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CAPITULO II Os anos que precederam a fundação de Barra do Corda


De 1831 a 1835 — Lutas pós-Independência —
Abdicação — Regime Político e Constituição em vigor —
A Província — Congresso provincial — A Justiça.

No período de tensões políticas subsequente à abdicação de D. Pedro I


ocorreram, no Brasil, choques e lutas entre grupos dominantes, tão fortes que proporcionaram
verdadeiras mudanças, operando-se aquilo que se chamou de Organização do Estado
genuinamente brasileiro. Os reflexos na Província do Maranhão se fizeram sentir,
principalmente nos anos compreendidos entre 1831 a 1835, lustro10 que antecedeu ao ano da
fundação de Barra do Corda.
Vivia-se de direito a Independência. Para assegurar, entretanto, este clima, ter-se-
ia, entre outras coisas, de expulsar do território brasileiro, especialmente do Maranhão, do
Pará e da Bahia, resíduos resistentes das tropas portuguesas, que ainda não se tinham
convencido de que a Coroa lusitana não influía mais nos nossos destinos. As paixões e as
intrigas exerciam um nível de pressões avassaladoras, que terminaram por levar o Imperador
D. Pedro I a renunciar ao trono, na data de 7 de abril de 1831, retirando-se para a Europa,
quando o herdeiro tinha pouco mais de 5 anos.de idade.
Senadores e deputados elegeram uma Regência provisória, que poucos meses
depois era substituída por outra, em caráter definitivo, que governaria o País de 17/06/31 a
12/10/35. Neste período, fundou-se Barra do Corda. Fatos como o falecimento prematuro de
D. Pedro I (24 de setembro de 1834) e a manutenção do clima de hostilidade nas províncias,
levariam a Trina Permanente a transformar-se em Regência Una e elegia-se chefe do governo
o padre Diogo Antônio Feijó, a 12/10/1835.
Foi a mais sombria situação por que passou o País naqueles idos. No Maranhão, a
Setembrada11 exigia a expulsão dos portugueses da Província, onde a Novembrada12 desarmou
os lusitanos casados e expulsou os solteirões. Na Bahia, a luta visava a depor o presidente da
Província, tido como inconfiável aos interesses da Regência. Em Ouro Preto, deu-se o
contrário: destinava-se (até quando D. Pedro era vivo) à restauração do 1º Reinado. Na
Província do Pará, houve a célebre Cabanagem13, que duraria até 1837, e antes, numa das mais
sangrentas lutas internas da História do Brasil, no Rio Grande do Sul, a Guerra dos Farrapos,
em 1835, pretendeu transformar a Província num Estado Independente.
Nesta fase. estabeleceu-se o 2º Reinado com suas Regências, na minoridade do
Imperador Pedro II. A Constituição em vigor no ano de 1835, outorgada por D. Pedro I,
estabelecia um tipo de governo misto: Monarquia Hereditária e Constitucional Representativa.
Já estava em vigor, porém, o Ato Adicional que criava as Assembleias Legislativas Provinciais,
modificava sensivelmente o Poder Executivo e autorizava a estruturação da Justiça.
O Estado denominava-se Província e tinha como governante um presidente,
nomeado livremente pelo Imperador ou Regente. Nas cidades e vilas havia as Câmaras,

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Período de cinco anos; quinquênio.
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Setembrada é como ficou conhecido o levante ocorrido, durante o período regencial, no Maranhão e
também em Pernambuco, levando o nome do mês em que ocorreu (assim como as chamadas Abrilada e
Novembrada), no ano de 1831, refletindo o sentimento anti-lusitano que se seguiu à Abdicação de D.
Pedro I e que teve noutras províncias manifestações similares (tais como o Mata-Maroto da Bahia e a
Rusga, de Mato Grosso). Em Pernambuco faz parte de uma série de motins, que duraram três anos. O
principal objetivo do movimento era a saída definitiva dos portugueses do Brasil, mas como não tinha
objetivos políticos bem definidos, não obteve sucesso
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O foco dos protestos eram os altos postos ocupados por portugueses na administração provincial,
bem como o monopólio do comércio pelos marinheiros. O movimento estourou em 15 de novembro de
1831.
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A Cabanagem foi uma revolta popular extremamente violenta, ocorrida de 1835 a 1840, na província
do Grão-Pará. A rebelião tinha como objetivo a independência da região.

Trabalho de Digitalização – Professor Leonardo de Arruda Delgado


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compostas de vereadores, sendo ; que o mais votado entre eles presidia o Poder. O primeiro
presidente da província do Maranhão, nomeado ainda ao tempo do Imperador D. Pedro I. foi
Miguel Inácio dos Santos Freire e Bruce (07/08/1823). O Conselho Provincial, que mais tarde
seria substituído pela Assembléia Legislativa Provincial, compunha-se de 21 conselheiros.
Em 1835, exatamente, foram instaladas as primeiras Assembleias Legislativas das
Províncias e Antônio Feijó nomeara Presidente o senador Antônio Pedro da Costa Ferreira, que
presidiria o Maranhão até o ano de 1837. Era filho de ilustre família de Alcântara, estudou em
Coimbra, laureado14 com o título de Barão de Pindaré e faleceu no Rio de Janeiro aos 82 anos
de idade.
A Justiça, chamada de Relação, sofreria, neste espaço de definições da vida
brasileira, profundas mudanças, com a entrada em vigor do Código do Processo Criminal.
Desapareciam os cargos de Juízes Ordinários; as funções de almotacé, uma espécie de inspetor
encarregado de fiscalizar posturas e aferir pesos e medidas; redefiniu-se o Juizado de Paz que,
com as Câmaras Municipais, sofria grandes baixas no arsenal de suas competências legais.
Desapareciam também os cargos de Juiz de Fora e Ouvidores, entre outros. Os Inquiridores
foram substituídos pelos Juízes de Direito e Juízes Municipais. Os primeiros eram titulares das
Comarcas e, os segundos, dos Termos. Os antigos Procuradores da Coroa passaram a Promoto
res Públicos.
A Assembleia Provincial votou imediatamente o que passou a ser a 1ª
Organização Judiciária da Província do Maranhão. Tomou a Lei o nº 7, em data de 29 de abril
de 1835. Registra-se: quatro dias depois, o povoado Missões15 teria sido fundado
A citada Lei dividiu a Província nas seguintes Comarcas: Comarca de São Luís, de
Alcântara, de Viana, de Itapecuru, de São Bernardo, de Caxias e de Pastos Bons (vide Mílson
Coutinho, em História do Tribunal de Justiça do Maranhão, p. 155).

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Premiado; festejado
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Barra do Corda.

Trabalho de Digitalização – Professor Leonardo de Arruda Delgado

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