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PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL

LUCIENE NOGUEIRA DE MENDONÇA

APRENDER A PENSAR PARA ENSINAR A PENSAR - UMA PRÁTICA


DIÁRIA E O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NESTE CONTEXTO

Feira de Santana
2019
1

LUCIENE NOGUEIRA DE MENDONÇA

APRENDER A PENSAR PARA ENSINAR A PENSAR - UMA PRÁTICA


DIÁRIA E O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NESTE CONTEXTO

Trabalho de Conclusão de Curso, sob a forma de


Artigo Científico, apresentado a Universidade
Candido Mendes (UCAM), como requisito obrigatório
para a conclusão do curso de Pós-graduação Lato
Sensu em PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E
INSTITUCIONAL.

Feira de Santana
2019
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APRENDER A PENSAR PARA ENSINAR A PENSAR - UMA PRÁTICA


DIÁRIA E O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NESTE CONTEXTO

Luciene Nogueira de Mendonça 1

RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de discorrer sobre a importância do papel do psicopedagogo na prática
diária do espaço escolar quando se trata de proporcionar meios, ferramentas, caminhos que levem o
aluno a aprender a pensar. Para tanto, através de uma abordagem qualitativa, busca apresentar de
forma objetiva os conflitos entre o pensar do professor acerca da aprendizagem do aluno e o pensar
do aluno acerca do ensino do professor. Em um segundo momento, procura enfatizar o papel da
escola na formação de cidadãos pensantes em detrimento de meros reprodutores de ideias e
comportamentos. Em subtemas claros e objetivos apresenta reflexões acerca da importância da
valorização do pensar e do papel da escola no desenvolvimento de uma aprendizagem que dê
significado à vida dos alunos mesmo - e principalmente - depois que saírem da escola.

Palavras-chave: Ensinar - Pensar - Educação - Aprendizagem

INTRODUÇÃO
Diante da complexidade do fazer pedagógico, são muitas as dificuldades encontradas pelos
profissionais da Educação em lidar com os problemas relacionados ao processo ensino-
aprendizagem. Na intenção de solucionar ou minimizar essas dificuldades, os educadores, sempre
conscientes de suas limitações e do seu papel transformador, precisam rever sua prática pedagógica
possibilitando sempre a reflexão. Da mesma forma, precisamos citar a importância da participação
efetiva não apenas da escola, profissionais da educação e alunos, mas também da família neste
processo.
Neste ponto, temos a Psicopedagogia como a chave que vai possibilitar o avanço do
processo ensino-aprendizagem, facilitando o entendimento, apresentando meios e ferramentas
propícias a dirimir as problemáticas que se apresentem. É ela a mediadora na relação entre os
sujeitos envolvidos no processo.
É a pessoa do psicopedagogo que vai apresentar e estruturar ideias, propor
questionamentos, sugerir caminhos e estabelecer possíveis relações com diversos campos do
conhecimento com a intenção de levar o aluno a uma reflexão crítica acerca do conhecimento que lhe
está sendo apresentado.
Assim, apresenta-se a seguinte questão problema: a habilidade do pensar existe apenas no
ser humano que, através dela, expressa toda a sua individualidade. Com base nesse pressuposto,
podemos afirmar que a instituição educativa tem se preocupado e se ocupado efetivamente da tarefa
de ensinar o aluno a pensar? E pensar ao ponto de encantar-se com a descoberta do aprender?
E, partindo desse questionamento, de que forma o psicopedagogo pode intervir
significativamente no processo de aprendizagem?
1
Pedagogia (UNIG 1991). Membro de equipe na Coordenação de Ensino da Diretoria
Regional Pedagógica metro VII ? SEEDUC RJ.
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A fim de suscitar a reflexão, este trabalho trata de apresentar opiniões que possibilitem a análise por
parte do leitor, bem como a reflexão sobre o papel da escola em sua função de efetivamente ensinar a
pensar.
A partir desta compreensão são trazidas referências autorais que versam sobre o tema
ensinar a pensar de forma a exigir da escola uma ação mais integrada entre as áreas do
conhecimento levando sempre em consideração o saber que o próprio aluno já traz consigo em sua
bagagem de vida.
Se, enquanto psicopedagogos, desejamos minimizar ou mesmo sanar as dificuldades
recorrentes este artigo vem apresentar questionamentos significativos acerca do papel desse
profissional na melhoria das condições do processo de ensino-aprendizagem, bem como na
prevenção dos problemas, apresentando aos professores e a outros profissionais do espaço escolar
subsídios que os levem a refletir sobre o ensinar a pensar no contexto escolar.

SABER PENSAR
(…) Precisamos adivinhar a que impulsos obscuros, a que necessidades de
nosso ser, a que idiossincrasia de nosso espírito obedece ou responde
aquilo que consideramos como verdade. Em uma palavra, saber pensar
significa, indissociavelmente, saber pensar o seu próprio pensamento.
Precisamos pensar-nos ao pensar, conhecer-nos ao conhecer. É essa a
exigência reflexiva fundamental, que não é só a do filósofo profissional e
não deve estender-se apenas ao homem de ciência,  mas deve ser a de
cada um e de todos (MORIN, 1986, p. 111).

O principal objetivo da educação não pode ser outro senão estabelecer conexão com o saber,
uma vez que seu papel deve ser o de produzir pessoas inteligentes e não indivíduos bem dotados de
conhecimento. A cada dia nos vemos mais necessitados de agir com inteligência nas mais diversas
situações. E falo de inteligência como capacidade de raciocínio, de tirar conclusões, tomar decisões
após análise e síntese de fatos novos, bem como a criação de novas estratégias de ação a partir de
situações já vivenciadas.
Com todo o avanço tecnológico pelo qual viemos passando, supõe-se termos pessoas mais
inteligentes nos dias de hoje. Vivemos as revoluções do ferro, da eletricidade, do petróleo, da
química, da genética e da eletrônica, com o crescimento cada vez mais absurdo das redes de
computadores e sistemas de informatização e telecomunicações. Estamos, então, na era digital, onde
tudo – inclusive o imaginário – acontece em tempo real, numa velocidade maior que o próprio
pensamento.
O mundo inteiro trabalha conectado a computadores nas mais diversas versões. Crianças já
nascem “plugadas” e muitas têm grande parte de sua educação familiar regida por objetos
eletrônicos.
Todos estes fatos pressupõem uma nova educação, tanto na esfera familiar quanto na da
escola. Não basta mais oferecer o conhecimento, mas possibilitar ao aluno produzi-lo. Há que se
ensinar a pensar já nas primeiras fases da vida humana, considerando-se que é o ser humano quem
toma as decisões e quem programa e opera as engrenagens tecnológicas.
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Não podemos esquecer que inteligência é característica de gente. Gente que pensa produz
mudança, enquanto gente que assimila reproduz, repete, mantém o status quo. A inteligência permite
ao indivíduo adaptar-se – ou não – a novas realidades partindo do pensamento que tem a respeito
delas, além de produzir liberdade, impor respeito, ampliar horizontes, enfim, gerar mudanças.
É possível ensinar o aluno a pensar e a aprender melhor, como é possível provocar
mudanças na capacidade de aprendizagem de uma pessoa.
Não aprendemos da mesma forma. Não podemos, portanto, ensinar da mesma forma.
Piaget fala que cognição e afeto são dois lados de uma mesma moeda e estão sempre
juntos. Wallon considera que o raciocínio simbólico e o poder de abstração vão sendo desenvolvidos
na criança à medida que esta vai aprendendo a pensar nas coisas fora de sua presença. Para ele, a
essência da inteligência é, pois, a faculdade de adaptar-se, de modificar-se, de aprender. Freinet vê a
educação como um processo dinâmico mutável com o tempo e acredita no seu poder transformador,
ressaltando que esta tarefa está nas mãos do professor.
Cada um precisa rever/formular seu próprio conceito de aprendizagem significativa para, a
partir dele, desenvolver praticas educativas que valorizem o ensinar para o pensar, visto que é o
pensamento que produz transformação.

ENSINAR A PENSAR
Pode-se ensinar alguém a pensar? Como saber se o outro pensa da forma que entendemos
ou esperamos que pense? Essas indagações têm feito parte do meu dia a dia há algum tempo em
minha prática pedagógica.
Observo professores garantindo que ensinaram determinados conceitos e alunos afirmando
que o professor “não ensinou” isto ou aquilo. Acredito que o problema esteja na forma de pensar de
cada protagonista deste ato chamado aprendizagem. A maneira que pensamos determinado assunto
nem sempre (ou quase nunca) é a mesma que conseguimos transmitir para a outra pessoa. Não
costumamos nos preocupar em saber como a informação chegou ao outro ou o que aconteceu no
pensamento do outro quando emitimos o nosso. Daí a dicotomia entre o que se ensina e o que se
aprende.

Já não seria possível resumir a aprendizagem a procedimentos apenas


técnicos e formais, sobretudo a procedimentos instrucionais, porque,
enquanto os aprendizes se restringirem a seguir ordens, não se farão
sujeitos capazes de fazer e, sobretudo fazer-se oportunidade (DEMO, 2002,
p. 51).

O principal objetivo do professor, partindo desta afirmativa, deve ser possibilitar o


pensamento do aluno. Oferecemos esquemas prontos e fechados muitas vezes e não permitimos
formulação de hipóteses, revisão de conceitos, autonomia de idéias. Saber ensinar deve ir muito além
de esperar respostas “certas”. Deve, antes, passar pela via de mão dupla que é saber aprender.
Alguns professores se acham detentores do saber e vêem o aluno como um depósito de
informações, não levando em consideração que ele é um ser pensante, capaz de analisar, refletir,
imaginar, enfim, pensar.
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Para que possamos realmente aprender a pensar, e, consequentemente, ensinar a pensar,


necessitamos de uma revisão acentuada nos currículos de escolas e faculdades, da educação
doméstica, no reforço dos valores humanos pessoais e, na inserção de cadeiras como criatividade
para que os alunos aprendam a ver o mundo de oportunidades que têm a sua frente e não apenas o
mundo de uma única resposta correta.
Na verdade, somos ensinados desde pequenos a buscarmos e encontrarmos apenas uma
resposta certa para os problemas com os quais nos defrontamos em nossas vidas. Assim sendo,
acreditamos que na nossa existência só poderemos encontrar uma única resposta certa e esse é um
modelo mental que muitos de nós carregamos por toda a vida. A realidade do dia a dia, no entanto,
não é assim, a vida é ambígua, e à medida que vivemos, aprendemos que poderemos encontrar
muitas outras respostas que também estão certas e que muitas vezes dependem apenas do que
estamos realmente buscando. Pelo fato de termos sido educados a acreditar que na vida poderemos
encontrar apenas uma única resposta correta, como nos problemas de matemática, física e química,
muitas vezes deixamos de buscar alternativas também certas que poderão dar outro sentido
completamente diferente do que buscamos ou às nossas vidas.

O PAPEL DA ESCOLA
Não há dúvida de que é papel da escola ensinar seus alunos a compreender e a pensar, de
modo que se tornem pessoas bem-sucedidas nessa era de constante transformação e
desenvolvimento tecnológico.
O ensino escolar precisa passar por uma reforma que Edgar Morin chama de reforma do
pensamento, no livro Cabeça bem feita. Ainda segundo este autor, “esta reforma mudará o ensino e,
em consequencia, a sociedade, abrindo portas para uma educação que torne o indivíduo um cidadão.
Assim, a educação viria favorecer o senso de cidadania e a integração humana”.
Quando somos capazes de compreender o que é ser cidadão entendemos que as
desigualdades sociais não favorecem o ideal de pensamento. A reforma de pensamento seria fruto da
responsabilidade de cidadão que teria conseqüências existenciais, éticas, cívicas e democráticas. O
que se faz necessário é a existência de educadores efetivamente interessados pelo aluno, que
estejam dispostos a acompanhar seu desenvolvimento e aspirações. Somente desta forma este aluno
terá a capacidade de ir além daquilo que lhe foi ensinado, desenvolver o autoquestionamento e
ampliar sua capacidade cultural.
A reforma na maneira de ensinar deve ser precedida pela reforma na maneira de pensar junto
à instituição e a vontade do aluno.
Não se pode negar também a contradição da existência das culturas cientificas e as humanas, onde a
cientifica reflete uma série de processos teóricos e estudos intelectuais, já a humana é um conjunto
de práticas culturais presentes nas sociedades. Considerando que o homem é um produto tanto
biológico como cultural ele não deve desprezar os outros, mas interagir com eles.  Quando se
fragmenta o saber em disciplinas, tende-se a dividir e especializar o trabalho em diversas áreas do
conhecimento. Cada professor preocupa-se especificamente com sua disciplina deixando de
estabelecer relações com as demais, separando assim a parte do todo.
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É preciso substituir um pensamento que isola e separa por um pensamento


que distingue e une. É preciso substituir um pensamento disjuntivo e redutor
por um pensamento do complexo, no sentido originário do termo complexus:
o que é tecido junto (MORIN, 2008, p. 89).

Quando relacionadas, as áreas de estudos permitem encontrar soluções que somente são
esperadas  em um conjunto de ciências. Não se deve ocultar a realidade global, mas sim integrar as
disciplinas distinguindo-as e não as separando. Não se pode esquecer que o conhecimento das
partes depende do conhecimento do todo e que o conhecimento do todo depende das partes.
Um dos maiores problemas do nosso sistema de ensino está na formação dos professores.
Há consenso de que a formação é inadequada, mas pouco se faz para reverter este quadro. O
professor está apresentando ao aluno tudo aquilo que teoricamente combate com tanta veemência
nas universidades. Não se aplica na sala de aula o saber que vai permitir ao aluno tornar-se cidadão,
ser pensante, agente transformador. A educação que forma indivíduos pensantes começa já na
escolha do conteúdo a ser compartilhado e se estende por todo o processo educativo, dentro e fora
da sala de aula.
À escola cabe atuar como um mecanismo de transformação da sociedade, deixando de servir
apenas como uma peça desta complexa engrenagem. Ao professor cabe, entre outras, a tarefa de
pensar cada aula conforme o grupo de alunos que tem a sua frente. Cada ser é único, cada grupo
tem suas especificidades, ninguém é, pensa, sente ou se relaciona igual, muito menos aprende igual.
Sempre ouvimos falar - e é fato - que cada aluno já traz consigo uma grande bagagem de
conhecimento antes de se colocar a nossa mercê no ambiente escolar. E o que fazemos? Como
lidamos com todo este conhecimento? Muitos professores têm solicitado ao aluno que deixe este
conhecimento em casa para entrar na escola e começar a aprender. Como se toda a experiência já
vivida por ele de nada valesse. São poucos os que aproveitam toda esta gama de saber, valorizando
o aluno como ser pensante já antes de chegar à escola, levando-os a ampliar a construção do seu
aprendizado com base em toda a bagagem já adquirida até então.
A escola precisa rever alguns conceitos e colocar em prática ações que visem integrar aluno
e professor na busca de um conhecimento real, surgido do respeito ao saber e ao pensar de ambos e
de cada um, que leve à problematização, à reflexão, à contextualização de todos os saberes que
ambos já tem construídos e ainda construirão juntos.

SABER PENSAR PARA ENSINAR A PENSAR


Podemos resumir, não sem risco, tantas pretensões na ideia de “saber
pensar” (Demo 200b). Esta ideia pode reduzir-se apenas à face cognitiva
racional. Não é o caso, É preciso ver o lado da “qualidade formal”: para
saber pensar é mister manejar conhecimento com devida habilidade
epistemológica e metodológica, dominar conteúdos para os desconstruir,
saber teoria e método, etc. Mas não é menos fundamental atentar e para a
“qualidade política: saber pensar é convencer sem vencer”. Afasta-se, até
onde possível, o argumento da autoridade e prefere-se a autoridade do
argumento, com base na habilidade de questionar, fundamentar,
argumentar, e contra-argumentar, estudar crítica e autocriticamente, ler
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autor para se tornar autor, tornar-se autônomo, “contraler”. (Pedro Demo,


2006).

Só ensina a pensar quem sabe pensar, tendo ou não aprendido com o auxílio da instituição
escola. E não estamos falando do pensamento vago, mas um pensamento que se expresse através
de argumentos. Ensinar a pensar é uma ação ousada, pois dá ao outro o poder da reflexão e do
questionamento. Confere ao que está aprendendo o direito de rejeitar o que lhe está sendo ensinado.
Ensinar a pensar vai além de ensinar a memorizar fórmulas, conceitos e regras. Pressupõe o
encontro com o saber do outro. É um convite a um jogo de descobertas de novos pontos de vista. É
ressignificar antigos conceitos, interagindo com os próprios sentimentos e angústias diante do novo.
A escola é o melhor lugar para se ensinar a pensar. É lá que está – ainda – o aluno. O
professor que ensina a pensar convida seu aluno à vida, oferece motivos para transpor barreiras,
empresta ferramentas para que a aprendizagem tenha e faça sentido. Mostra como inovar, mas
inovar para mudar e não para manter, porque a inovação para reforço do que já existe acontece em
grande escala dentro das salas de aula.
Ensina a pensar quem não tem medo do próprio erro. Quem ousa admitir que não tem uma
resposta certa na hora certa e convida o aluno à descoberta ou à construção desta resposta, que
também não precisa ser a única resposta certa para sempre. Ensina a pensar quem ensina a
construir pontes em vez de muros, quem ensina a ver e não apenas olhar o outro, quem ensina a
escutar além de ouvir.
Quando trazemos para a sala de aula a vida que existe atrás de seus muros e grades,
convidamos o pensamento a fazer parte das aulas. Convidamos alunos e professores a trazerem
suas histórias, seus mundos, suas expectativas para a aula. Desfaz-se, assim, a relação dar
aula/assistir aula e constrói-se um dos conceitos de aprendizagem significativa que transforma o
mundo.
O pensar produz movimentos e sons. Gera questionamento, problematização, probabilidade,
conceito, aplicação, mudança enquanto aulas meramente expositivas apresentam enunciados,
esclarecem conceitos e suscitam respostas previamente estabelecidas. Aprendendo a pensar o aluno
ocupa-se com o exercício da compreensão da realidade e não com a explicação sobre uma realidade
imposta.
Não precisamos ensinar a pensar para estudar, mas a estudar para um dia pensar e, assim,
criar oportunidades para que os alunos possam confrontar suas compreensões intuitivas e avançar
para compreensões baseadas no conhecimento.

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA PRÁTICA DIÁRIA DO ESPAÇO EDUCATIVO


A função do professor não é ditar o pensamento, mas ensinar como pensar.
(Jaume Carbonell)
O saber pensar passa então a ser uma prática diária necessária ao saber ensinar a pensar. É
o professor que vai oferecer as ferramentas adequadas aos alunos nos vários estágios de sua vida
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escolar fazendo assim com que optem por esta ou aquela forma de pensar, esta ou aquela “resposta
certa”.
Quando professor e aluno buscam juntos as diversas formas de se chegar às respostas de
um problema, quando discutem e avaliam possibilidades de solucionarem um mesmo cálculo por
diferentes caminhos, quando admitem que uma ou outra resposta pode estar certa ou errada
dependendo da interpretação do leitor, estão, desta forma, descobrindo que sabem pensar diferente.
É também papel da Psicopedagogia contribuir para o crescimento dos processos da
aprendizagem e auxiliar em quaisquer dificuldades em relação ao rendimento escolar, bem como de
educadores em geral. Alguns alunos necessitam de um pouco mais de tempo que outros para
interpretar e assimilar de forma assertiva as questões que irão delinear sua maneira de pensar, ver e
sentir o mundo. O psicopedagogo vai atuar de forma muito mais assertiva à medida que conhece o
aluno e sabe como ele constrói seu conhecimento e compreende as dimensões das suas relações
com o espaço escolar, professores e com o objeto de estudo. Dessa forma há um equilíbrio e uma
segurança maiores na atuação deste aluno em seus processos cognitivos, sociais e orgânicos diários.

O resultado da aprendizagem baseada no pensamento é que os alunos


aprendem habilidades de pensamento para toda a vida, e entendem o
conteúdo das matérias que estudam no currículo padrão de uma forma mais
enriquecedora e profunda do que nas aulas mais tradicionais.
(Robert Swartz)

É então a base da ação da Psicopedagogia analisar a forma como o aluno pensa e não
propriamente o que aprende. Quando falamos em um olhar psicopedagógico de um processo de
aprendizagem estamos falando de buscar compreender como estes alunos utilizam os elementos do
seu sistema cognitivo e emocional para aprender.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito desde estudo foi contribuir para a reflexão acerca do ensinar a pensar nas
escolas, instigando uma análise do papel da escola enquanto espaço de construção e
desenvolvimento do pensamento. Necessário é refletir sobre a atuação da Psicopedagogia no
processo de ensino-aprendizagem. Mas também compreender que ensinar o estudante a pensar vai
bem além do ensino de conteúdos. O psicopedagogo não tem a função de solucionar problemas, mas
identificar quais problemas que os espaços escolares enfrentam no processo de ensino-
aprendizagem; auxiliar na elucidação e apropriação dos conceitos de autonomia e autoria, sempre
valorizando os vínculos construídos e considerando a história de vida do aluno. Precisa entender que
sua atuação perpassa por propor novos caminhos que fomentem o desejo de aprender e que, dentro
de seus limites e de suas especialidades, pode auxiliar a escola a afastar e até mesmo remover
obstáculos que se apresentem entre os alunos e o conhecimento. Tem ainda a função de contribuir
para a formação de cidadãos capazes de formularem e apresentarem pensamento crítico nas mais
diversas situações em que esteja.
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A mediação do psicopedagogo é, então, uma prática diária no contexto escolar. No dia a dia,
como profissional da Psicopedagogia ele estará em constante interação com sujeitos que tem a
capacidade de construir seus próprios conceitos, conhecimentos, pensamentos e sua prática
educativa deve ter um foco multidisciplinar, além de lúdico, que atue como facilitador do processo
ensino-aprendizagem.
Dessa forma, o estudo psicopedagógico tem seus objetivos alcançados quando, possibilita
que a escola proporcione recursos para atender às necessidades de aprendizagem de certo aluno.
Para tanto não podemos deixar de considerar o Projeto Político Pedagógico, suas propostas de
ensino e o que é reconhecido como aprendizagem no espaço escolar em questão.
Finalmente, faz-se necessário destacar que o papel da Psicopedagogia não pode ser deixado
de lado. É de sua competência investigar, diagnosticar e intervir diante das dificuldades de
aprendizagem em conjunto com os demais envolvidos com a prática educacional. O psicopedagogo
pode, e tem com principal função, agir de maneira preventiva a intervir em favor a aprendizagem do
aluno, acreditando - e fazendo o aluno acreditar também - em suas potencialidades, capacidades e
individualidades, estando em constante aperfeiçoamento e aprofundamento permanente de
pesquisas. Ele dedica-se em áreas pertinentes ao planejamento educacional do ambiente escolar,
numa ação interdisciplinar e, além de prestar assessoramento pedagógico, contribui com planos
educacionais e lúdicos no âmbito das organizações, agindo numa modalidade cujo caráter é clínico
institucional, ou seja, executando diagnóstico institucional e propostas operacionais cabíveis.

REFERÊNCIAS

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escola cidadã; v.6)

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RIOS, Terezinha Azerêdo. Compreender e ensinar – Por uma docência da melhor qualidade. 7.ed.
São Paulo: Cortez, 2008.

MORIN, Edgar. A cabeça bem feita. 15. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.

______. Para sair do século XX. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1986.

VIANA, Fernando. Saber pensar é uma arte que pode ser ensinada. Infonet. Disponível em:
<http://www.infonet.com.br/fernandoviana/ler.asp?id=34787&titulo= Fernando_Viana>. Acesso em: 14
mar 2008.

BARBOSA, L. M. S. A Psicopedagogia no âmbito da instituição escolar. Curitiba: Expoente; 2007.

CHALITA, Gabriel. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Gente, 2004 edição revista e
atualizada.

FERNÁNDEZ, A. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua


família. Artes Médicas, Porto Alegre, 1990.

______. O saber em jogo: A psicopedagogia, propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre:


Artmed, 2010.
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.

LIMA, L. O. Piaget para principiantes. São Paulo: Summus, 1980.

VISCA, Jorge. Psicopedagogia: novas contribuições. Organização e tradução Andréa Morais,


Maria Isabel Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

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