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Pessoa natural

Ahyrton Lourenço Neto* *


Professor de Direito Civil,
Direito do Consumidor e
Direito Internacional Pú-
blico, ministrando aulas
presenciais e telepre-
senciais. Especialista em
Administração Tributária,
pela Universidade Castelo

Introdução Branco (UCB). Graduado


em Direito, pela Pontifí-
cia Universidade Cató-
lica do Paraná (PUCPR).
O conceito de pessoa se remete ao latim persona, que era uma máscara Advogado.

utilizada pelos atores, em Roma, para ressoar melhor a voz, significando soar
com intensidade (GOMES, 2007).

Na Idade Média, esse conceito foi adotado para designar o papel desen-
volvido pelo ser humano enquanto ator de sua própria vida.

Do ponto de vista jurídico, a pessoa é o sujeito capaz de adquirir direitos


e contrair obrigações, podendo ser dividido em pessoa natural (nova desig-
nação de pessoa física) e pessoa jurídica (ente fictício criado pela norma para
satisfazer necessidades sociais).

 Pessoa natural – ser humano.

 Pessoa jurídica – ente criado pela norma.

 Direito Público:

externo – Estado soberano estrangeiro e organizações interna-


cionais (REZEK, 2008) e todos os demais atores regidos pelo Di-
reito Internacional Público;

interno – a União; os Estados, o Distrito Federal e os territórios;


os municípios; as autarquias, inclusive as associações públicas;
as demais entidades de caráter público criadas por lei.

 Direito Privado: as sociedades simples (civis); sociedades empresá-


rias (comerciais); as associações; as fundações; as organizações reli-
giosas; os partidos políticos.

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Das pessoas naturais

Conceito e capacidade
O artigo 1.º do Código Civil (CC) disciplina que
Art. 1.º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres [...]

Dessa forma, pelo simples fato de uma pessoa humana existir, em tese,
ela já é dotada da capacidade de adquirir direitos e contrair obrigações.

A capacidade é uma medida da personalidade, sendo que esta somente


terá seu início, no Brasil, com o nascimento com vida.

 Capacidade é a aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações, e


exercer os atos da vida civil por si e por outrem.

 Personalidade é o conjunto de capacidades (aptidões) referentes a


uma pessoa.

A capacidade poderá ser dividida em capacidade de direito e de fato:

 capacidade de direito – todas as pessoas possuem – é a capacidade


de adquirir ou gozar os direitos;

 capacidade de fato – somente os legalmente considerados capazes a


possuem – é a aptidão para exercer, por si só, os atos da vida civil, tam-
bém chamada de “capacidade de ação”.

A capacidade não pode ser confundida com legitimação, pois, em alguns


casos, a pessoa pode ser capaz para o exercício de um ato da vida civil, mas
para poder executá-lo necessita de legitimação (aptidão para a prática de
determinado ato). Por exemplo: venda de ascendente para descendente (CC,
1
Art. 496. É anulável a art. 4961).
venda de ascendente a
descendente, salvo se os
outros descendentes e A capacidade plena é o poder de exercer a capacidade de direito e a ca-
o cônjuge do alienante
expressamente houverem pacidade de fato.
consentido.

A capacidade limitada é o poder de exercer apenas capacidade de direito,


necessitando da ajuda de outra pessoa para poder exercer a sua vontade.
Essas pessoas são denominadas incapazes.

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Das incapacidades
A incapacidade para a lei brasileira é apenas de fato e nunca de direito,
sendo dividida da seguinte forma.

 Incapacidade absoluta – proibição total do exercício de direitos por


si só, sob pena de nulidade (CC, art. 3.º).

 Incapacidade relativa – possibilidade da prática de alguns atos da


vida civil, desde que assistido, sob pena de anulabilidade (CC, art. 4.º).

O atual Código Civil adota um sistema de proteção ao incapaz, diferente


do anterior, que tinha uma visão de excluir o incapaz das relações civis.

Absolutamente incapazes
São as pessoas que possuem a proibição total da prática da capacidade
de fato, devendo o ato ser praticado por alguém que o represente. Sendo
que o ato praticado sem a representação, quer por alguém não habilitado ou
somente pelo absolutamente incapaz, é nulo.

O Código Civil disciplina:


Art. 3.º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:

I - os menores de dezesseis anos;

II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento


para a prática desses atos;

III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

Menores de 16 anos
Critério estritamente biológico. São conhecidos como menores impúbe-
res, classificados como as pessoas que não atingiram ainda a maturidade su-
ficiente para a prática de atividade jurídica.

Esse critério atinge ambos os sexos; não leva em consideração qualquer


distinção psíquica, amadurecimento precoce ou desenvolvimento social
adaptativo.

Devem ser sempre representados por seus representantes legais, que, em


regra, são os pais, e na falta destes os tutores.

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As pessoas sem discernimento


O CC utiliza expressão genérica para referir-se às pessoas que não pos-
suem discernimento para os atos da vida civil, seja por qualquer razão, como
enfermidade ou deficiência mental.

São considerados os indivíduos que, por motivo de ordem patológica ou


acidental, congênita ou adquirida, não estão em condições para reger sua
pessoa ou administrar seus bens, por exemplo, a demência, paranoia, psico-
patia etc.

Importante
Para que seja declarada a incapacidade absoluta, nesse caso, é necessá-
2
Esse processo segue o rio um processo de interdição2.
rito dos artigos 1.177 e ss.
do CPC e da Lei 6.015/73,
sendo a sentença de na-
tureza meramente decla- A legislação brasileira não contempla o que a ciência médica denomina
ratória de uma situação
ou estado anterior, de- intervalo lúcido, dessa forma, uma vez declarada a incapacidade absoluta,
vendo ser registrada no
Cartório do 1.º Ofício de todos os atos praticados posteriormente ao registro da decisão no Cartório
Registro Civil da comarca
em que foi proferida para de Pessoas Naturais serão considerados sempre nulos, até que a decisão de
ter efeito erga omnes (Lei
6.015/73, art. 92). interdição seja alterada.

Outro problema fundamental é sobre a nulidade dos atos praticados


pelo deficiente mental antes da sentença de interdição, pois entre a data do
problema, o diagnóstico da deficiência e a declaração judicial de interdição
sempre existirá um lapso temporal em que o agente eventualmente pratica-
3
Nesse sentido: “Nulida-
de de ato jurídico prati- rá certos atos da vida civil.
cado por incapaz antes
da sentença de interdição.
Reconhecimento da inca- Alguns autores afirmam que como a deficiência é um estado da pessoa
pacidade e da ausência
de notoriedade. Proteção e a sentença é apenas declaratória, dessa forma, os atos praticados antes da
do adquirente de boa-fé.
Precedentes da Corte. 1.
A decretação da nulidade
sentença também são nulos.
do ato jurídico praticado
pelo incapaz não depende
da sentença de interdição.
Contudo, o Superior Tribunal de Justiça, adotando a corrente inspirada no
Reconhecida pelas instân-
cias ordinárias a existência Direito francês, tem entendido que deve ser respeitado o direito do terceiro
da incapacidade, impõe-
-se a decretação da nu- de boa-fé, dessa forma, somente seria nulo o ato praticado pelo amental,
lidade, protegendo-se o
adquirente de boa-fé com antes da sentença de interdição, se era notório o estado de loucura, isto é, de
a retenção do imóvel até a
devolução do preço pago, conhecimento público geral3.
devidamente corrigido, e
a indenização das benfei-
torias, na forma de pre-
cedente da Corte. 2. Re- Atenção
curso especial conhecido
e provido.” (STJ-PR REsp.
296895, Rel. Min. Carlos A velhice ou senilidade, por si só, não é causa de limitação da capacida-
Alberto Menezes Direito,
DJ 21/06/2004, p. 214). de, salvo se motivar um estado patológico que afete o estado mental.

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Os que não puderem exprimir sua vontade


A expressão também muito abrangente do CC, atingindo todas as pes-
soas, temporária ou permanentemente, que não puderem exprimir a sua
vontade, por qualquer razão, como, por exemplo: arteriosclerose, coma, pa-
ralisia, embriaguez não habitual, uso eventual e excessivo de entorpecentes
ou substância alucinógena, hipnose etc.

Para que haja a proteção legal do incapaz, também se faz necessária a


instauração de processo de interdição, nas causas permanentes, contudo,
caso haja impossibilidade de manifestação livre da vontade, por situação
temporária, não se pode utilizar-se do processo de interdição, devendo o
paciente buscar a anulação do ato jurídico praticado4. 4
CC, art. 1.767, II.

Dessa forma, “é nulo o ato jurídico exercido por pessoa de condição psíqui-
ca normal, mas que se encontrava completamente embriagada no momento
em que praticou e que, em virtude dessa situação transitória, não se encon-
trava em perfeitas condições de exprimir a sua vontade” (GONÇALVES, 2008).

Atenção
 O surdo-mudo somente é considerado absolutamente incapaz se
não puder manifestar sua vontade. Se puder, poderá ser conside-
rado relativamente incapaz ou mesmo plenamente capaz, depen-
dendo do grau de sua expressão, sendo impedido, em regra, ape-
nas de praticar atos que dependam de audição (testemunho).

 O deficiente visual não está no rol dos incapazes, sendo impedido


apenas de práticas que dependam da visão e somente podendo
fazer testamentos públicos.

 Também não é considerado incapaz o analfabeto.

No caso de ausência, embora a pessoa não esteja presente para as pes-


soas que “habitualmente” o conhecem (familiares, amigos, colegas de tra-
balho), essa pessoa pode, eventualmente, realizar atos jurídicos no local em
que ela se encontra, dessa forma, a legislação, por uma questão de seguran-
ça jurídica, não pode beneficiar o ausente com a proteção da capacidade.

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Relativamente incapazes
A capacidade relativa diz respeito àqueles que podem praticar, por si
só, certos atos da vida civil, e outros atos apenas podem ser praticados se
assistidos.

Caso os atos sejam praticados sem a assistência, poderão ser passíveis de


anulabilidade por iniciativa do prejudicado. Contudo, há hipóteses em que o
ato, mesmo sendo praticado sem a assistência, pode ser ratificado ou conva-
lidado pelo representante legal.

São relativamente incapazes para os atos da vida civil:


CC,

Art. 4.º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o


discernimento reduzido;

III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;

IV - os pródigos.

Os maiores de 16 e menores de 18 anos


Critério meramente biológico. São conhecidos como menores púberes.
Podem praticar atos, por si só, mas precisam da assistência do representante
legal.

Contudo a legislação permite que pratiquem alguns atos sem a assistên-


cia, tais como aceitar mandato, ser testemunha, fazer testamento etc.

Caso pratiquem atos sem a assistência, estes podem ser anulados, caso o
lesado tome providências ou se o vício não for sanado posteriormente ao ato.

Disso, um menor, com 17 anos de idade, pode assinar o contrato de pres-


tação de serviços de sua escola por si só, mas precisa da assistência de seus
pais; caso o faça sem assistência, o ato pode ser anulado ou mesmo convali-
dado por seus pais.

Caso dolosamente omitam a idade ou declarem-se maiores, perderão a


proteção legal de incapaz e serão compelidos a cumprirem a obrigação as-
sumida (CC, art. 180).

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Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma
obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra
parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.

Somente se opera o presente dispositivo se o erro foi escusável.

Caso causem prejuízo, a obrigação de indenizar é do responsável, mas


caso este não possa pagar ou não possa fazer, o incapaz responde pelo dano
causado (CC, art. 928).
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis
não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.

Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá
lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

Mas a obrigação de indenizar, em regra, é sempre do responsável (CC, art.


932).
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;

II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas


condições;

[...]

Os ébrios habituais, os toxicômanos e os de deficiência mental


reduzida
Somente os dependentes de substância alcoólica ou entorpecentes são
considerados relativamente incapazes, sendo que os usuários eventuais so-
mente serão protegidos pela legislação se, no momento do ato da vida civil,
comprovarem que não puderam exprimir a sua vontade, sendo protegidos
como absolutamente incapazes.

Os deficientes mentais aqui protegidos possuem discernimento


reduzido.

Para haver a proteção legal também é necessário o processo de interdição,


sendo que preceituam os artigos 1.772 e 1.782 do CC, que compete ao juiz,
nos casos de interdição dos deficientes mentais, ébrios habituais e viciados
em tóxicos, determinar, segundo o desenvolvimento mental do interdito, os
limites da curatela, que poderão ser a privação do direito de, sem assistência
do curador, praticar os atos que possam onerar ou desfalcar o patrimônio.

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Art. 1.772. Pronunciada a interdição das pessoas a que se referem os incisos III e IV do art.
1.767, o juiz assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental do interdito, os
limites da curatela, que poderão circunscrever-se às restrições constantes do art. 1.782.

[...]

Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar
quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que
não sejam de mera administração.

Os excepcionais sem desenvolvimento mental completo


Qualquer pessoa portadora de deficiência que tenha desenvolvimento
mental incompleto pode ser beneficiada com a proteção legal da incapaci-
dade relativa, inclusive os surdos-mudos, os cegos, os portadores de certas
deficiências mentais (os mentalmente fracos), os portadores de anomalias
psíquicas etc.

Aplicam-se, nesse caso, também os artigos 1.772 e 1.782 do CC.

Importante
São considerados relativamente incapazes apenas os surdos-mudos que
não receberam educação adequada e permanecem isolados da sociedade. Se
puderem exprimir a sua vontade, são considerados capazes, o mesmo vale
para todos os outros excepcionais.

Os pródigos
Os pródigos são as pessoas que dilapidam, dissipam o próprio patrimô-
nio e seus bens, fazendo gastos excessivos e anormais.

Trata-se de um desvio de personalidade e não de uma alienação mental,


no qual o indivíduo faz gastos fora do normal, adquire coisas de pouco ou
nenhum valor por preços altos, vende coisas por preço vil, desfazendo-se do
patrimônio.

O atual Código Civil não interdita o pródigo em benefício do cônjuge,


descendentes ou ascendentes, mas sim para protegê-lo, por isso é que a in-
terdição ficará restrita apenas aos atos de administração que acarretem com-
prometimento do patrimônio, tais como emprestar, transigir, dar quitação,
alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado.

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Pode praticar por si só, sem a presença do curador, os demais atos da vida
civil, como casar, fixar domicílio do casal, dar autorização para casamento de
filhos etc.

Os índios, os falidos e os condenados criminalmente


O Código Civil de 2002 não regulamentou a capacidade dos índios, reme-
tendo à legislação específica e à Fundação Nacional do Índio – Funai.
CC,

Art. 4.º [...]

Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.

A legislação que regulamenta os silvícolas é a Lei 6.001/73, junto com a lei


que criou a Funai, Lei 5.371/67, entre outras leis que citam esparsamente as
responsabilidades, como a Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73).

O falido para a lei brasileira não é considerado incapaz, tendo apenas res-
trições em âmbito mercantil.

Os condenados criminalmente também continuam com capacidade, mas


perdem alguns direitos, como investidura em funções públicas, poder fami-
liar etc.

Do início da capacidade
Começa a capacidade plena quando cessam as condições que levam à
incapacidade. Segundo o artigo 5.º do CC:
Art. 5.º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada
à prática de todos os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento


público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o
tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;

II - pelo casamento;

III - pelo exercício de emprego público efetivo;

IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;

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V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde


que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

Dessa forma, a regra é que no primeiro momento do dia em que a pessoa


natural completa biologicamente 18 anos, tem-se o início da capacidade
plena, devendo por óbvio serem respeitados os demais dispositivos sobre
incapacidade.

Contudo, existem outras formas, que não a biológica de início da capaci-


dade, que podem ser sintetizadas da seguinte forma.

 Voluntária – por concessão dos pais, ou na falta de um deles, do outro;


– emancipação parental – requisitos:

 deve ser menor púbere;

 concedida por instrumento público;

 registro em Cartório de Pessoas Naturais, para produzir efeitos;

 não necessita de homologação judicial.

 Judicial – por sentença judicial:

 quando um dos pais não concorda com a emancipação parental,


contrariando a vontade do cônjuge;

 quando o menor está sob tutela; requisitos:

menor púbere;

oitiva do tutor;

verificação do juiz da conveniência para o bem do menor.

 Para produzir efeitos devem ser registradas em cartório (CC, art. 9.o
c/c arts. 107, §1.o, e 91, parágrafo único, da Lei 6.015/73).

 Legal – por determinação da Lei:

 pelo casamento:

requisitos:

 idade mínima nupcial do homem e da mulher – 16 anos –


menor púbere;

 autorização de ambos os pais (enquanto menores).

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Consequências:

 Uma vez emancipado pelo casamento, não retorna a incapa-


cidade, mesmo que o casamento seja anulável ou que haja
posterior divórcio.

 No caso de nulidade, como o casamento era nulo, a emanci-


pação também o é.

 Por exercício de emprego público:

alguns autores entendem que somente cessará a incapacidade


se for o exercício de serviço efetivo, não podendo ser os diaristas,
os contratados e os nomeados para cargos em comissão. Con-
tudo algumas decisões judiciais já abrandaram o rigor da lei e
entendem que deve prevalecer o status de servidor público, pois
ao ser admitido assim já demonstra a maturidade. Mais ainda, o
simples emprego, com estabelecimento de economia própria, já
é requisito suficiente para o início da capacidade.

 Por colação de grau em curso de ensino superior.

 Por estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de rela-


ção de emprego com economias próprias:

mínimo ser menor púbere.

Início da personalidade jurídica


Como verificado anteriormente, a personalidade jurídica é o conjunto das
capacidades (aptidões) que uma pessoa natural possui.

A pessoa natural, para a lei brasileira, somente será considerada como tal se
houver o nascimento com vida, passando então a ter personalidade jurídica.
CC,

Art. 2.o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

O nascimento com vida para o Direito brasileiro é a primeira respiração.


Caso o ser nasça, mas não respire, não adquire personalidade jurídica e, con-
sequentemente, não existiu para o Direito brasileiro.

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Outrossim, caso esse ser nasça e respire, ainda que uma única vez, ele
adquire a personalidade jurídica e, consequentemente, passou a ter a capa-
cidade de direito. Dessa forma, o ser que nasce, mas não respira, não é uma
pessoa, sendo considerado como tal apenas aquele que respirou, mesmo
que uma única vez.

Aquele que não respirou, ao não adquirir personalidade jurídica não ad-
quiriu capacidade e, dessa forma, será registrado em livro próprio dos nasci-
dos mortos (natimorto), apenas para finalidade de registro e estatística.

Contudo, aquela pessoa natural que respirou, mesmo que uma única vez,
ao adquirir personalidade e capacidade, adquiriu os direitos civis, inclusive
hereditários, dessa forma, obrigatoriamente, deve ser registrada, possuir cer-
tidão de nascimento e de óbito e, caso venha a falecer logo depois da mãe,
herdou seus bens, mesmo que momentaneamente.

Embora o nascituro não tenha personalidade jurídica, o Direito brasileiro


protege seus direitos desde a concepção.

Fim da personalidade jurídica da pessoa natural


Em regra, o fim da personalidade jurídica se dá com a morte real da pessoa
natural. Mas excepcionalmente a personalidade jurídica pode terminar com
a presunção de morte, com ou sem declaração de ausência, apenas nas hi-
póteses que a lei autorizar.
CC,

Art. 6.º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos
ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.

Doutrinariamente, existem três tipos de morte:

 Morte real – quando a pessoa natural é cientificamente declarada mor-


ta, provando-se, pelo atestado de óbito, que deve ser declarada por um
profissional da Medicina ou, em casos excepcionais, por duas pessoas.

 Morte civil – existente no Direito romano, nos casos de falência. No


Direito brasileiro há apenas resquícios, por exemplo: herdeiro afastado
por indignidade.

 Morte presumida – quando a lei estabelece situações que levam a crer


estar a pessoa natural morta, com ou sem declaração de ausência.

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Morte presumida com declaração de ausência


Ausente é a pessoa natural que desaparece sem que noticie ou saibam o seu
paradeiro. Dessa forma, não basta que a pessoa não esteja presente, deve-se não
se ter notícia da pessoa e de seu paradeiro para que seja declarada ausência.

Para que seja declarada presumidamente morta a pessoa natural por au-
sência é necessário que se cumpram três fases:

 ausência;

 abertura da sucessão provisória; e

 abertura da sucessão definitiva.

Três também são as hipóteses legislativas que permitem o processo de


ausência:

 pessoa se ausenta sem deixar administrador para gerir seus bens;

 pessoa se ausenta com administrador para gerir seus bens, mas que
não quer ou não pode fazer a gestão; ou

 pessoa se ausenta com administrador que administra os bens pelo


prazo máximo de três anos.

Declaração da ausência e nomeação de curadoria dos bens


Nas hipóteses de desaparecimento real ou desaparecimento com nome-
ação de procurador que não queira ou não possa exercer o mandato:
CC,

Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não
houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz,
a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e
nomear-lhe-á curador.

Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar
mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus
poderes forem insuficientes.

Sucessão provisória
Um ano depois da decisão que nomeou curador, ou três anos depois se
deixou procurador, solicita-se a declaração da ausência e abertura da suces-
são provisória.

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CC,

Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou
representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer
que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.

Sucessão definitiva
Passados 10 anos da sentença transitada em julgado da sucessão provi-
sória ou provando que o ausente conta com 80 anos e faz 5 anos que não se
tem notícia dele, solicita-se a sucessão definitiva.
CC,

Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura
da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o
levantamento das cauções prestadas.

Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta
oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele.

Apenas com a abertura da sucessão definitiva é que o juiz declara a morte


presumida com declaração de ausência.

Morte presumida sem declaração de ausência


A lei brasileira permite que haja presunção de morte, sem declaração de
ausência, nas hipóteses em que é provável pelo caso concreto que a pessoa
encontre-se morta.

São apenas dois casos: quando é extremamente provável a morte da


pessoa que estava correndo risco de perder a vida, como o caso de pessoas
que estão em desastres aéreos; e quando a pessoa que vai à guerra e desa-
parece, ou foi feita prisioneira, e não é encontrada depois de dois anos que
a guerra terminou.
CC,

Art. 7.º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:

I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;

II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até


dois anos após o término da guerra.

Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser
requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data
provável do falecimento.

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Importante salientar que mesmo que a presunção pareça absoluta ainda


se tem a morte presumida e não a real.

Comoriência
Se duas ou mais pessoas morrem ao mesmo tempo, na mesma ocasião,
sem poder precisar qual delas morreu primeiro, tem-se a comoriência.
CC,

Art. 8.º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar
se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente
mortos.

Importante
Não há transferência de bens entre comorientes.

Individualização da pessoa natural


A pessoa natural identifica-se na sociedade pelo nome, estado e
domicílio.

Nome
É o primeiro elemento de individualização da pessoa natural, designação
pela qual a pessoa é conhecida em seu meio social e familiar, sendo que a
expressão “nome” compreende o nome completo, que é composto pelo pre-
nome e sobrenome:
CC,

Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o
sobrenome.

O Direito atual também protege o pseudônimo utilizado para atividades


lícitas, da mesma maneira que protege o nome.

Antes do Novel Código, algumas pessoas que se utilizavam do pseudô-


nimo no meio social somente tinham a proteção se o agregassem ao seu
nome, como fez o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

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CC,

Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao
nome.

Alguns autores classificam o nome como um direito de propriedade,


outros como um direito de propriedade sui generis, mas a classificação mais
moderna, defendida por Limongi França (1977, p. 192) e que foi adotada
pelo Código Civil, é que o nome é um direito da personalidade.

O nome possui um aspecto público, com objetivo de identificar a pessoa


natural, e um aspecto individual, para que a pessoa possa defendê-lo contra
usurpação:
CC,

Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção
difamatória.

Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.

Trata-se de um direito inalienável e imprescritível, essencial para o exercí-


cio regular dos direitos e do cumprimento das obrigações. Toda pessoa tem
o direito de ter um nome que não seja objeto de chacota, para que seja iden-
tificada no seio social e familiar.

Qualquer pessoa natural pode buscar ter o seu direito ao nome em qual-
quer época. Disso, por exemplo, uma pessoa natural com 80 anos de idade,
pode requerer ao Judiciário que acrescente ao seu nome o “sobrenome” de
seu ascendente, mesmo que este já tenha sido falecido há mais de 20 anos,
pois é imprescritível o seu direito ao nome. Contudo, o direito ao nome não
necessariamente estará atrelado aos direitos hereditários, pois estes podem
prescrever.

Estado
O estado é a soma das qualificações da pessoa, no intuito de enquadrá-la
socialmente.

O estado se divide em:

 individual – o modo de ser da pessoa; características pessoais físicas/


psicológicas – capaz, incapaz, sexo, altura, raça, cor, idade etc.;

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 familiar – como a pessoa se apresenta no seio social – pai, irmão,


cunhado, sogro, solteiro, casado, viúvo, divorciado etc.;

 político – como ele se apresenta perante o Estado – nacional, estran-


geiro, nato, naturalizado.

O estado de uma pessoa é caracterizado como:

 indivisível – o estado é uno, ninguém pode ter duas características


opostas ao mesmo tempo em relação à mesma pessoa ou coisa, por
exemplo, casado e solteiro, salvo na rara hipótese de dupla nacionali-
dade, quando a pessoa natural é, em relação ao mesmo Estado, nacio-
nal e estrangeira;

 indisponível – o estado é inalienável, mas em virtude de fatores e va-


riáveis ele pode ser alterado;

 imprescritível – como elemento integrante da personalidade, não se


perde nem se adquire pela prescrição, dessa forma, pelo fato de uma
pessoa natural estar separada de fato, mesmo que por grande período
de tempo, não prescreve a sua condição de casada.

Domicílio
O domicílio é, em regra, o lugar em que a pessoa natural estabelece a sua
residência com vontade de lá permanecer. Disso, a pessoa pode ter várias
residências, mas somente terá um único domicílio.
CC,

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com
ânimo definitivo.

Contudo, o Código Civil de 2002, em vários momentos, previu que a


pessoa natural, excepcionalmente, pode ter mais de um domicílio, tal como
quando a pessoa tenha duas residências que viva alternativamente. Como
exemplo, um profissional que tenha residências em Curitiba e São Paulo vi-
vendo parcialmente, na semana, em uma e outra.

Também se pode considerar domicílio o local em que a pessoa exerça a


sua profissão, mais uma hipótese de dois domicílios, um profissional e outro
residencial, mas o Código Civil também excepciona a situação da pessoa ter
mais de um local em que profissionalmente atue, cada qual será considerado
domicílio para as relações lá exercidas.

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Pessoa natural

CC,

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva,
considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.

Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à


profissão, o lugar onde esta é exercida.

Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles


constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.

Domiciliar a pessoa é essencial para que o Direito possa ser exercido, é


no domicílio do réu que, em regra, as ações devem ser propostas e as regras
de conflito de leis no espaço são resolvidas pelo domicílio, dessa forma, caso
a pessoa natural não possa ser domiciliada pelas regras normais, esta será
domiciliada onde seja encontrada, tal como um sem-teto, ou mesmo um
vendedor viajante.
CC,

Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o
lugar onde for encontrada.

As pessoas naturais podem mudar quando quiserem o seu domicílio, e


a mudança se dará com as declarações que fizerem às municipalidades que
deixam e a que vão, ou mesmo com a própria mudança, se não fizerem a
declaração.

Não é muito comum no Brasil o hábito da declaração de alteração de do-


micílio, como acontece em muitos países europeus, lugar de inspiração do
Novel Código Civil. Na Alemanha, por exemplo, mesmo em mudanças de
bairro, é comum que seja feita essa declaração diretamente nas delegacias
de polícia.
CC,

Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o


mudar.

Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades


dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria
mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.

Direitos da personalidade
Os direitos da personalidade são direitos inerentes à pessoa natural, es-
tando ligados a ela de forma permanente, sem conteúdo econômico imedia-
to, por isso se distinguem totalmente dos direitos patrimoniais.
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Destacam-se o direito à vida, à liberdade, à individualidade, ao nome, ao


próprio corpo, à imagem e à honra.

O coordenador do Código Civil Brasileiro, professor Miguel Reale (2005,


p. 37), explicita: “tratando-se de matéria de per si complexa e de significação
ética essencial, foi preferido o enunciado de poucas normas dotadas de rigor
e clareza, cujos objetivos permitirão os naturais desenvolvimentos da doutri-
na e da jurisprudência”.

Características do direito da personalidade


O Código Civil estabelece que os direitos da personalidade são intrans-
missíveis e irrenunciáveis, mas são também inalienáveis e imprescritíveis.
CC,

Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária.

Disso, pode a pessoa natural exigir que cesse qualquer lesão ou ameaça
aos seus direitos da personalidade, podendo exigir indenizações e ainda
outras sanções cabíveis.
CC,

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista
neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até
o quarto grau.

Disposição do próprio corpo


Não pode (é proibido), salvo por exigência médica, a pessoa natural dispor
do próprio corpo quando importar diminuição permanente da integridade
física, ou contrariar os bons costumes.

Matéria bastante abrangente, na qual a incumbência caberá ao Judiciário,


que decidirá os limites de utilização do próprio corpo. Nesse contexto, o le-
gislador previu que o Estado protegerá os direitos do cidadão, nem que seja
dele mesmo.
CC,

Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando
importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.

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Pessoa natural

Excepciona-se a regra de disposição do corpo, mesmo que cause dimi-


nuição permanente da integridade física, o ato por exigência médica, bem
como os casos de transplantes de órgãos, nos termos da legislação específi-
ca, e, para depois da morte, a disposição gratuita do corpo para fins altruísti-
cos (busca do bem do próximo) ou científico, como a pessoa natural que doa
o corpo para universidades.
CC,

Art. 13. [...]

Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na
forma estabelecida em lei especial.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio
corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.

Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

Tratamento médico de risco


Nos casos de tratamentos médicos ou intervenções cirúrgicas, em que
corra risco de perder a vida, a pessoa natural pode se recusar ao proce-
dimento.
CC,

Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento
médico ou a intervenção cirúrgica.

Importante salientar que, nesses casos, essa regra obriga que os médicos
não atuem sem a anuência do paciente, sob pena de responsabilidade civil.

Direito de nome
Como já foi esboçado anteriormente, apresentamos nesta parte apenas a
legislação pertinente.
CC,

Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o
sobrenome.

Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção
difamatória.

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Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.

Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao
nome.

Proteção à palavra e à imagem


Ninguém poderá utilizar-se, sem autorização do autor, de escritos, trans-
missão de palavras, publicação e imagem da pessoa natural, se isso ferir-
-lhe a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se destinarem para fim
comercial.

Excepciona-se essa regra se forem utilizados com autorização, ou para ad-


ministração da justiça ou manutenção da ordem pública.
CC,

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção


da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação,
a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu
requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa
fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.

Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para


requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.

Sobre proteção da palavra e divulgação de escritos tem-se melhor regu-


lamentação pela Lei 9.610/98.

Proteção da intimidade
Em conformidade com o artigo 5.º, X, da Constituição da República,
o Código Civil protege a intimidade da pessoa natural, sendo inviolável a
sua vida privada, sendo que a parte interessada pode requerer ao juiz que
impeça ou cesse a violação.
CC,

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do


interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário
a esta norma.

Caso o dano, material ou moral, seja materializado, é assegurado à pessoa


natural requerer justa indenização.

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Resolução de questão
1. (Esaf ) Assinale a opção errada.

a) O direito da personalidade é o direito da pessoa defender o que lhe é


próprio, como a vida, a identidade, a liberdade, a imagem, a privacida-
de, a honra etc.

b) Pessoa idosa poderá sofrer interdição se a senectude originar um es-


tado patológico, retirando-lhe o necessário discernimento para prati-
car atos negociais.

c) O direito brasileiro não admite a declaração de morte presumida sem


decretação de ausência, para, em casos excepcionais, viabilizar o re-
gistro do óbito, resolver problemas jurídicos e regular a sucessão cau-
sa mortis.

d) O pródigo é considerado, se sofrer interdição, relativamente incapaz,


estando privado, sem assistência de curador, da prática de atos que
possam comprometer seu patrimônio.

e) O instituto da incapacidade visa proteger os que são portadores de


uma deficiência jurídica apreciável, graduando a forma de proteção.

Assertivas:

a) Certa (CC, arts. 11 e ss.).

b) Certa (CC, art. 3.º, II).

c) Errada (CC, art. 7.º).

d) Certa (CC, art. 4.º, IV).

e) Certa (CC, art. 3.º e 4.º).

Atividades de aplicação
1. (Esaf ) Assinale a opção falsa.

a) Uma pessoa pode ter o gozo de um direito sem ter o seu exercício.

b) A capacidade de gozo pressupõe a capacidade de exercício.

c) A capacidade de gozo pode subsistir sem a capacidade de fato.

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d) A lei confere personalidade jurídica material ao nascituro.

e) A lei admite restrições ao exercício de certos direitos pelos estrangeiros.

2. (Esaf ) Assinale a opção errônea.

a) A data provável do óbito, fixada em sentença, demarcará o dies a quo


em que a declaração judicial de morte presumida sem decretação de
ausência irradiará efeitos jurídicos.

b) As associações públicas são consórcios públicos que não têm perso-


nalidade jurídica de direito público, apesar de conjugarem esforços
de entidades públicas, que firmam acordos para a execução de um
objeto de finalidade pública.

c) Os usuários de psicotrópicos, que sofram redução na sua capacidade


de entendimento, não poderão praticar atos na vida civil sem assis-
tência de um curador, desde que interditos.

d) O tutor, cujo tutelado é menor com idade de 16 anos, deverá para


emancipá-lo requerer sua emancipação ao magistrado, que a concede-
rá mediante sentença, hipótese em que se terá emancipação judicial.

e) O Código Civil de 2002 admite a pluralidade domiciliar.

3. (Esaf ) Assinale a opção falsa.

a) A proteção jurídica dos incapazes realiza-se por meio da representa-


ção ou assistência, o que lhes dá segurança, quer em relação à sua
pessoa, quer em relação ao seu patrimônio, possibilitando-lhes exer-
cício de seus direitos.

b) A morte presumida pode dar-se com ou sem decretação da ausência.

c) A senilidade, por si só, não é causa de restrição da capacidade de fato,


porque não pode ser considerada equivalente a um estado psicopático.

d) O assento da sentença de interdição no registro de pessoas naturais e


a publicação editalícia não são dispensáveis para lhes assegurar efeito
erga omnes.

e) Em relação à menoridade, a incapacidade cessa quando o menor


completar 18 anos ou for emancipado.

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Dica de estudo
Caros alunos, é necessário para as provas de Direito Civil o amplo conhe-
cimento das Incapacidades, assunto “badaladíssimo” nas provas.

Referências
BEVILÁQUA, Clóvis. Teoria Geral do Direito Civil. 4. ed. Brasília: Ministério da Jus-
tiça, 1972.

CRETELLA JÚNIOR; José. Curso de Direito Romano: o Direito Romano e o Direito


Civil Brasileiro no Novo Código Civil. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: teoria geral do Direito
Civil. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. v. 1.

GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2007.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil – parte geral. 13. ed. São Paulo: Saraiva,
2003. (Coleção Sinopses Jurídicas).

______. Direito Civil – parte geral. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. (Coleção Sinop-
ses Jurídicas).

LIMONGI FRANÇA, R. Forma do Ato Jurídico. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 192.
(Enciclopédia Saraiva do Direito). v. 38.

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil – parte I. 32. ed. São
Paulo: Saraiva, 2003.

REALE, Miguel. Código Civil: exposição de motivos e texto sancionado. Brasília:


Senado Federal, 2005.

REZEK, Francisco. Direito Internacional Público: curso elementar. São Paulo: Sa-
raiva, 2008.

RODRIGUES, Marcelo Guimarães. Direito Civil. Belo Horizonte: Inédita, 1999.

SILVA PEREIRA, Caio Mário da. Instituições de Direito Civil. 18. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1996.

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VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

WALD, Arnold. Direito Civil: introdução e parte geral. 11. ed. São Paulo: Saraiva,
2009.

Gabarito
1. D

2. B

3. D

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