Você está na página 1de 14

Teoria do Direito II

Projeto do Livro
“Dos Delitos e das Penas” de Cesare Beccaria

Disciplina: Teoria do Direito II

Anapaula Ziglio de Andrade RA:11921564

Rebeca Fabrin RA: 11617447

Ana Júlia Cimadon RA: 11921437

Daniela Fernanda RA: 11921162

Jaguariúna

23 de Setembro de 2019
QUESTÕES:

Qual o alcance normativo do princípio "nulla poena sine previa Lege?"

a) Consiste em uma proposição universal (e de que tipo) ou em uma particular


(e de que tipo)?
b) Qual a natureza jurídica da criminalização da homofobia?
c) Em consequência como se a compreende do ponto de vista da justiça, da
validade e da eficácia?
d) Enquanto sanção jurídica, qual é o seu lugar no ordenamento jurídico?
e) Com relação à fonte que a produziu, analisar se os requisitos de
competência foram satisfeitos ou não e quais as suas consequências?
f) Há compatibilidade entre estas duas normas? Diferenciar entre norma
jurídica válida e decisão jurisprudencial.
g)Demonstrar de que forma os princípios estabelecidos por Beccaria se
aplicam à hipótese em estudo. (criminalização da homofobia)

RESPOSTAS:
a) Consiste em uma proposição universal (e de que tipo) ou em uma
particular (e de que tipo)?

Desse modo, podemos concluir que o princípio da “nulla poena sine


previa Lege” consiste em uma proposição universal positiva que tem como
sujeito uma classe composta por vários membros (no caso, todos os brasileiros
e estrangeiros residentes ou de passagem) e é positiva, pois nega a
possibilidade de alguém ser punido sem uma lei anterior ao fato.
Além disso, é uma proposição com destinatário e ação universais, já que
na se exaure na execução, mas se repete no tempo e vale para todos aqueles
comportamentos que podem ser enquadrados na ação-tipo. Tanto é verdade,
que esse princípio no caso brasileiro, vem expressamente previsto no primeiro
artigo do Código Penal (1940) bem como no inciso XXXIX, do artigo 5, da
Constituição Federal.
Ele proíbe a criminalização dos fatos que não sejam tipificados em
normas penais editadas pelo poder competente antes da prática dos mesmos,
bem como impede que se aplique qualquer tipo de sanção penal pela prática
dos mesmos fatos se não prevista essa sanção, em lei, anterior.
Este princípio constitucional impõe aos cidadãos o cumprimento das leis
e do ordenamento jurídico vigente. Por este, o que a lei determinar deve ser
cumprido, e no caso de crimes, o que a lei determinar como fato típico, será
considerado crime e se cometido, estará sujeitos as cominações determinadas
pela lei.
Portanto, quando um código fixo de leis é observado literalmente,
deixando ao juiz a incumbência de examinar e julgar as atitudes dos cidadãos,
o despotismo de muitos, somente é retificado pelo despotismo de um só, e
nesse sentido, os súditos não ficam sujeitos a pequenas tiranias.
Assim, em cada crime o juiz deverá estruturar um silogismo perfeito: a
premissa maior deve ser a lei geral; a menor, a ação, conforme ou não à lei, e
a consequência, a liberdade ou a pena. Agindo assim, afasta-se o perigo de se
aplicar a lei conforme os valores de cada um, a lei é geral e, assim, igual para
todos.

b) Qual a natureza jurídica da criminalização da homofobia?


Em decorrência do princípio da legalidade estrita o tipo penal apresenta
características próprias em relação aos outros ramos do direto, visto que se
vale de suas normas incriminadoras para atribuir determinada sanções a certas
condutas, porém o faz de forma “suis generis”, não determinando que certa
conduta é proibida, mas descrevendo minuciosamente determinada conduta e
logo em seguida determinando uma pena para aqueles que se adequarem
àquela conduta descrita anteriormente.
Com isso não há determinação expressa de que, por exemplo, é proibido
matar, mas sim se descreve a conduta e se determina uma pena, estando
implícito que quem incorrer naquele tipo estará sujeito àquela sanção. Dessa
maneira foi feito no Código Penal Brasileiro, como visto no clássico artigo 121:
“Homicídio Simples. Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte
anos.” (BRASIL. Código Penal, art. 121).
Nesse caso, portanto, tem-se um tipo penal incriminador, que foi
instituído por uma lei em sentido estrito e, em obediência a princípio da
legalidade, e vinculará a todos somente após a sua vigência, não se aplicando
a condutas pretéritas, atendendo ao princípio da anterioridade.
Em relação à criminalização do racismo, a natureza jurídica é diferente,
pois a partir da interpretação feita pelo STF do Art. 3º, inciso IV,

 “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

        I -  construir uma sociedade livre, justa e solidária;

        II -  garantir o desenvolvimento nacional;

        III -  erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades


sociais e regionais;

        IV  -  promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo,


cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

do Caput do Art. 5º,

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade”

e do art. 5º, inciso XLI da Constituição Federal,

“XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e


liberdades fundamentais”

decidiu-se equiparar o crime de homofobia ao de Racismo, uma lei já


existente desde 1989. Isso acabou por aumentar o comportamento racista que
antes abrangia apenas raça ou etnia.
Importante lembrar que a função de prever crimes e penas compete ao
Poder Legislativo e não ao Poder Judiciário ou ao Poder Executivo. No caso da
criminalização da homofobia, o princípio da legalidade e tripartição dos poderes
não foi respeitado. Já que as chamadas condutas de homofobia ou transfobia
foram consideradas como crimes de racismo pelo Supremo Tribunal Federal
até que o poder Legislativo emita normativa específica sobre o tema.
Durante a votação, o Ministro Luiz Flux explicou que “é mais do que
inequívoca a inércia legislativa. Os projetos não caminham, não andam.
Tivemos um aceno de que o Congresso vai votar, mas não temos certeza de
que vai aprovar e a homofobia prossegue. É nesse sentido que se impõe a
judicialização dessa questão e a palavra final do Judiciário, porque às vezes
voz e voto não são suficientes".
A decisão aconteceu nos autos de Ação Direta de Inconstitucionalidade por
Omissão (ADO) n. 26, em 13 de junho de 2019, de relatoria do Ministro Celso
de Mello por maioria de votos (8 votos contra 3). Portanto, sua natureza jurídica
não é de tipo penal (lei que torna um ato crime), mas de conduta criminosa pela
via jurisdicional.
Conforme a decisão da Corte:
 "praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito" em razão da
orientação sexual da pessoa poderá ser considerado crime; a pena será
de um a três anos, além de multa;
 se houver divulgação ampla de ato homofóbico em meios de
comunicação, como publicação em rede social, a pena será de dois a
cinco anos, além de multa;
 a aplicação da pena de racismo valerá até o Congresso
Nacional aprovar uma lei sobre o tema.

c) Em consequência como se a compreende do ponto de vista da


justiça, da validade e da eficácia?
De acordo com ministro Roberto Barroso enquanto o Congresso
Nacional não atuar, incide a Lei do Racismo, não por analogia ou interpretação
extensiva, mas porque, no conceito de racismo firmado pelo STF, estão
colhidas as situações tipificadas na lei. Ademais, compreendeu que a
homofobia deve ser tratada como motivo fútil ou torpe nos outros tipos penais
previstos no Código Penal.
Em conseqüência dessa decisão jurisdicional, a criminalização da
homofobia deve ser compreendida do ponto de vista da justiça, da eficácia e da
validade como vinculada a Lei do Racismo. O que vale para uma, vale para a
outra.
É o que mostra o texto da Ação Direta, “a solução ora
proposta limita-se à mera subsunção de condutas homotransfóbicas aos
diversos preceitos primários de incriminação definidos em legislação penal já
existente (Lei 7.716/1989), pois os atos de homofobia e de transfobia
constituem concretas manifestações de racismo, compreendido em sua
dimensão social, ou seja, o denominado racismo social.”
O Ministro Celso Mello votou pela procedência da ação com eficácia
geral e efeito vinculante. Em seu voto, declarou que os efeitos da decisão
somente se aplicarão a partir da data de conclusão do julgamento.
Norberto Bobbio define a justiça, a validade e a eficácia como três
critérios de valoração de uma norma, independentes um do outro. Sendo
assim, a justiça não depende nem da validade nem da eficácia, a eficácia não
depende nem da justiça nem da validade. Para se julgar a justiça de uma
norma, é preciso compará-la a um valor ideal. Sendo assim, uma norma justa é
aquela que deve ser e uma injusta é aquela que não deveria ser. A validade
jurídica de uma norma equivale à existência da mesma como regra jurídica. Já
a eficácia de uma norma diz respeito a ela ser ou não seguida pelas pessoas a
quem é dirigida.
Dessa maneira, a criminalização da homofobia passa a ser uma lei justa,
pois tem a intenção de punir aqueles que ignoram a dignidade humana. É
válida? Como ela está vinculada a outra lei por decisão jurisdicional até o
momento de ser transformada em novo tipo penal pelo legislativo, não se pode
considerá-la válida. Já que graças à omissão do poder legislativo, o poder
judiciário julgou inconstitucional a demora na produção da lei e decidiu tomar
uma atitude, o que também não é constitucional, já que desrespeita o princípio
da legalidade e da tripartição dos poderes. A lei não poderia ter validade antes
de ser aprovada pelo Congresso e sancionada pelo Presidente da República.
Quanto a ser eficaz, aí vai depender de sua aplicação pelos tribunais.
Mas de qualquer forma, ela é eficaz, pois atende as necessidades de um grupo
desprotegido pela lei e tem por objetivo punir aqueles que desrespeitam essa
classe com sanções já previstas na Lei de Racismo (Lei 7.716/89), que é uma
norma eficaz e que bem sendo aplicada na sociedade há três décadas.

d) Enquanto sanção jurídica, qual é o seu lugar no ordenamento


jurídico?
Em seu livro “A teoria do Norma Jurídica, Norberto Bobbio
esclarece que a sanção jurídica trata das normas cuja violação tem por
conseqüência uma resposta externa e institucionalizada. É uma característica
distintiva das normas jurídicas.
É o que acontece com a criminalização da homofobia. Com o
reconhecimento da sua equiparação à Lei de Racismo, suas sanções passam
a ser as mesmas. E abaixo da Constituição Federal.
Para alguns estudiosos do tema, como Eduardo Cabette, o grande
problema de se vincular o crime de homofobia e transfobia à Lei de Racismo
(Lei 7.716/89) com as mesmas sanções é que esta última trata tão somente do
preconceito e discriminação de “raça, cor, etnia e religião”. Sendo assim, o
preconceito referente à orientação sexual, à homossexualidade ou à
transexualidade, não se coaduna com nenhuma das hipóteses taxativas da lei.
Portanto, é preciso ter prudência com essa interpretação ampliativa para outros
preconceitos ou discriminações em equiparação com o racismo, mesmo por via
legislativa.
Ele explica que se há uma excessiva ampliação, a tendência é que
outros grupos venham a pleitear o mesmo reconhecimento. “Uma espécie de
processo que caracteriza o que já foi chamado de “Cultura da Vitimização”. De
repente, poderemos nos deparar com a criminalização qual racismo da
obesofobia, da esqueleticofobia, da gerontofobia, da misoginia, da nanofobia e
da gigantofobia (afinal, os anões e as pessoas de baixa estatura, assim como
os gigantes também são gente), da veganofobia, da alopeciofobia (alopecia
areata é uma doença que faz faltarem pelos em regiões do corpo, no corpo
todo ou ao menos na cabeça – os carecas também são vítimas de
preconceito), dentre outras situações imprevisíveis “ad infinitum”.” O que pode
vir a atrapalhar os conceitos de justiça, validade e eficácia da própria Lei de
Racismo e, como conseqüência, da criminalização da homofobia.
e) Com relação à fonte que a produziu, analisar se os requisitos de
competência foram satisfeitos ou não e quais as suas
consequências?
Para que haja a criminalização de determinada conduta é preciso seguir o
trâmite legal, isto é, o debate sobre a homofobia é de competência do
Congresso, que deveria sancionar lei tornando o ato crime.  
Assim, ao apontar para a criminalização da homofobia, o Supremo Tribunal
Federal afrontou o princípio da legalidade.
Como os requisitos de competência não foram satisfeitos, o advogado
criminalista Leonardo Yarochewsky explica, assim como já apontou Eduardo
Cabette, que a decisão pode trazer consequências. Uma delas é abrir
precedentes em situações futuras para que o STF faça uma interpretação
equivocada e criminalize outros comportamentos.
Além do risco da criminalização em excesso, o advogado lembra que “a
pena criminal é um remédio sancionador extremo que somente deve ser
utilizado como ultima ratio e quando se tratar de ataques a bens jurídicos
fundamentais."
Para Eduardo Cabette, há um outro problema que é gerado com tais
decisões que criam condutas criminosas pela via jurisdicional no que se refere
à devida aplicação do Princípio da Anterioridade e da Proibição da
Retroatividade de Lei Penal que prejudique o réu.
“Acontece que uma decisão judicial não se faz como uma lei, que é
publicada e tem uma “vacatio legis” estabelecida ou a previsão expressa de
que entra em vigor na data de sua publicação. Nesse caso, a efetiva
criminalização somente se dará com a decisão final, ainda que meramente
formal, e seu trânsito em julgado. Ainda pior será a situação em que, havendo
a decisão final de reconhecimento da homofobia e da transfobia como crimes
de racismo, advier a aprovação pelo Congresso Nacional de nova lei específica
sobre o tema. Então haverá problemas intertemporais entre a lei aprovada pelo
Legislativo e a decisão do Judiciário. Se a lei for mais benéfica, retroagirá e
tornará letra morta a decisão judicial enfocada. Se for mais rígida, então alguns
serão julgados mais beneficamente de acordo com a decisão do STF e outros,
no futuro, mais rigorosamente nos termos da legislação de regência. Isso se o
STF não resolver também inviabilizar a eventual lei aprovada pelo Congresso
Nacional, gerando então ainda mais confusão.”  
Ele salienta que outro aspecto importante é que se o Congresso não
promove uma simples adição à Lei de Racismo, mas sim à criação de uma lei
especial tratando da homofobia e da transfobia, então haverá condutas que por
um dado período foram consideradas como gravíssimos crimes de racismo,
imprescritíveis e inafiançáveis e adiante serão consideradas como
configuradoras de delitos comuns, inclusive prescritíveis, já que ao legislador
não é dado criar imprescritibilidades à margem da Constituição Federal.
“A não ser que se entenda que a decisão do STF vincula o legislador, de
modo que estaria ele obrigado a criminalizar essas condutas como espécies de
racismo. Não poderia sequer criar lei nova, mas tão somente fazer mero
acréscimo à Lei 7.716/89 já existente. Mas, então o legislador seria um
estafeta ou contínuo dos Ministros do STF, mero cumpridor de suas
determinações, sem qualquer margem de discricionariedade, oportunidade,
conveniência ou livre convicção. Tratar-se-ia de sobreposição, ou melhor, de
submissão do Poder Legislativo ao Poder Judiciário de uma forma
absolutamente inadmissível num regime democrático, a não ser que se chame
de democracia a uma “Ditadura do Judiciário”.
Observe-se que, ao invés de os magistrados terem de se curvar aos limites
da lei, estaria ocorrendo o justo oposto, a lei teria de se adequar aos contornos
estabelecidos pelos magistrados, a despeito até mesmo das normas
constitucionais em contrário. O voluntarismo que se escancara nessa situação
é totalmente incompatível com os contornos de um Estado Democrático de
Direito, cuja índole deve ser nitidamente normativa.”  

f) Há compatibilidade entre estas duas normas? Diferenciar entre


norma jurídica válida e decisão jurisprudencial.
A norma jurídica válida é aquela que já consta no ordenamento jurídico, ou
seja, já foi proposta e aprovada pelo poder legislativo e sancionada pelo
executivo. Ou seja, é toda norma que emana de órgão competente e esta
inserida no ordenamento jurídico, por meios legais. É o caso da Lei de Racismo
(Lei 7.716/1989).
A decisão jurisprudencial é um compilado de decisões proferidas pelos
tribunais em um único sentido, aplicadas em conformidade com o texto legal,
dentro dos limites traçados e pré estabelecidos pela lei. É o caso da Ação
Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) n. 26 que equiparou o
crime de homofobia ao de racismo.
Há sim compatibilidade entre as duas normas, uma vez que a decisão
jurisprudencial tem por base a interpretação da lei, da norma jurídica válida,
dentro dos limites por ela estabelecidos, trazendo pro âmbito cotidiano uma
interpretação da legislação mais próxima de seus destinatários, tendo,
portanto, o condão de aproximar a lei escrita das pessoas a quem ela se
destina, tornando-a eficaz para solucionar os problemas da realidade cotidiana.
Em relação à função, ambas tratam de crimes que atentam contra a
dignidade humana e, portanto, passíveis de sanções. A diferença entre elas
está apenas na forma como foram promulgadas.
A Lei do Racismo foi elaborada pelo legislativo e assinada em 5 de
janeiro de 1989, pelo então presidente da República, José Sarney, e define a
punição para "os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia, religião ou procedência nacional".
Entre esses crimes, estão impedir o acesso de uma pessoa devidamente
habilitada a um cargo público ou negar emprego na iniciativa privada, que
podem render penas de dois a cinco anos de reclusão.Também são tipificadas
como crimes ações como impedir inscrição de aluno em estabelecimento de
ensino, recusar hospedagem em hotel ou similar, recusar atendimento em
bares ou restaurantes e até recusar atendimento em barbearias.
Já a criminalização da homofobia foi feita por meio de uma decisão do
STF, que por 8 votos a 3, entendeu que a homofobia e a transfobia
enquadram-se no artigo 20 da Lei 7.716/1989, que criminaliza o racismo, até
que o Congresso Nacional aprove uma lei específica. A tipificação do crime
homofóbico, ao invés de resolver o problema, como pretende o STF, pode
trazer problemas. Pois, quando a Suprema Corte, suposta guardiã da
constitucionalidade, despreza a tripartição dos poderes e a garantia da
legalidade penal, ocorre uma espécie de “usurpação judicial”. Como destaca
Gustavo Badaró: “Não temos mais, portanto, garantia da legalidade no direito
penal! Descanse em paz ‘nullum crimen, nulla poena, sine lege’”. Olvida-se a
lição básica de que “ao julgador cabe interpretar a lei, mas não a reescrever”.

g) Demonstrar de que forma os princípios estabelecidos por Beccaria


se aplicam à hipótese em estudo. (criminalização da homofobia)

Ao escrever o livro “Dos delitos e das penas”, o economista e jurista


Italiano Cesare Beccaria se tornou o principal humanizador das ciências
penais. Influenciado pelos ideais liberais iluministas do século XVIII, ele
fundamentou seu estudo na crítica às leis penais vigentes, que representavam
a arbitrariedade praticada pelo sistema judiciário da época.
Ele protesta contra alguns aspectos da tradição clássica como a pena de
morte, a legitimação da tortura, a aplicação das penas vinculada a hierarquia
gregária, a falta de paralelismo entre os delitos e as penas e a interferência da
justiça divina na justiça humana.
Com base nas teorias contratualistas de Jean-Jacques Rousseau e de
John Locke, ele busca explicar a origem das leis e o advento do conceito de
soberania estabelecido pela renúncia das liberdades individuais em prol do
coletivo, visando, assim, o bem público.
Desse modo, ele observa que com o crescimento da humanidade e a
formação de sociedades, houve a necessidade de instituir diversos hábitos e
atos humanos como delitos e promover a imposição de penas para estes.
O delito, então, passa a ser a conduta não condizente com a moral e a
legislação que rege uma sociedade deve prever sanções que impeçam que
qualquer pessoa da sociedade realize tais atos.
Assim, com o início das sociedades mais fortalecidas surgem leis que
buscam frear a vingança privada contra atos ocorridos dentro destes grupos,
partindo para a penalização dos praticantes dos delitos, por via do Estado. 
Ele aponta a partir daí a necessidade de um soberano que represente e
administre as liberdades individuais de forma legítima. Para Beccaria, esse
soberano é representado pelo legislador. Ele continua citando Montesquieu, e
estabelecendo, dessa forma, a divisão e as limitações entre as funções de
cada Poder.
Assim, somente a lei pode determinar as penas dos crimes, pois está
estabelecido somente pelo soberano – entende-se legislador - a garantia da
punição dos delitos. É o princípio da "nulla poena sine previa Lege", ou seja,
nenhuma pena sem prévia cominação legal. Dele decorre o princípio da
legalidade, princípio básico do direito penal e que atua na limitação do poder
estatal.
Neste ponto, tem início o estudo das penas, o momento em que o direito
penal começa a sua preocupação com o estudo da execução da pena. E
Cesare Beccaria, com o seu “Dos delitos e das Penas”, modifica toda base das
condutas impostas para o cumprimento da pena, exigindo principalmente a
presença da legalidade e da anterioridade como princípios basilares na
tipificação penal.
Somente a partir desse princípios apresentados por Beccaria é que se
pode compreender a necessidade da promulgação de uma lei específica por
parte do Congresso Nacional que estabeleça sanções para os crimes de
homofobia. Mesmo tentando resolver uma questão que já deveria ter sido
solucionada em 2001, quando da nova redação da Lei de Racismo, a solução
dada pelo STF é paliativa.
FONTES:
 - Lei que torna racismo crime completa 30 anos, mas ainda há muito a se faz.
Disponível em
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2019/01/05/interna-
brasil,729072/lei-que-torna-racismo-crime-completa-30-anos-mas-ha-muito-a-
se-fazer.shtml

 - LEMOS, Edicélia. Supremo aprova equiparação de homofobia a crime de


racismo Disponível em:
https://edicelianunes.jusbrasil.com.br/noticias/721562768/supremo-aprova-
equiparacao-de-homofobia-a-crime-de-racismo?ref=feed

 - Diferença entre norma jurídica válida e decisão jurisprudencial. Há


compatibilidade entre estas duas normas?. Disponível em:
https://brainly.com.br/tarefa/23369169

 - Direito penal e Direito Clássico. Disponível em:


https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/13479/13479_4.PDF

 - SILVA, Thiago Boeing Schemes da. Cláusulas penais fixas e a


individualização da pena. Disponível
em:https://jus.com.br/artigos/29585/clausulas-penais-fixas-e-a-individualizacao-
da-pena

 - ADO 26/DF. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/teses-stf-


criminalizacao-homofobia1.

 - POMPEU, Ana. Supremo forma maioria para criminalizar a homofobia na Lei


de racismo. Disponívem em: https://www.conjur.com.br/2019-mai-23/supremo-
maioria-criminalizar-homofobia-lei-racismo

 - VALENTE, Fernanda. Não cabe ao Supremo criminalizar homofobia, diz


advogado criminalista. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-mai-
24/nao-cabe-supremo-criminalizar-homofobia-criminalista

 - BADARÓ, Gustavo. Legalidade penal e homofobia subsumida ao crime de


racismo: um truque de ilusionismo. Disponível em
https://www.academia.edu/39348378/Legalidade_penal_e_a_homofobia_subsu
mida_ao_crime_de_racismo_um_truque_de_ilusionista_Ao_julgador_cabe_inte
rpretar_a_lei_mas_n%C3%A3o_a_reescrever?
fbclid=IwAR2bu3NS_0RFPD5pFgx32SztjJWJdJQS4vuoOlZfe5hGph1ITje5PT4
QLZw , acesso em 05.06.2019.

 - CABETTE, Eduardo.Criminalização da homofobia pelo stf: uma aberração


jurídica.Disponível em:https://jus.com.br/artigos/74447/criminalizacao-da-
homofobia-pelo-stf-uma-aberracao-juridica

 - OLIVEIRA E BÁRBIERI, Mariana e Luiz Felipe, TV Globo e G1 STF permite


criminalização da homofobia e da transfobia. Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/06/13/stf-permite-criminalizacao-da-
homofobia-e-da-transfobia.ghtml

 - ROMANO, Rogério Tadeu. A criminalização da homofobia. Disponível em:


https://jus.com.br/artigos/74163/a-criminalizacao-da-homofobia
 - DIREITO CONSTITUCIONAL – AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO- Homofobia e omissão
legislativa. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo931.htm

 - SOUZA, Yam Atanazio Campos de. Direito Penal. Disponível em:


https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/45719/a-contribuicao-de-
cesare-beccaria-para-a-formacao-principiologica-do-direito-penal-moderno

 - OLIVEIRA, Helena. Análise comparativa da obra dos delitos e das penas de


Cesare Beccaria com os atuais dispositivos legais vigentes. Disponível em:
https://helenacabrera.jusbrasil.com.br/artigos/337957911/analise-comparativa-
da-obra-dos-delitos-e-das-penas-de-cesare-beccaria-com-os-atuais-
dispositivos-legais-vigentes

 - LEMOS, Walter Gustavo da Silva. A influência de Cesare Beccaria nas


Constituições Brasileiras. Disponível em:
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/3848/A-influencia-de-Cesare-
Beccaria-nas-Constituicoes-Brasileiras

Você também pode gostar