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Unidade: Sociologia Contemporânea

Unidade I:

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Unidade: Sociologia Contemporânea

Sociologia Contemporânea
A história dos esforços humanos para subjugar a natureza é também a
história da subjugação do homem pelo homem.
Max Horkheimer
1. A Expansão do Capitalismo

Após a Primeira Guerra Mundial, concretizaram-se mudanças sociais em


escala mundial: despontaram novas potências industriais, entre as quais se
destacam os EUA e a então URSS; os ideais de livre concorrência deram lugar ao
capitalismo monopolista, com a crescente participação do Estado como
patrocinador das economias nacionais, no primeiro caso; e da economia socialista
no segundo, bem como novas nações se consolidaram na Ásia e na África.
No século XX, a aceleração do processo de industrialização prescindiu da
disputa por mercados consumidores e fornecedores de matérias-primas em mão-
de-obra, e o aumento de nações concorrentes na corrida imperialista fizeram com
que um novo surto de modernização e formação de novos Estados independentes
atingisse os continentes asiático e africano. Guardadas as diferenças entre o
contexto de consolidação das nações latino-americanas, no século XIX, e os das
nações africanas e asiáticas, no século XX, percebe-se a constante
internacionalização do processo de industrialização e a expansão do modo de
produção capitalista, com a conseqüente transformação das antigas colônias em
parceiros de novos contratos econômicos.
A modernização das nações, a criação de uma burocracia estatal, a
insipiente industrialização, o aparecimento de outras classes sociais – como o
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operário e a burguesia nacional – dotaram as novas nações de uma estrutura


semelhante à dos países industrializados. Parceiros e concorrentes nesse
processo de internacionalização do capitalismo industrial, as nações passaram a
ser classificadas de acordo com os índices econômicos que as diferenciavam
como ―avançadas‖ ou ―atrasadas‖, sendo essa diferenciação uma questão de grau
e não de qualidade. A ideologia difundida do centro do sistema capitalista era de
que as nações do mundo pareciam marchar igualmente rumo ao desenvolvimento
industrial. As diferenças se expressariam apenas na velocidade do processo e no
volume dos resultados alcançados.

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2. Desenvolvimento e Crescimento econômico

Alguns autores consideram o desenvolvimento de uma sociedade como


simples sinônimo de crescimento econômico, ou seja, o aumento substancial de
sua produção material. Para eles, o desenvolvimento é um processo de expansão
quantitativa do produto e da renda.
Crescimento econômico – Aumento da capacidade produtiva da economia de
um país; é o processo de expansão quantitativa do produto e da renda.

No entanto, entendendo o subdesenvolvimento como o conjunto de


características como: fome, altas taxas de crescimento demográfico, baixa renda
per capita, baixa produção industrial, desemprego, corrupção, pobreza, entre
tantas outras, podemos perceber que o desenvolvimento é um processo muito
mais amplo que o mero crescimento da economia de uma sociedade.
Subdesenvolvimento – considerado por alguns autores como um estágio
anterior ao desenvolvimento e, por outros, como uma situação permanente. Os
países subdesenvolvidos têm a estrutura econômica, social e política atrasada.

Para que haja desenvolvimento é necessário que se verifiquem alterações


profundas na distribuição de renda, nas condições de higiene e saúde da
população, nas condições de emprego, na propriedade da terra, no acesso à
educação, etc. Enfim, é necessário que exista uma participação de todos na
riqueza produzida, e não apenas o crescimento dessa riqueza por si mesma.
Desenvolvimento – É o processo de mudança social que consiste na
transformação qualitativa da sociedade, na mudança de suas características.
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Alguns países subdesenvolvidos podem experimentar crescimento


econômico, como ocorre tanto em economias periféricas como naquelas dos
países centrais do sistema capitalista, sem que estejam passando por um
verdadeiro processo de desenvolvimento – embora o desenvolvimento só seja
possível com crescimento econômico, tendo em vista que não é possível pensar o
melhoramento de uma sociedade sem que haja o incremento das condições
materiais de sua existência.

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2.1. A ilusão do desenvolvimento econômico

A idéia defendida nas últimas décadas, de que as grandes massas de


população dos países pobres podem atingir os padrões de consumo daqueles
que vivem hoje nos países altamente industrializados, como os Estados Unidos
não passa de um mito, de uma ilusão; bem como não se verifica o mesmo poder
de consumo no interior da própria sociedade estadunidense, para a qual há uma
parcela significativa daquela sociedade excluída dos melhoramentos provenientes
da modernização de suas estruturas sociais, ultimada de forma desigual.
Essa idéia interessaria aos setores ricos dos países pobres, pois justificaria
a concentração da riqueza em poucas mãos, em nome do progresso tecnológico
e do desenvolvimento econômico que, como eles querem fazer crer, futuramente
iriam beneficiar toda a população. Enquanto isso, essa população continuaria na
miséria, sem alimentação, sem moradia, sem saúde, sem educação; as grandes
metrópoles continuariam com seu ar irrespirável, a crescente criminalidade, a
deterioração dos serviços públicos, etc.
O que os defensores do mito do desenvolvimento econômico deixaram de
considerar é o impacto sobre a natureza de uma eventual universalização do
consumo, conforme eles preconizam. Um estudo feito por um grupo de
especialistas procurou responder a esta pergunta: ―O que aconteceria se o
desenvolvimento econômico, para o qual estão sendo mobilizados todos os povos
da Terra, chegasse efetivamente a universalizar-se?‖
A resposta é clara: se isso acontecesse, a pressão sobre os recursos não-
renováveis (petróleo, carvão, urânio, alumínio, etc.) seria tal que o sistema
econômico entraria em colapso; a depredação do mundo físico e a poluição
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seriam de tal ordem que colocariam em risco as possibilidades de sobrevivência


da própria espécie humana. Conclusão: a idéia de que os povos pobres podem
um dia chegar a ter os padrões de consumo dos povos ricos é irrealizável, não
passa de uma ilusão.
A idéia do desenvolvimento econômico serviria, nessa perspectiva, para
levar os povos pobres a aceitar grandes sacrifícios em nome de um futuro que
nunca irá acontecer. Essa idéia serviria também para desviar as atenções das
necessidades básicas da vida humana – alimentação, saúde, habitação,
educação -, para cuja satisfação devem orientar-se os esforços de cientistas,

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economistas, políticos e de todos os cidadãos. O desenvolvimento de um povo só
será possível por meio do atendimento a essas necessidades, para as quais
precisam ser orientados os investimentos.

3. Globalização

Muito já se escreveu sobre globalização, mas para entender melhor esse


processo, podemos citar um dos sociólogos brasileiros que mais estudou sobre o
tema: Octavio Ianni1. Para entender este novo estágio que atinge o capitalismo no
mundo ele dividiu o processo histórico capitalista em três momentos2.
O primeiro corresponde a sua emergência e instalação na Europa,
instaurando o trabalho livre, a mercantilização da produção e a organização do
mundo sob a forma de Estados Nacionais. Para isso houve a dissolução de
instituições pré-capitalistas de produção e organização territorial. Foi um período
de grande acumulação de capital e de emergência da burguesia como classe
dominante. Nessa fase, o capitalismo já seria global, pois, o que alimenta esse
processo é o colonialismo que agrega ao processo europeu as demais regiões do
mundo que fornecem matérias-primas e escravos, permitindo a acumulação de
capital.
O segundo momento corresponde à industrialização e a um processo mais
efetivo de implantação do capitalismo no mundo, por meio de estreitas relações
internacionais de dependência econômica e política que submetem as nações a
centros hegemônicos, caracterizando o que ficou conhecido por imperialismo.
O capitalismo derrama-se por todo o mundo, abarcando os mais diversos
continentes, mares e oceanos, promovendo um forte processo de centralização
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com a formação de impérios. A economia entra em um estágio de produção


ampliada e se torna altamente planificada. A tecnologia passa a desempenhar um
papel cada vez mais importante, seja nas atividades bélicas de conquista e
manutenção de territórios ou do espaço sideral, seja na produção de mercadorias.

1
Octavio Ianni (Itu, 1926 — São Paulo, 4 de abril de 2004) foi um sociólogo brasileiro. Graduado na antiga Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) em Ciências Sociais onde fez também o mestrado e
doutorado, foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP).

2
IANNI, Octavio. A sociedade global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993.

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Há fortes movimentos de dissensão e resistência em diferentes partes do
mundo, gerando graves conflitos e a emergência do movimento mais forte de
oposição ao capitalismo que foi o comunismo, instaurando um novo modelo
alternativo de produção e organização política. A cultura se globaliza e se
homogeneíza com a criação da indústria cultural e da cultura de massa. Há uma
grande mobilização populacional provocada pelo êxodo rural e pela emigração
que leva multidões a se instalarem de forma definitiva em outros territórios.
O terceiro momento é aquele que corresponde ao que se costuma chamar
de globalização. Os modelos alternativos ao capitalismo, em especial o mundo
comunista, entram em decadência, há um processo de enfraquecimento dos
Estados Nacionais, abalando as identidades regionais e os nacionalismos.
Formam-se organismos internacionais para a administração econômica, social e
política, como a ONU – Organização Mundial das Nações Unidas; o FMI – Fundo
Monetário Internacional, e o BIRD – Banco Mundial. E a informática revoluciona a
produção de bens e a divisão internacional do trabalho com o advento da
comunicação em massa por meio das mídias digitais. O capitalismo entra em sua
fase efetivamente planetária, tendo como centro hegemônico os Estados Unidos.
A racionalização econômica atinge níveis jamais pensados e as relações
internacionais se redefinem.
Globalização - podemos dizer que é um processo econômico e social que
estabelece uma integração entre os países e as pessoas do mundo todo. Através
deste processo, as pessoas, os governos e as empresas trocam idéias, realizam
transações financeiras e comerciais e espalham aspectos culturais pelos quatro
cantos do planeta. Unidade III: Sociologia Contemporânea

Acompanhando esse longo processo de mais de cinco séculos está o


desenvolvimento da ciência e da pesquisa e, especialmente, da sociologia, que
procurou acompanhar e explicar esse processo.

4. Pobreza e exclusão

Terá havido no mundo alguma sociedade realmente igualitária na qual as


pessoas pudessem desfrutar de maneira semelhante os bens e as oportunidades
da vida social? Parece que não.

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O patriarcado existente nas mais remotas civilizações, garantindo aos
homens o poder sobre a família e seus bens, demonstra que a igualdade é, antes
de mais nada, um ideal ainda não vivido pela humanidade.
Por outro lado, o processo histórico tem revelado como tendência marcante
a diferenciação e a crescente complexidade da sociedade. Da pequena
diferenciação social existente nas sociedades tribais, as diversas civilizações
passaram por processos que as levaram a formar os mais diferentes grupos, que
começaram a se distinguir por etnia, nacionalidade, religião, profissão e, de forma
mais acentuada, por classe social. A caminho das sociedades plurais, foram se
formando inúmeros grupos, cada um com uma função, um conjunto de direitos,
deveres, obrigações e possibilidades de ação social.
O mundo contemporâneo assiste ao resultado desse longo processo
histórico de formação de uma civilização complexa e diferenciada, na qual os
diversos grupos procuram conquistar direitos ou manter privilégios e as
possibilidades de acesso à produção de bens aos mecanismos de distribuição
desses bens na sociedade.

5. Modelos de explicação sociológica

Trata-se de um momento em que a sociologia é influenciada pelo


desenvolvimento de outras disciplinas, como a psicologia, psicanálise, a
lingüística e a semiótica, e pelo seu interesse em desvendar os mecanismos
mentais do pensamento, da cognição, da motivação e da expressão humana.
Assim, em vez de buscarem a especificidade da disciplina, os estudiosos da
sociologia contemporânea procuraram incorporar novos pressupostos teóricos e
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diferentes métodos de pesquisa que a tornaram mais interdisciplinar.


Em conseqüência disso, a sociologia aproximou-se das demais ciências
humanas, afastando-se das ciências exatas e biológicas que lhe haviam servido
de modelo durante o século XIX. Embora algumas escolas como o funcionalismo
ainda buscassem certo grau de precisão e certa postura de neutralidade, típicos
das ciências da natureza, passou a predominar no estudo da sociedade um
comportamento analítico mais genuíno e próprio das ciências que estudam o
Homem.

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Tais posições não significaram o abandono dos modelos clássicos, mas a
sua necessária atualização e reinterpretação para que os conceitos possam se
tornar adequados ao estudo da sociedade em uma época de pleno
desenvolvimento dos meios de comunicação e da indústria cultural e que reavalia
as relações e as instituições sociais. Diante da fragilidade destas, a importância
adquirida pelo indivíduo precisa ser estudada do ponto de vista de sua
participação na ação social.

5.1. Escola de Chicago

Os Estados Unidos, na passagem do século XIX para o século XX,


receberam um grande contingente de imigrantes que deixavam seus países de
origem e sua cultura original para fugir às perseguições políticas e religiosas que
varriam a Europa. Esses imigrantes se reuniam em grupos de intensa
sociabilidade, mas nem sempre capazes de evitar comportamento inadequado
num novo ambiente social.
A então recente industrialização da América também era fonte de distúrbios
e de conflitos sociais que geravam preconceito e perseguição que, não raro
adquiria contornos raciais e étnicos. A questão das minorias de origem africana
também contribuía para uma sensação de mal estar e intranqüilidade social. O
conjunto destes conflitos tendia a ser ―resolvido‖ quase que exclusivamente com
emprego da força policial, o que deixava a sociedade em permanente estado de
tensão racial e, principalmente, sem mecanismos de ação social que produzissem
resultados mais seguros e duradouros no sentido de pelo menos minimizar essas
tensões.
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Foi esse cenário que estimulou o desenvolvimento de uma produção


científica que teve seu apogeu entre 1915 e 1940 e a Universidade de Chicago
como sede.
Em um clima de grande produtividade tanto para a pesquisa como para a
docência, inúmeros pesquisadores voltaram-se para a sociologia, na tentativa de
buscar soluções para estes conflitos. Com tal postura, dedicaram-se
especialmente ao estudo da cidade, do qual resultou uma sociologia, ao mesmo
tempo, urbana e pragmática.

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Não é por acaso que uma das correntes de maior repercussão da chamada
Escola de Chicago, tanto nos Estados Unidos como fora dele, foi o pragmatismo
proposto por John Dewey, representativo dessa tendência empirista. Na linha do
estudo da cidade, destaca-se Georg Simmel procurando entender seu ―estado de
espírito‖, ou seja, suas motivações, mobilidades e ritmos de vida.
Em outra vertente o interacionismo simbólico ficou sobre responsabilidade
de George Herbert Mead, valorizando o caráter simbólico e subjetivo da ação
social. Com ela abandona-se a visão sistêmica da sociologia clássica em favor de
uma abordagem mais interpretativa, simbólica e subjetiva do comportamento
humano.
Toda a produção científica desses pesquisadores levou às ultimas
conseqüências a pesquisa empírica, para a qual valiam-se de múltiplas técnicas:
depoimentos, testemunha oral, correspondência, análise de conteúdo de
documentos, entrevistas. Suas análises romperam fronteiras e a Escola de
Chicago se tornou referência em sociologia urbana.

―O interacionismo simbólico explorou largamente esses diferentes níveis


da comunicação, da conversação por gestos da briga de galo e da luta
de bosque à linguagem e sua função simbólica. O que é preciso reter
desse duplo legado de Simmel e de Mead, é sobretudo a tensão que
eles estabelecem entre a pluralidade dos mundos e dos engajamentos
do mundo e a lógica dos momentos‖.
JOSEPH, Isaac e GOFFMAN, Erving. A microssociologia. Rio de
Janeiro: FGV, 2000. p. 21.

Em 1935, entretanto, outro grupo se destaca em Chicago – é uma


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sociologia mais durkheiniana, que buscava estudar os processos de adaptação


dos imigrantes poloneses à cidade, atualizando o conceito de anomia – termo
com o qual Durkheim designava o estado nocivo que a sociedade atinge quando
nela predomina o conflito sobre a coesão e o consenso. Os principais cientistas
dessa nova vertente foram Robert Merton e Talcott Parsons, seguidos por outros
estudiosos da marginalidade e da delinqüência, como W. Thomas e F. Znaniacki.
A Escola de Chicago começa a perder seu brilho quando essa geração de
sociólogos empiristas é substituída por uma outra, voltada principalmente para as
pesquisas quantitativas que visavam o levantamento de tendências eleitorais ou

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de preferência da audiência por programas nos meios de comunicação. Sem
patrocínio para pesquisas mais demoradas de menor impacto, os sociólogos
acabaram por substituir as técnicas qualitativas pelas quantitativas, trazendo de
volta à cena toda uma contestada postura positivista. Mas a Escola de Chicago já
dera frutos e sua metodologia pode ser encontrada na sociologia desenvolvida
por outros centros universitários norte-americanos, como Yale, Michigan, Harvard
e Columbia.
As contribuições da Escola de Chicago, porém são indeléveis, e entre elas
é preciso destacar a grande preocupação com a aplicação de métodos
etnográficos às análises sociais e à sociologia urbana e a ênfase dada às
pesquisas das minúcias da vida cotidiana e dos processos simbólicos. A
sociologia que resulta desses procedimentos ficou conhecida também por
microssociologia.

5.2. Escola de Frankfurt

No início do século XX, a Europa passava por grandes convulsões


políticas: a industrialização da Itália e da Alemanha; a Primeira Guerra Mundial e
a Revolução Russa. Na Alemanha, durante a República de Weimar, ocorreram
grandes conflitos entre a mobilizada classe operária e o governo, levando a um
confronto deste com a Liga Espartaquista, de inspiração marxista, e à morte de
seus dois dirigentes – Rosa de Luxemburgo e Karl Liebknecht. Nesse clima
revolucionário é fundado o Instituto para a Pesquisa Social, em 1924, por
iniciativa de Feliz Weil, ligado à Universidade de Frankfurt. A eles se une um
grupo de intelectuais, entre os quais se destacam Max Horkheimer, Friedrick
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Pollock, Theodor W. Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin e Eric Fromm.


A primeira gestão ficou a cargo de Horkheimer, que se torna reitor em
1931, época em que é lançada a Revista para a Pesquisa Social – na qual os
autores elaboraram uma releitura dos filósofos clássicos que recebeu o nome de
Teoria Crítica da Sociedade. Uma doutrina que procura estudar os insucessos do
movimento operário na Alemanha.
Nos primeiros anos, o Instituto foi financiado por recursos doados por seus
fundadores judeus, mas a ascensão do nazismo coloca em risco a continuidade
de seus trabalhos. Durante a ditadura nazista e a Segunda Guerra Mundial, os

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pesquisadores do Instituto passam a trabalhar em anexos instalados fora da
Alemanha – Londres, Paris, Zurique – e até mesmo em Columbia, nos Estados
Unidos, onde se instalam o próprio Horkheimer, Léo Löwenthal e Theodor Adorno.
Com o fim do nazismo, alguns professores voltam à Alemanha e retomam seus
trabalhos e aulas, restabelecendo o que restava do Instituto, dezessete anos
depois de sua ―extradição‖.
De maneira geral, as teorias desenvolvidas pela Escola de Frankfurt
procuravam rever os princípios marxistas, incorporando conceitos importantes da
Sociologia do Conhecimento e da Psicanálise. Tinham por objeto de pesquisa a
ação revolucionária, e a análise da mercantilização das relações sociais e da
produção cultural. Críticos ácidos dos meios de comunicação, aos quais atribuíam
o sucesso da doutrina nazista na Alemanha, dedicaram-se também à sua análise
e denúncia. Com esse fim, Horkheimer e Adorno criam o conceito de Indústria
Cultural – a produção tecnológica, lucrativa, planejada e em série de bens
simbólicos.
Indústria Cultural – A industrialização em larga escala incluiu os elementos da
cultura erudita e da popular, dando início à indústria cultural; o incessante
desenvolvimento da tecnologia, principalmente nos meios de comunicação
(fotografia, disco, cinema, rádio, televisão, etc.), passou a atingir um grande
número de pessoas, dando início à chamada cultura de massa.

O último nome de relevo da Teoria Crítica é o de Jürgen Habermans,


assistente de pesquisa no Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt de 1956 a
1959. Habermans pertence, entretanto, a uma outra geração, que não passou
pelo exílio nem compartilhou dos conflitos na Alemanha promovidos pelas lutas
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operárias e pela ascensão do nazismo.


Suas preocupações estão centradas nas dimensões ideológicas do
conhecimento e na identificação de seus múltiplos condicionamentos. Em
Conhecimento e Interesse, desenvolve a ―Teoria dos interesses cognitivos‖, pela
qual demonstra a impossibilidade da neutralidade científica proposta por muitos
sociólogos. Nesse trabalho Habermans já mostra o papel central da comunicação
em sua pesquisa, elaborando o conceito de ação comunicativa – uma interação
simbolicamente mediada.

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Habermans identifica dois tipos de razão na cultura humana: a razão
instrumental, voltada para o domínio da natureza e a superação dos limites
humanos; e a razão comunicativa, voltada para a realização e a libertação
humanas. A primeira é característica da indústria e das ciências exatas, a outra,
das ciências hermenêuticas.
A grande critica que ele tece em relação à sociedade contemporânea é a
prevalência da razão instrumental sobre a razão comunicativa, fazendo com que
ela se transforme em razão de Estado. A ação comunicativa estabelecida pela
rede de relacionamentos humanos e pela reflexão perde sua dialogicidade e seu
poder de estabelecer o consenso entre os indivíduos em interação.

6. A comunicação como informação

Podemos dividir a evolução da humanidade, em relação à comunicação e à


transmissão de informações, em quatro grandes estágios: a sociedade oral, a
sociedade da escrita, a sociedade da imprensa e a sociedade eletrônica (a aldeia
global).
A invenção da escrita é um dos momentos mais importantes da história das
civilizações. A comunicação oral exige a presença de interlocutores, daqueles que
falam, e o discurso oral é, portanto, indissociável do momento de sua produção.
Ou seja: na situação da comunicação oral, o momento em que ocorre a produção
dos discursos (as falas) é essencial, e faz parte integrante da própria situação.
Praticamente não existe comunicação, a não ser naquele instante.
Assim como a comunicação oral, a escrita produz discursos, os próprios
textos escritos. Esses discursos, entretanto, libertam-se da situação em que são
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produzidos e passam a ter uma existência autônoma. Eles não dependem mais
do momento em que foram produzidos. Podem ser até mesmo produzidos aos
poucos, em momentos diversos. Configura-se a comunicação na leitura de um
texto escrito, em geral, sem que o escritor esteja presente. Numa sociedade
primitiva, ao contrário, não se pode dialogar nem falar sem que a pessoa com
quem dialogamos ou falamos esteja presente. A escrita permite e gera essa
desvinculação entre o momento de sua produção e o discurso produzido. A
situação de comunicação pode repetir-se indefinidamente, e não é mais

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necessário que as mesmas pessoas estejam presentes, no mesmo local, para
que a comunicação se efetive.
A escrita apresenta desenvolvimento e sistemas diversificados e um dos
momentos de importantes transformações é o surgimento das escritas alfabéticas
e fonéticas. A tipografia introduz outra grande transformação na forma de
comunicação entre os seres humanos. Com a imprensa, é agora possível
reproduzir os discursos indefinidamente, as idéias podem ser transmitidas a um
maior numero de pessoas, o que intensifica os debates e a produção do
conhecimento. É importante notar que a invenção da imprensa é imediatamente
anterior, por exemplo, ao movimento de Revolução Cientifica. Pode-se dizer,
nesse sentido, que a ciência e o pensamento científico são intimamente
associados à imprensa.
Num célebre ensaio de 1936, um dos principais filósofos da Escola de
Frankfurt, Valter Benjamin discutiu as inovações técnicas introduzidas pela
fotografia e pelo cinema em relação à pintura e ao teatro e suas influências sobre
a percepção do ser humano. O ensaio introduz o conceito de áurea do objeto de
arte, ou seja, sua presença no tempo e no espaço, sua existência singular no
local em que ele está, que é gradualmente dissolvida a partir do momento em que
a arte começa a ser produzida para ser reproduzida.
Benjamin apresenta a história da reprodução das obras de arte até a
fotografia e o cinema, e propõe que a reprodução elimina a áurea do objeto e sua
relação com a tradição. Assim, a singularidade de uma obra de arte, sua função
ritual, são perdidas com o surgimento das câmeras fotográficas e de filmagem, e
não há mais sentido em falar de autenticidade de uma fotografia ou de um filme.
O pintor e o cinegrafista assumem perspectivas distintas em relação aos
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fenômenos representados.
Para Benjamin, a câmera nos introduz no inconsciente ótico (com a técnica
do slow motion, por exemplo), assim como faz a psicanálise em relação aos
impulsos inconscientes.
Se lembrarmos que Marshall McLuhan, na década de 1960, foi considerado
o profeta da idéia de uma aldeia global, e recordarmos seu famoso refrão ―o meio
é a mensagem‖, nós podemos retornar mais de vinte anos para
(assombrosamente) lermos Benjamin já falando sobre mídia artística e sua
influência sobre a mente e as sensibilidades humanas.

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Entramos, há poucas décadas, na era da informática, e uma nova ruptura
se estabelece. Da estabilidade da linguagem representada esteticamente nos
livros, passa-se à instabilidade da linguagem eletrônica. Dos escribas aos
internautas. Se a revolução industrial substituiu, na produção, a força física do
homem pela energia das máquinas (por meio da utilização do vapor e depois da
eletricidade), com a revolução microeletrônica, as capacidades intelectuais do
homem são ampliadas e substituídas por autômatos. A informação agora se
apresenta digitalizada e virtualizada, não mais restrita ao suporte do papel. Do
texto impresso passamos ao texto processado; do livro impresso, ao livro
eletrônico.
A sociedade da informação libera o homem da especialização profissional
e dos limites de uma cultura. Abre-se o espaço para o surgimento do Homo
studiosus ou homem universal, ―aquele que será munido de uma instrução
completa e em condições de mudar de profissão e, portanto, também de posição
no interior da organização social do trabalho‖.

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Referências

COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. São Paulo:


Moderna, 2005.

FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Paz


e Terra, 1974.

IANNI, Octavio. A sociedade global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993.

JOSEPH, Isaac e GOFFMAN, Erving. A microssociologia. Rio de Janeiro: FGV,


2000. p. 21.

MATTAR, João. Metodologia científica na era da informática. São Paulo:


Saraiva, 2005.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2003.

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Prof. Dr. Rodrigo Medina

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