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Obrigações em geral

e modalidades

Obrigações em geral
O Direito Obrigacional e o Direito Real se diferenciam porque no primeiro (Di-
reito Obrigacional) os sujeitos são determinados ou determináveis, e o direito do credor
é o de exigir o cumprimento de uma prestação em relação ao devedor, enquanto no
segundo (Direito Real) o titular do direito pode exigi-lo contra todas as pessoas da
sociedade.

As obrigações operam entre partes e seus herdeiros, exceto as personalíssimas


(que se extinguem com a morte da parte), mas os sucessores do falecido podem invocar
benefício de inventário (CC, art. 1.792), ou seja, não respondem além das forças da
herança.

Os elementos constitutivos da obrigação são os sujeitos (credor e devedor), a relação


jurídica e o objeto (que deve ser possível, lícito, determinado ou, pelo menos, determi-
nável – art. 104).

As obrigações naturais se caracterizam por serem inexigíveis, mas é bom destacar


que a obrigação natural existe, embora não possa ser exigida. Isso tem uma consequên-
cia prática: se o devedor pagar, não pode pedir a repetição, pois não se trata de pagamen-
to indevido (CC, art. 882), uma vez que a dívida existe. É o caso das dívidas de jogo, da
dívida prescrita e, de modo geral, das obrigações judicialmente inexigíveis.

As obrigações propter rem, por sua vez, são aquelas em que os sujeitos são de-
terminados, a cada momento, em função da titularidade de um direito real. É o
caso, por exemplo, da obrigação de pagar a taxa de condomínio, na qual o devedor, a
cada momento, será identificado com o proprietário do imóvel, ou seja, se o imóvel
for alienado, o adquirente passará a responder ao condomínio (CC, art. 1.345). Da
mesma forma, as obrigações do direito de vizinhança (por exemplo, a obrigação de
concorrer para a construção do muro divisório – art. 1.297, §1.º) demonstram casos
de obrigações propter rem.

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DIREITO CIVIL

Modalidades das obrigações


Obrigações de dar:
entrega de alguma coisa, certa ou incerta
A obrigação de dar coisa certa caracteriza-se por estar identificada e individuali-
zada a coisa a ser entregue e segue o princípio da identidade da coisa devida, ou seja, o
credor não é obrigado a aceitar outra, ainda que mais valiosa (CC, art. 313). A obrigação
de dar coisa certa abrange os acessórios da coisa, salvo ajuste em contrário ou se o con-
trário decorrer das circunstâncias (art. 233).

Em relação ao risco, deve ser observada a regra res perit domino, ou seja, se a coisa
foi destruída ou deteriorada sem culpa de alguém, quem deve sofrer o prejuízo é o dono,
pouco importando se este é o credor ou o devedor. Há, contudo, algumas exceções, nas
quais não cabe aplicar a regra res perit domino: na venda com reserva de domínio (CC,
art. 524) e na propriedade fiduciária (art. 1.363).

Mas só se fala em risco e em res perit domino se a destruição ou deterioração da


coisa ocorreu sem culpa do devedor, pois, se agiu com culpa, como o culpado ele respon-
de pelas perdas e danos sofridos pela outra parte.

Na obrigação de dar coisa incerta (também chamada de obrigação genérica), a coisa


a ser entregue não é individualizada, mas sim indicada pelo gênero e pela quantidade.

Dentre todas as coisas do gênero, deverão ser escolhidas as unidades que serão
entregues ao credor. Essa escolha, em princípio, será feita pelo devedor, salvo se houver
ajuste em sentido contrário. Mas o devedor está obrigado a escolher um meio-termo
de qualidade, ou seja, não pode ser exigido pelo melhor e nem poderá entregar o pior
(CC, art. 244). Não há essa vinculação ao meio-termo quando o direito de escolha foi
atribuído ao credor.

Uma vez feita a escolha, no momento em que o devedor dá ciência ao interessado


de que a coisa está no local combinado à disposição do credor, passam a ser aplicadas as
regras da obrigação de dar coisa certa (CC, art. 245).

É importante ressaltar que o gênero não perece (CC, art. 246), o que significa que o
devedor não pode alegar a perda ou a impossibilidade antes da escolha, pois competirá
a ele buscar a coisa em outro lugar, caso venha a perder aquela que pretendia entregar
ao credor.

Obrigação de fazer (arts. 247 a 249)


A obrigação de fazer consiste na prestação de um fato, podendo ser classificada
como fungível ou infungível. Fungível é aquela obrigação na qual o devedor pode ser

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substituído por outra pessoa, no cumprimento da prestação; infungível (ou persona-


líssima), por sua vez, é aquela em que só o próprio devedor pode cumprir a prestação
ajustada.

A infungibilidade pode ser expressa ou tácita, vale dizer, convencionada de modo


explícito ou decorrer da natureza da própria obrigação. De qualquer modo, deve-se des-
tacar que a infungibilidade é estipulada em favor do credor e este, portanto, pode renun-
ciar a ela, ou seja, poderá aceitar que a prestação seja realizada por outra pessoa.

Se for verificada a impossibilidade da prestação, deverá ser aferido se esta se deu


com ou sem culpa do devedor. Caso a prestação torne-se impossível sem culpa, a obri-
gação simplesmente se resolve. Sendo por culpa, a obrigação não é extinguida, mas
transforma-se em perdas e danos (CC, art. 248).

Diferente é a solução se, em vez de impossibilidade, o que ocorre é a recusa


ao cumprimento, por parte do devedor. Neste caso, a solução dependerá de prestação
ser infungível ou fungível. Caso seja infungível, resolve-se em perdas e danos (CC,
art. 247); se fungível, será possível a execução por terceiro, além das perdas e danos
(art. 249). Mas este cumprimento por terceiro depende da obtenção de ordem judicial,
e apenas em caso de urgência poderá ser feito sem ordem judicial, discutindo apenas o
ressarcimento do credor (art. 249, parágrafo único).

No entanto, mesmo no caso da obrigação de fazer infungível, é possível a obten-


ção da tutela específica (CPC, art. 461), ou seja, o cumprimento em espécie da própria
prestação convencionada ou a obtenção das providências que assegurem o resultado
prático equivalente. Só será feita a condenação em perdas e danos se o autor o requerer
ou se for impossível a obtenção da tutela específica.

Duas observações são importantes:


■■ o juiz pode impor multa diária ao réu (astreinte), de ofício ou a pedido do autor;
■■ essa multa pode ser imposta tanto nas obrigações de fazer quanto nas obriga-
ções de dar (CPC, arts. 461, §4.º; e 461-A, §3.º).

Obrigações de não fazer (arts. 250 e 251)


A obrigação de não fazer consiste em uma abstenção ou tolerância, ou seja, o
devedor fica comprometido a se abster de adotar um comportamento que, não fosse
a obrigação, poderia adotar, ou então a tolerar um comportamento alheio, o qual, em
regra, não fosse a obrigação assumida, deixaria de tolerar.

Se a obrigação de não fazer foi descumprida (ou seja, se o devedor praticou o


ato de que deveria se abster) sem culpa, neste caso extingue-se a obrigação. Mas se o

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descumprimento ocorreu com culpa do devedor, poderá o credor exigir que o devedor
desfaça, sob pena de ser desfeito à sua custa. Esse desfazimento às custas do deve-
dor depende da obtenção de ordem judicial, sendo que, em caso de urgência, poderá
ser desfeito pelo próprio credor, independente de ordem judicial, discutindo depois
apenas a indenização a ser paga pelo devedor.

Se for impossível desfazer o que já foi feito (por exemplo, foi divulgado um se-
gredo que não deveria ser revelado), a solução depende de ter ou não havido culpa do
devedor: se não houve culpa, simplesmente se extinguirá a obrigação; se houve, trans-
forma-se em perdas e danos.

Obrigações alternativas, cumulativas e facultativas


Obrigações cumulativas (ou conjuntivas) são aquelas em que há duas ou mais
prestações a serem cumpridas, e o devedor só se libera caso cumpra todas as prestações
ajustadas.

Nas alternativas (disjuntivas), por sua vez, também existem várias prestações
convencionadas, mas o devedor se libera cumprindo apenas uma dessas prestações, e
não todas. Em algum momento terá de ser feita a escolha da prestação específica, a qual
será entregue ao credor.

A escolha (ou concentração) será feita pelo devedor, se nada foi ajustado em con-
trário. Mas o credor não pode ser obrigado a receber parte em uma prestação e parte em
outra se assim não foi ajustado.

Ocorrendo a impossibilidade de uma prestação, do devedor, a obrigação con-


centra-se na prestação remanescente (teoria da redução do objeto). Caso todas tenham se
tornado impossíveis, sem que haja culpa do devedor, a obrigação se extingue.

Havendo a impossibilidade de uma das prestações, com culpa, com direito de


escolha pertencendo ao devedor, a obrigação concentra-se na prestação remanescente
(CC, art. 253), pois apenas significa que o devedor escolheu a outra prestação. Mas se
a escolha era do credor, este poderá optar entre a prestação remanescente ou o valor da
que se impossibilitou, mais as perdas e danos (art. 255, primeira parte).

Nas obrigações facultativas (com faculdade alternativa ou com faculdade de subs-


tituição), não há alternativa entre prestações, existindo uma única prestação a ser cum-
prida pelo devedor. Este, no entanto, tem a faculdade de, na execução, optar por outra
prestação. Um exemplo de obrigação facultativa, trazido pelo próprio Código Civil (CC),
é o contrato estimatório (art. 534).

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Obrigações divisíveis e indivisíveis


A divisibilidade ou indivisibilidade é da prestação a ser cumprida, e acaba por
qualificar a própria obrigação como divisível ou indivisível. Qualquer obrigação pode
ser divisível, mesmo a de não fazer.

A obrigação indivisível caracteriza-se pelo fato de cada devedor se obrigar pela


dívida toda (CC, art. 259), e por isso cada um deles pode ser cobrado por toda a dívida.
Mas o que paga se sub-roga no direito do credor (art. 259, parágrafo único).

No entanto, na pluralidade de credores, embora cada um deles possa exigir o


cumprimento total da prestação, o devedor pode exigir caução, ou então a presença de
todos (CC, art. 260).

Deixa de ser indivisível quando se resolve em perdas e danos. É que a indivisibi-


lidade é objetiva, ou seja, liga-se ao objeto da obrigação. Logo, se o objeto for alterado,
passando da prestação original para perdas e danos, desaparece a indivisibilidade, e
cada devedor passa a responder apenas por sua própria cota.

Se todos os devedores forem culpados pela impossibilidade da obrigação, todos


respondem pelas perdas e danos, em partes iguais. Mas se apenas um deles for culpado,
só este responderá ao credor pelas perdas e danos (CC, art. 263, §2.º).

Obrigações solidárias
As principais características das obrigações solidárias estão a seguir.
■■ A solidariedade não se presume: decorre da lei ou da vontade das partes (esta é
a principal característica e a mais cobrada no Exame de Ordem). São casos
de solidariedade legal, por exemplo, o artigo 154 (na coação por terceiro, se
o beneficiário sabia, ele e o terceiro respondem solidariamente pelos danos
causados ao paciente); e o artigo 1.752, parágrafo 2.º (o tutor, o protutor e o
terceiro causador do dano ao menor sob tutela, todos respondem solidaria-
mente pelo dano).
■■ Cada um dos devedores é responsável por toda a dívida, e cada credor o é de
toda a dívida, o que significa que cada devedor pode ser chamado para o paga-
mento total, assim como cada credor, independentemente do consentimento
dos demais, pode exigir toda a dívida. Disso decorrem diversas consequências
jurídicas:
■■ cada um dos credores, sendo credor do todo, pode receber ou perdoar a
dívida toda (CC, arts. 269 e 272), mas em tal caso responderá aos demais
pela cota de cada um;

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■■ a remissão concedida a um dos codevedores ou o pagamento parcial por ele


feito não extinguem a solidariedade, mas reduzem o valor da dívida, pois
deverá ser abatida a parcela perdoada ou paga (CC, art. 277);

■■ o credor pode renunciar à solidariedade em favor de um ou de todos os


devedores. Nesse caso, deverá cobrar os demais com o abatimento da cota
daquele que foi liberado da solidariedade, mas esta subsistirá em relação aos
demais devedores;

■■ o devedor que paga pode cobrar a cota de cada um dos demais, sendo que
todos rateiam entre si a cota do insolvente, inclusive o que tiver sido liberado
da solidariedade pelo credor (CC, arts. 283 e 284);

■■ é o credor quem escolhe como quer cobrar dos devedores, só de um, de


alguns ou de todos, e pode também escolher entre cobrar toda a dívida ou
apenas uma parte dela (CC, arts. 275, 277 e 282).

■■ A solidariedade se mantém quando a obrigação se resolve em perdas e danos,


pois, ao contrário da indivisibilidade, a solidariedade é subjetiva, ou seja, se liga
aos sujeitos, e não ao objeto da obrigação. Por outro lado, se houver alteração
nos sujeitos (por exemplo, com a morte de um dos devedores solidários), os
herdeiros não são solidários: os do credor só podem cobrar o que correspon-
der ao seu quinhão (CC, art. 270); os do devedor, por sua vez, só respondem
pelo que corresponder ao seu quinhão hereditário (art. 276), mas todos juntos
correspondem ao falecido, ou seja, respondem como um devedor solidário em
relação aos demais.

Havendo pluralidade de devedores ou de credores, a interrupção da prescrição


feita por um dos credores não beneficia os demais, assim como a interrupção feita con-
tra um dos devedores não afeta os demais. No entanto, se forem devedores ou credores
solidários, a interrupção da prescrição feita por um dos credores beneficiará aos demais,
assim como a interrupção da prescrição feita contra um dos devedores a todos atingirá
(CC, art. 204, §1.º).

Obrigações de meio e de resultado


As obrigações de meio são aquelas em que o devedor se obrigar apenas a ser di-
ligente, mas sem se obrigar a atingir um determinado resultado que interesse ao credor.
A título de exemplo, pode-se citar o advogado, que apenas se compromete, em relação ao
seu cliente, em ser diligente na condução do processo, e esse advogado, sendo diligente
e zeloso, terá cumprido sua obrigação, ainda que não seja alcançado o resultado que o
cliente pretendia, vale dizer, ainda que o cliente venha a ser vencido em sua pretensão.

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Nas obrigações de resultado, por sua vez, o devedor só se libera caso atinja o
resultado esperado, não sendo suficiente que seja cuidadoso e diligente. É o caso, por
exemplo, da empreitada, na qual o empreiteiro só é liberado de sua obrigação se efetiva-
mente entregar ao comitente a obra que foi ajustada, não sendo suficiente ser diligente
e zeloso. Assim, por mais cuidadoso que seja o empreiteiro, se antes de entregar a obra
(o resultado do seu trabalho) a outro contratante, por acaso essa obra venha a se perder,
destruída por uma tempestade, o empreiteiro não cumpriu sua obrigação e, portanto,
não terá direito ao recebimento de sua contraprestação. Pouco importa que a obra tenha
sido destruída por uma tempestade, sem que se possa imputar culpa ao empreiteiro,
pois o que interessa é que a obra não foi entregue.

Leia atentamente os artigos 252 a 256 (obrigações alternativas) e 264 a 285 (obri-
gações solidárias), pois costuma haver alta incidência de questões referentes a eles.

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