Palavras-chave: revolução industrial; epanção economia
Neste resumo irá-se analisar o que Hobsbawm chama em sua obra de “o
longo século XIX”, começando pelo período de 1789 a 1848 que engloba as origens da revolução industrial e sua proliferação pelo mundo. Voltará-se então para as consequências dessa, no âmbito da terra e de seus resultados humanos. O foco então avançará para o período de 1848-1875 e “a grande expansão" ocorrida e outros desenvolvimentos quanto à questão da terra. Por último, vemos como uma mudança na marcha da economia marca o final deste período. A revolução industrial só se tornaria óbvia por volta da década de 1830. Entretanto, ela teve sua partida na Grã-bretanha, “explodindo” a partir da década de 1780, no que os economistas chamam de partida para o crescimento auto-sustentável. O ponto de partida não se deve pelas capacidades técnicas ou científicas da região, mas por outras condições propícias: uma revolução burguesa feita previamente; o desenvolvimento e o lucro como objetivos da política governamental; a terra sobre proprietários de espírito capitalista que voltaram a agricultura para o mercado e empregavam camponeses; a disseminação de manufaturas; e custos de consumo tão baixos que criaram um mercado de consumo. Mas faltavam uma indústria que já oferecesse recompensas excepcionais e um mercado mundial monopolizado. Fazendo uso de uma economia forte e um estado agressivo permitiram lançar à indústria algodoeira a partir da expansão colonial, que lentamente substituiu o produto importado das Índias Orientais, e eventualmente consolidando monopólios sobre a América Latina e Índia. O algodão virou o termômetro da economia inglesa. No princípio da década de 1840, ocorreu a primeira crise geral do capitalismo. Suas consequências mais sérias foram sociais, gerando-se descontentamento e miséria que levaram ao movimento cartista e ao ludismo. Mas, para os capitalistas, estes problemas só seriam economicamente importantes se causarem um derrube da ordem social. Essa experiência explicitou três falhas do sistema: o ciclo comercial de boom e depressão, a tendência à diminuição da taxa de lucro, e a falta de oportunidades de investimento lucrativo. Hobsbawm se volta então para indústria metalúrgica, que a primeira não era atraente por precisar de investimentos iniciais muito altos. Porém, essa desvantagem não estava presente na mineração de carvão, utilizado tanto no âmbito doméstico quanto no industrial. Essa indústria era grande o suficiente para estimular a invenção das ferrovias. Durante todo este período houve uma virada de uma população, e portanto uma mão de obra, majoritariamente rural para uma urbana. Ao mesmo tempo, o aumento da produtividade no campo tornou possível alimentar essa população urbana crescente. Investir nesse primeiro momento não era fácil, e isto fez os primeiros industriais, estes self-made men, explorarem com mais força os seus trabalhadores. Mas em 1848, apenas a economia inglesa estava efetivamente industrializada, e ela, por consequência, dominava o mundo. Essa lentidão significava que os movimentos econômicos do resto do mundo continuavam sendo controlados pelo antiquado ritmo de boa e má colheita. Mas esta disparidade entre a Grã-Bretanha e o continente tornou inevitável que o último insurge-se. No período de 1789 a 1848 mudanças fundamentais estavam ocorrendo: a população mundial “explodiu”, produzindo mais trabalho jovem e consumidores; o avanço das comunicações (correios, estradas, navios a vapor, ferrovias, etc); e o aumento do volume de comércio e da emigração. Um ponto chave é que, depois de 1830, o ritmo de mudança social acelerou de forma notável, e os problemas sociais característicos do industrialismo viraram lugar-comum. Assim como na Grã-Bretanha os bens de consumo lideraram essas explosões de industrialização, mas, diferente dessa, os bens de capital (ferro, aço, carvão, etc) já eram mais importantes nesse primeiro momento. O autor também nota que houve uma concentração bem maior que na Grã-Bretanha, comparando o cenário a um lago coberto de ilhas. Outro aspecto que a industrialização continental diferia da inglesa e que as precondições para seu desenvolvimento espontâneo eram menos favoráveis, forçando-o a funcionar de modo muito diferente deste. Hobsbawm cita então alguns casos, começando com o paradoxal da França que apesar de aparentemente apresentar as melhores condições se desenvolve mais lento que outros países devido a revolução francesa. Já os EUA eram o oposto da França, tendo poucas condições mas as importando na forma de capital e mão de obra que, combinado com a exploração de seu imenso território, levou a uma expansão econômica quase ilimitada. Seu grande obstáculo era o conflito entre o norte agrícola e industrial e o sul semicolonial. Observou-se parte do mundo saltar para frente enquanto outra ficou para trás, sendo difícil as atrasadas resistir à força e atração dos novos centros. Isso supondo que uma economia fosse tanto forte quanto politicamente independente para escolher se seguia ou não o papel que lhe havia sido relegado. Essa divisão entre os países “adiantados” e os “subdesenvolvidos” provou ser profunda e duradoura. Entre 1789 e 1848 a terra determinava a vida e a morte da maior parte dos seres humanos, e o impacto da dupla revolução sobre a propriedade e aluguel de terra e sobre a agricultura foram catastróficos. Havia um “gelo” impedindo o crescimento econômico, que tinha de ser derretido por três tipos de mudança: a terra ser transformada em mercadoria; a terra ser propriedade de homens interessados em desenvolvimento e lucro; a população ser transformada em trabalhadores assalariados. Para tal mudanças haviam dois grande obstáculos: o campesinato tradicional e os proprietários de terra pré-capitalistas (nobres e Igrejas). Isso significava que o “feudalismo” tinha que ser abolido. Onde ele já não era ausente isso foi alcançado, na maior parte, através da intervenção da revolução francesa. Com exceção dos países onde já havia sido abolido, ou nunca havia realmente existido, os métodos para alcançar essa revolução foram muito semelhantes. Mas a revolução francesa não foi a única força motor para essa mudança. O argumento econômico racional e a ganância da nobreza também estavam presentes. Fora da França e suas proximidades, os passos legais foram dados muito mais vagarosamente, com exceção das terras da Igreja, que tinham poucos defensores e muito lobos. Entretanto, contra a crença da teoria econômica liberal, essa redistribuição de terra não produziu a classe de empreendedores progressistas que se esperava, e os novos proprietários ocuparam o lugar e papel dos antigos, dando origem a uma série de “barões”. Os próprios camponeses, acostumados com o velho sistema tradicional, raramente desejavam uma economia agrária burguesa. A revolução legal, ao seu entendimento, lhe deu alguns direitos legais em troca dos benefícios do campesinato, gerando grande insatisfação. Isso ilustra que em certas partes a revolução legal foi imposta de fora e de cima. Era necessário uma conjuntura econômica extraordinária para produzir um cataclismo em uma sociedade agrária por meios puramente econômicos, como observado na Irlanda e, até certo ponto, na Índia. Também houveram os resultados humanos, que não podem ser simplesmente reduzidos a aritmética pois são mudanças sociais fundamentais. As classes que se beneficiaram de forma mais óbvia (aristocratas e proprietários de terra) foram aquelas que sofreram menos dessa transformação. Essa continuidade significa que as novas classes ascendentes de empresários encontram um estilo de vida consagrado à sua espera caso seu sucesso fosse grande o suficiente para os guinar para a classe superior. Entretanto a absorção a uma oligarquia aristocrática estava aberta apenas a uma minoria, e se viu incapaz de assimilar a massa de homens. O “escalão intermediário” passou então a ser visto como uma “classe média". Suas vidas foram transformadas mais não desorganizadas, e estavam contentes com o que tinham adquirido. O mesmo não ocorreu com os pobres e trabalhadores, cujo estilo de vida foi destruído sem ser adequadamente substituído. Em primeiro lugar, a mão de obra agora era composta de proletários ao invés de famílias cujas rendas salariais suplementam algum acesso direto aos meios de produção. O vínculo do servo deu lugar ao de recebimento de salário em dinheiro. Em segundo, o trabalho industrial impõem uma regularidade diferente dos ritmos pré-industriais Em terceiro, o trabalho passou a ser realizado cada vez mais nas grandes cidades, essas imundas, poluídas e lotadas. Uma lembrança de sua exclusão social. E em quarto, a experiência, tradição, sabedoria e moralidade da era pré-industrial não traziam orientações adequadas para o comportamento exigido por uma economia capitalista. Esses fatores qualitativos se somam ao qualitativo: sua pobreza material devido a desigualdade econômica. Também houveram aqueles cujas condições de vida pioraram sem dúvida, como os trabalhadores agrícolas e aqueles em ocupações degradadas pelo progresso técnico. Mas mesmo com essas informações, é impossível dizer se houve, em média, um ganho ou perda líquida devido a falta de informação. Frequentemente, Ondas de desespero assolavam a Grã-Bretanha. Uma dessas agitações assistiu à ideia de "sindicatos gerais” crescer, assim como sua arma final da “greve geral”. Esses movimentos eram mantidos coesos pela insatisfação de homens pobres e escravizados em um país rico e livre. Já começando em 1848, houve a transformação e expansão econômica que transformou o mundo capitalista. Iniciada com uma expansão, a mais espetacular até então, ela foi temporariamente impedida pelos eventos de 1848. Mas o que se seguiu foi extraordinário e sem precedentes, satisfatório para homens de negócio pela sua combinação de capital barato e rápido aumento de preços. Estes não foram os únicos a lucrar, como evidenciado pela alta taxa de emprego. De forma geral, essa expansão fez a política entrar em estado de hibernação. Os governos abatidos pela revolução tiveram espaço para respirar e as esperanças dos revolucionários foram destruídas. Esta calma chegou ao fim com a Depressão de 1857. Economicamente, foi apenas uma interrupção da era de ouro do crescimento capitalista. Politicamente, frustrou as esperanças dos revolucionários e reanimou a política, trazendo as velhas questões da política liberal de volta a ordem do dia. A política ganhou um novo sopro no período de expansão de 1851 a 1857, mas já não era a política da revolução. Qual foi o motivo para a expansão econômica acelerada nesse período? Duas razões: primeiro, a estrada de ferro, a “suprema realização” da economia industrial; segundo, o espaço geográfico que poderia multiplicar-se à medida em que aumentasse a intensidade das transações comerciais. Isto ofereceu a base para a gigantesca expansão das exportações. Observadores da época apontavam um terceiro fator: as grandes descobertas de ouro na Califórnia, Austrália e outros lugares. Sua ausência traria tantos inconvenientes quanto se pensava, mas sua nova disponibilidade tinha três aspectos: primeiro, produziu a uma era de inflação moderada, mas flutuante; segundo, estabeleceu um padrão monetário estável e seguro firmado na libra esterlina, a liberação da iniciativa privada. Os rivais da Inglaterra aceitaram esse arranjo favorável a essa porque beneficia a todos, mesmo que beneficia-se desproporcionalmente a Inglaterra, e porque nesse momento havia vantagem em utilizar o equipamento e o know-how da Inglaterra. Uma análise dos resultados revela que o progresso estava muito mais geograficamente espalhado, apesar de forma desigual. Nesse período as inovações tecnológicas na indústria do ferro e do aço tiveram um papel análogo ao das indústrias têxtil na era precedente. A nova “indústria pesada” era apenas revolucionária em escala, mas dois tipos de indústria se desenvolveram a partir de tecnologias mais revolucionárias: a química e a elétrica. Estás diferente das invenções técnicas da primeira fase industrial, exigiam conhecimento científico mais avançado, e o laboratório de pesquisa tornou-se parte do desenvolvimento industrial. Isso significou que o sistema educacional tornou-se crucial para o desenvolvimento da indústria. Mas o que ele precisava não era tanto originalidade científica e sosticação, mas a capacidade de compreender e manipular a ciência. As inovações de um punhado de pioneiros, quando concebidas em termos facilmente conversíveis em maquinaria, foram rapidamente e amplamente adotadas. Então houve a derrocada, e ao contrário do que tinha ocorrido previamente, e ao que esperavam os homens de negócios, ela não parecia chegar ao fim. Com essa “Grande Depressão” começou uma nova era. Mas a de se mencionar a situação da terra durante esses “anos dourados”. A maioria da população mundial ainda era rural, e a terra continuava como determinante da economia. Dito isso, a agricultura estava sujeita a economia industrial. Três características marcavam a agricultura nesse período: crescimento enorme do comércio dos produtos agrícolas, a fuga da terra, e Estes se deveram a duas razões: a tecnologia, que abriu novos territórios, e a especialização produtiva, que transformou áreas além-mar em produtores especializados. O elemento dinâmico desse desenvolvimento da agricultura foi a crescente demanda urbana e industrial. Mas era claro que existia uma separação entre a agricultura camponesa tradicional, voltada para o mercado interno, e a agricultura industrial, voltada para o mercado externo. Já quanto à extensão da área de uso agrícola, se constata um crescimento mundial muito expressivo. Mas como a indústria contribuiu para a agricultura? De modo geral, não o fez de modo expressivo, mas é notável no aspecto da química orgânica. Havia resistências a mudanças na agricultura: os camponeses, seus superiores, e o peso das sociedades tradicionais. Mas estes estavam destinados a serem vítimas do capitalismo, mesmo que esse primeiro pudesse apenas minar suas bases. Estavam sob pressão as plantações escravas, a propriedade servil, e a economia camponesa tradicional. Destas, apenas a última se manteve. As outras foram liquidadas por fatores de cunho político e de pressão econômica, além de outros, como o descontentamento de camponeses durante a Grande Depressão. Ultimamente, é difícil distinguir em que medida a vida no campo foi modificada pela chegada desse mundo novo. Voltamos a “Grande Depressão” mencionada anteriormente, que fecha a era do liberalismo econômico. Primeiro, a de se mencionar que durante esse período a economia não se estagnou, continuando sua expansão produtiva. Dito isso, essa foi uma depressão no sentido de preços, juro e lucros, e sua principal vítima foi a agricultura. Esta reagiu de diversas formas, como abandono e, imigração, entre outras. A deflação que marcou esse período limitou as taxas de lucros, e o crescimento do mercado não foi suficiente para compensar. Dada essa diversidade, se tomaram três grandes medidas: o protecionismo, a concentração econômica e racionalização empresarial, e o imperialismo. Um fruto dessa “Grande Depressão” foi a agitação social, tanto entre agricultores e operários. Dentro da lógica de Kondratiev, a depressão seria seguida por um boom, como de fato foi pela “belle époque”.