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PROGRAMA DE MESTRADO EM DIREITO NEGOCIAL

DISCIPLINA: FILOSOFIA DO DIREITO (2PUB-381)


DATA: 07/08/2021 SEMINÁRIO Nº4
MESTRANDOS: Ana Henriqueta Volta Pires, Rafael Carvalho Neves dos Santos e
Lucas Delvechio
TEMA DO SEMINÁRIO: O Estudo do Direito no Século XXI por múltiplas
perspectivas, visando a formação do intérprete jurídico. Perspectivas Ecológica e
Axiológica.

REVISÃO TEÓRICA

PONTOS QUE MERECEM SER RESSALTADOS DA BIBLIOGRAFIA


ESTUDADA

1. Ecofilosofia (A ecologia profunda)

Em relação ao tema “Ecofilosofia (A ecologia profunda)” abordado no Seminário de


número 04 (quatro), pede-se levantar o questionamento relativo ao poder destrutivo do
próprio sistema de mercado no qual a sociedade mundial está inserida.

O Capitalismo, em que pese ser um sistema de mercado que dispões de inúmeros


benefícios para a sociedade, como a possibilidade de múltipla escolha de um único
produto para o consumidor pelo menor preço, o que faz com que a melhor empresa vença,
colocando a tecnologia em incessante desenvolvimento, tal como explica Schumpeter
através da teoria da “destruição criativa”.

Segundo o economista austríaco, o capitalismo nunca está, ou nunca poderá estar,


num estado estacionário, e que a inovação “[...] incessantemente revoluciona a estrutura

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econômica a partir de dentro, incessantemente destruindo a velha, incessantemente
criando uma nova” esse processo de “destruição criativa” trata-se de um fato essencial e
inerente ao capitalismo (Schumpeter, 1942, p. 112-3).

Nesse processo de desenvolvimento tecnológico, numa corrida incessante pelo


lucro, as externalidades negativas, isto é, os efeitos, considerados secundários, que
causam prejuízos de ordem ambiental e social, não são e, caso não haja uma intervenção,
jamais serão de alguma relevância para o homem capitalista.

Assim sendo, impossível seria separar a devastação ambiental causada pelo


homem, daquela causada pela tecnologia, isso porque a tecnologia nada mais é que uma
serva dos interesses egoístas do acúmulo de capital. O que se quer dizer com isso é que o
desenvolvimento tecnológico não é a causa imediata da degradação do meio ambiente,
mas sim o homem que pouco se importa com os recursos limitados do único planeta – até
o momento - que reúne as condições necessárias para que haja vida, humana.

Acerca disso, cita-se o fatídico Memorando Summers, que ficou mundialmente


conhecido após o executivo do Banco Mundial, Lawrence Summers, escrever um
memorando que circulou internamente na instituição financeira, o qual dizia o seguinte1:

“Cá entre nós, o Banco Mundial não deveria incentivar mais a migração
de indústrias poluentes para os países menos desenvolvidos?”
(ACSELRAD, Henri, 2009, p. 07).
Tal sugestão foi elaborada a partir de três conclusões de Summers, quais sejam:

“1) o meio ambiente seria uma preocupação “estética” típica apenas dos bem
de vida;
2) os mais pobres, em sua maioria, não vivem mesmo o tempo necessário para
sofrer os efeitos da poluição ambiental. Alguns países da África ainda estariam
sub poluídos.
3) pela “lógica” econômica, pode-se considerar que as mortes em países pobres
têm um custo mais baixo do que nos países ricos, pois seus moradores recebem
salários mais baixos.” (ACSELRAD, Henri, 2009, p. 07).

1
ACSELRAD, Henri; Mello, Cecilia C.A. e BEZERRA, Gustavo N. O que é justiça ambiental. Rio de Janeiro:
Garamond. 2009.

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Nítido, portanto, a devastação que pode ser causada por um espírito de egoísmo,
que considera importante somente aquilo que lhe trará benefícios de ordem financeira,
sem se importar com a vida, humana ou ambiental.

2. O estudo do Direito no século XXI pela perspectiva ecológica

A partir da análise feita no tópico anterior, possível o observar a importância do


direito no combate à degradação ambiental que se amolda ao cenário econômico mundial
de hoje. Nessa linha, o direito deve seguir um paradigma, o ambiental. E, ao fazer
referência a um paradigma ambiental, não quer se limitar ao meio ambiente, ao revés,
atrelado à proteção dos recursos naturais está a proteção social.

Acerca disto, o conceito de “desenvolvimento sustentável”2 firmado no ano de


2012, na conferência mundial Rio+20, conta com a seguinte redação:

“Desenvolvimento sustentável é o modelo que prevê a integração entre


economia, sociedade e meio ambiente. Em outras palavras, é a noção de que o
crescimento econômico deve levar em consideração a inclusão social e a
proteção ambiental”.

Logo, como na afirmação extraída da obra do professor Sérgio Alves Gomes


(2008, p. 168-169), pelos colegas seminaristas: “muito embora seja difícil diminuir o
impacto desastroso das ações humanas sobre o meio ambiente também não é impossível
fazê-la, pois basta que muita gente escolha tirar proveito da oportunidade para fazer a
diferença” [Sic] (Roteiro - Seminário 04, p. 7)

Dessa forma, a hermenêutica constitucional deve se debruçar, ao tratar do domínio


econômico, constante do artigo 170 e seguintes, da Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988, sobre a livre iniciativa, propriedade privada e livre concorrência, mas
sem deixar de atrelar tais prerrogativas econômicas aos princípios de ordem social e
ambiental, que também compõem o Estado Democrático de Direito brasileiro.

2
Desenvolvimento sustentável. Acesso em 04 de setembro de 2020:
<http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20/desenvolvimento-sustentavel.html>

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O intérprete do direito não pode analisar o artigo 170 da CF/88 sem,
conjuntamente, interpretar os ditames contidos no artigo 2253 do texto constitucional, sob
pena de contribuir para a dilapidação da natureza. O direito atua regulando aspectos da
vida humana e sua convivência em sociedade, a medida que, diante de uma evidente
ameaça à própria sociedade, não deve se manter inerte, lançando um bem juridicamente
tutelado à própria sorte.

Dessa maneira, o Estado, como um Leviatã, deve intervir nas relações sociais,
sem, contudo, causar quaisquer desequilíbrios não isonômicos, o que irá depender,
obviamente, de seu intérprete.

Para se pensar em um ambiente ecologicamente equilibrado para as gerações


futuras, deve-se, antes de tudo, educar a geração presente, especialmente quando se trata
de países marginalizados, no qual a educação ambiental é, na maioria das vezes, baixa ou
quase inexistente.

Como dizer a um pequeno agricultor, que ele deve produzir sem agrotóxicos se
por toda sua vida, desde gerações passadas, assim sempre o fez? Ele não tem
conhecimento de outras técnicas de produção que degradam menos o meio ambiente, do
mesmo modo que não tem condições de aprender, pois seus recursos são escassos.

E, por que a produção orgânica é, hoje, uma opção para as classes de maior poder
aquisitivo [a exceção e não a regra]? Exatamente por conta do sistema de mercado
capitalista, que torna a produção orgânica – que é mais lenta e mais trabalhosa - como
não digna de concorrer em pé de igualdade com um mercado dominado pelo uso
agrotóxicos e produtos transgênicos.

É nesse ponto que, além da perspectiva ambiental, deve-se voltar à análise também
de uma “justiça ambiental”. Enquanto as elites conseguem se distanciar dos efeitos

3
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-
lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

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negativos causados pelo capitalismo, a classe de baixa renda [predominante], não o pode,
pois não reúne condições para tanto.

QUESTÕES

1. Analise as principais ideias de Jared Diamond, relacionadas com a


(in)sustentabilidade em sua obra “Colapso”, quando apresenta “o mundo
como um polder”;

O autor busca em seu texto trazer uma reflexão sobre o futuro do mundo,
especialmente sob o viés ambiental, trazendo perspectivas do mundo moderno e do
mundo antigo, ressalvando que o atual modelo de sociedade que levamos nos dias de
hoje, será prejudicial para o futuro.
Desta forma, relata que hoje no mundo enfrentamos uma destruição e perda de
habitats naturais, fontes de alimento selvagem, diversidade biológica e solo, sendo que
um fator afeta os demais da cadeia, permeando ainda diversas incertezas a magnitude dos
efeitos.
Ressalva, que o aumento da população, também implica em um maior impacto no
mundo com relações a ações inconscientes que afetam o meio ambiente.
Deste modo, se utilizada da analogia do “polder”, para ressalvar a ideia de que no
mundo globalizado qualquer fato que ocorra em um país irá afetar diretamente ou
indiretamente outros países, gerada pela inter-relação entre as nações, criando o risco de
colapso global.
Assim, ressalva a importância do esforço para resolver os problemas atuais, sob
pena de declinarmos nosso padrão de vida, ou até mesmo coisa pior. (p. 622)
Para o autor somos a causa dos problemas ambientais, sob os quais temos controle
e podemos escolher ou não parar de causá-los e começar a resolvê-los ressalvando que a
vontade política é essencial para a aplicação das soluções já disponíveis.
Dentre as escolhas que podemos fazer para sermos bem sucedidos, estão o
planejamento a longo prazo e a vontade de reconsiderar antigos valores. (p. 623).
Quanto ao planejamento, o autor ressalva que já é característica de alguns
governos e líderes políticos e quanto aos valores antigos que devem ser mantidos nas

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sociedades atuais estão em talvez restringir a liberdade do homem hoje para que o mundo
sobreviva em meio ao caos.
Desta forma, pode-se concluir que o autor revela a importância da política ser
dirigida para planejamentos de longo prazo, visando a manutenção e recuperação do
planeta, bem como do interprete jurídico em considerar valores ecológicos em benefício
da humanidade.
Ademais, defende demonstrar uma perspectiva otimista a tais problemas vez que
em que pese sejamos a causa dos problemas ambientais, também podemos escolher entre
para ou não de causa-los e começar a resolve-los.

2. Como Juarez Freitas trabalha com o conceito de “sustentabilidade”? O


entende o mesmo autor por “natureza multidimensional da
sustentabilidade?

Exatamente nessa linha que o autor Juarez Freitas, ao tecer um conceito sobre
“sustentabilidade”, trabalha a ideia da multidimensionalidade da sustentabilidade, na qual
considera não apenas a ampliação do conceito original do triple bottom line4, mas a
observância de outros paradigmas, como jurídico-política e ética, que devem ser tratados
modo entrelaçado.

Para o autor, sustentabilidade trata-se do:

“(...) princípio constitucional que determina, com eficácia direta e imediata, a


responsabilidade do Estado e da sociedade pela concretização solidária do
desenvolvimento material e imaterial, socialmente inclusivo, durável e
equânime, ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente, no intuito de
assegurar, preferencialmente de modo preventivo e precavido, no presente e
no futuro, o direito ao bem-estar.” (FREITAS, 2012, p. 41)

A sustentabilidade ganha, então, um amparo principiológico e estrutural, previsto,


inclusive em matéria constitucional. Contudo, o ressignificado do conceito de
sustentabilidade depende, ainda mais, da participação popular, que se trata de um

4
O Triple Bottom Line é um conceito de gestão que preza pela sustentabilidade de forma ampla nas
empresas. Mais do que preocupações ecológicas, é preciso ter uma atuação mais sólida em outros
setores. (https://rockcontent.com/br/blog/triple-bottom-line/. Acesso em 03/10/2021)

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importante mecanismo fiscalizador, que se volta para a garantia do bem-estar social e
integrador.

A partir da perspectiva multidimensional, pode-se observar que o “princípio da


sustentabilidade molda e condiciona o desenvolvimento (e não o contrário)” (2012, p.
55).

Dessa forma, Freitas considera como multidimensões da sustentabilidade:

a) dimensão ambiental: reconhece o direito ao meio ambiente como fundamental


e pressuposto à vida humana e não humana, com qualidade e longevidade;

b) dimensão social: considera a equidade intra e intergeracional em um modelo


de convivência social inclusivo, com foco nos direitos fundamentais sociais e
maior desenvolvimento das potencialidades humanas (FREITAS, 2012, p.60);

c) dimensão econômica: considera a necessidade de proporcionalidade entre


custos e benefícios diretos e indiretos de empreendimentos públicos e privados,
onde a regulação do mercado é conduzida pela eficácia (FREITAS, 2012, p.65,
67);

d) dimensão ética: num plano de concretização, que considera a supremacia da


dignidade intrínseca dos seres vivos, reconhecida a partir de uma escala
intergeracional (e não meramente a possibilidade de escassez de recursos
ambientais);

e) dimensão jurídico-política: trata-se da “tutela jurídica do direito ao futuro”


(FREITAS, 2012, p.67), para reconhecer novos titulares de direitos, limitações à
atuação do poder público, a exemplo da utilização do poder de compras da
administração, fundada em normas que promovam, sobretudo, a sustentabilidade,
criação de mecanismos de participação política e jurídica sociais, dentre outros
aspectos.

Daí, possível afirmar que, a partir da análise da Carta Política brasileira de 1988,
não há uma proteção somente ao direito ao Meio Ambiente equilibrado e essencial à sadia

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qualidade de vida, mas também recepciona a matriz multidimensional da sustentabilidade
considerando a relevância dos aspectos ambientais, sociais, econômicos, jurídico-
políticos e éticos em seus princípios e dispositivos, além de consagrar a participação
popular como fator de exercício da cidadania.

3. O que diz François Ost sobre a responsabilidade da humanidade atual pelas


gerações futuras?

Ost (1997, p. 304) trata a sustentabilidade a partir de um ponto de vista ético, sedo
que a tarefa de assegurar um meio justo traz consigo a ideia de responsabilidade do
homem para com o meio, o que pode ser entendido como o quadro das relações ou
interações entre ser humano e natureza. De acordo com o autor, apenas homem consegue
refletir criticamente sobre essa relação (homem x natureza), motivo pelo qual deve-se
pautar na construção de um vínculo entre o humano e o natural.

Esta responsabilidade tem por fundamento a noção kantiana de humanidade,


sendo que, ao contrário de Hans Jonas, para quem o imperativo categórico kantiano se
dirige ao indivíduo, numa perspectiva temporal e espacialmente localizada, Ost sustenta
que o dever de tratar as pessoas como um fim pressupõe o dever para com a humanidade
inscrita nas gerações futuras (OST, 1995, p. 314-318).

Entretanto, este dever para com as gerações futuras é também um dever para com
o meio, já que “o que é bom para as gerações futuras é igualmente bom para a
sobrevivência da biosfera e para a integridade do planeta” (1995, p. 314).

Especificamente em relação à responsabilidade ambiental em relação às gerações


futura, Ost (1995, p. 320) considera o pensamento de uma pluralidade de autores, que
contam com as mais diferentes respostas.

O primeiro autor a ser citado é o filósofo americano John Rawls, que propôs a
fixação de uma taxa de poupança justa às gerações futuras, que será financiada por esta
geração, com a finalidade de lhes indenizar pelos sacrifícios ambientais praticados para o
desenvolvimento da tecnologia, em um verdadeiro modelo qualificado como

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contratualista e doméstico, pois limita essa “poupança” aos descendentes diretos de cada
um.

Por sua vez, o autor John Passmore, na linha aberta por Rawls, defendeu uma
responsabilidade relativa à natureza (responsability for nature) e não uma
responsabilidade para a natureza (responsability to nature. Assim, Passmore defende uma
responsabilidade doméstica (aos descendentes) atrelada a uma cooperação do homem
com a natureza, priorizando a renovação dos recursos utilizados.

Num outro modelo de responsabilidade, tem-se a ideia “hercúlea” de Hans Jonas,


que rechaça a ideia de equilíbrio contratual, defendendo que o homem moderno deve se
espelhar à imagem dos antigos heróis mitológicos. O autor pontua que a responsabilidade
deve-se pautar em “não comprometer as condições para a sobrevivência indefinida da
humanidade na terra”, sendo que a geração presente é responsável pelo ser, ao que
rompe, assim, o círculo da proximidade defendido pelos outros autores (OST, 1995, p.
326-327).

Por fim, o autor Brian Berry propôs um modelo igualitarista, que consiste na ideia
de garantir uma coexistência pacífica entre indivíduos iguais, o que remonta desde
Hobbes e Hume, até Hart, avançando, assim, no princípio da igualdade de oportunidades.
Este autor que é duramente criticado por Ost, em razão da inconsistência de suas ideias
para com as gerações futuras, num pensamento que muito se aproxima daquele
desenvolvido por Rawls.

4. Analise e comente o tópico “a educação dos valores como trabalho


preventivo”, segundo Armando Marocco (texto “construindo valores”)

Armando Marocco defende que o espaço educacional deve ser mais do que o
ensino técnico ou científico. Deve ser mais do que um lugar de imposição de condutas
irracionalizadas, mecânicas e, até, violentas. A escola deve ser um lugar em que são
ensinados valores universalmente aceitos como necessários para a convivência social,
para uma vida feliz, digna e efetiva e, principalmente, que respeito o lugar do outro.

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Que valores seriam esses? O autor não deixa isso claro; não erige, elege ou
classifica valores de forma explícita. Ele prefere seguir por outro caminho: ensinar
práticas educacionais e pedagógicas que levem os alunos a descobrirem seus próprios
valores, mas não como uma resposta à violência, à revolta, à apatia, à falta de um ambiente
familiar e acolhedor. Pelo contrário. Ele ensina que valores surgem do acolhimento, do
respeito entre professor e aluno, participação do aluno, professor e pais no enfrentamento
de problemas, formação moral, coerência entre o que se diz e o que se faz e,
principalmente, a criação de uma cultura de paz.

O autor lembra que a origem dos chamados contravalores não advém de um ou de


outro ser humano. Os contravalores, que destroem, afastam, machucam, acabam com
sonhos e futuros nascem nas “injustiças sociais, na exclusão econômica, nas
discriminações, nas telas da tevê, no âmago do lar, nas relações de poder dentro da escola
e no modo como eles são tratados.” (MAROCCO, p. 11)

As práticas ensinadas por Marocco buscam prevenir que tais contravalores


predominem no espaço educacional. Em lugar de combater contravalores com a
imposição de valores, a ideia é permitir que cada aluno descubra quais valores são
necessários para uma vida digna e feliz.

5. Segundo a autora Milagros Otero Parga, qual a importância dos valores no


ordenamento jurídico?

Partindo das escolhas axiológicas feitas na Constituição Espanhola de 1978 – que


eligiu em seu art. 1º os valores da liberdade, justiça, igualdade e pluralismo político como
valores superiores da nação que surgiu dos escombros da ditatura de Franco - a Autora
disserta sobre o que seriam esses valores sob a perspectiva do ordenamento jurídico e a
sua importância para a construção de uma sociedade.

Para ela, e para o fim de estudo da relação valores-constituição, os valores devem ser
vistos de duas formas: são “como las cualidades o atributos específicos que los
indivíduos reputan como deseables a través de la tradición, dentro de una cultura

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determinada.”5(p. 15), assim como “aquellos requisitos o exigências cuyo respeto deve
situarse em la base del ordenamento jurídico”6 (p. 15)

Ou seja, os valores são a base que sustenta determinado ordenamento, e também o


vetor por meio do qual se efetiva esse ordenamento. E assim o são porque escolhidos pela
sociedade, que os retiram das tradições e culturas que os precedem enquanto coletividade.
Por isso, são relativos; diferem na mesma medida em que diferem a cultura e a tradição
de cada coletividade.

E a quem cabe decidir quais são esses valores que merecem positivação e
hierarquização? Segundo a autora, aos legisladores. Na verdade, não lhes cabe decidir,
mas observar a sociedade, auscultá-la, e então, cientes dos valores que imperam e que
cimentam a relação social, constitucionalizá-los. Aos juízes esta opção não existe, por
que não escolhidos pela sociedade para assim fazê-lo.

O Direito em si mesmo também tem seu valor; na verdade dois. O primeiro deles é o
de “assegurar ao homem o campo favorável ou desfavorável nele que possa mostrar seu
valor como pessoa, garantindo sua condição de sujeito de direitos e obrigações.” (p. 21)
Isto é, tem o valor de permitir outros valores, de ser o instrumento de por meio do qual os
valores podem ser realizados.

Por fim, os valores também servem de origem, de fonte, para a criação e interpretação
de princípios, e estes, para a criação e interpretação de normas. Os valores são os que
possuem menor nível de concretude, o que ocorre quando positivados em princípios.
Estes, por sua vez, são efetivados por meio das regras, seja como limites interpretativos
ou como verdadeiras fontes normativas.

BIBLIOGRAFIA:

5
“(...) como as qualidades ou atributos específicos que os indivíduos reputam como desejáveis através
da tradição, dentro de uma cultura determinada.” (tradução livre)
6
“(...) aqueles requisitos ou exigências cujo respeito deve situar-se na base do ordenamento jurídico.”

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DIAMOND, Jared. Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. Rio
de Janeiro: Record, 2005.

FREITAS, Juarez. Sustentabilidade: direito ao futuro, 2ªed. Belo Horizonte:2012.

GOMES, Sergio Alves. Hermenêutica Constitucional: Um Contributo à Construção do


Estado Democrático de Direito. Curitiba: Juruá, 2008.

MAROCCO, Armando. Construindo Valores: Uma resposta ao problema dos


contravalores e da falta de valores. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Unisinos; São
Leopoldo/RS:2008

OST, François. A Natureza à Margem da Lei: A Ecologia à Prova do Direito. Lisboa:


Instituto Piaget, 1997 (cap. 7- p.303 a 349- Responsabilidade. Depois de nós, o dilúvio?)

PARGA, Milagros Otero. Valores Constitucionales. Introducción a la Filosofia del


Derecho: axiología Jurídica. Universidade, Servicio de Publicación e Intercambio
Científico: Santiago de Compostela, 1999.

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