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O NATAL

COM OS DEUSES
“... E o Deus Cornífero penetrou a Deusa
Com o calor das chamas do fogo,
E Ela enrubesceu de sua timidez e virgindade
Molhou-se com o a saliência das águas.
Suspirou de prazer e o soltou no mundo
Criando ventanias e brisas de prazer.
E a semente do criador entrou no mundo
Fazendo florescer toda planta,
E cantar todos os pássaros e outros bichos
E encheu a terra com sua semente.
E transbordou a terra de crias de toda forma
Cheias da benção do Deus,
E quando a mãe olhou de novo seu amado
A morte o havia levado, a mãe o abraçou.
Chorou uma chuva mansa, que caiu sobre seus ventre
Molhando todas as suas crias
E do meio de todas elas se ergueu um novo amor
Que era feito de todas as sementes
Feito de planta, de bicho e de gente,
E se tornou majestoso como o próprio Deus
E se apaixonou pela grande Mãe
Desejando-a como mulher e deu inicio a tudo.
Outra vez, outra vida, outro ano.”

-O Livro das Sombras-

_Sabem o que acontece nas noites


escuras que cercam o Natal?
_ Já ouvimos essa história Goh
_ Eu sei que já contei ela algumas vezes
Vanessa, mas é sempre bom lembrar.
_Venha Seras, vai ser a primeira vez
que escuta este conto.
Que a Princesa era intolerante ao
Circulo da Anciã não era surpresa a
ninguém. Mas isso não significa que o
Circulo simplesmente tenha se
entregado à inquisição ou
abandonado suas práticas, os Deuses
nunca foram completamente
abandonados, e o que torna um Deus
poderoso não é a quantidade de fieis,
e sim a intensidade de suas fé.

Em 2010 o circulo da Anciã se resumis a


Madame Goh, líder oficial da coalizão,
´pesar de seu já esperado status 3 na
corte. Acompanhada por Vanessa
Ives, Melissa Ives, Gean LeClair, Livina
Skull e a recém chegada Seras Victória.

As reuniões de coalizão ocorriam no


local informado formalmente à corte
como tabernáculo das bruxas, em uma
casa humilde do bairro Prado. Porém
os dias sagrados eram realizados fora
da cidade, Goh não queria ter seus
cultos interrompidos por um espião da
princesa ou algo do tipo, e por isso um
sítio em Brumadinho costumava
abrigar as celebrações pagãs com
certo nível de sigilo e uma distância
segura da Pontífice Regente.

Lá os solstícios e equinócios do ano


eram celebrados, além de esbates
sagrados que festejavam mistérios
sarados das antigas religiões. Um dos
mais intensos era o Solstício de Verão,
uma das celebrações druídicas mais
importantes dos povos antigos,
celebrado por sumérios, vikings,
egípcios, celtas e quase todas
civilizações que já passaram pela
história do nosso mundo.

Para os mortais era o momento


máximo da vida na terra, quando a luz
do sol vencia as trevas, e o poder do
verão iluminada todas as coisas.

Porem para o Circulo de BH não era


bem assim.
No sítio corria um ria manso que
formava lagos escuros em vários
pontos. Arvores velhas indicavam que
o lugar era pouco visitado e o grande
chamariz do lugar não era a casa
simples de campo que ficava no fim
da estrada, mas sim, algo maior que
ficava no interior da floresta e só podia
ser acessado com meia hora de
caminhada entra pedregulhos e trilhas
acidentadas.

Um tempo antigo, jazia em ruínas


naquela floresta, que a muito tempo
afugentava os curiosos com
assombrações de todo tipo. Moradores
próximos falavam em maldições e
ensinavam seus filhos a nunca ir até lá.
Muito se falava em aventureiros que
pegaram a trilha e nunca mais
voltaram, mas para Goh e suas pupilas
não havia segredo algum naquela
mata densa, ela conhecia muito bem
o lugar, pois teria ela mesma, a muito
tempo ajudado a construí-los, e agora
o preservava como um dos últimos
lugares em que as garras da Princesa
ainda não havia tocado.

O estado deplorável do tempo


indicava sua idade, o lodo em cima
das pedras era retrato da umidade do
lugar que fazia tudo cheirar a peixe
podre. Mas mesmo não sendo o mais
belo dos lugares o secto de vampiros
caminhou ritualisticamente pela
corredor central, levando oferendas e
orações e um a um se prostrou diante
da imagem da Deusa envelhecida
sentada em lotus e cuja mão direita se
estendia a frente com a palma para
cima, sangue era derramado na mão
já enegrecida da estátua, e Madame
Goh fez suas ultimas orações.

“ A Grande mão acaba de vez morto


o seu amado Deus, no norte tudo
morre no gelo, e aqui no sul, tudo
apodrece com a chuva, é triste...
... Deixe que ele venha para o mundo
dos mortos Grande Mãe, deixe que ele
venha até nós esta noite...
Depois dos Rituais Madame Goh reuniu
todos em círculo no meio do templo e
deu inicio aos contos que
tradicionalmente ela chamava de
revelações.

_Sabem o que acontece nas noites escuras que


cercam o Natal?
_ Já ouvimos essa história Goh
_ Eu sei que já contei ela algumas vezes
Vanessa, mas é sempre bom lembrar.
_Venha Seras, vai ser a primeira vez que
escuta este conto.
_Para os vivos essa época é linda,
falam na luz vencendo as trevas e em
deuses de sol, vestidos com mantos
iluminados e dando aos homens
esperança e poder. Porém, nós
sabemos que não é bem assim, a
muito tempo usamos as celebrações
humanas para conseguir a matéria
prima para uma evocação única, que
só pode acontecer nessa noite...
Os homens dançam durante todo o
dia no sol para celebrar o verão,
enchendo-se de fúria e desejo,
regozijando felizes da claridade, e a
noite, dormem pesadamente com o
barulho da chuva na janela, e é nessa
hora que começamos a coleta. Nossos
homúnculos pegam o sangue
energizado destes homens, enchem-se
dele e o trazem para o círculo, este
sangue possui uma força incomum, e é
o prêmio perfeito para ofertar à
Grande Mãe para consola-la da perda
do Deus que acaba de morrer, se ela
aceitar a oferenda entregará o corpo
morto do Deus ao lugar em que ele
pertence, junto aos mortos, e
poderemos ver o Deus carnificado
diante de nós, provando que mesmo
morto ele tem poder para sobrepujar a
luz do sol caminhando livremente pela
noite e vingando os que caíram em
seu nome.

_ Goh, essa história não se faz real a


quase cem anos, todos ano,
oferecemos a sacrifício e não somos
atendidos.

_ Sua fé está realmente reduzindo


Vanessa, podem se passar mil anos,
nosso dever é tentar trazer de volta o
Deus morto, você já era uma criança
da noite quando ele veio pela última
vez, e você se lembra quem ele
vingou, você mais que ninguém
deveria ter ficado grata por finalmente
o Marco Antônio, carrasco de sua
mãe, ter caído do pedestal, você deve
muito ao Deus Morto.

_ Eu daria meu próprio sangue para


derrubar a cria dele agora, e nos
libertar desse inferno chamado Diké.
Antes que a conversa entre Madame
Goh e Vanessa pudesse ficar ainda
mais tensa, um barulho forte de batidas
ecoou do lado de fora do tempo,
Gean Levantou-se rápido e saiu, todos
lá dentro ficaram apreensivos, por um
instante olhando para a porta. Até que
a figura de Gean apareceu
novamente com os braços cheios de
sangue e enchendo o lugar de
apreensão.

_ Acho que este ano teremos grande


chance de sermos ouvidos pela
grande mãe, meu Homúnculo achou
nosso sacrifício...

Todos encararam Gean sorridente na


porta e antes que acabasse de falar
seu homúnculo horrendo Mordrac
surgiu arrastando um garoto
desacordado.

Gean continuou sorridente:


_Pelo que o Mordrac me disse o
muleke é filho de um casal de
ayauaskeiros que estava fazendo um
ritual de verão em uma fazenda aqui
perto, o muleke saiu pra mijar, e nem
viu o Mordrac camuflado, foi uma
presa fácil... Sangue do próprio
adorados do sol, sacrificado diante da
mão sagrada da Deusa. Essa noite
meus caros, jantaremos com o Deus
Cornífero.
O Rito foi feito, e naquela noite uma
criança foi sangrada no altar em honra
a grande mãe, mas nada aconteceu.
O sangue escorreu lentamente pela
base da estátua sem nenhuma
reação. Mais um ano de decepção
para o Círculo da Anciã, talvez Diké
tenha realmente conseguido acabar
com o poder dos grandes Deuses.

Goh estava disposta a qualquer coisa


para vencer esta guerra e os membros
do Circulo, já flagelados a tanto tempo
estavam desanimados de mais para
serem bons soldados. Dessa forma a
coalizão permaneceu norma.

Na noite seguintes rumores de monstros


andando pela floresta foram ouvidos, a
polícia registrou mais um boletim de
ocorrência de criança desaparecida
sem muito interesse em investigar, e o
circulo voltou às suas atividades quase
tão mecanicamente que nem
pareciam ter matado um jovem na
noite anterior.

Mais um rito falho, mais um discurso de


Goh, mais uma noite comum e mais
um Natal com os Deuses.

Talvez no ano que vem as coisas sejam


diferentes.
Primeiro livro da
série “ Contos de Fim
de Ano”

Vampiro o Réquiem Belo Horizonte, dez 2019 – escrito por Tiago J Silva

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