se de palavras dirigidas ao
interlocutor a fim de conquistá-lo.
O conteúdo da perícope também é estudado neste capítulo, evidenciando o
contexto histórico e social do povo de Israel ao longo das frases, estrofes e termos. No
segundo capítulo o caminho percorrido foi comparativo. Fez-se uma análise das três Festas
judaicas citadas acima e a comparação das suas versões entre os livros de Êxodo, Números
e Levítico com a perícope de Deuteronômio 16,1-17 que foi a base desta pesquisa. Quanto
à Festa do Pesah e Pães Ázimos, se compararmos o Livro de Êxodo e Deuteronômio pode-
se afirmar que é a que mais apresenta transformações e mudanças relevantes.
A Festa do Pesah tem seu início como um ritual pequeno, que ocorre no seio
familiar, cujo objetivo era a gratidão pela proteção do rebanho e pela proteção da família.
No decorrer da história se torna a mais importante comemoração do ano, para a qual as
famílias se deslocam até o templo de Jerusalém, em peregrinação, para festejar no único
local designado como sagrado para receber o povo que trazia suas ofertas e rituais, este
com objetivo de gratidão, pela proteção de YHWH. Um dos principais motivos da
centralização da Festa no templo de Jerusalém também visa a centralização do tributo, que
o povo trazia em forma de oferta, para a manutenção de toda a estrutura do templo,
composta por sacerdotes e um grande grupo de funcionários. Visa também a unificação do
Estado em torno da proposta da reforma do rei Josias, no século VII a.C,. pois, um culto
descentralizado representa um país difícil de governar.
O livro de Êxodo diz como deveria ser o preparo para esta Festa: começar quatro
dias antes do dia 14 do mês (Êx 12,6). Posteriormente, a tradição judaica fixou como dez o
número de pessoas para quem um cordeiro deveria ser repartido e também declarou que
todos os membros da família, homens, mulheres e crianças, deveriam participar da Festa.
Há outras diferenças significativas na comparação entre Êxodo e Deuteronômio sobre a
Festa do Pesah. Entre elas a escolha do animal a ser oferecido no ritual, a forma de preparo
para o consumo pelas pessoas, o mês de sua realização e o horário do oferecimento do
105
sacrifício.
Para o pesquisador Dias (2006) o livro do Deuteronômio impõe à Festa ao pesah
uma anamnese em que a dimensão funciona quase à maneira “sacramental.” “O pesah
não é apenas um acontecimento do passado histórico de Israel, a sua historicização
litúrgica tornou-a centro de gravidade e eixo de todo o culto ao longo do ano litúrgico
judaico, dando-lhe dimensão anamnésica-litúrgica-escatológica” (DIAS, 2006, pg. 31).
Em relação à Festa das Semanas, também conhecida como Festa da Colheita ou
Pentecostes, o pesquisador McMurtry (2012) diz que falar das suas origens seria uma tarefa
extremamente exaustiva, já que a mesma, data da época dos cananeus e de outros povos do
Antigo Oriente Médio, dos quais não se possui muitas informações.
Segundo ele, é possível presumir que o costume da realização da Festa das
Semanas foi originalmente pertencente aos cananeus, por três principais razões: os
agricultores sedentários cananeus tinham domínio de terras férteis dos vales de Canaã no
período em que os hebreus chegaram a esse local; de forma original, os hebreus não tinham
a prática agrícola, mas sim de pastoreio, logo, viviam como seminômades nas montanhas
centrais e regiões das ricas periferias das regiões agrícolas de Canaã; e, gradativamente o
povo israelita se tornou agricultor sedentário. Contudo, esta conclusão de McMurtry (2012)
deve ser contestada, uma vez que já há meio século se tem comprovado de que o povo de
Israel é originário do próprio povo cananeu. Mas, se pode resgatar desta teoria a
confluência entre povos seminômades das estepes, que praticavam o pastoreio e os povos
sedentários que praticavam a agricultura. Esta mescla de costumes está por trás da Festa
das semanas.
Duas preocupações cruciais surgem quando se analisa a Festa das Semanas: a
gratidão pelos frutos da terra, que no caso do trigo e da cevada são a base da alimentação
do povo, e a comunhão, uma forma de gratidão que vai além da pessoa, estendendo-se ao
grupo, à comunidade e à sociedade. A transformação da Festa das Semanas foi quase
inevitável em Israel, uma vez que ao longo da história toda a tradição e costumes foram
sendo reinterpretados a partir da adoração à YHWH.
A Festa das Semanas marca o final da temporada do pesah e as principais
características do evento é o fato de que era alegre e solene. A celebração tinha dedicação
exclusiva à YHWH e era aberta a todos os produtores, seus familiares, pobres, levitas e
estrangeiros. A participação de todos familiares, pobres, levitas e estrangeiros era muito
importante e significava que não deveria haver diferenças na sociedade e povo de YHWH.
106
A prática da Festa das semanas vai contra uma sociedade que exclui os pobres e
estrangeiros de participar das celebrações.
A transformação da Festa das Semanas foi quase inevitável em Israel, uma vez
que ao longo da história toda a tradição e costumes foram sendo reinterpretados a partir da
adoração à YHWH e a centralização da Festa no templo de Jerusalém foi de uma
importância considerável para o povo judeu.
Já a Festa das Tendas ou Tabernáculos era um evento em comemoração à colheita
de outono e era considerada a terceira principal Festa judaica. O primeiro dia da Festa das
Tendas era o 15º dia do sétimo mês do ano. A ideia da Festa era a colheita dos frutos
típicos da época, marcando a saída do ano agrícola, além de viver ao longo de sete dias em
tendas, ou seja, habitações provisórias.
A tenda em si, para os pouco familiarizados, era o local em que o senhor habitava
no meio de seu povo, recebendo dele adoração e sacrifício, falando com ele no período da
antiga aliança. Essa é a temática da Festa das tendas, quando YHWH habita com seu povo,
de forma que o uso das áreas e utensílios das tendas, tal como a disposição dos rituais desse
evento, se encontram nos capítulos 25, 26 e 27 do livro do Êxodo. As tendas eram
preparadas para servir de habitações pelo espaço de sete dias, e o povo habitava nelas em
meio a demonstrações de alegria, lembrando-se de como YHWH havia tirado o povo de
Israel do Egito, provendo-lhes, no deserto, o necessário.
Tendo iniciado também como Festa familiar, com o passar do tempo foi
centralizada no templo e a família passou a construir tendas no templo como um ato de
adoração a YHWH. Mesmo tendo sido atualizada, entre as três principais Festas de
tradição judaica, foi a que sofreu menor impacto, em termos de mudanças ou alterações.
A terceira e última parte deste trabalho foi dedicada à análise da origem popular
das principais Festas judaicas “Pesah, Ázimos, Semanas e Tendas”. Também foram
exploradas as mudanças sofridas por estes eventos através dos tempos e as suas principais
relevâncias para o povo de Israel, tanto no período do Antigo Testamento, como também as
heranças deixadas e que ainda têm reflexos nos dias atuais. Depois de todo o estudo
realizado sobre as três principais Festas judaicas, não é possível afirmar com precisão
como foi o surgimento de cada uma delas. O que ficou claro por meio da pesquisa foram as
transformações que elas tiveram, envolvendo desde o formato de execução, período do ano
e, principalmente, o seu simbolismo para o povo.
Ao falarmos da origem do pesah, não se tem dados suficientes para esclarecer
sobre a sua celebração no período pré-israelita. O que se sabe é que esta Festa originou-se
107
como uma celebração em que os pastores têm como o recurso mais importante e precioso,
o rebanho. Quando colocamos o pesah como uma celebração de pastores, estamos
distinguindo o pesah das outras três Festas (Ázimos, Semanas e Tendas), consideradas
como Festas de peregrinação, mencionadas nos mais antigos calendários litúrgicos (Êx
23,14-17; 34.18-23). No judaísmo, o Pesah, é a etapa mais solene do calendário civil e
litúrgico. Este privilégio ocorre depois de ter percorrido um complexo itinerário, cujos
inícios se perdem nas arcaicas tradições nômades de povos pré-israelitas.
Vimos também que a Festa do ázimos tem como sua origem a esfera agrícola.
Observamos que a Festa do pesah e a Festa dos pães ázimos eram duas Festas separadas
mas comemoradas no mesmo mês, e com o passar do tempo por serem bem próximas elas
foram unidas.
A Festa das semanas também tem como sua origem uma Festa voltada à
agricultura. Para Kraus (1965) a Festa das semanas é uma celebração que o povo israelita
herdou da cultura dos cananeus. Ela era expressão de gratidão pela colheita do trigo e da
cevada. A Festa das semanas também foi ligada à história da salvação. Os israelitas
adotaram essa prática antiga e em Israel costumavam oferecer os cereais e os frutos dessa
época do ano no templo de Jerusalém como um ato de agradecimento pela boa colheita.
Considerada uma Festa muito complexa, mas que sofreu poucas mudanças no
decorrer dos tempos, a Festa das Tendas é considerada a terceira Festa mais importante no
calendário judaico. Por mais que tentemos afirmar quando a Festa começou, quais eram
seus principais objetivos, não temos detalhes de quando começou e aonde começou.
Podemos considerar que os principais mantenedores desta Festa a tinham como uma Festa
agrícola, a Festa das tendas estava vinculada à perspectiva produtiva da colheita. É
considerada até os dias de hoje uma Festa muito popular no templo de Jerusalém em Israel
e como de costume o povo constrói pequenas cabanas (Sucá) nos jardins das casas e no
templo de Jerusalém, onde se celebra a Festa. Não é no templo, mas ao redor, fora das
muralhas, onde era o templo em Jerusalém. O templo não existe mais.
Neste último capítulo também foram analisadas a reforma que estas três
principais Festas tiveram no período do rei Josias. Considerado um dos principais
reformistas das três grandes Festas citadas acima. Josias quando encontra o livro perdido
de Deuteronômio, lê o livro e percebe que precisa fazer algumas reformas nestas três
Festas. Seu interesse, além de religioso, é sobretudo político, pois via no culto o meio para
centralizar o poder e ampliar seu domínio sobre novos territórios. Uma das reformas que
estudamos foi a unificação da Festa do pesah e a Festa dos pães ázimos, bem como a
108
REFERÊNCIAS
Bíblias
Almeida Revista e Corrigida. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
Bíblia Hebraica Stuttgartensia: SESB Version. Electronic ed. Stuttgart: German Bible
Society, 2003.
Bíblia de Jerusalém. Nova edição revista e ampliada. Saõ Paulo: Paulus, 2010.
Nova Bíblia Pastoral. São Paulo: Paulus, 2014.
Bíblia King James Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica Ibero-Americana, 2013.
Bíblia Sagrada Nova Versão Internacional Português-Inglês. São Paulo: Editora Vida,
2003.
Dicionários
DOUGLAS J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, pgs. 1206-
1209.
FILHO, Fernando B. Dicionário Brasileiro de Teologia. São Paulo: ASTE, 2008, pgs. 750-
752.
LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário Crítico de Teologia. São Paulo: Paulinas, 1998, pgs.
1348-1352.
MONLOUBOU, L. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Editora Vozes, 2002, pgs.
595-597.
MCKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Edições Paulinas, 1984, pg. 696.
Jenni E., Westermamm C.. Diccionario Teologico Manual del Antguo Testamento V.1,
Madrid: Cristiandad, 1985.
Artigos e Livros
ANDIÑACH, Pablo R. El Libro Del Êxodo. Madri: Ediciones Sígueme, 2006, pgs. 152-
160.
ARAÚJO, G. L. A Festa de Shavout: Pentecostes. Rio de Janeiro: ATeo, 2015, pgs. 310-
329.
ARAÚJO, G. L. História da Festa Judaica das Tendas. São Paulo: Paulinas, 2011, pgs. 11-
20.
AVRIL, Anne-Catherine. As Festas Judaicas. São Paulo: Paulus, 1997, pgs. 07-88.
CARSON, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2009, pgs. 330-
332.
DA SILVA, Cássio Murilo Dias. Metodologia de Exegese Bíblica. São Paulo: Paulinas,
2000.
FIELD, David. O Mundo da Bíblia. São Paulo: Edições Paulinas, 1986, pgs. 195-203.
FORD, J. Comentário Bíblico Beacon. V.1. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das
Assembleias de Deus, 2009, pgs. 450-452.
GERSTENBERGER, Erhard S., Israel no Tempo dos Persas Século V e IV antes de Cristo.
São Paulo: Loyola, 2002. pgs. 456-466.
HOPPE, Leslie J. Comentário Bíblico Introdução ao Pentateuco. V.1. São Paulo: Loyola,
1999, pgs. 200-202.
111
KRAMER, Pedro. Origem e Legislação do Deuteronômio. São Paulo: Paulinas, 2006, pgs.
45-50.
KRAUS, Hans Joachim. Worship in Israel-A Cultic History of the Old Testament. Grã-
Bretanha: Blackwell Publishers, 1965, pgs. 26-74.
LASOR, William S., HUBBARD, David A., BUSH, Frederic W. Introdução ao Antigo
Testamento - A Torá. São Paulo: Vida Nova, 1999, pgs. 121-138.
LOPEZ, Félix G. Comentário ao Antigo Testamento. V.1. São Paulo: Ave-Maria, 2002,
pgs. 261-310.
MAERTENS, Thierry. Fiesta em Honor a Yahe. Madrid: Ediciones Cristiandad, 1964, pgs.
107-145.
MEYERS, Carol. Social Theory and the Study of Israelite Religion. Atlanta: Society of
Biblical Literature, 1992, pgs. 141-161.
PETRUSKI, M. R. O Senhor Seja Louvado! A Festa das Tendas e dos Pães Ázimos na
Bíblia Sagrada. São Paulo: Revista Caminho v.21, n.1, 2016, pg. 154-158
PFEIFFER, Charles F.; HARRISON, Everett F. Comentário Bíblico Moody. V.1. São
Paulo: Imprensa Batista Reguar, 2001, pgs. 229-332.
PROSIC, Tamara, The Development and Symbolism of Passover until 70 CE. New York:
Published by T&T Clark International, 2004, pgs. 33-71.
RAD, Gerhard Von. Teologia do Antigo Testamento. Vol. 1 e 2. São Paulo: Targumim,
2006, pgs. 215-227.
RAD, Gerhard Von. The Old Testament Library. Pennsylvania: Westminster, 1966,
112
pgs.109-115.
SCHWANTES, Milton. O Direito dos pobres. São Leopoldo, Oikos, São Bernardo do
Campo: Editeo, 2013.
SELLIN E.; FOHRER, G. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Paulus, 2007, pgs.
231-382.
VAUX, R. de. Instituições de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Editora Teológica,
2003, pgs. 521-542.
WILLI-PLEIN, Ina. Sacrifício e Culto no Israel do Antigo Testamento. São Paulo: Edições
Loyola, 2001, pgs. 119-129.
Teses e Dissertações
DIAS, Everson Medeiros. Dízimo uma expressão de gratidão, espontaneidade e
compromisso com Deus: Uma análise da origem e história do dizimo no Antigo
Testamento. São Bernardo do Campo. Universidade Metodista de São Paulo, 2004.
(Dissertação de Mestrado em Ciências da Religião).