Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
ANÁLISE
TEMA:
AS CONTRADIÇÕES DO AMOR
Soneto petrarquista, cujo tema é o amor, definido como um sentimento
contraditório, mas ainda assim procurado pelos corações humanos.
Assunto:
Neste poema, o sujeito poético tenta dar uma definição de amor, à maneira
petrarquista, através de uma série de metáforas e antíteses bastante
sugestivas. Ele joga de forma artística com a palavra Amor que abre e fecha o
poema, para chegar à conclusão de que é impossível definir o amor.
Amor
- Desperta reações/sentimentos
- Impossibilidade de definir este sentimento
(Ver as três primeiras estrofes)
- a circularidade do poema: palavra inicial/final
- a funcionalidade da anáfora (verbo “ser”)
- as relações lexicais - os tipos de frase utilizados
- a funcionalidade do conector “mas” no início do último terceto
- a descodificação da palavra “amizade”
- a interrogação retórica
Circularidade do poema
- A palavra Amor , utilizada no início e no fim do poema, exprime o tema deste
e É um contentamento descontente; expressa a vontade que o poeta tem de
falar deste sentimento.
- A repetição da palavra “amor” está também ao serviço de uma descrição
mais pormenorizada deste sentimento.
O poema encerra com uma indagação: Como é que as pessoas podem gostar
de algo tão contrário a si mesmo como o amor?
Nos onze primeiros versos, o sujeito poético apresenta onze tentativas para
definir o amor. Amor é: 1. fogo que arde sem se ver 2. ferida que dói e não se
sente 3. contentamento descontente 4. dor que desatina sem doer 5. não
querer servir a quem vence o
Definição do Amor
Amor é:
Síntese - natureza contraditória do Amor "Tão contrário a si é o mesmo amor?"
ESTRUTURA INTERNA
O soneto divide-se em 1ª parte – duas quadras e 1 terceto – fazem-se onze
tentativasÉ solitário andar por entre a gente; de definir o amorÉ nunca
contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;
2ª parte – 2º terceto – as onze tentativas de definição anteriores são superadas
por uma interrogação retórica final que apresenta o amor como um sentimento
contraditório. Nos mortais corações conformidade, Se tão contrário a si é o
mesmo Amor?
O sujeito poético procura definir o amor. Para isso utiliza vários recursos:
final do último de forma a sugerir terceto “Se tão actividade, vida:
contrário a si é “É um não querer…” o mesmo Amor?” ao longo das
duasadequado à natureza quadras e do indefinível do Verbos
Interrogação primeiro tercetosentimento descrito - substantivados
retórica Uso do Frases Um declarativas afirmativas artigo indefinido
Metáfora Enumeração Antíteses Anáfor que reforça a força a do
sentimento dos estados psíquicos amoroso: contraditórios a que o “Amor
é um fogo..’ amor pode levar, de forma a identificar a onze primeiros
versos sua principal “Amor é fogo que arde da forma verbal “é”, no
característica (a sem se ver” início do 2º até 11º contradição); podes
verso constatar isto nos onze primeiros versos.
5. 23. Funcionalidade da anáfora A anáfora resulta da repetição da
mesmaAmor é fogo que arde sem se ver; palavra no início de cada
verso.É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;
Neste caso, a anáfora é originada pelaÉ dor que desatina sem doer;
repetição de uma forma do verbo ser (“é”). Esta tem a função de
introduzir oÉ um não querer mais que bem querer; predicado, evitando
também a repetiçãoÉ solitário andar por entre a gente; da palavra
“amor”. Esta construçãoÉ nunca contentar-se de contente; anafórica
facilita a descrição mais desteÉ cuidar que se ganha em se perder;
sentimento tão contraditório.É querer estar preso por vontade;É servir a
quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata, lealdade. Sucessão
de oxímorosMas como causar pode seu favor Há vários oxímoros
neste poema.Nos mortais corações conformidade,Se tão contrário a si é
o mesmo Amor? Os oxímoros são conceitos opostos que estão
presentes numa só expressão (“é ferida que dói, e não se sente”).
6. 24. Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;
QÉ um contentamento descontente; UÉ dor que desatina sem doer; A
DÉ um não querer mais que bem querer; R Este poemaÉ solitário andar
por entre a gente; A é um sonetoÉ nunca contentar-se de contente; S
porque éÉ cuidar que se ganha em se perder; constituído por duasÉ
querer estar preso por vontade; T E quadrasÉ servir a quem vence, o
vencedor; e doisÉ ter com quem nos mata lealdade. R C tercetos.Mas
como causar pode seu favor ENos corações humanos amizade, TSe tão
contrário a si é o mesmo Amor? O S
7. 25. Amor é fogo que arde sem se ver; Os versos são decassílabos, isto
é,É ferida que dói e não se sente; versos que têm dez sílabas métricas.É
um contentamento descontente; Trata-se da medida nova.É dor que
desatina sem doer;É um não querer mais que bem querer;É solitário
andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que
se ganha em se perder;É querer estar preso por vontade;É servir a
quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata lealdade.Mas como
causar pode seu favorNos corações humanos amizade,Se tão contrário
a si é o mesmo Amor? É / um / con /ten /ta /men /to/ des/con/ten/ (te) 1 2
3 4 5 6 7 8 9 10
8. 26. Esquema rimático e tipo de rimaAmor é fogo que arde sem se ver;
AÉ ferida que dói e não se sente; BÉ um contentamento descontente; B
A rima é interpoladaÉ dor que desatina sem doer; A e emparelhadaÉ um
não querer mais que bem querer; A nas quadras comoÉ solitário andar
por entre a gente; B se pode verificarÉ nunca contentar-se de contente;
B no esquema rimáticoÉ cuidar que se ganha em se perder; A ABBA.
Nos tercetos aÉ querer estar preso por vontade; CÉ servir a quem
vence, o vencedor; rima é interpolada DÉ ter com quem nos mata
lealdade. C como se vê no esquemaMas como causar pode seu favor D
rimático CDCDCDNos corações humanos amizade, CSe tão contrário a
si é o mesmo Amor? D
9. 27. Plano morfológicoAmor é um fogo que arde sem se ver,É ferida que
Amor é fogo que arde sem se ver é um soneto de Luís Vaz de Camões (1524-
1580), um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos. O famoso
poema foi publicado na segunda edição da obra Rimas, lançada em 1598.
Análise e interpretação
Camões desenvolve o seu poema de amor através da apresentação de ideias
opostas: a dor opõe-se ao não sentir, o contentamento afinal é descontente. O
poeta usa esse recurso de aproximação de coisas que parecem distantes
para explicar um conceito tão complexo como o amor.
Versos atemporais
O poema se torna atemporal na medida em que o tema abordado é universal e
as figuras usadas para desenvolvê-lo são complexas e belas. Camões
consegue conciliar imagens muito opostas para explicar o que é o amor.
O amor, assim como tudo na vida, é um jogo de dualidades, de
ambiguidades, que faz parte do cerne do ser humano. Não existe sentimento
humano que possa ser explicado de forma clara e simples. Porém, alguns
poetas conseguem exprimir de forma ímpar sentimentos tão complexos como o
amor.
Estrutura poética
O poema acima de Camões é um soneto italiano.
O soneto é uma forma fixa de poesia que consiste em quatro estrofes: os dois
primeiros com quatro versos (quartetos) e os últimos com três versos
(tercetos). A estrutura costuma ser a mesma: começa com a apresentação de
um tema, que passa a ser desenvolvido, e, geralmente no último verso, contém
uma conclusão que esclarece a questão.
Nas primeiras onze estrofes podemos observar uma cesura na sexta sílaba
poética. A cesura é uma pausa rítmica no meio da estrofe. O poema possui um
esquema rímico clássico, formado por ABBA, ABBA, CDC, DCD.