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O longo século XIX

Por: Pedro Teixeira Cardoso


Palavras-chave: revolução industrial; epanção economia

Neste resumo irá-se analisar o que Hobsbawm chama em sua obra de “o


longo século XIX”, começando pelo período de 1789 a 1848 que engloba as origens
da revolução industrial e sua proliferação pelo mundo. Voltará-se então para as
consequências dessa, no âmbito da terra e de seus resultados humanos. O foco
então avançará para o período de 1848-1875 e “a grande expansão" ocorrida e
outros desenvolvimentos quanto à questão da terra. Por último, vemos como uma
mudança na marcha da economia marca o final deste período.
A revolução industrial só se tornaria óbvia por volta da década de 1830.
Entretanto, ela teve sua partida na Grã-bretanha, “explodindo” a partir da década de
1780, no que os economistas chamam de partida para o crescimento
auto-sustentável. O ponto de partida não se deve pelas capacidades técnicas ou
científicas da região, mas por outras condições propícias: uma revolução burguesa
feita previamente; o desenvolvimento e o lucro como objetivos da política
governamental; a terra sobre proprietários de espírito capitalista que voltaram a
agricultura para o mercado e empregavam camponeses; a disseminação de
manufaturas; e custos de consumo tão baixos que criaram um mercado de
consumo. Mas faltavam uma indústria que já oferecesse recompensas excepcionais
e um mercado mundial monopolizado. Fazendo uso de uma economia forte e um
estado agressivo permitiram lançar à indústria algodoeira a partir da expansão
colonial, que lentamente substituiu o produto importado das Índias Orientais, e
eventualmente consolidando monopólios sobre a América Latina e Índia. O algodão
virou o termômetro da economia inglesa. No princípio da década de 1840, ocorreu a
primeira crise geral do capitalismo. Suas consequências mais sérias foram sociais,
gerando-se descontentamento e miséria que levaram ao movimento cartista e ao
ludismo. Mas, para os capitalistas, estes problemas só seriam economicamente
importantes se causarem um derrube da ordem social. Essa experiência explicitou
três falhas do sistema: o ciclo comercial de boom e depressão, a tendência à
diminuição da taxa de lucro, e a falta de oportunidades de investimento lucrativo.
Hobsbawm se volta então para indústria metalúrgica, que a primeira não era
atraente por precisar de investimentos iniciais muito altos. Porém, essa
desvantagem não estava presente na mineração de carvão, utilizado tanto no âmbito
doméstico quanto no industrial. Essa indústria era grande o suficiente para estimular
a invenção das ferrovias. Durante todo este período houve uma virada de uma
população, e portanto uma mão de obra, majoritariamente rural para uma urbana. Ao
mesmo tempo, o aumento da produtividade no campo tornou possível alimentar
essa população urbana crescente. Investir nesse primeiro momento não era fácil, e
isto fez os primeiros industriais, estes self-made men, explorarem com mais força os
seus trabalhadores.
Mas em 1848, apenas a economia inglesa estava efetivamente
industrializada, e ela, por consequência, dominava o mundo. Essa lentidão
significava que os movimentos econômicos do resto do mundo continuavam sendo
controlados pelo antiquado ritmo de boa e má colheita. Mas esta disparidade entre a
Grã-Bretanha e o continente tornou inevitável que o último insurge-se. No período de
1789 a 1848 mudanças fundamentais estavam ocorrendo: a população mundial
“explodiu”, produzindo mais trabalho jovem e consumidores; o avanço das
comunicações (correios, estradas, navios a vapor, ferrovias, etc); e o aumento do
volume de comércio e da emigração. Um ponto chave é que, depois de 1830, o ritmo
de mudança social acelerou de forma notável, e os problemas sociais característicos
do industrialismo viraram lugar-comum. Assim como na Grã-Bretanha os bens de
consumo lideraram essas explosões de industrialização, mas, diferente dessa, os
bens de capital (ferro, aço, carvão, etc) já eram mais importantes nesse primeiro
momento. O autor também nota que houve uma concentração bem maior que na
Grã-Bretanha, comparando o cenário a um lago coberto de ilhas. Outro aspecto que
a industrialização continental diferia da inglesa e que as precondições para seu
desenvolvimento espontâneo eram menos favoráveis, forçando-o a funcionar de
modo muito diferente deste. Hobsbawm cita então alguns casos, começando com o
paradoxal da França que apesar de aparentemente apresentar as melhores
condições se desenvolve mais lento que outros países devido a revolução francesa.
Já os EUA eram o oposto da França, tendo poucas condições mas as importando na
forma de capital e mão de obra que, combinado com a exploração de seu imenso
território, levou a uma expansão econômica quase ilimitada. Seu grande obstáculo
era o conflito entre o norte agrícola e industrial e o sul semicolonial. Observou-se
parte do mundo saltar para frente enquanto outra ficou para trás, sendo difícil as
atrasadas resistir à força e atração dos novos centros. Isso supondo que uma
economia fosse tanto forte quanto politicamente independente para escolher se
seguia ou não o papel que lhe havia sido relegado. Essa divisão entre os países
“adiantados” e os “subdesenvolvidos” provou ser profunda e duradoura.
Entre 1789 e 1848 a terra determinava a vida e a morte da maior parte dos
seres humanos, e o impacto da dupla revolução sobre a propriedade e aluguel de
terra e sobre a agricultura foram catastróficos. Havia um “gelo” impedindo o
crescimento econômico, que tinha de ser derretido por três tipos de mudança: a terra
ser transformada em mercadoria; a terra ser propriedade de homens interessados
em desenvolvimento e lucro; a população ser transformada em trabalhadores
assalariados. Para tal mudanças haviam dois grande obstáculos: o campesinato
tradicional e os proprietários de terra pré-capitalistas (nobres e Igrejas). Isso
significava que o “feudalismo” tinha que ser abolido. Onde ele já não era ausente
isso foi alcançado, na maior parte, através da intervenção da revolução francesa.
Com exceção dos países onde já havia sido abolido, ou nunca havia realmente
existido, os métodos para alcançar essa revolução foram muito semelhantes. Mas a
revolução francesa não foi a única força motor para essa mudança. O argumento
econômico racional e a ganância da nobreza também estavam presentes. Fora da
França e suas proximidades, os passos legais foram dados muito mais
vagarosamente, com exceção das terras da Igreja, que tinham poucos defensores e
muito lobos. Entretanto, contra a crença da teoria econômica liberal, essa
redistribuição de terra não produziu a classe de empreendedores progressistas que
se esperava, e os novos proprietários ocuparam o lugar e papel dos antigos, dando
origem a uma série de “barões”. Os próprios camponeses, acostumados com o
velho sistema tradicional, raramente desejavam uma economia agrária burguesa. A
revolução legal, ao seu entendimento, lhe deu alguns direitos legais em troca dos
benefícios do campesinato, gerando grande insatisfação. Isso ilustra que em certas
partes a revolução legal foi imposta de fora e de cima. Era necessário uma
conjuntura econômica extraordinária para produzir um cataclismo em uma sociedade
agrária por meios puramente econômicos, como observado na Irlanda e, até certo
ponto, na Índia.
Também houveram os resultados humanos, que não podem ser
simplesmente reduzidos a aritmética pois são mudanças sociais fundamentais. As
classes que se beneficiaram de forma mais óbvia (aristocratas e proprietários de
terra) foram aquelas que sofreram menos dessa transformação. Essa continuidade
significa que as novas classes ascendentes de empresários encontram um estilo de
vida consagrado à sua espera caso seu sucesso fosse grande o suficiente para os
guinar para a classe superior. Entretanto a absorção a uma oligarquia aristocrática
estava aberta apenas a uma minoria, e se viu incapaz de assimilar a massa de
homens. O “escalão intermediário” passou então a ser visto como uma “classe
média". Suas vidas foram transformadas mais não desorganizadas, e estavam
contentes com o que tinham adquirido. O mesmo não ocorreu com os pobres e
trabalhadores, cujo estilo de vida foi destruído sem ser adequadamente substituído.
Em primeiro lugar, a mão de obra agora era composta de proletários ao invés de
famílias cujas rendas salariais suplementam algum acesso direto aos meios de
produção. O vínculo do servo deu lugar ao de recebimento de salário em dinheiro.
Em segundo, o trabalho industrial impõem uma regularidade diferente dos ritmos
pré-industriais Em terceiro, o trabalho passou a ser realizado cada vez mais nas
grandes cidades, essas imundas, poluídas e lotadas. Uma lembrança de sua
exclusão social. E em quarto, a experiência, tradição, sabedoria e moralidade da era
pré-industrial não traziam orientações adequadas para o comportamento exigido por
uma economia capitalista. Esses fatores qualitativos se somam ao qualitativo: sua
pobreza material devido a desigualdade econômica. Também houveram aqueles
cujas condições de vida pioraram sem dúvida, como os trabalhadores agrícolas e
aqueles em ocupações degradadas pelo progresso técnico. Mas mesmo com essas
informações, é impossível dizer se houve, em média, um ganho ou perda líquida
devido a falta de informação. Frequentemente, Ondas de desespero assolavam a
Grã-Bretanha. Uma dessas agitações assistiu à ideia de "sindicatos gerais” crescer,
assim como sua arma final da “greve geral”. Esses movimentos eram mantidos
coesos pela insatisfação de homens pobres e escravizados em um país rico e livre.
Já começando em 1848, houve a transformação e expansão econômica que
transformou o mundo capitalista. Iniciada com uma expansão, a mais espetacular
até então, ela foi temporariamente impedida pelos eventos de 1848. Mas o que se
seguiu foi extraordinário e sem precedentes, satisfatório para homens de negócio
pela sua combinação de capital barato e rápido aumento de preços. Estes não foram
os únicos a lucrar, como evidenciado pela alta taxa de emprego. De forma geral,
essa expansão fez a política entrar em estado de hibernação. Os governos abatidos
pela revolução tiveram espaço para respirar e as esperanças dos revolucionários
foram destruídas. Esta calma chegou ao fim com a Depressão de 1857.
Economicamente, foi apenas uma interrupção da era de ouro do crescimento
capitalista. Politicamente, frustrou as esperanças dos revolucionários e reanimou a
política, trazendo as velhas questões da política liberal de volta a ordem do dia. A
política ganhou um novo sopro no período de expansão de 1851 a 1857, mas já não
era a política da revolução. Qual foi o motivo para a expansão econômica acelerada
nesse período? Duas razões: primeiro, a estrada de ferro, a “suprema realização” da
economia industrial; segundo, o espaço geográfico que poderia multiplicar-se à
medida em que aumentasse a intensidade das transações comerciais. Isto ofereceu
a base para a gigantesca expansão das exportações. Observadores da época
apontavam um terceiro fator: as grandes descobertas de ouro na Califórnia, Austrália
e outros lugares. Sua ausência traria tantos inconvenientes quanto se pensava, mas
sua nova disponibilidade tinha três aspectos: primeiro, produziu a uma era de
inflação moderada, mas flutuante; segundo, estabeleceu um padrão monetário
estável e seguro firmado na libra esterlina, a liberação da iniciativa privada. Os rivais
da Inglaterra aceitaram esse arranjo favorável a essa porque beneficia a todos,
mesmo que beneficia-se desproporcionalmente a Inglaterra, e porque nesse
momento havia vantagem em utilizar o equipamento e o know-how da Inglaterra.
Uma análise dos resultados revela que o progresso estava muito mais
geograficamente espalhado, apesar de forma desigual. Nesse período as inovações
tecnológicas na indústria do ferro e do aço tiveram um papel análogo ao das
indústrias têxtil na era precedente. A nova “indústria pesada” era apenas
revolucionária em escala, mas dois tipos de indústria se desenvolveram a partir de
tecnologias mais revolucionárias: a química e a elétrica. Estás diferente das
invenções técnicas da primeira fase industrial, exigiam conhecimento científico mais
avançado, e o laboratório de pesquisa tornou-se parte do desenvolvimento industrial.
Isso significou que o sistema educacional tornou-se crucial para o desenvolvimento
da indústria. Mas o que ele precisava não era tanto originalidade científica e
sosticação, mas a capacidade de compreender e manipular a ciência. As inovações
de um punhado de pioneiros, quando concebidas em termos facilmente conversíveis
em maquinaria, foram rapidamente e amplamente adotadas. Então houve a
derrocada, e ao contrário do que tinha ocorrido previamente, e ao que esperavam os
homens de negócios, ela não parecia chegar ao fim. Com essa “Grande Depressão”
começou uma nova era.
Mas a de se mencionar a situação da terra durante esses “anos dourados”. A
maioria da população mundial ainda era rural, e a terra continuava como
determinante da economia. Dito isso, a agricultura estava sujeita a economia
industrial. Três características marcavam a agricultura nesse período: crescimento
enorme do comércio dos produtos agrícolas, a fuga da terra, e
Estes se deveram a duas razões: a tecnologia, que abriu novos territórios, e a
especialização produtiva, que transformou áreas além-mar em produtores
especializados. O elemento dinâmico desse desenvolvimento da agricultura foi a
crescente demanda urbana e industrial. Mas era claro que existia uma separação
entre a agricultura camponesa tradicional, voltada para o mercado interno, e a
agricultura industrial, voltada para o mercado externo. Já quanto à extensão da área
de uso agrícola, se constata um crescimento mundial muito expressivo. Mas como a
indústria contribuiu para a agricultura? De modo geral, não o fez de modo
expressivo, mas é notável no aspecto da química orgânica. Havia resistências a
mudanças na agricultura: os camponeses, seus superiores, e o peso das sociedades
tradicionais. Mas estes estavam destinados a serem vítimas do capitalismo, mesmo
que esse primeiro pudesse apenas minar suas bases. Estavam sob pressão as
plantações escravas, a propriedade servil, e a economia camponesa tradicional.
Destas, apenas a última se manteve. As outras foram liquidadas por fatores de
cunho político e de pressão econômica, além de outros, como o descontentamento
de camponeses durante a Grande Depressão. Ultimamente, é difícil distinguir em
que medida a vida no campo foi modificada pela chegada desse mundo novo.
Voltamos a “Grande Depressão” mencionada anteriormente, que fecha a era
do liberalismo econômico. Primeiro, a de se mencionar que durante esse período a
economia não se estagnou, continuando sua expansão produtiva. Dito isso, essa foi
uma depressão no sentido de preços, juro e lucros, e sua principal vítima foi a
agricultura. Esta reagiu de diversas formas, como abandono e, imigração, entre
outras. A deflação que marcou esse período limitou as taxas de lucros, e o
crescimento do mercado não foi suficiente para compensar. Dada essa diversidade,
se tomaram três grandes medidas: o protecionismo, a concentração econômica e
racionalização empresarial, e o imperialismo. Um fruto dessa “Grande Depressão” foi
a agitação social, tanto entre agricultores e operários. Dentro da lógica de
Kondratiev, a depressão seria seguida por um boom, como de fato foi pela “belle
époque”.

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