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LIVRO I – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

CONCEITO E ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA OBRIGAÇÃO

● Conceito: A obrigação é o vínculo jurídico ou permissão normativa que dá ao


credor o direito de exigir do devedor uma determinada prestação (dar, fazer ou
não fazer alguma coisa), que atenda integralmente aos seus interesses.

● São três os elementos constitutivos da obrigação: o elemento subjetivo ou


pessoal representado pelos sujeitos ativo (credor) e passivo (devedor); o
elemento objetivo ou material, representado pelo objeto da prestação; e o
elemento espiritual ou imaterial, representado pelo vínculo jurídico ou liame que
liga os sujeitos.

FONTES DAS OBRIGAÇÕES

As fontes da obrigação consitem no fato jurídico que gera a relação


obrigacional.

Pode resultar tanto da vontade do Estado, através da Lei, quanto da vontade


das partes, através dos contratos (fonte negocial mais relevante para o
Direito das Obrigações), declarações unilaterais (como o testamento e a
promessa de recompensa) e da prática de atos ilícitos (comportamento
humano voluntário, contrário ao direito, e causador de prejuízo de ordem
material ou moral).

CONCEITOS IMPORTANTES

As obrigações propter rem são denominadas como obrigações hibridas, ou


ambulatórias, como bem explica Tartuce , por manterem-se entre os direitos
patrimoniais e os direitos reais, perseguindo a coisa onde quer que ela esteja,
ou seja, tem caráter hibrido por não decorrer da vontade do titular, mas ainda
sim decorrer da coisa.

Exemplo: a obrigação do proprietário do imóvel pagar as despesas de


condomínio, uma vez que o adquirente do imóvel em condomínio edilício
responde por tais débitos, que acompanham a coisa para onde quer que ela
vá.

CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

● A obrigação pode ser positiva (dar coisa certa, dar coisa incerta, restituir e
fazer) ou negativa (não fazer).

● Obrigação de dar: É a obrigação de efetuar a tradição, quer a tradição


efetiva ou real, no caso dos móveis, quer a tradição ficta, no caso dos imóveis.
Se o objeto da prestação já estiver certo e determinado se terá a obrigação de
dar coisa certa na qual o devedor não se desobrigará oferecendo outra coisa,
ainda que mais valiosa.

ART.233

● O preceito contido no artigo trata-se da aplicação da regra geral do direito


romano acessorium sequitur principale, segundo o qual o acessório tem o
mesmo destino que o principal.

● O próprio artigo, no entanto, faz uma ressalva a natureza do contrato ou as


circuntâncias do caso.

ART.234

● Ocorrendo perda total, sem culpa do devedor, ou seja, em decorrência de


caso fortuito ou força maior, resolve-se a obrigação, aplicando-se a antiga
regra do direito romano res perit domino, segundo a qual a coisa perece para o
dono, o que equivale dizer que apenas o proprietário da coisa arcará com o
prejuízo. Como ainda não houve tradição, a coisa pertence ao devedor, que
está obrigado apenas a devolver ao credor o que já houver recebido pelo
negócio.

● Havendo culpa do devedor, o credor tem direito de receber o equivalente do


objeto perecido, ou seja, o valor que a coisa tinha na data do perecimento,
além das perdas e danos.

ART.235

● A deterioração é a perda parcial ou danificação da coisa. Ocorrendo antes


da tradição, o prejuízo será, novamente, suportado pelo dono ou devedor. Ao
credor se abre duas saídas: ou abate do preço o valor correspondente à
depreciação, se o aceitar receber a coisa danificada, ou resolve a obrigação.

ART.236

● Na hipótese de culpa (deterioração), prevista por este artigo, ainda o credor


tem opção: ou recebe o equivalente, que é representado pelo valor da coisa,
mais perdas e danos; ou recebe a coisa, com indenização por perdas e danos.

ART.237

● Da mesma forma como, havendo perda ou deterioração da coisa, o prejuízo é


do devedor (dono), havendo acréscimo, o lucro deve ser dele, salvo dispondo o
contrato de modo diverso. Assim, como a coisa há de ser entregue na sua
integralidade, ou seja, com todos melhoramentos e acréscimos, poderá o
devedor de boa-fé postular ao credor aumento no preço ou resolver a
obrigação se o credor não concordar em pagar pela valorização decorrente dos
ascréscimos.
● O parágrafo único dispõe que os frutos ainda não percebidos (pendentes)
seguem a regra geral de que o acessório acompanha o principal, pertencendo,
portando, ao credor. Se já tiverem sido percebidos, pertencem ao devedor,
que, antes da tradição, era o dono da coisa principal.

ART.238

● Obrigação de restituir: na obrigação de restituir, o dono da coisa é o credor,


ao contrário da obrigação de dar, em que a coisa pertence ao devedor até o
momento da tradição.

● Nesse caso, a perda da coisa resolve a obrigação, com prejuízo do credor,


seu proprietário, salvo, naturalmente, se tiver havido culpa do devedor.

ART.239

Havendo culpa do devedor no perecimento, o credor não suportará prejuízo


algum. O devedor, além de restituir o equivalente em dinheiro, indenizará o
credor pelos danos materiais e imateriais eventualmente suportados.

ART.240

No caso da deterioração, se não houver culpa do devedor, o credor, que é


dono da coisa, fica com o prejuízo: receberá de volta a coisa danificada, sem
direito a qualquer indenização. Havendo culpa do devedor, o credor ou
receberá a coisa danificada ou o valor equivalente da coisa, em ambos os
casos cabendo perdas e danos.

ART.241

Na obrigação de restituir o princípio é o mesmo do art.237. Os acréscimos e a


valorização ocorridos antes da tradição e decorrentes de fatos naturais para os
quais não contribuiu o devedor pertencem ao dono da coisa, que aqui vem a
ser o credor.

ART.242

O devedor de boa-fé que houver contribuído para o acréscimo tem direito a


indenização pelos melhoramentos considerados úteis e necessários e a
levantar os voluptuários (obras de embelezamentos, aquelas que não ha
necessidade de troca mas querem fazer por capricho ), bem como de exercer o
direito de retenção, até que o credor venha a indenizá-lo.

Se estiver de má-fé, terá direito apenas de indenização pelas benfeitorias


necessárias, desde que existentes ao tempo da restituição, mas não poderá
levantar as voluptuárias nem poderá exercer o direito de retenção.

ART.243
Das obrigações de dar coisa incerta: cuja prestação consiste na entrega de
coisa especificada apenas pela espécie e quantidade. É o que ocorre quando o
sujeito se obriga a dar duas sacas de café, por exemplo, sem determinar a
qualidade. Trata-se das chamadas obrigações genéricas.

Quantidade
Coisa incerta Gênero
Qualidade

ART.244

Seguindo a regra geral, a concentração do débito se efetuará por atuação do


devedor, se o contrário não resultar da obrigação. Essa liberdade de
escolha, todavia, não é absoluta, uma vez que o devedor não poderá dar a
coisa pior, nem será obrigado a dar a melhor.

Em tais hipóteses, ao devedor se impõe escolher a coisa pela média. Todavia,


essa regra é uma regra legal supletiva, que só poderá ser invocada se nada
houver sido estipulado no título da obrigação.

ART.245

Feita a escolha e dela cientificado o credor, a coisa deixa de ser incerta,


transformando-se a obrigação, a partir dali, em obrigação de dar coisa certa,
aplicando-se, portanto, as regras da seção anterior.

ART.246

Se nas obrigações de dar coisa incerta a prestação é inicialmente


indeterminada, não poderá o devedor, antes de efetuada a sua escolha, alegar
perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito. O
gênero, segundo tradicional entendimento, não perece jamais (genus
nunquam perit).

ART.247

Das obrigações de fazer: nessas obrigações, interessa ao credor a própria


atividade do devedor. A prestação do fato poderá ser:

a) Fungível – quando não houver restrição negocial no sentido de que o


serviço seja realizado por outrem.
b) Infungível – quando a pessoa do devedor é eleita em atenção às
qualidades que lhe são próprias, nesses casos a obrigação de fazer é
personalíssima.
O dispositivo trata da obrigação de fazer personalíssima, na qual se o devedor
não cumpre a prestação a que se obrigou, a obrigação se resolve em perdas e
danos.

ART.248

Inexistindo culpa do devedor, resolve-se a obrigação, retomando-se ao statu


quo ante, sem que o credor tenha direito a qualquer reparação, além da
devolução do que eventualmente já houver pago. Se o devedor se houve com
culpa, contribuindo para a impossibilidade da prestação, o credor fará jus,
também, às perdas e danos.

ART.249

Se a obrigação de fazer não é daquelas que só o devedor pode executar


(obrigação infungível), e havendo recusa pelo devedor, pode o credor optar
entre mandar executar a obrigação por terceiro, à custa do devedor, ou
simplesmente receber perdas e danos.

Poderá o credor ainda, em caso de urgência, contratar terceiro para executar


a tarefa, independente de autorização judicial, pleiteando, depois, a devida
indenização.

ART.250

Das obrigações de não fazer: tem por objeto uma prestação negativa, um
comportamento omissivo do devedor.

Caso a obrigação torne-se, sem qualquer culpa do devedor, impossível de ser


cumprida, o vínculo obrigacional resolve-se e as partes retornam ao statuo quo
ante. Isso quer dizer que eventual valor recebido pelo devedor em troca da
abstenção deverá ser devolvida ao credor.

ART.251

À semelhança do artigo 249, o artigo 251 também concede ao credor a


possibilidade de exigir do devedor que desfaça determinado ato ou a
autorização para que tal desfazimento seja efetuado por si ou por terceiro,
no caso de descumprimento da obrigação. Em ambas as situações, a parte
credora estará autorizada a efetuar a cobrança de eventuais perdas e danos
que o descumprimento do devedor tenha lhe gerado.

Igualmente de modo semelhante ao disposto no artigo 249, permite-se que o


credor, em caso de urgência, promova o desfazimento do ato executado pelo
devedor, independentemente do ajuizamento de ação judicial.

ART.252
Das obrigações alternativas: diz-se alternativa a obrigação quando comportar
duas prestações, distintas e independentes, extinguindo-se a obrigação
pelo cumprimento de qualquer uma delas, ficando a escolha em regra com o
devedor e excepcionalmente com o credor.

- cabendo ao devedor a escolha, não poderá ele obrigar o credor a receber


parte em uma prestação e parte em outra (§1°). Cabendo a escolha ao credor,
nesse caso por disposição contratual expressa, não poderá ele exigir do
devedor que pague uma parcela de uma prestação e uma parcela de outra.

- nas obrigações de prestações periódicas, o titular do direito potestativo de


escolher a prestação poderá exercê-lo em cada período.(§2°)

- na pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá


o juiz. (§3°)

- se a opção for deferida a terceiro e este não quiser ou não puder exercê-la,
caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes. (§4°)

ART.253

Se cabia ao devedor a escolha e uma das prestações se impossibilita, quer a


impossibilidade seja natural ou jurídica, quer o devedor tenha agido ou não
com culpa, a solução será uma só: a obrigação ficará concentrada na
prestação remanescente, indiferentemente de manifestação do credor .

Se a escolha era do credor e não houve culpa do devedor, a solução é a


mesma. Se, porém, tiver havido culpa do devedor, na impossibilidade de
uma das prestações, pode o credor optar entre receber a prestação
remanescente ou o equivalente em dinheiro da que se impossibilitou, acrescido
de perdas e danos (art.255).

ART.254

Se houver culpa do devedor, diante da impossibilidade de todas as prestações,


e couber a ele a escolha, a solução encontrada pelo legislador foi a de obrigá-
lo a pagar a que por último se impossibilitou, mais perdas e danos.

ART.255

Se a escolha couber ao credor, pode ele exigir o valor em dinheiro de


qualquer das prestações que se impossibilitaram, além de perdas e danos.

ART.256

A obrigação se exaure por falta de objeto, desde que não tenha havido culpa
do devedor ou do credor.
ART.257

Das obrigações divisíveis e indivisíveis

Obrigação divisível: são aquelas que admitem o cumprimento fracionado ou


parcial da prestação.

Obrigação indivisível: por sua vez, só podem ser cumpridas por inteiro.

O dispositivo trata sobre a obrigação divisível. Não se pode concluir que


determinada prestação não é divisível se concorrer apenas um devedor. É que,
havendo apenas um único obrigado, mesmo que a prestação seja
essencialmente divisível, o credor não é obrigado a receber por partes, se tal
não fora convencionado.

ART.258

Se a prestação tem por objeto “uma coisa ou um fato não suscetíveis de


divisão, por sua natureza”, estaremos diante da indivisibilidade natural ou
material. (obrigação de entregar um cavalo, por exemplo).

O “motivo de ordem econômica” e a “razão determinante do negócio jurídico”,


por sua vez, são expressões utilizadas para caracterizar outras formas de
indivisibilidade. Podem integrar tanto a indivisibilidade legal como a
convencional.

Da natureza das coisas

A indivisibilidade decorre Determinação por Lei

Por vontade das partes

ART.259

Na indivisibilidade da obrigação, nenhum devedor tem a possibilidade de


solver a obrigação por parte. Assim, qualquer credor pode cobrar, por inteiro, a
prestação de qualquer devedor, o qual estará obrigado e sua integralidade. O
devedor não é obrigado a cumprir desse modo, porque deve a prestação
integralmente, mas sim porque é a única forma de cumprir a obrigação (por
inteiro).

O devedor solvente da obrigação indivisível, como não poderia deixar de ser,


fica sub-rogado no direito do credor e poderá exigir dos demais devedores o
que despendeu, descontado daquilo que, efetivamente, devia. A divisão de
responsabilidade entre os devedores será em partes iguais, exceto se houver
disposição contrária no título.

ART.260
Se a pluralidade for de credores, pelas mesmas razões acima indicadas,
poderá qualquer deles exigir a dívida inteira. O devedor (ou devedores) se
desobrigará (desobrigarão) em duas hipóteses:

a) Pagando a todos conjuntamente.


b) Pagando a um, dando este um caução de ratificação dos outros
credores – pode o devedor pagar a apenas um dos credores da
obrigação indivisível, desde que este apresente uma garantia de que os
outros credores ratificam o pagamento.

ART.261

Se o objeto da prestação for fracionável, o credor que recebeu dará a cada


cocredor a sua parte na coisa divisível. Se não for possível o fracionamento,
aplica-se o disposto no presente artigo e o valor a ser exigido pelos demais
credores deve ser apurado de acordo com a parcela que caberia a cada um na
obrigação.

ART.262

Nos casos de obrigação divisível, a remissão da dívida por um dos


cocredores extingue apenas e tão somente a fração da obrigação existente
entre aquele e o devedor comum, mantendo íntegra as demais quota-partes.

Nas obrigações indivisíveis, eventual remissão de dívida por um dos demais


cocredores não altera a prestação e esta continua, integralmente, devida aos
credores. Uma vez quitada, caberá ao devedor a restituição, em dinheiro, da
quota-parte, originalmente, devida ao credor remitente.

ART.263

A indenização pelas perdas e danos é expressa sempre em dinheiro, sendo a


obrigação pecuniária divisível por sua própria natureza.

Se houver culpa de todos os devedores na resolução, todos responderão pela


indenização em partes iguais. Se a só um deles for imputada a culpa, só o
culpado deverá responder por perdas e danos.

ART.264

Das obrigações solidárias

Conceito: existe solidariedade quando, na mesma obrigação, concorre uma


pluralidade de credores, cada um com direito à dívida toda (solidariedade
ativa), ou uma pluralidade de devedores, cada um obrigado à dívida por inteiro
(solidariedade passiva).

ART.265
O artigo elenca as duas únicas fontes da solidariedade: a lei ou a vontade das
partes. Não havendo previsão expressa na lei ou no contrato, presume-se
inexistente a solidariedade.

ART.266

A solidariedade pode ser:

a) Pura e simples.
b) Elemento acidental do negócio jurídico – nesse caso, a lei permite
que se dê tratamento diferenciado aos devedores, admitindo a
coexistência de prestação pura e simples para alguns e condicionada ou
a termo para outros, sem que se destrua a solidariedade.

Os elementos acidentais que se adicionaram ao negócio não prejudicam a


estrutura da solidariedade.

ART.267

Da solidariedade ativa

Eis aqui a essência da solidariedade ativa: o direito que cada credor tem de
exigir de cada devedor a totalidade da dívida e não poder o devedor ou
devedores negarem-se a fazer o pagamento da totalidade da dívida, ao
argumento de que existiriam outros credores.

ART.268

Antes de demandado, o devedor comum se exonera da obrigação pagando


indistintamente a qualquer dos credores solidários.

Iniciada a demanda, o devedor só poderá pagar ao autor da ação e não mais a


quaisquer dos cocredores.

ART.269

Eventual montante parcial da prestação que tenha sido pago a um dos


credores extingue, proporcionalmente, a obrigação.

ART.270

Os herdeiros do credor falecido não podem exigir a totalidade do crédito e sim


apenas o respectivo quinhão hereditário, isto é, a própria quota no crédito
solidário de que o de cujus era titular, juntamente com os outros credores.

Isso não acontecerá, todavia, nas seguintes hipóteses:

a) Se o credor falecido só deixou um herdeiro;


b) Se todos os herdeiros agem conjuntamente;
c) Se indivisível a prestação.

Em qualquer desses casos, pode ser reclamada a prestação por inteiro.

ART.271

A solidariedade, diversamente do que se passa na indivisibilidade, persiste


ainda que haja a sub-rogação da prestação em perdas e danos.

ART.272

Quando o credor solidário, por ato pessoal, libera o devedor do cumprimento


da obrigação (remite a dívida), assume responsabilidade perante os demais
cocredores, que poderão exigir do que recebeu ou remitiu a parte que lhes
caiba. Só que aí cada um só poderá exigir a sua quota e não mais a dívida
toda, uma vez que a solidariedade se estabelece apenas entre credor e
devedor e não entre os diversos credores ou diversos devedores entre si.

ART.273

O dispositivo vem deixar expressa a regra de que as defesas que o devedor


possa alegar contra um só dos credores solidários não podem prejudicar aos
demais. Vale dizer, se a defesa do devedor diz respeito apenas a um dos
credores solidários, só contra esse credor poderá o vício ser imputado, não
atingindo o vínculo do devedor com os demais credores.

ART.274

Instaurando-se demanda judicial entre um dos credores e o devedor, somente


aquele sofrerá as consequências de eventual decisão desfavorável, exceto na
hipóteses em que o objeto do processo interesse a todos.

De outro lado, havendo decisão favorável na demanda judicial, todos os


demais serão beneficiados pelo decisum, exceto quando o benefício se fundar
em direito pessoal do credor que fez parte da relação processual.

ART.275

Da solidariedade passiva

Na solidariedade passiva, cada um dos devedores estará obrigado a cumprir,


integralmente a prestação. Assim, o credor poderá cobrar a dívida da maneira
como melhor lhe convier: ou de todos os devedores, ou, integralmente, de
apenas um deles.

O pagamento parcial da dívida extingue apenas a parcela da obrigação que lhe


é correspondente, mantendo-se a solidariedade entre os devedores no que se
refere ao saldo devido.
Enquanto não for integralmente paga a dívida, mantém-se íntegro o direito do
credor em relação a todos e a qualquer dos outros devedores, não se podendo,
presumir a renúncia de tais direitos do fato de já ter sido iniciada a ação contra
um dos devedores.

ART.276

Podemos vizualizar este dispositivo com a seguinte sistematização:

a) Dívida divisível: nesse caso, a situação varia se o herdeiro for acionado


individualmente ou reunido com os demais herdeiros.
- Acionamento individual: qualquer herdeiro paga apenas sua quota-
parte na herança.
- Acionamento coletivo dos herdeiros: somente reunidos, os
herdeiros podem ser compelidos a pagar toda dívida, pois ocupam a
posição do devedor falecido.
b) Dívida indivisível: qualquer herdeiro, individualmente, pode ser
compelido a pagar tudo, bem como qualquer devedor.

ART.277

Se o credor aceitar o pagamento parcial de um dos devedores, os demais só


estarão obrigados a pagar o saldo remanescente. Da mesma forma, se o
credor perdoar a dívida em relação a um dos devedores solidários (remissão),
os demais permanecerão vinculados ao pagamento da dívida, abatida, por
óbvio, a quantia relevada.

ART.278

Esse dispositivo constitui expressão do tradicional princípio da relatividade


subjetiva, segundo o qual o contrato só produz efeitos entre as partes
contratantes, não atingindo aqueles que não participaram da relação jurídica
obrigacional. A estipulação de qualquer obrigação adicional por um só dos
devedores solidários não vincula os demais.

ART.279

Quanto à responsabilidade dos devedores solidários, se a prestação se


impossibilitar por dolo ou culpa de um dos devedores, todos permanecerão
solidariamente obrigados ao pagamento do valor equivalente. Entretanto,
pelas perdas e danos só responderá o culpado.

ART.280

Ainda que apenas um ou alguns dos devedores tenham acarretado a incidência


de mora, todos os demais ficarão, igualmente, responsáveis perante o credor
pelos juros de mora legais incidentes. A ideia é que qualquer um deles poderia
ter cessado a dívida e evitado a inclusão dos juros moratórios.
Caso um dos devedores seja culpado pela mora no cumprimento da obrigação,
ele ficará responsável perante os demais devedores pelos acréscimos
adicionados à prestação em decorrência dos juros de mora e deverá ressarci-
los de eventuais valores que tenham gasto.

ART.281

O devedor que for demandado poderá opor ao credor as exceções (defesas)


que lhe forem pessoais, e, bem assim, as defesas que forem comuns a todos
os devedores. Não lhe aproveitam, contudo, as exceções ou defesas pessoais
a outro devedor.

ART.282

Se o credor renunciar ou exonerar da solidariedade todos os devedores, cada


um passará a responder apenas pela sua participação na dívida. Extinguir-se-á
a obrigação solidária passiva, surgindo, em seu lugar, uma obrigação
conjunta, em que cada um dos devedores responderá exclusivamente por sua
parte.

Se a exoneração for apenas de um ou de alguns dos codevedores, permanece


a solidariedade quanto aos demais. Nessa outra hipótese, só poderá o
credor acionar os codevedores solidários não exonerados abatendo a parte
daquele a cuja solidariedade renunciou.

ART.283

O codevedor que sozinho paga a dívida, paga além da sua parte e por isso tem
o direito de reaver dos outros coobrigados a quota correspondente de cada um.
É mediante ação regressiva que se restabelece a situação de igualdade entre
os codevedores, pois aquele que paga o débito recobra dos demais as suas
respectivas partes.

ART.284

Se, ao tempo do pagamento, o devedor era insolvente, sua quota-parte deverá


ser dividida de maneira igual entre os demais devedores, de modo que cada
um dos codevedores arque com parcela da quota-parte do insolvente.

Mesmo o devedor liberado da solidariedade pelo credor, também será


responsável por ratear com os demais a quota-parte do codevedor que venha a
se tornar insolvente.

ART.285

Na relação interna entre os codevedores, se algum deles pagar, inteiramente,


dívida que, a despeito de solidária, beneficie, exclusivamente, pelo título ou
pelas circunstâncias, a um dos devedores, este responderá, integralmente,
pelos gastos efetuados.

Exemplo: Relação entre fiador e/ou avalista e o devedor principal, em que este
é o maior beneficiado pelo cumprimento da prestação por seus garantidores. 

DA TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

ART.286

Cessão de crédito

Conceito: cessão de crédito é um negócio jurídico onde o credor de uma


obrigação, chamado cedente, transfere a um terceiro, chamado cessionário,
sua posição ativa na relação obrigacional, independente de autorização do
devedor, que se chama cedido.

Tal transferência pode ser onerosa ou gratuita, ou seja, o terceiro pode


comprar o crédito ou simplesmente ganhá-lo (= doação) do cedente.

A cessão de crédito não poderá ocorrer, porém, em três hipóteses:

a) Se a natureza da obrigação for incompatível com a cessão.


b) Se houver vedação legal.
c) Se houver cláusula contratual proibitiva.

A cláusula proibitiva, porém, não gerará efeitos ao terceiro de boa-fé, se não


houver previsão expressa no próprio instrumento da obrigação.

ART.287

A regra geral é aquela já mencionada anteriormente, ou seja, a de que o


acessório tem o mesmo destino do principal (accessorium sequitur principale),
a não ser que as partes convencionem o contrário.

Como a cessão não interfere na relação obrigacional, que se mantém íntegra,


as garantias reais ou fidejussórias eventualmente prestadas pelo devedor ou
por terceiro estarão compreendidas na cessão do crédito.

ART.288

Para valer frente a terceiros, a cessão de crédito deverá constar de instrumento


público ou, se for celebrada por instrumento particular, deverá resvestir-se das
solenidades, quais sejam, indicação do lugar que foi passado, a qualificação
das partes, a data, o seu objetivo e conteúdo, sendo indispensável, em ambos
os casos, o registro do ato, para que gere efeito erga omnes.

ART.289
A cessão de crédito garantida por hipoteca abrange a garantia (art. 287), e, por
se tratar de crédito real imobiliário, é de toda conveniência para o cessionário
que se proceda à averbação da cessão ao lado do registro da hipoteca.

ART.290

O devedor não precisa autorizar a cessão.

Isso não quer dizer, todavia, que não deva ser notificado a respeito do ato, até
para saber que, a partir daquela comunicação, não pagará mais a dívida ao
credor primitivo (cedente), mas sim ao novo (cessionário).

Dispensa-se, outrossim, a notificação, se o devedor, por escrito público ou


particular, se declarar ciente da cessão realizada.

Não havendo a notificação, a cessão não gerará o efeito jurídico pretendido, e


o devedor não estará obrigado a pagar ao novo credor (cessionário).

ART.291

Ocorrendo pluralidade de cessões, cujo título representativo seja da essência


do crédito, não há maiores problemas. O devedor deve pagar a quem se
apresentar como portador do instrumento.

Caso a entrega do título não seja da natureza do negócio de cessão em


questão, então a prioridade do pagamento se definirá a partir da anterioridade
da notificação de cessão ao devedor. Na hipótese de notificações simultâneas
ou de impossibilidade de prova de anterioridade, o pagamento deverá ser
rateado (dividido) entre os múltiplos cessionários.

ART.292

Se o devedor não foi notificado da cessão, deve pagar ao credor primitivo. Se


foi notificado mais de uma vez, deve pagar a quem apresentar o título da
obrigação cedida, salvo se a obrigação constar de escritura pública, hipótese
em que prevalecerá a anterioridade da notificação.

ART.293

A notificação do devedor é requisito de eficácia do ato, quanto a ele, devedor.


Mas não impede o cessionário de se investir em todos os direitos relativos
ao crédito cedido, podendo não só praticar os atos conservatórios, mas todos
os demais atos inerentes ao domínio, inclusive ceder o crédito a outrem. A
cessão de crédito produz efeitos imediatamente nas relações entre cedente e
cessionário. Assim, todas as prerrogativas que eram do cedente passam de
logo ao cessionário. Apenas a eficácia do ato frente ao devedor fica
dependente da notificação.
ART.294

Essa regra, reveste-se da mais alta importância prática, e significa que o sujeito
passivo da obrigação poderá defender-se, utilizando as “armas jurídicas”
que apresentaria contra o cedente.

Assim, se o crédito foi obtido mediante erro ou lesão, por exemplo, poderá opor
essas exceções à cessão do crédito. Da mesma forma, poderá provar que já
pagou, ou que a dívida fora remitida (perdoada).

ART.295

Nas cessões onerosas, o cedente sempre será responsável pela existência


do crédito. Importante ressaltar que não se trata apenas de existência material
do crédito, mas a existência em condições de permitir ao adquirente desse
crédito o exercício dos direitos de credor, vale dizer, a viabilidade do exercício
da cessão.

Nas cessões gratuitas, o cedente só será responsabilizado, inclusive pela


existência do crédito, se tiver agido de má-fé.

ART.296

Não está o cedente, em regra, obrigado pela liquidação do crédito, salvo


se tiver agido de má-fé, como se dá nos casos em que, já sabendo da
insolvência do devedor, afirma o contrário, induzindo o cessionário a celebrar
um negócio que lhe será prejudicial.

ART.297

Por outro lado, nada impede que, no ato de transmissão do crédito, o cedente
expressamente se responsabilize pela solvência do devedor. Nesse caso,
além de garantir a existência do crédito, torna-se corresponsável pelo
pagamento da dívida, até o limite do que recebeu do cessionário, ao que se
acrescem juros, bem como a obrigação de ressarcimento das despesas da
cessão e as que o cessionário houver feito para a cobrança da dívida. Trata-se
da denominada cessão pro solvendo, a qual exige prévia estipulação
contratual.

ART.298

Vale registrar, ainda, que, uma vez penhorado um crédito, este não mais
poderá ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora. No
entanto, se o devedor não tiver conhecimento da penhora e pagar ao
cessionário, ficará desobrigado, restando apenas ao terceiro prejudicado
entender-se com o credor.

ART.299
Assunção de dívida

Conceito: negócio jurídico por meio do qual o devedor, com expresso


consentimento do credor, transmite a um terceiro a sua obrigação. Cuida-se de
uma transferência debitória, com mudança subjetiva na relação obrigacional.

Como haverá alteração subjetiva na relação-base, e ao se considerar que o


patrimônio do devedor é a garantia da satisfação do crédito, o credor deverá
anuir expressamente, para que a cessão seja considerada válida e eficaz.

A importância do consentimento é de tal fora, que o silêncio é qualificado


como recusa.

Nota-se que a lei não admite a exoneração do devedor se o terceiro, a quem se


transmitiu a obrigação, era insolvente e o credor o ignorava (não sabia).

A assunção de dívida poderá se dar por duas formas:

a) Por expromissão - hipótese em que o terceiro assume a obrigação,


independentemente do consentimento do devedor primitivo
b) Por delegação - decorre de negócio pactuado entre o devedor originário
e o terceiro, com a devida anuência do credor

ART.300

Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a


partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente
dadas ao credor.

ART.301

Se o contrato de assunção vier a ser anulado ou declarado nulo, ocorre o


renascimento da obrigação para o devedor originário, com todos os seus
privilégios e garantias, salvo as que tiverem sido prestadas por terceiro.

E a razão dessa regra é bastante simples: se a substituição do devedor não


ocasiona alteração na relação obrigacional, que permanece intacta, com todos
os seus acessórios, também se mantém inalterada a obrigação se a
substituição é invalidada, retornando o primitivo devedor ao polo passivo.
Entretanto, as garantias especiais prestadas por terceiros, e que haviam sido
exoneradas pela assunção, não podem ser restauradas, em prejuízo do
terceiro, salvo se este tinha conhecimento do defeito jurídico que viria pôr
fim à assunção.

ART.302
O assuntor só pode alegar contra o credor as exceções derivadas da própria
obrigação assumida, não lhe cabendo invocar as defesas pessoais que
derivem da relação existente entre o devedor primitivo e o credor.

ART.303

Por fim, cumpre-nos advertir que o adquirente de um imóvel hipotecado poderá


assumir o débito garantido pelo imóvel. Em tal hipótese, se o credor
hipotecário, notificado, não impugnar em trinta dias a cessão do débito,
entender-se-á válido o assentimento. Trata-se de uma exceção, admitida
pela própria lei, à regra geral de que o credor deve anuir sempre de forma
expressa.

DO ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES

➯ Principal e corriqueira forma de extinção das obrigações. Desempenho


voluntário da prestação devida.

É importante a abordagem de seus elementos subjetivos (pessoas envolvidas),


do seu conteúdo (objeto), do seu lugar e do seu tempo . Em suma, são
respondidas as seguintes questões sobre o pagamento: quem, o que, onde e
quando.

ART. 304, 305 CC


DE QUEM DEVE PAGAR (SOLVENS)

Diferente do que se possa imaginar não é apenas o devedor que está


legitimado para efetuar o pagamento. Também poderá solver o débito pessoa
diversa do devedor – o terceiro – esteja ou não juridicamente interessada
no cumprimento da obrigação.

A norma indica duas espécies de terceiro:

Terceiro interessado: pessoa que sem integrar o polo passivo da obrigação-


base, encontra-se juridicamente ligado ao pagamento da dívida. Ex- fiador.

Há sub-rogação deste nos direitos do credor, quer dizer, o terceiro assume a


posição do credor primitivo no polo ativo da obrigação. Por esse motivo,
poderá exigir do devedor aquilo que desembolsou, valendo-se, inclusive, de
eventuais garantias, multas, juros e demais acessórios da obrigação.

Não pode o devedor impedir o pagamento do terceiro interessado.

Terceiro não interessado: pessoa que não guarda vinculação jurídica com a
obrigação-base, por nutrir interesse meramente moral.

em tais casos, duas regras devem ser observadas:


1- Paga a dívida em nome e à conta do devedor : sem oposição deste, não
terá direito a nada, pois é como se fizesse uma doação, um ato de
liberalidade.
2- Paga a dívida em seu próprio nome : tem direito a reembolsar-se no que
pagou, mas não sub-roga nos direitos do credor. Direito ao reembolso
no seu vencimento.

ART. 306 CC

Não é algo comum alguém se predispor a pagar a dívida de outrem. O direito


não ignora pessoas que movidas por razões egoístas, se valem da legitimidade
conferida a terceiro não interessado.

Para evitar tais situações o código civil reconhece ao devedor a faculdade de


opor-se ao pagamento da dívida por terceiro, quando houver justo motivo
para tanto.

Havendo desconhecimento ou oposição do devedor, e o pagamento ainda


assim se der, não haverá obrigação de reembolso do devedor, se provar que
tinha meios para ilidir a ação, ou seja, para solver a obrigação.

ART. 307 CC

O pagamento que importar em alienação (obrigação de dar) não terá eficácia


se feito por quem não era dono da coisa (alienação a non domino).

Se, todavia, se der em pagamento de coisa fungível, não poderá mais


reclamar do credor que, de boa-fé, recebeu e consumiu, mas do próprio
devedor, as perdas e danos devidas por força da alienação indevida.

ART. 308 CC

Daqueles a quem se deve pagar (accipiens)

O pagamento só produzirá eficácia liberatória da dívida quando feito ao


próprio credor, seus sucessores ou representantes. Essa é a regra geral.
Será eficaz também se, feito a um estranho, vier a ser posteriormente
ratificado pelo credor, expresso ou tacitamente. Ou ainda se converter em
utilidade ao credor.

ART. 309 CC

Credor putativo: É aquele que, não só à vista do devedor, mas aos olhos de
todos, aparenta ser o verdadeiro credor ou seu legítimo representante.

A condição de eficácia do pagamento feito ao credor putativo é a boa-fé do


devedor, caracterizada pela existência de motivos objetivos que o levaram
acreditar tratar-se do verdadeiro credor.
Efetivado o pagamento nessas condições, fica o devedor exonerado, só
cabendo ao verdadeiro credor reclamar o seu débito do credor putativo, que o
recebeu indevidamente. Ação de regressão.

ART 310 CC

Não vale o pagamento – no sentido de ser ineficaz – cientemente feito ao


credor incapaz de quitar, se o devedor não provar a reversão do valor pago
em seu benefício. Essa incapacidade significa falta de autorização, ou mesmo
incapacidade absoluta ou relativa daquele que recebeu.

ART.311 CC

Deve ser considerado como autorizado a receber o pagamento aquele que está
munido do documento da quitação (recibo), salvo se as circuntâncias
afastarem a presunção relativa desse mandado tácito. Havendo controvérsia
sobre o portador da quitação, não terá eficácia o pagamento.

ART. 312 CC

O pagamento é feito ao verdadeiro credor mas, mesmo assim, não tem


eficácia, vez que o credor estava impedido legalmente de receber. A penhora
retira o crédito da esfera de disponibilidade do credor, razão por que ele não
pode recebê-lo. Se o devedor é intimado de penhora incidente sobre o
crédito ou de impugnação judicial oposta por terceiros e, ainda assim,
paga ao credor, estará pagando mal, e corre o risco de vir a ser compelido a
pagar novamente.

ART.313 CC

Do objeto do pagamento e sua prova

Pode o credor se negar a receber o que não foi pactuado, mesmo sendo a
coisa mais valiosa.

ART.314 CC

Princípio da realização integral do pagamento: O devedor não pode


compelir o credor a receber a prestação em parcelas, nem este poderá
compelir o devedor a pagar por partes. As prestações parciais só são admitidas
quando houver previsão específica no contrato ou assentimento expresso
das partes.

ART.315 CC

As dívidas em dinheiro devem ser pagas em moeda nacional corrente e pelo


valor nominal (princípio do nominalismo).
ART.316 CC

O dispositivo permite a atualização monetária das dívidas em dinheiro e


daquelas de valor, ao dispor sobre a possibilidade de as partes
convencionarem o aumento progressivo das prestações sucessivas. É o
que a doutrina convencionou chamar de “cláusula de escala móvel”,
mediante a qual o valor da prestação será automaticamente reajustado, após
determinado lapso de tempo, segundo índice escolhido pelas partes.

ART.317 CC

Adota a teoria da imprevisão, a fim de permitir que o valor da prestação seja


corrigido por decisão judicial, sempre que houver desproporção entre o que
foi ajustado durante a celebração do contrato e o valor da prestação na época
da execução.

“Resultou, da antiga cláusula rebus sic stantibus a ‘teoria da imprevisão’, com a preocupação
moral e jurídica de evitar graves injustiças, ao ser exigido cumprimento de contratos que não
tenham execução imediata, na forma estipulada, admitindo-se sua revisão ou resolução, por
meio de intervenção judicial, se as obrigações assumidas tornarem-se excessivamente
onerosas pela superveniência de fatos anormais e imprevisíveis à época da vinculação
contratual”

ART.318 CC

São nulas quaisquer estipulações de pagamento em ouro ou em outra espécie


de moeda que não fosse a nacional, salvo previsão em legislação específica.

ART.319,320 CC

O devedor que paga tem direito à quitação fornecida pelo credor e


consubstanciada em um documento conhecido como recibo.

Quitação: prova efetiva de pagamento, sendo o documento pelo qual o credor


reconhece que recebeu o pagamento, exonerando o devedor da relação
obrigacional.

Nesse sentido o devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter
o pagamento enquanto não lhe seja dada.

São requisitos da quitação: o valor e a espécie da dívida, o nome do devedor


ou de quem por este pagou, o tempo e lugar do pagamento, assinatura do
credor ou de representante.

Pode ocorrer, todavia, que o pagamento seja efetuado, e o devedor, por


inexperiência ou ignorância, não exija a quitação de forma regular,
quebrando os requisitos acima mencionados. Nesse caso, no parágrafo único
do art.320, há possibilidade de se admitir provado o pagamento se “de seus
termos ou circunstâncias resultar haver sido paga a dívida”.
ART.321 CC

nos débitos cuja quitação consista na devolução de título (ex:nota promissória),


uma vez perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, uma
declaração do credor que inutilize o título desaparecido.

Essa previsão tem por objetivo proteger futuramente o devedor para que o
título não seja cobrado novamente.

ART.322 CC

Nas obrigações de prestações sucessivas, a exemplo dos contratos de


locação, o pagamento da última parcela faz supor (presunção juris tantum) que
as anteriores estejam pagas.

A razão dessa presunção reside no ponto de não ser natural ao credor receber
a cota subsequente sem que as anteriores tenham sido adimplidas.

ART.323 CC

A regra geral já explicitada em comentários anteriores é a de que o acessório


acompanha o principal. Assim, é de presumir que a quitação liberatória da
obrigação principal também libere o devedor da obrigação acessória, que não
tem existência autônoma.

A presunção, no entanto, tal qual a estabelecida no artigo anterior, é juris


tantum, cabendo ao credor provar que não recebeu os juros.

ART.324 CC

A entrega do título (nota promissória, cheque, letra de câmbio, etc) ao devedor


firma a presunção do pagamento. No que se refere a essa presunção, a lei
prevê um prazo decadencial de sessenta dias para que o credor prove a
inocorrência do pagamento.

ART.325 CC
Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação.
Eventualmente, se ocorrer aumento dessas despesas por fato imputável ao
credor, suportará este a despesa acrescida.

ART.326 CC
Se houver o pagamento por medida ou peso, deve-se entender, no silêncio das
partes, que aceitaram os critérios do lugar da execução da obrigação.

ART. 327 CC

Lugar do pagamento: É o local onde deve ser cumprida a obrigação.


Dívidas quesíveis e portáveis: Diz-se quesível ou quérable a dívida que
houver de ser cobrada pelo credor, no domicílio do devedor. Compete ao
credor procurar o devedor para receber o pagamento. Portável ou portable é
a dívida que deve ser paga no domicílio do credor. Cabe ao devedor portar,
levar, o pagamento até a presença do credor.

O lugar do pagamento é de livre convenção das partes, daí que a regra geral
da dívida quesível só tem aplicação quando os contratantes não
convencionarem do modo diverso. E mesmo no silêncio do contrato, muitas
vezes as circunstâncias da avença, a natureza da obrigação ou a própria lei é
que determinam o lugar do pagamento.

Se o contrato estabelecer mais de um lugar para o pagamento, caberá ao


credor, e não ao devedor, escolher aquele que mais lhe aprouver.

ART.328 CC

Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas


ao imóvel, o pagamento será feito no lugar onde se situar o bem.

ART.329 CC
O devedor, sem prejuízo ao credor, e havendo motivo grave, poderá efetuar o
pagamento em lugar diverso do estipulado.

ART.330 CC
O pagamento feito reiteradamente em outro local faz presumir a renúncia do
credor ao lugar previsto no contrato.
Supressio- supressão, por renúncia tácita, de direito ou posição jurídica, pelo
seu não exercício com o passar do tempo. (credor)
Surrectio- direito a favor do devedor, direito que não existia até então, mas
decorre da efetividade social, de acordo com os costumes.

ART.331 CC

Do tempo do pagamento

Em princípio, todo pagamento deve ser efetuado no dia do vencimento da


dívida.

Na falta de ajuste, e não dispondo a lei em sentido contrário, poderá o credor


exigir o pagamento imediatamente. Tal regra somente se aplica as
obrigações puras.

ART.332 CC

Obrigações condicionais: São aquelas cujo cumprimento se encontra


subordinado a evento futuro e incerto. Ou seja, a obrigação só se implementa
após o advento da condição. Dependendo da natureza da condição, a
obrigação condicional pode ser suspensiva ou resolutiva. No primeiro
caso, a eficácia do negócio jurídico fica postergada até o advento da condição.
No segundo, é a ineficácia do ato negocial que fica a depender de evento
futuro e incerto.

ART.333 CC
Finalmente, é possível ao credor exigir antecipadamente o pagamento:

a) no caso de falência do devedor ou de concurso de credores.


b) se os bens, hipotecados ou empenhados (objeto de penhor), forem
penhorados em execução de outro credor.
c) se cessarem, ou se tornarem insuficientes, as garantias do débito,
fidejussórias (fiança, por ex.), ou reais (hipoteca, penhor, anticrese), e o
devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO

ART.334

Trata a consignação em pagamento do instituto jurídico colocado à disposição


do devedor para que, ante o obstáculo ao recebimento criado pelo credor ou
quaisquer outras circunstâncias impeditivas do pagamento, exerça, por
depósito da coisa devida, o direito de adimplir a prestação, liberando-se do
liame obrigacional.

Natureza jurídica: se trata de uma forma de extinção das obrigações,


constituindo-se em um pagamento “indireto” da prestação avençada.

ART.335

O dispositivo apresenta uma relação de hipóteses em que a consignação pode


ter lugar:

a) Se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o


pagamento, ou dar a quitação na devida forma.
b) Se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e
condição devidos.
c) Se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado
ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil.
d) Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do
pagamento.
e) Se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

ART.336

Todas as condições subjetivas e objetivas da obrigação deverão estar


presentes para que a consignação seja válida e eficaz.
Em relação às pessoas, a consignação deverá ser feita pelo devedor, ou
quem o represente, em face do alegado credor, sob pena de não ser
considerado válido.

Em relação ao objeto, é óbvio que o pagamento deve ser feito na


integralidade, uma vez que o credor não está obrigado a aceitar pagamento
parcial.

Quanto ao modo, da mesma forma não se admitirá modificação do estipulado,


devendo a obrigação ser cumprida da mesma maneira como foi concebida
originalmente.

Por fim, quanto ao tempo, também não se pode modificar o pactuado.

ART.337

Nem o credor nem o devedor podem ser compelidos a se deslocar para local
diverso do determinado originalmente, para o cumprimento da obrigação.
Assim, o foro competente para ajuizamento da ação é aquele local do
pagamento da obrigação.

Como a consignação é modalidade especial de pagamento, o depósito da


coisa libera o devedor dos efeitos da mora, afastando, por conseguinte, os
juros do débito e os riscos pelo perecimento da coisa.

ART.338

Antes de o credor declarar se aceita ou não a coisa depositada, o devedor está


autorizado a efetuar o seu levantamento, desde que arque com as respectivas
despesas processuais.

Nesse caso, não tendo havido o pagamento, o devedor continua responsável


por todos os efeitos decorrentes do inadimplemento.

ART.339

Julgado procedente o pedido consignatório, irá se operar a extinção do vínculo


obrigacional, não cabendo mais ao devedor pleitear levantamento do depósito,
salvo se o credor e todos os demais coobrigados pelo débito consentirem.

ART.340

O dispositivo em questão confere efeito semelhante ao previsto no artigo


precedente (CC, art. 339), nos casos em que, após o credor ter impugnado ou
aceitado o depósito, for realizado o levantamento do bem, sem a anuência dos
fiadores e codevedores. Também nessas hipóteses os fiadores e codevedores
estarão exonerados da obrigação.
ART.341

Na consignação de imóvel, o credor será citado para recebê-los ou ser imitido


na posse do bem.

ART.342

• Competindo a escolha ao credor, há de ser ele citado para exercer o seu


direito, no prazo assinalado pelo juiz. Não atendendo à citação, transfere-se ao
devedor o direito de escolher a coisa a ser depositada. Feita a escolha pelo
devedor, far-se-á nova citação ao credor para vir ou mandar receber a coisa,
sob pena de ser depositada.

ART.343

É ônus do devedor, antes do recebimento espontâneo do bem pelo credor ou


da procedência da ação, o recolhimento das despesas inerentes à distribuição
da demanda judicial. Será somente no caso de haver o levantamento do bem
pelo credor ou da procedência da ação que este ficará responsabilizado pelas
despesas processuais.

ART.344

• Obrigação litigiosa: É aquela objeto de litígio ou de demanda judicial.

o litígio não impede o pagamento no tempo oportuno; mas o devedor deve


fazê-lo por consignação.

ART.345

A ação de consignação, em regra, é privativa do devedor que pretende


exonerar-se da obrigação. Excepcionalmente, em caso de litígio de credores
sobre o objeto da dívida, poderá a consignatória ser proposta por um dos
credores litigantes, logo que se vencer a dívida, ficando de logo exonerado o
devedor e permanecendo a coisa depositada até que se decida quem é o
legítimo detentor do direito creditório.

DO PAGAMENTO COM SUB-ROGAÇÃO

Sub-rogação: consiste na substituição de uma coisa ou pessoa por outra, daí


a divisão entre sub-rogação real (O objeto da relação jurídica é substituído) e
pessoal (A posição creditória é substituída).

Vamos nos ater a sub-rogação pessoal.

Conceito: quando um terceiro paga ou empresta o necessário para que o


devedor solva sua obrigação, irá se operar a transferência dos direitos e,
eventualmente, das garantias de credor originário para terceiro. Há uma
substituição de sujeitos no polo ativo da relação obrigacional.
Há dois efeitos necessários da sub-rogação: liberatório (pela extinção do
débito em relação ao credor original) e translativo (pela transferência da
relação obrigacional para o novo credor)

A sub-rogação pode ocorrer por imposição da lei (sub-rogação legal, art 346)
ou do contrato (sub-rogação convencional, art 347)

ART.346

Configura-se a sub-rogação legal, ou seja, de pleno direito em tais hipóteses:

- Em favor do credor que paga a dívida do devedor comum

- Em favor do adquirente do imóvel hipotecado, que paga ao credor hipotecário,


bem como terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado do direito
sobre o imóvel.

- Em favor de terceiro interessado, que paga a dívida pela qual podia ser
obrigado, no todo ou em parte.

Hipótese mais comum da sub-rogação legal. É o que acontece quando o fiador


paga a dívida do devedor principal ou quando um dos devedores solidários
paga a dívida ao credor comum.

Tais hipóteses devem ser interpretadas restritivamente, por serem relacionadas


de forma taxativa.

ART.347

Trata da sub-rogação convencional, a qual as próprias partes admitem a sub-


rogação por simples estipulação contratual.

O código admite duas hipóteses:

- Quando o credor recebe pagamento de terceiro e expressamente lhe


transmite todos os seus direitos. É o caso do pagamento feito por terceiro não
interessado, ou seja, que não tenha nenhum interesse jurídico com a
obrigação.

- Quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a


dívida, sob condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do
credor satisfeito. É o caso do mútuo, empréstimo de dinheiro para quitar a
dívida. Nesse caso a pessoa que emprestou o dinheiro (mutuante) para que o
devedor (mutuário) pagasse a dívida ficará sub-rogada nos direitos do credor
satisfeito.

ART.348
São aplicáveis à modalidade de sub-rogação convencional (art.347, I) a regras
sobre cessão de crédito.

ART.349

Efeitos da sub-rogação. O principal efeito da sub-rogação é transferir ao novo


credor “todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação
a dívida, contra o devedor principal e seus fiadores.”

ART.350

Exemplo- se a dívida for no valor de R$ 1.000 e o terceiro interessado obteve


desconto e pagou apenas R$ 800, só poderá exercer seus direitos e garantias
contra o devedor até o limite da soma que desembolsou para solver a
obrigação (R$ 800). Não poderá cobrar do devedor R$ 1.000, sob pena de
caracterizar enriquecimento ilícito.

O dispositivo trata de uma restrição imposta apenas a sub-rogação legal, haja


vista que, na convencional a restrição teria que estar expressamente
convencionada.

* A doutrina, porém, entende que também é aplicável à sub-rogação


convencional.

ART.351

Se houver concorrência de direitos entre o credor originário e o credor sub-


rogado, ao primeiro assistirá preferência na satisfação do crédito. Trata-se de
uma regra adequada, pela anterioridade do crédito, em virtude da inexistência
de uma solução melhor.

DA IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO

Conceito: ato pelo qual o devedor, de mais de uma dívida da mesma natureza,
a um só credor, escolhe qual delas quer extinguir.

ART.352

Extraem-se os seguintes requisitos da previsão legal:

a) Existência de duas ou mais dívidas


b) Um só devedor/credor
c) Liquidez e vencimento de dívidas da mesma natureza.

ART.353

Compete ao devedor imputar o pagamento a uma das dívidas líquidas, certas e


vencidas que possui junto ao credor. No ato do pagamento, deve ele declarar
qual das dívidas pretende quitar. Se não o fizer e aceitar a imputação feita
pelo credor, não poderá reclamar depois, a não ser provando que o
credor agiu com dolo ou violência (vícios do negócio jurídico).

ART.354

O pagamento, salvo acordo, se imputa primeiro nos juros vencidos e exigíveis


e depois no capital.

ART.355

Trata da imputação legal que tem lugar na ausência de indicação expressa do


devedor ou do credor. Nesse caso, a imputação se fará:

a) Primeiro para as dívidas líquidas e vencidas primeiro.


b) Se vencidas e líquidas ao mesmo tempo, a prioridade é da mais
onerosa.

DA DAÇÃO EM PAGAMENTO

ART.356

Conceito: consiste na realização de uma prestação diferente da que é devida.


Trata-se de uma forma de extinção obrigacional, por força da qual o credor
consente em receber prestação diversa da que fora inicialmente pactuada.

São requisitos da dação em pagamento:

a) Existência de uma dívida vencida


b) O consentimento do credor
c) A entrega de coisa diversa da que é devida
d) O ânimo de solver a obrigação

ART.357

O dispositivo só tem aplicação quando o objeto da dação consistir na entrega


de objeto cujo o preço seja passível de taxação. Fixado o preço serão
aplicadas as regras de compra e venda.

ART.358

Importando a transferência em cessão do crédito dado em pagamento, resulta


a observância do disposto nos arts. 290 a 295 deste Código.

ART.359

Evicção: é a perda da coisa por decisão judicial proferida em ação de


reivindicação proposta pelo legítimo dono. Em tal situação há três sujeitos:

O alienante- que deverá ser responsabilizado pelo prejuízo causado ao


adquirente.
O evicto- o adquirente, que perde a coisa mediante a reivindicação de terceiro.

O evictor- terceiro que prova seu direito sobre a coisa.

Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, a obrigação primitiva


será restabelecida, ficando sem efeito a quitação dada ao devedor.

DA NOVAÇÃO

Se dá a novação quando as partes, por meio de estipulação negocial, criam


uma nova obrigação, destinada a substituir e extinguir a obrigação
anterior.

A novação se caracteriza pelos seguintes requisitos:

a) Existência de uma obrigação anterior.


b) A criação de uma nova obrigação diversa da primeira : não basta a
concessão de um prazo mais favorável ou alteração de uma garantia.
Para novar, as obrigações devem ser substancialmente diversas.
c) Ânimo de novar (animus novandi)
A doutrina aponta duas espécies de novação:

a) Novação objetiva
b) Novação subjetiva

ART.360

Dispõe o art.360, I, sobre a novação objetiva.

Esta ocorre quando as partes de uma relação obrigacional convencionam a


criação de uma nova obrigação, para substituir e extinguir a anterior.

Obs: não se deve confundir a novação objetiva com a dação em pagamento.


Na dação, a obrigação originária permanece a mesma, apenas havendo
modificação do seu objeto. Diferentemente da novação objetiva na qual a
primeira obrigação é quitada e substituída pela nova.

Dispõe o art.360, II e III, sobre a novação subjetiva.

A novação subjetiva se dá em tais hipóteses:

a) Por mudança de devedor – novação subjetiva PASSIVA


b) Por mudança do credor – novação subjetiva ATIVA
A novação subjetiva passiva ocorre quando um novo devedor sucede ao
antigo, ficando este quite com o credor. (art.360,II)

Obs: não se deve confundir, todavia, a novação subjetiva passiva com a


assunção de dívida. Uma vez que na assunção o novo devedor assume a
dívida, permanecendo o mesmo vínculo. Não há o ânimo de novar, extinguindo
o vínculo anterior.

A novação subjetiva ativa ocorre quando opera-se a mudança de credores,


considerando-se extinta a relação obrigacional em face do credor primitivo que
sai e dá lugar a outro. (art.360,III)

Obs: não se deve confundir com a cessão de crédito na qual a obrigação


permanece a mesma, não havendo, portanto, extinção da relação jurídica
primitiva.

ART.361

A intenção de novar é requisito da novação e pode ser tanto expressa no


instrumento, como também decorrer, inequivocamente, das circunstâncias
concretas (tácita). Ausente a intenção de novar, há mera confirmação da
obrigação original.

ART.362

Novação subjetiva passiva – ocorre quando novo devedor sucede ao antigo


e, em geral, independe do consentimento deste. Assume a forma de
expromissão quando o terceiro paga a dívida sem o consentimento do
devedor. Toma a forma de delegação quando feita com a participação do
devedor, que mediante anuência do credor, indica uma terceira pessoa para
resgatar o seu débito.

O art.362 trata apenas da novação expromissória.

ART.363

Nos casos de novação subjetiva e insolvência do novo devedor, o credor não


terá ação contra o antigo devedor, exceto nas hipóteses de má-fé. A solvência
não é requisito de validade da novação e, logo, é ônus do credor averiguar as
condições de liquidez do novo devedor.

ART.364

Sendo a novação um ato liberatório, extinguindo-se a obrigação principal,


ficam extintos os acessórios e garantias, salvo se o contrário for estipulado.

O penhor, a hipoteca ou anticrese são acessórios que se extinguem com a


obrigação principal. Se houver estipulação em contrário, podem esses
acessórios e garantias permanecerem com a novação; mas, se a garantia
pertencer a terceiro, é necessário o consentimento deste. Ou seja, as
garantias reais constituídas por terceiros só passarão ao novo crédito se
os terceiros derem seu consentimento.
ART.365

Ocorrida a novação entre o credor e um dos devedores solidários, o ato só será


eficaz em face do devedor que novou, recaindo sobre seu patrimônio as
garantias do crédito novado, restando, por consequência, liberados os demais
devedores.

Se a novação implica em uma nova obrigação para substituir e extinguir a


anterior, somente o devedor que haja participado desde ato suportará as
consequências.

ART.366

Extinta a dívida pela novação, o mesmo caminho segue seus acessórios, de


que é exemplo a fiança. Para que subsista a fiança é imprescindível que o
fiador consinta em garantir a nova dívida.

ART.367

Nada impede a possibilidade de novação de obrigações anuláveis, visto que


há a confirmação do vínculo no ato da novação.

Nas hipóteses de obrigações nulas ou extintas a impossibilidade de novação


ocorre, visto que não haveria obrigação a ser extinta e substituída.

DA COMPENSAÇÃO

ART.368

Conceito: a compensação é uma forma de extinção das obrigações, em que


seus titulares são, reciprocamente, credores e devedores. Tal extinção se dará
até o limite da existência do crédito recíproco, remanescendo, se houver, o
saldo em favor do maior credor.

ART.369

Duas são as espécies de compensação:

a) Compensação legal
b) Compensação convencional
A compensação legal (tratada no dispositivo) é a regra geral, exigindo para
sua configuração, o atendimento de diversos requisitos legais, são eles:

- reciprocidade de dívidas: as partes devem ser concomitantemente credoras e


devedoras umas das outras.

- liquidez das dívidas: a dívida é líquida quando é certa, quanto a sua


existência, e determinada, quanto a sua quantia.
- exigibilidade atual das dívidas: a compensação só se pode operar entre
dívidas vencidas.

- coisas fungíveis: só se pode compensar coisas fungíveis, ou seja, aquelas


que podem ser substituídas por outras de mesma espécie, qualidade e
quantidade.

ART.370

Se o contrato vier a especificar a qualidade das prestações, embora estas


sejam do mesmo gênero, não poderão ser compensadas se diferirem uma da
outra.

ART.371

A regra geral é a de que a compensação só pode ser oposta pelo próprio


devedor ao próprio credor, ou seja, entre pessoas que são entre si,
reciprocamente, credora e devedora uma da outra. Excepcionalmente admite
o código que o fiador possa realizar a compensação de sua dívida decorrente
de fiança com aquela que o credor tiver com o afiançado.

Ex: No caso concreto, se o locador aciona diretamente o fiador, cobrando


aluguéis em atraso, e este mesmo locador é também devedor do locatário,
pode o fiador invocar a compensação.

ART.372

Prazos de favor: são aqueles concedidos verbalmente pelo credor em atenção


ao devedor. Por se tratar de mera liberdade do credor, o devedor não pode, a
pretexto desse prazo, recusar o encontro da sua dívida com o seu crédito,
alegando que a mesma ainda não venceu.

ART.373

Embora, a causa das dívidas não influa, em regra, na validade do negócio


jurídico e, consequentemente, na utilização do instituto da compensação,
estabelece o artigo, algumas situações em que não é admissível a sua
aplicação:

a) Dívidas provenientes de esbulho, furto ou roubo: a ilicitude do fato


gerador da dívida contamina sua validade.
b) Se uma das dívidas se originar de comodato, depósito ou alimentos: o
comodato e o depósito impedem a compensação por serem objeto de
contrato certo e determinado, inexistindo a fungibilidade entre si
necessária a compensação. Já os alimentos impedem a compensação
por serem dirigidos a subsistência do indivíduo.
c) Se uma das dívidas for impenhorável.
Art.374 (revogado)
ART.375

Por não se tratar de instituto de ordem pública, é facultada a renúncia à


compensação. Esta pode se dar tanto de modo expesso, como também de
modo tácito, o que ocorreria, exemplificativamente, no caso em que o devedor,
embora também seja credor do seu credor, efetue o pagamento do débito.

ART.376

Conforme já dito anteriormente, a compensação, em regra, só pode ser oposta


pelo próprio devedor ao próprio credor. Aquele que se obriga em favor de
terceiro não se pode eximir de sua obrigação, pretendendo compensa-la com o
que lhe deve o credor de terceiro, por faltar o requisito da reciprocidade.

Ex: se um tutor deve ao credor e o credor deve ao tutelado, não pode o tutor
pretender compensar a sua dívida com a dívida que o credor tem para com o
tutelado.

ART.377

O devedor, que pode contrapor compensação ao credor, ao ser notificado por


este da cessão, deve opor-se a ela, cientificando o novo credor da exceção que
iria apresentar para o antigo credor.

Como não há reciprocidade de débitos entre o devedor e o novo credor, se o


devedor não se opuser a cessão, que lhe é notificada, estará renunciando
tacitamente ao direito de compensar.

ART.378

O vencimento em locais diversos não impõe qualquer restrição à compensação


das obrigações, impondo às partes apenas que arquem com as despesas que
se façam necessárias a tanto.

ART.379

Ou seja, cabe ao devedor apontar qual das dívidas pretende compensar. Não o
fazendo, a escolha ficará a cargo do credor.

ART.380

O devedor que se torne credor de seu credor, depois de penhorado o crédito


deste, não pode opor ao exeqüente (quem entra com o processo) a
compensação, de que contra o próprio credor, disporia. A compensação não
pode prejudicar terceiros estranhos à operação .

DA CONFUSÃO

ART.381
Conceito: opera-se quando as qualidades de credor e devedor são reunidas
em uma mesma pessoa, extinguindo-se, consequentemente, a relação jurídica
obrigacional.

A confusão pode derivar de ato mortis causa (sucessão hereditária), embora


nada impeça que se origine de ato inter vivos.

ART.382

Espécies de confusão:

a) Confusão total (de toda a dívida)


b) Confusão parcial (de parte da dívida). Ex: quando o devedor não é o
único herdeiro do de cujos.

ART.383

O principal efeito da confusão é a extinção da obrigação. Entretanto, se a


confusão se der na pessoa do credor ou devedor solidário, a obrigação só será
extinta até a concorrência da respectiva parte no crédito (se a solidariedade for
ativa), ou na dívida (se a solidariedade for passiva), subsistindo quanto ao mais
a solidariedade.

Isso quer dizer que a confusão operada em face de um desses sujeitos não se
transmite aos demais, mantidas as suas respectivas quotas.

ART.384

Cessada a confusão, como no caso de se anular o testamento e o devedor


deixar de ser herdeiro do credor, se restabelece a obrigação, com todos os seu
acessórios.

Nesses casos, diz-se que a confusão apenas paralisou o exercício do direito


pela impossibilidade de o credor exercê-lo contra si mesmo, não se havendo
operado a extinção da dívida. Cessado o impedimento, ressurge o direito com
as garantias acessórias.

DA REMISSÃO DAS DÍVIDAS

ART.385

Conceito: remissão é o perdão da dívida, em que A, credor de B, declara que


não pretende mais exigi-la (por meio de um documento particular, por exemplo)
ou prática ato incompatível com tal possibilidade (devolvendo o título objeto da
obrigação). Porém, é preciso que a remissão seja aceita, tácita ou
expressamente, para produzir efeitos.

Portanto, para caracterizar a remissão da dívida, se faz necessário a presença


de dois requisitos:
a) Ânimo de perdoar.
b) Aceitação do perdão: natureza bilateral da remissão.

ART.386

O dispositivo trata da remissão tácita da dívida, só cabível nas obrigações


contraídas por instrumento particular. Se o credor, voluntariamente, entrega, ao
seu devedor, o título particular da dívida, e este último aceita, houve perdão da
dívida.

ART.387

Sendo o penhor uma obrigação acessória, extinta esta pela renúncia do credor
à garantia real, subsiste a dívida, obrigação principal, salvo se houver quitação
desta.

ART.388

A remissão obtida por um dos codevedores não aproveita aos demais, se


não até a concorrência da garantia remitida. O credor que desobrigou um
dos codevedores não pode exigir dos outros a parte que cabia ao desobrigado,
em face da regra geral de que o acordo do credor com um só dos devedores
não pode agravar a situação dos demais, que não participaram da avença.

DO INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES

ART.389

As obrigações devem ser cumpridas – o adimplemento é a regra.

O inadimplemento é a exceção, por ser uma patologia no direito obrigacional,


que representa um rompimento da harmonia social, capaz de provocar a
reação do credor, que poderá lançar mão de certos meios para satisfazer seu
crédito.

Ocorre inadimplemento normalmente quando o devedor não cumpre a


obrigação (absoluto) ou quando a cumpre imperfeitamente (relativo). Também
se dá o inadimplemento pela “quebra antecipada do contrato”, quando o
devedor, de forma expressa ou tácita, demonstra que não cumprirá a obrigação
nos termos ajustados e pela “violação positiva do contrato” que é o
cumprimento defeituoso da obrigação, que não satisfaz aos interesses do
credor. Em todos esses casos, o devedor responderá pelas perdas e danos,
em face dos prejuízos causados ao credor.

ART.390

Quanto às obrigações negativas, a própria lei dispõe que “o devedor é havido


por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster”.
É o caso do sujeito que, obrigando-se a não levantar o muro, realiza a
construção, tornando-se inadimplente a partir da data em que realizou a obra.

ART.391

Princípio da responsabilidade patrimonial do devedor – não poderá ser


privado de sua liberdade ou de qualquer coisa mais que seu patrimônio, por
conta de dívida civil.

ART.392

Nos contratos benéficos ou não onerosos, a exemplo do comodato, só uma das


partes se beneficia. Logo não seria justo, que a parte, a quem o contrato não
aproveita, respondesse pela simples culpa. Em todo o caso deve responder
pelo dolo, que se constitui pela violação proposital e deliberada daquilo a que
se acha obrigado. O contratante a quem aproveita o contrato unilateral deve
responder pela simples culpa, por isso mesmo que o contrato foi celebrado em
seu benefício.

Nos contratos onerosos, bilaterais ou sinalagmáticos, nos quais são


estabelecidas obrigações para ambas as partes, a exemplo da compra e
venda, é coerente que elas respondam não só por dolo, mas também por
simples culpa.

ART.393

Caso fortuito e força maior: excludentes de responsabilidade contratual.


O devedor não será responsabilizado pelo inadimplemento quando este restar
provado oriundo de caso fortuito ou força maior, a menos que tenha,
expressamente, se obrigado a responsabilizar por eles no contrato.

ART.394

Da mora

Consoante vimos no capítulo anterior, o inadimplemento é considerado


absoluto quando impossibilita, total ou parcialmente, o credor de receber a
prestação devida, quer decorra de culpa do devedor (inadimplemento culposo),
quer derive de evento não imputável à sua vontade (inadimplemento fortuito).

O inadimplemento relativo, por sua vez, ocorre quando a prestação, ainda


passível de ser realizada, não foi cumprida no tempo, lugar e forma
convencionados, remanescendo o interesse do credor de que seja adimplida,
sem prejuízo de exigir uma compensação pelo atraso causado.

Este retardamento culposo no cumprimento de uma obrigação ainda realizável


caracteriza a mora, que tanto poderá ser do credor (mora accipiendi ou
credendi), como também, com mais frequência, do devedor (mora solvendi ou
debendi).

ART.395

Na mora, cabe ao devedor indenizar o credor pelos prejuízos sofridos com o


retardamento. A indenização consistirá sempre em uma soma em dinheiro,
acrescida de juros, ditos moratórios, correção e honorários advocatícios.

Pode o credor rejeitar a prestação e exigir, além da indenização, o valor


correspondente à integralidade da prestação, desde que prove que ela se
tornou inútil em razão da mora.

ART.396

O dispositivo exclui a responsabilidade do devedor por caso fortuito ou força


maior.

ART.397

A estipulação de prazo para o cumprimento da prestação dispensa o credor de


qualquer medida para constituir em mora o devedor, desde que vencido o
prazo e não adimplida a obrigação. A constituição em mora é automática.

Inexistindo prazo de vencimento, a mora só tem início com a interpelação


judicial ou extrajudicial.

ART.398

Aqui, o termo inicial da constituição do devedor em mora é definido em lei: a


data em que praticado o ato ilícito.

ART.399

O dispositivo trata a responsabilidade pelo risco de destruição da coisa devida,


durante o período em que há a mora do devedor. A regra indica que o devedor
poderá ser responsabilizado pela impossibilidade da prestação, ainda que
decorrente de caso fortuito ou de força maior.

Exemplo: Imagine o comodatário que recebeu um puro san-gue, a título de


empréstimo gratuito por quinze dias, e, findo o prazo, atrasa a devolução do
animal. Perecendo o mesmo em decorrência de uma enchente (evento fortuito)
que inundou completamente o pasto onde estava, o devedor poderá ser
responsabilizado com fundamento na referida norma legal.

Entretanto, se provar insenção da culpa – não da decorrência do evento,


obviamente, que poderá ser fortuito! – mas no atraso da prestação (imagine
que o credor não pode receber o animal), ou se provar que o dano so-breviria
mesmo que a prestação fosse oportunamente desempenhada.
ART.400

O dispositivo estabelece os efeitos da mora accipiendi (mora do credor), a


saber:

a) O devedor, desde que não tenha agido com dolo para provocar a mora,
não responderá pelos riscos com a conservação da coisa.
b) As despesas que o devedor tiver com a conservação serão ressarcidas
pelo credor.
c) Se o valor da prestação oscilar entre o dia estabelecido para o
pagamento e o dia do efetivo recebimento, o credor estará obrigado a
receber pelo valor mais favorável ao devedor.
d) O devedor pode desobrigar-se, consignando o pagamento.

ART.401

Purgação ou emenda da mora é a extinção dos efeitos futuros do estado


moroso, em decorrência da oferta da prestação, pelo devedor, acrescida de
todas as perdas e danos até o dia da oferta, ou ainda em face da prontificação
do credor em receber a coisa, pagando todos os encargos advindos com a sua
demora em receber.

Em síntese

Mora
 Devedor não pagou ou credor não quis receber (no tempo, lugar e
forma estabelecidos)
 Devedor responde pelos prejuízos + juros + correção monetária +
honorários.
 Prestação se tornou inútil – credor pode rejeitar e pedir perdas e
danos.
 Sem fato ou omissão imputável ao devedor – não há mora.
 Ato ilícito – mora desde o dia que praticou.
 Purga-se pelo devedor (prestação + prejuízos)
 Purga-se pelo credor (oferecendo-se para receber e sujeitando-se aos
efeitos da mora até esta data)

ART.402

Perdas e Danos

Para haver perdas e danos é necessária a atuação culposa (sentido amplo)


do devedor para que seja responsabilizado.
Pagar “perdas e danos” significa indenizar aquele que experimentou um
prejuízo, uma lesão em seu patrimônio material ou moral, por força do
comportamento ilícito do transgressor da norma.

A legislação não traz uma definição, preferindo simplesmente traçar os seus


contornos, delimitando o seu alcance. Segundo o artigo as perdas e danos
devem abranger:

a) Dano emergente: é a diminuição patrimonial sofrida pelo credor, é


aquilo que ele efetivamente perdeu.
b) Lucros cessantes: consiste na diminuição potencial do patrimônio do
credor, pelo lucro que deixou de auferir.

ART.403

segundo o nosso direito positivo, mesmo a inexecução obrigacional resultando


de dolo do devedor, a compensação devida só deverá incluir os danos
emergentes e os lucros cessantes diretos e imediatos, ou seja, só se deverá
indenizar o prejuízo que decorra diretamente da conduta ilícita (infracional) do
devedor, excluídos os danos remotos.

O devedor responde tão só pelos danos que se prendem a seu ato por um
vínculo de necessidade, não pelos resultantes de causas estranhas ou
remotas.

ART.404

Nas obrigações pecuniárias, as perdas e danos são preestabelecidas. O dano


emergente é a própria prestação, acrescida de atualização monetária, custas e
honorários advocatícios. Os lucros cessantes são representados pelos juros de
mora.

Entendendo os juros moratórios como insuficientes para cobrir os prejuízos


sofridos, poderá o juiz, valendo-se da lei e dos usos e costumes, fixar
complemento de indenização ao credor.

ART.405

A regra geral de contagem dos juros de mora a partir da citação inicial só tem
aplicação quando inexistir regra específica, que pode estabelecer marcos
diferentes para a mora.

Perdas e Danos
 O que perdeu + o que deixou de lucrar (regra)
 Prejuízos efetivos e lucros cessantes.
 São considerados apenas efeitos imediatos e diretos do
inadimplemento. Ainda que por dolo do devedor.
 Perdas e danos: (atualização monetária + juros + custas + honorários
advocatícios.
 juiz pode conceder indenização suplementar se os juros da mora não
cumprir o prejuízo e não houver pena convencional (cláusula penal)
 juros de mora : citação.

JUROS

Os juros podem ser conceituados como frutos civis ou rendimentos, devidos


pela utilização de capital alheio.

Não se pode esquecer que há duas espécies de juros:

a) Juros compensatórios ou remuneratórios – São aqueles que


decorrem de uma utilização consentida do capital alheio (empréstimo).
Obs: por meio de instituição financeira.
b) Juros moratórios – Constituem um ressarcimento imputado ao devedor
pelo descumprimento parcial da obrigação (atraso).

ART.406

Juros moratórios legais: São assim chamados quando estabelecidos em lei,


sempre que as partes não houverem convencionado o seu valor.

A taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, § 1.º, do
Código Tributário Nacional, ou seja 1% (um por cento) ao mês.

Tal limite é aplicável a relações entre particulares. Vale ressaltar que


as instituições financeiras não estão atreladas a qualquer limite.

ART.407

Do art. 407 decorrem dois princípios:

1º) Os juros de mora são devidos, independentemente da alegação do


prejuízo, já que este será sempre decorrente da demora culposa do devedor
em cumprir ou do credor em receber a prestação.

2º) Os juros de mora são devidos, independentemente da natureza da


prestação. Se a obrigação for pecuniária, os juros incidirão sobre a quantia
devida. Se não se tratar de dívida em dinheiro, os juros incidirão sobre o valor
em dinheiro que vier a ser determinado, em sentença, arbitramento ou acordo
das partes, como equivalente ao objeto da prestação descumprida.

Juros legais
 Quando os juros moratórios não forem convencionados.
 Quando juros moratórios convencionados sem taxa estipulada.
 Quando decorrer da lei.
 Taxa: a que estiver em vigor para a mora do pagamento de imposto
devido à fazenda.

ART.408

Cláusula Penal

Cláusula penal ou pena convencional é um pacto acessório em que as partes


contratantes preestabelecem as perdas e danos a serem aplicadas contra
aquele que deixar de cumprir a obrigação ou retardar o seu cumprimento.

Tem a precípua função de pré-liquidar danos, em caráter antecipado, para o


caso de inadimplemento culposo, absoluto ou relativo, da obrigação.

ART.409

Na qualidade de pacto acessório, a cláusula penal é estipulada, em regra, em


conjunto com a obrigação principal, admitindo o Código, no entanto, que seja
convencionada em ato posterior, desde que anteriormente ao inadimplemento
da obrigação.

ART.410

cláusula penal compensatória (estipulada para o caso de descumprimento da


obrigação principal)

O credor poderá, a seu critério, nos termos do art. 410 do CC/2002, exigir a
cláusula penal, ou, se for possível faticamente e do seu interesse, executar o
contrato, forçando o cumprimento da obrigação principal, por meio da
imposição de multa cominatória.

ART.411

Diz-se moratória a cláusula penal estipulada para punir a mora ou a


inexecução de alguma cláusula determinada.

Aqui, ao contrário do artigo anterior, a regra é da cumulação da cláusula penal


com a exigência do cumprimento da obrigação principal.

ART.412

O valor da cláusula penal não pode ser superior ao da obrigação principal sob
pena de se caracterizar enriquecimento ilícito.

ART.413
Tendo em vista esse permissivo legal, concluímos que a redução do valor da
pena convencional poderá se dar em duas hipóteses:

a) se a obrigação já houver sido cumprida em parte pelo devedor — que,


nesse caso, teria direito ao abatimento proporcional à parcela da prestação já
adimplida;

b) se houver manifesto excesso da penalidade, tendo-se em vista a natureza e


finalidade do negócio.

ART.414

Caso a obrigação seja indivisível, a exemplo daquela que tem por objeto a
entrega de um animal, descumprindo a avença qualquer dos coobrigados,
todos incorrerão na pena convencional, embora somente o culpado esteja
obrigado a pagá-la integralmente. Isso quer dizer que os outros devedores, que
não hajam atuado com culpa, responderão na respectiva proporção de suas
quotas, assistindo-lhes direito de regresso contra aquele que deu causa à
aplicação da pena.

ART.415

Por outro lado, sendo divisível a obrigação, como ocorre frequentemente nas
de natureza pecuniária, só incorrerá na pena o devedor ou o herdeiro do
devedor (se a obrigação foi transmitida mortis causa) que a infringir, e
proporcionalmente à sua parte na obrigação.

ART.416

Uma vez ocorrido o descumprimento obrigacional, não precisará o credor


provar o prejuízo, uma vez que este será presumido. Ressalvamos, apenas, a
hipótese de o próprio contrato haver admitido a indenização suplementar,
consoante vimos anteriormente, caso em que o credor deverá provar o prejuízo
que excedeu o valor da pena convencional.

Cláusula Penal
 Devedor não cumpre a obrigação; ou se constitui em mora.
 Pode referir-se a:
1- Inexecução completa
2- Cláusula especial
3- Mora
 Total inadimplemento : CP torna-se alternativa a benefício do credor.
 Nos casos de CP para as hipóteses (2) e (3): credor também pode
exigir a obrigação principal.
 Valor da CP não pode ser maior que da obrigação principal.
 Redução equitativa pelo juiz: obrigação cumprida em parte ou
montante manifestamente excessivo.
 Não necessita que o credor alegue prejuízo.

ART.417

Arras ou sinal

Conceito: é a quantia em dinheiro ou outro bem móvel que um dos


contratantes antecipa ao outro, com o objetivo de assegurar o cumprimento da
obrigação, evitando o seu inadimplemento. Não se confunde com a cláusula
penal, que só pode ser exigida após o inadimplemento, enquanto as arras são
pagas de forma antecipada, justamente para evitar o descumprimento do
contrato.

Exemplo: imagine-se o caso em que é celebrado um compromisso de compra


e venda de imóvel com valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Para tornar
definitivo o contrato o comprador paga R$ 10.000,00 (dez mil reais) ao
vendedor.

Se a obrigação vem a ser cumprida normalmente, as arras deverão ser


descontadas do valor da prestação total.

ART.418

Regra Geral

Quem deposita as arras Desistiu (não executou o contrato)

Consequência:

Quem recebeu as arras Vai reter o valor das arras.

Descumprimento contratual por parte de quem deu as arras.

Quem recebe as arras Desistiu (não executou o contrato)

Consequência:

Quem depositou recebe o valor da arras + equivalente. (recebe em dobro)

Descumprimento contratual por parte de quem recebeu as arras.

ART.419
O dispositivo trata da possibilidade de se exigir, cumulativamente, indenização
e o recebimento das arras. Vale lembrar que o caso em questão só é aplicável
às hipóteses de arras confirmatórias.

Arras confirmatórias (não estão expressas em contrato)

As arras simplesmente confirmam a avença, não assistindo às partes direito


de arrependimento algum. Caso deixem de cumprir a sua obrigação, serão
consideradas inadimplentes, sujeitando-se ao pagamento das perdas e danos.
(cabe indenização suplementar).

ART.420

Como situação excepcional, poderão as partes pactuar o direito de


arrependimento, caso em que estaremos diante das denominadas arras
penitenciais.

Dessa forma, se for exercido o direito de arrependimento (ou seja, o direito de


desistir do negócio jurídico firmado), a quantia ou valor entregue a título de
arras será perdido ou restituído em dobro.

Exemplo: em determinado negócio jurídico, a parte compradora presta arras


penitenciais (R$ 1.000,00). Posteriormente, respeitado o prazo previsto no
contrato, arrepende-se, perdendo em proveito da outra parte as arras dadas.
Se, no entanto, foi o vendedor quem se arrependeu, deverá restituí-las em
dobro, ou seja, devolver o valor recebido (R$ 1.000,00), acrescido de mais R$
1.000,00, a título de ressarcimento devido à parte que não desfez o negócio.

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