Unidade II
5 ÁCIDOS NUCLEICOS
Em 1868, o médico suíço Miescher, estudando o pus de feridas, isolou uma substância, que
chamou de nucleína, do núcleo das células. Mais tarde, demonstrou que tinha caráter ácido, por isso
o nome ácido nucleico. Em 1951, Rosalind Franklin trabalhou com o material que veio do núcleo das
células estudando-o por difração de raios X. Em 1953, o americano James D. Watson e o britânico
Francis Crick, que também estavam estudando esse material nuclear, propuseram um modelo que
explicava os resultados da difração de raios X, fato que os levou a ganhar o prêmio Nobel de medicina
e fisiologia em 1962.
Tanto o ácido desoxirribonucleico (DNA) quanto o ácido ribonucleico (RNA) são moléculas formadas
por nucleotídeos (fosfato + pentoses + base nitrogenada púrica e pirimídica), presentes no núcleo
dos eucariotos e dispersos no citoplasma dos procariotos (figura a seguir). O DNA e o RNA são chamados
material genético das células e contêm informações de como devem ser as proteínas do respectivo ser
vivo, além de transmitir essa informação para sua prole.
Nucleotídeo
Base
Fosfato nitrogenada
Pentose
Nucleosídeo
As diferenças principais entre eles residem nas bases nitrogenadas pirimídicas (no DNA teremos
timina e no RNA uracila); na quantidade de fitas (o RNA é fita única e o DNA fita dupla) e no carboidrato
(no DNA teremos a pentose desoxirribose e no RNA ribose).
82
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Purinas Pirimidinas
H H
C N H H C H
8 7
N9 C N H C O
H 5
C4 5
6C H C4 6C
1
N3 2
1
N N3 2 N O
C H C H
C
Adenina O Timina H N C H
H
H C C H
C N O N
8 7
H H
N9 C O H C N H
H 5 H Uracila
C4 5
6C C4 6C
1
N3 2
1
N N3 2 N
C H H C
Citosina
N Guanina O
H H
OH OH
O H H O H H
2’ 2’
OH OH OH H
A) B) Desoxirribose
Ribose
83
Unidade II
Existem nucleotídeos que têm outras funções além de ser parte de DNA e RNA, como, por
exemplo, ATP, GTP, UTP, relacionados com doação de energia; NADH, NADPH e FADH2 como doadores
e receptores de hidrogênio; e AMP cíclico (AMPc) relacionado com sinalização celular.
A seguir iremos estudar a síntese de DNA e RNA à qual damos o nome de replicação ou
duplicação e transcrição.
Transcrição Tradução
DNA RNA
Proteína
Replicação
DNA
Os nucleotídeos podem ser produzidos de duas formas: via de novo e via de recuperação ou
salvamento (significa que serão recicladas as bases nitrogenadas e os nucleotídeos livres gerados pela
degradação dos ácidos nucleicos).
A síntese de purinas de novo ocorre com a junção de átomos dos aminoácidos aspartato, glicina
e glutamina, gás carbônico; do N10-formil tetra-hidrofolato (ácido fólico) e das pirimidinas
aspartato, glutamina, NH3 e CO2; e dos nucleotídeos com a ajuda de várias enzimas que ligam os
componentes dos nucleotídeos.
As fitas de DNA são complementares (bases púricas pareiam ou ligam-se com pontes de hidrogênio
com bases pirimídicas) e antiparalelas (uma vai do extremo 3’ para o 5’ e a outra do 5’ para o 3’).
A síntese de DNA ocorre na fase S do ciclo celular que é dividido em fases G1, S, G2, M.
84
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Mitose
M
M
G2
G1
Ciclo celular G0
S
Síntese
de DNA
Interf
ase
Quando estudamos DNA ou RNA aparecem os termos 3’ ou 5’, mas o que é 3’ ou 5’? É o extremo
da fita que está solto, sem ligar com outro nucleotídeo. Veja a seguir: temos a desoxirribose (D) e nela
está ligada um fosfato (P) na posição 5’ da ribose (como o carboidrato e a base nitrogenada contêm
carbonos, chamamos os carbonos da pentose com o símbolo linha), então a fita termina em P; e na
outra fita temos a pentose, sem nada ligado abaixo dela, somente terá a hidroxila (OH) no seu carbono 3,
sendo assim chamada 3’.
34 A
Um
nucleotídeo
10 A
3,4 A
DNA
85
Unidade II
A replicação do DNA é semiconservativa, isto é, cada fita na dupla hélice atua como modelo para a
síntese de uma nova fita complementar (não é igual). Então o DNA terá uma fita velha ligada a uma fita
nova (figura a seguir). As fitas novas são construídas com a ajuda de várias enzimas.
Fitas antigas
Fita nova
Fita antiga
Nesse processo teremos uma fita chamada líder, sendo feita de maneira simples e rápida (fita molde
é 3’-5’, e a nascente é 5’-3’) pela enzima denominada DNA polimerase.
A outra fita chamada fita tardia tem necessidade de usar mais de uma enzima, porque a DNA
polimerase precisa de extremo 3’ para se fixar e começar a síntese adicionando nucleotídeos à extremidade
3’ de uma fita existente de DNA, e esta tem extremo 5’.
A replicação do DNA requer outras enzimas além da DNA polimerase. Em procariontes, como E. coli,
existem duas principais DNA polimerases (de DNA polimerase I, II, III, IV, V), e em eucariotos são chamadas
DNA polimerase α, β, γ, δ.
86
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Observação
As células precisam copiar seu DNA rapidamente e com poucos erros para
não correr riscos de ter problemas, ou seja, mutações, como, por exemplo,
câncer. Para isso, utilizam uma variedade de enzimas e proteínas que trabalham
juntas para garantir que a replicação do DNA seja eficiente e precisa.
O início da replicação numa fita tão grande ocorre em locais específicos no DNA, que são chamados
origens de replicação, os quais tem sequência conhecida. Em E. coli, como a maioria das bactérias, há
uma única origem de replicação em seu cromossomo. Nesse local, a enzima DNA helicase abre o DNA
formando uma forquilha de cada lado, chamado bolha de replicação.
A enzima topoisomerase, se colocada nesse local, diminui a torção provocada pela ação da helicase,
que a torna muito enrolada à medida que o DNA é aberto. Ela age fazendo cortes temporários na hélice
para liberar tensão, depois fecha os cortes para evitar danos permanentes.
A enzima DNA polimerase necessita do extremo 3’, que não tem na fita atrasada. Esse problema é
resolvido com a enzima primase, que faz um pequeno primer (iniciador) de RNA, para a DNA polimerase
trabalhar. Isso ocorre em vários pontos da fita aberta. A DNA polimerase se liga no extremo 3’ do primer
de RNA e inicia a síntese de DNA complementar à fita velha adicionando nucleotídeos.
Os primers de RNA são removidos e substituídos por DNA através da atividade da DNA polimerase, e as
lacunas entre os fragmentos serão fechadas com a ajuda da DNA ligase, que coloca nucleotídeos fechando a fita.
Saiba mais
87
Unidade II
• DNA polimerase aumenta os primers adicionando nucleotídeos na extremidade 3’, para fazer a
maior parte do novo DNA.
• Primers de RNA são removidos e substituídos com DNA pela DNA polimerase.
4 2
1 5’
3’
3
6
5’
Inicialmente, uma molécula de DNA abre-se no ponto onde o gene a ser transcrito se encontra.
Numa sequência específica chamada promotor a RNA, polimerase se liga e promove a abertura e a
exposição das sequências de nucleotídeos, que serão transcritos. Somente uma fita de DNA será usada
para a síntese de RNA.
O DNA é lido do sentido 3’ para o 5’, e o RNA é lido pelos ribossomos no sentido 5’ para o 3’.
A RNA polimerase ligará os ribonucleotídeos complementares aos que estão na fita de DNA e
os ligará entre si.
88
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Dessa forma, encontraremos a sequência na fita de DNA, por exemplo: AATGCGCGAT, e a fita de RNA
será: UUACGCGCAA. Veja como é realizada a complementariedade:
O RNA a que estamos nos referindo é o mensageiro (que contém a mensagem de quais aminoácidos
deverão ter na proteína em questão).
Conforme vai surgindo a fita de RNA (cópia complementar do DNA), a região que já foi transcrita
fecha-se imediatamente. A transcrição finaliza-se quando há uma sinalização de término, que pode ser
a formação de uma alça no RNA ou a presença de uma proteína, que se liga ao DNA e barra o processo.
Observação
O RNAm deverá ser processado (no inglês splicing), ou seja, serem retiradas algumas sequências que
não têm sentido para a tradução (chamadas íntrons) e deixadas somente as que têm sentido (exon)
(figura a seguir). É colocado no extremo 5’ uma sequência chamada CAP (é um nucleotídeo guanina (G)
modificada que protege o transcrito de ser clivado), que direciona o ribossomo para o início da leitura
(processo chamado transcrição) e, no final do RNAm, será colocado uma cauda de 100-200 nucleotídeos
adenosinas (cauda de poli-A), o que torna o transcrito mais estável e ajuda a exportá-lo do núcleo
para o citoplasma.
mRNA maduro
Observação
A partir do DNA podem ser formados os outros tipos de RNA. Nesse momento vamos nos concentrar
no RNA transportador (RNAt) e no ribossômico (RNAr).
O RNAr, constituído de duas subunidades, é chamado ribossomo e é dessa organela que nasce a
proteína. As subunidades chamadas 30S e 50S na E.coli, e 40S e 60S em humanos, são compostas de
fitas de RNA que estão enrolados na forma de uma esfera.
90
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Lembrete
Em 1970, Temim e Baltimore descobriram que o dogma da biologia molecular, DNA gerando RNA que
gera proteína, não era correto totalmente. Estudaram alguns vírus que continham RNA como material
genético (retrovírus) e perceberam que partículas de DNA eram formadas a partir das de RNA viral, e se
associavam ao genoma (DNA) do hospedeiro. A enzima responsável por esse processo recebeu o nome
de transcriptase reversa ou DNA polimerase RNA-dependente.
Observação
Como esse vírus atinge os linfócitos, e quando se multiplica os destrói para que possam sair, teremos
menos células de defesa do organismo, e fica-se suscetível a vírus ou bactérias, por isso se chama HIV
(vírus da imunodeficiência humana).
91
Unidade II
Observação
Esse processo pode ser produto de dois caminhos: da ingesta e dos ácidos nucleicos degradados
quando as células são morrem.
As células vegetais e animais ingeridas têm ácidos nucleicos que sofrem digestão no intestino delgado
pelas enzimas ribonuclease e desoxirribonuclease secretadas pelo suco pancreático. Essas enzimas
hidrolisam os ácidos nucleicos em fragmentos menores (oligonucleotídeos), que serão hidrolisados
por fosfodiesterases (liberadas do pâncreas), liberando mononucleotídeos que são hidrolisados em
nucleosídeos por nucleotidases e nucleosidades. Os nucleosídeos resultantes podem ser absorvidos pela
mucosa intestinal, liberando fosfatos e pentoses, que serão reutilizados e bases nitrogenadas livres que
serão metabolizadas principalmente.
Observação
Podem ocorrer defeitos nas enzimas do catabolismo das bases púricas e pirimídicas. Entre os defeitos
no catabolismo das bases pirimídicas podemos citar a acidúria orótica (acúmulo de ácido orótico que
causa manifestações clínicas de anemia megaloblástica, nefropatia, malformações cardíacas, entre
outros sintomas); e no das bases pirimídicas, gota úrica (hiperuricemia com crises de inflamação
articular, litíase renal ou nefrolitíase (cálculo renal – dieta com excesso de purinas) e imunodeficiência
(deficiência de adenosina deaminase -ADA, por deficiência em linfócitos T e B).
92
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Inosina Guanina
Hipoxantina
Xantina Oxidase
Xantina
Xantina Oxidase
O
H
HN N
O
O N
N H Ácido úrico
H
O ácido úrico (C5H4N4O3) tem sua maior produção no fígado, ou seja, a maior parte dessa substância
é endógena, proveniente da degradação das bases púricas, mas também da dieta rica em purinas
(alimentos ricos em núcleos celulares: carnes e vísceras, como fígado), crustáceos (como camarão) e
bebidas fermentadas (cerveja). Esses alimentos são capazes de aumentar significativamente a quantidade
de ácido úrico produzido pelo fígado e liberado na urina, além da ureia, principal excreta nitrogenado
humano, proveniente da degradação das proteínas.
Após ser formado, o ácido úrico vai para o sangue (a concentração de ácido úrico considerada
normal fica entre 3,5 e 7,2 mg/dL), e caso esteja com valor maior que o de referência, podemos falar em
hiperuricemia. Aproximadamente 25% dos homens possuem níveis de ácido úrico acima de 7,0 mg/dL,
e as mulheres, como tem o hormônio estrogênio que aumenta a capacidade renal de excreção do ácido
úrico, apresentam risco baixo de hiperuricemia se comparadas aos homens.
93
Unidade II
A concentração de ácido úrico no sangue representa o balanço entre a produção pelo fígado e
intestinos e a liberação pelos rins, dessa forma, em geral, a maioria dos pacientes com hiperuricemia,
apresenta uma dieta rica em purinas e/ou uma redução da sua capacidade renal de excretar o ácido úrico.
Observação
O ácido úrico é um ácido fraco, sendo que a dissociação ocorre a pH = 5,8, então, como o pH da
urina é ácido (5,5 e 7,0), forma-se urato + H+ na urina. Quando está acima desse limite de referência
no sangue (hiperuricemia), há o risco de formação de cristais de urato de sódio e precipitação nas
articulações, gerando inflamação e muita dor (gota úrica) ou cristalização nos rins (cálculo renal). Em
temperaturas elevadas, o ácido úrico é mais solúvel (por exemplo, no sangue onde a temperatura média
é de 37 °C) e menos solúvel em temperaturas mais baixas (as articulações são sensivelmente mais frias
que o sangue, apresentando uma temperatura média de 32 °C) levando ao quadro conhecido como
artrite gotosa. Se os níveis de ácido úrico permanecerem elevados por muito tempo, ele pode começar
a se depositar em locais mais quentes, como a pele e os rins.
O medicamento alopurinol (figura a seguir) tem fórmula estrutural muito semelhante ao substrato
da enzima xantina oxidase. Quando se ingere o medicamento alopurinol, como vai estar em maior
quantidade que a hipoxantina (substrato da enzima marca-passo xantina oxidase), ele é que entra no
sítio ativo da enzima marca-passo, diminuindo ou cessando a velocidade de catálise e formação de
ácido úrico (processo chamado inibição enzimática competitiva).
OH OH
H
C C C N
N C N C
N CH
HC C HC C
N N N N
H H
A H
Figura 82 – Fórmula estrutural do alopurinol (A) e da hipoxantina (H)
Observação
Todo paciente com gota úrica tem ácido úrico elevado no sangue, mas
o inverso não é verdadeiro. Algumas pessoas podem ter níveis elevados de
ácido úrico, mas nunca desenvolveram a patologia gota úrica, podendo ter
apenas descamação em mãos e pés.
94
BIOQUÍMICA METABÓLICA
6 AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS
Na natureza, existem cerca de 300 aminoácidos diferentes, mas somente 20 compõem as proteínas
dos seres vivos. Destes, 10 são ditos essenciais, pois não podem ser produzidos pelo organismo, sendo
obtidos por meio da dieta: arginina, fenilalanina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, treonina,
triptofano e a valina. Os aminoácidos não essenciais são: alanina, asparagina, ácido aspártico, ácido
glutâmico, cisteína, glicina, glutamina, prolina, serina e tirosina. Temos também os classificados como
condicionalmente essenciais, pois são essenciais apenas em circunstâncias específicas, como no caso de
doença ou estresse, assim com necessidade de suplementação. São eles: arginina, glutamina, glicina,
prolina, tirosina e cisteína.
Os aminoácidos essenciais precisam estar presentes na dieta, já que não são sintetizados pelos mamíferos.
A síntese desses aminoácidos em seres vivos pode ter como origem de síntese o alfa‑cetoglutarato (que
origina o glutamato, a glutamina, a prolina e a arginina), o 3-fosfoglicerato (origina a serina, a glicina e a
cisteína), o oxaloacetato (dá origem ao aspartato, que vai originar a asparagina, a metionina, a treonina e
a lisina) e o piruvato (que dará origem a alanina, a valina, a leucina e a isoleucina).
Após ser feito o RNAm (RNA mensageiro), em células eucarióticas, sai do núcleo e chega ao citoplasma
e vai ser acoplado ao mesmo RNAr (RNA ribossômico), para que comece a síntese de alguma proteína
de que o corpo necessite.
Para que a biossíntese ocorra, deve-se passar por algumas etapas, que são: ativação do aminoácido,
iniciação, elongação, terminação e modificações pós-traducionais.
A ativação é feita pelo ATP que se liga ao RNA transportador (RNAt), resultando AMP-RNAt.
Uma vez ativado, o RNAt se liga aos respectivos aminoácidos (referentes ao anticódon presente
nele) que estão dispersos no citoplasma da célula se tornando aaRNAt, e se encaminham para os
ribossomos. Resumindo:
aa
RNAt + ATP AMP–RNAt + PPi aaRNAt + AMP
95
Unidade II
6.2.2 Iniciação
O RNA mensageiro (mRNA) receberá as subunidades 30S e 50S do RNAr (em E.coli) no extremo 5’
(onde tem o CAP). Proteínas chamadas fatores de iniciação se ligam aos RNAr e RNAm tornando-os
estáveis para que se inicie a tradução.
Os aaRNAt entram no ribossomo (subunidades 30S + 50S juntas) e tentam parear seu anticódon
com o códon presente no RNAm (processo chamado decodificação do RNAm). Nesse caso, o primeiro
códon é o de iniciação, que são o AUG e o anticódon presentes no RNAt sendo UAC, que representa o
aminoácido metionina, ou melhor, fmetRNAt (que na iniciação apresenta um radical formil ligado a ela).
Essa ligação se dá no primeiro sítio ou trinca, chamado “P”, com gasto de 1 GTP.
6.2.3 Elongação
Um segundo aaRNAt se liga ao RNAm (no segundo sítio ou trinca chamados “A”) trazendo o
aminoácido específico de acordo com o códon seguinte. Ocorre a ligação peptídica entre o aminoácido
recém-chegado e a formilmetionina; a reação catalisada pela enzima presente no interior dos ribossomos
responsável por essa ligação peptídica se chama peptidiltransferase.
Aminoácido 1
2
ácido
ino
Am
96
BIOQUÍMICA METABÓLICA
G
G
C
C Códon 1
U U
A
A
C
C Códon 2
G G
G
G
A Códon 3
A
G G
C
C
U Códon 4
U
U U
C C
G G Códon 5
G
G
A A
G G Códon 6
C C
U
U
A A Códon 7
G G
ARN
Ácido ribonucleico
97
Unidade II
Segunda base
U C A G
UUU UCU UAU UGU U
Phe Tyr Cys
UUC UCC UAC UGC C
U Ser
UUA UCA UAA terminal UGA Terminal A
Leu
UUG UCG UAG terminal UGG Trp G
CUU CCU CAU CGU U
His
CUC CCC CAC CGC C
C Leu Pro Arg
CUA CCA CAA CGA A
Primeira base
GluN
Terceira base
CUG CCG CAG CGG G
AUU ACU AAU AGU U
AspN Ser
AUC Ileu ACC AAC AGC C
A AUA ACA Thr AAA AGA A
Met ou Lys Arg
AUG ACG AAG AGG G
inicial
GUU GCU GAU GGU U
Asp
GUC GCC GAC GGC C
G Val Ala Gly
GUA GCA GAA GGA A
Glu
GUG GCG GAG GGG G
Assim, os fatores de iniciação saem e entram dos fatores de elongação, que têm como função
deixar o complexo unido, mas podendo deslizar sobre o RNAm. Após a união dos aminoácidos, o RNAt,
que transportava a formilmetionina, se solta do ribossomo e do RNAm, e o segundo RNAt, que antes
ocupava o sítio “A”, passa agora a ocupar o sítio “P”, já que o ribossomo se deslocou 1 códon pelo RNAm.
O sítio “A” com o outro códon fica, então, disponível para a entrada do próximo RNAt.
O complexo todo avança três bases (1 códon) ao longo do RNAm no sentido 5’ > 3’ (chama-se
translocação, cada avanço gasta 1 GTP), sempre deixando um sítio livre para a entrada de aaRNAt
seguinte, que se liga aos primeiros, e ocorre o deslizamento novamente até chegar ao final do RNAm.
6.2.4 Terminação
O ribossomo chega ao códon de terminação (UAA, UAG ou UGA), que agora está presente no sítio “A”.
Nenhum aaRNAt consegue parear com essa trinca de nucleotídeos. Os fatores de elongação saem e
entram os fatores de terminação ou liberação. O complexo fica desestabilizado e seus componentes
se desprendem liberando também a proteína recém-sintetizada que já está na estrutura que deve ser
utilizada (secundária, terciária). Esse nível estrutural é conseguido com a ajuda de outras proteínas
presas ao ribossomo, que ajudam a dobrar corretamente a proteína nascente conforme vai ocorrendo a
síntese (são chamadas chaperonas).
98
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Observação
Exemplo de aplicação
Quantas bases nitrogenadas são necessárias para formar uma proteína com 60 aminoácidos?
Considerando que cada códon corresponde a um aminoácido, e cada sequência de 3 bases (1 códon)
dá origem a 1 aminoácido, portanto para formar uma proteína de 60 aminoácidos, o RNAm deverá ter
60 códons, portanto 180 bases nitrogenadas.
Algumas substâncias químicas chamadas antibióticos podem agir na síntese proteica dos procariotos
(bactérias) e combater as causadoras da infecção.
99
Unidade II
O ácido fusídico (bacteriostático) se liga ao fator de elongação G (EF-G) e inibe sua liberação do
complexo. É eficiente contra bactérias gram-positivas, como Streptococcus, Staphylococcus aureus e
Corynebacterium minutissimum.
Depois que a proteína foi sintetizada e se desprende do ribossomo, podem ocorrer modificações
pós-traducionais. As modificações que podem ocorrer nos aminoácidos são, por exemplo: metilação,
acetilação, hidroxilação, glicosilação, fosforilação e acilação; retirada de aminoácidos (por exemplo:
quando a enzima pepsinogênio, que é inativa, sofre a clivagem ou retirada de alguns aminoácidos,
tornando-a pepsina, que é ativa), adição de novos grupos funcionais, colocação de pontes dissulfeto etc.
Essas mudanças nos aminoácidos podem alterar a hidrofobicidade de uma proteína, além de mudar
até a localização celular ou mudar sua função.
em 1921, é formado por 51 aminoácidos, que estão dispostos em duas cadeias polipeptídicas ligadas a
pontes dissulfeto, contendo 21 aminoácidos na cadeia A e 30 aminoácidos na cadeia B.
S————————————————— S
| |
H—Gly—Ile—Val—Glu—Gln—Cys—Cys—Ala—Ser—Val—Cys—Ser—Leu—Tyr—Gln—Leu—Glu—Asn—Tyr—Cys—Asn—OH
| |
S S
| |
S S
| |
H—Phe—Val—Asn—Gln—His—Leu—Cys—Gly—Ser—His—Leu—Val—Glu—Ala—Leu—Tyr—Leu—Val—Cys—Gly—Glu—Arg
|
Gly
|
Phe
|
HO—Ala—Lys—Pro—Thr—Tyr—Phe
Figura 86 – Estrutura da insulina; repare nas pontes dissulfeto que ligam as duas cadeias polipeptídicas
As proteínas da dieta iniciam sua digestão (clivagem ou proteólise) no estômago (com a ajuda de pepsina e HCl
presentes no órgão) e terminam com as enzimas do pâncreas (tripsina, quimotripsina, elastease, carboxipeptidase)
e do intestino (aminopetidases, dipeptidases), para que possam ficar unidades menores (aminoácidos) e serem
absorvidas pela circulação sanguínea. Podemos dizer que essa descrição se chama digestão extracelular.
Pode ocorrer, também, a proteólise intracelular das proteínas que já cumpriram seu papel, pelo
lisossomo ou pela via ubiquitina-proteassoma. A ubiquitina é uma proteína que tem a função de marcar
proteínas indesejadas para obtenção de energia (em casos de jejum prolongado ou diabetes mellitus), e
para degradar proteínas velhas. Essas proteínas marcadas serão reconhecidas pela proteinase chamada
proteassoma, e imediatamente destruídas. Especialmente no caso das proteínas que já cumpriram seu
papel, ou seja, velhas, pois podem errar e não exercer sua função, o que poderia levar a alguma doença
como o câncer, por exemplo.
Observação
As proteínas, os ácidos nucleicos e as porfirinas contêm nitrogênio, que deve sair do nosso corpo por
ser indesejável e, às vezes, perigoso para as funções de diferentes células.
A degradação das porfirinas terá como produto nitrogenado de degradação as bilirrubinas, o ácido
nucleico, o ácido úrico e as proteínas a ureia. Nossa maior excreta nitrogenada é a ureia (solúvel em
água e não muito tóxica para as células), por isso somos classificados como ureotélicos.
Observação
Depois da proteólise, os aminoácidos, que são liberados e terão seu nitrogênio excretado, e o esqueleto
carbônico serão precursores da glicose (aminoácidos glicogênicos) ou acetil-CoA ou acetoacetato
(aminoácidos cetogênicos).
Durante o processo de degradação, o nitrogênio (na forma de amônia) é retirado com o envolvimento
de três processos: transaminação, desaminação e ciclo da ureia no fígado, e o restante da cadeia
carbônica é reutilizada para fins energéticos.
A amônia (NH3) produzida por todos os tecidos deve ser transportada até o fígado, mas
como é tóxica, então é levada pelos aminoácidos glutamina e alanina, para que nesse órgão seja
transformada em ureia.
Observação
Quando chega no fígado, os aminoácidos devem sofrer reações (transaminação e desaminação) até
perder o nitrogênio, que será transformado em ureia no ciclo da ureia, cuja principal função é eliminar
a amônia tóxica do corpo; em animais superiores isso é feito através da urina.
102
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Proteínas
Proteólise
Aminoácidos
Cadeia carbônica
Síntese de compostos
nitrogenados não proteicos
6.5.1 Transaminação
Os grupos amina da maior parte dos aminoácidos são utilizados para produzir glutamato ou
aspartato, que por sua vez serão substratos da TGO (transaminase glutâmico-oxalacética) ou AST (aspartato
aminotransferase) e TGP (transaminase glutâmico-pirúvica) ou ALT (alanina aminotrasnferase).
103
Unidade II
Essas enzimas transferem o grupo amino para um cetoácido (oxalacetato ou piruvato), produzindo
o aminoácido correspondente ao cetoácido (aspartato ou alanina). Geralmente a substância que aceita
o grupo amina é o α-cetoglutarato, que é convertido em glutamato.
Resumindo:
CH2 – NH3+
COOH
HO CH2 HO CH2 O P
O P
H3C H3C +
+
N N
H H
Piridoxal-fosfato Piridoxamina-fosfato
NH3+ O
OOC CH2 CH2 C COO–
OOC CH2 CH2 C COO–
H H
Glutamato a-cetoglutarato
104
BIOQUÍMICA METABÓLICA
Aspartato
COO– COO– aminotransferase COO– COO–
H3N+ C H + C O H3N+ C H + C O
Exemplo de aplicação
Quando ocorrer algum dano em qualquer um desses tecidos citados, ocorre a lise da célula liberando,
primeiramente, TGP no sangue. Caso ocorra necrose (destruição de organelas, inclusive mitocôndria), é
liberada a TGO no sangue também.
Os níveis normais de TGO e TGP variam conforme o fabricante do teste laboratorial, mas
geralmente para TGO a taxa de referência é de 0-45 U/L na maioria dos laboratórios, e para
TGP de 0-50 U/L, sendo necessária a verificação dos valores de referência para poder comparar
os resultados.
6.5.2 Desaminação
105
Unidade II
CH2 CH2
CH2 CH2
COO– COO–
Glutamato a-cetoglutarato
As causas da toxicidade da amônia não estão bem elucidadas, mas sabe-se que, quando a
concentração é muito alta, reage com o glutamato para formar glutamina. Além do transporte da
amônia entre os tecidos, a glutamina está envolvida em diferentes funções, tais como a proliferação e
o desenvolvimento de células e participação no sistema antioxidante e outras. Após exercícios físicos
intensos e prolongados, a concentração de glutamina pode se tornar reduzida, pois está relacionada
com efeitos antioxidantes.
Saiba mais
Lembrete
A ureia (figura a seguir) tem excreção renal e é formada a partir da amônia. Ocorre parte nas
mitocôndrias e parte no citoplasma, principalmente nos hepatócitos (células do fígado), mas também,
em menor grau, nos rins.
106
BIOQUÍMICA METABÓLICA
H2N C NH2
Figura 92 – Fórmula estrutural da ureia
O ciclo da ureia consiste em cinco reações: duas dentro da mitocôndria e três no citosol, cada reação
é catalisada por uma enzima. O ciclo (figura a seguir) ocorre da seguinte forma:
Observação
• Citrulina reage com aspartato gerando argininosuccinato e fumarato, com consumo de ATP.
• A arginina será clivada originando ureia e ornitina (que volta para a mitocôndria e reinicia o ciclo).
Ciclo da ureia
NH4 + HCO3–
+ Enzimas
Matriz
mitocondrial 2 ATP
1. Carbamoil fosfato sintetase
1 2 ADP + Pi + 2 H+ 2. Ornitina transcarbamilase
Carbamoil fosfato 3. Argininosuccinato sintetase
4. Argininosuccinato liase
5. Arginase
Ureia 2
Ornitina Citrulina
3 ATP
5
H2O
AMP + PPi
Arginina
Aspartato
Argininossuccinato
4
Fumarato
107
Unidade II
A bicicleta de Krebs, em fisiologia, é uma interação entre o ciclo de Krebs e o ciclo da ureia.
Este produz, em uma das suas reações intermediárias, o fumarato, que será liberado no citosol da
célula, e poderá assim ser utilizado no ciclo de Krebs. Como as reações do ciclo da ureia e do ácido
cítrico (ciclo de Krebs) estão correlacionadas, o conjunto dos dois tem sido chamado bicicleta
de Krebs, por parecer com uma bicicleta, com duas rodas. O fumarato produzido na reação da
argininosuccinato liase no ciclo da ureia é também um intermediário do ciclo do ácido cítrico.
O fumarato entra na mitocôndria, onde as atividades combinadas da fumarase (fumarato hidratase)
e da malato desidrogenase transformam-no em oxalacetato. O fumarato que é produzido na reação
da argininossuccinato liase é um intermediário do ciclo do ácido cítrico. O fumarato entra na
mitocôndria, onde as atividades combinadas da fumarase e da malato desidrogenase transformam
o fumarato em oxaloacetato. O aspartato, que age como doador de nitrogênios na reação do ciclo
da ureia catalisada pela argininossuccinato sintetase no citosol, é formado do oxalatoacetato por
transaminação com o glutamato; o α-cetoglutarato é o outro produto dessa transaminação e é um
intermediário do ciclo do ácido cítrico.
Resumo
Exercícios
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de bioquímica de Lehninger. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
A) Um segmento de uma molécula de DNA que contém a informação necessária para a síntese de
um produto biologicamente funcional, seja proteína ou RNA, é denominado gene.
B) O RNA tem uma ampla variedade de funções e muitas classes são encontradas nas células.
Os RNA ribossomais (rRNAs) são componentes dos ribossomos, os complexos que executam a
síntese proteica. Os RNAs mensageiros (mRNAs) são intermediários, carregando a informação
genética de um ou poucos genes para o ribossomo, onde as proteínas correspondentes podem ser
sintetizadas. Os RNAs transportadores (tRNAs) são moléculas adaptadoras que traduzem fielmente
a informação no mRNA em uma sequência específica de aminoácidos.
C) Tanto o DNA quanto o RNA contêm duas bases púricas principais, adenina (A) e guanina (G), e
duas pirimídicas. No DNA e no RNA, uma das pirimidinas é a citosina (C), mas a segunda pirimidina
não é a mesma nos dois: é a timina (T) no DNA e a uracila (U) no RNA.
D) o DNA e o RNA pareçam ter duas diferenças – pentoses diferentes e a presença de uracila no RNA
e timina no DNA – é a pentose que define a identidade do ácido nucleico. Se o ácido nucleico
contém 2’-desoxi-D-ribose, é DNA por definição. Da mesma forma, se o ácido nucleico contém
D-ribose, é RNA, de acordo com sua composição de base.
E) Amostras de DNA isoladas de diferentes tecidos da mesma espécie podem não ter a mesma
composição de bases nitrogenadas. Assim também a composição de bases de DNA, em uma
dada espécie, pode se modificar com a idade do organismo, seu estado nutricional ou a
mudança de ambiente.
A) Alternativa correta.
Justificativa: o segmento da fita de DNA contendo as bases nitrogenadas é composto pela sequência
específica de ácido nucleico, que sãos os genes, com as nossas informações hereditárias.
109
Unidade II
B) Alternativa correta.
C) Alternativa correta.
D) Alternativa correta.
Justificativa: o DNA é uma desoxirribose e contém a timina, enquanto o RNA é uma ribose e
contém a uracila.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: amostras de DNA isoladas de diferentes tecidos da mesma espécie possuem a mesma
composição de bases nitrogenadas e não se modificam por idade, ambiente ou nutrição.
Questão 2. (PUC/PR 2019) Após a degradação de aminoácidos, se os grupos amina não forem
reutilizados para a síntese de novos aminoácidos ou de outros produtos nitrogenados, eles são canalizados
para a formação de um produto de excreção atóxico chamado ureia, através do ciclo da ureia. Sobre esse
ciclo é correto afirmar:
A) O ciclo da ureia ocorre no rim e tem início pela desaminação do glutamato na matriz mitocondrial
gerando na sequência carbamoil-fosfato, numa reação dependente de ATP.
B) O tratamento de uma disfunção no ciclo da ureia com arginina se justifica por esse aminoácido
ser ativador alostérico da enzima n-acetilglutamato sintase, que produz o ativador alostérico da
enzima carbamoil-fosfato sintetase 1, ativando o ciclo.
C) No sangue, a maior parte do grupamento amina dos aminoácidos está na forma de amônia (NH3)
para evitar a toxicidade causada pelo íon amônio (NH4+), que cruza todas as membranas indo
diretamente ao cérebro, causando encefalopatia hepática.
110
BIOQUÍMICA METABÓLICA
E) Quando o ciclo da ureia está muito ativo, o ciclo de Krebs fica comprometido pelo consumo de
oxaloacetato e fumarato no ciclo da ureia.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: o ciclo da ureia ocorre nas células do fígado e em menor parte no rim. Inicia nas
mitocôndrias e depois segue para o citosol da célula.
B) Alternativa correta.
Justificativa: a arginina auxilia as sínteses que ocorrem no fígado, sendo, portanto, usada no
tratamento de disfunção do ciclo da ureia, já que ajuda na eliminação de toxinas do organismo.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: a amônia (NH3) é convertida no fígado, sendo mais tóxica que a ureia. A encefalopatia
hepática é originada por distúrbio no fígado, que converte amônia em ureia, e esta é excretada do corpo
pelos rins, em forma de urina.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: o ciclo da ureia é ligado ao ciclo de Krebs sendo que as reações dos dois ciclos estão
relacionadas; por exemplo, o fumarato produzido na reação argininosuccinato liase no ciclo da ureia é
também intermediário no ciclo de Krebs (ciclo do ácido cítrico).
111