Você está na página 1de 73

Site: direitomilitarnozoom.wordpress.

com

Canal no Telegram: Direito Militar no Zoom

“DICA QUENTE”: Live quinzenal no Instagram com


dicas de Direito Militar no perfil @prof.atalibaramos
(segunda-feira, 22:00h)

prof.atalibaramos

prof.atalibaramos

prof.atalibaramos
3

PECULIARIDADES da atuação do advogado

em Inquérito Policial Militar

NOTA DO AUTOR

Este singelo e-book foi produzido para servir de


material de apoio a uma Palestra por mim
ministrada, no dia 05 /08/2020, no I Congresso da
Comissão de Direito Militar da OAB-RJ, e
também de fonte de consulta rápida ou, na
linguagem militar, um “papiro”, um “CABRAL”, um
“memento” para os estudantes de Direito Militar,
para advogados que atuam nesse ramo
especializado e para militares que, dentre suas
diversas atividades, se deparam com a
necessidade de atuar em Inquérito Policial Militar.

3
4

Em hipótese alguma temos a pretensão de esgotar


os temas aqui abordados. Muito pelo contrário, os
tópicos se destinam a dar uma visão panorâmica
acerca de algumas discussões doutrinárias e
jurisprudenciais (em especial com remissão a
julgados do E. Superior Tribunal Militar)
envolvendo a atuação de defensores no Inquérito
Policial Militar (IPM).

Para os estudantes de Direito Militar, esperamos


que o presente e-book auxilie a ter uma resposta
coerente caso sejam perguntados acerca da
temática.

É isso. Vamos conversas um pouquinho sobre


esse maravilhoso assunto que é o Direito Militar!

4
5

BOA LEITURA!

Professor Ataliba Ramos


(Juiz Federal Substituto da Justiça Militar)

5
6

TÓPICO 1
IPM: BREVE CONCEITO E FINALIDADE

INQUÉRITO POLICIAL MILITAR

Breve Conceito - procedimento administrativo


(informativo), realizado pela autoridade de polícia
judiciária militar, quando da apuração das
infrações penais militares e sua autoria, cuja
finalidade precípua é fornecer elementos
necessários à propositura da ação penal militar.

OBS: Existem crimes militares que não são


apurados por meio de IPM.

Exemplo: Deserção e Insubmissão.

Logo, no Processo Penal Militar, há outras peças


informativas:
6
7

a) a IPI (Instrução Provisória de Insubmissão);

b) a IPD (Instrução Provisória de Deserção);

c) o APF (Auto de Prisão em Flagrante); e

d) situações do art. 28 do CPPM

CPPM
Art. 28. O inquérito poderá ser
dispensado, sem prejuízo de diligência
requisitada pelo Ministério Público:
a) quando o fato e sua autoria já
estiverem esclarecidos por documentos
ou outras provas materiais; (ex:
sindicância)
b) nos crimes contra a honra,
quando decorrerem de escrito ou
publicação, cujo autor esteja identificado;
7
8

c) nos crimes previstos nos arts.


341 e 349 do Código Penal Militar.
(desacato a autoridade judiciária militar e
desobediência à decisão judicial)

Vejamos, agora, a finalidade do IPM


expressamente prevista no CPPM:

CPPM

Finalidade do inquérito
Art. 9º O inquérito policial militar é a
apuração sumária de fato, que, nos
termos legais, configure crime militar, e
de sua autoria. Tem o caráter de
instrução provisória, cuja finalidade
precípua é a de ministrar elementos
necessários à propositura da ação penal.
8
9

Finalidade do IPM: Cícero Coimbra traz uma


crítica à finalidade expressa no CPPM, pois, no
seu entender, está muito alinhada à acusação.
Argumenta que a finalidade do caderno inquisitório
deve ser a busca da verdade real, sendo um
instrumento do Estado democrático de Direito.

“merece o Código de Processo Penal


Militar uma releitura, afastando-se a
finalidade expressa que dá ao inquérito
policial motes de peça pré-processual
alinhada à acusação” (2020, pág 324)

Invoca as lições de Luíz Flavio Gomes, no sentido


de que o inquérito policial militar, ao mesmo tempo
em que serve para colher subsídios para a
propositura da ação penal, tem função de filtro, a
fim de que não sejam oferecidas denúncias
infundadas.
9
10

MAS vejamos esse precedente do STF:

O inquérito policial é um procedimento


informativo, de natureza inquisitorial,
destinado precipuamente à formação
da opinio delicti do órgão acusatório.
Logo, no inquérito há uma regular
mitigação das garantias do contraditório
e da ampla defesa. (...) A Lei nº
13.245/2016 implicou um reforço das
prerrogativas da defesa técnica, sem,
contudo, conferir ao advogado o direito
subjetivo de intimação prévia e
tempestiva do calendário de inquirições a
ser definido pela autoridade policial. STF.
2ª Turma. Pet 7612/DF, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 12/03/2019 (Info
933).
10
11

TÓPICO 2
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO IPM

Considerando o objetivo deste e-book, vamos


mencionar apenas 3 características do IPM, as
quais servirão de base para reflexões mais à
frente:

a) Oficialidade: significa dizer que todos os atos


relativos ao IPM devem ser praticados pela
autoridade de polícia judiciária militar, ou seja, não
há qualquer possibilidade de particulares
conduzirem o IPM.

b) Sigiloso (art. 16 do CPPM)

c) Inquisitivo – não se aplica o contraditório e


ampla defesa (é procedimento e não processo
administrativo – art 5º. LV da CF/88)
11
12

OBS: Vícios do IPM

Logo, como o inquérito policial é mera


peça informativa, eventuais vícios dele
constantes não têm o condão de
contaminar o processo penal a que der
origem. (Renato Brasileiro, 2020, pág
175)

12
13

TÓPICO 3
PECULIARIDADES DA ATUAÇÃO DO
ADVOGADO EM RAZÃO DAS
CARACTERÍSTICAS DO IPM

A) OFICIALIDADE – O IPM é conduzido pela


autoridade de polícia judiciária militar.

A previsão da polícia judiciária militar é implícita


no art. 144 §4º CF/88 (Jorge Cesar de Assis
confirma tal informação).

Art. 144 ...


4º - às polícias civis, dirigidas por
delegados de polícia de carreira,
incumbem, ressalvada a competência da
União, as funções de polícia judiciária e a

13
14

apuração de infrações penais, exceto as


militares.

- No âmbito estadual: a autoridade é da Polícia


Militar (PM) ou do Corpo de Bombeiros Militar
(CBM).

- No âmbito federal – autoridade é da Marinha,


Exército ou Aeronáutica.

Quanto a esse tema, é importante analisar o artigo


7º do CPPM com seus parágrafos:

Exercício da polícia judiciária militar


Art. 7º A polícia judiciária militar é
exercida nos têrmos do art. 8º, pelas
seguintes autoridades, conforme as
respectivas jurisdições:
14
15

a) pelos ministros da Marinha, do


Exército e da Aeronáutica, em todo o
território nacional e fora dêle, em relação
às fôrças e órgãos que constituem seus
Ministérios, bem como a militares que,
neste caráter, desempenhem missão
oficial, permanente ou transitória, em
país estrangeiro;
b) pelo chefe do Estado-Maior das
Fôrças Armadas, em relação a entidades
que, por disposição legal, estejam sob
sua jurisdição;
c) pelos chefes de Estado-Maior e
pelo secretário-geral da Marinha, nos
órgãos, fôrças e unidades que lhes são
subordinados;
d) pelos comandantes de Exército e
pelo comandante-chefe da Esquadra,
nos órgãos, fôrças e unidades
15
16

compreendidos no âmbito da respectiva


ação de comando;
e) pelos comandantes de Região
Militar, Distrito Naval ou Zona Aérea, nos
órgãos e unidades dos respectivos
territórios;
f) pelo secretário do Ministério do
Exército e pelo chefe de Gabinete do
Ministério da Aeronáutica, nos órgãos e
serviços que lhes são subordinados;
g) pelos diretores e chefes de
órgãos, repartições, estabelecimentos ou
serviços previstos nas leis de
organização básica da Marinha, do
Exército e da Aeronáutica;
h) pelos comandantes de fôrças,
unidades ou navios;

16
17

Delegação do exercício
§ 1º Obedecidas as normas
regulamentares de jurisdição, hierarquia
e comando, as atribuições enumeradas
neste artigo poderão ser delegadas a
oficiais da ativa, para fins especificados e
por tempo limitado.
§ 2º Em se tratando de delegação
para instauração de inquérito policial
militar, deverá aquela recair em oficial de
pôsto superior ao do indiciado, seja êste
oficial da ativa, da reserva, remunerada
ou não, ou reformado.
§ 3º Não sendo possível a
designação de oficial de pôsto superior
ao do indiciado, poderá ser feita a de
oficial do mesmo pôsto, desde que mais
antigo.

17
18

§ 4º Se o indiciado é oficial da
reserva ou reformado, não prevalece,
para a delegação, a antiguidade de
pôsto.
Designação de delegado e
avocamento de inquérito pelo ministro
§ 5º Se o pôsto e a antiguidade de
oficial da ativa excluírem, de modo
absoluto, a existência de outro oficial da
ativa nas condições do § 3º, caberá ao
ministro competente a designação de
oficial da reserva de pôsto mais elevado
para a instauração do inquérito policial
militar; e, se êste estiver iniciado, avocá-
lo, para tomar essa providência.

18
19

Desse modo, temos:

Órgão Polícia Judiciária OBS


Justiça Estadual Polícia Civil Delegado de
Polícia
Justiça Federal Polícia Federal Delegado Federal
Justiça Militar Autoridades do Art. 7 CPPM Não há o cargo
de Delegado

- Autoridade Originária (art. 7º caput) e Delegada


(parágrafos)

- Não há Delegado de Polícia Judiciária Militar.


Não há quadro técnico específico de investigação.
Não há Corregedoria.

- O Oficial da ativa condutor não precisa ter


formação jurídica. Exemplo: um Capitão Médico-
Anestesista pode ser Encarregado de IPM

19
20

instaurado pelo Coronel Médico Diretor de um


Hospital Militar.

- Algumas consequências: o condutor das


investigações junta documentos desnecessários;
faz perguntas inúteis, não faz as perguntas
essenciais para esclarecer detalhes do fato, bem
como permitir a melhor adequação à norma
(tipicidade), tem dúvidas elementares a respeito
das prerrogativas e limites de atuação do
advogado no IPM; procede à oitiva de investigado
como testemunha (usa o famoso “modelão” de
copia e cola), etc.

ILUSTRAÇÃO: Vejam o seguinte trecho de um


Despacho por mim exarado para o Encarregado
de lPM de um determinado Quartel do Exército
Brasileiro em Fortaleza-CE:

20
21

Diante de todos esses pedidos de


orientações, com o devido respeito ao
Encarregado do IPM, causa espécie a
este Magistrado a quantidade de
dúvidas para condução do feito,
principalmente pelo fato de que há
Assessoria Jurídica no âmbito da
XXXX do Exército Brasileiro. Verifico
que o MPM está sendo acionado no
papel de assessor, inclusive com
questões simples, a exemplo de saber se
é possível ou não dar vistas dos autos
ao advogado do investigado.

O artigo 16 do CPPM já traz a resposta,


corroborado com a Súmula Vinculante
14 do STF e Estatuto da OAB. Era dever
do Assessor Jurídico da OM orientar o
21
22

Oficial Superior (encarregado do IPM)


que estava com tal dúvida, ainda que
elementar.

A única razão para não disponibilizar a


cópia do IPM aos advogados seria se
esse acesso fosse dado
EXCLUSIVAMENTE pela Secretaria da
10 CJM, o que não é verdade. O acesso
aos autos pode ser concedido pelo
Encarregado do IPM (detentor da chave
de acesso) e, ainda que assim não fosse,
poderia ser tirada a cópia dos autos
físicos e remetida aos defensores por e-
mail, WhatsApp, enfim.

Face ao exposto, determino vista ao


Parquet Castrense, para manifestação
no prazo de 48 horas nos termos do
22
23

parágrafo 5º do artigo 5 da Lei 11.419, de


2006.

Em relação à chave de acesso no


sistema E-Proc, viabilizando a atuação
dos advogados, determino à Secretaria
que tome as medidas cabíveis, dando-
lhes acesso.

Conclusos, após.

Providências pela Secretaria.

Nesse caso concreto, o Encarregado do IPM ficou


mandando mensagens para o membro do MPM
pedindo esclarecimentos e, como se não
bastasse, enviando diversos ofícios a mim, Juiz da
Auditoria Militar, pelo seguinte motivo: perguntar

23
24

se poderia dar cópia dos autos aos advogados dos


investigados antes dos seus interrogatórios.

Talvez o tenha feito porque os autos de IPM na


Justiça Militar da União transitam pelo sistema E-
Proc (processo eletrônico), e tenha imaginado que
somente a Secretaria do Juízo poderia dar acesso
ao causídico.

Mas, independentemente da suposta dúvida


burocrática, o fato é que os advogados tinham a
prerrogativa de ter acesso aos autos de alguma
forma. E o Encarregado tinha de saber agir nessa
situação.

E como o Encarregado não tomou qualquer


iniciativa (cópia, digitalização e envio por e-mail,
por WhatsApp, enfim) ficou demonstrado
claramente a dificuldade que alguns militares
24
25

encontram na condução do IPM, unicamente por


não terem formação jurídica.

É dizer: nesse caso trazido como ilustração, não


tinha cabimento algum acionar um juiz, que deve
se manter afastado da fase investigativa, para
dizer o óbvio.

ILUSTRAÇÃO: Ás vezes o Encarregado realiza a


oitiva do investigado na qualidade de testemunha.

STM

HABEAS CORPUS. IPM. INQUIRIÇÃO


DE INDICIADO COMO TESTEMUNHA.
TRANCAMENTO EM SEDE DE
HABEAS CORPUS. 1. Sendo o
Paciente o autor dos fatos
25
26

investigados no IPM, deve ser ouvido


na qualidade de indiciado e não de
testemunha, podendo, caso queira,
fazer-se acompanhar por advogado. 2.
(...). Ordem conhecida e parcialmente
concedida. Decisão unânime. (Proc: HC
- HABEAS CORPUS - 0000061-
77.2014.7.00.0000 UF: MS Decisão:
29/05/2014)

Pois bem. Perceberam como essa característica


do IPM (Oficialidade) influencia na atuação do
advogado em IPM?

Prossigamos para a segunda característica desse


procedimento investigatório que também
reverbera na atuação dos causídicos.

26
27

B) SIGILOSO – o acesso aos autos do IPM é


restrito a determinados agentes.

É sabido que, em regra, o advogado não precisa


ter procuração para acessar os autos da
investigação.

• Exceção: será necessário que o advogado


apresente procuração caso os autos estejam
sujeitos a sigilo (art. 7º, § 10, do Estatuto da
OAB).

Art. 7 (...)

§ 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o


advogado apresentar procuração para o
exercício dos direitos de que trata o inciso
XIV.

27
28

QUESTÃO: O IPM constitui “autos sujeito a sigilo”


para os fins do art. 7º §10 do EOAB?

1ª Corrente – SIM (Cícero Coimbra, Rodrigo


Foureaux). Portanto, o advogado tem que ter
procuração. O sigilo do IPM é decorrente de lei
(art. 16 CPPM), cuja redação difere do art. 20 CPP.

CPPM

Art. 16. O inquérito é sigiloso, mas seu


encarregado pode permitir que dêle tome
conhecimento o advogado do indiciado.

CPP

Art. 20. A autoridade assegurará no


inquérito o sigilo necessário à elucidação

28
29

do fato ou exigido pelo interesse da


sociedade.

Diante dessa leve distinção na redação, Cícero


Coimbra (2020, pág 361), invocando a posição de
Rodrigo Foureaux, leciona:

Como o inquérito policial possui sigilo em


função da própria lei, conforme o artigo
16 do CPPM, assiste razão a Rodrigo
Foureaux ao postular que o Encarregado
do procedimento “deve assegurar o sigilo
do IPM, facultando o acesso ao
advogado do investigado mediante
procuração” (...). Tem-se, então, que no
CPPM o inquérito policial militar é sigiloso
por imposição legal, enquanto no CPP,
infere-se que ele não é sigiloso, apenas
devendo o Encarregado impor o sigilo
29
30

que entender conveniente à elucidação


do fato investigado e ao interesse da
sociedade.

2ª Corrente (doutrina majoritária e STM) - NÃO.


O advogado, portanto, não precisa de procuração.
Somente haverá tal necessidade se for decretado
segredo pelo Poder Judiciário.

Nossa opinião: entender de forma contrária seria


esvaziar o art. 7º, XIV do EOAB. Deve-se dar o
mesmo tratamento do IP ao IPM.

HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO


DO IPM. ILEGALIDADE DAS PROVAS.
AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO.
CARÁTER ÍNTIMO E PRIVADO DOS
FATOS. DIREITOS FUNDAMENTAIS
30
31

DOS PACIENTES. DECRETAÇÃO DE


SEGREDO DE JUSTIÇA. 1.(...). 2. O
caráter íntimo e privado dos fatos
investigados torna imperativa a
decretação do segredo de justiça, efeito
este a ser estendido ao IPM e à eventual
Ação Penal, a fim de se proteger direitos
fundamentais dos Pacientes. Ordem
conhecida e parcialmente concedida.
Decisão por maioria. (Superior Tribunal
Militar. Habeas Corpus nº 0000082-
19.2015.7.00.0000. Relator(a) para o
Acórdão: Ministro(a) ARTUR VIDIGAL
DE OLIVEIRA. Data de Julgamento:
02/06/2015, Data de Publicação:
24/08/2015)

Vale lembrar que essa faculdade do Encarregado


prevista no artigo 16 do CPPM - “pode permitir” -
31
32

está mitigada, pois o advogado e o defensor


público têm a prerrogativa funcional de consultar
os autos.

A Lei 13.245/2016 assegura o acesso do


advogado em autos de investigação, senão,
vejamos:

Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94)


ANTES ATUALMENTE

Art. 7º São direitos do Art. 7º São direitos do advogado:


advogado: (...)
(...) XIV - examinar, em qualquer
XIV - examinar em qualquer instituição responsável por
repartição policial, mesmo sem conduzir investigação, mesmo
procuração, autos de sem procuração, autos de flagrante
flagrante e de inquérito, e de investigações de qualquer
findos ou em andamento, ainda natureza, findos ou em andamento,
que conclusos à autoridade, ainda que conclusos à autoridade,

32
33

podendo copiar peças e tomar podendo copiar peças e tomar


apontamentos; apontamentos, em meio físico ou
digital;

Qualquer instituição: Organizações Militares, MPM


(PIC)

Investigação de qualquer natureza: sindicância,


PAD (natureza administrativa)

Meio físico ou digital: cópias dos autos por meio de


celular, que os autos sejam digitalizados e
gravados em um “Pen Drive”. Caso seja possível,
os autos podem ser, inclusive, encaminhados por
e-mail, observada a segurança da informação. Na
JMU os autos estão no E-proc.

33
34

STM

EMENTA: HABEAS CORPUS.


INQUÉRITO POLICIAL. VISTA DOS
AUTOS. CERCEAMENTO DE DEFESA.
Embora não esteja em jogo a liberdade
atual ou mesmo imediata do Paciente, o
tolhimento da ação de seu advogado,
mesmo na fase inquisitória, poderá
resultar em prejuízos para o exercício da
sua defesa e, no porvir, ainda que não
imediato, em restrição ao seu status
libertatis; e, por essa ótica o Habeas
Corpus é cabível, na linha da
jurisprudência já pacificada no âmbito do
Excelso Pretório. A garantia
constitucional do indivíduo de ver-se
assistido por Advogado (art. 5º, inc.
LXIII, da Carta Magna) está
34
35

intimamente relacionada ao direito


deste de acesso aos autos não só do
Processo, como também do Inquérito,
conforme, inclusive, lhe é deferido
pelo Estatuto da Advocacia. Preliminar
rejeitada. Concessão da Ordem.
Unânime. (Superior Tribunal Militar.
Habeas Corpus nº 2008.01.034578-7.
Relator(a): Ministro(a) RENALDO
QUINTAS MAGIOLI. Data de
Julgamento: 20/11/2008, Data de
Publicação: 18/12/2008)

Isso posto, vejamos, agora, a terceira


característica do IPM que reverbera na atuação do
advogado nessa fase pré-processual.

35
36

C) INQUISITIVO

Muito se discute na doutrina acerca da natureza


jurídica do inquérito policial (e aqui se inclui
obviamente o IPM). Há duas posições:

a) é procedimento sujeito ao contraditório diferido


e à ampla defesa;

b) é procedimento inquisitorial. Posição que


prevalece.

Segundo Renato Brasileiro (2020, pág 190):

As mudanças legislativas produzidas


pela Lei nº 13.245/16 não têm o condão
de afastar a natureza inquisitorial das
investigações preliminares. Na verdade,
preservada esta natureza, o que houve
36
37

foi a outorga de um viés mais garantista


à investigação preliminar, buscando-se
garantir os direitos fundamentais do
investigado

QUESTÃO: O advogado tem o direito de fazer


perguntas na colheita da prova oral?

1ª Corrente: NÃO. O procedimento é inquisitivo. O


direito do advogado é de acompanhar o inquérito
e não de interferir em sua condução.

Em outros termos, não pode fazer


reperguntas, por exemplo, nos
depoimentos pessoais, ainda que
possam elas ser sugeridas ao
Encarregado que pode muito bem
consigná-las no termo, mas isso não se
37
38

torna uma obrigação.(Coimbra 2020, pág


362)

2ª Corrente: SIM. É nossa posição. Pela redação


do inciso XXI do artigo 7º do EOAB, o advogado
além de poder estar presente, também possui o
direito de:

a) apresentar razões (argumentar e defender seu


ponto de vista sobre algo que vá ser decidido pela
autoridade policial ou sobre alguma diligência que
precise ser tomada); e

b) apresentar quesitos (formular perguntas ao


investigado, às testemunhas, aos informantes, ao
ofendido, ao perito etc.). Entendemos que essa

38
39

expressão “quesitos” não está limitada aos


quesitos em perícias.

QUESTÃO: O Encarregado do IPM tem o dever de


intimar previamente o advogado acerca das
diligências (ex: oitiva das testemunhas)?

1ª Corrente (Cícero Coimbra) – SIM. O prazo para


tal notificação seria de no mínimo 24 horas (art.
291 CPPM). (2020, pag 365)

Antecedência da citação
Art. 291. As citações, intimações ou
notificações serão sempre feitas de dia e
com a antecedência de vinte e quatro
horas, pelo menos, do ato a que se
referirem.

39
40

2ª Corrente (Claudio Amin), – NÃO.

“Veja bem, o encarregado não está


obrigado a notificar o advogado sobre as
diligências que serão realizadas, mas
poderá acompanhá-las, se tiver
conhecimento, desde que não interfira
nos trabalhos.’

Nesse sentido o recente precedente do STF:

Não é necessária a intimação prévia da


defesa técnica do investigado para a
tomada de depoimentos orais na fase
de inquérito policial. Não haverá
nulidade dos atos processuais caso essa
intimação não ocorra. O inquérito policial
é um procedimento informativo, de
natureza inquisitorial, destinado
40
41

precipuamente à formação da opinio


delicti do órgão acusatório. Logo, no
inquérito há uma regular mitigação das
garantias do contraditório e da ampla
defesa. Esse entendimento justifica-se
porque os elementos de informação
colhidos no inquérito não se prestam, por
si sós, a fundamentar uma condenação
criminal. A Lei nº 13.245/2016 implicou
um reforço das prerrogativas da defesa
técnica, sem, contudo, conferir ao
advogado o direito subjetivo de intimação
prévia e tempestiva do calendário de
inquirições a ser definido pela autoridade
policial. STF. 2ª Turma. Pet 7612/DF,
Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
12/03/2019 (Info 933).

41
42

QUESTÃO: E como o advogado poderá ficar


ciente das datas dos depoimentos e diligências a
fim de acompanhar os atos?

O causídico tem a possibilidade de consultar o


andamento do procedimento a fim de verificar as
datas que foram designadas para os depoimentos,
conforme autoriza o inciso XIV do art. 7º do EOAB

QUESTÃO: O advogado tem direito de acessar


todos os elementos de informação constantes do
IPM?

NÃO. Aplica-se o mesmo regramento já


amplamente debatido nos casos de inquérito
policial (CPP). Ou seja, no caso de diligências em
andamento e ainda não documentadas aos autos,
a lei autoriza que a autoridade responsável pela

42
43

investigação não junte aos autos tais documentos.


(§ 11 do art. 7º do Estatuto da OAB)

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a


autoridade competente poderá delimitar
o acesso do advogado aos elementos de
prova relacionados a diligências em
andamento e ainda não
documentados nos autos, quando
houver risco de comprometimento da
eficiência, da eficácia ou da finalidade
das diligências.

Nesse aspecto, é deveras esclarecedor o


comando da Súmula Vinculante 14 do STF:

Súmula vinculante 14-STF: É direito do


defensor, no interesse do representado,
ter acesso amplo aos elementos de prova
43
44

que, já documentados em
procedimento investigatório realizado
por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do
direito de defesa.

Além disso, o direito de acesso aos autos do


Inquérito Policial Militar ou Inquérito Policial não é
absoluto, como se observa do artigo 23 da Lei
12.850/13:

Art. 23. O sigilo da investigação poderá


ser decretado pela autoridade judicial
competente, para garantia da celeridade
e da eficácia das diligências
investigatórias, assegurando-se ao
defensor, no interesse do representado,
amplo acesso aos elementos de prova

44
45

que digam respeito ao exercício do direito


de defesa, devidamente precedido de
autorização judicial, ressalvados os
referentes às diligências em andamento.

Parágrafo único. Determinado o


depoimento do investigado, seu defensor
terá assegurada a prévia vista dos autos,
ainda que classificados como sigilosos,
no prazo mínimo de 3 (três) dias que
antecedem ao ato, podendo ser
ampliado, a critério da autoridade
responsável pela investigação.

45
46

QUESTÃO: É prerrogativa do advogado fazer


perguntas diretamente ao depoente?

Entendemos que NÃO.

Ora, conforme doutrina e jurisprudência


majoritária, o IPM é um procedimento inquisitorial.
Desse modo, se até no processo judicial,
conduzido por um juiz imparcial, o CPPM prevê o
sistema presidencialista (o advogado se reporta ao
juiz federal da justiça militar ou ao juiz de direito do
juízo militar, o qual transmite a pergunta ao
depoente), com muito mais razão no IPM quem
deve transmitir as perguntas é o Encarregado.

46
47

Inquirição pelo auditor

Art. 418. As testemunhas serão


inquiridas pelo auditor e, por intermédio
dêste, pelos juízes militares, procurador,
assistente e advogados. Às testemunhas
arroladas pelo procurador, o advogado
formulará perguntas por último. Da
mesma forma o procurador, às indicadas
pela defesa.

QUESTÃO: O advogado pode ser


responsabilizado criminalmente caso cometa
algum excesso no exercício da sua nobre função
no IPM?

SIM. Um dos crimes pode ser o desacato.

47
48

CPM

Desacato a militar

Art. 299. Desacatar militar no


exercício de função de natureza militar ou
em razão dela:

Pena - detenção, de seis meses


a dois anos, se o fato não constitui outro
crime.

Veja precedente do STF justamente tratando do


caso de um civil que desacatou um militar:

O crime de desacato é compatível com a


Constituição Federal e com o Pacto de
São José da Costa Rica. A figura penal
do desacato não tolhe o direito à
liberdade de expressão, não retirando da

48
49

cidadania o direito à livre manifestação,


desde que exercida nos limites de
marcos civilizatórios bem definidos,
punindo-se os excessos. STF. 2ª Turma.
HC 141949/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 13/3/2018 (Info 894).

Essa também é a posição do STJ:

Desacatar funcionário público no


exercício da função ou em razão dela
continua a ser crime, conforme previsto
no art. 331 do Código Penal. STJ. 3ª
Seção. HC 379.269-MS, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, Rel. para
acórdão Min. Antônio Saldanha Palheiro,
julgado em 24/5/2017 (Info 607).

49
50

Veja esse precedente do STM:

DESACATO. CRIME PRATICADO POR


ADVOGADA CONTRA COMANDANTE
DE ORGANIZAÇÃO MILITAR. LOCAL
SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO
MILITAR. LIMITAÇÃO DAS
PRERROGATIVAS DO ADVOGADO.
Incorre no crime militar de desacato,
tipificado no art. 299 do CPM,
advogada que se recusa a se submeter
às normas internas de visita de presos
no quartel e, sendo convidada para
sair do gabinete da autoridade, afirma
não "existir homem para retirá-la do
local", além de dizer que também era
autoridade tanto quanto o Oficial

50
51

superior. Por mais assegurado que seja


o exercício da advocacia, sobretudo no
campo da defesa dos menos favorecidos,
as prerrogativas conferidas a esses
profissionais não se confundem com
condutas abusivas perante órgãos
públicos civis e militares, haja vista a
doutrina e a jurisprudência consagrarem
que tal imunidade é limitada, sendo o
advogado penalmente responsável por
seus excessos de linguagem, nos crimes
contra a honra e no desacato
(Constituição da República, art. 131, e
Estatuto dos Advogados - Lei Federal n.º
8.906/94, art. 7º, § 2º). Precedentes do
STF e do STJ. Provido o recurso do
Ministério Público Militar para reformar a
sentença absolutória e condenar a
apelada nas penas cominadas na lei
51
52

substantiva castrense. Decisão


majoritária. (Superior Tribunal Militar.
Apelação nº 0000056-
60.2007.7.11.0011. Relator(a):
Ministro(a) WILLIAM DE OLIVEIRA
BARROS. Data de Julgamento:
03/12/2009, Data de Publicação:
01/03/2010)

52
53

TÓPICO 4
PECULIARIDADES DA ATUAÇÃO DO
ADVOGADO EM RAZÃO DO PRINCÍPIO DA
ESPECIALIDADE

O princípio da especialidade é muito prestigiado


pelos operadores do Direito Penal e Processual
Penal Militar.

Nos termos do Código de Ritos Castrense, é


possível ao intérprete, em caso de lacuna do
CPPM e sem prejuízo da índole do processo penal
militar, fazer uso das normas do processo penal
comum. Nesse sentido, é a expressa previsão do
conhecido artigo 3º “a” do CPPM.

53
54

CPPM

Art. 3º Os casos omissos neste Código


serão supridos:
a) pela legislação de processo penal
comum, quando aplicável ao caso
concreto e sem prejuízo da índole do
processo penal militar;

Essa realidade traz consequências para a atuação


do advogado em Inquérito Policial Militar, como
veremos a seguir...

54
55

A) O causídico deve evitar invocar o CPP de


forma indiscriminada

Exemplo: apreensão de um veículo por ocasião


de flagrante delito de crime militar.

Se após a adoção das medidas necessárias pela


autoridade policial ou autoridade de polícia
judiciária militar a coisa não mais interessar à
investigação, não deve o advogado, ao peticionar
a restituição da coisa apreendida, se utilizar dos
artigos 118, 119 e 120 do CPP, mas sim do artigo
190 do CPPM que trata suficientemente da
questão.

CPP

Art. 118. Antes de transitar em


julgado a sentença final, as coisas
55
56

apreendidas não poderão ser restituídas


enquanto interessarem ao processo.

Art. 119. As coisas a que se referem


os arts. 74 e 100 do Código Penal não
poderão ser restituídas, mesmo depois
de transitar em julgado a sentença final,
salvo se pertencerem ao lesado ou a
terceiro de boa-fé.

Art. 120. A restituição, quando


cabível, poderá ser ordenada pela
autoridade policial ou juiz, mediante
termo nos autos, desde que não exista
dúvida quanto ao direito do reclamante.

56
57

CPPM

Restituição de coisas
Art. 190. As coisas apreendidas não
poderão ser restituídas enquanto
interessarem ao processo.
§ 1º As coisas a que se referem o
art. 109, nº II, letra a, e o art. 119, nºs I e
II, do Código Penal Militar, não poderão
ser restituídas em tempo algum.
§ 2º As coisas a que se refere o art.
109, nº II, letra b , do Código Penal
Militar, poderão ser restituídas somente
ao lesado ou a terceiro de boa-fé.

ILUSTRAÇÃO: Certa feita, participei como


julgador em uma Sessão de Julgamento perante o

57
58

Conselho Especial de Justiça (que processa e


julga oficiais).

O caso era complexo, com diversos réus, com


muitas sustentações orais por advogados distintos
e atuação da Defensoria Pública da União...

Uma das advogadas, na sua vez de apresentar a


defesa de seu cliente, iniciou seu discurso, toda
sem jeito, acanhada (e o corpo fala), exatamente
com as seguintes palavras: “Bem senhores, eu
não atuo muito no Direito Militar, eu na verdade
sou civilista, e para ser bem sincera nem sei o que
estou fazendo aqui, mas vamos começar né?

Ao ver esse “cartão de visitas” pensei....

Deixa para lá.

58
59

O que se busca é demonstrar que o princípio da


especialidade do Direito Penal e Processual Penal
Militar demanda do operador do Direito profundo
conhecimento desses ramos do saber jurídico, a
fim de que os institutos e regramentos próprios
possam ser manejados adequadamente quando
necessário.

59
60

B) O causídico deve atentar para a (in)


aplicabilidade do Acordo de Não Persecução
Penal (ANPP) no processo penal militar.

1ª Posição: Flávio Milhomen em “A necessidade


do acordo de não persecução penal na justiça
militar brasileira”. Em resumo:

a) antes da entrada em vigor da Lei nº 13.964/19,


a norma de regência do acordo de não persecução
penal era a Resolução nº 181/17, tanto para os
crimes comuns quanto para os crimes militares.

b) o Código de Processo Penal passou a ser a


norma de regência do referido negócio jurídico pré-
processual para os crimes de competência da
justiça comum; porém, no silêncio da lei quanto ao
regramento aplicável aos crimes militares, conclui-
se que continua sendo a Resolução 181/17 do
60
61

CNMP a norma que regulamenta o acordo de não


persecução penal no âmbito da justiça castrense,
já que esta não fora revogada explícita ou
tacitamente pelo novo regramento legal.

Resolução 181/17:

Art. 18.
(...)
§ 12 As disposições deste Capítulo não
se aplicam aos delitos cometidos por
militares que afetem a hierarquia e a
disciplina. (Incluído pela Resolução n°
183, de 24 de janeiro de 2018).

E, assim como a Resolução 181/17 do CNMP,


deve ser igualmente aplicada a Resolução 101/18
do Conselho Superior do Ministério Público Militar,
61
62

que servirá de parâmetro para o oferecimento do


acordo de não persecução penal tanto na Justiça
Militar da União, quanto na Justiça Militar Estadual.

2ª Posição: Ronaldo João Roth em “A inovação do


acordo de não persecução penal e sua incidência
aos crimes militares”. O ANPP não se aplica aos
crimes militares praticados pelos militares pois:

a) seria uma afronta ao princípio da especialidade


do CPPM (fere a índole do processo penal militar
– art. 3º do CPPM).

b) houve um silêncio eloquente por parte da Lei n.º


13.964/19, que alterou o CPPM unicamente na
inclusão do artigo 16-A, nada dispondo, portanto,
sobre o novel instituto (ANPP).

62
63

c) o ANPP não é compatível com o sistema jurídico


militar, que tem como diretriz constitucional a
hierarquia e disciplina militares (art. 42, caput, e
142, caput), de tal sorte que a repressão pela
prática do crime militar fortalece o regular
funcionamento das instituições militares.

d) o ANPP é aplicável aos crimes militares


praticados por civis, observando o princípio da
isonomia, diante da tendência da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal (STF).

3 ª Posição: Rodrigo Foureaux - a tendência é a


não aplicação do Acordo de Não Persecução
Penal no âmbito da Justiça Militar.

De qualquer forma, ainda que prevaleça a


inaplicabilidade, deve-se permitir a aplicação do
ANPP para os civis no âmbito da Justiça Militar da
63
64

União, pois não estão submetidos aos valores


militares, à hierarquia e disciplina, já tendo sido
decidido pelo STF que se aplicam os benefícios
processuais previstos na Lei n. 9.099/95 aos
crimes militares praticados por civis.

4ª Posição STM: não se aplica o ANPP (agente


civil ou militar)

STM

APELAÇÃO. DEFENSORIA PÚBLICA


DA UNIÃO. FALSIDADE IDEOLÓGICA.
ART. 312 DO CÓDIGO PENAL MILITAR.
(..). PRELIMINAR DE APLICAÇÃO DO
ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO
PENAL. REJEIÇÃO. UNANIMIDADE.
MÉRITO. AUSÊNCIA DE DOLO NA
CONDUTA. NÃO ACOLHIMENTO.
64
65

AUTORIA, MATERIALIDADE E
CULPABILIDADE COMPROVADAS.
PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO. NÃO
ACOLHIMENTO. NEGADO
PROVIMENTO AO RECURSO.
MANUTENÇÃO DA SENTENÇA
CONDENATÓRIA. UNANIMIDADE. (...).
O alcance normativo do Acordo de
Não Persecução Penal está
circunscrito ao âmbito do processo
penal comum, não sendo possível
invocá-lo subsidiariamente ao Código
de Processo Penal Militar, sob pena de
violação ao Princípio da
Especialidade, uma vez que não existe
omissão no Diploma Adjetivo
Castrense. Somente a falta de um
regramento específico possibilita a
aplicação subsidiária da legislação
65
66

comum, sendo impossível mesclar-se o


regime processual penal comum e o
regime processual penal especificamente
militar, mediante a seleção das partes
mais benéficas de cada um deles.
Preliminar rejeitada. Decisão unânime.
(...) Apelo defensivo não provido. Decisão
por unanimidade. (Superior Tribunal
Militar. Apelação nº 7001106-
21.2019.7.00.0000.
(Relator (a): Ministro (a) CARLOS VUYK
DE AQUINO. Data de Julgamento:
20/02/2020, Data de Publicação:
02/03/2020)

66
67

C) O causídico deve atentar para a (in)


aplicabilidade das medidas cautelares diversas
da prisão na Justiça Militar.

Posição do STM – Não se aplicam as medidas


cautelares diversas da prisão previstas no art. 319
do CPP. Não há omissão no CPPM. Aplica-se o
princípio da especialidade.

EMENTA: HABEAS CORPUS.


DESERÇÃO (CPM, ART. 187).
RESTRIÇÃO DA LIBERDADE IMPOSTA
A DESERTOR COM BASE NOS ARTS.
452 C/C O ART. 255, ALÍNEA "E",
AMBOS DO CPPM. MENAGEM.
LEGALIDADE. PEDIDO DE
SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDAS
CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO,
PREVISTAS NO ART. 319 DO CPP.
67
68

IMPROCEDÊNCIA. CONCESSÃO DA
ORDEM. UNANIMIDADE. Militar que,
após ausência injustificada do quartel,
apresenta-se voluntariamente para
responder ao processo de deserção.
Reveste-se de legalidade a Decisão
que indefere o pedido de aplicação de
medidas cautelares diversas da prisão
previstas no art. 319, do CPP,
considerando não ser caso de
omissão tratado no art. 3º, alínea "a",
do CPPM, para fins de aplicação
subsidiária da legislação processual
penal comum. Concessão da ordem
para a soltura do Paciente em razão da
proximidade do término do prazo de 60
(sessenta) dias fixado no art. 453 do
CPPM. Ordem concedida. Decisão
unânime. (Superior Tribunal Militar.
68
69

Habeas Corpus nº 7000001-


72.2020.7.00.0000. Relator(a):
Ministro(a) LÚCIO MÁRIO DE BARROS
GÓES. Data de Julgamento: 03/03/2020,
Data de Publicação: 13/03/2020)

EMENTA: HABEAS CORPUS. PRISÃO


PREVENTIVA. HOMICÍDIO TENTADO.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.
PEDIDO DE REVOGAÇÃO DA
CUSTÓDIACAUTELAR.DESCABIMENT
O DECISÃO FUNDAMENTADA.
MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS
DA PRISÃO. NÃO INCIDÊNCIA.
ESPECIALIDADE DA JUSTIÇA
MILITAR.(...)
Conforme a jurisprudência desta
Corte Castrense, as medidas
cautelares diversas da prisão
69
70

dispostas no Código de Processo


Penal comum não podem incidir na
seara da JMU, em face da
especialidade dos bens jurídicos por
ela tutelados. (...). Decisão à
unanimidade. (Superior Tribunal Militar.
Habeas Corpus nº 7001056-
29.2018.7.00.0000. Relator(a):
Ministro(a) CARLOS AUGUSTO DE
SOUSA. Data de Julgamento:
13/03/2019, Data de Publicação:
21/03/2019)

Posição do TJM/SP:

(...) Impossibilidade de aplicação de


regras do art. 319, do CPP. Lei
processual penal militar que não é
omissa a respeito. Ausente ilegalidade
70
71

ou abuso de poder da autoridade


apontada como coatora. denegado.
Decisão unânime.” (TJM/SP – 2ª Câm. –
HC 2.785/19 – Rel. Juiz Cel PM Avivaldi
Nogueira Junior – J. 16.05.19);

(...) Impossibilidade de aplicação


analógica do CPP, já que não existe
omissão na lei adjetiva castrense. O fato
de a legislação processual penal
militar não estipular a possibilidade de
substituição da prisão por medida
cautelar alternativa, não significa que
ela seja omissa, mas, tão somente, que
no âmbito militar aplicam-se as normas
em vigência, previstas em regramento
próprio. Habeas Corpus denegado.
Decisão unânime.” (TJM/SP – 2ª Câm. –

71
72

HC 2.727/18 – Rel. Juiz Cel PM Avivaldi


Nogueira Junior – J. 18.10.18);

Diante de todo o exposto, procuramos demonstrar


algumas peculiaridades da atuação do advogado
no Inquérito Policial Militar.

Tais especificidades decorrem justamente de


determinadas características do IPM, bem como
do princípio da especialidade do código de ritos
castrense.

MUITO OBRIGADO!

BONS ESTUDOS!

72
73

OBRAS CITADAS

- Manual de Processo Penal: Volume único –


Renato Brasileiro de Lima;

- Elementos de Direito Processual Penal Militar –


Claudio Amin Miguel e Nelson Coldibelli;

- Direito Processual Penal Militar Volume Único –


Cícero Coimbra Neves

73

Você também pode gostar