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TRABALHO REALIZADO PARA AVALIAÇÃO DO MÓDULO

“LOGOTERAPIA E O MUNDO DO TRABALHO”

Adriana Patrícia Egg Serra

A partir do olhar da Logoterapia e da sua atuação profissional, sugira formas de intervenção


para as seguintes situações:

1. Profissionais que estão insatisfeitos com seu trabalho.


Para Frankl, uma característica intrínseca do ser humano é a liberdade. A liberdade é o
natural contraponto àquilo que ele nomeia como pandeterminismo, ou seja, uma "visão do ser
humano que descarta a sua capacidade de tomar uma posição frente a condicionantes
quaisquer que sejam" (Frankl, 2008, p. 153). Frankl não pretende com isso negar os
condicionamentos biopsicossociais, mas afirmar a liberdade de posicionamento justamente
diante dos mesmos (Frankl, 2005). A liberdade da vontade torna o homem apto a decidir como
reagir perante tudo aquilo que não pode mudar. Essa liberdade, no entanto, é
necessariamente acompanhada de responsabilidade (Frankl, 2012), como par dialético
constitutivo da dimensão noética. É a responsabilidade que capacita o homem a dar respostas
à vida, assumindo as consequências (positivas e negativas) de suas livres escolhas (Frankl,
2008).
É preciso, no entanto, que o sujeito tome consciência da responsabilidade,
compreendendo a quem precisa responder (à sociedade, à Deus, à si mesmo, etc...) e pelo
quê, ou seja, "para que valores concretos ele se volta buscando servir a eles, em que direção
ele encontra o sentido de sua vida e que tarefas preenchem esse sentido" (Frankl, 2012, p.
16) . Segundo Frankl "o ser-eu significa ser-consciente e ser-responsável" (Frankl, 2012, p. 10).
Pensando que liberdade, responsabilidade e consciência são um tripé da existência,
acredito que toda pessoa pode sempre ser desafiada a tomar consciência do sentido de suas
ações. Seria apropriado, portanto, desenvolver com o paciente uma visão o mais ampla
possível de suas possibilidades e limitações em relação ao trabalho que desempenha, para que
possa se tornar capaz de avaliar quais as decisões que pode tomar e suas implicações práticas
e subjetivas. Uma vez que o paciente tenha esta clareza ele estaria, em tese, capacitado a fazer
suas escolhas com responsabilidade, encarando os riscos e benefícios resultantes.

2. Profissionais em situação de desemprego.


Existe algo que Frankl chama de “dupla identificação errônea”: a ideia de que estar sem
emprego é o mesmo que ser inútil, e de que ser inútil é o mesmo que levar uma vida sem
sentido" (Frankl, 2008). Para ele, por trás desse sentimento esconde-se um vazio existencial,
que permanece reprimido pelas altas demandas de trabalho provenientes das atividades
profissionais remuneradas, e vem à tona com o desemprego. O indivíduo, portanto, que
deixava de lado a experiência da vida em plenitude, vê-se obrigado a confrontar sua realidade.
Quando se fala de (des)emprego, o conceito implicitamente imbricado no raciocínio que
segue diz respeito ao que se costuma chamar de mercado de trabalho, ou seja, as vagas
disponíveis para determinada profissão. Existe, no entanto, um conceito mais abrangente que
se pode utilizar para ampliar as possibilidades de engajamento profissional – o conceito de
campo de atuação (Botomé, 1988). O campo de atuação não se limita às vagas ofertadas, mas
fundamenta-se nas possibilidades de operação de conhecimentos, habilidades e atitudes em
função da resolução de problemas e necessidades da sociedade. Assim, um profissional sem
emprego não precisa limitar-se a buscar por um, mas poderia beneficiar-se da análise de suas
capacidades, necessidades e desejos para mobilizar-se no sentido de encontrar
situações/ocupações em que possa fazer diferença e encontrar sentido na realização de suas
incumbências.
É possível, desta forma, estruturar a vida de forma responsável. Atividades físicas e/ou
culturais, trabalhos voluntários, cursos de formação e outras práticas podem não oferecer um
ganho financeiro imediato, mas preservam funções psíquicas e emocionais necessárias para
encontrar um sentido capaz de reorientar a vida (Frankl, 1990).

3. Profissionais que sofrem da neurose dominical


A neurose dominical é apontada por Frankl como um tipo de neurose noogênica. Ele a
descreve como uma "espécie de depressão que acomete pessoas que se dão conta da falta de
conteúdo de suas vidas quando passa o corre-corre da semana atarefada e o vazio dentro
delas se torna manifesto" (Frankl, 2008, p. 132). Com a vida restrita ao contexto profissional, o
sujeito não reconhece um sentido mais amplo e, ao ser confrontado com seu tempo livre,
precisa encarar aspectos de sua vida que foram negligenciados durante a semana.
É preciso trabalhar, portanto, para que esta pessoa atribua um significado à sua
existência. É desejável que encontre seu sentido único e pessoal, embora potencialmente
mutável, em situações ou momentos distintos. Devemos oferecer um espaço privilegiado e
seguro para que possa explorar suas possibilidades e descobrir sua missão, seu sentido
específico, singular e irrepetível (Frankl, 2003), trabalhando com a concretude, para que isso se
dê de forma objetiva e realizável. Segundo Frankl (2007, p. 101) esse sentido que precisa ser
encontrado "não significa algo abstrato; ao contrário, é um sentido totalmente concreto, o
sentido concreto de uma situação com a qual uma pessoa também concreta se vê
confrontada".

Referências
Botomé, S. P. (1988). Em busca de perspectivas para a Psicologia como área de conhecimento
e como campo profissional. Em Conselho Federal de Psicologia (org.) Quem é o psicólogo
brasileiro? (p. 273-297). São Paulo: Edicon Editora e Consultoria

Frankl, V. E. (1990). Psicoterapia para todos: uma psicoterapia coletiva para contrapor-se à
neurose coletiva. Petrópolis: Vozes.

Frankl, V. E. (2005). Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida: Idéias e


Letras.

Frankl, V. E. (2008). Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis:


Vozes.

Frankl, V. E. (2012). Logoterapia e análise existencial: textos de seis décadas. Rio de Janeiro:
Forense Universitária.

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