Você está na página 1de 18

Mudanças Climáticas

e
Seqüestro de Carbono.

conceitos
e
cenário brasileiro

Claudio Fraenkel
julho de 2000.
ÍNDICE

1. Apresentação.......................................................................... 3
2. A Convenção de Mudanças Climáticas (UNFCCC).............. 4
3. O desenvolvimento das negociações - Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo.............................................................. 6
4. Projetos Energéticos X Projetos Florestais - Seqüestro de
Carbono...................................................................................... 11
5. Alguns Projetos Florestais......................................................13
6. Projetos Florestais com espécies nativas ou monocultura......15
7. Conservação de Florestas e Soberania Nacional.................... 16
8. O Brasil capacitado, mas........................................................ 17
9. Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas............................ 18

2
1. Apresentação.

Este documento tem dois objetivos propostos: 1 - divulgar o cenário de Mudanças Climáticas
através de uma abordagem ampla e 2 - provocar fóruns e atores para a discussão sobre o
tema. Pretendemos apresentar elementos e processos componentes dos cenários nacional e
internacional, enfocando o desenvolvimento das negociações internacionais e apresentando
algumas manifestações de atores nacionais. Também estaremos destacando alguns conceitos
e definições do conteúdo, para apoiar o entendimento dos mecanismos correntes agregados,
principalmente no cenário brasileiro. Apresentaremos alguns projetos propostos dentro destas
negociações que, associados às manifestações de atores nacionais, nos darão um panorama
do atual cenário brasileiro de Mudança do Clima.
De forma nenhuma o autor pretende esgotar o tema devido a extrema complexidade do
assunto, complexidade esta que é apontada e reconhecida por todos os interlocutores com que
o autor mantém contato.

“As questões de mudança do clima, conhecidas também pelo aquecimento global do planeta -
um de seus efeitos, são bastante complexas, tanto do ponto de vista científico quanto nos
aspectos políticos referentes à mitigação de suas causas e conseqüências.” (Rubens Born –
Vitae Civilis – Formulação e Implementação de Políticas da Convenção de Mudança do Clima)

Como exemplo, veremos alguns aspectos componentes do cenário:

• Aspectos técnico-científicos - compreensão do Ciclo do Carbono / medições de emissões e


seqüestro (captura) de Carbono / outros Gases Efeito Estufa / compreensão dos efeitos
sobre o Clima / estudos das conseqüências da Mudança do Clima / avaliação da realidade
da Mudança do Clima como resultado de ação antrópica e/ou natural.
• Aspectos ambientais - influências sobre a Biodiversidade / influências sobre todos os
Ecossistemas.
• Aspectos sociais - divulgação e conscientização sobre o tema / influências sobre as
comunidades, regiões e nações.
• Aspectos político-econômicos - política internacional (Organização das Nações Unidas) /
relações econômicas globalizadas / aglomerados político-econômicos e seus interesses /
soberania nacional.

3
2. A Convenção de Mudanças Climáticas (UNFCCC).

A Convenção Quadro de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (CQMCNU), em inglês:


United Nations Framework of Climate Change Convention (UNFCCC), foi estabelecida durante
a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como
“Cúpula da Terra”, em junho de 1992, no Rio de Janeiro e já possui o endosso de
aproximadamente 180 nações.
O artigo 2 descreve o objetivo da Convenção:

“O objetivo final desta Convenção e de quaisquer instrumentos jurídicos com ela relacionados
que adote a Conferência das Partes é o de alcançar, em conformidade com as disposições
pertinentes desta Convenção, a estabilização das concentrações de gases efeito estufa na
atmosfera num nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático.
Esse nível deverá ser alcançado num prazo suficiente que permita aos ecossistemas
adaptarem-se naturalmente à mudança do clima, que assegure que a produção de alimentos
não seja ameaçada e que permita ao desenvolvimento econômico prosseguir de maneira
sustentável.”

Para induzir a discussão sobre a última frase do artigo 2, “... permita ao desenvolvimento
econômico prosseguir de maneira sustentável”, transcrevemos um parágrafo do artigo
“entendendo o protocolo de Quioto”, de Eliezer Martins Diniz (FEA-USP, informações fipe, junho
de 1999).

“Grande parcela do desenvolvimento econômico se deu à custa de tecnologias poluidoras.


Pode-se afirmar que o bem-estar que o homem usufrui hoje não seria atingido se desde o início
se procurasse utilizar técnicas menos poluidoras, que notoriamente são menos eficientes. O
que aconteceu, na verdade, foi uma troca entre meio ambiente (que pode ser chamado de
capital ambiental) e consumo, gerando um aumento do bem-estar acima do nível atingível com
a manutenção do capital ambiental constante. No entanto, com a deterioração do meio
ambiente o capital ambiental tornou-se mais escasso e, consequentemente, sua troca pelo
consumo já não é tão vantajosa. Ou seja, a idéia de que poupança é igual a consumo futuro
não é mais atraente quando se fala de capital ambiental. Em outros termos, o capital ambiental
é, por si só, um fator que proporciona satisfação aos indivíduos, ao contrário da visão estreita
de que a satisfação dos indivíduos só se altera com mudanças no consumo.”

A questão das Mudanças do Clima Induzidas pela Ação Humana já é discutida há muito tempo,
sendo que durante a década de 80, as evidências desta realidade de degradação ambiental e
global tornaram-se quase consenso na comunidade científica internacional.
Em resumo, os cientistas afirmam que, devido a excessiva industrialização do mundo moderno
e também devido a mudanças no uso da terra (em menor escala), houve, e continua havendo,
uma exagerada emissão de determinados gases na atmosfera que realçam o conhecido Efeito
Estufa sendo, este, responsável pelo Aquecimento Global, induzindo, por si, Mudanças do
Clima além da capacidade de adaptação natural dos indivíduos (humanos e não humanos) e
ecossistemas de todo o planeta.
Dentre os gases responsáveis pelo Efeito Estufa e conhecidos como Gases Efeito Estufa
(GEE), o Dióxido de Carbono (CO2) participa com aproximadamente 50% do efeito final e é
relativo às emissões e formas de redução e/ou seqüestro deste gás, que grande parte das
discussões são realizadas.

4
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Organização
Meteorológica Mundial (OMM) criaram então (1988) o Painel Intergovernamental sobre
Mudança do Clima (IPCC), que hoje reúne mais de 2.500 cientistas em todo o mundo, para
desenvolver e apoiar com trabalhos técnico-científicos uma negociação internacional para
combater a emergente Mudança do Clima.
No fim de 1990 a Assembléia Geral das Nações Unidas estabeleceu o Comitê Internacional de
Negociação, que preparou a Convenção de 1992, no Rio de Janeiro.
Na Convenção foi estabelecido o seu órgão máximo com poder de decisão, que é a
Conferência das Partes, integrada por todas as nações (partes) signatárias da Convenção
(artigo 7).

Entre outros, foi reconhecido na Convenção, que as Partes industrializadas (relacionadas no


Anexo 1 da Convenção), são responsáveis pela maior parte destas emissões e caberá a elas a
iniciativa e os primeiros compromissos para a mitigação do Efeito Estufa.
artigo 3.1. – “responsabilidades comuns mas diferenciadas”.
artigo4.2.b. – “As Partes países desenvolvidos e demais Partes do Anexo I se comprometem
especificamente com....(até o final da presente década)....a finalidade de que essas emissões
antropicas de dióxido de carbono e de outros gases de efeito estufa, não controlados pelo
Protocolo de Montreal, voltem, individual ou conjuntamente, a seus níveis de 1990.”

Também foi definido um Mecanismo Financeiro (artigo 11) “para a provisão de recursos
financeiros a título de doação ou em base concessional, inclusive para fins de transferência de
tecnologia. Esse mecanismo deve funcionar sob a orientação da Conferência das Partes e
prestar contas à mesma, a qual deve decidir sobre suas políticas, prioridades programáticas e
critérios de aceitabilidade relativos a esta Convenção.”

5
3. O desenvolvimento das negociações - Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo.

Realizaram-se 5 Conferências das Partes, anualmente, a partir de 1995, durante as quais


desenvolveram-se compromissos para a implementação da Convenção de 1992.
Analisando-se os resultados destas conferências, destaca-se a COP 3 (Terceira Conferência),
que produziu o Protocolo de Quioto.
Este protocolo estabelece (artigo 3) novas metas e prazos para a redução das emissões das
Partes relacionadas no anexo B do Protocolo (nações industrializadas).
Também neste protocolo são concebidos 3 Mecanismos de Flexibilização (artigos 6, 12 e 17)
para o Mecanismo Financeiro (artigo 11 da Convenção), sendo eles:
• artigo 6 - Implementação Conjunta (Joint Implementation - JI) : que é o direito de “transferir
ou adquirir unidades” certificadas de redução de emissões entre partes do anexo B (partes
industrializadas).
• artigo 12 - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (Clean Development Mechanism - CDM) :
“o objetivo do mecanismo de desenvolvimento limpo deve ser assistir às Partes não
incluídas no Anexo I para que atinjam o desenvolvimento sustentável e contribuam para o
objetivo final da Convenção, e assistir às Partes incluídas no Anexo I para que cumpram
seus compromissos de redução e limitação quantificadas de emissões, assumidos no artigo
3.”
• artigo 17 - Comércio de Emissões (Emission Trade) : “as Partes incluídas no Anexo B podem
participar do comércio de emissões com o objetivo de cumprir os compromissos assumidos
sob o artigo 3.”
Os artigos 6 e 17 referem-se a relações exclusivas entre as Partes do Anexo I (Convenção) ou
Anexo B (Protocolo), que são as nações industrializadas.
O artigo 12, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, estabelece as relações entre as Partes
incluídas e não incluídas no Anexo I, portanto entre partes industrializadas e partes em
desenvolvimento; sendo este artigo de extrema importância para o Brasil.
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo foi concebido a partir de uma proposta brasileira para
a criação de um Fundo para o Desenvolvimento Limpo, cuja idéia inicial era estabelecer-se um
mecanismo de penalidades financeiras para as partes industrializadas que não cumprissem
seus compromissos de redução de emissões, formando assim um fundo para assistir o
Desenvolvimento Limpo das partes em desenvolvimento.
Cabe ressaltar ainda que as ações previstas para a mitigação de emissões e/ou seqüestro de
carbono previstas no mecanismo do artigo 12 do Protocolo de Quioto (CDM), serão avaliadas
por projetos específicos.
artigo 12.3.a. – “as Partes não incluídas no Anexo I beneficiar-se-ão de atividades de projetos
que resultem em reduções certificadas de emissões.”
Os critérios e indicadores para avaliação de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
ainda não foram estabelecidos pela Conferência das Partes.
A partir da conferência de Quioto (1997) estabeleceram-se inúmeros foruns bi e multilaterais,
além das reuniões formais (Conferências das Partes e Corpos Subsidiários), nos quais
apresentam-se e discutem-se propostas para os critérios e indicadores para os projetos de
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Existe uma forte pressão, liderada pelas partes que compõem a União Européia e pela maioria
das partes em desenvolvimento, da aprovação de critérios e indicadores para o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo na próxima Conferência das Partes (COP 6 - Holanda - novembro de
2000).
Para avaliar os projetos específicos de redução de emissões e/ou seqüestro de carbono,
veremos inicialmente alguns aspectos do Ciclo do Carbono, das origens de suas emissões e

6
das potencialidades de mitigação do Efeito Estufa. Também citaremos alguns critérios e
indicadores para a elegibilidade de Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.

3.1. Ciclo do Carbono.

Os dados e as observações abaixo foram transcritos do “Summary for Policymakers - Land Use,
Land Use Change and Forestry”, aprovado no XVI Plenário do IPCC (Canadá - maio de 2000).
“A dinâmica dos ecossistemas terrestres depende de interações entre uma certa quantidade de
ciclos biogeoquimicos, particularmente o ciclo do carbono, ciclos de nutrientes e o ciclo hídrico,
todos passíveis de alteração por ações humanas. Ecossistemas terrestres, nos quais o carbono
é estocado em biomassa viva, matéria orgânica em decomposição e solo, tem um importante
papel no ciclo de carbono global.
O carbono é trocado naturalmente entre estes sistemas e a atmosfera através da fotossintese,
respiração, decomposição e combustão. As atividades humanas alteram o estoque de carbono
nestes reservatórios e realizam trocas entres estes reservatórios e a atmosfera através do uso
da terra, da alteração do uso da terra e atividades florestais, entre outras atividades.”
“Grandes quantidades de carbono foram lançadas pelo rareamento de florestas em médias e
altas latitudes durante os últimos séculos e nos trópicos durante a última parte do século 20.”
“O carbono é estocado nos ecossistemas terrestres tanto na vegetação, como no solo. De
forma geral, os estoques de carbono são maiores no solo do que na vegetaçào, particularmente
nos ecossistemas não-florestados em médias e altas latitudes (tabela 1).”

Tabela 1
Estoques de carbono nos reservatórios de vegetação e solos até 1 m de profundidade.

nome área vegetação solo total


109 ha GtC GtC GtC

florestas 1,76 212 216 428


tropicais
florestas 1,04 59 100 159
temperadas
florestas 1,37 88 471 559
boreais
savanas 2,25 66 264 330
tropicais
campos 1,25 9 295 304
temperados
desertos e 4,55 8 191 199
semidesert.
tundra 0,95 6 121 127

áreas 0,35 15 225 240


úmidas
áreas de 1,60 3 128 131
agricultura

total 15,12 466 2011 2477

“nota: existe considerável incerteza nos dados apresentados, entretanto a tabela fornece uma
visão da magnitude dos estoques terrestres de carbono.”

7
nota do autor: 1ha = 10.000 m2 ; 109 ha = 1 milhão de ha ;
1 GtC = 1 Gigatonelada de Carbono = 1 bilhão de toneladas de carbono

“A partir de 1850 até 1998, foram emitidas aproximadamente 270 (+/- 30) GtC na atmosfera, em
forma de dióxido de carbono (CO2) a partir da queima de combustíveis fósseis e produção de
cimento. Foram emitidas em torno de 136 (+/- 55) GtC como resultado das mudanças do uso
da terra, predominantemente ecossistemas florestais. Estes fatos levaram ao incremento de
176 (+/- 10) GtC no conteúdo de dióxido de carbono da atmosfera. As concentrações de dióxido
de carbono aumentaram de 285 para 366 ppm (partes por milhão), aproximadamente 28%, dos
quais 43% estão retidos na atmosfera. O restante, em torno de 230 (+/- 60) GtC, estima-se que
foram absorvidos em quantidades iguais pelos ecossistemas oceânicos e terrestres. Portanto,
em termos líquidos, os ecossistemas terrestres mostram-se comparativamente uma fonte
pequena de dióxido de carbono neste período.”

“As contas médias anuais do carbono global para os períodos 1980-1989 e 1989-1998 são
mostradas na tabela 2.”

tabela 2
( em GtC por ano)

1980 a 1989 1989 a 1998

1. emissões da combustão de combustíveis 5,5 +/- 0,5 6,3 +/- 0,6


fósseis e produção de cimento
2. estoque na atmosfera 3,3 +/- 0,2 3,3 +/- 0,2

3. aumento nos oceanos 2,0 +/- 0,8 2,3 +/- 0,8

4. aumento líquido terrestre = 1. - (2. + 3.) 0,2 +/- 1,0 0,7 +/- 1,0

5. emissões da mudança do uso da terra 1,7 +/- 0,8 1,6 +/_ 0,8

6. aumento residual terrestre = 4. + 5. 1,9 +/- 1,3 2,3 +/_ 1,3

“Esta tabela mostra que as taxas e tendências do aumento de carbono nos ecossistemas
terrestres são muito incertas. Entretanto, durante estas duas décadas, os ecossistemas
terrestres podem ter servido como um pequeno sumidouro líquido para dióxido de carbono.
Este sumidouro terrestre parece ter ocorrido apesar das emissões líquidas para a atmosfera
das mudanças do uso da terra. principalmente nos trópicos., sendo respectivamente 1,7 +/- 0,8
GtC e 1,6 +/- 0,8 GtC por ano, durante estas duas décadas respectivamente.”
“O aumento de carbono terrestre, que balanceia aproximadamente as emissões das mudanças
do uso da terra nos trópicos, é resultante de práticas do uso da terra e reflorescimento natural
nas médias e altas latitudes, de efeitos indiretos das atividades humanas (p.e. fertilização
atmosférica por CO2 e deposição de nutrientes) e mudança do clima (natural e antropogenica).
Atualmente não é possível determinar a importância relativa destes diferentes processos, que
também variam de região para região.”
O texto e as tabelas transcritos acima nos dão uma idéia da complexidade de análise dos
dados referentes às emissões de dióxido de carbono e das incertezas envolvidas nas medições
e avaliações de todo o processo envolvido.

8
Na tabela 2 podemos verificar o total de emissões nos períodos analisados (1980-1989 e 1989-
1998), somando-se os ítens 1. (emissões de combustíveis fósseis e produção de cimento) e 5.
(emissões da mudança do uso da terra).
Desconsiderando o fator de incerteza, obtemos emissões de 7,2 GtC e 7,9 GtC,
respectivamente, o que representa um incremento total de emissões da ordem de 10% de um
período para o outro.
Observamos ainda que no primeiro período, as emissões devido à queima de combustíveis
fósseis e produção de cimento representam 76,4% do total, enquanto que no período
subsequente esta participação sobe para 79,7%.
Verificamos então que as emissões devido à queima de combustíveis fósseis e produção de
cimento são, de longe, as que mais contribuem para o aumento do Efeito Estufa.
Uma das referências citadas para a elaboração da Convenção é:
“Observando que a maior parcela das emissões globais, históricas e atuais, de gases efeito
estufa é originária dos países desenvolvidos, que as emissões per capita dos países em
desenvolvimento ainda são relativamente baixas e que a parcela de emissões globais originária
dos países em desenvolvimento crescerá para que eles possam satisfazer suas necessidades
sociais e de desenvolvimento.”
Os dois parágrafos anteriores são conseqüência dos inventários de emissões apresentados
pelas partes e comprovam, ser o alto índice de industrialização dos países desenvolvidos, o
fator que mais agrega emissões líquidas de dióxido de carbono ao Efeito Estufa global.
Vemos, a grosso modo, que o combate ao Aquecimento Global deve ser centrado na questão
da produção de energia (queima de combustíveis fósseis) como forma de mitigação das
emissões de dióxido de carbono, em particular, nos países industrializados.

3.2. Critérios e indicadores para avaliação de projetos elegíveis para o Mecanismo de


Desenvolvimento Limpo.

Para ilustração da amplitude do cenário de que estamos tratando, transcrevemos o índice e


alguns critérios do documento “Criteria and Indicators for Appraising Clean Development
Mechanism (CDM) Projects”, suportado pela Helio International, de autoria de S.Thorne (África
do Sul) e Emílio L. La Rovere (Universidade Federal do Rio de Janeiro) de outubro de 1999.
Observamos que especiais agradecimentos neste documento, são expressos para Jim Barnes
e Ophelia Cowell, do grupo CDM, do fórum internacional de ONG’s (CAN – Climate Action
Network), que acompanha as negociações há muito tempo.

2. Critérios de elegibilidade para projetos CDM.

2.1. Critérios para Seleção de Projetos CDM.


2.1.1. Tipos de Projetos Qualificados para CDM.
2.1.2. Redução de Emissões.
Critério 2: Qualificação de Projetos de Seqüestro – “a finalização deste critério depende do
resultado das deliberações do IPCC em sua publicação. No setor florestal, projetos
qualificáveis, tanto para a mitigação do carbono como para a manutençào da biodiversidade,
são aqueles que resultam no manejo sustentável de florestas primárias ou nativas e planos de
aflorestamento adequado de longo prazo. Em quaisquer mudanças do uso da terra, deve ser
mantido o respeito para com os direitos do uso da terra.”

2.2. Critérios para Participação em Projetos CDM.


2.2.1. Capacidade para Participação.
2.2.2. Participação Voluntária.
2.2.3. Política Nacional e Decisão Institucional.

9
Critério 14: “Participação nacional e local no CDM - o desenvolvimento de uma política nacional
de CDM e a capacidade institucional devem ser empreendidas antes do engajamento em
projetos CDM. Onde não existem uma política habilitada e instituições efetivas, o Conselho
Executivo CDM deve apoiar eqüitativamente o seu desenvolvimento, dando prioridade a países
com menor capacidade.”
2.2.4. Aceitação e tempos de Projetos CDM.
2.2.5. Perda de Soberania.

3. Critérios para Creditação de Projetos CDM.

3.1. Seguro de Certificados de Redução de Emissão (CER’s).


3.2. Vazamentos.
3.3. Critérios para Verificação e Relatórios de Projetos CDM.
3.4. Critérios Financeiros para Projetos CDM.
3.4.1. Alocação dos Benefícios dos Projetos CDM.
3.4.2. Adicionalidades Financeiras.
Critério 23: Adicionalidade Financeira – “a fim de receber Certificados de Redução de Emissão,
os projetos CDM devem ser realmente adicionais àqueles que seriam implementados de
qualquer forma de acordo com uma linha de base (baseline) real. Este critério pode ser
aplicado para intervenções em negócios correntes que mostrem ambas adicionalidades,
ambiental e financeira.”
Critério 24: Adicionalidade de Investimentos – “os investimentos para Projetos CDM devem ser
adicionais aos canais existentes de financiamentos e recursos.”
3.5. Custos de Negociação e Administrativos.
3.6. Custos de Efetivação.
Critério 26: Custos de Efetivação – “para alcançar redução de emissões associadas a barreiras
não econômicas, devem ser relacionadas nos orçamentos as externalidades ambientais,
culturais e outras.”

4. Indicadores para Monitoração durante o Ciclo do Projeto.

4.1. Indicadores para Variação Líquida das Linhas de Base.


4.2. Indicadores para o Desenvolvimento Sustentável.
4.2.1. Sustentabilidade Ambiental.
4.2.2. Sustentabilidade Social.
4.2.3. Sustentabilidade Econômica.
4.2.4. Sustentabilidade Tecnologica.

5. Indicadores para Emissões Líquidas de Gases Efeito Estufa.

Ainda, para ampliar o leque de informações sobre os critérios e indicadores, transcrevemos um


trecho de documento da UNIDO (United Nations International Development Organization).

Contribuição para o Desenvolvimento Sustentável.


“A contribuição de um projeto para o desenvolvimento sustentável é requisito específico para
países não Anexo I. Entretanto, não há método operacional ou “objetivo” para determinar se um
projeto contribui para o desenvolvimento sustentável de um país. Esforços estão sendo
realizados para encontrar indicadores para o desenvolvimento sustentado. Em geral, países
hospedeiros deveriam decidir se um projeto proposto pode contribuir para o seu
desenvolvimento sustentado. Entretanto, na ausência de um padrão ou de um sistema de
referência comuns para a contribuição de um projeto ao desenvolvimento sustentado, um
nivelamento por baixo pode ocorrer , onde a competição entre projetos negligencie o
desenvolvimento sustentado em favor, somente, à maximização de benefícios de mitigação do
10
clima. Hassing e Mendis (1998) fornecem uma solução para este problema, limitando a
elegibilidade para participação CDM a atividades de projetos com efeitos de desenvolvimento
sustentado comprovado...”

4. Projetos Energéticos X Projetos Florestais - Seqüestro de Carbono.

O diagrama abaixo é uma simplificação do Ciclo de Carbono, com ênfase nos aspectos
abordados no texto e com vistas às possibilidades de Projetos Específicos para o Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo.

O PROBLEMA

ATMOSFERA
e
CONCENTRAÇÃO de CO2

(EFEITO ESTUFA)

FONTES DE EMISSÃO SUMIDOUROS NATURAIS

1. QUEIMA DE COMBUSTÍVEIS
FÓSSEIS (PETRÓLEO, 1. ECOSSISTEMAS
CARVÃO, GÁS NATURAL) – OCEANICOS ~ 50%.
70 a 80%.

2. MUDANÇAS DO USO DA 2. ECOSSISTEMAS


TERRA (FLORESTAS, TERRESTRES ~ 50%.
AGRICULTURA). – 20 a 30%.

ORIGEM DO PROBLEMA ADAPTAÇÃO NATURAL

Os Projetos Energéticos atuam na redução de emissões de dióxido de carbono através da


substituição da energia obtida pela queima de combustíveis fósseis por formas de energia

11
renováveis (p.e. eólica, solar) ou pela otimização do consumo de energia nos processos
industriais, comerciais e domésticos.
Os Projetos Florestais podem ser projetos de substituição de carbono (p.e. uso de madeira
como material de construção ao invés de cimento, uso de combustíveis a base de biomassa ao
invés de combustíveis fósseis),projetos de conservação de florestas (altamente polêmico) ou
projetos para o Seqüestro de Carbono (árvores em crescimento capturam carbono da
atmosfera) - (Silvia Llosa - CDM e florestas - abril de 2000).
Existem projetos que são ao mesmo tempo energeticos e florestais.
A avaliação destes projetos depende dos critérios e indicadores a serem aprovados para o
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (possivelmente na Holanda em novembro de 2000).
Foram criados alguns mecanismos para proposta e execução de projetos piloto para orientarem
as discussões sobre possíveis critérios e indicadores. Por exemplo, as Atividades de
Implementaçào Conjunta (AIJ - Activities Implemented Jointly) durante a COP 1 em 1995, em
Berlim / Alemanha); que são projetos de cooperação internacional sem direito a obtenção de
créditos de Redução de Emissões de Carbono (CER’s - Carbon Emission Reduction credits).
O Banco Mundial também criou uma linha de crédito para a experimentação deste projetos,
conhecido como PCF (Prototype Carbon Fund). Em julho de 1999, o Banco Mundial aprovou
verba de U$ 150 milhões para projetos piloto CDM, sendo que 10% desses recursos poderão
ser destinados a projetos de reflorestamento (informe da SBS).
Paralelamente tem-se notícia sobre a iniciativa de grupos privados e alguns países para a
proposta e execução de projetos com o intuito de adquirir e desenvolver os meios e as técnicas
para a implantação futura de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM).
Apesar da extrema importância dos projetos energéticos, passaremos a nos concentrar nos
projetos florestais que são tema de inúmeras controvérsias no cenário nacional brasileiro.
Observa-se ainda que muitos atores questionam radicalmente o Seqüestro de Carbono como
forma de mitigação do Efeito Estufa, justificando o seu questionamento com argumentos de
falta de capacidade técnico-científica para o cálculo de emissões e seqüestro; enquanto outros
questionam aspectos de soberania nacional quando é considerada a inclusão da conservação
de florestas maduras no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Neste documento procura-se apontar algumas questões a serem resolvidas e colaborar para o
incremento das discussões junto a sociedade civil de forma organizada, a fim de colaborar para
uma posição brasileira na próxima Conferência das Partes.

12
5. Alguns Projetos Florestais.

Apresentam-se alguns projetos florestais para ilustrar dimensões, atividades e formatações


típicas.
Quanto à avaliação se estes projetos enquadram-se no Mecanismo de Desenvovlvimento
Limpo, esta ainda não está definida, em geral são projetos pilotos, demonstrativos e/ou
certificados, todos elegíveis para o CDM.

5.1. APA do Cantão.

Este projeto localiza-se na APA do Cantão, no Estado do Mato Grosso e foi apresentado na
Câmara de Comércio Brasil Estados Unidos (São Paulo) em julho de 1999.
Objetivos: - reflorestamento e seqüestro de carbono.
Meta: - seqüestro de 6 MtC (milhões de toneladas de carbono) em 25 anos.
Recursos financeiros: - AES Barry (distribuidora de energia elétrica do País de Gales) - 600.000
Libras nos 4 primeiros anos.
Empresas e organizações associadas: - Ecológica (empresa criada para este fim pelo
coordenador do projeto Divaldo Rezende); IBAMA; Naturatins e Gaia.
Plantios previstos: - 120.000 mudas de espécimes nativos por ano através de produção
participativa com as comunidades (Gaia).
O projeto prevê atividades de Educação Ambiental, Manejo Florestal e Pesquisa.

5.2. Grupo Plantar.

Este projeto localiza-se no Município de Curvelo no Estado de Minas Gerais e foi apresentado
na Câmara de Comércio Brasil Alemanha (São Paulo) em agosto de 1999 e na Câmara de
Comércio Brasil Estados Unidos (São Paulo) durante o Aspen Forum CDM em junho de 2000.
Características: - substituição de carvão mineral por carvão vegetal na produção do ferro-gusa
(1 tonelada de ferro-gusa produzidos com carvão mineral emite 1,8 toneladas de dióxido de
carbono, enquanto que a mesma produção com carvão vegetal, neste projeto, seqüestra 1,1
toneladas de dióxido de carbono).
- produção de carvão vegetal pelo manejo de florestas de eucaliptos com
clones de alta produtividade para o seqüestro de carbono.
- manejo florestal realizado de forma a obter mais seqüestro de carbono
devido ao crescimento dos espécimes do que as emissões do processo industrial.
- certificação pelo FSC (Forest Steward Council) para futura comercialização
de créditos de carbono.
Apoio: - Winrock Foundation International.
- Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA).
Financeiro: - investimentos previstos de U$ 12.000.000,00
- retorno: estimativa de U$ 75.000.000,00 após 24 anos de vida útil.
Recursos: - solicita suporte financeiro ao Banco Mundial através do PCF / projeto “pré-
selecionado” pelo BM (informe SBS).

5.3. Manejo de Babaçuais para Produção Sustentável e Redução de Emissões de Carbono na


Indústria de Ferro-Gusa de Carajás - Projeto do Instituto Pró-Natura.

“O projeto proposto difundirá tecnologia para manejo e enriquecimento de florestas nativas da


palmeira babaçu para aumentar a biomassa e a produtividade do coco, seqüestrar carbono e
produzir carvão, amêndoa oleaginosa e outros bi-produtos do coco babaçu. Carvão de alta
qualidade obtido do coco, além de constituir um novo produto comercial no meio rural, reduzirá

13
as emissões do coque mineral importado e substituirá o carvão derivado do desmatamento de
florestas tropicais na amazônia oriental. O projeto beneficiará diretamente os pequenos
produtores agroextrativistas e proprietários de terras em áreas degradadas nos babaçuais
nativos do Maranhão, como uma contribuição aos esforços para combater o aquecimento
global, melhorar as condições de vida e renda locais e permitir o uso sustentável da
biodiversidade.”
“O Department for International Development (DFID - UK) está no momento analisando
propostas para assistência técnica e financeira com vistas a um programa plurianual para
desenvolver o manejo e o uso dos babaçuais e agroecossistemas extrativistas de pequenos
produtores no Maranhão (abril de 2000).”
“Para os propósitos deste projeto, estima-se que os benefícios da proteção e manejo de
babaçuais existentes irão gerar um seqüestro de carbono líquido mensurável de 175.000
toneladas de carbono por ano, na área do projeto.”

5.4. Peugeot - Pró-Natura no Mato Grosso.

“Em 1998, o Pró-Natura foi pioneiro no seqüestro de carbono no Brasil, através da implantação
do primeiro grande “poço de carbono” do mundo, baseado no plantio de espécies nativas no
noroeste de Mato Grosso, onde esteve envolvido com pequenos produtores e madereiras
durante a última década, desenvolvendo práticas sustentáveis de uso da terra para a floresta
tropical amazônica. Com o apoio da Peugeot, o Pró-Natura e suas organizações parceiras
estão determinando os parâmetros técnicos para estabelecer e monitorar o seqüestro de
carbono, próximo ao seu centro agro-ambiental de Juruena, na floresta amazônica. Os
parceiros se comprometeram a seqüestrar 50.000 toneladas de carbono por ano (10 toneladas
por hectare por ano) por um período de 40 anos, através de reflorestamento intensivo e
estimulação de regeneração natural da floresta. Os produtores locais no entorno da área do
projeto recebem capacitação técnica em recuperação de terras degradadas, e agora
conservam suas florestas remanescentes como um estoque de sementes para futuros “”poços
de carbono””.”

5.5. Teca / Mato Grosso.

No Estado do Mato Grosso, preferencialmente, está sendo introduzido um espécime arbóreo


exótico, originário da Tailândia e conhecido como Teca (Teakwood).
A Teca é tida como espécime pioneiro (rápido crescimento) e atinge diâmetro de 50 cm após
20/25 anos.
Dentre os espécimes pioneiros (madeira de baixa qualidade), a Teca é considerada muito
superior ao Eucalipto por apresentar maior densidade material e poderia ser utilizada na
confecção de objetos duradouros de consumo.
Empresa: - Tectona Agroflorestal.
Plantio: - plantam-se de 1.000 a 1.600 árvores por hectare e realizam-se desbastes regulares
(30% após 3 anos, outro desbaste após 7 anos e o último desbaste após 12 anos - diâmetro de
20 cm).
Valor: - estima-se um valor de U$ 1.200,00 / m3.
Custo da terra: - há grande interesse em plantar a Teca no Brasil, pois o custo do hectare no
Mato Grosso está em torno de U$ 1.000,00, enquanto uma área equivalente na Tailândia custa
por volta de U$ 7.000,00.
Taxa de Retorno: - a expectativa da taxa de retorno interna é de 20%.
Projeto: - pretende-se plantar 3.000 hectares em 6 anos, a uma taxa média de 500 ha/ano.

14
6. Projetos Florestais com espécies nativas ou monocultura.

Considerando-se a realização de Projetos Florestais elegíveis para o Mecanismo de


Desenvolvimento Limpo, a avaliação entre projetos com espécimes nativos, atendendo, entre
outros, a diversidade biológica, e projetos de monocultura, com eficiência econômica
comprovada, é uma questão que tem preocupado diversos atores e fóruns do cenário.
Lembrando que as ações previstas para a mitigação de emissões e/ou seqüestro de carbono
previstas no mecanismo do artigo 12 do Protocolo de Quioto (CDM), serão avaliadas por
projetos específicos, artigo 12.3.a. e as dificuldades para o estabelecimento dos critérios e
indicadores relatadas, torna-se difícil realizar uma comparação entre estes dois universos de
projetos possíveis.
Podemos enquadrar os projetos citados no item anterior da seguinte forma:
- Reflorestamento com nativas: APA do Cantão e Peugeot-Pró-Natura.
- Monocultura: Grupo Plantar e Teca / Mato Grosso.
- Monocultura de espécime nativo: Manejo de Babaçuais (florestas secundárias do Maranhão).
Até o momento, as opiniões sobre que tipos de projetos florestais devem ser incluídos no CDM
e, em particular, se projetos florestais em geral devem ser incluídos, ainda estão muito longe de
um consenso.
Um bom artigo sobre a questão das florestas em geral é “O CDM e florestas: polêmica e
oportunidade” de Silvia Llosa - FASE / Projeto Brasil Sustentável e Democrático - abril de 2000.
É claro que cada fórum tem os seus argumentos e defesas, sendo de extrema importância a
intensificação das discussões para obtermos uma posição brasileira coerente.
Como referência transcrevemos os comentários 84. e 88. do “Summary for Policymakers” citado
acima:

84. “Devem ser tecidas considerações a respeito das sinergias e negociações relacionadas às
atividades de uso da terra, mudanças do uso da terra e florestas sob a UNFCCC e o seu
Protocolo de Quioto no contexto do desenvolvimento sustentável, incluindo um largo espectro
de impactos ambientais, sociais e econômicos, tais como; (i) biodiversidade; (ii) a quantidade e
qualidade de florestas, campos de agricultura, solos, pesqueiros e recursos hídricos; (iii) a
habilidade de provisão de alimentos, fibras, combustíveis e moradia; (iv) emprego, saúde,
pobreza e equidade.”

88. ”Diversos princípios de desenvolvimento sustentável estão incorporados em outros acordos


ambientais multilaterais, incluindo a Convenção da Biodiversidade, a Convenção de Combate à
Desertificação e a Convenção Ramsar de Áreas Úmidas. Devem ser realizadas considerações
sobre o desenvolvimento de sinergias entre as atividades de uso da terra, mudanças do uso da
terra e florestas (LULUCF - Land Use, Land Use Change and Foresty) e projetos que
contribuam para a mitigação ou adaptação da mudança do clima com os objetivos destes e de
outros acordos ambientais multilaterais.”

Podemos avaliar que os projetos voltados à monocultura são, em geral, mais simples para
formatação e demonstração de adicionalidades (principalmente financeiras), enquanto que
projetos de reflorestamento e manejo de nativas exigem uma melhor definição do conceito de
desenvolvimento sustentável e de seus critérios e indicadores.

15
7. Conservação de Florestas e Soberania Nacional.

A inclusão de Projetos de Conservação de Florestas no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo


é de extrema controvérsia no Brasil e passa, entre outros, pela Amazônia (queimadas) e pela
questão da soberania nacional. Vejamos:
“Assim como eu me queixava, há 40 anos, da marginalização da Amazônia, rejubilo-me ao
constatar a atual “crise de abundância”, tantos são os que se arrogam a missão de salvar a
Amazônia, os que a enxergam ameaçada de transformar-se num protetorado da ONU, vale
dizer, dos Estados Unidos, que “se apoderariam das terras indígenas depois de desmembradas
do território nacional”, ou teriam justificado o direito internacional de ingerência em face do
desmatamento irresponsável da floresta, causador do “efeito estufa”....Há ONG’s por toda
parte, estrangeiras principalmente, a defender, não o manejo auto-sustentado da floresta, mas
a sua intocabilidade.” (Jarbas Passarinho - Os Salvadores - FSP - 23 de maio de 2000)

Tecnicamente, o Dr. P.M. Fearnside (INPA), argumenta:


“Prevenir o desflorestamento em países com grandes áreas de florestas remanescentes, como
o Brasil, está muito mais de acordo com evitar as emissões de combustíveis fósseis do que
com o plantio de eucaliptos para celulose. Quando a queima de um barril de petróleo é evitada
(p.e. devido ao aumento de eficiência energética), o ganho é tido como permanente, mesmo
que o mesmo barril de óleo seja bombeado e queimado no próximo ano. Isto porque o efeito
cascata promove emissões em cada ano sucessivo. O mesmo é verdade para o
desflorestamento evitado se as florestas de um país estão longe do fim.”

Silvia Llosa apresenta uma proposta de inclusão da conservação de florestas através da


participação das ONG’s brasileiras na gestão dos projetos:
“O Brasil está em uma ótima posição para apresentar projetos sustentáveis de CDM para
serem certificados. O mundo tem estado prestando atenção na Amazônia durante as últimas
décadas e através do CDM é possível verdadeiramente financiar projetos sustentáveis desde
que implementados corretamente pelas ONG’s brasileiras. O sempre delicado tema da
soberania desapareceria se a implementação fosse feita por ONG’s brasileiras e se
demonstrasse que os brasileiros poderiam beneficiar-se economicamente dos seus recursos. A
Amazônia certamente seria a região preferida dos investimentos em detrimento de outras
florestas, porque florestas tropicais absorvem mais carbono. Em complemento, o Brasil é um
bom local para investimento, uma vez que é relativamente estável política e economicamente.
Por outro lado, o perigo de “vazamentos” em razão de uma proteção inadequada na Amazônia
é considerada problemática nos meios internacionais.”

Na Reunião Brasil/Holanda sobre Mudanças Climáticas (Instituto Internacional de Educação do


Brasil / Embaixada da Holanda - Brasília - junho de 2000) destacamos duas propostas de
colaboração bilateral:

• “Explorar a possibilidade de suporte a projetos de reflorestamento no Brasil, que envolvam


pequenos proprietários e trabalhadores sem terra.”
• “Explorar a possibilidade de suportar a promoção de pequenos projetos, de forma similar ao
existente “programa de pequenos projetos” do GEF.”

São propostas que demonstram interesse de cooperação bilateral para projetos de


reflorestamento com forte enfoque social. O reflorestamento também pode ser útil para a
conservação de florestas, na medida em que promove o aumento da área de remanescentes de
florestas, influindo positivamente na manutenção da biodiversidade.

16
8. O Brasil capacitado, mas...

“A Mudança do Clima tem-se colocado para um pequeno grupo de oficiais, cientistas ,


acadêmicos e ambientalistas. Embora existam pesquisas em andamento sobre temas ligados à
Mudança do Clima, não existem instituições cientificas ou mesmo programas de pesquisa
voltados exclusivamente para as mudanças climáticas de longo prazo ou influências
antropogênicas. Nenhum dos ministérios, do Meio Ambiente, Recursos Naturais e Economia
tem pessoal destacado exclusivamente para este tema. Entretanto, algumas organizações
chaves como o INPE e o INPA existem por motivos mais históricos do que para exercer um
comando claramente definido, portanto alguma pesquisa relevante está presente mesmo na
ausência de um comando formal. Do lado político, o único grupo de uma agência
governamental do Brasil voltado exclusivamente para a mudança do clima, é um pequeno
grupo do Ministério de Ciência e Tecnologia, que é prioritariamente responsável pelas
Comunicações Nacionais do Brasil, de acordo com a Convenção do Clima. (Mark Lutes e José
Goldemberg - Climate Change Science and Politics in Brazil - 1998)

Observamos que em julho de 1999 foi criado, por decreto presidencial, a “Comissão
Interministerial de Mudança Global do Clima, com a finalidade de articular as ações do governo
decorrentes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e seus
instrumentos subsidiários de que o Brasil seja parte.”
“A Comissão é integrada por representantes dos seguintes Ministérios: Relações Exteriores,
Agricultura e do Abastecimento, Transportes, Minas e Energia, Ciência e Tecnologia,
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Casa Civil da Presidência da República.”
A Secretaria Executiva da Comissão é exercida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, sendo
o Secretário Executivo Responsável, o Dr. José Domingos Miguez - Coordenador de Pesquisas
em Mudanças Climáticas - MCT.

Durante a Quinta Conferência das Partes (Alemanha - outubro/novembro de 1999), foi-nos


confidenciado por um dos integrantes da delegação oficial brasileira de que, esta seria a
primeira conferência em que o Brasil havia conseguido acompanhar todos os fóruns de
discussões realizados.
Também, durante esta conferência, foi-nos prometido por outro integrante da delegação
brasileira, de que as ONG’s brasileiras seriam chamadas para participar das discussões em
andamento.
Infelizmente isto não ocorreu e a sociedade civil continua desarticulada e sem condições de dar
a sua contribuição ao cenário de Mudanças do Clima, considerado por outro integrante da
delegação brasileira, como o cenário que “está determinando os rumos da humanidade para os
próximos 400 ou 500 anos!”

Embora seja um panorama preocupante, o Brasil tem escondidos, em toda a sua extensão
territorial, diversos nichos e centros capacitados em variados temas coadjuvantes no cenário
das mudanças climáticas.

17
9. Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Em 20 de junho de 2000, foi criado, pelo decreto presidencial No 3.515, o Fórum Brasileiro de
Mudanças Climáticas, “com o objetivo de conscientizar e mobilizar a sociedade para a
discussão e tomada de posição sobre os problemas decorrentes da mudança do clima por
gases efeito estufa, bem como sobre o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM) definido
no artigo 12 do Protocolo de Quioto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima, ratificada por meio de Decreto Legislativo no 1, de 3 de fevereiro de 1994.”
O Decreto foi publicado na página 2, da seção 1, do Diário Oficial - No 119, de 21 de junho de
2000. Vejamos os artigos 5 e 6:
artigo 5: “o apoio administrativo e os meios necessários à execução dos trabalhos do Fórum e
das câmaras temáticas serão providos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.”
artigo 6: “o Fórum estimulará a criação de Fóruns Estaduais de Mudanças Climáticas, devendo
realizar audiências públicas nas diversas regiões do País.”
Verificamos que há uma certa preocupação do governo federal (Presidência), em promover e
incentivar as discussões sobre o cenário em pauta.
No Brasil tem ocorrido muitos eventos setoriais e regionais para discutir as políticas referentes
à Mudança do Clima e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, não havendo entretanto um
organismo capaz de absorver e redistribuir as colaborações e manifestações que ocorrem
durante os mesmos.
“Dentre os assuntos-chave a serem discutidos na próxima rodada internacional de discussões,
estão justamente aqueles referentes às decisões a serem tomadas no tocante aos projetos de
CDM. O essencial para nós aqui é que se possa ter certeza de que as regras que governarão o
CDM e os projetos que subseqüentemente dele advirão, sejam social e ambientalmente justas.
Por isso que as ONG’s não devem observar passivamente as decisões serem feitas neste
campo, e atuar somente quando as mesmas já tiverem sido tomadas. Nós devemos, ao revés,
tomar posições, coordenar nossas ações, e participar na formulação da política brasileira para
este tema. Nós devemos, da mesma forma, participar das discussões internacionais em torno
deste assunto. Por isso que, mais do que nunca, o tempo urge para nós. Atualmente, vários
fóruns públicos estão acontecendo ao redor do Brasil e do mundo, mas sem contar com a
participação de quase nenhuma ONG brasileira. O governo quase sempre ouve somente o
setor privado e o meio acadêmico. A nível internacional, o Brasil conta com a representação de
duas ONG’s, ECOAR e VITAE CIVILIS, e nenhuma representação setorial nos pontos-chave.
Em alguns encontros (como em Aspen, FGV, USP), os méritos de alguns projetos brasileiros de
CDM são analisados. Membros da comunidade acadêmica apresentam propostas (como é seu
dever!), os quais são apoiados pela delegação. Assim é a idéia “fast-track” de se criar um
conselho nacional que iria pré-certificar “projetos precoces”. José Goldemberg o propõe pela
imprensa e o Dr. Machado (1999), do MCT, o descreve ipsis literis em uma conferência
internacional sobre CDM em Senegal, por exemplo.” (Silvia Llosa)
“As posições e respostas dos atores, inclusive ONG’S, frente às questões de mudança do clima
irão determinar em que medida o Brasil poderá avançar rumo a padrões de produção, consumo
e conservação de maior qualidade e eficácia ambiental e social.” (Rubens Born)
A tardia, efetiva e transparente implementação do Fórum, decretado no dia 20 de junho de
2000, é condição necessária da participação da sociedade civil brasileira no delineamento dos
seus rumos a curto, médio e longo prazos.

18

Você também pode gostar