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PROJETO REDIGIR • 2º semestre de 2007 • Turma 1 de sábado • Zé e Régener • Aula 3

Como ler e interpretar textos?

Para saber escrever, é preciso ler bas- sintomas mais evidentes disso são aquelas fra-
tante; quanto mais variados os textos que le- ses enormes, cheias de vírgulas e intercala-
mos, mais aprendemos a lidar com diferentes ções. Quando você se deparar com um período
realidades, e mais versáteis nos tornamos na gigante, tente primeiro desdobrá-lo em duas
redação. Contudo, muitas vezes nos depara- ou mais partes isoladas, que façam sentido so-
mos com textos difíceis, com palavras desco- zinhas.
nhecidas e estruturas pouco usuais. O que 3) Assim como há períodos longos, há
fazer quando isso acontece? Simplesmente de- também os chamados “palavrões”. Nesses ca-
sistir da leitura e procurar coisas mais “fá- sos, procure primeiramente descobrir qual é o
ceis”? É claro que não! Há alguns instrumen- “núcleo” (o chamado radical da palavra). O
tos e técnicas que podem nos ajudar nessa ta- que vier antes são os prefixos e o que vier de-
refa. Vamos falar sobre algumas delas: pois são os sufixos; os prefixos e os sufixos
1) Sempre que possível, tenha à mão um acrescentam sentidos ao radical. O prefixo
dicionário. Se você não tem familiaridade com “anti”, por exemplo, dá a idéia de contrarie-
esse tipo de livro, é hora de começar a treinar. dade; o sufixo “ismo”, por sua vez, pode dar a
Pegue um dicionário qualquer; folheie, leia al- idéia de doutrina política/ideológica, movi-
guns verbetes, procure entender as abreviações mento social ou ainda de doença.
e os códigos. Esse instrumento te ajudará bas- No início, essas dicas parecerão um pou-
tante na leitura de textos antigos, científicos e co trabalhosas; afinal, é um saco interromper
técnicos, que contêm vocabulário incomum. uma leitura porque não entendemos o que o
2) Muitas vezes o autor de um texto não autor quis dizer. Contudo, com a prática, esses
tem muita consideração por seus leitores e não exercícios se tornarão operações mentais qua-
sabe a melhor forma de se expressar. Um dos se automáticas. Vamos treinar um pouco?

Proposta de redação A • A notícia de jornal é um dos exemplos mais recorrentes de texto


narrativo. Via de regra, ela sempre possui os elementos clássicos da narração: personagens,
enredo, narrador, espaço(s), tempo(s). Propomos que você transforme o poema de Manuel
Bandeira, “Poema tirado de uma notícia de jornal”, em um texto jornalístico de fato. Dica: dê
uma olhadinha em algumas notícias de jornal da atualidade, especialmente na área de
cotidiano e na coluna policial. Se você quiser enriquecer seu texto, faça uma diagramação
como a de um jornal, com cabeçalho, foto, legenda e outros recursos que você quiser utilizar.
Proposta de redação B • O que determina a transformação de um fato qualquer em texto
narrativo é o interesse que isso possa despertar em eventuais leitores. Quando um autor conta
uma história, real ou fictícia, ele tem em mente o uso de recursos que façam o leitor seguir
até o final — mesmo que se trate de um acontecimento banal, cotidiano. Pedimos a você que
exercite essa capacidade. Escolha um fato recente na sua vida (algo engraçado, inusitado,
triste, curioso etc.) e conte a história da forma que você achar melhor: um texto em prosa
(como um conto), um poema, uma história em quadrinhos etc. Lembre-se dos elementos da
narrativa (que devem estar presentes, explicitamente ou não no seu texto) e no interesse do
leitor. Não há limite de linhas... só não vale escrever um romance!
Poema tirado de uma notícia de jornal (Manuel Bandeira)

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia


[num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

Banhista surpreendida com bezerro que caiu do céu

Uma banhista que curtia um dia de sol e O animal, que caiu quando passeava por
mar na ilha de Wight, no sul da Inglaterra, foi um terreno íngreme junto à praia, não sobrevi-
surpreendida quando um bezerrinho quase a veu ao acidente.
atingiu na cabeça, informou nesta sexta-feira a A dona do infeliz bichinho pediu descul-
imprensa local. pas à turista e contou que este é o quarto be-
“Eu me virei e dei de cara com esse bi- zerro que ela perde em iguais condições.
cho caindo bem no lugar onde eu havia aca-
bado de pegar minha prancha de surfe, segun- (Fonte: www.orkut.com)
dos antes”, contou Sally Brown, 51 anos.

“As ancas balançam, e as vagas de dor-


sos, das vacas e touros, batendo as caudas,
mugindo no meio, na massa embolada, com
atritos de couro, estralos de guampas, estron-
dos e baques, e o berro queixoso do gado jun-
queira, de chifres imensos, com muita tristeza,
saudade dos campos, querência dos pastos de
lá do sertão..
Boi bem bravo, bate baixo, bota baba,
boi berrando... Dança doido, dá de duro, dá de
dentro, dá direito... Vai, vem, volta, vem na
vara, vai não volta, vai varando...”

(Guimarães Rosa, “O burrinho pedrês” – excerto)

• O que é narração?
• Para que servem os textos narrativos?
• Onde há narrações no mundo?
• Quais são as características dos textos narrativos?
• Ficção ou realidade? Ou os dois?
• Os elementos do texto narrativo
Enredo
Personagem
Narrador e foco narrativo
Tempo
O arquivo (Victor Giudice)

No fim de um ano de trabalho, joão obteve Radiante, joão gaguejou alguma coisa ininteli-
uma redução de quinze por cento em seus ven- gível, cumprimentou a diretoria, voltou ao traba-
cimentos. lho.
joão era moço. Aquele era seu primeiro empre- Nesta noite, joão não pensou em nada. Dormiu
go. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido pacífico, no silêncio do subúrbio.
um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Mais uma vez, mudou-se. Finalmente, deixara
Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a de jantar. O almoço reduzira-se a um sanduíche.
sorrir, a agradecer ao chefe. Emagrecia, sentia-se mais leve, mais ágil. Não há-
No dia seguinte, mudou-se para um quarto via necessidade de muita roupa. Eliminara certas
mais distante do centro da cidade. Com o salário despesas inúteis, lavadeira, pensão.
reduzido, podia pagar um aluguel menor. Chegava em casa às onze da noite, levantava-
Passou a tomar duas conduções para chegar ao se às três da madrugada. Esfarelava-se num trem e
trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava dois ônibus para garantir meia hora de antecedên-
mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposi- cia. A vida foi passando, com novos prêmios.
ção. Aos sessenta anos, o ordenado equivalia a dois
Dois anos mais tarde, veio outra recompensa. por cento do inicial. O organismo acomodara-se à
O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo fome. Uma vez ou outra, saboreava alguma raiz
corte salarial. das estradas. Dormia apenas quinze minutos. Não
Desta vez, a empresa atravessava um período tinha mais problemas de moradia ou vestimenta.
excelente. A redução foi um pouco maior: dezes- Vivia nos campos, entre árvores refrescantes, co-
sete por cento. bria-se com os farrapos de um lençol adquirido há
Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova muito tempo.
mudança. O corpo era um monte de rugas sorridentes.
Agora joão acordava às cinco da manhã. Espe- Todos os dias, um caminhão anônimo transpor-
rava três conduções. Em compensação, comia me- tava-o ao trabalho. Quando completou quarenta
nos. Ficou mais esbelto. Sua pele tornou-se menos anos de serviço, foi convocado pela chefia:
rosada. O contentamento aumentou. — Seu joão. O senhor acaba de ter seu salário
Prosseguiu a luta. eliminado. Não haverá mais férias. E sua função, a
Porém, nos quatro anos seguintes, nada de partir de amanhã, será a de limpador de nossos
extraordinário aconteceu. sanitários.
joão preocupava-se. Perdia o sono, envenenado O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarela-
em intrigas de colegas invejosos. Odiava-os. Tor- do, escorreu um líquido tênue. A boca tremeu, mas
turava-se com a incompreensão do chefe. Mas não nada disse. Sentia-se cansado. Enfim, atingira to-
desistia. Passou a trabalhar mais duas horas diá- dos os objetivos. Tentou sorrir:
rias. — Agradeço tudo que fizeram em meu bene-
Uma tarde, quase ao fim do expediente, foi fício. Mas desejo requerer minha aposentadoria.
chamado ao escritório principal. O chefe não compreendeu:
Respirou descompassado. — Mas seu joão, logo agora que o senhor está
— Seu joão. Nossa firma tem uma grande dívi- desassalariado? Por quê? Dentro de alguns meses
da com o senhor. terá de pagar a taxa inicial para permanecer em
joão baixou a cabeça em sinal de modéstia. nosso quadro. Desprezar tudo isto? Quarenta anos
— Sabemos de todos os seus esforços. É nosso de convívio? O senhor ainda está forte. Que acha?
desejo dar-lhe uma prova substancial de nosso re- A emoção impediu qualquer resposta.
conhecimento. joão afastou-se. O lábio murcho se estendeu. A
O coração parava. pele enrijeceu, ficou lisa. A estatura regrediu. A
— Além de uma redução de dezesseis por cen- cabeça se fundiu ao corpo. As formas desumaniza-
to em seu ordenado, resolvemos, na reunião de on- ram-se, planas, compactas. Nos lados, havia duas
tem, rebaixá-lo de posto. arestas. Tornou-se cinzento.
A revelação deslumbrou-o. Todos sorriam. joão transformou-se num arquivo de metal.
— De hoje em diante, o senhor passará a auxi-
liar de contabilidade, com menos cinco dias de fé-
rias. Contente?
Troca de bebês

Um argentino, um Sueco e um Nigeriano aguardavam ansiosamente na maternidade o nasci-


mento de seus filhos. Eis que surge a enfermeira e diz:
— Senhores, houve uma tremenda confusão. Os bebês foram trocados e não sabemos mais
quem é quem. Só sei que temos 2 brancos e um negro.
— Não tem problema — sugeriu o Nigeriano. — Cada um escolhe um bebê e vamos fazer um
sorteio para determinar a ordem da escolha.
Feito o sorteio, a primeira escolha coube ao sueco. Ele entrou no berçário, olhou para os bebês
e saiu com o negro no colo.
— Mabwana! — reclamou o Nigeriano. — Você pegou o negro. Este obviamente é o meu
bebê. Eu sou negro, minha esposa é negra. Me dá este bebê, volta lá e escolha um dos brancos.
E o sueco, já indo embora:
— Tá maluco!? E se eu pego o argentino?

Dicas • Retrospectiva do Cinema Pernambucano


O Cinusp Paulo Emílio exibe, de 06 a 24 de agosto, em sessões que acontecem de segunda a sexta-
feira, às 16h e às 19h, alguns dos filmes produzidos atualmente por diretores pernambucanos:
Amarelo manga; Árido movie; Baile perfumado; Baixio das bestas; Cinema, aspirinas e urubus; O
rap do pequeno príncipe contra as almas sebosas; além de muitos curtas. Para ver a programação
completa, acesse o site www.usp.br/cinusp. Endereço: Rua do Anfiteatro, 181, Colméia, favo 04 –
Cidade Universitária. Telefone: 3091-3540. A entrada é gratuita.

Hoje tem show de graça no Largo do São Francisco


Em comemoração aos 180 anos da Faculdade de Direito da USP, a instituição, o Centro Acadêmico
XI de Agosto, a TV Cultura e o Sesc-TV promovem no sábado (11/8), às 17h, o evento “180 X 11”.
A proposta é evidenciar, por meio da cultura, a história da faculdade associada a importantes
movimentos políticos e sociais do Brasil, ao longo de quase dois séculos. A atividade, gratuita,
ocorrerá no Largo São Francisco e terá shows de Tom Zé, Toquinho, Alceu Valença, Luciana Mello,
Mamelo Sound System e do Coral de alunos da faculdade. Serão mostradas leituras dramatizadas, ao
vivo ou gravadas, feitas pelos atores Caio Blat, Paschoal da Conceição, Marat Descartes, Lavignia
Pannunzio e José Carlos Machado. O evento, transmitido na TV Cultura e Sesc TV, será apresentado
por Sabrina Parlatore e Rodrigo Rodrigues. Endereço: Largo São Francisco, 95, Centro. Horário: das
17h às 20h. Mais informações pelo telefone (11) 3111-7000.

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