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~ A MÚSICA

o Modernismo
Gilberto Mendes

Affonso A'vila
Organização.

Entendida a música como lingu.Mlm.1. desfazem-se


todas aquelas Velhas questoes entre forma e conteúdo.
música nacional e cosmopolita, tão ao gosto brasi-
leiro, pois constataremos que ela é uma só em toda
a arte do Ocidente. Da Grécia ãütIg:nros nossos mas,
através de ui11'J!!'l>cessjJ evolutivo que parte do sis-
tema modal com õase no estudo do fenômeno acústi-
co até chegar ao microtonalismo concreto-eletrônico.
Inicialmente na Europa, depois ampliado para as
Américas em seus últimos estágios, numa trajetória
Disc.:JhJslc~CUI comandada ora pelos gregos, franceses, italianos, ale-
.~~ e, Yú9O'0
Prof.:J/dvl·o --(. -j mães ou f1amengos. E, atualmente, também pelos
americanos.
As estruturas significantes fundal!!entais....da... ..m~-
siba romântica (mcillSõiiii<IõCã"õ1õêhão. por exem-
plo): Ars Antiqua (quintas, oitavas paralelas), Ars
NQva (grau sensível com sua aura mística), renas-
centista {mobilidade modaO, barroca (relaciona-
mento tonal), romântica (dissonâncias harmônicas
~\III~ não-resolvidas) e moderna (ruído elevado à cate-
~ ~ EDITORA PERSPECTIVA goria de som musical) ~~º-as mesmas ...em qual!!!!..,r
~f\\~ país ocidentª1. Trata-se, portanto, repetimoS";efê uma
mesma l~~em musical,_c.omul.licada por com0'-
sltõi'êS'il'e náclôriãiíd:l!Í!es diversas. ~_
conseqüências, iria chegar ao som concreto da mú- Outro ponto importante em comum está na uti- do ceIo. O "Trenzinho do Caipira", em matéria de precisou da Semana, pois se realizou plenamente an-
sica de hoje. Tudo isso ao nível de massa. lização que ambos fizeram de procedimentos com- música pré-concreta, nada fica a dever ao "Pacific tes dela. O ponto realmente positivo da Semana foi
Quando pretendemos juntar a música popular ur- posicionais poli tonais e polirrítmicos muito antes de 231" de Honegger. a polarização, a conscientização que ela efetuou de
bana com a música erudita como dois aspectos de entrarem em contato com a música européia. Leva- Numa extraordinária peça para piano começada toda a problemática da arte moderna, até então pra-
uma mesma linguagem é porque ambas manipulam dos por uma intuição inventiva, independente e sem em 1921, "Rudepoema", já estão explorados alguns
as mesmas estruturas formais características da mú- preconceitos, chegaram aos mesmos resultados sis- dos efeitos mais caros à neue M usik darmstadtiana, ticamente não discutida, desconhecida, mesmo, em li
sica do século :XX, tanto da primeira como da se- tematizados pelos compositores europeus, sem a me- como pressionar notas do piano, sem tocá-Ias, e fa- Ihor intencionado que seja, tem seus azares. Com.'
gunda metade, O que não acontece com a música nor influência deles. Villa-Lobos fez a música que zê-Jas soar através do ataque de outras notas (que nosso país. No entanto, todo movimento, por me- j'
base na teorização de um de seus participantes mais (;
folcI6r~, que somente fornece temas, motiVãçáes; bem entendeu, sem pretender fazer escola e nem encontramos em uma das mais recentes peças para
riiãSiíão glliiLSobrJLaJing~gern_,m_USicaLI1!º9,W!ª. seguidores, sem se prender a corrente alguma. Va- piano de Henri Pousseur, "Une Apostrophe et six destacados,
figura mais que foi Mário
simpática de Andrade
e, com - talvez
toda razão, queridaa 1t
I:
Enquántõ a música popular urbana também forja leu-se de tudo que o interessou, da mesma maneira réflexions"), aglomerados de notas que não podem de nossos musicistas - a música brasileira começa"
essa linguagem, trazendo contribuições das mais sig- que Stravinsky, mas fez a sua música, cuja marca mais ser considerados acordes e sim clusters, con-
fundamental é o som que conseguiu criar. O famoso a se atrasar em relação ao desenvolvimento geral dai!
nificativas 'para o seu desenvolvimento. trastes dinâmicos, de registros, ataques de notas com música contemporânea ocidental. Se a nossa música \.1
compositor francês Olivier Messiaen confessou ao os punhos ... Sem falarmos na complexidade rítmica, foi bem do período colonial até fins do século pas- ~
N a".Pl'jmeira,,!ll~!lc.!e_,~~§te_~tc,!;l.!o, via atonalismo
(Debussy e Schoenberg), politonalismo e polirritmia crítico Antoine Goléa, numa entrevista, que uma das que está à espera de urna análise conforme Boulez sado, excepcionalmente bem nas primeiras décadas Il
(Stravinsky e Bartok), mais a melodia de timbres maiores influências que recebeu no campo da ins- fez com a "Sagração da Primavera" de Stravinsky. deste século, quase que poderíamos dizer que passou ti
trumentação foi justamente de Villa-Lobos - que Poderia ser feito um levantamento minucioso da a ir muito mal depois da Semana de Arte Moderna. I'
(Klallgfarbellmelodie) de Webern, O discurso sonoro
linear foi lltllcado de todos os }f!QQs,A-Europa téildiii:' ele considera um dos principais criadores da primeira obra total de Villa- Lobos, a fim de ser selecionado Somente Villa-Lobos continuou indo bem, mas a esta)
páfã'üm rigor' seririlistã;' a"montagem da música pa- metade do século - através do estudo que efetuou o que é realmente' de importância no campo inven-
de seus grandes "Choros" para orquestra. altura sua música já era um fato consumado e não,'!
râmetro por parâmetro. Isoladamente um Russolo tivo. Mas não vejo razão para isso, uma vez que deveríamos mais contar somente com o prestígio de"':1
procurava o som concreto. Já as Américas ronw.iam Numa obra datada de 1917, "Uirapuru", para sua música importa inclusive pelo que ela tem de
o. cenário. com seu infQxmàIlsiüiCG"ãOilêõ,~'lQY!l!!i-=e grande orquestra, é impressionante o efeito que con- ruim, de mau gosto. É o Kitsch cada vez mais pre·, pecado de se deixar oficializar pelo Estado Novo, '
segue obter lançando mão, sem a menor cerimônia, sente na arte das Américas. Desse mau gosto, desses", cnquanto Ives permaneceu
cheiõ--dé~_'viçta, ~:IÍum 'vale~tut:l.2._~.PE!m!lJl!!lLantrQ- Ia. Sem falarmos no fato no
de underground até o fimo '}'
que Villa cometeu
pofâgiéêi: E-sua niúsica é aescoberta para os ame- de percussões populares corno coco, reco-reco, tanl- altos e baixos não escapou nenhum dos grandes in- da vida.
nWiíOs" sobretudo através destes dois gigantes: Char- borim e até de um violinofone (violino ligado a uma ventores da música 'americana, do Norte ou do Sul. Deu-se então uma desastrosa interpretação errada
les Ives, dos Estados Unidos, e Heitor Villa-Lobos, trompa). Uma preocupação com o som da floresta Henry Cowell, a par de sua notável criatividade - do que deveria ser "música brasileira". O sentimento
do Brasil. que pude encontrar igual no compositor equatoriano pai dos clusters, da idéia de tocar nas cordas do nativista surgido com a Semana foi da maior cria-
Mesias Maiguashca, em 1968, nos apitos, assovios piano - é completamente vulgar em muitas de suas
Dois inventores de primeira linha, representantes tividade em outros campos. Mas em termos de mú-
de uma cultura tipicamente americana, um refletindo e outros efeitos que ele empregou para compor o outras músicas, George Antheil, não obstante a ori- sica acabou redundando no simples aproveitamento
momento que lhe foi destinado em "Música para ginalidade de sua sonata "The Airplane" ou de seu
a paisagem industrial-urbana dos Estados Unidos, o uma casa" (durante o Festival de Música Nova, em do temário folcl6rico desenvolvido dentro de esque-
outro a paisagem tropical-urbana do Brasil, ambos "Ballet Mécanique", vale ainda mais pelas suas idéias mas formais clássico-românticos. Um retrocesso às
exuberantes e grandiloqüentes, como não poderiam Darmstadt), dentro de um plano geral delineado de "sincronizar cidades inteiras", de "silêncios de vin-
pelo compositor alemão Stockhausen. Naturalmente estruturas significantes do século passado, das cor-
deixar de ser, porta-vozes de países de enorme ex- te minutos de duração" e, sobretudo, de "tirar defi· rentes nacionalistas européias. E, o que era pior, na
tensão territorial. Maiguashca manipulou a linguagem musical desta nitivamente a música da sala de concertos".
certeza de que Villa-Lobos estava sendo seguido, con-
segunda metade do século, mas a preocupação com
\" São muitos os paralelismos que podemos encon- o som era a mesma. tinuado. Os compositores pensavam continuar uma
\ \.' trar entre as obras de Ives e Villa-Lobos, conforme
Em outra peça do mesmo ano de 1917, um pou- ViiiTodos essessãocompositores,
a-Lobos, na verdade de Ives,um Cowell, AntheiJ,!
impressionismo/ coisa que VilIa-Lobos nunca pretendeu, que não ti-
e politonalismo baratos, frente à técnica composioU' nha como ser continuada a partir de sua música.
J ~ reconhece o compositor norte-americano Aaron Cop- co anterior ainda, "Amazonas", Villa-Lobos precisa cional de seus contemporâneos europeus; mas a gen- Porque a música de Villa-Lobos, de CoweJl, Ives e
,', " land em seu livro Music alld Imagination. O mesmo de 4 pautas para escrever o som que desejava com-
i ,r ' espírito nos títulos que davam às suas músicas _ te sente em sua música, principalmente naquilo que Antheil representaram a contribuição americana, jun-
por ao piano. Recurso gráfico que vamos também parece ruim, mal feito, algo mais que a torna dife-
\ .. 'Trenzinho do Caipira", "Housatonic at Stockbridge" encontrar na música de hoje. No "Choro n.o 8" ele tamente com a contribuição européia de Schoenberg,
- uma procura dotranscendental, do cósmico, atra- rente, uma autenticidade, uma independência em que Stravinsky, Debussy e Webern para o desenvolvi-
vés do sentimento nativo. Uma dificuldade em con- introduz papel de seda entre as cordas do piano. encontraremos as raÍzes tipicamente americanas de mento da linguagem musical do Ocidente. Villa-Lo-
uma vanguarda que não tem nada a ver com a van- bos tinha de ser continuado a partir daí.
ter esse tumultuamento de idéias musicais que trans-
"pop" pretende "fazer som" e não simplesmente "fa- guarda européia. Só nas Américas poderia surgir uma Camargo Guarnieri e Francisco Mignone, princi-
bordavam desordenadamente, muitas vezes. E, con- zer melodias", é admirável a atualidade de Villa- pop'art, o jazz. o "tropicalismo", a música de Villa- pais representantes da música que se seguiu à Se-
seqüentemente, uma falta de autocrítica que os le- -Lobos. ~ espantoso que ele não esteja na moda -Lobos e Ives.
varam a uma obra desigual, cheia de altos e baixos. por esse motivo e sim por razões de um naciona- mana de 22, embora tendo a maior admiração por
II Iismo
Nesta época que vivemos, em que até a música Falemos finalmente do ano de 1922 e sua famosa
O que foi a música de banda para Ives foi a música musical acadêmico. Mesmo numa pequena can- VilJa-Lobos, chegaram a criticá-Io quando a música
Semana de Arte Moderna. Propositadamente citei dele não era suficientemente brasileira, isto é, não
das serenatas, dos velhos chorões para Villa-Lobos. ção escrita em 1916, "O Boi", para ceIo, piano e
A música urbana, enfim. quase somente as obras de Villa-Lobos compostas continha as constantes melódicas e rítmicas, os mo-
voz, há uma imitação do mugido do boi na parte antes de 22. ~ fácil concluir, portanto, que ele não dos e outras características da música folclórica. Pa-
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A MÚSICA 131
coletiva, "dez minutos", por uma equipe de alunos conseqüência extrema dessa circunstância, me pa-.
menagem a Webern", de CozzeIla, "Música para 12 rece, foi a absorção total pela música comercial dos
I que, historicamente, surge um novo material, o som
de constantes melódicas e rítmica" no momento em
instrumentos", de minha autoria, e "Organismo", de
Duprat, esta última obra foi a primeira experiência
de Damiano Cozzella.
Num concerto em 1965, organizado e dirigido pe- compositores Duprat e Cozzella, no momento com-
pletamente dedicados a arranjos de música popular
. a predominância do parâmetro freqüência, ou seja, musical sobre um texto de poesia concreta, de Décio lo maestro Diogo Pacheco para a VIII Bienal de S.
e composições para rádio e TV, a ponto de haverem
i da melodia, daquilo que marcou em toda música do Pignatari. Todas as obras eram seriaís dodecafônicas. Paulo, no Teatro Municipal, em meio a vaias, arre-
messo de programas amassados ao palco, discussões
abandonado a pesquisa anterior que faziam, che-
/1 eletroacústico
passado o traçoe, rucial
como da
conseqÜência,
nacionalidade?deixa de haver Após diversas viagens à Europa e contatos com a gando mesmo à defesa de sua nova posição, conven-
Apesar de Sanloro, Guerra Peixe e outros have- mais representativa música da atualidade (Berio, No- em voz alta, foram ouvidas "Ouviver a música", de cidos de sua autenticidade, conforme suas declara-
rem renegado seu passado dodecafônico, exemplo no, Boulez, Stockhausen) esses compositores lançam WiI1y Corrê a de Oliveira, obra em que a ação in-
ções à imprensa:
que a maioria dos compositores seguiu, não seria tegra sua estrutura (talvez o primeiro exemplo do
esse clima reacionário que iria deter o espírito in- também o sefir manife5.Úl.-i:ll!.J.2Q1, agora "~J_.JJm.a "visual" em nossa música) e em seu último movi-
n2Y1l..m.lJ~LçJl...,..L~i.k!!.a",
na revista Invenção, dos poe- mento é baseada na leitura semântica de signos (in- a partir do momento em que se parte .para uma ativi-
tas concretos, do qual destaco os seguintes pontos dade mais especificamente interessada no consumo de
(ventivo das novas gerações. Num ambiente musical ainda válidos: clusive desenhos de histórias em quadrinhos) e em
,retrógrado, os novos músicos que surgiram foram massa e seus canais de comunicação, na nova linguagenl
sua descodificação em termos musicais; e "blirium desses meios, parece evidente que se deixe de levar em
compromisso tOlal com o mundo contemporâneo; c-9", de minha autoria, em que levei às últimas con- conta as brincadeiras dos Boulez, Xenakis, Pousseur,
Ifl1contrar
ireu meio, apoio
mas junto
e mesmo
a poetas
orientação
renovadores
estéticadanão
língua
em reavaliação dos meios de informação: importância do etc.; significados se evidenciam ao nível do consumo e
.'po.rlulluesa, como. os .poetas. concretos. paulistas, seqüências a pesquisa aleatória começada em "Nas-
cinema, do desenho industrial, das telecomunicações, da cemorre", até chegar a uma música sem notação basta (Rogério Duprat). O que nos parece fundamental
!'prmclpalmente DécIO Plgnatan e os mTIaos Augus-
máquina como instrumento e como objeto: cibernética musical, feita somente de instruções de realização
( ... ) a alienação está na contradição entre o estágio "'-'1 que o artístico está acabado (Cozzella).
com a Europa, esses poetas muito contribuíram para em umas I O páginas datilografadas.
do homem total e seu próprio conhecimento do mun- Em outros trabalhos meus como "cidade", sobre
a colocação
I'to e Haroldode problemas
de Campos.da Em
música nova à geração
freqüente contato do ... elaboração de uma "teoria dos afetos" (semântica ( Para esses dois compositores não existe mais arte,
musical) em face das novas condições do binômio cria- um poema concreto de Augusto de Campos, "Beba
Damiano Cozzella, Willy Corrêa de Oliveira· e Luís Coca-Cola", po,ema de Décio Pignatari, e "Asthma- ~embora muita gente ainda vá viver dela algum tempo,
ICarJos
na qunl Vínholes.
mc incluo, juntamente com Rogério Duprat,
ção-consumo .. , por uma arte participante ...
tour", explorei mais o aspecto visual da obra mu-
enquanto houver compradores de arte (Duprat).
Este último, um caso isolado, sempre continuou Seguem-se obras dentro desse objetivo, numa su- sical - a paisagem do "folclore" urbano, seus co- Há evidentemente uma certa dose de paradoxo
fazendo para ele mesmo sua música serial dode- peração do serialismo dodecafônico, agora absolula- merciais, as utilidades domésticas, o material de es- voluntário nessas declarações. Uma conseqüência
cafônica, mas logo embarcou para o Japão, onde mente em dia com a linguagem musical de hoje, critório, OS gargarejos, bombinhas de asmas, o beijo positiva dessa posição, na prática, foi a colaboração
viveu mais de 10 anos e acabou na carreira diplo- cuja estética está baseada nos estudos da teoria da cinematográfico - levado ao extremo em "Atua- básica prestada por Duprat à renovação da música
mática. No entanto, continua a compor, muito pou- informação, da semiótica, dos métodos estatísticos; lidades: Kreutzer 70", minha homenagem a Beetho- popular brasileira, nos seus arranjos para Caetano
co, mas sempre dentro da mesma linha de pesqui- uma linguàgem que, mais recentemente, procura in- ven. "Vai e vem", um de meus últimos trabalhos, Veloso e Gilberto Gil, que permitiu a esses dois ex-
sal. Parece-me que também é o caso de Luís Cosme, tegrar todo o material e meios de expressão que a sobre 3 poemas concretos de José Lino Grunewald, celentes compositores contribuírem para o desenvol-
110Sul, que manteve uma linha individual, à margem tecnologia põe à nossa disposição em todos os do- já é uma pesquisa de música semântica. vimento da moderna linguagem musical brasileira
das discussões, sempre interessado na música dode- mínios da produção em série e da comunicação de Em todas essas minhas obras há problema de me- com valiosos "achados", como "Objeto sim, objeto
cafônica e concrcta. E mais atualm~nte de Bruno massas. E que, como todas as demais artes de nosso talinguagem e um propósito de comu~ão atravé~ não", UBatmacumbalt, o usam universal" de um mo-
Kiefer. tempo, reflita o cotidiano, a "natureza" moderna, do divertimento. Esse elemento --rrar;ersão" também do geral. •
O primeiro compositor a impor, de fato, uma re- industrial, publicitária e urba!1a, ainda que para con- preocupou WiIly Corrê a de Oliveira, que em sua obra Não temos dúvidas de que o nome de Rogério
tomada da linha evolutiva da linguagem da música testá-Ia. "Divertimento", para orquestra, utiliza colagens de Duprat ficará como um dos mais importantes da
ocidental foi Rogério Duprat, com sua obra serial fragmentos de textos de diversos períodos musicais música brasileira desta segunda metade do século,
"Concertino para trompa, oboé e cordas", em 1958, de Rogério Duprat, parece-me que o primeiro exem- _ outra pesquisa de meta1inguagem -, culminando pela admirável coerência de sua atitude, de sua co-
executado em primeira audição pela Orquestra de com a citação de um hino norte-americano só pelos ragem em não fazer música, que tem a singularidade
Çâmara de S. Paulo, sob direção de G. Olivier Toni. . pIo de uma nova grafia musical da história de nossa trompetes, acompanhada de uma orgia de gritos c
música, "Descontínuo", para piano e cordas, de Da- da posição de um Erik Satie na música francesa.
Em torno desta Orquestra e seu regente, entra deci- miano Cozzella. "Nascemorre", de minha autoria, so- protestos dos membros da orquestra. A peça em si de um George Antheil na música norte-americana,
didamente em nova etapa a música brasileira. Em mesma é um misto de programas de TV, com anún- de um Rans Eisler na Escola de Viena.
1960 ela apresenta "Ricercare para 2 trompas e cor- I breDatam
um texto
dessa deépoca
um -poema
1963concreto
- de Haroldo
"Antinomies I", cios, f1oticiár,ios, etc. Para ser bem realista, Willy Em posição frontalmente oposta a Duprat e Coz-
das", também serial, de minha autoria. , de
.1 Campos,
tonais para vozes duas
e aleatoriamente, tratadas em blocos
máquinas micro-
de escrever, encarregou a última parte da música a uma firma zelia se encontra o compositor e ex-publicitário WilIy
Um concerto em 1961 patrocinado pela VI Bie- publicitária de S. Paulo, "Audimus", de. Duprat e Corrêa de Oliveira, para quem o objetivo da arte
nal de S. Paulo, sempre pela Orquestra de Câmara il
1 percussão e fita
ma-processo magnetofônica,
cibernético seguindocomo
de direção, um forma.
esque- CozzeIla, que realizaram a "encomenda". Em outra de consumo é o lucro, simplesmente:
de S. Paulo, marca a tomada de consciência dos com- obra, "Kitsch", para piano, WiIly. incorpora dados
positores desse grupo paulista. Foram apresentadas bre ummovimento",
poema concreto de Décio dessa problemática. seu produtor não está na mesma posição do consumi-
1 "Um
i'! de Willy CorrêaPignatari, também
de Oliveira, 50- dor, uma vez que, partindo de razões que não são ori-
"Música para Marta", de WilIy C. Oliveira, "Ro- \, como as anteriores, dentro de uma nova grafia e Necessidades profissionais fazem com que todos
nós trabalhemos para teatro, cinema, jingles publi- ginadas em um verdadeiro projeto cultural, conf,ecciona
(1) "Instruções", de' sua autorJa, é uma das primeIras obras (:~musical
com momentos mitos e cria condições para a aceitação de· seu produto.
aleatórlns brasileiras. brasileiro,aleatórios. E o primeiro
uma experiência happening
de composição citários, enfim, na fatura de músicas comerciais. Uma
A MÚSICA 135
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Referências bibliográficas

ANDRADEJ Mário de. Ensaio Sobre a /VlLÍ.!'ica Brasi/e;J'lI.


São Paulo, Chiarato & Cin., 1928.
CAMPOS,Augusto d.e. O Balanço da Bossa. São Paulo,
Editora Perspectiva, 1968. Cob:ção Debates. 3.
COPLAND,Aaron. Music anel Imagina/ion. Nova York.
The New American Library, 1959.
Música nova: compromisso total com o mundo contem-
porâneo. Manifesto publicado em Invenção, n. 3, São
Paulo, junho de 1963.
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