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LÍNGUA GREGA
Visão Semântica, Lógica, Orgânica e Funcional

Volume I
Teoria

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HENRIQUE MURACHCO

LÍNGUA GREGA
Visão Semântica, Lógica, Orgânica e Funcional

Volume I
Teoria

discurso editorial

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Copyright © by Henrique Murachco, 2001
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reproduzida por meios mecânicos ou outros quaisquer
sem a autorização prévia da editora.

Produção gráfica: Logaria Brasil®


Projeto gráfico, editoração e capa: Guilherme Rodrigues Neto
Tiragem: 2.000 exemplares

Ficha catalográfica: Sonia Marisa Luchetti CRB/8-4664


M972 Murachco, Henrique
Língua grega: visão semântica, lógica, orgânica e
funcional / Henrique Murachco. – São Paulo: Discur-
so Editorial / Editora Vozes, 2001.
2 v.

ISBN v.1: 85-86590-22-3


ISBN v.2: 85-86590-23-1

1. Língua Grega Clássica 2. Semântica I. Título

CDD 481
481.7
485

discurso editorial
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Agradeço:
Ao Prof. Robert H. AUBRETON
Mestre e amigo.
Todos nós de Letras Clássicas lhe devemos muito,
e eu, quase tudo.

A todos os meus inumeráveis alunos, colegas e amigos


de todos os lugares, de todas a idades,
que me proporcionaram o prazer de servir.
Com um amor de amigo enorme.

A France, Cristina, Sílvia e Karine, esposa e filhas,


começo, fim e razão de tudo,
pelo silencioso afeto,
conivência afetuosa e compreensão paciente.
A Jean Baptiste e Arthur Aymeric,
meus netos, raios de sol.
A Heloísa, minha neta, nos dedos-rosa da aurora.
Por existirem.

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Introdução:
Guia do leitor

Depois de ter escrito e reescrito cerca de 600 laudas, depois de ter


lido e relido, sempre com a preocupação de encontrar uma falha, um va-
zio, um lapso, e depois das cobranças dos alunos, ex-alunos, que nunca
são “ex-”, e sobretudo de meus colegas, sento-me à frente do computa-
dor para escrever uma ou a “introdução” ao meu trabalho, que, também,
devido à cobrança desses “amigos”, acabou sendo a tese de doutoramento.
Vou conseguir? O tempo dirá.
Como começar? Pelo começo!
O começo, perdido no tempo, situa-se em 1969, quando a reforma
curricular do Curso de Letras introduziu as matérias optativas. Essas
matérias visavam a um fim preciso: abrir os horizontes dos alunos; não
deixá-los presos a esquemas fechados.
Viu-se então que o interesse pela Antigüidade Grega, pela Litera-
tura Grega e pela Língua Grega era grande, e o número de interessados
foi crescendo.
Mas, como fazer para que essa passagem de um, dois, três e até no
máximo quatro semestres pudesse deixar uma marca, ou, melhor dizen-
do, para que professor e aluno não ficassem com a sensação de terem
perdido seu tempo, e para que os créditos obtidos pelos alunos não se
assemelhassem a tantos outros, em que, de um lado, se finge que se ensi-
na e, de outro lado, se finge que se aprende: dá-se um programa de um
manual; repete-se em aula o que está escrito nele, sem comentário e sem
contestação, e cobra-se no fim do semestre numa prova, em que o aluno
devolve o que recebeu. E essa devolução em geral assume um sentido

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denotativo; isto é, devolve-se de fato! O aluno vai embora com seus cré-
ditos e o professor fica com a sensação de tarefa terminada.
Mas, como minha postura na sala de aula sempre foi de diálogo,
de querer saber se o aluno entendia ou não o que eu tentava passar-lhe,
surgiram as primeiras perguntas e contestações, e aí começaram as primei-
ras “apostilas” com redação pessoal, diferente dos manuais e gramáticas.
Mas, o que se dizia e se discutia na sala de aula era muito diferente
do que as “apostilas” traziam; ou melhor, o que se dizia na sala de aula
era não só diferente, mas muitas vezes mais extenso e variado do que o
que estava na apostila. E as “edições” das apostilas foram se sucedendo
em folhas avulsas, sempre com a intenção de servir aos alunos.
Nunca tive a idéia de escrever um método ou uma gramática de
grego. Não era necessário! Havia tantas gramáticas no mercado! Todas
elas lastreadas em tradição multissecular!
Era um respeito quase ou mais que religioso que me impedia dis-
cuti-las e muito menos criticá-las. Eu mesmo devia meus conhecimen-
tos de grego a elas.
Quantos helenistas não deviam seu sólido saber a elas?
Mas eu não encontrava nelas as respostas às perguntas que os alu-
nos faziam: por que essa função se exprime por esse caso e aquela pelo
outro. O que significa “nominativo”? O que significa “acusativo”? Por
que o sujeito “vai” para o nominativo e o objeto direto “vai” para o acu-
sativo? Por que a relação de lugar “para onde” vai também para o acusati-
vo? Não é uma relação adverbial?
Fui buscar essas explicações nas gramáticas. Passei pelas gregas (a
lista delas está na Bibliografia); passei pelas latinas, pelas portuguesas,
pelas francesas e sempre encontrei as mesmas coisas: uma nomenclatura
fixa, com algumas variações superficiais, mas definindo e delimitando de
uma maneira autoritária e final que as relações das palavras na frase esta-
vam definidas e que o que o aluno deve fazer é aprendê-las de cor e, pelos
exercícios, fixá-las na mente até que fiquem automáticas.
Todas as gramáticas são descritivas, historicistas, formalistas,
prescritivas.
Ao criticá-las não quero desmerecê-las. Elas prestaram relevantes
serviços à evolução cultural do Ocidente. Elas são preciosas sobretudo
porque nos conservaram e passaram centenas de documentos, de textos,
de testemunhos antigos, em todas as línguas. É um material imenso que
está à nossa disposição.

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introdução: guia do leitor 11

Não quero discutir as metodologias e didáticas modernas, atuais,


que usam de inúmeros instrumentos para o ensino de idiomas: desde a
hipnopedia até as muitas variantes dos audiovisuais. Elas são destinadas a
alunos e aprendizes de diversas idades: desde a pré-escola (jardim da in-
fância) até a adultos, que, de repente, precisam do inglês, do francês, do
castelhano, do alemão “instrumental”.
Mas nenhum desses métodos entra em profundidade na língua;
nenhum deles faz “pensar a língua”. Todas as abordagens das gramáticas
e métodos tradicionais abordam o estudo das línguas de fora para dentro,
isto é, da teoria para a prática, do abstrato para o concreto. Nós achamos
que dessa maneira estamos na “contramão”.
As escolas despejam sobre as crianças uma série de conhecimentos
abstratos, transformados em “regras”, muito antes de as crianças terem a
capacidade de abstração. É por volta dos 12 aos 14 anos que o adolescen-
te se torna capaz de pensamento abstrato.
Ora, desde a alfabetização até as regras de gramática, de acentua-
ção, ortografia, são formas de conhecimento abstrato, “arbitrário”, dizem
alguns, que a criança acaba “aprendendo” de cor, e devolvendo de cor,
mas não entendendo 1.
Na Grécia, a gramática surgiu no período alexandrino, depois das
conquistas de Alexandre Magno e da formação do seu império que não
chegou a comandar; mas o grande feito de Alexandre foi o de tornar a
língua grega a língua comum (² koin¯ glÇtta) de todo o Mediterrâ-
neo, o que vale dizer, de todo o mundo antigo conhecido, ocidental, bem
entendido. E a gramática do grego foi concebida para que estrangeiros,
isto é, os não gregos, aprendessem a língua de todos.
Pensou-se então em regras práticas: um conjunto de informações
necessárias para que o falante de outra língua aprendesse rapidamente a
língua grega.
Essa é a origem da gramática descritiva. Ela dispensa o “porquê”;
quer ser prática, objetiva.

1 Em grego a raiz may- desenvolve o verbo many‹nv, que significa em primeiro


lugar “eu entendo”, e daí, naturalmente, o significado se ampliou para “eu apren-
do”. Aprender, então, pressupõe necessariamente entender.

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A gramática de Dionísio Trácio é herdeira dessa gramática pri-


meira. Ela é descritiva e já contém alguns vícios de nomenclatura, que os
gramáticos latinos herdaram quando a traduziram, adaptaram e adotaram
para o latim.
Durante a exposição das diversas partes deste trabalho, vamos co-
mentar essa nomenclatura, como, por exemplo, a expressão “subjunti-
vo”, para um modo que nem sempre exprime uma subordinação.
Mas os autores gregos, Platão, Aristóteles e outros, não estuda-
ram a língua grega pela gramática. Mas sabiam muito bem a lingua grega!
Muito mais do que isso: transformaram-na num instrumento perfeito,
para exprimir com perfeição todos os matizes do pensamento humano.
Como, então, eles aprenderam a língua?
Não vamos tratar disso com pormenores. Não é o tema deste tra-
balho. Mas não podemos furtar-nos de reproduzir a fala de Protágoras,
quando explica a Sócrates, a função da educação 2:
“Começando desde a tenra infância até o fim da vida (os pais) ensi-
nam e exortam.
Assim que uma criança compreenda o que é dito, tanto a ama, quanto
a mãe, o pedagogo e até o próprio pai discutem a respeito dela, de modo a que
o menino seja o melhor possível; a cada gesto, a cada palavra eles dão lições
demostrando que isto é justo, aquilo é injusto, isto é bonito, isto é feio e que
isto é permitido aquilo é proibido e faz isto, não faças aquilo. E se ele obedece
de boa vontade, (...) se não, eles o endireitam com ameaças e com pancadas,
como a uma vara torta e curva.
Depois disso, ao enviá-lo à escola, eles têm em vista mais cuidar do
bom comportamento das crianças do que das letras e da cítara. Os mestres se
encarregam dessas coisas, e quando, por sua vez, as crianças entendem as letras
e passam a entender os escritos, como antes a fala, eles, os mestres, dispõem
sobre as carteiras, para ler, os poemas dos bons poetas e os obrigam a aprender
de cor aqueles nos quais se encontram muitos preceitos, muitas digressões (nar-
rativas), muitos conselhos e muitos elogios dos homens antigos bons, a fim de
que o menino, por emulação, os imite e procure tornar-se igual a eles.
Os citaristas, por sua vez, empreendem outras coisas desse tipo; eles se
preocupam com a moderação e para que os jovens não se dirijam para o mal.

2 Platão, Protágoras, 325c5-326e6.

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Além disso, quando os meninos aprendem a tocar cítara eles ensinam poemas
de outros poetas bons, os líricos, acordando-os ao som da cítara e condicionam
as almas dos meninos a se habituarem com os ritmos e com a harmonia para
que eles sejam mais calmos e para que, tornando-se mais bem ritmados e mais
harmoniosos, eles se tornem aptos para a fala e para a ação; pois toda a vida
do homem precisa de bom ritmo e de harmonia...”
Pelo que se vê, a língua era aprendida nos textos e pelos textos.
Essa passagem de Protágoras nos dá ainda outra idéia: que o me-
nino ateniense, depois de aprender muitos textos dos poetas épicos (Ho-
mero e Hesíodo) e dos poetas líricos, que eram de toda a Grécia, ao pas-
sar para as aulas de ginástica, ele não é mais um menino ateniense, ele é
um menino grego! A unidade da Grécia, desde o Ponto Euxino até Mar-
selha e mesmo às Colunas de Heraclés, se fez pela língua. Os Jogos Olím-
picos a cada 50 lunações eram a expressão dessa Grécia3.
Foi essa a “gramática” de Platão, Aristóteles, Lísias, Demóstenes,
Górgias e outros.
Mas, a gramática pensada para os estrangeiros passou também a
ser empregada nas escolas, e os meninos do período alexandrino, aos pou-
cos, passaram a ter que aprender, além dos textos dos poetas, também as
regras de gramática.
É essa a origem da gramática descritiva e impositiva, prescritiva.
Ela se manteve intocável durante séculos; até agora mesmo. Como
exemplo poderíamos citar Konstantinos Láskaris, um dos intelectuais bi-
zantinos que emigraram para Nápoles, por ocasião da tomada de Cons-
tantinopla pelos turcos em 1453. Convidado por um nobre milanês para
ensinar a língua grega para suas filhas, escreveu uma gramática, em 1476.
A base dela é a de Dionísio Trácio, com alguns acréscimos, mas
sem aprofundar nada. Até os paradigmas são os mesmos!
No correr deste trabalho aludiremos muitas vezes a esses fatos, para
o que, antecipadamente, pedimos desculpas. Mas é vício de professor. A
repetição à exaustão acaba por prevalecer. Além disso, essa desordem, se
não foi pretendida no início, acabou prevalecendo, como uma conseqüên-

3 Conclui-se daqui que as diferenças dialetais, que as gramáticas valorizam tanto,


eram sentidas como meras variantes da língua, sem nenhuma dificuldade de en-
tendimento e de fixação.

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cia natural do meu trabalho que foi se desenvolvendo de uma maneira


artesanal, diária, geralmente na sala de aula. E a cada nova abordagem
esbarrávamos nos mesmos problemas de sempre: descritivismo, falta de
explicação e falta de coerência.
Nosso objetivo nesta Introdução (é preciso uma introducão! uma
introdução é preciso!) é tentar guiar o leitor pelo nosso caminho e du-
rante o percurso mostrar-lhe que a língua grega é de uma coerência to-
tal, a começar pelo enunciado, que é a base de todo o sistema.

O que é o enunciado?
Podemos chamá-lo de frase, oração, período, discurso etc. O enun-
ciado é uma palavra ou um conjunto delas que exprime um pensamento
inteiro, acabado.
A base do enunciado é, como já disse, a essência (oésÛa) e o
predicado (kathgorÛa, kathgñreuma)4. Em outros termos: o sujeito
(tò êpokeÛmenon), o de que se diz alguma coisa e o verbo (=°ma), o
que é dito daquele de que se diz alguma coisa.5
O enunciado é a base do discurso. Ele repousa sobre dois pilares: o
sujeito e o predicado; o substantivo e o verbo; a essência e a ação.
O sujeito deve ser, necessariamente, um substantivo (êpokeÛme-
non) e o predicado deve ser, necessariamente, um verbo (=°ma). Não há
enunciado sem sujeito e predicado. É uma impossibilidade funcional,
lógica, semântica.
O enunciado, então, só é completo se contém sujeito e predicado,
num encadeamento de dependência: um não existe sem outro; a noção
do sujeito supõe o predicado e a noção do predicado supõe o sujeito 6.

4 Isto está na primeira obra do Órganon, de Aristóteles, chamada “As categorias”;


na verdade são: uma “essência – oésÛa”, e nove “categorias – predicados”. O mes-
mo acontece no enunciado: o sujeito: êpokeÛmenon – oésÛa, e “=°ma – kath-
gorÛa / kathgñreuma”.
5 O significado de “verbo” nesta dicotomia “sujeito/verbo” não significa “ação” mas
“resultado da ação”, isto é: o que é dito. O sufixo -ma significa resultado da ação,
contrapondo-se ao sufixo -siw , que significa a ação, (sufixo -ção em português).
6 Às vezes pode acontecer que o sujeito ou o verbo não estejam expressos. Isso fez
alguns gramáticos criarem as frases chamadas “nominais” / “frases sem verbo”, ou

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Mas o sujeito pode vir modificado, ampliado, enriquecido e o pre-


dicado pode vir também modificado, ampliado, enriquecido. O sujeito
pode ter adjunto adnominal (epíteto), predicativo, aposto, e o predicado
(verbo) precisa ter sujeito, agente ou paciente; ele pode ser também am-
pliado, modificado, enriquecido, completado; pode ter advérbio (que é o
adjetivo do verbo), pode ter complemento direto, pode, com a ajuda da
preposição, exprimir relações espaciais etc.
Todas essas relações dentro do enunciado estão encadeadas orga-
nicamente, logicamente, como os elos de uma corrente, com todos os
elementos formando um todo e cada elemento ligado e dependente de
um e ligando e condicionando um outro. Assim, se identificarmos um
desses elementos, nós teremos o fio da meada ou um elo da corrente, e
por ele podemos chegar a outros e a todos.
Essa identificação se faz através do sujeito e do verbo, essencial-
mente, e a seguir entre substantivos e verbos, no caso de desdobramen-
tos de sujeito e predicado.
Em grego nós temos a tarefa facilitada pela identificação formal
das funções dos nomes. Eles estão em determinados casos, que corres-
pondem a determinadas funções. Rigorosamente, sem desvios. Basta iden-
tificarmos os casos para identificarmos as funções.
Identificada a função, passamos a procurar o que determinou essa
função: se é sujeito, porque está no nominativo, vamos procurar o verbo
que fala do sujeito; se o verbo está na voz ativa ou média, o sujeito é
agente; se está na voz passiva, o sujeito é paciente. Se está na voz ativa ou
média, e o verbo é incompleto, isto é, transitivo, vamos buscar o seu com-
plemento que estará no caso semanticamente compatível com a relação
com o verbo. Se o verbo está na voz passiva, o sujeito é paciente de um
ato verbal desencadeado por um agente externo, que é o agente da passi-
va. E assim por diante. Os elementos acessórios, adjetivos e advérbios,
serão reconhecidos a seu tempo.
Mas, para dar instrumentos para que o estudante de grego identi-
fique as partes, é preciso que ele aprenda a flexão dos nomes e dos ver-
bos, para que possa identificar exatamente a função dos nomes e a voz, a
pessoa, o modo, o aspecto do verbo.

as frases só com verbos. Na verdade o verbo está implícito nas “frases nominais”, e
o sujeito está implícito nas frases “verbais”.

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São a flexão nominal e a flexão verbal.


Não vou chamá-las de “declinação” para os nomes e “conjugação”
para os verbos.
Vou chamá-las de flexão nominal e flexão verbal. O leitor encon-
trará, no correr da obra, a justificativa dessa opção.
No momento, basta dizer que os nomes7 e verbos flexionam-se com
base numa parte fixa, que eu denomino “tema”.
Na flexão dos nomes, se a sucessão de casos é sobre o tema, não
existe, ipso facto, um caso que se possa chamar “reto”, que seria o ponto a
partir do qual os outros se sucederiam, numa espécie de escada declinante
(declinação) a que se deu o nome de caso oblíquo.
O tema nominal, enquanto não receber o caso (a ptÇsiw, desi-
nência) que lhe determine a função, está fora do enunciado e contém
nele apenas o significado virtual da palavra. Assim nyrvpo- encerra o
significado de “homem, ser humano”; mas, quando recebe o -n, que é a
marca do acusativo, ele recebe a função de completar o significado de um
verbo, ou uma função análoga. Este é um fato da língua grega. Não é
regra. Por isso não tem exceção.
Começaremos por definir o que entendemos por caso, e o que cada
caso representa. Procuraremos, a partir da relação significante-significa-
do, explicar e justificar os nomes dos casos e mostrar que o nome que
receberam corresponde às funções que eles exercem.
Na medida em que formos explicando e identificando os casos, ire-
mos arrolando exemplos hauridos em dezenas de gramáticas, procurando
mostrar sempre que há uma coerência semântica no uso dos casos e que
o uso deles é orgânico, lógico, semântico.
Não há regras; isto é, não há interferências externas, abstratas (as
regras são interferências externas e abstratas). Há uma organicidade coe-
rente, forte, contínua. Por isso a abundância de exemplos.
O leitor verá também que tivemos sempre a preocupação de tradu-
zir os exemplos da maneira mais linear, concreta, denotativa, procurando
sentir as relações. Não nos preocupamos com o estilo. Não é nem o mo-
mento nem o lugar para isso.

7 Entendo por “nomes”, como Dionísio Trácio, tanto os substantivos como os ad-
jetivos e os dêiticos todos (comumente chamados de pronomes-adjetivos).

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Mostraremos que o nominativo se chama assim porque identifica


o sujeito e as relações secundárias do sujeito.
Mostraremos também que o nominativo é um caso: isto é, recebe
uma ptÇsiw que corresponde à sua função, e que a denominação “caso
reto” é contraditória nos seus próprios termos. Se é “caso” não é reto e se
é “reto” não é caso. Mostraremos também que essa denominação tem
origem de má leitura da visão dos estóicos na relação do sujeito agente
ôryñw, ereto, reto, em condições de agir, e sujeito paciente êptÛow, dei-
tado, supino, passivo.
A partir da idéia de uma posição reta, ereta do sujeito agente, deu-
se o nome de reto ao caso.
É uma visão meramente formal, externa, mas que teve desdobra-
mentos ruins, porque permitiu a visão de outros casos, que caíam, que
“declinavam” do caso reto, isto é, casos oblíquos. Daí se originou todo o
sistema de declinações, que consideramos falso.
Aproveitaremos o espaço para mostrar o que entendemos por
“tema”.
Mostraremos também que o vocativo não é um caso, porque não
tem função e que, coerentemente, tem desinência zero, isto é, é o pró-
prio tema. Diremos também que o vocativo “toma emprestado” as desi-
nências do nominativo, quando a manutenção do tema em consoante,
com a apócope delas, menos o -w, -r, -n, descaracteriza fonética e se-
manticamente a palavra.
Por isso desdobraremos as explicações sobre o genitivo e acusativo.
Separaremos no acusativo a relação do verbo transitivo (incom-
pleto) com o seu complemento (termo do ato verbal) e a relação espacial
“para onde”, expressa com o auxílio das preposições.
Mostraremos também que no acusativo sempre está a idéia de mo-
vimento, quer na sua expressão concreta, espacial, quer nas expressões me-
tafóricas de expressão de duração de tempo e nas extensões referenciais,
que costumamos chamar de “acusativo de relação” ou adverbial: “accusa-
tivus graecus” das gramáticas latinas.
Demostraremos também que o nome “acusativo” não vem de caso
da causa, culpa, mas caso da procura, da busca.
No genitivo identificaremos a relação nominal de definição, restri-
ção, delimitação (complemento ou adjunto adnominal) como no genitivo
latino, e a relação espacial de lugar “de onde” expressa por preposições (abla-
tivo latino) e ainda, por analogia, incluiremos a relação do agente da pas-

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siva, que é uma relação de origem, separação; por isso é relação de geniti-
vo com preposição (ablativo latino com preposição).
Mostraremos também o valor semântico das relações do genitivo
nas “regências” de alguns verbos, como os verbos que significam poder,
domínio, privação, necessidade, desejo, aspiração etc. Insistiremos mui-
to sobre este fato da língua: os casos não são determinados por uma re-
gra exterior, mas pelas relações semânticas entre as partes, sobretudo entre
verbos e nomes.
Definiremos o dativo como o caso da dação, interesse, atribuição,
lateralidade, simultaneidade, exatamente como o dativo latino. Não acei-
tamos a inclusão das relações de instrumental e locativo sob a denomi-
nação de “dativo” por contradição nos próprios termos.
Separaremos esses dois casos, embora os três tenham a mesma
desinência. Nisto seguimos uma sugestão preciosa de Quintiliano.
Mostraremos que o locativo é a expressão do lugar “onde”, com a
idéia de estabilidade, de ausência de movimento. Ela pode ser concreta ou
metafórica. Os exemplos confirmarão essas afirmações. Mostraremos tam-
bém, pelos exemplos, que nos casos de dúvida, pela proximidade dos sig-
nificados entre a noção de lateralidade e de locativo, o próprio texto dará
a resposta certa.
Definiremos também o instrumental como o objeto inerte (que não
age por si) pelo qual passa o ato verbal desencadeado por um agente que
não ele, o instrumento.
Mostraremos também que a distinção entre o “instrumental” ou
“complemento de instrumento ou meio” e o “agente da passiva” não só
passa pela identificação formal (lugar de onde, expresso pelo genitivo com
êpñ), mas também, e sobretudo, pela relação semântica.

Passaremos então para a parte formal, falando em primeiro lugar


da flexão nominal.
A gramática da língua grega divide os nomes em declinações. São
três (no latim são cinco).
A primeira declinação, análoga à latina, contém os nomes que fa-
zem o genitivo singular em -aw/-hw (a latina faz em -ae).
A segunda declinação, análoga à latina, contém os nomes que fa-
zem o genitivo singular em -ou (a latina faz em -i).
A terceira declinação, análoga à latina, contém os nomes que fa-
zem o genitivo singular em -ow (a latina faz em -is).

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Mas há inúmeras exceções: na primeira, os nomes masculinos em


-a/-h fazem o genitivo singular em -ou; na terceira, temos nomes fa-
zendo o genitivo singular em -ouw, em -vw etc.
Cremos que a melhor forma de encarar a flexão dos nomes é ver
neles, como Aristóteles viu (Poética, 20), um composto de duas partes: o
tema e a desinência, isto é, uma parte fixa e outra móvel.
À parte fixa damos o nome de “tema” e à parte móvel damos o
nome de “casos”, para a flexão nominal.
A partir daí basta acrescentar os diversos casos, conforme as fun-
ções que os nomes exercerem no enunciado, para termos a flexão deles.
Um estudo detalhado, mais profundo, poderá constatar que o gru-
po de casos (desinências nominais) é um só, e que as diferenças que apre-
senta para os nomes de tema em vogal e para os nomes de temas em con-
soante ou semivogal são aparentes e são produto de acidentes fonéticos.
No momento, vamos manter os dois grupos: nomes de tema em
vogal e nomes de tema em consoante e semivogal 8.
Veremos que podemos construir toda a flexão dos temas em vogal
a partir de um quadro de desinências.
As dificuldades que surgirão serão de natureza fonética e não
morfológica, que são conseqüências das alterações, acomodações fonéti-
cas que acontecem na junção dos temas às desinências. Elas serão desta-
cadas e explicadas sempre que aparecerem 9.
É por isso que iniciamos o trabalho com uma introdução sobre o
sistema fonético da língua grega, mostrando todos os acidentes fonéticos
que acontecem nos encontros dos sons: vogal + vogal, consoante +
consoante.
Essas alterações fonéticas são constantes, mas não se deve temê-
las. Elas têm causas físicas, fisiológicas, concretas e acontecem no apare-
lho fonador, no momento da articulação dos diversos sons no ponto de

8 As semivogais são: o -i / u , e o -j / W , que são sentidas mais como consoantes do


que como vogais. A prova é que nos temas verbais terminados em semivogais, a
primeira pessoa do indicativo infectum é -v como nos verbos de tema em
consoante.
9 Essas explicações estarão também no quadro geral sobre o alfabeto e os sons, no
início deste trabalho.

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20 introdução: guia do leitor

articulação e modo de articulação. Constataremos também que essas al-


terações fonéticas são comandadas por duas “leis”: a lei do menor esfor-
ço e a competência lingüística e preservação semântica.
Constataremos também que, se os componentes são os mesmos, o
resultado é sempre o mesmo. É uma questão orgânica, natural.
Não há regras nem exceções.
Devemos insistir, contudo, que não estaremos escrevendo um “tra-
tado de fonética grega”, mas, com finalidade exclusivamente prática, es-
taremos registrando e explicando os vários acidentes fonéticos que acon-
tecem na flexão nominal e verbal.
Ao tratarmos dos nomes de temas em vogal, apresentaremos um
quadro geral das desinências com explicação detalhada de cada acidente
fonético e, a seguir, para facilitar a consulta, apresentaremos vários qua-
dros de flexão, sempre com as explicações necessárias.
Teremos sempre em mente que a flexão nominal e também a ver-
bal são um sistema de construção, de montagem. Nunca pediremos ao
aluno que decore paradigmas, embora não sejamos contra a que o aluno
monte o seu, a partir da identificação das duas partes da palavra: tema e
desinência.
Não faremos distinção entre substantivos, adjetivos, dêiticos (pro-
nomes-adjetivos na nomenclatura corrente). Não há razão para isso, na
medida em que a flexão se faz sobre tema e desinência, que são expres-
sões de funções.
No grupo dos nomes de temas em consoante ou semivogal come-
çaremos por traçar um quadro das desinências e a seguir mostraremos
como elas se acoplam aos diversos temas.
Constataremos que a flexão desses nomes todos é absolutamente
regular e que todos os problemas que surgem são acidentes fonéticos que
se originam desse acoplamento das desinências aos temas. Mas todos são
explicáveis e serão explicados.
Daremos a seguir vários quadros de flexão dos diversos temas, como
um referencial seguro para o leitor.

A seguir abordaremos a flexão verbal


Começaremos por afirmar que no verbo grego há apenas dois fatos
importantes: o aspecto e o modo. Diremos que o tempo medido, cursi-
vo, determinante está fora da forma verbal. Ele é o enquadramento do
ato verbal.

mur01.p65 20 22/01/01, 11:35


introdução: guia do leitor 21

Por isso a noção de tempo só se exprime pelo indicativo: a marca do


passado não é uma desinência, mas uma forma exterior ao tema, e se usa
apenas no indicativo.
Não há tempo nos outros modos verbais.
A partir da idéia de que uma forma gramatical, nominal ou verbal
é semântica e sintaticamente autônoma, estudaremos os três aspectos
verbais (que denominamos “tempo interno do verbo”), servindo-nos de
inúmeros exemplos e frases que fomos buscar nas gramáticas.
Mais uma vez não seremos econômicos. Acreditamos que é pela
repetição que se aprende.
Tentaremos explicar o infectum, que, quase sempre, faremos acom-
panhar da palavra “inacabado”, mostrando o leque de seus significados,
que não são divergentes; todos mantêm a idéia da continuidade do pro-
cesso verbal, desde a entrada no processo, até as relações de repetição,
hábito etc.
O leitor verá nos exemplos que há uma coerência semântica
completa.
Estudaremos também o aoristo, que à primeira vista parece difícil,
mas se identificarmos no aoristo a “raiz-tema”, isto é, o ponto de partida
para o infectum e o perfectum, veremos mais uma vez que a relação
significante-significado é muito clara.
Mostraremos que há dois aoristos no indicativo: um que é o ato
verbal na sua essência, sem nenhuma conotação temporal, usado nas ex-
pressões de caráter geral, máximas e provérbios (aoristo gnômico), e que
há o aoristo “narrativo, pontual, enquadrado”; dentro de um quadro nar-
rativo, que dá o enquadramento temporal, o aoristo “pontual” que expri-
me os fatos isolados, que incidem, “pontuam” a linha narrativa. A deno-
minação de aoristo “pontual” é sugestiva, na medida em que ele incide
sobre o processo narrativo, exprimindo apenas o ato verbal isolado, sem
idéia de duração ou acabamento.
Mostraremos também que, por coerência semântica, o tema do
aoristo é a base para a formação dos temas do Infectum-Inacabado e do
Perfectum-Acabado.10

10 Ao introduzirmos o estudo das flexões faremos menção especial para esses fatos.

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22 introdução: guia do leitor

Mostraremos que o perfeito, perfectum “acabado” também faz jus


ao nome: exprime o ponto de chegada do ato verbal, do processo interno
do verbo, sem indicação de tempo externo.
Mostraremos também que o perfeito mais antigo é o perfeito mé-
dio, intransitivo, que dá a idéia de resultado; o perfeito passivo deriva
dessa idéia. O perfeito ativo é mais recente; é menos usado e tem confli-
tos semânticos com algumas formas em alguns verbos.
Mostramos também que, como o infectum tem o passado expres-
so pelo imperfeito e o aoristo tem o passado expresso pelo aoristo enqua-
drado, narrativo, o passado do perfeito é expresso pelo mais-que-perfeito.
Mostraremos que não há outros modos no passado; só o indicativo.
Ao tratarmos da morfologia dos aspectos, veremos em primeiro
lugar que o infectum-inacabado, quando não tem o tema igual ao do
aoristo, ele o tem alargado, ampliado, por prefixos (redobro), infixos e
sobretudo sufixos formadores. Nós vemos nisso uma nítida relação de
significante e significado. O tema do infectum-inacabado nunca é me-
nor11 do que o do aoristo. Isso não é mero acaso.
Começaremos apresentando o quadro geral das desinências, que são
poucas, e mostraremos que não há desinências especiais para esse ou aquele
tema verbal, e que a opção para -v ou -mi da 1a pessoa da voz ativa é
mero problema fonético: os temas em consoante e semivogal optam pelo
-v, e os temas em vogal optam pelo -mi.
Constataremos também que as desinências não pertencem a esse
ou àquele quadro ou paradigma; elas pertencem, “são propriedades” das
pessoas gramaticais. Isso é significativo e importante e explica por que o
grego não usa o sujeito-pronome. É que as desinências o representam
suficientemente.
Cada pessoa gramatical tem “suas” desinências:

11 Salvo alguns raros casos, antigos na língua, como ³gagon. Ver na flexão do aoristo.

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introdução: guia do leitor 23

Quadro das desinências verbais

1ª pessoa sing. ativa prim. -v/-mi


secund. -m >-n (>a depois de consoante)
média/ pas. prim. -mai
secund. -mhn
2ª pessoa sing. ativa prim. -si / w
secund. -w
média/ pas. prim. -sai
secund. -so
3ª pessoa sing. ativa prim. -ti
secund. -t
média/ pas. prim. -tai
secund. -to
1ª pessoa pl. ativa prim. -men
secund. -men
média/ pas. prim. -meya
secund. -meya
2ª pessoa pl. ativa prim. -te
secund. -te
média/ pas. prim. -sye
secund. -sye
3ª pessoa pl. ativa prim. -nti
secund. -n (sa-n)
média/ pas. prim. -ntai
secund. -nto

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24 introdução: guia do leitor

As desinências do imperativo apresentam apenas um problema: o


imperativo singular (o verdadeiro, original, primeiro), na voz ativa do in-
fectum, seria de desinência zero, naturalmente.12 Mas os temas em con-
soante e semivogal precisaram de uma vogal de apoio -e que, por analo-
gia, os outros verbos usam; krÛne/tÛ-ye-e > tÛ-yei.
No aoristo sigmático singular da voz ativa e média, usam-se anti-
gas fórmulas, mas são de 2ª pessoa -so-n / -sai. E no aoristo passivo
singular toma-se emprestada a desinência do locativo -yi sobre o tema de
aoristo passivo.
Observe-se ainda a sintonia ou sinfonia fonética entre as consoan-
tes das pessoas gramaticais e as desinências:
1 o -m- dos pronomes de 1ª pessoa e o -m da primeira pessoa:
no singular:
me/mou/moi → -m-> -n/-mi/-mai/-mhn 13;
No plural, ²meÝw – ²m¡terow → -m-
2 o -s- das 2as pessoas correspondem a tu > su → -w/-sai/-so
3 o -t- das 3 as pessoas do singular tñw e do plural (com -n- epentético) →
-ti / -t/-nt/ntai/-nto
tñw é um antigo dêitico empregado por Homero e Heródoto com
significado de “este”, um anafórico; e aï é um conetivo anafórico “tam-
bém, por sua vez” são os formadores do “pronome” de 3ª pessoa, na ver-
dade um dêitico: aï – tñw > aétñw.

Ao tratarmos da morfologia do aoristo, veremos que há um aoristo


flexionado sobre a própria raiz do verbo. Chamaremos esse aoristo de
aoristo de “raiz-tema”. É o aoristo que as gramáticas denominam “aoris-
to segundo ou aoristo temático”. São denominações impróprias: a pri-
meira porque é meramente administrativa, pois as gramáticas estudam o

12 Faria contraponto com o vocativo, que é o gancho do diálogo apenas; não tem
função e por isso não tem desinência (caso).
13 ¤gÅ é absoluto; não tem plural nem feminino, e as “flexões” dele são sobre tema

diferente. Mas a variante -v de primeira pessoa não deve ser mera coincidência.

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introdução: guia do leitor 25

aoristo sigmático antes desse aoristo; a segunda, como já dissemos, por-


que confunde vogal temática com vogal de ligação.
Diremos também que esse aoristo de raiz-tema é o mais antigo
por razões semânticas e arrolaremos uma lista de verbos homéricos, to-
dos com significados dos atos primeiros, essenciais, concretos, do ser
humano.
Estudaremos a seguir o aoristo em -h, que na origem tem um sig-
nificado médio, intransitivo e depois serviu para exprimir a voz passiva,
sobretudo dos verbos de tema em soante-líqüida, fazendo contraponto
com outra característica da passiva, mais tardia e mais forte, que passou a
ser a paradigmática, -yh- / syh.
Falaremos a seguir do aoristo e do futuro sigmáticos.
Embora o aoristo sigmático esteja presente nos textos homéricos,
sua criação certamente é recente. Mas, por ser uma marca forte, acabou
prevalecendo e passou a ser o aoristo-referência, e todos os verbos “no-
vos” que foram sendo criados passaram a ter o aoristo sigmático.
Dentro do aoristo sigmático mostraremos o tratamento fonético
que ele sofre depois de temas em soante-líqüida: l, m, n, r.
Vincularemos a flexão do futuro à do aoristo, mostrando que, por
razões semânticas, o futuro não poderia ser construído sobre o tema do
infectum-inacabado.
Provaremos também que morfologicamente ele se constrói sobre o
tema do aoristo.

Ao tratarmos do perfectum-acabado, mostraremos que formalmente


ele se constrói sobre o tema do aoristo; falaremos sobre o redobro e suas
variantes e mostraremos que cronologicamente o perfeito médio-intran-
sitivo é anterior ao passivo, que se serviu de suas desinências, e que o
perfeito ativo é o mais recente.
Diremos também que o perfeito ativo é mais difícil de formular
em português, e que, estatisticamente, é o menos freqüente.
Ao pensarmos em português, temos dificuldades em diferenciar um
pretérito perfeito simples de um aoristo narrativo (pontual). A diferença
existe, mas só o contexto nos pode esclarecer.
O imperativo perfeito ativo, embora formalmente possível, exige
uma operação mental complexa: a noção do acabado, perfeito não se co-
aduna com a noção eventual do imperativo. Não temos lembrança de a
termos encontrado em textos.

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26 introdução: guia do leitor

Passamos então a estudar os modos, numa seqüência que mante-


remos sempre: indicativo, subjuntivo, optativo, imperativo, particípio e
infinitivo.
O estudo dos modos em grego é precedido de algumas considera-
ções sobre os modos em português e latim. Mostraremos que a nomen-
clatura referente aos modos é discutível, e que esse problema já está em
Dionísio Trácio, em sua gramática que já sofre os vícios da gramática
descritiva, que deixa de lado a relação significante-significado.
Explicaremos os modos a partir de seus nomes.
É preciso ter em mente, antes de tudo, que o uso desse ou daquele modo
num enunciado qualquer depende do emissor da mensagem, ele é o “dono”
da mensagem, e de como ele quer que o receptor a receba. Estamos fa-
lando de uma mensagem “pensada” coerente, é claro.
Essa observação é muito importante porque, sempre que pensa-
mos em estudar os modos verbais de determinada língua, pensamos na
“sintaxe” dos modos. Essa visão a partir do abstrato para o concreto é a
causadora principal da dificuldade do entendimento e do emprego dos
modos em qualquer língua.
Nós entendemos, e a prática na sala de aula nos confirmou, que as
palavras são autônomas, as expressões, quer verbais quer nominais, têm
um significado em si mesmas e por si mesmas e dentro do enunciado são
elos da cadeia e são interdependentes; o que os comanda é a linha se-
mântica do enunciado, que é o que o emissor elaborou ou está elaboran-
do em sua mente e está transmitindo ao receptor da maneira que ele quer
que o receptor a aceite. A interpretação e o entendimento dos modos
empregados depende desse diálogo direto, sem intermediários, entre “lei-
tor > texto”. Entendemos por “texto” o próprio emissor.
É por isso que não teremos um capítulo de “Sintaxe dos Modos”
ou “Sintaxe do Subjuntivo, ou do Optativo” etc. ou da “Sintaxe das Ora-
ções Temporais, Causais, Relativas, Participiais, Infinitivas.
Os inúmeros exemplos que arrolaremos nos levarão a entender os
modos gregos. Mostraremos, por exemplo, que um subjuntivo é eventual,
e em português se traduz pelo presente ou futuro do subjuntivo quer ele
esteja numa oração final, temporal, causal, modal etc.

Mostraremos que o indicativo é o modo da realidade objetiva e subje-


tiva e, por coerência, ele é também o modo da irrealidade. Exemplificaremos
com algumas frases, estabelecendo as correspondências em português.

mur01.p65 26 22/01/01, 11:35


introdução: guia do leitor 27

O grego usa o mesmo modo, indicativo, quer na realidade objetiva


ou subjetiva enunciativa, quer na irrealidade supositiva, hipotética de
presente e de passado, em que usa, respectivamente o imperfeito e aoris-
to indicativos, apenas marcados por “eޔ na condicionante e “n” na
condicionada.
O português emprega o indicativo para a realidade objetiva ou sub-
jetiva enunciativa presente; para a irrealidade presente, usa o imperfeito
do subjuntivo com marcador “se” na condicionante e o condicional sim-
ples sem marcador na condicionada; e, para a irrealidade passada, o por-
tuguês usa o mais-que-perfeito do subjuntivo com o marcador “se” na
condicionante e o condicional composto, sem marcador, na condiciona-
da. Ver exemplos nas páginas 251 e 267.

Diremos também que a denominação subjuntivo/ conjuntivo é


imperfeita, porque sugere que é o modo da subordinação, quando a su-
bordinação é apenas uma parte de seu significado: nas expressões de de-
liberação, exortação, pedido (voto), não há subordinação. Ela só está pre-
sente na suposição da probabilidade, futura, com o se, ou caso, no caso de,
quando na condicionante e subjuntivo presente ou futuro, e geralmente
futuro (indicativo) sem nada na condicionada; nas construções de finali-
dade, ou se usa para que, a fim de que e o subjuntivo presente ou a cons-
trução para com infinitivo.
Insistiremos no sentido da eventualidade do subjuntivo. O subjun-
tivo é o modo do eventual, do provável, do fato futuro não determinado.
É uma espécie de modo da antecipação.
Portanto, a tradução em português será ou pelo subjuntivo pre-
sente ou pelo subjuntivo futuro ou pelo infinitivo precedido de para.
Essa eventualidade, no entanto, não é sentida em português no
uso do quando eventual, isto é, quando exprime o fato repetido como pre-
sente: cada vez que, sempre que. O português usa o indicativo. O grego
não. Usa coerentemente o subjuntivo, isto é, o eventual, porque, na me-
dida em que um fato é sucessivo, repetido, ele não é um fato só, isto é,
não é delimitado, e por isso o uso do indicativo é impróprio.
Esse sentido da eventualidade, fato futuro, explica o uso de desinências
primárias para todo o subjuntivo.

Ao tratarmos do optativo, diremos que é o modo da possibilidade ou


da afirmação atenuada e que em português nós o traduziremos ou pelo

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28 introdução: guia do leitor

imperfeito do subjuntivo ou pelo condicional simples, que são os modos que


exprimem em português a possibilidade e a afirmação atenuada. Diremos
que a denominação imperfeito do subjuntivo é imprópria, porque o optativo
é o modo da possibilidade, do possível, da transmissão da afirmação de
terceiros, do voto negativo, incerto, da imprecação negativa, incerta, ten-
dente à irrealidade.
Esse sentido de possível, de incerteza, aproxima o optativo mais do ir-
real do que do real ou eventual. Isso explica o uso de desinências secundárias
em todo o optativo.

Ao tratarmos do modo imperativo, diremos que é o modo do diálo-


go, que é bipolar, horizontal, “singular” na relação eu/tu e que, por isso
mesmo, mais uma vez, a denominação “imperativo” não corresponde exa-
tamente ao seu significado. Nem sempre, ou quase nunca, o “imperati-
vo” contém uma ordem.
Mostraremos também que os outros imperativos são formações
analógicas e que há dois imperativos: os de 2 as pessoas (tu e vós), que
denominamos imperativo direto e os de 3as pessoas, também analógicos,
que denominamos imperativo indireto, porque a 3ª pessoa não está no eixo
do diálogo e a mensagem é dada indiretamente.

Ao tratarmos do particípio, mostraremos a riqueza do uso do par-


ticípio em grego. Cada aspecto tem três particípios: da voz ativa, média e
passiva: são doze (infectum, aoristo, futuro, perfeito), e cada um com
três formas: masculino, feminino e neutro. São então, ao todo, trinta e
seis particípios. Formalmente são trinta, porque no infectum e perfectum
a voz média e a voz passiva têm a mesma forma
Mostraremos as correspondências em português, que não são cla-
ras por causa da invasão do gerúndio, que ocupou as funções do particí-
pio da voz ativa.
Em grego, o particípio é um verbo-adjetivo; é disso que ele tira seu
nome metox®, participação. Ele tem formas nominais, mas funcionamen-
to e natureza verbal: ele pode ser adjunto adnominal (epíteto), predicativo
(aposto, conjunto), pode ser substantivado, mas não perde sua natureza
verbal e pode ter objeto direto, pode exprimir relações de espaço, como o
verbo de que ele é a expressão nominal.

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introdução: guia do leitor 29

O infinitivo é o último item desta seqüência, mas ele já terá sido


tratado em parte no capítulo do infectum-inacabado, na voz ativa, por-
que, como noção substantiva do verbo, isto é, um substantivo, pode exer-
cer todas as funções de um substantivo, e mostraremos como o infinitivo
grego descarrega todas as funções e todos os casos no artigo, contraria-
mente ao latim que, não tendo artigo, foi obrigado a criar “casos” para o
infinitivo, e o gerúndio representa esses casos; e que, em português, o
gerúndio representa os casos instrumental e locativo (raramente o geni-
tivo-ablativo).
Mas, também no infinitivo, o grego é mais rico do que o latim e o
português: cada aspecto tem três infinitivos: ativo, médio e passivo:
infectum, aoristo, futuro e perfeito. São 12 infinitivos, com seu signifi-
cado próprio. Na verdade são então, ao todo, 12 infinitivos, semantica-
mente, mas morfologicamente, formalmente, são 10, uma vez que no in-
fectum e no perfectum a voz média e a voz passiva têm a mesma forma.

Completaremos a série falando dos adjetivos verbais em -tñw, -


t®, -tñn, que correspondem aos adjetivos de sufixo bilis, e, em latim, e
-vel, em português: “o que pode ser feito”; e -t¡ow, -t¡a, -t¡on, que cor-
respondem aos adjetivos de sufixo -ndus, a, um do gerundivo em latim, e
em português ao sufixo erudito -ndo do gerundivo latino, com o signifi-
cado de “o que deve ser feito”, ambos construídos sobre o tema verbal puro,
isto é, sobre o tema do aoristo.

Depois da flexão nominal e verbal, passaremos a tratar das


“Invariáveis”.
Na verdade elas são a conexão na relação substantivo/verbo; elas
são “circum-stanciais”, periféricas, “peritta۔.
Começaremos pelas preposições e mostraremos que todas elas são
advérbios com significado espacial. Não há nenhuma preposição com signi-
ficado temporal.
Mostraremos também, individualmente, que os casos que as pre-
posições “regem” são decorrentes da relação espacial que elas determi-
nam e que, por “regerem” mais de um caso, não mudam necessariamente
de significado, que permanece o mesmo, concreto, espacial. O que pode
acontecer é elas serem usadas em outro plano, metafórico, figurado, mas,
a relação espacial metafórica sendo a mesma, o caso será o mesmo. Há

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30 introdução: guia do leitor

uma coerência total nessas construções. Mas para demostrá-la foram pre-
cisos inúmeros exemplos que fomos buscar em várias gramáticas.
A seguir abordaremos as conjunções e conetivos em geral, que a
gramática grega denomina “sændesmoi”, “amarrações”.
Mostraremos que o que chamamos de “partículas” são, na base,
conetivos da oralidade, que permaneceram na mente do homem grego.
Por coincidência, nos textos em que a oralidade está mais presente, como
no teatro ou nos diálogos de Platão, há mais desses conetivos do que nos
textos de Aristóteles, por exemplo. Mas eles são mais instrumentais e
marcadores, e por isso é difícil identificar neles um significado próprio,
independente, permanente. Eles são mais conotativos. Os inúmeros exem-
plos mostrarão isso com bastante clareza.
Mas não estudaremos as partículas separadas das conjunções; elas
estarão na mesma lista, por ordem alfabética.
Nas conjunções propriamente ditas, vemos “amarrações” entre fra-
ses, enunciados. Também aí, por meio de inúmeros exemplos, mostrare-
mos que as conjunções não “regem” esse ou aquele modo verbal. Elas
têm um significado próprio e o modo verbal é decorrente de como o enunciado
é passado do emissor para o receptor: se há uma realidade ou irrealidade é o
indicativo; se há uma eventualidade, o modo é o subjuntivo ou futuro; se
há uma possibilidade, ou atenuação da mensagem, o modo é o optativo.
A seguir estudaremos os advérbios propriamente ditos; eles dife-
rem das preposições, antigos advérbios, na medida em que não exigem
uma relação espacial depois deles; são usados de maneira absoluta. Eles
são os “adjetivos do verbo”, isto é, do =°ma, “o que é dito do sujeito”.
Eles são basicamente circunstanciais: modais, instrumentais, tem-
porais e espaciais, em suas várias relações de acusativo, genitivo e locati-
vo, e por isso muitos deles são formas petrificadas desses casos.

É este o roteiro da exposição de nossa teoria sobre a língua grega.


Mas esta teoria quer ser essencialmente prática, porque foi da prá-
tica que ela nasceu, durante anos sucessivos, em que nenhuma aula sobre
um determinado ponto foi igual à anterior ou à posterior. Além disso, a
prática, isto é, o ensino foi a razão e causa deste nosso trabalho.
Por isso, apresentaremos aqui também a parte didática, na qual fo-
ram aplicadas todas estas idéias sobre o funcionamento da língua grega.
Até agora ela foi apresentada nas diversas versões de nossas “apos-
tilas”, na qual era apresentada a teoria e a prática, isto é, as frases que

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introdução: guia do leitor 31

deviam ser traduzidas. Mas a teoria que estava nessas apostilas ou era su-
mária ou estava em processo de elaboração, e por isso nós solicitávamos
aos alunos que usassem a página anterior em branco para anotar nossa
exposição oral que às vezes até contrariava a escrita.
As frases foram reunidas enfocando um ponto determinado da
matéria, que foi dividida em unidades didáticas, ou módulos, na seguinte
ordem:

A/ Flexão dos nomes de tema em vogal e formas do verbo ser. São os


Textos I e II.
Neles estão substantivos, adjetivos e dêiticos em -o e -a/-h nos
diversos casos, menos no acusativo, porque os verbos de ação serão dados
a seguir.14
Mas a “tradução” dessas frases não é um fim em si; ela só tem sen-
tido se o enunciado foi entendido no relacionamento de suas partes. Por
isso deve-se agir da forma seguinte:
• copiar o texto, mas só a frase que vai trabalhar15;
• identificar o sujeito e o verbo, e os outros casos, relacionando estreita-
mente caso e função. Por isso deve-se deixar uma linha em branco e
registrar isso nessa linha;
• só então traduzir, coerentemente com a análise feita.

As palavras estão no vocabulário de mais ou menos 5.000 palavras,


que foi preparado para isso.
Traduzida essa frase, veremos a seguir propostas de versão, ou de
uma frase imitando ou parodiando a que acabamos de traduzir, ou ainda

14 Procuramos registrar apenas frases abonadas, isto é, frases de autores gregos ou da


tradição grega. Frases pensadas e enunciadas em grego. Isto é extremamente im-
portante: o aluno sente que está penetrando num mundo diferente e que esse mundo
o envolve.
15 A transcrição manual é extremamente importante, essencial. Esse primeiro conta-

to concreto com o texto tem um efeito muito importante, não só completando a


alfabetização do estudante, mas familiarizando-o com o texto: a partir daí o texto
grego não será o estranho com quem se bate ou de quem se foge.

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32 introdução: guia do leitor

veremos alguns sintagmas em português, em que veremos as mesmas pala-


vras que acabamos de usar na tradução. Poderá ainda haver uma proposta
para manipular, transformar a frase, quer passando-a para o singular ou
para o plural, ou ainda mudando-a da voz ativa para a passiva e vice-versa.
Esses exercícios complementares, que foram denominados versão
e ginástica nas edições anteriores, têm o objetivo de fazer fixar não só os
casos da flexão nominal e as desinências da flexão verbal, mas sobretudo
fazer fixar um vocabulário básico.
Na versão teremos em português todas ou quase todas as frases
que foram traduzidas do grego, mas em forma de glosa: muda-se o verbo,
mudam-se as relações entre os nomes, muda-se o número. A versão visa
a que se vejam as relações da língua a partir do lado do leitor. Na frase
expressa em grego, ele tem os casos para os quais precisa encontrar a fun-
ção; na frase expressa em português, ele deve identificar a função para lhe
aplicar o caso correspondente.
A versão tem também outra finalidade: fazer a revisão da frase gre-
ga que acabou de ser traduzida, para se identificar nela a glosa em portu-
guês. Isso propicia ver pelo menos duas vezes as palavras empregadas, fi-
xar o significado delas e assim guardá-las mais facilmente na memória.

A ginástica, isto é, exercício com os sintagmas, é apresentada em


duas partes:
• a primeira compõe-se basicamente de sintagmas das relações nominais
que se encontram nas frases traduzidas. De novo, somos levados a reler
as frases, identificar as palavras e dar-lhes o caso compatível com a fun-
ção que ele identifica no sintagma.
O objetivo dessa ginástica é familiarizar o leitor com o sistema de
casos da língua grega e ajudá-lo a identificar sempre a relação função-
caso / caso- função;
• a segunda parte consiste em registrar em grego algumas das frases tra-
duzidas, pedindo ao leitor passá-las para o plural, se estão no singular,
e vice-versa; passar para a voz passiva e vice-versa; passar as formas ver-
bais do presente para o imperfeito ou futuro etc.
O objetivo dessa ginástica é obrigar o leitor a voltar uma terceira
vez para as frases traduzidas, propiciando-lhe novo contato com as pa-
lavras e as formas, ajudando-o a adquirir vocabulário e firmeza e cons-
ciência no uso das formas nominais.

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introdução: guia do leitor 33

B/ Todas as formas do infectum dos verbos são introduzidas nos Tex-


tos Gregos II, III e IV, sempre com nomes de temas em vogal.
O modelo de tradução é o mesmo, mas, além do acusativo, entram
aí todos os verbos, tanto em -v quanto em -mi. Aliás, mostramos que a
divisão tradicional em duas categorias de verbos, com desinências di-
ferentes não é verdadeira. A única desinência diferente é a da 1ª pessoa
da voz ativa, e isso decorre de fator fonético: os temas em consoante e
semivogal têm a desinência -v, e os de temas em vogal têm a desinência
-mi.
Nesses dois grupos de textos usamos todas as formas do infectum
das três vozes e de todos os modos, menos o particípio ativo, por ser um
nome de tema em consoante do qual ainda não se viu a flexão.
Segue-se o mesmo esquema e traduzem-se as formas verbais de-
pois de identificá-las e analisá-las; mas a tradução parte do texto, isto é, do
significado da forma dentro do enunciado.
Cada um desses textos vem seguido de uma versão e de ginástica
com os mesmos objetivos dos textos I e II.

C/ As formas do imperfeito de todos os verbos estão nos Textos III e


IV que introduzimos evidentemente depois de explicarmos a construção
do passado em grego.
Novamente, passamos pela tradução das frases e depois pela versão
e ginástica.
Nesse ponto o leitor se surpreende e pergunta a razão por que o
grego não tem imperfeito do subjuntivo.
Com o texto IV, termina o Módulo I do curso.
Em geral ele é dado em um semestre.

D/ A flexão dos nomes de temas em consoante e semivogal dá início ao


Módulo II.
Damos o quadro geral das desinências e solicitamos ao leitores o
trabalho de acoplar essas desinências aos diversos temas.
A primeira dificuldade é encontrar o tema: na maior parte dos
nomes, o registro no genitivo singular ajuda a identificá-lo; mas nos te-
mas em -w, -W, -j não.
Os Textos Gregos V e VI contêm essencialmente nomes de temas
em consoante e semivogal e as formas do infectum dos verbos (presente e
imperfeito), em todos os modos.

mur01.p65 33 22/01/01, 11:36


34 introdução: guia do leitor

Não introduzimos aí o futuro, como fazem as gramáticas, porque o


futuro é construído sobre o tema do aoristo.
O “ritual” com os Textos Gregos V e VI é o mesmo dos outros: o
aluno faz a tradução, depois a versão e ginástica. Os objetivos também
são os mesmos.

E/ O aoristo vem a seguir nos textos que denominamos Exercícios de


aoristo e futuro, que seriam os Textos Gregos VII e VIII.
O “ritual” é o mesmo, mas, além da tradução, pede-se que se iden-
tifique o tema verbal, para que se acostume com a idéia de que o verda-
deiro tema verbal é o aoristo; a seguir pede-se que se construa o infectum
a partir do aoristo. Percebe-se então com mais clareza que há uma rela-
ção estreita de significante e significado nas formas verbais. Usa-se para
isso todo o quadro denominado Formação dos temas do infectum.
As diversas formas de aoristo que estão nessa série de frases levam
o estudioso a identificar e se familiarizar com todos os aoristos e futuros
nas três vozes e em todos os modos. Nunca a partir de paradigmas, mas a
partir das frases, que apresentam as formas como elementos semântica e
sintaticamente autônomos.
Acontece então que, por iniciativa própria, o estudioso apresenta
diversas construções do verbo grego, a partir do tema do aoristo!
Isto mostra que, afinal, ele está entendendo a estrutura da flexão
verbal!

F/ O perfeito. Finalmente, temos os Exercícios sobre o tema do perfeito.


Inicialmente houve uma introdução, em que ficou demonstrado
que o perfeito, por ser um resultado presente de um ato passado, é um
estado presente e que, por conseguinte, o perfeito médio-intransitivo
teria sido o mais antigo, do qual derivou o passivo e finalmente cons-
truiu-se o ativo.
São os Textos Gregos IX e X.
O estudioso começa por transcrever e traduzir as frases, tendo em
vista sobretudo a identificação das formas verbais no perfeito. Ele en-
contra as várias formas do perfeito, que estão explicadas no manual, e vai
tentando traduzir uma a uma essas formas para o português.

mur01.p65 34 22/01/01, 11:36


introdução: guia do leitor 35

Depois de cada frase vêm a Versão e a Ginástica. Mas, já, junto


com o perfeito, estará enfrentando textos de autores, sobretudo de Platão,
cuja tradução e leitura são instigantes e gratificantes.
É esse o projeto! Foi esse o projeto!

Resta ver agora se na teoria ele se justificou. A prática, ao que pa-


rece, o aprovou!

mur01.p65 35 22/01/01, 11:36


36 o alfabeto grego

O alfabeto grego
Signo grego som Denominação Exemplos fonéticos
A- a16 a lfa álpha altar, fada
B-b b b°ta béta belo, bolo
G-g gue g‹mma gáma gato, guerra
D-d d d¡lta délta dado, dedo
E-e e ¦ cilñn e psilón17 mesa, medo
Z-z dz z°ta dzéta Zeus (Dzeus/Zdeus)
H-h é ·ta éta atleta, tese
Y-y th y°ta théta th (ingl. thing)
I -i i ÞÇta ióta nada
K-k k k‹ppa kápa Kant, Kent
L-l l l‹mbda lámbda lado, lido
M-m m mè mû mês, mal
N-n n nè nû nada
J, j ks jÝ ksî axioma
O-o o ö mikrñn o mikrón tolo
P-p p pÝ pî pedra
R-r r /rh =ñ rhô rei, rato (vibrante)
S - s, w18 s (ç) sÝgma sîgma sal, ser (sempre ç)
T-t t tau tau tarde
U-u y ë cilñn y psilon hypnose (u francês)
F-f ph fÝ phî fuga
X-x kh xÝ khî kháris
C-c ps cÝ psî psicose
V-v ó Î m¡ga o méga hora

16 A fonte grega utilizada neste livro é a Athenian.


17 Nós não seguimos a denominação tradicional dos grafemas gregos e, o, v, respec-
tivamente êpsilon, ômikron e ômega; preferimos denominá-los pelo que eles são:
e psilón, e simples, desguarnecido, o mikrón, o pequeno, curto, breve e o méga, o
grande, longo.
18 O s- usa-se no início e no meio das palavras, e -w no final.

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o alfabeto grego 37

Exercício de leitura e transcrição:


Leia com auxílio da transcrição em caracteres latinos as palavras abai-
xo, todas existentes em português, e a seguir transcreva-as em caracteres gre-
gos; os acentos na transcrição em português são para auxiliar a leitura: o acento
circunflexo não indica vogal fechada, que não existe em grego.19

†Omhrow Hómeros filanyrvp¤a


filanyrvpÛa philanthropía
tr‹peza trápeza drçma
drma drâma
sbestow ásbestos biograf¤a
biografÛa biographía
biblÛon biblíon grafÆ
graf® graphé
gumn‹sion gymnásion g°nesiw
g¡nesiw génesis
dhmokratÛa demokratía diãgnvsiw
di‹gnvsiw diágnosis
y°atron
y¡atron théatron labÊrinyow
labærinyow labyrinthos
ˆciw
öciw ópsis metaforã
metafor‹ metaphorá
éj¤vma
ŽjÛvma aksíoma z“on
zÒon zôion/zôon
b¤ow
bÛow bíos Ïbriw
ìbriw hybris20
=inok°rvw
=inok¡rvw rhinokéros =eËma
=eèma rheûma
”dÆ
Äd® oidé/odé cuxÆ
cux® psykhé
xaraktÆr
xarakt®r kharaktér »keanÒw
Èkeanñw okeanós
naËw
naèw naûs fainÒmenon
fainñmenon phainómenon
eÈgenÆw
eégen®w eugenés ploËtow
ploètow ploûtos
êggelow
ggelow ángelos êgkura
gkura ánkyra
lãrugj
l‹rugj lárynks Àra
Ëra hóra
kr¤siw
krÛsiw krísis F¤lippow
FÛlippow Phílippos
˜moiow
÷moiow hómoios da¤mvn
daÛmvn daímon
Ïmnow
ìmnow hymnos =uymÒw
=uymñw rhythmós
_ppopÒtamow
ßppopñtamow hippopótamos m›mow
mÝmow mîmos
stoikÒw
stoikñw stoikós énvmal¤a
ŽnvmalÛa anomalía
diãlogow
di‹logow diálogos _ppÒdromow
ßppñdromow hippódromos
mousikÆ
mousik® mousiké klinikÒw
klinikñw klinikós
Spãrth
Sp‹rth Spárte sf›gj
sfÝgj sphînks
Ka›sar
KaÝsar Kaîsar ékrÒpoliw
Žkrñpoliw akrópolis

19 Há um equívoco quando se fala de vogais fachadas em grego: v / h são vogais


longas, articuladas, abertas; mas e /o são breves, simples, soltas não articuladas, e
não são necessariamente fechadas.
20 O -y- não comporta acento nas línguas modernas.

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38 o alfabeto grego

fvsfÒrow
fvsfñrow phosphóros polÊglvttow
polæglvttow polyglottos
§pitãfiow
¤pit‹fiow epitáphios §p¤gramma
¤pÛgramma epígramma
=eumatismÒw
=eumatismñw rheumatismós a_morrag¤a
aßmorragÛa haimorragía
profulatikÒw
profulatikñw prophylatikós YeÒdvrow
Yeñdvrow Theódoros
d°rma
d¡rma dérma Ípote¤nousa
êpoteÛnousa hypoteínousa
kubernetikÆ
kubernetik® kybernetiké ÉAy_nai
ƒAy°nai Athénai
lÒgow
lñgow lógos nÒmow
nñmow nómos
kan_n
kanÅn kanón k¤nhma
kÛnhma kínema
k¤nhsiw
kÛnhsiw kínesis kvmikÒw
kvmikñw komikós
diskobÒlow
diskobñlow diskobólos kunikÒw
kunikñw kynikós
gevrgikÒw
gevrgikñw georgikós c¤ttakow
cÛttakow psíttakos
parãdojow
par‹dojow parádoksos duspec¤a
duspecÛa dyspepsía
kÊklvc
kæklvc kyklops fãntasma
f‹ntasma phántasma
paxÊdermow
paxædermow pakhydermos k°ntaurow
k¡ntaurow kéntauros
sËrigj
sèrigj syrinks fÒrmigj
fñrmigj phórminks
sÊgxronow
sægxronow synkhronos lÆyh
l®yh léthe
kay°dra
kay¡dra kathédra xrusostÒmow
xrusostñmow krysostómos
boukolikÒw
boukolikñw boukolikós aÂma
aåma haîma
±x_
±xÅ ekhó ˆnoma
önoma ónoma
·ppow
áppow híppos ¥liow
´liow hélios
¹m_numow
õmÅnumow homónymos xrusãnyemon
xrus‹nyemon khrysánthemon
mayhmatikÒw
mayhmatikñw mathematikós t°tanow
t¡tanow tétanos
tuf_n
tufÅn typhón èrmon¤a
rmonÛa harmonía
p°ntaylon
p¡ntaylon péntathlon metevrolog¤a
metevrologÛa meteorología
mËyow
mèyow mythos yumÒw
yumñw thymós
éylhtÆw
Žylht®w athletés lurikÒw
lurikñw lyrikós
gevmetr¤a
gevmetrÛa geometría ériymhtikÆ
Žriymhtik® arithmetiké
politikÒw
politikñw politikós pÒliw
pñliw pólis
biblioyÆkh
biblioy®kh bibliothéke ékrobãthw
Žkrob‹thw akrobátes
êtomow
tomow átomos éster¤skow
ŽsterÛskow asterískos
Ùbel¤skow
ôbelÛskow obelískos éstronom¤a
ŽstronomÛa astronomía
épolog¤a
ŽpologÛa apología tragƒd¤a
tragÄdÛa tragoidía /tragodía
kvmƒd¤a
kvmÄdÛa komoidía/ _larÒw
ßlarñw hilarós
komodía
despñthw
despÒthw despótes yÅraj
y_raj thóraks
kat‹logow
katãlogow katálogos dÛskow
d¤skow dískos
fil‹nyrvpow
filãnyrvpow philánthropos ceudÅnumow
ceud_numow pseudónymos
must®rion
mustÆrion mysteríon kataklusmñw
kataklusmÒw kataklysmós
diãlektow
di‹lektow diálektos aÈtÒxyvn
aétñxyvn autókhthon
…roskÒpow
Éroskñpow horoskópos strathgÒw
strathgñw strategós
aÈsthrÒw
aésthrñw austerós ÍpokritÆw
êpokrit®w hypokrités

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o alfabeto grego 39

lejikñn
lejikÒn leksikón b‹rbarow
bãrbarow bárbaros
tojikñw
tojikÒw toksikós yrñnow
yrÒnow thrónos
seismñw
seismÒw seismós prñblhma
prÒblhma próblema
fr‹siw
frãsiw phrásis ôbolñw
ÙbolÒw obolós
dñgma
dÒgma dógma Perikl°w
Perikl_w Periklés
Pl‹tvn
Plãtvn Pláton Svkr‹thw
Svkrãthw Sokrátes
Dhmosy¡nhw
Dhmosy°nhw Demosthénes Al¡jandrow
Al°jandrow Aléksandros
Diog¡nhw
Diog°nhw Diogénes EéklÛdhw
EÈkl¤dhw Euklídes
Puyagñraw
PuyagÒraw Pythagóras ƒArxim®dhw
ÉArximÆdhw Arkhimédes
LevnÛdaw
Levn¤daw Leonídas ƒAxilleæw
ÉAxilleÊw Akhilleús
PrÛamow
Pr¤amow Príamos ƒAristot¡lhw
ÉAristot°lhw Aristotéles
Milti‹dhw
Miltiãdhw Miltiádes ƒOdusseæw
ÉOdusseÊw Odysseús
ƒAgam¡mnvn
ÉAgam°mnvn Agamêmnon Sofokl°w
Sofokl_w Sophoklés
Jenof_n
XenofÅn Ksenophón ƒAristof‹nhw
ÉAristofãnhw Aristophánes
Zeèw
ZeËw Zeûs PoseidÇn
Poseid«n Poseidón
„Erm°w
ÑErm_w Hermés …Arhw
ÖArhw Áres
ƒApñllvn
ÉApÒllvn Apóllon †Hfaistow
ÜHfaistow Héfaistos
†Hra
ÜHra Héra Dhm®thr
DhmÆthr Deméter
ƒEstÛa
ÉEst¤a Estía ƒAfrodÛth
ÉAfrod¤th Aphrodíte
…Artemiw
ÖArtemiw Ártemis ƒAy®na
ÉAyÆna Athéna
KliÅ
Kli_ Klió Melpom¡nh
Melpom°nh Melpoméne
OéranÛa
OÈran¤a Ouranía Eét¡rph
EÈt°rph Eutérpe
Tercixñrh
TercixÒrh Terpsikhóre KalliÅph
Kalli_ph Kalliópe
YalÛa
Yal¤a Thalía ƒEratÅ
ÉErat_ Erató
PolumnÛa
Polumn¤a Polymnía

ZEUS ZEUS POSEIDVN


POSEIDVN POSEIDON
ERMHS HERMES ARHS
ARHS ARES
APOLLVN APOLLON HFAISTOS
HFAISTOS HEPHAISTOS
HRA HERA DHMHTHR
DHMHTHR DEMETER
AFRODITH APHRODITE ARTEMIS
ARTEMIS ARTEMIS
AYHNA ATHENA KLIV
KLIV KLIO
MELPOMENH MELPOMENE OURANIA
OURANIA OURANIA
EUTERPH EUTERPE TERCIXORH TERPSIKHORE
KALLIVPH KALLIOPE YALIA
YALIA THALIA
ERATV
ERATV ERATO POLUMNIA
POLUMNIA POLYMNIA

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40 o alfabeto grego

Normas de transliteração
Para comodidade do aluno, transcrevemos a seguir as Normas de
transliteração de palavras do grego antigo para o alfabeto latino acor-
dadas pela Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, com algumas dis-
cordâncias de nossa parte, expressas nas Observações.
Signo grego Denominação Signo latino Exemplos
A, a lfa - alfa A, a Žg‹ph - agápe
Ai, & ióta suscrito ai ›dv/idv - ádo / áido
B, b b°ta - beta B, b b‹rbarow - bárbaros
G, g g‹mma - gama G, g gevrgñw - georgós
gg gama nasal ng ggelow - ángelos
gk nk ögkow - ónkos
gj nks s‹lpigj - sálpinks
gx nkh gxein - ánkhein
D, d d¡lta - delta D, d dÛkh - díke
E, e ¦ cilñn - e psilón E, e eàdvlon - êidolon
Z, z z°ta - dzéta/ zéta Z, z z®thsiw - zétesis
H, h ·ta - éta E, e ´liow - hélios
Hi, ú ióta suscrito ei cux» / cux°i - psykhé / psykhéi
Y, y y°ta - théta Th, th yeñw - theós
I, i ÞÇta - ióta I, i Þd¡a - idéa
K, k k‹ppa - kápa k kakñn - kakón
L, l l‹mbda - lámbda L, l l¡vn - léon
M, m mè - mü / my M, m marturÛa - martyría
N, n nè - nü / ny N, n nñmow - nómos
J, j jÝ - ksi Ks, Ks julñn - ksylón
O, o ö mikrñn - o mikrón O, o ôlÛgow - olígos
P, p pÝ - pi P, p potamñw - potamós
„R-, =- =Ç - rhô (inicial) Rh, rh =uymñw - rhythmós
-r- rÇ - rô (interno) R, r Žriymñw - arithmós
S, -s-, -w sÝgma - sîgma S, s SfÝgj - Sphînks
T, t taæ - tau T, t taèrow - taûros

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o alfabeto grego 41

U, u ï cilñn - y psilón Ü, ü læra - lyra / lüra


au au aég® - augé
eu eu eéagg¡lion - euangélion
hu eu héj‹mhn - euksámen
ou ou ploètow - ploûtos
ui ui ußñw - huiós
F, f fÝ - phi Ph, ph f‹rmakon - phármakon
X, x xÝ - khi Kh, kh x‹riw - kháris
C, c cÝ - psi Ps, ps cux® - psykhé
V, v v m°ga - o mega O, o Èmñw - omós
Vi, Ä ióta suscrito oi tragÄdÛa - tragoidía/
tragvidÛa - tragoidía
ƒ espírito brando -.- ôrg® - orgé
„ espírito rude h ßstorÛa - historía
Mantêm-se os acentos agudo, grave e circunflexo na forma e nos
locais em que se encontram em grego, mas, respeitando-se a acentuação
diacrítica do português.
Por exemplo, os nomes gregos z°ta, ·ta, y°ta levam acento
circunflexo em grego não por terem vogais fechadas, mas por serem lon-
gas (abertas). Acentuá-las com circumflexo em português induziria o lei-
tor de língua portuguesa a pronunciá-las fechadas. Seria um erro. Por
isso empregamos o acento agudo. Não é o caso de S, sÝgma, sîgma, que
poderá receber o circumflexo no -i-, e de ploètow, ploûtos, sem trans-
tornos para a leitura.
Exemplo:
tÒ tñjÄ önoma bÛow, ¦rgon d¢ y‹natow
tôi tóksoi ónoma bíos érgon dè thánatos
Ao arco o nome é vida, a obra, morte (Heráclito)
Observações:
l. O leitor deve ter notado que, na transcrição para caracteres latinos, há, no
português e no latim, um deslocamento da vogal tônica:
a) nas palavras gregas oxítonas de mais de duas sílabas, como, metafor‹
a transcrição para o português se faz para “metáfora”, proparoxítona;
b) nas palavras gregas oxítonas de duas sílabas, como “Ód®”, a transcri-
ção para o português se faz para “ode”, paroxítona;

mur02.p65 41 22/01/01, 11:36


42 o alfabeto grego

c) nas palavras gregas proparoxítonas de três sílabas com a penúltima lon-


ga, ŽjÛvma, a transcrição para o português se faz para “axioma”, pa-
roxítona e as com a penúltima breve metafor‹ se faz para proparo-
xítona. A explicação está na prosódia latina, intermediária entre o gre-
go e o português, porque:
• O latim não tem acentos.
• O latim não tem oxítonas; por isso desloca a tônica das oxítonas
gregas de três sílabas para proparoxítonas:
é o caso de metafor‹ > metáfora;
e das oxítonas gregas de duas sílabas para paroxítonas:
é o caso de: Ód® > ode;
• Nas palavras latinas de mais de duas sílabas, a posição da tônica é
determinada pela quantidade da penúltima sílaba:
se a penúltima é longa, a palavra é paroxítona,
ŽjÛvma (penúltima longa) > axioma;
se é breve, a palavra é proparoxítona:
Žkrñpoliw (penúltima breve) > acrópole.

2. Particularidades da sonoridade e representação gráfica das letras gregas:


a) O som do G, g, gáma, se produz no pálato, isto é o céu, ou véu da
boca; por isso ora é denominado gutural, ora palatal ora velar. Os lingüistas
preferem denominá-lo “velar”; nós o denominaremos palatal ou velar. A
dificuldade está em lê-lo corretamente na transcrição de g¡now,
gÛgnomai, isto é, seguido de -e- e -i-. Genos soa “guenos” e gígnomai soa
“guígnomai”.
b) A seqüência de um gama velar e uma outra consoante velar, sem vogal
intermediária, leva necessariamente a primeira velar a sair pelas fossas
nasais. Daí a existência do “g” nasal.
c) A transcrição do J, j , ksi, deve ser exatamente k + s, que é seu verda-
deiro som: a transcrição por “x”, dadas as várias pronúncias do x em por-
tuguês, leva a pronúncias equivocadas.
d) Ultimamente os editores dos textos gregos preferem o iota adscrito, e
por isso é pronunciado; os textos mais antigos, antes dos anos 50, trazem o
iota suscrito, não pronunciado. Pura convenção.
e) É preferível a transcrição do u em “y” e não em “u”, porque este y cha-
mado “y grego” evoluiu para “i” em grego.
f) O ditongo "ou é apenas formal; não se lê como ditongo, o que é muito
incômodo; lê-se como um “u” longo (-ou- francês).

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o alfabeto
alguns dados
grego
de fonética aplicada 43

Alguns dados
de fonética aplicada
Considerações gerais

No curso deste trabalho, ao tomar contato com as flexões nominal


e verbal, o leitor verá repetidas vezes referências a alterações fonéticas
que as formas nominais e verbais sofrerão.
Verá também que essas alterações ou acidentes fonéticos serão apre-
sentados como normais, como se o autor supusesse que o leitor conhe-
cesse fonética grega.
Esse comportamento pode ser explicado pela experiência que o
autor adquiriu na sala de aula. Ao apresentar o sistema das “declinações”
e “conjugações” da língua grega, o autor constatou que estaria repetindo
as lições multisseculares de latim e grego, em que se apresentam os es-
quemas numa certa ordem e o aluno decora um a um os paradigmas (de-
clinações e conjugações) de flexão nominal e verbal, independentes um
do outro. E, ao notar que há “quebras” na sucessão das desinências, a
gramática e o professor afirmam que é uma regra da língua e que se deve
aprender assim. Os alunos mais curiosos e teimosos iam procurar o por-
quê, isto é, as explicações, nos tratados de fonética histórica ou de mor-
fologia histórica, que são recentes.
Mas, ao estudar durante anos a fio a língua grega e também du-
rante anos a ensinar (o que é a mesma coisa que aprender), tentamos nos
colocar do outro lado da sala, isto é, do ponto de vista do aluno, e perce-
bemos que devíamos explicar-lhe que uma língua é um conjunto de si-
nais que têm a finalidade de comunicar, que uma língua é um idioma,
isto é, a identificação cultural de um povo e que, por isso mesmo, ela é
um todo sólido, concreto, orgânico, lógico, coerente, que o falante ad-
quire, conserva e vigia, porque é o elemento de sua identificação dentro
do grupo, e que qualquer alteração, qualquer atentado que ela sofre, ime-
diatamente é sentido e expulso como um elemento perturbador.
Nós sentimos isso na língua grega, que é a língua de uma civiliza-
ção extraordinária, toda ela construída na oralidade. Toda a tradição cul-

mur02.p65 43 22/01/01, 11:36


44 alguns dados de fonética aplicada

tural grega foi transmitida oralmente, desde a tradição oral anterior aos
poemas homéricos, os próprios poemas homéricos, as obras de Hesíodo,
a introdução do alfabeto (séc. VIII e VII a.C.) e os líricos, para não ultra-
passarmos o século VI a.C. Mas, mesmo depois da introdução do alfabe-
to, os meios de transmissão da palavra escrita eram extremamente raros e
caros. A oralidade e a memória eram as grandes “armas” para a transmis-
são e conservação do conhecimento.
É o que vemos na língua grega: uma língua só, com variantes lo-
cais, mas que todos os gregos entendiam, durante os Jogos Olímpicos,
por exemplo. É essa língua que o menino ateniense vai aprender ao de-
corar passagens de Homero, Hesíodo e dos líricos na casa do mestre,
segundo diz Protágoras (Platão, Protágoras, 325c6-326c6). E quando, de-
pois de saber de cor esses poemas, aprender a cantá-los ao som da lira ou
da cítara, o menino vai para o mestre de ginástica, ele não é um menino
só ateniense, circunscrito ao ambiente familiar, ele é um menino grego.
E é esse o sentimento que o acompanha a vida toda.
Essa transformação, essa inserção do menino, do efebo, e depois
do adulto, na nação grega, foi feita pela língua grega.

Pois bem, acreditando nessa coerência lingüística, nós começamos


a passar aos alunos uma nova visão da língua grega.
Constatamos que o sistema de flexão da língua grega é simples,
orgânico e lógico.
A flexão (nominal ou verbal) se constrói sobre uma parte fixa, que
vamos chamar de tema, e outra parte variável, que vamos chamar de
desinências21.
Nós não vamos usar as expressões “declinação” nem “conjugação”,
porque não vamos adotar a idéia de que existe um caso “reto” (que seria o
nominativo) e outros oblíquos.
Não há um caso reto, e por isso não há casos oblíquos.
Os nomes se compõem de duas partes: de um tema, que é a sede
do significado, em que o nome está em estado virtual, isto é, sem função,

21 Para Aristóteles, todas as "quebras" no final das palavras são ptÅseiw, que os
gramáticos latinos traduziram por "casus". Mas a tradição da gramática ocidental
reservou a palavra "caso" para a flexão nominal, com certa ampliação do significado
no sistema das "declinações".

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alguns dados de fonética aplicada 45

até que receba uma ptÇsiw, isto é, um “casus”, uma desinência, que lhe
dá essa função dentro do enunciado.
A flexão dos nomes é simples: consiste na identificação desse tema
e na aplicação das desinências que correspondam à função que o nome
exercerá no enunciado. Veremos isso na Flexão nominal.
A flexão verbal segue o mesmo modelo: haverá um tema, sede do
significado virtual, e o sistema de desinências (são poucas) que darão ao
tema a pessoa, a voz (sujeito agente ou paciente), o número (se é singu-
lar, dual ou plural) e o modo. Veremos isso na Flexão verbal.
Tanto a flexão nominal quanto a flexão verbal são absolutamente
regulares, normais. Bastaria, então, conhecer as ptÅseiw/casus/desi-
nências nominais e verbais (que são muito poucas) e aplicá-las aos temas
nominais ou verbais.

Há, contudo, um elemento complicador: a transformação fonética


que a língua grega sofreu no correr dos séculos. Não vamos falar aqui de
sua derivação de um tronco indo-europeu e suas opções fonéticas; vamos
falar nas modificações internas da língua grega e sobretudo dos proble-
mas fonéticos que surgiram na aplicação dessas ptÅseiw/casus/desinên-
cias que são vocálicas, semivocálicas ou consonânticas, a temas também
vocálicos, semivocálicos e consonânticos.
O encontro, por exemplo, de um tema vocálico com uma desinên-
cia vocálica recebe tratamentos diversos segundo os dialetos. O jônico, o
dórico e o eólico, por exemplo, admitem hiatos; o ático, no entanto, opta
pela contração.
Também os encontros entre temas consonânticos com desinências
consonânticas apresentam problemas: ou as consoantes se acomodam,
assimilam, dissimilam, ou sofrem síncope dependendo das condições, ou
vão buscar uma vogal para ajudar a pronunciar os encontros consonânticos
difíceis. Essa vogal se chama vogal de ligação ou vogal de apoio.
Mas precisamos ter em mente que o que preside às modificações
em todas as línguas, e a língua grega não é exceção, são dois princípios,
contraditórios mas harmônicos: de um lado o princípio da facilidade, que
poderíamos chamar de praticidade, acomodação ou mesmo preguiça, que
os filólogos acordaram em denominar lei do menor esforço e, de outro
lado, o significado da forma, a semântica, isto é, o fundamento do exer-
cício da língua, que é a comunicação.

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46 alguns dados de fonética aplicada

Todo e qualquer ser humano, que usa da fala, quer comunicar al-
guma coisa, e da maneira mais clara e prática possível. Esse princípio é
ainda mais fundamental na transmissão oral: a relação entre o emissor e
receptor da mensagem é momentânea, fugaz; então a maior brevidade e
clareza são indispensáveis. É evidente que o código dos dois (emissor/
receptor) deve ser o mesmo, e bem conhecido. Vemos, então, que clareza
(significado) e praticidade (lei do menor esforço) se vigiam mutuamente.
As transformações e simplificações só se admitem quando não des-
caracterizam as formas e a mensagem. Teremos ocasião de repetir isso inú-
meras vezes no curso da apresentação das flexões. Mas esses comentá-
rios, repetidos, exageradamente, propositadamente repetidos, estão
dispersos.

Vamos agora agrupá-los num espaço apropriado, para que o leitor


tenha sempre onde buscar uma explicação, uma referência.
Finalmente, nós não nos incomodamos em usar uma terminologia
técnica ortodoxa. Não tivemos a intenção de fazer tratado de fonética ou
fonologia. Respeitamos a nomenclatura tradicional na medida em que
ela é significante, mas usamos do vocabulário do cotidiano para mostrar
que essas modificações fonéticas são absolutamente normais, fisiológi-
cas, concretas. Elas acontecem no aparelho fonador, isto é, na boca, la-
ringe, fossas nasais, pulmões etc. A experiência na sala de aula nos mos-
trou que os alunos não só aceitam essas explicações, mas não querem
outras.
Por isso vamos, neste capítulo, apresentar foneticamente a língua
grega.
Vamos, a seguir, estudar todos os elementos (stoix¡a) do alfabe-
to grego, primeiro individualmente quanto à pronúncia e depois nas suas
combinações entre si, nos seus diversos encontros: vogal com vogal; con-
soante com vogal; soante com vogal, soante com soante, consoante com
consoante.
Esses encontros às vezes apresentam certas dificuldades que as gra-
máticas tentam resolver enquandrando-as nas “leis fonéticas” que apre-
sentam, mas não comentam.
Faremos algo parecido, mas insistiremos, como estamos fazendo
em todo este trabalho, em não abusar do vocabulário “técnico”, preferin-
do o uso de expressões do cotidiano, e procuraremos mostrar sempre que

mur02.p65 46 22/01/01, 11:36


alguns
as vogais
dados de fonética aplicada 47

esses fenômenos são naturais; acontecem e são produzidos na boca, que


chamamos aparelho fonador, acima mencionado.

É preciso ter em conta que a língua grega foi transmitida por via
oral. Não havia outro registro. A escrita entrou tardiamente, quando já
havia uma larga tradição cultural e literária.
Então, essas modificações fonéticas que constatamos foram aceitas
e transmitidas “porque” ou “quando” não causavam dano à mensagem,
isto é, ao conteúdo da mensagem, e sobretudo não causavam dano à in-
tegridade da língua grega, que era o fator de unificação daquele povo.

As vogais
As vogais são modificações do som glotal, que é produzido pelas
cordas vocais superiores ou inferiores, com o sopro mais ou menos forte
que vem dos pulmões.
Essas cordas vocais, obedecendo à vontade, ora se aproximam, ora
se afastam; se se aproximam, comprimem o ar e produzem um som que
se pode chamar de som glotal; se se afastam, o ar sai livre sem ser modi-
ficado e não produz som. A esse som glotal, produzido pelas cordas vo-
cais, chamamos vogais. Como diz Aristóteles (Poética, 1456b): ¤sti tò
fvn°en m¢n neu prosbol°w ¦xon fvn¯n Žkoust®n... “a vogal é
o que tem um som audível sem aplicação” (sem articulação, isto é, sem
aplicação da língua ou dos lábios).
Conforme é a abertura ou o fechamento do aparelho fonador (boca),
no sentido vertical ou horizontal, é produzido esse ou aquele timbre da
vogal.
Os timbres extremos das vogais gregas são: a, da abertura máxima
e u, i, mínima, próxima à glote. O -i- é a vogal mais fraca; é a última das
vogais. Da posição máxima do a, posição anterior, da frente, até a míni-
ma, posterior de u, i, há uma progressão de fechamento das vogais: as
variantes do som o velares, redondas, e as variantes do som e glotais late-
rais (palatais).
Além de diferença de timbre, o grego reconhecia uma diferença de
duração nas vogais: uma vogal longa tinha a duração de duas breves.

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48 as vogais

Essa duração de tempo era também sentida como um desdobra-


mento do tom: uma elevação da voz na primeira metade da vogal (ársis) e
uma posição (thésis). Nós, que falamos as línguas ocidentais, não temos
mais ouvido para sentir essas mudanças de tonalidade, e por isso mesmo
somos incapazes de produzi-las.
Os timbres e e o têm grafias diferentes para longa e breve: e/h;
o/v; os outros a, u, i, não; os gramáticos as chamam de dÛxrona, “de
dois tempos”, ou ŽmfÛbola, “ambíguas”, e para serem reconhecidas gra-
ficamente eram marcadas pelos sinais: m‹kron longo -, e br‹xia, bre-
ve ­, curto.
Os fonemas vocálicos em grego são 12:
a /a, e / e/ h, o /o /v, i / i, u /u.22
Além disso eles podem ser aspirados 23 ou não.
A marcação da aspiração das vogais iniciais das palavras teve altos e
baixos. Com a adoção do alfabeto jônico pelo ático empregava-se a letra
H para indicar o pneèma dasæ, spiritus asper, espírito rude, “sopro for-
te”, para marcar a aspiração. Posteriormente os gramáticos alexandrinos
passaram a usar a metade esquerda do H, que foi se simplificando até ser
representado por um sinal que se assemelha ao nosso apóstrofo, que usa-
mos para marcar elisão, mas em sentido esquerda/direita. E por uma es-
pécie de “isonomia” passaram a marcar também, com a outra metade do
H, a ausência de aspiração, ou pneèma cilñn, spiritus lenis, espírito leve,
suave, doce.
A representação gráfica das vogais foi tirada do alfabeto fenício, do
nome de alguns sons de consoante, ausentes no grego: aleph > A, het >
H, yod > I, ayin > O, waw > Y. No início, havia só uma letra para o som
e. Foi em Mileto que começou o uso do H para o e longo, aberto, e
depois, por analogia, criou-se V para o longo, aberto.

22 Devemos considerar os timbres do a longo e breve; do e breve e longo ei; do o


breve e longo ou; do i breve e longo e do u breve e longo com diferenças de
timbre imperceptíveis para nós.
23 O termo aspirado se presta a confusão, porque o ato de aspirar é chupar o ar. O

termo gramatical vem do latim ad spiratum, isto é soprado para (em cima) de spiritus,
sopro. Então teremos vogais e consoantes aspiradas, isto é, sopradas, acompanha-
das de uma lufada de ar. Todas as vogais podem ser sopradas e as consoantes oclusivas
surdas (mudas), p, k, t.

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as vogais 49

Os ditongos
Segundo A.C. Juret, “o ditongo é um timbre em movimento”. É
uma espécie de deslocamento do som vocálico de uma posição de abertu-
ra, para a de fechamento; o ponto extremo do ditongo é a posição u/i,
que são chamadas semivogais. Por isso se diz que o ditongo são dois sons
pronunciados em uma só emissão de voz.
Na composição do ditongo a vogal é protática e a semivogal é
hipotática24.
São basicamente 12, assim definidos pelos gramáticos antigos:
1. difyñggoi katŒ krsin - “ditongos por fusão” (uma só emissão de
voz); por isso são chamados kæriai, principais, e são:
au, eu, ou, ai, ei, oi (o u soa “u” em au, eu, ou).
O ditongo “ou” soa “u”;
em português: au, eu, ou (u), ai, ei, oi.
2. difyñggoi katŒ di¡jodon - “ditongos pela saída”, porque a vogal
protática sendo longa, a voz permanece mais tempo sobre ela e só no
fim (saída) é que vai para a hipotática, e são:
hu, vu, ui (u longo).
Para os gramáticos, esses ditongos são kakñfvnoi, cacófonos, e
os primeiros “katŒ krsin” são eëfvnoi, êufonos.
3. difyñggoi katƒ ¤pikr‹teian - ditongos por dominação, porque
“prevalece o som de uma vogal só, a que se ouve”. São:
hi, vi, ai (a longo).
O enfraquecimento do -i- desses ditongos já é completo desde o
IV séc. a.C. e passou a ser subscrito a partir do séc. XII:
o -hi- se tornou e aberto25;
o vi se tornou ó aberto (desde 150 a.C.);
o ai se tornou a longo (desde 100 a.C.).

24 O verdadeiro ditongo começa com vogal e termina na semivogal (i/u); é o que


alguns chamam de "ditongo decrescente"; o chamado "ditongo crescente", isto é,
semivogal seguida de vogal é um hiato, e não ditongo.
25 No dialeto ático já se pronunciava e se escrevia “-ei” no séc. V. A maioria dos

escritores dessa época escreve assim.

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50 as vogais

As edições recentes dos textos gregos restabeleceram a grafia anti-


ga, com o -i- adscrito e não subscrito, e nas salas de aula voltou a pro-
núncia cacofônica.

Alternância vocálica
Chama-se alternância vocálica (metafonia/apofonia) a alteração do
timbre vocálico que se verifica no corpo de uma palavra, em suas diversas
partes (raiz/tema, sufixos, desinências), ligada aos diversos aspectos do
significado que ela assume. Essas alterações nunca acontecem juntas, isto
é, presas a um paradigma. Elas são sempre isoladas e na maior parte das
vezes acontecem na raiz ou no tema (radical).
Essa alternância não é exclusiva da língua grega. Muitas línguas
antigas e mesmo as modernas as têm. Assim, em português, o verbo fa-
zer sofre alternância vocálica em faço, fazemos, fiz, fez, feito.
A alternãncia pode ser qualitativa (variação do timbre), como fiz/
fez/faço; e quantitativa (variação da duração - longas/breves), como em
fez/feito, em português.

1. Alternância qualitativa:
Em grego temos três graus de alternância vocálica, na alternância
qualitativa; é o que se chama de vocalismo;
• vocalismo o (grau fraco);
• vocalismo e (grau forte), e
• vocalismo zero (reduzido), corresponde à ausência de vogal.

Assim os diversos temas dos verbos:


-gn-/gen-/gon- tornar-se, vir a ser
gÛ-gn-o-mai eu me torno, venho a ser (presente, infectum)
¤-gen-ñ-mhn eu me tornei, aconteci (aoristo)
g¡-gon-a eu me tornei, nasci, sou (perfeito)
leip-/lip-/loip- deixar, abandonar
leÛp-v eu deixo, abandono (presente, infectum)
¤-lip-o-n eu deixei, deixo (aoristo)
l¡-loip-a eu deixei (perfeito)

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as vogais 51

Alternância também na flexão dos nomes:


T. - p‹tr- / p‹ter-
toè patr-ñw - do pai (gen.)
tòn pat¡r-a - o pai (acus.)
T. - genes-
tò g¡now - a raça (nom. voc. acus.)
toè g¡nes-ow > g¡neow > g¡nouw - da raça (gen.)
T. - nyrvpo-
õ nyrvpo-w - o homem (nom.)
Î nyrvpe - ó homem (voc.)

2. Alternância quantitativa:
É a alternância de duração (quantidade da vogal: longa/breve):
fhmÜ/ fam¢n digo / dizemos
tÛ-yh-mi / tÛ-ye-men coloco / colocamos
dÛ-dv-mi / dÛ-do-men dou / damos

3. Observação:
Na flexão nominal dos nomes e adjetivos de tema em soante / líqüida,
há uma falsa alternância vocálica; nos temas masculinos e femininos em vogal
breve, essa vogal se alonga no nominativo singular e permanece breve nos ou-
tros casos. É um fato normal, porque no nominativo masculino e feminino o
alongamento se faz compensando a apócope do sigma, marca do nominativo
dos seres animados, sobretudo dos masculinos. Não se trata pois de alternância
vocálica.

T. =°tor N. =®tvr o orador;


T. daÝmon N. daÛmvn o nume;
T. poim¡n N. poim®n o pastor;

Mas, quando o tema é longo, não há alternância vocálica;


T. ŽgÅn N. ŽgÅn a luta.

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52 as vogais

Vogal de ligação ou de apoio


É um recurso de que lançam mão todas as línguas, e não só a gre-
ga, para desfazer encontros consonânticos difíceis e que não devem se
confundir, fundir ou assimilar, para não descaracterizar a palavra.
A vogal de ligação isola as duas consoantes e facilita a pronúncia.
O -a- epentético que as raizes e temas trilíteres desenvolvem antes
da líqüida (visto acima) é um exemplo disso.
T. stl ¤-st‹l-h-n eu fui enviado
T. fyr ¤-fy‹r-h-n eu fui destruído
T. Žnr Žnr-sin > Žn-d-r-sin > Žndr‹-sin aos homens26
As vogais de ligação básicas do grego são: e /o e às vezes -h- (no
latim são i/u e e antes do -r).
É importante lembrar que as vogais de ligação ou de apoio não fazem
parte do corpo da palavra, como as vogais temáticas. Elas são meros re-
cursos fônicos de que a língua oral faz uso sempre e na medida em que
precisa delas.
Elas também não são elementos da flexão; não são desinências nem su-
fixos que, no sistema verbal, indicam a relação da pessoa gramatical com o
verbo, ao indicarem o singular/plural, a voz (ativa/média/passiva) e o modo.
Por exemplo, nos verbos de tema em consoante ou semivogal (cha-
mados verbos em -v), a vogal de ligação se faz presente em todo o infec-
tum-inacabado porque as desinências são consonânticas ou em soante
(semivogal)27; e, por analogia, também no futuro ativo e médio por causa
da introdução da marca do futuro -s-.
f¡r-o-men nós portamos
¤-f¡r-e-te vós portáveis
f¡r-o-i-e-n eles portassem, portariam
læs-o-men nós desligaremos
læs-e-sye vós desligareis para vós

26 Nesse caso, o que vemos é uma consoante de ligação. O -d- se desenvolve natural-
mente entre o ponto de articulação do -n- e do -r-. O castelhano e o francês tam-
bém desenvolvem um d epentético na flexão verbal: je viendrais < venirais; yo
viendria < veniria.
27 As semivocálicas são sentidas como consonânticas.

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as vogais 53

Mas no aoristo ativo e médio, a vocalização da desinência -n, (-s-n


> sa), no perfeito ativo (-k-n > ka), dispensa a vogal de ligação.
¤-lus-n > ¦-lu-sa eu desliguei, eu desligo
¤-læ-sa-men nós desligamos
¤-lu-s‹-meya nós desligamos para nós
l¡-lu-kn > l¡-luka eu completei o ato de desligar, eu desliguei
le-læ-ka-men nós completamos o ato de desligar, desligamos

Na característica do aoristo passivo (-h-/yh-), a presença da vogal


também dispensa a vogal de ligação:
¤-dñ-yh-sye vós fostes dados, sois dados
¤-st‹l-h-men nós fomos enviados, somos enviados

Mas, nas formas do perfeito médio-passivas, a língua prefere o en-


contro entre as consoantes:
p¡-prag-tai > p¡-prak-tai ele foi feito, está feito
t¡-trib-sai > t¡-tricai tu foste esmagado, estás esmagado
pe-peÛy-meya > pe-peÛs-meya nós fomos convencidos, estamos convencidos

Mas, na 3a pessoa do plural:


p¡-prag-ntai > pepr‹g-a-tai, eles foram, estão feitos;
o -n- interconsonântico se vocaliza em -a-.

Essa é a opção que encontramos nos líricos e em Heródoto; o di-


aleto ático construiu uma forma analítica, em lugar de vocalizar o -n-
interconsonântico:
pe-prag-m¡noi, ai, a eÞsin eles foram, estão feitos

Veremos isso com mais detalhes quando tratarmos da flexão verbal.

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54 as vogais

Encontro de vogais
O encontro de vogais é chamado hiato, isto é, vácuo, vazio; para todos
os gramáticos o hiato é uma cacofonia e a tendência geral é eliminá-lo.
Essa é a tendência no dialeto ático; nos dialetos jônico, dórico e
eólico o hiato permanece. 28
No grego ático há três maneiras de eliminar um hiato:
a) pela elisão da vogal anterior; um sinal ƒ apóstrofo, no lugar da vo-
gal elidida, registra o fato;
b) pela crase (fusão) de duas vogais entre duas palavras diferentes (entre
a última da anterior e a primeira da seguinte; é indicada por um
sinal ƒ igual ao apóstrofo, colocado sobre a vogal resultante da fu-
são, chamado de coronis/corônide.
c) pela contração, que é a redução do hiato que se encontra no meio
da palavra.
Elisão: (¦kyliciw)
Na seqüência de duas palavras: a anterior terminando em vogal e a
seguinte começando por vogal, pode-se dar uma elisão, que é a apócope
(corte) da vogal final da palavra anterior. Nesse caso essa apócope é mar-
cada pelo apóstrofo.
1. Em geral a vogal elidida é uma breve; raramente um ditongo, e o
-u- jamais se elide.
ŽllŒ ¤gÅ > Žllƒ ¤gÅ mas eu
Žpò ¤moè > Žpƒ ¤moè de mim, a partir de mim
2. Pode acontecer uma elisão invertida: em lugar de elidir a vogal fi-
nal da palavra anterior elide-se a vogal inicial da seguinte. Esse pro-
cesso se chama aférese (ŽfaÛresiw), isto é, retirada.
É rara e em geral só se usa na poesia e nos diálogos.
Î naj > Î ƒnaj ó senhor, ó chefe
Î Žgay¡ > Î ƒ gay¡ ó meu caro (bom)
ŽgorŒ ¤n ƒAy®naiw > ŽgorŒ ƒn ƒAy®naiw mercado em Atenas

28 A conservação ou não do hiato é uma questão de “idiotismos”. Podemos estabele-


cer um paralelo: o dialeto ático tende a reduzir os hiatos, como o português; o
dialeto jônico não se incomoda tanto com os hiatos, como o castelhano.

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as vogais 55

3. Pode acontecer que haja mais de uma elisão. Também é um caso


raro: só na poesia ( por necessidades métricas) e nos diálogos rápi-
dos, sobretudo em Aristófanes.
poè ¤sti õ Ploètow > poè ƒ syƒ õ Ploètow; onde está Plutos?
µ ¤pÜ ŽspÛdvn > µ ƒpƒ ŽspÛdvn ou sobre os escudos
4. Pode acontecer, raramente também, a elisão de um ditongo (tam-
bém nos mesmos casos dos anteriores; poesia e diálogos).
boælomai ¤gÅ > boælomƒ ¤gÅ sou eu que quero
5. Quando a palavra seguinte começa por vogal aspirada e a consoante
anterior da vogal elidida for uma oclusiva, essa oclusiva, em conta-
to com a vogal aspirada, se torna aspirada:
Žpò ²mÇn > Žpƒ ²mÇn > Žfƒ ²mÇn de nós, a partir de nós
metŒ ²mÇn > metƒ ²mÇn > meyƒ ²mÇn conosco
nækta ÷lhn > næktƒ ÷lhn > nækyƒ ÷lhn a noite inteira
6. A conjunção ÷ti e as preposições perÛ e prñ nunca sofrem elisão,
mas prñ + e sofre contração prñu

Crase (fusão): (krsiw)


É um processo semelhante ao da elisão; na seqüência de duas pala-
vras, a anterior terminada em vogal e a seguinte iniciada por vogal, a úl-
tima vogal da palavra anterior se funde com a primeira vogal da palavra
seguinte, formando uma unidade fônica (uma longa ou um ditongo).
A crase (krsiw - mistura, fusão) é marcada por um sinal seme-
lhante ao apóstro sobre a vogal resultante da fusão. Esse sinal se chama
coronis, ou corônide (korvnÛw - ganchinho).
kaÜ ¤gÅ > kŽgÅ e eu (por minha vez)
¤gÆ oämai > ¤gÙmai quanto a mim, eu acho
¤gÆ oäda > ¤gÙda eu sei
toè Žndrñw > tŽndrñw do homem, do marido
kalòw kaÜ Žgayñw > kalòw kŽgayñw belo e bom
tŒ aét‹ > tŽut‹ as mesmas coisas
õ Žn®r > õn®r* o homem, o marido
kaÜ õ > xÈ e ele
kaÜ êpñ > xépñ e sob (por)
tò ßm‹tion > yoÞm‹tion a veste, o manto
* não há lugar para a corônide; o espírito rude ocupa o lugar dela.

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56 as vogais

O -i- do primeiro elemento sofre síncope, o do segundo permane-


ce, subscrito (ultimamente se usa adscrito), no caso de vogal longa. No
caso acima ele é adscrito (forma ditongo).
A crase se usa regularmente para reunir uma palavra pouco impor-
tante a uma outra com a qual ela faz uma unidade semântica.
A palavra resultante tem um acento só: o do segundo elemento
Pode-se ver que a crase é um recurso que facilita a métrica.

Eufonia
Quando, para a harmonia e o fluxo da frase, não há interesse nem
em elisão nem em crase na seqüência de uma palavra terminada em vogal
e outra iniciada por vogal, usa-se um -n eufônico no final da palavra an-
terior para evitar o hiato e por isso a elisão ou crase.

Isso acontece com freqüência:


• na 3 a pessoa do singular e plural dos verbos:
¤sti / ¤stin é
eÞsi / eÞsin são
¦krine / ¤krinen ele julgava
• no dativo, locativo e instrumental plural dos nomes em consoante ou
semivogal:
sÅmasi / sÅmasin aos corpos, pelos corpos
Þsxæsi / Þsxæsin às forças, pelas forças
eàkosi / eàkosin vinte
Diante de pontuação e em fim de frase usa-se o -n (para proteger a
vogal).
É importante lembrar que esse -n não faz parte da desinência.
Há outros casos de consoantes eufônicas:
oìtvw assim, dessa maneira diante de vogal
oìtv diante de consoante
oé não diante de consoante surda ou sonora
oéx diante de consoante ou vogal aspirada
oék diante de vogal não aspirada
¤k de dentro de diante de consoante
¤j diante de vogal

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as vogais 57

Contração
Na flexão verbal e nominal, quando um tema vocálico se encontra
com uma vogal de ligação, formando um hiato, no dialeto ático esse hia-
to é eliminado pela contração; no jônico não.
A contração se faz da maneira seguinte:
1. a contração de duas vogais breves resulta numa longa;
2. uma vogal longa absorve a breve e o resultado é uma longa;
3. quando duas vogais longas se seguem, abrevia-se a vogal anterior, que
depois se contrai com a seguinte.

Damos a seguir o quadro das contrações:


a+a> e + e > ei o + o > ou
a+e> e+a>`h o + a>v
a + ei > &/ai e + ai > ú/hi o + h>v
a+o>v e + o > ou o + e > ou
a+v>v e+v>v o + ei > oui > oi
a + oi > Ä/vi e + oi > oui > oi o + oi > oui > oi

É preciso ter sempre em mente:


1. que uma contração é um segundo tempo: isto é, antes da forma con-
trata existiu a não-contrata; a reconstrução e registro dela ajudam a
encontrar a acentuação correta;
2. que a contração é um fenômeno físico, fisiológico, que se processa no
aparelho fonador, governado sempre pela lei do menor esforço;
3. que uma vogal tônica, quando absorvida, leva consigo a tonicidade;
quando a vogal absorvida não é tônica, o acento permanece no lugar,
se as normas da acentuação permitirem.
fil¡-ei > fileÝ ele ama
fÛle-e > fÛlei ama (tu)
tim‹-ei > tim˜/ timi ele honra
tÛma-e > tÛma honra (tu)

mur02.p65 57 22/01/01, 11:36


58 as vogais

4. que duas vogais do mesmo timbre resultam numa longa do mesmo


timbre:
e + e > ei29,
o + o > ou,
a +a > a
5. que duas vogais de timbre diferente têm o seguinte tratamento:
5a) na sucessão a > e / e > a, predomina o timbre da vogal anterior:
a + e >  longo
e+a>h
Mas a + h > h
5b) quando uma das vogais é de timbre “o” o resultado da contração é
de timbre “o”.
a+o>v
e + o > ou
o + o > ou
e + oi > oui > oi
Mesmo no encontro de um “o” breve e um -h- ou um -a- longo o
“o” breve será absorvido pela longa, mas imporá seu timbre: didñhte >
didÇte - que vós deis, se derdes.
6. Não há contrações especiais, exceções, etc. Não há diferenças nas con-
trações de formas nominais ou verbais.
Sempre que os ingredientes fonéticos forem os mesmos a resul-
tante fonética será a mesma
Todos os casos de contração que acontecem nas flexões nominal e
verbal serão assinalados no momento em que acontecerem.

Alteração de vogais
Em determinadas posições, as vogais podem alterar a quantidade e
o timbre:
1. Quando duas vogais longas se seguem, a vogal anterior se abrevia. É um
produto da lei do menor esforço. Acontece com mais freqüência no
ático:

29 E não em -h-, que é de timbre aberto.

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as vogais
consoantes 59

basil®-W-vn > basil®-vn > basil¡vn30 dos reis


te-y®-úw > tey¡úw > tey»w sejas colocado
te-y®-v-men > tey¡vmen > teyÇmen sejamos colocados
2. Quando uma vogal longa é seguida de uma breve, em geral há uma troca
de posições.
Chama-se metátese de quantidade;
pñlh-ow > pñlevw da cidade
basil°-W-ow > basil°ow > basil¡vw do rei
3. Uma vogal longa se abrevia quando, numa mesma sílaba, é seguida de
um grupo formado de soante (l, m, n, r, W) e oclusiva ou -s (Lei de
Osthoff).
lu-y®-nt-vn > luy¡ntvn dos que foram desligados
b®-nt-vn > b‹ntvn dos que caminharam
gnÅ-nt-vn > gnñntvn dos que tomaram conhecimento
basil®-W-w > basil¡uw > basileæw o rei

As consoantes
Elas são sæmfvna, isto é, com-soantes, que “soam junto”.
Aristóteles (Poética, 1456b) começa por chamá-las “áfonas = mudas” 31:
“... fvnon d¢ tò metŒ prosbol°w kayƒ aêtò mhdemÛan ¦xon
fvn®n, metŒ d¢ tÇn ¤xñntvn tinŒ fvn¯n gignñmenon Žkous-
tñn.” “... mudo (áfono, mudo) é o que não tem nenhum som por si pela
aplicação (dos lábios e da língua) mas que se torna audível com alguns que
têm som.” Ver, também, Platão, Crátilo, 424c.

30 Depois da síncope do W em posição intervocálica, só se contraem as vogais do mes-


mo timbre.
31 Mais uma vez Aristóteles vê bem as coisas, embora não tenha a etiqueta de

gramático, filólogo ou lingüista. ƒAfvnon quer dizer "sem som", portanto, mudo.
Vamos tratá-las assim: mudas, e não surdas.

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60 as consoantes

Podemos classificá-las segundo:


1. o modo de articulação: de acordo com a maneira com que o som é
produzido:
1.1. pelo sopro, que escapa de repente, do canal propositadamente fe-
chado e comprimido: oclusivas (explosivas): p, b, f, m; t, d, y, n;
k, g, x,
1.2. pelo ar comprimido, pressionado, que escapa aos poucos: constri-
tivas, fricativas, sibilantes: W, s;
2. o ponto de articulação, isto é, de acordo com o ponto, o lugar do
aparelho fonador, em que se produz o som:
labiais (na junção dos dois lábios): p, b, f, m;
dentais ou linguodentais (nos alvéolos dos dentes ou na junção da
língua com os alvéolos dos dentes): t,d,y,n;
velares 32 (na junção da glote com a abóboda bucal, “céu da boca”):
k, g, x.
3. Segundo o ponto de vista do som glotal, as consoantes podem ser:
mudas (sem nenhuma vibração glotal): p, f, t, y, k, x, ou
sonoras (acompanhadas de vibração glotal): b. d, g.
Há duas oclusivas sonoras nasais: m (labial), e n (dental ou línguo-
dental).
As oclusivas sonoras eram chamadas de m¡sai, médias, medianas,
pelos antigos, por causa da menor energia na articulação, isto é, oclusão
menos forte do que a das mudas.
As oclusivas mudas eram chamadas de cilaÛ, desguarnecidas, sim-
ples, porque desprovidas de qualquer acompanhamento de vibração glotal;
e quando acompanhadas de um sopro de ar, chamavam-se das¡ai, “pe-
ludas” aveludadas, espessas, isto é, revestidas. São as que chamamos de
“aspiradas”, do latim ad spirare - “soprar a, para”, isto é, “assopradas, so-
pradas”. São: f, y, x; em caracteres latinos: ph, th, kh.

32 Esses sons são chamados guturais pelos gramáticos. É uma denominação que per-
siste há muito tempo e que se repete por rotina. Não há razão de chamá-los gutu-
rais porque não são produzidos na garganta e sim na região da glote e palato duro
(céu da boca). Os lingüistas atuais preferem denominá-las velares, de “véu palatino
= céu da boca”.

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as consoantes 61

As constritivas, por pressionarem o ar contra as paredes do apare-


lho fonador, são também chamadas de:
• fricativas, por “apertarem, esfregarem” a saída do ar;
• sibilantes, pelo ruído que produzem, próximo ao de um assobio.
Não são nem labiais nem labiodentais. Em português e em latim
são o f e o v, que Quintiliano chama de tristes et horridae, quibus Graecia
caret 33 (10.10, 28).
Há uma dental, ou linguodental: -s- (ss/ç, em português). Ela é
muda.
Aristóteles (Poética, 1456b) diz que ela e o -r- são: “²mÛfvnon
tò metŒ prosbol°w ¦xon fvn¯n Žkoust®n, oåon tò S kaÜ R.”
“Semivogal (meio muda) é o que, com a aplicação (articulação), tem som
audível, como o S e R...”34
O -s- diante de uma consoante sonora se sonoriza: Smærna, tam-
bém escrito Zmærna.
Entre as constritivas podemos incluir o -r- e -l- (vibrantes).
O -z- foi sempre considerado consoante dupla.
Dionísio Trácio e Dionísio de Halicarnasso atestam as pronúncias
[zd] e [z] no grego clássico, mas desde o século IV estabiliza-se uma pro-
núncia [z] e [zz].
No latim arcaico transcreve-se [ss]: mza > massa.
O -r- era vibrante e pronunciado mais com a ponta da língua e
alvéolos dos dentes. Não são sons guturais, palatais ou velares.
Dionísio de Halicarnasso diz: “tò d¢ R (¤kfvneÝtai) t°w glÅs-
shw kraw Žporrapizoæshw tò pneèma kaÜ pròw tòn oéranòn
¤ggçw tÇn ôdñntvn Žnistam¡nhw” - “o R se pronuncia com a ponta
da língua empurrando o ar e se colocando na direção do céu (da boca)
junto aos dentes” (De comp. verb., 79R).
Essa vibração da ponta da língua faz um movimento de ar intenso,
o que dá a impressão de consoante “soprada, ou assoprada”; é por isso
que o -r- também é considerado aspirado, e, nas palavras com -r- inicial,
põe-se um espírito rude: =eèma e se transcreve em português: rheuma.

33 “tristes
e horríveis, de que a Grécia carece”.
34 Alguns gramáticos incluem nessa categoria, além dessas duas, as outras líqüidas
(l, m, n) e as consoantes duplas (z, c, j). As líqüidas também são conhecidas por
soantes ou consoantes-vogais.

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62 as consoantes

O -l- se pronunciava com a parte anterior da língua aplicada atrás


dos alvéolos. No português do Brasil, o modelo desse -l- seria o da pro-
núncia do sul, sobretudo do Rio Grande do Sul. É sempre consoante,
jamais vocalizado.

As soantes
É um nome genérico dado a algumas consoantes que ficam numa
zona limítrofe entre consoantes e vogais. O grego herdou do indo-euro-
peu duas soantes: uma labiovelar, de som próximo do -u-, denominada
digama pela representação gráfica de dois gamas superpostos: W, que os
especialistas chamam de waw/vau, e outra, linguopalatal, de som próxi-
mo do -i-, representada por um j, e por isso denominada yod. Elas tam-
bém são chamadas de semivogais, provavelmente, porque em determina-
das posições, sobretudo depois de consoantes, se vocalizam em -u- e -i-
respectivamente.35
As vibrantes -r- e -l- e as oclusivas sonoras nasais -m- e -n- tam-
bém são chamadas de soantes ou líqüidas, mas seu uso mais geral é como
consoantes.

O -r- e o -l-, quando se encontram numa seqüência de três con-


soantes, desenvolvem um -a- epentético, como:
ndrsin > Žndr-‹-sin aos homens
¦stlhn > ¤st-‹-lhn eu fui enviado
¦fyrka > ¦fy-a-rka eu destruí, corrompi

As soantes l, m, n, r, seguidas de -s-, provocam a síncope do -s-


e, por compensação, alongam a vogal anterior. Isso acontece sobretudo
no aoristo sigmático dos verbos de tema em soante/líqüida:
¦-stel-sa > ¦steila eu enviei, envio
¦-fyer-sa > ¦fyeira eu destruí, eu destruo
¦-nem-sa > ¦neima eu distribuí, distribuo
¦-men-sa > ¦meina eu permaneci, permaneço

35 O -u- e o -i- também são chamados de semivogais, quando se juntam a vogais para
formarem ditongos.

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as consoantes 63

Mas na flexão nominal o sigma do dat. loc. instr. plural -si não
sofre síncope, provavelmente para não confundir-se com o dat. loc. instr.
singular -i.
Assim:
=®tvr - =®tor-i - =®tor-si o orador - ao orador - aos oradores

O -n- :
• ou desenvolve um -a- ou -h- epentéticos quando numa posição depois
ou entre consoantes oclusivas:
yn-tñw > yn-h-tñw mortal
yn-tñw > y-‹-natow morte
may > ma-n-y-n-v > many-‹-nv eu entendo eu aprendo
• ou vocaliza-se em-a- entre oclusivas:
pe-pr‹g-ntai > pepr‹gatai foram feitos, estão feitos
• ou, em posição final, vocaliza-se depois de consoante:
1. na 1a pessoa do singular do aoristo sigmático:
¦-lu-s-n > ¦lusa eu desliguei, desligo
2. na 1a pessoa do singular do perfeito ativo:
l¡-lu-k-n > l¡luka eu desliguei, terminei o ato de desligar
3. no acusativo singular e plural dos temas em consoante:
kñrak-n > kñraka corvo
kñrak-nw > kñrakaw corvos
Essas soantes/líqüidas quando em posição final, depois de vogal,
permanecem, menos o -m, que passa a -n.

O yod (j) e o digama/waw/vau (W) sofrem tratamentos diferentes


conforme a posição antes ou depois de consoante:
1. Em posição inicial:
1.a. o yod (j) cai (aférese) e é substituído (compensação) por uma
aspiração, peæma dasæ, spiritus asper, espírito rude:
jñw > ÷w que (relativo)
jhpar > ¸par fígado
1.b. o digama/waw/vau (W) também cai (aférese), mas nem sempre é
substituído por aspiração:
Wesp¡ra > ¥sp¡ra (vesper em latim) tarde, véspera
Wergon > ¦rgon (work inglês, werk alemão) obra, trabalho

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64 as consoantes

2. Em posição intervocálica:
2.a. O yod (j) sofre síncope e as vogais postas em contato se contraem:
tim‹-j-v > tim‹v > timÇ eu honro
2.b. O digama/waw/vau (W) sofre síncope e as vogais postas em
contato:
• quando do timbre -e- se contraem:
basileWew > basil¡ew > basileÝw os reis (nom.)
• no caso de outros timbres, o hiato permanece:
boWñw > boñw do boi, da vaca
basil®Wa > basil®a > basil¡a o rei (acus.)

3. Em contato com consoantes:


3.a. O yod (j): depois de consoantes:
• depois de uma oclusiva dental (t,y) ou velar, muda ou aspira-
da (k,x ), se funde com ela e produz o som soante -ss-
(jônico), ou -tt- (ático):
m¡lit-ja > m¡lissa / m¡litta abelha
ful‹k-jv > ful‹ssv / ful‹ttv eu vigio
• depois de uma oclusiva dental ou velar, (g, d) funde-se com
ela e produz z
stÛg-jv > stÛzv eu marco
¤lpÛd-jv > ¤lpÛzv eu espero
• depois de oclusiva labial, muda, sonora ou aspirada (p, b, f)
> pt:
kræp-jv > kræptv eu cubro, eu escondo
bl‹b-jv > bl‹ptv eu causo dano, eu prejudico
t‹f-jv > y‹ptv eu enterro
• depois de um -l-, o -j- se assimila (> -ll-)
Žl-jow > llow outro
st¡l-jv > st¡llv eu envio
• depois de -n-, -r-, o yod se vocaliza em -i- e sofre metátese
(desloca-se para o tema):
mñr-ja > mñria > moÝra o destino, o quinhão
m¡lan-ja > m=lania > m¡laina negra
fy¡r-jv > fy¡riv > fyeÛrv eu destruo, corrompo
t¡n-jv > t¡niv > teÛnv eu estico, tendo

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as consoantes 65

3.b O W digama (waw/vau):


• diante de consoante:
vocaliza-se em -u-
basil¡W-w > basileæw rei, senhor
bñW-w > boèw boi, vaca
• depois de consoante:
sofre síncope, se em situação interna, e, no ático, não provoca
alongamento compensatório da vogal anterior; no jônico sim:
kñrW-a > kñra (att.) / koærh (jôn.) a jovem, menina-moça
j¡nW-ow > j¡now (att.) / jeÝnow (jôn.) o estrangeiro, hóspede
gñnWata > gñnata (att.) /goænata (jôn.) joelhos
• se em situação final, vocaliza-se em -u-:
stW > stu a cidadela, o centro

Encontro de consoantes
Quando duas consoantes se encontram entre duas palavras que se
seguem ou no corpo mesmo da mesma palavra (na junção do tema com
as desinências, nominais ou verbais), podem acontecer conflitos quanto
ao ponto ou modo de articulação.
Como no caso dos encontros entre vogais, também esses conflitos
são resolvidos pela lei do menor esforço, sempre num processo de aco-
modação, de facilidade, temperada pelo conteúdo semântico, que não pode
sofrer danos.
Vamos ver os diversos conflitos dos encontros entre consoantes:

Oclusiva + s:
1. Para as labiais e velares o alfabeto grego já tem uma letra própria (con-
soante composta):
• labiais: p, b, f + s > c
• velares: k, g, x + s > j
2. As dentais seguidas de s acomodam-se ao s (assimilação), por causa
da proximidade do ponto de articulação, produzindo dois ss que de-
pois se reduzem a um:
• t, d, y + s > ss > s

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66 as consoantes

3. O -t- em posição desinencial seguido de -i- átono se enfraquece e se


torna fricativo-sibilante > -s- , e, a seguir, se em posição intervocálica,
esse -s- sofre síncope, mas só quando a vogal anterior é de ligação e
breve.
• A vogal de ligação longa, característica do subjuntivo, tam-
bém provoca a síncope do -s- intervocálico.
f¡r-e-ti > f¡resi > f¡rei ele porta, carrega
f¡r-h-ti > f¡rhsi > f¡rhi > f¡rú ele porte, carregue
mas, se a vogal é temática, não há síncope:
dÛ-dv-ti > dÛdvsi. ele dá
• A vogal temática e o consciente lingüístico impedem a evolu-
ção (síncope do -s-), para não descaracterizar a forma, mas:
f¡r-o-nti > f¡ronsi > f¡rousi eles portam, carregam
O -s- ficou em posição intervocálica após a síncope do -n-; uma
simplificação maior levaria à descaracterização da forma.

Oclusiva seguida de oclusiva:


As oclusivas das desinências são apenas duas: -t, -m.
O -n desinencial se vocaliza em -a, depois de consoante ou soante.
1. Oclusiva labial ou velar, sonora ou aspirada, seguida de -t sofre uma
assimilação parcial: perde a sonoridade ou a aspiração:
t¡-trib-tai > t¡trip-tai foi esmagado, está esmagado
g¡-graf-tai > g¡graptai foi escrito, está escrito
t¡-tag-tai > t¡taktai foi ordenado, posto em fileiras
·rx-tai > ·rktai foi comandado, está governado
2. Oclusiva labial, muda, sonora ou aspirada seguida de -m se assimila >
mm:
t¡-trib-mai > t¡trimmai fui esmagado, estou esmagado
g¡-graf-mai > g¡grammai fui escrito, estou escrito
l¡-leip-mai > l¡leimmai fui abandonado, estou abandonado
3. Oclusiva labial ou velar, muda ou sonora, seguida de -y sofre uma as-
similação parcial, contamina-se da aspiração:
¤-tr¡b-yh > ¤tr¡fyh foi esmagado
¤-p¡mp-yh > ¤p°mfyh foi enviado
¤-pr‹g-yh > ¤pr‹xyh foi feito
¤-ful‹k-yh > ¤ful‹xyh foi vigiado

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as consoantes 67

4. Oclusiva dental muda, sonora ou aspirada seguida de outra dental se


dissimila em -s :
¤-ceæd-yhn > ¤ceæsyhn eu fui enganado
¤-pe¤y-yhn > ¤peÛsyhn eu fui persuadido
¤-anæt-yh > ±næsyh foi completado
Žnæt-tñw > Žnustñw completado, completável
Exclui-se o duplo -tt- que é a variante ática do -ss-, resultado do
encontro entre velar e -j-, yod, como:
pr‹g-jv > pr‹ssv / pr‹ttv eu faço
m¡lit-ja > m¡lissa / m¡litta abelha
5. Oclusiva dental seguida de -m se enfraquece numa assimilação parcial,
passando a -s-:
p¡-peiy-mai > p¡peismai eu fui, estou persuadido
¦-ceud-mai > ¦ceusmai eu fui, estou enganado
6. Oclusiva velar, sonora ou aspirada, seguida de -t se assimila parcial-
mente, ficando muda:
p¡-prag-tai > p¡praktai foi feito, está feito
¦-arx-tai > ·rk-tai foi governado, está governado
7. Oclusiva velar muda, ou aspirada seguida de -m, se assimila parcial-
mente, recebendo a sonoridade do -m:
de-dÛvk-mai > dedÛvgmai fui perseguido, estou perseguido
pe-fælak-mai > pefælagmai fui vigiado, estou vigiado

Oclusiva sonora ou aspirada, precedida de nasal:


1. nasal antes de labial > -m:
¤n-pÛptv > ¤mpÛptv eu caio dentro
gr‹f-ma > gramma letra (coisa escrita)
sun-fvnÛa > sumfvnÛa symphonia > sinfonía
2. nasal antes de dental > -n:
¤n-tÛyhmi > ¤ntÛyhmi eu coloco em, eu imponho
3. nasal antes de velar > -g:
¤n-kalæptv > ¤gkalæptv eu escondo em
sun-kaleÝn > sugkaleÝn chamar junto, convocar
4. nasal antes de vibrante r / l > rr/ll:
sun-l¡gein > sull¡gein reunir
sun-=®gnumi > surr®gnumi romper, co-rromper

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68 as consoantes

Supressão de consoantes
1. Uma palavra grega não pode terminar por uma consoante, a não ser
por -n, -r e -w (-c, -j), as outras sofrem apócope.
É por isso que vemos muitas palavras neutras de nominativo em
vogal, mas de tema em consoante, sobretudo -t
T : svmat-, nom. sing.: sÇma, mas nom. pl.: sÅmat-a
A razão disso é que o neutro tem desinência zero no nominativo,
isto é, é o próprio tema. E se o tema termina em qualquer consoante que
não seja n, r, w, essa consoante em posição final cai.
Apenas a preposição ¤k / ¤j e a negação oé / oék / oéx mantêm
a oclusiva final, por eufonia.
2. Um s- inicial sofre aférese (prócope) diante de vogal ou -r.;
2.1. diante de vogal, foi substituído pelo espírito rude:
sWaduw > sadæw > dæw / ²dæw doce, suave (latim, suauis)
s¡pomai > §pomai eu acompanho (latim, sequor)
2.2. diante de -r- cai simplesmente:
sr¡v > =¡v eu fluo (a água)
2.3. Diante de uma nasal o -s- sempre cai:
smÛa > mÛa uma
smikrñw > mikrñw pequeno
3. O -s- entre duas consoantes sofre síncope:
p¡-peiy-sye > p¡peiyye > p¡peisye fostes, estais convencidos
p¡-prag-sye > p¡pragye > p¡praxye fostes, estais feitos
t¡-trib-sye > t¡tribye > t¡trifye fostes, estais esmagados
4. Na flexão verbal, em posição desinencial intervocálica, sendo a ante-
rior vogal de ligação, o -s- sofre síncope, provocando um hiato, que,
no ático é reduzido pela contração.
No jônico, o hiato permanece.
faÛn-e-sai > faÛneai -jônico- tu apareces
faÛn-e-sai > faÛneai > faÛnhi -ático- tu apareces
> faÛnú/-ei
¤-yaum‹sa-so > ¤yaum‹sao -jônico- tu admiraste, tu admiras
¤-yaum‹sa-so > ¤yaum‹sv -ático- tu admiraste, admiras
¤-yaum‹z-e-so > ¤yaum‹zeo -jônico- tu estavas admirando
¤-yaum‹z-e-so > ¤yaum‹zou -ático- tu estavas admirando
faÛn-e-so > faÛneo -jônico- aparece, manifesta-te
faÛn-e-so > faÛneo > faÛnou -ático- aparece, manifesta-te

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as consoantes 69

4.1. mesmo se a vogal de ligação é longa, como a característica do


subjuntivo v, h, h, v, h, v, o -s- intervocálico sofre síncope:
faÛn-h-sai > faÛnhai > faÛnhi/faÛnú apareças
4.2. Mas, quando a vogal anterior é temática ou no caso dos futuros
de vogal longa, não há a síncope do -s-.
• quando a vogal é temática:
dÛdv-ti > dÛdv-si ele dá
tÛyh-ti > tÛyh-si ele põe
• quando a vogal de ligação epentética é longa no futuro:
may > may-®-somai eu hei de aprender
A síncope do -s- mutilaria completamente a forma.
• também no futuro e aoristo dos verbos denominativos de tema em vo-
gal: (vogal temática alongada)
tim®sv eu honrarei
dhlÅsv eu revelarei
poi®sv eu farei
Nesses casos a síncope do -s- tornaria o futuro exatamente igual
ao presente e afetaria o significado.

5. Na flexão nominal, nos nomes de tema em -s, sempre que em posição


intervocálica, o -s- sofre síncope e o hiato resultante é reduzido por
contração no ático, e permanece no jônico.
g¡nes-ow > g¡neow > g¡nouw do gênero, da raça
kr¡as-ow > kr¡aow > kr¡vw da carne
aÞdñs-ow > aÞdñow > aÞdoèw do pudor
Svkr‹tes-ow > Svkr‹teow > Svkr‹touw de Sócrates
Žlhy¡s-a > Žlhy¡a > Žlhy° coisas verdadeiras
nyes-a > nyea > nyh flores
Nos exemplos acima, a forma intermediária é jônica.

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70 as consoantes

Supressão da aspiração
1. Sempre que duas sílabas subseqüentes começam por consoante aspira-
da, uma delas, geralmente a primeira, é substituída pela muda corres-
pondente:
¤-y¡-yh-n > ¤-t¡-yhn eu fui colocado, sou colocado
É uma espécie de dissimilação, comandada pela lei do menor es-
forço; é uma simplificação (psilose). Pronunciar duas sílabas seguidas
começadas por aspirada “soprada” exige esforço!
2. Quando numa flexão, verbal ou nominal, uma consoante aspirada, por
motivos fonéticos, tem a muda36 assimilada, a aspiração se desloca para
a consoante mais próxima compatível com a aspiração, ou mudando o
espírito suave em rude da vogal anterior.
-T. trix- cabelo, pelo
Nom. sing. trÛx-w > yrÛj,
D.L.I. pl. trix-sÛ > yrijÛ
mas: trix-ñw, trix-Û, trÛx-ew, trix-Çn, trÛx-aw
-T. sx- eu seguro, eu tenho
Pres. sex-v > §xv > ¦xv
Fut. ¦x-s-v > §jv
-T. tref- eu nutro, alimento
Pres. tr¡f-v
Fut. tr¡f-s-v > yr¡cv,
Aor. ¦-tref-sa > ¦yreca
-taxæw, æ veloz
Comp. y‹ttvn, on mais veloz

36 Deve-selembrar sempre que as consoantes aspiradas são as consoantes oclusivas


mudas: t, k, p, que se tornam respectivamente y, x, f.

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aasacentuação
consoantes 71

A acentuação
I. Natureza do acento
Nas palavras de mais de uma sílaba, com significado próprio, as
vogais não eram pronunciadas na mesma elevação de voz. Segundo
Dionísio de Halicarnasso, essa elevação era de uma quinta (De comp. verb.,
11). Platão, em Crátilo, 416b fala de rmonÛa - ajuste, acordo.
Usavam-se também as palavras tñnow - esticamento, tensão de uma
corda, e prosÄdÛa - canto, para falar dessa modulação de vogais.
Aristóteles, Poét., 20, Platão, Crátilo, 399b, Dionísio Trácio, Bekker,
II, 629, 27 falam, do acento ôjæw - agudo, pontudo, e baræw - grave, pesado.
Uma sílaba não acentuada se dizia grave, bareÝa; uma sílaba acen-
tuada com acento agudo se dizia ôjeÝa - aguda; uma sílaba acentuada com
o acento circunflexo se dizia, perispvm¡nh, esticada por cima, ou tam-
bém dÛtonow, de dois tons, m°sh, média ou ôjubareÝa, tônica-grave.
Havia apenas dois acentos: o acento agudo, em forma de ponta de
agulha, “ ´ ” tñnow ôjæw ou prosÄdÛa ôjeÝa, canto (entonação) agu-
do, e tñnow perispÅmenow, acento esticado por cima, envolvente: cir-
cunflexo. Esse acento marcaria os dois tons da vogal longa: o primeiro,
em elevação (rsiw) de baixo para cima, inclinado para a direita, e a se-
guir o segundo, marcando a posição (y¡siw), descendo em plano inclina-
do para a esquerda. Isso daria um “chapéu” que equivale ao nosso acento
circunflexo “ ^ ”. A seguir passou-se a esticá-lo e arredondá-lo nas extre-
midades, para diminuir o ângulo. Hoje, muitas vezes, na pressa e no des-
cuido, fazemos um traço que se assemelha ao nosso til. Isso às vezes con-
funde o principiante e fá-lo pensar que o grego tem vogais nasais.
Na escrita erasmiana37, que o mundo ocidental segue desde o sé-
culo XVI, todas as palavras gregas são acentuadas. E, como os nossos

37 Não há nenhum sinal de acentuação nas inscrições gregas. Nos manuscritos em


geral, o emprego dos sinais de pontuação data das edições de Aristarco da Samotrácia
(215-143 a.C.) e de Aristófanes de Bizâncio (257-180 a.C.), que inventou não só
os sinais de acentuação, mas também o espírito e a pontuação. A intenção era
sempre diacrítica, isto é, evitar confusão na leitura das palavras e dos textos.

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72 a acentuação

ouvidos não mais estão preparados para a variação de tonalidade, as síla-


bas marcadas por um acento são sílabas tônicas.

Os acentos são:
1. Agudo “ ´ ”, que pode aparecer nas três posições finais de uma palavra
e sobre vogais breves ou longas e ditongos; proparoxítonas (antepenúl-
tima sílaba), nyrvpow, homem; paroxítonas (penúltima sílaba),
nñmow, costume, lei, e oxítonas (última sílaba), Žgor‹, mercado,
praça.
2. Circunflexo “ ^ ”, que pode aparecer nas duas posições finais de uma
palavra, mas só sobre vogais longas ou ditongos: properispômenas (pe-
núltima sílaba), dÇron, dom, presente, e perispômenas (última síla-
ba), ¤n t» Žgor˜, no mercado.
3. Grave “ ` ”, que não é um acento propriamente dito; ele é um acento
substituto: só é usado nas palavras oxítonas, substituindo o acento agudo
no meio da frase, para marcar seqüência; kalòw kaÜ Žgayñw belo e bom.
Os gramáticos antigos chamavam isso de “baritonização da tônica
final”.
Como já dissemos, os acentos podem combinar com os espíritos:
õ nyrvpow o homem
² ìbriw o descomedimento, a desmedida
¤n Ú em que

II. Posição do acento:


1. Os acentos são usados de conformidade com sua natureza:
• o agudo, por marcar uma só unidade de tempo: pode ser usado
sobre uma vogal breve ou sobre uma longa ou ditongo;
• o circunflexo, por se estender sobre dois tons, só pode ser usado
sobre uma vogal longa ou um ditongo.
2. A sílaba tônica não pode recuar além do terceiro tempo, a contar do
fim da palavra38.

38 Esses“tempos” são unidades tônicas. A vogal da sílaba intermediária nas palavras


de três ou mais sílabas sempre conta um tempo, ou uma unidade tônica, mesmo se
longa ou ditongo: nyrvpow, o homem, ou ¦mpeirow, o continente.

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a acentuação 73

3. Para efeito de acentuação, em grego, o que determina a posição da


tônica (e do acento) é a quantidade da última sílaba:
3.1. se a vogal é longa ou ditongo39, conta dois tempos, ou unidades
tônicas40;
3.2. se a vogal é breve, conta um tempo, ou uma unidade tônica;
3.3. As sílabas não finais, mesmo longas, contam um tempo para
efeito de acentuação: nyrvpow.
4. Nas formas verbais, segundo os gramáticos, o acento tem uma tendên-
cia regressiva, isto é, tende a fugir da última sílaba.
Na verdade, se aceitarmos a idéia de que a tonicidade tem uma re-
lação com a ênfase, essa “tendência regressiva” seria apenas a busca do
tema, que é a “base, o núcleo do significado”.
5. Nas formas nominais, segundo os gramáticos, o acento permanece, na
medida do possível, na posição do nominativo singular.
Uma observação se faz necessária: essa afirmação de que “as formas
nominais mantêm, na medida do possível, a posição (da tônica) do no-
minativo singular” é talvez cômoda, mas repousa sobre a idéia do “caso
reto”, que já demostramos que não existe. O que existe de fato é que os
temas nominais podem ser oxítonos, paroxítonos ou proparoxítonos.
Por exemplo, SÅkrates - é um tema proparoxítono e se torna
paroxítono em todos os casos, por causa das desinências que recebe, me-
nos no vocativo, em que é o próprio tema. No nominativo singular não
recebe desinência, mas alonga a vogal do tema, deslocando a tônica, e é
paroxítono.
Contudo, para efeitos práticos, essa “regra” funciona bem e está
consagrada pelo uso. O nominativo, por ser o caso da nomeação, da de-
nominação, da identidade, passa a ser também o “caso da representação”.
Os nomes e adjetivos não são apresentados sob forma temática (sem fun-
ção), mas na forma da identificação, isto é, no nominativo. É o que ve-

39 Os ditongos finais -ai / -oi são considerados breves para efeito de acentuação
(não na métrica), menos as formas do optativo læsai, eu desligaria, desligasse, po-
deria desligar, e nos locativos oàkoi, em casa. Os -i i- do locativo e do optativo são
longos.
40 Quando usamos a palavra tempo queremos dizer “unidade tônica”.

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74 a acentuação

mos nos dicionários e gramáticas. O acompanhamento do genitivo, já


dissemos, é mero recurso didático-formalista, para que o leitor enquadre
o nome na “declinação” a que o nome pertence.
Neste trabalho nós não seguimos essa regra; nós trabalhamos a
flexão nominal e verbal a partir do tema.
No nosso vocabulário, contudo, submetemo-nos à tradição, que é
irreversível. 41
Como o nosso trabalho tem um objetivo mais prático, didático,
pedagógico, vamos tratar desse assunto em outra ocasião.

Vamos adotar então a afirmação de que os nomes (substantivos,


adjetivos, dêiticos) mantêm, na medida do possível, a tônica na posição
do nominativo singular.
Portanto, o avanço ou o recuo do acento, quer nas formas nomi-
nais, quer nas formas verbais, depende da variação de quantidade da últi-
ma sílaba.
Assim: õ nyrvpow o homem, o ser humano
nom.s. õ nyrvpow nom. e voc.pl. nyrvpoi
voc.s. Î nyrvpe
acus.s. tòn nyrvpon acus.pl. toçw ŽnyrÅpouw
gen.s. toè nyrÅpou gen.pl. tÇn nyrÅpvn
dat.loc.instr.s tÒ ŽnyrÅpÄ dat.loc.instr.pl. toÝw ŽnyrÅpoiw.

O acento circunflexo, por marcar sílaba longa ou ditongo, isto é,


duas unidades tônicas, não pode ser usado em penúltima sílaba em uma
palavra em que a final é longa, porque marcaria uma quarta unidade tôni-
ca, que não existe,
Assim: tñ dÇron: o dom, o presente
nom.voc.acus.sing. tò dÇron
gen.sing. toè dÅrou
dat.loc.instr.sing. tÒ dÅrÄ
nom.voc.acus.pl. tŒ dÇra
gen.pl. tÇn dÅrvn
dat.loc.instr.pl. toÝw dÅroiw

41 Pretendemos no vocabulario registrar o tema T, depois da entrada dos nomes no


nominativo e genitivo.

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a acentuação 75

Para efeito de marcação e leitura, diremos que toda sílaba acentu-


ada é tônica e inversamente toda sílaba tônica é acentuada. Toda pala-
vra grega é acentuada (salvo algumas palavras átonas – enclíticas ou pro-
clíticas – em determinadas posições).
Quanto à posição do acento, as palavras gregas são:
• oxítonas, se levam o acento agudo na última sílaba;
• paroxítonas, se levam o acento agudo na penúltima sílaba;
• proparoxítonas, se levam o acento agudo na antepenúltima sílaba;
• perispômenas, se levam o acento circunflexo na última sílaba;
• properispômenas, se levam o acento circunflexo na penúltima sílaba.

Regras práticas (resumo):


1. Toda a acentuação grega se baseia no princípio dos três tempos, isto é,
cada terceiro tempo deve ser acentuado; (corresponderia mais ou me-
nos ao que nós temos em português: o último acento é o da proparo-
xítona; não há nada além dele).
2. O que comanda a posição e a natureza do acento é a quantidade da
última sílaba.
3. Para efeito de acentuação, a última sílaba conta um tempo, se é breve, e
dois tempos, se é longa. A natureza da penúltima sílaba nos trissílabos,
para efeito de acentuação, não é levada em conta; vale sempre um tempo.
4. A sílaba tônica nunca recua mais do que três tempos da final.
5. Os ditongos são naturalmente longos; excluem-se os ditongos -ai/oi
em posição final absoluta, isto é, não seguidos de -w. Isto acontece nos
nomes em -o, a, h, por analogia com o nominativo singular, sobretu-
do nos proparoxítonos e properispômenos.42

42 Menos no locativo oàkoi porque o -i- do locativo é longo e na terceira pessoa do


singular do optativo aoristo læsai, porque o -i-, marca do optativo, é longo.

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76 a acentuação

As enclíticas
O que são as palavras enclíticas? São as palavras “encostadas”, “dei-
tadas em, apoiadas em”, isto é, palavras que, desprovidas de tonicidade
própria, na prosÄdÛa canto da frase, precisam se “encostar” na palavra
precedente, anterior, para formar uma unidade tônica, prosódica.
Por serem “en-clíticas”, isto é, “encostadas em”, elas não podem
começar uma frase.
São enclíticas:
1. as formas flexionadas do pronome da 1a e da 2a pessoa do singular:
mou / sou de mim / de ti
moi / soi me, a mim / te, a ti
me / se me / te
2. Os indefinidos correspondentes aos advérbios interrogativos de lugar
e tempo e aos dêiticos interrogativos de identidade, qualidade, quan-
tidade/dimensão, idade:
tÛw; quem? tiw alguém, algum,
poÝow; de que qualidade? poiow* de alguma/certa qualidade
pñsow; de que dimensão? posow de alguma/certa dimensão
pñsoi; quantos? posoi uma certa quantidade
phlÛkow; de que idade phlikow de certa/alguma idade
pñterow; quem dos dois? poterow algum dos dois
poè; / poyÛ; onde? pou/poyi em algum lugar, de algum modo
pñyen; de onde? poyen de algum lugar
poÝ; para onde? poi para algum lugar
p»; por que meio? como? pú por algum meio, de algum modo
pÇw; como? pvw/pv de algum modo, de alguma maneira
pñte; quando? pote um dia, certa vez
3. As partículas:
ge, yen, nu(n), per, te, toi

* As palavras enclíticas de duas sílabas fazem recair a tonicidade sobre a última síla-
ba; assim, mesmo não acentuadas, elas se pronunciam como oxítonas:
tinñw, poiñw, posñw, posoÛ.

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a acentuação 77

4. As formas verbais de e‰nai (ser), e fãnai (falar), do presente do indi-


cativo, menos a 2a pessoa do singular.
eÞmi, eä, ¤sti(n), ¤smen, ¤ste, eÞsi(n)
fhmi, f»w, fhsi(n), famen, fate, fasi(n)

Acentuação das enclíticas


Na medida em que uma enclítica é uma “encostada em”, “apoiada
em”, na palavra anterior, ela passa a fazer corpo inteiro com ela, para efeito
de prosódia e de acentuação.43
Por isso:
1. Depois de uma oxítona ou perispômena a enclítica não se acentua:
Žn®r tiw um certo homem
Žgayñw ¤stin é bom
ŽndrÇn tinvn de alguns homens
Não há baritonização da oxítona (acento grave) porque ela passa a
fazer parte de uma unidade prosódica, e fica numa posição interna e os
três tempos são respeitados.
2. Depois de uma paroxítona, a enclítica de duas sílabas é acentuada na
final, para evitar que haja três sílabas seguidas átonas;
lñgou tinñw, de um (certo) discurso
lñgvn tinÇn de uns certos discursos
fÛloi eÞsÛn são amigos
Mas, se a enclítica for monossilábica ela fica sem acento; porque a
unidade prosódica é normal (três sílabas = três unidades):
lñgow tiw um certo discurso (como se fosse uma proparoxítona)
3. Depois de uma proparoxítona ou properispômena, a enclítica obriga a
proparoxítona e properispômena a ter um acento agudo de apoio em
posição de oxítona, para restabelecer uma unidade prosódica normal,
evitando a seqüência de três sílabas átonas.
nyrvpñw tiw um certo homem (nom.)
nyrvpñn tina um certo homem (acus.)
dÇrñn ti um certo presente
dÇr‹ tina alguns (certos) presentes

43 Nada mais é do que a lei dos três tempos, isto é, das três unidades tônicas, porque
a enclítica faz uma unidade prosódica com a palavra anterior.

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78 aaacentuação
pontuação

As proclíticas
As proclíticas são palavras monossilábicas (em geral partículas) que
se apóiam na palavra seguinte, na frente, formando com ela uma unidade
prosódica.
São as seguintes:
1. Os artigos masculino e feminino no singular e no plural:
õ / oß - ² / aß
2. As preposições: ¤n - em, eÞw/¤w - para, ¤k/¤j - de
3. As conjunções: eÞ - se, Éw - para, como
4. A negação: oé / oék / oéx

A pontuação
Os antigos não usavam sinais de pontuação; as partículas, herança
viva da língua oral, serviam para marcar as divisões e a entonação do discurso.
O uso da pontuação se desenvolveu muito tardiamente, com a in-
trodução da escrita minúscula.
Os textos gregos editados a partir do sécula XV são pontuados de
conformidade com as regras e os hábitos da língua do editor (francês,
inglês, italiano, alemão, holandês).
Não há regras gregas de pontuação.
Os sinais de pontuação usados na escrita erasmiana são os seguin-
tes, fazendo equivalência com o português:
1. Ponto final “ . ” = igual ao português;
2. vírgula “ , ” = igual ao português;
3. ponto alto “ : " em grego = ; ponto e vírgula em português;
4. ponto alto “ : " em grego = : dois pontos em português;
5. ponto e vírgula “ ; ” em grego = ? ponto de interrogação em português;
6. ponto e vírgula “ ; ” em grego = ! ponto de exclamação em português.

mur02.p65 78 22/01/01, 11:36


Flexão nominal
Não é nosso objetivo discutir aqui as diversas teorias lingüísticas
sobre a flexão nominal e verbal. Há muitas delas, todas respeitáveis, in-
teressantes, importantes mesmo. Mas fazem parte das teorias sobre a ori-
gem da linguagem; não cabem num trabalho que quer ser especialmente
prático e objetivo.
Nossa intenção é oferecer os meios mais rápidos e racionais de
aprender a língua grega.
Nos mais de trinta anos de magistério, sempre tentando trazer à
sala de aula um clima de aprendizado e não de magistério, colocando-nos
ao lado do aluno, sentindo o lado de lá, fomos tentando encontrar cami-
nhos. Mas todos eram barrados pelo esquema tradicional, descritivista e
prescritivista da gramática do grego.
E o mesmo esquema descritivista está na gramática do latim, pri-
meiramente herdeira da grega, cujo modelo era a gramática alexandrina
de que o exemplo mais conhecido é a Gramática de Dioníso Trácio, e, a
seguir, sobretudo a partir da divisão do Império Romano, com a domi-
nação do latim como língua única no Ocidente. Com a queda do Impé-
rio Romano no séc. V, a Igreja Romana recebeu a herança e durante 10
séculos dominou todo o cenário cultural do Ocidente. O latim passou a
ser a língua da Igreja e da administração e o acesso à cultura se fez por
intermédio do latim, que se aprendia em manuais e gramáticas que ti-
nham como modelo a Gramática de Donato, que também é descritiva e
prescritiva. Essa tradição se manteve em todo o Ocidente até nossos dias.
Mas, nos dias de hoje, o acesso ao latim e sobretudo ao grego não
se faz mais aos 10 ou 11 anos de idade, que era a idade do ingresso em
um Seminário ou Colégio. O método era basicamente o mesmo e a dis-
ciplina e a palmatória enquadravam os mais rebeldes. O seminarista leva-
va uma “vantagem”: ele ouvia latim o dia todo, quer durante a missa quer
no canto gregoriano quer na sala de aula. No fim de sete anos, até os
menos dotados acabavam aprendendo latim, por “osmose”.
Nossa experiência se fez com ingressantes na Universidade, e de-
pois com pós-graduandos e profissionais, sem que tivessem a menor idéia
do que sejam casos e declinações, ou com pessoas mais maduras até de

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80 flexão nominal

mais de 80 anos: matemáticos, historiadores, lingüistas, médicos, advo-


gados e outros que querem ler no original os textos básicos do seu cam-
po do saber.
Aos poucos, então, foi surgindo este método, que tem como ca-
racterística principal encontrar a razão das coisas; enfrentar a língua gre-
ga na sua organicidade e funcionalidade.
Costuma-se dizer que as línguas clássicas indo-européias (sânscrito,
grego, latim, chamadas línguas mortas) e algumas modernas, como as
línguas eslavas, são línguas sintéticas, por trazerem no corpo da palavra,
embutidas ou agregadas, certas modificações formais que refletem modi-
ficações semânticas, sobretudo no que diz respeito às relações sintáticas,
isto é, suas funções dentro do enunciado.
Por outro lado, as línguas modernas, derivadas das antigas, são
chamadas analíticas, por sofrerem poucas e pequenas modificações for-
mais e porque exprimem as relações sintáticas, quer pelo uso de preposi-
ções quer pela própria ordem das palavras na frase, na qual a anterior do-
mina, “rege”, a seguinte; isto na relação dos nomes entre si – comple-
mentos nominais ou adjuntos adnominais, na relação entre nomes e
verbos –, sujeito agente/paciente, objeto direto/indireto, nas relações
adverbiais marcadas por preposições ou advérbios.
Nas relações nominais, o determinado vem sempre antes do deter-
minante: método de grego, agradável ao ouvido. Esse é um traço comum
nas línguas latinas; nas línguas germânicas, mesmo nas que não têm de-
clinação, o determinado pode vir depois do determinante, sobretudo nas
relações de partitivo, posse, origem etc.
Nas relações entre verbo e nome, a ordem analítica prevalece: o
sujeito vem antes do verbo e o objeto vem depois do verbo, quer na rela-
ção de objeto direto, quer nas relações com a ajuda de preposições; eu
comprei um livro ou eu gosto de ler ou eu andei pela cidade.
Assim, O homem persegue o lobo e O lobo persegue o homem são
frases rigorosamente iguais quanto aos componentes, mas completamen-
te distintas quanto à mensagem. Na primeira, o homem é sujeito, porque
é o assunto da frase, porque é aquilo de que se fala (sujeito lógico) e é
sujeito gramatical, porque é sujeito lógico1 e porque pratica (sujeito agen-

1 Um dos fundamentos deste tabalho é exatamente a visão concreta, objetiva, lógi-


ca, coerente dos fatos da língua. O próprio termo sujeito < subjectum < êpokeÛmenon

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flexão nominal 81

te, voz ativa) a ação de perseguir, que se completa no lobo (termo da ação
verbal), chamado objeto direto.
Na segunda frase, acontece exatamente o contrário; as funções se
invertem: o que o lobo era na primeira frase, objeto direto, por vir depois
do verbo transitivo perseguir e por completar-lhe o sentido, passa a ter a
função de homem, que na primeira era sujeito e estava antes do verbo e
agora é objeto direto, por estar depois de perseguir e por completar-lhe o
sentido. Nas línguas analíticas, como o português, as funções de sujeito
e objeto direto são identificadas pelas posições respectivamente antes ou
depois do verbo; daí a necessidade da análise lógica para se entrar no
significado das frases. No grego, essas duas frases podem ser expressas
mantendo-se as palavras (sujeito, verbo e objeto direto) na mesma posi-
ção. O que vai mudar são as desinências. Assim nas frases „O lèko-w
diÅkei tò-n nyrvpo-n e Tò-n lèko-n diÅkei õ nyrvpo-w, as
posições de lèko-w / lèko-n e nyrvpo-w / nyrvpo-n são as mes-
mas, mas as funções, caracterizadas pelas desinências -w/-n, são diferentes.
Nessas duas frases, com dois nomes de tema em -o, Žnyrvpo- e
luko-, a desinência -w do nominativo identifica o sujeito õ lèkow, na
primeira, e õ nyrvpow, na segunda; e a desinência -n do acusativo
identifica o objeto direto nyrvpon, na primeira e lèkon, na segunda.
Entre os sujeitos-nominativo lèkow e nyrvpow e os objetos diretos-
acusativo lèkon e nyrvpon está o verbo diÅkei, terceira pessoa do
singular do presente do indicativo da voz ativa de diÅkv, eu persigo. Ao
perguntarmos ao verbo quem persegue?, obteremos a resposta õ lèkow /
õ nyrvpow, isto é, no nominativo, porque o nominativo é o caso da
nomeação, da denominação, da identificação, daquilo de que se trata: õ
lèkow diÅkei, o lobo persegue e õ nyrvpow diÅkei, o homem persegue.
Temos agora dois elementos essenciais do enunciado: o sujeito e
o verbo, sujeito e predicado: aquilo de que se diz alguma coisa ou aquilo
que diz alguma coisa daquilo de que se diz alguma coisa. Mas imediata-
mente constatamos que um dos elementos está incompleto: õ lèkow
diÅkei / õ nyrvpow diÅkei “o lobo persegue / o homem persegue”,

é um conceito concreto: “o que está disposto embaixo, disposto sob os olhos, o que está
na mesa, submetido a exame”. É aquilo de que se trata. Essa aplicação do conceito
de sujeito lógico para sujeito gramatical começou com os estóicos e se desenvolveu
no período alexandrino.

mur03.p65 81 22/01/01, 11:36


82 flexão nominal

mas persegue quem?, persegue o quê? isto é, em quem ou em quê o ato


de perseguir, desencadeado respectivamente pelos sujeito-agente-nomi-
nativo lobo - õ lèkow - e pelo sujeito-agente-nominativo homem - õ
nyrvpow - se completa? A resposta é tòn nyrvpon / tòn lèkon,
isto é, o complemento, o termo do ato verbal, o complemento-objeto
direto de perseguir vai para o acusativo. E a gramática portuguesa chama
essa relação de objeto direto, porque não há entre ele e o verbo que ele
completa nenhum elemento intermediário (preposição). A supressão da
palavra complemento da nomenclatura da gramática portuguesa empobre-
ceu-lhe o significado; nós preferimos manter a denominação complemen-
to objeto direto e complemento objeto indireto. 2
Essas duas frases, em grego, podem ser expressas de várias maneiras:
„O lèkow diÅkei tòn nyrvpon.
Tòn nyrvpon diÅkei õ lèkow.
Tòn nyrvpon õ lèkow diÅkei.
DiÅkei tòn nyrvpon õ lèkow.
DiÅkei õ lèkow tòn nyrvpon.
„O lèkow tòn nyrvpon diÅkei.
Em todas essas variantes o significado do enunciado é o mesmo: o
lobo persegue o homem.
O que pode variar aí é apenas a ênfase que o enunciante queira dar
a essa ou aquela palavra. É uma questão de estilo. Mas essa liberdade tem
seus limites que são: a lógica e o significado do enunciado. Por exemplo:
nós podemos ver que em nenhuma das variantes os artigos se separaram
dos nomes. O verbo não se coloca entre o artigo e o nome, porque o
artigo é um adjunto adnominal e por isso deve ficar colado ao nome.
Por isso, a afirmação de que no grego e no latim a posição das pa-
lavras é livre é um exagero. Não é bem assim. Cada língua tem o seu
caráter, o seu ritmo de elocução, a sua modulação, a sua prosódia, sobre-
tudo na expressão oral (as literaturas grega e latina, sobretudo a grega,
são basicamente orais); há sempre a intenção, a necessidade de comuni-
car, de enfatizar esta ou aquela palavra, e a posição das palavras na frase é
um dos recursos da expressão.

2 Veremos, contudo, que as expressões “objeto direto, objeto indireto” em nada aju-
dam a compreensão do discurso. São meramente descritivas, formalistas.

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flexão nominal
nominal: casos e funções 83

Casos e funções
Pelo exposto, concluímos que, enquanto as línguas analíticas ex-
primem as relações sintáticas basicamente pela ordem das palavras na frase
e pelas preposições, o grego as exprime pelos casos.
A gramática tradicional afirma que o sânscrito tem 8 casos, o gre-
go tem 5 e o latim tem 6.
É uma visão meramente descritivista. A primeira impressão que o
aluno tem é que o número de casos é diretamente proporcional à com-
plexidade das estruturas da língua estudada, o que daria, em escala de-
crescente, o sânscrito, o latim e o grego. É um erro. Nossa experiência
mostra que a complexidade dessas línguas se manifesta ao estudioso não
na quantidade de casos, mas na falta de clareza de definição do que é um
caso. Os casos correspondem a funções; o enunciante associa os dois de
maneira concreta, numa relação estreita entre significante e significado;
ele pensa na função e depois no caso, isto é, na forma. E, se algumas
formas – morfemas, desinências – exprimem mais de uma função, ele
não se espanta porque em sua língua há inúmeras formas e sons conver-
gentes, mas os elementos denotativos, circunstanciais, contribuem para
a compreensão do enunciado.
Assim, em grego, as relações de dativo, de instrumental e de loca-
tivo são expressas pela desinência -i, e o falante grego, como os falantes
das línguas modernas, como as eslavas, não tem dificuldade em entender
e se fazer entender, mesmo no plano da oralidade.
Mas os gramáticos, querendo classificar, organizar e ordenar os fa-
tos da língua, por causa da desinência -i que eles viram primeiramente
no dativo (caso epistolar ou da atribuição), catalogaram junto com o dativo
duas outras relações completamente distintas: o instrumental e o locativo
e criaram essas “pérolas semânticas” dativo-instrumental e dativo-locativo.
Essas expressões são contraditórias nos seus próprios termos e passam a
idéia da arbitrariedade da nomenclatura gramatical, em que não existiria
nenhuma relação de significante-significado.
Mas o aluno brasileiro, e também o de todas as línguas ocidentais,
está disposto a engolir mais essa definição gramatical. Aliás, ele está acos-
tumado a receber obedientemente, passivamente, como dogmas, tudo o
que dizem as gramáticas, e no seu subconsciente está registrado que não
se deve querer entender a gramática: ela se deve aprender e pronto. Há

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84 flexão nominal: casos e funções

sempre uma “autoridade” que não convém contestar. Por isso, nunca lhe
passou pela cabeça que há uma relação de significante e significado em
tudo o que dizemos. Voltaremos ao assunto na explicação dos casos.

O que é caso? Vem do latim casus: “queda, quebra”, do verbo cadere,


“cair”. Mas toda a nomenclatura gramatical latina, e conseqüentemente
a portuguesa, é uma tradução, um decalque da nomenclatura grega, que
se encontra na Gramática de Dionísio da Trácia (séc. II-I a.C.).
A palavra ptÇsiw, casus, “queda, quebra”, já foi empregada por
Aristóteles nas Categorias, I, 10, quando quer caracterizar a substituição
sufixal dos derivados. É uma visão plástica da palavra, em que se vê uma
parte fixa, invariável (tema) e uma parte final “quebradiça”, que se subs-
titui em cascata declinante. Daí o nome klÛsiw - declinatio - declina-
ção que se deu à sucessão dos diversos casos. A imagem que se queria
passar era a de um ponto fixo: caso reto, e casos oblíquos, descendentes
dele. Essa denominação de caso reto ôry¯ ptÇsiw foi pensada pelos
estóicos, talvez por associarem o sujeito agente com a voz ativa que eles
denominam ôry® “ereta, vertical”, por oposição à voz passiva êptÛa “der-
rubada, deitada, supina”. 3 Há ainda outras explicações para isso, todas
muito imaginativas. Cremos que o nominativo foi visto como caso reto
porque é a relação direta da “identificação”, daí da “nomeação”, da “deno-
minação” daquilo de que se fala; é a relação primeira, direta, entre o sig-
nificado e o significante. 4
Como as palavras caso, flexão, declinação vêm do latim, também os
nomes dos casos têm a mesma origem: do grego, pelo latim. São uma
tradução linear, literal do grego, com um cuidado muito grande de não
dissociar o significado do significante.
Esses nomes não são meramente funcionais; eles significam, eles
definem as relações, isto é, as funções das palavras na frase.

3 A posição ereta é a posição do sujeito agente e a deitada, supina, passiva é a posição


do sujeito paciente. A posição ôry® é a posição do sujeito.
4 Convém notar, contudo, que a gramática de Dionísio Trácio já é descritivista, so-
bretudo na denominação dos modos verbais. E foi assim que os latinos a recebe-
ram e passaram para nós.

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flexão nominal: casos e funções 85

Uma vez criado o termo em grego e traduzido para o latim, defi-


nindo quase sempre de uma maneira concreta e clara as relações e fatos
gramaticais, o seu uso se generalizou.
Mas, aos poucos, perdeu-se o vínculo com o grego e também com
o significado etimológico, denotativo. A rotina do ensino gramatical es-
vaziou essas palavras de seu sentido, tornando-as termos absolutos, re-
presentando apenas uma série de regras, transformando o estudo da lín-
gua em mero exercício formal, calcado na memorização e na submissão a
paradigmas, que eram apresentados fechados, prontos. Ao aluno cabia
apenas aprendê-los de cor e não discuti-los e nem entendê-los.

Cremos que há uma outra maneira de abordá-los. As palavras são


identificáveis semanticamente pelo tema e funcionalmente pela flexão (ca-
so-desinência). É o que vamos tentar.

O tema
Mas, o que é tema? Todas as gramáticas gregas falam de declinação
atemática ou temática, de aoristo temático e atemático etc. Não vamos en-
trar em discussão com as várias interpretações lingüísticas da palavra tema.
Vamos tentar entendê-la no seu significado etimológico, denotativo, e
vamos ver sua funcionalidade no sistema de flexão da língua grega.
A palavra tema vem da raiz the, yh do verbo tÛ-yh-mi, eu coloco,
em ponho, mais o sufixo -ma, que é o resultado da ação. Significa, então:
o que está colocado, posto diante de.
É assim que entendem, por exemplo, Quintiliano, IV, 2, 28 (tema
ou raiz de uma palavra) e Apolônio Díscolo, Sintaxe, 53, 4 (a palavra que
serve para formar uma outra, como mfv para Žmfñterow. Aqui ele
entende tema como base para um sufixo gramatical -terow, a, on que
acrescenta uma idéia de comparação ao significado constante do tema.

Poderíamos chamar os sufixos de derivacionais semânticos, isto é,


que ampliam, diminuem ou modificam o significado. Já Aristóteles em
Categorias, I, 10, registra as ptÅseiw em grammatikñw/grammatik®,
ŽndreÝow/ŽndreÛa.
As ptÅseiw derivacionais, chamadas sufixos, se dividem em:

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86 flexão nominal: casos e funções

a) sufixo nominal alterando o significado:


deil-ñw - covarde
² deil-Ûa - a covardia (a qualidade do covarde)
b) sufixo nominal alterando o gênero:
p‹nt-w > pw - todo
pant-ya > psa - toda
c) sufixo nominal alterando o grau:
sofñw - sábio
sof-Återow - mais sábio
sof-Åtatow - o mais sábio
d) sufixo verbal alterando o aspecto:
• de tema verbal puro: - prag - fazer, agir
tema do infectum(inacabado): prag-yv > prattv - eu faço, eu ajo.
• de tema nominal: - onomat - nome
verbo denominativo: ônomat-yv > ônom‹zv - eu nomeio, denomino.

Na flexão nominal e verbal (declinação e conjugação) acontece a


mesma coisa: sobre um tema, acrescentam-se as várias desinências ou
morfemas que dão ao significado-base a idéia de função na flexão dos
substantivos, adjetivos e pronomes, e pessoa, voz, modo, aspecto na fle-
xão dos verbos. Isso quanto aos sufixos gramaticais.
Essas ptÅseiw da flexão são chamadas casos (desinências/morfe-
mas) para os substantivos, adjetivos e pronomes e desinências (morfe-
mas), para os verbos. Mas todas se acrescentam ao tema, que é a parte
fixa, sem quebra, tanto dos verbos quanto dos substantivos, adjetivos ou
pronomes.
Esse acréscimo, contudo, se faz respeitando-se as leis da fonética
de cada língua (o grego no nosso caso):
• nos casos de desinências vocálicas acrescentadas a temas em vogal, há o
recurso da elisão ou contração (crase);
• nos casos de desinências consonânticas (as verbais),
• quando acrescentadas a temas vocálicos, há a combinação natural
fazendo sílaba normalmente;
• quando acrescentadas a temas consonânticos servem-se de uma
vogal de apoio ou de ligação.
Aliás, a denominação de declinação ou conjugação “temática” ou
“atemática” da gramática tradicional é imprópria. Ela surgiu provavel-

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flexão nominal: casos e funções 87

mente da confusão que se estabeleceu entre vogal temática e vogal de


apoio ou de ligação. Uma coisa é a vogal temática, isto é, que faz parte do
tema, sobre o qual se acrescentam as desinências, como em logo-w o
tema é vocálico porque termina em -o, mas em læ-o-men temos três par-
tes: o tema lu-, a desinência da primeira pessoa do plural da voz ativa do
indicativo presente -men, e a vogal de ligação -o-.

A vogal de ligação não faz parte necessariamente das desinências;


ela não é um morfema. Sua função é fonética; ela só aparece quando ne-
cessária, para evitar conflitos fonéticos indesejáveis entre consoantes 5. Ela
nunca aparece entre vogais por desnecessária, mas às vezes permanece ao
lado de semivogais, como vimos em læ-o-men. É que, para todo o siste-
ma do infectum dos verbos em -v cujos temas são quase todos conso-
nânticos, a língua criou essa vogal de ligação o / e para evitar o conflito
entre a consoante final do tema e as consoantes das desinências. A per-
manência da vogal de ligação nos verbos de tema em semivogal indica
que, nesses casos, a “semivogal” é sentida como “semiconsoante” e, ao
lado da vogal desinencial ou de ligação, ela é mais “con-soante” 6; aliás o
número de verbos de tema em semivogal é reduzido.
E quando a língua, a partir de temas nominais terminados em vo-
gal, criou verbos com o sufixo -j- como filej-, nikaj-, dhloj-, que se
tornaram temas do infectum e evoluíram para fil¡v > filÇ, tim‹v >
timÇ, dhlñv > dhlÇ.
Na flexão de todo o sistema do infectum, esse j também foi sentido
como consoante, por isso recebe a desinência -v- na 1a pessoa e sofreu
síncope em posição intervocálica entre a vogal temática e a vogal de
ligação.

5 Quem determina a presença ou não da vogal de ligação é o consciente lingüístico,


que vigia sobretudo o significado. Quando uma acomodação entre consoantes
descaracteriza o significado, torna-se necessária a vogal de ligação. Veremos isso
muitas vezes no correr deste trabalho.
6 Aliás, a seqüência fonética “i/u + mi” é extremamente incômoda; a acomodação
com o -v é bem mais fácil e natural. É por isso também que os verbos que têm
um sufixo -numi / -nnumi no infectum têm uma variante em “æv”, como deÛknumi
/ deiknæv.

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88 flexão nominal: casos e funções

A síncope desse j provocou o surgimento do hiato que o dialeto


ático reduziu pela contração. As gramáticas chamam esses verbos de “con-
tratos”, mas, na verdade, eles só são “contratos”, isto é, têm formas con-
tratas apenas no sistema do infectum, “inacabado”, por causa da síncope
desse j, formador do tema do infectum. Nos outros temas (aoristo/futuro
e perfeito) a vogal temática é alongada.

Os casos: definições
N OMINATIVO: ƒOnomastik¯ ptÇsiw (önoma - ônom‹zv). Nomina-
tiuus casus (nomen - nominare) - nome-nomear, nominativo.

É o “caso” da denominação, da nomeação, da identidade, da identi-


ficação. É o caso do nome como ele é, na sua expressão referencial. É o
de que se fala; é o assunto, o sujeito lógico, e daí sujeito gramatical: tò
êpokeÛmenon - subjectum - o que jaz em baixo, o que está disposto em
baixo.
O nominativo é então o caso do sujeito e das relações secundárias
do sujeito, isto é, da expansão do sujeito nas relações adjetivas,
• quer na idéia de colagem, em que a noção adjetiva faz um todo
com o nome: o cavalo branco, isto é, o epíteto, o adjunto adnominal,
• quer na relação de atribuição, isto é, uma idéia de qualidade ou
estado atribuída, aplicada, em função de atributo; mas, nesse caso,
não há idéia de colagem; daí a necessidade do verbo de ligação.
Em grego, aliás, sobretudo até a época clássica, não se usa o ver-
bo de ligação nas relações ditas predicativas: õ nyrvpow
politikòn zÒon - o homem (é) um ser (vivente) da pólis (urbano
- político).
Essa idéia de atribuição pode ser percebida também nas
aposições: õ lñgow, m¡gistow tærannow - A palavra (discurso/
razão), o maior senhor ou õ lñgow m¡gistow tærannow - A
palavra é o maior senhor.

A proximidade conceitual e semântica entre um predicativo e o


aposto faz com que, com freqüência, não seja fácil estabelecer distinção
entre um e outro. Só o contexto resolverá o problema. Torna-se uma
questão conotativa.

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flexão nominal: casos e funções 89

A identificação e o emprego do nominativo são de fundamental


importância para a compreensão do enunciado, porque se trata do sujei-
to, isto é, do assunto. As relações secundárias do sujeito (adjunto
adnominal, predicativo, aposto) complementam essa identificação.
O emprego do nominativo é pouco complexo, mas às vezes
surpreende.
Contudo, o nominativo não identifica apenas o sujeito lógico,
conceitual, sintático, gramatical do enunciado: o amigo é fiel, õ fÛlow
pistñw / pistòw õ fÛlow. Por ser o caso da identificação, da denomi-
nação, ele é empregado naturalmente também em sintagmas, em cita-
ções, em enumerações, como: os amigos fiéis: oß pistoÜ fÛloi.
Nos exemplos a seguir, vamos registrar alguns desses empregos:
1. Em títulos de obras, inscrições, relações, listas:
Nef¡lai - As Nuvens (de Aristófanes)
Sf°kew - As Vespas (de Aristófanes)
t‹de par¡dosan:... st¡fanow... fi‹lai...
Eles ofereceram estas coisas: diadema... taças
KallistÆ NikofÛlou
Cálisto, filha de Nicófilo (inscrição tumular)
2. Em citações e predicação:
Žn¯r genñmenow proseÛlhfe t¯n tÇn ponhrÇn koin¯n
¤pvnumÛan sukof‹nthw - tendo-se tornado homem, ele adotou a
denominacão comum dos malfeitores: “sicofanta”
toçw ¦xontaw tòn shmnòn önoma toèto tò kalñw te
kŽgayñw - os que têm o nome respeitável de “belo e bom”
mèw kaÜ gal° m¡lleiw l¡gein; - “ratinho e doninha” queres dizer?
Žllƒ ´de m¡ntoi m¯ l¡ge - Mas, então, não digas “esta”
3. Nas enumerações:
TŒ d¢ t°w pñlevw oÞkodom®mata... toiaèta [÷ra] propæ-
laia... stoaÛ... Peiraieæw... (Dem., 23, 207)
[olha] as edificações da cidade tais como: os propileus... os pórti-
cos... o Pireu...
tÛyhmi dæo... poihtik°w eàdh: yeÛa m¢n kaÛ ŽnyrvpÛnh...
[t¡xnai]
Eu coloco duas formas de arte poética: a divina e a humana

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90 flexão nominal: casos e funções

llouw dƒõ... NeÝlow ¦pemcen: Sousisk‹nhw, PhgastagÆn


AÞguptogen®w, ÷ te t°w ßerw M¡mfidow rxvn... (Ésq.,
Pers., 33)
Nilo enviou ainda outros: Susískanes, Pegastágon da estirpe de Egi-
to, e o governante da sagrada Mênfis...
4. Predicativo de indefinido:
n°sow dendr®essa, yeŒ dƒ ¤n dÅmata naÛei
uma ilha coberta de árvores, uma deusa dentro tem habitação.
5. Em posição de anacoluto:
Oß fÛloi... tÛ f®somen aétoçw eänai;
Os amigos... o que diremos serem eles?
Às vezes confundindo-se, aparentemente, com o vocativo:
‰V t‹law ¤gÅ;
Infeliz que eu sou!
Dæsmorow;
Coitado! [tu és]
Sx¡tliow;
Infeliz! [tu és]
„O paÝw, Žkoloæyei deèro;
Tu, o escravo, acompanha aqui!
‰V fÛlow;
ó, amigo! [tu, o amigo!]
FÛlow, Î Men¡lae;
Amigo, ó Menelau!
dialegñmenow aétÒ ¦doj¡ moi... (Platão, Apol., 21c)
conversando com ele, pareceu-me...
Ferr¡fatta d¡, polloÜ m¢n kaÜ toèto foboèntai tñ öno-
ma (Platão, Crát., 412c)
Ferréfatta, muitos temem esse nome.
Prñjenow d¢ kaÜ M¡nvn... p¡mcate aétoçw deèro (Xen., An.,
2, 5, 37)
O Proxeno e Mênon... enviai-os para cá.
Em geral todos esses empregos do nominativo próximos do vocativo
são demonstrativos, afirmativos.

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flexão nominal: casos e funções 91

6. É também o que acontece nas interpelações, em que se aponta com o


dedo o objeto do chamado. Nas exclamações, o nominativo caracteri-
za, o vocativo se dirige, chama, o acusativo enche o objeto de emoção e o
genitivo dá a fonte da esfera da emoção.
Nesses casos, muitas vezes o emprego do nominativo se confunde
com o do vocativo :
Oðtow, s¡ kalÇ;
Tu aí, é a ti que estou chamando!
‰V oðtow, oðtow, OÞdÛpouw;
Ei, tu, tu aí, o Édipo!
nyrvpow ßerñw;
santo homem! (é um santo homem)
l°row;
bobagem!
Î mÇrow;
que bobo!
Î d¡spotƒ naj... lamprñw tƒ aÞy®r; (Aristóf., Nuvens, 1168)
ó senhor patrão! e brilhante éter!
7. Em aposição a um vocativo ou em lugar dele:
õ paÝw, Žkoloæyei deèro (Aristóf., Rãs, 521)
Tu, o escravo, vem para cá!
‰V Falhreæw, ¦fh, oðtow ƒApollñdvrow, oé perimeneÝw;
(Platão, Banq., 172a)
Ó o de Falera, tu (esse) aí, Apolodoro! não vais esperar?
Prñjene kaÜ oß lloi oß parñntew †Ellhnew, oék àste ÷ ti
poieÝte; (Xen., An., 1, 5, 16)
Proxeno (embaixador), e vós os outros gregos presentes, não sabeis o
que estais fazendo?
sæ dƒ, ¦fh, õ tÇn „UrkanÛvn rxvn, êpñmeinon (Xen., An.,
4, 5, 22)
E tu, disse ele, o comandante dos Hircânios, espera!
àyi m¢n oïn sæ, ¦fh, õ presbætatow, kaÜ ÞÆn taèta l¡ge
(Xen., An., 4, 5, 17)
Vai tu, então, o mais velho, e indo, dize [diz] essas coisas

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92 flexão nominal: casos e funções

kaÜ p‹ntew d¢ oß parñntew kaÜ oß Žpñntew fÛloi, xaÛrete;


(Xen., An., 8, 7, 28)
E todos vós, os amigos presentes e ausentes, salve!
8. O sujeito de um verbo finito, na voz ativa, média ou passiva, está sem-
pre no nominativo.
Kñnvn... ¤nÛkhsen
Kónon... obteve a vitória.
Na voz passiva o predicativo do sujeito vai para o nominativo. Em por-
tuguês costuma-se uni-lo ao sujeito por uma preposição como, por, de.
„O Kèrow ¼r¡yh basileæw
Ciro foi eleito rei.
Al¡jandrow Ènom‹zeto yeñw
Alexandre era chamado [de] deus.

Há também quem afirme que o nominativo não é um caso, talvez


por influência do registro tradicional dos nomes, no nominativo e genitivo
e dos adjetivos no nominativo nos dicionários e nas gramáticas. A forma
do nominativo seria a forma-referência, e o genitivo enquadraria o nome
nos diversos paradigmas (declinações).
Não concordamos.
O nominativo é um caso porque tem desinência7, e por isso tem
uma função. Essa confusão entre nominativo, caso-referência, identifican-
do-o com o tema dos nomes, dá origem à maior parte das dificuldades que
os alunos têm para aprender a flexão dos nomes em grego e em latim.
Contudo, os dicionários e as gramáticas estão aí. Vamos respeitá-
los, embora não concordando.
A desinência básica do nominativo dos seres animados (masc. e
fem.) é -w. Ela está:
• nos nomes masculinos e femininos de temas em consoante e semivogal
(a III declinação),
• nos nomes masculinos e femininos de tema em -o,
• nos nomes masculinos de tema em -a / -h.

7 A apresentação clássica dos nomes, quer nas gramáticas, quer na entrada dos dicio-
nários se faz pelo nominativo e genitivo. O genitivo identifica a declinação a que a

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flexão nominal: casos e funções 93

Os nomes de tema em soante ou líqüida substituem o -w pelo alon-


gamento da vogal temática.
Os femininos de tema em -a / -h não têm desinência no nomi-
nativo, e os neutros, por serem inanimados, sem identidade própria, têm
desinência zero no nominativo.
Não há neutros de temas em -a / -h; os de tema em -o também
não têm desinência. A “desinência” -n dos neutros em -o seria, na opi-
nião dos gramáticos, um empréstimo do acusativo masculino. Pensamos
que isso é improvável8. Nas palavras fortes como os dêiticos esse -n não
aparece, por dispensável.
É o caso de tñ, toèto, tñde, ¤keÝno, llo, aétñ.
Aliás, os neutros não têm declinação própria: fora do nominativo-
vocativo-acusativo, em que se apresentam na sua forma de tema, os ou-
tros casos se flexionam como os dos seres animados. Os neutros de tema
em consoante, soante ou semivogal não têm desinência; eles se enunciam
pelo próprio tema.

V OCATIVO : Kletik¯ ptÇsiw (kal¡v) - Vocatiuus casus (uocare).

É o ato de chamar. O vocativo não é propriamente uma função;


não faz parte do mecanismo da frase; é exterior a ela. É uma espécie de
interjeição, um chamado, um aceno; é o “gancho” do diálogo, que é bi-
polar, singular. É próprio da oralidade. E a língua grega é coerente ao
representá-lo sem ptÇsiw, isto é, sem desinência. Além disso, o vocativo
autêntico é só o singular. A pluralidade se criou por expansão, por ana-
logia, como veremos mais tarde. Por isso também o vocativo é pobre em
relações complementares (quase não tem predicativo e o aposto descamba
freqüentemente para o nominativo); só o adjunto adnominal (epíteto),
por se colar ao nome, fica no vocativo.

palavra pertence. Mais nada, tanto em latim quanto em grego. Cremos que se re-
gistrássemos entre parênteses o tema ajudaríamos muito mais o estudioso.
8 É mais provável que esse -n seja eufônico, isto é, vem apenas para proteger a vogal
átona final, como em ¤sti (-n), eÞsi(-n), ¦lue(-n).

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94 flexão nominal: casos e funções

1. Usa-se o vocativo apenas nos diálogos e nas interpelações (que são uma
forma de diálogo). Em geral aparece a interjeição Î, que precede o
nome:
[Î] ndrew dikastaÛ;
Senhores juízes!
Î Žndrew ƒAyhnaÝoi;
Cidadãos [varões] Atenienses!
ŽeÜ ÷moiow eä, Î ƒApollñdvre (Plat., Banq., 173d)
Tu és sempre semelhante, Apolodoro! 9
Î fÛle FaÝdre; (Plat., Fedro, 277a)
Ó amigo Fedro!
Î b¡ltiste SÅkratew;
Ó excelente Sócrates!
2. Contudo, às vezes, a interjeição pode vir entre o vocativo e seu atributo:
megalopñliew Î Sur‹kosai; (Pínd., Pít., 2, 1)
Grande cidade, ó Siracusa!
xaÝre, p‹ter , Î jeÝne; (i, 408)
Salve, pai, ó hóspede!
fÛlow Î Men¡lae (D, 189)
Ó amigo Menelau! [Menelau, meu amigo!]
3. Algumas vezes a interjeição é omitida, para dar mais vivacidade ao dis-
curso. Demóstenes ora emprega a interjeição ora não, dependendo da
ênfase que quer dar ao discurso.
lhreÝtƒ ƒAyhnaÝoi; (Dem., 8, 31)
Estais dizendo bobagens, atenienses.
…Andrew ƒAyhnaÝoi é mais freqüente do que Î ndrew ƒAyhnaÝoi.
Platão usa mais com a interjeição do que sem.

9 O uso da interjeição Î é constante. No Banquete, há 70 casos de Î e apenas 8


sem a interjeição. No Protágoras, por volta de 100 vocativos com nomes próprios
são precedidos de Î.

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flexão nominal: casos e funções 95

4. A posição do vocativo não é necessariamente no começo da frase. Pode


vir posposto.
aìth m¡n ¤stin, Î TÛmarxe, Žndròw Žgayoè ŽpologÛa
(Ésquines, 1, 122)
É essa, ó Timarco, a defesa de um homem de bem.
5. Vocativo nas exclamações e imprecações:
„Her‹kleiw;
Ó Heraclés!
Î Zeè kaÜ yeoÛ;
Ó Zeus e deuses!
Î Zeè basileè;
Ó Zeus rei!
Î Zeè DÛkh te Zhnòw „HlÛou te fÇw;
Ó Zeus, Justiça de Zeus e Luz do Sol!
6. Predicativo do vocativo:
ŽntÜ gŒr ¤kl®yhw …Imbrase ParyenÛou (Teócr., 17, 66)
Tu foste chamado, Ímbraso, em lugar de Parthênios
ÞÆ ÞÆ dæsthne sæ, dæsthne d°ta diŒ pñnvn p‹ntvn faneÛw;
Ai! ai! infeliz, tu, tendo aparecido (que apareceste) infeliz através
de todos os sofrimentos!

Por não ser função, o vocativo não é caso, isto é, não tem desinên-
cia própria. É o próprio tema. Mas ele está intimamente ligado ao nomi-
nativo, que é o caso da nomeação; ele não existe, ou está implícito, por
exemplo nos pronomes pessoais, nos adjetivos possessivos, nos demons-
trativos, por razões semânticas, é claro.
Essas categorias são identificadoras, com funções próximas das do
nominativo.
Nos nomes femininos de tema em -a / -h, ele é igual ao nomina-
tivo e é o próprio tema nos masculinos.
Nos nomes de tema em -o, ele é o próprio tema, mas com vocalismo
-e nos masculinos e femininos e é igual ao nominativo nos neutros.
Nos nomes neutros de tema em consoante, soante e semivogal, ele
é igual ao nominativo, e nos masculinos e femininos ele é ou o próprio
tema, ou é igual ao nominativo.

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96 flexão nominal: casos e funções

Quando o vocativo dos nomes masculinos e femininos é o próprio


tema?
Todas as vezes em que o enunciado do tema, em posição de
vocativo, não descaracteriza foneticamente o nome. Isto acontece com os
nomes de tema em consoante.
Ora, nós sabemos que a língua grega mantém poucas consoantes
em posição final: apenas -w, -n, -r. As outras todas caem.
Assim g¡rvn, ontow o ancião, cujo tema é g¡ront - faz o voca-
tivo g¡ron. Na verdade deveria ser g¡ront, mas o -t em posição final
não se sustenta em grego, contrariamente ao que acontece no latim.
Mas em aäj, aÞgñw a cabra, o vocativo deveria ser aäg que é o seu
tema; mas o -g em posição final também não se sustenta. Então tería-
mos um vocativo -aä, o que mutilaria e descaracterizaria semanticamen-
te a palavra. Nesses casos, o consciente lingüístico, isto é, a inteligência
da língua, que visa sempre ao significado, vem em socorro à palavra e lhe
empresta a desinência do nominativo, caso que semanticamente lhe é
próximo, e temos o vocativo aäj, igual ao nominativo.
Mas ela não usa do mesmo recurso em paÝw, paidñw. O tema, e
por conseguinte o vocativo, é paÝd; mas o -d em posição final sofre
apócope, ficando a forma paÝ. O que ficou é representativo do núcleo
semântico e a língua o mantém assim.
Essa “regra” de que o vocativo ora tem forma própria ora é igual ao
nominativo nunca foi e nem será bem explicada pelas gramáticas 10. E o
resultado disso, tanto em grego quanto em latim, são as listas de exce-
ções, ou então soluções mais cômodas de gramáticos como Konstantinos
Lascaris, que registra dois vocativos para muitas palavras, como pñli e
pñliw.
As desinências do vocativo plural são todas iguais às do nominati-
vo. O vocativo plural se fez por analogia, por extensão. O vocativo au-
têntico, original, funcional é o singular, horizontal, bipolar.

10 A razão é que as gramáticas vêem “declinações”, a partir do “caso reto - nominati-


vo”; nós vemos um tema, que contém o significado, e casos que lhe acrescentam
funções.

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flexão nominal: casos e funções 97

A CUSATIVO: AÞtiatik¯ ptÇsiw (aÞt¡v-aÞtÛa) - Accusatiuus, causatiuus


casus (ad-causare).

A gramática tradicional diz que é o caso do objeto direto, que se


caracteriza pela ausência de conetivo (preposição) entre o verbo transiti-
vo e o seu complemento.
É uma visão formalista, imperfeita e inútil, porque não leva em
conta a relação semântica. Ela não cobre, por exemplo, esse casuísmo
gramatical que costumamos chamar de “objeto direto preposicionado”,
como amar a Deus, amar ao próximo. Esse uso se localiza em toda a Ibéria,
sobretudo no castelhano. Na verdade esse a não seria propriamente uma
preposição mas uma espécie de vogal de apoio. A preposição a em prin-
cípio traz a idéia de referência ou de relação espacial ou equivalente, o
que não existe nesse caso.

Cremos que, se derivarmos aÞtiatik® do verbo aÞt¡v eu procu-


ro, busco, exijo, poderemos explicá-lo satisfatoriamente. A derivação de
aÞtÛa “causa”, por ser abstrata, não é suficiente e destoa do conjunto das
denominações dos outros casos, que são concretas.
Dionísio Trácio e depois alguns seguidores, como Apolônio Dís-
colo e Querobosco, afirmam que usamos o acusativo quando solicitamos
(aÞtoæmenoi) alguém: “Eu te (acus.) peço um livro (acus.)”. Te e livro
são causativos como em “Eu acuso Aristarco (acus.)”. Isso nos parece uma
justificativa a posteriori, baseada em uma observação parcial e superficial
dos mecanismos da língua. Contudo, o objeto de busca é também o ob-
jeto da causa; é natural, então, que esses dois termos se confundam e
façam surgir a idéia de culpa e daí a idéia de acusação.
É o que acontece com os verbos transitivos que, por serem incom-
pletos, partem à busca de seu complemento; esse complemento é o ter-
mo, término do processo verbal; o ato verbal se completa, se fecha nele.
A denominação de transitivo exprime bem esse fato.11
Essa busca do “complemento” pode ser verificada também nos ver-
bos chamados de movimento ou de direção. A única diferença é que,
nesse caso, há uma relação espacial.

11 A idéia de movimento é uma constante em todas as relações do acusativo.

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98 flexão nominal: casos e funções

Nas frases Eu vou à cidade / Eu amo a cidade, a palavra cidade é


termo, complemento tanto de amo quanto de vou. Há uma diferença
apenas: vou, por exprimir uma idéia de espaço, precisa de uma preposi-
ção 12. Mas a relação é a mesma, isto é, completar o verbo, e por isso
também o caso é o mesmo.
Nem sempre há coincidência entre o ponto de vista do português
e o ponto de vista do grego no entendimento da transitividade dos verbos.
Em português prevalece a análise formal: identifica-se o objeto
direto pela ausência da preposição depois do verbo “regente”, e a presen-
ça da preposição identifica o objeto indireto. Isso em pouco ou em nada
contribui para o entendimento do enunciado; ao contrário, às vezes até
confunde. É que em português, nos verbos denominativos de expressão
dos sentidos ou de ajuda, utilidade, proveito, conserva-se no verbo a es-
trutura do complemento nominal, com as preposições de e a; assim: ter
gosto de, para gostar de, ser agradável a, para agradar a, fazer o bem a,
dizer bem ou mal de são preferidos a beneficiar, bem-dizer, maldizer, que,
aliás, assumem significados diferentes.

Em grego, a identificação do acusativo (objeto direto) se faz pelo


significado, tendo em vista o processo verbal em seu seguimento até sua
realização e complementação no objeto, que é o termo do processo verbal.
Por exemplo, as idéias contidas nos verbos de expressão dos senti-
dos, de ajuda, utilidade etc., mesmo compostos, são entendidos como
processos verbais transitivos e se completam no objeto direto (acusati-
vo); mas, se a mesma idéia é expressa por um adjetivo ou substantivo, o
complemento nominal vai para o caso de sua relação. Assim:
Èf¡limñw tini - útil a alguém (dat., mas.)
ÈfelÇ tina - eu ajudo, auxilio alguém (acus.)

Como dissemos, nem sempre o ponto de vista grego coincide com


o ponto de vista português. Por causa de um processo diferente de for-
mação de palavras, muitas vezes uma visão de dativo (atribuição) em por-
tuguês é vista como acusativo (termo do ato verbal) em grego.

12 As preposições são advérbios de significado espacial. Por isso, em grego, quando


há uma relação espacial ela é expressa por uma preposição.

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flexão nominal: casos e funções 99

Alguns exemplos ilustram esse fato:


Grego Em português
ÈfelÇ, ônÛnhmÛ tina eu sou útil a / ajudo
eéergetÇ tina eu faço bem a / beneficio
eï poiÇ, kalÇw poiÇ tina eu faço o bem a
eï l¡gv, kalÇw l¡gv tin‹ falo bem de
lany‹nv tin‹ eu escapo a, me escondo de
ŽmænomaÛ tina eu me defendo de, afasto
aÞdoèmai tin‹ eu me envergonho, respeito
bl‹ptv tin‹ eu causo dano, prejudico
ŽdikÇ tina faço injustiça a
kakÇw poiÇ tina faço mal a
kakÇw l¡gv tin‹ falo mal de
ful‹ttomaÛ tina eu me guardo de, evito
ömnumaÛ tina eu juro por (em relação a)
aÞsxænomaÛ tina eu me envergonho (diante) de
foboèmaÛ tina eu tenho medo de, temo
timvroèmaÛ tina eu me vingo de

O acusativo sintático, como termo ou complemento dos verbos de


ação, ditos transitivos, como eu amo a cidade, ou analógico a ele, como o
termo do complemento nominal de um adjetivo que exprime qualidade,
ou de um verbo que exprime um estado, que os gramáticos chamam de
acusativo de relação, podem se situar na mesma idéia de movimento.
Alguns também o chamam de acusativo adverbial, talvez por vir expresso
pelo neutro de alguns adjetivos e substantivos, como prÇton, em pri-
meiro lugar, primeiramente, deæteron, em segundo lugar, (em) segundo.
Algumas vezes também, ele é expressso pelo plural neutro de um
adjetivo de sentido geral, como “todo, outro, muito”, em que se sente
um substantivo implícito, não expresso.
É como se o adjetivo funcionasse como predicativo desse subs-
tantivo objeto omitido. Assim:
ƒOlæmpia nikn vencer (uma modalidade esportiva)
(ƒOlumpik¯n nÛkhn nikn) em Olímpia
²dç geln rir doce (em relação a algo bom)
deinŒ êbrÛzein ofender (com ofensas) graves

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100 flexão nominal: casos e funções

p‹nta nikn vencer em tudo ( em todas as coisas)


oéd¢n frontÛzein pensar nada (em nenhuma coisa)
tlla (tŒ lla) quanto ao resto (a outras coisas)
oéd¡n em nada (a nenhuma coisa)
prÇton / tò prÇton em primeiro lugar (quanto à primeira coisa)
tò p‹lai / tò palaiñn antigamente (quanto à coisa antiga)
Žrx®n quanto ao começo, para começar,
antes de tudo
Žrx¯n oé/m® para começar não, de início não
tŒ poll‹ muitas vezes, quanto a muitas vezes,
freqüentemente
t¡low/tò t¡low quanto ao fim, em último lugar, finalmente
/tò teleutaÝon
prñteron antes (disto), primeiramente
toénatÛon (tò ¤nantÛon) ao contrário
t¯n eéyeÝan em linha reta, direto, em frente
toèton tòn xrñnon por) aquele tempo, naquele tempo
tò nèn / tŒ nèn quanto ao momento presente,
em relação às coisas de agora
tò loipñn quanto ao resto, daqui para frente
t¯n taxÛsthn (õdñn) à maneira mais rápida

Podemos incluir também nesse acusativo de relação o acusativo


de objeto interno, isto é, o complemento da mesma raiz do verbo ou de
significado próximo, que pode acontecer até com verbos intransitivos.
Em português também existe esse uso. Por exemplo viver a vida.
Também a expressão de extensão, distância, trajeto, percurso no
espaço e duração no tempo se exprimem pelo acusativo, uma vez que está
implícita a idéia de movimento.
dein¯n nñson noseÝn
adoecer de grave doença (obj. interno)
b¡ltiñn ¤sti sÇma µ cux¯n noseÝn - (Men.)
É melhor sofrer no corpo do que na alma [em relação a]
noseÝn nñson ŽgrÛan - (Sóf.)
sofrer de uma doença cruel [em relação a (objeto interno)]

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flexão nominal: casos e funções 101

k‹mnein t®nde t¯n nñson (Eur.)


sofrer dessa doença [em relação a (objeto interno)]
zÇ bÛon moxyerñn
eu vivo uma vida miserável (obj. interno)
lagÆ bÛon ¦zhw
tu vivias uma vida de lebre (obj. interno)
koim®yhsan xalk¡on ìpnon
eles adormeceram de um sono (de) bronze [eles dormiram um sono de
bronze (obj. interno - metonímia)]
¤n MarayÇni m‹xhn nikn
vencer a batalha em Maratona (obj. interno)
pñdaw Èkçw ƒAxilleæw (Hom.)
Aquiles rápido nos pés, quanto aos pés, em relação aos pés.
Svkr‹thw toënoma
Sócrates de nome, Sócrates quanto ao nome, em relação ao nome.
Žn¯r tŒ met¡vra frontist®w (Plat.)
homem pensador em relação aos fenômenos celestes (obj. interno).
deinñw eÞmi taæthn t¯n t¡xnhn (Plat.)
eu sou hábil nessa arte, em relação a essa arte (obj. interno)
õ nyrvpow tòn d‹ktulon ŽlgeÝ
esse homem tem dor de dedo [tem dor quanto ao dedo, em relação ao
dedo].
Žpetm®yhsan tŒw kefal‹w (Xen.)
eles foram cortados em relacão às cabeças. [Eles tiveram as cabeças
cortadas].
M¡letñw me ¤gr‹cato t¯n graf¯n taæthn. (Plat.)
Méletos me moveu esse processo [em relação a mim].
toèton tòn trñpon
em relação a essa maneira, dessa maneira
tÛ;
em relação ao que? por quê”?
tÛna trñpon:;
em relação a que maneira? de (por) que maneira.

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102 flexão nominal: casos e funções

O acusativo ilativo ou de direção, extensão ou movimento no es-


paço, também pode ser usado como duração, extensão no tempo, e, nes-
se caso, por ser uma noção menos concreta, dispensa a preposição.
T°w „Ell‹dow oé meÝon µ mæria st‹dia ŽpeÝxon
Estavam distantes da Grécia não menos do que 10.000 estádios.
Ceudñmenow oédeÜw lany‹nei polçn xrñnon
Mentindo ninguém se esconde [por] muito tempo.
treÝw ÷louw m°naw par¡meinen
Ele estacionou [por] três meses inteiros.
oéd¡pv eàkosin ¦th gegonÅw
Nascido ainda não vinte anos [nascido um tempo de ainda não vinte anos].
trÛthn ²m¡ran ´kv
É o terceiro dia que eu cheguei [passaram dois dias da minha chegada].
pn ¸mar ferñmhn
Eu era transportado o dia todo [ao longo de].

Esse mesmo mecanismo de relação se encontra também nos ver-


bos que exprimem duas ações: uma sobre a pessoa e outra sobre a coisa.
As gramáticas grega e latina falam de verbos de “duplo acusativo” com
“objeto direto” e “objeto indireto”. A portuguesa os chama ou de bitran-
sitivos ou de transitivos relativos. Cremos que também esse “acusativo
da coisa” poderia ser entendido como um acusativo de relação.
did‹skv tin‹ ti
Eu ensino algo a alguém pode ser entendido como eu ensino alguém
em (relação) a alguma coisa.
aÞtÇ, ¦romai, ¤rvtÇ tin‹ ti
Eu peço, eu exijo, eu pergunto, alguma coisa a alguém, ou alguém
em alguma coisa.
¤kdæv tin‹ ti
Eu desvisto alguém de alguma coisa (em relação a).
¤ndæv tin‹ ti
Eu visto alguém de alguma coisa (em relação a).
kræptv tin‹ ti
Eu escondo algo de alguém [algo em relação a alguém].

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flexão nominal: casos e funções 103

pr‹ttomai tin‹ ti
Eu exijo algo de alguém [faço exigência em relação a algo].

Podemos incluir aqui também alguns verbos que significam nome-


ar, escolher, eleger, ver como. O segundo acusativo é na verdade um predi-
cativo do objeto direto:
Oß ƒAyhnaÝoi tòn Perikl¡a eálonto strathgñn.
Os atenienses elegeram Péricles (como) comandante.
TÛ toèto l¡geiw ;
Tu dizes isso o quê? O que é isso que dizes?

Essa visão metafórica do movimento, que sentimos como uma re-


lação, está também numa construção bastante freqüente em grego e em
latim. É uma espécie de anacoluto construído a partir de uma apóstrofe,
num movimento do pensamento dirigido a alguém, em que há uma elipse
do verbo, cujo sentido está implícito no gesto:
s¢ d®, s¢ t¯n neæousan ¤w p¡don k‹ra
fºw µ katarn» m¯ dedrak¡nai t‹de;
Ei! tu!, tu que estás inclinando a cabeça para o chão, confirmas ou
negas ter praticado estas coisas? (Sóf.) [É a ti que me refiro, tu
que...]

No latim também:
Me, me, adsum qui feci
In me convertite ferrum... (Virg.)
Eu?! Eu?! eu, que fiz, estou aqui
Dirigi contra mim a lança...

É o mesmo acusativo que se usa nas interjeições ou imprecações:


n¯ DÛa; por Zeus!
me miserum! - coitado de mim.

Nas línguas modernas também existe essa construção, embora o


caso acusativo não se identifique formalmente. Mas no francês sim:
Moi? Je n’en sais rien!
Eu? eu não sei de nada!
Moi é o acusativo latino me.

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104 flexão nominal: casos e funções

G ENITIVO: - É a genik¯ ptÇsiw - genitivus casus, genitivo.

A primeira referência que se viu foi a de “filho de, ou oriundo de”


que era, e em muitas culturas ainda o é, o modo de identificação das pes-
soas. É provável que o nome genik® tenha surgido daí, da palavra g¡now
- família.
A segunda referência, não menos freqüente e concreta foi a de pos-
se 13; daí também o nome kthtik® ptÇsiw - caso possessivo - que al-
guns lhe deram; de ktÇmai - eu adquiro, eu possuo.
O nome genitivus casus, decalque latino de genik¯ ptÇsiw, levou
também alguns a verem no genitivo o caso-origem, isto é, o caso que
enquadrava os nomes em seu paradigma de flexão, na sua declinação.
É assim que nós aprendemos nas gramáticas do latim e do grego.
No latim, as “5 declinações” se identificam pela desinência do ge-
nitivo singular -ae, -i, -is, -us, -ei e, no grego, as “3 declinações” se iden-
tificam pelos genitivos -aw/hw, -ou, -ow. Daí também é o uso de, nos
dicionários e gramáticas, registrar o enunciado dos substantivos no
nominativo e genitivo singular para indicar a sua declinação. Veremos
adiante que não foi exatamente uma boa solução.
Mas, se adotarmos a expressão genik¯ ptÇsiw - genitiuus casus
no seu significado denotativo, etimológico, como caso da origem, vere-
mos que é correto. A metáfora e a metonímia se encarregam de ampliar o
seu significado.
É a relação de origem, em todos os sentidos, concreto ou abstrato:
origem, ponto de partida, parte de, proveniência, separação, afastamento, ca-
rência, necessidade, diferença, superioridade, inferioridade, definição, deli-
mitação, restrição, anseio, desejo, dominação, começo etc.
As gramáticas detalham um sem número de genitivos, fazendo dis-
tinção entre genitivo “regido” por adjetivos e substantivos e genitivos
“regidos” por verbos e preposições. Não estão erradas, mas, com excesso
de detalhes, elas obscurecem o aspecto semântico que é o principal. Se

13 O genitivo na idéia de “posse” pode ser sentido como um “partitivo”, isto é, de


mim, de ti; supõe a idéia de “partilha”, “parte que me cabe”; é uma relação subs-
tantiva em que há uma delimitação. O objeto possuído é “parte” do todo: “possui-
dor e posse”.

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flexão nominal: casos e funções 105

observarmos bem o significado de todos esses genitivos, verificaremos


que todos eles têm um significado próximo, concreto ou abstrato; a li-
nha semântica se mantém, incólume, com variações metafóricas.
Nós aprendemos que o genitivo é o caso das relações com de. É
correto mas incompleto. A preposição de, latina, na origem, tem o signi-
ficado de separação, de cima para baixo; mas o significado se expandiu
para significar qualquer separação. E é assim que em português ela é usa-
da nas relações nominais (complemento nominal ou adjunto adnominal);
é um uso correto, porque nesses casos de definição, delimitação, determi-
nação, restrição, o sentido de separação permanece.
No latim, o genitivo se restringe a essas relações nominais.
É, portanto, o genitivo restritivo, delimitativo do complemento
terminativo, do complemento nominal, do adjunto adnominal com to-
das as variantes semânticas de origem, de filiação, de posse, de matéria,
de lembrança, de esquecimento, de causa, de preço, de valor, de qualida-
de, de matéria, de conteúdo, de parte.

Assim mesmo, importa menos a forma do que o significado. Por


exemplo, nas relações de comparativo de superioridade ou inferioridade,
o grego usa o genitivo no segundo elemento, porque uma superioridade
ou inferioridade é uma diferença; o latim exprime essa relação pelo
ablativo.
Nas relações de superlativo relativo, em grego, tanto podemos ver
a separação como uma relação partitiva: “o maior de todos, dentre todos”
quanto à relação de superioridade e diferença. Em latim, a relação partitiva
é expressa pelo genitivo e a segunda, de superioridade, pelo ablativo. 14
O mesmo acontece com os verbos.
Sempre que o significado sugere uma idéia de separação, ausência,
carência, parte, como: desejar, carecer, lembrar-se, esquecer-se, ter falta de,
começar, mandar, dominar, leva-se o complemento para o genitivo. Em
português, temos de na maioria desses casos, com a idéia de partitivo co-
mo: começar, gozar de, provar de, degustar, tocar e alguns verbos que ex-
primem a percepção pelos sentidos, como ouvir, sentir.

14 Em grego, essas duas relações se exprimem pelo mesmo caso: genitivo.

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106 flexão nominal: casos e funções

Nesses casos o que se sente não é o todo, mas uma parte. A relação
semântica é importante. Contudo, não é uma regra absoluta; o contexto
nos dirá, e também a presença ou não do artigo; a ausência do artigo
exclui a visão do todo; ouvir barulho (genitivo partitivo) e ouvir o barulho
(complemento objeto direto-acusativo) 15:
pñnoi ‘ptontai toè sÅmatow os trabalhos atingem o corpo
(tocam = parte de)
geæesyai m¡litow provar mel
geæesyai toè melitow provar do/desse mel
Žkoæein t°w s‹lpiggow ouvir a trombeta
(o som da trombeta)

Os verbos cujo significado é mandar, dominar levam para o genitivo


o seu complemento. À primeira vista é estranho para nós. Mas, se consi-
derarmos bem, veremos que a relação de poder é uma relação de superio-
ridade, de diferença. Mais uma vez é o conteúdo semântico que prevalece.
As mesmas relações de origem, ponto de partida etc, mas concre-
tas, espaciais ou temporais se exprimem pelo genitivo com preposição.
As preposições são, na verdade, advérbios com significado espacial, que
delimitam a relação espacial. Essas relações espaciais de separação, origem,
o latim as leva para o ablativo. O grego, ao contrário, as leva todas, concre-
tas ou abstratas, para o genitivo com preposição. Algumas gramáticas de-
nominam esse caso de genitivo - ablativo.
A denominação genitivo-ablativo é confortável e semanticamente
correta, porque exprime o ponto de partida ou separação espacial ou
temporal.
É um conceito híbrido greco-latino.
Já vimos no acusativo de direção e extensão e veremos com o
locativo e o instrumental que as preposições acrescentam às relações sin-
táticas a idéia do concreto, do espaço e do tempo (a relação temporal é
uma metáfora da espacial).
Todas as preposições são antigos advérbios e têm um significado-
base espacial. A palavra preposição do grego prñyesiw e do latim prae-
positio tem cunho descritivista. Diz apenas que é uma y¡siw prñ, isto é,

15 Em português é difícil entender assim. A análise formal prevalece sobre a semântica.

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flexão nominal: casos e funções 107

uma posicão diante de. Não se pensa na relação semântica, que é o essen-
cial. É o que acontece nos compostos, tanto substantivos quanto adjeti-
vos ou verbos.
A língua grega os considera sempre como unidades autônomas,
semanticamente independentes, e o resultado final é a somatória do sig-
nificado das partes.
¤ntÛyhmi é igual a tÛyhmi ¤n eu ponho em, eu imponho
eÞs‹gv é igual a gv eÞw eu conduzo para, eu induzo
¤j‹gv é igual a gv ¤k eu tiro de dentro, eu exijo
A relação espacial irá respectivamente para o locativo, acusativo e
genitivo-ablativo, e os complementos dos verbos irão para o acusativo, nos
exemplos acima, ou para o caso que o significado pedir.
A relação genitivo-ablativo está também muito clara na função do
agente da passiva, tanto em grego (genitivo) quanto em latim (ablativo).
O ponto de vista do ato verbal em relação ao sujeito é diferente: o sujeito
não domina, não exerce, não desencadeia o ato verbal; ele não é ativo,
não é o agente; ele é passivo, paciente, receptor, inerte. Mas ele é sujei-
to; é dele que se fala.
O ato verbal é desencadeado fora, distante do sujeito, por um agente,
sob a ação de uma força externa e recai sobre o sujeito, que é o centro, o
assunto da oração, que recebe, aceita, sofre o ato verbal.
O grego tem consciência desse espaço imaginário percorrido pelo
ato verbal, desde o ponto em que foi desencadeado sob o efeito de -êpñ-
dessa força, desse agente: genitivo espacial (lugar de onde).
O latim também registra esse espaço imaginário entre o ponto de
partida (agente) e o ponto de chegada (paciente) do ato verbal: a / ab +
ablativo.

D ATIVO: É a dotik¯ ptÇsiw (dÛdvmi) - dativus (dare) casus, “dandi


casus” de Varrão.

É o caso da “dação”, da atribuição.


Acreditamos que, mais uma vez, a relação significante-significado
prevaleceu. Querobosco (I, ll, l8) o denomina caso epistolar, porque “se
usa quando alguém dá ou envia algo”. Mas, numa definição mais tardia
encontramos uma interpretação bem mais coerente: Dativus aliquid ex-

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108 flexão nominal: casos e funções

trinsecus addi demonstrat vel accedere: “O dativo demostra que algo de fora
se junta ou é acrescentado” (Ars Anonyma Bernensis, séc. VIII-IX).
É uma definição interessante que enfatiza a relação significante-
significado. A metáfora e a metonímia fazem o resto. Mas ela é também
abrangente, porque, a partir da idéia de “ser acrescentado ou se juntar
a”, podemos enumerar as relações de amizade, hostilidade, utilidade, pro-
veito, interesse, comunidade, ajuda, agrado, serviço, servidão, afinidade, se-
melhança, contigüidade, horizontalidade, igualdade, comparação, lateralidade,
interesse, paralelismo, simultaneidade etc.
É esse o dativo propriamente dito em grego e em latim.

Mas, os gramáticos, por causa do morfema -i, que era também o


do instrumental e do locativo, pensaram que era mais fácil e prático juntar
as três relações sob a mesma desinência e denominação e fizeram a fusão.
Querendo facilitar, eles complicaram e passaram para a cabeça dos alunos
a idéia e a certeza de que a gramática não se entende, ela se estuda e se
aprende de cor, e de que é inútil tentar entender a nomenclatura grama-
tical. O arbítrio prevalece.
Ora, em todas as línguas, qualquer analfabeto e qualquer criança
sabe que há palavras que soam igual mas que têm significados diferentes.
O contexto esclarece e define.
Em latim, o genitivo singular e o nominativo e vocativo plural dos
nomes em -o são em -i; o genitivo, o dativo singular e o nominativo e
vocativo plural dos nomes em -a são em -ae, e assim por diante. E nin-
guém pensou em dar um nome só a todas essas funções!
É que isso não foi pensado na relação do instrumental e locativo ,
que são conceitos do indo-europeu, que está muito longe, na poeira do
tempo.
Temos uma prova disso em Quintiliano, segunda metade do séc. I
d.C. (cerca de 30-100 d.C.), que sente o problema e não sabe como
resolvê-lo. Mas, honesto, como todo bom professor, sugere ao leitor,
também professor, que atente para o fato:
Quaerat (magister) etiam sitne apud Graecos uis quaedam sexti casus
et apud nos quoque septimi; nam quum dico hasta percussi non utor ablatiui
natura nec si idem Graece dicam datiui.
Procure (o mestre) também se entre os gregos existe uma certa necessi-
dade de um sexto caso e também entre nós a de um sétimo; pois quando eu

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flexão nominal: casos e funções 109

digo atingidos pela lança, eu não me sirvo da natureza do ablativo nem se eu


disser o mesmo em grego, do dativo. Quint., Inst. Orat., I, IV, 26.
O que fez falta a Quintiliano foi o chamado “termo técnico”. Mas
nós o temos. É o instrumental.
Não é o termo técnico, escravizante, que os manuais nos passam,
mas o termo exato, significante dessa função, distinta do dativo na sua
essência, mas igual na sua forma.
O instrumental tem sua origem na questão p» em grego e qua em
latim.
A idéia primitiva é “por onde, por que”. O instrumento ou meio
seria o objeto ou ser inerte, que não exerce o ato verbal, mas é por ele
que o ato verbal passa: ele não pratica a ação porque é ou está inerte (um
ser animado também pode ser instrumento). Não se usa preposição por-
que a idéia de espaço não é concreta, é muito tênue; na verdade a idéia de
instrumento está mais próxima da idéia de meio, de modo.
Por isso o grego, para exprimir a idéia de espaço concreto percorrido
ou atravessado, passa a usar a preposição di‹ (com acusativo), e o latim per.
Na prática, o reconhecimento das relações do dativo, do instru-
mental e do locativo se faz pelo significado e não pela forma, nem pela
categoria da palavra “regente”, quer ela seja substantivo, adjetivo, verbo
ou preposição.

Exemplos do uso do dativo:


² toè yeoè dñsiw ²mÝn
a doação (dação) da divindade para nós
² toÝw fÛloiw bo®yeia
o socorro aos amigos
² mvrÛa dÛdvsi ŽnyrÅpoiw kak‹
a loucura dá males aos homens
oék ¦stin oédeÜw ÷stiw oéx aêtÒ fÛlow
não há ninguém que não seja amigo a si mesmo
¤n taèya KærÄ basÛleia ·n kaÜ par‹deisow
Naquele lugar era para Ciro [Ciro tinha] um palácio real e um parque.
treÝw yugat¡rew eÞsÛ moi
três filhas são para mim [eu tenho...]

mur03.p65 109 22/01/01, 11:36


110 flexão nominal: casos e funções

önom‹ ¤stÛ moi MenÛppow


o nome para mim é Menipo [o meu nome é Menipo / eu tenho o
nome Menipo]
m®thr moÛ ƒAfrodÛth
a mãe para mim é Afrodite [minha mãe é Afrodite / eu tenho como
mãe Afrodite]
xr®simoi t» pñlei
úteis à cidade
oß aétoÜ öntew ¤keÛnoiw
os que eram/são os mesmos que aqueles
dÇron tÒ oàkÄ
um presente para o lar
rpag¯n kusÛn
uma presa para os cães
oã ¤moÜ eënoi
os que me são favoráveis
Žporoènti d¢ aétÒ pros¡rxetai Promhyeæw
a ele (que estava) em dificuldade aproxima-se Prometeu
oé tÒ patrÜ kaÜ t» mhtrÜ mñnon geghn®meya
nós não nascemos só para o pai e para a mãe
õ p‹ppow moÛ Žp¡yanen
morreu-me o avô / meu avô morreu
kaÛ moi m¯ yorub®shte
e não me façais barulho
Î m°ter Éw kalñw moi õ p‹ppow;
mãe, como me é belo o avô! como é belo o meu avô!
·lyon ‘ma t» ²m¡r&
eles chegaram junto com o dia
oÞmvg¯ õmoè kvkæmasin
gemidos junto com gritos
oß P¡rsai kaÜ oß sçn aétoÝw
os Persas e os com eles
sçn toÝw yeoÝw
com os deuses

mur03.p65 110 22/01/01, 11:36


flexão nominal: casos e funções 111

sæneimi (eÞmi sæn), sumf¡rv (f¡rv sæn) ktl, “regem” o dativo


de companhia, ou comitativo (simultaneidade).
Não se trata de uma regra da gramática, mas de uma exigência ba-
seada na coerência, na relação semântica.

L OCATIVO - responde à pergunta onde? A referência é sobre o lugar em


que se está ou em que se comete um ato; é estático, concreto, espacial:
responde à questão “onde?”, poè; em grego, e ubi? em latim.

A idéia de espaço se transfere (metáfora) para a idéia de tempo,


também estático, isto é, um espaço, um momento do tempo.
O uso da preposição se faz necessário sempre que se quer enfatizar
ou precisar o espaço.
Nas relações de tempo seu uso é menos freqüente.
Há sobrevivências do locativo indo-europeu em -i em latim e em
grego, como:
domi em casa
ruri no campo
Romai > Romae em Roma
oàkoi em casa
Em grego há um antigo sufixo -yi que Homero usa, mas deixou de
ser usado no ático.
t» trÛtú Ër& na (pela) terceira hora
t» êsteraÛ& no dia seguinte
taætú t» ²m¡r& nesse dia
tet‹rtÄ ¦tei no quarto ano

ƒEn ¦tesin ¥bdom®konta ¤j°n soi Žpi¡nai


nos 70 anos (no espaço de) era-te permitido (possível) emigrar (Pl.,
Críton)
ƒEn nuktÜ boul¯ toÝw sofoÝsi gÛgnetai
De noite (na noite) o conselho acontece aos sábios
¤n t» „Ell‹di / ¤n KæprÄ
na Grécia, em Chipre

mur03.p65 111 22/01/01, 11:36


112 flexão nominal: casos e funções

¤n psi eédñkimoi öntew


entre todos (no meio de) sendo ilustres
oß ¤n t¡lei öntew
os que estão no cargo
¤n tÒ aétÒ
no mesmo (tempo, fato, lugar)
¤n trisÜn ²m¡raiw
em três dias (no espaço fechado de)

O locativo “regido” por verbos compostos deve ser entendido a


partir do significado. A composição se faz de uma forma coerente e lógi-
ca; deve haver compatibilidade semântica entre a preposição (que traz a
idéia espacial) e o verbo, que não pode ter idéia de movimento. Se jun-
tarmos o significado da preposição ao significado do verbo não precisa-
mos de regra de “regência”. Saberemos que é o locativo.
Assim:
¦neimi -eÞmi ¤n eu estou dentro, estou em -locativo
p‹reimi -eÞmi par‹ estou ao lado de, estou presente -locativo

Às vezes, por causa do significado do verbo, não é fácil fazer dis-


tinção entre dativo e locativo:
¤pidÛdvmi -dÛdvmi ¤pÛ eu dou em cima; eu dou além, eu acrescento.
Aqui é nítida a idéia de acrescentar; daí o dativo prevalece. Resta
ver, no entanto, se no contexto não há uma relação espacial, quando o
locativo prevaleceria.16

16 Assim ŽpodÛdvmi eu dou a partir de, eu atribuo (um nome a). Nas Categorias,
Aristóteles o emprega com o significado de atribuir (dar) um nome a. Nesse caso,
a idéia contida na preposição a partir de, de está implícita, mas não é relevante; a
idéia de “dação” é mais forte e o caso então é dativo.

mur03.p65 112 22/01/01, 11:36


flexão nominal: casos e funções 113

I NSTRUMENTAL : exprime o meio ou o instrumento com que um ato é


cometido.

Ele tem sua origem na questão p» ; “por onde, por que?”


O meio ou o instrumento não age; ele é inerte, e por isso se usa com
seres não dotados de vontade própria, como espada, cajado, dinheiro, pedra
etc. Mas às vezes um ser dotado de vontade própria pode ser usado como
instrumento. As gramáticas dizem que o soldado é considerado um ins-
trumento nas mãos do comandante. Sempre foi. Mas, quando o soldado
age por vontade própria, quando ele mata o comandante, não é mais mero
instrumento, é um agente da passiva: “O comandante foi morto pelo solda-
do”. Mas um ser animado, uma pessoa pode servir de instrumento para um
crime, para uma intriga. Nesses casos o indivíduo se torna mero instrumento.
Essa idéia de passagem do ato verbal contida na questão p» preva-
leceu a tal ponto que a expressão de trânsito, percurso, travessia, passou
a ser expressa pela preposição di‹ em grego e per em latim.
Não é muito fácil, também, separar, com clareza, a idéia de meio
ou instrumento da idéia de maneira, modo.
O modo, a maneira podem ser considerados como uma metáfora
do meio ou instrumento. Daí o caso ser o instrumental.
As gramáticas falam de “dativo” de instrumento, de causa, de modo,
de medida e até de diferença!
Nos exemplos a seguir, extraídos de Kaegi, todos eles podem ser
entendidos como instrumental.
OédeÜw ¦painon ²donaÝw ¤kt®sato
ninguém adquiriu glória com prazeres
Xr®setai ²mÝn õ basileçw ÷ ti ’n boælhtai
o rei se servirá de nós naquilo que (em relação ao que) queira [que
quiser]
oé mñnÄ rtÄ z» õ nyrvpow
nem só de pão vive o homem
eénoÛ&, ìbrei, fyñnÄ, fñbÄ poieÝn ti
fazer alguma coisa por [com] benevolência, por insolência, por inveja,
por medo

Causa?! Não!! É mero instrumento.

mur03.p65 113 22/01/01, 11:36


114 flexão nominal: casos e funções

Podemos observar o mesmo nos exemplos seguintes:


ƒAboulÛ& t‹ poll‹ bl‹ptontai brotoÛ
Os mortais são prejudicados na maior parte das vezes pela falta de
vontade/empenho
XalepÇw ¦feron oß stratiÇtai toÝw paroèsi pr‹gmasin
Os soldados tiveram problemas pelos [com os] acontecimentos presentes

A idéia de causa, por ser abstrata, é sempre metafórica, secundária;


ela é abs-tracta.

A idéia de modo, maneira também deriva da idéia de instrumento,


meio:
toætÄ tÒ trñpÄ dessa maneira
oédenÜ trñpÄ de maneira nenhuma
taætú t» gnÅmú dessa opinião
p‹sú t¡xnú kaÜ mhxan» por toda arte e engenho
pantÜ sy¡nei com todo o empenho
tÒ önti ¦rgÄ pelo ato que é - na realidade

Alguns adjetivos no “dativo”, isto é, instrumental-modal, passaram


a ser empregados isoladamente e são por isso vistos como advérbios; nesses
casos prevaleceu o significado do adjetivo sobre o do substantivo, que
passou a ser omitido, ficando implícito, como:
dhmosÛ& público/a; publicamente; em público
taf» dhmosÛ& com / em obséquias públicas
ÞdÛ& em particular, em privado
koin» em comum

A idéia de medida, de comparação (igualdade), do quanto (preço)


também é uma expressão do instrumental:
pollÒ kreÝtton muito (em muito) melhor
ôlÛgÄ ¤l‹ttouw triakosÛvn pouco (em pouco) menos do que trezentos
polloÝw ¦tesi ìsteron muitos anos depois
pñsÄ ¤stÛn; quanto é? (por quanto?)
÷sÄ... tosoætÄ quanto (mais)... tanto (mais)

mur03.p65 114 22/01/01, 11:36


flexão nominal: casos
os gêneros
e funções 115

Os gêneros
No sânscrito, no grego e no latim são três:
Žrsenikñn, masculinum, masculino;
yhlikñn, femininum, feminino e
oéd¡teron, m¡son, neutrum, neutrius generis, neutro.

Na verdade, o neutro não é propriamente um gênero, mas sim uma


ausência de gênero. Isso lembra certamente o gênero anímico: a referên-
cia da dualidade macho/fêmea.
Os seres inanimados se definiam por analogia; mas nem sempre a
analogia agiu com coerência, porque os critérios de observação variam
segundo o momento, o meio, isto é, a cultura.
No grego há uma certa coerência, mas numa divisão binária: gêne-
ro animado/gênero inanimado.
Essa diferença aparece na declinação: o neutro não tem a caracte-
rização do nominativo do gênero animado, que é basicamente -w.
O nominativo dos neutros é o próprio tema.
Isso é claro nos nomes de tema em consoante ou semivogal; nos
de tema em -o, sobretudo nos de sílaba final átona, para protegê-la, a
língua “toma emprestado o -n do acusativo”17, segundo os gramáticos.
Mas esse -n tem uma função eufônica ou prosódica, como acontece nos
dativos plurais e nas terceiras pessoas dos verbos quando em final de fra-
se ou antes de palavras iniciadas por vogal, para proteger a vogal final
átona (não há neutro em -o oxítono).
É o que acontece nos neutros em -o.
A explicação a posteriori de que esse -n seria um empréstimo do
acusativo não é muito satisfatória.
Nos demonstrativos, que são palavras fortes, essa proteção é dis-
pensada:
Assim temos: tñ, autñ, tñde, toèto, llo, ¤keÝno, ktl.

17 Por ser oéd¡teron = nenhum dos dois, o neutro não tem desinências próprias:
desinência zero nos casos síntáticos (N.V.A.) e desinências emprestadas dos gêne-
ros animados nos outros casos.

mur03.p65 115 22/01/01, 11:36


116 flexão
flexão
nominal:
nominal:
casos
osenúmeros
funções

Os números
Os números, ŽriymoÛ, são três:
õ ¥nikñw, singularis, singular;
õ duikñw, dualis, dual;
õ plhyuntikñw, pluralis, plural.

O singular e o plural não trazem nenhuma dificuldade. É a mesma


idéia que temos em português.
Mas a língua grega tinha um dual, isto é, a designação do par, do
casal, de uso bastante restrito. Usava-se apenas nos casos em que se que-
ria insistir na concomitância de dois: dois olhos, duas mãos etc.
Os gramáticos afirmam que o dual deixou de ser usado bastante
cedo.
Não é bem verdade. Usava-se sempre que necessário: na lingua-
gem afetiva e quando se queria precisar a dualidade.

mur03.p65 116 22/01/01, 11:36


aflexão
flexãonominal:
nominal:casos
os temas
e funções
nominais 117

A flexão nominal:
os temas nominais
Definidos os casos, as funções, os gêneros, os números, vamos pas-
sar aos modelos, paradigmas de flexão.
Em grego podemos dividir os nomes em dois grandes grupos:
• nomes de tema em vogal;
• nomes de tema em consoante e soante/semivogal.

Temas em vogal
• temas em -o
• temas em -a/h
Os de temas em -o são:
• masculinos: õ lñgow-ou - a palavra, o discurso
• femininos: ² õdñw-oè - o caminho
• neutros: tò t¡knon-ou - a criança, o filho
Não há distinção formal entre os masculinos e femininos (gênero
anímico), mas os femininos são pouco numerosos.
Os temas em a/h são:
• femininos: ² kefal®-°w a cabeça
² Žgor‹-w a praça, o mercado
² paideÛa-aw a educação
² glÅtta-hw a língua
• masculinos: õ polÛthw-ou o cidadão
õ neanÛaw-ou o rapaz, o jovem
adjetivos qualificativos de tema em -o
dêiticos de tema em -a / -h
• adjetivos qualificativos:
dÛkaiow dikaÛa dÛkaion justo
mikrñw mikr‹ mikrñn pequeno
kalñw kal® kalñn belo, bom
dikow dikow dikon injusto, injusta

mur03.p65 117 22/01/01, 11:36


118 a flexão nominal: os temas nominais

• dêiticos:
õ - ² - tñ o, a (artigo)
÷de - ´de - tñde este, esta, isto
oðtow - aìth - toèto esse, essa, isso
¤keÝnow-¤keÛnh-¤keÝno aquele, a, aquilo
aétñw-aét®-aétñ ele, o mesmo
llow-llh-llo outro, outra

Notas:
1. A lista dos dêiticos (demonstrativos) não é completa, mas representativa;
2. Os adjetivos podem ter três formas: uma para cada gênero (adjetivos
triformes); e duas formas: uma para o masc./fem., e outra para o neu-
tro (adjetivos biformes); esses são basicamente os compostos.

Observações:
A variação -a / -h do feminino dos adjetivos se identifica da se-
guinte maneira:
• os de vogal temática precedida de semivogal i / u e r fazem o femini-
no em -a: dikaÛa, mikr‹
• os de vogal temática precedida de qualquer outra consoante o fazem em
-h: kal®
Essa norma é válida também para os nomes. Entretanto, há alguns
nomes em que podem conviver o vocalismo -a e -h, como peÝna / peÛnh
a fome, dÛca / dÛch a sede.
Outros ainda, apesar de terem a vogal temática precedida de con-
soante, mantêm o vocalismo -a no nom., voc., e acus. singular e -hw no
genitivo, -ú no dat. instr. loc.
A gramática os chama de nomes em -a impuro ou misto. Ex.:
N.dñja, V.dñja, A.dñjan, G.dñjhw, D.L.I. dñjú
Todo o plural dos nomes de tema em a/h é em -a.
Há ainda alguns nomes próprios de origem dórica que mantêm o
vocalismo -a em toda a flexão, como:
N.L®da, V.L°da, A.L®dan, G.L®daw, D.L.I. L®d&:
Leda, mãe de Castor e Pólux, Helena e Clitemnestra;
e Filom®la - rouxinol.

mur03.p65 118 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 119

Outros ainda, de origem jônica, mantêm o vocalismo -h em toda a


flexão apesar de terem a vogal temática precedida de -r.
² rrh - hw (rsh) a face
² ¦rsh - hw o orvalho
kñrh - hw a menina-moça, a jovem
Essa variação a/h é, como vimos, de origem dialetal dórica-jônica.
O dialeto ático, que estudamos aqui, vem da Ática, região em que
se localizava Atenas, e formou-se basicamente no século V, numa fusão
do dialeto jônico e dórico. Atenas se situa ao longo de uma linha imagi-
nária norte-sul que separa a zona oeste de dialeto dórico da zona leste de
dialeto jônico. Plutarco diz que Teseu reconheceu as fronteiras da Jônia
e da Dórida ao erigir uma estela perto de Megara, fazendo gravar no lado
oeste “Aqui termina a Dórida e começa a Jônia e do lado leste, “Aqui
termina a Jônia e começa a Dórida”.
Assim mesmo, o vocalismo dórico é muito presente no dialeto ático;
o vocalismo jônico penetrou quer pela proximidade geográfica quer pela in-
fluência dos sábios que acorreram, sobretudo das costas da Ásia Menor, para
Atenas, que depois de duas vitórias contra os Persas passou a exercer uma
liderança política, econômica e intelectual sobre todo o mundo grego.
O ático é o grego literário por excelência. É a língua de Platão, de
Aristófanes, de Ésquilo, de Sófocles, de Eurípides, de Lísias, de Isócra-
tes, de Iseu, de Demóstenes, de Ésquines, de Aristóteles, de Tucídides,
de Xenofonte, para citar os principais.
Posteriormente, com a constituição fugaz do império de Alexan-
dre e posterior divisão em três, entre seus sucessores, o dialeto ático pas-
sou a ser a língua comum ² koin¯ glÇtta, do Mediterrâneo, desde o
Ponto Euxino até o Egito e as Colunas de Heraclés (Gibraltar).
A expressão koin® tem sido usada para identificar a língua dos tex-
tos bíblicos - o Antigo e o Novo Testamentos. Não é exato; as expres-
sões grego bíblico, latim bíblico são bastante discutíveis.
A koin® é também a língua do comércio, da diplomacia, das rela-
ções entre os homens em todo o Mediterrâneo oriental, e foi por essa
razão que os rabinos decidiram traduzir os livros da religião judaica para
a língua comum, para que os judeus da diáspora tivessem acesso a eles na
única língua que conheciam, o grego.
Mas o ático literário não perdeu o prestígio; ele continuou a ser a
língua da excelência, a língua padrão, que serviu de modelo para todos os

mur03.p65 119 22/01/01, 11:36


120 a flexão nominal: os temas nominais

escritores em língua grega, desde o período alexandrino até o fim do Impé-


rio Bizantino, em l453. Ainda hoje, a kayar¡ousa é uma tentativa de ma-
nutenção do ideal ático.

Quadro geral das desinências


Temas em - o Temas em -a/-h
Casos Masc./fem. Neutros Fem. Masc.
Singular
Nom. -o-w -o-n -a/ h -aw/hw
Voc. -e - * -o-n -a/-h -a/-h
Acus. -o-n -o-n -a-n/-h-n -a-n/h-n
Gen. -o-sjo** -o-sjo -a-w/hw -ou (-a dórico)
Dat. -o-i > vi /Ä -o-i > vi /Ä -a-i > &/h-i / ú -a-i > &/h-i / ú
Loc. -o-i > vi /Ä -o-i > vi /Ä -a-i > &/h-i / ú -a-i > &/h-i / ú
Instr. -o-i> vi / Ä -o-i > vi /Ä -a-i > &/h-i / ú -a-i > &/h-i / ú
Plural
Nom. -o-i -a -a-i -a-i
Voc. -o-i -a -a-i -a-i
Acus. -o-n-w > ouw -a -a-n-w > aw -a-n-w > aw
Gen. -o-vn > vn -o-vn> vn -‹-svn > -‹-svn> ‹vn/Çn
> ‹vn/Çn***
Dat. -o-is(in) -o-is(in) -a-is(in) -a-is(in)
Loc. -o-is(in)**** -o-is(in) -a-is(in) -a-is(in)
Instr. -o-is(in) -a—o-is(in) -o-is(in) -a-is(in)
Dual
N.V.A. -v -v -a -a
G.D.L.I. -oin -oin -ain -ain

* O vocativo é o próprio tema (desinência zero); nos masc. e fem. em -o a vogal


temática sofre alternância vocálica -o/-e.
** -o-sjo > ojo > oio : no jônico (vocalização do j e síncope do -s-);
-ojo >- oo > ou / v : no ático (síncope do j e contração).
*** desinência do demonstrativo (forte).
**** -o-i-si -/ -a-i-si - antigo instrumental indo-europeu > -oiw /-aiw no ático.

mur03.p65 120 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 121

Esse é o quadro básico da flexão dos nomes de tema em vogal.


Podemos observar que a vogal temática sofre algumas alterações:
Nos nomes de tema em -o:
• no vocativo sing. do masc./fem., que tem desinência zero, o que houve
foi apenas metafonia, isto é, alteração de timbre -o/e.
• No genitivo sing. deu-se o seguinte:
-o-sjo > ojo > oio > oo >ou.
Esta é a explicação mais aceita.
Há algumas variantes dialetais -v / -oio. A última (jônica) é cons-
tante em Homero; no ático prevalece a forma contrata -ou.
• No dat. loc. instr. singular o -i é longo; houve então uma metátese de
quantidade; a seguir o -i, que se tornou breve, passou a figurar em po-
sição subscrita. Recentemente voltou a se grafar adscrito.
• No acus. plural -onw houve a queda do -n- antes do -w e a natural com-
pensação pela ditongação em -ouw.
• No gen. plural dos temas em -o houve a elisão e não contração da vogal
temática antes da vogal longa da desinência.
• No dat. loc. instr. plural a desinência plural -oisin é constante em Ho-
mero, Heródoto e nos poetas líricos. O ático generalizou o uso de -oiw.
• O neutro, como já dissemos, não tem desinências próprias. O -a do
nom. voc. acus. plural não é uma desinência, mas a marca do coletivo
indoeuropeu. Vemo-la também em latim.
O -n dos mesmos casos no singular tem mera função prosódica e
eufônica.
Os outros casos são iguais aos do masc./fem.
Nos nomes de tema em -a/-h:-
• O vocativo singular de todos esses nomes, inclusive dos masculinos é
em -a. Às vezes, alguns nomes próprios masculinos em -h mantêm
essa vogal alternando com o vocativo em -a: ƒAtreÛda - ƒAtreÛdh.
• No dat. loc. instr. sing. deu-se o mesmo que nos nomes de tema em -
o:- metátese de quantidade e posição subscrita do -i.
Nos temas de vogal longa aparentemente o -i- se abreviou e se
subscreveu. 18

18 Aparentemente, apenas. O que houve foi o seguinte: a vogal longa antes do -i-
longo se abreviou e a seguir houve metátese de quantidade, naturalmente, e o -i-,
agora breve, se subscreveu ou se adscreveu.

mur03.p65 121 22/01/01, 11:36


122 a flexão nominal: os temas nominais

• No dat. loc. instr. plural deu-se o mesmo que nos nomes de tema em -
o (-aisi > -aiw).
• A desinência -svn do genitivo plural é um empréstimo da flexão dos
dêiticos; o -s- encontrando-se em posição intervocálica sofre uma sín-
cope, provocando o hiato entre a vogal temática -a e-vn (-‹-svn >
‹vn) que no ático se contrai > Çn.
É essa a razão do “deslocamento” da tônica no genitivo plural dos
nomes de tema em -a/-h, de temas paroxítonos e proparoxítonos:
glÇtta > glvtt‹-svn > glvtt‹vn > glvttÇn
g¡fura > gefur‹-svn > gefur‹vn > gefurÇn19
• O nominativo singular dos masculinos tem -w.
• O genitivo singular dos masculinos é em -ou e não em-aw/hw como
se espera (no dialeto dórico é -a). Seria um empréstimo da desinência
do artigo masculino; certamente por razões de clareza, para não con-
fundir com o nominativo singular.

Nota importante:
Nos quadros de flexão das páginas seguintes, o aluno encontrará as
palavras flexionadas em sua forma final. Em alguns casos a separação en-
tre vogal temática e desinência é complicada, como ficou demonstrado
no quadro geral das desinências. Seguiremos então o costume, destacan-
do as variações visíveis da flexão, separando vogal temática da desinência,
quando for possível. Convém no entanto não esquecer que a flexão é uma
combinação de temas e desinências, o “caso” dos nomes.

19 As gramáticas tradicionais criaram uma regra: “todos os nomes da 1a declinação


grega têm o genitivo plural perispômeno”. É mais fácil mostrar como aconteceu. É
mero problema fonético.

mur03.p65 122 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 123

Quadro de flexão: masculinos em -o

T. dÛkaio- lñgo- õ dÛkaiow lñgow o discurso justo


T. Žgayñ- nyrvpo- ô Žgayòw nyrvpow o homem bom

Singular Nom. õ dÛkaio-w lñgo-w õ Žgayò-w nyrvpo-w


Voc. Î dÛkaie lñge Î Žgay¡ nyrvpe
Acus tòn dÛkaio-n lñgo-n tñn Žgayò-n nyrvpo-n
Gen. toè dikaÛ-ou lñg-ou toè Žgay-oè ŽnyrÅp-ou
Dat. tÒ dikaÛ-Ä lñg-Ä tÒ Žgay-Ò ŽnyrÅp-Ä
Loc. tÒ dikaÛ-Ä lñg-Ä tÒ Žgay-Ò ŽnyrÅp-Ä
Instr. tÒ dikaÛ-Ä lñg-Ä tÒ Žgay-Ò ŽnyrÅp-Ä
Plural Nom. oß dÛkaio-i lñgo-i oß Žgayo-Ü nyrvpo-i
Voc. Î dÛkaio-i lñgo-i Î Žgayo-Ü nyrvpo-i
Acus. toçw dikaÛ-ouw lñg-ouw toçw Žgay-oçw ŽnyrÅp-ouw
Gen. tÇn dikaÛ-vn lñg-vn tÇn Žgay-Çn ŽnyrÅp-vn
Dat. toÝw dikaÛo-iw lñgo-iw toÝw Žgayo-Ýw ŽnyrÅpo-iw
Loc. toÝw dikaÛo-iw lñgo-iw toÝw Žgayo-Ýw ŽnyrÅpo-iw
Instr. toÝw dikaÛo-iw lñgo-iw toÝw Žgayo-Ýw ŽnyrÅpoi-w
Dual N.V.A. tÆ dikaÛ-v lñg-v tÆ Žgay-Æ ŽnyrÅp-v
G.D.L.I. toÝn dikaÛo-in lñgo-in toÝn Žgayo-Ýn ŽnyrÅpo-in

mur03.p65 123 22/01/01, 11:36


124 a flexão nominal: os temas nominais

Quadro de flexão: femininos em -o

T. =adÛa- õdñ- ² =adÛa õdñw o caminho fácil


T. dein®- nñso- ² dein¯ nñsow a doença perigosa

Singular Nom. ² =adÛa õdñ-w ² dein¯ nñso-w


Voc. Î =adÛa õd¡ Î dein¯ nñse
Acus. t¯n =adÛa-n õdñ-n t¯n dein¯-n nñso-n
Gen. t°w =adÛ-aw õd-oè t°w dein-°w nñs-ou
Dat. t» =adÛ-& õd-Ò t» dein-» nñs-Ä
Loc. t» =adÛ-& õd-Ò t» dein-» nñs-Ä
Instr. t» =adÛ-& õd-Ò t» dein-» nñs-Ä
Plural Nom. aß =adÛa-i õdo-Û aß deina-Ü nñso-i
Voc. Î =adÛa-i õdo-Û Î deina-Ü nñso-i
Acus. tŒw =adÛa-w õd-oæw tŒw deinŒ-w nñs-ouw
Gen. tÇn =adi-Çn õd-Çn tÇn dein-Çn nñs-vn

Dat. taÝw =adÛa-iw õdo-Ýw taÝw deina-Ýw nñso-iw


Loc. taÝw =adÛa-iw õdo-Ýw taÝw deina-Ýw nñso-iw
Instr. taÝw =adÛa-iw õdo-Ýw taÝw deina-Ýw nñso-iw
Dual N.V.A. tŒ =adÛ-a õd-Å tŒ dein-Œ nñs-v
G.D.L.I. taÝn =adÛa-in õdo-Ýn taÝn deina-Ýn nñso-in

mur03.p65 124 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 125

Quadro de flexão: neutros em -o

T. kalñ- t¡kno- tò kalòn t¡knon - a bela criança


T. diko- dÇro- tò dikon dÇron - o presente injusto

Singular Nom. tò kalò-n t¡kno-n tò diko-n dÇro-n


Voc. Î kalò-n t¡kno-n Î diko-n dÇro-n
Acus. tò kalò-n t¡kno-n tò diko-n dÇro-n
Gen. toè kal-oè t¡kn-ou toè ŽdÛk-ou dÅr-ou
Dat. tÒ kal-Ò t¡kn-Ä tÒ ŽdÛk-Ä dÅr-Ä
Loc. tÒ kal-Ò t¡kn-Ä tÒ ŽdÛk-Ä dÅr-Ä
Instr. tÒ kal-Ò t¡kn-Ä tÒ ŽdÛk-Ä dÅr-Ä
Plural Nom. tŒ kal-Œ t¡kn-a tŒ dik-a dÇr-a
Voc. Î kal-Œ t¡kn-a tŒ dik-a dÇr-a
Acus. tŒ kal-Œ t¡kn-a tŒ dik-a dÇr-a
Gen. tÇn kal-Çn t¡kn-vn tÇn ŽdÛk-vn dÅr-vn
Dat. toÝw kalo-Ýw t¡kno-iw toÝw ŽdÛko-iw dÅro-iw
Loc. toÝw kalo-Ýw t¡kno-iw toÝw ŽdÛko-iw dÅro-iw
Instr. toÝw kalo-Ýw t¡kno-iw toÝw ŽdÛko-iw dÅro-iw
Dual N.V.A. tÆ kal-Æ t¡kn-v tÆ ŽdÛk-v dÅr-v
G.D.L.I. toÝn kalo-Ýn t¡kno-in toÝn ŽdÛko-in dÅro-in

mur03.p65 125 22/01/01, 11:36


126 a flexão nominal: os temas nominais

Nomes e adjetivos “contratos” de tema em -o


Alguns nomes e adjetivos, todos antigos na língua, têm uma vogal
o/e antes da vogal característica do tema e assim são encontrados sem
contração em Homero, Heródoto e nos poetas anteriores ao século V,
isto é, anteriores à formação do dialeto ático.
õ plñow a navegação õ nñow a inteligência
õ Ždelfid¡ow o sobrinho õ =ñow a corrente, a torrente
õ xnñow a pluma tò kan¡on o cesto
tò ôst¡on o osso Žplñow não navegável
xrus¡ow de ouro eënoow de bom caráter, amável
Žrgur¡ow de prata

No ático, esses hiatos se reduzem por contração em ditongos ou


vogal longa:
oo > ou =ñow > =oèw ea >h xrus¡a > xrus»
eo > ou ôst¡on > ôstoèn ea >a Žrgur¡a > Žrgur*
ev > v ôst¡v > ôstÇ ooi > oÝ =ñoi > =oÝ
ov > v =ñv > =Ç eoi > oÝ xrus¡oi > xrusoÝ

* Quando a vogal pré-temática é precedida de vogal ou de r, a contração se faz em -


a; nos outros casos, a contração se faz em h.

mur03.p65 126 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 127

Quadro de flexão:

T nño- õ nñow a inteligência, o pensamento (só singular)


T =ño- õ =ñow a torrente, corrente (só plural)
T ost¡o- tò ôst¡on o osso
T xrus¡o- xrus¡ow de ouro

S. Nom. õ nño-w > noèw tò ôst¡o-n > ôstoèn xrus¡o-w > xrusoèw
Voc. Î nñe > noè Ù ôst¡o-n > ostoèn xrus¡o-w > xrusoèw
Acus. tòn nño-n>noèn tò ôst¡o-n > ôstoèn xrus¡o-n > xrusoèn
Gen. toè nñ-ou > noè toè ôst¡-ou > ôstoè xrus¡-ou > xrusoè
Dat. tÒ nñ-Ä > nÒ tÒ ôst¡-Ä > ôstÇ xrus¡-Ä > xrusÒ
Loc. tÒ nñ-Ä > nÒ tÒ ôst¡-Ä > ôstÇ xrus¡-Ä > xrusÒ
Instr. tÒ nñ-Ä > nÒ tÒ ôst¡-Ä > ôstÇ xrus¡-Ä > xrusÒ

Pl. Nom. oß =ño-i > =oÝ tŒ ôst¡-a > ôst xrus¡-a > xrus°
Voc. Î =ño-i > =oÝ Î ôst¡-a > ôst xrus¡-a > xrus°
Acus. toçw =ñ-ouw > =oèw tŒ ôst¡-a > ôst xrus¡-a > xrus°
Gen. tÇn =ñ-vn > =Çn tÇn ôst¡-vn > ôstÇn xrus¡-vn > xrusÇn
Dat. toÝw =ño-iw >=oÝw toÝw ôst¡o-iw > ôstoÝw xrus¡o-iw > xrusoÝw
Loc. toÝw =ño-iw > =oÝw toÝw ôst¡o-iw > ôstoÝw xrus¡o-iw > xrusoÝw
Instr. toÝw =ño-iw >=oÝw toÝw ôst¡o-iw>ôstoÝw xrus¡o-iw > xrusoÝw

D. N.V.A. tÆ =ñ-v > =Ç tÆ ôst¡-v > ôstÇ xrus¡-v > xrusÇ


G.D.L.I. toÝn =ño-in > =oÝn toÝn ôst¡o-in > ôstoÝn xrus¡o-in > xrusoÝn

mur03.p65 127 22/01/01, 11:36


128 a flexão nominal: os temas nominais

“Declinação” flexão ática

Alguns nomes e adjetivos em -o, também antigos, têm em posição


pré-temática uma vogal longa, mas essa vogal não absorveu a vogal
temática breve por causa da presença do digama, permanecendo o hiato
nos dialetos jônico, eólico e dórico.
No ático, no entanto, sempre que houver uma seqüência vogal lon-
ga-vogal breve haverá uma metátese de quantidade.
Assim: ho > ev / ao > av.
nhWñw > nh-ñw > neÅw o templo
lhWñw > lh-ñw > leÅw o povo
álhWow > álh-ow > álevw propício / homérico álaow
´Wow > ´-ow > §vw , ² aurora
taWñw > ta-ñw> taÅw, õ pavão
ŽnÅghWon > ŽnÅghon > Žnñgevn, tñ a sala de jantar
Men¡lhWow > Men¡lhow > Men¡levw, õ Menelau
s‹Wow > s‹ow > sÇw / sÇow são, salvo
pl¡vw cheio, repleto (por analogia)
A vogal temática, tornando-se longa, altera todo o relacionamen-
to com as desinências, mas dentro dos padrões fonéticos do ático.
As formas originais, sem metátese, são encontradas em Homero,
Heródoto e nos líricos.
Alguns nomes já têm um -v temático e se declinam também den-
tro dos padrões fonéticos do ático 20.
lagvñw - oè, õ > lagÅw a lebre
k‹lvw -ou, õ > k‹lvw a corda, o cabo
‘lvw-ou ² > ‘lvw terreiro (redondo) de bater trigo,
o disco solar ou lunar.
…Ayvw-ou, õ > …Ayvw o monte Athos

20 Nunca é demais lembrar que a língua é anterior à gramática. É um truísmo, sim,


mas ninguém se lembra disso. Os chamados modelos lingüísticos nos passam para-
digmas bem montados, segundo os quais uma língua é um sistema ao qual se deve
submeter. Não. Existe um organismo, uma consciência, uma inteligência que domi-

mur03.p65 128 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 129

Na flexão de todos esses nomes, o v temático absorve as vogais


breves das desinências, prevalecendo naturalmente o timbre -o, como se
dá também no casos de tema em -o breve.

Quadro de flexão:
T nhñ- nhñw > neÅw o templo
T ®o- ´ow > §vw aurora
T álho- álhow > álevw propício (ático)
/ álao- > álaow (Homero)

Singular Nom. nhñ-w > neÅw ´o-w > §vw álho-w > álevw
Voc. nhñ-w > neÅw ´o-w > §vw álh-ow > álevw
Acus. nhñ-n > neÅn ´o-n > §vn álh-on > álevn
Gen. nh-oè > neÅ ´-ou > §v álh-ou > álev
Dat. nh-Ò > neÐ ´-Ä > §Ä ßl®-Ä > ßl¡Ä
Loc. nh-Ò > neÐ ´-Ä > §Ä ßl®-Ä > ßl¡Ä
Instr. nh-Ò > neÐ ´-Ä > §Ä ßl®-Ä > ßl¡Ä
Plural Nom. nho-Û > neÐ ´o-i > §Ä álho-i > áleÄ
Voc. nho-Û > neÐ ´o-i > §Ä álho-i > áleÄ
Acus. nh-oæw > neÅw ´-ouw > §vw ßl®-ouw > ßl¡vw
Gen. nh-Çn > neÇn ´-vn > §vn ßl®-vn > ßl¡vn
Dat. nho-Ýw > neÐw ´o-iw > §Äw ßl®o-iw > ßl¡Äw
Loc. nho-Ýw > neÐw ´o-iw > §Äw ßl®o-iw > ßl¡Äw
Instr. nho-Ýw > neÐw ´o-iw > §Äw áßl®o-iw > ßl¡Äw
Dual N.V.A. nh-Å > neÅ ´-v > §v ßl®-v > ßl¡v
G.D.L.I. nho-Ýn > neÒn ´o-in > §Än ßl®o-in > ßl¡Än

na as relações do discurso, mas no nível do concreto, a partir dos elementos. Vi-


mos, na flexão dos “contratos”, como as formas se desenvolvem individualmente,
dentro dos padrões da língua. Não há palavras contratas, há formas contratas. Aqui
também, na chamada declinação ática, vai acontecer o mesmo.

mur03.p65 129 22/01/01, 11:36


130 a flexão nominal: os temas nominais

Observação: Os gramáticos prescrevem a manutenção da tônica na posi-


ção do nominativo singular. Isso pode ser verdadeiro para os oxítonos e
paroxítonos. Assim mesmo nós poríamos acento circunflexo no dat. loc.
instr. dos temas oxítonos. Nos temas proparoxítonos álhow > álevw ve-
ríamos formas paroxítonas no:
gen. singular: ßl®ou > ßl¡v
dat. loc. instr. singular: ßl®Ä > ßl¡Ä
acus. plural: ßl®ouw > Þl¡vw
dat. loc. instr. plural: ßl®oiw > ßl¡Äw.

Nós sabemos que, no caso de contração entre vogais, a vogal tôni-


ca leva a tonicidade para o ditongo ou a vogal longa resultante:
tim‹-v > timÇ eu honro
tim‹-o-men > timÇmen nós honramos
poi¡-o-men > poioèmen nós fazemos
poi¡-e-te > poieÝte fazei, vós fazeis

Nos casos de metátese de quantidade, contudo, não acontece o


mesmo; permanece a tonicidade original, já que não se trata de contra-
ção. Temos um exemplo bem conhecido:
pñlh-ow > pñlevw da cidade

Contudo é mais cômodo servir-se da analogia, como no caso do


genitivo plural: pñlevn – das cidades, que deveria ser: pol¡-j-vn >
pol¡vn.

mur03.p65 130 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 131

Quadro de flexão dos nomes femininos


de tema em -a puro

T oÞkÛa- ² oÞkÛa a casa T xÅra- ² xÅra o país, a terra


T n¡a- n¡a nova, jovem T ski‹- ² ski‹ a sombra
T mikr‹ mikr‹ pequena T g¡fura- ² g¡fura a ponte

S. Nom. ² oÞkÛa xÅra n¡a ski‹ mikrŒ g¡fura


Voc. Î oÞkÛa xÅra n¡a ski‹ mikrŒ g¡fura
Acus. t¯n oÞkÛa-n xÅra-n n¡a-n ski‹-n mikrŒ-n g¡fura-n
Gen. t°w oÞkÛ-aw xÅr-aw n¡-aw ski-w mikr-w gefær-aw
Dat. t» oÞkÛ-& xÅr-& n¡-& ski-˜ mikr-˜ gefær-&
Loc. t» oÞkÛ-& xÅr-& n¡-& ski-˜ mikr-˜ gefær-&
Instr. t» oÞkÛ-& xÅr-& n¡-& ski-˜ mikr-˜ gefær-&
Pl. Nom. aß oÞkÛa-i xÇra-i n¡a-i skia-Û mikra-Ü g¡fura-i
Voc. Î oÞkÛa-i xÇra-i n¡a-i skia-Û mikra-Ü g¡fura-i
Acus. tŒw oÞkÛa-w xÅra-w n¡a-w ski‹w mikr‹-w gefæra-w
Gen. tÇn oÞki-Çn xvr-Çn ne-Çn ski-Çn mikr-Çn gefur-Çn
Dat. taÝw oÞkÛa-iw xÅra-iw n¡a-iw skia-Ýw mikra-Ýw gefæra-iw
Loc. taÝw oÞkÛa-iw xÅra-iw n¡a-iw skia-Ýw mikra-Ýw gefæra-iw
Instr. taÝw oÞkÛa-iw xÅra-iw n¡a-iw skia-Ýw mikra-Ýw gefæra-iw
D. N.V.A. tŒ oÞkÛ-a xÅr-a n¡-a ski-‹ mikr-Œ gefær-a
G.D.L.I. taÝn oikÛa-in xÅra-in n¡a-in skia-Ýn mikra-Ýn gefæra-in

mur03.p65 131 22/01/01, 11:36


132 a flexão nominal: os temas nominais

Quadro de flexão dos nomes femininos


de tema em -h e -a impuro

T nÛkh- ² nÛkh a vitória T dñja- ² dñja a glória, opinião


T tim®- ² tim® a honra T dein®- dein® valente, perigosa
T kal®- kal® bela T y‹lassa- ² y‹latta o mar
S. Nom. ² nÛkh tim® kal¯ dñja dein¯ y‹latta
Voc. Î nÛkh tim® kal¯ dñja dein¯ y‹latta
Acus. t¯n nÛkh-n tim®-n kal¯-n dñja-n dein¯-n y‹latta-n
Gen. t°w nÛk-hw tim-°w kal-°w dñj-hw dein-°w yal‹tt-hw
Dat. t» nÛk-ú tim-» kal-» dñj-ú dein-» yal‹tt-ú
Loc. t» nÛk-ú tim-» kal-» dñj-ú dein-» yal‹tt-ú
Instr. t» nÛk-ú tim-» kal-» dñj-ú dein-» yal‹tt-ú
P. Nom. aß nÛka-i tima-Û kala-Ü dñja-i deina-Ü y‹latta-i
Voc. Î nÛka-i tima-Û kala-Ü dñja-i deina-Ü y‹latta-i
Acus. tŒw nÛka-w tim‹-w kal‹-w dñja-w deinŒ-w yal‹tta-w
Gen. tÇn nik-Çn tim-Çn kal-Çn doj-Çn dein-Çn yalatt-Çn
Dat. taÝw nÛka-iw tima-Ýw kala-Ýw dñja-iw deina-Ýw yal‹tta-iw
Loc. taÝw nÛka-iw tima-Ýw kala-Ýw dñja-iw deina-Ýw yal‹tta-iw
Instr. taÝw nÛka-iw tima-Ýw kala-Ýw dñja-iw deina-Ýw yal‹tta-iw
D. N.V.A. tŒ nÛk-a tim-‹ kal-‹ dñj-a dein-Œ yal‹tt-a
G.D.L.I. taÝn nÛka-in tima-Ýn kala-Ýn dñja-in deina-Ýn yal‹tta-in

Algumas observações sobre a flexão dos femininos em a/h:


1. A variação a/h só existe no singular; o plural é todo em -a.
2. Todos os oxítonos no nom. sing. têm acento circunflexo no genitivo e
dat. loc. inst. singular e plural.
Nos outros casos eles mantêm o acento agudo.
3. Todos esses nomes têm o genitivo plural perispômeno (p. 122).
4. O -a do nominativo singular dos nomes femininos é longo, mas é breve nos
derivados com o sufixo -ia / eia. Não há uma regra precisa sobre o assunto.
5. O -a temático dos adjetivos cujo masculino e neutro são de tema em -o é
longo, por analogia com o -a dos nomes femininos: dÛkaiow, dikaÛa,
dÛkaion - jiow, ŽjÛa, jion.

mur03.p65 132 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 133

6. Um grande número de substantivos e adjetivos femininos se forma com o


sufixo -ja / es-ja > -eia de -a breve, sobre temas em soante / consoante:
eégen¡s- eégenew-ja eég¡neia berço nobre, nobreza
pant- pant-ja psa toda
melit- melit-ja m¡lissa abelha
maxar- maxar-ja m‹xaira a faca
glvx- glvx-ja glÇtta língua
Žmil- Žmil-ja ŽmÛlla a peleja
melan- melan-ja m¡laina preta
mor- mor-ja moÝra o destino

7. Um outro grupo se forma com o sufixo em -a longo:


-ia / -sÛa / -tÛa
Em geral são nomes abstratos e significam a qualidade ou o conceito do
tema do adjetivo:
kakñw, mau kakÛa, maldade, vício
oäkow, casa oÞkÛa, habitação
ggelow, mensageiro ŽggelÛa - notícia
ŽgÅniow, combatente ŽgvnÛa, rivalidade
jiow, digno ŽjÛa, dignidade
deilñw, covarde deilÛa, covardia
m‹rtuw, o testemunha marturÛa, o testemunho

8. Em geral os nomes cuja vogal temática é precedida de vogal ou -r mantêm


o -a (Žgor‹, mikr‹); e aqueles cuja vogal temática é precedida de qual-
quer consoante menos -r a têm em -h (kefal®, dein®).
Alguns, no entanto, mesmo com a vogal temática precedida de conso-
ante, mantêm o -a, como dñja, glória, opinião, =Ûza, raiz, mas fazem o
genitivo e dativo (loc. instr.) em -hw, -ú:
dñja - dñja - dñjan - dñjhw - dñjú
=Ûza - =Ûza - =Ûzan - =Ûzhw - =Ûzú

9. A desinência -aw < -anw do acusativo plural é longa (alongamento com-


pensatório); por isso provoca deslocação do acento nos proparoxítonos e al-
teração nos properispômenos.
m¡litta > melÛtta
glÇtta > glÅttaw

mur03.p65 133 22/01/01, 11:36


134 a flexão nominal: os temas nominais

10. Os adjetivos cuja vogal temática é precedida de qualquer consoante menos


-r fazem o feminino em -h; e aqueles, cuja vogal temática é precedida
de vogal ou -r, fazem o feminino em -a longo. Por isso os adjetivos pro-
paroxítonos no masculino e neutro se tornam paroxítonos no feminino.
dÛkaiow - dikaÛa - dÛkaion: justo
§terow - ¥t¡ra - §tero(n): outro, alter

Quadro de flexão dos masculinos


de tema em -aw/-hw

T naæta- / naæth- õ naæthw o nauta, marinheiro


T mayht‹- / mayht®- õ mayht®w o aprendiz, o discípulo
T neanÛa- õ neanÛaw o rapaz, o jovem
T ƒAtreÛda- /ƒAtreÛdh- õ ƒAtreÛdhw O Atrida, o filho de Atreu

S. Nom. õ naæth-w mayht®-w neanÛa-w ƒAtreÛdh-w


Voc. Î naèta mayht‹ neanÛa ƒAtreÝda / -h
Acus. tòn naæth-n mayht®-n neanÛa-n ƒAtreÛdh-n
Gen. toè naæt-ou mayht-oè neanÛ-ou ƒAtreÛd-ou
Dat. tÒ naæt-ú mayht-» neanÛ-& ƒAtreÛd-ú
Loc. tÒ naæt-ú mayht-» neanÛ-& ƒAtreÛd-ú
Instr. tÒ naæt-ú mayht-» neanÛ-& ƒAtreÛd-ú
P. Nom. oß naèta-i mayhta-Û neanÛa-i ƒAtreÝda-i
Voc. Î naèta-i mayhta-Û neanÛa-i ƒAtreÝda-i
Acus. toçw naæta-w mayht‹-w neanÛa-w ƒAtreÛda-w
Gen. tÇn naut-Çn mayht-Çn neani-Çn ƒAtreid-Çn
Dat. toÝw naæta-iw mayhta-Ýw neanÛa-iw ƒAtreÛda-iw
Loc. toÝw naæta-iw mayhta-Ýw neanÛa-iw ƒAtreÛda-iw
Instr. toÝw naæta-iw mayhta-Ýw neanÛa-iw ƒAtreÛda-iw
D. N.V.A. tÆ naæt-a mayht-‹ neanÛ-a ƒAtreÛd-a
G.D.L.I. toÝn naæta-in mayhta-Ýn neanÛa-in ƒAtreÛda-in

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a flexão nominal: os temas nominais 135

Algumas observações sobre a flexão dos masc. em -aw/-hw:


1. O plural dos masculinos é todo em -a, igual ao dos femininos.
2. O vocativo singular dos nomes comuns (em -aw ou -hw) é em -a breve, e
provoca alteração na acentuação; o dos nomes próprios em -hw é em -h.
3. O genitivo singular é um empréstimo do artigo masc. (tema em -o).
Como nos nomes de tema em -o, há também alguns nomes e adjetivos
que têm uma vogal pré-temática e ou a, formando hiato com a vogal temática,
que o ático reduz pela contração.
Em princípio fazem a contração em a os que têm essa vogal precedida
de r; os outros fazem a contração em h:
mnaa- ² mn - mnw a mina, (quantia de dinheiro)
gal¡h- ² gal°-°w a doninha, o gambá
suk¡h- ² suk°-°w a figueira
g¡a- ² g°-°w a terra
bor¡a- õ bor¡aw -bor¡ou o vento norte, boreal
borr- õ borrw, borr o vento norte, boreal
ƒAyhn‹a- ƒAyhn-w Atena
„Erm¡h/„Erm¡a- „Erm°w-„Ermoè Hermes
Aß „HermaÝ estátuas de Hermes:
só o busto. São as Hermas
Žrgur¡a > Žrgur argêntea, prateada, de prata
xrus¡a > xrus° áurea, dourada, de ouro
kuan¡a > kuan° azul escuro
xalk¡a > xalk° de bronze
plñh > pl° simples, não composta,
não múltipla
diplñh > dipl° dupla, dobrada
triplñh > tripl° tripla, tríplice

mur03.p65 135 22/01/01, 11:36


136 a flexão nominal: os temas nominais

Quadro de flexão:

T. g¡a ² g° a terra
T. mn‹a ² mn a mina
T. Žrgur¡a Žrgur prateada, de prata
T. xrus¡a xrus° dourada, de ouro
T. „Erm¡a „Erm°w Hermes

Singular Nom. g° mn Žrgur¡a >  xrus¡a > ° „Erm°-w


Voc. g° mn Žrgur¡a >  xrus¡a > ° „Erm°
Acus. g°-n mn-n Žrgur¡a-n > n xrus¡a-n > °n „Erm°-n
Gen. g°w mnw Žrgur¡a-w>w xrus¡a-w > °w „Ermoè
Dat. g» mn˜ Žrgur¡& > ˜ xrus¡& > » „Erm»
Loc. g» mn˜ Žrgur¡& > ˜ xrus¡& > » „Erm»
Instr. g» mn˜ Žrgur¡& > ˜ xrus¡& > » „Erm»
Plural Nom. mna-Ý Žrgur¡a-i > aÝ xrus¡a-i > aÝ „Erma-Ý
Voc. mna-Ý Žrgur¡a-i > aÝ xrus¡a-i > aÝ „Erma-Ý
Acus. mn-w Žrgur¡a-w > w xrus¡a-w > w „Erm-w
Gen. mnÇn Žrgur¡vn > Çn xrus¡vn > Çn „ErmÇn
Dat. mna-Ýw Žrgur¡a-iw > aÝw xrus¡a-iw > aÝw „Erma-Ýw
Loc. mna-Ýw Žrgur¡a-iw > aÝw xrus¡a-iw > aÝw „Erma-Ýw
Instr. mna-Ýw Žrgur¡a-iw > aÝw xrus¡a-iw> aÝw „Erma-Ýw
Dual N.V.A. mn Žrgur¡a >  xrus¡a> „Erm
G.D.L.I. mn˜n Žrgur¡a-in>˜n xrus¡a-in>˜n „Erm˜n

mur03.p65 136 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 137

Os adjetivos de tema em vogal


Embora já tenhamos visto a flexão de alguns adjetivos de temas
em vogal junto com os nomes, vamos reapresentá-los num quadro em
conjunto.

Quadro de flexão de adjetivos de tema em -o/-a:

T n¡o-, n¡a-, n¡o- n¡ow, n¡a, n¡on novo, jovem


T mikrñ-, mikr‹-, mikrñ- mikrñw, mikr‹, mikrñn pequeno

S. Nom. n¡o-w n¡a n¡o-n mikrñ-w mikr‹ mikrñ-n


Voc. n¡e/n¡o-w n¡a n¡o-n mikr¡ mikr‹ mikrñ-n
Acus. n¡o-n n¡a-n n¡o-n mikrñ-n mikr‹-n mikrñ-n
Gen. n¡-ou n¡-aw n¡-ou mikr-oè mikr-w mikr-oè
Dat. n¡-Ä n¡-& n¡-Ä mikr-Ò mikr-˜ mikr-Ò
Loc. n¡-Ä n¡-& n¡-Ä mikr-Ò mikr-˜ mikr-Ò
Instr. n¡-Ä n¡-& n¡-Ä mikr-Ò mikr-˜ mikr-Ò
P. Nom. n¡o-i n¡a-i n¡-a mikro-Û mikra-Û mikr-‹
Voc. n¡o-i n¡a-i n¡-a mikro-Û mikra-Û mikr-‹
Acus. n¡-ouw n¡a-w n¡-a mikr-oæw mikr‹-w mikr-‹
Gen. n¡-vn ne-Çn n¡-vn mikr-Çn mikr-Çn mikr-Çn
Dat. n¡o-iw n¡a-iw n¡o-iw mikro-Ýw mikra-Ýw mikro-Ýw
Loc. n¡o-iw n¡a-iw n¡o-iw mikro-Ýw mikra-Ýw mikro-Ýw
Instr. n¡o-iw n¡a-iw n¡o-iw mikro-Ýw mikra-Ýw mikro-Ýw
D. N.V.A. n¡-v n¡-a n¡-v mikr-Å mikr-‹ mikr-Å
G.D.L.I. n¡o-in n¡a-in n¡o-in mikro-Ýn mikra-Ýn mikro-Ýn

mur03.p65 137 22/01/01, 11:36


138 a flexão nominal: os temas nominais

Quadro de flexão dos adjetivos de tema em -o/-h:

T mñno-, mñnh-, mñno- mñnow, mñnh, mñnon só, sozinho, único


T deinñ-, dein®-, deinñ- deinñw, dein®, deinñn valente, terrível, forte

S. Nom. mñno-w mñnh mñno-n deinñ-w dein® deinñ-n


Voc. mñne mñnh mñno-n dein¡ dein® deinñ-n
Acus. mñno-n mñnh-n mñno-n deinñ-n dein®-n deinñ-n
Gen. mñn-ou mñn-hw mñn-ou dein-oè dein-°w dein-oè
Dat. mñn-Ä mñn-ú mñn-Ä dein-Ò dein-» dein-Ò
Loc. mñn-Ä mñn-ú mñn-Ä dein-Ò dein-» dein-Ò
Instr. mñn-Ä mñn-ú mñn-Ä dein-Ò dein-» dein-Ò
P. Nom. mñno-i mñna-i mñn-a deino-Û deina-Û dein-‹
Voc. mñno-i mñna-i mñn-a deino-Û deina-Û dein-‹
Acus. mñn-ouw mñna-w mñn-a dein-oæw dein‹-w dein-‹
Gen. mñn-vn mon-Çn mñn-vn dein-Çn dein-Çn dein-Çn
Dat. mñno-iw mñna-iw mñno-iw deino-Ýw deina-Ýw deino-Ýw
Loc. mñno-iw mñna-iw mñno-iw deino-Ýw deina-Ýw deino-Ýw
Instr. mñno-iw mñna-iw mñno-iw deino-Ýw deina-Ýw deino-Ýw
D. N.V.A. mñn-v mñn-a mñn-v dein-Å dein-‹ dein-Å
G.D.L.I. mñno-in mñna-in mñno-in deino-Ýn deina-Ýn deino-Ýn

mur03.p65 138 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 139

Graus dos adjetivos

O comparativo e o superlativo dos adjetivos são expressos em gre-


go por sufixos que se acrescentam ao tema.
Os sufixos são:
-tero (-terow, a, on) / -ion (-ivn, ion) para o comparativo 21;
-tato (-tatow, h, on) / -isto (-istow, n, on) para o superlativo.

Assim: em -terow, a, on, - tatow, h, on

Tema Comparativo Superlativo


koèfow - leve koufo-* koufñterow,a,on koufñtatow,h,on
‘giow - santo agio-** giÅterow,a,on giÅtatow,h,on
glukæw - doce gluku- glukæterow,a,on glukætatow,h,on
m¡law - preto melan mel‹nterow,a,on mel‹ntatow,h,on
eéseb®w - piedoso eésebew- eéseb¡sterow,a,on eéseb¡statow,h,on

Alguns adjetivos em -aio suprimem a vogal temática antes dos


sufixos:
geraiñw - velho geraÛterow,a,on geraÛtatow,h,on***
²suxaÝow - tranqüilo ²suxaÛterow,a,on ²suxaÛtatow,h,on
palaiñw - antigo palaÛterow,a,on palaÛtatow,h,on
sxolaÝow - ocioso sxolaÛterow,a,on sxolaÛtatow,h,on

21 A flexão dos comparativos e superlativos não apresenta problemas, porque são ad-
jetivos ou de tema em vogal ou de tema em consoante, e cada tema recebe seus
casos “sufixos” (ptÅseiw).
* quando a vogal da sílaba pretemática é longa, a vogal temática se mantém inalterada;
** quando a vogal da sílaba pretemática é breve, a vogal temática é alongada.
*** não é impossível encontrar: geraiñterow/geraiñtatow; é uma questão da
lei do menor esforço.

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140 a flexão nominal: os temas nominais

Alguns outros seguem o mesmo modelo, aceitando o ditongo:


eëdiow - sereno eédi-aÛ-terow,a,on eédi-aÛ-tatow,h,on
àsow - igual Þs-aÛ-terow,a,on *Þs-aÛ-tatow,h,on
m¡sow - do meio mes-aÛ-terow,a,on mes-aÛ-tatow,h,on
öciow - tardio ôci-aÛ-terow,a,on ôci-aÛ-tatow,h,on
plhsÛow - vizinho plhsi-aÛ-terow,a,on plhsi-aÛ-tatow,h,on

Outros fazem em -Ûsterow - -Ûstatow, com a elisão da vogal


temática:
l‹low - tagarela lal-Ûsterow,a,on lal-Ûstatow,h,on
kl¡pthw - ladrão *klept¡sterow,a,on klept-Ûstatow,h,on
ptÇxow - mendigo ptvx-Ûsterow,a,on *ptvxÛstatow,h,on

A maioria dos adjetivos em -vn, -on, antes do sufixo -terow,a,on


/-tatow,h,on, tem um infixo -es-:
eédaÛmvn - feliz eédaimon-¡s-terow,a,on eédaimon-¡s-tatow,h,on
sÅfrvn - sensato svfron-¡s-terow,a,on svfron-¡s-tatow,h,on

Também os adjetivos de tema em -oo- fazem o comparativo e o


superlativo com esse infixo: -es-terow,a,on - -es-tatow,h,on, com as
contrações normais:
ploèw - simples T ploo- ploæsterow,a,on ploæstatow,h,on
eënouw - cordato T eënoo- eénoæsterow,a,on eénoæstatow,h,on

Os sufixos -terow,a,on/-tatow,h,on se apõem a algumas partí-


culas interrogativas, pronomes, advérbios ou preposições formando adje-
tivo comparativo 22:
pñ-terow - quem dos dois? êp¡r-terow - superior
§terow,a,on - um dos dois (alter) êp¡r-tatow - supremo (ìpatow)
prñ-terow - primeiro, anterior ìsterow - posterior
¦sxatow (¤j) - o último, derradeiro ìstatow - último

22 O comparativo é basicamente uma relação entre dois.

mur03.p65 140 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 141

O sufixo -terow,a,on aparece também na formação do possessivo


dos pronomes pessoais no plural:
²meÝw nós ²m¡terow,a,on nosso
êmeÝw vós êm¡terow,a,on vosso
sfeÝw eles sf¡terow,a,on de si mesmos
mfv ambos Žmfñterow,a,on de ambos
oédeÛw ninguém oéd¡terow nenhum dos dois
mhdeÛw ninguém mhd¡terow nenhum dos dois

Poucos adjetivos fazem o comparativo em -ion e o superlativo em


-isto:
kakñw - mau kakÛvn,on k‹kistow,h,on
aÞsxrñw - torpe, feio aÞsxÛvn,on aàsxistow,h,on
¤xyrñw - inimigo ¤xyÛvn,on ¦xyistow,h,on
²dæw - prazeroso ²dÛvn,on ´distow,h,on
m¡gaw - grande meÛzvn,on m¡gistow,a,on
oÞktrñw - deplorável oàktistow
taxæw - veloz y‹ssvn,on (-ttvn) t‹xistow,h,on
kalñw - belo kallÛvn,on k‹llistow,h,on
=–diow - fácil =–vn,on =˜stow,h,on

mur03.p65 141 22/01/01, 11:36


142 a flexão nominal: os temas nominais

Alguns adjetivos (poucos) formam o comparativo e superlativo


sobre temas alternativos e que não se usam no grau normal. Seriam for-
mas supletivas23. Ver à página 195.
Tema Comparativo Superlativo
Žgayñw - bom amen- ŽmeÛnvn,on
ar- ristow,h,on
belt- beltÛvn,on b¡ltistow,h,on
kret-/krat- kreÛssvn-on (-ttvn) kr‹tistow,h,on
lv- lÐvn,on lÒstow,h,on
kakñw - ruim kako- kakÛvn,on ‘k‹kistow,h,on
xer-/xeir- xeÛrvn,on xeÛristow,h,on
²k- ´ssvn,on (-ttvn) ´kistow,h,on
mikrñw - pequeno mikro- mikrñterow,a,on mikrñtatow,h,on
me- meÛvn,on
ôlÛgow - pouco oligo olÛgistow,h,on
¤laxu- ¤l‹ssvn,on (-ttvn) ¤l‹xistow,h,on
polæw - muito ple-/pol- pleÛvn,on pleÝstow,h,on
pl¡vn,on

A flexão dos comparativos em -ivn, ion apresenta certas formas


sincopadas: síncope do -n- temático intervocálico e posterior contração
das vogais em hiato: kakÛvn, k‹kion - pior.
Singular Plural
m./f. neutro m./f. neutro
N. kakÛvn k‹kion kakÛonew > kakÛouw kakÛona > kakÛv
V. k‹kion k‹kion kakÛonew > kakÛouw kakÛona > kakÛv
Ac. kakÛona > kakÛv k‹kion kakÛonew > kakÛouw kakÛona > kakÛv
G. kakÛonow kakÛonow kakiñnvn kakiñnvn
D.L.I. kakÛoni kakÛoni kakÛosi kakÛosi

23 Na verdade, seriam formas independentes, com significado próprio, que pela pro-
ximidade semântica passaram a figurar no quadro dos comparativos e superlativos
de alguns adjetivos, que não criaram comparativos e superlativos “normais”, por-
que já existiam esses outros. Seriam redundantes.

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a flexão nominal: os temas nominais 143

Observações:
As formas sincopadas são as mais usadas, mas só se encontram nos
casos “sintáticos”: nom., voc., acus.
Qualquer adjetivo no grau normal e no comparativo ou superlati-
vo pode ser usado como advérbio. Na verdade, trata-se mais de um
predicativo do infinitivo sujeito, nas orações ditas de verbo impessoal.
Contudo, quando usados adverbialmente, eles se comportam assim:
normal: o neutro singular do adjetivo deinñn
comparativo: o neutro singular do comparativo deinñteron
superlativo: o neutro plural do superlativo deinñtata

Adjetivos numerais
Os indicadores de número são os seguintes:
1. cardinais: são adjetivos, mas só os 4 primeiros cardinais têm flexão;
2. ordinais: são adjetivos triformes.
Além deles, o grego tem os multiplicativos adverbiais formados com
o sufixo -kiw.
Para registrar os cardinais, os gregos usavam as letras do alfabeto:
• as 9 primeiras para as unidades a =1; b =2;
• as 9 seguintes para as dezenas i = 20, k = 30;
• as nove restantes para as centenas r = 100, s = 200.
Os números até 999 têm no alto à direita um sinal ´:
• a´ (1).
Os números superiores a 999 têm esse índice em baixo à esquerda:
• ,a (1000).

Quando o número contém várias unidades só a última unidade re-


cebe o sinal (ápice) à direita; avmb€ = 1842.

Ver o quadro dos numerais nas páginas seguintes.

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144 a flexão nominal: os temas nominais

Sinais Cardinais Ordinais Advérbio num.

a€ 1 eåw,mÛa,§n prÇtow,h,on ‘paj


b€ 2 dæo deæterow,a,on dÛw
g€ 3 treÝw, trÛa trÛtow.h,on trÛw
d€ 4 t¡ssarew,a (-tt-) t¡tartow,h,on tetr‹kiw
e€ 5 p¡nte p¡mptow,h,on pent‹kiw
w€ 6 §j §ktow,h,on ¥j‹kiw
z€ 7 ¥pt‹ §bdomow,h,on ¥pt‹kiw
h€ 8 ôktÅ ögdoow,h,on ôkt‹kiw
y€ 9 ¤nn¡a ¦natow,h,on ¤n‹kiw
i€ 10 d¡ka d¡katow,h,on dek‹kiw
ia€ 11 §ndeka ¥nd¡katow,h,on ¥ndek‹kiw
ib€ 12 dÅdeka dvd¡katow,h,on dvdek‹kiw
ig€ 13 triskaÛdeka triskaid¡katow,h,on triwkadek‹kiw
id€ 14 tessareskaÛdeka tessarakaid¡katow,h,on tessaradek‹kiw
ie€ 15 pentekaÛdeka pentekaid¡katow,h,on pentekaidek‹kiw
iw€ 16 ¥kkaÛdeka ¥kkaid¡katow,h,on ¥kkaidek‹kiw
iz€ 17 ¥ptakaÛdeka ¥ptakaid¡katow,h,on ¥ptakaidek‹kiw
ih€ 18 ôktvkaÛdeka ôktvkaid¡katow,h,on ôktvkaidek‹kiw
iy€ 19 ¤nneakaÛdeka ¤nneakaid¡katow,h,on ¤nneakaidek‹kiw
k€ 20 eàkosi eÞkostñw,®,ñn eÞkos‹kiw
l€ 30 tri‹konta triakostñw,®,ñn triakos‹kiw
m€ 40 tessar‹konta tessarakostñw,®,ñn tessarakont‹kiw
n€ 50 pent®konta penthkostñw,®,ñn penthkont‹kiw
j€ 60 ¥j®konta ¥jhkostñw,®,ñn ¥jhkont‹kiw
o€ 70 ¥bdom®konta ¥bdomhkostñw,®,ñn ¥bdomhkont‹kiw
p€ 80 ôgdo®konta ôgdohkostñw,®,ñn ôgdohkont‹kiw
q€ 90 ¤ne®konta ¤nehkostñw,®,ñn ¤nehkont‹kiw
r€ 100 ¥katñn ¥katostñw,®,ñn ¥katont‹kiw
s€ 200 diakñsioi,ai,a diakosiostñw,®,ñn diakosi‹kiw
t€ 300 triakñsioi,ai,a triakosiostñw,®,ñn triakosi‹kiw
u€ 400 tetrakñsioi,ai,a tetrakosiostñw,®,ñn tetrakosi‹kiw
f€ 500 pentakñsioi,ai,a pentakosiostñw,®,ñn pentakosi‹kiw
x€ 600 ¥jakñsioi,ai,a ¥jakosiostñw,®,ñn ¥jakosi‹kiw
c€ 700 ¥ptakñsioi,ai,a ¥pakosiostñw,®,ñn ¥ptakosi‹kiw

mur03.p65 144 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 145

v€ 800 ôktakñsioi,ai,a ôktakosiostñw,®,ñn ôktakosi‹kiw


Q 900 ¤nakñsioi,ai,a ¤nakosiostñw,®,ñn ¤nakosi‹kiw
,a 1000 xÛlioi,ai,a xiliostñw,®,ñn xili‹kiw
,b 2000 disxÛlioi,ai,a disxiliostñw,®,ñn disxili‹kiw
,g 3000 trisxÛlioi,ai,a trisxiliostñw,®,ñn trisxili‹kiw
,d 4000 tetrakisxÛlioi,ai,a tetrakisxiliostñw,®,ñn tetrakisxili‹kiw
,e 5000 pentakisxÛlioi,ai,a pentakisxiliostñw,®,ñn pentakisxili‹kiw
,w 6000 ¥jakisxÛlioi,ai,a ¥jakisxiliostñw,®,ñn ¦jakisxili‹kiw
,z 7000 ¥ptakisxÛlioi,ai,a ¥ptakisxiliostñw,®,ñn ¥ptakisxili‹kiw
,h 8000 ôktakisxÛlioi,ai,a ôktakisxiliostñw,®,ñn ôktakisxili‹kiw
,y 9000 ¤nakisxÛlioi,ai,a ¤nakisxiliostñw,®,ñn ¤nakisxili‹kiw
a 10000 mærioi,ai,a muriostñw,®,ñn muri‹kiw
b 20000 dismærioi,ai,a dismuriostñw,®,ñn dismuri‹kiw
g 30000 trismærioi,ai,a trismuriostñw,®,ñn trismuri‹kiw
d 40000 tetrakismærioi,ai,a tetrakismuriostñw,®,ñn tetrakismuri‹kiw
e 50000 pent‹kismærioi,ai,a pentakismuriostñw,®,ñn pentakismuri‹kiw
r 1000000 ¥katontakismærioi,ai,a
¥katontakismuriostñw,®,ñn
¥katonmuri‹kiw

Notas:
1. Para registrar 6, usa-se o stigma w€, interrompendo-se a seqüência nor-
mal do alfabeto (seria o z)24:
• para registrar 90, usa-se o kopa q€;
• para registrar 900, usa-se o sampi Q.
2. Os cardinais compostos de dois números podem ser expressos de três
maneiras:
25 - ke €- eàkosi kaÜ p¡nte
25 - ke € - p¡nte kaÜ eàkosi
25 - ke €- eàkosi p¡nte

24 Contudo, para numerar os cantos da Ilíada e da Odisséia, usa-se o alfabeto normal:


o Canto VI da Ilíada é Z e o Canto VI da Odisséia é z. É uma convenção: os
cantos da Ilíada são marcados com as letras maiúsculas do alfabeto grego, e os da
Odisséia, com as minúsculas.

mur03.p65 145 22/01/01, 11:36


146 a flexão nominal: os temas nominais

Mas, em vez de acrescentar a unidade à dezena, usa-se também o


processo de diminuição da dezena subseqüente:
49 - my´ - pent®konta ¥nòw d¡ontow / muiw deoæshw = 50
faltando um / uma; (reduzida de particípio = genitivo absoluto).
49 - mh´ - pent®konta duoÝn deñntoin / duoÝn deñntoin
pent®konta = faltando dois para 50 / dois para 50.
Em geral, esse sistema só se usa com as duas últimas unidades da
dezena.
3. Os ordinais compostos podem ser expressos de três maneiras:
25 - p¡mptow kaÜ eÞkostñw
25 - eÞkostòw p¡mptow
25 - eÞkostòw kaÜ p¡mptow
4. Os adjetivos múltiplos se constroem acrescentando-se os sufixos -
ploèw,°,oèn / -pl‹siow,a,on.
ploèw,°,oèn simples
diploèw,°,oèn dipl‹siow,a,on duplo
triploèw,°,oèn tripl‹siow,a,on triplo
5. Acima de 10.000, usam-se ou os compostos com mærioi,ai,a com o
advérbio multiplicativo, ou o substantivo muri‹w-‹dow, ², a miríade.
50.000 - pentakismærioi,ai,a / p¡nte muri‹dew
6. Há também outros substantivos numerais, construídos por analogia
com muri‹w-‹dow.
mon‹w-‹dow ² a mônade / mônada, a unidade
tri‹w-‹dow, ² a tríade
dek‹w-‹dow, ² a décade,década
¥katont‹w-‹dow,² a centena
xili‹w-‹dow, ² o milhar
7. Os quatro primeiros números cardinais são declináveis (em português,
só os dois primeiros variam e, em latim, os três primeiros).

mur03.p65 146 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 147

Quadro paradigmático:

T. ¥n- mia eåw, mÛa, §n


T. duo dæo
T. tri- treÝw, trÛa
T. tessar / tettar- t¡ssarew,a

m. f. n. m. f. n. m. f. n. m. f. n.
N. eåw mÛa §n dæo treÝw trÛa t¡ssar-ew / -a
V.
A. §n-a mÛa-n §n dæo/dæv treÝw trÛa t¡ssar-aw / -a
G. ¥n-ñw miw ¥n-ñw duo-Ýn tri-Çn tri-Çn tess‹r-vn
D.L.I. ¥n-Û mi˜ ¥n-Û duo-Ýn/du-sÛ tri-sÛ tri-sÛ t¡ssar-si

7. Sobre eåw, mÛa, §n, um,uma, flexionam-se:


oédeÛw, oédemÛa, oéd¡n, nenhum, nenhuma, ninguém, nada, e sua
variante: mhdeÛw, mhdemÛa, mhd¡n.
N. oédeÛw oédemÛa oéd¡n
V.
A. oéd¡n-a oédemÛa-n oéd¡n
G. oéden-ñw oédemi-w oéden-ñw
D.L.I. oéden-Û oédemi-˜ oéden-Û

8. O grego também possui um numeral dual, de uso específico mas cons-


tante: mfv, ambos os dois, ambo, em latim, e ambos, em português.
Flexiona-se como dæo:
N.A. - mfv
G.D.L.I. - ŽmfoÝn

Há também um adjetivo derivado, possessivo:


Žmfñterow,a,on - de ambos, de cada um dos dois

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148 a flexão nominal: os temas nominais

Relativos
O grego tem três relativos básicos (anafóricos), que podemos defi-
nir assim:

Grego Português Latim


÷w, ´, ÷ que relativo de identidade qui, quae, quod
oåow, oáa, oåon qual relativo de qualidade qualis, e
÷sow, ÷sh, ÷son quanto relativo de dimensão, valor quantus, a, um
÷soi, ÷sai, ÷sa quantos plural do anterior,
relativo de quantidade quot

O relativo absoluto, de identidade, é ÷w, ´, ÷, que e tem como


antecedentes ÷de, ´de, tñde, este, esta, isto, oðtow, aìth, toèto, esse,
essa, isso, e ¤keÝnow, ¤keÛnh, ¤keÝno, aquele, aquela, aquilo ou qualquer
nome; os outros têm como antecedente um dêitico de qualidade ou de
dimensão, de tamanho ou de quantidade respectivamente.

Quadro de flexão dos relativos

T jo-/ja- ÷w, ´, ÷ que (qui, quae, quod)


T oßo-/a- oåow, oáa, oåon qual (qualis, e)
T õso-/a- ÷sow, ÷sh, ÷son quão grande (quantus,a,um)
T õso-/a- ÷soi, ÷sai, ÷sa quantos (quot)

S. N. ÷-w ´ ÷ oåo-w oáa oåo-n ÷so-w ÷sh ÷so-n


V.
A. ÷-n ´-n ÷ oåo-n oáa-n oåo-n ÷so-n ÷sh-n ÷so-n
G. oð ¸w oð oá-ou oá-aw oá-ou ÷s-ou ÷s-hw ÷s-ou
D. Ú Ã Ð oá-Ä oá-& oá-Ä ÷s-Ä ÷sú ÷s-Ä
L. Ú Ã Ð oá-Ä oá-& oá-Ä ÷s-Ä ÷sú ÷s-Ä
I. Ú Ã Ð oá-Ä oá-& oá-Ä ÷s-Ä ÷sú ÷s-Ä

mur03.p65 148 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 149

P. N. o-á a-á ‘ oåo-i oåa-i oå-a ÷so-i ÷sa-i ÷s-a


V.
A. oìw ‘w ‘ oá-ouw oáa-w oå-a ÷s-ouw ÷sa-w ÷s-a
G. Ïn Ïn Ïn oá-vn oá-vn oá-vn ÷s-vn ÷s-vn ÷s-vn
D. o-åw a-åw o-åw oáo-iw oáa-iw oáo-iw ÷so-iw ÷so-iw ÷so-iw
L. o-åw a-åw o-åw oáo-iw oáa-iw oáo-iw ÷so-iw ÷so-iw ÷so-iw
I. o-åw a-åw o-åw oáo-iw oáa-iw oáo-iw ÷so-iw ÷so-iw ÷so-iw
D. N.V.A. Ë ‘ Ë oá-v oá-a oá-v ÷s-v ÷s-a ÷s-v
G.D.L.I. o-ån a-ån o-ån oáo-in aáa-in oáo-in ÷so-in ÷sa-in ÷so-in

Notas:
1. Os relativos podem vir reforçados com o sufixo -per, (às vezes -ge ) -
precisamente, exatamente:
÷sper, ´per, ÷per exatamente que
oáosper, oáaper, oáonper exatamente qual
÷sosper, ÷shper, ÷sonper exatamente quanto
2. Nas expressões:
kaÜ ÷w, e ele
¸ dƒ ÷w, e ele disse,
trata-se de uma antiga forma de artigo, com valor demonstrativo,
anafórico (este, esse). Heródoto o emprega com freqüência.
3. O relativo ÷w, ´, ÷ se compõe também com os indefinidos:
tiw, ti - poiow,a,on, - posow,posh, poson - phlikow, h, on
para exercerem duas funções:
a) de interrogativos indiretos de identidade, qualidade, dimensão/quan-
tidade e idade, sobretudo nas interrogativas indiretas:
- eÞp¡ moi : tÛw eä; - Dize-me: - quem és? (interrogação direta)
- oék oäda ÷stiw eä. - Eu não sei quem és. (interrogação indireta)
b) de relativo indefinido:
mak‹riow ÷stiw oésÛan kaÜ noèn ¦xei - feliz quem (qualquer
um que) tem posses e juízo.

Veremos isso com mais detalhes no quadro dos correlativos (p. 162).

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150 a flexão nominal: os temas nominais

Quadro de flexão dos dêiticos

T o-, h-, to- (-de) ÷de, ´de, tñde* este, esta, isto
T oðto-/ toèto-, aìth-, oðtow, aìth, toèto esse, essa, isso
T ¤keÝnow-, h-, o-** aquele, aquela, aquilo

Sing. Nom. ÷de ´de tñde oðtw aìth toèto


Voc.
Acus tñnde t®nde tñde toèto-n taæth-n toèto
Gen. toède t°sde toède toæt-ou taæt-hw toæt-ou
Dat. tÒde t»de tÒde toæt-Ä taæt-ú toæt-Ä
Loc. tÒde t»de tÒde toæt-Ä taæt-ú toæt-Ä
Instr. tÒde t»de tÒde toæt-Ä taæt-ú toæt-Ä
Plural Nom. oáde aáde t‹de oðto-i aìta-i taèt-a
Voc.
Acus. toæsde t‹sde t‹de toæt-ouw taæta-w taèt-a
Gen. tÇnde tÇnde tÇnde toæt-vn taut-Çn toæt-vn
Dat. toÝsde taÝsde toÝsde toæto-iw taæta-iw toæto-iw
Loc. toÝsde taÝsde toÝsde toæto-iw taæta-iw toæto-iw
Instr. toÝsde taÝsde toÝsde toæto-iw taæta-iw toæto-iw
Dual N.V.A. tÅde t‹de tÅde toæt-v taæt-a toæt-v
G.D.L.I. toÝnde taÝnde toÝnde toæto-in taæta-in toæto-in

* Na verdade, é a flexão do artigo seguido de -de.


** Flexão como os adjetivos triformes em -o / -a/-h.

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a flexão nominal: os temas nominais 151

Notas:
1. Há uma outra construção, analógica a ÷de, ´de, tñde, com a partícu-
la restritiva-enfática -ge com o artigo õ, ², tñ > ÷ge, ´ge, tñge,
com significado paralelo, e com a flexão só do artigo.
2. • O significado de ÷de, ´de, tñde corresponde ao demostrativo lati-
no hic, haec, hoc, e ao portugês: este, esta, isto, isto é, referente à 1a
pessoa e aos advérbios aqui, agora.
É catafórico: - minha opinião é esta: (a que vou expor)
• O significado de oðtow, aìth, toèto corresponde ao demons-
trativo latino iste, ista, istud, e ao português esse, essa, isso, referen-
te à 2a pessoa e ao advérbio aí. Também, como em latim e portu-
guês, às vezes é usado com sentido depreciativo.
É essa! (aponta-se com o dedo)
É anafórico: é essa a minha opinião (a que acabei de expor)
• O significado de ¤keÝnow, h, o corresponde ao demonstrativo lati-
no ille, illa, illud, e ao português aquele, aquela, aquilo, referente à
3a pessoa e ao advérbio lá.
3. Tanto ÷de, ´de, tñde quanto oðtow, ‘uth, toèto são às vezes re-
forçados com o sufixo -i (locativo), que, ou substitui a vogal final bre-
ve: - õdÛ, ²dÛ, todÛ, este aqui ou se acrescenta à vogal longa: - aêthÛ,
essa aí, toutouÛ, desse aí e à consoante final: - oêtosÛ, esse aí (nom.)
toutonÛ, esse aí (acus.).
4. Os demostrativos de identidade ÷de, ´de, tñde e oðtow, aìth,
toèto se compõem também com outros demonstrativos:
• de qualidade: toÝow,a,on de tal qualidade, tal
• de dimensão: tñsow,h,on de tal dimensão, de tal valor, tanto
• de quantidade: tñsoi,ai,a de tal quantidade, tantos
• de idade: thlÛkow,h,on de tal idade 25
para fazer os seguintes demonstrativos compostos:

25 Esses demostrativos simples são usados por Homero, Hesíodo e pelos líricos; na
prosa e no ático só se usam as formas compostas (4.1 e 4.2).

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152 a flexão nominal: os temas nominais

4.1. com ÷de, ´de, tñde


toiñsde, toi‹de, toiñde desta qualidade
tosñsde, tos°de, tosñde deste tamanho, deste valor
tosoÛde, tosaÛde, tos‹de desta quantidade, tantos
thlikñsde, telik°de, telikñde desta idade
4.2. com oðtow, aìth, toèto
toioètow, toiaæth, toioèto dessa qualidade, desse tipo
tosoètow, tosaæth, tosoèto desse tamanho, desse valor
tosoètoi, tosaètai, tosaèta dessa quantidade
thlikoètow, thlikaæth, thlikoèto dessa idade
5. Alguns outros adjetivos considerados demonstrativos (catafóricos) po-
dem ser listados aqui, mas se declinam normalmente como nomes de
temas em -o para o masculino e o neutro e -a/-h para o feminino:
llow,h,o outro, outra (entre vários) alius
§terow,a,on outro (de dois) alter
§kastow,h,on cada, cada um
¥k‹terow,a,on cada um dos dois
6. O grego tem também um demonstrativo de relações mútuas, chamado
recíproco. Em português, a expressão dessa idéia passa pelo processo
analítico: - uns os outros, uns dos outros, uns aos outros.
Só tem o plural e o dual, evidentemente; e não tem nominativo
naturalmente.
Plural Ac. Žll®louw,aw,a uns os outros (obj. d.)
Gen. Žll®lvn uns dos outros
D Žll®loiw,aiw,oiw uns aos outros
L. Žll®loiw,aiw,oiw uns nos outros
I. Žll®loiw,aiw,oiw uns pelos outros
Dual Ac. Žll®lv,a,v uns os outros (obj. d.)
G.D.L.I. Žll®loin,ain,oin uns dos/aos/pelos outros

No nominativo não aparece a reciprocidade, mas a alternativa;


llow m¢n... llow d¢ (dentre muitos): um... outro
llow m¡n oänon llow dƒ ìdvr pÛnei
um bebe vinho, outro, água
§terow m¢n... §terow d¢ (de dois): um... outro

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a flexão nominal: os temas nominais 153

Interrogativos e indefinidos

1. O grego tem vários pronomes interrogativos:


a) de identidade:
-tÛw, tÛ ; quem? o quê? quis, quae, quid, quod?
-pñterow,a,on; quem (qual) dos dois?
b) de qualidade:
-poÝow, poÛa, poÝon; qual? de que qualidade? qualis, quale?
c) de dimensão, valor (sing.):
-pñsow, pñsh, pñson; quanto? quão grande? de que valor?
quantus, a, um?
d) de quantidade (pl.):
-pñsoi, pñsai, pñsa; quantos? quot?
e) de idade (tamanho):
-phlÛkow,h,on; de que idade? (tamanho)?
f) de origem:
-podapñw,®,ñn; de que país?
Com exceção de tÛw, tÛ, (T tin-), todos os outros são de tema em
-o para o masculino e neutro e -a / -h para o feminino, e por isso não
apresentam nenhuma dificuldade de flexão.
2. Para cada interrogativo há um correspondente indefinido, como em por-
tuguês: - quem? / alguém, algum.
Em grego, esses indefinidos são os próprios interrogativos, mas na
versão átona, enclítica, enquanto os interrogativos são tônicos.
Os de uso mais freqüente são:
Interrogativos Indefinidos
tÛw, tÛ quem? o quê? tiw, ti alguém, algum, algo
poÝow,a,on qual? poiow,a,on um qualquer
pñsow,h,on de que tamanho? posow,h,on de um tamanho qualquer
pñsoi,ai,a quantos? posoi,ai,a uns tantos
3. Os pronomes indefinidos (átonos) são enclíticos e se pronunciam como
tais, dentro do ritmo da frase. Mas os de duas sílabas soam como se
fossem oxítonos:
sofistaÛ tinew; - são uns sofistas! / (sophistaí tinés)/

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154 a flexão nominal: os temas nominais

4. Esses indefinidos se compõem com o relativo ÷w, ´, ÷ e se empregam


quer como interrogativos indiretos, quer como relativos indefinidos:
de identidade, ÷stiw, ´tiw, ÷ti, que, qualquer um
de qualidade, õpoÝow,a,on, de qualquer qualidade
de dimensão, õpñsow,h,on, de qualquer dimensão
de quantidade, õpñsoi,ai,a, de qualquer quantidade
de idade, õphlÛkow,h,on, de qualquer idade
de origem, õpodapñw,®,ñn, de qualquer origem
Veremos com mais detalhes no quadro dos correlativos (p. 162).

Quadro de flexão:
T. tin- tÛw, tÛ quem? o que?
T. tin- tiw, ti alguém, alguma coisa
Interrogativo Indefinido
m. f. n. m. f. n.
Sing. Nom. tÛ-w tÛ tiw ti
Voc.
Acus tÛn-a tÛ tina ti
Gen. tÛn-ow / toè tÛn-ow / toè tin-ow / tou tin-ow / tou
Dat. tÛn-i / tÒ tÛn-i / tÒ tin-i / tÄ tin-i / tÄ
Loc. tÛn-i / tÒ tÛn-i / tÒ tin-i / tÄ tin-i / tÄ
Instr. tÛn-i / tÒ tÛni- / tÒ tin-i / tÄ tini- / tÄ
Pl. Nom. tÛn-ew tÛn-a tin-ew tin-a
Voc.
Acus. tÛn-aw tÛn-a tin-aw tin-a*
Gen. tÛn-vn tÛn-vn tin-vn tin-vn
Dat. tÛ-si tÛ-si ti-si ti-si
Loc. tÛ-si tÛ-si ti-si ti-si
Instr. tÛ-si tÛ-si ti-si ti-si
Dual N.V.A. tÛn-e tÛn-e tin-e tin-e
G.D.L.I. tÛn-oin tÛn-oin tin-oin tin-oin

* As gramáticas registram uma forma alternativa tta. Não acreditamos que seja o
caso, isto é, uma forma alternativa, sincopada, ser igual ou maior do que a normal.
Veremos ‘tta por ‘tina < ‘ tina. É mais coerente.

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a flexão nominal: os temas nominais 155

Quadro de flexão:

T. õ-, ²-/- tin- ÷stiw, ÷ti: o que, qualquer

masc. fem. neutro


Sing. Nom. ÷-s ti-w ´ ti-w ÷ ti
Voc.
Acus ÷-n tin-a ´-n tin-a ÷ ti
Gen. oð tin-ow/÷tou ¸s tin-ow oð tin-ow/÷tou
Dat. Ú tin-i / ÷tÄ Ãtin-i Ú tin-i / ÷tÄ
Loc. Ú tin-i / ÷tÄ Ã tin-i Ú tin-i / ÷tÄ
Instr. Ú tin-i / ÷tÄ Ã tin-i Ú tin-i / ÷tÄ
Pl. Nom. oá tin-ew aá tin-ew ‘ tin-a / ‘tta
Voc.
Acus. oìs tin-aw ‘s tin-aw ‘ tin-a/‘tta
Gen. Ïn tin-vn Ïn tin-vn Ïn tin-vn
Dat. o-ås ti-si a-ås ti-si o-ås ti-si
Loc. o-ås ti-si a-ås ti-si o-ås ti-si
Instr. o-ås ti-si a-ås ti-si o-ås ti-si
Dual N.V.A. Ë tin-e ‘ tin-e Ë tin-e
G.D.L.I. o-ån tin-oin a-ån tin-oin o-ån tin-oin

Notas:
1. O pronome indefinido átono tiw, ti ficou em posição enclítica; os
acentos são do relativo ÷w, ´, ÷n.
2. Todos esses relativos indefinidos podem receber mais um sufixo de
indeterminação (-oun / -d®pote / -d®); nesses casos a indetermi-
nação fica mais generalizada:
õstis-oèn / õstis-d®pote / õstis-d® qualquer um, seja qual for
õpoter-oèn seja qual for dos dois
õpoios-oèn /-d® /-d®pote seja de que qualidade for
õposos-oèn /-d®/ -d®pote seja do tamanho que for
õpñsoi-oèn /-d® /-d®pote sejam quantos forem

mur03.p65 155 22/01/01, 11:36


156 a flexão nominal: os temas nominais

3. Há um outro indefinido, de uso poético, arcaico, deÛna, um tal, um


qualquer, de aparência neutro e indeclinável nos três casos sintáticos
do singular; no plural há uma variação masc.fem./neutro. Mas é teó-
rico; seu uso quase exclusivo é nos três casos sintáticos do singular:

Singular Plural
masc./fem. neutro masc./fem. neutro
Nom. deÛna deÛna deÝnew deÝna
Voc.
Acus. deÛna deÛna deÛnaw deÝna
Gen. deÝnow deÝno deÛnvn deÛnvn
Dat. deinÛ deinÛ deisÛ deisÛ
Loc. deinÛ deinÛ deisÛ deisÛ
Instr. deinÛ deinÛ deisÛ deisÛ
Observação: embora classificado como indefinido ele vem
freqüentemente precedido de artigo õ, ², tñ.
4. Há alguns adjetivos que são difíceis de enquadrar: ou entre os determi-
nativos, dêiticos, ou entre os indefinidos. Além disso, convém estar
atentos para sua função ou de mero adjunto adnominal ou com o nome
implícito, elíptico.
Assim:
• §kastow,h,on cada um, cada:
¥k‹sth pñliw - cada cidade
• ¥k‹terow,a,on cada um dos dois:
¥kat¡ra ² xeÛr - cada uma das duas mãos
• lloi outros
• oß lloi os outros (adj. substantivado), os outros (a outra parte):
² llh „Ell‹w - a outra Grécia (adjetivo, adjunto adno-
minal) - o restante da Grécia.
• §terow,a,on um dos dois, alter
• õ §terow,a,on aquele dos dois (adjetivo substantivado)
Atenção às crases: elas são estranhas:
toè ¥t¡rou > yat¡rou
tÒ ¥t¡rÄ > yat¡rÄ
tŒ §tera > y‹tera
tò §teron > y‹teron

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a flexão nominal: os temas nominais 157

• ¦nioi, ai, a alguns


• pw, psa, pn todo, qualquer
pw nyrvpow todo homem, qualquer homem
• oëtiw, oëti (oë-tiw, oë-ti) - não alguém, não algo = ninguém,
nada; Odisseu no canto IX da Odisséia.
• oédeÛw, oédemÛa, oéd¡n (oud¡ eåw) - nem um, nem uma = nin-
guém, nada.

Quadro de flexão:

T. ¤keÝno- ¤keÛnh- ¤keÝno- ¤keÝnow, ¤keÛnh, ¤keÝno aquele, aquela, aquilo


T. aétñ-, aét®-, aétñ- aétñw, aét®, aétñ mesmo (ipse), ele, ela

Sing. Nom. ¤keÝno-w ¤keÛnh ¤keÝno aétñ-w aét® aétñ


Voc.
Acus. ¤keÝno-n ¤keÛnh-n ¤keÝno aétñ-n aét®-n aétñ
Gen. ¤keÛn-ou ¤keÛn-hw ¤keÛn-ou aét-oè aét-°w aét-oè
Dat. ¤keÛn-Ä ¤keÛn-ú ¤keÛn-Ä aét-Ò aét-» aét-Ò
Loc. ¤keÛn-Ä ¤keÛn-ú ¤keÛn-Ä aét-Ò aét-» aét-Ò
Instr. ¤keÛn-Ä ¤keÛn-ú ¤keÛn-Ä aét-Ò aét-» aét-Ò
Pl. Nom. ¤keÝno-i ¤keÝna-i ¤keÝn-a aéto-Û aéta-Û aét-‹
Voc.
Acus. ¤keÛn-ouw ¤keÛna-w ¤keÝn-a aét-oæw aét‹-w aét-‹
Gen. ¤keÛn-vn ¤kein-Çn ¤keÛn-vn aét-Çn aét-Çn aét-Çn
Dat. ¤keÛno-iw ¤keÛna-iw ¤keÛno-iw aéto-Ýw aéta-Ýw aéto-Ýw
Loc. ¤keÛno-iw ¤keÛna-iw ¤keÛno-iw aéto-Ýw aéta-Ýw aéto-Ýw
Instr. ¤keÛno-iw ¤keÛna-iw ¤keÛno-iw aéto-Ýw aéta-Ýw aéto-Ýw
Dual N.V.A. ¤keÛn-v ¤keÛn-a ¤keÛn-v aét-Å aét-‹ aét-Å
G.D.L.I. ¤keÛno-in ¤keÛna-in ¤keÛno-in aéto-Ýn aéta-Ýn aéto-Ýn

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158 a flexão nominal: os temas nominais

Notas:

1. aétñw,®,ñ substitui ou é usado como 3a pessoa ou como aposto de


outras:
a) no nominativo, como aposto do sujeito implícito, reforçando a
identidade:
aétòw ¦fa [ele] mesmo, em pessoa, dizia [disse]
(expressão que os pitagóricos usavam)
aétòw ¤rÇ [eu] mesmo direi
aétoÜ perÜ eÞr®nhw ¤chfÛsasye
[vós] mesmos votastes a respeito da paz.
Nesses casos é fácil reconhecer a pessoa gramatical que está
implícita observando a desinência do verbo.
b) nos outros casos substituindo o dêitico de 3a pessoa:
kaÜ sç öcei aétñn também tu o verás
õ pat¯r aétoè o pai dele
aétoÝw ¤rÇ eu lhes direi
2. Quando precedido de artigo, aétñw,®,ñ se comporta como um adje-
tivo substantivado e significa o mesmo (e não outro), e em aposição
significa o próprio, em pessoa.
aétòw aétoÝw tŒ aétŒ ¤rÇ
eu mesmo (aétòw) lhes (aétoÝw) direi as mesmas (tŒ aétŒ) coisas
õ yeòw õ aétñw a divindade em pessoa, a própria divindade
Nesse caso, no singular, há inúmeras crases resultantes do encon-
tro do artigo com o pronome (p. 55).
No plural não há contrações, nem crases, salvo no neutro do
N.V.A.: tŒ aét‹ > taét‹.

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a flexão nominal: os temas nominais 159

Quadro de flexão de õ aétñw

Sing. Nom. õ aétñw ² aét® tò aétñ > taétñ(n)


Voc.
Acus. tòn aétñn t¯n aét®n tò aétñ > taétñ(n)
Gen. toè aétoè > taétoè t°w aét°w toè aétoè > taétoè
Dat. tÒ aétÒ > taétÒ t» aét» > taét» tÒ aétÒ > taétÒ
Loc. tÒ aétÒ > taétÒ t» aét» > taét» tÒ aétÒ > taétÒ
Instr. tÒ aétÒ > taétÒ t» aét» > taét» tÒ aétÒ > taétÒ

Pl. Nom. oß aétoÛ aß aétaÛ tŒ aét‹ > taét‹


Voc.
Acus. toçw aétoæw tŒw aét‹w tŒ aét‹ > taét‹
Gen. tÇn aétÇn tÇn aétÇn tÇn aétÇn
Dat. toÝw aétoÝw taÝw aétaÝw toÝw aétoÝw
Loc. toÝw aétoÝw taÝw aétaÝw toÝw aétoÝw
Instr. toÝw aétoÝw taÝw aétaÝw toÝw aétoÝw

Dual N.V.A. tÆ aétÅ tŒ aét‹ tÆ aétÅ


G.D.L.I. toÝn aétoÝn taÝn aétaÝn toÝn aétoÝn

mur03.p65 159 22/01/01, 11:36


160 a flexão nominal: os temas nominais

O mesmo acontece com os casos oblíquos dos pronomes pessoais


reflexivos no singular, quando aétñw,®,ñ está em aposição, significando
mesmo. São crases ou elisões.

1a pessoa do s. Ac. me mesmo (o.d.) ¤m¢ aétñn> ¤mautñn


Gen. de mim mesmo ¤moè aétoè > ¤mautoè
Dat. a mim mesmo ¤moÜ aétÒ > ¤mautÒ
1a pessoa do p. Ac. nos mesmos (o.d) ²mw aétoæw
Gen. de nós mesmos ²mÇn aétÇn
Dat. a nós mesmos ²mÝn aétoÝw
2a pessoa do s. Ac. te mesmo (o.d.) s¢ aétñn > saétñn
Gen. de ti mesmo soè aétoè > sautoè
Dat. a ti mesmo soÜ aétÒ > saétÒ
2a pessoa do p. Ac. vós mesmos êmw aétoæw
Gen. de vós mesmos êmÇn aétÇn
Dat. a vós mesmos êmÝn aétoÝw
3a pessoa do s. Ac. se mesmo (o.d.) ¥-aétñn,®n,ñ > ¥autñn,®n,ñ /
aêtñn,®n,ñ
Gen. de si mesmo ¥-autoè,°w,oè > ¥autoè,°w,oè /
aêtoè,°w,oè
Dat. a si mesmo ¥-autÒ,»,Ò > ¥autÒ,»,Ò /
aêtÒ,»,Ò
3a pessoa do p. Ac. se mesmos ¥-autoæw,‹w,‹ > ¥autoæw,‹w,‹ /
aêtoæw,‹w,‹
Gen. de si mesmos ¥-autÇn > ¥autÇn /
aêtÇn
Dat. a si mesmos ¥-autoÝw,aÝw,oÝw> ¥autoÝw,aÝw,oÝw
/aêtoÝw,aÝw,oÝw
Dual N.V.A. os dois mesmos ¤-autÅ,‹,Å > ¥autÅ,‹,Å /
aêtÅ,‹,Å
G.D.L.I. dos/aos 2 mesmos ¥autoÝn,aÝn,oÝn > ¥autoÝn,aÝn,oÝn
/aêtoÝn,aÝn,oÝn

mur03.p65 160 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 161

Os correlativos
A palavra correlativo não deve nos prender ao quadro deles. Cada
uma dessas palavras tem seu significado e função próprias. Contudo, há
uma linha racional, semântica, relacional, que pode ser vista no processo
de composição (prefixação e sufixação).
Assim, de um interrogativo direto, vamos ao indireto e daí ao inde-
finido e ao demonstrativo, que sugere o relativo e finalmente o relativo
indefinido.
O quadro da página seguinte é ilustrativo de coerência semântica e
formal.

mur03.p65 161 22/01/01, 11:36


mur03.p65

162
Interr. Diretos Interr. Indir. Indefinidos Demonstrativos Relativos Relativos Indef.
tÛw,tÛ ÷stiw, ´tiw, ÷ti tiw, ti ÷de,´de,tñde ÷w ,´, ÷ ÷stiw, ´tiw, ÷ti
oðtow, aëth, toèto ÷sper,
¤keÝnow,h,o ´per, ÷sper õstisoèn,
õstisd®
÷per õstisd®pou
quem? o que? quem, o que alguém, algo este, esse, aquele que qualquer que
162

poÝow, a, on õpoÝow, a, on poiow, a, on toÝow, toiñsde, toioètow oåow, a, on õpoÝow


qual? qual de certa qualidade tal, desta, dessa qual. qual de qualquer
qualidade
pñsow, h, on õpñsiw, h, on posow, h, on tñsow, tosñsde,
tosoètow ÷sow, õpñsow
quanto? quanto, de algum tam./ tanto, deste tamanho/valor quanto seja de que tam. for

a flexão nominal: os temas nominais


de que valor de que valor val., um quanto, desse tamanho/valor quão grande for
ou tamanho? ou tamanho de certo tam./valor qq. que seja o tam.
pñsoi ; õpñsoi posoi tñsoi ÷soi õpñsoi
quantos? quantos uns tantos tantos quantos seja quantos forem
phlÛkow ; õphlÛkow phlikow thlÛkow thlikñsde ²lÛkow õphlÛkow
thlikoètow
de que idade? de que idade de alg. idade desta id.; dessa id. que idade de qualquer idade
que seja
22/01/01, 11:36

pñterow ; õpñterow poterow õ §terow õpñterow


quem/ quem/ alg. dos dois um dos dois qualquer 1 dos 2
qual dos dois? qual dos dois
¥k‹terow
cada 1 dos 2, nenhum dos 2
podapñw ; õpodapñw pantodapñw õpodapñw
de que país? de que país de todo país de qualquer país
que seja
a flexão nominal: os temas nominais 163

Pronomes pessoais
São os verdadeiros pronomes, isto é, vêm em lugar do nome; nem
anafóricos nem catafóricos. Eles têm origem na oralidade e são basica-
mente de 1 a e 2a pessoas: eu, tu, numa linha horizontal, direta, binária e
singular. Os outros pronomes: 1 a e 2a pessoas do plural são analógicas; o
mesmo se pode dizer do dual.
O único e verdadeiro pronome (ŽntinvmÛa) é ¤gÅ, eu, que não
tem gênero, nem plural (“nós” não significa vários “eu”) e não tem deri-
vados (as formas de outras funções se constroem sobre uma outra raiz:
¤gÅ eu sujeito nominativo
¤m¡ me objeto direto acusativo
¤moè de mim complemento/adjunto adnominal genitivo
¤moÛ a mim, mim, me complemento/adjunto adnominal dativo

A segunda pessoa tu, sæ, tu, o outro pólo do diálogo, também


não tem gênero nem número (“vós” não significa vários “tu”), mas tem
as formas oblíquas construídas sobre a mesma raiz:
sæ tu sujeito nominativo
s¡ te objeto direto acusativo
soè de ti complemento/adjunto adnominal genitivo
soÛ a ti, te complemento/adjunto adnominal dativo

As 3as pessoas, singular e plural, estão fora do eixo do diálogo; são


dêiticos. É essa a origem dos “pronomes” das 3 as pessoas, desde o grego e
latim até às línguas modernas.
Em grego, o sistema de flexão verbal era suficientemente forte para
dispensar a menção do pronome pessoal agente ou paciente sujeito, a não
ser que se quisesse insistir sobre a pessoa, ela e não outra: - sou eu que...,
és tu que... (e não outro).26

26 Ver a identificação das pessoas gramaticais nas desinências verbais à p. 23.

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164 a flexão nominal: os temas nominais

Quadro de flexão dos pronomes pessoais

Primeira pessoa
Singular Plural
Nom. ¤gÅ eu ²meÝw nós
Voc.
Acus. ¤m¡ / me me ²mw nos
Gen. ¤moè / mou de mim ²mÇn de nós
Dat. ¤moÛ / moi a mim ²mÝn a nós
Loc. ¤moÛ / moi em mim ²mÝn em nós
Instr. ¤moÛ / moi por mim ²mÝn por nós
Dual
N.V.A. nÅ / nÇi nós dois
G.D.L.I. nÒn / nÇin a, de nós dois
Segunda pessoa
Singular Plural
Nom. sæ tu êmeÝw vós
Voc.
Acus. s¡ / se te êmw vos
Gen. soè / sou de ti êmÇn de vós
Dat. soÛ / soi a ti êmÝn a vós
Loc. soÛ / soi em ti êmÝn em vós
Instr. soÛ / soi por ti êmÝn por vós
Dual
N.V.A. sfÅ / sfÇi vós dois
G.D.L.I. sfÒn / sfÇin a, de vós dois

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a flexão nominal: os temas nominais 165

Notas:

1. As variantes não acentuadas, por serem átonas, são enclíticas e menos


fortes.
2. A forma antiga do pronome de 2a pessoa é tæ (latim tu).
3. Como já foi visto, não há pronomes pessoais de 3 a pessoa. Ela está
fora do eixo do diálogo. Então, naturalmente é um dêitico, anafórico.
Em grego é o dêitico oðtow, aìth, toèto - esse, essa, isso e
aétñw, ®,ñ - mesmo, o mesmo, o próprio que o substituem. Uma ex-
plicação possível da origem de aétñw é:- aé - por sua vez, também +
to, esse, aquele.27 Vejam-se as notas no quadro das flexões dos dêiticos.
4. Às vezes, para dar ênfase à pessoa, em oposição a outra ou outras, usa-
se acrescentar a partícula restritiva, enfática -ge.
¦gvge - eu, por mim ; ¤moÛge dokeÝ - a mim, pelo menos, parece
5. Em grego, como em latim, línguas de larga tradição oral, as expres-
sões de tratamento são em 2 a pessoa (singular e plural).
As expressões de tratamento em 3 a pessoa têm origem litúrgica,
palaciana, subserviente e servil e se baseiam no receio da abordagem
direta. Em alguns países e regiões de língua portuguesa e castelhana,
esse tratamento prevalece e lembra as relações senhoriais de uma socie-
dade escravocrata. A pñliw grega não concebia essas expressões de
tratamento.
6. Em Homero, existe um pronome de 3a pessoa, salvo no nominativo, e
é considerado reflexivo, com significado forte.
A partir dele a língua usa às vezes uma forma não reflexiva, fraca,
enclítica.

27 É a hipótese de A. Meillet, Traité de Grammaire Comparée du Grec et du Latin,


p. 741.

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166 a flexão nominal: os temas nominais

Quadro de flexão do pronome de 3a pessoa

Singular Plural Dual


N.V.
A. §, mÛn se, o, a sf¡aw, sf¡ se, os, as sfv¡
G. eåo ,§o, eð, §yen dele sfeÛvn, sf¡vn deles sfvÝn
D.L.I. oå, ¥oÝ lhe sfÛsi, sfÝ lhes sfvÝn

No ático e na prosa jônica houve uma simplificação desse quadro.

Singular Plural
N. sfeÝw - eles mesmos (suj.)
A. § < sWe se sfw se mesmos (o.d.)
G. oð de si (sui) sfÇn de si mesmos
D. oå / oß a si mesmo (sibi) sfÛsi a si mesmos

Mesmo assim, essas formas, sozinhas, se usam pouco; em geral vêm


enfatizadas pelo pronome em aposição aétñw,®,ñ, nas segundas e so-
bretudo na 3a pessoa, que é o uso mais comum, com valor reflexivo, isto
é, quando o ato retorna ao seu agente.

„O sofòw ¤n aêtÒ perif¡rei t¯n oésÛan. (¥-autÒ)


O sábio leva nele mesmo sua riqueza
ƒOr¡sthw feægvn ¦peisen ƒAyhnaÛouw ¥autòn kat‹gein.
Orestes, estando no exílio, persuadiu os Atenienses de trazê-lo de
volta.
GnÇyi sautñn. (se-aétñn)
Conhece te a ti-mesmo.
Tòn fÛlon pròw ¥autòn ¦labe. (¥-aétñn)
Ele pegou o amigo para junto de si.
L¡gousi ÷ti metam¡lei aêtoÝw (¥-aétoÝw)
Eles afirmam que [isso] lhes traz preocupação.

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a flexão nominal: os temas nominais 167

Temas em consoante e soante/semivogal

Pertencem a este grupo todos os substantivos masculinos, femini-


nos e neutros e todos os adjetivos e dêiticos cujo tema termina em con-
soante ou soante/semivogal.
Qualquer consoante pode servir de tema, menos m, j, c; as soantes/
semivogais são: i, u, W, j.

Quadro geral das desinências

Masc./Fem. Neutros
Singular
Nom. -w/alongamento da vogal temática Tema puro/desinência zero
Voc. Tema puro/desinência zero
/igual ao nom. Tema puro/desinência zero
Ac. -n > a Tema puro/desinência zero
Gen. -ow -ow
Dat. -i -i
Loc. -i -i
Instr. -i -i
Plural
Nom. -ew -a
Voc. -ew -a
Ac. -nw > aw / enw> eiw -a
Gen. -vn -vn
Dat. -si -si
Loc. -si -si
Instr. -si -si
Dual
N.V.A. -e -e
G.D.L.I. -oin -oin

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168 a flexão nominal: os temas nominais

Notas:

1. Como se pode notar, apenas duas desinências são consonânticas: o no-


minativo singular masc./fem.: -w e o dat./loc./inst. plural: -si.
O acusativo sing. e plural masc/fem. não é consonântico; ele é em
líqüida/soante -n que se vocaliza em -a sempre que, em posição final,
vem depois de consoante (patrÛd-n > patrÛda) e sofre síncope, quan-
do precedido de vogal e seguido de -w (Þxyæ-nw > Þxyæw).
Isso nos leva a concluir que a flexão desses nomes é bastante fácil:
basta acrescentar as desinências vocálicas aos temas em consoante, com
que fazem sílaba, e aos temas em semivogal, com que fazem ditongo.
2. Nas desinências em consoante (-w/-si), o encontro das consoantes te-
máticas com essas desinências se resolve observando-se as normas fo-
néticas comuns. Mostraremos isso em detalhe nos quadros de flexão.
3. Nos nomes de tema em u- (Þxyu-), o nominativo plural Þxyæ-ew pode
se contrair em Þxyæw; o mesmo acontecendo no acusativo plural Þxyæ-
nw em Þxyæw.
Nesses dois casos há o alongamento compensatório do u. Nesse
caso normalmente o acento deveria ser circunflexo, em se tratando de
sílaba final longa. Mas, por convenção, não se acentuam com circun-
flexo os acusativos plurais longos, mesmo com sílaba final tônica:
õdoæw, deinoæw, Žgor‹w, kefal‹w.
4. As gramáticas registram desinências iguais em -eiw para o nominativo
e acusativo plural em alguns nomes e adjetivos: pñleiw - ŽlhyeÝw.
Na verdade, o ditongo -ei nos dois casos é um resultado aparente-
mente igual, mas produto de componentes diferentes.
a) No caso do Nom. pl. pñleiw, é o resultado da contração de e-e:
pñlejew > pñle-ew > pñleiw.
O -j- em posição intervocálica sofre síncope, pondo em contato
duas vogais, que o ático reduz em ditongo.
b) No caso do Acus. pl., pñleiw é o resultado da vocalização do -j-
antes de consoante e posterior síncope do -n- diante de -w-:
pñlej-nw > pñleinw > pñleiw.
c) No caso do Acus. pl. ŽlhyeÝw, a evolução é a seguinte:
Žlhy¡s-nw > Žlhy¡nw > ŽlhyeÝw.

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a flexão nominal: os temas nominais 169

Síncope das duas consoantes -sn- antes do -w e alongamento com-


pensatório da vogal anterior.
5. Os nomes de tema em es- (g¡nes-, Žlhy¡s-, SÅkrates-), ao rece-
berem uma desinência vocálica, sofrem a síncope desse -s- e põem em
contato duas vogais, formando um iato, que, no dialeto ático, é redu-
zido por contração:
g¡nes-a > g¡nea > g¡nh
Svkr‹tes-ow > Svkr‹teow > Svkr‹touw
6. Os nomes de tema em nt- têm dois tratamentos diferentes no nomi-
nativo singular masculino:
a) os nomes de tema em -ont- (l¡ont-,) e os particípios do infec-
tum em -ont- (læ-o-nt-), ao receberem o -w do nominativo mas-
culino singular, sofrem apócope do -w e do -t-, e, por compensa-
ção, alongam a vogal do tema:
T. l¡ont- l¡ont-w l¡vn
T. læ-o-nt- læ-o-nt-w lævn.28
b) os outros temas em -nt-, ao receberem -w no masculino, sofrem a
síncope29 do -nt- antes do -w e, por compensação, alongam a vo-
gal do tema:
T. gÛgant- gÛgantw > gÛgaw
T. læ-sa-nt- læsantw > læsaw
T. lu-y®-nt- luy®ntw > luy¡ntw > luyeÛw
T. deÛk-nu-nt- deiknæntw > deiknæw
(as vogais a, i, u têm o mesmo registro, quer sejam longas quer sejam breves).
7. No dativo plural, as consoantes -nt- do tema sofrem síncope 30 antes
do -si e alongam, por compensação, a vogal anterior:
T. l¡ont- l¡ont-si > l¡ousi
T. læo-nt- læont-si > læousi
T. gÛgant- gÛgant-si > gÛgasi
T. lu-y®-nt- luy¡nt-si > luyeÝsi
T. deÛk-nu-nt- deÛknunt-si > deÛknusi.

28 Uma outra hipótese é que o -t do tema em posição final sofre apócope e a seguir
a vogal anterior se alonga no nominativo masc./fem., como os temas en -n.
29 Sucessivamente do t e do n.

30 Sucessivamente do t e do n.

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170 a flexão nominal: os temas nominais

8. Os nomes masculinos e femininos de tema em líqüida (n, r) alongam


a vogal do tema no nominativo:31
T. =°tor- õ =®tvr =®torow o orador
T. daÝmon- õ daÛmvn daÛmonow o nume
9. Alguns nomes em líqüida têm o tema longo: ŽgÅn- ŽgÇn-ow. Nes-
se caso, naturalmente, constroem toda a flexão sobre o tema longo:
T. ŽgÅn- : Nom. s. õ ŽgÅn
Dat. pl. toÝw ŽgÇnsi > ŽgÇsi
10. No dativo/locativo/instrumental plural os nomes em -n depois de vo-
gal temática breve sofrem síncope do -n antes do -si, sem alongarem
a vogal anterior:
T. daÝmon - Nom.s õ daÛmvn Gen.s toè daÛmon-ow D.L.I.pl. toÝw daÛmosi;
T. lim¡n - Nom.s õ lim®n Gen.s toè lim¡n-ow D.L.I.pl. toÝw lim¡si
Mas, quando houver síncope de -nt-, o alongamento compensa-
tório é natural, por serem duas as consoantes suprimidas:
T. l¡ont- õ l¡vn toÝw l¡ont-si > l¡ousi
T. luy¡nt- luyeÛw toÝw luy¡nt-si > luyeÝsi
11. Os neutros não têm desinência própria (desinência zero). Nos casos
sintáticos do singular (nom., voc., acus.) mantêm “desinência zero”,
isto é, o próprio tema.
Nos casos concretos do singular e plural (gen., dat., loc., instr.)
usam as desinências do masc./fem.
O -a do nom., voc., acus. plural é a marca do coletivo indo-europeu.
Uma vez reconhecido o tema do substantivo ou adjetivo e identi-
ficado seu gênero, não será difícil flexionar todos esses nomes.
As “irregularidades” que acontecem são problemas fonéticos que
se resolvem no aparelho fonador, dentro das normas fonéticas do
grego.

31 Seria uma espécie de compensação pela queda do -w final, que é a marca do nom.
masc./fem.

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a flexão nominal: os temas nominais 171

Exercício prático de identificação dos temas

Instruções:
1. Na primeira coluna está o genitivo singular 32.
Isolada a desinência do genitivo, em princípio, teremos o tema.
Convém notar, contudo, que, em algumas palavras, a desinência
do genitivo singular sofre alterações fonéticas, como nos temas em -w,
W, e j.:
T. g¡nes- g¡nes-ow > g¡neow > g¡nouw do gênero, da raça
T. steW- steW-ow > ste-ow > stevw da cidadela
T. pñlj-, ej-, hj- pñlhj-ow > pñlh-ow > pñlevw da cidade
Esse fato dificulta a identificação do tema.
2. Na segunda coluna está o nominativo singular:
Se é igual ao tema, trata-se de um neutro, porque o neutro tem
desinência zero no nom. sing.
Os neutros de tema em oclusiva não a mantêm em posição final:
T. sÇmat- sÅmat-ow tò sÇma o corpo
T. luy¡nt- luy¡nt-ow luy¡n desligado, solto
a) Os neutros de tema em -w e em -r têm a vogal anterior ao -s-
breve, por serem o próprio tema, contrariamente aos masculinos
e femininos que a têm longa:
T. g¡nes- g¡nes- ow > g¡nouw tò g¡now raça, gênero
T. SÅkrates- Svkr‹tes-ow > Svkr‹touw õ Svkr‹thw Sócrates
T. Žlhy¡s- (masc. e fem.) Žlhy®w, real, verdadeiro
(neutro) Žlhy¡w
b) Se tem um -w combinado ou não com outra consoante oclusiva:
T. fl¡b- > fleb-ñw fl¡c, ² a veia
T. aäg- > aÞg-ñw aäj, ² a cabra
T. lamp‹d- > lamp‹d-ow lamp‹w, ² a tocha, archote
trata-se de um masculino ou feminino.

32 Mantivemos essa norma tradicional, porque é assim que as gramáticas e dicioná-


rios registram os nomes, para indicar a que “declinação” pertencem. Cremos que,
ao lado disso, deveríamos registrar os temas.

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172 a flexão nominal: os temas nominais

c) Se a vogal temática está alongada:


T. =°tor > =®tor-ow =®tvr, õ o orador
T. l¡ont- > l¡ont-ow l¡vn, õ o leão
T. poim¡n > poim¡n-ow poim®n, õ o pastor
trata-se de um nome masculino ou feminino de tema em líqüida -
r, -n ou -ont
d) Se tem um -w acrescentado à semivogal do tema:
T. Þxyæ- > Þxyæw-æow, o o peixe
T. á- > áw, ßñw, ² a força
trata-se de um masculino ou feminino em -i / -u
3. Na terceira coluna está o vocativo singular.
Rigorosamente, deve ser o tema puro (desinência zero) igual ao da
primeira coluna, porque o vocativo não é caso e por isso não deve ter
desinência (desinência zero).
Se o vocativo for igual ao nominativo, é porque o tema é em con-
soante, e a apócope dela em posição final descaracterizaria fonética e
semanticamente o nome 33.
4. Na quarta coluna está o dativo, loc., instr., plural.
O encontro da desinência -si com o tema deve produzir os mes-
mos resultados fonéticos que no nominativo singular do masc. e fem.
a) nos temas em -r, o -si se adapta normalmente; =®tor-si;
b) nos temas em -n há a síncope dessa consoante sem mais conse-
qüências; T. ²gemñn- ²gemñn-si > ²gemñsi
c) nos temas em -nt há síncope dessas duas consoantes e alonga-
mento da vogal anterior. T. l¡ont- l¡ont-si > l¡ousi
d) nos temas em oclusivas labiais e velares, o -w da desinência resulta
em c com as labiais e j com as velares; com as dentais há a assi-
milação da dental >ss e posterior redução >s;
e) nos temas em -s, há a duplicação >ss e posterior redução >s.

33 Ver explicação mais detalhada no capítulo da flexão nominal (p. 95-6).

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a flexão nominal: os temas nominais 173

Gen. sing. Nom. sing. Voc. sing. Dat. pl.

paid-ñw paÝw paÝ paisÛ menino, menina


fleb-ñw fl¡c fl¡c flecÛ a veia
gup-ñw gæc gæc gucÛ o abutre
kat®lif-ow kay°lic kay°lic kay®lici o sótão
aÞg-ñw aäj aäj aÞjÛ a cabra
fælak-ow fælaj fælaj fælaji o vigia
g¡ront-ow g¡rvn g¡ron g¡rousi o ancião
læont-ow lævn lèon læousi desligante
læont-ow lèon lèon læousi desligante
önt-ow Ên ön oïsi quem é - masc.
önt-ow ön ön oïsi o que é - neut.
ôdñnt-ow ôdoæw ôdñn ôdoèsi o dente
pant-ñw pw pn psi todo homem - masc.
pant-ñw pn pn psi toda coisa - neut.
deiknænt-ow deiknæw deiknæn deiknèsi mostrante - masc.
deiknænt-ow deiknæn deiknæn deiknèsi mostrante - neut.
luy¡nt-ow luyeÛw luy¡n luyeÝsi desligado - masc.
luy¡nt-ow luy¡n luy¡n luyeÝsi desligado - neut.
gÛgant-ow gÛgaw gÛgan gÛgasi gigante
læsant-ow læsaw lèsan læsasi tendo desligado - m.
læsant-ow lèsan lèsan læsasi tendo desligado - n.
=®tor-ow =®tvr =°tor =®torsi o orador
gast¡r-ow gast®r g‹ster gast¡rsi o estômago
yhr-ñw y°r y°r yhrsÛ a caça, presa, fera
aÞy¡r-ow aÞy®r aÞy¡r aÞy¡rsi o éter
n¡ktar-ow n¡ktar n¡ktar n¡ktarsi o néctar
l-ñw ‘lw ‘lw lsÛ o sal
fr¡at-ow fr¡ar fr¡ar fr¡asi o poço
´pat-ow ¸par ¸par ´pasi o fígado
gra-ñw graèw graè grausÛ a velha
m‹nte-vw m‹ntiw m‹nti m‹ntesi o adivinho
pel¡ke-vw p¡lekuw p¡leku pel¡kesi o machado
st-evw stu stu stesi a cidadela
p®x-evw p°xuw p°xu p®xesi o côvado

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174 a flexão nominal: os temas nominais

Gen. sing. Nom. sing. Voc. sing. Dat. pl.

²d¡-ow ²dæw ²dæ ²d¡si suave, doce - masc.


²d¡-ow ²dæ ²dæ ²d¡si suave, doce - neut.
bay¡-ow bayæw bayæ bay¡si profundo
tax¡-ow taxæw taxæ tax¡si rápido
Èk¡-ow Èkæw Èkæ Èk¡si veloz
tri®r-ouw tri®rhw trÛhrew tri®resi trirreme
Svkr‹t-ouw Svkr‹thw SÅkratew Sócrates
Dhmosy¡n-ouw Dhmosy¡nhw Dhmñsyenew Demóstenes
Prajit¡l-ouw Prajit¡lhw PrajÛtelew Praxíteles
g¡n-ouw g¡now g¡now g¡nesi gênero, raça
b‹y-ouw b‹yow b‹yow b‹yesi profundidade
ìc-ouw ìcow ìcow ìcesi altura
Žlhy-oèw Žlhy®w Žlhy¡w Žlhy¡si verdadeiro - masc.
Žlhy-oèw Žlhy¡w Žlhy¡w Žlhy¡si verdadeiro - neut.
sun®y-ouw sun®yhw sun°yew sun®yesi habitual - masc.
sun®y-ouw sun°yew sun°yew sun®yesi habitual - neut.
ceud-oèw ceud®w ceud¡w ceud¡si falso - masc.
ceud-oèw ceud¡w ceud¡w ceud¡si falso - neut.
ceæd-ouw ceèdow ceèdow ceædesi a mentira
„Hrakl¡-ouw „Hrakl°w „Hr‹kleiw Heraclés
aÞd-oèw aÞdÅw aÞdoÝ respeito, pudor
peiy-oèw peiyÅ peiyoÝ persuasão
±x-oèw ±xÅ ±xoÝ eco
Lht-oèw LhtÅ LhtoÝ Letô - Latona
Sapf-oèw SapfÅ SapfoÝ Safo
kr¡-vw kr¡aw kr¡aw kr¡asi carne
g®r-vw g°raw g°raw g®rasi velhice
g¡r-vw g¡raw g¡raw g¡rasi dom, presente
Žndr-ñw Žn®r ner Žndr‹si varão
gunaik-ñw gun® gænai gunaijÛ mulher
ƒApñllvn-ow ƒApñllvn …Apollon Apolo
…Ar-evw …Arhw …Arew Ares
D®mhtr-ow Dhm®thr D®mhter Deméter
Di-ñw Zeæw Zeè Zeus

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a flexão nominal: os temas nominais 175

Gen. sing. Nom. sing. Voc. sing. Dat. pl.

´rv-ow ´rvw ´rvw ´rvsi herói


m‹rtur-ow m‹rtuw m‹rtu m‹rtusi testemunha
k¡rat-ow k¡raw k¡raw k¡rasi chifre, ala
k¡r-vw k¡raw k¡raw k¡rasi chifre, ala
ne-Åw naèw naè nausÛ nau
ôneÛrat-ow önar önar ôneÛrasi sonho
PoseidÇn-ow PoseidÇn Pñseidon Poseídon
ê-oè êñw ê¡ êoÝw filho
ê¡-ow/êi¡-ow êñw ê¡ ê¡si filho
xeir-ñw xeÛr xeÛr xersÛ mão
xer-ñw xeÛr xeÛr xersÛ mão
kont-ow kvn kon kousi invito - masc.
kont-ow kon kon kousi invito - neut.
¥kñnt-ow ¥kÅn ¥kñn ¥koèsi voluntário
xari¡nt-ow xarieÛw xari¡n xarieÝsi grato, gracioso
xari¡nt-ow xari¡n xari¡n xarieÝsi grato, gracioso
t¡ren-ow t¡rhn t¡ren t¡resi tenro - masc.
t¡ren-ow t¡ren t¡ren t¡resi tenro - neut.
didñnt-ow didoæw didñn didoèsi dante, dando - masc.
didñnt-ow didñn didñn didoèsi dante, dando - neut.
lamp‹d-ow lamp‹w lamp‹w lamp‹si tocha
örniy-ow örniw örni örnisi pássaro, ave
frontÛd-ow frontÛw frontÛ frontÛsi mente, pensamento
sÅmat-ow sÇma sÇma sÅmasi corpo
x‹rit-ow x‹riw x‹ri x‹risi graça, favor
ŽgÇn-ow ŽgÅn ŽgÅn ŽgÇsi liça, combate
lim¡n-ow - lim®n lim¡n lim¡si porto
Žhdñn-ow ŽhdÅn Žhdñn Žhdñsi rouxinol
=in-ñw =Ûw =Ûw =isÛ nariz
eédaÛmon-ow eédaÛmvn eëdaimon eédaÛmosi contente, feliz
l¡ont-ow l¡vn l¡on l¡ousi leão
m¡lan-ow m¡law m¡lan m¡lasi negro - masc.
m¡lan-ow m¡lan m¡lan m¡lasi negro - neut.
meÛzon-ow meÛzvn meÝzon meÛzosi maior - masc.

mur03.p65 175 22/01/01, 11:36


176 a flexão nominal: os temas nominais

Gen. sing. Nom. sing. Voc. sing. Dat. pl.

meÛzon-ow meÝzon meÝzon meÛzosi maior - neut.


²dÛon-ow ²dÛvn ´dion ²dÛosi mais suave - masc.
²dÛon-ow ´dion ´dion ²dÛosi mais suave - neut.
del¡at-ow d¡lear d¡lear del¡asi isca
p¡rat-ow p¡raw p¡raw p¡rasi limite, fim
kñrak-ow kñraj kñraj kñraji corvo
ŽlÅpek-ow ŽlÅphj ŽlÅphj ŽlÅpeji raposa
§lminy-ow §lmiw §lmiw §lmisi lombriga
kten-ñw kteÛw kt¡n ktesÛ pente
Èt-ñw oïw oïw ÈsÛ ouvido
nakt-ow naj na naji senhor
²gemñn-ow ²gemÅn ´gemon ²gemñsi comandante, guia
mhn-ñw m®n m®n mhsÛ mês, lua
ŽktÝn-ow ŽktÝn ŽktÝn ŽktÝsi raio
nukt-ñw næj næj nujÛ noite
flog-ñw flñj flñj flojÛ chama
¤sy°t-ow ¤sy®w ¤sy°w ¤sy°si veste, roupa
‘rmat-ow ‘rma ‘rma ‘rmasi carro, carruagem
g‹lakt-ow g‹la g‹la g‹laji leite
m¡lit-ow m¡li m¡li m¡lisi mel
dñrat-ow dñru dñru dñrasi lança
d‹kru-ow d‹kru d‹kru d‹krusi lágrima
pur-ñw pèr pèr pursÛ fogo
gñnat-ow gñnu gñnu gñnasi joelho
kñruy-ow kñru kñru kñrusi elmo, capacete
kleid-ñw kleÛw kleÛ kleisÛ chave
Ž¡r-ow Ž®r Ž¡r Ž¡rsi ar
Þxyæ-ow Þxyæw Þxyæ Þxyæsi peixe
bñtru-ow bñtruw bñtru bñtrusi cacho de uva
n¡ku-ow n¡kuw n¡ku n¡kusi morto, cadáver
su-ñw sèw sè susÛ porco
mu-ñw mèw mè musÛ rato, camondongo
x¡lu-ow x¡luw x¡lu x¡lusi tartaruga
dru-ñw drèw drè drusÛ carvalho

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a flexão nominal: os temas nominais 177

Gen. sing. Nom. sing. Voc. sing. Dat. pl.

pÛtu-ow pÛtuw pÛtu pÛtusi pinheiro


krat°r-ow krat®r krat®r krat°rsi vaso, cratera
gumn°t-ow gumn®w gumn®w gumn°si ginasta
pñle-vw pñliw pñli pñlesi cidade
dun‹me-vw dænamiw dænami dun‹mesi potência, força
ìbre-vw ìbriw ìbri ìbresi insolência
AÞyÛop-ow AÞyÛoc AÞyÛoc AÞyÛoci Etíope
Žndri‹nt-ow Žndri‹w Žndri‹n Žndrisi estátua
…Arab-ow …Arac …Arac …Araci Árabe
¤l¡fant-ow ¦lefaw ¦lefan ¤l¡fasi marfim, elefante
patr-ñw pat®r p‹ter patr‹si pai
mhtr-ñw m®thr m°ter mhtr‹si mãe
yugatr-ñw yug‹thr yægater yugatr‹si filha
basil¡-vw basileæw basileè basileèsi rei
ßer-¡vw ßereæw ßereè ßereèsi sacerdote
bo-ñw boèw boè bousÛ boi, vaca
kun-ñw kævn kævn kusÛ cão, cadela
trix-ñw yrÛj yrÛj yrijÛ cabelo
ki-ñw kÝw kÝw kisÛ caruncho de trigo
teÛx-ouw teÝxow teÝxow teÛxesi parede, muralha
pel‹g-ouw p¡lagow p¡lagow pel‹gesi o mar
ny-ouw nyow nyow nyesi a flor
brab-¡vw brabeæw brabeè brabeèsi árbitro
drom-¡vw dromeæw dromeè dromeèsi corredor
fæs-evw fæsiw fæsi(w) fæsesi natureza
sin‹p-evw sÛnapi sÛnapi sin‹pesi mostarda
stÛmm-evw stÛmmi stÛmmi stÛmmesi antimônio
pep¡r-evw p¡peri p¡peri pep¡resi pimenta

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178 a flexão nominal: os temas nominais

Quadro geral das dificuldades fonéticas

Temas em Tema Nom. sing. D.L.I. pl.


velar (a) T. fulak- o vigia fælaj fælaji
T. aig- a cabra aäj aÞjÛ
T. onux- a unha önuj önuji
labial (b) T. gup- o abutre gæc gucÛ
T. fleb- a veia fl¡c flecÛ
T. kathlif- o porão, sotão kat°lic kat®lici
dental (c) T. xarit- o favor x‹riw x‹risi
T. paid- menino (a) paÝw paisÛ
T. orniy- a ave örniw örnisi
T. svmat- o corpo sÇma sÅmasi

(a) Nominativo singular e dat. loc. instr. plural sigmáticos, combi-


nando com a velar do tema: g, k, x - w > j
(b) Nominativo singular e dat. loc. instr. plural sigmáticos, combi-
nando com a labial do tema: b, p, f - w > c
Não há neutro de tema em labial
(c) Nominativo singular masc./fem. e dat. loc. instr. plural sigmáticos
(a dental do tema se assimila e cai):
d,t,y -w > ss > w.
Nos neutros, a dental temática em posição final no nomina-
tivo singular sofre apócope: sÅmat > sÇma;
no dat. loc. instr. plural a dental do tema se assimila:
sÅmat-si > sÅmassi > sÅmasi.

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a flexão nominal: os temas nominais 179

Temas em Tema Nom. sing. D.L.I. pl.


líqüida -r (a) =htor- o orador =®tvr =®torsi
¦ar- a primavera ¦ar ¦arsi
r/er (b) patr- o pai pat®r patr‹si
líqüida -n (c) hgemon- o comandante ²gemÅn ²gemñsi
poimen- o pastor poim®n poim¡si
Žgvn- o combate ŽgÅn ŽgÇsi

(a) Alongamento compensatório da vogal temática no nom. sing.


masc./fem.; (=°tor- > =®tvr) desinência zero nos neutros
(¦ar).
(b) A flexão se faz sobre tema em vocalismo zero (patr-) no genitivo
(patr-ñw), dat. loc. e instr. sing. (patr-Û) e sobre vocalismo -
e- nos outros casos, (p‹ter, pat¡r-a, pat¡r-ew. pat¡r-aw,
pat¡r-vn) e alongamento da vogal temática no nom. sing.
(pat®r).
No dat.plural uma vogal epentética -a- desfaz a seqüência
das três consoantes -trs- (patrsi > patr‹si).
(c) Alongamento compensatório da vogal temática no nom. sing.
masc. e fem. e síncope do n antes do s no dat. loc. instr. plural.

Temas em -nt-
Tema Nom. sing. D.L.I. pl.
-nt (a) gigant- gigante gÛgaw gÛgasi
luyent- desligado luyeÛw (masc.) luyeÝsi
luyent- desligado luy¡n (neutro) luyeÝsi
deiknunt- que mostra deiknæw deiknèsi
ont (b) leont- leão l¡vn l¡ousi
luont- que desliga lævn (masc.) læousi
luont- que desliga lèon (neutro) læousi

(a) Síncope das dentais -nt- diante do -w, no nominativo singular


masc. com alongamento compensatório da vogal temática, o mes-
mo acontecendo no dat. loc. instr. plural masc. e neutro.

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180 a flexão nominal: os temas nominais

• Apócope da dental final no nominativo singular neutro


(luy¡nt > luy¡n).
(b) • Alongamento da vogal temática no nominativo singular mas-
culino (síncope de -tw) leontw > l¡vn, læontw > lævn
• Apócope da dental final no nominativo do neutro (desinência
zero) lèont- > lèon; no dat. loc. instr. plural, síncope das den-
tais -nt- antes do -s, com alongamento compensatório da vogal
temática (o > ou).

Temas em Tema Nom. sing. D.L.I. pl.


-s genes- a raça g¡now (neutro) g¡nesi
kreas- a carne kr¡aw (neutro) kr¡asi
aidos- o pudor aÞdÅw (fem.) *aÞdñsi
Svkrates- Sócrates Svkr‹thw (masc.)
alhyes- verdadeiro Žlhy®w (masc.) Žlhy¡si
alhyes- verdadeiro Žlhy¡w (neutro) Žlhy¡si

* aÞdñsi: é uma forma teórica (pudor, respeito não tem plural).

• Nos substantivos neutros de tema em -es: alternância fonética -ow nos


casos sintáticos do singular e -es nos outros casos e no plural.
• Nos adjetivos neutros de tema em -es não há alternância vocálica.
• Nos substantivos e adjetivos masculinos e femininos de tema em -s-:
alongamento da vogal temática no nominativo singular.

Em toda a flexão dos substantivos e adjetivos de tema em -s, o s


em posição intervocálica sofre síncope e, no ático, as vogais em contato
se contraem; no jônico não.

mur03.p65 180 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 181

Temas em Tema Nom. sing. D.L.I. pl.


u (a) ixyu- peixe Þxyæw Þxyæsi
j/ej/hj (b) polj- cidade pñliw pñlesi
hW (c) fonhW- assassino foneæw foneèsi
-W/eW (d) taxeW-/taxW- rápido taxæw taxeèsi

(a) Contração possível e freqüente no nominativo plural masc. e fem.


(Þxyæew > Þxyèw) e síncope do n antes do s no acusativo plural
(Þxyænw > Þxyæw).
(b) 1. vocalização do j final e não intervocálico (nom., voc., acus.
sing.):
nom.: pñliw - voc.: pñli / pñliw - acus.: pñlin
2. síncope do j intervocálico:
dat. sing.: poleji > pñle-i > pñlei
3. síncope do j intervocálico e metátese de quantidade:
gen. sing.: pñlhjow > pñlhow/pñlevw
4. síncope do j intervocálico e contração das vogais do mesmo
timbre:
nom. pl.: pñlejew > pñleew > pñleiw
5. vogais de timbre diferente não se contraem:
gen. pl.: pñlejvn > pñlevn (ditongação de -evn por ana-
logia com o gen. sing.)
6. Vocalização do j depois de consoante e síncope do -n antes do -w:
acus. pl.: pñlejnw > pñleinw > pñleiw
(c) 1. o W seguido de consoante se vocaliza em -u.
2. metátese de quantidade: longa + breve > breve + longa.
fonhuw > foneæw
3. as vogais do mesmo timbre se contraem; as outras não.
4. no D.L.I. do singular fon®Wi > fon®i; na seqüência de duas
longas, a anterior se abrevia:
fon®i > fon¡i> foneÝ
(d) temas em W com vocalismo zero/e
1. vocalismo zero nos casos sintáticos do singular (nom., voc., acus.).
2. vocalismo e nos outros do singular e em todo o plural
3. vogais de tibre diferente não se contraem. O W não intervocá-
lico ou em posição final se vocaliza em u.

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182 a flexão nominal: os temas nominais

Observação:
As informações necessárias para a flexão dos nomes em consoante e
semivogal estão aí. Contudo, há uma lista de alguns nomes que apresentam
uma certa anormalidade. Não são propriamente irregularidades; são algu-
mas formas que evoluíram foneticamente e ficaram petrificadas, ao lado de
outras; mas são muito poucas e estão no quadro prático de reconhecimento do
tema e na lista dos heteroclíticos (p. 216).

Quadros de flexão:
1. Nomes de tema em oclusiva velar:

T. fælak- õ fælaj fælakow o vigia


T. s‹lpigg- ² s‹lpigj s‹lpigg-ow a trombeta
T. önux- ² önuj önux-ow a unha, a garra
T. b°x- ² b°j bhx-ñw a tosse
T. trÛx- ² yrÛj trix-ñw o cabelo

Sing. Nom. fælaj s‹lpigj önuj b°j yrÛj


Voc. fælaj s‹lpigj önuj b°j yrÛj
Acus. fælak-a s‹lpigg-a önux-a b°x-a trÛx-a
Gen. fælak-ow s‹lpigg-ow önux-ow bhx-ñw trix-ñw
Dat. fælak-i s‹lpigg-i önux-i bhx-Û trix-Û
Loc. fælak-i s‹lpigg-i önux-i bhx-Û trix-Û
Instr. fælak-i s‹lpigg-i önux-i bhx-Û trix-Û
Pl. Nom. fælak-ew s‹lpigg-ew önux-ew b°x-ew trÛx-ew
Voc. fælak-ew s‹lpigg-ew önux-ew b°x-ew trÛx-ew
Acus. fælak-aw s‹lpigg-aw önux-aw b°x-aw trÛx-aw
Gen. ful‹k-vn salpÛgg-vn ônæx-vn bhx-Çn trix-Çn
Dat. fælaji s‹lpigji önuji bhjÛ yrijÛ
Loc. fælaji s‹lpigji önuji bhjÛ yrijÛ
Instr. fælaji s‹lpigji önuji bhjÛ yrijÛ
Dual N.V.A. fælak-e s‹lpigg-e önux-e b°x-e trÛx-e
G.D.L.I. ful‹k-oin salpÛgg-oin ônæx-oin b®x-oin trÛx-oin

mur03.p65 182 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 183

Notas:

1. Velar seguida de sigma (g,k,x + w > j), no nominativo singular e dat.


loc. instr. plural.
2. Sempre que, na flexão, a aspirada do tema (aqui é x) é seguida de sigma,
ela perde a aspiração, e a consoante surda que fica combina com o sigma,
sendo representados pela consoante dupla j. trÛx-w > yrikw > yrÛj.
3. Nesses casos, a aspiração se desloca para a primeira consoante compatí-
vel (trix-/yrÛj/ yrijÛ) (dissimilação). Contudo, quando esse deslo-
camento descaracteriza a palavra, a compensação não se faz: b°j -
bhxñw (e não *f°j).
4. A palavra gun® - gunaik-ñw (T. gunaik-) desloca a tônica para a
posição de oxítona no genit. e dat. loc. instr. singular e plural como os
monossílabos e faz o nominativo singular -k (desinência zero), o que
reduz o tema a gunai, por causa da apócope do -k final; essa é a for-
ma do vocativo: gænai. O nominativo singular gun® é uma variante
oxítona do tema.
5. Todas as palavras de temas monossilábicos deslocam a tônica para uma
posição de oxítonos ou perispômenos no dat. loc. instr. e gen. singu-
lar e plural.
6. Não há neutros de tema em oclusiva velar.

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184 a flexão nominal: os temas nominais

2. Nomes de tema em oclusiva labial:

T. …Arab- õ …Arac …Arab-ow o árabe


T. gèp- õ gèc gup-ñw o abutre, gavião
T. fl¡b- ² fl¡c fleb-ñw a veia
T. kat°lif- ² kay°lc kat®lif-ow o sótão
T. AiyÛop- õ AÞyÛoc AÞyÛop-ow o etíope

Sing. Nom. …Arac kay°lic AÞyÛoc fl¡c gèc


Voc. …Arac k‹y°lic AÞyÛoc fl¡c gèc
Acus. …Arab-a kat®lif-a AÞyÛop-a fl¡b-a gèp-a
Gen. …Arab-ow kat®lif-ow AÞyÛop-ow fleb-ñw gup-ñw
Dat. …Arab-i kat®lif-i AÞyÛop-i fleb-Û gup-Û
Loc. …Arab-i kat®lif-i AÞyÛop-i fleb-Û gup-Û
Instr. …Arab-i kat®lif-i AÞyÛop-i fleb-Û gup-Û
Pl. Nom. …Arab-ew kat®lif-ew AÞyÛop-ew fl¡b-ew gèp-ew
Voc. …Arab-ew kat®lif-ew AÞyÛop-ew fl¡b-ew gèp-ew
Acus. …Arab-aw kat®lif-aw AÞyÛop-aw fl¡b-aw gèp-aw
Gen. ƒAr‹b-vn kathlÛf-vn AÞyiñp-vn fleb-Çn gup-Çn
Dat. …Araci kay®lici AÞyÛoci flecÛ gucÛ
Loc. …Araci kay®lici AÞyÛoci flecÛ gucÛ
Instr. …Araci kay®lici AÞyÛoci flecÛ gucÛ
Dual N.V.A. …Arab-e kat®lif-e AÞyÛop-e fl¡b-e gèp-e
G.D.L.I. ƒAr‹b-oin kathlÛf-oin AÞyiñp-oin fl¡b-oin gæp-oin

Notas:
1. O vocativo singular é igual ao nominativo.
É que o vocativo de desinência zero terminaria nas oclusivas p, b,
f, que, em posição final, sofreriam apócope com a conseqüente desca-
racterização fonética e semântica da palavra.
2. A alternância t/y em kay°lic corresponde à alternância f/c da
desinência: assimilação da consoante surda p e deslocamento da aspi-
ração sobre a dental próxima t > y.

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a flexão nominal: os temas nominais 185

3. Nomes de tema em dental (masc./fem.):

T. paÝd- õ/² paÝw paid-ñw o menino, menina


T. patrÛd- ² patrÛw patrÛd-ow a pátria
T. ¦rid- ² ¦riw ¦rid-ow a disputa, briga, rixa
T. x‹rit- ² x‹riw x‹rit-ow a graça, o favor
T. örniy- ²/õ örniw örniy-ow o pássaro, a ave
T. neñtht- ² neñthw neñtht-ow a mocidade, juventude

Sing. Nom. paÝw patrÛw ¦riw x‹riw örniw neñthw


Voc. paÝ patrÛ ¦ri x‹ri örni neñthw
Acus. paÝd-a patrÛd-a ¦rin x‹rin örnin neñtht-a
Gen. paid-ñw patrÛd-ow ¦rid-ow x‹rit-ow örniy-ow neñtht-ow
Dat. paid-Û patrÛd-i ¦rid-i x‹rit-i örniy-i neñtht-i
Loc. paid-Û patrÛd-i ¦rid-i x‹rit-i örniy-i neñtht-i
Instr. paid-Û patrÛd-i ¦rid-i x‹rit-i örniy-i neñtht-i

Pl. Nom. paÝd-ew patrÛd-ew ¦rid-ew x‹rit-ew örniy-ew neñtht-ew


Voc. paÝd-ew patrÛd-ew ¦rid-ew x‹rit-ew örniy-ew neñtht-ew
Acus. paÝd-aw patrÛd-aw ¦rid-aw x‹rit-aw örniy-aw neñtht-aw
Gen. paid-Çn patrÛd-vn ¤rÛd-vn xarÛt-vn ôrnÛy-vn neot®t-vn
Dat. paisÛ patrÛsi ¦risi x‹risi örnisi neñthsi
Loc. paisÛ patrÛsi ¦risi x‹risi örnisi neñthsi
Instr. paisÛ patrÛsi ¦risi x‹risi örnisi neñthsi

Dual N.V.A. paÝd-e patrÛd-e ¦rid-e x‹rit-e örniy-e neñtht-e


G.D.L.I. paÛd-oin patrÛd-oin ¤rÛd-oin xarÛt-oin ôrnÛy-oin neot®t-oin

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186 a flexão nominal: os temas nominais

Notas:

l. O vocativo singular tem normalmente desinência zero; contudo, pode-


remos encontrá-lo, com certa freqüência, igual ao nominativo (ver p.
184, nota 1 - flexão dos temas em labial).
2. Os nomes de -i- temático e pré-desinencial átono (¦riw, x‹riw, örniw)
sofrem a síncope da consoante dental antes do -n e fazem o acusativo
como se fossem de tema em -i. ¦rin - x‹rin - örnin, e os de -i- temá-
tico e pré-desinencial tônico mantêm a dental patrÛdn > patrÛda.
3. No plural, a palavra örniw se encontra em duas variantes nos casos
sintáticos: örniyew / örneiw.
4. Também têm tema em dental:
T. ¦rvt- õ ¦rvw ¦rvtow o amor
T. ßdrÇt- õ ßdrÇw ßdrÇtow o suor
T. xrvt- õ xrÇw xrvtñw (variante xrojñw) a pele
T. g¡lvt- õ g¡lvw g¡lvtow (variante g¡lojow) o riso
5. Também têm tema em dental:
T. nukt- ² næj nukt-ñw a noite
T. nakt- õ naj nakt-ow o senhor, soberano
As formas “estranhas” do nom. sing. e dat. loc. instr. plural se ex-
plicam foneticamente:
Nom. sing. nukt-w > nukw > næj nakt-w > nakw > naj
Voc. sing. næj (seria: nu (nukt > nuk > nu)) nakt > nak > na / naj
D.L.I. plural nukt-si > nuksÛ > nujÛ nakt-si > naksi > naji
No nominativo singular e dativo plural, a dental -t se assimila ao
-s que, em contato da gutural -k, é representado pelo j.
No vocativo singular nakt > na há apócope sucessiva das con-
soantes finais.
6. O vocativo singular é o próprio tema que sofre apócope da consoante
final, mas sempre que isso represente uma descaracterização fonética
(e semântica) da palavra, a opção é sempre pela analogia com o nomi-
nativo. É o caso, por exemplo, em neñthw. A consoante final oclusiva
do vocativo de desinência zero neñtht- cairia; daí a opção por neñthw.

mur03.p65 186 22/01/01, 11:36


a flexão nominal: os temas nominais 187

4. Nomes neutros de tema em dental:

T. stñmat- tò stñma stñmat-ow a boca


T. m¡lit- tò m¡li m¡lit-ow o mel
T. pr‹gmat- tò prgma pr‹gmat-ow o fato, o feito,
o negócio, a coisa
T. g‹lakt- tò g‹la g‹lakt-ow o leite
T. ´pat- tò ¸par ´pat-ow o fígado
T. ìdat- tò ìdvr ìdat-ow a água

S. Nom. stñma m¡li prgma g‹la ¸par ìdvr


Voc. stñma m¡li prgma g‹la ¸par ìdvr
Acus. stñma m¡li prgma g‹la ¸par ìdvr
Gen. stñmat-ow m¡lit-ow pr‹gmat-ow g‹lakt-ow ´pat-ow ìdat-ow
Dat. stñmat-i m¡lit-i pr‹gmat-i g‹lakt-i ´pat-i ìdat-i
Loc. stñmat-i m¡lit-i pr‹gmat-i g‹lakt-i ´pat-i ìdat-i
Instr. stñmat-i m¡lit-i pr‹gmat-i g‹lakt-i ´pat-i ìdat-i

P. Nom. stñmat-a m¡lit-a pr‹gmat-a g‹lakt-a ´pat-a ìdat-a


Voc. stñmat-a m¡lit-a pr‹gmat-a g‹lakt-a ´pat-a ìdat-a
Acus. stñmat-a m¡lit-a pr‹gmat-a g‹lakt-a ´pat-a ìdat-a
Gen. stom‹t-vn melÛt-vn pragm‹t-vn gal‹kt-vn ²p‹t-vn êd‹t-vn
Dat. stñmasi m¡lisi pr‹gmasi g‹laji ´pasi ìdasi
Loc. stñmasi m¡lisi pr‹gmasi g‹laji ´pasi ìdasi
Instr. stñmasi m¡lisi pr‹gmasi g‹laji ´pasi ìdasi

D. N.A.V. stñmat-e m¡lit-e pr‹gmat-e g‹lakt-e ´pat-e ìdat-e


G.D.L.I. stom‹t-oin melÛt-oin pragm‹t-oin gal‹kt-oin ²p‹t-oin êd‹t-oin

Notas:

1. Os temas em -mat- (prgma-tow) são bastante numerosos e incon-


táveis; são substantivos deverbais, construídos sobre o tema verbal puro
do aoristo, e significam o resultado da ação.
Em princípio, qualquer tema verbal pode produzir um nome em -
mat.

mur03.p65 187 22/01/01, 11:36


188 a flexão nominal: os temas nominais

2. O tema galakt- está incluído entre os temas em dental porque de


fato o é; contudo há um duplo acidente fonético com ele no dativo
plural: a dental, em contato com o sigma, se assimila e sofre síncope:
(galakt-si > galaks-si g‹lak-si); a seguir, a gutural, em con-
tato com o sigma, é expressa pela consoante dupla -j- (galak-si >
g‹laji). Ver næj e naj na página anterior.
No nom. voc. acus. singular que é o tema puro g‹lakt, as con-
soantes finais sofrem apócope sucessivamente:
g‹lakt > g‹lak > g‹la.
3. Não é demais lembrar que, pelo fato de a desinência do nominativo
singular neutro ser zero, os temas de neutros em -t sofrem apócope
dessa consoante nos casos sintáticos do singular:
stñmat > stñma a boca
m¡lit > m¡li o mel
prgmat > prgma o fato, a ação
g‹lakt > g‹lak > g‹la o leite
4. Há um certo número de temas em -t (todos primitivos, neutros e de
significado concreto, por serem nomes de objetos do cotidiano), que
compensam a desinência zero do nominativo singular e a apócope da
dental, acrescentando uma das três consoantes finais que não sofrem
apócope, o -r certamente por analogia com ² d‹mar-d‹mart-ow, a
mulher, senhora, dona, e também por causa do vogal temática a.
Em geral são paroxítonos:
T. fr¡at- fr¡ar fr¡at-ow poço
T. del¡at- d¡lear del¡at-ow isca
T. ŽleÛfat- leifar ŽleÛfat-0w ungüento
T. eàdat- eädar eàdat-ow alimento
T. st¡at- st¡ar st¡at-ow toucinho, banha, graxa, sebo
T. ´pat- ¸par ´pat-ow fígado

Mas,
ìpar (indecl.) visão, constatação com os olhos
y¡nar y¡nar-ow palma da mão
¦ar ¦ar-ow / ·r-·r-ow primavera
n¡ktar n¡ktarow néctar
têm a flexão normal em -r que é o próprio tema.

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a flexão nominal: os temas nominais 189

5. Os de vocalismo em o preferem recorrer à consoante do mesmo


ponto de articulação (-t > -w).
T. fvt- tò fÇw fvt-ñw luz
T. Èt- tò oïw Èt-ñw ouvido, orelha
T. lelukñt- lelukÅw lelukñt-ow que acabou de desligar
(part. perfeito masc.)
T. lelukñt- lelukñw lelukñt-ow que acabou de desligar
(part. p. neutro)
Mas tò ìdvr ìdat-ow T. ìdr- > * ìdar / ìdvr, (como
´par, ´patow?) a água, e não *ìdvw.
6. Há também alguns poucos que, em lugar de acrescentar uma consoante
para proteger a vogal do tema, preferem a troca da vogal como se flexio-
nassem sobre dois temas. Ver na lista dos heteroclíticos à página 216.
Assim:
gñnu - gñnat-ow - joelho
dñru - dñrat-ow - lança
São lembranças de formas homéricas (eólico-jônicas) gonWatow
/dorWatow > goænatow /doæratow (jônicas)
7. Alguns ainda, optando pela consoante do mesmo ponto de articulação:
k¡raw-k¡ratow - chifre, ala
p¡raw-p¡ratow - termo, limite
acabam por criar, no singular, duas flexões paralelas: uma sobre o tema
em -t, e outro sobre o tema em -w.
N.V.A. p¡raw p¡raw
G. p¡ras-ow > p¡raow > p¡rvw p¡rat-ow
D.L.I. p¡ras-i > p¡rai > p¡r& p¡rat-i

No plural predominam os temas k¡rat-, p¡rat-.

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190 a flexão nominal: os temas nominais

5. Nomes de tema em -nt

T. l¡ont- õ l¡vn l¡ontow o leão


T. gÛgant- õ gÛgaw gÛgantow o gigante
T. luy¡nt- luyeÛw luy¡ntow tendo sido desligado (part.aor.pas.)
T. xari¡nt- xarÛeiw xarÛentow gracioso, grato, agradável
T. deiknænt- deiknæw deiknæntow demostrante, o que demostra

S. Nom. l¡vn gÛgaw luyeÛw xarÛeiw deiknæw


Voc. l¡on gÛgan luy¡n xarÛen deiknæn
Acus. l¡onta gÛgant-a luy¡nt-a xarÛent-a deiknænt-a
Gen. l¡ont-ow gÛgant-ow luy¡nt-ow xarÛent-ow deiknænt-ow
Dat. l¡ont-i gÛgant-i luy¡nt-i xarÛent-i deiknænt-i
Loc. l¡ont-i gÛgant-i luy¡nt-i xarÛent-i deiknænt-i
Instr. l¡ont-i gÛgant-i luy¡nt-i xarÛent-i deiknænt-i
P. Nom. l¡ont-ew gÛgant-ew luy¡nt-ew xarÛent-ew deiknænt-ew
Voc. l¡ont-ew gÛgant-ew luy¡nt-ew xarÛent-ew deiknænt-ew
Acus. l¡ont-aw gÛgant-aw luy¡nt-aw xarÛent-aw deiknænt-aw
Gen. leñnt-vn gig‹nt-vn luy¡nt-vn xari¡nt-vn deiknænt-vn
Dat. l¡ousi gÛgasi luyeÝsi xarÛeisi deiknèsi
Loc. l¡ousi gÛgasi luyeÝsi xarÛeisi deiknèsi
Instr. l¡ousi gÛgasi luyeÝsi xarÛeisi deiknèsi
D. N.A.V. l¡ont-e gÛgant-e luy¡nt-e xarÛent-e deiknènt-e
G.D.L.I. leñnt-oin gig‹nt-oin luy¡nt-oin xar¡nt-oin deiknænt-oin

Notas:

1. Pelo que se pode observar, sempre que há uma síncope de -nt- antes
de -w, há um alongamento compensatório da vogal anterior:
-antw > aw -antsi > asi
-entw > eiw -entsi > -eisi
-untw > uw, untsi > usi -ontsi > ousi

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a flexão nominal: os temas nominais 191

Há apenas um tratamento especial: o nominativo singular mascu-


lino dos temas em -ont-:
Onde nós esperávamos -ouw temos -vn.
l¡ontw- > l¡vn
læontw- > lævn
Convém lembrar, entretanto, que isso acontece somente em posição
final e com temas paroxítonos ou proparoxítonos.
Mas odñnt- (dente), tema oxítono, tem as duas formas no nomi-
nativo singular:
ôdoæw (a mais usada) e ôdÅn; o vocativo é ôdñn.
2. As gramáticas registram variantes para o dativo plural:
xarÛent-si > xarÛeisi / xarÛesi
3. Sobre esses modelos de tema em -nt se flexionam todos os particípios
ativos em -nt e também o particípio aoristo passivo (que usa desinên-
cias ativas).

Nomin. Gen.
T. lè-o-nt- > lævn læont-ow (masc.) desligante, desligando,
que desliga
T. lè-o-nt- > lèon læont-ow (neutro) desligante, desligando,
que desliga
T. lè-s-o-nt- > læs-vn læsont-ow (masc.) havendo de desligar,
que haverá de desligar, que desligará
T. lès-ont- > lèson læsont-ow (neutro) havendo de desligar,
que haverá de desligar, que desligará
T. læ-sant- > læsaw læsant-ow (masc.) tendo desligado
T. lu-sa-nt- > lèsan læsant-ow (neutro) tendo desligado
T. lu-yh-nt- > luyeÛw luy¡nt-ow (masc.) tendo sido desligado
T. luy®nt- > luy¡n luy¡nt-ow (neutro) tendo sido desligado
T. stal-®-nt- > staleÛw stal¡nt-ow (masc.) tendo sido enviado
T. stal®nt- > stal¡n stal¡nt-ow (neutro) tendo sido enviado

A forma neutra desses particípios é o próprio tema com a apócope


da dental final.

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192 a flexão nominal: os temas nominais

4. Diferentemente do latim e das línguas românicas, o grego tem o par-


ticípio feminino ativo, que se constrói com o sufixo -ja sobre o tema
do particípio masculino.
luont-ja > luontia > luonsia > luonsa > læousa-shw desligante,
que desliga
lusont-ja > lusontia > lusonsia > lusonsa > læsousa-shw havendo de desli-
gar, que desligará
lusant-ja > lusantia > lusansia > lusansa > læsasa-shw que desligou,
tendo desligado
luyent-ja > luyentia > luyensia > luyensa > luyeÝsa-shw que foi desliga-
da, tendo sido
desligada
stalent-ja > stalentia > stalensia > stalensa > staleÝsa-shw que foi enviada,
tendo sido envia-
da, enviada

Os particípios femininos são de tema em -a impuro;


(genitivo em -hw)

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a flexão nominal: os temas nominais 193

6. Nomes de tema em -n
T. daÝmon- õ daÛmvn daÛmon-ow o nume
T. delfÝn- õ delfÝn delfÝn-ow o delfim
T. poim¡n- õ poim®n poim¡n-ow o pastor
T. m®n- õ m®n mhn-ñw o mês, a lua
T. ŽgÅn- õ ŽgÅn agÇn-ow a luta, a liça, o combate
T. †Ellhn- õ †Ellhn †Ellhn-ow o grego, o heleno
S. Nom. daÛmvn delfÝw poim®n m®n ŽgÅn †Ellhn
Voc. daÝmon delfÝn pom¡n m®n Žg‘Ån †Ellhn
Acus. daÛmon-a delfÝn-a poim¡n-a m°n-a ŽgÇn-a †Ellhn-a
Gen. daÛmon-ow delfÝn-ow poim¡n-ow mhn-ñw ŽgÇn-ow †Ellhn-ow
Dat. daÛmon-i delfÝn-i poim¡n-i‘ mhn-Û ŽgÇn-i †Ellhn-i
Loc. daÛmon-i delfÝn-i poim¡n-i‘ mhn-Û ŽgÇn-i †Ellhn-i
Instr. daÛmon-i delfÝn-i poim¡n-i‘ mhn-Û ŽgÇn-i †Ellhn-i
P. Nom. daÛmon-ew delfÝn-ew pom¡n-ew m°n-ew ŽgÇn-ew †Ellhn-ew
Voc. daÛmon-ew delfÝn-ew pom¡n-ew m°n-ew ŽgÇn-ew †Ellhn-ew
Acus. daÛmon-aw delfÝn-aw poim¡n-aw m°n-aw ŽgÇn-aw †Ellhn-aw
Gen. daimñn-vn delfÛn-vn poim¡n-vn mhn-Çn ŽgÅn-vn „Ell®n-vn
Dat. daÛmosi delfÝsi poim¡si mhsÛ ŽgÇsi †Ellhsi
Loc. daÛmosi delfÝsi poim¡si mhsÛ ŽgÇsi †Ellhsi
Instr. daÛmosi delfÝsi poim¡si mhsÛ ŽgÇsi †Ellhsi
D. N.A.V. daÛmon-e delfÝn-e poim¡n-e m°n-e ŽgÇn-e †Ellhn-e
G.D.L.I. damñn-oin delfÛn-oin pom¡n-oin m®n-oin ŽgÅn-oin „Ell®n-oin

Notas:
1. Há temas em vogal breve e temas em vogal longa; os de vogal breve
alongam-na no nominativo singular e constroem o restante sobre tema
breve: os de vogal longa não a alteram ao longo da flexão.
A vogal longa do nominativo singular masculino seria uma com-
pensação pela ausência do -w. Mas em:
T. kten-w kteÝw kten-ñw pente
T. ¥n-w eåw ¥n-ñw um, (cardinal masc.)
T. =in-w =Ýw =in-ñw nariz
houve a síncope do -n- pré-sigmático e alongamento compensatório da vogal.
2. No D.L.I. plural o -n temático sofre síncope antes de -si sem nenhu-
ma alteração na vogal anterior.

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194 a flexão nominal: os temas nominais

7. Adjetivos de tema em -n (masc./fem. e neutro)

T. sÅfron- sÅfrvn, sÇfron prudente, moderado


T. t¡ren- t¡rhn, t¡ren delicado, tenro, mole
T. m¡lan- m¡law, m¡lan negro, preto

m./f. neutro m./f. neutro m./f. neutro


S. Nom. sÅfrvn sÇfron t¡rhn t¡ren m¡law m¡lan
Voc. sÇfron sÇfron t¡ren t¡ren m¡la(n) m¡lan
Acus. sÅfron-a sÇfron t¡ren-a t¡ren m¡lan-a m¡lan
Gen. sÅfron-ow sÅfron-ow t¡ren-ow t¡ren-ow m¡lan-ow m¡lan-ow
Dat. sÅfron-i sÅfron-i t¡ren-i t¡ren-i m¡lan-i m¡lan-i
Loc. sÅfron-i sÅfron-i t¡ren-i t¡ren-i m¡lan-i m¡lan-i
Instr. sÅfron-i sÅfron-i t¡ren-i t¡ren-i m¡lan-i m¡lan-i

P. Nom. sÅfron-ew sÅfron-a t¡ren-ew t¡ren-a m¡lan-ew m¡lan-a


Voc. sÅfron-ew sÅfron-a t¡ren-ew t¡ren-a m¡lan-ew m¡lan-a
Acus. sÅfron-aw sÅfron-a t¡ren-aw t¡ren-a m¡lan-ew m¡lan-a
Gen. svfrñn-vn svfrñn-vn ter¡n-vn ter¡n-vn mel‹n-vn mel‹n-vn
Dat. sÅfrosi sÅfrosi t¡resi t¡resi m¡lasi m¡lasi
Loc. sÅfrosi sÅfrosi t¡resi t¡resi m¡lasi m¡lasi
Instr. sÅfrosi sÅfrosi t¡resi t¡resi m¡lasi m¡lasi

D. N.A.V. sÅfron-e sÅfron-e t¡ren-e t¡ren-e m¡lan-e m¡lan-e


G.D.L.I. svfrñn-oin svfrñn-oin ter¡n-oin ter¡n-oin mel‹n-oin mel‹n-oin

Notas:
1. A alternância longa/breve da vogal temática identifica o masculino e o
neutro (longa para o m./f. e breve para o neutro).
2. Os adjetivos em -vn/-on são biformes.
3. Mas os adjetivos em -hn/-en, -an/an fazem o feminino com o sufixo
-ja:
t¡ren-ja > t¡renia > t¡reina-hw
m¡lan-ja > m¡lania > m¡laina-hw
Esses femininos são temas em -a impuro e assim se declinam.

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a flexão nominal: os temas nominais 195

4. Declinam-se também sobre o modelo acima um certo número de ad-


jetivos biformes em -vn/-on com significado comparativo, que não
têm grau normal do mesmo tema e, supletivamente, servem de com-
parativos para esses (ver p. 142).
São os seguintes:
Tema masc./fem. neutro
ameinon ŽmeÛnvn meinon melhor, mais nobre
areion ŽreÛvn reion melhor, mais nobre (poét.)
beltion beltÛvn b¡ltion melhor, de mais valor
kreitton kreÛttvn kreÝtton melhor, mais forte
kresson kreÛssvn kreÝsson variante da anterior
lÄon lÐvn lÒon melhor, mais útil
algion ŽlgÛvn lgion mais doloroso
kakion kakÛvn k‹kion pior, mais vicioso
xeiron xeÛrvn xeÝron inferior
hsson ´ssvn ·sson menor, mais fraco, inferior
kallion kallÛvn k‹llion mais belo
meion meÛvn meÝon menor, mais curto, breve
¤l‹sson ¤l‹ssvn ¦lasson menos numeroso, menor
pleion pleÛvn pleÝon mais numeroso, maior
pleon pl¡vn pl¡on variante ática do anterior
=&on =–vn =˜on mais fácil
exyion ¤xyÛvn ¦xyion pior, mais inimigo, repugnante
meizon meÛzvn meÝzon maior, mais volumoso
E ainda alguns comparativos de adjetivos de temas em -u;
²dion ²dÛvn ´dion mais doce, mais agradável
taxion taxÛvn t‹xion‘ mais rápido
yatton y‹ttvn ytton variante do anterior
yasson y‹ssvn ysson variante do anterior
5. É muito comum encontrarmos algumas formas contratas desses adje-
tivos por causa da síncope do -n- intervocálico.
As mais constantes são as do acusativo singular e plural masc./fem.,
e neutro e nominativo plural masc./fem. e neutro.

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196 a flexão nominal: os temas nominais

beltÛona > beltÛv ac.sing. masc./fem. e n.v.ac. neutro pl.


beltÛonew > beltÛouw n.v.masc./fem. pl.
beltÛonaw > beltÛvw/beltÛouw ac.masc.fem. pl. (ver p. 142)
6. Os nomes próprios em -on - T. …Apollon-, T. Pñseidon-, T.
ƒAg‹memnon- e outros fazem o nominativo singular longo, paroxítono
e o vocativo, que é o próprio tema, proparoxítono;
T. …Apollon- voc. -…Apollon nom. -ƒApñllvn
T. Pñseidon- voc. -Pñseidon nom. -PoseÛdvn
T. ƒAg‹memnon- voc. -ƒAg‹memnon nom. -ƒAgam¡mnvn
O mesmo acontece com os adjetivos de mais de duas sílabas:o no-
minativo singular é longo, paroxítono e o vocativo, que é o próprio
tema, proparoxítono:
T. kakñdaimon- voc. -kakñdaimon nom. -kakodaÛmvn
T. eëdaimon- voc. -eëdaimon nom. -eédaÛmvn
T. pragmon- voc. -pragmon nom. -Žpr‹gmvn
7. ² Pnæj, Puknñw - a Pnix, local das assembléias,
sofre metátese das consoantes do tema no nom. e voc. singular; o tema
é Pækn- (²)
Pnæj, Ï Pnæj, t®n Pækna, t°w Puknñw, t» PuknÛ
8. õ Žr®n, Žrn-ñw - o cordeiro,
tem o tema ren/rn; então teria o nom. e voc. sing. respectiva-
mente Žr®n - ren que quase não são usados, sendo substituídos por
Žmnñw; mas todos os outros casos flexionam normalmente sobre o
tema arn-
Sing. õ Žr®n (õ Žmnñw), Î ren (Žmn¡)
mas: tòn rna, toè Žrnñw, tÒ ŽrnÛ
Pl. oß rnew, Î rnew, toçw rnaw, tÇn ŽrnÇn, toÝw Žrn‹si
(homérico rnessi).
9. õ / ² fr®n - fren-ñw - a mente, o coração (tema:-fren- / frn-)
tem flexão normal sobre o tema fren-;
apenas no D.L.I. plural podemos encontrar uma variante sobre o tema
frn- frn-si > frasÛ (vocalização do n).

mur03.p65 196 22/01/01, 11:37


a flexão nominal: os temas nominais 197

8. Nomes e adjetivos de tema em -r e -l

T. fvr- õ fÅr fvr-ñw


o gatuno, mão leve, ladrão
T. =®tor- õ =®tvr =®tor-ow
o orador
T. y®r- õ y®r yhr-ñw
o animal selvagem, bicho,
caça, presa
T. gast¡r- ² gast®r gast¡r-ow o estômago
T. pator- Žp‹tvr Žp‹tor-ow sem pai

masc./fem. neutro
S. Nom. fÅr =®tvr y®r gast®r Žp‹tvr pator
Voc. fÅr =°tor y®r g‹ster pator pator
Acus. fÇr-a =®tor-a y°r-a gast¡r-a Žp‹tor-a pator
Gen. fvr-ñw =®tor-ow yhr-ñw gast¡r-ow Žp‹tor-ow Žp‹tor-ow
Dat. fvr-Û =®tor-i yhr-Û gast¡r-i Žp‹tor-i Žp‹tor-i
Loc. fvr-Û =®tor-i yhr-Û gast¡r-i Žp‹tor-i Žp‹tor-i
Instr. fvr-Û =®tor-i yhr-Û gast¡r-i Žp‹tor-i Žp‹tor-i

P. Nom. fÇr-ew =®tor-ew y°r-ew gast¡r-ew Žp‹tor-ew Žp‹tor-a


Voc. fÇr-ew =®tor-ew y°r-ew gast¡r-ew Žp‹tor-ew Žp‹tor-a
Acus. fÇr-aw =®tor-aw y°r-aw gast¡r-aw Žp‹tor-aw Žp‹tor-a
Gen. fvr-Çn =htñr-vn yhr-Çn gast¡r-vn Žpatñr-vn Žpatñr-vn
Dat. fvr-sÛ =®tor-si yhr-sÛ gast¡r-si Žp‹tor-si Žp‹tor-si
Loc. fvr-sÛ =®tor-si yhr-sÛ gast¡r-si Žp‹tor-si Žp‹tor-si
Instr. fvr-sÛ =®tor-si yhr-sÛ gast¡r-si Žp‹tor-si Žp‹tor-si

D. N.A.V. fÇr-e =®tor-e y°r-e gast¡r-e Žp‹tor-e Žp‹tor-e


G.D.L.I. fÅr-oin =htñr-oin y®r-oin gast¡r-oin Žpatñr-oin Žpatñr-oin

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198 a flexão nominal: os temas nominais

Notas:

1. Há apenas um nome de tema em -l- : ‘lw-l-ñw (l-), õ - o sal


(tema l).
2. Há também alguns neutros:
y¡nar-y¡nar-ow, (tñ) palma da mão
¦ar-¦ar-ow / ·r-·r-ow primavera
·tor-³tor-ow pulmão, coração (sede dos sentimen-
tos e da inteligência) (ver p. 197).
3. A flexão de ² xeÛr, xeir-ñw, que apresenta inúmeras variantes em
todos os casos, pode ser vista como se tivesse dois temas:
S. P. D.
N. xeÛr /x®r xeÝr-ew / x¡r-ew xeÝre / x¡re
V. xeÛr / x¡r xeÝr-ew / x¡r-ew “ “
A. xeÝr-a / x¡r-a xeÛr-aw / x¡r-aw “ “
G. xeir-ñw / xer-ñw xeir-Çn / xer-Çn xeir-oÝn / xer/oÝn
D. xeir-Û / xer-Û xeir-sÛ / xer-sÛ “ “
L. xeir-Û /xer-Û xeir-sÛ / xer-sÛ “ “
I. xeir-Û / xer-Û xeir-sÛ / xer-sÛ “ “
Todas as variantes são possíveis.
4. O substantivo õ m‹rtuw, m‹rturow, a testemunha, embora de tema
em -r, por analogia com os nomes em -uw, faz o nominativo singular
m‹rtuw e o dat. plural m‹rtusi.

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a flexão nominal: os temas nominais 199

9. Nomes de tema em -r / -er

T. p‹tr-/p‹ter- õ pat®r patr-ñw o pai


T. m®tr-/m®ter- ² m®thr mhtrñw a mãe
T. nr-/ner-/ndr- õ Žn®r andr-ñw ovarão, marido
T. ster- õ Žst®r Žst¡r-ow a estrela, astro
T. yægatr-/yægater- ² yug‹thr yugatrñw a filha

S. Nom. pat®r m®thr Žn®r st®r yug‹thr


Voc. p‹ter m°ter ner ster yægater
Acus. pat¡r-a mht¡r-a ndr-a Žst¡r-a yugat¡r-a
Gen. patr-ñw mhtr-ñw Žndr-ñw Žst¡r-ow yugatr-ñw

Dat. patr-Û mhtr-Û Žndr-Û Žst¡r-i yugatr-Û


Loc. patr-Û mhtr-Û Žndr-Û Žst¡r-i yugatr-Û
Instr. patr-Û mhtr-Û Žndr-Û Žst¡r-i yugatr-Û
P. Nom. pat¡r-ew mht¡r-ew ndr-ew Žst¡r-ew yugat¡r-ew
Voc. pat¡r-ew mht¡r-ew ndr-ew Žst¡r-ew yugat¡r-ew
Acus. pat¡r-aw mht¡r-aw ndr-aw Žst¡r-aw yugat¡r-aw
Gen. pat¡r-vn mht¡r-vn Žndr-Çn Žst¡r-vn yugat¡r-vn
Dat. patr‹-si mhtr‹-si Žndr‹-si Žstr‹-si yugatr‹-si
Loc. patr‹-si mhtr‹-si Žndr‹-si Žstr‹-si yugatr‹-si
Instr. patr‹-si mhtr‹-si Žndr‹-si Žstr‹-si yugatr‹-si
D. N.A.V. pat¡r-e mht¡r-e ndr-e Žst¡r-e yugat¡r-e
G.D.L.I. pat¡r-oin mht¡r-oin ndr-oin Žst¡r-oin yugat¡r-oin

mur03.p65 199 22/01/01, 11:37


200 a flexão nominal: os temas nominais

Notas:

1. Essas são as formas mais usadas. No entanto, poderemos encontrar


outras variantes; é como se fossem duas declinações paralelas: uma
sobre o tema de vocalismo zero e outra de vocalismo e.
nr- ner o varão
p‹tr- p‹ter o pai
m®tr- m®ter a mãe
yægatr- yægater a filha
2. No D.L.I. desses nomes, construído sobre o tema em vocalismo zero,
para quebrar a seqüência de três consoantes, desenvolveu-se um a
epentético.
Žndrsi > Žndr‹si 34 mhtrsi > mhtr‹si
patrsi > patr‹si yugatrsi > yugatr‹si
gastrsi > gastr‹si Žstrsi > Žstr‹si
3. Dhm®thr se declina assim:
Dhm®thr, D®mhter, D®metra, D®metrow, D®metri.
4. O tema do nome ² d‹mar-d‹mart-ow - mulher é em dental; a for-
ma d‹mar é usada só no nominativo e vocativo singular.
É a redução fonética de d‹mart-w > d‹marw > d‹mar.
5. Também são em dental alguns neutros como ·par-´pat-ow já in-
cluídos no quadro dos temas em dental (ver p. 188).

34 Na seqüência -nrs- desenvolveu-se um -d- epentético. Ver p. 44, nota.

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a flexão nominal: os temas nominais 201

10. Nomes e adjetivos de tema em semivogal: -u/- i

T. Þsxæ- ² Þsxæw Þsxæ-ow a força


T. kÛ- õ kÛw ki-ñw o caruncho (de cereal)
T. ƒErinæ- ² ƒErinæw ƒErinæ-ow a/as Eríneas
T. d‹kru- ² d‹kruw d‹kru-ow a lágrima
T. sæ- õ/² sèw/ðw su-ñw/êñw a porca, o javali
T. àdri- àdriw àdri- ow perito, hábil

masc./fem. neut.
S. Nom. Þsxæw kÛw ƒErinæw d‹kruw sèw àdriw àdri
Voc. Þsxæ kÛ(w) …Erinu(w) d‹kru sè(w) àdri àdri
Acus. Þsxæ-n kÛ-n ƒErinæ-n d‹kru-n sè-n àdri-n àdri
Gen. Þsxæ-ow ki-ñw ƒErinæ-ow d‹kru-ow su-ñw àdri-ow àdri-ow
Dat. Þsxæ-i ki-Û ƒErinæ-i d‹kru-i su-Û àdri-i àdri-i
Loc. Þsxæ-i ki-Û ƒErinæ-i d‹kru-i su-Û àdri-i àdri-i
Instr. Þsxæ-i ki-Û ƒErinæ-i d‹kru-i su-Û àdri-i àdri-i

P. Nom. Þsxæ-ew kÛ-ew ƒErinæ-ew d‹kru-ew sè-ew àdri-ew àdri-a


Voc. Þsxæ-ew kÛ-ew ƒErinæ-ew d‹kru-ew sè-ew àdri-ew àdri-a
Acus. Þsxæw kÛ-aw ƒErinæw d‹kruw sèw àdri-aw àdri-a
Gen. Þsxæ-vn ki-Çn ƒErinæ-vn dakræ-vn su-Çn ÞdrÛ-vn ÞdrÛ-vn
Dat. Þsxæsi ki-sÛ ƒErinæ-si d‹kru-si su-sÛ àdri-si àdri-si
Loc. Þsxæsi ki-sÛ ƒErinæ-si d‹kru-si su-sÛ àdri-si àdri-si
Instr. Þsxæsi ki-sÛ ƒErinæ-si d‹kru-si su-sÛ àdri-si àdri-si

D. N.A.V. Þsxæ-e kÛ-e ƒErinæ-e d‹kru-e sè-e àdri-e àdri-e


G.D.L.I. Þsxæ-oin kÛ-oin ƒErinæ-oin dakræ-oin sæ-oin ÞdrÛ-oin ÞdrÛ-oin

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202 a flexão nominal: os temas nominais

Notas:

1. A forma do acusativo plural em geral aparece contrata, construída so-


bre -unw/inw; as do nominativo plural também podem se contrair:
Acus. Pl. Nom. Pl.
Þsxæ-nw > Þsxèw Þsxæ-ew > Þsxèw
ki-nw > kÝw kÛ-ew > kÝw
àdri-nw > àdri-iw àdri-ew > àdriw
d‹kru-nw > d‹kruw d‹kru-ew > d‹kruw
ƒErinæ-nw > ƒErinèw ƒErinæ-ew > ƒErinèw
2. O nome d‹kruw no plural aparece de preferência na forma neutra:
d‹krua.
3. Não são numerosas as palavras de tema em -u/-i.
As mais usadas são as seguintes:
pñtriw-iow . ² a potranca kn°siw-iow, ² a coceira, a raspagem
Þxyæw-æow, õ o peixe bñtruw-uow, õ o cacho de uva
mèw-muñw o ratinho drèw-druñw, ² o carvalho
o camundongo
n¡kuw-uow, õ o cadáver x¡luw-uow, ² a tartaruga, a cítara
pÛtuw-uow, ² o pinheiro öfruw-uow, ² a sobrancelha
¦gxeluw-uow, ² a enguia* xlamæw-æow, ² a veste, o manto**
* Há um plural ¤gx¡leiw sobre um tema ¤gxeleW-
** Há variantes em dental xlamæw-xlamæd-ow, bñtruw-bñtrud-ow
4. A palavra ² oäw, oÞ-ñw - a ovelha, tem o tema ôWi-.
O -W- intervocálico sofre síncope: ôWi > ôi.
Portanto, é um tema em -i, perfeitamente regular:
Singular Plural Dual
Nom. ôWi-w > oäw ôWi-ew> oäew
Voc. ôWi > oä / oäw ôWi-ew > oäew
Acus. ôWi-n > oän ôWi-nw > oänw > oäw ôWi-e > oäe
Gen. ôWi-ñw > oÞñw ôWi-Çn > oÞÇn
Dat. ôWi-Û > oÞÛ > ôÛ ôWi-sÛ > oÞsÛ ôWi-oin > oÞoÝn
Loc. ôWi-Û > oÞÛ > ôÛ ôWi-sÛ > oÞsÛ
Instr. ôWi-Û > oÞÛ > ôÛ ôWi-sÛ > oÞsÛ

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a flexão nominal: os temas nominais 203

11. Substantivos e adjetivos de tema em -es (masc./fem.)

T. trÛhres- ² tri®rhw - ouw a trirreme


T. aÞdñs- ² aÞdÅw-oèw o respeito, pudor, vergonha
T. Žlhy¡s- Žlhy®w, ¡w real, verdadeiro (masc./fem.)

masc./fem.
S. Nom. tri®rhw aÞdÅw Žlhy®w
Voc. trÛhrew aÞdñw Žlhy¡w
Acus. tri®res-a > ea > h aÞdñs-a > ña > Å Žlhy¡s-a > ¡a > °
Gen. tri®res-ow > eow > ouw aÞdñs-ow > ñow > oèw Žlhy®s-ow > ¡ow > oèw
Dat. tri®res-i > ei aÞdñs-i > ñi > oÝ Žlhy¡s-i > ¡i > eÝ
Loc. tri®res-i > ei aÞdñs-i > ñi > oÝ Žlhy¡s-i > ¡i > eÝ
Instr. tri®res-i > ei aÞdñs-i > ñi > oÝ Žlhy¡s-i > ¡i > eÝ

P. Nom. tri®res-ew > eew > eiw Žlhy¡s-ew > ¡ew > eÝw
Voc. tri®res-ew > eew > eiw Žlhy¡s-ew > ¡ew > eÝw
Acus. tri®rew-nw > enw > eiw Žlhy¡w-nw > ¡nw > eÝw
Gen. trihr¡s-vn > ¡vn > Çn Žlhy¡s-vn > ¡vn > Çn
Dat. tri®res-si > tri®resi Žlhy¡s-si > Žlhy¡si
Loc. tri®res-si > tri®resi Žlhy¡s-si > Žlhy¡si
Instr. tri®res-si > tri®resi Žlhy¡s-si > Žlhy¡si

D. N.A.V. tri®res-e > ee > ei Žlhy¡s-e > Ž > eÝ


G.D.L.I. trihr¡s-oin > ¡oin > oÝn Žlhy¡s-oin > ¡oin > oÝn

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204 a flexão nominal: os temas nominais

Notas:

1. Os nomes masculinos e femininos de temas em -w alongam a vogal te-


mática breve no nominativo singular:
aÞdñw > aÞdÅw ; SÅkratew > Svkr‹thw ; trÛhrew > tri®rhw.
2. Alguns nomes próprios, compostos com o sufixo derivado de kl¡ow <
kl¡Wow - glória, renome, têm esse sufixo no vocalismo -ew-, (como
nyes-/ nyow, tais como:
T. PerikleWew Perikl°w Péricles
T. „HrakleWew „Hrakl°w Héracles - Hércules
T. SofokleWew Sofokl°w Sófocles
Declinam-se normalmente com temas masculinos em -e.
Nom. Perikl¡Whw > Perikl¡hw > Perikl°w
Voc. PerÛkleWew > PerÛkleew > PerÛkleiw
Acus. Perikl¡Wew-a > Perikl¡ea > Perikl¡a
Gen. Perikl¡Wes-ow > Perikl¡eow > Perikl¡ouw
Dat. Perikl¡Wes-i > Perikl¡-ei > PerikleÝ
5. Alguns nomes próprios de tema em -w, como Svkr‹thw, Demos-
y¡nhw, ƒAristof‹nhw, às vezes, por analogia com os temas em vogal
-a/-h masculinos (-hw/-aw), fazem o acusativo singular em -n (-hn),
ao lado do acusativo normal: -es-a > ea > h.
Svkr‹thw Svkr‹th e Svkr‹thn
Demosy¡nhw Demosy¡nh e Demosy¡nhn
ƒAristof‹nhw ƒAristof‹nh e ƒAristof‹nhn

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a flexão nominal: os temas nominais 205

12. Nomes e adjetivos neutros de tema em -w

T. nyes- tò nyow nyouw a flor


T. kr¡as- tò kr¡aw kr¡vw a carne
T. Žlhy¡s- lhy¡w real, verdadeiro (neutro)

S. Nom. nyow kr¡aw Žlhy¡w


Voc. nyow kr¡aw Žlhy¡w
Acus. nyow kr¡aw Žlhy¡w
Gen. nyes-ow > eow> ouw kr¡as-ow> aow> vw Žlhy¡s-ow> ¡ow> oèw
Dat. nyes-i > ei kr¡as-i > ai / & Žlhy¡s-i > ¡i > eÝ
Loc. nyes-i > ei kr¡as-i > ai / & Žlhy¡s-i > ¡i > eÝ
Instr. nyes-i > ei kr¡as-i > ai / & Žlhy¡s-i > ¡i > eÝ

P. Nom. nyes-a > ea > h kr¡as-a > aa > a lhy¡s-a > ¡a > °
Voc. nyes-a > ea > h kr¡as-a > aa > a lhy¡s-a > ¡a > °
Acus. nyes-a > ea > h kr¡as-a > aa > a lhy¡s-a > ¡a > °
Gen. Žny¡s-vn > ¡vn > Çn kre‹s-vn > ‹vn > Çn Žlhy¡s-vn > ¡vn > ‘Çn
Dat. nyes-si > nyesi kr¡as-si > kr¡asi Žley¡s-si > Žlhy¡si
Loc. nyes-si > nyesi kr¡as-si > kr¡asi Žley¡s-si > Žlhy¡si
Instr. nyes-si > nyesi kr¡as-si > kr¡asi Žley¡s-si > Žlhy¡si

D. N.A.V. nyes-e > ee > ei kr¡as-e > kr¡ae > kr¡a Žlhy¡s-e > ¡e > eÝ
G.D.L.I. Žny¡s-oin > ¡oin > oÝn kre‹s-oin > ‹oin > Òn Žlhy¡s-oin > ¡oin > oÝn

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206 a flexão nominal: os temas nominais

Notas:

1. A característica maior desses nomes (substantivos, adjetivos) é a sín-


cope do -w temático sempre que se encontrar em posição intervocálica.
O hiato resultante do encontro das vogais, no ático resulta em contra-
ção; no jônico e eólico o hiato permanece.
2. Nos casos nom. voc. ac. do singular os nomes neutros de tema em -ew
sofrem metafonia alternando a vogal do tema de e para o: nyew-/
nyow. Os outros casos do singular e todo o plural flexionam sobre o
tema nyes-.
3. Dois nomes neutros de tema em dental: p¡raw - p¡rat-ow termo,
limite e k¡raw - k¡rat-ow chifre, ala, por causa da opção do nomina-
tivo singular p¡raw e k¡raw, em lugar de p¡ra e k¡ra, que seriam
normais com a apócope do -t, têm duas flexões paralelas no singular:
uma analógica à de kr¡aw e outra em dental (ver o paradigma das den-
tais, p. 189).
4. Os adjetivos de tema em -w são biformes: o masculino/feminino tem a
vogal do tema alongada no nominativo singular: - Žlhy®w, e o neutro
mantém a vogal do tema breve em toda a flexão: Žlhy¡s-.
5. Sobre o modelo kr¡aw declinam-se alguns nomes neutros antigos e
de significado especial:
tò br¡taw a estátua, (ídolo) de madeira
tò oïdaw o solo, o piso, o chão
tò kn¡faw as trevas, a escuridão
tò s¡law o brilho, o esplendor (que ofusca)
tò d¡maw o corpo
tò s¡baw o prodígio, a veneração
tò t¡raw o prodígio, o monstro
tò d¡paw a taça
Desses nomes, alguns às vezes fazem a flexão com vocalismo -e-
(kn¡faw, oïdaw, br¡taw), e outros, por causa do significado, só se
usam nos casos sintáticos do singular (nom., voc. e acus.), o que leva
os gramáticos a classificá-los como indeclináveis.

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a flexão nominal: os temas nominais 207

13. Nomes de tema em -j

T. pñlj-/pñlej-/pñlhj pñliw - pñlevw, ² a cidade


T. peiyñj- peiyÅ-peiyoèw, ² a persuasão

Flexão de ² pñliw ² peiyÅ


S. Nom. pñlj-w > pñli-w peiyoj‘.> peiyÅi / peiyÐ / peiyÅ
Voc. pñlj > pñli (w) peiyñj > peiyoÝ
Acus. pñlj-n > pñli-n peiyñja > peiyña > peiyÅ
Gen. polhj-ow > pñlhiow peiyñjow > peiyñow > peiyoèw
> pñlhow > pñlevw
Dat. polej-i > pñle-i > pñlei peiyñji > peiyoÝ
Loc. polej-i > pñle-i > pñlei peiyñji > peiyoÝ
Instr. polej-i > pñle-i > pñlei peiyñji > peiyoÝ

P. Nom. polej-ew > pñleew > pñleiw


Voc. polej-ew > pñleew > pñleiw
Acus. polej-nw > pñleinw > pñleiw
Gen. polej-vn > pñlevn
Dat. polej-si > pñlesi
Loc. polej-si > pñlesi
Instr. polej-si > pñlesi

D. N.A.V. polej-e > pñlee > pñlei


G.D.L.I. polej-oin > pol¡oin

Notas:

1. O -j depois de consoante se vocaliza; entre vogais sofre síncope e, no


ático, vogais do mesmo timbre se contraem.
nom. sing. pñlj-w > pñliw
voc. sing. pñlj- > pñli / pñliw
acus. sing. pñlj-n > pñlin
nom. pl. pñlej-ew > pñleew > pñleiw

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208 a flexão nominal: os temas nominais

2. No ático, sempre que houver uma seqüência de vogal longa + vogal


breve, há uma metátese de quantidade; mas a posição da tônica fica
inalterada:
gen. sing. - pñlhj-ow > pñlhow > pñlevw
3. Há muitas variantes da flexão de pñliw; há mesmo uma que se flexio-
na sobre o tema poli- sem nenhuma complicação fonética:
Singular: pñliw - pñli(w) - pñlin - pñliow - pñlii > pñli
Plural: pñliew - pñliew - pñli-nw > póliw/ pñliaw - polÛvn - pñlisi
Outras duas variantes arcaicas são as seguintes:
tema poli- para os três casos sintáticos do singular e polh para os
concretos e para o plural:
Singular: pñliw - pñli(w) - pñlin - pñlhow - pñlhi
Plural: pñlhew - pñlhew - pñlhaw - pol®vn - pñlhsi
4. Esse modelo é importante porque é sobre ele que se flexionam, além
de alguns temas nominais antigos na língua, também todos os nomes
deverbais em -siw, que significam a ação do verbo. Esses são tão incontá-
veis quanto os deverbais em ma com quem fazem contraponto.
Alguns temas nominais:
öfiw-evw, ² a serpente
sÛnapi-evw, tñ a mostarda
ìbriw-ìbrevw, ² o descomedimento
m‹ntiw-evw, õ o adivinho
p¡peri-evw,tò a pimenta
Alguns deverbais:
dænamiw-evw,² potência, força
fæsiw-fæsevw, ² a natureza
t‹jiw-evw, ² (tag-) a fileira, ordem
pr‹jiw-evw,² (prag-) o ato, a ação
öciw-evw, ² (op-) a visão, o exame
pñsiw-evw, ² (po-) a bebida (a ação)
dñsiw-evw, ² (do-) a dação, o dom
y¡siw-evw, ²(ye-) a posição, a tese
5. Todos esses nomes são construídos sobre o tema verbal puro (aoris-
to), porque significam a realização do ato verbal em si.
Em princípio todos eles podem ser traduzidos por nomes de sufixo
-ção, do latim -tione.

mur03.p65 208 22/01/01, 11:37


a flexão nominal: os temas nominais 209

6. Poucas palavras seguem modelo peiyñj-> peiyÅ; em geral são nomes


próprios e mitolóligos, arcaicos em geral; os mais importantes são as
seguintes:
feidÅ-feidoèw, ² a poupança
±xÅ-±xoèw, ² Eco (ninfa), o eco
DhÅ-Dhoèw, ² Deméter
LhtÅ-Lhtoèw Letô, Latona
PuyÅ-Puyoèw, ² Pythô, a pytonisa
„HrÅ-„Hroèw, ² Herô
GorgÅ-Gorgoèw, ² Gorgô, Gorgona
MhtrÅ-Mhtroèw, ² Metrô
SvsÅ-Svsoèw, ² Sosô
ƒIÅ-ƒIoèw, ² Iô
SapfÅ-Sapfoèw, ² Safo
DidÅ - Didoèw Dido
KalucÅ- Kalucoèw Calipso

14. Nomes masculinos de tema em -hW

T. basilhW / basileW õ basileæw - basil¡vw o rei

Singular Plural
N. basil®W-w > basil®uw > basileæw basil®Wew > basil®ew > basil¡hw
> basil°w/bassileÝw
V. basil®W > basil®u > basileè basil®Wew > basil®ew > basil¡hw
> basil°w/bassileÝw
A. basil®W-n > basil®a > basil¡a basil®Wnw > basil®aw > basil¡aw
G. basil®W-ow > basil®ow > basil¡vw basil®Wvn > basil®vn > basil¡vn
D. basil®W-i > basil®i > basileÝ basil®Wsi > basil¡Wsi > basileèsi
L. basil®W-i > basil®i > basileÝ basil®Wsi > basil¡Wsi > basileèsi
I. basil®W-i > basil®i > basileÝ basil®Wsi > basil¡Wsi > basileèsi

Dual
N.V.A. basil®We > basil®e > basil¡h
> basil°/basileÝ
G.D.L.I. basil®Woin > basil®oin > basil¡oin

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210 a flexão nominal: os temas nominais

Notas:

1. O W seguido de consoante se vocaliza em -u.


2. Metátese de quantidade: longa + breve > breve + longa.
3. Depois da síncope do W as vogais do mesmo timbre se contraem; as
outras não.
4. No D.L.I. do singular basil®Wi > basil®i > basil¡i > basileÝ na
seqüência de duas longas, a anterior se abrevia:
5. Sobre o modelo basil®W- declinam-se inúmeras palavras masculinas
de profissões, alguns nomes geográficos e patronímicos.
6. Alguns nomes próprios e nomes masculinos de profissão ou atividade:
ƒAxilleæw - ¡vw Aquiles
ƒOdisseæw - ¡vw Odisseu, Ulisses
Eéboeæw - ¡vw Euboeu, habitante da Eubéia
Promhyeæw - ¡vw Prometeu
Peiraieæw - ¡vw Pireu (o porto)
ßppeæw - ¡vw o cavaleiro
goneæw - ¡vw, õ o genitor, o pai
goneÝw - ¡vn, oß os pais
lieæw - ¡vw, õ o pescador
brabeæw - ¡vw, õ o árbitro
nomeæw - ¡vw, õ o pastor
foneæw - ¡vw, õ o assassino
xoeæw - ¡vw, õ a coé, medida para líqüidos
ßereæw - ¡vw, õ o sacerdote - que cuida do sagrado
¥rmhneæw - ¡vw, õ o intérprete
suggrafeæw - ¡vw, õ o historiador, escritor
dromeæw - ¡vw, õ o corredor, o correio
São menos numerosos os nomes que seguem o modelo do neutro
stu (item l5) como:
² p¡lekuw - evw o machado T. p¡lekW-, p¡lekeW-
õ p°xuw - evw o côvado T. p°xW-, p°xeW
tò pÇu - evw o rebanho T. pÇW-, pÇeW- (ver p. 178,
quadro das dificuldades fonéticas)

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a flexão nominal: os temas nominais 211

15. Nomes de tema em W / eW

T. ŽstW- / ŽsteW- tò stu stevw a cidadela, o centro, a sé


T. grhW—/graW- ² graèw gra-ñw a mulher velha (jônico grhèw)
T. boW- õ / ² boèw bo-ñw o boi, a vaca

S. Nom. stW > stu graW-w > graèw boW-w > boèw
Voc. stW > stu graW > graè boW > boè
Acus. stW > stu graW-n > graèn boW-n > boèn
Gen. steW-ñw > stevw graW-ñw > grañw boW-ñw > boñw
Dat. steW-i > stei graW-Û > graÛ boW-Û > boÛ
Loc. steW-i > stei graW-Û > graÛ boW-Û > boÛ
Instr. steW-i > stei graW-Û > graÛ boW-Û > boÛ

P. Nom. steW-a > stea / h graW-ew > grew boW-ew > bñew
Voc. steW-a > stea / h graW-ew > grew boW-ew > bñew
Acus. steW-a > stea / h graW-nw > graèw boW-nw > boèw
Gen. ŽsteW-vn > stevn graW-vn > graÇn boW-vn > boÇn
Dat. steW-si > stesi graW-sÛ > grausÛ boW-si > bousÛ
Loc. steW-si > stesi graW-sÛ > grausÛ boW-si > bousÛ
Instr. steW-si > stesi graW-sÛ > grausÛ boW-si > bousÛ

D. N.A.V. steW-e > stee > stei graW-e > gre boW-e > bñe
G.D.L.I. Žst¡W-oin > Žst¡oin graW-oin > graoÝn boW-oin > booÝn

Notas:

1. O -W-intervocálico sofre síncope:


gen. sing. dat. sing nom. pl. gen. pl.
steWow > steow; steWi > ste-i > stei steWa steWvn
> stea / sth > stevn
graWñw > grañw graWÛ > graÛ gr‹Wew > gr‹ew graWÇn
> graÇn
boWñw > boñw boWÛ > boÛ bñWew > bñew boWÇn > boÇn

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212 a flexão nominal: os temas nominais

Se não é intervocálico, vocaliza-se em -u-:


acus. pl. dat. loc. inst. pl.
graWnw > gr‹unw > graèw graWsÛ > grausÛ
bñWnw > bñunw > boèw boWsÛ > bousÛ
mas Žst¡Wsi > Žst¡si
2. Das vogais que formam hiato após a queda do -W-, só as de timbre -e-
podem sofrer contração; com as outras o hiato se mantém.
3. Os genitivos singular e plural stevw - stevn são analógicos aos
genitivos pñlevw - pñlevn.
4. Sobre esse modelo declinam-se também os adjetivos de tema em -W/
eW no masculino e neutro.

16. Adjetivos de tema em W- / eW

T. ²dW-/²deW-. Fem. ²deÛa ²dæw - ²deÛa - ²dæ agradável, doce

masc. fem. neutro


S. Nom. ²dWw > ²dæw ²deÝa ²dW > ²dæ
Voc. ²dW > ²dæ ²deÝa ²dW > ²dæ
Acus. ²dWn > ²dæn ²deÛan ²dW > ²dæ
Gen. ²d¡W-ow > ²d¡ow ²deÛaw ²d¡W-ow > ²d¡ow
Dat. ²d¡W-i > ²deÝ ²deÛ& ²d¡W-i > ²deÝ
Loc. ²d¡W-i > ²deÝ ²deÛ& ²d¡W-i > ²deÝ
Instr. ²d¡W-i > ²deÝ ²deÛ& ²d¡W-i > ²deÝ
P. Nom. ²d¡W-ew > ²d¡ew > ²deÝw ²deÝai ²d¡W-a > ²d¡a
Voc. ²d¡W-ew > ²d¡ew > ²deÝw ²deÝai ²d¡W-a > ²d¡a
Acus. ²d¡W-nw > ²d¡nw > ²deÝw ²deÛaw ²d¡W-a > ²d¡a
Gen. ²d¡W-vn > ²d¡vn ²deiÇn ²d¡W-vn > ²d¡vn
Dat. ²d¡W-si > ²d¡si ²deÛaiw ²d¡W-si > ²d¡si
Loc. ²d¡W-si > ²d¡si ²deÛaiw ²d¡W-si > ²d¡si
Instr. ²d¡W-si > ²d¡si ²deÛaiw ²d¡W-si > ²d¡si
D. N.A.V. ²d¡W-e > ²d¡e > ²deÝ ²deÛa ²d¡W-e > ²d¡e > ²deÝ
G.D.L.I. ²d¡W-oin > ²d¡oin ²deÛain ²d¡W-oin > ²d¡oin

mur03.p65 212 22/01/01, 11:37


a flexão nominal: os temas nominais 213

Nota:

1. Vocalismo zero nos casos sintáticos do singular (nom., voc., acus.).


2. Vocalismo e nos outros do singular e em todo o plural.
3. Vogais de timbre diferente não se contraem.
4. Os femininos são formados sobre o tema do masculino eW com o sufi-
xo -ja: ²deW-ja > ²deuia > ²deÝa. São temas em vogal.
Eis alguns adjetivos que seguem esse modelo:
´misuw, ²mÛseia, ´misu meio, meia, metade
glukæw, glukeÝa, glukæ doce
bayæw, bayeÝa, bayæ fundo, profundo
eéræw, eéreÝa, eéræ largo, ancho
y°luw, y®leia, y°lu feminino
ôjæw, ôjeÝa, ôjæ pontudo, agudo
bradæw, bradeÝa, bradæ lento, vagaroso, lerdo
taxæw, taxeÝa, taxæ rápido
Èkæw, ÈkeÝa, Èkæ veloz
baræw, bareÝa, baræ pesado, grave
braxæw, braxeÝa, braxæ curto, breve
paxæw, paxeÝa, paxæ espesso, grosso

mur03.p65 213 22/01/01, 11:37


214 a flexão nominal: os temas nominais

17. Adjetivos de temas em W / o /a

polæw - poll® - polæ - muito, numeroso (T. polW-/pollo-/pollh-)

Singular Plural
Nom. polW-w > polæw poll® polW >polæ polloÛ pollaÛ poll‹
Voc. polW > polæ poll® polW > polæ polloÛ pollaÛ poll‹
Acus. polWn > polæn poll®n polW > polæ polloæw poll‹w poll‹
Gen. polloè poll°w polloè pollÇn pollÇn pollÇn
Dat. pollÒ poll» pollÒ polloÝw pollaÝw polloÝw
Loc. pollÒ poll» pollÒ polloÝw pollaÝw polloÝw
Instr. pollÒ poll» pollÒ polloÝw pollaÝw polloÝw

Dual
N.A.V. pollÇ poll pollÇ
G.D.L.I. polloÝn pollaÝn polloÝn

Nota:
Esses adjetivos (²dæw, ²deÝa, ²dæ - polæw, poll®, pollæ) cha-
mados mistos, por flexionarem o masculino e o neutro sobre um tema e o
feminino sobre outro, assustam às vezes o estudante, que está acostuma-
do a estudar toda a flexão sobre paradigmas fechados, estáticos ou em
cascata. Mas, para se libertar dessas amarras, basta atentar para o fato de
que toda a flexão, quer nominal, quer verbal repousa sobre um tema.
Cada nome, cada verbo tem seu tema independente, e é sobre ele
que se faz a flexão.
Há outros adjetivos que têm um tema comum para o masculino e
neutro, e outro, derivado do primeiro, para o feminino, de tema em -a.
Eis alguns deles:
T. xarÛent- xarÛeiw, xarÛeissa, xarÛen
gracioso, delicado, agradável
T. m¡gan- m¡gaw, meg‹lh, m¡gan grande
T. f¡ront- f¡rvn, f¡rousa, f¡ron particípio infectum de f¡rv portar
T. luy¡nt- luyeÛw, luyeÝsa, luy¡n particípio aoristo passivo de læv
soltar
T. læsant- læsaw, læsasa, lèsan particípio aoristo ativo de læv soltar
T. lelukot- lelukÅw, lelukuÝa, lelukñw part. perf. ativo de læv soltar

mur03.p65 214 22/01/01, 11:37


a flexão nominal: os temas nominais 215

18. Nomes de tema em -vW

T. ´rvW- õ ´rvw ´rvow o herói


T. dmÅW- õ dmÅw dmvñw o escravo, o criado
T. p‹trvW- õ p‹trvw p‹trvow o tio ou o avô paternos

S. Nom. ´rvWw > ³rvw dmÅWw > dmÅw p‹trvWw > p‹trvw
Voc. ´rvW > ´rv dmÅW > dmÅ p‹trvW > p‹trv
Acus. ´rvWa > ´rva/´rv dmÅWa > dmÅa p‹trvWa > p‹trva
Gen. ´rvWow > ´rvow dmvWñw > dmvñw p‹trvWow > p‹trvow
Dat. ´rvWi > ´rvi dmvWÛ > dmvÛ p‹trvWi > p‹trvi
Loc. ´rvWi > ´rvi dmvWÛ > dmvÛ p‹trvWi > p‹trvi
Instr. ´rvWi > ´rvi dmvWÛ > dmvÛ p‹trvWi > p‹trvi

P. Nom. ´rvWew > ´rvew dmÇWew > dmÇew p‹trvWew > p‹trvew
Voc. ´rvWew > ´rvew dmÇWew > dmÇew p‹trvWew > p‹trvew
Acus. ´rvWaw > ´rvaw dmÇWaw > dmÇaw p‹trvWaw > p‹trvaw
Gen. ²rÅWvn > ²rÅvn dm‘vWvn > dmÅvn patrÅWvn > patrÅvn
Dat. ´rvWsi > ´rvsi dmvWsÛ > dmvsÛ p‹trvWsi > p‹trvsi
Loc. ´rvWsi > ´rvsi dmvWsÛ > dmvsÛ p‹trvWsi > p‹trvsi
Instr. ´rvWsi > ´rvsi dmvWsÛ > dmvsÛ p‹trvWsi > p‹trvsi

D. N.A.V. ´rvWe > ´rve dmÇWe > dmÇe p‹trvWe > p‹trve
G.D.L.I. ²rÅWoin > ²rÅoin dmÅWoin > dmÅoin patrÅWoin > patrÅoin

Notas:

O W - 1. em posição final ou antes de consoante sofre síncope;


- 2. em posição intervocálica, sofre síncope.

Outros nomes que seguem o mesmo modelo:


T. m®trvW- õ m®trvw m®trvow o tio ou o avô materno
T. MÛnvW- õ MÛnvw MÛnvow Minos, rei de Knosos
T. g¡lvW- õ g¡lvw g¡lvow / g¡lvtow o riso

mur03.p65 215 22/01/01, 11:37


216 a flexão nominal: os temas nominais

Nomes heteroclíticos
Há finalmente alguns nomes que têm certas variantes em algumas
formas, como se flexionassem sobre dois temas distintos.
Em geral não são duas flexões paralelas; são algumas formas
paralelas.
Vamos relacioná-los em ordem alfabética, apresentando as formas
na ordem convencionada neste trabalho: nominativo, vocativo, acusati-
vo, genitivo e dat./loc./inst.
São os seguintes:
…Arhw - …Arevw, õ - Ares (Marte) T. …Ares- / …AreW-
N. …Arhw
V. …Arew / …Areu
A. …Arh / …Arhn
G. …Arevw
D. …Arei
gñnu - gñnatow, tñ - o joelho, T. gñnW- / gonat-
Sing. Pl.
N. gñnu, N. gñnata,
V. gñnu, V. gñnata,
A. gñnu, A. gñnata
G. gñnatow G. gon‹tvn
D.L.I. gñnati D.L.I. gñnasi
Dual gñnate
gon‹toin
d‹kru - uow, tñ - a lágrima, T. d‹kru-
Sing. Pl.
N. d‹kru N. d‹krua
V. d‹kru V. d‹krua
A. d‹kru A. d‹krua
G. d‹kruow G. dakrævn
D.L.I. d‹krui D.L.I. d‹krusi / dakræoiw
Dual d‹krue
dakræoin

mur03.p65 216 22/01/01, 11:37


a flexão nominal: os temas nominais 217

d¡ndron - ou, tñ - a árvore, T. dendro- / d¡ndres-


Sing. Pl.
N. d¡ndron N. d¡ndra / d¡ndrea
V. d¡ndron V. d¡ndra / d¡ndrea
A. d¡ndron A. d¡ndra / d¡ndrea
G. d¡ndrou G. d¡ndrvn / d¡ndrevn
D.L.I. d¡ndrÄ / d¡ndrei D.L.I. d¡ndroiw / d¡ndresi
Dual d¡ndre
d¡ndroin
dñru -atow, tñ - a lança, T. dñru-/dorat-
Sing. Pl.
N. dñru N. dñrata
V. dñru V. dñrata
A. dñru A. dñrata
G. dñratow / dorñw G. dor‹tvn
D.L.I. dñrati / dorÛ D.L.I. dñrasi
Dual dñrate
dor‹toin
Zeèw - Diñw, õ - Zeus, T. ZeW- / DiW- / Z°n-
Sing.
N. Zeèw N. Z°n,
V. Zeè V. Z°n,
A. DÛa A. Z°na
G. Diñw G. Zhnñw
D.L.I. DiÛ D.L.I. ZhnÛ
kleÛw - kleidñw, ² - a chave, T. kleid- / kleW-
Sing. Pl.
N. kleÛw N. kleÝdew / kleÝw
V. kleÛ, V. kleÝdew / kleÝw,
A. kleÝda / kleÝn A. kleÝdaw / kleÝw
G. kleidñw G. kleidÇn
D.L.I. kleidÛ D.L.I. kleisÛ
Dual kleÝde
kleidoÝn

mur03.p65 217 22/01/01, 11:37


218 a flexão nominal: os temas nominais

kævn - kunñw, õ / ² - o cão, a cadela, T. kæon- / kæn-


Sing. Pl.
N. kævn N. kænew
V. kæon V. kænew
A. kæna, A. kænaw
G. kunñw, G. kunÇn
D.L.I. kunÛ D.L.I. kusÛ
Dual kæne
kunoÝn
lw - low, õ / ² - a pedra, lasca, T. laWa-/ laW-
Sing. Pl.
N. l‹aw / lw N. lew
V. lw V. lew
A. lan / ln A. l,aw
G. low G. l‹vn
D.L.I. li D.L.I. l‹esi / l‹essi
Dual le
l‹oin
önar - ôneÛratow, tñ - o sonho, T. öneirat- / ôneiro-
Sing. Pl.
N. önar / öneirow N. ôneÛrata,
V. önar / öneire, V. ôneÛrata,
A. önar / öneiron A. ôneÛrata,
G. ôneÛrou / ôneÛratow, G. ôneir‹tvn,
D.L.I. ôneÛrati / ôneÛrÄ D.L.I. ôneÛrasi / ôneÛroiw
Dual ôneÛrate
ôneir‹toin

mur03.p65 218 22/01/01, 11:37


a flexão nominal: os temas nominais 219

öxow-ou, õ / öxow-ouw, tñ - o carro, T. öxo- / öxes-

T. öxo-
Sing. Pl.
N. öxow N. öxoi,
V. öxe V. öxoi,
A. öxon A. öxouw
G. öxou G. öxvn
D.L.I. öxÄ D.L.I. öxoiw
Dual öxv
öxoin

T. öxes-
Sing. Pl.
N. öxow, N. öxea > h
V. öxow, V. öxea > h
A. öxow, A. öxea > h
G. öxes-ow > öxeow > öxouw G. ôx¡s-vn > ôx¡vn > ôxÇn
D.L.I. öxes-i > öxei D.L.I. öxes-si > öxesi
Dual öxee > ei
ôx¡oin > oxoÝn

pr¡sbuw - pr¡sbevw, õ - o ancião,


T. presbW- presbeW/ presbeut®-/-‹-
Pl. - os embaixadores
Sing. Pl.
N. pr¡sbuw / presbeut®w N. pr¡sbeiw / presbeutaÛ,
V. pr¡sbu / presbeut‹ V. pr¡sbeiw / presbeutaÛ
A. pr¡sbun / presbeut®n A. pr¡sbeiw / presbeut‹w,
G. pr¡sbevw / presbeutoè G. pr¡sbevn / presbeutÇn
D.L.I. pr¡sbei / prsbeut» D.L.I. pr¡sbesi / presbeutaÝw
Dual pr¡sbee / presbeut‹
presb¡oin / presbeutaÝn

mur03.p65 219 22/01/01, 11:37


220 a flexão nominal: os temas nominais

pèr - purñw, tñ - o fogo,


Pl. (fogos de bivaque, fogueira) T. pèr-
Sing. Pl.
N. pèr N. pur‹,
V. pèr V. pur‹
A. pèr A. pur‹
G. purñw G. purÇn
D.L.I. purÛ D.L.I. pursÛ
Dual père
puroÝn

skñtow-ou, õ / skñtow-ouw, tñ - as trevas,


T. skoto- / skotes-
T. skñto-
Sing. Pl.
N. skñtow N. skñtoi,
V. skñte, V. skñtoi,
A. skñton A. skñtouw
G. skñtou G. skñtvn
D.L.I. skñtÄ D.L.I. skñtoiw
Dual skñtv
skñtoin

T. skñtes-
Sing. Pl.
N. skñtow, N. skñtes-a > skñtea > skñth
V. skñtow, V. skñtes-a > skñtea > skñth
A. skñtow, A. skñtes-a > skñtea > skñth
G. skñtes-ow > skñteow > skñtouw G. skot¡s-vn > skot¡vn > skotÅn
D.L.I. skñtes-i > skñtei D.L.I. skñtes-si > skñtesi
Dual skñtee > ei
skotoÝn

mur03.p65 220 22/01/01, 11:37


a flexão nominal: os temas nominais 221

skæfow-ou, õ / skæfow-ouw, tñ - a taça, T. skæfo- / skæfes-


T. skufo-
Sing. Pl.
N. skæfow N. skæfoi,
V. skæfe V. skæfoi,
A. skæfon A. skæfouw
G. skæfou, G. skæfvn
D.L.I. skæfÄ D.L.I. skæfoiw
Dual skæfv
skæfoin

T. skæfes-
Sing. Pl.
N. skæfow N. skæfes-a > skæfea > skæfh
V. skæfow V. skæfes-a > skæfea > skæfh
A. skæfow A. skæfes-a > skæfea > skæfh
G. skæfes-ow > skæfeow > skæfouw G. skuf¡s-vn > skuf¡vn > skufÇn
D.L.I. skæfes-i > skæfei D.L.I. skæfes-si > skæfesi
Dual skæfee > ei
skufoÝn

êiñw - êioè, õ - o filho, T. êio- / êieW /êiW-


Sing. Pl.
N. êiñw N. êioÛ / êieÝw
V. êi¡, V. êioÛ / êieÝw
A. êiñn / êi¡a A. êioæw / êieÝw / êi¡aw
G. ußoè/êi¡ow/êiñw G. êiÇn / êi¡vn
D.L.I. êiÒ / êieÝ D.L.I. êioÝw/ êi¡si
Dual êi¡e/êieÝ
êi¡oin

mur03.p65 221 22/01/01, 11:37


222 a flexão nominal: os temas nominais

Nomes que só têm plural:

ƒAy°nai - Çn, aß Atenas, a cidade, T. ƒAyhna-


N. ƒAy°nai,
V. ƒAy°nai,
A. ƒAy®naw,
G. ƒAyhnÇn,
D.L.I. ƒAy®naiw.

oß ¤tesÛai - Ûvn os ventos etésios, T. ¤tesÛa-


aß Panay®naiai - Çn As Panatenéias (festas), T. Panay®naia-

Só nom. voc. e acus.

õ lÛw, o leão (poético)


Î lÛw, tòn lÛn

Nomes indeclináveis:

tò d¡maw (poét.) o corpo (ver p. 188-9)


tò öfelow o proveito, a utilidade
tò ðpar a visão

Por serem neutros podem servir aos casos sintáticos: nom., voc., acus.
Os nomes das letras do alfabeto:
tò lfa, tò b°ta ktl.
Os números cardinais de 5 a 100:
p¡nte (5), d¡ka (10), §ndeka (11), pentekaÛdeka (15),
¥katñn (100).

mur03.p65 222 22/01/01, 11:37


O verbo grego
Preliminares

É conhecida a ojeriza que o estudante de grego sente diante do


sistema complicado da conjugação dos verbos gregos. Ele tem a sensação
de estar pisando terreno movediço, que cede sempre lá onde ele pensa
poder apoiar-se. Ele não vê coerência; por toda a parte é o arbítrio, são
regras e sobretudo exceções.
O recurso é apelar para os métodos de memorização até que tudo
entre na cabeça, pronto para ser usado. Mas, mesmo assim, permanece a
insegurança. Quando ele vai enfrentar um texto, além do dicionário, é
indispensável a presença de uma gramática.
Qual é a causa disso?
Não é difícil responder. É a incoerência do modelo “descritivista”
e “prescritivista” da flexão verbal e nominal, que desconhece a base de
qualquer sistema de flexão, que é a identificação das duas partes:
• o tema, a parte fixa sobre a qual giram as desinências (o tema
nominal contém o significado virtual do nome, o tema verbal
contém o significado e o aspecto do verbo),
• as desinências (ptÅseiw, casus), que dão a função ao nome, e a
pessoa, o número, a voz e o modo ao verbo.
No caso do verbo, o grande erro da gramática foi o de construir
todo o sistema de flexão sobre o infectum, que é uma forma modificada,
complexa, e por isso não pode ser ponto de partida para todo o sistema,
porque, em geral modificada, o obriga a produzir exceções.
O ponto de partida para a flexão verbal deve ser o tema verbal puro,
isto, é o tema aoristo do verbo. É nele que está a essência do significado
e é a partir dele que derivam os dois outros temas: o do infectum e o do
perfectum 1. Veremos isso pormenorizadamente à medida que estudar-
mos cada tema.

1 É bom lembrar sempre que o tema é a parte fixa, sede do significado, sobre o que
se sucedem as desinências. Se o tema absoluto, puro do verbo, é o tema do aoristo,

mur04.p65 223 22/01/01, 11:37


224 o verbo grego

Como são três os aspectos: aoristo, infectum e perfectum, três tam-


bém são os temas sobre os quais se constrói a conjugação verbal em gre-
go. São temas “aspectuais” e não temas temporais (tempos primitivos da
gramática tradicional).
O tempo delimitador dos fatos não está no verbo. O tempo está no
enquadramento do ato verbal.
Ele é exterior ao verbo.
Aqui caberia observar o que diz Aristóteles (Poética, 20, 8), quan-
do se refere ao nome (önoma) e ao verbo (=°ma):
“…Onoma dƒ¤stÜ fvn¯ sunyet¯ shmantik¯, neu xrñnou,
¸w m¡row oéd¡n ¤sti kayƒaêtò shmantikñn: ¤n gŒr toÝw
diploÝw oé xrÅmeya Éw kaÜ aétò kayƒaêtò shmaÝnon, oåon
¤n tÒ YeodÅrÄ tò “dÇron” oé shmaÛnei.
„R°ma d¢ fvn¯ sunyet¯ shmantik¯ metŒ xrñnou ¸w oéd¢n
m¡row shmaÛnei kayƒaêtò Ësper kaÜ ¤pÜ tÇn ônom‹tvn:
tò m¢n gŒr “nyrvpow” µ “leukòn” oé shmaÛnei tò tñte,
tò d¢ “badÛzei” µ “beb‹dike” prosshmaÛnei tò m¢n tòn
parñnta xrñnon tò d¢ tòn parelhluyñta”.
“Nome é um som composto, significante, sem tempo, de que nenhuma
parte por si mesma é significativa; pois dos duplos não nos servimos como o
mesmo tendo um significado por si mesmo, como em Teodoro o “doro” (dom,
dádiva) não tem significado.
Verbo é um som composto, significante com tempo de que nenhuma
parte por si mesma é significativa, como acontece também nos nomes; pois,
por um lado “homem” e “branco” não significam quando (= nesse tempo); por
outro, está andando e acabou de andar anunciam um o tempo presente, o
outro, o tempo decorrido”. (Arist., Poét., 1457a10-1457a18).
Nas expressões “com tempo” e “sem tempo”, Aristóteles não se
refere ao tempo externo, medido, determinado, mas sim ao tempo que a
elocução porta consigo ou em si mesma. O nome não tem tempo próprio;
não porta a noção de tempo em si mesmo. O verbo sim, porque o verbo
é um processo (os exemplos de Aristóteles não são com verbos de estado).

que em geral coincide com a raiz, os temas do infectum e do perfectum são radi-
cais, isto é raiz modificada.

mur04.p65 224 22/01/01, 11:37


o verbo grego 225

Nos dois exemplos temos um infectum = inacabado; badÛzei e o


perfectum = acabado: beb‹dike. Curiosamente Aristóteles não exem-
plifica aqui com um aoristo.
É que o aoristo não tem processo verbal, ou melhor, o processo verbal
não chega a eclodir; é o ato verbal em seu estado “pontual”; não tem “tempo
interno”, que é o desenvolvimento da ação verbal.
No infectum e no perfectum há um processo, há um “tempo inter-
no”, há um desenvolvimento da ação.
Também as expressões tòn parñnta xrñnon e tòn para-
lhluyñta são expressões de tempo relativo (o tempo que corre e que
acabou de correr) no próprio ato; o ponto de referência (enquadramento
do ato verbal) está fora.
Se Aristóteles tivesse a intenção de referir-se a um passado, teria
utilizado uma forma com o aumento ¤-, que ele conhecia e usava; é, aliás,
o que ele faz logo adiante (1457a18-23), em que ele chama de ptÇsiw
tanto a flexão do nome (casos) quanto a flexão do verbo:
“PtÇsiw dƒ ¤stÜn ônñmatow µ =®matow, ² m¢n katŒ tò
toætou µ toætÄ shmaÝnon kaÜ ÷sa toiaèta ² d¢ katŒ
tò ¤nÜ µ polloÝw, oåon nyrvpoi µ nyrvpow ² d¢ katŒ
tŒ êpokritik‹, oåon katƒ¤rÅthsin µ ¤pÛtajin: tò gŒr
¤b‹disen; µ b‹dize ptÇsiw =®matow katŒ taèta tŒ eàdh
¤stÛn”.
“Caso é de nome ou de verbo; um segundo o que significa: desse ou a
esse e quantas coisas desse tipo; outro, segundo um ou muitos, como homens e
homem; outro segundo as expressões dos personagens, como numa interroga-
ção ou numa determinação; pois “ele caminhou?” ou “caminha” é uma flexão
(caso) do verbo, segundo essas formas”.
Aqui, o exemplo no indicativo aoristo ¤b‹disen interroga sobre
um ato cometido num ponto qualquer do tempo passado; o aumento re-
vela isso. No outro b‹dize, é apenas a emissão de uma ordem de início
da ação: entra no ato de caminhar.
A única marca de tempo que a língua grega possui é o que cha-
mam de aumento, que marca o passado e se antepõe ao tema verbal, com
uso restrito ao indicativo, porque a marcação ou delimitação do tempo é
uma noção dêitica, demonstrativa, objetiva. Por isso é natural que a língua
grega exprima essa relação somente pelo indicativo. Esse aumento (e-)
seria um antigo advérbio de tempo, independente, e passou a ser usado

mur04.p65 225 22/01/01, 11:37


226 o verbo grego

como prefixo nos tempos da elaboração dos poemas homéricos. Na Ilíada


e na Odisséia o seu uso é ainda hesitante. Ora aparece ora não, sem uma
linha de coerência: freqüentemente por razões de metrificação.

Os aspectos verbais:
tempo interno do verbo
Inacabado (infectum)

É o ato verbal que começou e está em movimento, na sua realiza-


ção, em pleno processamento. Pode conter a idéia de hábito, iteração, fre-
qüência, desdobramento, amplificação; pode dar a idéia de início do processo
verbal e também da continuidade. Pode ser presente ou passado (imperfeito).
Convém lembrar que, quando dizemos “presente” não pensamos
em tempo absoluto, mas em tempo relativo a um ponto, a um espaço e a
um tempo. O nome “presente” é um particípio presente e por isso traz a
idéia de simultaneidade; o nome “imperfeito” exprime um processo (ain-
da) não acabado: passado em relação ao presente e presente, simultâneo a
um processo (ato verbal) no passado.
A marca do passado está no aumento e só existe no indicativo: a
noção de tempo é uma noção concreta, real; por isso não pode ser expressa
por outro modo que não seja o modo da realidade, da afirmação, que é o
indicativo. Isso está claro em todos os textos gregos, se nós os lermos
diretamente, não contaminados pela gramática.
De início não nos parece uma tarefa fácil desligarmo-nos da noção
de tempo; todos nós temos a cabeça cheia de presentes, perfeitos, imperfei-
tos, mais que perfeitos do subjuntivo etc. da gramática portuguesa. Em to-
das essas expressões aprendemos e entendemos que está embutido o tem-
po. Em grego não! Na gramática grega, isto é, na língua grega, não há
imperfeito do subjuntivo, pretérito perfeito do subjuntivo e mais-que-perfeito
do subjuntivo.
Fora do indicativo, as formas verbais só exprimem idéias de aspecto
(tempo da ação) e modo.

mur04.p65 226 22/01/01, 11:37


o verbo grego 227

Por isso, elas nos parecem difíceis de traduzir. Mas, partindo do


indicativo, vamos registrar alguns exemplos que as gramáticas nos forne-
cem, dando-lhes uma tradução bem linear.
No infectum-inacabado há freqüente confusão com os termos pre-
sente - imperfeito. É que ambos exprimem atos durativos, e a idéia de tem-
po que nos transmitem é a de um tempo referencial, não absoluto; há
um ponto de referência para o presente (simultaneidade no presente) e
um ponto de referência para o imperfeito (simultaneidade no passado). É
o paratatikòw xrñnow, isto é, o “tempo esticado ao lado de” dos es-
tóicos. No presente e imperfeito (tema do infectum-inacabado) podere-
mos ver, nos exemplos a seguir, a idéia do permanente que inclui um
passado recente (atos freqüentes, repetição, costume) e uma projeção para
um vir a ser imediato (início ou tentativa “de conatus”, esforço, e conti-
nuidade da ação). Com freqüencia não é fácil distinguir essas idéias numa
só forma verbal.

Significados do infectum
1. Uma ação que se desenvolve no momento em que estamos falando,
que começou há pouco mas que continua ou que está começando no
momento em que se fala;
DareÛou kaÜ Parus‹tidow gÛgnontai paÝdew dæo
(Xen., An., 4, 7, 7)
De Dario e Parisátis nasceram [e estão vivos] dois filhos.
¤peid¯ ¤ggçw ·san ¤mpÛptousin (Tuc., 2, 81, 5)
como estavam próximos, caem em cima.
ßketeæom¡n se p‹ntew
nós todos te suplicamos [estamos suplicando].
oäda ÷ti pollŒ paraleÛpv (Isócr., 16.22)
eu sei que deixo [estou deixando] passar muitas coisas.
(aqui há uma combinação do perfeito oäda, acabado e do presente
paraleÛpv, ingressivo-simultâneo)
taèta gr‹fv
eu escrevo essas coisas [estou escrevendo, entro no ato de escrever].

mur04.p65 227 22/01/01, 11:37


228 o verbo grego

oïtiw me kteÛnei (Hom.)


“ninguém” está me matando.
ƒAgam¡mnvn jia dÇra dÛdvsin (Hom.)
Agamêmnon dá [oferece, vai dar, está dando-entra no ato de dar]
presentes dignos [de valor].
yaum‹zv
eu me espanto [estou me espantando-entro no ato de ...].
peÛyv
eu tento convencer [eu entro no ato de convencer].
¤japat˜w me, Î fÛltate „IppÛa; (Plat., Híp. Men., 369e)
tu estás me enganando [tentando me enganar, tu me enganas] ca-
ríssimo Hípias!
Éw ¤xyroçw Žllƒ oé pros®kontaw (²mw) Žpñllusi (Is., 5, 30)
Ele nos arruina [está tentando nos arruinar] como [se fôssemos]
inimigos e não parentes.
p¡peismai ¤gÆ ¥kñnta mhd¡na ŽdikeÝn ŽnyrÅpvn Žllƒ
êmw oé peÛyv (Plat., Apol., 37a)
Eu estou convencido que nenhum homem/nenhum dos homens
comete injustiça voluntariamente mas a vós eu não convenço [não
consigo convencer, não estou convencendo].
¤peid¯ ¤teleæthse DareÝow Tissaf¡rnhw diab‹llei tòn
Kèron
Assim que Dario morreu, Tissafernes calunia [começa a caluniar,
se põe a caluniar] Ciro.

2. Uma ação que começou há pouco ou que se inicia, mas que continua
ou que se tornou ou se torna um hábito, que se repete, ou uma afir-
mação que vale para todos os tempos. Acontece sobretudo com ver-
bos em cujo significado não se percebe a separação de início pontual e
continuidade da ação.
nikÇ = eu venço = venci = eu sou vencedor

mur04.p65 228 22/01/01, 11:37


o verbo grego 229

Žpagg¡lete ƒAriaÛÄ ÷ti ²meÝw nikÇmen basil¡a kaÜ oédeÜw


²mÝn ¦ti m‹xetai. (Xen., An., II, 1, 4)
anunciai (começai a anunciar) a Arieu que nós vencemos o rei [so-
mos vencedores] e que ninguém mais nos combate [está lutando
contra nós].
A diferença está no significado dos dois verbos vencer e combater.

²ttÇmai (a) = eu sou o vencido = sou derrotado = estou sendo vencido.


ŽdikÇ (e) = eu sou o culpado = sou o réu.
diÅkv (aétñn) = eu sou o acusador (no tribunal) = entro no ato de
acusar.
gr‹fomai (autñn) = eu movo um processo = eu acuso (no tribu-
nal) = sou o acusador = entrei e estou no ato de acusar.
feægv = eu estou banido, exilado = estou no exílio, eu me exilo.
´kv = eu estou aqui = eu cheguei, estou chegando, chego.
oàxomai / oàxetai = estou / está viajando = parti, partiu.
Žkoæv = eu ouço (ouvi) dizer = corre o boato que.
puny‹nomai = eu tenho a informação que.

Yemistokl¡a oék Žkoæeiw ndra Žgayòn gegonñta kaÜ


KÛmvna kaÜ Milti‹dhn kaÜ Perikl¡a toutonÜ tòn nevstÜ
teteleuthkñta oð kaÜ sç Žk®koaw;
tu não ouves dizer [não sabes] que Temístocles veio a ser um ho-
mem de bem e também Címon e Milcíades e esse Péricles, esse
recentemente falecido de que também ouviste.
¦sti yeñw
existe uma divindade.
„HsÛodñw fhsin: ¦rgon dƒ oéd¢n öneidow ŽergÛa d¡ tƒ öneidow
Diz Hesíodo: atividade nenhuma é castigo, mas castigo é inatividade.
Pl‹ttvn did‹skei ÷ti
Platão ensina (contínuo) que.
Xenofñnta ŽnagignÅskv
eu leio Xenofonte [estou lendo e sempre leio].

mur04.p65 229 22/01/01, 11:37


230 o verbo grego

p‹ntew tòn Svkr‹thn gantai


todos admiram Sócrates.
‘panyƒ õ limòw gluk¡a pl¯n aêtoè poieÝ
a fome torna todas as coisas doces, menos ela mesma.
PloÝon ¤w D°lon ƒAyhnaÝoi p¡mpousin
Os Atenienses enviam [costumam enviar todos os anos] uma em-
barcação para Delos.
õrÇmen t¯n m¡littan ¤fƒ ‘panta blast®mata kayÛzousan
nós vemos [costumamos ver] a abelha pousando sobre todas as plantas.
õ Svkr‹thw ¦fh: “oß n¡oi poll‹kiw ¤m¢ mimoèntai kaÜ
¤pixeiroèsin llouw ¤jet‹zein”
Sócrates dizia: “os jovens muitas vezes me imitam e tomam nas mãos
excitar os outros”.
p‹ntew oß tÇn ŽrÛstvn PersÇn paÝdew ¤pÜ taÝw basil¡vw
yæraiw paideæontai. (Xen., An., I, 9, 3)
todos os filhos dos nobres persas são educados às portas do rei.
oéd¢n yaumastñn, Î ndrew ƒAyhnaÝoi, m¯ taétŒ ¤moÜ kaÜ
Dhmosy¡nei dokeÝn: oðtow m¢n ìdvr ¤gÆ dƒ oänon pÛnv
nada há de se admirar, cidadãos de Atenas, de as mesmas coisas
não parecerem bem a mim e a Demóstenes; eu bebo vinho e ele,
água.
mñliw fikneÝsye ÷poi ²meÝw p‹lai ´komen (Xen., Cir., I, 3, 4)
vós chegais [estais chegando] com dificuldade onde nós há muito
chegamos [acabamos de chegar]

3. Um ato por vir, que se inicia - iniciará- imediatamente e continuará:


eÞ aìth ² pñliw lhfy®setai ¦xetai kaÜ ² psa SikelÛa
(Tuc., VI, 91, 2)
se essa cidade é tomada [for tomada], a Sicília toda está presa [será].
dÛdvmÛ soi Î Kère taæthn gunaÝka ¤m¯n oïsan yugat¡ra
(Xen., Cir., VIII, 5, 19)
Eu te dou [estou dando, entro no ato de dar, vou te dar], Ciro,
essa mulher que é minha irmã.

mur04.p65 230 22/01/01, 11:37


o verbo grego 231

õ Kèrow eäpen: ƒAllƒ ¤pÛ ge toætouw ¤gÆ aétòw par¡rxo-


mai (Xen., Cir., VII, 1 ,2)
Ciro disse: Mas, contra esses aí eu mesmo marcho [vou marchar].
¤peÜ dƒ ¤genñmhn õ pat¯r kteÛnei me (Eur., Fen., 1600)
depois que eu nasci [desde que] meu pai me mata [está me matan-
do, vai me matar].
lÛssomai sƒ êp¢r cux°w kaÜ goænvn (Hom., X, 339)
eu te suplico [estou te suplicando] pela tua alma e pelos teus joe-
lhos [sobre]
pollŒ gƒ ¦th ³dh eÞmÛ ¤n t» t¡xnú (Plat., Prot., 317c)
muitos anos já estou [e continuo] nesta arte.
oé sæ gƒ ¦peita Tud¡ow ¦kgonñw ¤ssi (Hom., E, 813)
tu não és , depois disso, filho de Tideu! [não continuas sendo]
õ pñlemow oéd¡nƒ ndrƒ ¥kÆn aßreÝ ponhrñn, ŽllŒ toçw
xrhstoæw (Sóf., Fil., 436)
a guerra por sua vontade não escolhe nenhum homem vil, mas os
melhores.
sç t¯n ¤m¯n gunaÝka kvlæeiw ¤m¡... ¤pÜ Sp‹rthn gein;
(Aristóf., Tesm., 918)
tu me impedes [estás tentando me impedir] de levar minha mulher
para Esparta?!

Todas essas situações podem se repetir no imperfeito do indicativo


(o imperfeito não tem outros modos):
a) ação passada vista em sua extensão (duração)
taèta l¡gousa ¤n¡due tŒ ÷pla kaÜ lany‹nein m¢n ¤pei-
rto, ¤leÛbeto d¢ aét» tŒ d‹krua katŒ tÇn pareiÇn
(Xen., Cir., 6, 4, 3)
enquanto dizia essas palavras [essas coisas dizendo] ela vestia as ar-
mas e tentava esconder, mas escorriam-lhe as lágrimas pelas faces.
pemfyeÜw di¡tribe parŒ Lus‹ndrÄ treÝw m°naw (Xen., Hell.,
2, 2, 16)
[tendo sido] enviado, ele passou [começou a passar] três meses jun-
to a Lisandro.

mur04.p65 231 22/01/01, 11:37


232 o verbo grego

Kl¡arxow sun®gagen ¤kklhsÛan tÇn strativtÇn: kaÜ


prÇton m¢n ¤d‹krue polçn xrñnon ¤stÅw: oß d¢ õrÇntew
¤yaæmazon kaÜ ¤siÅpvn: eäta ¦leje t‹de: (Xen.)
Clearco reuniu a assembléia dos soldados; e aí, primeiro, de pé,
chorava [pôs-se a chorar] por muito tempo; e os que o viam fica-
ram admirados [entraram no ato de admirar] e em silêncio; a se-
guir ele disse estas coisas:

b) ação passada concomitante a um outro fato passado:


Kèrow ¤jelaænei ¤pÜ potamòn pl®rh Þxyævn meg‹lvn oîw
oß Særoi yeoçw ¤nñmizon.
Ciro chega a um rio repleto de grandes peixes que os Sírios consi-
deravam deuses.
÷te Žp¡ynúsken ·n ¤tÇn Éw tri‹konta (Xen., An., 2.6.20)
No momento em que ele estava morrendo, ele tinha por volta de
trinta anos.
² ²met¡ra pñliw pròw ¶n Žfiknoènto prñteron ¤k t°w
„Ell‹dow aß presbeÝai (Ésquin., Contr. Ctes., 134)
nossa cidade para a qual antes chegavam [vinham, costumavam vir]
delegações de toda a Grécia.
Svkr‹thw oék ¦pinen eÞ m¯ dicÐh
Sócrates não bebia, a não ser que tivesse sede.
¤peid¯ d¢ ŽnoixyeÛh (tò desmvt®rion) es»men (Plat., Fedro, 59e)
depois que [a prisão] se abria nós entrávamos [costumávamos entrar].
¤klegñmenow tòn ¤pit®deion ¦paien n (Xen., An., 2.3.11)
separando o mais próximo ele batia [começava a bater].
oëpote meÝon Žpestratopedeæonto oß b‹rbaroi tÇn
„Ell®nvn ¤j®konta stadÛvn (Xen.)
Os bárbaros nunca acampavam [costumavam acampar] a menos de
sessenta estádios dos gregos.
öfra m¢n ±Çw ·n kaÜ Ž¡jeto ßeròn ¸mar tñfra m‹lƒ Žmfo-
t¡rvn b¡leƒ ´pteto, pÝpt¡ te lañw. (Hom.)
enquanto durava [era] a manhã e crescia o divino dia, durante esse
tempo intensamente de ambos os lados os dardos golpeavam e o
povo caía.

mur04.p65 232 22/01/01, 11:37


o verbo grego 233

c) esforço, começo e continuidade ou repetição da ação no passado


N¡vn ¦peiyen aétoçw Žpotr¡pesyai: oã d¢ oéx êp®kouon.
(Xen., Cir., V, 5, 22)
Nêon tentava convencê-los a voltar; e eles não lhe obedeciam.
¦peiyon aétoçw kaÜ oîw ¦peisa toætouw ¦xvn ¤poreuñmhn,
(Xen., An., VI, 5, 27)
eu tentava convencê-los e tendo esses, os que eu convenci, iniciei a
marcha.
di¡fyeiron prosiñntew toçw stratiÅtaw kaÜ §na ge
loxagòn di¡fyeiran (Xen., An., V, 7, 25)
aproximando-se dos soldados eles tentavam corrompê-los [corrom-
piam-nos] e até um capitão eles corromperam.
Žpvllæmeya
nós estávamos perdidos [corríamos perigo].
¤pnÛgeto
ele estava se afogando [ia se afogar].
paredæeto eÞw Pelopñnhson (Dem., Cor., 79)
ele se introduzia [procurava entrar] no Peloponeso.
¤sp¡ndonto ŽnaÛresin toÝw nekroÝw mayñntew d¢ tò Žlhy¢w
¤paæsanto (Tuc., 3, 244, 3)
Eles estavam empenhados no recolhimento dos mortos, mas, ten-
do-se informado da verdade, renunciaram.

d) dois imperfeitos seguidos não marcam simultaneidade da ação pas-


sada (que seria expressa pelo particípio presente) mas sim uma ação
passada antes da outra:
Žnemimn®skonto kaÜ Éw yæein ¤n AélÛdi tòn ƒAghsÛlaon oék
eàvn (Xen., Hell., 3, 3, 5)
Eles se lembravam também como em Aulis eles não tinham deixa-
do (ação durativa e não pontual) Agesilau oferecer sacrifício.
Algumas vezes, ao narrarmos um fato passado, para darmos mais
ênfase à narrativa, usamos o presente, como para pôr diante dos olhos do
ouvinte/leitor o fato narrado. É o que as gramáticas chamam de presente
histórico.

mur04.p65 233 22/01/01, 11:37


234 o verbo grego

Ele marca, na verdade, concomitância com o fato narrado.


Heródoto (I, 10) diz que Giges, por insistência de Candaules, vai
ver a mulher deste se despir antes de se deitar. A narrativa é feita no
imperfeito e aoristo; mas na hora de o intruso esgueirar-se para fugir,
Heródoto escreve:
kaÜ ² gun¯ ¤por˜ min ¤jiñnta
e a mulher o avista saindo (J. Humbert, 234).
yn¹skei gunaikñw... dñlÒ... Aàgisyow d¢ basileæei (Eur., El., 9-11)
ele [Agamêmnon] morre por um ardil da mulher, e Egisto é rei
[reina].
keÛnh gŒr Êles¡n nin eÞw TroÛan tƒgei (Eur., Héc., 268)
é ela que o perdeu e o leva para Tróia.

Aoristo
É o ato verbal em sua essência, expresso pelo tema verbal puro
(freqüentemente a própria raiz), sem contornos, sem limites. É usado:
(1) nas máximas e provérbios (aoristo gnômico, não enquadrado) e
(2) nos quadros narrativos em que enumera fatos isolados (pontuais) que
incidem sobre a linha do processo narrativo (aoristo narrativo, enquadrado).

1. Exemplos do primeiro uso


gnÇyi sautñn
Conhece-te a ti mesmo.
=Åmh met‹ fron®sevw Èf¡lhsen
força com sabedoria ajuda [é útil] (Isócrates).
mikròn ptaÝsma di¡luse p‹nta
pequeno acidente estraga tudo.
ùw m¡n tƒaÞd¡setai koæraw Diòw sson Þoæsaw,
tòn d¢ m¡gƒÊnhsan, kaÛ tƒ¦kluon eéjam¡noio (Hom., K, 509)
quem respeitar as filhas de Zeus que chegam perto, esse elas o pro-
tegem muito e o ouvem suplicante [tendo suplicado].

mur04.p65 234 22/01/01, 11:37


o verbo grego 235

oédeÜw ¦painon ²donaÝw ¤kt®sato


ninguém adquire elogio com prazeres.
tÒ xrñnÄ ² dÛkh p‹ntvw ·lyƒ Žpotisam¡nh
com o tempo [pelo tempo] sempre chega a justiça vingadora.
kaÜ bradçw eëboulow eålen taxçn ndra diÅkvn
até o lento, quando quer, perseguindo, pega o homem veloz.
tŒw tÇn faælvn sunousÛaw ôlÛgow xrñnow di¡lusen
um tempo curto dissolve as sociedades dos levianos.
k‹tyanƒ õmÇw ÷ tƒ Žergòw Žn¯r ÷ te pollŒ ¤orgÇw (Hom.)
morre igualmente o homem inativo e o que fez muitas coisas.
k‹llow xrñnow Žn®lvsen
o tempo destrói a beleza.
tò dokeÝn eänai kalòn kŽgayòn tòn lñgon pistñteron
¤poÛhsen
o fato de parecer belo e bom [o parecer belo e bom, ter boa repu-
tação] faz o discurso mais acreditável.

Esse uso do aoristo, expresso em português pelo presente sim-


ples, não indica duração, hábito ou continuidade do ato verbal, mas ver-
dades gerais e é por isso denominado aoristo gnômico pelas gramáticas,
de gnÅmh - gnÇmai, máxima, provérbio.

2. No segundo uso, como foi assinalado, dentro de um quadro narrativo,


o aoristo exprime um ato isolado, pontual no passado, igualmente sem
nenhuma conotação de duração, continuidade ou término do ato ver-
bal. É uma enumeração de fatos isolados, “pontuando” o fio narrativo:
“Hoje eu fui à cidade, almocei, comprei livros, encontrei amigos e fui
à escola”. Todos são aoristos, enquadrados no passado pela palavra
“hoje”, isto é: até este momento. Em português ele corresponde ao
nosso pretérito simples do indicativo.
É o aoristo que podemos chamar de narrativo, enquadrado. Apa-
rece às vezes com conjunções ou com advérbios, que não “regem” o
aoristo, mas apenas situam o ato verbal no tempo. Não se trata de uma
regra gramatical, mas de uma relação normal, semântica, orgânica, ló-
gica. As conjunções ou os advérbios mais comuns neste caso são:

mur04.p65 235 22/01/01, 11:37


236 o verbo grego

¤peÛ, Éw, ÷te - quando;


¤peid® (t‹xista) ¤peÜ prÇton - logo que, assim que;
§vw, ¦ste, m¡xri - até que (trataremos disso no capítulo dos invariáveis).

DiŒ mikròn ¤polem®sate


Entrastes em guerra por pequena coisa (o ato em si).
Peisistr‹tou teleut®santow „IppÛaw ¦sxe t¯n Žrx®n
(Arist.)
Tendo morrido Pisístrato Hípias obteve o poder (o ato em si).
¤gÆ ·lyon, eädon, ¤nÛkhsa, (Apiano)
Eu vim, vi, venci.
Fica bem claro, desse último exemplo, que o uso do indica-
tivo exprime o carácter da simples enumeração de fatos isolados, pon-
tuais, no passado, sem marcar anterioridade de um em relação ao
outro (a anterioridade seria expressa pelo particípio aoristo ou por
um advérbio de tempo). É uma sucessão natural dos fatos, expres-
sa pelo conteúdo semântico dos verbos.
Esse emprego do aoristo como ato isolado dentro de um
processo narrativo explica o aumento e- (marca do passado) que
ele recebe no indicativo e que permanece no aoristo gnômico.

Danaòw ¤j AÞgæptou fugÆn …Argow kat¡sxen (Isócr., El.


de Hel., 6)
Dânaos tendo fugido do Egito se apoderou de Argos (fato isolado
no passado, sem idéia de duração).
Polem‹rxÄ par®ggeilan oß Tri‹konta tò ¤pƒ ¤keÛnvn
eÞyism¡non par‹ggelma (Lísias, Contr. Erat., 17)
Os 30 deram a Polemarco a ordem habitual naqueles casos (ato
momentâneo, pontual, isolado).
metŒ t¯n ¤n KorvneÛ& m‹xhn oß ƒAyhnaÝoi ¤j¡lipon t¯n
BoivtÛan psan
depois da batalha na Coronéia os atenienses abandonaram toda a
Beócia (fato isolado, sem idéia de duração ou resultado).

mur04.p65 236 22/01/01, 11:37


o verbo grego 237

PausanÛaw ¤k LakedaÛmonow strathgòw êpò „Ell®nvn


¤jep¡mfyh metŒ eàkosi neÇn Žpò Peloponn®sou, jun¡pleon
d¢ kaÜ ƒAyhnaÝoi tri‹konta nausÜ kaÜ ¤str‹teusan ¤w
Kæpron kaÜ aét°w tŒ pollŒ katestr¡canto
Pausânias foi enviado [como] comandante (fato pontual) pelos He-
lenos de Lacedemônia, a partir do Peloponeso, com 20 navios; na-
vegavam (ação concomitante) também conjuntamente Atenienses
com trinta navios e partiram (fato pontual) para Chipre e submete-
ram (fato pontual) a maior parte dela.
Tojik¯n kaÜ Þatrik¯n kaÜ mantik¯n ƒApñllvn Žneèren.
Apolo inventou a arte do arco, a médica e a divinatória (mera men-
ção do ato pontual no passado).
Éw õ Kèrow ¾syeto kraug°w, Žnep®dhsen ¤pÜ tòn áppon
Ësper ¤nyousiÇn
Assim que Ciro ouviu [percebeu] (fato momentâneo, pontual) o
alarido, saltou (fato pontual, isolado) sobre o cavalo como inspira-
do pela divindade. (Os dois atos são aoristo narrativo, porque en-
quadrados no passado.)
oß Peloponn®sioi ôlÛgon m¢n xrñnon ¦meinan, ¦peita de
¤tr‹ponto ¤w tòn P‹normon ÷yenper Žnhg‹gonto.
os Peloponésios permaneceram por pouco tempo; a seguir toma-
ram a direção de Panormos exatamente de onde reconduziram.
O último verbo poderia ser entendido em português como mais-
que-perfeito do indicativo. Em grego, não; o mais-que-perfeito do indica-
tivo grego nos daria a idéia de uma situação (resultado) no passado. Não é
o caso; são três atos isolados no passado (aoristo narrativo).
Basileçw ¤peÜ ·lye t‹xista ¤piy¡syai toÝw polemÛoiw
¤k¡leusen
o rei assim que chegou, imediatamente mandou atacar os inimigos
(dois atos isolados).
¦deisan polloÜ kaÜ ¦feugon eÞw t¯n y‹lattan (Xen., An., 6.6.7)
muitos ficaram com medo (fato isolado da ação de ficar com medo
= aoristo pontual) e se puseram a fugir para o mar (início e conti-
nuidade do ato de fugir = imperfeito).

mur04.p65 237 22/01/01, 11:37


238 o verbo grego

¤peid¯ Yhseçw ¤basÛleuse ¤w t¯n nèn pñlin oïsan p‹ntaw


sunÐkise (Tuc., 2, 15, 2)
quando Teseu se tornou rei ele fez todos coabitarem na cidade agora
existente (fatos vistos isolados, como um todo pontual e não na
sua realização).
ßeròn katest®santo oðper ¤poi®sato t¯n eéx®n (Isócr.,
Evág., 15)
Eles erigiram um templo exatamente no lugar em que ele fez [fize-
ra] a oração.
Dois fatos isolados no passado, sem nenhuma intenção de marcar
anterioridade de um em relação ao outro; a anterioridade está no contex-
to (a anterioridade seria expressa pelo particípio aoristo na secundária e o
resultado, pelo mais-que-perfeito).

toçw ¤k SerreÛou teÛxouw ¤j¡ballen oîw õ êm¡terow stra-


thgòw ¤gkat¡sthsen (Dem., Fil., 3, 15)
Ele se pôs a expulsar (início da ação que continuou - imperfeito) da
fortificação de Sereion os que o vosso comandante lá instalou (num
determinado momento: não relação direta de anterioridade; em
português poderíamos usar o mais-que-perfeito “tinha instalado/
instalara” sem a idéia de resultado no passado).
Kèron metap¡mpetai ¤k t°w Žrx°w ¸w aétòn satr‹phn
¤poÛhsen (Xen.)
Ele revoca Ciro do governo de que o fez [fizera] sátrapa. (São dois
fatos isolados: um isolado no passado = ¤poÛhse e outro presente
= metap¡mpetai, e não “tendo feito sátrapa o revocou”; a anterio-
ridade neste caso estaria expressa por um particípio aoristo, e um
mais-que-perfeito: resultado no passado).

mur04.p65 238 22/01/01, 11:37


o verbo grego 239

Acabado (perfectum)
É o ato acabado. Perfeito. É o resultado presente de um ato que
terminou. Sem conotação temporal nem espacial externa ou delimitada.
A conclusão do processo verbal é interna.
É o ato verbal que está completo e cujo resultado perdura até agora.
1. Resultado presente: perfeito
eàrhka - eu disse: já disse, acabei de dizer
eìrhka encontrei (afinal), achei
t¡ynhke ele morreu > está morto
m¡mnhmai estou lembrado (veio-me à memória)
k¡krage ele gritou - deu um grito, acabou de dar
¤spoædaka estou cheio de ardor (enchi-me de...)
ölvla perdi-me, estou perdido, arruinado
teyoræbhmai estou cheio de confusão, estou confuso
oäda eu vi > eu sei (resultado)
teyaæmaka eu me espantei > estou espantado
bebÛvke viveu (não mais está vivo), uixit
d¡doika estou cheio (tomado) de temor > eu temo
¤piteyæmhka Žkoèsai
fiquei cheio de ardor [estou cheio] de ouvir [estou desejoso de ouvir].
pefñbhmai tŒw oÞkeÛaw martÛaw µ tŒw tÇn ¤nantÛvn
dianoÛaw
estou [fiquei] com medo mais de nossas próprias falhas do que dos
projetos dos adversários.
³dh gŒr tet¡lestai ‘ moi fÛlow ³yele yumñw (Hom).
agora já acabou [ já se realizou, está realizado] o que meu querido
coração queria.
² pñliw ¦ktistai parŒ tÇn KorinyÛvn
a cidade foi fundada (o resultado está aí) pelos [da parte dos]
Coríntios.
tŒ xr®mata toÝw plousÛoiw ² tæxh oé dedÅrhtai ŽllŒ
ded‹neiken
aos ricos a Fortuna não deu de presente os bens, mas emprestou-os.

mur04.p65 239 22/01/01, 11:37


240 o verbo grego

õ pñlemow p‹ntvn ²mw Žpest¡rhken kaÜ gŒr penest¡rouw


pepoÛhke
a guerra nos privou [e estamos privados] de tudo; na verdade nos
fez mais pobres [e estamos pobres].
lñgow l¡lektai pw
todo o discurso [já] está dito.
² ŽtajÛa polloçw ³dh ŽpolÅleken (Xen., An., 3.1.38)
a desordem já arruinou muitos (resultado constatado; o emprego
do “jᔠreforça o sentido do ato terminado).
oß pefilosofhkñtew (Plat., Féd., 69b)
os que assumiram a qualidade de filósofos [e continuam sendo].
oämai sumf¡rein bebouleèsyai kaÜ pareskeu‹syai (Dem.,
Quers., 3)
Eu acho ser conveniente a deliberação já estar tomada [ter sido to-
mada] e os preparativos já feitos.
tŒw llaw politeÛaw eìroi n tiw metakekinhm¡naw kaÜ ¦ti
kaÜ nèn metakinoum¡naw (Xen., Rep. dos Lac., 15,1)
poder-se-ia achar as outras constituições que já sofreram modifica-
ções [já modificadas = part. perf. pass.] e que ainda agora estão so-
frendo modificações [estão sendo modificadas = part. pres. pass.].
beboæleusye oéd¢n aétoÜ prÜn µ gegenhm¡non µ gignom¡non
ti pæyhsye. (Dem., Fil., I, 41)
vós mesmos sobre nada deliberastes [não terminastes a deliberação]
antes de vos informardes ou que algo já aconteceu (gegenhm¡non,
part. perf.) ou estava acontecendo (gignom¡non, part. pres.).
² f‹lagj diaspasy®setai eéyçw kaÜ toèto ŽyumÛan poi®sei
÷tan tetagm¡noi eÞw f‹lagga taæthn diesparm¡nhn õrÇsin
(Xen., An., 4.8.10)
imediatamente a tropa será dispersada e isso provocará perda de
coragem quando, depois de [já] terem sido arranjados (tetagm¡noi,
part. perf. pass.) em fileiras, virem a tropa dispersada [dispersa]
(diesparm¡nhn, part. perf. pass.).
Neste exemplo o quadro imaginado é futuro (eventual), mas o va-
lor do part. perf. continua o mesmo, isto é, o resultado da ação.

mur04.p65 240 22/01/01, 11:37


o verbo grego 241

¤Œn toèto nikÇmen p‹nta ²mÝn pepoÛhtai


caso vençamos isso [se vencermos isso], tudo está feito [fica feito]
para nós (quadro futuro, eventual).
²g®sato aétoÝw Žn¯r P¡rshw doèlow gegenhm¡now tÇn
¤n Žkropñlei tinòw frourÇn (Xen., Cir., 7, 2, 3)
guiou-os um homem persa que se tinha tornado (e era ainda; gege-
nhm¡now, part. perf.) servo de um dos que eram vigias da cidadela.
taèta ¦lege spoud‹zousa tÒ ³yei Ëstƒ ¤m¢ taèta
pepeÝsyai
ela dizia essas coisas com ar tão sério que eu me convenci delas [fi-
quei convencido, na ocasião].

2. Resultado passado: mais-que-perfeito (só indicativo):

÷te ·lye õ fÛlow ¤gegr‹fein t¯n ¤pistol®n


Quando [no momento em que] chegou o [meu/nosso] amigo, eu
[ já] tinha escrito/escrevera a carta.
² OÞnñh ¤teteÛxisto kaÜ aétÒ frourÛÄ oß ƒAyhnaÝoi
¤xrÇnto (Tuc.)
Enoé estava cercada [tinha sido] de muralhas e os Atenienses se
serviam da própria guarnição.
©n ·n xvrÛon metrñpoliw aétÇn: eÞw toèto p‹ntew suner-
ru®kesan (Xen., An., 5.3.3.)
havia um só lugar, metrópole [capital] deles; para lá todos tinham
acorrido.
oé polçn Žn®lvse xrñnon Žllƒeéyçw ¤pepeÛkei (Ésquines,
C. Tim., 57)
ele não gastou muito tempo; ao contrário, rapidamente já tinha
persuadido.
eéyçw tÇn sukofantoæntvn tòn KrÛtona Žnhur®kei
pollŒ Ždik®mata (Xen., Mem., 2, 9, 5)
rápido ele [ já] tinha descoberto muitas injustiças dos que calunia-
vam Críton.

mur04.p65 241 22/01/01, 11:37


242 o verbo grego

¦legon ÷ti ƒAriaÝow pefeugÆw ¤n tÒ staymÒ eàh metŒ tÇn


llvn barb‹rvn ÷yen t» proteraÛ& Ërmhnto (Xen., An.,
2, 1, 3)
diziam que Arieu estaria refugiado [teria-se refugiado, e estava] jun-
to com os outros bárbaros no posto de onde no dia anterior eles
tinham atacado.
eðde lelasm¡now ÷ssƒ ¤pepñnyei (Hom.)
ele dormia, esquecido (lelasm¡now, part. perf. méd.) do que ti-
nha sofrido (¤pepñnyei, mais que perf. ativo).
¤n toÝw Dr‹kontow nñmoiw mÛa ‘pasin Ëristo toÝw
mart‹nousi zhmÛa: y‹natow
nas leis de Drácon uma só pena estava determinada [tinha sido
determinada] para todos os delinqüentes: morte.
¤peÜ ‘paj ³rjanto êpeÛkein, taxç d¯ psa ² Žkrñpoliw
¦rhmow tÇn polemÛvn ¤geg¡nhto
assim que, por uma vez, começaram a se retirar, rapidamente a ci-
dadela toda ficou [tinha ficado e estava] vazia de inimigos.
feægousin eÞw tòn staymòn ¦nyen Ërmhnto
eles fogem [estão fugindo] para a parada de onde tinham atacado.

3. Resultado futuro: Futuro perfeito (um ato estará terminado em uma


situação futura). Construído sobre o tema do perfeito, o seu uso não é
freqüente e é quase sempre empregado na voz passiva; é raro na voz
ativa.
oìtvw oß pol¡mioi pleÝston ¤ceusm¡noi ¦sontai (Xen., An.,
3, 2, 31)
dessa maneira os inimigos de preferência estarão enganados [esta-
rão numa situação de terem sido enganados].
pw õ parÆn fñbow lelæsetai
todo o medo presente estará dissipado [terá sido].
’n taètƒ eÞdÇmen tŒ d¡onta ¤sñmeya ¤gnvkñtew
se soubermos essas coisas [caso saibamos], estaremos em situação de
conhecedores do que é necessário.

mur04.p65 242 22/01/01, 11:37


o verbo grego 243

¤moÜ d¢ leleÛcetai lgea lugr‹ (Hom.)


os tristes sofrimentos me terão abandonado.
¤Œn taèta pr‹júw toÝw m¢n polemÛoiw ¤piteteixikÆw ¦sú,
filÛan d¢ pñlin diasesvkÅw, eékle¡statow d¢ ¦sú
se executares essas coisas [caso executes] tu te terás fortificado di-
ante dos inimigos, tu terás salvo uma cidade amiga e serás muito
glorioso.
fr‹son ÷ ti me deÝ poieÝn kaÜ pepr‹jetai
dize-me o que me é preciso fazer e estará feito.
÷te pei p‹nta pepraxÆw ¦somai
quando [no momento em que] partires eu já terei executado tudo
[estarei numa situação de ter executado].
÷tan Žkoæsúw toè salpigktoè lelukñtew ¤sñmeya
quando ouvires [caso ouças] o tocador de trombeta estaremos soltos
[estaremos em situação de termo-nos livrado].
toÝw kakoÝw memÛjetai tŒ ¤syl‹
com as coisas más estarão misturadas [terão sido] coisas boas.

mur04.p65 243 22/01/01, 11:37


244 o verbo grego: os modos

Os modos
É a maneira como se realiza o ato verbal.
É uma visão externa do processo verbal.
É uma “species”, como diz Varrão.
A palavra “aspecto” caberia melhor ao modo do que ao que con-
vencionalmente chamamos aspecto. O modo, na verdade, é um “eädow”
isto é, uma aparência, uma forma exterior.
O modo depende do enunciante, que imprime ao processo verbal a
sua vontade, a sua visão, a sua intenção. Ele passa ao receptor uma reali-
dade vista à maneira pela qual ele quer que o receptor a aceite.
Há quatro modos verbais em grego.

Indicativo

Exprime a realidade objetiva, como ela é de fato, e a realidade


subjetiva, como ela é no entendimento do emissor, mas que não o é ne-
cessariamente na mente do receptor.
São as chamadas proposições enunciativas em que há uma declara-
ção, uma afirmação:
As uvas estão verdes, diz a raposa - realidade subjetiva
As uvas estavam verdes, diz o narrador - realidade objetiva 2
Do mesmo modo que o indicativo exprime a realidade, ele o faz
também com a irrealidade objetiva ou possível.
Não há dúvidas na irrealidade subjetiva ou objetiva:
As uvas não estão / não estavam maduras.
Mas,
Se as uvas estivessem maduras eu as comeria (não estão maduras e
eu não as como/comerei) - irrealidade hipotética presente.
Se as uvas tivessem caído no chão a raposa as teria comido (não
caíram no chão e a raposa não as comeu) - irrealidade hipotética passada.

2 Há inúmeros exemplos do indicativo real, na p. 248, entre outras.

mur04.p65 244 22/01/01, 11:37


o verbo grego: os modos 245

Nesses dois casos o grego emprega:


• o indicativo imperfeito no primeiro caso (irrealidade hipotética
presente), tanto na condicionante (prótase) quanto na condicio-
nada (apódose).
Há coerência, porque, se o indicativo exprime a realidade, ipso
facto deve exprimir também a irrealidade.
• o indicativo aoristo no segundo caso (irrealidade hipotética pas-
sada), tanto na condicionante (prótase) quanto na condicionada
(apódose).
Como no caso da irrealidade presente, também aqui o uso do
indicativo é semanticamente coerente.

Apenas o grego usa eÞ para introduzir a condicionante (prótase) e


n para introduzir a condicionada (apódose).
Em português clássico ou erudito, o emprego do indicativo nas fra-
ses acima não é raro. O que mudou foi apenas o uso, que revestiu a irrea-
lidade de uma atmosfera nebulosa expressa pelas formas “passadas” do sub-
juntivo e pelo condicional, que, veremos mais adiante, são o optativo grego.
Mas, se disséssemos “Se as uvas eram (estavam) maduras eu as co-
mia” (Não estão e eu não as como), não estaríamos incorrendo em erro.
Os exemplos a seguir (cerca de 70) têm por objetivo ressaltar que
o indicativo exprime a certeza, a realidade em qualquer tipo de enuncia-
do (consecutivo, causal, real, irreal, modal, concessivo) e que ele vale por
si mesmo e não porque o enunciado está classificado neste ou naquele
modo sintático.
Nos exemplos arrolados a seguir poderemos constatar que em gre-
go, em qualquer contexto em que esteja, o indicativo é a expressão do real
ou do irreal, indicados de várias maneiras, com a partícula (conjunção)
supositiva eÞ e a partícula potencial n.

Expressão da irrealidade:

êpñ ken talasÛfron‹ per d¡ow eåle


o medo teria [poderia ter] se apoderado até de um corajoso (mas
não se apoderou; irreal do passado: indicativo aoristo).

mur04.p65 245 22/01/01, 11:37


246 o verbo grego: os modos

basileçw smenow ’n toçw ƒAyhnaÛouw eÞw t¯n summaxÛan


prosed¡jato
O rei teria [poderia ter] aceito com prazer os Atenienses na alian-
ça (mas não aceitou; irreal do passado: indicativo aoristo).
ƒEgÆ dƒ ¤boulñmhn ’n aétoçw Žlhy° l¡gein (Lísias)
Eu queria [quereria] que eles estivessem dizendo a verdade. [Eu os
queria estarem dizendo a verdade (mas não estão).]
Eà ti eäxon ¤dÛdoun n.
Se eu tivesse algo eu daria. [Se eu tinha eu dava; mas não tenho.]
EÞ m¯ ³lyete ¤poreuñmeya ’n ¤pÜ tòn basil¡a (Xen.)
Se vós não tivésseis chegado nós estaríamos marchando contra o grande
rei. [Se vós não chegastes nós não estávamos marchando. Mas vós
chegastes e nós estávamos marchando contra o rei.]
Oék ’n n°son ¤kr‹tei eÞ m® ti kaÜ nautikòn eäxen (Tuc.)
Ele não estaria dominando a ilha se não tivesse algo e também uma
esquadra. [Mas ele está dominando a ilha e tem a esquadra.]
…Wietñ tiw n
Alguém poderia acreditar [não acredita].
TÛ sig˜w; oék ¤xr°n sign (Eur.)
Por que silencias? Não deverias [devias] silenciar.
Pèr ’n oé par°n (Sóf)
O fogo faltava. [estaria faltando, às vezes, freqüentemente]. (o ’n
marca o enfraquecimento da afirmação)
„R®matƒ ’n bñeia dÅdekƒ eäpen (Aristóf.)
E lá disse ele [teria dito] uma dúzia de palavrões [do tamanho de
um boi] (o ’n marca a atenuação da afirmação).
Eàye soi tñte sunegenñmhn (Xen.)
Oxalá eu tivesse encontrado contigo então! [mas não me encontrei.]
Eàye m®poyƒ ´marten
Oxalá ele nunca tivesse falhado! [mas falhou]
Freqüentemente nas exclamativas, ou interrogativas que exprimem
ou perplexidade ou uma descrença (irrealidade latente), o indicativo con-
corre com o optativo, segundo o grau de firmeza ou dúvida do enunciante.

mur04.p65 246 22/01/01, 11:37


o verbo grego: os modos 247

DiŒ toçw Žnyistam¡nouw êmeÝw ¤st¢ sÇoi: ¤peÜ diŒ gƒ êmw


aétoçw p‹lai ’n ŽpolÅleite (Dem.)
É por vossos adversários que estais sãos e salvos, porque por vós
mesmos já há muito estaríeis arruinados (causa, fato real).
ƒEpisteuñmhn êpò tÇn LakedaimonÛvn: oé gŒr n me
¦pempon pròw êmw (Xen.)
Eu tinha a confiança dos Lacedemônios [era acreditado por], por
que se não, eles não me enviariam para vós (real e depois irreal do
presente).
¦nya d¯ ¦gnv n tiw
Naquele momento alguém poderia ter tomado conhecimento [mas
não tomou (irreal do passado = indicativo aoristo)].
ƒAllƒ Êfele Kèrow z°n;
Ah! se Ciro estivesse vivo! [mas não está (irreal do presente = indi-
cativo imperfeito)].
Sun¡bh “ m®potƒ Êfele (sumbaÛnein)
Aconteceram as coisas que não deveriam [não deviam acontecer].
±boulñmhn n
eu quereria / quisesse eu / eu queria [mas não quero] (irreal do pre-
sente / potencial = indicativo imperfeito).
±dun‹mhn n
eu poderia / pudesse eu [mas não posso] (irreal do presente / poten-
cial = indicativo imperfeito).
E mais algumas expressões de uso muito constante:
¤j°n seria (era) preciso, permitido, possível
eÞkòw ·n seria (era) natural, verossímil, justo
kalÇw eäxen seria (era) bonito
kalÇw ·n seria (era) bonito
jion ·n seria (era) digno
dÛkaion ·n seria (era) justo
¦dei seria (era) preciso
¤xr°n seria (era) bom, útil, preciso
pros°ke(n) seria (era) conveniente, decente
Êfele(n) seria (era) útil (ajudaria)

mur04.p65 247 22/01/01, 11:37


248 o verbo grego: os modos

Expressão da realidade:

Mas o uso desses mesmos verbos no presente, aoristo e futuro do


indicativo sem n exprime uma realidade. São enunciativas, afirmativas,
declarativas.
T°w Žret°w ßdrÇta yeoÜ prop‹roiyen ¦yhkan
Na frente da virtude [excelência] os deuses colocaram o suor.
‰Arƒ oïn m¯ kaÜ ²mÝn ¤nantiÅsetai; (Xen.)
Será então que ele não se oporá também a nós? (o futuro “indicati-
vo” exprime sempre uma certa antecipação da certeza)
…Allo ti µ dianoeÝ ²mw Žpol¡sai; (Plat.)
É outra coisa ou ele medita [trama] nos arruinar? [não é verdade
que?] (indicativo real)
TÛw soi dihgeÝto ; µ aétòw Svkr‹thw;
Quem te dizia isso? ou [não é?/a não ser] o próprio Sócrates? (in-
dicativo real)
TÛ ŽdikhyeÜw ¤pibouleæeiw moi;
Prejudicado em quê tu estás tramando [tramas] contra mim?
Pñyƒ “ xr¯ pr‹jete; ¤peid‹n ti g¡nhtai; (Dem.)
Quando fareis o que é preciso? (ind. real) Depois que algo aconte-
cer [aconteça]? (eventual)
Oéd¢n ÷ ti m¯ ¤rg‹thw ¦sú (Luc.)
Tu não serás nada que não mão-de-obra (eventual com grau de
certeza).
deÝ prò toè polemeÝn ¤sk¡fyai tÛw êp‹rjei paraskeu¯ tÒ
genhsom¡nÄ pol¡mÄ
É preciso, antes de empreender a guerra, já ter refletido que recur-
sos estarão à disposição para a guerra vindoura.
jion (¤sti) êmw mou Žkoèsai
é justo vós me ouvirdes.
…Hretñ me tÛw eÞmÛ. [eàhn]
Ele me perguntou quem eu sou [seria]

mur04.p65 248 22/01/01, 11:37


o verbo grego: os modos 249

Oäsya Eéyædhmon õpñsouw ôdñntaw ¦xei; (Plat.)


Sabes quantos dentes tem Eutidemo?
DokÇ moi Žkoæein.
Eu pareço estar ouvindo. [Parece-me que ouço.]
DokeÝ moi mart‹nein.
Tu me parece errar. [Parece-me que está errando.]
L¡gv ÷ti yeñw ¤stin.
Eu digo que existe um deus.
Oäda ÷ti yeñw ¤stin.
Eu sei que existe um deus.
XaÛrv ÷ti eédokimeÝw (Plat.)
Eu me alegro [por] que tens boa fama.
Oék aÞsxænomai eÞ tÇn nñmvn ¦latton dænamai. (And.)
Eu não sinto vergonha se tenho menos poder do que as leis.
Oäda ÷stiw eä
Eu sei quem tu és.
ƒAnerÅta aétòn pñteron boæletai m¡nein µ oë. [µ m®]
Pergunta-lhe de novo se ele quer ficar ou não.
TÛ gŒr ¾dh eà ti kŽkeÝnow eäxe sid®rion; (Lísias)
Pois em que eu sabia se também ele tinha um punhal?
Leæsete oåa pròw oávn ŽndrÇn p‹sxv; (Sóf.)
Vede que coisas diante de que homens eu estou sofrendo.
ƒHrÅta §kaston eà tina ¤lpÛda ¦xei.
Ele interrogava a cada um se tinha [tem] alguma esperança.
Oék oädƒ ÷pvw ’n ¦prajen. (Isócr.)
Eu não sei como ele agiu [teria agido]
Foboæmeya m¯ Žmfot¡rvn ‘ma ²mart®kamen (Tuc.)
Nós temos receio que falhamos nos dois objetivos [na realidade já
falhamos].
Eéyçw Žnast‹w, oìtv deèro ¤poreuñmhn (Plat.)
Assim que me levantei [direto tendo-me posto de pé] pus-me a
caminho daqui.

mur04.p65 249 22/01/01, 11:37


250 o verbo grego: os modos

Oéd¢n llo ¦xv eÞ m¯ toèto.


Não tenho nada outro a não ser [senão] isso (realidade).
ƒEp¡pese xiÆn pletow Ëste Žp¡kruce tŒ ÷pla (Xen.)
Caiu uma neve abundante que cobriu as armas [a tal ponto que
(consecutiva, fato real)].
Tosoætou d¡v ôrgÛzesyai Ëste kaÜ eéfraÛnomai.
Careço tanto de me irritar que até estou contente. (consecutiva, fato real)
„UmÝn p¡mcv ndraw oátinew summaxoèntai (Xen.)
Eu vos enviarei homens que combaterão junto [para combaterem
junto]. (consecutiva, fato real)
TÛw oìtv maÛnetai ÷stiw oé boæletaÛ soi fÛlow eänai; (Xen.)
Quem está delirando a tal ponto que não quer ser teu amigo?! (con-
secutiva, fato real)
Oàontai politikoÜ eänai ÷ti ¤painoèntai épò tÇn pollÇn.
(Plat.)
Porque são elogiados pela massa eles se crêem homens de estado. [eles
crêem ser homens] (causa, fato real)
Oék ·n kr®nh ÷ti m¯ mÛa ¤n t» Žkropñlei (Tuc.)
Não havia fonte a não ser uma na acrópole. (fato real)
EÞ kaÜ m¯ bl¡peiw froneÝ ÷mvw (Sóf.)
Mesmo se és cego, assim mesmo tu pensas. (concessiva,fato real)
AÞsxunoÛmhn toèto õmologeÝn ¤peÜ polloÛ g¡ fasin (Plat.)
Eu me envergonharia de admitir isso uma vez que [se] muitos afir-
mam [afirmem]. (concessiva, fato real)
Taèta ¤poÛoun m¡xri skñtow ¤g¡neto (Xen.)
Eles ficaram fazendo essas coisas até que chegou a noite.
Nèn ¤peÜ p¡nhw geg¡nhmai (Xen.)
Agora porque [depois que] fiquei pobre...
Oék ³yele feægein prÜn ² gun¯ aétòn ¤peisen (Xen.)
Ele não queria evadir-se antes que a mulher o persuadiu. [até que].
L¡ge d¯ t¯n ¤pistol¯n ¶n ¦pemce FÛlippow (Dem.)
Dize, então, a mensagem que Felipe enviou.

mur04.p65 250 22/01/01, 11:37


o verbo grego: os modos 251

Nèn eÞl®famen ù p‹lai kaÜ polloÜ tÇn sofÇn zhtoèntew


prÜn eêreÝn kateg®rasan (Plat.)
Nós agora entendemos [captamos] o que há muito muitos sábios
envelheceram procurando antes de encontrar.
†Wsper tŒ xalkeÝa plhg¡nta ±xeÝ kaÜ oß =®torew oìtv
(Plat.)
Como os objetos de bronze ressoam quando batidos, assim tam-
bém os oradores.
†OsÄ mllon pisteæv êmÝn tosoætÄ mllon ŽporÇ.
(Plat.)
Quanto mais eu confio em vós tanto mais fico sem saída [em
dificuldade].
SoÛ sumf¡rei tŒ aétŒ kaÜ ¤moÛ.
A ti interessam as mesmas coisas que a mim.
Yaumastòn poieÝw ùw oéd¢n dÛdvw (Xen.)
Ages de maneira estranha, tu que não nos dás nada.
ˆA m¯ oäda oéd¢ oàomai eÞd¡nai (Plat.)
Aquilo que por acaso não sei nem mesmo acho que sei. [não julgo
saber].

Expressão da condição:

No item “irrealidade” há inúmeras frases hipotéticas, condicionais,


supositivas. O uso do modo depende do significado da condição; se é
real, é indicativo (eÞ), se é irreal, indicativo (eÞ - n); se potencial, o
optativo (eÞ - n); se eventual, o subjuntivo ou futuro (eÞ - ¤‹n).

EÞ Žn‹gkh ¤stÜ m‹xesyai deÝ paraskeu‹sasyai (Xen.)


Se é necessário lutar [entrar na luta] é preciso preparar-se. (exprime
um fato afirmativo, da realidade subjetiva)
EÞ m¯ kay¡jeiw glÇssan ¦stai soi kak‹ (Eur.)
Se não retiveres [caso não retenhas] a língua, desgraças vão te acon-
tecer. (suposição eventual, com grande certeza)

mur04.p65 251 22/01/01, 11:37


252 o verbo grego: os modos

EÞ m¢n oïn taèta l¡gvn diafyeÛrv toçw n¡ouw taètƒ’n


eàh blaber‹ (Plat.)
Se dizendo [ao dizer] essas coisas eu corrompo os jovens, então es-
sas coisas seriam danosas. (condição real no primeiro verbo; no se-
gundo o optativo atenua a conclusão)
PollŒ eÞpeÝn ’n ¦xoien oß ƒOlænyioi nèn “ tñtƒ eÞ proeÛdonto
oék ’n ŽpÅlonto (Dem.)
Os Olíntios poderiam dizer agora (potencial - atenuação da afir-
mação) muitas coisas que, se tivessem previsto antes, não teriam su-
cumbido. (irreal do passado)
Oék ¤dænatƒ’n pr‹ttein “ ¤boæleto (Xen).
Ele não podia [poderia] fazer o que queria [quisesse].
ôlÛgou t¯n pñlin eålon
Por pouco [faltou pouco, de pouco] eles tomaram a cidade.
O emprego do indicativo é coerente: ele sempre exprime a realida-
de objetiva ou subjetiva e também a irrealidade objetiva ou subjetiva (em
português às vezes sob forma supositiva).

Observação importante:
Nas orações supositivas (hipotéticas), a idéia de tempo não está presente
nem no indicativo; o que há é apenas o aspecto; mas, quando o tema de qual-
quer aspecto recebe o aumento ¤- passa a exprimir o passado de cada um deles:
o passado do presente: imperfeito, aumento anteposto ao tema do
infectum;
o aoristo narrativo (enquadrado ou pontual): (pretérito simples
em português) ou aoristo gnômico (presente simples em português),
aumento anteposto ao tema do aoristo;
mais-que-perfeito: passado do perfeito (mais-que-perfeito simples
ou composto em português), aumento anteposto ao tema do perfectum.
Outros exemplos de indicativo podem ser encontrados no capítulo
que trata dos aspectos verbais. O objetivo do grande número de exem-
plos é insistir no valor semântico autônomo das formas verbais. O
enquadramento sintático leva a esquemas formalistas, que provocam a
criação de regras de regência e de correlação complexas, quando é muito
mais facil se ater ao significado intrínseco da forma verbal.

mur04.p65 252 22/01/01, 11:37


o verbo grego: os modos 253

Subjuntivo

Exprime o fato eventual, provável, futuro. O nome “subjuntivo” ou


“conjuntivo” cobre apenas uma parte do significado: quando exprime uma
finalidade ou um fato futuro dependendo de uma eventualidade. Na pro-
posição independente ele é volitivo (pedido, conselho) deliberativo,
desiderativo, que são as várias facetas da eventualidade.
Trouxe água para que bebas. - final
Se trouxeres água eu beberei - eventual
Caso tragas água eu beberei - eventual
Quando (sempre que) os homens bebem eles são ricos, ajudam os ami-
gos, são felizes - eventual
O subjuntivo exprime também a exortação e a deliberação (que são
fatos eventuais, futuros).
Corram que chegarão a tempo - exortativo
Vamos mais depressa? - deliberativo
O que farei? O que faremos? - deliberativo
Por exprimir um fato eventual, provável, futuro ou uma antecipação
não há em grego o perfeito, o imperfeito e o mais-que-perfeito do subjuntivo
que não exprimem eventualidade. Por isso devemos traduzir o subjunti-
vo grego ou pelas formas do subjuntivo presente, do subjuntivo futuro ou
pelo infinitivo preposicionado (para) ou com conjunção (a fim de / que).
É inútil procurar outras traduções para o subjuntivo grego; a idéia
do eventual-futuro permanece. Não é por mero acaso que em grego não
haja subjuntivo futuro.
Sempre que leio Homero, eu sinto prazer.
Esse “indicativo” leio, na medida em que não é uma realidade obje-
tiva única, mas um fato repetido, ou seja, eventual, o grego, coerente-
mente, o exprime com ¤‹n/n e subjuntivo. Em português poderíamos
chamá-lo de “indicativo eventual”
Outra observação incontestável: as desinências do subjuntivo são
primárias, qualquer que seja a voz e o aspecto. É que a noção da eventu-
alidade tem o presente como ponto de partida e as desinências primárias
são do presente e do eventual, que é uma antecipação do futuro.

mur04.p65 253 22/01/01, 11:37


254 o verbo grego: os modos

No latim, o eventual se exprime pelo presente do subjuntivo ou


pelo futuro (indicativo).
Em grego há tantos subjuntivos quantos são os aspectos e vozes,
mas, como já foi dito, não há subjuntivo futuro! Seria redundante.
As três formas do subjuntivo são:
• Subjuntivo presente (tema do infectum, inacabado): entrada no
ato verbal
• Subjuntivo aoristo (tema do aoristo): isolado, pontual
• Subjuntivo perfeito (tema do perfectum): ato verbal acabado.
Não há idéia de tempo no subjuntivo.

1. Nas orações independentes

a) Deliberativo
PerÜ toætvn d¢ l¡gvn pñyen rjvmai;
E falando a respeito dessas coisas, de onde eu começarei? [vou co-
meçar = incipiam] (subj. aoristo = apenas o ato verbal)
tÛ d¢ prÇton l¡gv; (Plat., Górg.)
O que direi [vou dizer, dicam] primeiro? (subj. pres. = entrada no
processo verbal)
PoÝ tr‹pvmai;
Para onde eu me dirijo? [Para onde eu vou me dirigir? Para onde
me viro?] (subj. aoristo = apenas o ato verbal)
Eàpvmen µ sigÇmen;
Vamos falar [falaremos] ou permanecemos [permaneceremos] ca-
lados? (Eàpvmen, subj. aoristo = apenas o ato verbal; sigÇmen,
subj. pres. = entrada no ato verbal)
PoÝ katafeægvmen;
Para onde vamos fugir? [iniciar a fuga?] (subj. pres. = entrada no ato
verbal)
Boælei soi ônom‹zv toçw ¥pt‹ sofoæw;
Queres [que] eu te cite [nomeie] os sete sábios? (subj. pres. = inicie
o ato de citar)

mur04.p65 254 22/01/01, 11:37


o verbo grego: os modos 255

Boælei soi ônom‹sv toçw ¥ptŒ sofoæw;


Queres [que] eu te cite os sete sábios? (subj. aoristo = ato pontual
de citar)
– PÇw s¢ keÛrv;
– SivpÇn.
– Como vou fazer tua barba? (subj. pres.)
– Calado.
toèton eÞr®nhn gein ¤gÆ fÇ pròw êmw;
eu vou dizer para vós que esse homem está em paz?

b) Exortativo: exortação, persuasão positiva ou negativa. Pode ser ligada


a tonalidades de imperativo, no seu sentido de modo do diálogo e não
da ordem ou proibição.
F¡re àdvmen eà ti ¤dÅdimon ² p¡ra ¦xei.
Vamos, vejamos [vamos ver, veremos] se tua sacola tem algo co-
mestível. (subj. aor. = o ato pontual de ver)
…Ivmen d¯ kaÜ m¯ m¡llvmen ¦ti;
Vamos indo e não mais hesitemos! (subj. pres.)
…Ivmen;
Vamos! [Eamus!] (subj. pres. = entrada no ato)
…Age d®, àdv;
Vamos lá! que eu veja! (subj. aor.= ato pontual)
yumÒ g°w perÜ t°sde maxÅmeya kaÜ perÜ paÛdvn yn®skvmen;
Com coragem lutemos por esta terra e morramos pelos nossos fi-
lhos! (subj. pres.= iniciemos a luta e morramos)
FeidÅmeyƒ ŽndrÇn eégenÇn, feidÅmeya;
Poupemos, poupemos os homens nobres! (subj. pres.= vamos poupar)

c) Desiderativo (positivo ou negativo)


M¯ lÛan pikròn eÞpeÝn  (Dem.)
Que não seja muito duro [azedo] de dizer!
M¯ yorub®shte;
Não façais barulho! (subj. aor. = o ato verbal em si)

mur04.p65 255 22/01/01, 11:37


256 o verbo grego: os modos

M¯ oék  didaktòn Žret®. (Plat.)


Que a virtude não seja algo ensinável! (subj. pres. = não há noção
aorista do ser, mas pode haver a noção eventual)
M¯ poi®súw;
Não faças! (subj. aor. = o ato em si)
Mhd¢n Žyum®shte §neka tÇn gegenhm‹tvn;
Não vos desencorajeis diante do que aconteceu! (subj. aor. = o ato
em si)
MhdenÜ sumforŒn ôneidÛsúw;
A ninguém desejes desgraças! (subj. aor. = o ato em si)
MhdeÜw yaum‹sú;
Ninguém admire! (subj. aor.= o ato em si)
MhdeÜw êpol‹bú me boælesyai layeÝn. (Plat.)
Que ninguém suspeite que eu quero [estou querendo] dissimular.
(subj. aor. = o ato em si)
SiÅpa, mhd¢n eàpúw n®pion; (Aristóf.)
Cala-te, não digas nenhuma bobagem! (subj. aor.)
m®pv ¤keÝse àvmen, prÑ g‹r ¤stin, ŽllŒ deèro ¤janas-
tÇmen eÞw t¯n aél®n (Plat., Prot., 311a)
Não vamos ainda para lá, pois ainda é cedo, mas levantemo-nos
aqui e vamos para o quintal

2. Nas orações dependentes

a) Intenção, finalidade: fato futuro, eventual

Conjunções usadas ána, Éw para que, que > subj.


para > inf.
÷pvw (n) de modo a que

Kr‹zv ána mou Žkoæú.


Estou gritando para que ele me ouça. [passe a me ouvir] (subj. pres.)

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o verbo grego: os modos 257

Kñsmiow àsyi ÷pvw m¯ kol‹zú.


Sê bem comportado para que [de modo a que] não sejas punido. [pas-
ses a ser punido] (subj. pres.)
Toçw n¡ouw eÞw paidotrÛbou p¡mpousin ána sÅmata
beltÛv ¦xvsin. (Plat.).
Eles mandam os jovens ao mestre de ginástica para que tenham os
corpos melhores. [passem a ter, e mantenham] (subj. pres)
DeÝ tòn dhmotikòn ŽndreÝon eänai ána m¯ parŒ toçw
kindænouw ¤gkataleÛpú tòn d°mon. (Ésquines)
É preciso o representante do povo ser corajoso para que não o aban-
done nas situações de perigo. (subj. pres.= idéia permanente)
†Opvw m¯ Žpoy‹nú ßk¡teuen. (Lísias)
Ele suplicava para não morrer [para que não morresse] (subj. aor. =
o ato em si)
M¯ fyñnei toÝw eétuxoèsin m¯ dok»w eänai kakñw.
Não inveja [invejes] os felizes para que não pareças mau. [fiques
parecendo] (subj. pres.)
Toçw fÛlouw eï poÛei ána aétòw eï pr‹ttúw.
Faze [faça] o bem/sê benfazejo a teus amigos para que tu mesmo
passes bem. (subj. pres. = entrada na ação)
L¡gv soi t‹de ÷pvw ’n m¯ ¤pil‹yú.
Eu te digo estas coisas para que não te esqueças. [de modo a que
não esqueças] (subj. aor.= o ato em si)
…Eprassen ÷pvw pñlemow g¡nhtai. (Tuc.)
Ele trabalhava para que a guerra aconteça (subj. aor= o ato em si)
ƒEpimelÅmeya ÷pvw ’n oß n¡oi mhd¢n kakourgÇsin. (Plat.)
Tomemos cuidado para que [de modo a que] os jovens não façam
nenhum mal. (subj. pres. = entrem no ato de)
Eélaboè m¯ p¡súw;
Toma cuidado [para que] não caias! (subj. aor. o ato em si)
SugxvrÇ ána soi xarÛsvmai. (Plat.)
Concordo [acompanho] para que te agrade [para te agradar]. (subj.
aor. = o ato em si)

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258 o verbo grego: os modos

b) Circunstâncias temporais de indeterminação (fato repetido no pre-


sente ou no futuro) temporais, hipotéticas, relativas.
A partícula por excelência do eventual é ¤‹n / ³n / n, se, no
caso de, caso, e ela pode vir enfatizando outras conjunções ou adverbios:
÷tan (÷te n) quando (eventual) - sempre que
¤p®n (¤peÜ n), desde que, depois que, assim que, a partir
¤peid‹n (¤peid® n) do momento em que (eventual)
§vw, ¦ste, m¡xri (n) até que, até
¤n Ú (n) em que, no que, enquanto
¤j oð, Žfƒ oð (n) do que, a partir do que, desde que
prÛn (n) antes, antes que

Não há necessidade de pormenorizar se a oração é causal, tempo-


ral, final, concessiva ou condicional, embora seja útil para a compreensão
do contexto; mas não se trata de “regência”; desde que há uma eventua-
lidade ela é expressa pelo subjuntivo. É o que importa.

Toçw llouw õrÇ toçw kinduneæontaw ¤peidŒn Îsi perÜ


t¯n teleut¯n t°w ŽpologÛaw ßketeæontaw. (Isócr.)
Eu vejo os outros acusados, quando [sempre que] estão perto do
fim da defesa, suplicantes. (subj. pres. = fato em si: eventual; indi-
cativo em português.).
Tò g¡now tÇn Yr&kÇn ¤n Ú ’n yars®sú fonikÅtatñn
¤stin. (Tuc.)
A raça dos Trácios, no que [enquanto, sempre que] está segura é
muito sanguinária. (subj. aor. = fato em si: eventual)
Tò tettÛgvn g¡now g¡raw toètƒ ¦labe ›dein §vw ’n
teleut®sú. (Plat.)
O gênero das cigarras recebeu esse dom de cantar até que morra
[até morrer]. (subj. aor. = o ato em si = eventual)
„O m¢n oïn Pl‹ttvn fhsÜ tñte tŽnyrÅpeia kalÇw §jein
÷tan µ oß filñsofoi basileæsvsi µ oß basileÝw filo-
sof®svsin. (Pol.)
Pois bem, Platão diz que os negócios dos homens estarão bem na-
quele momento em que [quando, sempre que] ou os filósofos reina-
rem ou os reis filosofarem. (subj. aor.)

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o verbo grego: os modos 259

ƒEŒn gŒr ¤m¢ ŽpokteÛnhte oé =&dÛvw llon toioèton


eêr®sete. (Plat.)
Na verdade, se vós me matardes [caso me mateis] não facilmente
achareis um outro igual. (subj. aor.)
ƒƒEŒn zht»w kalÇw eêr®seiw. (Plat.)
Se procurares [caso procures] bem, acharás. (subj. aor.)
‡An glaçj Žnakr‹gú, dedoÛkamen. (Men.)
Uma coruja pia e estamos com medo. [Se uma coruja pia estamos
com medo.] (subj. aor = o ato em si)
‡Hn ¤ggçw ¦lyú y‹natow oédeÜw boæletai yn¹skein. (Eur.)
Se a morte chega perto, ninguém quer morrer. [caso chegue, sem-
pre que] (subj. aor. = o ato em si)
Oé mñnon ¤n t»de t» pñlei dænatai pr‹ttein ÷ ti boælh-
tai Žllƒ ¤n p‹sú t» „Ell‹di. (Plat.)
[Péricles] pode fazer o que quer [por acaso queira] não só nesta
cidade, mas em toda a Grécia. (subj. pres. = fato habitual)
M¯ Žp¡lyhte prÜn ’n Žkoæshte moè. (Xen.)
Não vades [não vos retireis] antes que me ouçais. [de me ouvir] (subj.
aor. = o ato em si)
ƒApñmnusi mhd¢n pr‹jein prÜn ’n t¯n toè †Ektorow ke-
fal¯n ¤pÜ tòn toè Patrñklou t‹fon ¤n¡gkú. (Ésquines)
[Aquiles] jura nada fazer [que nada fará] antes que traga [que trou-
xer, de trazer] a cabeça de Heitor sobre o túmulo de Pátroclo. (subj.
aor. = o ato em si)
†Otan keleæsú, ¤Œn keleæsú, ù ’n keleæsú pr‹jv.
Quando ele manda [sempre que mande], se ele mandar [caso ele
mande], o que ele mandar [o que mande], farei. (subj aor. = even-
tual = o ato em si, pontual)
†Otan keleæú, ¤Œn keleæú, ÷ ti ’n keleæú pr‹ttv
Quando ele manda [sempre que] se ele manda, o que ele manda/
mande eu faço. (subj. pres. = eventual, fato repetido, habitual; in-
fectum, entrada e permanência no ato verbal)
ƒEpeidŒn diapr‹jvmai ´jv. (Xen.)
Quando [depois que] terminar eu virei. (subj. aor., o ato em si)

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260 o verbo grego: os modos

ƒEpeidŒn t‹xista ßppeæein m‹yúw diÅjei yhrÛa.


Imediatamente assim que aprendas [aprenderes] cavalgar persegui-
rás animais selvagens. (subj. aor. = o ato em si)
oß oÞnoxñoi ¤peidŒn didÇsi t¯n fi‹lhn eÞw t¯n ŽristerŒn
xeÝra ¤gxe‹menoi katarroroèsin. (Xen.)
Os escanções, assim que eles entregam a taça, derramando na mão
direita eles engolem. (subj. pres. = fato repetido, habitual)
ƒEgÅ se oék¡ti Žf®sv prÛn n moi “ êp¡sxhsai ŽpodeÛjúw
Eu não te deixarei partir antes que me mostres o que prometeste.
(subj. aor. = o ato em si)
Periiñntew aétoè diatrÛcvmen §vw ’n fÇw g¡nhtai. (Plat.)
Passemos o tempo dando voltas no mesmo lugar, até que a luz [o
dia] apareça. (subj. aor. = o ato em si)
Strateæontai õpñtan tiw aétÇn d¡htai. (Xen.)
Eles se engajam no exército quando [sempre que] alguém precisa
[precise] deles. (subj. pres. = ato habitual)
Poi®somai t¯n ŽpologÛan Éw ’n dænvmai. (Lísias)
Farei a defesa como puder. [como possa]. (subj. pres.)
EŒn Levkr‹thn Žpolæshte prodidñnai t¯n pñlin
chfieÝsye. (Lísias)
Se absolverdes [caso absolvais] Leócrates vós votareis trair [estar tra-
indo] a cidade. (subj. aor., o ato em si)

c) Interrogativas indiretas com idéia de eventualidade


Chamamos “interrogativas indiretas” as interrogativas dependentes,
isto é, as orações completivas subordinadas com significado interrogativo:
Direta : “Quem fez isto?”
Indireta: “Quero saber quem fez isto.”

„OrÇ se Žporoènta poÛan õdòn ¤pÜ tòn bÛon tr‹pú.


Eu te vejo hesitante que caminho tomar [tomes] na vida. (subj. aor.
= o ato em si)

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o verbo grego: os modos 261

D¡doika m¯ oé ¤pilayÅmeya t°w oàkade õdoè.


Tenho receio de que não nos esqueçamos do caminho para casa. (subj
aor. =o ato em si)
M®thr ¤n oàkoiw, ¶n sç m¯ deÛsúw, (Sóf.)
Minha mãe está nos aposentos; não a temas! (subj. aor. = o ato em si)
DeÛdv: m® ti p‹yhsi; (Hom.)
Estou com medo; que ele sofra algo! (subj. aor.= o ato em si)
Sæ m¢n Žpñstixe, m® ti no®sú †Hrh; (Hom.)
Tu, fica distante; que Hera não pense algo! (subj. aor.= o ato em si)
Foboèmai m¯ toèto Žlhy¢w Â.
Temo que isso seja verdade! (subj. pres. = seja e permaneça)

Optativo

Exprime, no presente, a possibilidade (possível), a afirmação atenu-


ada, o voto não realizável (irreal do presente) ou o voto possível e, no pas-
sado, o fato repetido e a afirmação atenuada ou opinião de terceiros.
Se eu fosse rico ajudaria os outros - fato possível 3
Se eu pudesse estaria viajando - impossível presente
Eu diria / poderia dizer - afirmação atenuada
Ah se eu fosse rico! voto não realizável
Sempre que os homens se reuniam (reunissem) prejudicavam-se
mutuamente - fato repetido no passado.
Vemos que essas noções se exprimem em português pelo imper-
feito do subjuntivo ou pelo condicional simples (futuro do pretérito em
algumas gramáticas).

3 Em português, a forma do possível (fato possível) e irreal do presente é a mesma.


Em grego, o irreal do presente se exprime por eÞ + impf.- n + impf.; o fato pos-
sível (possível) por eÞ + opt. - n + opt.

mur04.p65 261 22/01/01, 11:37


262 o verbo grego: os modos

1. Desejo, voto possível

• optativo às vezes precedido de eàye, eÞ gŒr, Éw. A negação é m®


porque não é realidade objetiva.

A margem entre o voto possível, mera possibilidade e o realizável,


na imaginação, é extremamente frágil e movediça. Muitas vezes só o con-
texto e sobretudo o significado da mensagem podem definir. Na expres-
são oral, é uma questão de entonação. De qualquer maneira prevalece o
sentido possível, do fato possível, simples operação do espírito.
Quando o voto é irrealizável, em que está patente a irrealidade, o
modo é o indicativo (imperfeito ou aoristo). Ver página 245.

‰W paÝ, g¡noio patròw eétux¡sterow;


Menino, pudesses tu ser [oxalá fosses] mais feliz do que teu pai!
(opt. aor. = o ato em si, mero voto)
M® moi g¡noiyƒ “ boælomƒ Žllƒ “ sumf¡rei;
Que não me acontecesse [pudesse acontecer] o que eu quero, mas o
que é útil! (opt. aor. = o fato em si, mero voto)
Eàye fÛlow ²mÝn g¡noio; (Xen.)
Ah, se pudesses [tu poderias] tornar-te nosso amigo! (opt. aor. o
fato em si, voto possível)
M¯ g¡noito;
Ah, que isso não acontecesse! (opt. aor. o fato em si, mero voto)
Eï pr‹ttoimi;
Ah, que eu pudesse estar bem! (opt. pres. = entrar no ato, mero voto)
‰W basileè, m¯ eàh Žn¯r P¡rshw ÷stiw soi ¤pibouleæsei; eÞ
dƒ ¦sti Žpñloito Éw t‹xista; (Heród.)
Ó rei, pudesse não existir um homem persa para conspirar contra ti!
mas se existe, que ele perecesse [pudesse perecer] o quanto antes!
(opt. pres. idéia permanente - opt. aor. = o ato em si, mero voto)
ƒApñloio Î pñleme; (Aristóf.)
Que morresses [pudesses tu morrer] ó guerra! (opt. aor. = o ato em
si, mero voto)

mur04.p65 262 22/01/01, 11:37


o verbo grego: os modos 263

Toèto m¯ g¡noito, Î p‹ntew yeoÛ; (Sóf.)


Que isso não acontecesse [pudesse acontecer], ó deuses todos! (opt.
aor. = o fato em si)
Eàye m®pote gnoÛhw ùw eä; (Sóf.)
Ah, que nunca soubesses [oxalá nunca soubesses] quem és! (opt. aor.
= o ato em si)
EÞ gŒr genoÛmhn ŽntÛ sou nekrñw; (Eur.)
Ah, se eu pudesse morrer em teu lugar! (opt. aor. = o fato em si)
†Ote keleæoi, eÞ keleæoi ÷ ti keleæoi ¦pratton.
Quando [sempre que] ele mandava [mandasse], se ele mandava
[mandasse] o que [quer que] ele mandava [mandasse] eu executava.
(opt. pres. = fato habitual)
PÇw n tiw ‘ ge m¯ ¤pÛstaito taèta sofòw eÞh; (Xen.)
Como (seria possível) que alguém poderia ser [fosse] hábil naque-
las coisas que não conhecesse? (pÛstaito, opt. perf. = estado, resul-
tativo - (eàh opt. pres. = idéia permanente)
TeynaÛhn ÷te moi mhk¡ti taèta m¡loi; (Mimn.)
Pudesse eu estar morto quando essas coisas não mais me interessas-
sem! (TeynaÛhn, opt. perf. = ato acabado - m¡loi, opt. aor. = o ato
em si)

2. Afirmação atenuada

a) Com ’n: suaviza a afirmação, transformando a realidade ou a ordem


em mera possibilidade. É de uso freqüente na transmissão de opinião
de terceiros.
…Isvw n tiw eàpoi;
Talvez [certamente] alguém diria. [poderia dizer, dirá] (opt. aor. o
ato em si)
XvroÝw ’n eàsv; (Sóf.)
Tu poderias entrar! [Por que não entras?! Entre!] (opt. pres. entrar
na ação)

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264 o verbo grego: os modos

†Wra ’n eàh suskeu‹zesyai;


Seria o momento de preparar-se. [Talvez fosse, seja] (opt. pres. =
idéia permanente)
…Enya svfrosænhn katam‹yoi n tiw. (Xen.)
Lá [então] se poderia aprender a moderação. (opt. aor. = o ato em si)
Poè d°tƒ ’n eäen oß j¡noi; (Sóf.)
Onde, então, estariam os estrangeiros? [poderiam estar, estão]. (opt.
pres. = permanecer)
tÛ ’n ÈfeloÝmi [ÈfeloÛhn] soi ;
Em que eu te poderia ser útil? (opt. pres. = entrada no ato)
TÛnaw êpò tÛnvn eìroimen ’n meÛzona eéergethm¡nouw µ
paÝdaw êpò gon¡vn ;
Quem nós poderíamos encontrar beneficiados em maiores coisas por
quem a não ser [do que] os filhos pelos pais? (opt. aor. = o ato em si)

b) Podemos encontrar também o emprego do optativo, embora sem n,


nas orações dependentes de verbos declarativos, de expressão de von-
tade ou de medo e em geral na caracterização do que se chama discur-
so (interrogação) indireto. O verbo da principal em geral está no pas-
sado. O optativo pode substituir qualquer outra forma verbal da
completiva.
A gramática diz que esse uso não é obrigatório e o denomina de
optativo oblíquo ou de subordinação.
Não se trata de regra; trata-se da vontade do enunciante de ama-
ciar, suavizar o conteúdo da mensagem contida na oração subordinada.
O contexto do passado enfraquece a afirmação dando-lhe um as-
pecto nebuloso, de incerteza e, nesse caso, o optativo é o modo ideal.
(Em português esses matizes se exprimem pelas formas do condicio-
nal simples ou composto.)
…Elege ÷ti p¡nhw eàh.
Ele afirmava que era pobre. [Seria pobre, isto é, é ele que dizia,
não eu.] (opt. pres. = qualidade permanente)
…Elege ÷ti p¡nhw ·n.
Ele afirmava que era pobre. [De fato era. Eu concordo.] (indicati-
vo imperfeito, modo da realidade)

mur04.p65 264 22/01/01, 11:37


o verbo grego: os modos 265

ProselyÆn tÒ strathgÒ ¤d®lvsa ÷ti ¤strateum¡now


eàhn [·n] ³dh.
Tendo-me aproximado do comandante, revelei a ele que eu já te-
ria feito campanha. [tinha feito]. (opt. perf. = fato realizado)
Sfñdra pi¡saw aétoè tòn pñda ¾reto eÞ aÞsy‹noito
[¼syeto]. (Plat., Fédon)
Tendo-lhe apertado fortemente o pé, perguntou se estaria sentin-
do [se sentia]. (opt. pres. = simultaneidade do ato)
ƒEk¡leuse l¡gein ÷ ti gignÅskoi
Mandou [o] dizer o que estava sabendo [o que estaria sabendo, o
que soubesse] (opt. pres. = fato permanente)
Oäsya ¤pain¡santa †Omhron ƒAgam¡mnona Éw basileçw
eàh Žgayñw.
Tu sabes que Homero elogiou Agamêmnon [dizendo] que [na opi-
nião de Homero] ele era [seria] um bom rei. (opt. pres. = permanente)
ƒEfoboènto m® ti p‹yoi.
Eles temiam que ele sofresse algo. (opt. aor. = o ato em si)
ƒEpÛstasye, Ëste k’n llouw eÞkñtvw n did‹skoite.
(Xen.)
Vós sabeis, e assim talvez poderíeis ensinar [estar ensinando] os ou-
tros. (conseqüência possível, opt. pres.)
…Hretñ moi ÷stiw ’n eàhn.
Ele me perguntou quem eu seria [era] (opt. pres. = permanente)
ƒHrÅta §na §kaston eà tina ¤lpÛda ¦xoi (¦xei).
Ele passou a perguntar a cada um se tinha [se teria] alguma espe-
rança. (opt.pres. naquele momento, estado permanente)
ƒEpemeleÝto ÷pvw m¯ ŽsitoÛ pote ¦sointo. (Xen.)
Ele cuidava para que [de modo a que] eles não pudessem haver de
ser um dia (futuro) privados de alimentos (opt. fut.)
Sunevnoènto tòn sÝton ánƒ Éw ŽjiÅtaton êmÝn pvloÝen.
(Lísias)
Eles compravam o trigo em grande quantidade para que vos vendes-
sem [para vos vender] o mais caro possível. (opt. aor. = o ato em si)

mur04.p65 265 22/01/01, 11:37


266 o verbo grego: os modos

ƒEk‹kizon tòn Perikl¡a ÷ti oék ¤pej‹goi. (Tuc.)


Eles xingavam Péricles porque ele não saía -estava saindo- para ata-
car. (opt. pres. = fato habitual)
Svkr‹thw õpñte ŽnagkasyeÛh p‹ntaw ¤kr‹tei pÛnvn.
(Plat.)
Sócrates cada vez que foi [ fosse] forçado ele superava todos bebendo
[na bebida]. (opt. aor. = o ato em si)
Periem¡nomen §vw ŽnoixyeÛh tò desmvt®rion. (Plat., Fédon)
Nós ficamos esperando até que fosse aberta a prisão [se abrisse]. (opt.
aor. = o ato em si)
Svkr‹thw oék ¦pinen eÞ m¯ dicÐh. (Xen.)
Sócrates não bebia se não tivesse [tinha] sede. (opt. pres. = fato
habitual)
ƒEfobeÝto m¯ oé dænaito ¤k t°w xÅraw ¤jelyeÝn. (Xen.)4
Ele temia que não pudesse sair do país. (opt. aor. = o ato em si)
XenofÇn ¦legen ÷ti ôryÇw ¼tiÇnto, kaÜ aétò tò ¦rgon
aétoÝw marturoÛh. (Xen.)
Xenofonte afirmava que eles tinham feito a acusação corretamente
e que a própria obra [era] lhes seria testemunha. (opt. pres. = fato
simultâneo)
„H m®thr dihrÅta tòn Kèron pñteron boæloito [boæ-
letai] m¡nein µ Žpi¡nai.
A mãe perguntou [perguntava: entrada no ato verbal] a Ciro se ele
queria [quereria, estaria querendo] ficar ou partir. (opt. pres. simul-
taneidade do ato)
Oämai ’n ²mw toiaèta payeÝn oåa toçw ¤xyroçw oß yeoÜ
poi®seian. (Xen.)
Eu creio sofrer tais quais os deuses fariam sofrer os nossos inimi-
gos. (opt. aor. = o ato em si)

4 Nos verbos de temor está implícita uma idéia do não eventual; por isso, em grego,
eles vêm acompanhados do m®, como se estivesse “colado “ ao verbo; a segunda
negação pertence ao verbo complemento.

mur04.p65 266 22/01/01, 11:37


o verbo grego: os modos 267

„O Dionæsiow pròw tòn puyñmenon eÞ sxol‹zoi eäpe:


“Mhd¡pot¡ moi toèto sumbaÛh;”
Dionísio disse a alguém que procurava saber se ele estava [estaria]
de folga: “Isso jamais me acontecesse!” (opt. pres. = ato simultâneo,
durativo - opt. aor. = o ato em si)
TÛw oìtvw Þsxuròw ùw limÒ kaÜ =Ûgei dænaitƒ ’n maxñmenow
strateæesyai; (Xen.)
Quem é forte a tal ponto que pudesse [poderia] fazer uma expedi-
ção militar combatendo com fome e com frio? (opt. pres.)
†Witini ¤ntugx‹noien p‹ntaw Žp¡kteinon. (Tuc.)
Com qualquer um que encontrassem [encontravam] eles matavam
todos. (opt. pres. fato repetido)

c) Um optativo futuro poderia, à primeira vista, parecer uma contradi-


ção, uma vez que o futuro é um eventual. O que acontece, no entanto,
e só nas orações dependentes num quadro de passado, é o enfraqueci-
mento, a atenuação do conteúdo do verbo. Esse optativo é denominado
oblíquo ou de subordinação e se usa sem partícula. É uma superposi-
ção de modos: um enfraquecimento ou do indicativo ou do subjunti-
vo/futuro eventual.
†O ti poi®soi [poi®sei] oék eäpe.
Ele não disse o que faria [fará]. (opt. fut. = o ato em si)

3. Nas orações supositivas

Não se trata de um esquema rígido de correlação obrigatória de


tempos (não há tempo fora do indicativo e modos), mas sim da tonalida-
de, isto é, do modo como é sentida e transmitida a mensagem, na supo-
sição (condicionante) e na conseqüente (condicionada). O “modo” é pre-
cisamente como o enunciante sente e transmite a mensagem. Trata-se
de mera suposição.
Alguns exemplos serão suficientes.
EÞ sÅsaimi sƒ, eàsei moi x‹rin; (Eur.)
Se eu te salvasse, tu me serás grato? (opt. aor. = o ato em si, possível)

mur04.p65 267 22/01/01, 11:37


268 o verbo grego: os modos

Oék ’n forhtòw eàhw eÞ pr‹ssoiw kalÇw (Ésquines)


Tu não serias suportável se estivesses bem (opt. pres. = fato habitual,
possível)
EÞ ¤moÜ pisteæoiw oék ’n m¡noiw ¤ny‹de.
Se acreditasses em mim não permanecerias aqui. (opt. pres. = conti-
nuidade do ato, possível)
ƒEgÆ aÞsxunyeÛhn n eÞ diƒ llo ti svzoÛmhn µ diŒ toçw
lñgouw. (Isócr.)
Quanto a mim, eu sentiria vergonha se eu fosse salvo por outra coisa
que por meus discursos. (opt. aor. = o ato em si; opt. pres. = agora,
entrada no ato, possível nos dois casos)
EÞ boæloio Þatròw gen¡syai tÛ ’n poioÛhw;
Se quisesses tornar-te médico o que farias? [se estivesses com von-
tade - estarias fazendo: opt. pres. = possível]
ƒAdikoÛh ’n ÷stiw toèto poioÛh.
Cometeria uma injustiça aquele que [quem] fizesse isso. [estaria
cometendo, estaria fazendo: opt. pres. = possível]
Oék ’n g¡nointo pñleiw eÞ olÛgoi aÞdoèw kaÜ dÛkhw met¡-
xoien. (Plat., Prot.)
Não aconteceriam cidades se poucos tivessem sua parte de respeito e
justiça. (opt. aor. = o fato em si; opt. pres. = o fato permanente;
possível)
ƒAllƒ eà moÛ ti pÛyoio: tñ ken (’n) polç k¡rdion eàh. (Hom.)
Ah, se tu pudesses crer em mim! Isso seria muito mais vantajoso!
(opt. aor. = o ato em si; opt. pres. = idéia permanente)
PÇw n mƒ Ždelf°w xeÜr perist¡laien n
Como [seria] se a mão de minha irmã fizesse as obséquias! (opt. aor.
= o ato em si)

As denominações gramaticais mais uma vez não correspondem ao


significado das formas. Num paralelismo: “Eu afirmo que irei.” // “Ele
afirmou que viria.”. Não há o paralelo “futuro do presente” e “futuro do
pretérito”; o que há no segundo elemento é o enfraquecimento da afirma-
ção, uma afirmação de um terceiro que não se realizou. É um modo e não
um tempo! Denominar “viria” futuro do pretérito é desconhecer o signi-

mur04.p65 268 22/01/01, 11:37


o verbo grego: os modos 269

ficado da forma verbal. A denominação tradicional de “condicional sim-


ples”, embora não perfeita porque nem sempre exprime uma condição,
não é tão contraditória como “futuro do pretérito”. Seria preferível chamá-
la de “possível”.
Nas frases arroladas acima, o “futuro do pretérito” não apareceu
nenhuma vez. E nem poderia aparecer!
Em grego há tantos optativos quantos são os aspectos e vozes.
Optativo presente: tema do infectum, inacabado
Optativo futuro: tema do aoristo
Optativo aoristo: tema do aoristo
Optativo perfeito: tema do perfectum, acabado

Por exprimir possibilidade, irrealidade presente e afirmação atenu-


ada o optativo se serve de desinências secundárias, as mesmas do passado
(imperfeito, aoristo narrativo e mais-que-perfeito).

Não há idéia de tempo no optativo.

Imperativo

É o modo do diálogo direto (segunda pessoa) e indireto (terceira


pessoa - subjuntivo em português).
Exprime a mensagem direta, o gancho do diálogo, o chamamento
e também, subsidiariamente, a ordem.
O imperativo tem desinências próprias, que se repetem em todos
os aspectos. Ver p. 338-40.
Em grego há tantos imperativos quantos são os aspectos e vozes:
Imperativo presente: tema do infectum, inacabado);
Imperativo aoristo: tema do aoristo)
Imperativo perfeito: tema do perfectum, acabado
Não há idéia de tempo no imperativo: só de aspecto.
Não há imperativo futuro (impossibilidade semântica), e o impe-
rativo perfeito ativo também é de um emprego muito raro.

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270 o verbo grego: os modos

Apenas o imperativo ativo singular, o único autêntico e original,


que se exprime pelo próprio tema verbal, como em latim e português,
apresenta alguns problemas fonéticos.
Læete tòn aÞxm‹lvton.
Soltai o prisioneiro. [agora] (imp. pres. entrada na ação)
„UmeÝw deÛjate ´ntina gnÅmhn ¦xete perÜ tÇn pragm‹-
tvn. (Lísias)
Vós revelai que opinião tendes a respeito dos fatos. (imp. aor. o ato
em si > pontual)
Toçw m¢n yeoçw foboè toçw d¢ gon¡aw tÛma toÝw d¢ nñmoiw
peÛyou. (Isócr.)
Teme os deuses, honra os pais, obedece às leis [agora e sempre]. (imp.
pres. ordem permanente)
Žn‹gnvyi tòn nñmon
lê a lei (imp. aor. o ato em si > pontual);
p¡mcon tŒ ÷pla; ¤lyÆn lab¡;
Entrega as armas! Vem e pega!
l¡ge §teron nñmon (Lísias)
[e agora] lê a outra lei [passa a ler: imp. pres.]
SkopeÝte d¯ kaÜ logÛsasye toèto. (Dem.)
Observai (imp. pres. entrai no ato ) então, e refleti isso (imp. aor. o
ato em si).
Boælou dƒ Žr¡skein psi m¯ sautÒ mñnon;
Quere agradar a todos; não só a ti! (imp. pres. entrada no ato).

A ordem negativa, proibição, também se exprime pelo imperati-


vo (negação m®), diferentemente do português que usa sempre o subjun-
tivo exortativo.
M¯ yorubeÝte;
Parai esse barulho! [estão fazendo barulho: imp. pres.]
M¯ peÛyesye toÝw Žnosivt‹toiw Tri‹konta; (Xen.)
Não obedecei [obedeçais] a esses infames Trinta! (imp. pres. entra-
da no ato)

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o verbo grego: os modos 271

MhdeÜw êmÇn prosdokhs‹tv llvw; (Plat.)


Ninguém de vós prejulgue de outra maneira! (imp. aor. o ato em si)
MhdeÜw nomis‹tv; (Xen.)
Ninguém acredite! (imp. aor. o ato em si)
MhdeÜw toèto leg¡tv;
Ninguém diga [dirá] isso. (imp. pres. entrada no ato)

O subjuntivo às vezes pode substituir o imperativo, sobretudo na proi-


bição. Na verdade, passa a ser um pedido, uma súplica, que é uma anteci-
pação, um eventual.
SiÅpa; mhd¢n eàpúw n®pion; (Aristóf.)
Cala-te! (imp. pres. entrada no ato). Não digas nenhuma bobagem!
(subj. aor. pedido, o ato em si)
MhdeÜw yaum‹sú; (Dem.)
Ninguém se admire! (subj. aor. pedido, o ato em si)
M¯ yorub®shte;
Não façais barulho! (subj. aor. o ato em si)
M® me Žpol¡shte ŽdÛkvw; (Lísias)
Não me arruineis injustamente! (subj. aor. o ato em si)

Algumas vezes, no enunciado de uma ordem ou exortação, o grego


emprega o imperativo de alguns verbos como interjeição;
àyi; (Þ¡nai - ir) : vai!
ge - gete (gein - conduzir, levar) : vamos! (toca!)
f¡re - f¡rete (f¡rein - portar, levar) : vamos! (em frente!)

Essas formas são como interjeições introdutórias para ordem ou


exortação.
àyi; nèn parÛstasyon; (Aristóf.)
Vamos lá! apresentem-se os dois! (imper. pres. entrada no ato)
F¡re; ¤kpæyvmai; (Eur.)
Vamos! que eu me informe! (imper. presente, mera chamada de
atenção)

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272 o verbo grego: formas nominais

Formas nominais do verbo


O particípio

1) Definição

É o verbo-adjetivo de uso intenso em grego. O fato de a idéia do


verbo estar associada à forma e idéia nominal dá-lhe um significado mais
concreto.
Todos os aspectos e todas as vozes têm o seu particípio, contrari-
amente ao latim que só tem um particípio ativo (infectum) e o supino,
que deu origem ao particípio perfeito passivo.
Para nós há uma dificuldade inicial em entender o uso do particí-
pio grego.
É que em grego, por ser um adjetivo, o particípio se comporta como
tal: assume o caso do substantivo de quem é adjunto ou predicativo e é
triforme; isto é, tem uma forma para cada gênero. No latim e no portu-
guês o particípio presente ativo é uniforme.
Além disso, em português, por causa da invasão das formas do ge-
rúndio na voz ativa, portanto sem gênero e sem número e com significa-
do circunstancial (adverbial), é compreensível uma dificuldade de enten-
dimento inicial.
Esse significado circunstancial, adverbial decorre do significado do
particípio “presente”, isto é, infectum, inacabado, do processo verbal no
seu curso. É o significado do aspecto verbal. Mas, esse significado se deixa
contaminar pela idéia de locativo-temporal e instrumental, pela idéia de
extensão no tempo e no espaço, do locativo-temporal, e pela idéia de
passagem do ato verbal pelo objeto inerte, do instrumental:
Eu vejo o menino corrente = correndo = a correr
No grego e no latim é um predicativo do objeto direto. Em portu-
guês, semanticamente também é, mas gramaticalmente é um adjunto
adverbial e formalmente é invariável na voz ativa. Já foi diferente: “Como
se a não tivera merecida” (Camões).
Por ser um adjetivo em sua forma, ou melhor, em suas formas, o
particípio grego, quer ativo, quer médio, quer passivo, é triforme (mas-
culino, feminino e neutro) e varia no singular e plural, concordando sem-
pre com o substantivo em gênero, número e caso.

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o verbo grego: formas nominais 273

Em português o particípio da voz ativa foi substituído pelo gerún-


dio, que é invariável. Só o particípio passivo varia: masculino e feminino,
singular e plural.
Assim5:
õr˜w tòn ndra tr¡xonta : Vês o homem correndo (corrente)
õr˜w t¯n gunaÝka tr¡xousan : Vês a mulher correndo (corrente)
õr˜w tò t¡knon tr¡xon : Vês a criança correndo (corrente)
õr˜w toçw ndraw tr¡xontaw : Vês os homens correndo (correntes)
õr˜w tŒw gunaÝkaw trexoæsaw : Vês as mulheres correndo (correntes)
õr˜w tŒ t¡kna tr¡xonta : Vês as crianças correndo (correntes)

Do mesmo modo que, em grego, nas seis frases acima, o particí-


pio, predicativo do objeto direto, variou e concordou em gênero, número e
caso com o objeto direto, e, com as mesmas funções, ele permaneceu inal-
terado em português, assim também acontecerá quando o particípio es-
tiver em função predicativa do sujeito (particípio conjunto, segundo as
gramáticas):
õ Žn¯r tr¡xvn ¦pesen o homem correndo (corrente, enquanto corria)
caiu
² gun¯ tr¡xousa ¦pesen a mulher correndo (corrente, enquanto corria)
caiu
tò t¡knon tr¡xon ¦pesen a criança correndo (corrente, enquanto corria)
caiu
oß ndrew tr¡xontew ¦peson os homens correndo (correntes, enquanto corriam)
caíram
aß gunaÝkew tr¡xousai ¦peson as mulheres correndo (correntes, enquanto
corriam) caíram
tŒ t¡kna tr¡xonta ¦peson as crianças correndo (correntes) caíram

Os dois quadros acima ilustram apenas as relações formais do parti-


cípio-adjetivo; neles o verbo empregado, tr¡xv - eu corro, é intransitivo.

5 As frases a seguir são meras construções gramaticais; não são de autor nenhum. O
leitor não deve esperar nelas nenhuma mensagem filosófica.

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274 o verbo grego: formas nominais

Mas, como o próprio nome exprime, metox® - participação, o par-


ticípio é nome (adjetivo) quanto à forma, mas não perde sua natureza
verbal e suas relações com o sujeito e complementos se mantêm intactas:
ele pode ser ativo, médio e passivo. E, se é transitivo, continua a procu-
rar ( aÞt¡v - eu busco) o seu complemento (termo do ato verbal).
Por exemplo, na frase:
pw nyrvpow ´detai tò fÇw õrÇn
todo homem sente prazer vendo a luz.
tò fÇw, a luz, é objeto direto de õrÇn, que está no particípio pre-
sente, nominativo masculino singular, porque é aposto do sujeito pw
nyrvpow.
Então, uma forma nominal do verbo (verbo adjetivo) é adjetivo em
suas formas e verbo em seu significado e rexão.

2) Aspecto e tempo no particípio

a) Generalidades:

Em grego há tantos particípios quantos são os aspectos e vozes.


Sobre cada tema podem ser construídos os particípios ativo, médio e
passivo.
O que os particípios têm de próprio é o aspecto, isto é o tempo
interno do processo verbal:
O particípio não tem tempo próprio, mas sim tempo relativo:
• o construído sobre o tema do infectum (inacabado) marca simultanei-
dade com o verbo da principal;
• o construído sobre o tema do aoristo marca anterioridade em relação
ao verbo da principal, se é pontual, aoristo, ou posterioridade em rela-
ção ao verbo da principal, se depende de verbo de movimento e inten-
ção (vontade);
• o construído sobre o tema do perfectum (acabado) mantém seu signi-
ficado próprio de ato acabado, terminado, sem nenhuma relatividade.

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o verbo grego: formas nominais 275

b) Particípio presente:

Sobre o tema do infectum (inacabado), construímos os particípios


ativo, médio e passivo: mesmas desinências para médio e passivo;
Voz Tema Formas: m., f., n. Significado
ativo læ-o-nt- lævn, læousa, lèon desligante-desligando, que desliga,
que está desligando
médio lu-o-meno- luñmenow,h,on desligante-desligando para si, que
desliga para si, que está desligando
para si
passivo lu-o-meno- luñmenow,h,on que está sendo desligado, que é
(o mesmo da voz média) desligado, desligado
Ver no quadro de flexão do particípio o comportamento dos temas
em vogal (verbos em -mi).
O particípio construído sobre o tema do infectum (inacabado) não
exprime tempo absoluto, mas um tempo relativo: a simultaneidade de tem-
po com o verbo principal, qualquer que seja o tempo deste.
Oék ¦sti m¯ nikÇsi svthrÛa.
Não existe salvação para os que não vencem. [estão vencendo]
KaÛper p‹nu ŽndreÝow Ên nikhy®sú
Mesmo sendo [ainda que sejas] muito corajoso serás vencido.

c) Particípio aoristo:

Sobre o tema do aoristo, que serve também para o futuro, cons-


truímos os particípios ativo, médio e passivo do aoristo e do futuro:
Voz Tema Formas: m. f. n. Significado
aoristo
ativo: lu-sa-nt- læsaw, læsasa, lèsan tendo desligado, que desligou
médio: lu-sa-meno- lus‹menow,h,on tendo desligado para si, que desli-
gou para si
passivo: lu-yh-nt- > luyeÛw, luyeÝsa, luy¡n tendo sido desligado, que foi des-
luyent- ligado
stal-h-nt staleÛw, staleÝsa, tendo sido enviado, que foi enviado
stal¡n

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276 o verbo grego: formas nominais

Voz Tema Formas: m. f. n. Significado


futuro:
ativo: lu-s-ont- læsvn, læsousa, havendo de desligar, que
lèson desligará
médio: lu-s-o-meno- lusñmenow,h,on havendo de desligar para si,
que desligará para si
passivo: lu-yh-s-o-meno- luyhsñmenow,h,on havendo de ser desligado, que
será desligado
stal-h-s-o-meno- stalhsñmenow,h, on havendo de ser enviado, que
será enviado

O particípio construído sobre o tema do aoristo não exprime uma


idéia de tempo absoluto, mas um tempo relativo, isto é, a anterioridade
em relação ao verbo principal, qualquer que seja o tempo deste.
O particípio construído sobre o tema do futuro não exprime uma
idéia de tempo absoluto, mas um tempo relativo, isto é, a posterioridade
em relação ao verbo principal, qualquer que seja o tempo deste.
Via de regra o particípio futuro se encontra como complemento
de verbos de movimento ou intenção, às vezes precedido de Éw (para),
sempre com a idéia do eventual.

d) Particípio perfeito:

Sobre o tema do perfectum (acabado) construímos os particípios


perfeitos ativo, médio e passivo (mesmas desinências para o médio e
passivo):
Voz Tema Formas: m. f. n. Significado
ativo: le-lu-kot- lelukÅw, lelukuÝa, que terminou o ato de desligar,
lelukñw que desligou
médio: le-lu-meno- lelum¡now, h, on que terminou o ato de desligar
para si, que acabou de desligar
para si
passivo: le-lu-meno- lelum¡now, h, on
(o mesmo que o médio) que foi e está desligado, desligado
O particípio construído sobre o tema do perfeito exprime o ato
acabado, terminado (idéia de aspecto e não de tempo).

mur04.p65 276 22/01/01, 11:37


o verbo grego: formas nominais 277

3) Concordância do particípio

O particípio grego é um adjetivo; não podemos nos esquecer disso


nunca. Por isso, salvo em situações em que está substantivado, concorda
com o referente (substantivo ou equivalente).
O elenco abaixo, com todos os usos do particípio, permitirá ao lei-
tor constatar a veracidade dessa afirmação.
As traduções que daremos serão quase sempre lineares, visando
sempre à relação significante-significado. O fato de estarem fora do uso
atual não impedirá o aluno de entendê-las e substituí-las por constru-
ções equivalentes atuais.
Não levaremos em conta também o enquadramento das orações
com particípio ou gerúndio nas diversas categorias da sintaxe tradicional,
por entendermos que elas, as reduzidas de particípio ou gerúndio, valem
por si mesmas. A sintaxe (=coordenação) delas é interessante mas não
essencial.
Se tivermos sempre presente na memória o que foi exposto sobre
o significado linear dos particípios e se observarmos a concordância deles
com os nomes a que se referem, não teremos grandes dificuldades em
assimilar a “sintaxe do particípio”.
O uso do particípio grego corresponde, grosso modo, às orações
reduzidas de gerúndio no presente (voz ativa e passiva = amando / sendo
amado) e reduzidas de particípio no passado (voz ativa e passiva = tendo
amado / tendo sido amado) em português.
A diferença (e daí a dificuldade) está em que, em português, o ge-
rúndio é invariável na voz ativa e variável na voz passiva, e, em grego, o
particípio, quer ativo, médio ou passivo é um adjetivo e por isso concor-
da com o seu referente (sujeito ou complemento), numa espécie de apo-
sição (por vir em geral depois).
No caso de omissão do sujeito em grego, o gênero e número são
identificados pelas formas do particípio, que têm os três gêneros em to-
das as vozes e aspectos.
pw nyrvpow ´detai tò fÇw õrÇn
todo homem sente prazer vendo [ao ver] a luz (p. pres. aposto do
sujeito masculino)

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278 o verbo grego: formas nominais

ChfÛsasye tòn pñlemon m¯ fobhy¡ntew tò aétÛka deinñn.


(Tuc.)
Votai a guerra, não tendo temido o perigo imediato [não temei e
votai; votai sem temer]. (p. aor. aposto do sujeito do verbo: vós,
sujeito masculino)
‡Hn eérey»w ¤w t®nde m¯ dÛkaiow Ên. (Sóf.)
Se fores encontrado não sendo justo para esta. (p. pres. aposto do
sujeito: tu, masc.)
P‹reimi õplÛtaw ¦xvn ¥katñn. (Xen.)
Eu me apresento tendo 100 hoplitas [com 100 hoplitas]. (p. pres
aposto do sujeito: eu, masc.)
Deipn®santew Žpelaænete. (Xen.)
Tendo jantado, parti. [Parti depois de jantar.] (part. aor. aposto do
sujeito: vós, masc.)
Oék ’n dænaio m¯ kamÆn eédaimoneÝn. (Eur).
Tu não poderias não tendo trabalhado [sem penar] ser feliz. (part.
pres. aposto do sujeito: tu, masc.)
Sun¡lyomen ôcñmenoi.
Nós nos reunimos para ver. [havendo de ver] (part. fut. aposto do
sujeito: nós, masc.)
eäpe gel‹saw
Ele riu e disse. [tendo rido] ele disse (p. aor.suj. masc. sing.)
¦tuxen ¤lyÅn
tendo vindo por acaso, [por acaso ele veio] (p. aor. suj. masc. sing)
¦layen ¤lyÅn
passou desapercebido tendo chegado [chegou sem ser percebido] (p.
aor. suj. masc. sing.)
Lúzñmenoi zÇsin. (Xen.)
Eles vivem [saqueando] saqueantes. [Vivem de saque]. (p. pres. suj.
masc. pl.)
ƒElaænvn Õxeto.
Ele partiu cavalgando. (part. pres. suj. masc. sing.)

mur04.p65 278 22/01/01, 11:37


o verbo grego: formas nominais 279

ƒEm‹xonto ‘ma poreuñmenoi. (Xen.)


Eles combatiam marchando [enquanto marchavam]. (part. pres. suj.
masc. pl.)
Eéyçw meir‹kion Ên...
Desde a adolescência [imediatamente em sendo adolescente] (part.
pres. suj. masc. sing.)
ƒApeÛxonto kerdÇn aÞsxrŒ nomÛzontew eänai. (Xen.)
Eles se abstinham de lucro, julgando ser vergonhoso [porque jul-
gavam]. (part. pres. suj. masc. pl.)
„Ww Žphllagm¡noi tÇn kakÇn ²d¡vw ¤koim®yhsan. (Xen.)
Porque estavam afastados [tinham sido afastados] dos perigos, re-
pousaram com prazer. (part. perf. passivo suj. masc. pl.)
ƒWrxoènto Ësper lloiw ¤pideiknæmenoi. (Xen.)
Eles dançavam como se oferecendo em espetáculo aos outros. (part.
pres. suj. masc. pl.)
OàetaÛ ti eÞd¡nai oék eÞdÅw. (Plat.)
Ele crê que sabe algo [mesmo] não sabendo. (part. perf. suj. masc.
sing.)
Sullamb‹nei Kèron Éw ŽpoktenÇn. (Xen.)
Ele prende Ciro para matá-lo. [havendo de matar] (part. fut. suj.
masc. sing.)
T¯n pñlin labÆn ¤sælhse.
Tendo tomado a cidade, ele saqueou. [Ele tomou e saqueou.] (part.
aor. masc. sing.)

O particípio em função de aposto ou de predicativo concorda com


o referente em qualquer caso, mesmo se o referente está implícito.
Toèton oédeÜw xaÛrvn Ždik®sei. (Plat.)
Esse aí ninguém maltratará de alegre [alegrando-se] (part. pres. suj.
masc. sing.)
ƒEpÜ xÛoni pesoæsú
sobre a neve que caiu [tendo caído] (part. aor. - pred. do locativo)

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280 o verbo grego: formas nominais

MetŒ Surakoæsaw oÞkisyeÛsaw (Tuc.)


Depois de Siracusa tendo sido fundada. [depois da fundação de]
(part. aor. pas. pred. do acus.)
Prò ²lÛou dænontow.
Diante do sol que se punha [pondo-se] (part. pres. pred. do gen.).
†Ama ²lÛÄ Žnat¡llonti
Junto com o sol se levantando (part. pres. pred. do dat.)
Oék ¦sti toÝw m¯ nikÇsi svthrÛa. (Xen.)
Não há salvação aos que não vencem [que não estão vencendo] (part.
pres. masc. pl. pred. do dat. referente implícito)
DuoÝn kakoÝn oédeÜw tò meÝzon aßreÝtai ¤jòn tò ¦latton.
(Plat.)
De dois males ninguém escolhe o maior, sendo possível [escolher]
o menor. (part. pres. predicativo do sujeito oracional)
OéxÜ ¤sÅsam¡n se oåñn te øn kaÜ dunatñn. (Plat.)
Nós nem mesmo te salvamos [isso] sendo viável e sendo possível.
(part. pres. predicativo do sujeito oracional)
†Hdesye...Éw periesom¡nouw ²mw tÇn „Ell®nvn. (Her.)
Vós sentis prazer... em nós havendo de dominar os gregos. (part.
fut. predicativo do objeto direto)
Oß k‹mnontew stratiÇtai ¤koim®yhsan. (Xen.)
Os soldados que estavam cansados [estando cansados] deitaram-se
(part. pres. adj. adn.)
Tòn ßeròn kaloæmenon pñlemon. (Tuc.)
A guerra que chamam santa. [que está sendo chamada] (part. pres.
pas. - adj. adn.)
„O kateilhfÆw kÛndunow t¯n pñlin. (Dem.)
O perigo que surpreendeu [terminou o ato de] a cidade. (part. perf.
adj. adn.)
Aß prò toè stñmatow n°ew naumaxoèsai. (Tuc.)
Os navios que estavam combatendo diante da entrada [do porto].
(part. pres. adj. adn.)

mur04.p65 280 22/01/01, 11:37


o verbo grego: formas nominais 281

² ônomazom¡nh ŽndreÛa
a chamada [que chamamos, que está sendo chamada, que costumam
chamar] coragem (part. pres. pass. adj. adn.)
² nèn kaloum¡nh „Ell‹w
a chamada agora Grécia [que chamamos] (part. pres. pass. adj. adn.)
² MÛdou kaloum¡nh kr®nh
a fonte chamada [que chamamos, costumamos chamar] de Midas.
(part. pres. pass. adj. adn.)
oß strathgoÜ oß oék Žnelñmenoi toçw ¤k naumaxÛaw nekroçw
¤krÛyhsan
Os comandantes que não recolheram [os não tendo recolhido] os
cadáveres da batalha naval foram julgados. (part. aor. substantivado,
aposto do sujeito)
pñliw eéreÛaw guiŒw ¦xousa
uma cidade que tem [tendo] ruas largas (part. pres. apost do suj.)
MetŒ taèta Žfiknoèntai Žgg¡llontew. (Isócr.)
Depois disso chegam pessoas anunciando [anunciantes] (part. pres.
apost. do suj.)
m¡mnhso nyrvpow Ên
lembra-te que és homem, [seres humano; sendo homem] (part. pres.
pred. do sujeito)
oß pleÝstoi oék aÞsy‹nontai diamart‹nontew
a maioria não percebe que se engana [que está se enganando, fa-
lhando] (part. pres. pred. do sujeito)
Pl¡omen ¤pÜ pollŒw naèw kekthm¡nouw. (Xen.)
Nós navegamos contra possuidores [que adquiriram] de muitas naus.
(part. perf. subst. compl. preposicionado; acus. de direção)
mhd¡pote metem¡lhs¡ moi sig®santi, fyegjam¡nÄ d¢
poll‹kiw (Plat.)
jamais eu me arrependi de ter ficado quieto, mas freqüentemente
de ter falado [arrependeu-me (latim: paenituit me) tendo silencia-
do.. tendo falado] (part. aor. pred. do dat.)

mur04.p65 281 22/01/01, 11:37


282 o verbo grego: formas nominais

gnÇte ŽnagkaÝon øn êmÝn Žndr‹sin ŽgayoÝw gÛgnesyai


(Tuc.)
sabei que vos é necessário tornar-vos homens de bem [sendo-vos
necessário] (part. pres. pred. do obj. dir. oracional)
¤mautÒ sænoida oéd¢n ¤pistam¡nÄ
eu sei comigo mesmo não saber nada [não sabendo nada] (part. perf.
apost. de dat. comitativo)
¥autòn oédeÜw õmologeÝ kakoèrgow Ên [kakoèrgon önta]
ninguém concorda [confessa] que é malfeitor [sendo ele malfeitor]
(part. pres. apost. do suj: Ên ; pred. do obj. dir.: önta)
diat¡lei me ŽgapÇn
ele continua a me amar [amando-me] (part. pres. apost. do suj)
paæsate tòn ndra êbrÛzonta
fazei cessar a insolência desse homem [sendo insolente, cometendo
insolência] (part. pres. pred. do obj. dir.)
m¯ k‹múw fÛlon ndra eéergetÇn
não te canses de fazer o bem a um homem amigo [fazendo o bem]
(part. pres. pred. do suj.)

O particípio, por ser adjetivo, pode ser substantivado (particípio


com artigo) qualquer que seja seu aspecto ou voz.Tem gênero e número
próprios, e assume os casos das funções que tem na frase.
Nesses casos ou se traduz por uma oração relativa adjetiva:
-õ l¡gvn - o que está falando, o falante, (p. pres.); ou por um substan-
tivo, caso exista: o orador (de momento).
oß rxontew:
os que estão no poder, no comando, ou os arcontes, os governantes.
(também em português se deu a substantivação do particípio!)
eÞsÜn oß oÞñmenoi
há [existem] os que crêem [os crentes] (p. pres.)
tÛw ’n pñliw êpò m¯ peiyom¡nvn loÛh;
que cidade poderia ser tomada por não obedientes! [que não obede-
cem!] (sem artigo por ser indeterminado). (p. pres.)

mur04.p65 282 22/01/01, 11:37


o verbo grego: formas nominais 283

tò sumf¡ron: o que traz proveito, o juro, o lucro (p. pres.)


tò pros°kon: o que convém - o conveniente, o dever (p. pres.)
oß ¤rgasñmenoi: os que vão trabalhar, cultivar, os havendo de tra-
balhar (p. fut.)

„O mhd¢n eÞdÆw oéd¢n mart‹nei.


O que sabe nada [o ignorante] em nada se engana. (part. perf. esta-
do atual, resultante)
Oß grac‹menoi tòn Svkr‹thn: Os acusadores de Sócrates [os
que acusaram]. (p. aor. anterioridade)
„O tuxÅn: O que apareceu; o que [por acaso] chegou. (part. aor.)
oß pros®kontew: os “com-venientes”, os chegados, os parentes
(part. pres.)
tò m¡llon: o que está para, o por vir [porvir] (part. pres.)
tŒ m¡llonta: as coisas que estão para vir, o futuro (part. pres.)
Pw õ boulñmenow: todo o que quer [que está querendo] (part.
pres.)
ƒEn°san ¤n t» xÅr& oß ¤rgasñmenoi. (Xen.)
Havia no país os que haveriam de cultivar [os futuros cultivadores;
os havendo de cultivar]. (part. fut. sujeito)
Oédƒ õ kvlæsvn par°n. (Sóf.)
Nem mesmo estava presente o que haveria [o havendo de] de impe-
dir. (part. fut. sujeito.)
Diƒ ¤ndeÛan toè yerapeæsontow. (Isócr.)
Por carência de quem haveria [do havendo de] de tratar. (part. fut.
comp. nom.)
„H pñliw ¦rhmow ·n tÇn Žmunoum¡nvn. (Xen.)
A cidade estava carente de defensores [dos havendo de defender, que
haveriam de defender]. (part. fut. comp. nom.)

mur04.p65 283 22/01/01, 11:37


284 o verbo grego: formas nominais

4) Funções do particípio

Ele pode ter todas as funções do adjetivo e do nome, como já vimos.


Nos exemplos acima vimo-lo como substantivo nas funções de su-
jeito e objeto e como adjetivo nas funções de aposto (conjunto), adjunto
adnominal, predicativo do sujeito e predicativo do objeto direto.
São notáveis certas construções que, em português, usam o infini-
tivo com preposição (em ou de) ou gerúndio do verbo complemento, e,
em grego, exprimem a mesma idéia pelo particípio em função predicativa
ou apositiva.

a) Particípio nas orações completivas

Há um grande número de verbos neste caso, sobretudo os que sig-


nificam: maneira de ser, determinada ou indeterminada
estar no começo ou no fim
cessar
estar cansado de fazer bem ou mal a
ser superior ou inferior em
sentir alegria, tristeza, vergonha em ou de.
É na verdade uma função predicativa.
O uso do particípio em lugar do infinitivo se explica porque o par-
ticípio exprime o ato verbal de maneira concreta e delimitada; o infiniti-
vo tem um significado aberto e indefinido. Em português, encontramos
o gerúndio ou o infinitivo preposicionado.

Principais verbos que exprimem:


• maneira de ser, estado
di‹gv eu permaneço (fazendo)
diagÛgnomai eu fico continuamente (fazendo)
diatelÇ(e) eu chego ao fim (fazendo)
d°low, fanerñw eÞmi eu sou evidente (fazendo)
lany‹nv eu passo desapercebido (fazendo)
tugx‹nv eu me encontro por acaso (fazendo)
faÛnomai eu me manifesto, apareço (fazendo)
fy‹nv eu me antecipo (fazendo)

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o verbo grego: formas nominais 285

„EptŒ ²m¡raw p‹saw maxñmenoi diet¡lesan


Eles passaram todos os sete dias combatendo [combatentes; a com-
bater]. (part. pres.)
ToÝw summ‹xoiw pistoÜ öntew diam¡nomen.
Nós permanecemos [sendo] fiéis aos aliados. (part. pres.)
diatelÇ eënoian ¦xvn êmÝn
Eu continuo tendo [a ter] benevolência para convosco (part. pres.)
pñlemon ¦xvn di‹gei (tòn bÛon) õ tærannow
O tirano passa a vida tendo guerra [fazendo, a fazer] (part. pres.)
…Efyhsan toçw Persaw Žfikñmenoi eÞw t¯n pñlin
Eles se anteciparam aos Persas chegando à cidade [tendo chegado:
part. aor.]
Fy‹ne toçw fÛlouw eéergetÇn
Antecipa beneficiando os amigos. [sê o primeiro a beneficiar] (part.
pres.)
Oék ’n fy‹noiw l¡gvn.
Tu não te anteciparias em falar [falando, já não seria sem tempo
de falares] (part. pres.)
Oék ¦fyasan t¯n Žrx¯n katasxñntew kaÜ YhbaÛoiw eéyçw
¤peboæleusan.
Eles não se anteciparam tendo tomado o poder e imediatamente
conspiraram com os Tebanos [apenas tomaram o poder] (part. aor.)
…Elayen ²mw Žpodr‹w
Ele passou desapercebido de nós tendo escapado. [ele escapou sem
que nós tivéssemos percebido] (part. aor.)
ƒEl‹nyanon aêtoçw ¤pÜ tÒ lñfÄ genñmenoi
Eles passavam desapercebidos deles mesmos chegando ao topo da
colina. [eles chegavam ao topo da colina sem perceber] (part. aor.)
…Etuxen ²mÇn ² ful¯ prutaneæousa.
Aconteceu [por acaso] a nossa tribo estar exercendo a função de
prítane. [por acaso nossa tribo exercia a função de prítane] (part.
pres.)

mur04.p65 285 22/01/01, 11:37


286 o verbo grego: formas nominais

TÛw ¦tuxe paragenñmenow;


Quem encontrou-se por acaso tendo estado presente? [quem por acaso
esteve presente?] (part. aor.)
ˆO m¡n ¤sti faneròw ¤kbŒw ¤k toè ploÛou kaÜ oék eÞsbŒw
p‹lin.
É evidente ele tendo saído da embarcação e não tendo entrado de
novo. [É manifesto que ele saiu da embarcação e não entrou de
novo] (part. aor.)
¤oÛkate turannÛsi mlon µ politeÛaiw ²dñmenoi
Vós pareceis tendo prazer mais com tiranias do que com governos
populares (part. pres.)
toèto tò str‹teuma ¤l‹nyane trefñmenon
esse exército passava desapercebido sendo sustentado. [esse exército
era sustentado secretamente] (part.pres.)
Ùnto ŽfaneÝw eänai Žpiñntew
Eles acreditavam estar invisíveis saindo (part. pres.)
Douleævn sautòn l¡lhyaw
Tu passas desapercebido de ti mesmo sendo escravo [tu és escravo
sem perceberes] (part. pres.)

• começar, sofrer, cansar-se de (processo da ação)


Žn¡xomai eu agüento, eu suporto (fazendo)
Žpagoreæv eu desisto de (fazendo)
rxomai eu começo a (fazendo)
k‹mnv eu me canso de, eu cesso (fazendo)
paæomai, l®gv eu paro, eu cesso de (fazendo)
Oëpote ¤pauñmhn êmw oÞktÛrvn.
Eu não parava de vos lamentar. [lamentando] (part. pres.)
M¯ k‹mnúw fÛlon ndra eéergetÇn
Não cesses de fazer o bem a um amigo querido [fazendo o bem].
(part. pres.)
Paæsomai toçw ¤xyroçw gelÇntaw.
Eu farei os adversários pararem de rir. [rindo] (part. pres.)

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o verbo grego: formas nominais 287

oß ƒAyhnaÝoi ¤m¢ êp°rjan dika poioèntew


Os atenienses começaram primeiro fazendo-me injustiça (part. pres.)
ƒHrxñmeya dialegñmenoi.
Começávamos a dialogar [dialogantes] (part. pres.)
oß Lakedaimñnioi oék ¤paæsanto tŒw pñleiw kakÇw
poioèntew
Os lacedemônios não pararam de prejudicar [prejudicando] as cida-
des. (part. pres.)
„H pñliw oéd¡pote ¤kleÛpei toçw teleut®santaw timÇsa
A cidade nunca deixa de honrar [honrando] os finados (part. pres.)

• verbos com sentido de estar certo ou errado, fazer o bem ou o mal,


ser superior ou inferior a
aÞdoèmai (e) eu tenho pudor em (fazendo)
aÞsxænomai eu sinto vergonha, pudor em
ŽdikÇ(e) eu sou injusto em (fazendo)
ŽganaktÇ(a) eu me irrito, acho ruim
ŽgapÇ(a) eu gosto (de fazer) fazendo
mart‹nv eu ajo mal, eu falho, peco em
xyomai eu me indigno, acho ruim
´domai eu tenho prazer em (fazendo)
²ttÇmai(a) eu sou inferior em
kakÇw poiÇ(e) eu faço (ajo) mal em (fazendo)
kalÇw (eï) poiÇ(e) eu faço (ajo) bem em (fazendo)
karterÇ (e) eu agüento, suporto (fazendo)
kratÇ(e) eu domino em (fazendo)
leÛpomai eu fico para trás em
lupoèmai (e) eu me aflijo em (fazendo)
nikÇ(a) eu venço em (fazendo)
st¡rgv eu gosto (de fazer) fazendo
xalepÇw f¡rv eu suporto mal (fazendo)
xaÛrv eu me alegro em (fazendo)

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288 o verbo grego: formas nominais

ƒAdikeÝte pol¡mou rxontew kaÜ spondŒw læontew


Vós agis mal [sois injustos] ao começar a guerra e romper os trata-
dos [começando e rompendo entrada no ato verbal]
†Hdomai Žkoævn sou fronÛmouw lñgouw.
Sinto prazer ouvindo palavras sábias de ti (simultâneo)
diŒ tÛ metƒ ¤moè xaÛrousÛ tinew diatrÛbontew; ÷ti xaÛrousi
¤jetazom¡noiw toÝw oÞom¡noiw eänai sofoÝw.
Por que alguns se alegram entretendo-se comigo? porque se alegram
em pesquisar [pesquisando] com os que são considerados sábios.
pw Žn¯r ´detai tò fÇw õrÇn
todo homem sente prazer vendo a luz (simultâneo)
õ d¢ fresÜ t¡rpetƒ Žkoævn (Hom.)
ele se alegrava na mente ouvindo [ao ouvir, em ouvir, em ouvindo,
enquanto ouvia]
kalÇw ¤poÛhsaw proeipÅn
fizeste bem tendo falado antes [em falar antes, em ter falado antes]
kreÛssvn ·sya mhk¡tƒ Ìn µ zÇn tuflñw
tu eras melhor não mais existindo do que vivendo cego [se não mais
existisses do que se vivesses cego]
¤moÜ xarÛzou Žpokrinñmenow
sê-me agradável respondendo-me [em responder]
karterÇ Žkoævn
eu agüento escutando [escuto pacientemente]
aÞsxænomai toèto l¡gvn
eu sinto vergonha dizendo isso

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o verbo grego: formas nominais 289

b) Particípio predicativo de sujeito oracional

Podemos incluir nessa construção de “particípio conjunto” aquilo


que as gramáticas denominam de “acusativo absoluto”: na verdade são
sujeitos oracionais em que o particípio aparece como predicativo do sujeito
- neutro, naturalmente.
A confusão se originou disto: o nominativo do particípio neutro é
igual ao acusativo.
Vejamos os exemplos:
¤jòn eÞr®nhn gein oédeÜw pñlemon aßr®setai.
sendo permitido conduzir a paz, ninguém escolherá a guerra.
¤jñn é nominativo neutro, predicativo do sujeito que é a frase toda.
DuoÝn kakoÝn oédeÜw tò meÝzon aßreÝtai, ¤jòn tò ¦latton
(Plat.)
De dois males [entre dois males] ninguém escolhe o maior, sendo
permitido [escolher] o menor. (duoÝn kakoÝn é um dual)
poll‹kiw ¤jòn êmÝn pleonektèsai oék ±yel®sate
muitas vezes sendo-vos possível ficar grandes, não quisestes.
oß Surakoæsioi kraug» oék ôlÛgú ¤xrÇnto Ždænaton øn
¤n nuktÜ llÄ tÄ shm°nai (Plat.)
os Siracusanos se serviam de não pouco alarido, sendo impossível
fazer sinais durante a noite com um outro meio.
oéd¢ dÛkaiñn moi dokeÝw ¤pixeireÝn prgma, sautòn
prodoènai, ¤jòn svy°nai
Não me pareces estar fazendo um negócio justo ao te entregares,
sendo possível ser salvo.
oéxÜ ¤sÅsam¡n se oåñn te øn kaÜ dunatñn (Plat.)
Nós não te salvamos, mesmo sendo viável e possível.
d°lon gŒr ÷ti oäsya toèto, m¡lon g¡ soi
Pois é evidente que tu sabes isso, sendo tua preocupação.
eÞrhm¡non dƒaétaÝw Žpantn, ¤ny‹di eìdousi koéx ´kousin
(Aristóf.)
(mesmo) estando dada a ordem de as mulheres se reunirem, elas
estão dormindo e não vêm.

mur04.p65 289 22/01/01, 11:37


290 o verbo grego: formas nominais

sundñjan tÒ patrÜ kaÜ t» mhtrÜ gameÝ t¯n Kuaj‹rou


yugat¡ra
tendo parecido bem igualmente ao pai e à mãe, [Ciro] casa-se com a
filha de Ciáxares (part. aor. neutro, pred. do suj.).

São bastante freqüentes essas construções de particípio neutro com


função predicativa. As mais comuns são as seguintes:
aÞsxròn ön sendo feio, vergonhoso
ŽnagkaÝon ön sendo inevitável, forçoso
dedogm¡non dokÇ(e) tendo-se chegado à conclusão
dñjan dokÇ(e) tendo parecido (bem)
dokoèn parecendo bem
dunatñn/Ždænaton ön sendo possível/impossível
d¡on (d¡v) sendo necessário, preciso
eÞrhm¡non tendo sido dito, está dito
¤nñn (¦neimi), parñn (p‹reimi) sendo possível, permitido
kalÇw parasxÅn tendo sido oportuno
legñmenon sendo dito, correndo o boato de que
metam¡lon havendo arrependimento de
m¡lon (m¡lomai) havendo o cuidado
par¡xon (par¡xv) sendo oportuno
pr¡pon (pr¡pv) sendo decente
pros°kon (pros®kv) sendo conveniente
prostaxy¡n (prost‹ttv) tendo sido estabelecido

Em todas essas construções, que correspondem às reduzidas de ge-


rúndio ou de particípio em português, quer na voz ativa, média ou passi-
va, basta traduzirmos os particípios em seu verdadeiro sentido e teremos
o significado claro. Todos os particípios gregos são adjetivos e concor-
dam com o sujeito, de quem são aposto e com os objetos de que são
predicativos, em gênero, número e caso.
Esse “particípio conjunto” (= predicativo ou do sujeito da princi-
pal ou do sujeito/objeto da subordinada completiva) pode ser visto tam-
bém em uma série de orações subordinadas, complementos de verbos que
exprimem percepção pelos sentidos ou pela mente:

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o verbo grego: formas nominais 291

ŽgnoÇ(e) eu ignoro, eu desconheço (que)


Žkoæv eu ouço (que)
lÛskomai eu me convenço (sou cooptado)
aÞsy‹nomai eu percebo, eu sinto
(Žpo)faÛnv eu revelo, anuncio
gignÅskv eu tomo conhecimento
deÛknumi eu mostro, demonstro (que)
dhlÇ(o) eu mostro, eu revelo
(¤j)agg¡llv eu anuncio, denuncio
¤jel¡gxv eu convenço, eu provo
eêrÛskv eu acho, encontro
¤pilany‹nomai eu esqueço de (que)
¤pÛstamai, oäda eu sei (que)
katalamb‹nv eu compreendo, depreendo, percebo
lamb‹nv eu “pego”, percebo, entendo
many‹nv eu entendo (que)
m¡mnhmai eu me lembro, estou lembrado
jænoida ¤mautÒ tenho consciência que (sei comigo mesmo que)
õrÇ(a) eu vejo (que)
periorÇ(a) eu deixo passar
puny‹nomai eu venho a saber, eu me informo
sunÛhmi eu entendo, eu percebo

A lista não é exaustiva, mas contém a maioria dos verbos de per-


cepção pelos sentidos ou pela inteligência.
A expressão do objeto direto (ou indireto) desses verbos pelo parti-
cípio (geralmente predicativo do objeto direto) deve ser entendida a par-
tir do significado deles e do tipo de ação que eles exercem sobre o obje-
to: o campo da percepção é limitado e dinâmico e só uma forma verbal
ao mesmo tempo processante e nominal, limitada e dinâmica, pode ex-
primir essa relação. Daí o uso necessário do particípio.
Contudo, quando o objeto de alguns desses verbos não é fechado,
circunscrito, com verbos de ligação, que acrescentam idéia de qualidade
ou estado, esse objeto, ou oração objetiva é expresso por um infinitivo,
com o sujeito dele no acusativo. Veremos nos exemplos que seguem:

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292 o verbo grego: formas nominais

Éw eädon aétoçw pel‹zontaw, oß leúlatoèntew eéyçw Žf¡n-


tew tŒ xr®mata ¦feugon
Assim que os viram se aproximando [aproximantes, que se aproxi-
mavam] os saqueadores rapidamente, jogando [tendo jogado] os
objetos, fugiram.
Xersñnhson kat¡maye pñleiw §ndeka µ dÅdeka ¦xousan
Ele veio a saber que Quersoneso tinha onze ou doze cidades
³kous‹ pote Svkr‹touw perÜ fÛlvn dialegom¡nou
Ouvi certa vez Sócrates discutindo sobre amigos.
³kouse Kèron ¤n XilikÛ& önta
Ouviu que Ciro estava na Cilícia.
¤peidŒn aÞsy‹nhsye ¤moè ¤pitiyem¡nou toÝw tò d¡jion k¡raw
tñte kaÜ êmeÝw kayƒêmw ¤pixeireÝte.
Quando perceberdes que eu estou fazendo carga sobre os da ala di-
reita, então, também vós, por vós mesmos, tomai iniciativa.
pesñnta BrasÛdan oß m¢n ƒAyhnaÝoi oék aÞsy‹nontai oß d¢
plhsÛon rantew Žp®negkan
Os atenienses não percebem que Brásidas caiu [tendo caído Brási-
das], mas os que estavam perto tendo-o levantado levaram-no.
toÝw ¤pixeir®masin ¥Årvn oé katoryoèntew kaÜ toçw
stratiÇtaw Žxyom¡nouw t» mon», (Tucid.)
[Os atenienses] viam não prosperantes com as iniciativas e os solda-
dos aborrecidos com a demora.
Žmfñterƒ oïn oäde kaÜ aêtòn êmÝn ¤pibouleænta kaÜ êmw
aÞsyanom¡nouw. (Dem.)
Ele sabe as duas coisas: que ele próprio está conspirando contra vós e
que vós estais percebendo.
¤mautÒ gŒr sun»dein oéd¢n ¤pistam¡nÄ (Plat.)
Pois eu sabia em minha consciência [era ciente] que nada sabia
[nada sabendo].
¤gÆ oëte m¡ga oëte smikròn jænoida ¤mautÒ sofòw Ên
(Plat.)
Por mim, eu sabia comigo mesmo que eu nem em pouco nem em
grande [coisa] era sábio [sendo].

mur04.p65 292 22/01/01, 11:37


o verbo grego: formas nominais 293

¤keÝnoi junÛsasi Mel®tÄ m¢n ceudom¡nÄ ¤moÜ d¢ Žlh-


yeæonti (Plat.)
Esses aí têm consciência com Meletos que ele está mentindo e co-
migo que estou dizendo a verdade.
mas,
Žkoæv eänai ¤n tÒ strateæmati ²mÇn „RodÛouw
Ouço existirem ródios em nosso exército.

c) Genitivo absoluto

Há ainda algumas construções de orações reduzidas de gerúndio


ou de particípio, em que a oração participial ou gerundiva está isolada
(ab-soluta) da oração principal por ter um sujeito diferente, solto, à par-
te, ab-soluto.
De fato, são dois assuntos diferentes, dois sujeitos independentes,
embora semanticamente interligados. A denominação “absoluto” é de cu-
nho formalista; registra apenas a ausência do conetivo.
Essa separação, essa independência, essa soltura, quando expressa
por uma oração reduzida de particípio é chamada pelos gramáticos de “ge-
nitivo absoluto”, isto é, solto, desligado em grego, e “ablativo absoluto”
em latim.

Nesses casos o grego e o latim têm um tratamento especial: pelo


fato de as orações subordinadas (participiais ou gerundivas) estarem dis-
tantes, separadas (ab-solutas) da oração principal, o grego põe o particí-
pio e seu agente (na voz ativa e média), ou seu paciente (na voz passiva)
no genitivo, e o latim põe o particípio ou gerúndio no ablativo (genitivo
e ablativo, repectivamente, sendo os casos de separação “ab-solutos”).
ƒEpi Kærou basileæontow.
Em Ciro reinando [reinante, enquanto reinava, durante o reina-
do]. (part. pres. aposto)
¼syñmhn aétÇn oÞom¡nvn eänai sofvt‹tvn (Plat.)
Eu percebia que eles acreditavam [eles acreditando] ser os mais sá-
bios [que eram muito sábios] (part. pres.)

mur04.p65 293 22/01/01, 11:37


294 o verbo grego: formas nominais

Diabebhkñtow ³dh Perikl¡ouw ¤w Eëboian ±gg¡lyh aétÒ


÷ti M¡gara Žf¡sthken. (Tuc.)
Tendo já Péricles atravessado para a Eubéia, foi-lhe anunciado que
Megara estava separada (distante).
xalepòn ÷ron ¤piyeÝnai taÝw ¤piyumÛaiw êphretoæshw
¤jousÛaw
É difícil pôr um limite às paixões havendo excesso de riqueza [exis-
tindo recursos, possibilidade].
oék ’n ·lyon deèro êmÇn m¯ keleus‹ntvn
eu não teria vindo aqui se vós não tivésseis ordenado [vós não tendo
ordenado].
Kèrow Žn¡bh ¤pÜ tŒ örh oédenòw kvlæontow (Xen.)
Ciro chegou ao topo da colina sem que ninguém o impedisse [nin-
guém o impedindo].
tÇn svm‹tvn yhlunom¡nvn kaÜ aß cuxaÜ polç Žrrvstñ-
terai gÛgnontai (Xen.)
Os corpos efeminando-se também as almas se tornam muito mais
fracas.
Éw ²dç tò z°n m¯ fyonoæshw t°w tæxhw
como é agradável viver quando a Fortuna não tem inveja! [a Fortu-
na não tendo inveja]
shmany¡ntvn ÷ti pol¡mioÛ eÞsin ¤n t» xÅr&, ¤jebo®yei.
(Xen.)
Tendo sido dados indícios de que os inimigos estavam [estão] no
país, partiu em socorro.
Prospesñntow ußòn gegon¡nai tÒ basileÝ. (Plat.)
Tendo caído [a notícia] de ter nascido um filho ao rei.
¤j°n soi ¥koæshw t°w pñlevw toèto poi°sai (Plat.)
Era [te] possível, a cidade estando conivente, fazer isso.
Kærou basileæontow oß P¡rsai ¤kurÛeusan tÇn M®dvn
Ciro reinante [durante o reinado de Ciro], os Persas dominaram
os Medos.

mur04.p65 294 22/01/01, 11:37


o verbo grego: formas nominais 295

Druòw pesoæshw pw Žn¯r juleæetai


O carvalho tendo caído [caído o carvalho, depois que o carvalho caiu]
qualquer homem faz lenha.
toætvn Žnagignvskom¡nvn pros¡xete tòn noèn
essas coisas sendo lidas - enquanto são lidas! - prestai atenção.
Perikl¡ouw ²goum¡nou pollŒ kaÜ kalŒ ¦rga ŽpedeÛjanto
oß ƒAyhnaÝoi
Péricles dirigente [sob a direção de, no governo de Péricles], os Ate-
nienses produziram muitas e belas obras.
g¡noitƒ ’n pn yeoè texnvm¡nou
A divindade dando condições, tudo poderia acontecer.
ŽpopleÝ oÞk‹de kaÛper m¡sou xeimÇnow
Ele embarca para casa, mesmo sendo pleno [no meio do] inverno.
oé deÝ ŽyumeÝn Éw oék eét‹ktvn öntvn ƒAyhnaÛvn
Não é preciso perder ânimo como os Atenienses não estando bem
organizados.
¤gÆ toætouw eárhka lñgouw oéx Éw oédemiw llhw ¤noæ-
shw ¤n toÝw pr‹gmasi svthrÛaw ŽllŒ boulñmenow (Isócr.)
Eu pronunciei esses discursos não (por) não havendo na situação
presente nenhuma outra salvação, mas porque eu queria [querendo].
polloÛ kat¡bhsan kaÜ ‘te yevm¡nvn tÇn ¥taÛrvn poll¯
filoneikÛa ¤gÛgneto
Muitos desceram [à arena] e [porque] os companheiros estando assis-
tindo, originou-se uma grande emulação.

d) O particípio com conetivo

Como em português, em que as reduzidas de gerúndio e particípio


podem ser modificadas por uma conjunção que explicita o conteúdo da
subordinada, assim também, em grego, o particípio pode vir modificado
por uma conjunção que faz lembrar o modo que seria empregado se a
oração permanecesse conjuncional.

mur04.p65 295 22/01/01, 11:37


296 o verbo grego: formas nominais

• a idéia de causa (causal)


conjunções: ‘te, oåon, oåa d®, (causa real, objetiva) Éw, (causa sub-
jetiva, pessoal) Ësper (lat. quod).
A conjunção nem sempre é expressa.
sunetòw pefukÆw feège t¯n panourgÛan
Tendo nascido inteligente, evita a malvadeza [porque nasceste in-
teligente, inteligente de nascença] (p. perf.)
Kèrow, ‘te paÝw Ìn kaÜ filñkalow kaÜ filñtimow, ´deto
t» stol». (Xen.)
Ciro, sendo criança e amante de belas coisas e de honras, comprazia-
se com roupas [porque era] (p. pres.: simultaneidade com ação do
verbo principal)
Éw oïn Žphllagm¡noi tÇn kakÇn ²d¡vw ¤koim®yhsan
(Xen.)
Como se livrados de todos os males eles adormeceram com prazer
[porque, como se] (p. perf. pas.: resultado da ação)
†Ate ¤jaÛfnhw ¤pipesñntew pollŒ Žndr‹poda ¦labon
Tendo-se precipitado [caído em cima] de repente, fizeram muitos
prisioneiros. [porque se precipitaram] (p. aor.: anterioridade)

• a idéia de tempo (temporal)


conjunções: ‘ma - ao mesmo tempo; eéyæw, aétÛka - imediatamente;
metajæ - nesse meio tempo, nesse intervalo; ¦ti - ainda; Ëw - assim que.
A conjunção nem sempre é expressa.

²dç svy¡nta memn°syai pñnvn (Eur.)


É agradável tendo sido salvo lembrar-se dos sofrimentos [depois de
ter sido salvo] (p. aor. pass. anterioridade)
‘ma poreuñmenoi ¤m‹xonto
Ao mesmo tempo que marchavam, lutavam [marchando] (part. pres.
simultaneidade)
metajç deipnoèntew ¤jan¡sthsan
enquanto almoçavam, levantaram-se [levantaram-se no meio da re-
feição, almoçando] (p. pres. simultaneidade)

mur04.p65 296 22/01/01, 11:37


o verbo grego: formas nominais 297

eéyçw paÝdew öntew


desde a infância [direto sendo crinças] (part. pres. simultaneidade)
pollaxoè me ¤p¡sxe l¡gonta metajæ (Plat.)
Muitas vezes [em muitas passagens] ele se intrometeu, enquanto eu
falava [interrompeu minha fala, eu falando] (part. pres. simultaneidade)
Íw ra fvn®saw Žpeb®seto (Hom.)
assim que disse isso, foi embora [tendo dito] (part. aor.: anterioridade)

• a idéia de finalidade (final)


Expressa-se pelo particípio futuro só ou com a conjunção: Éw se-
guida do particípio futuro = idéia de eventualidade:
sun®lyomen ôcñmenoi
Nós nos reunimos para ver [viemos havendo de ver]
sullamb‹nei Kèron Éw ŽpoktenÇn
Ele manda prender Ciro para matá-lo [havendo de matar]
oß ƒAyhnaÝoi pareskeu‹zonto Éw polem®sontew
Os atenienses estavam se preparando para a guerra [para guerrear;
havendo de guerrear]
kataskecom¡nouw ¦pempe tÛ pr‹ttoi Kèrow
Ele enviou batedores [os havendo de observar] o que Ciro estava fazendo

• a idéia de concessão (concessiva)


conjunções: kaÛper, kaÛ - ainda que, mesmo se, mesmo
÷mvw kaÛ - mesmo que
polloÜ gŒr kaÜ öntew eégeneÝw eÞsi kakoÛ
Muitos, com efeito, mesmo sendo de boa origem, são maus (part.
pres., estado permanente)
EÞs®lyete êmeÝw kaÛper oé didñntow nñmou
Vós chegastes, mesmo a lei não permitindo. (part. pres.)
sumbouleæv soi kaÛper neÅterow Ên (Xen.)
estou te aconselhando, mesmo sendo mais jovem (part. pres.)
kaÛper p‹nu Žgayòw Ên (Plat.)
mesmo sendo muito bom (part. pres.)

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298 o verbo grego: formas nominais

• a idéia de condição (condicional)


conjunções: eÞ = se > supositivo potencial; ¤‹n = se> supositivo even-
tual na condicionante (prótase - subordinada) e n na condicionada
potencial ou futuro na condicionada eventual (apódose - principal).
dÛkaia dr‹saw summ‹xouw §jeiw yeoæw
Tendo agido bem [tendo praticado coisas justas] terás os deuses alia-
dos [caso ajas bem, tendo agido bem] (part. aor. anterioridade em
relação ao verbo principal e o eventual por ser uma proposição futura)
FÛlippow PoteÛdaian dunhyeÜw ’n aétòw ¦xein eÞ ¤boul®yh
ƒOlunyÛoiw par¡dvken. (Dem.)
Felipe, tendo podido [teria podido], se assim o quisesse, manter Poti-
deia, entregou-a aos Olíntios. (part. aor. com ’n = irreal do passado)
oék ’n dænaio m¯ kamÆn eédaimoneÝn
Tu não poderias ser feliz não tendo feito esforço [caso não tenhas
feito, se não fizeres] (part. aor.= anterioridade = irreal do passado)
fanerñw ¤sti toèto oék ’n poi®saw eÞ m¯ katoryÅsein
³lpizen
É evidente ele não ter feito isso [não tendo feito] se não esperasse
haver de dar certo. [é evidente que ele não teria feito] (part. aor.=
anterioridade, irreal do passado)
ƒEgÅ eÞmi tÇn ²d¡vw ’n ¤legj‹ntvn eà tÛw ti m¯ Žlhy¢w
l¡goi. (Plat.)
Sou dos que prazerosamente teriam refutado [mas não refutei] se al-
guém não dissesse a verdade. (part. aor., irreal do passado)
Oék ’n ·lyon deèro êmÇn m¯ keleus‹ntvn
Eu não teria vindo aqui se vós não tivésseis mandado [vós não ten-
do mandado] (part. aor., irreal do passado).

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o verbo grego: formas nominais 299

Infinitivo

É o verbo-substantivo. É a noção substantiva do ato verbal, tam-


bém de uso intenso em grego por trazer um significado mais concreto ao
ato verbal.
O infinitivo não é uma forma verbal propriamente dita; semanti-
camente é a virtualidade, a essência, a noção substantiva do verbo (pro-
cesso ou estado). Por isso ele é um substantivo e se comporta como tal.
A denominação “infinitivo” é mero decalque do grego Žpar¡m-
faton, que os gramáticos latinos traduziram por “infinitiuus”, isto é
inflexionável. É assim que deve ser entendido no latim e nas línguas ro-
mânicas, por oposição aos modos finitos, isto é flexionáveis. É uma deno-
minação de cunho descritivista. Mas ela é verdadeira só no grego; não o
é nem em latim nem nas línguas românicas.
O termo grego Žpar¡mfaton não é formalista, é semântico;
significa: “que não diz a partir de si mesmo”, “que não define claramen-
te”, não determinativo ou indicativo, isto é, nele mesmo ele não tem re-
lação nem com o agente ou paciente. Ele não é =°ma, isto é, não tem as
desinências pessoais que referem ao [são a marca de] sujeito agente ou
paciente.
Essa denominação, contudo, foi perdendo seu conteúdo semântico
também no grego, porque no grego o infinitivo é verdadeiramente infle-
xionável, visto que o grego tem artigo e que todas as funções exercidas
pelo infinitivo, que é verbo-substantivo, são expressas pela flexão do artigo.
Como substantivo, o infinitivo pode ter todas as funções do substan-
tivo, mas ele é invariável, não tem casos (daí a denominação de “infinito”
invariável por oposição às formas “finitas” variáveis). É que no grego os
casos do infinitivo se exprimem pela flexão do artigo, diferentemente do
latim. O latim não tem artigo e por isso se viu diante da necessidade de
criar uma ptÇsiw, um caso para o verbo-substantivo, sobretudo nas re-
lações concretas, criando as formas do gerúndio.
complemento de direção -ndum
lugar onde -ndo
lugar de onde -ndo
instrumental -ndo
complemento limitativo (nominal) -ndi

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300 o verbo grego: formas nominais

Em grego, por causa da existência do artigo, o infinitivo pode ser


usado nas três vozes: ativa, média e passiva e nos três aspectos: infectum,
aoristo e futuro e perfectum, porque o artigo assume todos os casos.
Em latim, o uso do infinitivo/gerúndio só se encontra na voz ativa
e nos depoentes, que são verbos de voz média, portanto ativos, mas só no
infectum.
Os outros infinitivos só se usam nos casos sintáticos (nom. e acus.
de obj. direto); as funções expressas no grego pelo acusativo de direção e
pelo ablativo e instrumental são expressas em latim pelo supino (-tu /
tum).
Nas línguas românicas, só restam as funções circunstanciais, ad-
verbiais -ndo (menos no francês, que usa a forma invariável do particípio
ativo do infectum -nt mas o chama de “gérondif ”).
Podemos então formar um quadro da flexão do Infinitivo.
Português Grego Latim
Nom. (o) escrever (tò) gr‹fein scribere
Voc.
Acus. (o.d.) escrever (tò) gr‹fein scribere
Acus. (dir.) para escrever eÞw tò gr‹fein ad scribendum
Gen. de escrever toè gr‹fein scribendi
Dat. ao escrever 6 tÒ gr‹fein scribendo
Loc. no escrever 7 ¤n tÒ gr‹fein in scribendo
em escrevendo
Instr. pelo escrever tÒ gr‹fein scribendo
escrevendo
Abl. de escrever 8 Žpò toè gr‹fein a scribendo

6 É o dativo de complemento nominal; por exemplo: semelhante, igual ao escrever.


7 A gramática latina nos passou as relações de locativo e instrumental incluídas no
ablativo. Nós já vimos que é um erro. Ao dizermos que em escrever/em escrevendo é
um locativo, estamos pensando na relação concreta, espacial - dentro do ato de es-
crever. Como se trata de um infectum, inacabado, a relação de duração > tempo é
natural; por isso, na medida em que é uma incidência num processo, o locativo
nesse caso tem um sentido temporal.
8 O ablativo (separativo/de onde) significa eu venho de escrever, do ato de escrever.

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o verbo grego: formas nominais 301

Pode-se ver que, em português, o gerúndio ablativo é menos fre-


qüente do que o locativo/temporal e instrumental.
Há muita coerência nesses dois casos, porque a noção temporal de
duração e instrumental de passagem do ato verbal pelo instrumento inerte
combinam com o aspecto do infectum-durativo-presente, do ato verbal em
seu desenvolvimento. A do ablativo, que é a noção de separação, ponto
de partida, é menos natural.
Só existe gerúndio no presente (infectum, inacabado, durativo).
Em grego há tantos infinitivos quantos são os temas; são três os
temas, um para cada aspecto - infectum, perfectum, aoristo, e futuro,
que é um desdobramento do aoristo e construído sobre o mesmo tema.
E cada tema tem infinitivos das três vozes. Os infinitivos médios e passi-
vos no infectum e no perfectum são formalmente idênticos.
Há quatro infinitivos em grego:
• Infinitivo presente (tema do infectum, inacabado) ativo e médio /passivo;
• Infinitivo aoristo (tema do aoristo) ativo, médio e passivo;
• Infinitivo futuro (tema do aoristo) ativo, médio e passivo;
• Infinitivo perfeito (tema do perfectum, acabado) ativo e médio /passivo.
Não há idéia de tempo no infinitivo; prevalece a noção de aspecto.

• o infectum (presente-inacabado) traz a idéia de ato em desenvolvimen-


to e simultaneidade com o verbo principal.
• o aoristo (pontual) traz a idéia absoluta, pura do ato verbal; mas, num
contexto narrativo, pode exprimir uma anterioridade em relação ao verbo
principal (fato isolado, pontual).
• o futuro, sempre dependente de verbos de vontade ou intenção ou mo-
vimento, remete o ato absoluto, puro, para frente.
• o perfectum (acabado) exprime o término (ativo e médio) e o resultado
da ação (passivo).

Resumindo, o infinitivo grego é um substantivo verbal neutro sin-


gular que pode ser declinado com o artigo.
Por conseguinte:
1. Ele não tem adjunto adnominal (epíteto), mas é modificado pelo ad-
vérbio; (a “qualidade” de um processo ou estado é uma idéia de modo/
instrumento).

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302 o verbo grego: formas nominais

2. Todas as suas funções como nome são expressas pela flexão do artigo,
já que ele é indeclinável (infinito).
3. Sendo verbo, ele pode ter sujeito, predicativo, complementos, e pode
ser sujeito e predicativo, porque é substantivo. Nesse caso o predicativo
é neutro, porque o infinitivo é um substantivo neutro (isto é, não tem
gênero); e pode ter complementos, porque não perde sua natureza verbal.

Empregos do Infinitivo:

I. O infinitivo é substantivo e verbo

O fato de o infinitivo ser substantivo e verbo permite que ele te-


nha todas as funções do substantivo semanticamente compatíveis e que
ao mesmo tempo ele possa ser o núcleo de uma oração a que chamare-
mos de infinitiva.

1. O infinitivo como verdadeiro substantivo: teríamos o equivalente portu-


guês: “o pôr-do-sol”, “o comer”, por exemplo.
ŽnyrÅpvn ¤stin tò mart‹nein
o errar é [próprio] dos homens (suj. de ¤stin)
2. O infinitivo como mero enunciado da ação: “precisa comer para viver”.
¤pÛstamai neÝn
eu sei nadar (inf. comp. obj. dir.)
3. O infinitivo como núcleo de uma oração infinitiva: neste caso, ele tem
um sujeito, expresso ou não, mas diferente do verbo ou da oração da
qual depende:
“Vejo os homens correr”. O verbo vejo é o verbo principal, cujo su-
jeito não expresso é eu; os homens é sujeito de correr; os homens correr
é oração infinitiva complemento de objeto direto de vejo.
oék Žn¡meinen ²m¡ran gen¡syai
ele não esperou o dia acontecer (²m¡ran gen¡syai é complemen-
to da principal cujo sujeito é ele; ²m¡ran é sujeito de gen¡syai e
está no acusativo)

mur04.p65 302 22/01/01, 11:37


o verbo grego: formas nominais 303

Não há diferenças essenciais nestas três construções; porém é pre-


ciso fazer algumas observações a respeito da oração infinitiva:
a) Numa grande maioria de casos ela é uma completiva, e o sujeito do
infinitivo é geralmente o complemento de objeto direto do verbo prin-
cipal: vejo os homems - cumprindo a ação de - correr, daí é normal o
uso do acusativo no sujeito da oração infinitiva.
T°w Žret°w oéd¡na deÝ Þdivteæein (Plat.)
É preciso ninguém ser leigo da virtude (suj. de deÝ )
b) O que reforça esta idéia de primazia de relação do sujeito da oração
infinitiva com o verbo principal são os casos ditos de atração de casos:
nèn soi ¦jesti ŽndrÜ [ndra] gen¡syai 9
Agora te é possível tornares-te homem (atração de caso: gen¡syai
é inf. suj. de ¦jesti, seu predicativo: ŽndrÜ está no mesmo caso
que o comp. de atrib. soi do verbo ¦jesti, o sujeito acusativo de
gen¡syai não sendo expresso)
c) O predicativo do sujeito do infinitivo terá normalmente o mesmo caso
(eventualmente o mesmo número e gênero se for adjetivo) que o su-
jeito do infinitivo
strathgoè ¤sti maxom¡nou [maxñmenon] ŽpoyaneÝn
é [dever] do comandante morrer lutando (inf. suj. de ¤sti; maxo-
m¡nou é predicativo de strathgoè complemento de ¤sti e su-
jeito, no genitivo, de ŽpoyaneÝn)
4. Tanto o infinitivo como a oração infinitiva se comportam como um
substantivo neutro singular e, se tiverem um predicativo adjetivo, ele
será neutro singular.
tò ceædesyai aÞsxrñn ¤stin
(o) mentir [ser mentiroso] é feio (suj. de ¤stin)
As completivas se constroem com o predicativo do objeto direto
ou predicativo do sujeito, se o sujeito da completiva e o da principal é
o mesmo; nesse caso o sujeito da completiva nem sempre é expresso;
e quando o é, seu caso depende de sua função: se predicativo do sujei-

9 Neste exemplo e no seguinte o normal seria ndra predicativo do sujeito implí-


cito se é maxñmenon.

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304 o verbo grego: formas nominais

to da principal, o caso é nominativo, se predicativo da subordinada


completiva objetiva direta, o caso é acusativo.
¤keÝnoi [oß P¡rsai] ¤pÜ tÒ sÛtÄ oàontai deÝn frñnimoi kaÜ
m¡trioi faÛnesyai
Eles [os Persas] crêem ser necessário mostrarem-se sensatos e come-
didos às refeições [no comer]. (o suj. de oàontai (principal) e de
faÛnesyai é o mesmo: e faÛnesyai é o sujeito de deÝn que é
objeto de oàontai; o sujeito de faÛnesyai é nominativo e não
acusativo = frñnimoi kaÜ m¡trioi são predicativos do sujeito de
faÛnesyai no nom.).

II. Funções do infinitivo e da oração infinitiva


Dentro da frase, o infinitivo e a oração infinitiva podem ter todas
as funções do substantivo; vejamo-las.

1. Infinitivo sujeito:
a) Freqüentemente ele é sujeito da oração inteira.
As gramáticas o apresentam como sujeito de “verbos ou expres-
sões impessoais”10, como:
gÛgnetai - ¤g¡neto acontece, aconteceu
deÝ (d¡on ¤stin) é preciso, é dever
diaf¡rei difere, importa (interest)
dokeÝ parece (bem), agrada (placet)
¦nestin está em, é possível
¦jesti (¦sti) é possível, é permitido
p‹restin a ocasião se apresenta, é possível
pr¡pei, pros®kei convém (decet)
sumbaÛnei sucede (que) acontece
sumf¡rei é útil, proveitoso, bom
xr® é bom, é necessário (opus est, oportet)

10 Admitir a impessoalidade é admitir a possibilidade de um enunciado sem sujeito,


isto é, sem essência. O que acontece é que o sujeito do verbo “impessoal” é o
enunciado todo; por isso o verbo está na terceira pessoa.

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o verbo grego: formas nominais 305

Com predicativos neutros (adjetivos):


Ždænaton / dunatñn impossível, possível
dÛkaion justo
¤pÛdojon presumível
¤pit®deion vantajoso, conveniente
kalñn / aÞsxrñn belo, feio
oåon possível, viável
¦sti / ·n / ¦stai / eàhn: é, era, será, seria

tò froneÝn eédaimonÛaw prÇton êp‹rxei


O pensar a felicidade é a coisa que está em primeiro lugar (suj. de
êp‹rxei)
tò mart‹nein (aétoçw) ŽnyrÅpouw öntaw oéd¢n yaunastñn
O falharem sendo homens, em nada é admirável (suj. de yau-
mastñn [¤stin])
tò tŒw ²donŒw feægein kalñn ¤stin
O evitar [fugir de] os prazeres é belo (suj. de kalñn ¤stin)
tò kalÇw z°n xalepñn
O viver bem é difícil (suj.de xalepñn [¤stin])
sumbouleuñmey‹ soi tÛ xr¯ poieÝn (Xen.)
Nós estamos nos aconselhando contigo [sobre] o que é preciso fazer.
(suj. de xr¯ )
Xr¯ m®te xrhm‹tvn feÛdesyai m®te pñnvn (Plat.)
É preciso não poupar despesas nem sacrifícios (suj. de xr¯)
¦doj¡ moi eÞw lñgouw soi ¤lyeÝn (Xen.)
Pareceu-me [bem] vir para uma conversa contigo (suj. de ¦doje)
Žpi¡nai ¦jestin
É permitido [possível] ir embora (suj. de ¦jestin )
ŽeÜ kr‹tistñn ¤sti tŽlhy° l¡gein
É sempre muito melhor dizer a verdade (suj. de ¤sti )

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306 o verbo grego: formas nominais

õmoÛvw aÞxrñn Žkoæsanta xr®simon lñgon m¯ mayeÝn kaÜ


didñmenñn ti Žgayòn parŒ tÇn fÛlvn m¯ labeÝn (Isócr.)
É semelhantemente feio não entender tendo ouvido uma palavra
útil quanto não aceitar alguma coisa boa dos amigos (infinitivos
sujeitos de. aÞxrñn [¦stin])
¦doj¡ moi m¯ sÛga tò ploèn poieÝsyai
Pareceu-me bem [eu decidi] não fazer a viagem em segredo. (inf.
suj. de ¦doj¡)
¦doje pleÝn tòn ƒAlkibi‹dhn
Decidiu-se Alcibíades embarcar. [pareceu bem] (inf. suj. de ¦doje)
aÞsxròn tÒ parñnti kairÒ m¯ xr°syai
É uma vergonha não se apropriar da ocasião que se apresenta [do
momento presente] (inf. suj. de aÞsxròn ¤stin).
DeÝ se yeoseb° eänai
É preciso tu seres piedoso [que sejas] (inf. suj. de deÝ).
xr° toçw eï pr‹ttontaw t°w eÞr®nhw ¤piyumeÝn (Isócr.)
É preciso os que estão bem desejar [em] a paz (suj. de xr° )
xr¯ tolmn xalepoÝsin ¤n lgesi keÛmenon ndra
É preciso o homem encontrando-se em dores cruéis ter coragem
(suj. de xr¯ )
kaÜ †Ellhni kaÜ barb‹rÄ ¤g¡neto Žd¡vw poreæesyai
Aconteceu ao grego e ao bárbaro viajar sem temor (suj. de ¤g¡neto)
dokeÝ d¡ moi kaÜ Karxhdñna m¯ eänai (Plut.)
Parece-me [sou de opinião] também Cartago não existir [não de-
ver] (suj. de dokeÝ )
oék ¦stin eêreÝn bÛon lupon oédenÛ (Eur.)
Não é possível [permitido] a ninguém encontrar uma vida sem so-
frimento. (suj. de oék ¦stin)
oé d®pou tòn rxonta tÇn Žrxom¡nvn ponhrñteron
pros®kei eänai (Xen.)
Não é sem dúvida conveniente o comandante ser pior do que os
comandados (suj. de pros®kei)

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o verbo grego: formas nominais 307

‰W Zeè labeÝn moi g¡noito aétòn Éw ¤gÆ boælomai


Ó Zeus, pudesse me acontecer eu pegá-lo, como desejo! (suj. de
g¡noito)
jun¡bhn Ëste pol¡mou mhd¢n ¦ti ‘casyai mhdet¡rouw
(Tuc.)
Aconteceu de nenhum dos dois [inimigos] em nada acenderem a
guerra [recomeçarem a guerra]. (suj. de ‘casyai )

b) As construções em que o adjetivo aparece em função predicativa do sujeito


oracional, com o verbo em 3a pessoa, são freqüentemente substituídas
por uma expressão em que o adjetivo é predicativo do sujeito do verbo ser
e o infinitivo (ou oração infinitiva) é complemento do adjetivo:
Î Prñdike, sòw SimvnÛdhw polÛthw : dÛkaiow eä [dÛkaiñn
¤stin] bohyeÝn tÒ ŽndrÛ. (Plat.)
Pródico, Simônides é teu concidadão; és justo ajudares o homem
[é justo tu ajudares] (compl. nom. de dÛkaiow eä)
dÛkaiñw eÞmi zhmioèsyai [dÛkaiñn ¤stin ¤m¢ zhmioèsyai] (Xen.)
Eu sou justo em ser castigado. [é justo eu ser castigado / estar
sendo castigado] (compl. nom. de dÛkaiñw eÞmi )
ndraw tinŒw Žp¡kteinan oé polloçw oã ¤dñkoun ¤pit®deioi
eänai êpejairey°nai = oîw ¤dñkei ¤pit®deion eänai êpejai-
rey°nai. (Tuc.)
[Os 400] mataram alguns homens, não muitos, os que pareciam
ser convenientes para serem eliminados [os que pareciam convenien-
tes de serem eliminados] (compl. nom. de ¤pit®deioi eänai)
¤pidojñw eÞmi tuxeÝn t°w tim°w taæthw [¤pidojñn ¤stin ¤m¡]
(Isócr.)
eu sou provável de encontrar essa honraria [é provável eu encon-
trar] (compl. nom. de ¤pidojñw eÞmi)

c) Encontramos essa mesma construção com substantivos em função de sujei-


to ou predicativo; nesse caso eles mantêm o próprio gênero. Em portu-
guês, às vezes somos tentados a usar o infinitivo como complemento
nominal (= é hora de sair) ou sujeito (comandar a frota duas vezes não
era costume...)

mur04.p65 307 22/01/01, 11:37


308 o verbo grego: formas nominais

kÛndunñw ¤stin há risco de, há perigo de


nñmow ¤stin é costume, é norma
Ëra / kairñw ¤stin é hora, é o momento (de)

ƒAllŒ gŒr ³dh Ëra Žpi¡nai./ Žpi¡nai Ëra ¤stin/


Mas já é hora de ir embora (compl. nom. em português).
Ëra ²mÝn bouleæesyai (Xen.)
É tempo [hora de] para nós deliberarmos [estar deliberando] (compl.
nom. em português)
oé gŒr nñmow aétoÝw dÜw tòn aétòn nauarxeÝn (Xen.)
Não é costume entre eles [de] o mesmo [homem] comandar a frota
duas vezes.

2. Predicativo (aposto = particípio conjunto) do sujeito da frase principal:


O sujeito nem sempre é expresso quando o sujeito do verbo prin-
cipal e do infinitivo é o mesmo.
ŽdikeÝsyai nomÛzei êfƒ²mÇn [aétñw]
Ele pensa estar sendo prejudicado por nós (pred. do suj. de nomÛzei).
oß oÞnoxñoi f‹skontew eänai [oß f‹skontew oÞnoxñoi eänai]
Os que diziam ser escanções (pred. do suj. de f‹skontew).
ŽpallageÜw toætvn tÇn faskñntvn dikastÇn eänai
Liberado desses que diziam ser juízes (pred. do suj. de faskñntvn).

3. Infinitivo complemento do objeto direto e orações completivas.

a) Complemento de verbos enunciativos, declarativos

a.1) Infinitivo
PeÛyesyai many‹nein
Aprender a obedecer (obj. dir. acus.).
aétò tò Žpoyn¹skein oédeÜw fobeÝtai
O morrer mesmo (obj. dir. acus.) ninguém teme.

mur04.p65 308 22/01/01, 11:37


o verbo grego: formas nominais 309

tŒ purŒ oék ¦fh ÞdeÝn (aétñw)


Ele não disse ter visto a fogueira [ele negou ter visto].
Kèrow êp¡sxeto ŽndrÜ ¥k‹stÄ dÅsein p¡nte mnw [aétñw]
Ciro prometeu haver de dar cinco minas a cada homem [que daria].
õmologÇ d¢ sƒŽdikeÝn (¤gÅ)
Concordo ser-te injusto [que eu estou / estar prejudicante]
õmologeÝw oïn perÜ ¤m¢ dikow gegen°syai;
Tu concordas ter-te tornado injusto a meu respeito?

a.2) Oração infinitiva, ou substituindo o indicativo


tò proeid¡nai tòn yeòn tò m¡llon kaÜ tò prosshmaÛnein
Ú boæletai kaÜ toèto p‹ntew kaÜ l¡gousi kaÜ nomÛzousin.
O fato de a divindade prever o porvir e assinalar além do mais an-
tecipadamente com o que ela quer, também isso todos afirmam e
pensam. (obj. dir. de kaÜ l¡gousi kaÜ nomÛzousin. - ou aposto
de isso, ele mesmo obj. dir. de kaÜ l¡gousi kaÜ nomÛzousin; po-
sição de anacoluto).
¤rvtÅmenow d¢ podapòw eàh, P¡rshw m¢n ¦fh eänai
Sendo perguntado de que país era [seria], disse ser Persa [que era
Persa] (obj. dir. de ¦fh).
tòn kalòn kŽgayòn ndra kaÜ gunaÝka eédaÛmona eänai
fhmi, tòn de dikon kaÜ ponhròn ylion. (Plat.)
O homem e a mulher belo[s] e bom[s] eu afirmo ser[em] feliz[es];
o injusto e malvado, infeliz (obj. dir. de fhmi).
¤k®ruje d¢ labñntaw tŒ ÷pla kaÜ tŒ skeæh toçw stra-
tiÅtaw ¤ji¡nai
[Anaxíbio] fez anunciar que os soldados pegassem as armas e baga-
gens e partissem [tendo pegado... partirem] (inf. obj. dir. de ¤k®ruje).
sofist¯n ônom‹zousi tòn ndra eänai
Chamam esse homem de ser sofista (inf. obj. dir. de ônom‹zousi).

mur04.p65 309 22/01/01, 11:37


310 o verbo grego: formas nominais

b) Complemento objeto de verbos volitivos


Na expressão de um desejo ou de um ato de vontade (verbos volitivos),
o objeto se exprime com o infinitivo ou com uma oração infinitiva.
Substitui ou o subjuntivo ou o optativo.

b.1) Infinitivo
ßk¡teue m¯ aétòn ŽpokteÝnai (Lís.)
Ele me suplicava não matá-lo (inf. aoristo obj. dir. de ßk¡teue).
kalÇw Žkoæein mllon µ plouteÝn y¡le (Men.)
Deseja [tu] antes ser louvado que ser rico (inf. obj. dir. de y¡le).

b.2) Oração infinitiva


taæthn t¯n xÅran ¤p¡trece diarp‹sai toÝw †Ellhsin Éw
polemÛan oïsan. (Xen.)
[Ciro] destinou aos gregos saquearem aquele país por ser inimigo
[sendo país inimigo] (obj. dir. de ¤p¡trece).
keleæv se ¦rxesyai
Eu te ordeno vir (obj. dir. de keleæv).
tÛw se kvlæsei deèro badÛzein;
Quem te impedirá de vir aqui? (obj. dir. de kvlæsei )
Kèrow ¤k¡leuse g¡furan zeugnænai
Ciro ordenou construir [unir] uma ponte (obj. dir. de ¤k¡leuse).
perainÇ soi sign
Estou te aconselhando calar [que cales] (obj. dir. de perainÇ)
õ fñbow tòn noèn ŽpeÛrgei m¯ l¡gein “ boæletai
O medo impede o intelecto de exprimir o que quer (obj. dir. de
ŽpeÛrgei).
(Kl¡arxow) toçw õplÛtaw ¤k¡leusen aétoè meÝnai tŒw
ŽspÛdaw pròw tŒ gñnata y¡ntaw, (Xen.)
[Clearco] ordenou aos hoplitas permanecer no mesmo lugar colocan-
do os escudos diante dos joelhos (inf. aoristo obj. dir. de ¤k¡leusen).
Žpeiloèsi BoivtoÜ ¤mbaleÝn eÞw t¯n ƒAttik®n (Xen.)
Os Beócios ameaçam invadir a Ática (obj. dir. de Žpeiloèsi).

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o verbo grego: formas nominais 311

c) Completivas (objeto direto) de verbos que enunciam um julgamento, um


ponto de vista, uma necessidade, uma possibilidade. Substitui o indicati-
vo, ou o subjuntivo/futuro no caso da eventualidade ou o optativo no
caso da possibilidade.

c.1) Infinitivo

polloè moi dokÇ deÝn tŒ êm¡tera ¦xein (Isócr)


Eu pareço faltar por muito de ter as vossas coisas [parece que me
falta muito de ter as vossas coisas] (inf. obj. dir. de dokÇ)
nomÛzei ŽdikeÝsyai
Ele considera [estar sendo] injustiçado. (obj. dir. de nomÛzei)
mikroè ¤d¡hsen õ Eé‹goraw Kæpron ‘pasan katasxeÝn
[mikroè ¤d¡hsen tòn Eé‹goran]. (Isócr.)
Evágoras faltou por pouco de se apoderar de toda Chipre (inf. obj.
de ¤d¡hsen)
oék Õmhn katƒŽrxŒw êpò soè ¥kñntow eänai ¤japathy®-
sesyai, Éw öntow fÛlou. (Plat.)
No começo eu não pensava ser [possível] eu haver de ser enganado
por ti voluntariamente, sendo amigo. (obj. dir. de Õmhn - futuro
eventual)
Aß ponhrÛai tÇn faskñntvn eänai sofistÇn (sofistaÛ)
As malvadezas [vícios] dos que diziam ser sofistas (inf obj. dir. de
faskñntvn)
ômnæasi m¯ t¯n t‹jin leÛcein
Eles juram não abandonar [haverem de] as fileiras. (obj. dir. de
ômnæasi, futuro > intenção, eventual)
¤lpÛzei dunatòw eänai rxein (rjesyai)
Ele espera ser capaz de comandar [haver de comandar] (obj. dir. de
¤lpÛzei, futuro > eventual)
¦doja Žkoèsai
Eu pareci ouvir. [Pareceu-me ouvir; parece que ouvi] (obj dir. de
¦doja)

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312 o verbo grego: formas nominais

c.2) Oração infinitiva

Õmhn t¯n ¤mautoè gunaÝka pasÇn svfronest‹thn eänai


tÇn ¤n t» pñlei. (Lís.)
Eu acreditava que minha mulher era [minha mulher ser] a mais
bem comportada de todas as da cidade (obj. dir. de Ömhn).
nomÛzv eänai yeoæw
Eu creio existirem deuses [que existem deuses] (obj. dir. de nomÛzv).
oämaÛ se sofòn eänai
Eu creio [acho] que és sábio [seres sábio] (obj. dir. de oämaÛ)
¤dÛdaske toçw paÝdaw m¯ ceædesyai
Ele ensinava os filhos [a] não serem mentirosos [não mentir] (inf.
obj. dir. de ¤dÛdaske )
d¡omai êmÇn m¯ yorubeÝn
Eu vos peço não fazer[des] barulho (inf. obj. dir. de d¡omai)
boælomaÛ s¡ moi §pesyai
Eu quero que tu me sigas [tu me seguires] (inf. obj. dir.)
eäpon tŒ teÛxh kayeleÝn
Eles disseram [para] destruir as muralhas (inf. obj. dir. de eäpon)
pisteævn yeoÝw pÇw oék eänai yeoçw ¤nñmizen;
Acreditando nos deuses, como ele pensava não existirem deuses?!
(inf. obj. dir. de ¤nñmizen)
oék ³lpizon [¤kpeseÝsyai] ¤kpeseÝn [’n] tòn Perikl¡a
Eles não esperavam Péricles cair [que P. caísse; na queda de Péri-
cles; que Péricles poderia cair] (inf. obj. dir. de ³lpizon, futuro >
eventual)
oék ¤lpÛzete aétoçw d¡jasyai [d¡jesyai] ²mw
Vós não esperais eles nos aceitar [que eles nos aceitem; aceitarão;
haverem de aceitar] (inf. obj. dir. de ¤lpÛzete futuro > eventual)
¤lpÛzv oéd¢ toçw polemÛouw meneÝn ¦ti.
Eu espero que os inimigos não mais haverem de esperar[nos] [espera-
rão]. (inf. obj. dir. de ¤lpÛzv futuro > intenção)

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o verbo grego: formas nominais 313

÷ ti ’n poi»w nñmizƒõrn yeoæw tinaw


O que quer que faças considera alguns deuses estarem vendo [que
alguns deuses estão vendo]. (inf. obj. dir. de nñmize)
oß ²gemñnew oë fasin eänai llhn õdñn
Nossos guias afirmam que não há outro caminho [negam haver
outro caminho = negam existir um outro caminho] (inf. obj. dir. de
fasin)

d) Complemento dos verbos que significam poder ou ter a faculdade de, estar
em condições de, saber, fazer de maneira a (que), obter, conseguir.

d.1) Infinitivo
m¡lleiw t¯n cux¯n t¯n sautoè parasxeÝn yerapeèsai
ŽndrÜ sofist»; (Plat.)
Estás disposto a entregar [tu vais entregar] tua própria alma para
cuidar a um homem [que é um] sofista? (obj. dir. de m¡lleiw)
oé dænamai m¯ geln
Eu não posso não rir (inf. comp obj. dir.)
¤pÛstamai ¤pistateÝn
Eu sei comandar (inf. comp. obj. dir.)
eéyçw paÝdew öntew many‹nousin rxein te rxesyai
Desde crianças [logo sendo] eles aprendem a mandar e ser manda-
dos (inf. comp obj. dir.)
oék aß trÛxew poioèsin aß leukaÜ froneÝn
Não são os cabelos, os brancos, que fazem pensar (inf. obj. dir.
poioèsin)
Oß †Ellhnew ¤bñvn Žllhloiw m¯ yeÝn drñmÄ Žllƒ ¤n t‹jei
§pesyai
Os gregos gritavam uns aos outros de [para] não entrarem corren-
do, mas [para] seguirem em fileiras. (inf. obj. dir. de ¤bñvn)
¤poÛhse tòn t°w KilikÛaw rxonta Su¡nnesin m¯ dænasyai
katŒ g°n ¤nantioèsyai KærÄ poreuom¡nÄ ¤pÜ basil¡a.

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314 o verbo grego: formas nominais

Fez com que o governador da Cilícia Siníesis não pudesse [não


poder] opor-se a Ciro que marchava [marchando], por terra, contra
o rei. (inf. obj. dir. de dænasyai )
oék ’n ¦xoimi toèto Žpò stñmatow eÞpeÝn
Eu não poderia dizer isso de boca [de cor] (inf. obj. dir.)
ƒAllŒ, mŒ tòn DÛa, ¦fh, oék ’n ¦xoimÛ soi oìtvw ge Žpò
stñmatow eÞpeÝn
Mas, por Zeus, disse ele, eu não poderia dizer-te assim de boca
[de memória]. (inf. comp obj. dir. de ’n ¦xoimÛ > atenuação da
afirmação)

d.2) Oração infinitiva


diepr‹jato p¡nte m¢n strathgoçw Þ¡nai,
Ele conseguiu [fez] cinco comandantes irem [que fossem] (inf. obj.
dir. de diepr‹jato)

4. O infinitivo com valor de possível (com n): o significado possível


do infinitivo é marcado por n; indica também a atenuação da afir-
mação (=condicional ou imperfeito do subjuntivo em português).
Sçn êmÝn ’n oämai tÛmiow eänai ÷pou Î.
Em vossa companhia eu creio que poderia ser estimado onde eu
estiver, [onde esteja]. (inf. comp obj. dir. de oämai > eventual)
nomÛzv, êmÇn ¦rhmow Ên, oék ’n ßkanòw eänai ¤xyròn
Žl¡jasyai (Xen.)
Eu considero, sendo eu privado de vós, não ser capaz, [que, sendo
eu privado de vós, não seria capaz] de afastar o inimigo. (inf. comp.
> possível)
m‹lista oämai ’n soè puy¡syai
Eu creio que poderia ser informado sobretudo de [por] ti (inf. obj.
dir. de oämai > possível)

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o verbo grego: formas nominais 315

dokoÝt¡ moi polç b¡ltion ’n perÜ toè pol¡mou bou-


leæsasyai eÞ tòn tñpon t°w xÅraw pròw ¶n polemeÝn
¤nyumhyeÛhte.
Vós me pareceis poder deliberar muito melhor a respeito da guerra
[poderíeis deliberar] se vós refletísseis no espaço de terreno do país
contra o qual guerreais. (inf. obj. dir. de dokoÝt¡ > possível)
P¡rsai oàontai toçw ŽxarÛstouw kaÜ perÜ yeoçw ’n m‹lis-
ta ŽmelÇw ¦xein kaÜ perÜ gon¡aw, kaÜ patrÛda kaÜ fÛlouw.
Os Persas pensam que os ingratos tanto se descuidariam [poderiam
descuidar] dos deuses quanto dos pais, da pátria e dos amigos (inf.
obj. dir. de oàontai > possível)
¤nñmizon parŒ KærÄ öntew ŽgayoÜ Žjivt¡raw ’n tim°w
tugx‹nein µ parŒ tÒ basileÝ
Eles achavam que, sendo bons ao lado de Ciro, poderiam encontrar
honra maior do que junto ao rei [dos Persas]. (inf. obj. dir de
¤nñmizon > possível)
Kèrow eÞ ¤bÛv ristow ’n dokeÝ rxvn ’n gen¡syai (¤gÛgneto)
Ciro, se vivesse, parece que se tornaria o melhor dos governantes.
(inf. obj. dir. de dokeÝ > irreal do presente)
eÞ xrus°n ¦xvn ¤tægxanon t¯n cux¯n, Î KalÛkleiw, oék
’n oàei smenon eêreÝn toætvn tinŒ tÇn lÛyvn oåw basa-
nÛzousi tòn xrusòn, t¯n ŽrÛsthn; (Plat.)
Se por acaso eu tivesse a alma de ouro, Cálicles, não seria agradável
poder encontrar [que eu pudesse encontrar] uma daquelas pedras, a
melhor, que testam o ouro? (inf. suj. de oàei > irreal do presente)

5. Infinitivo e oração infinitiva complemento nominal.


Com adjetivos que significam: (tornar, ser) apto a, bom de, bom
para, difícil de, agradável a, digno de, capaz de, suficiente para etc. que
em português exigem uma preposição antes do infinitivo (compl. no-
minal), em grego fazem a relação direta: complemento nominal sem
preposição.
Na verdade são as várias maneiras do acusativo de relação. Ver
acusativo de relação.

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316 o verbo grego: formas nominais

ßkanòw Žn¯r diagnÇnai (Plat.)


Um homem capaz de discernir [de julgar] (compl. nom. de ßkanòw,
quanto a, em relação a).
õpñsoi ßkanoÛ eÞsi tŒw Žkropñleiw ful‹ttein
Quantos são suficientes para montar guarda nas cidadelas (compl.
nom. de ßkanoÜ).
oß l¡gein deinoÛ
Os aptos [que são aptos, capazes de] a falar. (compl. nom. de deinoÛ).
¦toimòw ·n peisy°nai
Ele estava pronto para ser persuadido [obedecer] (compl. nom. de
¦toimow).
oß sofistaÜ ßkanoÜ ·san makroçw lñgouw kaÜ kaloçw eÞpeÝn
Os sofistas eram capazes de pronunciar longos e belos discursos
(compl. nom. de ßkanoÜ).
ôjætatoÛ ¤ste gnÇnai tŒ =hy¡nta
Vós sois muito perspicazes em entender o que foi dito [as coisas
ditas] (compl. nom. de ôjætatoÛ.)
xalepòn eêreÝn
Difícil de encontrar (compl. nom. de xalepòn).
ƒArk‹w tiw ƒAræstaw önoma fageÝn deinñw
Um arcádio chamado Aristas, terrível para comer [grande comilão]
(compl. nom. de deinñw).
deinòw gŒr oänow kaÜ palaÛesyai baræw, (Eur.)
Pois perigoso é o vinho e pesado de ser combatido (compl. nom. de
baræw).
gun¯ eéprep¯w ÞdeÝn
Mulher bem conveniente de ver (compl. nom. de eéprep¯w).
Kl¡arxow õrn stugnòw ·n kaÜ t» fvn» traxæw, (Xen.)
Clearco era triste de ver e de voz rude (compl. nom. de stugnòw).
·n d¢ Yemistokl°w mllon ¥t¡rou jiow yaum‹sai, (Tuc.)
Mais do que outro Temístocles era digno de admirar (compl. nom.
de jiow).

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o verbo grego: formas nominais 317

õ xrñnow braxçw ŽjÛvw dihg®sasyai


O tempo é curto para discorrer dignamente (compl. nom. de braxçw).
¦fh ²g®sesyai dunat¯n kaÜ êpozugÛoiw poreæesyai õdñn
Ele afirmou haver de guiar [que guiará] por um caminho possível até
para bestas de carga passarem. (or. inf. compl. nom. de dunat¯n)
jiñw ¤stin ¤pain¡sai
Ele é digno de elogio [de alguém elogiar] (compl. nom. de jiñw)
pñteron tò parŒ soÜ ìdvr yermñteron pieÝn ¤stin µ tò
¤n ƒAsklhpioè;
Será que tua água [da tua casa] é mais quente para beber do que a
do templo de Asclépios? (compl. nom. de yermñteron)
oÞkÛa ²dÛsth ¤ndiaitsyai
Casa muito agradável de se viver [passar o tempo] (compl. nom. de
²dÛsth)

6. Outras funções expressas pelos mais variados casos do infinitivo.


Já vimos o infinitivo e a oração infinitiva como sujeito, como pre-
dicativo, como complemento objeto direto, como complemento no-
minal de adjetivos, em construção direta.
O grego pode construir diretamente diversas funções do infiniti-
vo, usando o verbo no caso sintaticamente conveniente, e exprime-as
pela flexão do artigo, enquanto o latim e o português as expressam
pelas diversas formas do gerúndio ou do infinitivo preposicionado.
Mas, quando for semanticamente indispensável, o grego também
pode usar o infinitivo preposicionado.

a) Genitivo
• Complemento de substantivos
paÝdew êmÝn ôlÛgou ²likÛan ¦xousi paideæesyai, (Plat.)
Vossos filhos de [de pouco falta terem] pouco têm idade de serem
instruídos (inf. compl. nom. de ²likÛan)
¤keÝ ski‹ tƒ ¤stÜ kaÜ pneèma m¡trion kaÜ pña kayÛzesyai µ
’n boulÅmeya katakliy°nai, (Plat.)
Lá há sombra e uma brisa comedida e relva para sentar e, se qui-
sermos, para deitar. (compl. nom.)

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318 o verbo grego: formas nominais

Ëra bouleæsasyai
É hora de deliberar (compl. nom. de Ëra)
² proyumÛa toè l¡gein / toè ÞdeÝn
A ambição [desejo] de falar/de ver (compl. nom. de proyumÛa)
tò eï pr‹ttein parŒ t¯n ŽjÛan Žform¯ toè kakÇw
froneÝn toÝw Žno®toiw gÛgnetai
O ser bem-sucedido, contrariamente à honra, torna-se aos estul-
tos um incentivo de pensar mal (infinitivo comp. nom.).
eï àsyi ÷ti tò ceudñmenon faÛnesyai m‹llista ¤mpodÆn
gÛgnetai ŽnyrÅpoiw toè suggnÅmhw tugx‹nein
Saibas [sabe tu] bem que o fato de se revelar mentiroso [aparecer
mentindo] se torna para os homens um maior obstáculo de en-
contrar perdão (compl. nom.).

• Genitivo-ablativo
MÛnvw tò lústikòn kay¹rei ¤k t°w yal‹sshw toè tŒw
prosñdouw mllon Þ¡nai aétÒ. (Tuc., 1.6)
Minos limpava [passou a eliminar] do mar a pirataria em troca de
[por causa de] entrarem mais recursos para ele. (gen-abl.-const. dir.)
tŒw aÞtÛaw toè pol¡mou proëgraca toè m® tina zht°sai
(Tuc.)
Eu escrevi as causas da guerra antes de alguém não procurá-las.
(gen. separ. / causa / em troca de)
êp¢r toè m¯ doènai dÛkhn
Por (em favor de) não ser sentenciado (gen.- abl. de separ.)

• Dativo
eÞ d¢ m¯ tò aétñ ¤sti tò eänai tÒ gen¡syai, (Plat., Prot., 340c)
se o ser não é a mesma coisa que o tornar-se (vir a ser)

b) Instrumental
FÛlippow kekr‹thke tÒ prñterow pròw toçw polemÛouw
Þ¡nai
Felipe venceu pelo fato de marchar [por marchar, ir primeiro contra
os inimigos]. (inf. instr.)

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o verbo grego: formas nominais 319

nÛkhson ôrg¯n tÒ logÛzesyai kalÇw


Vence a cólera raciocinando bem [pelo raciocinar, instr.]
Kèrow diŒ tò filomay¯w eänai [tÒ filomayeÝ eänai ] pollŒ
toçw parñntaw ŽnhrÅta.
Ciro, por ser desejoso de aprender perguntava muitas coisas aos pre-
sentes (instr > causal).

c) Locativo
pròw tÒ mhd¢n ¤k t°w presbeÛaw labeÝn toçw aÞxmalÅ-
touw ¤k tÇn ÞdÛvn ¤lus‹mhn
além de nada receber da embaixada [literal. em cima de = loc.] eu
resgatei os prisioneiros [a partir] de meus próprios recursos.
¤n tÒ §kaston dikaÛvw rxein ² politeÛa sÅzetai
No cada um governar com justiça a administração é salva (loc.)

d) Acusativo de relação
tò d¢ nèn eänai t¯n sunousÛan dialæsvmen (Plat.)
Quanto a agora [por ser agora] interrompamos nosso encontro.

e) Acusativo de direção:
A idéia de finalidade, conseqüência, destinação de uma ação, tam-
bém pode ser expressa pelo infinitivo ativo com os verbos que signifi-
cam: destinação, fim, escolher para, pedir para, dar para, enviar para, dei-
xar para, encarregar de (no latim freqüentemente se usa o particípio fu-
turo passivo).
Com verbos de movimento ou intenção também é freqüente a cons-
trução com o futuro ativo com ou sem Éw / ána
pròw tò metrÛvn deÝsyai kalÇw pepaÛdeumai
Fui [estou] bem educado para necessitar de coisas comedidas (acus.
de direção, intenção)
pñroi pròw tò polemeÝn
Recursos para fazer a guerra (acus. de direção, intenção)

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320 o verbo grego: formas nominais

pasÇn pñlevn ƒAy°nai m‹lista pefækasin ¤n eÞr®nú


aëjesyai
De todas as cidades, Atenas sobretudo nasceu para crescer na paz
(finalidade, const. direta)
kraug¯n poll¯n ¤poÛoun kaloèntew Žll®louw Ëste kaÜ
toçw polemÛouw Žkoæein. (Xen.)
Eles faziam um grande alarido ao se chamarem mutuamente a ponto
de os inimigos ouvirem. (comp. da princ. introduzido por Ëste)
·lye zht°sai
ele veio pesquisar (finalidade, const. direta)
eálonto Drakñntion Sparti‹thn drñmou tƒ ¤pimelhy°nai
kaÜ toè ŽgÇnow prostat°nai.
Eles escolheram [elegeram] o espartano Dracôntio para se encar-
regar da corrida e presidir à luta. (intenção, finalidade)
ƒArist‹rxÄ ¦dote ²m¡ran Žpolog®sasyai (Xen.)
Concedestes a Aristarco um dia para fazer a defesa (intencão, finalidade)
par¡xv ¤mautòn t¡mnein tÒ ÞatrÒ
Ofereço-me [apresento] ao médico para cortar (intenção, finalidade)
par¡dvka aétòn paideæein
Entreguei-o para educar (intenção, finalidade)
pieÝn didñnai
Dar de beber [para beber] (finalidade)
P‹ntew aÞtoèntai toçw yeoçw tŒ faèla Žpotr¡pein
Todos suplicam aos deuses afastarem as coisas ruins (intenção)
…Elegñn soi m¯ gameÝn
Eu te dizia para não casar. (intenção)
D¡omai êmÇn m¯ ŽkoèsaÛ mou.
Eu vos peço não me ouvirdes (intenção)
Perikl°w ²r¡yh l¡gein (Tuc.)
Péricles foi escolhido para falar [na ocasião]. (intenção, finalidade)
oänon ¤gxeÝn pieÝn
servir vinho para beber (intenção, finalidade)

mur04.p65 320 22/01/01, 11:37


o verbo grego: formas nominais 321

jun¡bhsan toÝw Plataieèsi paradoènai sfw aétoçw kaÜ


tŒ ÷pla xr®sasyai ÷ ti ’n boælvntai. (Tuc.)
[Os Tebanos] chegaram a um acordo de eles mesmos se entrega-
rem aos Plateenses e de (os Plateenses) se servirem das armas em
(relação ao) que quisessem (intenção, finalidade)
õ rxein aßreyeÛw
o escolhido para comandar (intenção, finalidade)
taæthn t¯n xÅran ¤p¡trece diarp‹sai toÝw †Ellhsin Éw
polemÛan oïsan. (Xen.)
[Ciro] confiou aos gregos saquearem aquele país por ser inimigo
[sendo país inimigo]. (intenção, finalidade)

III. Infinitivo com valor verbal


O Infinitivo pode ser o elemento de uma oração independente ou
principal, substituindo outros modos.

1. Infinitivo com valor imperativo (exclamativo), comum nas saudações


e nas imprecações:
trap¡zaw eÞsf¡rein; (Aristóf.)
Trazer as mesas! [tragam/trazei as mesas]
Toèto parƒ êmÝn aétoÝw bebaÛvw gnÇnai; (Dem.)
Conhecer isso seguramente em vós mesmos [na vossa cabeça]!
Em¢ payeÝn t‹de; (Ésq.)
Eu sofrer isto?!
ToioutonÜ tr¡fein kæna; (Aristóf.)
Alimentar esse cachorro!? [um cachorro desses?!]
Tò ¤m¢ deèro tuxeÝn;
O encontrar-me lá?!
yarsÇn nèn, Diñmhdew, ¤pÜ TrÅessi m‹xesyai; (Hom.)
Força [vamos!] aí, Diomedes, [ao]combater com os troianos!

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322 o verbo grego: formas nominais

yeoÜ polÝtai m® me douleÛaw tuxeÝn; (Ésq.)


Deuses da cidade! que eu não caia [não me deixeis cair] em escravidão!
tò gŒr Žntil¡gein tolmn êmw; (Aristóf.)
E vós ousar[des] me contradizer.

2. Infinitivo absoluto ou livre ou independente, isolado, sem ligação sin-


tática aparente (às vezes com a conjunção Éw, como, por assim dizer).
Em geral ele se encontra num enclave (frases intercaladas, explica-
tivas, restritivas, entre vírgulas).
É um uso comum em todas as línguas modernas: por isso não nos
deve espantar.
Daremos a seguir as expressões mais comuns:
Éw ¦pow eÞpeÝn para usar dessa expressão, por assim, dizer
(ut ita dicam)
Éw suntñmvw eÞpeÝn para dizer em resumo (ut breviter dicam)
Éw plÇw eÞpeÝn para dizer simplesmente
Éw eÞpeÝn para dizer, por (assim) dizer
Éw sunelñnti [moi] eÞpeÝn para dizer em poucas palavras (para eu resu-
mir em poucas palavras)
Éw gƒ ¤n ²mÝn eÞr°syai para ser dito entre nós
Éw ¤moÜ dokeÝn pelo que me parece (para me parecer)
tò ¤pƒ¤moÜ eänai pelo que depender de mim
÷son g¡ mƒeÞd¡nai o quanto eu estar sabendo (o que depende)
÷sa dokeÝn aétÒ o quanto lhe parecer
Éw eÞk‹sai como é a parecer, a figurar, imaginar
nèn ÞdeÝn a ver agora
¥kÆn (¥kñntew)eänai por vontade, voluntariamente
katŒ toèto eänai“ por ser assim (conforme isso)
tò nèn eänai por ser agora
mikroè (ôlÛgou) deÝn por faltar pouco, faltando pouco
Éw Žlhy¢w eÞpeÝn para dizer a verdade
Éw oêtvsÛ Žkoèsai por (para) ouvir assim

mur04.p65 322 22/01/01, 11:37


o verbo grego: formas nominais 323

ƒAlhy¡w ge, Éw ¦pow eÞpeÝn, oéd¢n eÞr®kasin


[de] verdadeiro, por assim dizer, eles nada disseram
Tò ¤pƒ¤keÛnoiw eänai ŽpolÅlate
O estar sobre eles [de vos apoiardes] vós estáveis perdidos.
¦jv t°w oÞkoum¡nhw ôlÛgou deÝn p‹shw meyeist®kei (Ésquines)
fora de toda a terra habitada pouco falta [faltar] que [Alexandre]
tivesse ultrapassado.
oé fÛloiw oéd¢ j¡noiw ¥kÆn eänai g¡lvta par¡xeiw (Xen.)
não ser por vontade que tu fazes rir amigos ou hóspedes
pÇw dokeÝ l¡gein; - Eï ge, ¦fh õ Men¡jenow, Ëw ge oêtvsÜ
Žkoèsai (Plat.)
Como lhe parece dizer? - Bem, disse Menexenos, pelo menos ao
ouvir dessa maneira
KaÜ st®lh §sthke parŒ tòn naòn gr‹mmata ¦xousa: ßeròw
õ xÇrow t°wƒArt¡midow: tòn d¢ ¦xonta kaÜ karpoæmenon
t¯n m¢n dek‹thn katayæein ¥k‹stou ¦touw, ¤k d¢ toè
perittoè tòn naòn ¤piskeu‹zein: ¤Œn d¡ tiw m¯ poi» taèta,
t» yeÒ mel®sei. (Xen)
Há uma coluna junto ao templo tendo esses dizeres: “é sagrado o
terreno de Ártemis; [dever é de] o que o possui e usufrui consagrar
a cada ano o dízimo; do restante fazer a manutenção do templo; se
alguém não fizer essas coisas, a deusa se ocupará”. [caberá à deusa].

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324 a flexão verbal

A flexão verbal
Como conclusão do que acabamos de expor, podemos afirmar sem
receio de errar que há dois elementos essenciais no verbo grego: o aspec-
to (tempo interno) do verbo e o modo (visão externa).
Vimos também que três são os aspectos do verbo: o aoristo, o in-
fectum (inacabado) e o perfectum (acabado).
Vamos ver agora como esses três elementos se exprimem formalmente.
Constataremos que, coerentemente, o aoristo, por ser o primeiro
aspecto, o aspecto-base, tem sua forma coincidente com o tema verbal
puro. Ele é “Ž-ñristow”, isto é não definido, não determinado, não
limitado, tanto semanticamente quanto formalmente. Veremos isso com
clareza, quando tratarmos dos quadros de flexão do aoristo, que chama-
remos de “raiz-tema” e que as gramáticas tradicionais chamam de aoristo
II ou aoristo temático. No aoristo de “raiz-tema” a flexão se faz sobre a
própria raiz, sem modificação nenhuma. É a raiz flexionada; isto é, a raiz
é o tema e sobre ela se juntam as ptÅseiw.
Mas, ao lado desse aoristo de raiz-tema, a língua grega criou uma
característica formal para identificar o aoristo: foi o -s- que se juntou ao
tema. Esse aoristo chamado “sigmático” revelou-se muito produtivo,
porque era mais cômodo e evidente, na medida em que é expresso por
uma forma concreta. Por isso, aos poucos, ele foi se firmando até tomar
o lugar do outro, de raiz-tema, o primeiro e mais antigo. Em Homero,
os dois aoristos já convivem e, no dialeto ático, só se conservam alguns
aoristos homéricos de raiz-tema. Todos os verbos que se foram criando
passaram a servir-se do aoristo sigmático.11

11 Ao lado desse aoristo em -s-n > -sa, a língua criou um outro, tomando de em-
préstimo o -k-, marca do perfeito ativo, mas só para os verbos de raiz-tema
monossilábicos: yh-, dv-,sth-, ². Esses temas deveriam flexionar-se como ¦-
gnv-n, mas esse -k- só é usado no singular, com o tema longo; e se mantém
talvez pelo fato de o tema ser monossilábico, e as desinências de uma só letra (n, w,
t). No plural, com as desinências silábicas, não há mais necessidade do k/ka.

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a flexão verbal 325

Mas essa característica formal, -s-, se junta ao tema verbal puro e


não ao tema do infectum como a gramática insinua. Isso deve ficar bem
claro na mente do estudioso, porque é o que acontece de fato. Acrescen-
tar uma característica de aoristo a um tema de infectum ou perfectum
seria uma incongruência, uma contradição nos próprios termos. E não
há incongruência, não há contradição nos sistemas de flexão nominal e
verbal da língua grega. Há muita coerência, organicidade, lógica; a uni-
dade semântica entre significante e significado é total.

Já vimos, na flexão nominal que os “casos” são a marca das funções


dos nomes: não há nada de artificial, de arbitrário; há uma coerência to-
tal. Confirmaremos isso no capítulo das preposições.
Vamos demonstrar agora essa mesma coerência semântica na rela-
ção das formas verbais.
Sendo o aoristo o tema-base, os outros dois aspectos se constroem
a partir do tema do aoristo. São “radicais” no sentido denotativo; isto é:
são derivados da raiz, que é a raiz-tema.
Por conseguinte, toda a flexão verbal grega repousa sobre esses 3 temas:
1. tema do aoristo: aoristo puro-gnômico ou aoristo pontual-narrativo
(passado); sobre esse tema formou-se a flexão do futuro, que tem sua
origem no desiderativo (subjuntivo eventual). Veremos isso mais tar-
de quando tratarmos da formação do futuro. Por ora fique claro apenas
que o futuro se constrói sobre o tema do aoristo.
2. tema do infectum: infectum, inacabado: presente e passado (imperfei-
to); é construído sobre o tema verbal puro (aoristo) ou, em alguns
casos, é igual ao tema do aoristo.
3. tema do perfectum: acabado, perfeito e passado (mais-que-perfeito);
também é construído sobre o tema verbal puro (aoristo)

O tema essencial, primeiro, é o tema do aoristo.


Os outros, ou são iguais ao do aoristo (nos verbos “paradigmáticos”,
“regulares”), ou são diferentes; e, nesse caso, para maior:
• no infectum (inacabado) ele é ampliado, alongado, inchado, ou por meio
de prefixos (redobro em -i-), ou de infixos, geralmente nasais, ou de
sufixos (-(i)sk-).
• no perfectum (acabado) ele recebe um redobro em -e ou equivalente.

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326 a flexão verbal

Toda a flexão dos verbos gregos é construída sobre esses temas:


1. Sobre o tema do infectum se constroem todos os modos e todas as
vozes e o passado (imperfeito) do infectum;
2. Sobre o tema do aoristo se constroem todos os modos e todas as vozes
do aoristo e todos os modos e todas as vozes do futuro;
3. Sobre o tema do perfectum se constroem todos os modos e todas as
vozes e o passado (mais-que-perfeito e futuro perfeito) do perfectum.
Não há exceções. Não há irregularidades.
Sobre os temas dos aspectos o verbo grego recebe as desinências 12
(primárias ou secundárias/ativas ou médio-passivas) e as características
modais (morfemas).
Na tradição, os verbos gregos, para efeito de flexão, se dividem em
dois grupos: verbos em -v e verbos em -mi.
Na verdade não se trata de duas categorias de verbos. A única dife-
rença está na primeira pessoa da voz ativa, em que, como em latim -o / -
m, no grego a variante é -v / mi.
As diferenças de flexão, muito poucas, são acidentes fonéticos, e se re-
duzem praticamente ao sistema do infectum.

12 As desinências (ptÅseiw) pessoais são as expressões das relações das pessoas com
o verbo; são bem características e intransferíveis.

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a flexão verbal 327

Quadro das desinências verbais

• Primárias - para o presente real, eventual e futuro


• Secundárias - para o passado, potencial e irreal

Pessoa Primárias Secundárias Imperativo

Ativas:
Singular la mi/v13 n/a
2a si -w/sya tema/yi/w
3a ti (t) tv
Plural la men/mew men
2a te te te
3a nti nt ntvn
Dual 2a ton thn ton
3a ton thn tvn/
tvsan
Médias*:
Singular 1a mai mhn
2a sai so so
3a tai to syv
Plural 1a meya/mesya meya/mesya
2a sye sye sye
3a ntai nto syvn
Dual 1a meyon meyon
2a syon syon
3a syhn syhn syvn/
syvsan

* A voz passiva não tem desinências próprias; por isso se serve das desinências mé-
dias. Então há formas médio-passivas, não uma voz médio-passiva.
13 Faremos a demostração da evolução fonética na medida em que apresentarmos os

quadros de flexão.

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328 a flexão verbal

O aoristo passivo, sobre o qual se constrói o futuro passivo, se for-


mou com o sufixo -h-/-yh-/-syh-.

As desinências e suas particularidades

1. No quadro da página anterior, as desinências aparecem como elas são,


sem alterações. As alterações acontecem no momento em que as desi-
nências se colocam frente a frente com os temas verbais e a eles se
juntam: por exemplo, o encontro de um tema verbal terminado em
consoante e uma desinência iniciada por consoante; o aparelho fonador
faz as adaptações necessárias. O mesmo processo se dá quando um tema
verbal vocálico se encontra com uma desinência também vocálica.
São alterações fonéticas normais, freqüentes em todas as línguas.
Elas serão explicadas quando aparecerem.

2. Como deve ter sido notado no quadro, só há desinências ativas e mé-


dias; não há registro de desinências passivas. É que a voz passiva apa-
receu tardiamente e se serviu das desinências médias.
No infectum (inacabado) e no perfectum (acabado) não há distinção
de formas entre passiva e média.
No sistema do aoristo, só o futuro passivo usa das desinências mé-
dias, além da característica da passiva:
-h-/-yh-/-syh-.
o futuro médio difere do futuro passivo pela ausência da caracte-
rística da passiva: -h- / -yh- / -syh-
o aoristo passivo se constrói com a característica da passiva -h- / -
yh- / -syh- e se serve de desinências ativas.

3. Fazem a 1 a pessoa da voz ativa em -v:


a) todos os verbos de tema em consoante, quer primitivos quer
derivados:
f¡r-v, eu porto,
many‹n-v, eu entendo, eu aprendo,
gignÅskv, eu tomo conhecimento.

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a flexão verbal 329

b) os verbos de tema em semivogal (i, u, W, j) - a semivogal (soante)


é sentida mais como semiconsoante:
tÛ-v, eu honro,
yæ-v, faço fumaça, eu ofereço sacrifício,
deik-næ-v, eu mostro.

Fazem a 1 a pessoa em -mi:


a) os verbos de tema monossilábico em vogal longa:
dÛ-dv-mi, eu dou,
tÛ-yh-mi, eu coloco,
á-sth-mi, eu ponho de pé,
á-h-mi, eu lanço.
O redobro em -i é uma característica desses verbos, provavelmente
por serem monossilábicos; e o seu uso só no infectum é significante;
é uma espécie de reforço ou uma compensação.
b) os verbos que recebem infixo -nu- / nnu
deÛk-nu-mi, eu mostro,
zÅ-nnu-mi, eu cinjo.
c) os verbos que recebem infixo -nh- também monossilábicos
d‹m-nh-mi, eu domo.
d) quatro verbos sem redobro nem infixo:
fh-/ fami eu me manifesto, eu digo,
±- ±mi eu digo,
ei-/i- eämi eu vou, estou indo,
es-/-s- eÞmi eu sou.14

14 Como podemos sentir, a opção pela 1a pessoa -v / -mi é de ajuste do aparelho


fonador; mesmo nos temas em i- e -u a opção pelo -v é uma solução de facilidade.
São mais fáceis as ditongações -iv e -uv do que -imi ou -umi. É por isso também
que a língua criou, para os verbos que recebem o sufixo -nu / -nnu, uma flexão
paralela em -uv.

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330 a flexão verbal

4. Vogal de ligação
a) No sistema do infectum (inacabado) uma vogal de ligação se faz
presente nos verbos de 1 a pessoa em -v, porque são temas em
consoante ou semivogal.
Mas, nos verbos derivados de nomes com tema vocálico, como
tima-j-v, dhlo-j-v, e nos derivados com o sufixo -ej, como fil-
ej-v, o -j- em posição intervocálica sofre síncope, tornando vocáli-
cos os temas: tima-, dhlo-, file-.
O encontro dessa vogal temática com a vogal de ligação produz
um hiato, que o dialeto ático reduz numa contração.
As gramáticas dão o nome de “contratos” a esses verbos. Não é
bem assim. Eles têm formas contratas só no sistema do infectum, exata-
mente por causa da presença da vogal de ligação, que, depois da sín-
cope do -j-, faz hiato com a vogal temática. Essa vogal de ligação é:
e antes de todas as consoantes orais;
o antes das consoantes nasais m/n.
f¡r-o-men nós portamos
f¡r-e-te vós portais/portai vós
tim‹j-o-men > tim‹-o-men > timÇmen nós honramos
tim‹j-e-te > tim‹-e-te > timte vós honrais/honrai vós
dhlñj-e-te > dhlñ-e-te > dhloète vós revelais/revelai vós

5. Em situação desinencial, depois de vogal de ligação, na flexão verbal e


nominal, o -s- em posição intervocálica sofre síncope, e as vogais
remanescentes formam um hiato, que, no ático, é reduzido em uma
contração.
læ-e-sai > læeai > læhi / læú (ei) és desligado
g¡nes-a > g¡nea > g¡nh as raças
læ-e-so > læeo > læou sê desligado
stel-¡s-v > stel¡v > stelÇ eu enviarei

Mas não há síncope do -s- depois de uma vogal temática longa:


y®-s-v eu colocarei
dÅ-s-v eu darei
st®-s-v eu porei de pé
´-s-v eu lançarei

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a flexão verbal 331

ou breve
tÛ- ye-sai tu és colocado
d¡-do-sai tu és dado
á-sta-sai tu és posto de pé
á-e-sai tu és lançado
mas no imperativo singular médio-passivo há síncope do -s- depois de
vogal temática e contração subseqüente, nos verbos de tema vocálico,
por analogia com os verbos de tema em consoante (p. 339).
b) No aoristo, futuro e perfeito de temas em consoante, o grego
usa a vogal de ligação: -h-
may-®-s-o-mai eu entenderei, eu aprenderei
me-m‹y-h-ka eu entendi, eu aprendi
Nesses casos não há síncope do -s- intervocálico; mas no futuro
em -es- dos temas em soante, o -s- encontrando-se depois de vogal
de ligação breve sofre síncope:
stel-¡s-o-men > stel¡omen > steloèmen - enviaremos
O -s- intervocálico depois da vogal de ligação longa, marca do sub-
juntivo, também sofre síncope nos verbos de tema em consoante,
soante e semivogal:
læ-h-sai > læhai > læhi / læú - tu és desligado

6. O -n, precedido de uma consoante, vocaliza-se em -a.


Em situação desinencial final:
patrÛd-n > patrÛda a pátria (acus.)
l¡ont-n > l¡onta o leão (acus.)
¤-lus-n > ¦lusa = aoristo eu desligo / desliguei
l¡lu-k-n > l¡luka = perfeito eu completei o ato de desligar

Em situação interna, o -n-


ou se vocaliza em -a-:
g¡grap-ntai > gegr‹patai foram escritos, estão escritos
ou desenvolve um -a- epentético:
may- > manyn- > manyan-v eu entendo, eu aprendo

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332 a flexão verbal

7. Na seqüência nts, há síncopes sucessivas das dentais:


- nts > ns > s
e um alongamento compensatório da vogal anterior 15:
- o em ou;
- e em ei;
e as outras vogais a, i, u em sua longa correspondente do mesmo timbre.
f¡r-o-nti > f¡ronsi > f¡rousi ( -nti > -nsi) eles portam
l¡ont-si > l¡onsi > l¡ousi aos leões
luy¡nt-si > luy¡nsi > luyeÝsi aos que foram desligados
gÛgant-si > gÛgansi > gÛgasi aos gigantes
¥lmÛny-si > ¥lmÛnsi > ¥lmÝsi às lombrigas
deiknænt-si > deiknænsi > deiknèsi aos que mostram

8. A língua grega só mantém três consoantes em posição final: n, r, w.


As outras todas caem (menos na negação oék / oéx e na preposição
¤k / ¤j).
No quadro das desinências secundárias ativas mantemos o (-t) em
posição final; é mera reminiscência. Mas é para explicar a vogal de li-
gação -e-.

9. O -n no final das 3as pessoas do singular das desinências secundárias


ativas (-e-n) e plural das desinências primárias ativas dos verbos (nti >
ousin/asin), bem como no dativo plural em -sin, é mero registro
eufônico e se usa ou no fim da frase, Žgayñw ¤stin, ou no meio,
¤stin Žgayñw, quando a palavra seguinte começa com vogal, para
evitar hiato ou elisão; mas, se a palavra seguinte começa com consoan-
te, ele não aparece, ¤sti kalñw.

15 Esse “alongamento compensatório”, que os estudantes têm dificuldade de enten-


der, nada mais é do que a permanência da duração da vogal que sustenta duas ou
mais consoantes com ela, e, depois da síncope das consoantes, o consciente
lingüístico mantém a duração da vogal. É uma espécie de memória.

mur05.p65 332 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 333

10. Nos verbos, os encontros consonânticos acontecem ou entre o s


que caracteriza o aoristo e o futuro com os diversos temas verbais con-
sonânticos, ou entre o k que caracteriza o perfeito e mais-que-perfeito
com os diversos temas verbais consonânticos.
Convém notar que todas essas alterações não são problemas grama-
ticais, morfológicos. São problemas meramente fonéticos, que se produ-
zem no aparelho fonador e nele mesmo são resolvidos. Não é porque se
trata de um substantivo, adjetivo ou verbo que os problemas são di-
ferentes; são exatamente os mesmos e são resolvidos da mesma ma-
neira, porque são fonéticos e são resolvidos foneticamente.

Alguns problemas fonéticos


Vejamos os encontros mais comuns:

l. Encontros de consoantes 16:


a) oclusiva + s = assimilação da oclusiva
labiais b-p-f + s > c blab-s-v> bl‹cv prejudicarei
velares g-k-x + s > j g-s-v > jv conduzirei
dentais d-t-y + s > s* peiy-s-o-mai > peissomai > peÛsomai obedecerei
* Dental antes de s se assimila em ss e se reduz a s.
b) oclusiva + k = aspiração da oclusiva (síncope da dental)
labiais b,p,f + k .> f b¡-blab-ka > b¡blafa prejudiquei
velares g,k,x + k > x p¡-prag-ka > p¡praxa fiz
dentais d,t.y + k > k* p¡-peiy-ka > p¡peika convenci
* Dental sofre síncope antes de k.
c) oclusiva + t = assimilação da oclusiva
labiais b,p,f + t > pt b¡-blab-tai > b¡blaptai foi, está prejudicado
velares g,k,x + t > kt p¡-prag-tai > p¡praktai foi, está feito
dentais d,t,y + t > st p¡-peiy-tai > p¡peistai foi, está convencido

16 Esses encontros consonânticos foram tratados no Capítulo “Fonética Aplicada”.


Mas achamos conveniente expô-los aqui sucintamente, mais próximos dos qua-
dros de flexão. Os exemplos contêm formas nominais e verbais justamente para
mostrar que não são problemas morfológicos mas simplesmente fonéticos.

mur05.p65 333 22/01/01, 11:37


334 a flexão verbal

d) oclusiva + m = assimilação da oclusiva


labiais b,p,f + m > mm t¡-trib-mai > t¡trimmai fui, estou esmagado
velares g,k,x + m > gm p¡-prag-mai > p¡pragmai fui, estou feito
dentais d,t, y + m > sm p¡-peiy-mai > p¡peismai fui, estou convencido

2. Encontros de vogais: os mais freqüentes


a + e > a* o + e > ou
a+o>v o + o > ou
e + a > h* o + oi >oi (ooi > oui > oi)
e + e > ei o + ei > oi (oei > oui > oi)
e + o > ou** a, e, o + v > v***
e + oi > oi (eoi > oui>oi)
* no encontro de a-e/e-a prevalece o timbre da vogal anterior: a-e > a; e-a > h.
** em todos os encontros vocálicos em que aparecem as vogais o/v prevalece o
timbre “o” na contração resultante;
*** uma vogal longa absorve a vogal breve (o timbre -o prevalece sempre).

Além do s, que caracteriza o aoristo ativo e médio e o futuro ati-


vo, médio e passivo, e do k que caracteriza o perfeito ativo, isto é, carac-
terísticas de aspectos, o verbo grego tem também uma forma de caracte-
rizar os modos.

Características dos modos

• O INDICATIVO não tem característica especial, porque exprime a identi-


dade e a própria realidade da ação. É o modo predominante, referencial,
da realidade imediata, do significado positivo, e por isso o próprio enun-
ciado das formas é a sua representação. Fala-se de um “morfema zero”
no indicativo.
Sobre o tema de cada aspecto, acrescentam-se as desinências pri-
márias ou secundárias, ativas ou médias (passivas) e, se necessárias, as
vogais de ligação no infectum dos verbos de tema em consoante ou
semivogal.

mur05.p65 334 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 335

• O SUBJUNTIVO tem como característica a vogal de ligação longa na se-


qüência: o,e,e,o,e,o > v,h,h,v,h,v, que é:
a) • ou a própria vogal de ligação (no infectum) nos verbos de tema
em consoante ou semivogal:
ind. f¡r-o-men portamos, levamos
ind. fer-ñ-meya somos levados
subj. f¡rvmen portemos, levemos
subj. fer-Å-meya sejamos levados
b) • ou, nos verbos de tema em vogal, (verbos em -v) em contração
com a vogal temática:
ind. fil¡-o-men > ‘filoèmen amamos
ind. file-ñ-meya > filoæmeya somos amados
subj. fil¡-v-men > filÇmen amemos
subj. file-Å-meya > filÅ-meya sejamos amados
c) • ou, nos verbos de tema em vogal (verbos em -mi):
ind. tÛyhsi > tÛyhi >tÛy úw/hiw colocas
ind. tÛye-men colocamos
ind. dÛdv-si ele dá
ind. dÛdo-men damos
subj. tiy¡-h-si>tiy¡hi>tiy°iw/tiy»w coloques
subj. tiy¡-v-men > tiyÇmen coloquemos
subj. didñ-h-si>didñhi>didÇi/didÒw ele dê 17
subj. didñ-v-men> didÇmen demos
d) • ou nos temas do aoristo passivo:
ind. ¤læyh-n fui, sou desligado
ind. ¤-st‹l-h-n fui, sou enviado
subj. luy®-v> luy¡v> luyÇ18 seja desligado
subj. stal®v> stal¡v> stalÇ seja enviado

17 Nos encontros vocálicos que resultam em contração, sempre que houver uma vo-
gal de timbre -o-, o timbre -o- prevalece, mesmo que a outra vogal de outro tim-
bre seja longa; o resultado nesse caso é -v.
18 No dialeto ático, na seqüência de duas vogais longas, a longa anterior se abrevia.

mur05.p65 335 22/01/01, 11:37


336 a flexão verbal

e) • ou ainda, nos temas do aoristo sigmático (que não têm vogal de


ligação) acrescentam-se diretamente as desinências primárias:
ind. ¦lusa19 desligo, desliguei
ind. ¤-lu-s‹-mhn desligo, desliguei para mim
subj. læ-s-v desligue
subj. læ-s-v-mai desligue para mim
Por ser eventual, isto é, fato futuro, o subjuntivo grego tem sem-
pre desinências primárias e se traduz em português ou pelo “presente do
subjuntivo” ou pelo “futuro do subjuntivo”; no latim e nas outras línguas
românicas, pelo “presente do subjuntivo ou pelo “futuro do indicativo”.
O subjuntivo não exprime tempo; somente o aspecto, o que deve
ser levado em conta na tradução.

• O OPTATIVO tem como característica essencial o -i- / -ie /ih 20, que se
acrescenta ao tema do aspecto correspondente:
No sistema do infectum (inacabado), no perfectum (acabado) ativo
e nas formas do futuro (ativo, médio ou passivo) e no aoristo de raiz-
tema ele vem acompanhado de uma vogal de ligação permanente: o-i:
ativo médio passivo
infectum læ-oi-mi lu-oÛ-mhn
futuro læs-oi-mi lus-oÛ-mhn luyhs-oÛ-mhn

perfeito lelæk-oi-mi.
aoristo de raiz-tema àd-oi-mi Þd-oÛ-mhn
Ver quadros de flexão: infectum, p. 341-69; futuro, p. 459; perfei-
to, p. 509; aoristo, p. 426.

19 A construção do subjuntivo revela a origem do futuro: antigo desiderativo (even-


tual) e a desinência primária se acrescenta diretamente ao tema; não como o indi-
cativo, que, por ser passado, teve a desinência secundária -n vocalizada em -a > sa.
20 É bom lembrar que esse -i- do optativo é longo; isso é importante para a acentuação.

mur05.p65 336 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 337

• No aoristo sigmático ativo e médio o -i- do optativo se acrescenta ao


próprio tema do aspecto, sem vogal de ligação, por desnecessária, dada
a presença do -a.
læ-sa-i-mi - lu-sa-Û-mhn desligaria, desligaria para mim.
Ver quadros de flexão, p. 445.

• No aoristo passivo, (a marca do aoristo passivo é vocálico -h- /-yh-) o


-i- do optativo se acrescenta à marca da voz passiva na variação longa-
singular / breve-plural -ih/i:
lu-yh-Ûh-n > lu-ye-Ûh-n - seria desligado
lu-ye-Ý-men seríamos desligados
Ver quadro de flexão, p. 477 e 479.
O mesmo acontece no infectum de todos os temas vocálicos (ver-
bos em -mi):
tiye-Ûh-n, ye-Ûh-n / tiye-Ý-men, ye-Ý-men
dido-Ûh-n, do-Ûh-n / dido-Ý-men, do-Ý-men;
ße-Ûh-n, e-áh-n / ße-Ý-men, e-å-men
Ver quadros de flexão, p. 347 e 360.
Os verbos denominativos de tema em vogal com sufixo -j-, na
voz ativa do infectum, mantêm a vogal de ligação única -o- e fazem o
optativo em -oi- ou o-Ûh-n.
tim‹j- = tim‹j-oi-mi > tim‹-oi-mi > timÒmi /
timaj-o-Ûh-n > tima-o-Ûh-n > timÅihn/timÐhn
fil¡j- = fil¡j-oi-mi > filoÝmi > fil¡-oi-mi > filoÝmi /
filej-o-Ûh-n > file-o-Ûh-n > filoÛhn
dhlñj- = dhlñj-oi-mi > dhlñ-oi-mi > dhloÝmi /
dhloj-oÛh-n > dhlo-oÛh-n > dhloÛhn
Ver quadros de flexão, p. 376, 381, 383, 386, 388, 391 e 393,
respectivamente.
Mas na voz média (passiva) constroem o optativo de uma só manei-
ra: com a característica -i- em vocalismo zero e vogal de ligação única -o-.:
tim‹j- = timaj-o-Û-mhn > tima-o-Û-mhn > timÅimhn / timÐmhn
poiej- = poiej-o-Û-mhn > poie-o-Û-mhn > poiouÛmhn > poioÛmhn
dhlñj- = dhloj-o-Û-mhn > dhlo-o-Û-mhn > delouÛmhn > dhloÛmhn
Ver quadros de flexão p. 375, 390 e 385, respectivamente.

mur05.p65 337 22/01/01, 11:37


338 a flexão verbal

O optativo, por ser o modo do fato possível ou da atenuação da


afirmação, isto é, mais próximo da irrealidade, tem desinências secundá-
rias 21 e se traduz em português ou pelo “imperfeito do subjuntivo” geral-
mente na prótase (desejo irrealizável-irreal do presente) ou “condicional
simples” na apódose (fato possível ou afirmação atenuada).
O optativo não exprime tempo; somente o aspecto, o que deve ser
levado em conta na tradução.

•O IMPERATIVO tem suas desinências próprias, como vimos no quadro.


O imperativo singular de 2a pessoa, por ser o primeiro, o verda-
deiro e de longe o mais empregado22, apresenta certas dificuldades, so-
bretudo no aoristo da voz ativa e média.

Voz ativa:
1. Uso da vogal de ligação:
Infectum: o próprio tema com vocal de ligação (de apoio) nos verbos
de tema em consoante ou semivogal (verbos em -v):
læ-e desliga
f¡r-e porta, carrega
Nos aoristos de temas-raiz em consoante dá-se o mesmo:
Þd-¡ vê
lab-¡ pega
Nesses casos há o deslocamento da tônica para a posição de oxítona.
Nos verbos denominativos em -j- a vogal temática, depois da sínco-
pe do -j-, se contrai com essa vogal de ligação:
tÛmaj-e > tÛma-e > tÛma honra
poÛej-e > poÛe-e > poÛei faz
d®loj-e > d®lo-e > d®lou revela

21 A desinência -mi é “primária”, da 1a pessoa “eu”; e, por razões fonéticas, de menos


esforço, o “eu” do optativo “tomou emprestado” o -mi.:: é mais fácil pronunciar
læoimi do que læoin. Mas a desinência primitiva era -m > -n.
22 Compare-se com o vocativo; os dois são o eixo do diálogo primeiro, linear, bipolar,

horizontal; os dois não têm desinência porque basta o tema. Depois, por analogia,
a língua desenvolveu os outros imperativos.

mur05.p65 338 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 339

Por analogia, essa vogal de ligação se estende para os verbos de


tema em vogal (verbos em -mi):
tÛye-e > tÛyei põe, coloca
dÛdo-e > dÛdou dá
áe-e > áei lança
ásta-e > ásth (ásta) põe de pé
deÛknu-e > deÛknu mostra

2. O sufixo -yi:
Mas com os verbos eämi - eu vou, eÞmi - eu sou, fhmi - eu falo e
nos aoristos de raiz de tema em vogal longa ¦gnvn - eu tomei conhe-
cimento, ¦bhn - eu andei, Žp-¡dran - eu saí correndo, ¦dun - eu
imergi, ¤x‹rhn - eu me alegrei, usa-se o antigo sufixo locativo -yi:
à-yi vai (latim: i) gnÇ-yi conhece (toma conhecimento)
às-yi sê dè-yi mergulha, veste-te
f‹-yi fala Žpñ-dra-yi afasta-te
b°-yi anda x‹rh-yi alegra-te
Esse sufixo -yi, por analogia, forma também o imperativo singular
dos aoristos passivos em -h-, -yh / syh:
¤-læ-yh-n eu fui (sou) desligado læ-yh-yi > læyhti sê desligado
¤-st‹l-h-n eu fui (sou) enviado st‹lh-yi sê enviado

3. Os aoristos sigmáticos:
No aoristo sigmático ativo usa-se a desinência de 2a pessoa -so,
com -n eufônico.
¦-lu-sa > imper. lè-so-n desliga
¦stel-sa > imper. st¡l-so-n > steÝl-on envia

Voz média:
a) desinência -so de 2a pessoa, secundária, no infectum e no perfectum23;

23 Na voz média e passiva do infectum e perfectum só os temas são diferentes; as


desinências são as mesmas.

mur05.p65 339 22/01/01, 11:37


340 a flexão verbal

b) desinência -sai de 2a pessoa, primária24, no aoristo


Infectum
læ-e-so > læeo > læou desliga-te, desliga para ti /sê desligado
dÛdo-so > dÛdou dá para ti /sê dado
Perfectum
l¡-lu-so fica desligado para ti
Aoristo
lè-sai desliga para ti
st¡l-sai > steÝlai envia para ti
As outras formas do imperativo: 2a do plural (imperativo direto)
e 3a pessoa sing. e pl. (imperativo indireto) são sempre as mesmas e
não apresentam nenhum problema fonético digno de nota.
-te para a 2a p. do pl. da voz ativa
-tv para a 3a p. do sing. da voz ativa (imperat. indir.)
-ntvn para a 3a p. pl. da voz ativa (imperat. indir.)
-sye para a 2a p. do pl. da voz média / pas.
-syv para a 3a p. do sing. da voz m./p. (imperat. indir.)
-syvn para a 3a p. do pl. da voz m./p. (imperat. indir.)
De posse dessas informações (temas, desinências, características)
pode-se construir a conjugação de qualquer verbo grego.
Tendo um texto na frente, identificando primeiramente se é uma for-
ma verbal ou nominal, podem-se separar as partes e encontrar o significado.
O aprendizado de cor dos quadros de declinações e conjugações tem
uma desvantagem: leva a aprender fórmulas vazias de significado, acumu-
lando informações sem saber usá-las. É porque se tem a impressão de que
os quadros são fixos, numa sucessão vertical, obedecendo a um padrão único.
Não é exato. Todas as formas, quer nominais quer verbais, são construídas
sobre o tema (nominal ou verbal) dentro dos padrões fonéticos da língua.
Todavia, um quadro-referência de flexão é não só útil, mas também
necessário, sobretudo se é construído por aquele que está estudando.
Voltaremos a tratar disso, com mais detalhes, nos quadros das
flexões de todos os temas.

24 Certamente é outro caso de “empréstimo”; -sai é desinência própria de 2a pessoa;


como o -so já foi usado na voz ativa, apelou-se para o -sai para a voz média.

mur05.p65 340 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 341

Quadros da flexão verbal

Infectum (inacabado)

I. Presente

VOZ ATIVA:

Indicativo

læ-v eu desligo, eu estou desligando


tÛ-yh-mi eu coloco, eu ponho, eu estou colocando
dÛ-dv-mi eu dou, eu estou dando
á-sth-mi eu ponho de pé, eu estou pondo de pé
á-h-mi eu lanço, eu estou lançando

S. læv tÛ-yh-mi dÛ-dv-mi á-sth-mi á-h-mi


læ-eiw tÛ-yh-w dÛ-dv-w á-sth-w á-h-w
læ-ei tÛ-yh-si dÛ-dv-si á-sth-si á-h-si

P. læ-o-men tÛ-ye-men dÛ-do-men á-sta-men á-e-men


læ-e-te tÛ-ye-te dÛ-do-te á-sta-te á-e-te
læ-o-nti > ousi tÛ-ye-nti > ¡asi dÛ-do-nti > ñasi á-sta-nti > si á-e-nti > si

D. læ-e-ton tÛ-ye-ton dÛ-do-ton á-sta-ton á-e-ton


læ-e-ton tÛ-ye-ton dÛ-do-ton á-sta-ton á-e-ton

Notas:

1. A desinência da 1a pesssoa do singular é -v em læ-v e -mi nos outros.


Exceto essa diferença, que é a mesma do latim (-o/-m), o resto das
desinências é o mesmo para todos os verbos. As diferenças aparentes
podem ser explicadas pela fonética.

mur05.p65 341 22/01/01, 11:37


342 a flexão verbal

2. As 2a e 3a pessoas do singular dos verbos em -v : læ-eiw, læ-ei são con-


trações devidas à vogal de ligação25:
o -w é desinência característica de 2 a pessoa e foi acrescentado por ana-
logia, para evitar confusão com a desinência da 3 a .
Ver quadro demostrativo a seguir.

Quadro demostrativo de flexão dos verbos


de tema em semivogal (soante) ou consoante:

S. læ-v f¡r-v
læ-e-si > læei > læeiw f¡r-e-si > f¡rei > f¡reiw
læ-e-ti > læ-e-si > læei f¡r-e-ti > f¡r-e-si > f¡rei
P. læ-o-men f¡r-o-men
læ-e-te f¡r-e-te
læ-o-nti > læonsi > læousi f¡r-o-nti > f¡ronsi > f¡rousi
D. læ-e-ton f¡r-e-ton
læ-e-ton f¡r-e-ton

As 2as e 3as pessoas do singular dos verbos em -mi- recebem o se-


guinte tratamento:
2 a pessoa: tÛ-yh-si > tÛyhi > tÛyú > tÛyú-w/tÛyh-w
dÛ-dv-si > dÛdvi > dÛdÄ> dÛdÄw/dÛ-dvw
ásthsi > ásthi > ástú > ástúw/ásth-w
áh-si > áhi > áú > áúw/áhw

O -w é a marca da 2a pessoa da voz ativa e por isso substitui -si.

25 Porque, dos verbos que têm a 1 a pessoa do presente do indicativo em -v, mais de
90% são de tema em consoante; os outros, ou são de tema em semivogal u- / i-,
ou são de tema em W- vocalizado em u- ou em j-, resultando em várias conbinações
fonéticas (ver formação dos temas do infectum, p. 412. Os que recebem o sufixo
nu / nnu têm um tema alternativo em u- e têm a 1a pessoa -æv.

mur05.p65 342 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 343

3 a pessoa: tÛyhti > tÛyhsi


dÛdvti > dÛdvsi
ásth-ti > ásth-si
áhti > áhsi

3. Os verbos em -mi sofrem, no indicativo ativo, alternância de quantida-


de na vogal temática: longa no singular e breve no plural.

4. na 3 a pessoa do pl. a desinência -nti tem dois tratamentos:


a) læ-o-nti > læ-onsi > læ-ousi.
O -n- sofre síncope antes da dental e alonga a vogal anterior;
b) tÛ-ye-nti > tiy¡-ati > tiy¡-asi
dÛ-do-nti > didñ-ati > didñ-asi
á-sta-nti > ßst‹-ati > ßst‹-asi > ßstsi
á-e -nti > ß¡-ati > ß-¡-asi > ߍ-si
O -n-, diante da consoante -t- se vocaliza em -a-.: nti > ati > asi26.

5. Além dos verbos do quadro acima, fazem a 1 a pessoa do indicativo


presente em -mi:
a) alguns temas verbais em consoante, que recebem um infixo -nu-
como:
deÛk-nu-mi - eu mostro
b) alguns temas verbais em vogal, que recebem um infixo -nnu- como:
zÅ-nnu-mi - eu cinjo
c) alguns temas verbais em consoante, que recebem um infixo -nh-
como:
d‹m-nh-mi - eu domo
p¡r-nh-mi - eu vendo

26 Essa diferença de tratamento se deve à “competência lingüística”; nos verbos monos-


silábicos a vogal é temática e por isso significativa. Não se faz a simplificação fo-
nética. Por isso o -n- é soante, e em contato com a consoante se vocaliza em -a-.

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344 a flexão verbal

d) quatro verbos sem redobro nem infixo:


eämi eu vou, estou indo
eÞmi eu sou
fhmi eu me manifesto, eu digo
±mi eu digo
A flexão desses verbos se faz normalmente como nos quatro mo-
delos em -mi.

Convém notar, porém, que todos esses verbos com infixo nh/nu
têm uma forma alternativa em -v: deÛknumi / deiknæv, zÅnnumi /
zvnæv, d‹mnhmi / d‹mnv, p¡rnhmi / p¡rnv. e é assim que flexionam
todas as formas do infectum fora do indicativo ativo. Mas, na 3a pessoa do
plural, como o -u-é temático e dispensa vogal de ligação, na desinência -
nti, o -n- vogaliza-se antes do -t-, e temos a desinência -nti > ati >
asi.

Subjuntivo

læ-v-men = desliguemos (exortativo), vamos desligar? (delibera-


tivo), se (¤Œn/ ’n / µn) começarmos a desligar, caso comecemos a des-
ligar, se desligarmos, caso desliguemos (eventual).
Não há idéia de tempo nessas expressões; apenas aspecto e modo.

S. læ-v ti-yÇ di-dÇ ß-stÇ ß-Ç


læ-ú-w ti-y»-w di-dÒ-w ß-st»-w ß-»-w
læ-ú ti-y» di-dÒ ß-st» ß-»
P. læ-v-men ti-yÇ-men di-dÇ-men ß-stÇ-men ß-Ç-men
læ-h-te ti-y°-te di-dÇ-te ß-st°-te ß-°-te
læ-v-si ti-yÇ-si di-dÇ-si ß-stÇ-si ß-Ç-si
D. læ-h-ton ti-y°-ton di-dÇ-ton ß-st°-ton ß-°-ton
læ-h-ton ti-y°-ton di-dÇ-ton ß-st°-ton ß-°-ton

mur05.p65 344 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 345

Notas:

1. Notar a equivalência de sentidos entre o subjuntivo presente e o futuro,


mesmo em português. Os dois são eventuais.
2. Para não ocupar espaço e cansar inutilmente o leitor, daqui para frente
traduziremos só as formas do verbo læv; As outras serão traduzidas
por analogia.

Para efeito de consulta, damos a seguir o quadro da flexão do Sub-


juntivo, com a demostração das alterações fonéticas:

læv læ-v læ-v


læ-h-si > læhi / læú > læhiw / læúw
læ-h-ti > læhti > læhsi > læhi / læú
læ-v-men læ-v-men
læ-h-te læ-h-te
læ-v-nti > lævnti > lævnsi > lævsi
læ-h-ton > læ-h-ton
læ-h-ton > læ-h-ton
tÛyhmi tÛ-y¡-v > tiyÇ
ti-y¡-h-si > tiy°si > tiy°i/tiy» > tiy°iw / tiy»w
tÛ-y¡-h-ti > tiy°ti > tiy°si > tiy°i / tiy»
ti-y¡-v-men > tiyÇmen
ti-y¡-h-te > tiy°te
ti-y¡-v-nti > tiyÇnti > tiyÇnsi > tiyÇsi
ti-y¡-h-ton > ti-y°-ton
ti-y¡-h-ton > ti-y°-ton
dÛdvmi di-dñ-v > didÇ
di-dñ-h-si > didÇsi > didÇi /didÒ > didÇiw/ didÒw
di-dñ-h-ti > didÇti > didÇsi > didÇi / didÒ
di-dñ-v-men > didÇmen
di-dñ-h-te > didÇte
di-dñ-v-nti > didÇnti > didÇnsi > didÇsi
di-dñ-h-ton > di-dÇ-ton
di-dñ-h-ton > di-dÇ-ton

mur05.p65 345 22/01/01, 11:37


346 a flexão verbal

ásthmi ßst‹-v > ßstÇ


ßst‹-h-si > ßst°si > ßst°i / ßst» > ßst°iw / ßst»w
ßst‹-h-ti > ßst°ti > ßst°si > ßst°i / ßst»
ßst‹-v-men > ßstÇmen
ßst‹-h-te > ßst°te
ßst‹-v-nti > ßstÇnti > ßstÇnsi > ßstÇsi
ßst‹-h-ton > ß-st°-ton
ßst‹-h-ton > ß-st°-ton
áhmi ß-¡-v > ßÇ
ß-¡-h-si> ß°si > ß°i / ß» > ß°iw / ß»w
ß-¡-h-ti > ß°ti > ß°si > ß°i / ß»
ß-¡-v-men > ßÇmen
ß-¡-h-te > ß°te
ß-¡-v-nti > ßÇnti > ßÇnsi > ßÇsi
ß-¡-h-ton > ß-°-ton
ß-¡-h-ton > ß-°-ton

Notas:
1. O subjuntivo tem duas características: vogal de ligação longa e desi-
nências primárias por ser eventual nos três temas.
2. No verbo læv, isto é, nos verbos de tema em consoante ou semivo-
gal (soante), essa vogal longa coincide com o alongamento da vogal de
ligação ou a substitui;
nos outros, a vogal longa v, h, h, v, h, v, característica do subjun-
tivo, se junta à vogal breve do tema e a absorve (contração), prevale-
cendo sempre o timbre: o.
ti-y®-v > ti-y¡-v > tiyÇ
di-dÅ-v > didñ-v > didÇ
3. A acentuação está dentro dos hábitos fonéticos da língua: sempre que
uma vogal acentuada entra na contração leva consigo a tonicidade; e o
acento da forma final, tônica, é circunflexo (perispômeno).
4. O subjuntivo grego se traduz em português quer pelo presente do sub-
juntivo quer pelo futuro do subjuntivo. Mas, na repetição de presente,
“quando” eventual, “sempre que”, “se”, o português usa o indicativo, o
grego não. Sempre o subjuntivo. (ver no capítulo do subjuntivo)

mur05.p65 346 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 347

Optativo

læ-o-i-men - poderíamos começar a desligar, poderíamos estar desli-


gando, desligaríamos (potencial ou afirmação atenuada), (Žn) ah se estivés-
semos desligando! (eÞ -eàye) se desligássemos - oxalá desligássemos! oxalá pu-
déssemos desligar! (desejo, anseio por uma possibilidade, voto).
Não há idéia de tempo nessas expressões, apenas aspecto e modo.

S. læ-oi-mi ti-ye-Ûh-n di-do-Ûh-n ß-sta-Ûh-n ß-e-Ûh-n


læ-oi-w ti-ye-Ûh-w di-do-Ûh-w ß-sta-Ûh-w ß-e-Ûh-w
læ-oi ti-ye-Ûh di-do-Ûh ß-sta-Ûh ß-e-Ûh
P. læ-oi-men ti-ye-Ý-men27 di-do-Ý-men ß-sta-Ý-men ß-e-Ý-men
læ-oi-te ti-ye-Ý-te di-do-Ý-te ß-sta-Ý-te ß-e-Ý-te
læ-oi-en ti-ye-Ý-en di-do-Ý-en ß-sta-Ý-en ß-e-Ý-en
D. læ-oi-ton ti-ye-Ý-ton di-doÝ-ton ß-sta-Ý-ton ß-e-Ý-ton
lu-oÛ-thn ti-ye-Û-thn di-do-Û-thn ß-sta-Û-thn ß-e-Û-thn

Notas:
1. Há um falso ditongo na seqüência da vogal breve do tema desses ver-
bos e a característica -i- longa do optativo; isso explica a posição da
tônica.
No singular o -i- longo se abrevia diante de outra longa.
A variante longa no plural é menos usada do que a curta.
Lei do menor esforço.
2. A característica do optativo é i / ie-ih.
3. O optativo tem sempre desinências secundárias, por ser o modo do
possível e da atenuação da afirmação.
4. Nos verbos em -v, por serem de tema em consoante ou semivogal
(soante), há uma vogal de ligação fixa -o- no infectum (pres.), futuro e
perfeito ativo -oi-.

27 Variante: tiye-Ûh-men, tiye-Ûh-te, tiye-Ûh-san.

mur05.p65 347 22/01/01, 11:37


348 a flexão verbal

5. Nos outros, com temas terminados em vogal, a característica do op-


tativo se junta diretamente, numa alternância -ih- singular e -i- plural.
6. A desinência da 1a pessoa do singular, em vez de -n é -mi, e a da 3a do
plural, em vez de -n é -en.
É um recurso fonético e semântico: a seqüência dos sons -i- e na-
sal é incômoda; por isso, na 1a pessoa há um empréstimo ou mesmo
uma opção pela desinência -mi28 e na 3a pessoa a vogal de ligação -e-
desfaz a dificuldade fonética.
7. O optativo grego se traduz em português, quer pelo imperfeito do sub-
juntivo, geralmente na condicionante (prótase), quer pelo condicional
simples, na condicionada (apódose).

Imperativo
- lèe - læete - desliga, vai desligando, começa a desligar (tu); desligai,
começai a desligar, ide desligando (vós);
- lu¡tv - luñntvn: desligue , vá desligando, comece a desligar (ele);
desliguem, vão desligando, comecem a desligar (eles).
Não há idéia de tempo nessas expressões; apenas aspecto e modo.
S.
lè-e tÛ-ye-e > ei dÛ-do-e > ou á-sta-e > h á-e-e > ei
lu-¡-tv ti-y¡-tv di-dñ-tv ß-st‹-tv ß-¡-tv
P.
læ-e-te tÛ-ye-te dÛ-do-te á-sta-te á-e-te
lu-ñ-ntvn ti-y¡-ntvn di-dñ-ntvn ß-st‹-ntvn ß-¡-ntvn
lu-¡-tvsan29 ti-y¡-tvsan di-dñ-tvsan ß-st‹-tvsan ß-¡-tvsan
D. læ-e-ton tÛ-ye-ton dÛ-do-ton á-sta-ton á-e-ton
lu-¡-tvn ti-y¡-tvn di-dñ-tvn ß-st‹-tvn ß-¡-tvn

28 Esse “empréstimo” só é possível porque tanto -mi como -v são “propriedade” da


1a pessoa e ela as usa como bem lhe convém, foneticamente, é claro. A desinência
original é -m- (todas as desinências de 1a pessoa começam por -m-); o -n é a forma
do -m- em posição final. A opção por -mi-, então é natural.
29 A forma lu-¡-tvsan de 3a pessoa do plural é menos freqüente do que lu-ñ-

ntvn.

mur05.p65 348 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 349

Notas:
1. Não há uma desinência específica do imperativo singular; é o próprio
tema do verbo; esse -e é vogal de apoio para os verbos de tema em
consoante, soante e semivogal, nos outros verbos, é usado por analogia.
2. As outras desinências são próprias do imperativo; são fixas e serão en-
contradas na voz ativa de temas dos outros aspectos. Mas mantêm a
caracterização fonética das pessoas gramaticais:
-t- 3a pessoa do singular
-nt- 3a pessoa do plural
-te- 2a pessoa do plural

Particípio

lævn - desligante, desligando, que está desligando: sempre simul-


tâneo ao ato expresso pelo verbo da oração principal.
Não há idéia de tempo próprio no particípio; apenas aspecto e modo.
A simultaneidade não significa tempo próprio, mas tempo relativo,
isto é, do enquadramento do ato verbal.
T lu-o-nt- ti-ye-nt- di-do-nt- ß-sta-nt- ß-e-nt-
M. lævn tiyeÛw-y¡ntow didoæw-dñntow ßst‹w-‹ntow ßeÛw-¡ntow
F. læousa‘ tiyeÝsa-shw didoèsa-shw ßstsa-shw ßeÝsa-shw
N. lèon tiy¡n-y¡ntow didñn-dñntow ßst‹n-‹ntow ß¡n-¡ntow

Notas:
1. A característica do particípio ativo é -nt no grego e -nt- no latim e
línguas latinas.
2. O nom. sing. masc. se faz com a desinência -w, e o encontro desse -w
com o -nt- do tema tem tratamentos diferentes:
a) - Com vocalismo o :
T.: lu-o-nt- > læont-w > læ0n-w > læon> lævn
• alongamento compensatório o > v antes de -n, sobre o modelo de l¡vn
- l¡ontow - l¡ousi, ou, mais provavelmente, para evitar um tritongo
nos temas verbais em u e i.

mur05.p65 349 22/01/01, 11:37


350 a flexão verbal

Os particípios do infectum dos verbos de tema em consoante ou


semivogal (verbos em -v) se constroem sobre esse modelo.
Mas: T.: di-do-nt- > didñnt-w > didñn-w > didoæw
• alongamento compensatório o > ou antes de -w, sobre o modelo de
T.: ôdñnt- > ôdñnt-w > ôdñn-w > ôdoæw 30
3. Com outras vogais: síncope sucessivamente do t e do n e alongamen-
to compensatório:
tiy¡ntw > tiy¡n-w > tiyeÛw alongamento compensatório -e > ei
ß¡nt-w > ß¡n-w > ßeÛw alongamento compensatório -e > ei
ßst‹ntw > ßst‹n-w > ßst‹w alongamento compensatório -a
deiknæntw > deiknænw > deiknæw alongamento compensatório -u
4. O feminino de todos esses particípios se forma com o sufixo -ja
lu-o-nt-ja > luontia > luonsia > luousia > læousa
læousa é um tema em -a impuro (faz o gen. sing. em -hw e o
dat./loc. instr. singular -ú).
Também: tiyeÝsa - shw
ßeÝsa - shw
ßstsa - shw
deiknèsa - shw
5. O neutro é o tema puro, e o -t em posição final sofre apócope no
nominativo, vocativo e acusativo singular.
læ-o-nt- > lèont > lèon
di-dñnt- > didñnt > didñn
tiy¡nt- > tiy¡nt > tiy¡n
ß¡nt- > ß¡nt > ß¡n
st‹nt- > st‹nt > st‹n
deiknunt- > deikænt > deiknæn

30 Os gramáticos não explicam esta diferença. Cremos que é por causa da tonicidade
do -o- em didñnt- e ôdñnt-. Mas há registro de didÅn, embora didoæw seja a
forma mais empregada.

mur05.p65 350 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 351

Infinitivo
læ-ein - estar desligando, estar começando a desligar, estar no processo
de desligar.
Não há idéia de tempo nessas expressões; apenas aspecto e modo.
Infinitivos: læ-ein ti-y¡-nai di-dñ-nai ß-st‹-nai ß-¡-nai
Há duas desinências do infinitivo ativo:
- en /-een (-hn) e -nai
- lu-e-en > læeen > læein
- tiy¡-nai, - didñ-nai, - ßst‹-nai, - ß¡-nai

II. Passado:

Imperfeito
¦-lu-o-n: eu desligava, eu estava desligando
• O ¤- que se antepõe ao tema chama-se aumento: é a marca do passado.
• Só se usa no indicativo.
• O passado usa desinências secundárias.
• Não há outros modos no passado; só o indicativo.

S. ¦-lu-o-n ¤-ti-yh-n/ein ¤-dÛ-dv-n/oun á-sth-n á-h-n/ein


¦-lu-e-w ¤-tÛ-yhw/eiw ¤-dÛ-dv-w/ouw á-sth-w á-h-w/eiw
¦-lu-e ¤-tÛ-yh/ei ¤-dÛ-dv/ou á-sth á-h/ei
P. ¤-læ-o-men ¤-tÛ-ye-men ¤-dÛ-do-men á-sta-men á-e-men
¤-læ-e-te ¤-tÛ-ye-te ¤-dÛ-do-te á-sta-te á-e-te
¦-lu-o-n ¤-tÛ-ye-san ¤-dÛ-do-san á-sta-san á-e-san
D. ¤-læ-e-ton ¤-tÛ-ye-ton ¤-dÛ-do-ton á-sta-ton á-e-ton
¤-lu-¡-thn ¤-ti-y¡-thn ¤-di-dñ-thn ß-st‹-thn ß-¡-thn

Notas:
1. Como no presente, os verbos em -mi, no singular do imperfeito ativo,
têm vogal temática longa e no plural, breve.

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352 a flexão verbal

2. Nas três pessoas do singular, os verbos em -mi, menos ásthmi31, po-


dem ditongar a vogal temática longa. Assim: -h-> ei ; -v- > ou
¤-tÛyei-n ¤-dÛ-dou-n á-ei-n
¤-tÛ-yei-w ¤-dÛ-dou-w á-ei-w
¤-tÛ-yei ¤-dÛ-dou á-ei
3. Na 3a pessoa do plural desses mesmos verbos, para não confundir com
a 1a pessoa, usa-se emprestada a desinência -san da 3a pessoa do plu-
ral do aoristo sigmático. Com lu-v não, porque seria igual ao aoris-
to; nos outros, o aoristo não tendo redobro, a distinção se mantém.

O aumento
O imperfeito (passado do presente, infectum) recebe, no indicati-
vo, a marca do passado.
Aliás é só pelo indicativo que o grego exprime o passado. Não há
outros modos no passado.
O grego só tem um passado para cada aspecto:
o do infectum, inacabado: imperfeito
o do aoristo: aoristo narrativo
o do perfectum, acabado: mais-que-perfeito
O aumento é um ¤-, que seria um antigo advérbio de tempo, ante-
posto ao tema do verbo e pode ser silábico ou temporal.
É silábico quando, anteposto ao tema verbal iniciado por consoan-
te, faz sílaba independente monovocálica:
¦-graf-o-n eu escrevia;
e é temporal quando, anteposto ao tema verbal iniciado por vogal breve,
provoca um hiato e a conseqüente contração:
¤-¡lpiz-o- n > ±lpizon eu esperava
¤-¡x-o-n > eäxon eu tinha
¤-‹g-o-n > ·gon eu conduzia
¤-orgiz-ñ-mhn > Èrgizñmhn eu me irritava

31 É que esses três verbos alternam a vogal temática longa/breve no mesmo timbre:
h/e, v/o; mas ásthmi alterna com ástami.

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a flexão verbal 353

O aumento não faz parte da flexão; não é uma ptÇsiw = casus =


caso = desinência; é um prefixo ou afixo que não se funde com o tema;
tem uma função própria e é usado quando se precisa dele, para marcar o
passado32.

Aumentos temporais
Como se vê, contrações em posição inicial diferem um pouco das
em posição interna no encontro de ¤ - + -e e ¤- + -o;
Enquanto em posição média, interna, resultam respectivamente em
ditongo -ei- e -ou-, em posição inicial resultam em ±- e È-.
Alguns exemplos de aumentos temporais:
a)
gv eu conduzo ¦-agon > ·gon
›dv eu canto ¦-&don > Âdon
aÞt¡v > aÞtÇ eu exijo ¤-aÛteon > ¾toun
aÞsy‹nomai eu sinto ¤-aisyñmhn > ¼syñmhn
¤lpÛzv eu espero ¤-¡lpizon > ³lpizon
eÞk‹zv eu imagino ¤-eÛkazon > ¾kazon
ôrgÛzomai, eu me exalto ¤-orgizñmhn > Èrgizñmhn
oÞk¡v > oÞkÇ eu habito ¤-oÛkeon > Õkoun
oämai eu penso, eu acho ¤-oÛmhn > Õmhn
ßketeæv eu suplico ¤-ik¡teuon > ßk¡teuon
êbrÛzv eu ofendo ¤-æbrizon > ìbrizon
Èfel¡v > ÈfelÇ eu ajudo ¤-vf¡loun > Èf¡loun
´kv eu venho ¤-°kon > ¸kon
aéj‹nv eu aumento ¤-aæjanon > hëjanon
eêrÛskv eu acho ¤-eæriskon > hìriskon
oét‹zv, eu machuco ¤-oætazon > oëtazon

32 O aumento não é flexão; não se relaciona com a pessoa gramatical como as desi-
nências pessoais: é um acréscimo, um apêndice; é externo ao tema. Não é um
morfema. Isto mostra que o tempo não está na forma verbal.

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354 a flexão verbal

b) Alguns verbos que começam com ¤- começavam primitivamente por


s- ou W-. A síncope do -s- e do -W- em posição intervocálica depois
do acréscimo do aumento provoca o hiato que se desfaz na contração
em -ei- e não em -h-.
Os verbos são os seguintes:
¤‹v eu permito ¤W¡aon > eàvn
¤yÛzv eu costumo ¤W¡yizon > eàyizon
¥lÛssv eu faço girar ¤W¡lisson > eálisson
§lkv eu puxo, arrasto ¤W¡lkon > eålkon
¤rg‹zomai eu trabalho ¤Wergazñmhn > eÞrgzñmhn
¥sti‹v eu recebo em casa ¤WestÛaon > eßstÛvn
§pomai eu acompanho ¤-sepñmhn > eßpñmhn
§rpv, eu rastejo ¦-serpon > eårpon
¦xv eu seguro, eu tenho ¦-sexon > eäxon
c) Em alguns verbos, também por causa da síncope do W intervocálico,
mas entre vogais de timbre diferente, não se fez a contração, e o au-
mento recai sobre a segunda vogal:
¥ort‹zv eu festejo Weort‹zv ¥-eñrtazon > ¥Årtazon
õr‹v > õrÇ eu olho, vejo Wor‹v ¤-ñraon > ¥Årvn
Žn-oÛgv eu abro ŽnWoÛgv Žn-¡-oigon > Žn¡Ägon
d) Há outros também que, por causa do W inicial e depois em posição
intervocálica com o acréscimo do aumento, não fazem a contração entre
vogais de timbre diferente:
g-nu-mi eu quebro ¤W‹gnuon > ¤‹gnuon
lÛskomai eu sou pego ¤Waliskñmhn > ¥aliskñmhn
Èy¡v > ÈyÇ eu empurro ¤WÅyeon > ¤Åyoun
Èn¡omai > Ènoèmai eu vendo ¤Wvneñmhn > ¤vnoæmhn
e) Os três verbos seguintes fazem o aumento em ±- paralelamente ao
aumento em ¤- :
dænamai eu posso ±-dun‹mhn ¤-dun‹mhn
boælomai, eu quero ±-boulñmhn ¤-boulñmhn
m¡llv estou para, eu vou ³-mellon ¦-mellon

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a flexão verbal 355

Aumento nos verbos compostos


Exatamente porque o grego entende os compostos como “com-
postos”, ele põe o aumento antes do verbo e não antes da preposição.
prost‹ttv, eu prescrevo, ordeno pros-¡-tatton
¤mb‹llv eu jogo dentro ¤n-¡-ballon
¤kb‹llv eu jogo fora ¤j-¡-ballon
suggignÅskv eu compreendo, eu perdoo sun-e-gÛgnvskon
¤kf¡rv eu retiro ¤j-¡-feron
¤gkalæptv eu cubro, envolvo ¤n-e-k‹lupton
sumbaÛnv, eu ando junto sun-¡-bainon

Acidentes fonéticos no encontro das preposições e do aumento:


a) Observe que, como em ¤mb‹llv e em ¤n-¡-ballon, as consoantes
finais das preposições se assimilam parcialmente ou não com a conso-
ante inicial do verbo; no imperfeito, com a presença da vogal-aumen-
to, elas retomam sua forma normal.
b) Quando a preposição termina em vogal, ela sofre elisão antes do aumento;
dia-speÛrv eu espalho, disperso di-¡-speiron
¤pi-tr¡pv eu dirijo sobre ¤p-¡-trepon
Žpo-tr¡pv eu afasto, desvio Žp-¡-trepon
c) Mas, nos compostos com peri, não se faz a elisão da vogal final da
preposição, porque esse -i é a desinência do locativo e é longo.
peri-tr¡pv eu faço dar a volta peri-¡-trepon
d) Nos compostos com a preposição prñ normalmente se processa uma
contração;
pro-tr¡pv eu excito proætrepon
mas não é rara a manutenção do hiato:
proÛsthmi ponho diante de, pro¡sthka
e) Em alguns casos, ou porque a composição é muito antiga, ou porque o
falante grego já a fundiu semanticamente e a sente como um todo, o
aumento se antepõe à forma inteira, e não entre as partes:
Žnti-dik¡v eu contradigo ±nti-dÛkoun
Ž-dik¡v eu cometo injustiça ±dÛkoun
dus-tux¡v estou sem sorte ¤-dustæxoun

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356 a flexão verbal

plhm-mel¡v eu cometo infração ¤-plhmm¡loun


Žmfis-bht¡v eu estou em dificuldade ±mfis-b®toun
f) Mas às vezes o falante grego hesita entre duas formas e usa um ou dois
aumentos:
• um antes do verbo composto e outro entre o primeiro e o segundo
elemento:
¤n-oryñv eu endireito ±n-Åryoun
di-oik¡v eu administro ¤-di-Ðkoun
Žn-¡xomai eu agüento, suporto ±n-eixñmhn
• ou então só antes do segundo elemento:
dus-arest¡v não estou mais contente dus-hr¡stoun

VOZ MÉDIA E PASSIVA:

Indicativo presente
læ-o-mai Voz média: eu estou desligando, desligo para mim.
Voz passiva: estou sendo desligado, sou desligado.

S. læ-o-mai tÛ-ye-mai dÛ-do-mai á-sta-mai á-e-mai


læ-e-sai > ú/ei tÛ-ye-sai dÛ-do-sai á-sta-sai á-e-sai
læ-e-tai tÛ-ye-tai dÛ-do-tai á-sta-tai á-e-tai
P. lu-ñ-meya ti-y¡-meya di-dñ-meya ß-st‹-meya ß-¡-meya
læ-e-sye tÛ-ye-sye dÛ-do-sye á-sta-sye á-e-sye
læ-o-ntai tÛ-ye-ntai dÛ-do-ntai á-sta-ntai á-e-ntai
D. lu-ñ-meyon tÛ-y¡-meyon di-dñ-meyon ß-st‹-meyon ß-¡-meyon
læ-e-syon tÛ-ye-syon dÛ-do-syon á-sta-syon á-e-syon

1. Na 2 a pessoa do sing., nos verbos em -v, o -s- em posição desinencial


intervocálica sofre uma síncope e, no ático, o hiato formado é reduzido
por uma contração -esai > eai > ú / ei; no jônico, o hiato permanece.
A variante -ei é ática e vamos encontrá-la com freqüencia, sobre-
tudo em Platão e Aristófanes. À primeira vista, ela se presta a confu-
são com a 3a pessoa do singular da voz ativa. Mas o contexto resolve o
problema.

mur05.p65 356 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 357

2. Nos verbos em -mi, por serem de tema em vogal, a desinência é -sai


porque não há vogal de ligação e não há síncope do -s-. Essa distinção
entre vogal de ligação e vogal temática é clara: a vogal temática é es-
sencial; a vogal de ligação é apenas funcional, instrumental. A vogal
temática se mantém e a vogal de ligação se acomoda.
Já vimos na flexão da voz ativa essa diferença de tratamento entre
vogal temática e vogal de ligação
læ-o-nti > læ-o-nsi > ousi
tÛ-ye-nti > tÛ-ye-ati > ¡asi

Subjuntivo
læ-v-mai - Voz média - vou desligar para mim? (deliberativo); des-
ligue para mim! (exortativo); caso eu desligue para mim, se eu desligar para
mim (¤Œn) (eventual).
Voz passiva - vou ser desligado? (deliberativo); sejamos desligados!
(exortativo), caso eu seja desligado, se eu for desligado (eventual - ¤Œn/’n/
µn).
A tradução do subjuntivo grego em português se faz quer pelo pre-
sente do subjuntivo quer pelo futuro do subjuntivo.33
Não há idéia de tempo nessas expressões; apenas aspecto e modo.

S. læ-v-mai ti-yÇ-mai di-dÇ-mai ß-stÇ-mai ß-Ç-mai


læ-h-sai> ú ti-y°-sai > » di-dÇ-sai > Ò ß-st°-sai > » ß-°-sai > »
læ-h-tai ti-y°-tai di-dÇ-tai á-st°-tai ß-°-tai
P. lu-Å-meya ti-yÅ-meya di-dÅ-meya ß-stÅ-meya ß-Å-meya
læ-h-sye ti-y°-sye di-dÇ-sye ß-st°-sye ß-°-sye
læ-v-ntai ti-yÇ-ntai di-dÇ-ntai ß-stÇ-ntai ß-Ç-ntai
D. lu-Å-meyon ti-yÅ-meyon di-dÅ-meyon ß-stÅ-meyon ß-Å-meyon
læ-h-syon ti-y°-syon di-dÇ-syon ß-st°-syon ß-°-syon

33 Nas expressões da repetição do presente, na medida em que o ato repetido não é


“fechado” > indicativo, o grego, coerentemente, emprega o subjuntivo com ’n,
porque se trata de um eventual. Em português usa-se o indicativo: quando, sempre
que ele vem (venha) > ÷tan/¤Œn ¦lyú.

mur05.p65 357 22/01/01, 11:37


358 a flexão verbal

Notas:
1. O -s- da 2a pessoa do singular, -sai, está em posição desinencial em
todos os verbos acima (vogal longa, característica do subj. e desinên-
cias pessoais); por isso ele sofre síncope em todos, o que, no ático,
resulta em hiato e posterior contração.
læ-h-sai > læhai > læhi > læú / læhi
ti-y¡-h-sai > tiy°sai > tiy°ai > tiy°i > tiy» / tiy°i
di-d ñ-h-sai > didÇsai > didÇai > didÇi > didÒ / didÇi
ß-st‹-h-sai > ßst°sai > ßst°ai > ßst°i > ßst» / ßst°i
ß-¡-h-sai > ß°sai > ß°ai > ß°i > ß» / ß°i
2. Novamente, nos verbos em -mi, as formas do subjuntivo são contratas,
porque a vogal longa do subjuntivo se acrescenta à vogal breve do tema.
Ver quadro demostrativo de flexão a seguir.

Quadro demostrativo da flexão


do subjuntivo médio/passivo:

T. tÛyh- / tiye-

S. ti-y¡-v-mai > tiyÇmai


ti-y¡-h-sai > tiy°sai > tiy°ai > tiy°i /tiy»
ti-y¡-h-tai > tiy°tai
P. ti-ye-Å-meya > tiyÅmeya
ti-y¡-h-sye > tiy°sye
ti-y¡-v-ntai > tiyÇntai
D. ti-ye-Å-meyon > tiyÅmeyon
ti-y¡-h-syon > tiy°syon

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a flexão verbal 359

T. didv-/dido-
S. didñ-v-mai > didÇmai
didñ-h-sai > didÇsai > didÇai > didÇi / didÒ
didñ-h-tai > didÇtai
P. dido-Å-meya > didñmeya
didñ-h-sye > didÇsye
didñ-v-ntai > didÇntai
D. dido-Å-meyon > didÅmeyon
didñ-h-syon > didÇsyon

T. ßsth- / ßsta-
S. ßst‹-v-mai > ßstÇmai
ßst‹-h-sai > ßst°sai > ßst°ai > ßst°i / ßst»
ßst‹-h-tai > ßst°tai
P. ßsta-Å-meya > ßstÅmeya
ßst‹-h-sye > ßst°sye
ßst‹-v-ntai > ßstÇntai
D. ßsta-Å-meyon > ßstÅmeyon
ßst‹-h-syon > ßst°syon

T. ßh- / ße-
S. ß¡-v-mai > ßÇmai
ß¡-h-sai > ß°sai > ß°ai > ß°i / ß»
ß¡-h-tai > ß°tai
P. ße-Å-meya > ßÅmeya
ß¡-h-sye ‘> ß°sye
ß¡-v-ntai > ßÇntai
D. ße-Å-meyon > ßÅmeyon
ß¡-h-syon > ß°syon

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360 a flexão verbal

Optativo
lu-oÛ-mhn - Voz média - eu poderia estar desligando para mim, eu
desligaria para mim (n) (possível, afirmação atenuada), eÞ/eàye (oxalá,
possível, desejo, voto) eu pudesse estar desligando para mim, ah! se eu pu-
desse desligar para mim.
Voz passiva - se eu pudesse, eu poderia ser desligado!- eÞ, eàye (possí-
vel, desejo, voto) se eu pudesse, eu poderia estar sendo desligado.
A tradução do optativo grego em português se faz quer pelo im-
perfeito do subjuntivo na condicionante (prótase), quer pelo condicional
simples na condicionada (apódose).
O mesmo acontece nas orações independentes: imperfeito do sub-
juntivo ou condicional. Também pelas locuções com o verbo poder, como
está nas traduções acima 34.
Não há idéia de tempo nessas expressões; apenas aspecto e modo.

S. lu-oÛ-mhn ti-ye-Û-mhn di-do-Û-mhn ß-sta-Û-mhn ß-e-Û-mhn


læ-oi-so > oio ti-ye-Ýs0 > eÝo di-do-Ý-so > oÝo ß-sta-Ý-so > aÝo ß-e-Ý-so > eÝo

læ-oi-to ti-ye-Ý-to di-do-Ý-to ß-sta-Ý-to ß-e-Ý-to

P. lu-oÛ-meya ti-ye-Û-meya di-do-Û-meya ß-sta-Û-meya ß-e-Û-meya


læ-oi-sye ti-ye-Ý-sye di-do-Ý-sye ß-sta-Ý-sye ß-e-Ý-sye
læ-oi-nto ti-ye-Ý-nto di-do-Ý-nto ß-sta-Ý-nto ß-e-Ý-nto

D. lu-oÛ-meyon ti-ye-Û-meyon di-do-Û-meyon ß-sta-Û-meyon ß-e-Û-meyon


lu-oÛ-syhn ti-ye-Û-syhn di-do-Û-syhn ß-sta-Û-syhn ß-e-Û-syhn

Notas:
1. O -s- em posição desinencial intervocálica na 2a pessoa do singular de
todos os verbos sofre síncope e põe em contato duas vogais e uma
semivogal, o que resulta em tritongo, dispensando a contração.
læoiso > læoio tiyeÝso > tiyeÝo, didoÝso > didoÝo
ßstaÝso > ßstaÝo, ßeÝso > ßeÝo

34 Ver notas sobre a morfologia do optativo no quadro de flexão da voz ativa.

mur05.p65 360 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 361

2. Há um falso ditongo na seqüência da vogal temática breve dos verbos


de tema em vogal e o -i- longo da característica do optativo; isso ex-
plica a posição fixa da tônica.
3. Primitivamente, as vogais temáticas de tiye-Ýs0, dido-Ýso, Þsta-Ýso,
ße-Ýso deveriam ser pronunciadas separadamente da marca do optativo;
mas nos verbos de tema em consoante, soante e semivogal, a vogal de
ligação fazia bloco com o -i- do optativo: læ-oi-so, f¡r-oi-men.

Imperativo
læ-e-so > læeo > læou - læ-e-sye -
Voz média: desliga para ti/começa a desligar para ti - desligai para
vós, começai a desligar para vós; ele/eles desligue(m) para si/ comece(m) a des-
ligar para si.
Voz passiva: tu sê desligado / começa a ser desligado; vós sede desliga-
dos / começai a ser desligados; ele/eles seja(m) desligado(s) / comece(m) a ser
desligados.
Não há idéia de tempo nessas expressões; apenas aspecto e modo.

S.
læ-e-so > ou tÛ-ye-so > ou dÛ-do-so > ou á-sta-so > v á-e-so > ou
lu-¡-syv ti-y¡-syv di-dñ-syv ß-st‹-syv ß-¡-syv

P.
læ-e-sye tÛ-ye-sye dÛ-do-sye á-sta-sye á-e-sye
lu-¡-syvn / ti-y¡-syvn / di-dñ-syvn / ß-st‹-syvn / ß-¡-syvn /
lu-¡-stvsan35 ti-y¡-stvsan di-dñ-stvsan ß-st‹-stvsan ß-¡-stvsan

D. læ-e-syon tÛ-ye-syon dÛ-do-syon á-sta-syon á-e-syon


lu-¡-syvn ti-y¡-syvn di-dñ-syvn ß-st‹-syvn ß-¡-syvn

35 Como na voz ativa, há uma variante de 3a pessoa do plural, mas é usada com me-
nos freqüência; é um pouco rebuscada.

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362 a flexão verbal

Notas:
1. Nas formas da 2a pessoa do singular apenas a dos verbos de tema em
consoante, soante e semivogal sofrem contração regular depois da sín-
cope do -s- intervocálico, entre vogal de ligação e vogal desinencial; a
contração nos outros verbos - de tema em vogal - aconteceu por ana-
logia, porque o -s- intervocálico entre vogal temática e desinencial
em geral não sofre síncope; por isso é muito comum encontrarem-se
as formas não contratas.
2. Notar a presença coerente das desinências pessoais também no imperativo:
2a pessoa do singular: -so
a
2 pessoa do plural: -tye > sye
3a pessoa do singular: -tyv > -syv
a
3 pessoa do plural: -ntyvn > -tyvn > -syvn

Particípio
lu-ñ-menow:
Voz média: estou desligando para mim (médio).
Voz passiva: estou sendo desligado, sou desligado.
• Sempre simultâneo ao ato expresso pelo verbo da oração principal.
• Não há idéia de tempo nessas expressões, apenas aspecto.
• A simultaneidade não significa tempo próprio, mas relativo; isto é, o
enquadramento do ato verbal.

Tema lu-ñ-meno- ti-y¡-meno- di-dñ-meno- ß-st‹-meno- ß¡-meno-


Masc. lu-ñ-menow ti-y¡-menow di-dñ-menow ß-st‹-menow ß-¡-menow
Fem. lu-o-m¡nh ti-ye-m¡nh di-do-m¡nh ß-sta-m¡nh ß-e-m¡nh
Neut. lu-ñ-menon ti-y¡-menon di-dñ-menon ß-st‹-menon ß-¡-menon

Notas:
1. O tema do particípio médio ou passivo é -meno/menh/meno para to-
dos os aspectos, exceto para o aoristo passivo.
2. Nos verbos de temas em consoante ou soante (semivogal) há vogal de
ligação, nos outros não, por desnecessária.

mur05.p65 362 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 363

Infinitivo
læ-e-syai:
Voz média: desligar para si, estar desligando para si.
Voz passiva: estar sendo desligado, ser desligado.
Não há idéia de tempo nessas expressões, apenas aspecto.
læ-e-syai tÛ-ye-syai dÛ-do-syai á-sta-syai áe-syai
Notas:
1. A desinência do infinitivo médio ou passivo é -syai para todos os
verbos, em todos os aspectos, exceto para o aoristo passivo.
2. Nos verbos de temas em consoante ou soante (semivogal) há vogal de
ligação, nos outros não, por desnecessária.

Imperfeito
¤-lu-ñ-mhn:
Voz média: eu desligava, estava desligando para mim.
Voz passiva: eu era desligado, eu estava sendo desligado.

S. ¤-lu-ñ-mhn ¤-ti-y¡-mhn ¤-di-dñ-mhn ß-st‹-mhn ß-¡-mhn


¤-læ-e-so > ou ¤-tÛ-ye-so ¤-dÛ-do-so‘ á-sta-so > v á-e-so
¤-læ-e-to ¤-tÛ-ye-to ¤-dÛ-do-to á-sta-to á-e-to
P. ¤-lu-ñ-meya ¤-ti-y¡-meya ¤-di-dñ-meya ß-st‹-meya ß-¡-meya
¤-læ-e-sye ¤-tÛ-ye-sye ¤-dÛ-do-sye á-sta-sye á-e-sye
¤-læ-o-nto ¤-tÛ-ye-nto ¤-dÛ-do-nto á-sta-nto á-e-nto
D. ¤-læ-e-syon ¤-tÛ-ye-syon ¤-dÛ-do-syon á-sta-syon á-e-syon
¤-lu-¡-syhn ¤-ti-y¡-syhn ¤-di-dñ-syhn ß-st‹-syhn ß-¡-syhn

Notas:
1. Observar novamente que o -s- sofre síncope apenas depois de vogal de
ligação na 2a pessoa do singular de læv:
¤-læ-e-so > ¤læeo > ¤læou
No caso de á-sta-so > á-sta-o > ástv é por analogia com o aoristo
sigmático, ¤læsaso > ¤læsao > ¤læsv, que se faz a contração.

mur05.p65 363 22/01/01, 11:37


364 a flexão verbal

2. Constatar que em toda a flexão do infectum nós tivemos


a) • de um lado, 4 verbos de tema em vogal breve e por isso a vogal
de ligação é dispensável; na verdade poderiam ser chamados de
verbos temáticos por terem toda a flexão construída sobre o tema;
b) • de outro lado, um verbo de tema em soante (lu-), (semivogal,
tratada como consoante), que poderia ser em consoante (fer-) e
por isso se fez necessária a vogal de ligação.
3. Observar também que os 4 verbos temáticos têm a vogal temática lon-
ga apenas no singular da voz ativa do presente e imperfeito ativos; aqui a
vogal temática é breve.
4. Ainda, dentro do sistema do infectum, devemos incluir alguns temas
de verbos denominativos, que as gramáticas chamam de verbos contratos.
São formações verbais com sufixo -j- sobre temas nominais em vogal:
nika-j-v (nÛkh - vitória) eu venço
dhlo-j-v (d°lo-w - claro) eu revelo
file-j-v (fÛlo-w - amigo) eu amo
ôxe-j-v öxo-w - veículo) eu transporto em veículo, eu viajo
koni-j-v kñni-w - cinza) eu faço cinza, eu reduzo a cinza
ghru-j-v g°ri-w - grito) eu grito
dakru-j-v (d‹kru - lágrima) eu choro

Na flexão sobre o tema do infectum o -j- se encontra em posição


intervocálica e naturalmente sofre síncope, pondo em contato a vogal
temática e a vogal de ligação.
No dialeto ático, o hiato resultante é eliminado pela contração, no
jônico, o hiato permanece.
Nos temas em semivogal, depois da síncope do -j- já em posição
intervocálica, formam-se os ditongos:
-Ûv / -æv; -Ûeiw / -æeiw ; -Ûei / -æei.
Na flexão sobre os outros dois temas, aoristo/futuro e perfeito não
há contrações, porque não há vogal de ligação, mas, por uma espécie
de compensação, as vogais temáticas são alongadas:

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a flexão verbal 365

presente futuro aoristo perfeito


nik‹-v > nikÇ nik®sv ¤nÛkhsa nenÛkhka36
dhlñ-v > dhlÇ dhlÅsv ¤d®lvsa ded®lvka
fil¡-v > filÇ fil®sv ¤fÛlhsa pefÛlhka
ދ-o-mai > iÇmai) eu curo fut. ދsomai.*
dr‹-v > drÇ eu ajo, eu faço fut. dr‹sv
Há alguns verbos antigos de tema em -a que fazem as contrações
como se fossem de tema em -h. Os mais usados são:
z‹-v eu estou vivo, eu vivo
dic‹-v eu tenho sede
pein‹-v eu tenho fome
xr‹-o-mai eu me sirvo de, eu uso
c‹v eu coço, eu raspo (as cordas da lira)
Ver quadro demostrativo de flexão nas p. 380.
Nos verbos ßdrÅv - eu suo, =igÅv - eu tremo, tenho frissão, a
vogal temática longa -v absorve todas as vogais das desinências e o -i
desinencial ou do optativo se subscreve ou se adscreve.
Alguns temas verbais monossilábicos em -W / -eW, com a síncope
do W em posição intervocálica, só fazem contrações entre vogais do mes-
mo timbre.
Contudo, a maioria deles desenvolve uma forma paralela em que o
W se vocaliza em -u- e forma ditongo com a vogal do tema;
d¡v eu amarro, eu prendo deW- deæ-v
y¡v eu corro yeW- yeæ-v
n¡v eu nado neW- neæ-v
pl¡v eu navego pleW- pleæ-v
pn¡v eu sopro pneW- pneæ-v
=¡v eu fluo, escorro =eW- =eæ-v
x¡v eu verto, sirvo xeW- xeæ-v
d¡v eu careço, preciso deW- deæ-v
j¡v eu raspo, lixo, aliso jeW- jeæ-v

36 Quando o -a temático é precedido de vogal ou -r- o alongamento se faz na vogal


do mesmo timpre -a- e não em -h-.

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366 a flexão verbal

Os verbos:
kaWv > kaæv/k‹v / kaWjv > kaÛv - eu queimo
klaWv > kl‹v /klaWjv > klaÛv - eu choro
por causa da síncope do W intervocálico no infectum, só fazem as contra-
ções das vogais do mesmo timbre; nos temas dos outros aspectos (aoristo.
futuro e perfectum) vocalizam o W antes da consoante:
kaÛv /kaæv kaæsv ¦kausa k¡kauka
klaÛv /klaæv klaæsomai ¦klausa k¡klauka
O mesmo acontece com todos os verbos em -eW-; constroem-se o
aoristo (futuro) e perfeito sobre o tema com o W vocalizado
pl¡v pleæsv ¦pleusa p¡pleuka
Podemos incluir aqui também os verbos denominativos formados
com o sufixo eW / W sobre temas consonânticos:
õdñw õdeWv > õdeæv eu caminho
paid paideWv > paideæv eu educo

Quadro de flexão dos verbos denominativos


de tema em vogal e sufixo -j-
Daremos a seguir o quadro geral DO INFECTUM dos verbos de tema
em vogal e sufixo -j-.37
Deve-se notar que as contrações das vogais temáticas depois da sín-
cope do -j- intervocálico com as duas vogais de ligação -e-/-o- são naturais:
Tema em -a: a+o>v -a+e>a
Tema em -o: o + o > ou - o + e > ou / - o+ei > oi*
Tema em -e: e + o > ou - e + e > ei / - e +oi > oi*

37 Na verdade, não são verbos de tema em vogal, mas verbos de tema em soante
(semivogal -j-). Nas formas-base apresentadas já houve a síncope do -j-; é a forma
final. Um quadro demostrativo completo será apresentado a seguir. Ele é instruti-
vo, porque se o lermos com atenção, veremos que cada forma tem um comporta-
mento individual, dentro das normas fonéticas do jônico e do ático.

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a flexão verbal 367

* De fato, a evolução dessa contração é a seguinte:


-o + -e > ou + -i > oui > oi
-e + -o > ou + -i > oui > oi
Vogal longa absorve vogal breve.
No encontro de vogais a > e / e > a prevalece o timbre da vogal
anterior e o resultado é a longa correspondente h ou a longo.

VOZ ATIVA:

Indicativo presente
eu venço eu revelo eu amo
S. nik‹-v > nikÇ dhlñ-v > dhlÇ fil¡-v > filÇ
nik‹-eiw > nik˜w / nikiw dhlñ-eiw > dhloÝw fil¡-eiw > fileÝw
nik‹-ei > nik˜ / niki dhlñ-ei > dhloÝ fil¡-ei > fileÝ
P. nik‹-o-men > nikÇmen dhlñ-o-men > dhloèmen fil¡-o-men > filoèmen
nik‹-e-te > nikte dhlñ-e-te > dhloète fil¡-e-te > fileÝte
nik‹-ousi > nikÇsi dhlñ-ousi > dhloèsi fil¡-ousi > filoèsi
D. nik‹-e-ton > nikton dhlñ-e-ton > dhloèton fil¡-e-ton > fileÝton
nik‹-e-ton > nikton dhlñ-e-ton > dhloèton fil¡-e-ton > fileÝton

Subjuntivo
vença/vencer revele/revelar ame/amar
S. nik‹-v > nikÇ dhlñ-v > dhlÇ fil¡-v > filÇ
nik‹-úw > nik˜w dhlñ-úw>dhloÝw / dhlÒw fil¡-úw > fil»w
nik‹-ú > nik˜ dhlñ-ú > dhloÝ / dhlÒ fil¡-ú > fil»
P. nik‹-v-men > nikÇmen dhlñ-v-men > dhlÇmen fil¡-v-men > filÇmen
nik‹-h-te > nikte dhlñ-h-te > dhlÇte fil¡-h-te > fil°te
nik‹-v-si > nikÇsi dhlñ-v-si > dhlÇsi fil¡-v-si > filÇsi
D. nik‹-h-ton > nikton dhlñ-h-ton > dhlÇton fil¡-h-ton > fil°ton
nik‹-h-ton > nikton dhlñ-h-ton > dhlÇton fil¡-h-ton > fil°ton

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368 a flexão verbal

Optativo
venceria/vencesse revelaria/revelasse amaria/amasse*
S. nika-oÛh-n > nikÐhn dhlo-oÛh-n > dhloÛhn/dhloÝmi file-oÛh-n > filoÛhn
nika-oÛh-w > nikÐhw dhlo-oÛh-n > dhloÛhw/dhloÝw file-oÛh-w > filoÛhw
nika-oÛh > nikÐh** dhlo-oÛh > dhloÛh/dhloÝ** file-oÛh > fileoÛh**

P. nik‹-oi-men > nikÒmen dhlñ-oi-men > dhloÝmen fil¡-oi-men > filoÝmen


nik‹-oi-te > nikÒte dhlñ-oi-te > dhloÝte fil¡-oi-te > filoÝte
nik‹-oi-en > nikÒen dhlñ-oi-en > dhloÝen fil¡-oi-en > filoÝen

D. nik‹-oi-ton > nikÒton dhlñ-oi-ton > dhloÝton fil¡-oi-ton > filoÝton


nika-oÛ-thn > nikÐthn dhlo-oÛ-thn > dhloÛthn file-oÛ-thn > filoÛthn

* Também: poderia/pudesse vencer, revelar, amar.


** As três pessoas do singular têm variantes com o vocalismo zero do optativo:
tim‹oimi > timÅimi / timÒmi - tim‹oiw > timÇiw / timÇw / tim‹oi > timÇi
/ timÒ; dhlñoimi > dhloèimi > dhloÝmi - dhlñoiw > dhloèiw > dhloÝw -
dhlñoi > dhloèi > dhloÝ; fil¡oimi > filoèimi > filoÝmi - fil¡oiw > filoèiw >
filoÝw - fil¡oi > filoèi > filoÝ.

Imperativo
vence/vencei revela/revelai ama/amai *
S.
nÛka-e > nÛka d®lo-e > d®lou fÛle-e > fÛlei
nika-¡-tv > nik‹tv dhlo-¡-tv > dhloætv file-¡-tv > fileÛtv

P.
nik‹-e-te > nikte dhlñ-e-te > dhloète fil¡-e-te > fileÝte
nika-ñ-ntvn dhlo-ñ-ntvn file-ñ-ntvn
> nikÅntvn > dhloæntvn > filoæntvn

D. nik‹-e-ton > nikton dhlñ-e-ton > dhloèton fil¡-e-ton > fileÝton


nika-¡-tvn > nik‹tvn dhlo-¡-tvn > dhloætvn file-¡-tvn > fileÛtvn

* Imperativo de 3a pessoa:
ele vença, revele, ame
eles vençam, revelem, amem

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a flexão verbal 369

Particípio
vencendo, que vence revelando, que revela amando, que ama
tema nik‹-o-nt- dhlñ-o-nt- fil¡-o-nt-
Masc. nik‹-vn > nikÇn dhlñ-vn > dhlÇn fil¡-vn > filÇn
Fem. nik‹-ousa > nikÇsa dhlñ-ousa > dhloèsa fil¡-ousa > filoèsa
Neut. nik‹-on > nikÇn dhlñ-on > dhloèn fil¡-on > filoèn

Infinitivo
vencer, estar vencendo revelar, estar revelando amar, estar amando
niken > nikn dhloæen > dhloèn fil¡en > fileÝn

Indicativo imperfeito
vencia, estava vencendo revelava, estava revelando amava, estava amando
S. ¤-nÛka-o-n > ¤nÛkvn ¤-d®lo-o-n > ¤d®loun ¤-fÛle-o-n > ¤fÛloun
¤-nÛka-e-w > ¤nÛkaw ¤-d®lo-e-w > ¤d®louw ¤-fÛle-e-w > ¤fÛleiw
¤-nÛka-e > ¤nÛka ¤-d®lo-e > ¤d®lou ¤-fÛl-e > ¤fÛlei

P. ¤-nik‹-o-men > ¤nikÇmen ¤-dhlñ-o-men > ¤dhloèmen ¤-fil¡-o-men > ¤filoèmen


¤-nik‹-e-te > ¤nikte ¤-dhlñ-e-te > ¤-dhloète ¤-fil¡-e-te > ¤fileÝte
¤-nÛka-o-n > ¤nÛkvn ¤-d®lo-o-n > ¤d®loun ¤-fÛle-o-n > ¤fÛloun

D. ¤-nik‹-e-ton > ¤nikton ¤-dhlñ-e-ton > ¤dhloèton ¤-fil¡-e-ton > ¤fileÝton


¤-nika-¡-thn > ¤nik‹thn ¤-dhlo-¡-thn > ¤dhloæthn ¤file-¡-thn > ¤fileÛthn

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370 a flexão verbal

peinÇ (pein‹v) eu tenho fome


Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo
eu tenho fome eu tenha. (se) teria fome, tem (tu)
tiver fome tivesse fome* tende fome**
S. peinÇ peinÇ peinÅimhn/peinÐmhn
pein°iw/pein»w pein°iw/pein»w peinÅihw/peinÐhw peÛnh
pein°i/pein» pein°i/pein» peinÐih/peinÐh pein®tv
P. peinÇmen peinÇmen peinÒmen
pein°te pein°te peinÅite/peinÒte pein°te
peinÇsi peinÇsi peinÅien/peinÒen peinÅntvn
D. pein°ton pein°ton peinÅinton/peinÒnto pein°ton
pein°ton pein°ton peinÅithn/peinÐthn pein®tvn

* Também: poderia/pudesse ter fome.


** Imperativo de 3a pessoa: tenha ele/tenham eles fome.

Imperfeito: tinha fome estava tendo fome


S. ¤peÛnvn P. ¤peinÇmen D.
¤peÛnhw ¤pein°te ¤pein°ton
¤peÛnh ¤peÛnvn ¤pein®thn

Particípio: que tem fome


Tema Masc. Fem. Neut.
pein®ont- peinÇn-Çntow peinÇsa-Åshw penÇn-Çntow

Infinitivo: ter fome


pein°-en > pein°n

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a flexão verbal 371

VOZ MÉDIA E PASSIVA:

Indicativo
Voz média: venço, revelo, amo para mim/estou vencendo, revelando,
amando para mim.
Voz passiva: sou/estou sendo vencido, revelado, amado.

S. nik‹-o-mai > nikÇmai dhlñ-o-mai > dhloèmai fil¡-o-mai > filoèmai


nik‹-e-sai > nik˜ dhlñ-e-sai > dhlÒ fil¡-e-sai > fil»
nik‹-e-tai > niktai dhlñ-e-tai > dhloètai fil¡-e-tai > fileÝtai

P. nika-ñ-meya > nikÅmeya dhlo-ñ-meya > dhloæmeya file-ñ-meya > filoæmeya


nik‹-e-sye > niksye dhlñ-e-sye > dhloèsye fil¡-e-sye > fileÝsye
nik‹-o-ntai > nikÇntai dhlñ-o-ntai > dhloèntai fil¡-o-ntai > filoèntai

D. nik‹-e-syon > niksyon dhlñ-e-syon > dhloèsyon fil¡-e-syon > fileÝsyon


nik‹-e-syon > niksyon dhlñ-e-syon > dhloèsyon fil¡-e-syon > fileÝsyon

Subjuntivo
Voz média: vença, revele, ame, esteja vencendo, revelando, amando
para mim.
Voz passiva: seja/esteja sendo vencido, revelado, amado.

S. nik‹-v-mai > nikÇmai dhlñ-v-mai > dhlÇmai fil¡-v-mai > filÇmai


nik‹-h-sai > tim˜ dhlñ-h-sai > dhlÒ fil¡-h-sai > fil»
nik‹-h-tai > timtai dhlñ-h-tai > dhlÇtai fil¡-h-tai > fil°tai

P. nika-Å-meya > nikÅmeya dhlo-Å-meya > dhlÅmeya file-Å-meya>filÅmeya


nik‹-h-sye > niksye dhlñ-h-sye > dhlÇsye fil¡-h-sye > fil°sye
nik‹-v-ntai > nikÇntai dhlñ-v-ntai > dhlÇntai fil¡-v-ntai > filÇntai

D. nik‹-h-syon > niksyon dhlñ-h-syon > dhlÇsyon fil¡-h-syon > fil°syon


nik‹-h-syon > niksyon dhlñ-h-syon > dhlÇsyon fil¡-h-syon > fil°syon

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372 a flexão verbal

Optativo
Voz média: venceria/vencesse, revelaria/revelasse, amaria/amasse esta-
ria/estivesse vencendo, revelando, amando para mim.
Voz passiva: seria/fosse vencido, revelado, amado; poderia/pudesse ser
(estar sendo) vencido, revelado, amado.

S. nika-oÛ-mhn > nikÐmhn dhlo-oÛ-mhn > dhloÛmhn file-oÛ-mhn > filoÛmhn


nik‹-oi-so > nikÒ dhlñ-oi-so > dhloÝo fil¡-oi-so > filoÝo
nik‹-oi-to > nikÒto dhlñ-oi-to > dhloÝto fil¡-oi-to > filoÝto

P. nika-oÛ-meya > nikÐmeya dhlo-oÛ-meya > dhloÛmeya file-oÛ-meya > filoÛmeya


nik‹-oi-sye > nikÒsye dhlñ-oi-sye > dhloÝsye fil¡-oi-sye > filoÝsye
nik‹-oi-nto > nikÒnto dhlñ-oi-nto > dhloÝnto fil¡-oi-nto > filoÝnto

D. nik‹-oi-syon > nikÒsyon dhlñ-oi-syon > dhloÝsyon fil¡-oi-syon > filoÝsyon


nika-oÛ-syhn > nikÐsyhn dhlo-oÛ-syhn > dhloÛsyhn file-oÛ-syhn > filoÛsyhn

Imperativo
Voz média: vence, revela, ama para ti - vencei, revelai, amai para vós
- vença, revele, ame (ele)/(eles) - vençam, revelem, amem
para si.
Voz passiva: sê/sede vencido(s), revelado(s), amado(s).

S.
nik‹-e-so > nikÇ dhlñ-e-so > dhloè fil¡-e-so > filoè
nika-¡-syv > nik‹syv dhlo-¡-syv > dhloæsyv file-¡-syv > fileÛsyv

P.
nik‹-e-sye > niksye dhlñ-e-sye > dhloèsye fil¡-e-sye > fileÝsye
nika-¡-syvn > nik‹syvn dhlo-¡-syvn > dhloæsyvn file-¡-syvn > fileÛsyvn

D. nik‹-e-syon > niksyon dhlñ-e-syon > dhloèsyon fil¡-e-syon > fileÝsyon


nika-¡-syvn > nik‹syvn dhlo-¡-syvn > dhloæsyvn file-¡-syvn > filoæsyvn

mur05.p65 372 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 373

Particípio
Voz média: vencendo, revelando, amando para si/que vence, revela,
ama para si.
Voz passiva: sendo vencido, revelado, amado/que é (está sendo) venci-
do, revelado, amado.

Tema nika-ñ-meno- dhlo-ñ-meno- file-ñ-meno-


Masc. nikÅmenow dhloæmenow filoæmenow
Fem. nikvm¡nh dhloum¡nh filoum¡nh
Neut. nikÅmenon dhloæmenon filoæmenon

Infinitivo
Voz média: vencer, revelar, amar/estar vencendo, revelando, amando
para si.
Voz passiva: estar sendo/ser: vencido, revelado, amado.
nik‹-e-syai > niksyai dhlñ-e-syai > dhloèsyai fil¡-e-syai > fileÝsyai

Imperfeito
Voz média: estava vencendo, revelando, amando/vencia, revelava, ama-
va para si.
Voz passiva: era / estava sendo vencido, revelado, amado.

S. ¤-nika-ñ-mhn > ¤nikÅmhn ¤-dhlo-ñ-mhn > ¤dhloæmhn ¤-file-ñ-mhn > ¤filoæmhn


¤-nik‹-e-so > ¤nikÇ ¤-dhlñ-e-so > ¤dhloè ¤-fil¡-e-so > ¤filoè
¤-nik‹-e-to > ¤nikto ¤-dhlñ-e-to > ¤dhloèto ¤-fil¡-e-to > ¤fileÝto

P. ¤-nika-ñ-meya > ¤nikÅmeya ¤-dhlo-ñ-meya > ¤dhloæmeya ¤-file-ñ-meya > ¤filoæmeya


¤-nik‹-e-sye > ¤niksye ¤-dhlñ-e-sye > ¤dhloèsye ¤-fil¡-e-sye > ¤fileÝsye
¤-nik‹-o-nto > ¤nikÇnto ¤-dhlñ-o-nto > ¤dhloènto ¤-fil¡-o-nto > ¤filoènto

D. ¤-nik‹-e-syon > ¤niksyon ¤-dhlñ-e-syon > ¤dhloèsyon ¤-fil¡-e-syon > ¤fileÝsyon


¤-nika-¡-syhn > ¤nik‹syhn ¤-dhlo-¡-syhn > ¤dhloæsyhn ¤-file-¡-syhn > ¤fileÛsyhn

mur05.p65 373 22/01/01, 11:37


374 a flexão verbal

xrÇmai (xr‹omai): eu uso, eu me sirvo de

Indicativo
Voz média: eu me sirvo, eu uso para mim.

Subjuntivo
Voz média: eu me sirva, (se) eu me servir.

Optativo
Voz média: eu me serviria, eu me servisse, poderia/pudesse servir-me.

Imperativo
Voz média: serve-te, sirva-se, servi-vos, sirvam-se.
Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo
S. xrÇmai xrÇmai xrvÛmhn/xrÐmhn
xr°i / xr» xr°i/xr» xrÅio/xrÒo xrÇ
xr°tai xr°tai xrÅito/xrÒto xr®syv
P. xrÅmeya xrÅmeya xrvÛmeya/xrÐmeya
xr°sye xr°sye xrÅisye/xrÒsye xr°sye
xrÇntai xrÇntai xrÅinto/xrÒnto xr®syvn
D. xr°syon xr°syon xrvÛsyhn/xrÐsyhn xr°syon
xr°syon xr°syon xrvÛsyhn/xrÐsyhn xr®syvn

Particípio
Voz média: que se serve, que usa.
Tema masc. fem. neut.
xrañmeno- xrÅmenow xrvm¡nh xrÅmenon

Infinitivo
Voz média: servir-se, usar.
xr°syai

Imperfeito
Voz média: servia-se, usava.
S. ¤xrÅmhn P. ¤xrÅmeya D.
¤xrÇ ¤xr°sye ¤xr°syon
¤xr°to ¤xrÇnto ¤xr®syhn

mur05.p65 374 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 375

Quadro demostrativo da evolução fonética

Tema: nika-j-

Indicativo ativo presente

S. nik‹-j-v > nik‹v > nikÇ


nik‹-j-e-si > nik‹esi > niksi > niki+w > nikiw /nik˜w
nik‹-j-e-ti > nik‹eti > nik‹esi > niksi > niki /nik˜
P. nik‹-j-o-men > nik‹omen > nikÇmen
nik‹-j-e-te > nik‹ete > nikte
nik‹-j-o-nti > nik‹onti > nikÇnti > nikÇnsi > nikÇsi
D. nik‹-j-e-ton > nik‹eton > nikton
nik‹-j-e-ton > nik‹eton > nikton

Subjuntivo ativo

S. nik‹-j-v > nik‹v > nikÇ


nik‹-j-h-si > nik‹hsi > niksi > niki +w > nikiw/nik˜w
nik‹-j-h-ti > nik‹hti > nikti > niksi > niki/nik˜
P. nik‹-j-v-men > nik‹vmen > nikÇmen
nik‹-j-h-te > nik‹hte > nikte > nikte
nik‹-j-v-nti > nik‹vnti > nikÇnti > nikÇnsi > nikÇsi
D. nik‹-j-h-ton > nik‹hton > nikton
nik‹-j-h-ton > nik‹hton > nikton

mur05.p65 375 22/01/01, 11:37


376 a flexão verbal

Optativo ativo

S. nika-j-o-Ûh-n > nikaoÛhn > nikvÛhn/nikÐhn 38


nika-j-o-Ûh-w > nikaoÛhw > nikÅihw/nikÐhw
nika-j-o-Ûh-(t) > nikaoÛh > nikÅih/nikÐh
P. nik‹-j-o-i-men > nik‹oimen > nikÅimen/nikÒmen
nik‹-j-o-i-te > nik‹oite > nikÅite/nikÒte
nik‹-j-o-i-e-n > nik‹oien > nikÅien/nikÒen
D. nik‹-j-o-i-ton > nik‹oiton > nikÅiton/nikÒton
nika-j-o-Û-thn > nikaoÛthn > nikÅithn/nikÐthn

Imperativo ativo

S. 2a nÛka-j-e > nÛkae> nÛka


3a nikaj-¡-tv > nika¡tv > nik‹tv
P. 2a nik‹-j-e-te > nik‹ete > nikte
3a nika-j-ñ-ntvn > nikañntvn > nikÅntvn
D. 2a nik‹-j-e-ton > nik‹eton > nikton
3a nika-j-¡-tvn > nika¡tvn > nik‹tvn

Particípio ativo

Tema nik‹-j-o-nt-> nik‹ont- > nikÇnt-


Masc. nik‹-j-o-nt-w > nik‹ont > nikÇnt > nikÇn
Fem. nik‹-j-o-nt-j-a > nik‹ontia > nik‹ousia > nik‹ousa > nikÇsa
Neutro nik‹-j-o-nt > nik‹ont > nik‹on > nikÇn

38 Variantes: nik‹o-j-o-i-mi > nik‹oimi > nikÅimi/nikÒmi;


nik‹-j-o-i-w > nik‹oiw > nikÅiw/nikÒw; nik‹-j-o-i-t > nik‹oi > nikÅi/nikÒ

mur05.p65 376 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 377

Infinitivo ativo

nik‹-j-en > nik‹en > nikn

Imperfeito ativo

S. ¤-nÛka-j-o-n > ¤nÛkaon > ¤nÛkvn


¤-nÛka-j-e-w > ¤nÛkaew > ¤nÛkaw
¤-nÛka-j-e-(t) > ¤nÛkae > ¤nÛka
P. ¤-nik‹-o-men > ¤nik‹omen > ¤nikÇmen
¤-nik‹-j-e-te > ¤nik‹ete > ¤nikte
¤-nÛka-j-o-n > ¤nÛkaon > ¤nÛkvn
D. ¤-nik‹-j-e-ton > ¤nik‹eton > ¤nikton
¤-nika-j-¡-thn > ¤nika¡thn > ¤nik‹thn

Indicativo presente médio / passivo

S. nik‹-j-o-mai > nik‹omai > nikÇmai


nik‹-j-e-sai > nik‹esai > nik‹eai > nik‹hi > nikiw / nik˜w
nik‹-j-e-tai > nik‹etai > niktai
P. nika-j-ñ-meya > nikañmeya > nikÅmeya
nik‹-j-e-sye > nik‹esye > niksye
nik‹-j-o-ntai > nik‹ontai > nikÇntai
D. nik‹-j-e-syon > niksyon > niksyon
nik‹-j-e-syon > niksyon > niksyon

mur05.p65 377 22/01/01, 11:37


378 a flexão verbal

Subjuntivo médio / passivo

S. nik‹-j-v-mai > nik‹vmai > nikÇmai


nik‹-j-h-sai > nik‹hsai > nik‹hai > nik‹hi > niki/nik˜
nik‹-j-h-tai > nik‹htai > niktai
P. nika-j-Å-meya > nikaÅmeya > nikÅmeya
nik‹-j-h-sye > nik‹hsye > niksye
nik‹-j-v-ntai > nik‹vntai > nikÇntai
D. nik‹-j-h-syon > nik‹hsyon > niksyon
nik‹-j-h-syon > nik‹hsyon > niksyon

Optativo médio / passivo

S. nika-j-o-Û-mhn > nikaoÛmhn > nikvÛmhn/nikÐmhn


nik‹-j-o-i-so > nik‹oiso > nikÅio/nikÒ
nik‹-j-o-i-to > nik‹oito > nikÅito/nikÒto
P. nika-j-o-Û-meya > nikaoÛmeya > nikÅimeya/nikÐmeya
nik‹-j-o-i-sye > nik‹oisye > nikÅisye/nikÒsye
nik‹-j-o-i-nto > nik‹ointo > nikÅinto /nikÒnto
D. nik‹-j-o-i-syon > nik‹oisyon > nikÅisyon/nikÒsyon
nika-j-o-Û-syhn > nikaoÛsyhn > nikÅisyhn/nikÐsyhn

Imperativo médio / passivo

S. 2a nik‹-j-e-so > nik‹eso > nik‹eo > nik‹v > nikÇ


3a nika-j-¡-syv > nika¡syv > nik‹syv
P. 2a nik‹-j-e-sye > nik‹esye > niksye
3a nik‹-j-¡-syvn > nika¡syvn > nik‹syvn
D. 2a nik‹-j-e-syon > nik‹esyon > niksyon
3a nika-j-¡-syvn > nika¡syvn > nik‹syvn

mur05.p65 378 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 379

Particípio médio / passivo

Tema nika-j-ñ-meno- > nikañmeno- > nikÅmeno-


Masc. nika-j-ñ-meno-w > nikañmenow > nikÅmenow
Fem. nika-j-o-m¡nh > nikaom¡nh > nikvm¡nh
Neutro nika-j-ñ-menon > nikañmenon > nikÅmenon

Infinitivo médio / passivo

nik‹-j-e-syai > nik‹esyai > niksyai

Imperfeito médio / passivo

S. ¤-nik‹-j-ñ-mhn > ¤nikañmhn > ¤nikÅmhn


¤-nik‹-j-e-so > ¤nik‹eso > ¤nik‹eo > ¤niko > ¤nÛkÇ
¤-nik‹-j-e-to > ¤nik‹eto > ¤nikto
P. ¤-nika-j-ñ-meya > ¤nikañmeya > ¤nikÅmeya
¤-nik‹-j-e-sye > ¤nik‹esye > ¤niksye
¤-nik‹-j-o-nto > ¤nik‹onto > ¤nikÇnto
D. ¤-nik‹-j-e-syon > ¤nik‹esyon > ¤niksyon
¤-nika-j-¡-syhn > ¤nika¡syhn > ¤nik‹syhn

mur05.p65 379 22/01/01, 11:37


380 a flexão verbal

Tema: peinaj- / peinhj-

Indicativo ativo presente

S. pein®-j-v > pein®v > pein¡v > peinÇ


pein®-j-e-si > pein®esi > pein®ei > pein°i +w > pein°iw/pein»w
pein®-j-e-ti > pein®eti > pein®esi > pein®ei > pein°i/pein»
P. pein®-j-o-men > pein®omen > peinÇmen
pein®-j-e-te > pein®ete > pein°te
pein®-j-o-nti > pein®onti > peinÇnti > peinÇnsi > peinÇsi
D. pein®-j-e-ton > pein®eton > pein°ton
pein®-j-e-ton > pein®eton > pein°ton

Subjuntivo ativo

S. pein®-j-v > pein®v > pein¡v > peinÇ


pein®-j-h-si > pein®hsi > pein¡hsi > pein°si > pein°i +w > pein°iw/
pein»w
pein®-j-h-ti > pein®hti > pein¡hti > pein°ti > pein°si > pein°i/pein»

P. pein®-j-v-men > pein®vmen > pein¡vmen > peinÇmen


pein®-j-h-te > pein®hte > pein®ete > pein°te
pein®-j-v-nti > pein®vnti > pein¡vnti > peinÇnti > peinÇnsi > peinÇsi

D. pein®-j-h-ton > pein®hton > pein¡hton > pein°ton


pein®-j-h-ton > pein®hton > pein¡hton > pein°ton

mur05.p65 380 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 381

Optativo ativo

S. peinh-j-o-Ûhn > peinhoÛhn > peinÅimhn/peinÐmhn


peinh-j-o-Ûhw > peinhoÛhw > peinÅihw/peinÐhw
peinh-j-o-Ûh > peinhoÛh > peinÐih/peinÐh
P. pein®-j-o-i-men > pein®oimen > peinÅimen > peinÒmen
pein®-j-o-i-te > pein®oite > peinÅite/peinÒte
pein®-j-o-i-en > pein®oien > peinÅien/peinÒen
D. pein®-j-o-i-ton > pein®ointon > peinÅinton/peinÒnto
peinh-j-o-Û-thn > peinhoÛthn > peinÅithn/peinÐthn

Imperativo ativo

S. 2a peÛnh-j-e > peÛnhe > peÛnh


3a peinh-j-¡-tv > peinh¡tv > pein®tv
P. 2a pein®-j-e-te > pein®ete > pein°te
3a peinh-j-ñ-ntvn > peinhñntvn > peineÅntvn > peinÅntvn
D. 2a pein®-j-e-ton > pein®eton > pein°ton
3a peinh-j-¡-tvn > peinh¡tvn > pein®tvn

Particípio ativo

Tema pein®-j-ont- pein®-ont- peinÇnt-


Masc. pein®-j-ont-w > pein®ontw >peinÇntw > peinÇn/Çntow
Fem. peinh-j-ñ-ntja >peinhñntia > peinÅntia > peinÅnsia > peinÇsa-shw
Neutro pein®-j-ont > pein°ont > peinÇn-Çntow

Infinitivo ativo

pein®-j-en > pein°en > pein°n

mur05.p65 381 22/01/01, 11:37


382 a flexão verbal

Imperfeito ativo

S. ¤-peÛnh-j-o-n > ¤peÛnhon > ¤peÛnvn


¤-peÛnh-j-e-w > ¤peÛnhew > ¤peÛnhw
¤-peÛnh-j-e > ¤peÛnhe > ¤peÛnh
P. ¤-pein®-j-o-men > ¤pein®omen > ¤peinÇmen
¤-pein®-j-e-te > ¤pein®ete > ¤pein°te
¤-pein®-j-o-nto > ¤pein®onto > ¤peinÇnto
D. ¤-pein®-j-e-ton > ¤pein®eton > ¤pein°ton
¤-peinh-j-¡-thn > ¤peinh¡thn > ¤pein®thn

Tema: xraj- / xrhj-

Indicativo presente médio

S. xr®-j-o-mai > xr®omai > xrÇmai


xr®-j-e-sai > xr®esai > xr®eai > xr°i / xr»
xr®-j-e-tai > xr®etai > xr°tai
P. xrh-j-ñ-meya > xrhñmeya > xrÅmeya
xr®-j-e-sye > xr®esye > xr°sye
xr®-j-o-ntai > xr®ontai > xrÇntai
D. xr®-j-e-syon > xr®esyon > xr°syon
xr®-j-e-syon > xr®esyon > xr°syon

mur05.p65 382 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 383

Subjuntivo médio

S. xr®-j-v-mai > xr®vmai > xr¡vmai > xrÇmai


xr®-j-h-sai > xr®hsai > xr¡hsai > xr°sai > xr°ai > xr°i/xr»
xr®-j-h-tai > xr®htai > xr¡htai > xr°tai

P. xrh-j-Å-meya > xrhÅmeya > xreÅmeya > xrÅmeya


xr®-j-h-sye > xr®hsye > xr¡hsye > xr°sye
xr®-j-v-ntai > xr®vntai > xr¡vntai > xrÇntai

D. xr®-j-h-syon > xr®hsyon > xr¡hsyon > xr°syon


xr®-j-h-syon > xr®hsyon > xr¡hsyon > xr°syon

Optativo médio

S. xrh-j-o-Û-mhn > xrhoÛmhn > xrvÛmhn/xrÐmhn


xr®-j-o-i-so > xr®oiso > xr®oio > xrÅio/xrÒo
xr®-j-o-i-to > xr®oito > xrÅito/xrÒto

P. xrh-j-o-Û-meya > xrhoÛmeya > xrvÛmeya/xrÐmeya


xr®-j-o-i-sye > xr®oisye > xrÅisye/xrÒsye
xr®-j-o-i-nto > xr®ointo > xrÅinto/xrÒnto

D. xrh-j-o-Û-syhn > xrhoÛsyhn > xrvÛsyhn/xrÐsyhn


xrh-j-o-Û-syhn > xrhoÛsyhn > xrvÛsyhn/xrÐsyhn

Imperativo médio

S. 2a xr®-j-e-so > xr®eso > xr°so > xr°o > xrÇ


3a xrh-j-¡-syv > xrh¡syv > xr®syv

P. 2a xr®-j-e-sye > xr®esye > xr°sye


3a xrh-j-¡-syvn > xrh¡syvn > xr®syvn

D. 2a xr®-j-e-syon > xr®esyon > xr°syon


3a xrh-j-¡-syvn > xrh¡syvn > xr®syvn

mur05.p65 383 22/01/01, 11:37


384 a flexão verbal

Particípio médio

Tema xrh-j-ñ-meno > xrhñmeno > xrÅmeno-


Masc. xrh-j-ñ-menow > xrhñmenow > xrÅmenow
Fem. xrh-j-o-m¡nh > xrhom¡nh > xrvm¡nh
Neutro xrh-j-ñ-menon > xrhñmenon > xrÅmenon

Infinitivo médio

xr®-j-e-syai > xr®esyai > xr°syai

Imperfeito médio

S. ¤-xrh-j-ñ-mhn > ¤xrhñmhn > ¤xrÅmhn


¤-xr®-j-e-so > ¤xr®eso > ¤xr®eo > ¤xr®o > ¤xrÇ
¤-xr®-j-e-to > ¤xr®eto > ¤xr°to
P. ¤-xrh-j-ñ-meya > ¤xrhñmeya > ¤xrÅmeya
¤-xr®-j-e-sye > ¤xr®esye > ¤xr°sye
¤-xr®-j-o-nto > ¤xr®onto > ¤xrÇnto
D. ¤-xr®-j-e-syon > ¤xr®esyon> ¤xr°syon
¤-xrh-j-¡-syhn > ¤xrh¡syhn > ¤xr®syhn

mur05.p65 384 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 385

Tema: dhlo-j-

Indicativo ativo presente

S. dhlñ-j- v > dhlñ-v > dhlÇ


dhlñ-j- esi > dhlñ-e-si > dhlñei > dhloèi > dhloÝ+w> dhloÝw
dhlñ-j- eti > dhlñ-e-ti > dhlñesi > dhlñei > dhloèi > dhloÝ

P. dhlñ-j- omen > dhlñ-o-men > dhloèmen


dhlñ-j- ete > dhlñ-e-te > dhloète
dhlñ-j- onti > dhlñ-o-nsi > dhloènsi > dhloèsi

D. dhlñ-j- eton > dhlñ-e-ton > dhloèton


dhlñ-j- eton > dhlñ-e-ton > dhloèton

Subjuntivo ativo

S. dhlñ-j-v > dhlñ-v > dhlÇ


dhlñ-j- hsi > dhlñ-h-si > dhlñhi > dhlñúi+w> dhlÅiw/dhlÒw
dhlñ-j-hti > dhlñ-h-ti > dhlñhsi > dhlñhi/dhlÅi dhlÅi/dhlÒ

P. dhlñ-j- vmen > dhlñ-v-men > dhlÇmen


dhlñ-j- hte > dhlñ-h-te > dhlÇte
dhlñ-j- vnti > dhlñ-v-nti > dhlñvnsi > dhlñvsi > dhlÇsi

D. dhlñ-j- hton > dhlñ-h-ton > dhlÇton


dhlñ-j- hton > dhlñ-h-ton > dhlÇton

mur05.p65 385 22/01/01, 11:37


386 a flexão verbal

Optativo ativo

S. dhlo-j- oÛhn > dhlo-oÛ-hn > dhlouÛhn > dhloÛhn39


dhlo-j-oÛh-w > dhlo-oÛ-hw > dhlouÛhw > dhloÛhw
dhlo-j-oÛh(t) > dhlo-oÛ-h > dhlouÛh > dhloÛh
P. dhlñ-j-oimen > dhlñ-oi-men > dhloæimen > dhloÝmen
dhlñ-j-oite > dhlñ-oi-te > dhloæite > dhloÝte
dhlñ-j-oint > dhlñ-oi-n > dhloæin > dhloÝen
D. dhlñ-j- oiton > dhlñ-oi-ton > dhloæiton > dhloÝton
dhlo-j- oÛthn > dhlo-oÛ-thn > dhloæithn > dhloÛthn

Imperativo ativo

S. 2a d®lo-j-e > d®lo-e > d®lou


3a dhlo-j-¡-tv > dhlo-¡-tv > dhloætv
P. 2a dhlñ-j-ete > dhlñ-e-te > dhloète
3a dhlo-j-ñntvn > dhlo-ñ-ntvn > dhloæntvn
D. 2a dhlñ-j-eton > dhlñ-e-ton > dhloèton
3a dhlñ-j-¡tvn > dhlo-¡-tvn > dhloætvn

Particípio ativo

Tema dhlñ-j-o-nt-> dhlñont-> dhloènt-


Masc. dhlñ-j-o-nt- > dhlñvnt > dhlñvnt > dhlÇnt > dhlÇn
Fem. dhlo-j-ñ-nt-j-a > dhloñntia > dhloñnsia > dhloæsia > dhloèsa
Neutro dhlñ-j-o-nt > dhlñont > dhlñon > dhloèn

39 Variantes: dhlñ-j-o-i-mi > dhlñoimi > dhloæimi > dhloÝmi;


dhlñ-j-o-i-w > dhlñoiw > dhloæiw > dhloÝw; dhlñ-j-o-i-t > dhlñoi > dhloæi > dhloÝ.

mur05.p65 386 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 387

Infinitivo ativo

dhlñ-j-en > dhlñen > dhloèn

Imperfeito ativo

S. ¤-d®lo-j-o-n > ¤-d®loo-n > ¤d®loun


¤-d®lo-j-e-w > ¤-d®loe-w > ¤d®louw
¤-d®lo-j-e-(t) > ¤-d®loe > ¤d®lou
P. ¤-dhlñ-j-o-men > ¤-dhlño-men > ¤dhloèmen
¤-dhlñ-j-e-te > ¤-dhlñe-te > ¤-dhloète
¤-d®lo-j-o-nt > ¤-d®loo-n > ¤d®loun
D. ¤-dhlñ-j-e-ton > ¤-dhlñe-ton > ¤dhloèton
¤-dhlo-j- ¡-thn > ¤-dhlo¡-thn > ¤dhloæthn

Indicativo presente médio / passivo

S. dhlñ-j-o-mai > dhlñ-o-mai > dhloèmai


dhlñ-j-e-sai > dhlñ-e-sai > dhlñeai > dhloèai > dhlÒ
dhlñ-j-e-tai > dhlñ-e-tai > dhloètai
P. dhlo-j-ñ-meya > dhlo-ñ-meya > dhloæmeya
dhlñ-j-e-sye > dhlñ-e-sye > dhloèsye
dhlñ-j-o-ntai > dhlñ-o-ntai > dhloèntai
D. dhlñ-j-e-syon > dhlñ-e-syon > dhloèsyon
dhlñ-j-e-syon > dhlñ-e-syon > dhloèsyon

mur05.p65 387 22/01/01, 11:37


388 a flexão verbal

Subjuntivo médio / passivo

S. dhlñ-j-v-mai > dhlñ-v-mai > dhlÇmai


dhlñ-j-h-sai > dhlñ-h-sai > dhlñhai > dhlñhi > dhlÒ/dhlÇi
dhlñ-j-h-tai > dhlñ-h-tai > dhlÇtai

P. dhlo-j-Å-meya > dhlo-Å-meya > dhlÅmeya


dhlñ-j-h-sye > dhlñ-h-sye > dhlÇsye
dhlñ-j-v-ntai > dhlñ-v-ntai > dhlÇntai

D. dhlñ-j-h-syon > dhlñ-h-syon > dhlÇsyon


dhlñ-j-h-syon > dhlñ-h-syon > dhlÇsyon

Optativo médio / passivo

S. dhl0-j-o-Û-mhn > dhlo-oÛ-mhn > dhlouÛmhn > dhloÛmhn


dhlñ-j-o-i-so > dhlñ-oi-so > dhlñoio > dhloæio > dhloÝo
dhlñ-j-o-i-to > dhlñ-oi-to > dhloæito > dhloÝto

P. dhlo-j-o-Û-meya > dhlo-oÛ-meya > dhlouÛmeya > dhloÛmeya


dhlñ-j-o-i-sye > dhlñ-oi-sye > dhloæisye > dhloÝsye
dhlñ-j-o-i-nto > dhlñ-oi-nto > dhloæinto > dhloÝnto

D. dhlñ-j-o-i-syon > dhlñ-oi-syon > dhloæisyon > dhloÝsyon


dhlo-j-o-Û-syhn > dhlo-oÛ-syhn > dhlouÛsyhn > dhloÛsyhn

Imperativo médio / passivo

S. 2a dhlñ-j-e-so > dhlñ-e-so > dhlñeo > dhloèo > dhloè


3a dhlo-j-¡-syv > dhlo-¡-syv > dhloæsyv

P. 2a dhlñ-j-e-sye > dhlñ-e-sye > dhloèsye


3a dhlo-j-¡-syvn > dhlo-¡-syvn > dhloæsyvn

D. 2a dhlñ-j-e-syon > dhlñ-e-syon > dhloèsyon


3a dhlo-j-¡-syvn > dhlo-¡-syvn > dhloæsyvn

mur05.p65 388 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 389

Particípio médio / passivo

Tema dhlo-j-ñ-meno- > dhlo-ñ-meno- > dhloæmeno-


Masc. dhlo-j-ñ-meno-w > dhlo-ñ-menow > dhloæmenow
Fem. dhlo-j-o-m¡nh > dhlo-o-m¡nh > dhloum¡nh
Neutro dhlo-j-ñ-meno-n > dhlo-ñ-menon > dhloæmenon

Infinitivo médio / passivo

dhlñ-j-e-syai > dhlñ-e-syai > dhloèsyai

Imperfeito médio / passivo

S. ¤-dhlo-j-ñ-mhn > ¤-dhlo-ñ-mhn > ¤dhloæmhn


¤-dhlñ-j-e-so > ¤-dhlñ-e-so > ¤-dhlñeo > ¤-dhloèo > ¤dhloè
¤-dhlñ-j-e-to > ¤-dhlñ-e-to > ¤dhloèto

P. ¤-dhlo-j-ñ-meya > ¤-dhlo-ñ-meya > ¤dhloæmeya


¤-dhlñ-j-e-sye > ¤-dhlñ-e-sye > ¤dhloèsye
¤-dhlñ-j-o-nto > ¤-dhlñ-o-nto > ¤dhloènto

D. ¤-dhlñ-j-e-syon > ¤-dhlñ-e-syon > ¤dhloèsyon


¤-dhlo-j-¡-syhn > ¤-dhlo-¡-syhn > ¤dhloæsyhn

mur05.p65 389 22/01/01, 11:37


390 a flexão verbal

Tema: file-j-

Indicativo presente ativo

S. fil¡-j-v > fil¡-v > filÇ


fil¡-j-e-si > fil¡-e-si > fil¡ei > fileÝ+w > fileÝw
fil¡-j-e-ti > fil¡-e-ti > fil¡esi > fil¡ei > fileÝ
P. fil¡-j-o-men > fil¡-o-men > filoèmen
fil¡-j-e-te > fil¡-e-te > fileÝte
fil¡-j-o-nti > fil¡-o-nti > fil¡onsi > filoènsi > filoèsi
D. fil¡-j-e-ton > fil¡-e-ton > fileÝton
fil¡-j-e-ton > fil¡-e-ton > fileÝton

Subjuntivo ativo

S. fil¡-j-v > fil¡-v > filÇ


fil¡-j-h-si > fil¡-h-si > fil°si > fil°i+w> fil»w/fil°iw
fil¡-j-h-ti > fil¡-h-ti > fil°si > fil»/fil°i
P. fil¡-j-v-men > fil¡-v-men > filÇmen
fil¡-j-h-te > fil¡-h-te > fil°te
fil¡-j-v-nti > fil¡-v-nti > fil¡vnsi > filÇnsi > filÇsi
D. fil¡-j-h-ton > fil¡-h-ton > fil°ton
fil¡-j-h-ton > fil¡-h-ton > fil°ton

mur05.p65 390 22/01/01, 11:37


a flexão verbal 391

Optativo ativo

S. file-j-o-Ûh-n > file-oÛh-n > filouÛhn > filoÛhn40


file-j-o-Ûh-w > file-oÛh-w > filouÛhw > filoÛhw
file-j-o-Ûh-(t) > file-oÛh > filouÛh > filoÛh
P. fil¡-j-o-i-men > fil¡-oi-men > filouÝmen > filoÝmen
fil¡-j-o-i-te > fil¡-oi-te > filouÝte > filoÝte
fil¡-j-o-i-nt > fil¡-oi-en > filouÝen > filoÝen
D. fil¡-j-o-i-ton > fil¡-oi-ton > filouÝton > filoÝton
file-j-o-Û-thn > file-oÛ-thn > filouÛthn > filoÛthn

Imperativo ativo

S. 2a fÛle-j-e > fÛle-e > fÛlei


3a file-j-¡-tv > file-¡-tv > fileÛtv
P. 2a fil¡-j-e-te > fil¡-e-te > fileÝte
3a file-j-ñ-ntvn > file-ñ-ntvn > filoæntvn
D. 2a fil¡-j-e-ton > fil¡-e-ton > fileÝton
3a file-j-¡-tvn > file-¡-tvn > fileÛtvn

Particípio ativo

Tema fil¡-j-o-nt-> fil¡-o-nt-> filoènt-


Masc. fil¡-j-o-nt- > fil¡-v-nt > fil¡vnt > filÇnt > filÇn
Fem. file-j-ñ-nt-j-a > fileñntia > fileñnsia > fileñnsa > filoèsa
Neutro fil¡-j-o-nt > fil¡-o-nt > filoènt > filoèn

40 Variantes: fil¡-j-o-i-mi > fil¡oimi > filoæi-mi > filoÝmi;


fil¡-j-o-i-w > fil¡oiw > filoèiw > filoÝw; fil¡-j-o-i-t> fil¡oi > filoèi > filoÝ

mur05.p65 391 22/01/01, 11:38


392 a flexão verbal

Infinitivo ativo

fil¡-j-en > fil¡-en > fileÝn

Imperfeito ativo

S. ¤-fÛle-j-o-n > ¤-fÛle-o-n > ¤fÛloun


¤-fÛle-j-e-w > ¤-fÛle-e-w > ¤fÛleiw
¤-fÛle-j-e (t) > ¤-fÛle e > ¤fÛlei
P. ¤-fil¡-j-o-men > ¤-fil¡-o-men > ¤filoèmen
¤-fil¡-j-e-te > ¤-fil¡-e-te > ¤fileÝte
¤-fÛle-j-o-nt > ¤-fÛle-o-n > ¤fÛloun
D. ¤-fil¡-j-e-ton > ¤-fil¡-e-ton > ¤fileÝton
¤-file-j-¡-thn > ¤file-¡-thn > ¤fileÛthn

Indicativo médio / passivo presente

S. fil¡-j-o-mai > fil¡-o-mai > filoèmai


fil¡-j-e-sai > fil¡-e-sai > fil¡eai > fil¡hi > fil»/fil°i
fil¡-j-e-tai > fil¡-e-tai > fileÝtai
P. file-j-ñ-meya > file-ñ-meya > filoæmeya
fil¡-j-e-sye > fil¡-e-sye > fileÝsye
fil¡-j-o-ntai > fil¡-o-ntai > filoèntai
D. fil¡-j-e-syon > fil¡-e-syon > fileÝsyon
fil¡-j-e-syon > fil¡-e-syon > fileÝsyon

mur05.p65 392 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 393

Subjuntivo médio / passivo

S. fil¡-j-v-mai > fil¡-v-mai > filÇmai


fil¡-j-h-sai > fil¡-h-sai > fil¡hai > fil¡hi > fil»/fil°i
fil¡-j-h-tai > fil¡-h-tai > fil°tai
P. file-j-Å-meya > file-Å-meya > filÅmeya
fil¡-j-h-sye > fil¡-h-sye > fil°sye
fil¡-j-v-ntai > fil¡-v-ntai > filÇntai
D. fil¡-j-h-syon > fil¡-h-syon > fil°syon
fil¡-j-h-syon > fil¡-h-syon > fil°syon

Optativo médio / passivo

S. file-j- o-Û-mhn > file-oÛ-mhn > filouÛmhn > filoÛmhn


fil¡-j-o-i-so > fil¡-oi-so > filoæio > filoÝo
fil¡-j-o-i-to > fil¡-oi-to > filoæito > filoÝto
P. file-j-o-Û-meya > file-oÛ-meya > filouÛmeya > filoÛmeya
fil¡-j-o-i-sye > fil¡-oi-sye > filoæisye > filoÝsye
fil¡-j-o-i-nto > fil¡-oi-nto > filoæinto > filoÝnto
D. fil¡-j-o-i-syon > fil¡-oi-syon > filoæisyon > filoÝsyon
file-j-o-Û-syhn > file-oÛ-syhn > filouÛsyhn > filoÛsyhn

Imperativo médio / passivo

S. 2a fil¡-j-e-so > fil¡-e-so > fil¡eo > fil¡ou > filoè


3a file-j-¡-syv > file-¡-syv > fileÛsyv
P. 2a fil¡-j-e-sye > fil¡-e-sye > fileÝsye
3a file-j-¡-syvn > file-¡-syvn > fileÛsyvn
D. 2a fil¡-j-e-syon > fil¡-e-syon > fileÝsyon
3a file-j-¡-syvn > file-¡-syvn > fileÛsyvn

mur05.p65 393 22/01/01, 11:38


394 a flexão verbal

Particípio médio / passivo

Tema file-j-ñ-meno- > file-ñ-meno- > filoæmeno-


Masc. file-j-ñ-menow > file-ñ-menow > filoæmenow
Fem. file-j-o-m¡nh > file-o-m¡nh > filoum¡nh
Neutro file-j-ñ-menon> file-ñ-menon > filoæmenon

Infinitivo médio / passivo

fil¡-j-e-syai > fil¡-e-syai > fileÝsyai

Imperfeito médio / passivo

S. ¤-file-j-ñ-mhn > ¤-file-ñ-mhn > ¤filoæmhn


¤-fil¡-j-e-so > ¤-fil¡-e-so > ¤-fil¡eo > ¤fil¡ou > ¤filoè
¤-fil¡-j-e-to > ¤-fil¡-e-to > ¤fileÝto
P. ¤-file-j-ñ-meya > ¤-file-ñ-meya > ¤filoæmeya
¤-fil¡-j-e-sye > ¤-fil¡-e-sye > ¤fileÝsye
¤-fil¡-j-onto > ¤-fil¡-o-nto > ¤filoènto
D. ¤-fil¡-j-e-syon > ¤-fil¡-e-syon > ¤fileÝsyon
¤-file-j-¡-syhn > ¤-file-¡-syhn > ¤fileÛsyhn

mur05.p65 394 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 395

Quadro de flexão de verbos em -mi


com sufixo nu/nnu

T. deik-nu - deÛk-nu-mi - eu mostro

VOZ ATIVA

Infectum:

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


mostro mostre/ mostraria/ mostra/mostrai*
mostrar mostrasse**
S. deÛk-nu-mi deik-næ-v deik-næ-oi-mi
deÛk-nu-w *** deik-næ-úw deik-næ-oi-w deÛk-nu
deÛk-nu-si *** deik-næ-ú deik-næ-oi deik-næ-tv

P. deÛk-nu-men deik-næ-vmen deik-næ-oi-men


deÛk-nu-te deik-næ-hte deik-næ-oi-te deÛk-nu-te
deÛk-nu-nti>-næasi*** deik-næ-vsi deik-næ-oi-e-n deik-næ-ntvn/-tvsan

D. deÛk-nu-ton deik-næ-hton deik-næ-oiton deÛk-nu-ton


deÛk-nu-ton deik-næ-hton deik-nu-oÛ-thn deik-næ-tvn

* Imperativo de 3 a pessoa: ele mostre/eles mostrem.


** Também: poderia/pudesse mostrar.
*** Ver flexão de tÛyhmi, p. 341.
Nota: O subjuntivo e o optativo são como os verbos de tema em -u-.

Imperfeito: mostrava estava mostrando


S. ¤-deÛk-nu-n* P. ¤-deÛk-nu-men D.
¤-deÛk-nu-w ¥-deÛk-nu-te ¤-deÛk-nu-ton
¤-deÛk-nu ¤-deÛk-nu-san ¤-deik-næ-thn
* O sufixo -nu- dispensa vogal de ligação diante das desinências consonânticas.

mur05.p65 395 22/01/01, 11:38


396 a flexão verbal

Particípio: mostrando / que mostra

Tema Masc. Fem. Neut.


deik-nu-nt- deiknæw - deiknæntow deiknèsa - deiknæshw deiknæn- deiknæntow

Infinitivo: mostrar/estar mostrando


deik-næ-nai

VOZ MÉDIA E PASSIVA

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


m. mostro pa- m. mostre, m. mostraria, m. mostra/mostrai
ra mim; p. se mostrar mostrasse para ti/vós;
sou mostrado para mim; para mim; mostre/mostrem pa-
p. seja, for p. seria, fos- ra si; sê mostrado(s)
mostrado se mostrado* sejam mostrados
S. deÛk-nu-mai deik-næ-v-mai deik-nu-oÛ-mhn
deÛk-nu-sai deik-næ-h-sai > hai >ú deik-næ-oi-so > oio deÛk-nu-so
deÛk-nu-tai deik-næ-h-tai deiknæ-oi-to deik-næ-syv

P. deik-næ-meya deik-nu-Å-meya deik-nu-oÛ-meya


deÛk-nu-sye deik-næ-h-sye deik-næ-oi-sye deÛk-nu-sye
deÛk-nu-ntai deik-næ-vntai deik-næ-oi-nto deik-næ-syvn/syvsan

D. deÛk-nu-syon deik-næ-h-syon deik-næ-oi-syon deÛk-nu-syon


deÛk-nu-syon deik-næ-h-syon deik-nu-oÛ-syhn deik-næ-syvn

* Também: poderia/pudesse mostrar e poderia/pudesse ser mostrado.

mur05.p65 396 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 397

Imperfeito: eu mostrava, estava mostrando para mim/ eu era mostrado.

S. ¤-deik-næ-mhn* P. ¤-deik-næ-meya D.
¤-deÛk-nu-so ¥-deÛk-nu-sye ¤-deÛk-nu-syon
¤-deÛk-nu-to ¤-deÛk-nu-nto ¤-deik-næ-syhn
* O sufixo -nu- dispensa vogal de ligação diante das desinências consonânticas.

Particípio: mostrando para si/ que é, está sendo mostrado

Tema Masc. Fem. Neut.


deik-næ-meno- deiknæ-menow deiknum¡nh deiknæ-menon

Infinitivo: mostrar para si/estar estar sendo mostrado


deÛk-nu-syai

AORISTO ATIVO
Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo
mostro/mostrei mostre/se mostrar mostraria/ mostrasse** mostra, mostrai***
S. ¦-deija deÛj-v deÛja-i-mi
¦-deija-w deÛj-ú-w deÛja-i-w (seiaw) deÝj-son
¦-deij-e deÛj-ú deÛja-i (seien) deij‹-tv

P. ¤-deÛja-men deÛj-v-men deÛja-i-men


¤-deÛja-te deÛj-h-te deÛja-i-te deÛja-te
¦-deija-n deÛj-v-si deÛja-i-en (jeian) lu-s‹-ntvn

D. ¤-deij‹-thn /jaton deÛj-h-ton deija-Û-thn/-ton) deÛja-ton


¤-deij‹-thn deÛj-h-ton deija-Û-thn deij‹-tvn

* O subjuntivo se constrói sobre o tema verbal+característica -s- do aoristo + carac-


terísticas do subjuntivo v, h, h, v, h, v + desinências primárias ativas. (Ver o
quadro demostrativo na página seguinte.)
** Também: poderia/pudesse mostrar.
*** Imperativo de 3a pessoa: (ele) mostre / (eles) mostrem.

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398 a flexão verbal

Quadro demostrativo do subjuntivo

S. deÛj-v > deÛjv


deÛj-h-si > deÛjhsi > deÛjhi/jú > deÛjúw/deÛjhiw
deÛj-h-ti > deÛjhsi > deÛjú/deÛjhi
P. deÛj-v-men > deÛjvmen
deÛj-h-te > deÛjhte
deÛj-v-nti > deÛjvnsi > deÛjvsi
D. deÛj-h-ton > deÛjhton
deÛj-h-ton > deÛjhton

Particípio: tendo mostrado


Tema Masc. Fem. Neutro
deÛja-nt- deÛja-nt-w > deÛja-nt-j-a > deÛja-nt >
deÛjaw - deÛjant-ow deÛjasa - deij‹s-hw deÝjan - deÛj-ant-ow

Infinitivo: mostrar: deÝj-ai

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a flexão verbal 399

AORISTO MÉDIO

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


mostro/mostrei mostre/se mostrar mostraria/ mostra para ti /
para mim para mim mostrasse para mim** mostrai para
vós****
S. ¤-deij‹-mhn deÛj-v-mai* deija-Û-mhn
¤-deÛja-so > sao > sv deÛj-h-sai >sú** deÛja-i-so > saio deÝj-ai
¤-deÛja-to deÛj-h-tai deÛja-i-to deij-‹-syv

P. ¤-deij‹-meya deij-Å-meya deija-Û-meya


¤-deÛja-sye deÛj-h-sye deÛja-i-sye deÛj-a-sye
¤-deÛja-nto deÛj-v-ntai deÛja-i-nto deij-‹-syvn

D. ¤-deÛja-syon deÛj-h-syon deÛja-i-syon deÛj-a-syon


¤-deij‹-syhn deÛj-h-syon deija-Û-syhn deij-‹-syvn

* O subjuntivo aoristo médio se constrói sobre o tema verbal + característica do


subjuntivo v, h, h, v, h, v, + desinências primárias médias.
** A 2a pessoa do singular é: deÛj-h-sai> deÛjhai> deÛjhi> deÛjú.
*** Também: poderia/pudesse mostrar para mim.
**** Imperativo de 3a pessoa:(ele/eles) mostre/mostrem para si.

Particípio: tendo mostrado para mim

Tema Masc. Fem. Neutro


deij‹-meno- deij‹-menow-ou deija-m¡nh-hw deij‹-menon-ou

Infinitivo:
deÛja-syai mostrar para si

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400 a flexão verbal

FUTURO ATIVO

Tema: deik-s

Indicativo Optativo
mostrarei* poderia/pudesse haver de mostrar
S. deÛjv deÛj-oi-mi
deÛj-eiw deÛj-oi-w
deÛj-ei deÛj-oi
P. deÛj-o-men deÛj-oi-men
deÛj-e-te deÛj-oi-te
deÛj-ousi deÛj-oi-en
D. deÛj-e-ton deÛj-oÛ-thn
deÛj-e-ton deÛj-oÛ-thn
* Também: hei de mostrar

Particípio: havendo de mostrar, que há de mostrar, que mostrará

Tema Masc. Fem. Neutro


deÛj-o-nt deÛj-vn,ontow deÛj-ousa,shw deÝj-on,ontow

Infinitivo: deÛj-ein haver de mostrar

mur05.p65 400 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 401

FUTURO MÉDIO

Indicativo Optativo
mostrarei / hei de mostrar para mim poderia / pudesse haver de mostrar para mim
S. deÛjo-mai deij-oÛ-mhn
deÛj-e-sai> ú deij-oi-so > soio
deÛj-e-tai deÛj-oi-to
P. deij-ñ-meya deij-oÛ-meya
deÛj-e-sye deÛj-oi-sye
deÛj-o-ntai deÛj-oi-nto
D. deÛj-e-syon deÛj-oi-syon
deÛj-e-syon deij-oÛ-syhn

Particípio: havendo de mostrar para si, que há de mostrar /que mostrará


para si
Tema Masc. Fem. Neutro
deij-ñ-meno- deij-ñ-menow deij-o-m¡nh deij-ñ-menon

Infinitivo:
deÛj-e-syai haver de mostrar para si

mur05.p65 401 22/01/01, 11:38


402 a flexão verbal

AORISTO PASSIVO
Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo
fui/sou mostrado seja/for mostrado seria/fosse mostrado* sê/sede mostrado**
S ¤-deÛx-yh-n deix-yÇ**** deix-ye-Ûh-n
¤-deÛx-yh-w deix-y»-w/-y°iw deix-ye-Ûh-w deÛx-yh-ti
¤-deÛx-yh deix-y»/-y°i deix-ye-Ûh deix-y®-tv

P ¤-deÛx-yh-men deix-yÇ-men deix-ye-Ûh-men (-yeÝmen)***


¤-deÛx-yh-te deix-y°-te deix-ye-Ûh-te (-yeÝte) deÛx-yh-te
¤-deÛx-yh-san deix-yÇ-si deix-ye-Ûh-san (-yeÝen) deix -y¡-ntvn

D ¤-deÛx-yh-ton deix-y°-ton deix-ye-Ûh-ton (-yeÝton) deÛx-yh-ton


¤-deÛx-y®-thn deix-y®-tvn deix-ye-i®-thn (-yeÛthn) deix-y®-tvn

* Também: poderia/pudesse ser mostrado.


** Imperativo de 3a pessoa: (ele) seja mostrado, (eles) sejam mostrados.
*** As formas sincopadas, reduzidas são as mais usadas. Lei do menor esforço.
**** O subjuntivo é construído sobre o tema verbal + característica do passivo -yh- +
característica do subjuntivo v, h, h, v, h, v e desinências primárias ativas. Na
seqüência de duas vogais longas a anterior se abrevia, e aqui há a absorção da
breve pela longa (contração), o que explica as formas perispômenas e
properispômenas.

Particípio: tendo sido mostrado, que foi mostrado

Tema Masc. Fem. Neutro


deix-y¡nt- deix-yeÛw-y¡ntow deix-yeÝsa-yeÛshw deix-y¡n-y¡ntow

Infinitivo:

deix-y°nai ser mostrado

mur05.p65 402 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 403

FUTURO PASSIVO
Indicativo Optativo
serei mostrado pudesse/poderia haver de ser mostrado
S deix-y®-s-o-mai deix-yh-s-oÛ-mhn
deix-y®-s-e-sai > sú/-ei deix-y®-s-oi-so> soio
deix-y®-s-e-tai deix-y®-s-oi-to
P deix-yh-s-ñ-meya deix-yh-s-oÛ-meya
deix-y®-s-e-sye deix-y®-s-oi-sye
deix-y®-s-o-ntai deix-y®-s-oi-nto
D deix-y®-s-e-syon deix-yh-s-0Û-syhn
deix-y®-s-e-syon deix-yh-s-oÛ-syhn

Particípio: havendo de ser mostrado, que será mostrado

Tema Masc. Fem. Neutro


deix-yh-s-ñ-meno- deix-yh-s-ñ-menow deix-yh-s-o-m¡nh deix-yh-s-ñ-menon

Infinitivo:

deix-y®-s-e-syai haver de ser mostrado

Outros verbos cuja conjugação é análoga à de deÛknumi.


Todos os verbos que recebem um sufixo -nu-/nnu/nh seguem esse
modelo no sistema do infectum; no aoristo/futuro e no perfectum eles
também não têm mais esse sufixo. Contudo, a maioria dos verbos de su-
fixo -nu-/nnu desenvolveram uma outra flexão em -v por ser mais fácil.
Ver página 329, nota 14.
Podemos incluir aqui dois verbos (e seus compostos) que só têm a
conjugação do infectum (inacabado):
eä-mi eu vou, estou indo T. ei-/ i- (lat. i-re)
eÞ-mi < ¤s-mi eu sou T. ¤s-/s- (lat. esse)

mur05.p65 403 22/01/01, 11:38


404 a flexão verbal

eä-mi - eu vou, estou indo - T. ei / i

Presente

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


vou vá iria/fosse* vai/ide/vade
S. eä-mi à-v à-oi-mi / Þ-oÛ-hn
eä-si >eäi > eä à-ú-w à-oi-w / Þ-oÛ-hw à-yi
eä-ti > eä-si à-ú à-oi / Þ-oÛ-h à-tv**
P. à-men *** à-v-men à-oi-men
à-te à-h-te à-oi-te à-te
à-nti > àati > àasi à-v-si à-oi-e-n Þ-ñ-ntvn / àtvsan
D. à-ton à-h-ton à-oi-ton à-ton
à-ton à-h-ton Þ-oÛ-thn à-tvn
* Também: poderia/pudesse ir.
** Imperativo de 3a pessoa: vá ele/ vão eles.
*** Alternância longa no singular/breve no plural do tema no indicativo ativo, como
em fhmi - famen.

Particípio: indo

Tema Masc. Fem. Neut.


Þ-o-nt- Þ-Ån - Þ-ñ-nt-ow Þ-oèsa- Þoæshw Þ-ñn - Þ-ñ-nt-ow

Infinitivo: ir Þ-¡-nai

Adjetivo verbal:
í-vel/que pode ir Þ-tñw,®,ñn
que deve ir Þ-t¡ow,a,on / Þ-tht¡on

mur05.p65 404 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 405

Imperfeito: ia/estava indo

S. ¾-ein Âa P. ¾-ei-men Â-men D.


¾-eiw ¾-ei-sya ¾-ei-te Â-te ¾-ei-ton Â-ton
¾-ei ¾-ein ¾-e-san Â-san ±-eÛ-thn ¾-thn

As gramáticas afirmam que este verbo se emprega no presente com


significado futuro. É um problema semântico. Em português nem sem-
pre “eu vou” significa “estou indo”. É uma questão conotativa; o contex-
to resolve o problema.

Ainda os dois verbos seguintes, de temas monossilábicos sem re-


dobro no infectum:
fh-mÛ eu digo, eu me manifesto T. fa- / fh- (lat. fa-ri)
±-mi eu digo T. ±- (lat. aio)

fh-mi - eu digo, eu me manifesto. T. fh-/fa-

Presente

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


digo diga diria/dissesse* dize/dizei*
S. fh-mÛ fÇ fa-Ûh-n
fhsÛ > fhÛ > f»w f»-w fa-Ûh-w f‹-yi
fh-tÛ > fhsÛ f» fa-Ûh f‹-tv
P. fa-m¡n*** fÇ-men fa-Ý-men
fa-t¡ f°-te fa-Ý-te f‹-te
fa-sÛ fÇ-si fa-Ý-e-n f‹-ntvn/f‹tvsan
D. fa-tñn f°-ton fa-Ûh-ton f‹-ton
fa-tñn f°-ton fa-i®-thn f‹-tvn

* Também: poderia/pudesse dizer.


** Imperativo de 3 a pessoa: diga ele / digam eles.
*** Alternância longa no singular/breve no plural do tema no indicativo ativo.

mur05.p65 405 22/01/01, 11:38


406 a flexão verbal

Nota:
Excetuando-se a 2a pessoa do singular, todas as outras formas (dis-
silábicas) do indicativo são enclíticas. (Os enclíticos dissilábicos, quan-
do acentuados, são oxítonos.)

Particípio: dizendo/que diz

Tema Masc. Fem. Neut.


fant- fw - f‹-nt-ow* fsa-f‹shw fn-f‹nt-ow
f‹skont- f‹skvn f‹skousa f‹skon
* Essa forma não é usada; usa-se a forma do incoativo: f‹skvn, f‹skousa,
f‹skon.

Infinitivo: dizer: f‹-nai

Adj. verbal: dizível : fa-tñw,®,ñn


que deve ser dito : fa-t¡ow,¡a,¡on

Imperfeito: dizia / disse

S. ¦-fh-n P. ¦-fa-men D.
¦-fh-sya / ¦-fh-w ¦-fa-te ¦-fa-ton
¦-fh ¦-fa-san ¤-f‹-thn

Notas:
1. O aoristo e o futuro são pouco usados, mas constroem-se normalmente
sobre o tema fh-s-.
2. Nos diálogos, essa forma significa “disse eu / disse ele - dizia eu / dizia
ele”; não que ela possa ser traduzida indiferentemente pelo aoristo ou
imperfeito, mas, certamente, porque ¦fh / ¦fhn tanto podem ser
flexão de um aoristo de raiz-tema, como ¦-bh-n/ ¦-gnv-n, quanto a
flexão do imperfeito sobre o tema sem redobro do infectum fh-.
3. oë fhmi quer dizer “não, digo”, isto é, “digo não, nego”.

mur05.p65 406 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 407

±-mi - eu digo - T. ± / ¤
Só se usa em discurso indireto, em narrativas, para intercalação de
opinião: digo eu: - ±mÛ,
disse / dizia eu: - ·n dƒ¤gÅ
disse / dizia ele: - · dƒ÷w

Verbo Ser

Convém lembrar que o emprego do verbo ser em grego não cor-


responde exatamente ao seu emprego em português. Em grego, no iní-
cio, o verbo ser tem um sentido existencial, forte, absoluto; não é usado
no sentido em que nós o usamos; ele não é necessário para “fazer a liga-
ção” com o predicativo, isto é, como verbo de ligação. Só mais tarde, a
partir do século V, é que seu uso se generalizou, passando a ser usado,
não só como verbo de ligação, como também como verbo auxiliar, inicial-
mente para a construção do perfeito médio-passivo, para exprimir um
estado:-está, esteja, estaria, estivesse desligado.
Não há uma regra para o uso ou não do verbo ser na sua função de
verbo de ligação.
Não há problemas para as 1 a e 2a pessoas do singular e plural; mas,
a
na 3 pessoa singular e plural, é mais freqüente a omissão do que a pre-
sença. É uma questão de contexto, conotativa: se há ênfase, se há uma
afirmação categórica, usa-se o verbo; se não, não.
No quadro a seguir, vamos constatar que o verbo ser carece de todo
o sistema do aoristo e do perfeito.
Trata-se de uma impossibilidade semântica: o ser é o conceito do
que é, era e continua, continuará sendo, que só pode ser expresso pelo in-
fectum, inacabado, no presente e no passado (imperfeito); ele marca a en-
trada e permanência no ato ou no estado, que o verbo exprime.
É um problema de aspecto e está presente em todas as línguas. A
gramática descritiva “preenche” os quadros restantes do paradigma ideal
com formas de outros verbos: gÛgnomai no grego, fieri no latim, e as-
sim por diante.

mur05.p65 407 22/01/01, 11:38


408 a flexão verbal

O próprio futuro, que é uma forma de aoristo, foi criado por ana-
logia, acrescentando-se a característica -s- do aoristo/futuro ao tema es-
do verbo; é que o futuro é um antigo desiderativo, um modo e não um
tempo, com sentido eventual e por isso não leva consigo o aspecto
durativo.

Quadro de flexão do verbo eänai

Tema: es- / s
Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo
sou seja seria/fosse* sê/sede**
S. ¤s-mi > eÞ-mi Î e-àh-n
¤s-si > ¤si > eä Âw e-àh-w às-yi (si-s-yi)
¤s-ti > ¤s-ti (n) Â e-àh ¦s-tv
P. ¤s-men > ¤s-men Î-men e-àh-men/e-ä-men
¤s-te > ¤s-te ·-te e-àh-te/e-ä-te ¦s-te
¤s-nti > eÞ-si(n) Î-si(n) e-àh-san/e-ä-e-n ö-ntvn/¦stvsan
D. ¤s-tñn ·-ton e-àh-ton/eä-ton ¦s-ton
¤s-tñn ·-ton e-à-thn ¦s-tvn
* Também: poderia/pudesse ser.
** Imperativo de 3a pessoa: ele seja/ eles sejam.

Particípio: sendo/que é
Tema Masc. Fem. Neut.
-o-nt- Ên - önt-ow oïsa-oëshw ön-önt-ow
Homero ¦vn-¤ñnt-ow ¦ousa-¤oæshw ¦on-¤ñntow

Infinitivo: ser: eä-nai (¤s-nai) - Homero: ¦mmenai

mur05.p65 408 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 409

Passado do Infectum: Imperfeito: era


S. ±(s)n > ·/·n P. ±s-men > ·-men D.
·s-ya ·s-te/ ·-te ³s-thn
±(s)e(t) > ³(e)n > ·-n ·-san ³s-thn

Futuro: serei, continuarei sendo


Indicativo Optativo
serei haveria de haver de ser
S. ¦s-o-mai ¤s-o-Û-mhn
¦s-e-sai - ¦sú/¦sei ¦s-o-i-so > ¦soio
¦s-tai ¦s-o-i-to
P. ¤s-ñ-meya ¤s-o-Û-meya
¦s-e-sye ¦s-o-i-sye
¦s-o-ntai ¦s-o-i-nto
D. ¦s-e-syon ¦s-o-i-syon
¦s-e-syon ¤s-o-Û-syhn

Particípio: havendo de ser, que continuará sendo, que será:


¤s-ñ-menow, ¤s-o-m¡nh, ¤s-ñ-menon

Infinitivo: haver de ser, continuar sendo: ¦s-e-syai

Notas:
1. No futuro, houve o emprego da característica -s- do aoristo/futuro,
que se somou ao tema es-s. > ¦ssomai (dialeto homérico e jônico),
havendo posterior simplificação no ático: ¦ssomai > ¦somai.
2. Todas as formas do indicativo presente, com exceção da segunda do sin-
gular são enclíticas; isto é, não têm acento próprio e por isso se apóiam
na anterior (¤n-klÛnv); nesse caso elas podem receber um acento ou
não, dependendo da lei dos três tempos. Contudo, acentuadas ou não,

mur05.p65 409 22/01/01, 11:38


410 a flexão verbal

essas formas, como todos os enclíticos de duas sílabas, pronunciam-se


como se fossem oxítonas.
3. Contudo, quando usado em seu sentido primeiro; sou, existo, estou, ou
com significados derivados desses: é permitido, é possível, recebe o acento
no tema: ¦stin. Também depois de toèto (isso), Žll‹ (mas), Éw
(como): toètƒ ¦stin - isso é, Éw ¦stin - como é, Žllƒ ¦stin - mas é.

Quadro demostrativo de flexão

Subjuntivo Optativo
S. ¦s-v> ¦v > Î ¤s-Ûh-n > eàhn
¦s-h-si > ¦shi > ¦hi > ·iw > ·iw/Âw ¤s-Ûh-w > eàhw
¦s-h-ti > ¦shsi > ¦shi ¦hi ¦hi/Â ¤s-Ûh-(t) > eàh

P. ¦s-v-men > ¦vmen > Îmen ¤s-Ûh-men > eàhmen/¤s-Ý-men > e-ä-men
¦s-h-te > ¦hte > ·te ¤s-Ûh-te > eàhte/¤s-Ý-te > e-ä-te
¦s-v-nti > ¦svnsi > ¦vsi > Îsi ¤s-Ûh-san > eàhsan/¤s-Ý-en > e-ä-e-n

D. ¦s-h-ton > ¦hton > ·-ton ¤s-Ûh-ton > eàhton/¤s-Ý-ton > eä-ton
¦s-h-ton > ¦hton > ·-ton ¤s-Ûh-thn > eàhthn/¤s-Ý-thn > eà-thn

Imperativo
2a S. redobro de pres. em -i- > P. ¦s-te D. ¦s-ton
-si-> sÛ-s-yi > à-s-yi > à-s-yi
3a ¦s-tv ¤s-ñntvn > ¤ñntvn > öntvn ¦s-tvn
¦s-tvsan

Particípio
Tema ¤s-o-nt- > ¤s-o-nt- > önt-
Masc. ontw > Ên
Fem. öntja > öntia > önsia > önsa > oïsa
Neutro ont > ön

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a flexão verbal 411

Compostos de eänai
Como todos os verbos gregos, também o verbo eänai se compõe
com todas as preposições semanticamente compatíveis. A língua grega tem
uma consciência clara da “com-posição”, isto é, o significado final é uma
somatória do significado dos dois componentes. Eles são independentes e
têm um significado próprio; por isso, ora estão juntos, ora separados. Os
gramáticos viram nessa separação uma tm°siw (tmese - corte).
Vejamos alguns exemplos:
par‹ ao lado de p‹reimi = eÞmi par‹ estou ao lado de,
estou presente
sun junto, com sæneimi = eÞmi sæn estou junto,
em companhia de
¤n em, dentro de ¦neimi = eÞmi ¤n estou dentro, estou em
Žpñ de, distante peimi = eÞmi Žpñ estou distante,
estou ausente
¤k/¤j de dentro de, para fora de ¦jeimi = eÞmi ¤k estou (saí) fora (de
dentro para fora)41
perÛ em volta de, em torno de perÛeimi = eÞmi perÛ estou em volta de,
estou em torno de,
eu cerco, envolvo,
domino

41 Da idéia “de dentro para fora” é fácil passar-se à idéia de “deus ex machina”, do
surgimento abrupto; daí o uso constante de ¦jesti com o sentido de é possível, é
permitido com sujeito oracional. Não há nada de estranho nisso e nem é um sig-
nificado especial; é apenas o jogo da metáfora ou da metonímia e pode acontecer
com todos esses compostos; é a passagem do concreto para o abstrato, o figurado.
Esses exemplos são suficientes; basta aplicar o mesmo sistema a todas as pre-
posições semanticamente compatíveis com a idéia do ser, isto é, que não conte-
nham idéia de movimento. Mas a preposição traz ao verbo ser uma relação de
espaço, e neste caso, em português, nós usamos o verbo estar.

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412 a flexão verbal

Formação dos temas do infectum

Como já vimos, o tema verbal puro é o tema do aoristo, que é por


isso mesmo o aspecto puro, o aspecto referência.
Em grande parte o tema verbal e o tema aoristo se confundem.
O que vai trazer algum diferença é a presença do -s-42 que passa a
ser o elemento formador do tema do aoristo para a maioria dos verbos.
Nesse caso, o -s-/sa passa a exercer o mesmo papel do sufixo
formador do infectum -j-.
Mas, todos os formadores dos temas dos três aspectos são sufixos
sobre o tema verbal puro.
tema verbal puro: prag-
aoristo: ¦-prag-sa > ¦praja
futuro: prag-sv > pr‹jv
infectum: prag-j-v > pr‹ssv/pr‹ttv
perfectum: pe-prag-ka > p¡praxa

Como podemos ver, o encontro dos formadores dos temas com o


tema verbal apresenta problemas fonéticos, que se resolvem dentro das
normas e hábitos fonéticos do grego, precisamente do dialeto ático, que
nos interessa neste trabalho.
Vamos ver como se forma o tema do infectum; a formação dos te-
mas do aoristo/futuro e do perfeito será estudada nos capítulos a eles
destinados.
Pormenorizaremos aqui somente a formação do tema do infectum.

42 E o -k- nos temas monossilábicos em vogal yh-, dv-, sth-, ²- só no indicativo


singular.

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a flexão verbal 413

1.Temas consonânticos, monossilábicos, geralmente de vocalismo -e-


f¡r- v eu porto, eu levo, carrego
l¡g-v digo, afirmo
g¡m-v estou saciado
d¡r-v eu esfolo, tiro a pele
dr¡p-v eu colho, eu gozo
¦p-v eu digo, enuncio
leÛp-v eu abandono, eu deixo
leÛb-v eu derramo, verto, faço libação
n¡m-v eu distribuo, faço partilha
feæg-v eu evito, fujo
peÛy-v eu persuado
k¡l-v eu anuncio, exorto, mando
¤reÛd-v eu apóio, escoro, estaqueio, fixo
¤reÛk-v eu rasgo, despedaço, ralo
g-v eu conduzo, toco (o gado)
rx-v eu começo, eu comando
gr‹f-v eu gravo, eu escrevo
trÛb-v eu trituro, esmago
bñl-omai/boæl-omai eu quero
÷r-v eu estou alerta, vigilante
oàx-v / oàxomai eu viajo de carro, eu conduzo
trÅ-v eu furo
trÅg-v eu devoro, eu pasto
s¡x-v/ àsx-v eu seguro, levo, porto*
m¡n-v/ mimn-v eu permaneço, fico*
* Estes dois verbos têm uma forma com redobro e uma forma sem ele.

Notas:
1. São temas verbais puros e fazem o indicativo do infectum, inacabado,
simplesmente acrescentando a desinência -v à 1a pessoa e às outras,
as desinências primárias comuns, que, por serem consonânticas, têm
necessidade da vogal de ligação.

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414 a flexão verbal

2. Alguns temas de vocalismo -e- fazem o presente em vocalismo zero e


por isso recebem um redobro em -i.
Esse redobro compensa de alguma forma o vocalismo zero, que nor-
malmente deve ser o do aoristo.
T. gn-/gen- gÛgn-omai eu venho a ser, eu me torno, fico
T. ¦d- àz-v eu comerei / eu como
T. pt-/ pet- pÛ-pt-v eu caio
T. tk-/tek- tÛ-tkv > tÛkt- v eu dou à luz, crio
3. Temas em semivogal: -u-, -i-
São pouco numerosos na origem, mas há um grupo deles criados
como alternativa para os verbos em -nu-mi (ver pg.313, nota 90), e
têm a 1a pessoa do presente em -v e desinências primárias (consonân-
ticas), com vogal de ligação.
yæ-v eu faço fumaça, eu ofereço sacrifício
læ-v eu solvo, desligo
tÛ- v eu aprecio, honro
4. Raízes monossilábicas de vocalismo longo/breve, com redobro em -i-
da consoante inicial e desinência de 1a pessoa -mi. Por serem temas
vocálicos dispensam a vogal de ligação quando se lhes acrescentam as
desinências pessoais consonânticas, por desnecessária.
T. dh - dÛ-dh-mi eu amarro
T. nh - ônÛ-nh-mi eu ajudo, eu sou útil
T. xrh - kÛ-xrh-mi eu empresto
T. plh - pÛ-m-plh-mi eu encho
T. prh - pÛ-m-prh-mi eu incendeio
T. dv - dÛ-dv-mi eu dou
T. yh - tÛ-yh-mi eu coloco
T. sth - á-sth-mi eu ponho de pé
T. ² - á-h-mi eu lanço
T. zh - dÛ - zh-mi - ( zht¡v ) eu procuro

Podemos incluir aqui alguns temas sem redobro:


fhmi eu me manifesto, eu digo eÞmi, eu sou
eämi eu vou ±mi, eu digo

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a flexão verbal 415

5. Temas consonânticos, na maioria monossilábicos, que recebem o sufixo


-na-/-nu-./-nnu. Os temas consonânticos recebem o sufixo -nu-.; os
vocálicos, o sufixo -nnu-.
Têm a 1a pessoa em -mi e as outras desinências consonânticas sem
vogal de ligação, por desnecessária.
kÛr-nh-mi eu misturo
p¡r-nh-mi eu vendo
sk¡d-na-mai eu espalho
pÛl-na-mai eu me aproximo
skÛd-na-mai eu me disperso
sked‹-nnu-mi eu disperso, eu espalho
zeæg-nu-mi eu ato, eu junto, eu amarro
stñr-nu-mi eu estendo (esteira, tapete)
¦r-nu-mi eu surjo, levanto
g-nu-mi eu quebro, eu rompo
d‹m-na-mi/-nhmi eu domo
kr®m-nh-mi eu suspendo
pÛt-nh-mi eu estendo
m‹r-na-mai eu combato
deÛk-nu-mi eu mostro
zÅ-nnu-mi eu cinjo
pt‹r-nu-mai eu espirro
-nu-mi eu proclamo
r-nu-mai eu pego
x-nu-mai eu me aflijo

Muitos desses temas em -nu-/-nnu-, por causa do -u, por analogia


com læ-v, têm a 1a pessoa em -v e uma flexão como o tema em soante:
deiknæ-v, / deÛk-nu-mi eu mostro, etc. (Ver página 329, nota 14.)

mur05.p65 415 22/01/01, 11:38


416 a flexão verbal

6. Temas em consoante, com sufixo -n- (alargamento da raiz)


kam- k‹m-n-v eu me canso, estou doente
tem- t¡m-n-v eu corto
dak- d‹k-n-v eu mordo
ti- tÛ-n-v eu honro
pi- pÛ-n-v eu bebo
fyi- fyÛ-n-v eu destruo, faço perecer
lhy- lhy-n-v > lhy‹nv
/lay- lay-n-v > lany‹nv eu passo desapercebido
mart- mart-n- > mart‹nv eu peco, eu falho
ßk- ßk‹nv/ßknv/ßkv eu chego, atinjo
Þd-j- Þzv/ Þz‹nv eu assento , estabeleço
¤ruk- ¤rækv/ ¤ruk‹nv eu seguro, retenho (as rédeas)
Þyæ- Þyæ-n-v eu endireito, ponho na reta

Alguns têm uma variante sem o sufixo:


keuy-‹n-v / keæyv eu escondo, eu fecho
lhy-‹n-v / l®yv eu passo desapercebido
aéj-‹n-v / aéjv eu aumento, eu acresço
oÞd-‹n-v / oÞd¡v eu incho

Temas em consoante com um infixo e um sufixo nasais.


• antes da consoante -n-,
• depois da consoante -n- > an
puy- > pu-n-y-‹n-omai eu pergunto, eu me informo
lip- > li-m-p-‹n-v eu deixo, abandono
xad- > xa-n-d-‹n-v eu contenho
lax- > la-g-x-‹n-v eu obtenho por sorte
may- > ma-n-y-‹n-v eu entendo, eu aprendo
lab- > la-m-b-‹n-v eu tomo, eu pego
lay-> la-n-y-‹n-v eu passo desapercebido
tux-/teux- > tugx-‹n-v eu estou por acaso, eu encontro

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a flexão verbal 417

7. Temas com dupla sufixação: -sk-/-isk-+-n-.


O sufixo -sk-/-isk- é incoativo, exprime o desdobramento da ação.
O sufixo -n- exprime o alargamento, continuidade, extensão da ação.
l-usk-n lu-sk-n-v > lusk‹nv eu escapo, eu evito
ôfl-isk-n ôfli-sk-n-v > ôflisk‹nv eu devo, sou devedor
sx-> sisx-> -ásx- > àsxv eu seguro, retenho
sx- > sisx-n > -ásxn > àsx-a-n > Þsx‹nv

8. Temas com sufixo -sk-/ -isk- (desdobramento da ação verbal, incoa-


tivo), às vezes com redobro em -i-:
blv-sk-v eu venho, vou
bñ-sk-v eu pasto
ghr‹-sk-v eu envelheço
²b‹-sk-v eu entro na adolescência
p‹y-sk-v > p‹sxv eu passo a sofrer, eu sofro
yn-®-sk-v eu morro, estou morrendo
l-Ûsk-o-mai estou sendo preso
ster-Ûsk-o-mai estou sendo privado
eêr-Ûsk-v encontro, eu estou encontrando
Žrar-Ûsk-v eu adapto, eu ajusto
Žp-ar-Ûsk-v eu engano
meyæ-sk-o-mai eu me embebedo
ki-kl®-sk-v eu chamo repetidamente
ti-trÅ-sk-v eu encho de ferimentos (furos)
bi-b‹-sk-v eu saio andando, eu passeio
di-d‹-sk-v eu ensino (repetição)
mi-mn®-sk-v eu me lembro
gi-gnÅ-sk-v eu tomo conhecimento de
Žpo-di-dr‹-sk-v eu saio correndo
b‹-sk-v -/baÛnv eu ando
f‹-sk-v / fhmi /fami eu estou falando

mur05.p65 417 22/01/01, 11:38


418 a flexão verbal

9. Esse sufixo -sk- assume um sentido iterativo quando recebe desinên-


cias secundárias (no imperfeito) e, às vezes, no aoristo (pontualidade
repetida), como nestes exemplos em Homero:
R 461 feæge-sk-en ele fugia (repetidamente)
R 462 ¤paÛja-sk-e ele irrompia (repetidamente)
t 574 ásta-sk-e fazia uma parada (e recomeçava)
H 141 =®gnu-sk-e ele ia romper (e voltava)
Y 271 dæ-sk-e ele ia se esconder (e voltava)
G 217 àde-sk-e ele olhava repetidamente (e recomeçava)

10. Temas com sufixos t, y, k, x, g;


São em geral remanescentes de um estado antigo da língua. Mui-
tos deles têm variantes sem o infixo:
Žnæ-t-v / Žnæv eu completo, acabo
Žræ-t-v / Žræv eu tiro água
¦syv < ¦d-y-v / ¦dv eu como (impf. ·syon)
diÅ-k-v - eu persigo
fyi-næ-yv / fyinÇ (e) eu faço perecer
ôl¡-k-v / öllumi eu arruíno, eu faço perecer
pl®-y-v / plhyæv eu encho
¤ræ-k-v / ¤ræv eu retenho (as rédeas), impeço
t®-k-v eu fundo, eu derreto
tm®-g-v / t¡mnv eu corto
sm®-x-v / sm®v eu enxugo, limpo
c®-x-v / c®v/c‹v eu esfrego, raspo, coço
træ-x-v / træv eu gasto, desgasto, consumo
n®-x-v / n¡v eu nado
sten‹-x-v / st¡nv eu gemo

11. Sufixo -j- (temas vocálicos: tÛma-, d®lo-, fÛle- + -j-).


É o mais produtivo dos formadores de infectum, quer a partir de
temas verbais, quer a partir de temas nominais. Essa divisão, no en-
tanto, é teórica, embora interessante.
A forma final (tema do infectum) é resultante do tratamento que
o -j- recebe em contato com as consoantes ou vogais do tema e isso é
do domínio da fonética.

mur05.p65 418 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 419

Os verbos que chamam mais a atenção são os verbos que as gramá-


ticas chamam de “contratos”, que dão tanto trabalho para aprendê-los.
São verbos denominativos (construídos sobre temas nominais,
substantivo ou adjetivo), com o sufixo -j-. Como o tema verbal em soante
pede uma vogal de ligação, o -j- acaba se colocando em posição inter-
vocálica, e sofre síncope, deixando em contato duas vogais que, no ático,
tendem a contrair-se. Vimos o modelo dessa flexão nas páginas 366-94.

a) Oclusiva dental ou velar surda + -j- > ss / tt


lit-j-omai > lÛssomai /-ttomai eu suplico
play-j-v > pl‹ssv/-ttv eu modelo, moldo
frik-j-v > frÛssv/-ttv eu me arrepio, frissono
ôrux-j-v > ôræssv/-ttv eu cavo, escavo
ptux-j-v > ptæssv/-ttv eu dobro
tarax-j-v > tar‹ssv/-ttv eu turvo, eu perturbo
phk-j-v > p®ssv/-ttv eu cozinho, faço ferver
bhk-j-v > b®ssv/-ttv eu tusso
mlit-j-v > blÛssv/-ttv eu colho mel
khruk-j-v > khræssv/-ttv eu proclamo, anuncio
tuflvk-j-v > tuflÅssv/-ttv eu cego
plhk-j-v > pl®ssv/-ttv eu bato
rmñt-j-v> rmñssv/-ttv eu ajusto
br‹t-j-v > br‹ssv/-ttv eu expilo, eu peneiro
¤r¡t-j-v > ¤r¡ssv/-ttv eu desfraldo (asas, remos)
p‹t-j-v > p‹ssv/-ttv eu verto, derramo, espalho
ptÛt-j-v > ptÛssv/-ttv eu soco, eu trituro

b) Oclusiva dental ou velar sonora + j > z


sxid-j-v > sxÛzv tiro lasca, eu fendo
ônomat-j-v ônomazv nomeio, denomino
sfag-j-v > sf‹zv degolo
nig-j-v > nÛzv lavo
klagg-j-v> kl‹gzv/kl‹zv clamo, grito
liyad-j-v > liy‹zv apedrejo
¤lpid-j-v> ¤lpÛzv espero
frad-j-v> fr‹zv explico, sinalizo

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420 a flexão verbal

ôd-j-v > özv exalo odor, tenho cheiro


¤d-j-v> ¦zv/¦zomai como
frontid-j-v > frontÛzv medito, tenho em mente
rpag-j-v> rp‹zv arrebato, roubo
Žg-j-omai > zomai venero
plag-j-v > pl‹zv faço errar, faço vacilar
stag-j-v > st‹zv faço gotejar, destilo
stig-j-v > stÛzv pico, furo
=eg-j-v> =¡zv faço, executo, cumpro

O uso desse sufixo -zv, -azv / -izv estendeu-se também a al-


guns temas em vogal, criando às vezes uma forma paralela, como se fosse
construída sobre um tema em -dj-/-tj-.43
ktÛv / ktÛ-zv construo, edifico, fundo
dam‹v / dam‹-zv - domo, submeto
pel‹v / pel‹-zv - aproximo
kal¡v / kal®-zv - chamo
kom¡v / komæ-zv - cuido, trago junto
por¡v / porÛ-zv - abro caminho, dou passagem
poreæomai providencio

c) Oclusiva labial + j > pt


blab-j-v > bl‹ptv prejudico
klep-j-v > kl¡ptv roubo, furto
kruf-j-v > kræptv escondo
nib-/nif-j-v > nÛptv lavo
skep-j-v > sk¡ptomai examino, observo

43 Só a analogia explica o futuro dam‹sv, o aoristo ¤d‹masa e o perfeito


ded‹maka, porque o -j- é formador do infectum (e o z é uma consoante dupla,
resultante do encontro de dental e -j-). Ora, isso só acontece no infectum; no
futuro, aoristo e perfeito teríamos o tema em dental; talvez * damat- ? ou sim-
plesmente dama-.

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a flexão verbal 421

d) Oclusiva velar sonora + j > ss / tt ou z


prag-j-v > pr‹ssv/-ttv faço, executo
tag-j-v > t‹ssv/-ttv ordeno, enfileiro
phg-j-v > p®ssv/-ttv bato
mag-j-v > m‹zv amasso, faço pão

e) Sufixo nasal -n- + -j-> -ani > ain: vocalização do -j- e posterior
metátese ou síncope do -i-;
tekt-n-j-v > tektaniv > tektaÛnv trabalho com madeira44
poim-n-j-v > poimaniv> poimaÛnv sou pastor
ban-j-v > b‹niv > baÛnv ando, eu marcho
ônom-n-j-v > ônomaniv > ônomaÛnv nomeio
melan-j-v > melaniv > melaÛnv pretejo, pinto de preto
kten-j-v > kteniv > kteÛnv mato
yen-j-v > yeniv > yeÛnv bato
ten-j-v > teniv > teÛnv estico, estendo
klin-j-v > klÛniv klÛnv deito*
ôtrun-j-v > ôtræniv ôtrænv empurro, aperto*
õlofur-j-v > õlofuriv > õlofærv lamento*
ôdur-j-omai > ôdæriomai ôdæromai choro, eu lamento*
fur-j-v > færiomai færv ponho de molho*
* Quando a vogal temática é -i-/-u-, a metátese é imperceptível foneticamente, por
isso parece uma síncope. Mas há metátese e contração, porque a vogal temática se
torna longa.

f) Tema em -ar-/er- + j : -ari- > air- , - eri- > eir-. Vocalização


do -j- e posterior metátese do -i-;
tekmar-j-v > tekm‹riv > tekmaÛrv assinalo, provo
kayar-j-v > kay‹riv > kayaÛrv purifico, lavo
fyer-j-v > fy¡riv > fyeÛrv corrompo, destruo
mer-j-omai > m¡riomai > meÛromai distribuo
der-j-v > d¡riv > deÛrv tiro a pele

44 Nos temas de vocalismo zero, o -n- vocaliza-se em -a-.

mur05.p65 421 22/01/01, 11:38


422 a flexão verbal

g) Tema em: al + -j- > ll


‘l-j-omai > ‘llomai me lanço, salto
bal-j-v > b‹llv atiro, eu jogo
yal-j-v > y‹llv broto, floresço, fico verde
skal-j-v > sk‹llv cavouco, fuço, cavo
sfal-j-v > sf‹llv deslizo, escorrego

h) Alguns temas monossilábicos em líquida (r, n, l) fazem o infec-


tum com redobro pleno (expressivo, enfático), mas mantêm o
mesmo comportamento dos itens anteriores
gar- gargar-j-v > gargaÛrv envelheço
fur- por-fur-j-v > porfærv levanto ondas
mur- mor-mur-j-v > mormærv murmuro
fan - pam-fan-j-v > pamfaÛnv resplandeço todo
mul- moi-mul-j-v > moimællv mamo, chupo

i) Tema em -as- + -j- : -j-v > -siv > aiv.


Vocalização do -j- e posterior síncope do -s- intervocálico.
nas-j-v > nasiv > naÛv - habito
mas-j-omai > masiomai > maÛomai estou cheio de ardor,
desejo ardentemente, busco

Pelo que acabamos de ver, a formação do tema do infectum é vari-


ada, porém não complexa.
Basicamente, exceto em um pequeno número de verbos, houve um
alargamento 45 do tema verbal por três processos: redobro, infixação e
sufixação. O número desses elementos não é excessivo. O que nos dá a
idéia de complexidade são os metaplasmos, isto é, acidentes fonéticos
que se sucederam no encontro desses temas com as desinências.

45 Como temos insistido, há sempre uma razão semântica para uma alteração
morfológica. Não é por mero acaso que a forma mais reduzida do tema seja o tema
do aoristo (pontualidade); e o infectum, se não é da mesma dimensão do aoristo, é
sempre mais extenso: a extensão da forma coincide com a extensão do significado.

mur05.p65 422 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 423

Contudo, fica evidente que o sistema vigente de basear a conjugação


verbal sobre o tema do infectum causa mais problemas do que soluções.
O ponto de partida é sempre o tema verbal, isto é, o tema do aoristo.
A partir daí, as formas se constroem, isoladamente, e não em blo-
co ou quadro, à maneira dos gramáticos.
O modelo existia, sim, na mente do grego, mas orgânico, dinâmi-
co, coerente, significativo, ágil, e não petrificado, imóvel, imperativo.

Aoristo

Como já foi dito, o aoristo é o aspecto primeiro, a raiz-tema, de


onde derivam os outros dois aspectos: infectum-inacabado e perfectum-
acabado.
É importante ater-se a essa idéia para entender todo o sistema de
conjugação do verbo grego e principalmente o do aoristo.
A gramática não é unânime na sua visão do aoristo.
Basicamente, ela faz uma divisão em dois grupos:

l. Aoristo sigmático (ou Aoristo I)46


Com uma série de subdivisões, segundo a soante ou a consoante
do radical (velar, labial, dental, líquida).

2. Aoristo II
• sobretudo o chamado “temático” (tema em consoante) por causa da
vogal de ligação: “e”, “o”.
• o aoristo “radical”, em que a vogal de ligação não aparece, por se tra-
tar de temas de vogais longas.

46 As gramáticas não têm um “aoristo I”. Elas falam do aoristo sigmático e o apre-
sentam em primeiro lugar, como paradigmático, regular; e ipso facto os outros são
sentidos como não paradigmáticos, irregulares, levando a numeração II, III, IV.

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424 a flexão verbal

Cremos que há um modo mais simples e objetivo de abordar o


aoristo:
Por ser o aspecto primeiro, isto é, indeterminado, pontual, sem
conotação temporal, com significado absoluto do ato verbal, o aoristo se
constrói sobre a própria raiz do verbo, de quatro maneiras;
I. acrescentando-se as desinências secundárias à raiz-tema (aoristo II nas
gramáticas) e vogal de ligação nos temas em consoante.
II. acrescentando-se as desinências secundárias diretamente à raiz (tema
verbal), sem vogal de ligação, nos temas em vogal longa.
III. acrescentando-se um kapa (k) (empréstimo do perfeito?) e desinên-
cias secundárias à raiz (tema verbal) só no singular.
IV. acrescentando-se um sigma (s) e desinências secundárias à raiz, que
é o próprio tema verbal.

a) Pertencem ao grupo I:
Os aoristos de raiz-tema em consoante, tipo id-, lip-, ely, aos
quais se acrescentam as desinências secundárias, que, por serem em con-
soante, pedem a presença de uma vogal de ligação;
A denominação de “aoristo temático” repousa sobre este equívo-
co: “vogal de ligação = vogal temática”.47
Essa vogal de ligação e/o é a mesma do infectum (inacabado) dos
verbos em -v ; esse fato provoca, às vezes, no principiante, alguma con-
fusão entre o imperfeito e o aoristo indicativo.
Mas a distinção não é difícil de ser feita.
É preciso identificar o tema.
Por exemplo, nos verbos de aoristo de raiz-tema a diferença se nota
nos temas:
tema do aoristo: may- > ¦-may-o-n
tema do infectum: manyan- > ¤-m‹nyan-o-n (imperfeito).

47 A vogal temática pertence ao corpo do tema; ela não é flexional. Vogal de ligação é
a vogal que “amacia” o contato entre duas consoantes: a do tema e a da desinência.
Vogal de apoio é a vogal que se coloca em posição final, para proteger uma conso-
ante; é mais ou menos uma vogal eufônica, como a do imperativo singular da voz
ativa: krÛn-e.

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a flexão verbal 425

b) Pertencem ao grupo II:


Os aoristos de raiz-tema em vogal longa: -v,-h,-a,-u
Na verdade, esses verbos não apresentam dificuldade alguma na
flexão: na medida em que terminam em vogal longa, a vogal de ligação se
faz desnecessária; é só acrescentar as desinências correspondentes.

c) Pertencem ao grupo III:


Os aoristos em -ka, no indicativo.
São 4 aoristos de verbos com redobro no infectum (inacabado):
tÛ-yh-mi, dÛ-dv-mi, á-h-mi, ásthmi
Até certo ponto, esses temas poderiam estar enquadrados no item
b) (raiz-tema em vogal longa). Mas, tratando-se de temas monossilábicos,
a opção por uma característica forte é normal; mas isso só acontece no
singular, que tem desinências fracas monolíteres.
No plural, sem o -ka e com desinências silábicas, o tema volta a
ser breve.

d) Pertencem ao grupo IV:


Os aoristos em -s-: nestes verbos não há o problema com similitude
com o imperfeito, visto que o imperfeito se constrói sobre o tema do
inacabado, que pode ser igual ao do aoristo, mas sem a marca deste:
imperfeito: ¦-lu-o-n
aoristo: ¦-lu-s-a
Convém notar que um bom número dos aoristos de raiz-tema, por
razões semânticas, não tem o inacabado. A gramática “solucionou” o pro-
blema cobrindo essa lacuna com outros temas, quer no inacabado, quer
no acabado. É essa a origem dessas listas intermináveis de “verbos irre-
gulares”, suplício dos estudantes de grego. 48

48 O fato de um verbo não ter esse ou aquele aspecto obedece a razôes semânticas: o
tema fer- de “portar, carregar” só tem o tema de infectum, tanto em grego quan-
to em latim: não se concebe uma idéia aorista nem perfeita do ato de portar. O
tema id significa o ato aoristo de “ver”; não é “olhar”, mas admite um perfeito, isto
é, o resultado do ato. (A idéia busca a forma); ¤pÛstamai significa o saber-resul-
tado, o saber empírico, não tem nem infectum nem aoristo. Por razões semânticas
e não por obedecer a essa ou aquela regra.

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426 a flexão verbal

Quadro de flexão dos aoristos: voz ativa e média


Quadro de flexão dos aoristos de raiz-tema:
Raiz-tema em consoante: id-, lip-, ely

VOZ ATIVA:

lip- (leÛpv - eu deixo)


Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo
deixo/deixei deixe/deixar deixaria* deixasse deixa/deixai**
S. ¦-lip-o-n lÛp-v lÛp-o-i-mi
¦-lip-e-w lÛp-úw lÛp-o-i-w lip-¡
¦-lip-e lÛp-ú lÛp-o-i lip-¡-tv
P. ¤-lÛp-o-men lÛp-v-men lÛp-o-i-men
¤-lÛp-e-te lÛp-h-te lÛp-o-i-te lip-¡-te
¦-lip-0-n lÛp-v-si lÛp-o-i-en lip-ñ-ntvn
D. ¤-lip-¡-thn lÛp-h-ton lÛp-0-i-ton lip-¡-ton
¤-lip-¡-thn lÛp-h-ton lip-o-Û-thn lip-¡-tvn
* ou: pudesse/poderia deixar
** imperativo de 3a pessoa:(ele) deixe/(eles) deixem

Particípio: tendo deixado

Tema Masc. Fem. Neutro


lip-o-nt- lip-Ån - lip-ñnt-ow lip-oèsa - lip-oæshw lip-ñn - lip-ñnt-ow

Infinitivo: deixar: lip-eÝn

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a flexão verbal 427

VOZ MÉDIA:

deixar para mim

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


deixo/ deixe/deixar deixaria/ deixa para ti-deixai
deixei para mim para mim deixasse* para mim para vós**
S. ¤-lip-ñ-mhn lÛp-v-mai lip-o-Û-mhn
¤-lÛp-e-so (ou) lÛp-h-sai (ú) lÛp-o-i-so (oio) lip-¡-so (oè)
¤-lÛp-e-to lÛp-h-tai lÛp-o-i-to lip-¡-syv
P. ¤-lip-ñ-meya lip-Å-meya lip-o-Û-meya
¤-lÛp-e-sye lÛp-h-sye lÛp-o-i-sye lip-¡-sye
¤-lÛp-o-n-to lÛp-v-ntai lÛp-o-i-nto lip-¡-syvn
D. ¤-lip-¡-syhn lÛp-h-syon lip-o-Û-syhn lip-¡-syon
¤-lip-¡-syhn lÛp-h-syon lip-o-Û-syhn lip-¡-syvn
* poderia/pudesse deixar
** Imperativo de 3a pessoa: (ele/eles) deixe(m) para si

Particípio: tendo deixado para mim

Tema Masc. Fem. Neutro


lip-ñ-meno- lip-ñ-menow lip-o-m¡nh lip-ñ-menon

Infinitivo: deixar para mim: lip-¡-syai

Adj. verbal:
liptñw, ®, n / leiptñw, ®, ñn deixável/ que pode ser deixado
lipt¡ow, h, on / leipt¡ow, h, on que deve ser deixado

Notas:

1. Sobre o modelo acima conjugam-se todos os verbos que fazem o ao-


risto sobre a raiz-tema: os terminados em consoante, como id-, ely-,

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428 a flexão verbal

gen- e os de raiz-tema em vogal longa, como gnv, bh/ba, dra,


du, cuja flexão veremos a seguir;
2. No imperativo, particípio e infinitivo da voz ativa, a sílaba tônica, em
vez de manter a norma na flexão verbal, ou seja, permanecer no tema,
avança para posição de oxítona:
imperativo:- lip¡, lip¡tv, lip¡te, lipñntvn, lip¡ton, lip¡tvn
particípio:- lipÅn, lipoèsa, lipñn
infinitivo:- lipeÝn
na voz média, o deslocamento da tônica se dá só no imperativo e infinitivo:
imperativo:- lipoè, lip¡syv, lip¡sye, lip¡syvn
infinitivo:- lip¡syai
3. Algumas raízes-tema (poucas), em oclusiva ou líqüida, fazem o aoristo
ativo sem vogal de ligação; juntando diretamente o -n da la pessoa à
raiz-tema.
O -n, em contato direto com a consoante ou o W da raiz-tema, se
vocaliza em -a.
Em princípio, só se usam na l a e 3a pessoa do singular; embora
possamos encontrá-los, raramente, em outras pessoas.
Os verbos são estes:
Tema aoristo jônico aoristo ático
xW > xu/xeW > xeu
(verter água) ¦xeWa>¦xea/¦xeua
sW > su/seW > seu
(empurrar, repelir) ¦sseua
kaW/keW > kau/keu > kaÛv
(acender, embrasar-se, consumir) ¦khWa > ¦kha/¦kausa
eneik/enik
(serve de aoristo para f¡rv) ³neika/³nika/±nÛxyhn ³negka/³negkon
Weip > eäp
(dizer) eäpa, eäpaw / eäpon, eäpew

4. Os verbos de raiz-tema só têm as vozes ativa e média. Apenas alguns


deles desenvolveram, mais tarde, uma forma para a voz passiva. Prova-
velmente é porque esses verbos já existiam antes do surgimento da voz
passiva.

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a flexão verbal 429

5. Há um bom número de aoristos de raiz-tema arcaicos, encontrados


sobretudo em Homero, que o ático não conservou.
Os dicionários e as gramáticas registram essas formas sob a rubrica
“épica”. Não são necessariamente épicas; diríamos melhor “arcaicas”,
por se tratar de formas antigas; e se lembrarmos que a prosa e o diale-
to ático só aparecem em meados do séc. V, o que vem antes é poesia,
mas não exclusivamente épica.
Esses aoristos, construídos sobre raiz-tema, todos registrando atos
e atos primeiros da vida, ou ficaram petrificados, não reproduzindo
temas do perfectum ou do infectum no ático, ou, se o significado per-
mitiu, reproduziram os temas ou do infectum ou do perfectum ou os
dois; mas, tanto o infectum quanto o perfectum sofrem alterações na
sua forma: (prefixação/sufixação/infixação).
Assim:
raiz-tema aoristo infectum perfectum
may → ¦-may-o-n many‹n → many‹nv; mem‹yhka eu entendo, aprendo
¤-m‹nyan-on
id → eädon oäda eu vi
fag → ¦fagon eu comi

Nos três exemplos acima, vemos que o primeiro desenvolveu um


tema de infectum, alargando a raiz-tema com dois infixos nasais, porque
o significado permite: o ato de entender pode ser pontual, inacabado e
terminado, por isso desenvolveu também o tema do perfectum.
O segundo é a noção aorista do ver, a percepção momentânea pela
visão, mais da mente do que do olhar (que necessariamente seria ato
inacabado); por isso a impossibilidade de existir um tema do infectum;
mas “a idéia busca a forma”, e a percepção visual pela mente leva ao co-
nhecimento (resultado); é por isso que é possível um tema do perfeito:
eu vi, donde eu sei.
O terceiro não admite nem um tema do infectum nem um tema
do perfectum, porque exprime o ato aoristo (pontual) de “deglutir, co-
mer” e não de “almoçar ou jantar”, que é o comer social.

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430 a flexão verbal

Eis alguns desses verbos:


Tema Aoristo Infectum Perfeito Significado
Žd ‘don/§adon Žnd‹nv agrado
(§ada)
bal/bl ¦balon b‹llv ¦blhfa eu atiro, jogo
tek ¦tekon tÛktv t¡toka eu dou à luz, gero
r retñmhn rnumai tento pegar,
conquistar
Žmart ³marton Žmart‹nv ±m‹rthka eu erro o caminho,
eu falho, eu peco
sx ±nesxñmhn Žn¡xomai eu tolero
¤xy Žphxyñmhn Žp¡xyomai eu sou odioso
drk /dark ¦drakon d¡rkomai brilho, olho
dÛe /dWi dÛomai* deÛdv temo
¤rik ³rikon ¤reÛkv quebro, rasgo
¤rip ³ripon ¤reÛpv derrubo, abato
gr/ger ¤gretñmhn ¤geÛrv ¤gr®gora desperto (intr. e tr.)
ktup ¦ktupon ktup¡v percuto, ressôo
lak l‹kon l‹skv/lhk¡v grito
ple/pl ¤pletñmhn p¡lomai movo-me, chego perto
pry/pary ¦prayon p¡ryv/pory¡v arraso
§l eålon eu pego, eu escolho
¦ly ·lyon ¤l®luya eu chego, cheguei
fag ¦fagon eu comi, como
yal ¦yalon y‹llv eu floresço
kan ¦kanon kaÛnv eu mato
kuy ¦kuyon keæyv eu escondo
krg/krag ¦kragon kr‹zv eu grito
krub ¦krubon kræptv eu escondo
stix ¦stixe steÛxv avanço, ando
stug ¦stugon stug¡v odeio, horrorizo
trp/tarp tarpñmhn alegro-me
trp/tra ¦trapon tr¡pv viro, desvio
trf/traf ¦trafon tr¡fv t¡trofa nutro, encho
trag ¦tragon trÅgv eu devoro

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a flexão verbal 431

Tema Aoristo Infectum Perfeito Significado

xad ¦xadon xand‹nv contenho, pego


dak ¦dakon d‹knv mordo
dram ¦dramon didr‹skv ponho-me a correr
drp/drap dr‹pon dr¡pv colho, ceifo
sep sp¡syai/ §pomai acompanho
spñmenow
rug ³rugon ¤reægomai/ ronco, ressôo, arroto
¤rugg‹nv
Wid/id eädon oäda vejo
lab ¦labon lamb‹nv eàlhfa pego, tomo
lay/lhy ¦layon/ lany‹nv oculto-me,
l¡-layon não sou percebido
lax ¦laxon lagx‹nv obtenho por sorte,
atinjo
lip ¦lipon leÛpv l¡loipa deixo, abandono
may ¦mayon many‹nv mem‹yhka entendo, aprendo
piy ¤piyñmhn peÛyv p¡poiya persuado-me, obedeço
puy ¤puyñmhn puny‹nomai/ informo-me, inquiro
peæyomai
ptar ¦ptaron ptaÛrv / espirro
pt‹rv / pt‹rnumi
sx/sex ¦sxon **s¡xv > ¦xv seguro, tenho
tux ¦tuxon tugx‹nv tetæxhka encontro-me por acaso
fug ¦fugeon feægv p¡feuga evito, fujo
kam ¦kamon k‹mnv k¡kmhka trabalho, canso-me
tm/tam ¦tamon /¦temon t‹mnv /t¡mnv t¡tmhka corto, amputo
yn/yan ¦yanon yn¹skv t¡ynhka morro
ktn/ktan ¦ktato/ kten > tkeÛnv quero matar, mato
¦ktanon
klu klèyi-¦kluon klæv ouço, sinto
pi pÝyi -¦pion pÛnv p¡pvka bebo
pay ¦payon p‹sxv p¡ponya eu sofro
stix ¦stixon steÛxv eu caminho, vou
ml/mel ¦molon (m)blÅskv estou a ponto de, vou

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432 a flexão verbal

Tema Aoristo Infectum Perfeito Significado

pr/per ¦poron pñrv forneço, mando


buscar, busco
ol/Wol Êleto öllumi pereceu
yor ¦yoron ti)yrÅskv atiro-me, lanço
ofl Êflon ôfeÛlv/ sou devedor, devo
ôflisk‹nv
gn/gen ¤g¡neto gÛgnomai g¡gona/ tornou-se, aconteceu
geg¡nhmai
blasy ¦blaston blast‹nv eu germino
pt/pet ¦peson/¦peton pÛptv p¡ptvka caio
yen ¦yenon yeÛnv bato
‘l ²lñmhn ‘lomai eu salto
aÞsy ¼syñmhn aÞsy‹nomai percebo pelos sentidos
fen/fon ¦pefnon bato, mato
eêr hðron eêrÛskv hìrhka encontro, acho
¤negk ¦negkon/¦negka ¤n®noxa eu levo, levei
¤ly ·lyon ¤l®luya venho, chego
tup ¦tupon tæptv eu bato
ki kÛe/kiÅn kÛnv movo, agito
lit litñmhn lÛtomai/lÛssomai oro, suplico
kel/kl ¤-k¡kleto k¡lomai (keleæv) ponho em movimento,
mando, ordeno
Žg ³gagon gv ·xa conduzo, levo
ar ³raron aàrv/ŽrarÛskv pego, escolho
ôr Êroron örnumi faço levantar, nasço
ôsfr Èsfrñmhn ôsfraÛnomai eu cheiro

* As gramáticas chamam estas formas (dÛomai, pÛomai, eàpomai) “sub-


juntivo com vogal breve” ou “futuro sem sigma”.
** s¡xv > §xv > ¦xv.

mur05.p65 432 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 433

Raízes-tema em vogal longa:


-v, -h, -a, -u - (gnv/bh/dra/du)

VOZ ATIVA:

Tema: gnv/gno: tomo conhecimento

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


tomo/tomei tome/tomar tomaria conhecimento** toma/tomai
conhecimento conhecimento conhecimento***

S. ¦-gnv-n gnÇ* gno-Ûh-n/gnÐhn


¦-gnv-w gnÒw gno-Ûh-w/gnÐhw gnÇ-yi
¦-gnv gnÒ gno-Ûh/gnÐh gnÅ-tv

P. ¦-gnv-men gnÇ-men gno-Ûh-men (gnoÝmen)


¦-gnv-te gnÇ-te gno-Ûh-te (gnoÝte) gnÇ-te
¦-gnv-san gnÇ-si gno-Ûh-san (gnoÝen) gnñ-ntvn/tvsan

D. ¦-gnv-ton gnÇ-ton gnoÛhton/gno-Ý-ton gnÇ-ton


¦-gnv-ton gnÇ-ton gnoi®thn/gno-Û-thn gnÅ-tvn

* O subjuntivo se constrói sobre o tema verbal gnv- + característica do


subjuntivo v, h, h, v, h, v, (vogal longa seguida de longa se abrevia)
+ desinências primárias.
Nas contrações prevaleceu o vocalismo o da raiz-tema.
** Também: poderia/pudesse tomar conhecimento.
A vogal do tema se abrevia diante da característica longa do optativo.
*** Imperativo de 3 a pessoa: (ele / eles) tome(m) conhecimento.

mur05.p65 433 22/01/01, 11:38


434 a flexão verbal

Quadro demostrativo da flexão do subjuntivo

gnÅ-v > gnñv > gnÇ


gnÅ-h-si > gnñhsi > gnÅsi > gnÇi/gnÒ > gnÇiw/gnÒw
gnÅ-h-ti > gnñhti > gnÅti > gnÅsi > gnÇi/gnÒ
gnÅ-v-men > gnñvmen > gnÇ-men
gnÅ-h-te > gnñhte > gnÇ-te
gnÅ-v-nti > gnñvnti > gnÇnti > gnÇnsi > gnÇ-si
gnÅ-h-ton > gnñhton > gnÇ-ton
gnÅ-h-ton > gnñhton > gnÇ-ton

Particípio:
Tema gnv-nt-.> gno-nt-*
Masc. gno-nt-w > gnoæw-gnñnt-ow
Fem. gnont-j-a > gnoèsa-gnoæs-hw
Neutro gnñnt- gnñn-gnñnt-ow
* Vogal longa seguida de soante e oclusiva se abrevia.

Infinitivo:
gnÇ-nai tomar conhecimento

Adjetivo verbal:
gno-stñw,®,ñn conhecível
gno-st¡ow,a,on que deve ser conhecido

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a flexão verbal 435

Tema: ba- / bh: ando

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


ando/andei ande/andar andaria/andasse** anda/andai***
S. ¦-bh-n bÇ* ba-Ûh-n
¦-bh-w b»-w ba-Ûh-w b°-yi
¦-bh b» ba-Ûh b®-tv
P. ¦-bh-men bÇ-men ba-Ûh-men/ba-Ý-men
¦-bh-te b°-te ba-Ûh-te/ba-Ý-te b°-te
¦-bh-san bÇ-si ba-Ûh-san / ba-Ý-en ba-ntvn/ntvsan
D. ¤-b®-thn b°-ton ba-Ûh-ton/ba-Ý-ton b°-ton
¤-b®-thn b®-tvn ba-i®-thn/ba-Û-thn b®-tvn

* O subjuntivo se constrói sobre o tema verbal bh- + característica do


subjuntivo v, h, h, v, h, v, (vogal longa seguida de longa se abrevia)
+ desinências primárias.
** Também: poderia/pudesse andar.
A vogal do tema se abrevia diante da característica longa do optativo.
*** Imperativo de 3 a pessoa: (ele) ande; (eles) andem.

Quadro demostrativo da flexão do subjuntivo


b®-v > b¡v > bÇ
b®-h-si > b¡hsi > b°si > b°i/b» > b°iw/b»w
b®-h-ti > b¡hti > b¡hsi > b°si > b°i/b»
b®-v-men > b¡vmen > bÇmen
b®-h-te > b¡hte > b°te
b®-v-nti > b¡vnti > bÇnti > bÇnsi > bÇsi
b®-h-ton > b¡hton > b°ton
b®-h-ton > b¡hton > b°ton

mur05.p65 435 22/01/01, 11:38


436 a flexão verbal

Particípio: tendo andado


Tema: bh-nt- > ba-nt-*
Masc.: ba-nt-w > bw - b‹nt-ow
Fem.: bant-ja > bsa - b‹s-hw
Neutro: bant- > b‹n - b‹nt-ow
* Vogal longa seguida de soante e oclusiva se abrevia.

Infinitivo: b°-nai: andar

Adjetivo verbal: ba-tñw,®,ñn: andável, passável


ba-t¡ow,a,on: que deve ser andado, atravessado

Tema: du-: eu imerjo dæv / dæomai

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


eu imerjo, imerja, imergeria, imerge, imergi
eu imergi imergir imergisse*
S. ¦-du-n dæ-v dæ-o-i-mi
¦-du-w dæ-ú-w dæ-o-i-w dæ-yi
¦-du dæ-ú- dæoi dæ-tv
P. ¦-du-men dæ-v-men dæ-o-i-men
¦-du-te dæ-h-te dæ-o-i-te dè-te
¦-du-san dæ-v-si dæ-o-i-en dæ-ntvn/dæ-tvsan
D. ¤-dæ-thn dæ-h-ton du-o-Û-thn dè-ton
¤-dæ-thn dæ-h-ton du-o-Û-thn dæ-tvn
* Também pudesse, poderia imergir

Particípio: que imerge

Tema Masc. Fem. Neutro


du-nt- dèw-dèntow dèsa-dæshw dèn-dèntow

mur05.p65 436 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 437

Infinitivo: dè-nai: imergir

Adj. verbal:
du-tñw, du-t®, du-tñn: imergível
du-t¡ow, du-t¡a, du-t¡on: o que deve, vai ser imergido

Seguem os modelos acima de alguns outros aoristos em vogal longa:


¥-‹lv-n/´lvn lÛskomai sou preso, sou apanhado
Žp-¡-dra-n Žpo-di-dr‹sk-v safo-me, saio correndo
¦-brv-n bi-brÅ-sk-v como, devoro
¤-bÛv-n bi-Ç vivo, levo a vida
¤-g®ra-n ghr‹-sk-v eu envelheço
¦-du-n dæ-o-mai mergulho, visto-me
¦-sth-n á-sth-mi (ástamai) ponho (-me) de pé
¦-pth-n/ pta-n p¡t-o-mai eu vôo
¤-rræh-n =¡-v fluo, corro (água)
¦-sklh-n sk¡ll-v eu seco, eu resseco
¦-tlh-n tl‹-v eu sofro
¤-x‹rh-n xa-Û-r-v alegro-me
¦-fyh-n fy‹-n-v eu me antecipo
¦-fu-n fæ-o-mai nasço, sou de nascença

mur05.p65 437 22/01/01, 11:38


438 a flexão verbal

Aoristo em -ka (só no indicativo)


Temas monossilábicos

Os verbos de temas monossilábicos (yh-/ye-, dv-/do-/, sth-/


sta-, ²-/¥-), que, no infectum, inacabado, sofrem um redobro em -i,
poderiam fazer o aoristo seguindo os modelos acima. Mas só ásthmi o
faz. 49
Os três outros recebem a característica -k- sobre o tema longo;
essa característica é emprestada do perfeito ativo e a flexão se faz analogi-
camente aos aoristos ativos sigmáticos.
Mas o -k- só se usa no singular 50; no plural a flexão se faz sobre o
tema breve, como se fossem aoristo de raiz-tema.

Quadro de flexão do aoristo em -ka


Temas: yh/ye dv/do ²/¥ sth/sta

VOZ ATIVA

Indicativo
coloco/coloquei dou/dei lanço/lancei ponho/pus de pé
S ¦-yh-ka ¦-dv-ka ¸-ka ¦-sth-n
¦-yh-ka-w ¦-dv-ka-w ¸-ka-w ¦-sth-w
¦-yh-ke ¦-dv-ke ¸-ke ¦-sth
P ¦-ye-men ¦-do-men eå-men ¦-sth-men
¦-ye-te ¦-do-te eå-te ¦-sth-te
¦-ye-san ¦-do-san eå-san ¦-sth-san
D ¦-ye-ton ¦-do-ton eå-ton ¦-sth-ton
¤-y¡-thn ¤-dñ-thn eá-thn ¤-st®-thn

49 §sthka significa: estou de pé ou pus de pé (perfeito).


50 Em Homero encontram-se formas também no plural e nos outros modos.

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a flexão verbal 439

Subjuntivo
coloque/colocar dê/der lance/lançar ponha/puser de pé
S. yÇ* dÇ* Ï* stÇ*
y»-w dÒ-w Ã-w st»-w
y» dÒ Ã st»
P. yÇ-men dÇ-men Ï-men stÇ-men
y°-te dÇ-te ¸-te st°-te
yÇ-si dÇ-si Ï-si stÇ-si
D. y°-ton dÇ-ton ¸-ton st°-ton
y°-ton dÇ-ton ¸-ton st°-ton
* O subjuntivo se constrói sobre os temas breves (ye, do, ¥, sta ) com o
acréscimo da característica do subjuntivo v,h,h,v,h,v, que absorvem
a vogal temática (contração) e desinências pessoais. As contrações re-
sultam em formas perispômenas. Veja o quadro demostrativo abaixo.

Quadro demostrativo das modificações fonéticas do subjuntivo

S. y¡-v > yÇ dñ-v > dÇ


y¡-h-si > y¡hi /y» > y°iw/y»w dñ-h-si > dÇsi>dÇi/dÒ > dÇiw/dÒw
y¡-h-ti > y¡hsi >y¡hi > y°i /y» dñ-h-ti > dvhsi >dÇsi > dÇi /dÒ
P. y¡-v-men > yÇmen dñ-v-men > dÇmen
y¡-h-te > y°te dñ-h-te > dÇte
y¡-v-nti > y¡vnsi > y¡vsi > yÇsi dñ-v-nti > dÇnti > dÇnsi > dÇsi
D. y¡-h-ton > y°ton dñ-h-ton > dÇton
y¡-h-ton > y°ton dñ-h-ton dÇton

S. §-v > Ï st‹-v > stÇ


§-h-si > ¸si > ¸i/ à ¸iw/Ãw st‹-h-si > st‹hi > st°i/st» > st°iw/st»w
§-h-ti > §-hsi > ¸si ¸i/ à st‹-h-ti > st‹hsi > st‹hi > st°i/st»
P. §-v-men > Ïmen st‹-v-men > stÇmen
§-h-te > ¸te st‹-h-te > st°te
§-v-nti > §vnsi>Ïnsi > Ïsi st‹-v-nti > st‹vnsi > stÇnsi > stÇsi
D. §-h-ton > ¸ton st‹-h-ton > st°ton
§-h-ton > ¸ton st‹-h-ton > st°ton

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440 a flexão verbal

Optativo:
colocaria /colocasse* daria /desse lançaria /lançasse poria/pusesse de pé
S. ye-Ûh-n do-Ûh-n e-áh-n sta-Ûh-n
yeÛh-w do-Ûh-w e-áh-w sta-Ûh-w
ye-Ûh do-Ûh e-áhstaÛh

P. ye-Ûh-men/ye-Ý-men do-Ûh-men/do-Ý-men e-áh-men/e-å-men sta-Ý-men


ye-Ûh-te/ye-Ý-te do-Ûh-te/do-Ý-te e-áh-te/ e-å-te sta-Ý-te
ye-Ûh-san/ye-Ý-en do-Ûh-san/do-Ý-en e-áh-san/e-å-en sta-Ý-en

D. ye-Ý-ton do-Ý-ton e-å-ton sta-Ý-ton


ye-Û-thn do-Û-thn e-á-thn sta-Û-thn

* Também: poderia/pudesse colocar, dar, lançar, pôr de pé

Imperativo:
coloca colocai dá dai lança lançai põe-te/ponde-vos de pé*
S. y¡w** dñw** §w** st°-yi
y¡-tv dñ-tv §-tv st®-tv
P. y¡-te dñ-te §-te st°-te
y¡-ntvn dñ-ntvn §-ntvn st‹-ntvn/st®tvsan
D. y¡-ton dñ-ton §-ton st°-ton
y¡-tvn dñ-tvn §-tvn st®-tvn
* Imperativo de 3a pessoa: (ele) coloque, dê, lance, ponha-se de pé; (eles)
coloquem, dêem, lancem, ponham-se de pé.
** O imperativo singular seria o próprio tema, mas por ser vocálico, o -w
(marca de 2 a pessoa) protege a vogal.

Particípio: tendo colocado, tendo dado, tendo lançado, tendo-me posto de pé


Tema ye-nt- do-nt- ¥-nt- sta-nt-
Masc. yeÛw-y¡ntow doæw-dñntow eåw-§ntow st‹w-st‹ntow
Fem. yeÝsa-yeÛshw doèsa-doæshw eäsa-eáshw stsa-st‹shw
Neut. y¡n-y¡ntow dñn-dñntow §n-§ntow st‹n-st‹ntow

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a flexão verbal 441

Infinitivo: colocar dar lançar pôr de pé


ye-e-nai > yeÝnai do-e-nai > doènai ¥-e-nai > eänai st°-nai

VOZ MÉDIA

Indicativo:
coloco/colo- dou/dei para mim lanço/lancei para mim ponho-me de pé
quei para mim
S. ¤-y¡-mhn ¤-dñ-mhn eá-mhn ¤-st‹-mhn*
¦-ye-so> ¦you ¦-do-so > ¦dou eå-so ¦-sta-so > ¦stv
¦-ye-to ¦-do-to e-to ¦-sta-to
P. ¤-y¡-meya ¤-dñ-meya eá-meya ¤-st‹-meya
¦-ye-sye ¦-do-sye eä-sye ¦-sta-sye
¦-ye-nto ¦-do-nto eá-nto ¦-sta-nto
D. ¤-y¡-syhn ¤-dñ-syhn eá-syhn ¤-st‹-syhn
¤-y¡-syhn ¤-dñ-syhn eá-syhn ¤-st‹-syhn

* Esse aoristo médio, embora formalmente normal, não é usado. Em lu-


gar dele a língua desenvolveu um aoristo em -s-. Assim temos:
Indicativo: - ¤sth-s‹mhn, saso(sv), sato, s‹meya, sasye, santo
Subjuntivo: - st®-svmai, shsai(sú), shtai, sÅmeya, shsye, svntai
Optativo: - sth-saÛmhn, saiso(saio), saito, saÛmeya, saisye, sainto
Imperativo: - st°-sai, sths‹syv, st®sasye, sths‹syvn
Particípio: - sth-s‹menow,n,on
Infinitivo: - st®-sasyai

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442 a flexão verbal

Subjuntivo
coloque/ dê/der para mim lance/lançar ponha-me /puser de pé
colocar para mim para mim
S. yÇ-mai* dÇ-mai Ï-mai stÇ-mai
y» dÒ Ã st»
y°-tai dÇ-tai ¸-tai st°-tai
P. yÅ-meya dÅ-meya Ë-meya stÅ-meya
y°-sye dÇ-sye ¸-sye st°-sye
yÇ-ntai dÇ-ntai Ï-ntai stÇ-ntai
D. yÅ-meyon dÅ-meyon Ë-meyon stÅ-meyon
y°-syon dÇ-syon ¸-syon st°-syon

* O subjuntivo forma-se sobre o tema verbal breve (ye, do, ¥, sta), com
o acréscimo da característica do subjuntivo (v, h, h, v, h, v ) e desi-
nências primárias. A absorção da vogal temática pela vogal longa, ca-
racterística do subjuntivo, resulta em contração, o que explica as for-
mas perispômenas e properispômenas.

Quadro demostrativo da evolução fonética


do subjuntivo da voz média

S. y¡-v-mai > yÇmai dñ-v-mai > dÇmai


y¡-h-sai > y¡hai > y°ai > y°i/y»* dñ-h-sai > dñhai > dÇai dÇi/dÒ*
y¡-h-tai > y°tai dñ-h-tai > dÇtai

P. ye-v-meya > yÅmeya do-Å-meya > dÅmeya


y¡-h-sye > y°sye dñ-h-sye > dÇsye
y¡-v-ntai > yÇ-ntai dñ-v-ntai > dÇntai

D. ye-Å-meyon > yÅmeyon do-Å-meyon > dÇsyon


y¡-h-syon > y°syon dñ-h-syon > dÇsyon

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a flexão verbal 443

S. §-v-mai > Ïmai st‹-v-mai > stÇmai


§-h-sai > §hai > ¸ai > ¸i/Â* st‹-h-sai > st‹hai > st°ai > st°i/st»*
§-h-tai > ¸tai st‹-h-tai > st°tai

P. §-v-meya > Ëmeya sta-Å-meya > stÅmeya


§-h-sye > ¸sye st‹-h-sye > st°sye
§-v-ntai > Ïntai st‹-v-ntai > stÇntai

D. §-Å-meyon > Ëmeyon sta-Å-meyon > stÅmeyon


§-h-syon > ¸syon st‹-h-syon > st°syon

* Estas formas da 2a pessoa do singular média são iguais às de 3a pessoa


do singular ativa. Só o contexto resolve.

Optativo
colocaria/
colocasse* daria/desse lançaria/lançasse me poria/pusesse de pé
S. ye-Û-mhn do-Û-mhn e-á-mhn sta-Û-mhn
ye-Ý-so > yeÝo do-Ý-so > doÝo e-å-so > eåo sta-Ý-so > staÝo
ye-Ý-to do-Ý-to e-å-to sta-Ý-to
P. ye-Û-meya do-Û-meya e-á-meya sta-Û-meya
ye-Ý-sye do-Ý-sye e-å-sye sta-Ý-sye
ye-Ý-nto do-Ý-nto eä-nto‘ sta-Ý-nto
D. ye-Û-syhn do-Û-syhn e-á-syhn sta-Û-syhn
ye-Û-syhn do-Û-syhn e-á-syhn sta-Û-syhn

* Também: poderia/pudesse colocar, dar, lançar, pôr-me de pé.

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444 a flexão verbal

Imperativo:
coloca/colocai dá/dai para ti lança/lançai põe-te/ponde-vos de pé*
para ti/vós /vós para ti/vós
S. y¡-so > yoè dñ-so > doè §-so > oð st‹-so > stÇ
y¡-syv dñ-syv §-syv st‹-syv
P. y¡-sye dñ-sye §-sye st‹-sye
y¡-syvn/ dñ-syvn/ §-syvn/ st‹-syvn/
y¡syvsan dñsyvsan §syvsan st‹-syvsan
D. y¡-syon dñ-syon §-syon st‹-syon
y¡-syvn dñ-syvn §-syvn st‹-syvn

* Imperativo de 3 a pessoa:
(ele) coloque, dê, lance, ponha de pé para si;
(eles) coloquem, dêem, lancem, ponham de pé para si

Particípio: tendo colocado para mim, tendo dado para mim, tendo lançado
para mim, tendo-me posto de pé.
Tema ye-meno- do-meno- §-meno- sta-meno-
y¡-menow,h,on dñ-menow,h,on §-menow,h,on st‹-menow,h,on

Infinitivo: colocar para mim, dar para mim, lançar para mim, pôr-se de pé
y¡-syai dñ-syai §-syai st‹-syai

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a flexão verbal 445

Aoristo sigmático
O aoristo sigmático também é antigo na língua e, em Homero,
convive com os outros tipos de aoristo; mas, por ter uma característica
marcante, o -s-, que passa a ser o sinal distintivo de fácil identificação,
começou a ser usado com mais intensidade, a ponto de se tornar o aoris-
to paradigmático, “regular”, e, a partir do século V, todos os verbos que
se foram criando adotaram esse aoristo.
Esse -s-, acrescentado ao tema verbal, sem vogal de ligação, lu-s-,
marcaria o aoristo; mas é no indicativo que ele se identifica mais clara-
mente e é a partir do indicativo que se constrói o tema do aoristo, da
maneira seguinte:
O aoristo indicativo, recebendo um aumento, por ser pontual no
processo narrativo, tem desinências secundárias. Assim, em ¤-lu-s-n: a
soante -n, posta ao lado da consoante -s-, se vocaliza em -a, resultando
daí a sílaba -sa, que passa a ser a característica identificadora desse tipo
de aoristo. É assim que as gramáticas o denominam: aoristo sigmático,
ou aoristo em -sa.

Quadro de flexão do aoristo sigmático


VOZ ATIVA
Tema em semivogal:

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


desligo/desliguei desligue / desligaria/ desliga/
desligar* desligasse** desligai***
S. ¦-lu-sa læ-s-v læ-sa-i-mi
¦-lu-sa-w læ-s-ú-w læ-sa-i-w (seiaw) lè-son
¦-lu-se læ-s-ú læ-sa-i (seien) lu-s‹-tv

P. ¤-læ-sa-men læ-s-v-men læ-sa-i-men


¤-læ-sa-te læ-s-h-te læ-sa-i-te læ-sa-te
¦-lu-sa-n læ-s-v-si læ-sa-i-en (seian) lu-s‹-ntvn

D. ¤-lu-s‹-thn (ston) læ-s-h-ton lu-sa-Û-thn(-ton) læ-sa-ton


¤-lu-s‹-thn læ-s-h-ton lu-sa-Û-thn lu-s‹-tvn

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446 a flexão verbal

* O subjuntivo se constrói sobre o tema verbal+característica -s- do ao-


risto + características do subjuntivo v, h, h, v, h, v + desinências
primárias ativas. (Ver o quadro demostrativo abaixo.)
** Também: poderia/pudesse desligar.
*** Imperativo de 3a pessoa:(ele) desligue/(eles) desliguem.

Quadro demostrativo do subjuntivo:

S. læ-s-v > læsv


læ-s-h-si > læshsi > læshi/læsú > læsúw/læshiw
læ-s-h-ti > læshti > læshsi > læsú/læshi
P. læ-s-v-men > læsvmen
læ-s-h-te > læshte
læ-s-v-nti > læsvnti > læsvnsi > læsvsi
D. læ-s-h-ton > læshton
læ-s-h-ton > læshton

Particípio: tendo desligado

Tema Masc. Fem. Neutro


lu-sa-nt- lu-sa-nt-w > lu-sa-nt-j-a > lu-sa-nt >
læsaw - læsant-ow læsasa - lus‹s-hw lèsan - læsant-ow

Infinitivo: desligar: lè-sai

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a flexão verbal 447

VOZ MÉDIA

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


desligo/ desligue/des- desligaria/des- desliga para ti/
desliguei para mim ligar para mim ligasse para mim** desligai para vós***
S. ¤-lu-s‹-mhn læ-s-v-mai* lu-sa-Û-mhn
¤-læ-sa-so > sao > sv læ-s-h-sai > sú læ-sa-i-so > saio lè-sai
¤-læ-sa-to læ-s-h-tai læ-sa-i-to lu-s‹-syv

P. ¤-lu-s‹-meya lu-s-Å-meya lu-sa-Û-meya


¤-læ-sa-sye læ-s-h-sye læ-sa-i-sye læ-sa-sye
¤-læ-sa-nto læ-s-v-ntai læ-sa-i-nto lu-s‹-syvn

D. ¤-læ-sa-syon læ-s-h-syon læ-sa-i-syon læ-sa-syon


¤-lu-s‹-syhn læ-s-h-syon lu-sa-Û-syhn lu-s‹-syvn

* O subjuntivo aoristo médio se constrói sobre o tema verbal + caracte-


rística do subjuntivo v, h, h, v, h, v, + desinências primárias médias.
A 2a pessoa do singular é: læ-s-h-sai> læshai> læshi> læsú.
** Também: poderia/pudesse desligar para mim.
*** Imperativo de 3a pessoa:(ele) desligue para si; (eles) desliguem para si.

Particípio: tendo desligado para mim


Tema Masc. Fem. Neutro
lu-s‹-meno- lu-s‹-menow-ou lu-sa-m¡nh-hw lu-s‹-menon-ou

Infinitivo: læ-sa-syai desligar para mim

No modelo acima, o -s- se mantém porque segue a semivogal do


tema verbal lu-; mas, quando o tema verbal é em consoante, sofre o pro-
cesso de assimilação, segundo as normas fonéticas da língua, como acon-
teceu na flexão nominal dos temas em consoante.

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448 a flexão verbal

Assim, nos temas em oclusiva:


Dental + sigma: a dental se assimila e cai
peiy ¦-peiy-sa > ¦-peis-sa > ¦peisa
yaumat ¤-yaæmat-sa > ¤-yaæmas-sa > ¤yaæmasa
speud ¦-speud-sa > ¦speus-sa > ¦speusa
Velar + sigma: a velar combina com s > j
arx ¦-arx-sa > ·rja
prag ¦-prag-sa > ¦praja
fulak ¤-fælak-sa > ¤fælaja
Labial + sigma: a labial combina com s > c
tref ¦-tref-sa > ¦yreca
trib ¦-trib-sa > ¦trica
trep ¦-trep-sa > ¦treca

Aoristo sigmático com temas em oclusivas


Tema em oclusiva: peiy-; prag-; tref-.

VOZ ATIVA

Indicativo
eu convenci/convenço eu fiz/eu faço eu nutri/eu nutro
S. ¦peiy-sa > ¦peisa ¦prag-sa > ¦praja ¦tref-sa > ¦yreca*
¦peiy-saw > ¦peisaw ¦prag-sw > ¦prajaw ¦tref-saw > ¦yrecaw
¦peiy-se > ¦peise ¦prag-se > ¦praje ¦tref-se > ¦yrece

P. ¤peÛy-samen > ¤peÛsamen ¤pr‹g-samen > ¤pr‹jamen ¤tr¡f-samen > ¤yr¡camen


¤peÛy-sate > ¤peÛsate ¤pr‹g-sate > ¤pr‹jate ¤tr¡f-sate > ¤yr¡cate
¦peiy-san > ¦peisan ¦prag-san > ¦prajan ¦tref-san > ¦yrecan

D. ¤peÛy-saton > ¤peÛsaton ¤pr‹g-saton > ¤pr‹jaton ¤tr¡f-saton > ¤yr¡caton


¤peiys‹thn > ¤peis‹thn ¤prag-s‹thn > ¤praj‹thn ¤trefs‹thn > ¤yrec‹thn

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a flexão verbal 449

* A oclusiva aspirada seguida de -s- compõe a consoante dupla -c- fa-


zendo com que a aspiração se desloque para a oclusiva anterior: t > y.

Subjuntivo
eu convença/convencer eu faça/fizer eu nutra/nutrir
S. peÛy-sv > peÛsv pr‹g-sv > pr‹jv* tr¡f-sv > yr¡cv
peÛy-súw > peÛsúw pr‹g-súw > pr‹júw tr¡f-súw > yr¡cúw
peÛy-sú > peÛsú pr‹g-sú > pr‹jú tr¡f-sú > yr¡cú

P. peÛy-svmen > peÛsvmen pr‹g-svmen > pr‹jvmen tr¡f-svmen > yr¡cvmen


peÛy-shte > peÛshte pr‹g-shte > pr‹jhte tr¡f-shte > yr¡chte
peÛ-svsi > peÛsvsi pr‹g-svsi > pr‹jvsi tr¡f-svsi > yr¡cvsi

D. peÛy-shton > peÛshton pr‹g-shton > pr‹jhton tr¡f-shton > yr¡chton


peÛy-shton > peÛshton pr‹g-shton > pr‹jhton tr¡f-shton > yr¡chton

* Ver modelo fonético no quadro de læ-v, læs-v, p. 404.

Optativo
eu convenceria/ eu faria/fizesse eu nutriria/nutrisse*
convencesse
S. peÛy-saimi > peÛsaimi pr‹g-saimi > pr‹jaimi tr¡f-saimi > yr¡caimi
peÛy-saiw > peÛsaiw/eiaw pr‹g-saiw > pr‹jaiw/eiaw tr¡f-saiw > yr¡caiw/eiaw
peÛy-sai > peÛsai/eie pr‹g-sai > pr‹jai/eie tr¡f-sai > yr¡cai/eie

P. peÛy-saimen > peÛsaimen pr‹g-saimen > pr‹jaimen tr¡fsaimen > yr¡caimen


peÛy-saite > peÛsaite pr‹g-saite > pr‹jaite tr¡fsaite > yr¡caite
peÛy-saien > peÛsaien/eian pr‹gsaien > pr‹jaien/eian tr¡fsaien > yr¡caien/
eian

D. peiy-saÛthn > peisaÛthn prag-saÛthn > prajaÛthn trefsaÛthn > yrecaÛthn


peiy-saÛthn > peisaÛthn prag-saÛthn > prajaÛthn trefsaÛthn > yrecaÛthn

* Também: poderia/pudesse convencer, fazer, nutrir.

mur05.p65 449 22/01/01, 11:38


450 a flexão verbal

Imperativo
convence/convencei faze/fazei nutre/nutri*
S.
peÝy-son > peÝson pr‹g-son > pr‹jon tr¡f-son > yr¡con
peiy-s‹tv > peis‹tv prag-s‹tv > praj‹tv tref-s‹tv >
yrec‹tv

P.
peÛy-sate> peÛsate pr‹g-sate > pr‹jate tr¡fsate >
yr¡cate
peiy-s‹ntvn > prag-s‹ntvn > trefs‹ntvn >
peis‹ntvn51 praj‹ntvn yrec‹ntvn

D. peÛy-saton > peÛsaton pr‹g-saton > pr‹jaton tr¡fsaton >


yr¡caton
peiy-s‹tvn > peis‹tvn prags‹tvn > praj‹tvn trefs‹tvn >
yrec‹tvn

* Imperativo de 3 a pessoa:
(ele) convença, faça, nutra; (eles) convençam, façam, nutram.

Particípio
tendo convencido tendo feito tendo nutrido
Tema peÛysant > peÛsant- pr‹gsant > pr‹jant- tr¡fsant > yr¡cant-
Masc. peÛsaw-santow pr‹jaw-jantow yr¡caw-cantow
Fem. peÛsasa-s‹shw pr‹jasa-j‹shw yr¡casa-c‹shw
Neut. peÝsan-santow pr‹jan-jantow yr¡can-cantow

Infinitivo

convencer fazer nutrir


peÝysai > peÝsai pr‹gsai > pr‹jai tr¡fsai > yr¡cai

51 Também peiy-s‹tvsan > peis‹tvsan (menos usada, rebuscada).

mur05.p65 450 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 451

VOZ MÉDIA

Indicativo
convenci/ fiz/faço para mim nutri/nutro para mim
convenço para mim
S. ¤peiys‹mhn > ¤peis‹mhn ¤prags‹mhn > ¤praj‹mhn ¤trefs‹mhn > ¤yrec‹mhn
¤peÛysaso > ¤peÛsaso > sv ¤pr‹gsaso > ¤pr‹jaso > sv ¤tr¡fsaso > ¤yr¡caso> sv
¤peÛysato > ¤peÛsato ¤pr‹g-sato > ¤pr‹jato ¤tr¡fsato > ¤yr¡cato

P. ¤peiys‹meya > ¤peis‹meya ¤prags‹meya > ¤praj‹meya ¤trefs‹meya > ¤yrec‹meya


¤peÛysasye > ¤peÛsasye ¤pr‹gsasye > ¤pr‹jasye ¤tr¡fsasye > ¤yr¡casye
¤peÛysanto > ¤peÛsanto ¤pr‹gsanto > ¤pr‹janto ¤tr¡fsanto > ¤yr¡canto

D. ¤peiys‹syhn > ¤peis‹syhn ¤prags‹syhn > ¤praj‹syhn ¤trefs‹syhn > ¤yrec‹syhn


¤peiys‹syhn > ¤peis‹syhn ¤prags‹syhn > ¤praj‹syhn ¤trefs‹syhn > ¤yrec‹syhn

Subjuntivo

eu convença / faça / fizer para mim nutra / nutrir para mim


convencer para mim
S. peÛysvmai > peÛsvmai pr‹gsvmai > pr‹jvmai tr¡fsvmai > yr¡cvmai
peÛyshsai > peÛshsai> sú pr‹gshsai > pr‹jhsai > jú tr¡fshsai > yr¡chsai > cú
peÛyshtai > peÛshtai pr‹gshtai pr‹jhtai tr¡fshtai > yr¡chtai

P. peiysÅmeya > peisÅmeya pragsÅmeya > prajÅmeya trefsÅmeya > yrecÅmeya


peÛyshsye > peÛshsye pr‹gshsye > pr‹jhsye tr¡fshsye > yr¡chsye
peÛysvntai > peÛsvntai pr‹gsvntai > pr‹jvntai tr¡fsvntai > yr¡cvntai

D. peÛy-shsyon > peÛshsyon pr‹gshsyon > pr‹jhsyon tr¡fshsyon > yr¡chsyon


peÛy-shsyon > peÛshsyon pr‹gshsyon > pr‹jhsyon tr¡fshsyon > yr¡chsyon

mur05.p65 451 22/01/01, 11:38


452 a flexão verbal

Optativo
convenceria / faria / fizesse para mim nutriria /
convecesse para mim nutrisse para mim*
S. peiysaÛmhn> peisaÛmhn pragsaÛmhn > prajaÛmhn trefsaÛmhn > yrecaÛmhn
peÛysaiso > peÛsaiso pr‹gsaiso > pr‹jaiso tr¡fsaiso > yr¡caiso
> saio** > aio > aio
peÛysaito > peÛsaito pr‹gsaito > pr‹jaito tr¡fsaito > yr¡caito
P. peiysaÛmeya > peisaÛmeya pragsaÛmeya > prajaÛmeya trefsaÛmeya > yrecaÛmeya
peÛysaisye > peÛsaisye pr‹gsaisye > pr‹jaisye tr¡fsaisye > yr¡caisye
peÛysainto > peÛsainto pr‹gsainto > pr‹jainto tr¡fsainto > yr¡cainto
D. peiysaÛsyhn > peisaÛsyhn pragsaÛsyhn > prajaÛsyhn trefsaÛsyhn > yrecaÛsyhn
peiysaÛsyhn > peisaÛsyhn pragsaÛsyhn > prajaÛsyhn trefsaÛsyhn > yrecaÛsyhn

* Também: poderia/pudesse convencer, fazer, nutrir para mim.


** O -s- intervocálico da desinência sofre síncope provocando um tri-
tongo, de pronúncia fácil; por isso permanece.

Imperativo
convence para ti / faze para ti / nutre para ti /
convencei para vós fazei para vós nutri para vós
S. peÝy-sai > peÝsai pr‹g-sai > pr‹jai tr¡f-sai > yr¡cai
peiy-s‹syv > peis‹syv prag-s‹syv > praj‹syv tref-s‹syv >
yrec‹syv
P. peÛy-sasye> peÛsasye pr‹g-sasye > pr‹jasye tr¡fsasye >
yr¡casye
peiy-s‹syvn > peis‹syvn 52 prag-s‹syvn > praj‹syvn trefs‹syvn >
yrec‹syvn
D. peÛy-sasyon > peÛsasyon pr‹g-sayon > pr‹jasyon tr¡fsasyon >
yr¡casyon
peiy-s‹syvn > peis‹syvn prags‹syvn > praj‹syvn trefs‹syvn >
yrec‹syvn

* Imperativo de 3 a pessoa:
(ele) convença, faça, nutra; (eles) convençam, façam, nutram para si.

52 Também peiy-s‹tvsan > peis‹tvsan (menos usada, rebuscada).

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a flexão verbal 453

Particípio

tendo convencido tendo feito tendo nutrido


para mim para mim para mim
Tema peiys‹meno -> peis‹meno- prags‹meno -> praj‹meno- trefs‹meno ->
yrec‹meno-
peis‹menow, h, on praj‹menow, h, on yrec‹menow, h, on

Infinitivo
convencer para si fazer para si nutrir para si
peÛysasyai > peÛsasyai pr‹gsasyai > pr‹jasyai tr¡fsasyai > yr¡casyai

Temas em líqüida / soante / nasal:

Na flexão nominal dos temas em líquida, só a soante nasal seguida


de -s- cai, sem compensação de alongamento. O -r- e o -l- permanecem.
assim: daÛmon-si > daÛmosi aos numes
²gemñn-si > ²gemñsi aos guias
mas: =®tor-si aos oradores
‘lw o sal

Na flexão verbal, nos verbos cujo tema termina por l, r, m, n, o -s-


do aoristo sofre síncope, e, em compensação, a vogal do tema é alongada.
Tema Aoristo
stel- ¦-stel-sa > ¦-steil-a enviei
fyer- ¦-fyer-sa > ¦-fyeir-a corrompi
men- ¦-men-sa > ¦-mein-a permaneci
nem- ¦-nem-sa > ¦-neim-a distribuí
kayar- ¤-k‹yar-sa > ¤-k‹yhr-a purifiquei
fan- ¦-fan-sa > ¦-fhn-a fiz aparecer
Para maior clareza vamos dar a seguir o paradigma construído so-
bre o tema stel-.

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454 a flexão verbal

VOZ ATIVA

Tema: ¦-stel-sa > ¦-steil-a

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


envio/enviei envie/enviar enviaria /enviasse** envia/enviai***
S. ¦-steil-a steÛl-v* steÛl-a-i-mi
¦-steil-aw steÛl-úw steÛl-a-i-w (-eiaw) steÝl-on
¦-steil-e steÛl-ú steÛl-a-i (-eie) steil-‹-tv

P. ¤-steÛl-a-men steÛl-v-men steÛl-a-i-men


¤-steÛl-a-te steÛl-h-te steÛl-a-i-te steÛl-a-te
¦-steil-an steÛl-v-si steÛl-a-i-en (-eian) steil-‹-ntvn

D. ¤-steil-‹-thn steÛl-h-ton steil-a-Û-thn/ton steÛl-a-ton


/aton
¤-steil-‹-thn steÛl-h-ton steil-a-Û-thn steil-‹-tvn

* O subjuntivo aoristo ativo se constrói sobre o tema verbal + caracterís-


tica -s- do aoristo, que sofre síncope, alongando por compensação a
vogal do tema + característica do subjuntivo v, h, h, v, h, v, + desi-
nências primárias.
** Também: poderia/pudesse enviar.
*** Imperativo de 3 a pessoa: ele envie / eles enviem.

Particípio: tendo enviado


Tema Masc. Fem. Neutro
stel-sa-nt- > steil-a-nt-w > steilant-j-a > steilantia > steil-a-nt
steilant > steÛlaw-steÛlant-ow steÛlasa-steil‹s-hw steÝlan-steÛlant-ow

Infinitivo: enviar
stel-s-nai > steil-nai > steÝlai

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a flexão verbal 455

VOZ MÉDIA

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


envio/enviei envie/enviar enviaria/enviasse envia para ti
para mim para mim para mim** enviai para vós***
S. ¤-steil-‹-mhn steÛl-v-mai* steil-a-Û-mhn
¤-steÛl-a-so > v steÛl-h-sai > ú steÛl-a-i-so > aio steÝl-ai53
¤-steÛl-a-to steÛl-h-tai steÛlai-to steil-‹-syv

P. ¤-steil-‹-meya steil-Å-meya steil-a-Û-meya


¤-steÛl-a-sye steÛl-h-sye steÛl-a-i-sye steÛl-a-sye
¤-steÛl-a-nto steÛl-v-ntai steÛl-a-i-nto steil-‹-ntvn

D. ¤-steil-‹-syhn/syon steÛl-h-syon steil-a-Û-syhn/syon steÛl-a-syon


¤-stel-‹-syhn steÛl-h-syon steil-a-Û-syhn steil-‹-syvn

* O subjuntivo aoristo médio se constrói sobre o tema verbal + caracte-


rística -s- do aoristo que sofre síncope, alongando por compensação a
vogal do tema + características do subjuntivo v, h, h, v, h, v, + de-
sinências primárias médias.
** Também: poderia/pudesse enviar para mim.
*** Imperativo de 3 a pessoa: ele envie para si / eles enviem para si.

Particípio: tendo enviado para mim


Tema Masc. Fem. Neutro
stel-sa-meno- > steil-a-meno- steil-‹-menow steil-a-m¡nh steil-‹-menon

Infinitivo: enviar para mim


stel-sa-syai > steÛl-a-syai

53 Observe o acento properispômeno, como no infinitivo aoristo ativo na p. 402; mas


a 3a pessoa do optativo ativo steÛlai é paroxítona, porque o -i- do optativo é
longo.

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456 a flexão verbal

Note-se que o -a-, remanescente da queda do -s- da característi-


ca, mantém-se em todos os modos, exceto no subjuntivo. O subjuntivo
tem como característica a vogal de ligação longa: v, h, h, v, h, v, que
se acrescenta diretamente à característica -s- do aoristo (sem o -n-, desi-
nência secundária do indicativo que se vocalizou em -a). Além disso,
por ser eventual, o subjuntivo tem desinências primárias.
O quadro de flexão acima serve de modelo para todos os verbos de
tema em líquida: l, m, n, r.

O futuro
O futuro não é propriamente um tempo. É um vir-a-ser, isto é:
uma eventualidade, uma antecipação.
As gramáticas ora dizem que o futuro se originou de um antigo
desiderativo, ora que é um subjuntivo eventual.
Não há erro nessas informações.
Não é nossa intenção fazer gramática histórica, mas cremos que
não seria errado afirmar que o futuro é uma noção secundária, associada
ao aoristo; é uma mera projeção do ato verbal, a formulação de um desejo
num certo grau de intensidade; (daí o uso do indicativo, e, no portugu-
ês, a criação do subjuntivo futuro). A noção de eventualidade, de
virtualidade da ação se exprime pelo subjuntivo.
Mas o futuro não contém a idéia de inacabado, infectum, que conflita
com a idéia aorista da pontualidade. Não é por mero acaso que, nos para-
digmas de conjugação, o lugar do futuro do subjuntivo é o mesmo que o
do subjuntivo aoristo.
É por isso que vamos mostrar que a construção do futuro se faz
sobre o tema do aoristo.
Construir o futuro a partir do tema do infectum (inacabado), como
se faz tradicionalmente é um contra-senso, além de obrigar o estudioso a
decorar listas de “futuros irregulares” 54.

54 Mas, às vezes, tem-se a impressão de que o futuro é a continuidade do presente,


como no verbo eänai que não tem aoristo. A construção do futuro sobre o tema
do infectum exprime a continuidade do ser.

mur05.p65 456 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 457

Basta citarmos alguns exemplos para provar que o futuro nem se-
manticamente nem morfologicamente deriva do tema do infectum:
Vejamos o verbo gignÅskv: o futuro é gnÅ-s-o-mai.
O que aconteceu? O futuro foi construído sobre a raiz-tema: gnv
com o auxílio da característica -s- do futuro, sem levar consigo o redobro em
i, que é exclusivo do infectum, e sem levar o sufixo incoativo -sk- que seman-
ticamente está ligado ao infectum (inacabado).
Note-se também a forma média, característica do envolvimento
do sujeito na ação verbal.
Muitos verbos ativos têm um futuro médio.
Não se deve procurar explicação gramatical para esse fato, mas sim
semântica. Por exemplo, o verbo entender, aprender: Ao dizermos “eu
aprenderei”, o que estamos dizendo é “eu hei de aprender” (aprenderei <
aprender-ei < aprender-hei) como uma promessa (futuro promissivo) e
uma certa antecipação de certeza.
Aliás, toda a formação do futuro nas línguas românicas é seme-
lhante à do português, com os auxiliares semelhantes a “eu tenho, eu hei,
eu devo”.
Na verdade, é uma voz média, embora não tenhamos uma forma
especial que reflita isso.
No grego é claro: may > may-®-s-o-mai, eu hei de aprender.
Novamente aqui podemos notar que na voz média grega o sujeito é
agente do ato verbal, isto é, uma forma média em grego dever ser traduzida
na voz ativa em português. O que diferencia a voz ativa da voz média é o
envolvimento ou não do agente no ato verbal. Em português também
temos a voz média, semanticamente, não morfologicamente.
Então não é mera coincidência o uso do mesmo -s- no futuro e no
aoristo: os problemas que vamos encontrar estão na fórmula usual de apre-
sentar os “tempos primitivos” dos verbos nas gramáticas e nos dicionários.
Contudo, se tivermos o cuidado de isolar o aoristo, veremos que o futuro
tem o mesmo tema e a mesma característica do aoristo.
A diferença está no tratamento do -s-:
1. no futuro, as desinências primárias se juntam ao tema pela vogal de
ligação;
2. no aoristo, a desinência secundária de 1 a pessoa -n se junta sem vogal
de ligação ao tema, vocalizando-se em -a, passando a ser esse o tema
para todos os modos do aoristo, menos para o subjuntivo, que é even-
tual e tem desinências primarias.

mur05.p65 457 22/01/01, 11:38


458 a flexão verbal

Assim: ¦-lu-s-n > ¦-lu-sa / ¤-lu-s‹-mhn : aoristo


læ-s-v / læ-s-o-mai : futuro

Em princípio, não é difícil construir o futuro dos verbos gregos;


basta acrescentar o -s- ao tema verbal (tema do aoristo) e observar as
normas fonéticas, uma vez que podem acontecer encontros entre o -s- e
as consoantes dos temas e também a síncope do -s-, quando em situação
intervocálica.
Convém notar, entretanto, que a noção de futuro (vir-a-ser, even-
tual) não se coaduna com o modo optativo, que é o modo do potencial, e
é pleonástica com o subjuntivo aoristo por serem os dois (subjuntivo
aoristo e futuro) o mesmo eventual; e também com o imperativo futuro
(também essencialmente um fato futuro, portanto eventual), embora for-
malmente todas essas formas sejam possíveis.
As gramáticas omitem o imperativo e subjuntivo futuros, mas re-
gistram o optativo. Creio que esse optativo futuro faz duplo uso com o
optativo aoristo, uma vez que o aspecto é o mesmo. Como já foi demons-
trado, o futuro não se faz sobre o tema do infectum e, ipso facto, não
contém esse aspecto. Contudo, nos quadros de flexão a seguir, daremos
as formas do optativo futuro, com sua tradução linear. O leitor verá que
é um significado incomum, embora possível.

mur05.p65 458 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 459

Flexão do futuro

1. Quadro de flexão do futuro dos temas em semivogal: -u-/-i-

Os temas em semivogal acrescentam o -s- e desinências primárias


sem maiores problemas.
Tema: læ- fut.: lu-s-v / læ-s-o-mai
Tema: ti- fut.: tÛ-s-v / tÛ-s-o-mai

Tema: læ-; Verbo: læv

VOZ ATIVA

Indicativo Optativo
desligarei* poderia/pudesse haver de desligar
S. læ-s-v læ-s-oi-mi
læ-s-eiw læ-s-oi-w
læ-s-ei læ-s-oi
P. læ-s-o-men læ-s-oi-men
læ-s-e-te læ-s-oi-te
læ-s-ousi læs-oi-en
D. læ-s-e-ton lu-s-oÛ-thn
læ-s-e-ton lu-s-oÛ-thn
* Também: hei de desligar

Particípio: havendo de desligar, que há de desligar, que desligará.


Tema Masc. Fem. Neutro
læ-s-o-nt læ-s-vn,ontow læ-sousa,shw lè-s-on,ontow

Infinitivo: haver de desligar: læ-s-ein

mur05.p65 459 22/01/01, 11:38


460 a flexão verbal

VOZ MÉDIA

Indicativo Optativo
desligarei / poderia / pudesse haver
hei de desligar para mim de desligar para mim
S. læ-s-o-mai lu-s-oÛ-mhn
læ-s-e-sai> ú læ-s-oi-so > soio
læ-s-e-tai læ-s-oi-to
P. lu-s-ñ-meya lu-s-oÛ-meya
læ-s-e-sye læ-s-oi-sye
læ-s-o-ntai læ-s-oi-nto
D. læ-s-e-syon lu-s-oÛ-syhn
læ-s-e-syon lu-s-oÛ-syhn

Particípio: havendo de desligar para si, que há de desligar /que desligará para si
Tema Masc. Fem. Neutro
lu-s-ñ-meno- lu-s-ñ-menow lu-s-o-m¡nh lu-s-ñ-menon

Infinitivo:
læ-s-e-syai haver de desligar para si.

2. Quadro de flexão dos temas monossilábicos em vogal longa

Os temas em vogal longa acrescentam o -s-, que não sofre sínco-


pe, em posição intervocálica.
Esse alongamento da vogal temática tem objetivo de ordem foné-
tica: evitar a síncope do -s- intervocálico, e é comandado por motivação
morfológica e semântica. Naturalmente, é para não repetir a forma final
do infectum.
Por isso é que, sempre que a língua não quer eliminar o -s- inter-
vocálico, sobretudo no futuro, alonga a vogal temática, como no caso

mur05.p65 460 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 461

dos denominativos e nos temas monossilábicos ye-, do-, ¤-, sta- do


quadro a seguir.
O mesmo acontece com as vogais de ligação longas de may®somai,
gnÅsomai, b®somai, dæsomai. O -s- mantém-se.

VOZ ATIVA

Tema: -y®- Verbo: tÛyhmi Tema: -dÅ- Verbo: dÛdvmi


Tema: -´- Verbo: àhmi Tema: -st®- Verbo: ásthmi

Indicativo

colocarei darei lançarei pôr-me-ei de pé


S. y®-s-v* dÅ-s-v ´-s-v st®-s-v
y®-s-eiw dÅ-s-eiw ´-s-eiw st®-s-eiw
y®-s-ei dÅ-s-ei ´-s-ei st®-s-ei
P. y®-s-omen dÅ-s-omen ´-s-omen st®-s-omen
y®-s-ete dÅ-s-ete ´-s-ete st®-s-ete
y®-s-ousi dÅ-s-ousi ´-s-ousi st®-s-ousi
D. y®-s-eton dÅ-s-eton ´-s-eton st®-s-eton
y®-s-eton dÅ-s-eton ´-s-eton st®-s-eton
* Note-se que o redobro do presente não vem para o futuro.

mur05.p65 461 22/01/01, 11:38


462 a flexão verbal

Optativo

poderia/pudesse haver de:


colocar dar lançar pôr-me de pé
S. y®-s-oi-mi dÅ-s-oi-mi ´-s-oi-mi st®-s-oi-mi
y®-s-oi-w dÅ-s-oi-w ´-s-oi-w st®-s-oi-w
y®-s-oi dÅ-s-oi ´-s-oi st®-s-oi
P. y®-s-oi-men dÅ-s-oi-men ´-s-oi-men st®-s-oi-men
y®-s-oi-te dÅ-s-oi-te ´-s-oi-te st®-s-oi-te
y®-s-oi-en dÅ-s-oi-en ´-s-oi-en st®-s-oi-en
D. y®-s-oi-ton dÅ-s-oi-ton ´-s-oi-ton st®-s-oi-ton
yh-s-oÛ-thn dv-s-oÛ-thn ²-s-oÛ-thn sth-s-oÛ-thn

Particípio: havendo de / que vai colocar; dar; lançar; pôr-se de pé

Tema y°-s-o-nt dÇ-s-o-nt ¸-s-o-nt st°-s-o-nt


Masc. y®svn - sontow dÅsvn - sontow ´svn - sontow st®svn - sontow
Fem. y®sousa - shw dÅsousa -shw ´sousa - shw st®sousa - shw
Neut. y°son - sontow dÇson - sontow ¸son - sontow st°son - sontow

Infinitivo
haver de colocar dar lançar pôr-se de pé
y®-s-ein dÅ-s-ein ´-s-ein st®-s-ein

mur05.p65 462 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 463

VOZ MÉDIA

Indicativo
colocarei para mim darei para mim lançarei para mim pôr-me-ei de pé
S. y®-s-o-mai dÅ-s-o-mai ´-s-o-mai st®-s-o-mai
y®-s-e-sai > sú/ei dÅ-s-e-sai > sú/ei ´-s-e-sai > sú/ei st®-s-e-sai > sú/ei
y®-s-e-tai dÅ-s-e-tai ´-s-e-tai st®-s-etai

P. yh-s-ñ-meya dv-s-ñ-meya ²-s-ñ-meya sth-s-ñ-meya


y®-s-e-sye dÅ-s-e-sye ´-s-e-sye st®-s-esye
y®-s-o-ntai dÅ-s-o-ntai ´-s-o-ntai st®-s-o-ntai

D. y®-s-e-syon dÅ-s-e-syon ´-s-e-syon st®-s-e-syon


y®-s-e-syon dÅ-s-e-syon ´-s-e-syon st®-s-e-syon

Optativo
poderia/pudesse haver de:
colocar para mim dar para mim lançar para mim pôr-me de pé
S. yh-s-oÛ-mhn dv-s-oÛ-mhn ²-s-oÛ-mhn sth-s-oÛ-mhn
y®-s-oi-so > soio dÅ-s-oi-so > soio ´-s-oi-so > soio st®-s-oi-so > soio
y®-s-oi-to dÅ-s-oi-to ´-s-oi-to st®-s-oi-to

P. yh-s-oÛ-meya dv-s-oÛ-meya ²-s-oÛ-meya sth-s-oÛ-meya


y®-s-oi-sye dÅ-s-oi-sye ´-s-oi-sye st®-s-oi-sye
y®-s-oi-into dÅ-s-oi-nto ´-s-oi-nto st®-s-oi-nto

D. y®-s-oi-syon dÅ-s-oi-syon ´-s-oi-syon st®-s-oi-syon


yh-s-oÛ-syhn dv-s-oÛ-syhn ²-s-oÛ-syhn sth-s-oÛ-syhn

mur05.p65 463 22/01/01, 11:38


464 a flexão verbal

Particípio: havendo de, que vai colocar para si; dar para si; lançar para si;
pôr-se de pé

Tema yh-s-o-meno- dv-s-o-meno- ²-s-o-meno- sth-s-o-meno-


Masc. yhsñmenow dvsñmenow ²sñmenow sthsñmenow
Fem. yhsom¡nh dvsom¡nh ²som¡nh sthsom¡nh
Neut. yhsñmenon dvsñmenon ²sñmenon sthsñmenon

Infinitivo: haver de
colocar para si dar para si lançar para si pôr-se de pé
y®-s-e-syai dÅ-s-e-syai ´-s-e-syai st®-s-e-syai

3. Quadro de flexão dos temas em oclusiva: - g,k,x / b,p,f /d,t,y

Os temas em oclusiva comportam-se como no aoristo sigmático.


Ver o quadro de flexão do aoristo sigmático nas páginas 445 e seguintes.

VOZ ATIVA

Indicativo

eu farei olharei convencerei


S. pr‹g-s-v > jv bl¡p-s-v > cv peÛy-s-v > sv
pr‹g-s-eiw > jeiw bl¡p-s-eiw > ceiw peÛy-s-eiw > seiw
pr‹g-s-ei > jei bl¡p-s-ei > cei peÛy-s-ei > sei
P. pr‹g-s-o-men > jomen bl¡p-s-o-men > comen peÛy-s-o-men > somen
pr‹g-s-e-te > jete bl¡p-s-e-te > cete peÛy-s-e-te > sete
pr‹g-s-ousi > jousi bl¡p-s-ousi > cousi peÛy-s-ousi > sousi
D. pr‹g-s-e-ton > jeton bl¡p-s-e-ton > ceton peÛy-s-e-ton > seton
pr‹g-s-e-ton > jeton bl¡p-s-e-ton > ceton peÛy-s-e-ton > seton

mur05.p65 464 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 465

Optativo
poderia/pudesse
haver de fazer haver de olhar haver de convencer
S. pr‹g-s-oi-mi > joimi bl¡p-s-oi-mi > coimi peÛy-s-oi-mi > soimi
pr‹g-s-oi0w > joiw bl¡p-s-oi-w > coiw peÛy-s-oi-w > soiw
pr‹g-s-oi > joi bl¡p-s-oi > coi peÛy-s-oi > soi

P. pr‹g-s-oi-men > joimen bl¡p-s-oi-men > coimen peÛy-s-oi-men > soimen


pr‹g-s-oi-te > joite bl¡p-s-oi-te > coite peÛy-s-oi-te > soite
pr‹g-s-oi-en > joien bl¡p-s-oi-en > coien peÛy-s-oi-en > soien

D. prag-s-oÛ-thn > joÛthn blep-s-oÛ-thn > coÛthn peiy-s-oÛ-thn > soÛthn


prag-s-oÛ-thn > joÛthn blep-s-oÛ-thn > coÛthn peiy-s-oÛ-thn > soÛthn

Particípio: havendo de fazer, olhar, convencer*


Tema pr‹g-s-o-nt bl¡p-s-o-nt peÝy-s-o-nt
> pr‹jont > bl¡cont > peÝsont
Masc. pr‹jvn-ontow bl¡cvn-ontow peÛsvn-ontow
Fem. pr‹jousa-shw bl¡cousa-shw peÛsousa-shw
Neut. pr‹jon-ontow bl¡con-ontow peÝson-ontow
* Também: que há de fazer / que fará, olhará, convencerá

Infinitivo: haver de
fazer olhar convencer
prag-s-ein > pr‹jein blep-s-ein > bl¡cein peÛy-s-ein > peÛsein

mur05.p65 465 22/01/01, 11:38


466 a flexão verbal

VOZ MÉDIA

Indicativo

farei para mim olharei para mim convencerei para mim


S. pr‹g-s-o-mai > jomai bl¡p-s-o-mai > comai peÛy-s-o-mai > somai
pr‹g-s-e-sai > jú/ei bl¡p-s-e-sai > cú/ei peÛy-s-e-sai > sú/ei
pr‹g-s-e-tai > jetai bl¡p-s-e-tai > cetai peÛy-s-e tai > setai

P. prag-s-ñ-meya > jñmeya blep-s-ñ-meya > cñmeya peiy-s-ñ-meya >


sñmeya
pr‹g-s-e-sye > jesye bl¡p-s-e-sye > cesye peÛy-s-e-sye > sesye
pr‹g-s-o-ntai > jontai bl¡p-s-o-ntai > contai peÛy-s-o-ntai > sontai

D. pr‹g-s-e-syon > jesyon bl¡p-s-e-syon > cesyon peÛy-s-e-syon > sesyon


pr‹g-s-e-syon > jesyon bl¡p-s-e-syon > cesyon peÛy-s-e-syon > sesyon

Optativo
Poderia/pudesse haver de
fazer para mim olhar para mim convencer para mim
S. prag-s-oÛ-mhn > joÛmhn blep-s-oÛ-mhn > coÛmhn peiy-s-oÛ-mhn > soÛmhn
pr‹g-s-oi-so > joio bl¡p-s-oi-spo > coio peÛy-s-oi-so > soio
pr‹g-s-oi-to > joito bl¡p-s-oi-to > coito peÛy-s-oi-to > soito

P. prag-s-oÛ-meya>joÛmeya blep-s-oÛ-meya> coÛmeya peiy-s-oÛ-meya >


soÛmeya
pr‹g-s-oi-sye > joisye bl¡p-s-oi-sye > coisye peÛy-s-oi-sye > soisye
pr‹g-s-oi-nto > jointo bl¡p-s-oi-nto > cointo peÛy-s-oi-nto > sointo

D. prag-s-oÛ-syhn> joÛsyhn blep-s-oÛ-syhn> coÛsyhn peiy-s-oÛ-syhn >


soÛsyhn
prag-s-oÛ-syhn> joÛsyhn blep-s-oÛ-syhn> coÛsyhn peiy-s-oÛ-syhn >
soÛsyhn

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a flexão verbal 467

Particípio: havendo de fazer para si/ havendo de olhar para si/ havendo de
convencer para si, também: que há de fazer / que fará para si etc.

Tema prag-s-ñ-meno- blep-s-ñ-meno- peiy-s-ñ-meno-


> jñmeno- > cñmeno- > sñmeno-
Masc. prajñmenow blecñmenow peisñmenow
Fem. prajom¡nh blecom¡nh peisom¡n
Neut. prajñmenon blecñmenon peisñmenon

Infinitivo: haver de fazer, de olhar, de nutrir para si


fazer para si olhar para si convencer para si
pr‹g-s-e-syai > jesyai bl¡p-s-e-syai > cesyai peÛy-s-e-syai > sesyai

Contudo, nem sempre é fácil identificar o tema verbal na forma


pela qual os verbos dão entrada nos dicionários, vocabulários e gramáti-
cas, isto é, pela forma do presente. Mas, se observarmos bem a forma do
aoristo, conseguiremos identificar o tema verbal. Assim:

Verbo Tema Tema do Futuro Aoristo


verbal infectum
kl‹gzv / kl‹zv klagg- klagg-jv kl‹gg-s-v ¦klagg-sa
eu grito > kl‹gzv > kl‹gjv > ¦klagja
klag- klag-jv kl‹g-sv ¦klag-sa
> kl‹zv > kl‹jv > ¦klaja

nÛzv / nÛptv nif- nif->nif-jv nÛf-sv ¦nif-sa


eu lavo > nÛptv > nÛcv > ¦nica
nib- nib-jv nÛb-sv ¦nib-sa
> nÛzv > nÛcv > ¦nica

sxÛzv sxid- sxid-jv sxÛd-sv ¦sxid-sa


eu fendo, eu racho > sxÛzv > sxÛsv > ¦sxisa

sf‹zv sfag- sfag-jv sf‹g-sv ¦sfag-sa


eu degolo > sf‹zv > sf‹jv > ¦sfaja

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468 a flexão verbal

Nesses quatro casos, a construção do aoristo e futuro (ativo e mé-


dio) é normal:
klagg - s > klagj nif/nib - s > nic
sxid-s > sxiss > sxis sfag-s > sfaj
Também não haverá problemas na construção da voz passiva (aoris-
to e futuro) com o sufixo -h-/-yh-. (Ver no quadro de flexão próprio).

4. Quadro de flexão do futuro em -es- dos temas em líquida / soante

Nos casos dos temas em soante, nasal ou líquida, (l, m, n, r), o -


s- do futuro vem com vocalismo e, como se fosse uma vogal de ligação -
es-; é um tratamento diferente daquele dispensado para esse mesmo en-
contro consonântico, no aoristo. Certamente para não causar confusão
com o tema do infectum.
Com a presença de -es-, das desinências primárias e da vogal de
ligação, o -s- fica em posição intervocálica e sofre síncope. Isso transfor-
ma esse tema de futuro em um tema em vogal e-, igual ao tema do verbo
denominativo em e- (file-), e normalmente a flexão se faz da mesma
forma, isto é, como o verbo fil¡-v.

Assim:
Žggel-¡s-v > Žggel¡v > ŽggelÇ,eÝw,eÝ;
nem-¡s-v > nem¡v > nemÇ,eÝw,eÝ;
fan-¡s-o-mai > fan¡omai > fanoèmai,»,eÝtai;
kayar-¡s-v > kayar¡v > kayarÇ,eÝw,eÝ

Veja os quadros de flexão a seguir.

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a flexão verbal 469

VOZ ATIVA

Indicativo

destruirei enviarei repartirei permanecerei


S. fyer-¡s-v > Ç stel-¡s-v > Ç nem-¡s-v > Ç men-¡s-v > Ç
fyer-¡s-eiw > eÝw stel-¡s-eiw > eÝw nem-¡s-eiw > eÝw men-¡s-eiw > eÝw
fyer-¡s-ei > eÝ stel-¡s-ei > eÝ nem-¡s-ei > eÝ men-¡s-ei > eÝ

P. fyer-¡s-omen > oèmen stel-¡s-omen > oèmen nem-¡s-omen > oèmen men-¡s-omen > oèmen
fyer-¡s-ete > eÝte stel-¡s-ete > eÝte nem-¡s-ete > eÝte men-¡s-ete > eÝte
fyer-¡s-ousi > oèsi stel-¡s-ousi > oèsi nem-¡s-ousi > oèsi men-¡s-ousi > oèsi

D. fyer-¡s-eton > eÝton stel-¡s-eton > eÝton nem-¡s-eton > eÝton men-¡s-eton > eÝton
fyer-¡s-eton > eÝton stel-¡s-eton > eÝton nem-¡s-eton > eÝton men-¡s-eton > eÝton

Optativo: poderia/pudesse haver de

destruir enviar repartir permanecer


S. fyeroÛhn* steloÛhn nemoÛhn menoÛhn
fyeroÛhw steloÛhw nemoÛhw menoÛhw
fyeroÛh steloÛh nemoÛh menoÛh
P. fyeroÝmen steloÝmen nemoÝmen menoÝmen
fyeroÝte steloÝte nemoÝte menoÝte
fyeroÝen steloÝen nemoÝen menoÝen
D. fyeroÝton steloÝton nemoÝton menoÝton
fyeroÛthn steloÛthn nemoÛthn menoÛthn
* fyer-es-o-Û-hn > fyereoÛhn > fyeroÛhn igual ao modelo filoÛhn
das páginas 391 e 393.

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470 a flexão verbal

Particípio: havendo de destruir, enviar, repartir, permanecer*


Tema fyer-¡sont >-¡ont stel-¡sont >-¡ont nem-¡sont >-¡ont men-¡sont >-¡ont
Masc. fyerÇn, oèntow‘ stelÇn, oèntow nemÇn, oèntow menÇn, oèntow
Fem. fyeroèsa, shw steloèsa, shw nemoèsa, shw menoèsa, shw
Neut. fyeroèn, oèntow steloèn, oèntow nemoèn, oèntow menoèn, oèntow

* Também: que há de destruir, enviar, repartir, permanecer; que destruirá,


enviará, repartirá, permanecerá.

Infinitivo: haver de
destruir enviar repartir permanecer
fyer-¡s-ein > eÝn stel-¡sein > eÝn nem-¡sein > eÝn men-¡s-ein > eÝn

VOZ MÉDIA

Indicativo

destruirei para mim enviarei para mim aparecerei


S. fyer-¡s-omai > oèmai stel-¡somai > oèmai fan-¡somai > oèmai
fyer-¡sesai > » / eÝ stel-¡sesai > » / eÝ fan-¡sesai > » / eÝ
fyer-¡setai > eÝtai stel-¡setai > eÝtai fan-¡setai > eÝtai

P. fyer-esñmeya > oæmeya stel-esñmeya > oæmeya fan-esñmeya > oæmeya


fyer-¡sesye > eÝsye stel-¡sesye > eÝsye fan-¡sesye > eÝsye
fyer-¡sontai > oèntai stel-¡sontai > oèntai fan-¡sontai > oèntai

D. fyer-¡sesyon > eÝsyon stel-¡sesyon > eÝsyon fan-¡sesyon > eÝsyon


fyer-¡sesyon > eÝsyon stel-¡sesyon > eÝsyon fan-¡sesyon > eÝsyon

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a flexão verbal 471

Optativo
poderia/pudesse haver de
destruir para mim enviar para mim aparecer para mim
S. fyer-esoÛmhn > oÛmhn stelesoÛmhn > oÛmhn fan-esoÛmhn > oÛmhn
fyer-¡soiso > oÝo stel-¡soiso > oÝo fan-¡soiso > oÝo
fyer ¡soito > oÝto stel-¡soito > oÝto fan-¡soito > oÝto

P. fyer-esoÛmeya > oÛmeya stel-esoÛmeya > oÛmeya fan-esoÛmeya > oÛmeya


fyer-¡soisye > oÝsye stel-¡soisye > oÝsye fan-¡soisye > oÝsye
fyer-¡sointo > oÝnto stel-¡sointo > oÝnto fan-¡sointo > oÝnto

D. fyer-¡soisyon > oÝsyon stel-¡soisyon > oÝsyon fan-¡soisyon > oÝsyon


fyer-esoÛsyhn > oÛsyhn stel-esoÛsyhn > oÛsyhn fan-esoÛsyhn > oÛsyhn

Particípio: havendo de destruir, enviar, aparecer para si


Também: que há de destruir/que destruirá para si
que há de enviar/que enviará para si
que há de aparecer/que aparecerá para si

Tema fyer-esñmeno stel-esñmeno fan-esñmeno


- > oæmeno- - > oæmeno- - > oæmeno-
Masc. fyeroæmenow steloæmenow fanoæmenow
Fem. fyeroum¡nh steloum¡nh fanoum¡nh
Neut. fyeroæmenon steloæmenon fanoæmenon

Infinitivo: haver de
destruir para si enviar para si aparecer
fyer-¡s-esyai stel-¡s-esyai fan-¡s-esyai
> fyereÝsyai > steleÝsyai > faneÝsyai

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472 a flexão verbal

5. Flexão do futuro ático

Por analogia com os temas em líqüida, alguns verbos de temas dissi-


lábicos em dental precedida de -i-, que fazem o infectum em -izv, e fa-
riam o futuro -isv, elidem o -s- intervocálico e decalcam a flexão sobre
o futuro em -es-, e, a seguir, analogicamente, seguem o modelo dos ver-
bos denominativos de tema em -e, como fil¡v > filÇ.

Infectum Futuro
eu voto chfid-jv > chfÛzv chfÛdsv > chfÛsv >
chfÛv > chfiÇ, eÝw,eÝ..

eu mentalizo, penso frontid-jv > frontÛzv frontÛdsv > frontÛsv >


frontÛv > frontiÇ, eÝw,eÝ..

eu penso, considero nomid-jv > nomÛzv nomid-sv > nomÛsv >


nomÛv > nomiÇ,eÝw,eÝ..

eu agrado xarit-jv > xarÛzomai xarit-somai > xarÛsomai >


xariomai > xarioèmai, », eÝtai.

Em geral, isso se dá com os temas de duas sílabas ou mais.


As gramáticas denominam esse futuro de futuro ático.
Esse uso, contudo, não é absoluto:
• O verbo ¤lpÛzv, por exemplo, tem ¤lpÛsv no futuro, normalmente.
• Há também alguns verbos, como:
eÞsbib‹zv, eu faço entrar, eu embarco,
¤laænv, eu empurro, eu toco para frente, que fazem o futuro
respectivamente:
eÞsbib‹sv > eÞsbibÇ,˜w,˜,Çmen,te,Çsi, e
¤l‹sv> ¤lÇ,˜w,˜,Çmen,te,Çsi,
isto é, o -s- intervocálico sofre síncope e o hiato resultante torna o
tema igual ao tema dos verbos denominativos em -a, e por isso fazem a
flexão como tim‹-v.
• Isso acontece também com alguns verbos de tema em -a, mas que re-
cebem o sufixo -nnumi no infectum.

mur05.p65 472 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 473

Por exemplo:

Infectum Futuro
eu misturo ker‹-nnumi ker‹-s-v > kerÇ,˜w,˜,Çmen,te,Çsi
eu abro as asas Žnapet‹-nnumi pet‹-s-v > petÇ.˜w,˜,Çmen,te,Çsi
eu disperso sked‹-nnumi sked‹-s-v > skedÇ,˜w,˜,Çmen,te,Çsi
eu suspendo krem‹-nnumi krem‹-s-v > kremÇ,˜w,˜,Çmen,te,Çsi

Quadro de flexão

Indicativo Optativo
eu dispersarei eu poderia / pudesse haver de dispersar
S. sked‹sv > sked‹v > skedÇ sked‹soimi > sked‹oimi > skedÒmi
sked‹seiw > sked‹eiw > sked˜w sked‹soiw > sked‹oiw > skedÒw
sked‹sei > sked‹ei > sked˜ sked‹soi > sked‹oi > skedÒ

P. sked‹somen > sked‹omen > skedÇmen sked‹soimen > sked‹oimen > skedÒmen
sked‹sete > sked‹ete > skedte sked‹soite > sked‹oite > skedÒte
sked‹sonsi > sked‹onsi > skedÇsi sked‹soien > sked‹oien > skedÒen

D. sked‹seton > sked‹eton > skedton sked‹soiton > sked‹oiton > skedÒton
sked‹seton > sked‹eton > skedton skedasoÛthn > skedaoÛthn > skedÐthn

Particípio: havendo de dispersar/que há de dispersar/que dispersará


Tema Masc. Fem. Neutro
sked‹-s-o-nt skedÇn-Çntow skedÇsa-Åshw skedÇn-Çntow
> sked‹ont- > skedvnt-

Infinitivo: haver de dispersar: sked‹-s-en > sked‹en > skedn

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474 a flexão verbal

6. Flexão do futuro dos temas em vogal

Há também alguns poucos verbos, encontrados sobretudo em Ho-


mero, de tema em vogal, que fazem o futuro em -s-, o que faz com que
esse -s- se encontre em posição intervocálica e tenda a cair, provocando
a seguir, no dialeto ático, a contração das vogais em contato, resultando
em formas que podem ser confundidas com as do presente dos verbos
denominativos de temas em vogal (e-,a-,o-).
kal¡v - kal¡sv > ático - kalÇ
max¡omai - max¡somai > ático - maxoèmai
¤l‹v - ¤l‹sv > ático - ¤lÇ

Em Homero, e no dialeto jônico em geral, predominam as formas


não contratas; isto é, o hiato permanece.
Esses verbos não se confundem com os denominativos, de forma-
ção recente, que só se contraem no sistema do presente (encontro da vogal
com a vogal de ligação).
No futuro/aoristo e no perfeito, os denominativos alongam a vogal
temática. filÇ - fil®sv - ¤fÛlhsa - pefÛlhka
timÇ - tim®sv - ¤tÛmhsa - tetÛmhka
dhlÇ - dhlÅsv - ¤d®lvsa - ded®lvka

Nota:
Convém notar que as contrações que acontecem no modelo acima
são conseqüência da queda do -s- em posição desinencial intervocálica.
Nos verbos que a gramática chama de “contratos”, essas contra-
ções acontecem só no tema do infectum, e são conseqüência da queda
do sufixo formador do tema do infectum -j- (jod), que fica em posição
intervocálica, na formação do infectum dos verbos denominativos de tema
em vogal, como:
fil¡-j-v > fil¡-v > filÇ eu amo
dhlñ-j-v > dhlñ-v > dhlÇ eu revelo
tim‹-j-v > tim‹-v > timÇ eu honro
ދ-j-omai > ދomai > ÞÇmai eu curo
peir‹-j-omai > peir‹omai > peirÇmai eu tento

mur05.p65 474 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 475

Essas contrações se fazem para reduzir o hiato provocado pelo en-


contro da vogal temática e a vogal de ligação depois da síncope do -j-.
Todos esses verbos alongam a vogal temática nos outros dois as-
pectos: futuro e aoristo sigmáticos ativos, médios e passivos e perfeito e
mais-que-perfeito, ativos, médios e passivos:
e> h, o > v, a > a/h.

Futuro Aoristo Perfeito +p. Perfeito


V. Ativ. filÇ(e) fil®sv ¤fÛlhsa pefÛlhka ¤pefil®khn/ein
V. Med. fil®somai ¤filhs‹mhn pefÛlhmai ¤pefil®mhn
V. Pass. filhy®somai ¤fil®yhn
V. Ativ. dhlÇ(o) dhlÅsv ¤d®lvsa ded®lvka ¤dedhlÅkhn/ein
V. Med. dhlÅsomai ¤dhlvs‹mhn ded®lvmai ¤dedhlÅmhn
V. Pass. dhlvy®somai ¤dhlÅyhn
V. Ativ. timÇ(a) tim®sv ¤tÛmhsa tetÛmhka ¤tetim®khn/ein
V. Med. tim®somai ¤timhs‹mhn tetÛmhmai ¤tetim®mhn
V. Pass. timhy®somai ¤tim®yhn

Mas os temas em a-, precedidos de vogal ou r, ao alongarem a


vogal não mudam o seu timbre, permanecendo a:
ÞÇmai (a) ދsomai Þas‹mhn
peirÇmai peir‹somai ¤peiras‹mhn

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476 a flexão verbal

Aoristo passivo
Os modelos ¦gnvn/¦bhn também servem de paradigma para uma
categoria de aoristos em h/v, intransitivos e médios na origem, marcan-
do o ponto de partida da ação em que o sujeito está envolvido; diferente
das formas ativas.
A partir daí passou a ser sentido como forma e significado passi-
vos, como:
¥‹lvn, eu caí nas mãos, fui preso
¦sbhn, eu me apaguei, fui apagado
A voz média é essencialmente intransitiva, na medida em que o
sujeito, envolvido na ação, não sai do ato verbal; por isso, esses verbos
não têm voz passiva; e, com o objeto direto, a voz ativa aparece mais tar-
de, com o ato verbal rompendo o círculo da intransitividade.
Assim faÛnomai eu apareço desenvolveu uma forma ativa faÛnv
eu mostro, faço aparecer.
Há um bom número de verbos transitivos que têm esse aoristo em
-h-.
São verbos essenciais, isto é, verbos que exprimem atos fundamen-
tais, concretos, cotidianos e que desenvolveram posteriormente uma for-
ma de aoristo em -yh.-
Em sua maioria são verbos em líqüida e nesses casos esse aoristo
se constrói sobre a raiz no vocalismo zero, desenvolvendo depois um a:
fyr > ¤-fy‹r-hn sou, fui corrompido
stl > ¤-st‹l-hn sou, fui enviado
Os de tema em labial55 também fazem esse aoristo desenvolvendo
o mesmo a, como:
trp> tr¡pv > ¤-tr‹p-hn sou, fui virado
trf > tr¡fv > ¤-tr‹f-hn sou, fui nutrido

55 Nos grupos de 3 consoantes há sempre uma líquida e duas oclusivas.

mur05.p65 476 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 477

Com a extensão do seu uso para a voz passiva, a língua desenvol-


veu um aoristo foneticamente mais forte, em -yh-, sobretudo com os
temas em vogal. Este revelou-se tão produtivo que se tornou o aoristo
passivo mais comum.
Em alguns verbos convivem os dois aoristos: o em -h-, com significa-
do de estado (intransitivo), e o aoristo em yh /syh, com significado passivo.
Alguns aoristos acima citados, como ¥‹lvn, ¦pthn são repre-
sentativos dessa passagem da noção média, intransitiva para a passiva.
O aoristo, contrariamente ao infectum e ao perfectum, tem uma mar-
ca distintiva na voz passiva.
O que marca o aoristo passivo é o sufixo -yh/-syh ou o sufixo -h
Notar também que o aoristo passivo se serve de desinências ativas;
mas isso não representa problema, porque a característica -h-/-yh,-syh
é suficiente para marcar a passividade.

Quadro de flexão do aoristo passivo em yh

Temas em semivogal: lu-yh

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


fui/sou desligado seja/for desligado seria/fosse desligado* sê/sede desligado**
S. ¤-læ-yh-n lu-yÇ*** lu-ye-Ûh-n
¤-læ-yh-w lu-y»-w/lu-y°iw lu-ye-Ûh-w læ-yh-ti
¤-læ-yh lu-y»/lu-y°i lu-ye-Ûh lu-y®-tv

P. ¤-læ-yh-men lu-yÇ-men lu-ye-Ûh-men (yeÝmen)****


¤-læ-yh-te lu-y°-te lu-ye-Ûh-te (yeÝte) læ-yh-te
¤-læ-yh-san lu-yÇ-si lu-ye-Ûh-san (yeÝen) lu-y¡-ntvn

D. ¤-læ-yh-ton lu-y°-ton lu-ye-Ûh-ton (luyeÝton) læ-yh-ton


¤-lu-y®-thn lu-y®-tvn lu-ye-i®-thn (luyeÛthn) lu-y®-tvn

* Também: poderia/pudesse ser desligado.


** Imperativo de 3 a pessoa: (ele) seja desligado, (eles) sejam desligados.
*** O subjuntivo é construído sobre o tema verbal + característica do
passivo -yh- + característica do subjuntivo v,h,h,v,h,v e desinên-

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478 a flexão verbal

cias primárias ativas. Na seqüência de duas vogais longas a anterior


se abrevia, luy®-v-men > luy¡-v-men > luyÇmen e aqui há a ab-
sorção da breve pela longa (contração), o que explica as formas peris-
pômenas e properispômenas.
**** As formas sincopadas, reduzidas são as mais usadas. Lei do menor
esforço.

Quadro demostrativo da evolução fonética do subjuntivo:

lu-yh- > luye-

S. lu-y¡-v* > luyÇ*


lu-y¡-h-si > luy¡hiw > luy°i/luy» > luy°iw/luy»w**
lu-y¡-h-ti > luy¡hsi > luy¡hi > luy°i/luy»
P. lu-y¡-v-men > luyÇmen
lu-y¡-h—te > luy°te
lu-y¡-v-nti > luyÇnti > luyÇnsi > luyÇsi
D. lu-y¡-h—ton > luy°ton
lu-y¡-h—ton > luy°ton
* Vogal longa seguida de vogal longa se abrevia e, a seguir, é absorvida:
lu-y®-v > lu-y¡-v > luyÇ.
** O -w é característica de 2a pessoa do singular da voz ativa; ele deve
aparecer.

Particípio: tendo sido desligado


Tema Masc. Fem. Neutro
lu-y®-nt- > lu-y¡-nt-* luyeÛw, luy¡ntow luyeÝsa, luyeÛshw luy¡n, luy¡ntow

* Vogal longa seguida de soante e oclusiva se abrevia.

Infinitivo: lu-y°-nai: ser desligado

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a flexão verbal 479

Adjetivos verbais:
lu-tñw,®,ñn : desligável
lu-t¡ow,a,on : que deve ser desligado

Temas monossilábicos

Indicativo
sou/fui colocado sou/fui dado sou/fui lançado sou/fui posto de pé
S. ¤-t¡-yh-n* ¤-dñ-yh-n eá-yh-n ¤-st‹-yh-n
¤-t¡-yh-w ¤-dñ-yh-w eá-yh-w ¤-st‹-yh-w
¤-t¡-yh ¤-dñ-yh eá-yh ¤-st‹-yh
P. ¤-t¡-yh-men ¤-dñ-yh-men eá-yh-men ¤-st‹-yh-men
¤-t¡-yh-te ¤-dñ-yh-te eá-yh-te ¤-st‹-yh-te
¤-t¡-yh-san ¤-dñ-yh-san eá-yh-san ¤-st‹-yh-san
D. ¤-t¡-yh-ton ¤-dñ-yh-ton eá-yh-ton ¤-st‹-yh-ton
¤-te-y®-thn ¤-do-y®-thn eß-y®-thn ¤-sta-y®-thn
* No caso de duas sílabas seguidas começarem por oclusiva aspirada, a
anterior perde a aspiração e é expressa pela surda correspondente:
psilose.

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480 a flexão verbal

Subjuntivo
seja/for colocado seja/for dado seja/for lançado seja/for posto de pé
S. te-yÇ* do-yÇ ¥-yÇ sta-yÇ
te-y»w do-y»w ¥-y»w sta-y»w
te-y» do-y» ¥-y» sta-y»
P. te-yÇ-men do-yÇ-men ¥-yÇ-men sta-yÇ-men
te-y°-te do-y°-te ¥-y°-te sta-y°-te
te-yÇ-si do-yÇ-si ¥-yÇ-si sta-yÇ-si
D. te-y°-ton do-y°-ton ¥-y°-ton sta-y°-ton
te-y°-ton do-y°-ton ¥-y°-ton sta-y°-ton
* O subjuntivo é construído sobre o tema breve + característica da voz
passiva -yh- + característica do subjuntivo -v-h-h-v-h-v, e desinên-
cias primárias ativas. Na seqüência de duas vogais longas, a anterior se
abrevia y®-v > y¡-v > yÇ, e depois há a contração, o que explica as
formas perispômenas e properispômenas.

Quadro demostrativo da evolução fonética

S. te-y¡-v* > teyÇ


te-y¡-h-si > tey¡hi > tey°i/tey» > tey°iw/tey»w
te-y¡-h-ti > tey¡hsi > tey¡hi > tey°i/tey»
P. te-y¡-v-men > teyÇmen
te-y¡-h—te > tey°te
te-y¡-v-nti > teyÇnti > teyÇnsi > teyÇsi
D. te-y¡-h—ton > tey°ton
te-y¡-h—ton > tey°ton

* ye-y®-v > yey¡v > tey¡v.

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a flexão verbal 481

S. do-y¡-v > doyÇ


do-y¡-h-si > doy¡hi > doy°i/doy» > doy°iw/doy»w
do-y¡-h-ti > doy¡hsi > doy¡hi > doy°i/doy»
P. do-y¡-v-men > doyÇmen
do-y¡-h-te > doy°te
do-y¡-v-nti > doyÇnti > doyÇnsi > do-yÇ-si
D. do-y¡-h-ton > doy°ton
do-y¡-h-ton > doy°ton

S. ¥-y¡-v > ¥yÇ


¥-y¡-h-si > ¥y¡hi > ¥y°i/¥y» > ¥y°iw/¥y»w
¥-y¡-h-ti > ¥y¡hsi > ¥y¡hi > ¥y°i /¥y»
P. ¥-y¡-v-men > ¥yÇmen
¥-y¡-h-te > ¥y°te
¥-y¡-v-nti > ¥yÇnti > ¥yÇnsi > ¥-yÇ-si
D. ¥-y¡-h-ton > ¥y°ton
¥-y¡-h-ton > ¥y°ton

S. sta-y¡-v > stayÇ


sta-y¡-h-si > stay¡hi > stay°i/stay» > stay°iw/sta-y»w
sta-y¡-h-ti > stay¡hsi > stay¡hi > stay°i /stay»
P. sta-y¡-v-men > stayÇmen
sta-y¡-h-te > stay°te
sta-y¡-v-nti > stayÇnti > stayÇnsi > stayÇsi
D. sta-y°-ton > stay°ton
sta-y°-ton > stay°ton

mur05.p65 481 22/01/01, 11:38


482 a flexão verbal

Optativo

seria/fosse colocado* seria/fosse dado seria/fosse lançado seria/fosse posto de pé


S. te-ye-Ûh-n do-ye-Ûh-n ¥-ye-Ûh-n sta-ye-Ûh-n
te-ye-Ûh-w do-ye-Ûh-w ¥-ye-Ûh-w sta-ye-Ûh-w
te-ye-Ûh do-ye-Ûh ¥-ye-Ûh sta-ye-Ûh

P. te-ye-Ûh-men/eÝmen** do-ye-Ûh-men/eÝmen ¥-ye-Ûh-men/eÝmen sta-ye-Ûh-men/eÝmen


te-ye-Ûh-te/eÝte do-ye-Ûh-te/eÝte ¥-ye-Ûh-te/eÝte sta-ye-Ûh-te/eÝte
te-ye-Ûh-san/eÝen do-ye-Ûh-san/eÝen ¥-ye-Ûh-san/eÝen sta-ye-Ûh-san/eÝen

D. te-ye-Ûh-ton/eÝton do-ye-Ûh-ton/eÝton ¥-ye-Ûh-ton/eÝton sta-ye-Ûh-ton/eÝton


te-ye-i®-thn/eÛthn do-ye-i®-thn/eÛthn ¥-ye-i®-thn/eÛthn sta-ye-i®-thn/eÛthn

* Também: poderia/pudesse ser: colocado, dado, lançado, posto de pé.


** As formas sincopadas, reduzidas são as mais usadas. Lei do menor
esforço.

Imperativo

sê/sede colocado sê/sede dado sê/sede lançado sê/sede posto de pé*


S.
t¡-yh-ti** dñ-yh-ti §-yh-ti st‹-yh-ti
te-y®-tv do-y®-tv ¥-y®-tv sta-y®-tv
P.
t¡-yh-te dñ-yh-te §-yh-te st‹-yh-te
te-y¡-ntvn*** do-y¡-ntvn ¥-y¡-ntvn sta-y¡-ntvn
D. t¡-yh-ton dñ-yh-ton §-yh-ton st‹-yh-ton
te-y®-tvn do-y®-tvn ¥-y®-tvn sta-y®-tvn
* Imperativo de 3 a pessoa:
(ele) seja colocado, dado, lançado, posto de pé;
(eles) sejam colocados, dados, lançados, postos de pé.
** Psilose: t¡-yh-yi > t¡-yh-ti.
*** Vogal longa seguida de soante e oclusiva se abrevia.

mur05.p65 482 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 483

Particípio: tendo sido colocado, dado, lançado, posto de pé

Tema te-y®-nt > tey¡nt-* do-y®-nt > doy¡nt- ¥-y®-nt > ¥y¡nt- sta-y®-nt > stay¡nt-
Masc. teyeÛw - y¡ntow doyeÛw - y¡ntow ¥yeÛw - y¡ntow stayeÛw - y¡ntow
Fem. teyeÝsa - shw doyeÝsa - shw ¥yeÝsa - shw stayeÝsa - shw
Neut. tey¡n - y¡ntow doy¡n - y¡ntow ¥y¡n - y¡ntow stay¡n - y¡ntow

* Vogal longa seguida de soante e oclusiva se abrevia.

Infinitivo
ser colocado ser dado ser lançado ser posto de pé
te-y°-nai do-y°-nai ¥-y°-nai sta-y°-nai

Temas em oclusivas
Tema: peiy pr‹g tr¡f

Indicativo
fui/sou convencido fui/sou feito fui/sou nutrido
S. ¤peÛyyhn > ¤peÛsyhn* ¤pr‹gyhn > ¤pr‹xyhn** ¤tr¡fyhn***
¤peÛyyhn> ¤peÛsyhw ¤pr‹gyhw > ¤rp‹xyhw ¤tr¡fyhw
¤peÛyyh > ¤peÛsyh ¤pr‹gyh > ¤pr‹xyh ¤tr¡fyh
P. ¤peÛyyhmen > ¤peÛsyhmen ¤pr‹gyhmen > ¤pr‹xyhmen ¤tr¡fyhmen
¤peÛyyhsye > ¤peÛsyhsye ¤pr‹gyhsye > ¤pr‹xyhsye ¤tr¡fyhsye
¤peÛyyhsan > ¤peÛsyhsan ¤pr‹gyhsan> ¤pr‹xyhsan ¤tr¡fyhsan
D. ¤peiyy®thn > ¤peisy®thn ¤pragy®thn > ¤praxy®thn ¤trefy®thn
¤peiyy®thn > ¤peisy®thn ¤pragy®thn > ¤praxy®thn ¤trefy®thn
* Dental seguida de dental se dissimila/suaviza em -s-.
** Oclusiva gutural ou labial, surda ou sonora seguida de aspirada se aspira.
*** O -f- temático não sofreu alteração, porque combina com a aspirada
seguinte.

mur05.p65 483 22/01/01, 11:38


484 a flexão verbal

Subjuntivo
seja/for convencido seja/for feito seja/for nutrido
S. peiyyÇ > peisyÇ* pragyÇ > praxyÇ trefyÇ
peiyy»w > peisy»w pragy»w > praxy»w trefy»w
peiyy» > peisy» pragy» > praxy» trefy»
P. peiyyÇmen > peisyÇmen pragyÇmen > praxyÇmen trefyÇmen
peiyy°te > peisy°te pragy°te > praxy°te trefy°te
peiyyÇsi > peisyÇsi pragyÇsi > praxyÇsi trefyÇsi
D. peiyy°ton > peisy°ton pragy°ton > praxy°ton trefy°ton
peiyy°ton > peisy°ton pragy°ton > praxy°ton trefy°ton
* O subjuntivo aoristo passivo se constrói sobre o tema puro do verbo +
característica do passivo -yh- + característica do subjuntivo (vogal lon-
ga) v, h, h, v, h, v, o que faz uma seqüência de duas longas e conse-
qüente abreviação da anterior e posterior contração. É o que explica as
formas perispômenas e properispômenas. (Ver o modelo fonético aci-
ma - quadro demostrativo de læv. Ver página 478.)

Optativo
seria/fosse convencido* seria/fosse feito seria/fosse nutrido
S. peiyyhÛhn > peisyeÛhn pragyhÛhn > praxyeÛhn trefyhÛhn > trefyeÛhn**
peiyyhÛhw > peisyeÛhw pragyhÛhw > praxyeÛhw trefyhÛhw > trefyeÛhw
peiyyhÛh > peisyeÛh pragyhÛh > praxyeÛh trefyhÛh > trefyeÛh

P. peiyyhÝmen > peisyeÝmen pragyhÝmen > praxyeÝmen trefyhÝmen > trefyeÝmen***


peiyyhÝte > peisyeÝte pragyhÝte > praxyeÝte trefyhÝte > trefyeÝte
peiyyhÝen > peisyeÝen pragyhÝen > praxyeÝen trefyhÝen > trefyeÝen

D. peiyyhÛthn > peisyeÛyhn pragyhÛthn > praxyeÛthn trefyhÛthn > trefyeÛthn


peiyyhÛthn > peisyeÛyhn pragyhÛthn > praxyeÛthn trefyhÛthn > trefyeÛthn

* Também: poderia/pudesse ser convencido, feito, nutrido.


** Vogal longa seguida de longa se abrevia; o -i- do optativo é longo; por
isso o -h- da marca da passiva se abrevia; depois, por sua vez, o -i- se
abreviará diante do -h-. do vocalismo longo do optativo.

mur05.p65 484 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 485

*** Essas formas são mais usadas do que as longas:


trefyeÛhmen, trefyeÛhte, trefyeÛhsan, para todos os verbos.
São mais cômodas. Lei do menor esforço.

Imperativo
sê/sede convencido(s) sê/sede feito(s) sê/sede nutrido(s)*
S.
peÛy-yhyi > peÛsyhti** pr‹gyhyi > pr‹xyhti tr¡fyhyi > tr¡fyhti
peiy-y®tv > peisy®tv pragy®tv > praxy®tv trefy®tv

P.
peÛyyhte > peÛsyhte pr‹gyhte > pr‹xyhte tr¡fyhte
peiyyhntvn > peisy¡ntvn*** pragy®ntvn > praxy¡ntvn trefy¡ntvn

D. peÛyyhton > peÛsyhton pr‹gyhton > pr‹xyhton tr¡fyhton


peiy-y®tvn > peisy®tvn pragy®tvv > praxy®tvn trefy®tvn

* Imperativo de 3 a pessoa:
(ele) seja convencido, feito, nutrido;
(eles) sejam convencidos, feitos, nutridos.
** A desinência do imperativo seria um locativo antigo -yi, para enfatizar,
porque o imperativo singular normalmente não teria desinência. A se-
guir houve uma psilose, porque as duas sílabas começam com aspira-
da. Lei do menor esforço.
*** Vogal longa seguida de soante (líquida) e oclusiva se abrevia.

Particípio: tendo sido convencido, tendo sido feito, tendo sido nutrido*
Tema peiyy®nt-> peisy¡nt- ** pragy®nt> praxy¡nt- trefy®nt> trefy¡nt-
Masc. peisyeÛw-y¡ntow praxyeÛw-y¡ntow trefyeÛw-y¡ntow
Fem. peisyeÝsa-shw praxyeÝsa-shw trefyeÝsa-shw
Neut. peisy¡n-y¡ntow praxy¡n-y¡ntow trefy¡n-y¡ntow

* Também: que foi convencido, feito, nutrido.


** Vogal longa seguida de soante (líquida) e oclusiva se abrevia.

Infinitivo
ser convencido ser feito ser nutrido
peiyy°nai > peisy°nai pragy°nai > praxy°nai trefy°nai

mur05.p65 485 22/01/01, 11:38


486 a flexão verbal

Quadro de flexão do aoristo passivo em -h-


Aoristo sigmático de tema em líquida

Todos os verbos em líquida fazem o aoristo passivo em -h-.


Os de raiz monossilábica trilítere, em geral composta de duas con-
soantes e uma soante, líqüida, fazem o aoristo passivo sobre o vocalismo
zero da raiz, desenvolvendo a seguir um -a- epentético.
T: stl/stel; aoristo ativo: ¦-steil-a aoristo passivo: ¤-st‹l-h-n
T: fyr/fyer; aoristo ativo: ¦-fyeir-a aoristo passivo: ¤-fy‹r-h-n

stl > stal-h

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


sou/fui enviado seja/for enviado seria/fosse enviado** sê/sede enviado***
S. ¤-st‹l-h-n stal-Ç* stal-eÛ-h-n
¤-st‹-l-h-w stal-»-w stal-eÛ-h-w st‹l-h-yi
¤-st‹l-h stal-» stal-eÛ-h stal-®-tv
P. ¤-st‹l-h-men stal-Ç-men stal-eÝ-men
¤-st‹l-h-te stal-°-te stal-eÝ-te st‹l-h-te
¤-st‹l-h-san stal-Ç-si stal-eÝ-en stal-¡-ntvn****
D. ¤-st‹l-h-ton stal-°-ton stal-e-Ûh-ton/eÝton st‹l-h-ton
¤-stal-®-thn stal-°-ton stal-e-i®-thn/eÛthn stal-®-tvn
* O subjuntivo se constrói sobre o tema verbal puro + característica pas-
siva -h- + característica do subjuntivo v, h, h, v, h, v, o que resulta
numa seqüência de duas vogais longas; nesses casos a longa anterior se
abrevia e a seguir se dá a contração. É isso que explica as formas peris-
pômenas e prosperispômenas.
** Também: poderia/pudesse ser enviado.
*** Imperativo de 3a pessoa: (ele) seja enviado; (eles) sejam enviados.
**** Vogal longa seguida de soante e oclusiva se abrevia.

mur05.p65 486 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 487

Quadro demostrativo da evolução fonética no subjuntivo

S. stal®-v > stal¡v > stalÇ*


stal¡-h-si > stal¡hi > stal°i/stal» > stal°iw/sta-l»w**
stal¡-h-ti > stal¡hsi > stal¡hi > stal°i/stal»
P. stal¡-v-men > stalÇmen
stal¡-h-te > stal°te
sta-l¡-v-nti > stalÇnti > stalÇnsi > stalÇsi
D. stal¡-h-ton > stal°ton
stal¡-h-ton > stal°ton
* Vogal longa seguida de vogal longa se abrevia e, a seguir, é absorvida.
** O -w é característica de 2a pessoa do singular da voz ativa; por isso
aparece aí.

Particípio: tendo sido enviado


Tema Masc. Fem. Neutro
stal-®-nt > stal¡nt-w > stal¡ntja > stal¡ntia stal¡nt >
stal¡nt-* staleÛw, stal¡ntow staleÝsa, staleÛshw stal¡n, stal¡ntow

* Vogal longa seguida de soante e oclusiva se abrevia.

Infinitivo: stal-°-nai ser enviado

Adjetivos verbais:
stal-tñw, ®, ñn: enviável
stal-t¡ow, a, on: que deve ser enviado

mur05.p65 487 22/01/01, 11:38


488 a flexão verbal

Quadro de flexão do futuro passivo em -yh-


Temas em semivogal (i, u)

Indicativo Optativo
serei desligado pudesse/poderia haver de ser desligado
S. lu-y®-s-o-mai lu-yh-s-oÛ-mhn
lu-y®-s-e-sai > sú/-ei lu-y®-s-oi-so> soio
lu-y®-s-e-tai lu-y®-s-oi-to
P. lu-yh-s-ñ-meya lu-yh-s-oÛ-meya
lu-y®-s-e-sye lu-y®-s-oi-sye
lu-y®-s-o-ntai lu-y®-s-oi-nto
D. lu-y®-s-e-syon lu-yh-s-0Û-syhn
lu-y®-s-e-syon lu-yh-s-oÛ-syhn

Particípio: havendo de ser desligado, que será desligado


Tema Masc. Fem. Neutro
lu-yh-s-ñ-meno- lu-yh-s-ñ-menow lu-yh-s-o-m¡nh lu-yh-s-ñ-menon

Infinitivo: lu-y®-s-e-syai haver de ser desligado

Nota:
A vogal dos verbos denominativos de temas em a, e, o se alonga
no aoristo, futuro e perfeito ativos, médios e passivos:
tim‹-v - fut. tim®sv tim®somai timhy®somai
aor. ¤tÛmhsa ¤timhs‹mhn ¤tim®yhn
perf. tetÛmhka tetÛmhmai
fil¡-v - fut. fil®sv fil®somai filhy®somai
aor. ¤fÛlhsa ¤filhs‹mhn ¤fil®yhn
perf. pefÛlhka pefÛlhmai
dhlñ-v - fut. dhlÅsv dhlÅsomai dhlvy®somai
aor. ¤d®lvsa ¤dhlvs‹mhn ¤dhlÅyhn
perf. ded®lvka ded®lvmai

mur05.p65 488 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 489

Futuro passivo dos monossilábicos


Tema: ye-, do-, ¥-, sta-.

Indicativo
serei colocado serei dado serei lançado serei posto de pé
S. te-y®-somai do-y®-somai ¥-y®-somai sta-y®-somai
te-y®-sesai > sú/ei do-y®-sesai > ú/ei ¥-y®-sesai > ú/ei sta-y®-sesai > ú/ei
te-y®-setai do-y®-setai ¥-y®-setai sta-y®-setai

P. te-yh-sñmeya do-yh-sñmeya ¥-yh-sñmeya sta-yh-sñmeya


te-y®-sesye do-y®-sesye ¥-y®-sesye sta-y®-sesye
te-y®-sontai do-y®-sontai ¥-y®-sontai sta-y®-sontai

D. te-y®-sesyon do-y®-sesyon ¥-y®-sesyon sta-y®-sesyon


te-y®-sesyon do-y®-sesyon ¥-y®-sesyon sta-y®-sesyon

Optativo
poderia/pudesse haver de ser
colocado dado lançado posto de pé
S. te-yh-soÛmhn do-yh-soÛmhn ¥-yh-soÛmhn sta-yh-soÛmhn
te-y®-soiso do-y®-soiso ¥-y®-soiso sta-y®-soiso
> soio > soio > soio > soio
te-y®-soito do-y®-soito ¥-y®-soito sta-y®-soito

P. te-yh-soÛmeya do-yh-soÛmeya ¥-yh-soÛmeya sta-yh-soÛmeya


te-y®-soisye do-y®-soisye ¥-y®-soisye sta-y®-soisye
te-y®-sointo do-y®-sointo ¥-y®-sointo sta-y®-sointo

D. te-yh-soÛsyhn do-yh-soÛsyhn ¥-yh-soÛsyhn sta-yh-soÛsyhn


te-yh-soÛsyhn do-yh-soÛsyhn ¥-yh-soÛsyhn sta-yh-soÛsyhn

mur05.p65 489 22/01/01, 11:38


490 a flexão verbal

Particípio: havendo de, que haverá de ser


colocado dado lançado posto de pé
Tema te-yh-s-ñ-meno- do-yh-s-ñ-meno- ¥-yh-s-ñ-meno- sta-yh-s-ñ-meno-
Masc. teyhsñmenow doyhsñmenow ¥yhsñmenow stayhsñmenow
Fem. teyhsom¡nh doyhsom¡nh ¥yhsom¡nh stayhsom¡nh
Neut. teyhsñmenon doyhsñmenon ¥yhsñmenon stayhsñmenon

Infinitivo: haver de ser


colocado dado lançado posto de pé
te-y®-sesyai do-y®-sesyai ¥-y®-sesyai sta-y®-sesyai

Quadro de flexão do futuro passivo em -h-s-


Temas em líquida

Indicativo Optativo
serei enviado poderia/pudesse haver de ser enviado
S. stal-®-s-o-mai stal-h-soÛ-mhn
stal-®-s-e-sai > sú/-ei stal-®-s-oi-so > soio
stal-®-s-e-tai stal-®-s-oi-to
P. stal-h-s-ñ-meya stal-h-s-oÛ-meya
stal-®-s-e-sye stal-®-s-oi-sye
stal-®-s-o-ntai stal-®-s-oi-nto
D. stal-®-s-e-syon stal-h-s-oÛ-syhn
stal-®-s-esyon stal-h-s-oÛ-syhn

Particípio: havendo de ser enviado, que será enviado


Tema Masc. Fem. Neutro
stal-h-s-ñ-meno stalhsñmenow stalhsom¡nh stalhsñmenon

mur05.p65 490 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 491

Infinitivo: stal-®-s-e-syai haver de ser enviado

Notas:
1. Todos os verbos de tema em soante-líquida fazem o aoristo e futuro
passivos em -h-.
2. A maioria dos verbos que têm o aoristo passivo em -h- não têm um
outro em -yh-; alguns, contudo, ao lado de um aoristo em -h- desen-
volveram um aoristo em -yh-, como o tema plhg/plag, que tem o
duplo ¤-pl‹g-h-n / ¤-pl®x-yh-n.
3. Como se pode notar, o aoristo em -h-, não traz problemas fonéticos,
uma vez que a vogal forma sílaba com a consoante temática; outro tanto
não acontece com o aoristo em -yh-; o -y-, em contato com as diver-
sas consoantes oclusivas temáticas sofre e provoca um processo de as-
similação, quer progressiva quer regressiva. Esse processo já nos é fa-
miliar, uma vez que o enfrentamos na flexão nominal de temas em
consoante.
O quadro abaixo dá o modelo dessa assimilação entre consoantes oclu-
sivas (dentais, labiais, velares) e a característica do aoristo passivo - yh-.
Dentais diante de yh*
gumnad- > ¤-gumn‹s-yh-n
rmot- > ²rmñs-yh-n
peiy- > ¤-peÛs-yh-n
* Dental, seguida de dental, dissimila-se em -s-
Labiais diante de yh*
trib- > ¤-trÛf -yh-n
pemp- > ¤-p¡mf-yh-n
kruf- > ¤-kræf-yh-n
* Oclusiva sonora ou surda, seguida de aspirada, acomoda-se (contami-
na-se) e se torna aspirada.
Velares diante de yh*
prag- > ¤-pr‹x-yh-n
fulak- > ¤-ful‹x-yh-n
arx- > ³rx-yh-n
* Oclusiva sonora ou surda seguida de aspirada acomoda-se (contamina-
se) e se torna aspirada.

mur05.p65 491 22/01/01, 11:38


492 a flexão verbal

O perfeito
Preliminares
1. O perfeito é uma forma verbal antiga e exprime noção de ato verbal
completo, terminado, com idéia de resultado. É a expressão da ação que está
completa no presente. Por isso, ele é chamado algumas vezes de “perfeito
presente”.
Perfeito é aspecto (acabado) e não tempo.
Pode-se afirmar daí que o perfeito nos dá a idéia de intransitivida-
de, de estado.
Esse é o perfeito em sua forma mais antiga: fica entre a voz ativa e
a voz passiva.
Há inúmeras formas com esse significado:
oäda eu sei (por ter visto)
t¡ynhke ele morreu, está morto
p¡poiya eu tenho confiança (eu me convenci)
§sthka eu estou de pé (eu me pus de pé)
p¡fuka eu sou de nascença (naturalmente), eu nasci
g¡gona eu nasci, eu sou
di¡fyora eu estou perdido
Essa noção de estado, de ato acabado, é certamente a origem do
redobro 56; isto é, da repetição da consoante inicial do tema-raiz acompa-
nhada da vogal -e.
A idéia de estado, de resultativo, de permanência, de presente, nos
leva a crer que o perfeito intransitivo, médio, é anterior ao perfeito ativo.

56 O redobro (consoante repetida acompanhada de -i- ou de -e-) tem certamente um


valor semântico, psicológico, enfático: o do infectum, em -i- funciona como
alongador do tema verbal monossilábico, como yh > tÛyh-mi, dv > dÛdv-mi, sth
> sisth-mi > ásth-mi , gn > gÛgn-o-mai, às vezes, associado a um sufixo alongador
como -sk- p. ex.: gnv > gignv-sk-v. O redobro do perfectum em -e- tem um
caráter confirmativo, da martelada a mais que damos quando pregamos um prego.
Essa martelada “a mais”, às vezes duas, quer dizer: “está pregado”, acabou. É esse,
exatamente, o significado do redobro do perfeito.

mur05.p65 492 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 493

As formas do perfeito nos mostram isso: o perfeito médio, intran-


sitivo e depois passivo se forma basicamente sobre a raiz-tema + redobro +
desinências primárias médias.
lu- > l¡-lu-mai fui desligado, estou desligado
peiy- > p¡-peis-mai fui convencido, estou convencido
prag- > p¡-prag-mai fui feito, estou feito
trib- > t¡-trim-mai fui esmagado, estou esmagado
Como ficou dito no capítulo do aoristo, também no perfeito os
temas sofrem alterações fonéticas.
dia - fyr- > di-¡-fyor-a/di-¡-fyar-mai eu destruí/eu fui destruído
te-trib- > t¡-trif-a/t¡-trim-mai eu esmaguei/eu fui esmagado
Essas alterações fonéticas acontecem por ação da metafonia (alter-
nância vocálica). Muitas raízes-tema, sobretudo aquelas que formam o
aoristo sobre a raiz-tema, sofrem essa alternância (zero/e/o).
Em geral, no perfeito prevalece o vocalismo o, com algumas varian-
tes em a (que na verdade é um a epentético) nas raízes em líqüida; o
vocalismo do aoristo, em geral, é zero, e o vocalismo do presente (inaca-
bado, infectum) é e.
Há também algumas variantes de vocalismo e no aoristo e de voca-
lismo zero no infectum.
Nesses casos o vocalismo zero no infectum vem compensado pelo
redobro em -i.
Assim: pres. leÛp- aor. lip- perf. le-loip- deixar
Mas: pres. gi-gn - aor. gen- perf. ge-gon- vir a ser
Note-se que, no segundo caso, o vocalismo zero no infectum (de-
veria ser “e” e o do aoristo deveria ser zero) teve a compensação pelo re-
dobro em -i.
Ao lado do perfeito intransitivo, médio, havia também um perfeito
que se construía sobre a raiz-tema, no vocalismo do perfeito, com as de-
sinências secundárias ativas, sem auxílio de nenhuma característica.
Assim: ge-gon-n > g¡-gon-a
pe-prag-n > p¡praga
Do mesmo modo como aconteceu na formação do aoristo sigmá-
tico, em que a desinência consonântica -n se vocalizou, em contato com

mur05.p65 493 22/01/01, 11:38


494 a flexão verbal

a consoante do tema, formando a sílaba -sa, sobre o que se flexionou


todo o aoristo ativo e médio, assim também teria acontecido com esse
perfeito, que as gramáticas denominam “segundo”: esse -a, que é a voca-
lização do -n desinencial, formou sílaba com a consoante da raiz-tema e
serviu de base para a flexão.
Veremos o quadro de flexão mais adiante.
Esse perfeito em -a seria o perfeito mais antigo. Na origem tinha
um significado intransitivo.
Aliás, não é fácil associar a idéia de voz ativa com a idéia do resul-
tado, acabado, perfeito; contudo, em muitos casos, torna-se necessário
completar o ato verbal.
Como a transitividade ou intransitividade do verbo está no seu
conteúdo semântico e na relação do sujeito agente (ou paciente) com o
processo verbal e determina a voz ativa ou média, é natural, nos verbos
transitivos, ativos ou médios, o complemento ou termo do ato verbal
expresso pelo acusativo do objeto direto.
À maneira do aoristo com característica forte -s-, a língua grega
desenvolveu um perfeito ativo com característica forte -k- que, no indi-
cativo, recebe desinências secundárias.
Também aí, a presença do -n desinencial de 1 a pessoa, em contato
direto com o k-, forma a sílaba -ka, base para a flexão do indicativo.
Note-se, porém, que, nos outros modos, a flexão se faz só sobre a
característica k-, ao contrário do que acontece no aoristo sigmático (-sa-).
A explicação está, provavelmente, no fato de que o perfeito indi-
cativo ativo sugere uma idéia de tempo no ato verbal, justificando a pre-
sença de desinências secundárias e os outros modos do perfeito não.
Esse perfeito ativo em -k-, por ser uma marca forte, passa a ser o
perfeito paradigmático. Exatamente como aconteceu com o aoristo em s.
De qualquer modo, fora do indicativo perfeito, os outros modos
do perfeito não têm uma tradução fácil em português, porque associa-
mos sempre uma idéia de tempo à palavra “perfeito”, o que é absoluta-
mente fora de propósito.
Assim na voz ativa:
Perfeito indicativo = l¡-lu-ka - eu desliguei, eu completei o ato de desligar;
Perfeito subjuntivo = le-læ-kv - que eu tenha completado o ato de desligar;
Perfeito optativo = le-læ-k-oi-mi - que eu pudesse ter completado o ato de
desligar; ou eu poderia ter completado o ato de desligar;

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a flexão verbal 495

Perfeito imperativo = le-lu-kÅw, uÝa, ñw àsyi/¦stv - sê/seja numa


situação de ter completado o ato de desligar; le-lu-kñtew, uÝaw, ñta ¦ste/
¦stvn [¦stvsan] - sede/sejam numa situação de terdes completado o ato
de desligar;
Perfeito particípio = le-lu-kÅw, uÝa, ñw - que está em um estado de ter
completado o ato de desligar;
Perfeito infinitivo = le-lu-k¡nai - ter completado o ato de desligar 57.

Morfologia do perfeito
Constrói-se o perfeito:
1. Sobre o tema verbal puro (aoristo);
2. Com redobro em -e:58
a) nos temas iniciados por consoante, repete-se a consoante inicial,
seguida de -e;
b) nos temas iniciados por vogal, esse redobro é substituído por
um e- que se contrai com a vogal inicial do tema;
c) nos temas iniciados por duas consoantes, esse redobro é substi-
tuído por um e- só.
3. Na voz ativa: característica -kn > -ka/-a + desinências. secundárias
ativas;
4. Na voz média/passiva: desinências primárias médias/passivas, acrescen-
tadas diretamente ao tema.

57 Nos quadros de flexão do perfeito, todas as formas estarão com o correspondente


em português.
58 Quando se fala em “redobro”, fala-se da repetição da consoante inicial do tema ver-

bal seguida de -i- (infectum) ou seguida de -e- (perfectum): “redobro em -i-” e “re-
dobro em -e-”. O redobro em “-e-” pode ser substituído pela vogal simples “-e-”.

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496 a flexão verbal

Variedades de redobro

1. Tema em consoante inicial:


a) nos temas iniciados por oclusiva, repete-se a consoante inicial seguida
de -e:
ti- t¡-ti-k-a t¡-ti-mai eu honrei/eu fui (estou) honrado
peiy- p¡-pei-k-a p¡peismai eu persuadi/eu fui (estou) persuadido
kale- k¡-klh-k-a k¡-klh-mai eu chamei/eu fui (estou) chamado
b) se a oclusiva for aspirada, redobra-se a surda correspondente:
yu- t¡-yu-k-a t¡-yu-mai eu sacrifiquei/eu fui (estou) sacrificado
fu- p¡-fu-k-a eu nasci/sou de nascença
xri- k¡-xri-k-a k¡-xri-mai eu ungi/eu fui (estou) ungido
c) se o tema começa por oclusiva seguida de outra consoante, redobra-se
a primeira consoante, seguida de -e:
graf- g¡-graf-a g¡-gram-mai eu gravei/eu fui (estou) gravado
klei- k¡-klei-mai eu fui (estou) chamado
pt- p¡-ptv-ka eu caí, estou caído
yn- t¡-ynh-ka eu morri, estou morto
kta/kth- k¡-kth-mai eu adquiri/eu possuo
d) em alguns casos substitui-se o redobro pelo aumento 59:
fyr ¦-fyor-a eu destruí, eu corrompi
stel- ¦-stal-ka eu enviei
sx- ¦-sxh-ka eu segurei, eu estou numa situação
gnv- ¦-gnv-ka eu tomei conhecimento, eu sei
sper- ¦-spar-ka eu espalhei, eu semeei
e) se o tema começa por consoante dupla, também não há redobro, mas
aumento:
zhte- ¤-z®th-ka eu procurei
c‹l- ¦-cal-ka eu puxei (a corda), eu entoei

59 Esse -e- é chamado de “aumento” por força do hábito e reflete uma visão material
da palavra; de fato a forma verbal aumenta. É um substitutivo do redobro nos
verbos iniciados por vogal, sibilante e vibrante.

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a flexão verbal 497

f) se o tema começa por r, não há redobro, mas aumento e duplicação do r:


=ap- §-rrap-mai > ¦-rram-mai eu costurei, eu amarrei

2. Se o tema começa por vogal, o redobro é compensado pelo aumento


em e- mas, contrariamente ao aumento temporal (marca do passado)
que é usado só no indicativo, esse aumento, substituto de redobro, se
estende para todos os modos:
aÞte- ¾th-ka eu exigi ´th-mai eu fui (estou) exigido
Žg- ·x-a eu conduzi ·g-mai eu fui conduzido
Žrx- ·rx-a governei ·rg-mai eu fui(estou) governado

Nota: em alguns temas iniciados por vogal (a, e, o) seguida de consoante,


no ático, redobra-se essa vogal com a consoante que segue (redobro ático).
ör- numi eu surjo (levanto) ör-vr-a eu surgi (levantei)
Žkoæ-v eu ouço Žk-®ko-a eu ouvi
ŽleÛf-v eu unto Žl-®lif-a eu untei
¤geÛr-v eu acordo ¤gr-®gor-a eu acordei
öz-v odj- eu cheiro a öd-vd-a eu exalei um cheiro
ôræssv orugj- eu cavo ôr-Årux-a > eu cavei
ôr-Årug-mai
(ap)ñllumi olj- eu faço perecer, (ap)ol-lÅle-ka eu fiz perecer,
eu pereço (Žp-ñlvl-a) eu pereci, estou perdido

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498 a flexão verbal

Quadro de flexão do perfeito

VOZ ATIVA

Indicativo: eu acabei de, eu completei o ato de

desligar dar colocar pôr de pé lançar


desliguei dei coloquei pus de pé lancei
S. l¡-lu-ka d¡-dv-ka t¡-yh-ka §-sth-ka eå-ka
l¡-lu-ka-w d¡-dv-ka-w t¡-yh-ka-w §-sth-ka-w eå-ka-w
l¡-lu-ke d¡-dv-ke t¡-yh-ke §-sth-ke eå-ke

P. le-læ-ka-men de-dÅ-ka-men te-y®-ka-men ¥-st®-ka-men eá-ka-men


le-læ-ka-te de-dÅ-ka-te te-y®-ka-te ¥-st®-ka-te eá-ka-te
le-læ-ka-si de-dÅ-ka-si te-y®-ka-si ¥-st®-ka-si eá-ka-si

D. le-læ-ka-ton de-dÅ-ka-ton te-y®-ka-ton ¥-st®-ka-ton eá-ka-ton


le-læ-ka-ton de-dÅ-ka-ton te-y®-ka-ton ¥-st®-ka-ton eá-ka-ton

Subjuntivo: eu tenha completado o ato de, tenha acabado de

desligar dar colocar pôr de pé lançar


S. le-læ-kv* de-dÅ-kv te-y®-kv ¥-st®-kv eá-kv
le-læ-kúw de-dÅ-kúw te-y®-kúw ¥-st®-kúw eá-kúw
le-læ-kú de-dÅ-kú te-y®-kú ¥-st®-kú eá-kú

P. le-læ-kvmen de-dÅ-kvmen te-y®-kvmen ¥-st®-kvmen eá-kvmen


le-læ-khte de-dÅ-khte te-y®-khte ¥-st®-khte eá-khte
le-læ-kvsi de-dÅ-kvsi te-y®-kvsi ¥-st®-kvsi eá-kvsi

D. le-læ-kh-ton de-dÅ-kh-ton te-y®-kh-ton ¥-st®-kh-ton eá-kh-ton


le-læ-kh-ton de-dÅ-kh-ton te-y®-kh-ton ¥-st®-kh-ton eá-kh-ton

* O subjuntivo se constrói sobre o tema do perfeito (com redobro ou


equivalente) + característica do perfeito ativo -k- + característica do sub-
juntivo v, h, h, v, h, v, + desinências primárias: -v, -si, -ti. -men,
-te, -nti.

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a flexão verbal 499

Quadro demostrativo da flexão do perfeito do subjuntivo

S. le-læ-k-v > lelækv


le-læ-k-h-si > lelækhi/ú > lelækhiw/úw
le-læ-k-h-ti > lelækhsi > lelækhi/ú
P. le-læ-k-v-men > lelækvmen
le-læ-k-h-te > lelækhte
le-læ-k-vnti > lelækvnsi > lelækvsi
D. le-læ-kh-ton > lelækhton
le-læ-kh-ton > lelækhton

Optativo: eu poderia/ pudesse ter acabado o ato de

desligar dar colocar pôr de pé lançar


S. le-læ-k-oi-mi de-dÅ-k-oi-mi te-y®-k-oi-mi ¥-st®-k-oi-mi eá-k-oi-mi
le-læ-k-oi-w de-dÅ-k-oi-w te-y®-k-oi-w ¥-st®-k-oi-w eá-k-oi-w
le-læ-k-oi de-dÅ-k-oi te-y®-k-oi ¥-st®-k-oi eá-k-oi

P. le-læ-k-oi-men de-dÅ-k-oi-men te-y®-k-oi-men ¥-st®-k-oi-men eá-k-oi-men


le-læ-k-oi-te de-dÅ-k-oi-te te-y®-k-oi-te ¥-st®-k-oi-te eá-k-oi-te
le-læ-k-oi-e-n de-dÅ-k-oi-e-n te-y®-k-oi-e-n ¥-st®-k-oi-e-n eá-k-oi-e-n

D. le-læ-k-oi-ton de-dÅ-d-oi-ton te-y®-k-oi-ton ¥-st®-k-oi-ton eá-k-oi-ton


le-lu-k-oÛ-thn de-dv-k-oÛ-thn te-yh-k-oÛ-thn ¥-sth-k-oÛ-thn eß-k-oÛ-thn

Imperativo
Singular: sê tu/seja (esteja) ele numa situação (estado) de ter acabado o ato de
2a pessoa 3a pessoa
desligar le-lu-kÅw, le-lu-kuÝa, lelukñw àsyi ¦stv
dar de-dv-kÅw, de-dv-kuÝa, de-dv-kñw àsyi ¦stv
colocar te-yh-kÅw, te-yh-kuÝa, te-yh-kñw àsyi ¦stv
pôr de pé ¥-sth-kÅw, ¥-sth-kuÝa, ¥-sth-kñw àsyi ¦stv
lançar eß-kÅw, eß-kuÝa, eß-kñw àsyi ¦stv

mur05.p65 499 22/01/01, 11:38


500 a flexão verbal

Plural: sede vós / sejam (estejam) eles numa situação (estado) de ter acabado
o ato de desligar, dar, colocar, pôr de pé, lançar
2a pessoa 3a pessoa
desligar le-lu-kñtew, le-lu-kuÝai, le-lu-kñta ¦ste ¦atvn (¦stvsan)
dar de-dv-kñtew, de-dv-kuÝai, de-dv-kñta ¦ste ¦stvn (¦stvsan)
colocar te-yh-kñtew, te-yh-kuÝai, te-yh-kñta ¦ste ¦stvn (¦stvsan)
pôr de pé ¥-sth-kñtew, ¥-sth-kuÝai, ¥-sth-kñta ¦ste ¦stvn (¦stvsan)
lançar eß-kñtew, eß-kuÝai, eß-kñta ¦ste ¦stvn (¦stvsan)

Muitas gramáticas não registram o imperativo perfeito ativo. E têm


razão.
É muito difícil pensar em imperativo, que encerra uma idéia de
eventualidade, que pode ser uma ordem, mas, de conformidade com o
tom e o conteúdo do enunciado, pode ser uma exortação, uma permis-
são, um pedido perfectum, pois o fato comandado é posterior à emissão
da ordem ou conselho e é incompatível com a noção do acabado, resultati-
vo. É, pois, uma forma artificial.

Particípio: que está numa situação de ter acabado o ato de desligar, que des-
ligou, que completou o ato de desligar, dar, colocar, pôr de pé, lançar
Tema le-lu-kñt- de-dv-kñt- te-yh-kñt- ¥-sth-kñt- eß-kñt-
Masc. le-lu-kÅw de-dv-kÅw te-yh-kÅw ¥-sth-kÅw eß-kÅw
Fem. le-lu-kuÝa-aw de-dv-kuÝa-aw te-yh-kuÝa-aw ¥-sth-kuÝa-aw eß-kuÝa-aw
Neut. le-lu-kñw de-dv-kñw te-yh-kñw ¥-sth-kñw eß-kñw

Infinitivo: ter acabado o ato de


desligar dar colocar pôr de pé lançar
le-lu-k-¡-nai de-dv-k-¡-nai te-yh-k-¡-nai ¥-sth-k-¡-nai eß-k-¡-nai

mur05.p65 500 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 501

Mais-que-perfeito

VOZ ATIVA

Indicativo: eu desligara, eu tinha acabado o ato de

desligar dar colocar pôr de pé lançar


S. ¤-le-læ-kein* ¤-de-dÅ-kein ¤-te-y®-kein ¥-st®-kein eá-kein
¤-le-læ-keiw ¤-de-dÅ-keiw ¤-te-y®-keiw ¥-st®-keiw eá-keiw
¤-le-læ-kei ¤-de-dÅ-ke ¤te-y®-kei ¥-st®-kei eá-kei

P. ¤-le-læ-kei-men ¤-de-dÅ-kei-men ¤-te-y‘®-kei-men ¥-st®-kei-men eá-kei-men


¤-le-læ-kei-te ¤-de-dÅ-kei-te ¤-te-y®-kei-te ¥-st®-kei-te eá-kei-te
¤-le-lu-kei-san** ¤-de-dÅ-kei-san ¤-te-y®-kei-san ¥-st®-kei-san á-kei-san

D. ¤-le-læ-kei-ton ¤-de-dÅ-kei-ton ¤-te-y®-kei-ton ¥-st®-kei-ton eá-kei-ton


¤-le-lu-keÛ-thn ¤-de-dv-keÛ-thn ¤-te-yh-keÛ-thn ¥-sth-keÛ-thn eß-keÛ-thn

* As três pessoas do singular também se encontram flexionadas assim:


¤-le-læ-kh-n ¤-de-dÅ-kh-n ¤-te-y®-kh-n ¥-st®-kh-n eá-kh-n
¤-le-læ-khw ¤-de-dÅ-khw ¤-te-y®-khw ¥-st®-khw eá-khw
¤—le-læ-kh ¤-de-dÅ-kh ¤-te-y®-kh ¥-st®-kh eá-kh
** Esta forma também se encontra em outra variante:
¤-le-læ-ke-san ¤-de-dÅ-ke-san ¤-te-y®-ke-san ¥-st®-ke-san eá-ke-san

Nota:
O mais-que-perfeito é o passado do perfeito. Por isso, além do re-
dobro (ou os substitutos do redobro) do perfeito, ele tem o aumento e-
que é a marca do passado.
O mais-que-perfeito, que exprime um passado, só pode existir no
indicativo.

mur05.p65 501 22/01/01, 11:38


502 a flexão verbal

VOZ MÉDIA / PASSIVA

Indicativo

Voz média: eu acabo de desligar, de dar, de colocar, de pôr de pé, de lançar


para mim;
Voz passiva: eu acabo de ser, eu fui, eu estou desligado, dado, colocado, posto
de pé, lançado.

desligado dado colocado posto de pé lançado


S. l¡-lu-mai d¡-do-mai t¡-ye-mai §-sta-mai* eå-mai
l¡-lu-sai d¡-do-sai t¡-ye-sai §-sta-sai eå-sai
l¡-lu-tai d¡-do-tai t¡-ye-tai §-sta-tai eå-tai
P. le-læ-meya de-dñ-meya te-y¡-meya ¥-st‹-meya eá-meya
l¡-lu-sye d¡-do-sye t¡-ye-sye §-sta-sye eå-sye
l¡-lu-ntai d¡-do-ntai t¡-ye-ntai §-sta-ntai eå-ntai
D. l¡-lu-syon d¡-do-syon t¡-ye-syon §-sta-syon eå-syon
l¡-lu-syon d¡-do-syon t¡-ye-syon §- sta-syon eå-syon
* As formas do perfeito médio ou passivo desse verbo são teoricamente
possíveis, mas, por razões semânticas, não são usadas.
Nos outros modos deixaremos de registrá-las.

mur05.p65 502 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 503

Subjuntivo

Voz média Voz passiva


S. le-lu-m¡now, h Î tenha acabado tenha sido/esteja desligado*
de desligar para mim
le-lu-m¡now, h Âw tenhas acabado tenhas sido/estejas desligado
de desligar para ti
le-lu-m¡now, h  tenha acabado de tenha sido/esteja desligado*
desligar para si

P. le-lu-m¡noi, ai Îmen tenhamos desligado tenhamos sido/estejamos


para nós desligados
le-lu-m¡noi, ai ·te tenhais desligado tenhais sido/estejais
para vós desligados
le-lu-m¡noi, ai Îsi tenham desligado para si tenham sido/estejam
desligados

D. le-lu-m¡nv, a, v ·ton tenhais os dois (os dois) tenhais sido/


desligado para vós estejais desligados
le-lu-m¡nv, a, v ·ton tenham os dois (os dois) tenham sido/
desligado para si estejam desligados

Voz média Voz passiva


S. de-do-m¡now, h Î tenha dado para mim tenha sido/esteja dado
de-do-m¡now, h Âw tenhas dado para ti tenhas sido/estejas dado
de-do-m¡now, h  tenha dado para si tenha sido/esteja dado

P. de-do-m¡noi, ai Îmen tenhamos dado para nós tenhamos sido/estejamos dados


de-do-m¡noi, ai ·te tenhais dado para vós tenhais sido/estejais dados
de-do-m¡noi, ai Îsi tenham dado para si tenham sido/estejam dados

D. de-do-m¡nv, a, v ·ton tenhais os dois dado (os dois) tenhais sido/


para vós estejais dados
de-do-m¡nv, a, v ·ton tenham os dois (os dois) tenham/
dado para si estejam sido dados

mur05.p65 503 22/01/01, 11:38


504 a flexão verbal

Voz média Voz passiva


S. te-ye-m¡now, h Î tenha colocado para mim tenha sido/esteja colocado
te-ye-m¡now, h Âw tenhas colocado para ti tenhas sido/estejas colocado
te-ye-m¡now, h  tenha colocado para si tenha sido/esteja colocado

P. te-ye-m¡noi, ai Îmen tenhamos colocado tenhamos sido/


para nós estejamos colocados
te-ye-m¡noi, ai ·te tenhais colocado para vós tenhais sido/
estejais desligados
te-ye-m¡noi, ai Îsi tenham colocado para si tenham sido/
estejam colocados

D. te-ye-m¡nv, a, v ·ton tenhais os dois colocado (os dois) tenhais sido/


para vós estejais colocados
te-ye-m¡nv, a, v ·ton tenham os dois colocado (os dois) tenham sido/
para si estejam colocados

Voz média Voz passiva


S. eß-m¡now, h Î tenha lançado para mim tenha sido/esteja lançado
eß-m¡now, h Âw tenhas lançado para ti tenhas sido/estejas lançado
eß-m¡now, h  tenha lançado para si tenha sido/esteja lançado

P. eß-m¡noi, ai Îmen tenhamos lançado tenhamos sido/


para nós estejamos lançados
eß-m¡noi, ai ·te tenhais lançado para vós tenhais sido/estejais lançados
eß-m¡noi, ai Îsi tenham lançado para si tenham sido/estejam lançados

D. eß-m¡nv, a, v ·ton tenhais os dois lançado (os dois) tenhais sido/


para vós estejais lançados
eß-m¡nv, a, v ·ton tenham os dois lançado (os dois) tenham sido/
para si estejam lançados

* Foi a partir das formas do perfeito que a língua grega começou a cons-
truir formas analíticas: o imperativo perfeito ativo, visto acima, o sub-
juntivo perfeito médio ou passivo, no quadro acima, e o optativo per-
feito passivo, a seguir.

mur05.p65 504 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 505

Optativo

Voz média Voz passiva


S. le-lu-m¡now eàhn pudesse, poderia ter aca- pudesse, poderia ter sido/
bado de desligar para mim estar desligado
le-lu-m¡now eàhw pudesses, poderias ter pudesses, poderias ter sido/
acabado de desligar para ti estar desligado
le-lu-m¡now eàh pudesse, poderia ter pudesse, poderia ter sido
acabado de desligar para si /estar desligado

P. le-lu-m¡noi,ai,a eämen pudéssemos, poderíamos ter pudéssemos, poderíamos ter


acabado de desligar para nós sido/estar desligados
le-lu-m¡noi,ai,a eäte, pudésseis, poderíeis ter aca- pudésseis, poderíeis ter sido/
bado de desligar para vós estar desligados
le-lu-m¡noi,ai,a eäen pudessem, poderiam ter pudessem, poderiam ter sido/
acabado de desligar para si estar desligados

D. le-lu-m¡nv,a,v eàthn / pudésseis, poderíeis ter aca- pudésseis, poderíeis ter sido/
eÞ®thn bado de desligar para vós estar desligados
le-lu-m¡nv,a,v eàthn / pudessem, poderiam ter pudessem, poderiam ter sido/
eÞ®thn acabado de desligar para vós estar desligados

S. de-do-m¡now,h,on eàhn pudesse, poderia ter acabado pudesse, poderia ter sido/
de dar para mim estar dado
de-do-m¡now,h,on eàhw pudesses, poderias ter aca- pudesses, poderias ter sido/
bado de dar para ti estar dado
de-do-m¡now,h,on eàh pudesse, poderia ter aca- pudesse, poderia ter sido/
bado de dar para si estar dado

P. de-do-m¡noi,ai,a eämen pudéssemos, poderíamos ter pudéssemos, poderíamos ter


acabado de dar para nós sido/estar dados
de-do-m¡noi,ai,a eäte pudésseis, poderíeis ter aca- pudésseis, poderíeis ter sido/
bado de dar para vós estar dados
de-do-m¡noi,ai,a eäen pudessem, poderiam ter aca- pudessem, poderiam ter sido/
bado de dar para si estar dados

D. de-do-m¡nv, a, v eàthn / pudésseis, poderíeis ter aca- pudésseis, poderíeis ter sido/
eÞ®thn bado de dar para vós estar dados
de-do-m¡nv, a, v eàthn / pudessem, poderiam ter aca- pudessem, poderiam ter sido/
eÞ®thn bado de dar para si estar dados

mur05.p65 505 22/01/01, 11:38


506 a flexão verbal

Voz média Voz passiva


S. te-ye-m¡now, h,on eàhn pudesse, poderia ter aca- pudesse, poderia ter sido/
bado de colocar para mim estar colocado
te-ye-m¡now, h,on eàhw pudesses, poderias ter aca- pudesses, poderias ter sido/
bado de colocar para ti estar colocado
te-ye-m¡now, h,on eàh pudesse, poderia ter aca- pudesse, poderia ter sido/
bado de colocar para si estar colocado

P. te-ye-m¡noi ai,a eämen pudéssemos poderíamos ter pudéssemos, poderíamos ter


acabado de colocar para nós sido/estar colocados
te-ye-m¡noi, ai,a eäte pudésseis, poderíeis ter aca- pudésseis, poderíeis ter sido/
bado de colocar para vós estar colocados
te-ye-m¡noi, ai,a eäen pudessem, poderiam ter pudessem, poderiam ter sido/
acabado de colocar para si estar colocados

D. te-ye- m¡nv, a, v eàthn/ pudésseis, poderíeis ter aca- pudésseis, poderíeis ter sido/
eÞ®thn bado de colocar para vós estar colocados
te-ye- m¡nv, a, v eàthn/ pudessem, poderiam ter aca- pudessem, poderiam ter sido/
eÞ®thn bado de colocar para si estar colocados

S. eß-m¡now,h,on eàhn pudesse, poderia ter aca- pudesse, poderia ter sido/
bado de lançar para mim estar lançado
eß-m¡now,h,on eàhw pudesses, poderias ter aca- pudesses, poderias ter sido/
bado de lançar para ti estar lançado
eß-m¡now,h,on eàh pudesse, poderia ter aca- pudesse, poderia ter sido/
bado de lançar para si estar lançado

P. eß-m¡noi, ai,a eämen pudéssemos, poderíamos ter pudéssemos, poderíamos ter


acabado de lançar para nós sido/estar lançados
eß-m¡now,h,on eäte pudésseis, poderíeis ter aca- pudésseis, poderíeis ter sido/
bado de lançar para vós estar lançados
eß-m¡now,h,on eäen pudessem, poderiam ter pudessem, poderiam ter sido/
acabado de lançar para si estar lançados

D. eß-m¡nv, a, v eàthn / pudésseis, poderíeis ter aca- pudésseis, poderíeis ter sido/
eÞ®thn bado de lançar para vós estar lançados
eß-m¡nv, a, v eàthn / pudessem, poderiam ter pudessem, poderiam ter sido/
eÞ®thn acabado de lançar para si estar lançados

mur05.p65 506 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 507

Imperativo

Voz média: Singular sê tu / seja ele


Plural sede vós/sejam eles numa situação de ter acabado
de desligar, dar, colocar, lançar para ti/ele/vós/eles
Voz passiva: Singular sê tu / seja ele
Plural sede vós/sejam eles numa situação de estar desligado,
dado, colocado, lançado; estejas/esteja, fica/fique
desligado, dado, colocado, lançado

desligar dar colocar lançar


S. 1a
2a l¡-lu-so d¡-do-so t¡-ye-so eå-so
3a le-læ-syv de-dñ-syv te-y¡-syv eå-syv
P. 1a
2a l¡-lu-sye d¡-do-sye t¡-ye-sye eå-sye
3a le-læ-syvn de-dñ-syvn te-y¡-syvn eá-syvn
D. C. l¡-lu-syon d¡-do-syon t¡-ye-syon eå-syon
S. le-læ-syvn de-dñ-syvn te-y¡-syvn eá-syvn

Particípio*
Voz média: que completou o ato de desligar, dar, colocar, lançar para si
Voz passiva: que foi desligado, está desligado, dado, colocado, lançado
le-lu-m¡now,h,on de-do-m¡now,h,on te-ye-m¡now,h,on eß-m¡now,h,on
* O particípio perfeito médio/passivo é paroxítono; (tem a penúltima sílaba
tônica: -m¡now, h, on, diferentemente dos outros particípios em -menow,
h, on (infectum médio/passivo e aoristo e futuro médios), que têm a
penúltima átona. Essa tonicidade mais forte tem algo a ver com o sig-
nificado do particípio perfeito, acabado, resultativo, de estado presente
resultante.

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508 a flexão verbal

Infinitivo
Voz média: ter completado o ato de desligar, dar, colocar, lançar para si
Voz passiva: ter sido desligado, estar desligado, dado, colocado, lançado
le-læ-syai de-dñ-syai te-y¡-syai eå-syai*
* Também no infinitivo perfeito médio e passivo a tonicidade na penúlti-
ma (poderia ser na antepenúltima) tem a ver com o significado de esta-
do final, resultativo.

Mais-que-perfeito

Indicativo
Voz média: eu tinha completado o ato de desligar, dar, colocar, lançar para
mim
Voz passiva: eu tinha sido desligado, eu estava desligado, dado, colocado,
lançado

S. ¤-le-læ-mhn ¤-de-dñ-mhn ¤-te-y¡-mhn eá-mhn


¤-l¡-lu-so ¤-d¡-do-so ¤-t¡-ye-so eå-so
¤-l¡-lu-to ¤-d¡-do-to ¤-t¡-ye-to eå-yo
P. ¤-le-læ-meya ¤-de-dñ-meya ¤-te-y¡-meya eá-meya
¤-l¡-lu-sye ¤-d¡-do-sye ¤-t¡-ye-sye eå-sye
¤-l¡-lu-nto ¤-d¡-do-nto ¤-t¡-ye-nto eå-nto
D. ¤-l¡-lu-syon ¤-d¡-do-syon ¤-t¡-ye-syon eå-syon
¤-le-læ-syhn ¤-de-dñ-syhn ¤-te-y¡-syhn eá-syhn

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a flexão verbal 509

Particularidades fonéticas do sistema do perfeito

VOZ ATIVA:

1. Os verbos denominativos de tema em vogal (a-e-o) alongam essa vo-


gal no perfeito e mais-que-perfeito:
Presente do Infectum Perfeito Mais-que-perfeito
tim‹-v eu honro te-tÛmh-ka ¤-te-tim®- kein
poi¡-v eu faço pe-poÛh-ka ¤-pe-poi®-kein
dhlñ-v eu revelo de-d®lv-ka ¤-de-dhlÅ-kein
2. Os verbos de tema em dental (t-d-y) perdem essa dental antes do -k.
peÛy-v eu persuado p¡-pei-ka ¤-pe-peÛ-kein
ceæd-v eu engano p¡-ceu-ka ¤-pe-ceæ-kein

Podemos incluir nesse grupo alguns verbos que formam o infec-


tum, inacabado, com sufixos -tv e -yv.
Estes verbos, em geral, têm uma variante sem o t ou o y, de modo
que, no perfeito e aoristo, nos verbos em -tv/yv, essa dental cai antes
do -s e do -k; e, nos verbos da variante sem essas dentais, o aoristo e
perfeito se fazem naturalmente.
Infectum Aoristo Perfeito Mais-que-perfeito
næv / nutv* eu termino ´nu-sa ´nu-ka ²næ-kein
Žræv / Žrætv eu esgoto ³ru-sa ³ru-ka ±ræ-kein
pl®yv (pÛm-plh-mi) eu encho ¦-plh-sa p¡-plh-ka ¤-pepl®-kein
pr®yv (pÛm-prh-mi) eu incho ¦-prh-sa p¡-prh-ka ¤-pepr®-kein
* Há uma variante não ática de vogal não aspirada.

Notas:
1. Nem sempre os verbos que no infectum, inacabado, têm o tema em -
ttv/-ssv e zv (-izv -azv-ozv) são verbos de tema em dental.
Na realidade são temas de inacabado formados com o sufixo -j-,
sobre temas em velares ou dentais, e o perfeito se constrói sobre o
tema verbal puro, isto é, sobre o tema do aoristo.

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510 a flexão verbal

Tema Perfeito
play- play-j-v > pl‹ssv (tt) eu fabrico, moldo p¡-play-a p¡-plaka
prag- prag-j-v > pr‹ssv eu faço p¡-prag-a p¡-praxa
frik- frik- j-v > frÛssv (tt) estremeço, arrepio p¡-frik-a
ôrux ôrux- j-v > ôræssv (tt) eu cavo, escavo Êrux-a

2. Também os temas em -pt- no infectum, inacabado, nem sempre são


em dental: são, de fato, temas verbais puros, em labial (tema do aoristo):
klep-j-v > kl¡pt-v eu roubo k¡-klop-a
blab-j-v > bl‹pt-v eu prejudico b¡blaf-a/b¡-blhf-a
kruf-j-v > kræpt-v eu escondo k¡-kruf-a
kuf-j-v > kæpt-v eu me abaixo k¡-kuf-a
kñp-j-v > kñpt-v eu bato k¡-kof-a
Como vimos acima, alguns desses verbos de tema em labial e vogal
temática e fazem alternância em o no perfeito ativo.
3. Os temas em líquida/soante não levam o sufixo do infectum, inacabado
para o perfeito, porque o perfeito se constrói sobre o tema verbal puro,
isto é, o tema do aoristo e o constroem quer em -k- quer em -a:
T. fan fan-jv > faÛn-v eu mostro, revelo p¡-fag-k-a
T. fan fan-jomai faÛnomai eu surjo, apareço p¡-fhn-a
T. man/mhn man-jomai > maÛn-o-mai eu estou furioso m¡-mhn-a
T. kten/kton kten-jv > Žpo-kteÛn-v eu mato Žp-¡kton-a
Também nos temas em nasal a alternância vocálica não é rara.
4. Alguns verbos de tema em vogal sofrem no infectum, inacabado, um
alargamento por intermédio da nasal -n-/ne, que permanece só no in-
fectum, inacabado.
O aoristo e o perfeito constroem-se sobre o tema puro.
T. du- dæ-n-v eu mergulho ¦-du-sa d¡-du-ka
T. ti- tÛ-n-v eu pago ¦-ti-sa t¡-ti-ka
T. fya- fy‹-n-v eu antecipo ¦-fya-sa ¦-fya-ka
T. ßk- ßk-ne-omai eu venho ßk-ñ-mhn åg-mai
T. ku- ku-n¡-v eu beijo ¦-ku-sa k¡-ku-ka
T. ¤la- ¤la-æn-v eu empurro ³-la-sa ¤-l®-la-ka
Os temas em -n: faÛnv - m¡nv - n¡mv serão tratados junto com
os outros temas em líquida: fyeÛrv - st¡llv.

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a flexão verbal 511

5. Os verbos de tema em oclusiva labial ou velar (p-b-/k-g-), surdas ou


sonoras, aspiram a oclusiva e absorvem o -k.
Os temas em oclusiva labial ou velar aspirada absorvem o -k e
mantêm a aspiração.
Em alguns desses verbos de tema em labial nota-se a alternância
da vogal do tema: e/o presente/perfeito ativo.
Presente Perfeito mais-que-perfeito
trÛb-v eu trituro ¡-trif-a ¤-te-trÛf-ein
p¡mp-v eu envio p¡-pomf-a ¤-pe-pñmf-ein
diÅk-v eu persigo de-dÛvx-a ¤-de-diÅx-ein
g-v eu conduzo ·x-a ³x-ein
gr‹f-v eu escrevo g¡-graf-a ¤-ge-gr‹f-ein
ôrætt-v (x-jv) eu cavo Êrux-a Èræx-ein
tr¡p-v eu viro t¡-trof-a ¤-tetrñf-ein
6. Os verbos de tema em líqüida constroem o perfeito sobre o tema do
aoristo, naturalmente:
aggel- anuncio ³ggel-ka ³ggel-mai
fan - revelo, apareço p¡-fag-ka p¡-fas-mai*
kri(n-) - julgo k¡-kri-ka k¡-kri-mai
ar-(ar-j-v) pego, ergo ·r-ka ·r-mai
* Alguns temas mantêm a nasal no perfeito; nesses casos há uma dissi-
milação n > s antes de -m.
eu me manifestei, apareço
p¡-fan-mai > p¡-fas-mai pe-f‹n-meya > pe-f‹s-meya
p¡-fan-sai p¡-fas-ye
p¡-fan-tai p¡-fan-tai > pef‹natai ou
pe-fan-m¡noi eÞsÛ > pe-fas-m¡noi eÞsÛn
7. Nos verbos de raízes com oclusiva+líqüida, desenvolve-se um -a- epen-
tético antes da líqüida:
fyr ¦-fyar-ka eu destruí ¦-fyar-mai eu fui (estou) destruído, corrompido
stl ¦-stal-ka eu enviei ¦-stal-mai eu fui (estou) enviado
tn t¡-tn-ka > eu estiquei t¡-tn-mai > eu fui (estou) esticado (tenso)
t¡-ta-ka* t¡-ta-mai*
* O que houve, neste caso, foi a vocalização do -n depois da consoante.

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512 a flexão verbal

O mesmo acontece na formação do aoristo passivo, que eles fazem


em -h-.
fyr ¤fy‹r-hn eu fui destruído
stl ¤st‹l-hn eu fui enviado
tn ¤t‹n-hn eu fui esticado, tendido
8. Em outros temas em líquida (m-, n-, l-), uma vogal de ligação -h-
facilita a flexão.
nem- ne-n¡m-h-ka eu distribuí
ne-n¡m-h-mai eu fui, estou distribuído
men- me-m¡n-h-ka eu permaneci, eu fiquei
yn- t¡-yn-h-ka eu morri, estou morto
bl/bal b¡-bl-h-ka eu atirei
b¡-bl-h-mai eu fui (estou) atirado
9. Os verbos (apo-) yn¹skv (eu morro) e ásthmi (eu estou, me ponho
de pé), além das formas normais em -kn > ka, têm outras mais anti-
gas, reduzidas, sem essa característica, mas que são bastante usadas.

São as seguintes:
Žpo-yn¹skv

Indicativo: te-yn-®-ka-men t¡-yn-a-men nós morremos, estamos mortos


te-yn-®-ka-si te-yn--si/ eles morreram, estão mortos
teyn‹konti
Imperativo: não usada t¡-yn-a-yi sê (estejas) morto
id. teyn-‹-tv
Optativo: id. te-yn-a-Ûh-n estaria, estivesse morto
id. te-yn-a-Ûh-w estarias, estivesses morto
Infinitivo: te-yn-h-k¡-nai te-yn-‹-nai estar morto
Particípio: te-yn-h-kÅw-kñtow te-yn-e-Åw, ñtow que está morto, morto
te-yn-h-kuÝa-aw te-yn-e-Çsa, Åshw
te-yn-h-kñw te-yn-e-ñw, ñtow

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a flexão verbal 513

á-sth-mi - eu estou de pé

Indicativo: ¥-st®-ka-men §-sta-men pusemo-nos, estamos de pé


¥-st®-ka-te §-sta-te puseste-vos, estais de pé
¥-st®-ka-si ¥-st-si/§-sta-n puseram-se, estão de pé
Imperativo: não usada §-sta-yi de pé, fica de pé
id. ¥-st‹tv de pé, fique de pé
id. §-sta-te de pé, ficai de pé
Subjuntivo: ¥-st®-k-v-men ¥-stÇ-men fiquemos, estejamos de pé
¥-st®-k-v-si ¥-stÇ-si fiquem, estejam de pé
Optativo: ¥-st®-k-oi-mi ¥-sta-Ûh-n eu ficaria, pudesse ficar de pé
Infinitivo: ¥-sth-k-¡-nai ¥-st‹-nai ter ficado, estar de pé
Particípio: ¥-sth-k-Åw,kñtow ¥-stÅw,ñtow de pé, que ficou, está de pé
¥-sth-k-uÝa,aw ¥-stÇsa,shw
¥-sth-k-ñw,ñtow ¥-stñw,ñtow (¥-stÇw)
+ que Perf.: eß-st®-k-eisan §-sta-san eles tinham ficado, estavam de pé

Perfeitos de flexão especial com alternância e/o

1. T id- > oäda: eu vi > eu sei

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


eu vi/eu sei eu saiba eu soubesse, saberia sabe /sabei
S. o-äd-a e-Þd-Ç e-Þde-Ûh-n
o-äd-ya > o-äs-ya e-Þd-»-w e-Þd-e-Ûh-w àd-yi > às-yi
o-äd-e e-Þd-» e-Þd-e-Ûh àd-tv > às-tv

P. àd-men > às-men e-Þd-Ç-men e-Þd-e-Ý-men


àd-te > às-te e-Þd-°-te e-Þd-e-Ý-te àd-te > às-te
àd-nti > àdati > àd-asi e-Þd-Ç-si e-Þd-e-Ý-en àd-tvn > às-tvn

D. àd-ton > àston e-Þd-°-ton e-Þd-e-Ý-thn às-ton


àd-ton > àston e-Þd-°-ton e-Þd-e-Ý-thn às-tvn

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514 a flexão verbal

Particípio: sabendo, sabedor


Tema Masc. Fem. Neutro
eÞdñt- e-Þd-Åw, e-Þdñt-ow e-Þd-uÝa, aw e-Þd-ñw, e-Þdñt-ow

Infinitivo: e-Þd-¡-nai saber

Adjetivo verbal:
que se pode saber (sabível): Þd-tñw > Þs-tñw, ®, ñn
que se deve saber (ser sabido): Þd-t¡ow > Þs-t¡ow, a, on

Notas:
1. O vocalismo o só aparece no indicativo singular; no plural é o vocalismo
zero.
2. A segunda pessoa do indicativo singular, -ya, é uma antiga desinên-
cia, -sya/ya, que aparece em algumas formas antigas, como ·sya,
eras e ¦fhsya, dizias. A 2 a pessoa do singular tem a marca -s-.
3. Alguns gramáticos costumam derivar, do tema do perfeito, um futuro
eàsomai ( < e-id-s-o-mai ) e também formas de um “subjuntivo com
vogal breve”: eàdomen (A 363), eàdete (Y 18).
Cremos que são formas derivadas do tema do aoristo, refeitas com
vocalismo e e com o s do futuro para eàsomai.
Quanto às formas eàdomen, eàdete, na voz ativa, são mais difíceis
de explicar do que pÛomai, eu beberei (vou beber), que os dicionários
registram também como “subjuntivo com vogal breve”.
Na medida em que o futuro é um eventual como o subjuntivo, às
vezes não é fácil encontrar o limite entre um e outro. Para o grego,
praticamente não havia diferença, porque o futuro é um modo (desi-
derativo > eventual).
Em português, desde cedo, aprendemos que o futuro é um tempo.
Não é. Veja outras explicações no capítulo do futuro.
4. O subjuntivo e o optativo se constroem sobre um tema eÞdh (futuro
eÞd®sv).

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a flexão verbal 515

Subjuntivo
S. eÞd®-v > eÞd¡v > eÞdÇ
eÞd®-h-si > eÞd¡hsi > eÞd°si > eÞd°i > eÞd°iw/eÞd»w
eÞd®-h-ti > eÞd¡hti > eÞd°ti > eÞd°si > eÞd°i/eÞd»
P. eÞd®-v-men > eÞd¡vmen > eÞdÇmen
eÞd®-h-te > eÞd¡hte > eÞd°te
eÞd®-v-nti > eÞd¡vnti > eÞdÇnti > eÞdÇnsi > eÞdÇsi
D. eÞd®-h-ton > eÞd¡hton > eÞd°ton
eÞd®-h-ton > eÞd¡hton > eÞd°ton

Optativo
S. eÞdh-Ûh-n > eÞdeÛhn
eÞdh-Ûh-si > eÞdeÛhsi > eÞdeÛhw > eÞdeÛhw
eÞdh-Ûh-ti > eÞdeÛhti > eÞdeÛsi > eÞdeÛ°i > eÞdeÛ°
P. eÞdh-Ûh-men > eÞdeÛhmen > eÞdeÛhmen
eÞdh-Ûh-te > eÞdeÛhte > eÞdeÛhte
eÞdh-Ûh-san> eÞdeÛhsan > eÞdeÛhsan
D. eÞdh-ih-ton > eÞdeÛhton > eÞdeÛhton
eÞdh-Ûh-ton > eÞdeÛhton > eÞdeÛhton
No optativo, houve apenas a abreviação da vogal temática longa -
h- diante do -i- longo da característica do optativo.

Mais-que-perfeito: eu tinha visto > eu sabia


S. ¤-eid-ein > ¾d-ei-n / ¾d-h
¾d-ei-s-ya / ¾d-h-s-ya / ¾d-hw
Âd-ei / ¾d-h
P. ¾d-ei-men / Âs-men
¾d-ei-te / Âs-te
¾d-e(i)-san / Â-san
D. Âs-thn
Âs-thn

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516 a flexão verbal

Nota:
As formas do mais-que-perfeito são bastante normais:
o tema é eid-, e com o aumento: e-eid > úd-/hid-.
As desinências são normais, sem o -k- (-kein/-khn // -ein/-hn)
e -san na terceira pessoa do plural.
Na segunda pessoa do singular, à semelhança do perfeito, a desi-
nência é -s-ya.

2. eàkv - ¦oika - ¤Ðkein

Indicativo perfeito Mais-que-perfeito


eu pareço, tenho a imagem de eu parecia, eu tinha a imagem de
S. ¦-oik-a ¤-Ðk-ein / ¤-Ðk-h > ático ¾-kein
¦-oik-aw ¤-Ðk-eiw / ¤-Ðk-úw > ¾-keiw
¦-oik-e ¤-Ðk-ei / ¤-Ðk-ú > ¾-kei

P. ¤-oÛk-amen ¤-Ðk-eimen / ¤-Ðk-hmen > ¾k-eimen


¤-oÛk-ate ¤-Ðk-eite / ¤-Ðk-hte > ¾k-eite
¤-oÛk-asi / eàkasi ¤-Ðk-eisan / ¤-Ðk-hsan > ¾k-eisan

D. ¤-oÛk-aton ¤-Äk-eÛthn ¼k-eÛthn


¤-oÛk-aton ¤-Äk-eÛthn ¼k-eÛthn

Particípio: que parece

Tema
Masculino ¤oikñt-/eÞkñt- ¤-oik-Åw/eÞkÅw-kñtow
Feminino ¤oikuÝa-/eÞkuÝa- ¤-oik-uÝa, aw/eÞkuÝa
Neutro ¤oikñt-/eÞkñt- ¤-oik-ñw/eÞkñw-kñtow

Infinitivo: ¤-oik-¡-nai /¤-ik-¡nai parecer

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a flexão verbal 517

Voz média / passiva

A construção da voz média (e passiva) não apresenta grandes difi-


culdades.
Basta acrescentar ao tema verbal (tema do aoristo) o redobro da
primeira consoante ou seu equivalente, no caso dos temas iniciados por
vogal ou duas consoantes, juntar as desinências primárias médias, sem
vogal de ligação, e respeitar as normas fonéticas.
prag- > p¡-prag-mai eu fui (estou) feito
lu- > l¡-lu-mai eu fui (estou) desligado
trib- > t¡-trib-mai > t¡-trim-mai eu fui (estou) esmagado
peiy- > p¡-peiy-mai > p¡-peis-mai eu fui (estou) convencido
do- > d¡-do-mai eu fui (estou) dado
ye- > ‘t¡-ye-mai eu fui (estou) colocado, posto
¥- > ¥-e-mai > eå-mai eu fui (estou) lançado

Como se vê, em alguns casos, a ausência da vogal de ligação põe


em contacto as consoantes do tema com as consoantes das desinências,
de pontos de articulação diferentes.
A língua resolve esses casos pelo processo de assimilação.

Tema em labial
trib- eu fui esmagado, estou esmagado

S. t¡-trib-mai > t¡-trim-mai1


t¡-trib-sai > t¡-tric-ai2
t¡-trib-tai > t¡-trip-tai3
P. te-trÛb-meya > te-trÛm-meya
te-trib-sye > t¡-trib-ye > t¡-trif-ye4
te-trib-m¡noi eÞsÛn te-trim-m¡noi eÞsÛn
tetrib-n-tai > te-trÛba-tai5
D. t¡-trib-syon > t¡-trib-yon > t¡-trif-yon
t¡-trib-syon > t¡-trib-yon > t¡-trif-yon

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518 a flexão verbal

1. Oclusiva labial, antes de m assimila-se: bm > mm.


2. Oclusiva labial mais s > c: bs, ps, fs > c.
3. Oclusiva sonora, antes de oclusiva surda assimila-se bt > pt.
4. s, entre consoantes oclusivas, sofre síncope: bsy > by; oclusiva surda
ou sonora, antes de oclusiva aspirada, assimila-se: by > fy.
5. A forma mais comum é a analítica: particípio e verbo ser. Mas a va-
riante sintética, resultante da vocalização do -n- entre consoantes:
tetrib-n-tai > tetrÛbatai encontra-se com freqüência em Heró-
doto, Hipócrates (dialeto jônico) e nos líricos.

Tema em dental
peiy- eu fui persuadido, estou persuadido

S. p¡-peiy-mai > p¡-peis-mai1


p¡-peiy-sai > p¡-peis-sai > p¡-pei-sai2
p¡-peiy-tai > p¡-peis-tai3
P. pe-peÛy-meya > pe-peÛs-meya
p¡-peiy-sye > p¡-peiy-ye > p¡-peis-ye4
p¡-peiy-ntai >
pe-peiy-m¡noi eÞsÛn pe-peÛy-atai/pepeÛsatai5
pe-peis-m¡noi eÞsÛn
D. p¡-peiy-syon > p¡-peiy-yon > p¡-peis-yon
p¡-peiy-syon>p¡-peiy-yon > p¡-peis-yon

1. Oclusiva dental, antes de m, suaviza-se: ym > sm;


2. Oclusiva dental, antes de s, assimila-se: ys, ds, ts > ss, depois ss > s;
3. Oclusiva dental, antes de outra dental, suaviza-se: yt > st;
4. s, entre consoantes oclusivas, sofre síncope: ysy > yy; oclusiva dental,
antes de outra oclusiva dental, suaviza-se: yy > sy;
5. Ver nota 5 nos temas em labial.

mur05.p65 518 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 519

Tema em velar
prag- eu fui feito, estou feito

S. p¡-prag-mai p¡-prag-mai
p¡-prag-sai > p¡-praj-ai1
p¡-prag-tai > p¡-prak-tai2
P. pe-pr‹g-meya pe-pr‹g-meya
p¡-prag-sye>p¡-prag-ye > p¡-prax-ye3
p¡prag-ntai >
pe-prag-m¡noi eÞsÛn pepr‹gatai4
pe-prag-m¡noi eÞsÛn
D. p¡-prag-syon> p¡-prag-yon > p¡-prax-yon
p¡-prag-syon> p¡-prag-yon > p¡-prax-yon
1. Oclusiva velar mais s > j; gs, ks. xs > j;
2. Oclusiva sonora, antes de oclusiva surda, assimila-se: gt > kt;
Também acontece o contrário (surda > sonora): oclusiva surda,
antes de oclusiva sonora, assimila-se:
pe-fælak-mai > pe-fælag-mai; a anterior se assimila à posterior;
3. O s, entre consoantes oclusivas, sofre síncope: gsy > gy; a seguir, a
consoante oclusiva, surda ou sonora, antes de aspirada, assimila-se:
gy > xy (no caso em tela a oclusiva é sonora).
4. Ver nota 5 dos verbos em oclusiva labial.

Essa é a flexão do indicativo. Os mesmos acidentes fonéticos podem


acontecer em toda a flexão e sempre serão resolvidos da mesma maneira.

Nos temas em vogal nada disso acontece.

mur05.p65 519 22/01/01, 11:38


520 a flexão verbal

Perfeito dos temas em vogal

Indicativo: eu fui/estou

dado feito honrado revelado


S. d¡-do-mai pe-poÛh-mai te-tÛmh-mai de-d®lv-mai
d¡-do-sai pe-poÛh-sai te-tÛmh-sai de-d®lv-sai
d¡-do-tai pe-poÛh-tai te-tÛmh-tai de-d®lv-tai

P. de-dñ-meya pe-poi®-meya te-tim®-meya de-dhlÅ-meya


d¡-do-sye pe-poÛh-sye te-tÛmh-sye de-d®lv-sye
d¡-do-ntai pe-poÛh-ntai te-tÛmh-ntai de-d®lv-ntai*

D. d¡-do-syon pe-poÛh-syon te-tÛmh-syon de-d®lv-syon


d¡-do-syon pe-poÛh-syon te-tÛmh-syon de-d®lv-syon

* Essas formas sintéticas dos verbos de tema em vogal, apesar de foneti-


camente viáveis, são pouco usadas.

A construção analítica de particípio passivo + verbo auxiliar, co-


mentadas nos verbos de tema em oclusivas (ver a nota 5 dos temas em
labial), por serem mais cômodas e mais concretas, embora mais longas,
passaram a ser mais usadas e aos poucos substituíram completamente as
sintéticas.
de-do-m¡noi eÞsÛ pe-poih-m¡noi eÞsÛ te-timh-m¡noi eÞsÛ de-dhlv-m¡noi eÞsÛ

Outros modos do perfeito médio / passivo

Subjuntivo

tenha sido dado/esteja dado


S. dedom¡now, h, on Î, Âw, Â
P. dedom¡noi, ai, a Îmen, ·te, Îsin
D. dedom¡nv, a, v ·ton, ·ton

mur05.p65 520 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 521

tenha sido feito/esteja feito


S. pepoihm¡now, h, on Î, Âw, Â
P. pepoihm¡noi, ai, a Îmen, ·te, Îsin
D. pepoihm¡nv, a, v ·ton, ·ton
tenha sido honrado/esteja honrado
S. tetimhm¡now, h, on Î, Âw, Â
P. tetimhm¡noi, ai, a Îmen, ·te, Îsin
D. tetimhm¡nv, a, v ton, ton
tenha sido revelado/esteja revelado
S. dedhlvm¡now, h, on Î, Âw, Â
P. dedhlvm¡noi, ai, a Îmen, ·te, Îsin
D. dedhlvm¡nv, a, v ton, ton

Optativo

poderia/pudesse ter sido dado/estar dado


S. dedom¡now, h, on eàhn, eàhw, eàh
P. dedom¡noi, ai, a eàhmen/eämen, eàhte/ eäte, eàhsan/eäen
D. dedom¡nv, a, v eàhton/eäton, eàthn
poderia/pudesse ter sido feito/ estar feito
S. pepoihm¡now, h, on eàhn, eàhw, eàh
P. pepoihm¡noi, ai, a eàhmen/eämen, eàhte/eäte, eàhsan/eäen
D. pepoihm¡nv, a, v eàhton/eäton, eàthn
poderia/pudesse ter sido honrado/estar honrado
S. tetimhm¡now, h, on eàhn, eàhw, eàh
P. tetimhm¡noi, ai, a eàhmen/eämen, eàhte/eäte, eàhsan/eäen
D. tetimhm¡nv, a, v eàhton/eäton, eàthn
poderia/pudesse ter sido revelado/estar revelado
S. dedhlvm¡now, h, on eàhn, eàhw, eàh
P. dedhlvm¡noi, ai, a eàhmen/eämen, eàhte/eäte, eàhsan/eäen
D. dedhlvm¡nv, a, v eàhton/eäton, eàthn

mur05.p65 521 22/01/01, 11:38


522 a flexão verbal

Imperativo

S.: sê/estejas tu, seja/esteja (fique) ele num estado de ter sido/estar
dado feito honrado revelado
d¡-do-so pe-poÛh-so te-tÛmh-so de-d®lv-so
de-dñ-syv pe-poi®-syv te-tim®-syv de-dhlÅ-syv

P.: sede/estejais vós, sejam/estejam (fiquem) eles num estado de ter sido/estar
dados feitos honrados revelados
d¡-do-sye pe-poÛh-sye te-tÛmh-sye de-d®lv-sye
de-dñ-syvn pe-poi®-syvn te-tim®-syvn de-dhlÅ-syvn

D.: sede/estejais (os dois)


dados feitos honrados revelados
de-dñs-yon pe-poi°-syon te-tim°-syon de-dhlÇ-syon
de-dñ-syvn pe-poi®-syvn te-tim®-syvn de-dhlÅ-syvn

Particípio: que foi/que está


dado feito honrado revelado
de-do-m¡now, h, on pe-poih-m¡now, h, on te-timh-m¡now, h, on de-dhlv-m¡now, h, on

Infinitivo: ter sido/estar


dado feito honrado revelado
de-dñ-syai pe-poi°-syai te-tim°-syai de-dhlÇ-syai

mur05.p65 522 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 523

Mais-que-perfeito médio / passivo:

tinha sido/estava
desligado dado colocado lançado
S. ¤-le-læ-mhn ¤-de-dñ-mhn ¤-te-yeÛ-mhn eá-mhn
¤-l¡-lu-so ¤-d¡-do-so ¤-t¡-yei-so eå-so
¤-l¡-lu-to ¤-d¡-do-to ¤-t¡-yei-to eå-to
P. ¤-le-læ-meya ¤-de-dñ-meya ¤-te-yeÛ-meya eá-meya
¤-l¡-lu-sye ¤-d¡-do-sye ¤-t¡-yei-sye eå-sye
¤-l¡-lu-nto ¤-d¡-do-nto ¤-t¡-yei-nto eå-nto*
D. ¤-l¡-lu-syon ¤-d¡-do-syon ¤-t¡-yei-syon eå-syon
¤-le-læ-syhn ¤-de-dñ-syhn ¤-te-yeÛ-syhn eá-syhn
* Como aconteceu com as formas sintéticas de 3a pessoa do plural do
perfeito passivo, também no mais-que-perfeito passivo elas se encon-
tram freqüentemente construídas analiticamente com particípio passi-
vo + verbo auxiliar.
le-lu-m¡noi ·san de-do-m¡noi ·san te-ye-m¡noi ·san eß-m¡noi ·san

Nota: O mais-que-perfeito exprime uma ação completa no passado. Pode


ser definido como o passado do perfeito, num paralelismo com o
imperfeito que é o passado do presente.

Verbos que têm só o perfeito

Alguns verbos, por razões semânticas, só têm o tema do perfeito,


como acontece com outros, que só têm o tema do inacabado (f¡rv) ou
só o do aoristo (fag-).
Algumas gramáticas apresentam-nos como “formas de perfeito com
significado de presente”.
São os seguintes (entre outros):
dænamai eu posso
¤pÛstamai eu sei
gamai eu admiro, estou admirado

mur05.p65 523 22/01/01, 11:38


524 a flexão verbal

k‹yhmai eu estou sentado


¸mai eu estou sentado, pousado (arc.)
keÝmai eu estou deitado
¦ramai eu amo, estou tomado de amor
kr¡mamai estou suspenso, dependurado
Esses verbos podem ter formas do passado: basta acrescentar-lhes
um aumento e desinências secundárias. Naturalmente serão “formas do
mais-que-perfeito com significado de imperfeito”.

eu posso eu podia
S. dæna-mai ¤-dun‹-mhn
dæna-sai ¤-dæna-so > ao > v
dæna-tai ¤-dæna-to
P. dun‹-meya ¤-dun‹-meya
dæna-sye ¤-dæna-sye
dæna-ntai ¤-dæna-nto
D. dæna-syon ¤-dæna-syon
dæna-syon ¤-dun‹-syhn

Mas não são problemas meramente formais; são semânticos, e por


serem verbos de uso constante, desenvolveram outras formas compatí-
veis com seu significado, analogicamente, dentro das características mor-
fo-sintáticas da língua.

Žga- gamai eu estou admirado, admiro


±g‹mhn eu estava admirado, admirava (estado)
Žg‹somai eu admirarei (fato pontual futuro)
±gas‹mhn eu admirei (pontual pas.: aoristo)
±g‹syhn eu fiquei admirado/fui admirado (fato pontual passado)
duna- dænamai tenho a possibilidade, capacidade de, eu posso
dun®somai eu poderei, estarei em condições de
dænvmai eu possa, eu poderei (eventual: desiderativo)
dunaÛmhn eu poderia, eu pudesse (fato potencial)
dænaso pode tu (imperativo)

mur05.p65 524 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 525

dænasyai poder, estar em condições de


¤dun‹mhn eu estava em condições de
¤dunas‹mhn eu estive em condições de (fato pontual passado)
¤dun‹syhn/
¤dun®yhn/±dun®yhn eu estive em condições de fato pontual
¤pi-sta- ¤pÛstamai eu sei (por experiência)
±pist‹mhn eu sabia, estava em situação de saber
¤pist®somai estarei em situação de saber
¤ra- ¦ramai/ ³rasmai estou tomado de amor
±r‹mhn eu estava tomado de amor
±ras‹mhn eu estive tomado de amor (fato pontual)
±r‹syhn eu estive tomado de amor (fato pontual)

São formas analógicas construídas sobre o tema do perfeito como


se fosse infectum.
O verbo ¤pÛstamai - eu sei (por experiência), para as outras for-
mas do perfeito, serve-se do modelo ástamai.-eu estou de pé; ásthmi -
eu ponho de pé.

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


estou de pé esteja de pé poderia/ fica/ficai de pé
pudesse estar de pé
S á-sta-mai ß-st‹-v- mai > Ç-mai* ß-sta-Û-mhn
á-sta-sai ß-st‹-h-sai > »** ß-sta-Û-so > aÝo á-sta-so (ástv)
á-sta-tai ß-st‹-h tai > °-tai ß-sta-Ý-to ß-st‹-syv

P ß-st‹-meya ß-sta-Å-meya > Ç-meya ß-sta-Û-meya


á-sta-sye ß-st‹-h-sye > °-sye ß-sta-Ý-sye á-sta-sye
á-sta-ntai ß-st‹-v-ntai > Ç-ntai ß-sta-Ý-nto ß-st‹-syvn

D á-sta-syon ß-st‹-h-syon > °-syon ß-sta-Û-syhn á-sta-syon


á-sta-syon ß-st‹-h-syon > °-syon ß-sta-Û-syhn ß-st‹-syvn

* O subjuntivo se constrói sobre o tema sta- + vogal longa característi-


ca, v, h, h, v, h, v e desinências primárias; daí as formas contratas:
** ß-st‹-h-sai > ß-st‹-h-ai > ßst‹hi > ßst» / ßst°i.

mur05.p65 525 22/01/01, 11:38


526 a flexão verbal

Particípio: de pé, estando de pé, que está de pé: ßst‹-menow,h,on

Infinitivo: estar de pé: ásta-syai

Mais-que-perfeito:
estava de pé
S. ß-st‹-mhn P. ß-st‹-meya*
á-sta-so á-sta-sye* D. ß-st‹-syhn
á-sta-to á-sta-nto ß-st‹-syhn
* Essas duas formas são iguais às do perfeito; só o contexto poderá dis-
tinguir-lhes o significado.

Além das formas acima, poderemos encontrar alguns desses ver-


bos flexionados no aoristo com o sufixo passivo -yh-, mas com significa-
do intransitivo, médio. (Ver o quadro de flexão do aoristo passivo). É um
problema semântico complexo em que entram:
• o significado do verbo “pôr, pôr-se, estar de pé”;
• o significado da voz média, em que o sujeito está envolvido no ato verbal;
• e o significado da voz passiva, em que o sujeito é receptáculo, paciente
do ato verbal.
Isto não acontece só com ásthmi, ástamai, mas também com os
principais verbos que, pelo significado, são classificados de verbos que “só
têm o perfeito”. Na medida em que o perfeito é uma situação acabada no
presente (perfeito = presente), desenvolveu-se uma flexão analógica, como
vimos na página 524. Algumas dessas formas são iguais às do aoristo (p.
525).
São formas tardias, refeitas, e o aoristo indicativo significa o ato
pontual. Sobre ele construiu-se também um futuro, que, embora com
característica de passivo, mantém o significado intransitivo.
O quadro é o seguinte:

mur05.p65 526 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 527

Aoristo:

Indicativo Subjuntivo Optativo Imperativo


pôs-se de pé ponha-se de pé poderia/pudesse põe-te, ponde-vos
por-se de pé de pé
S. ¤-st‹-yh-n sta-yÇ* sta-ye-Ûh-n
¤-st‹-yh-w sta-y»-w sta-ye-Ûh‘w st‹-yh-ti
¤-st‹-yh sta-y» sta-ye-Ûh sta-y¡-tv
P. ¤-st‹-yh-men sta-yÇ- men sta-ye-Ûh-men 60
¤-st‹-yh-te sta-y°-te sta-ye-Ûh-te st‹-yh-te
¤-st‹-yh-san sta-yÇ-si sta-ye-Ûh-san sta-y¡-ntvn
D. ¤-st‹-yhn sta-y°-ton sta-ye-Ûh-ton st‹-yh-ton
¤-st‹-yhn sta-y°-ton sta-ye-i®-thn sta-y®-tvn
* As formas do subjuntivo passivo (médio) são construídas com o sufixo
-yh- e vogal longa característica do subjuntivo.
Na seqüência de duas vogais longas, a anterior se abrevia e depois é
absorvida pela longa remanescente, o que resulta em formas contratas.

Quadro demonstrativo da flexão do subjuntivo:

sta-y®-v > sta-y¡-v > sta-yÇ


sta-y®-h-si > sta-y¡-h-si > sta-y°i > stay°iw/»w
sta-y®-h-ti > sta-y¡-h-ti > sta-y°-ti > sta-y°si > stay°i/»
sta-y®-v-men > sta-y¡-v-men > stayÇmen
sta-y®-h-te > sta-y¡-h-te > stay°te
sta-y®-v-nti > sta-y¡-v-nti > stayÇnti > stayÇnsi > stayÇsi
sta-y°-h-ton > sta-y¡-h-ton stay°ton
sta-y°-ton > sta-y¡-h-ton stay°ton

60 Há variantes com a característica do optativo -i-: stayeÝmen, stayeÝ-te,


stayeÝsan, stayeÛthn, stayeÛthn.

mur05.p65 527 22/01/01, 11:38


528 a flexão verbal

Particípio: tendo-se posto de pé, tendo sido posto de pé


Tema Masc. Fem. Neutro
sta-yh-nt > stay¡nt-w > stayent-ja > stay¡nt- >
stay¡nt-* stayeÛw-y¡ntow stayeÝsa-shw stay¡n-y¡ntow
* Uma vogal longa, seguida de soante + oclusiva, abrevia-se.

Infinitivo: pôr-se de pé sta-y°-nai

Futuro

Indicativo: eu me porei de pé, serei posto de pé, estarei de pé


sta-y®-s-omai, ú, etai, ñmeya, esye, ontai

Subjuntivo: é o do aoristo

Optativo: poderia/pudesse haver de me pôr de pé/ser posto, estar de pé


sta-yh-so-Û-mhn, soio, soito, soÛmeya, soisye, sointo

Imperativo: não é possível

Particípio: havendo de se pôr de pé, de ser posto de pé, que será posto de pé,
que estará de pé
sta-yh-s-ñ-menow, h, on

Infinitivo: haver de se pôr de pé, de estar de pé


sta-y®-s-e-syai

mur05.p65 528 22/01/01, 11:38


a flexão verbal 529

Futuro Anterior

Exprime um estado, um ato acabado no futuro, isto é, um resulta-


do futuro. Emprego raro. É o perfeito (aspecto e não tempo) transferido
para o futuro, uma antecipação de um ato acabado.
Por exprimir uma situação, um estado a partir do qual se fará algu-
ma coisa, o futuro do perfeito se constrói, naturalmente, sobre o tema
do perfeito.
Na voz ativa, constrói-se com o particípio perfeito ativo, em função
predicativa, e futuro de eänai:
pepraxÆw ¦somai: eu terei feito, estarei numa situação de ter feito
Na voz média, também:
pepragm¡now ¦somai: eu terei feito para mim, estarei numa situ-
ação de ter feito para mim.
Na voz passiva, constrói-se, como na voz média, com o particípio perfei-
to passivo e o futuro do verbo eänai:
pepragm¡now ¦somai: estarei numa situação de estar feito.
Há também a construção sintética do futuro anterior na voz ativa
e média, com significado de estado futuro, sobre o tema do perfeito, acres-
centando-se a característica do futuro -s- e desinências primárias médias.
p¡praxa peprag- pepr‹jomai eu terei realizado
k¡klaka kekla- kekl®somai eu terei sido chamado
d¡dhka dedh- ded®setai ele estará preso (Plat., Rep., 3612)
Não confundir com o futuro passivo, construído sobre o tema do
aoristo: de-y®-s-e-tai: ele será preso.
Apenas dois verbos (ásthmi: eu ponho de pé e yn®skv: eu morro)
constroem um futuro anterior sobre o tema do perfeito ativo:
§sthka eu me pus de pé, estou de pé
¥st®jv eu estarei de pé, terei ficado de pé
t¡ynhka eu morri, estou morto
teyn®jv eu terei morrido, estarei morto

¥st®jv parƒ aétñn: (Aristof., Lis., 654) - eu estarei de pé ao lado dele.


teyn®jeiw: (Aristof., Vesp., 654) - Tu serás/estarás (um homem) morto.

mur05.p65 529 22/01/01, 11:38


530 os invariáveis: preposições

Os invariáveis
preposições, conjunções, partículas, advérbios

Preposições
O sistema de flexão nominal, isto é, o relacionamento de dependên-
cia e de determinação dos nomes entre si (complemento nominal, epí-
teto, adjunto adnominal, aposto) e entre nomes e verbos (atributo-pre-
dicativo, objeto direto, indireto: termo do ato verbal), todos eles expressos
pelas ptÅseiw - casus - casos, foram se enfraquecendo, sobretudo nas
relações concretas de espaço, tempo e modo, enfim, em todas as relações
concretas, que costumamos chamar de adverbiais ou circunstanciais.

A língua grega lançou mão então de um grupo de palavras fixas,


invariáveis, que significavam espaço e, por metáfora, tempo, sobretudo
espaço e tempo relativos.
Inicialmente podemos identificar um número pequeno delas (cer-
ca de 18), que passaram a chamar-se:
proy¡seiw - praepositiones - preposições.
Mera denominação formal, descritivista, porque elas acrescenta-
vam ao significado verbal (ação ou estado) a relação espacial e se coloca-
vam em geral antes do verbo.
Mas esse uso se generalizou por ser cômodo: dava maior precisão e
concretude às relações de espaço e tempo, a tal ponto que essas “pré-
posições” passaram a ser sentidas e usadas como se estivessem coladas
aos temas verbais, formando palavras compostas; passaram então a ser
denominadas, novamente pelo modelo formalista-descritivista, de pre-
vérbios; mas essa última denominação é mais recente; não é dos gramá-
ticos gregos.
É dos gramáticos modernos e traz mais malefícios do que benefí-
cios, uma vez que atribui à preposição-advérbio uma função meramente
formal, quase esvaziada de significado. Ora, os gregos não entendiam as-

mur06.p65 530 22/01/01, 11:38


os invariáveis: preposições 531

sim, isto é, coladas, fundidas com o tema verbal; tanto é que para expri-
mir o passado, serviram-se do aumento ¤- anteposto ao tema verbal, e,
nos verbos compostos, esse aumento figura entre a preposição/prevérbio
e o verbo.
Isso mostra que identificavam significado nas duas partes. Além
disso, freqüentemente, quando querem enfatizar o significado contido na
preposição, os autores a separam, “de-compondo” o verbo “com-posto”:
separam novamente a preposição-advérbio do verbo, restabelecendo o
valor individual de cada um.
Isto significa que os dois elementos da composição tinham e têm
significados próprios. Essa mobilidade da preposição, colocando-se antes
do verbo, colada ou depois dele, separada, os gramáticos a chamam de
tmese = corte.
Exemplos:
tòn aét‹delfon ¤n t‹fÄ tiyeÝsa [¤ntiyeÝsa]1
colocando o próprio irmão no túmulo
tñnde ¤w tafŒw ¤gÆ y®sv [eÞsy®sv taf‹w] 2
este, eu mesma colocarei na sepultura [levarei à]

Os exemplos acima nos fazem deduzir uma “regra de regência” dos


verbos compostos, tão a gosto de alguns gramáticos e professores. Na
verdade não há regra de regência: no primeiro exemplo, o locativo se faz
necessário, porque é essa a relação que está no significado de ¤n [dentro
de - imóvel]; no segundo exemplo o mesmo verbo vem associado à idéia
contida em ¤w / eÞw, acusativo de direção [para dentro de].
Essa “regra” de que não há regra de regência não tem exceção, por-
que não é regra! Restabelece apenas a relação lógica, orgânica, funcional,
semântica entre os elementos do enunciado. Os casos são expressões formais
dessas relações.

1 Nos verbos “com-postos” podemos identificar dois complementos: o da preposi-


ção-advérbio, isto é, o locativo, e o do verbo “colocar” no acusativo.
2 A mesma observação da nota anterior: apenas muda a relação de lugar; agora é
“para onde”, com acusativo. O verbo é o mesmo e o complemento é o mesmo:
acusativo.

mur06.p65 531 22/01/01, 11:38


532 os invariáveis: preposições

Os casos são determinados pelas relações espaciais ou temporais


que as preposições/prevérbios trazem ao tema verbal. Na verdade tudo é
comandado pelo significado e pela função. Veremos isso com mais deta-
lhes quando tratarmos individualmente das preposições.
Algumas gramáticas (J. Humbert) dividem as preposições em “pre-
posições propriamente ditas”, as que se associam a temas verbais ou no-
minais e então elas passam a ser “prevérbios”, e “preposições impropria-
mente ditas”, as que permanecem com seu significado adverbial e não se
prestam a composições, isto é, não se tornam “prevérbios”.
É importante salientar também que o processo de composição é
simples: no caso de preposição (prevérbio) + verbo, o prevérbio se ante-
põe aos temas verbais, com as adaptações fonéticas convencionais, como
ficou demostrado no parágrafo que trata do aumento na formação do pas-
sado (p. 351), e, no caso de preposição+tema nominal, o procedimento é
o mesmo e as desinências (das funções) se acrescentarão ao tema nomi-
nal puro.
Trataremos, em primeiro lugar, das “preposições propriamente di-
tas”, isto é, das preposições que podem servir de prevérbios. Faremos isso
num bloco só, porque consideramos que essa distinção é meramente
formalista-descritivista e induz ao erro seguinte: conforme o caso que a
preposição “rege”, ela adquire um significado diferente, embora próxi-
mo. Não é verdade. Não há alteração de significado. Há apenas um pro-
cesso de metaforização: o significado adquire coloração diferente segun-
do o plano e a relação espacial em que a preposição é usada.
Veremos isso nas preposições que “regem” mais de um caso.
Na verdade, todas as preposições são antigos advérbios de signifi-
cado espacial. Esse significado não muda na sua base; o que dá idéia de
mudança é o uso metafórico, figurado, ou a sua associação com o signifi-
cado dos temas verbais.
Por exemplo: par‹ significa exatamente: ao lado de excluída a
idéia de dentro de.
Os atenienses enviam embaixadores à corte persa, isto é, para junto
do rei parŒ tòn basil¡a (acusativo de direção); mas a relação expressa
na expressão junto de / a, se refere ao rei, e não ao palácio ou à cidade
(metonímia).
Pode também já haver uma embaixada ateniense junto ao rei, na
corte persa, parŒ tÒ basileÝ (o locativo se refere à idéia de lugar onde,
imóvel, estático, ou dativo se se quer insistir na idéia de lateralidade).

mur06.p65 532 22/01/01, 11:38


os invariáveis: preposições 533

Os atenienses podem também receber embaixadores da Pérsia, da


corte persa, do rei da Pérsia, isto é da parte do rei, de junto de, parŒ
toè basil¡vw (genitivo de origem, de separação, genitivo-ablativo).
Por esse exemplo podemos constatar que o significado da preposi-
ção se manteve: junto a, ao lado de; o que mudou foram as relações:
• lugar onde > locativo; ou lateralidade > dativo;
• lugar para onde > acusativo de direção;
• lugar de onde > genitivo de origem.
É evidente que nem sempre traduzimos literalmente, linearmente,
par‹ por ao lado de; há muitas opções de traduções conotativas [na cor-
te de, na casa de etc.]; mas elas nunca devem se afastar do significado
primeiro, original, concreto: ao lado de. Mesmo no emprego metafórico,
figurado, podemos reconstituir, seguindo os vários níveis da metáfora, o
significado original, concreto, espacial.

Daremos a seguir, em ordem alfabética, as principais preposições,


dando prioridade ao significado primeiro, concreto, espacial.
Incluiremos também nessa lista as que muitos gramáticos chamam
de “preposições impropriamente ditas”, porque, na opinião deles, não se
prestam a composição com verbos.
De um modo geral, são advérbios (como todas as preposições são),
mas que não enfocam em si mesmas o desenvolvimento da relação espa-
cial (onde, de onde, para onde), embora essas relações estejam no signi-
ficado. São formas nominais, são antigos casos que se petrificaram e
priviligiam a relação de complemento limitativo, restritivo.
A razão de entrarem no rol das preposições é que elas têm um sig-
nificado relativo e precisam de complemento (limitativo, determinativo,
restritivo) que estão neste ou naquele caso; o mais freqüente é o genitivo.

mur06.p65 533 22/01/01, 11:38


534 os invariáveis: preposições

†Ama

Juntamente, ao mesmo tempo.

É uma idéia de acompanhamento (comitativo), mas que, na rela-


ção paralela, não implica em um movimento, é uma simultaneidade, um
paralelismo, pode ser espacial ou temporal.
Por isso, a designação de “dativo instrumental” não tem sentido;
no instrumental o ato verbal passa pelo objeto inerte (instrumento ou
meio). Podemos então identificar no significado de ‘ma ou um dativo,
que é o mais certo, ou um locativo (imobilidade na simultaneidade, lugar
onde).
Dativo comitativo.
Locativo.
Pode vir também empregado isoladamente; sem “regência”, e sig-
nifica, ao mesmo tempo, simplesmente advérbio.
‘ma tÒ ²lÛÄ duom¡nÄ eÞw tŒw ¤ggut‹tv kÅmaw kates-
k®nvsen (Xen., An., 2, 2, 16)
ao pôr do Sol [juntamente com o sol se pondo], (Clearco) acampou
pelas aldeias que estavam mais perto.
¤k dƒ ¦feron zugñdesmon ‘ma zugÒ ¤nne‹phxu (V, 270)
junto com o jugo [a parelha] (eles), levavam uma correia de nove
côvados.
‘mƒ ²m¡rú diafvskoæsú (Hdt., 3, 86)
junto com o dia clareando / clareante [ao clarear o dia].
‘ma tÒ sÛtÄ Žkm‹zonti ¤str‹teusan eÞw t¯n ƒAttik®n
(Tuc., 3, 1, 1)
junto com o trigo amadurecendo, eles fizeram a expedição contra a
Ática [ao mesmo tempo que o trigo amadurecia].
‘ma toÝw ƒAntandrÛoiw toè teÛxouw ti ¤pet¡lesan (Xen., 2,
66, 1)
eles completaram algo da muralha, junto com os habitantes de An-
tandros [em companhia de].

mur06.p65 534 22/01/01, 11:38


os invariáveis: preposições 535

ƒAmfÛ - de mfv, ambos, os dois (lat. ambo).


O -i é do locativo; os dois lados do cadáver, lutando pelos despojos
- genitivo de limitação espacial, daí, por causa de, em torno de:
Locativo: posição imóvel.
Acusativo de expansão espacial.
oã d¢ pros¹esan pollÒ yoræbÄ ŽmfÜ Ïn eäxon diafe-
rñmenoi (Xen., An., IV, 5, 1)
[os bárbaros] avançavam com muito barulho disputando em torno
do que seguravam [arrancavam-se mutuamente, cada um de um lado
da presa] (genitivo).
ŽmfÜ porfur¡vn p¡plvn... jÛfh sp‹santew (Eur., Or., 1427)
[eles] tendo tirado as espadas de dentre as vestes de púrpura [as ves-
tes estão dos dois lados da espada] (genitivo).
diaf¡resyai ŽmfÛ tinow
entrar em disputa a propósito de alguma coisa [ou pessoa] [dos dois
lados] (genitivo).
lñgow ŽmfÛ tinow
discurso a respeito [sobre, em torno de algo/alguém, dos dois lados]
(genitivo).
ŽmfÜ t°w pñlevw
sobre a cidade, no que diz respeito à cidade [falando dos dois lados]
(genitivo).
Sarp®donow Žmfim‹xesyai (P, 496)
combater por Sarpédon [dos dois lados de] (genitivo).
KaustrÛou ŽmfÜ =¡eyra...potÇntai (B, 461)
de cada lado [ao longo de cada lado: acus. de extensão] das torren-
tes do Cáustrio voam [as aves].
toçw ŽmfÜ g°n ¦xontaw, (Xen., Ec., 6, 7)
os que se ocupam da terra [que se mantêm nela e em torno dela]
(acus. de extensão).
peltastaÜ ŽmfÜ toçw disxilÛouw, (Xen., An., 1, 2, 9)
por volta de dois mil peltastas (acus. de extensão).

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536 os invariáveis: preposições

ŽmfÜ d¢ s¢ TrÄaÛ... klaæsontai (S, 339)


em torno de ti [dos dois lados] troianas chorarão (acus. de exten-
são, relação).
sull¡getai tò str‹teuma ŽmfÜ tòn Paktvlñn, (Xen.,
Cir., 6, 2, 11)
o exército se reúne ao longo do Páctolo [às margens, dos dois lados]
(acus. de extensão).
katalamb‹nousi toçw fælakaw ŽmfÜ pèr kayhm¡nouw,
(Xen., An., 4, 2, 5)
eles surpreendem (agarram) os vigias sentados em torno do fogo
(acus. de extensão).
·n ŽmfÜ ŽgorŒn pl®yousan, (Xen., An., 1, 8, 1)
era por volta [na hora] de o mercado se enchendo [em que o mercado
se enchia] (acus. de extensão).
Žfiknoèntai eÞw prÇton staymòn ŽmfÜ m¡shn nækta (Xen.,
Intend., 4, 43)
eles chegam à primeira parada por volta da meia noite (acus. de
extensão).
Žp¡xei taèta tŒ teÛxh Žpƒ Žll®lvn ŽmfÜ tŒ ¥j®konta
st‹dia (Xen., Cir, 7, 1, 1)
essas fortificações distam entre si por volta de 60 estádios (acus. de
extensão).
eänai ŽmfÜ tŒ ßer‹ (Xen., Ec., 6, 7)
estar ocupado dos rituais [em torno, às voltas com os sacrifícios,
envolvido com] (acus. de extensão).
ŽmfÜ t¯n pñlin
em volta da cidade (acus. de extensão).
ŽmfÜ t¯n SikelÛan
pela Sicília (acus. de extensão).
ŽmfÜ deÛlhn
pela tarde, por volta de (acus. de extensão).
ŽmfÜ toèton tòn xrñnon
por esse tempo (acus. de extensão).

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os invariáveis: preposições 537

tŒ ŽmfÜ tòn spñron, tŒ ŽmfÜ t¯n futeÛan ¤pÛstasyai,


(Xen. Ec., XIX, 1)
ter conhecimento em relação à semeadura e ao plantio [o que se re-
fere a: acus. de extensão].
¤peyæmhsen õ d°mow ...¤nn¡a strathgoçw ...toçw ŽmfÜ Yr‹-
sullon kaÜ ƒErasinÛdhn ŽpokteÝnai, (Xen., Mem., 1, 1, 18)
o povo desejou matar [condenar à morte] nove comandantes da
companhia de Trásilo e Erasinides. [em torno de, em volta de: acus.
de extensão].
†Hliow m¡son oéranòn Žmfibeb®kei, (Y, 68)
O sol já tinha percorrido meio céu [mais ou menos, por volta de:
acus. de extensão].
ƒAxaioÜ ¦stasan ŽmfÜ Menoiti‹dú, (R, 267)
Os Aqueus estavam de pé em volta [dos dois lados] de Menetiades
(locativo).

O mesmo significado está nos compostos:


Alguns nomes e verbos compostos:
ŽmfÛ-biow anfíbio, que vive na terra e na água
ŽmfÛ-logow ambíguo, palavra/discurso de dois (significados opostos)
ŽmfignoÒ(e) estou duvidando, estou tomando conhecimento (dos dois lados)
Žmfi¡nnumÛ tina ti eu visto alguém de, eu envolvo alguém em (alguma coisa)

ƒAn‹

ƒAn‹ diante de consoante e ƒAnƒ diante de vogal.


• Levantar de baixo para cima, acima num plano inclinado (o mo-
vimento do cavaleiro com um pé apoiado no estribo e lançando o
corpo para cima);
• esforço repetido de baixo para cima, a partir do contato com a
superfície, esforço repetido, recomeçando (daí um sentido dis-
tributivo, extensivo), subindo, percorrendo - oposto a kat‹.
• Acusativo de extensão, movimento, relação.
• Locativo.

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538 os invariáveis: preposições

ŽnŒ =ñon
[navegar] corrente acima, rio acima, [contra a corrente].
ŽnŒ potamòn pleÝn
navegar rio acima.
ŽnŒ psan t¯n g°n
por toda a extensão da terra [por cima, por toda a superfície].
ŽnŒ stñma ¦xein
ter na [por sobre] boca [na ponta da língua, por sobre os lábios].
ŽnŒ ¥k‹sthn ²m¡ran
a cada dia, repetidamente.
ŽnŒ t¡ttaraw
a cada quatro, por cada quatro.
ŽnŒ nækta
pela noite, por volta da noite.
ŽnŒ lñgon
conforme o raciocínio, seguindo o raciocínio.
ŽnŒ kr‹tow
conforme, segundo o poder.
eðde pat¯r ŽnŒ Garg‹rÄ lrÄ (J, 352)
o pai [dos deuses] estava dormindo no cimo do Gárgaros [por cima
de] (loc.).
kiñnƒ Žnƒ êchl¯n ¦rusan (X, 192)
eles o alçaram sobre uma alta coluna [por sobre] (extensão, movi-
mento: acus.).
oé g‹r tiw n¡mesiw fug¡ein kakñn, oédƒŽnŒ nækta (J, 80)
não é possível [não há permissão alguma] de evitar o mal, nem
mesmo de noite [pela noite] (extensão: acus.).
Žnabib‹saw toçw paÛdaw ¤fƒ áppouw (Hdt., 1, 63) [bib‹saw
Žn‹]
tendo feito os filhos montarem sobre os cavalos (movimento: acus.)
÷te Žpò DhlÛou fug» ŽnexÅrei tò stratñpedon (Plat.,
Banq., 220e) [¤xÅrei Žn‹]

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os invariáveis: preposições 539

quando, de Délion, em fuga, debandava o acampamento [corria


pelo... extensão].
eÞ ôrrvdeÝw tò ŽnachfÛsai, (Tuc., 6, l4) [chfÛsai Žn‹]
se te aterrorizas em se votar novamente
keklhm¡nouw m¢n Žnakaloæmeyƒ aï yeoæw (Eur., Supl., 626)
[kaloæmeya Žn‹]
estamos invocando de novo os deuses que já invocamos [já invocados].
plansyai ŽnŒ tŒ örh (Xen., Cir., 2, 4, 27)
vagar pelas montanhas [subindo] (extensão: acus.).
ŽnŒ psan g°n eÞr®nh ¦stai (Xen., Rec. da Át., 6)
existirá paz por toda a terra [por toda a extensão].
pleÛstouw fÛlouw kaÜ ŽrÛstouw ŽnŒ psan t¯n g°n k¡kth-
tai (Xen., Ages., 9, 7).
ele possui [por ter adquirido] muitíssimos e ótimos amigos por toda
a terra [por toda a extensão de: acus.].
oß strathgoÜ ¤poÛhsan §j lñxouw ŽnŒ ¥katòn ndraw,
(Xen., An., 3, 4, 21)
os comandantes formaram seis batalhões de cem homens cada um
[por cem homens, cada um de cem homens].
¤poreæyhsan ¥ptŒ staymoçw ŽnŒ p¡nte paras‹ggaw,
(Xen., An., 4, 6, 5)
eles percorreram 7 etapas de [por volta] cinco parasangas3 cada uma.
¥st‹nai kæklÄ ŽnŒ p¡nte kaÜ d¡ka ndraw (And., Mist., 38).
ficar [de pé] em círculo por 15 homens [em grupos de].

3 Medida itinerária da Pérsia: 5.250m; a etapa (jornada), então, era de 26.750m. Ao


todo foram 187.250m.

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540 os invariáveis: preposições

…Aneu

Sem, separado, longe de, exceto.

Sempre com idéia de separação, distância, privação.


Por isso o genitivo é natural.
Às vezes pode vir reforçada com prefixos ou sufixos adverbiais. Mas
o que muda é apenas uma extensão ou amplificação do significado; a idéia
de separação continua sendo expressa pelo genitivo.
Não se presta à composição com verbos. Por isso alguns gramáticos
não a incluem entre as preposições.
Às vezes vem enfatizada com o sufixo -yen.
oé m¢n g‹r potƒ neu dhÛvn ·n (N, 556)
na verdade ele jamais estava distante dos saqueadores.
p‹nta neu xrusoè (Plat., Crítias, 112c)
todas as coisas com exceção do ouro.
neu Žkoloæyou mñnow (Plat., Banq., 217a)
só sem acompanhante.
ŽllŒ sçn toÝw yeoÝw deÛjvmen toÝw barb‹roiw ÷ti kaÜ neu
toè ¤keÛnouw yaum‹zein dun‹meya toçw ¤xyroçw timvreÝs-
yai (Xen., Hel., 1, 6, 11)
mas, com os deuses [com a ajuda dos deuses] mostremos aos bár-
baros que mesmo sem admirá-los nós podemos nos vingar dos
inimigos.
oé gŒr y¡miw z°n pl¯n yeoÝw neu kakÇn (Prov.)
na verdade não é lícito viver sem males, a não ser aos deuses.
oék neu lñgou eäxon ¥toÛmvw pròw ¤leuyerÛan oß †Ellhnew
(Dem., Fil., 3, 36)
não sem razão os gregos estavam preparados para a liberdade.

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os invariáveis: preposições 541

ƒAntÛ
Em face de, contra, em lugar de (Antipapa, Anticristo), pelo preço
de, (na compra, na troca, no ato de pagar há uma substituição de uma
coisa por outra, uma toma o lugar da outra: o dinheiro pela mercadoria),
de preferência a.
Genitivo de separação.
bouleæetai ÷pvw m®pote ¦ti ¦stai ¤pÜ tÒ ŽdelfÒ ŽllŒ
basileæsei Žntƒ ¤keÛnou (Xen., An., 1, 1, 4)
Ele delibera [trama] de modo a que não mais estará [esteja] sobre
o irmão [apoiado, amparado] mas, [ao contrário], reinará [reine]
em lugar dele.
ŽntÜ toè Žr®gein toÝw summ‹xoiw feægvn Õxeto (Xen.,
Cir., 6, 2, 19)
em vez de [em lugar de] socorrer os aliados, ele empreendeu viagem
fugindo.
¥l¡syaÛ ti ŽntÛ tinow
escolher algo em lugar de algo [preferir algo a algo].
ŽntÜ pol¡mou eÞr®nhn eßlÅmeya (Tuc., 4, 20, 2)
Em lugar da guerra escolhamos a paz.
Žn¯r Žntƒ Žndròw luyeÛw
solto [libertado] homem contra homem [um homem contra outro,
em lugar de].
Žntƒ ŽgayÇn kakoÜ geg®nhntai (Tuc., 1, 86, 1)
Em vez de bons eles se tornaram maus.
ŽntÜ kunòw eä fælaj (Xen., Mem., 2, 7, 14)
Tu és guarda em lugar de cão [como um cão].
Žntƒ ŽrgurÛou Žll‹jasyaÛ ti (Plat., Rep., 371c)
trocar algo por dinheiro, alienar.
tÛ ²mÝn ŽntÜ toætvn êperet®seiw; (Xen., Cir., 4, 6,8)
o que nos servirás em lugar dessas coisas?
Èfel®sv aétòn Žnyƒ Ïn eï ¦payon êpƒ ¤keÛnou (Xen., An., 3, 5)
Eu o ajudarei em troca das coisas que senti [sofri] dele [sob o efeito
de, por causa de].

mur06.p65 541 22/01/01, 11:38


542 os invariáveis: preposições

÷son pl¡yron dasç pÛtusi dialeipoæsaiw meg‹laiw Žnyƒ


Ïn ¥st®kontew ndrew tÛ ’n p‹sxoien; (Xen, An., 4, 7)
espesso numa extensão de um pletro [100 pés] de grandes pinhei-
ros remanescentes, contra os quais, os homens de pé, o que pode-
riam sofrer?
ŽfÛkonto oß Žntƒ ¤keÛnvn strathgoÛ (Xen., Hel., 1, 1, 27)
chegaram os comandantes em lugar daqueles.
êmeÝw ŽntÜ patròw ¤moÜ g¡nesye (And., Mist., 149)
Vós, tornai-vos para mim em lugar de meu pai [sede para mim].
ŽntÜ tÇn martærvn
diante de testemunhas [face a face].

ƒAntikræ / kat-antikræ

Em face de, em frente a, do lado oposto (em linha reta).


Genitivo de separação.
llon oÞstñn . . . àallen †Ektorow Žntikræ (Y, 300)
ele lançou um outro dardo, de frente a Heitor [estando em face de
e de lá lançando o dardo].
diabŒw eÞw Shstòn katantikrç önta ƒAbædou (Xen., Hel.,
4, 8, 5)
tendo passado para Sestos, que está em frente de Ábidos.
ntikruw
diretamente, em face, em linha reta.
oéd¡n µ ntikruw douleÛan, (Tuc., 1, 122)
nada a não ser (do que) a servidão direta.
² ntikruw ¤leuyerÛa, (Tuc., 8, 64)
a liberdade em face (diretamente do outro lado).

mur06.p65 542 22/01/01, 11:38


os invariáveis: preposições 543

ƒAntip¡raw / Žntip¡ran / kat-antip¡raw


Em face de, do lado oposto.
Genitivo de separação, naturalmente.
[Z‹kunyow] keÝtai Žntip¡raw…Hlidow (Tuc., 2, 66, 1)
Zácintos está situada em frente à Élide [na margem oposta].

…Anv
Subindo (em cima) na posição de cima.
Privilegia a idéia de situação estável, mas relativa a; por isso pede
um complemento limitativo, restritivo.
O genitivo exprime essa relação.
õrÇsi pezoçw ¤pÜ taÝw öxyaiw nv tÇn ßpp¡vn parate-
tagm¡nouw, (Xen., An., 4.3.3)
eles vêem a infantaria enfileirada sobre as margens, por cima (aci-
ma) dos cavaleiros [acima de].

ƒApñ
ƒApñ diante de consoante; ƒApƒ diante de vogal não aspirada; ƒAfƒ
diante de vogal aspirada.
Afastando-se de, de (latim: a, ab), ponto de partida (espaço e tempo).
Genitivo de separação, de ponto de partida.
Žpƒ ¤keÛnhw t°w ²m¡raw
a partir daquele dia.
Žpò deÛpnou
após a refeição [a partir da].
eéyçw Žfƒ ¥sp¡raw
imediatamente [direto] a partir da tarde.
Žpò skopoè
longe [fora] do alvo, da meta.
Žpò gnÅmhw
longe [fora] da opinião comum [contra].

mur06.p65 543 22/01/01, 11:38


544 os invariáveis: preposições

oß Žpò skhn°w
os da cena [do teatro], os atores.
oß apò t°w stow
os do pórtico [que vêm de], os estóicos.
Žpò toè aétom‹tou
a partir da própria interpretação [por si mesmo, espontaneamente].
Žpò toætou toè xrñnou
desde [a partir de] esse tempo.
Žfƒ oð
desde que, [ex quo].
oß Žpò ƒIvnÛaw
Os jônios [os que vieram da Jônia, os da Jônia].
Žpò yal‹sshw eÞw y‹lassan
de um mar a outro.
Žfƒ áppvn ”lto xamze
saltou (saltaram?) dos cavalos [carruagem] para o chão.
kaleÝsyai Žpñ tinow
ser chamado [receber um nome] a partir de algo.
aétñnomow Žpò t°w eÞr®nhw
independente a partir da paz.
tòn bÛon ¦xein (poieÝsyai, porÛzesyai) Žpñ tinow
ter uma vida [levar, fazer, ganhar] a vida a partir de algo.
Žpò oàkou eänai
estar fora do país [longe, distante de casa].
logÛzesyai Žpò xeirñw
contar [calcular] a partir da mão [com os dedos].
llai gnÇmai Žfƒ ¥k‹stvn ¤l¡gonto
outras opiniões eram ditas a partir de cada um.
katesp‹syh Žpò toè áppou (Xen., An., 1, 9, 4)
ele foi arrancado [puxado para baixo] do cavalo.

mur06.p65 544 22/01/01, 11:38


os invariáveis: preposições 545

yhreæein Žfƒ áppou


caçar a cavalo [a partir de].
Žpò toè ìdatow eärgon oß Yr˜kew (Xen., An., 6, 3, 8)
Os trácios os afastavam [procuravam afastá-los] da água.
læonto d¢ teæxeƒ Žpƒ Êmvn (R, 318)
eles soltavam as armas [as armaduras] dos ombros.
¦th ¤stÜ m‹lista tetrakñsia... Žfƒ oð Lakedaimñnioi t»
aét» politeÛ& xrÇntai (Tuc., 1, 18)
já são 400 anos... a partir do que os Lacedemônios se servem [têm]
o mesmo governo [constituição].
eà tiw ... paraineÝ êmÝn ¤kpleÝn tò ¥autoè mñnon skopÇn...
÷pvw yaumast» Žpò t°w ßppotrofÛaw (Tuc., 6, 12)
Se alguém vos aconselha a fazer uma expedição naval só levando
em conta o seu próprio ponto de vista de modo a que seja admira-
do a partir de sua escuderia...
¾desan Svkr‹th Žpƒ ¤laxÛstvn xrhm‹tvn aétark¡s-
tata zÇnta (Xen., Mem., I, 2, 14)
Eles sabiam que Sócrates, a partir de meios reduzidíssimos, vivia da
maneira mais suficiente.
¤pr‹xyh Žpƒ aétÇn oéd¢n ¦rgon Žjiñlogon (Tuc., 1, 17)
a partir deles nem um ato foi realizado digno de registro.
oäda gŒr ÷ti kakoÜ m¢n ŽpoÛxontai pol¡moio (L, 408)
[oàxontai apñ]
eu sei que os maus [covardes] se afastam do combate.
Žpò toè bouleuthrÛou ŽpelyÅn (Tuc., 8, 92) [¤lyÆn Žpñ]
Tendo saído do Conselho, da Assembléia.
toçw ŽrgurÛou tÒ boulom¡nÄ pvloæntaw sofistŒw Žpo-
kaloèsin (Xen., Mem., 1, 6, 13) [kaloèsin Žpñ = de-nominam]
Os que em troca de dinheiro vendem ao que quer, chamam-nos de
sofistas. [de-nominam, chamam a partir de].
eålke [Yhram¡nhn] Žpò toè bvmoè õ S‹turow (Xen., Hel., 2.3)
Sátiro puxava Teramenes para longe do altar.

mur06.p65 545 22/01/01, 11:38


546 os invariáveis: preposições

Yeait®tÄ ¤n¡tuxon ferom¡nÄ Žpò toè stratop¡dou


(Plat., Teet., 142a)
Eu me encontrei com Teeteto sendo conduzido do acampamento.
tò mimeÝsyai perÜ trÛton ¤stÜn Žpò t°w ŽlhyeÛaw (Plat.,
Rep., 599a)
o imitar está em terceiro lugar a partir da verdade.
m¡xri §j ¤tÇn Žpò genew oß paÝdew taèta pr‹ttousi,
(Xen., Cir., 1, 2, 8)
até seis anos a partir do nascimento os meninos fazem essas coisas.
Žpò jummaxÛaw aétñnomoi (Tuc., 7, 57)
livres [soberanos] a partir dessa aliança.
Žpò toætvn ¤zetazom¡nvn eêrey®setai eÞ Žlhy° g¡gra-
fe (Dem., Cor., 57)
a partir do exame dessas coisas [dessas coisas examinadas] será des-
coberto se ele escreveu coisas verdadeiras.
numfÇn ßeròn Žpò tÇn Žgalm‹tvn ¦oiken eänai (Plat.,
Fedr., 230b)
a partir das estátuas pareceu ser um templo de ninfas.

Além da idéia de afastamento, separação, ponto de partida, Žpñ


pode ser vista como esgotamento do ato verbal desde o ponto de partida:
Žpo-kteÛnv = eu esgoto o ato de matar, eu mato completamente;
Žpo-yn¹skv = eu morro completamente (enfático).
tò d¢ metŒ toèto... peirÅmeya... Žpodeiknænai, (Plat., Rep.,
473b)
quanto ao que vem depois disso, tentemos demonstrar (mostrar
completamente, provando).
ŽtŒr tÛ m¡lleiw poieÝn; - ŽpojureÝn tadÛ (Aristóf., Tesm., 215)
Então, o que pretendes fazer? - Raspar completamente estas coisas
aqui. [fazer completamente a barba].

mur06.p65 546 22/01/01, 11:38


os invariáveis: preposições 547

Notar alguns verbos:


Žpodidr‹skein sair correndo, fugir completamente
Žpob‹llein perder, jogar fora, jogar ao mar
Žpotr¡pein desviar de, remover
ŽpokaleÝn denominar, dar um nome a [partindo de quem dá o nome]
Žpokalæptein des-cobrir, revelar
Žpagoreæein denunciar [um contrato], proibir
Žpodidñnai dar a partir de, restituir, atribuir, devolver, pagar
Žpotiy¡nai de-por, renunciar
ŽpaiteÝn exigir [pedir até o fim]

Pode também exprimir renúncia, demissão, desistência do ato verbal.


¤peid¯ ŽpeÛrhka tòn önta skopÇn (Plat., Féd., 99d) [eàrhka
Žpñ]
depois que eu renunciei à procura [procurando, visando] do Ser.

…Apvyen

Distante de; numa situação a partir de.


Genitivo de separação. A partícula -yen é enfática.
pvyen toè teÛxouw §ndeka st‹dia (Tuc., 1, 22, 3)
distante da muralha onze estádios.

…Ater

Distante de, longe de.


Genitivo, naturalmente.
Poucos exemplos; arcaica. Não se presta a composição.
KronÛdhn ter §menon llvn (A, 498)
o Cronida sentado afastado dos outros [longe de].
oé gúr ter ge Zenñw (O, 292)
pois não sem [a ajuda de] Zeus.

mur06.p65 547 22/01/01, 11:39


548 os invariáveis: preposições

…Axri (-w)

Até a (um ponto, posição de contato > partitivo).


Sentido espacial e temporal.
Genitivo, naturalmente.
Às vezes pode vir enfatizada com pròw, eÞw, com enfoque sobre a
direção, movimento, intenção; aí o caso é pedido pelo valor predominante
(acusativo se houver movimento ou direção) ficando xri com signifi-
cado e função adverbial, sem relação de casos.
xri t°w ¤sñdou toè ßeroè ¥kat¡rh [diÇruj] ¤s¡xei (Hdt.,
2, 138)
cada um dos dois [canais] fluem até a entrada do santuário (marca
o ponto de chegada, não a chegada).
n®stiew xri m‹la kn¡faow (S, 369)
jejunos até bem dentro da noite [na obscuridade: ponto de chegada].
xri toè m¯ pein°n (Xen., Banq., 4.37)
até não ter fome [até matar a fome: ponto de chegada].
pepoÛhken xri t°w ƒAttik°w (Dem., Emb., 334)
ele fez (um caminho) até à Ática (ponto de chegada).
poreuñmenow xri pròw t¯n pñlin, (Luc., Herm., 24, 6)
percorrendo (um caminho) até diante da cidade (o acusativo é do
movimento, direção contido em prñw).
Pl°yow t°w katab‹sevw t°w õdoè Žpò t°w ¤n BabulÇni
m‹xhw xri eÞw Kotævra staymoÜ ¥katòn eàkosi dæo, (Xen.,
Anáb., 5, 5, 4)
A extensão do caminho da descida a partir da batalha na Babilônia
até chegar a Cotíora era de cento e vinte dois marcos.

mur06.p65 548 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 549

BÛ&

Por força de.


É um instrumental petrificado e por isso requer um complemento
delimitativo, restritivo, no genitivo naturalmente.
Do significado concreto “por força de” podem derivar “por causa
de, apesar de”, abstrato.
KerkuraÛouw m¯ summ‹xouw d¡xesye bÛ& ²mÇn (Tuc., 1, 43, 3)
não aceiteis os corcirenses como aliados por força de nós [forçados
por nós, por causa de nós].

Di‹ - (dæo > dÛw)

Através, por meio de.


Primitivamente: espaço intermediário entre dois pontos (o ponto de
partida e o de chegada), daí o elemento separador ou intermediário entre
o emissor do ato e o receptor: (falar por mensageiros); o elemento que
atravessa, cortando, separando em dois (diâmetro).
Em alemão zwischen (entre dois objetos) de zwei, (dois).
Essa idéia permanece em português, pelo latim: - dis-córdia, di-
ferença, dis-cernir etc.
Em grego o genitivo se faz presente, naturalmente. Mas aqui não
há a idéia do percurso, travessia, como um projétil que atravessa, perfu-
rando um corpo do começo ao fim, de um lado a outro; nesse caso apare-
ce o acusativo, porque exprime o movimento (é a idéia de per em latim).
O genitivo marca o espaço entre o ponto de partida e o ponto de
chegada, mas sem atravessar, furar, como um projétil. Poderíamos pen-
sar em uma idéia de “estar no meio de, atravessado, separando”, às vezes
se associando a outras preposições: ¤k, prñ.
dñru dƒ ôfyalmoÝo diaprñ...·lyen (J, 494)
a lança chegou diante [de frente] atravessando o olho [abrindo em
dois].
aàglh ...diƒ aÞy¡row oéranòn åke (B, 458)
o brilho chegou ao céu atravessando o éter [mas o céu é o éter, por-
tanto não ultrapassou].

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550 os invariáveis: preposições

diŒ t¡louw d¡ soi ¤ggçw parestÅw (Ésq., Eum., 64)


até o fim [não ultrapassando] eu te serei/sou guarda, [presente ao lado].
keÝtƒ ¦ntosyƒ ntroio tanuss‹menow diŒ m®lvn (P, 298)
ele [o Ciclope] estava deitado dentro do antro no meio do rebanho
[estava atravessado, separando].
Žp®gagon tòn ndra diŒ t°w Žgorw (Xen., Hel., 2, 3, 56)
eles levaram embora o homem pela praça. [não de um lado ao outro].
¤boæleto NikÛaw t¯n fulak¯n diƒ ¤l‹ssonow eänai (Tuc., 3,
51, 2)
Nícias queria que o posto de guarda estivesse num intervalo menor.
filosofeÝn diŒ pantòw toè bÛou (Plat., Banq., 203c)
filosofar durante [através] a vida toda [ela não acabou].
taèta metŒ kindænvn diƒ ÷lou aÞÇnow moxyoèsi (Tuc., 1, 70, 8)
essas coisas em meio a perigos eles tentam obter durante toda exis-
tência. [em meio a].
õ yeòw aétñw ¤stin õ l¡gvn diŒ toætvn d¢ [tÇn poihtÇn]
fy¡ggetai (Plat., Íon, 534d)
é a própria divindade que fala, mas ele se faz ouvir através desses, os
poetas [intermediários entre a divindade e os homens, não agentes
da passiva].
di®negke tÇn llvn basil¡vn tÇn ŽrxŒw diƒ ¥autÇn
kthsam¡nvn (Xen., Cir., 1, 1, 4)
ele se distinguiu dos outros reis que tinham adquirido o poder por
eles mesmos.
¤poreæonto diŒ xiñnow poll°w (Xen., An., 1, 8, 26)
eles marchavam em meio a muita neve [através de].
diŒ dikaiosænhw Þ¡nai kaÜ svfrosænhw (Plat., Prot., 323a)
ir através de justiça e moderação [por vias justas e sensatas].
p‹ntew tòn Kèron diŒ stñmatow eäxon (Xen., Cir., 1, 4, 25)
todos tinham [o nome de] Ciro na boca [atravessado].
diŒ makrÇn, diŒ braxut‹tvn toçw lñgouw poieÝsyai
(Plat., Górg., 449b)
fazer discursos com coisas longas, com coisas muito curtas [através de].

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os invariáveis: preposições 551

diŒ tax¡vn tòn pñlemon poieÝsyai (Xen., An., 1, 5, 9)


fazer guerra com muita rapidez (por coisas rápidas).
diŒ makroè kaÜ m¯ ßkanÇw õrÇn ti (Plat., Teet., 193c)
olhando algo [observando] de longe e não suficientemente.
¦lege diƒ ¥rmhn¡vw toi‹de: (Xen., An., 2, 3, 17)
através de um intérprete [por intermédio] ele dizia estas coisas.
¤y¡lousi diƒ ¤piorkÛaw te pròw toçw yeoçw kaÜ [diƒ ] ŽpistÛaw
pròw ŽnyrÅpouw pr‹ttein ti (Xen., An., 2, 5, 11)
eles querem realizar algo [tirar proveito] por meio de perjúrios diante
dos deuses e de má fé diante dos homens.
diŒ m¢n ŽspÛdow ·lye faein°w öbrimon ¦gxow (Hom.)
a poderosa lança chegou através do escudo brilhante [separando].
diŒ polemÛaw [xÅraw] poreæesyai
marchar através de país inimigo [não atravessando inteiro].
skñpei, Žpñkrisiw pot¡ra ôryot¡ra, Ú õrÇmen, toèto
eänai ôfyalmoæw µ diƒ oð õrÇmen (Plat., Teet., 184c)
vê bem qual das duas respostas é mais correta: os olhos são aquilo
com o que nós vemos, ou através do que nós vemos [por intermé-
dio do que].

O acusativo está sempre ligado à idéia de movimento. Com a pre-


posição di‹ acontece o mesmo; ela marca a travessia de um lado ao ou-
tro, como se perfurasse com uma bala.
No sentido figurado também.
Muitos gramáticos identificam aí uma idéia de causa: as guerras
acontecem pela posse de riquezas; o ato da guerra passa pela posse das
riquezas (em latim per, propter).
basileçw aßreÝtai oéx ána ¥autoè kalÇw ¤pimel°tai Žllƒ ána
kaÜ oß ¥lñmenoi diƒ aétòn eï pr‹ttvsin, (Xen. Mem., 3, 2, 3)
Um rei é escolhido [escolhe-se um rei] não para que se ocupe bem
de si mesmo, mas para que os que o escolheram, por meio dele, pas-
sem bem. [passando por ele].
sÐzesyai diƒ ²mw (Xen., An., 5, 8, 13)
ser salvos por nosso intermédio [passando por nós].

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552 os invariáveis: preposições

diƒ ²mw ¦xete t®nde t¯n xÅran (Xen., An., 7, 7, 7)


Vós tendes [possuis] esta terra por nós [graças a nós].
toçw nñmouw, diƒ oîw oÞkoèmen t¯n pñlin, parab¡bhke
(Dem., 19, 74 e 90)
Ele transgrediu as leis, pelas quais administramos a cidade.
¤tetÛmhto êpò Kærou diƒ eënoian kaÜ pistñthta (Xen., An.,
1, 8, 29)
ele fora estimado [honrado] por Ciro, por seu bom caráter [boa
mente] e fidelidade.
diŒ tò filomay¯w eänai pollŒ ŽeÜ toçw parñntaw ŽnhrÅ-
ta (Xen., Cir., 1, 4, 3)
por ser desejoso de aprender, ele sempre perguntava muitas coisas
aos presentes (aos que o acompanhavam).
¤keÝ diŒ kaèma oé dænantai oÞkeÝn nyrvpoi (Xen., An., 1, 7, 6)
por causa da canícula, homens não podem habitar lá.
duskolÅterow diŒ t¯n nñson (Isócr., 19, 26)
muito mal humorado, por causa da doença.
diŒ t¯n tÇn xrhm‹tvn kt°sin oß pñlemoi gÛgnontai (Plat.,
Féd., 66b)
as guerras acontecem, por causa da posse de riquezas [pela posse].
Milti‹dhn eÞw tò b‹rayron ¤mbaleÝn ¤chfÛsanto, kaÜ eÞ
m¯ diŒ tòn prætanin, ¤n¡pesen n (Plat., Górg., 516e)
haviam votado lançar Milcíades no báratro, e se não fosse pelo
pritane, ele teria caído lá.
st®laiw dialabeÝn toçw ÷rouw (Dem., 18, 154)
tomar os limites na sua extensão com marcos.
yeoÜ di¡yesan tŒ önta (Xen., Mem., 2, 1, 27)
as divindades dispuseram os seres [dis-puseram].

Observação:
Os gramáticos chamam de prevérbio pleno, isto é, com significa-
do, mas sem relação, todas as vezes em que a preposição (prevérbio) não
tem um complemento expresso, isto é, uma relação espacial definida. Na

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os invariáveis: preposições 553

verdade, nestes casos, a “preposição-prevérbio” está em seu sentido e


função original: advérbio.
Às vezes, também, o significado do advérbio (preposição/prevérbio)
se fundem totalmente com o significado do verbo. Nesses casos, deno-
minam o prevérbio/preposição de “vazios”.
Isso é ilógico. Não há significado vazio; a preposição/ prevérbio
amplia, precisa o significado do verbo.
Já vimos alguns exemplos com a preposição Žpñ; vamos ver agora
com a preposição di‹.
tò ŽeÜ diam‹xesyai l¡gonta tŒ b¡ltista (Plat., Górg., 503a)
o fato de sempre lutar até o fim dizendo as coisas melhores: di‹
nos dá a idéia do ato de lutar do começo até o fim.
diapl¡jantow tòn bÛon eï (Hdt., 5, 92)
tendo tramado completamente [até o fim] bem sua vida.
ù d¯ nekròn kaloèmen, Ú pros®kei dialæesyai kaÜ dia-
pÛptein kaÜ diapneÝsyai (Plat., Féd., 80c)
o que na verdade denominamos cadáver, é o que convém se dissol-
ver completamente, cair completamente e se evaporar completamente.
oédƒ õ xrñnow aétŒw dies‹fhsƒ oësaw ken‹w (Eur., Fen., 398)
nem mesmo o tempo revelou-as sendo completamente vazias.
¦fh diadej‹menow tòn lñgon õ Glaækvn (Plat., Rep., 576b)
e, recebendo a palavra por sua vez [de través], Glauco disse.

A diferença semântica no emprego do genitivo e acusativo aparece


mais nitidamente na série de construções a seguir:

a) com genitivo:
diŒ dikaÛou /dikaiosænhw poreæesyai
andar pela via do justo/ da justiça; [não atravessá-la].
diŒ filÛaw Þ¡nai tinÛ
ir [estar] em amizade com alguém, ser amigo de alguém [estar em
meio à amizade].
diƒ ôrg°w ¦xein tin‹
ter alguém em cólera [atravessado], [estar com raiva de alguém].

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554 os invariáveis: preposições

diŒ fñbou eänai


estar com medo [em meio ao medo, cercado de, numa situação de
medo].
diƒ oédenòw poieÝsyai
fazer de conta de nada [levar na conta de nada].
diŒ t‹xouw
com pressa, em meio à pressa.
diŒ kefalaÛvn
pelos topos, pelas cabeças, por cima, sumariamente.
diŒ braxut‹tvn / diú brax¡vn
com brevidade, pelos pontos mais curtos / por pontos rápidos.
diŒ tax¡vn tòn pñlemon poieÝsyai
fazer a guerra com rapidez [por espaços curtos].
diŒ m¡yhw
por embriaguês, na embriaguês, em meio à embriaguês, daí: por causa
de.
diƒ ŽkribeÛaw
com exatidão, por exatidão.
diŒ m‹xhw Þ¡nai
estar oferecendo batalha, estar em meio à batalha.
diŒ xeirÇn ¦xein
ter nas mãos, ter entre as mãos.
diŒ stñmatow ¦xein
ter na boca [atravessado na boca].
diŒ makroè
num grande intervalo [em meio a].
diŒ nuktñw
durante a noite, no meio de [no correr da noite, mas não ultrapassando].
diƒ eàkosin ¤tÇn
por vinte anos [no intervalo de vinte anos].
diŒ trÛtou ¦touw
já é o terceiro ano [no intervalo de 3 anos].

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os invariáveis: preposições 555

b) com acusativo:
diŒ toèto
por isso [passando por] > causa.
diŒ taèta
por essas coisas [passando por] > causa.
diƒù / diñ
pelo que/por que [passando por] > causa.
dia tÛ;
por quê? > causa.
diŒ dÅmata
através dos aposentos, [o ato de passar].
diŒ nækta
durante a noite [atravessando a noite, a noite toda].
diŒ t¯n nñson xrÅmeya tÒ ÞatrÒ
pela doença [por causa de] servimo-nos do médico.
ŽdikÛa aét¯ diƒ ¥aut¯n kakñn ¤stin
a injustiça ela mesma [por ela mesma] é um mal [passando por ela
mesma].

Nos verbos compostos, nos casos em que os gramáticos chamam


de prevérbios ou prefixos, di‹ significa movimento, extensão até o fim
do ato verbal e também difusão no espaço e no tempo, uma espécie de
divisão, que podemos ver com dis latino:
diabaÛnein passar por, percorrer, atravessar
diaskopeÝn observar a fundo, atravessando, até o fim, completamente
diapr‹ttein realizar, fazer até o fim, completamente
diapr‹ttesyai realizar para si, obter, realizar [finalmente]
diadidñnai dar em volta, distribuir
diaireÝn pegar por partes, distribuir
diaf¡rein levar através separando, separar, distinguir
di‹gein conduzir através, atravessar [um rio, a vida]
diam¡nein per-manecer, ficar até o fim
diafyeÛrein destruir completamente, corromper

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556 os invariáveis: preposições

Convém notar ainda, e isso é válido para todos os verbos compos-


tos, que eles têm dupla “regência”:
a) o complemento do verbo, quando expresso, no caso de verbos transitivos;
b) o complemento da relação espacial:
relações onde, para onde, de onde, por onde, respectivamente locativo,
acusativo, genitivo e acusativo.

No caso de verbos intransitivos, prevalece a relação expressa pela


preposição:
baÛnein, andar, é intransitivo; mas, parabaÛnein toçw nñmouw
- transgredir as leis, “as leis - toçw nñmouw” está no acusativo não por
causa do verbo, mas por causa da preposição, que transmite ao verbo a
idéia de movimento: passar ao lado das leis.
O acusativo é pedido pela relação espacial “ao longo de, marginal
a”; traduzindo a expressão por “transgredir” estamos nos servindo de uma
metonímia: se está ao lado, se é marginal a, não está dentro, e, se não
está dentro, está fora, e, se está fora da lei, está contra a lei.

DÛkhn

É um acusativo de relação, adverbial petrificado, com significado


de “por indicação, à maneira de”.
Pede um complemento delimitativo, restritivo: genitivo.
örniyow dÛkhn bl¡pvn nv (Plat., Fedro, 249d)
olhando lá em cima à maneira de um passarinho.

DÛxa

Em dois, cortado, separado em dois; daí a idéia de distância, afasta-


mento; daí poderá vir a idéia de diferente, contrário.
Genitivo, naturalmente.
Não se presta a composição.
dÛxa ŽriymeÝn
contar separando em dois, dois grupos.

mur06.p65 556 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 557

oåow ƒAtreidÇn dÛxa (Sóf., Aj., 750)


só, sem os Atridas [afastado].
dÛxa pñlevw (Sóf., Éd. Col., 48)
sem a cidade, longe [contrário] à cidade.

Eggæw / Meshgæ (-w)

Perto de (situação de toque), no meio de; a idéia de proximidade


leva à idéia de parentesco e parecença, mas com a idéia partitiva do toque,
contato.
Genitivo partitivo.
¤ggçw õdoÝo (K, 274)
próximo ao caminho [encostado a].
toÝw ¤ggut‹tv g¡nouw meteÝnai tÇn xrhm‹tvn (Aristóf.,
Aves, 1665)
aos em situação mais próxima da família [aos parentes mais próxi-
mos] participar dos bens.
ŽmbliÅtousÛ te kaÜ ¤ggçw faÛnontai tÇn tuflÇn (Plat.,
Rep., 508c)
[os olhos] se obscurecem e aparecem próximos dos [olhos] cegos.
Êmvn messhgæw (Y, 259)
entre os ombros [no intervalo das espáduas].
oß ßppeÝw ŽeÜ ¤ggæteron ¤gÛgnonto toè rxontow (Xen.,
Cir., 7, 5, 5)
os cavaleiros sempre se encontravam próximos do comandante.
¤ggçw tÇn ¤nen®konta ¤tÇn (Plat., Tim., 21b)
próximo dos noventa anos

mur06.p65 557 22/01/01, 11:39


558 os invariáveis: preposições

EÞw / ¤w < ¤nw

Para dentro de, na direção de (visando entrar), na intenção de, com a


finalidade de (sentidos concreto e abstrato / figurado).
Acusativo de direção.
›deiw eÞw sautòn ¤gkÅmion (Plat., Lísis, 205d)
tu estás cantando um elogio para ti mesmo [na tua direção, inten-
ção, proveito].
eÞkñw se eÞw p‹nta prÇton eänai (Plat., Cárm., 198a)
é natural tu seres o primeiro em todas as coisas [para todas as coi-
sas, para tudo].
oß Lakedaimñnioi eÞs¡balon eÞw t¯n ƒAttik®n
Os Lacedomônios se lançaram na direção da Ática [para a Ática,
contra a Ática]
¦pemcan aétoçw eÞw LakedaÛmona (Xen., Hel., 2, 2, 1)
enviaram-nos para a Lacedemônia.
¤tolm®sate Þ¡nai eÞw aétoæw (Xen., 3, 2, 16)
tivestes a ousadia de ir [marchar para, na direção] contra eles.
polloÜ ¦fugon eÞw M¡gara
muitos se refugiaram em [fugiram para] Mégara [a idéia de movi-
mento está contida em fugir, na direção de].
eÞw dikast®rion eÞsi¡nai
apresentar-se ao tribunal [ingressar no tribunal, ir para dentro do
tribunal].
l¡gein eÞw tò pl°yow
falar à multidão [na direção, na intenção de].
eÞw ndraw ¤ggr‹fein
inscrever entre os homens [para dentro do grupo dos homens].
A idéia de “in-screver” é locativa, mas o resultado é a saída (implícita)
do jovem do grupo dos efebos, e “in-gresso” (para dentro) do grupo dos
homens.
O português nos confunde com freqüência porque herdou do latim
a preposição in com dois significados e “regências”: com locativo (abla-
tivo de lugar “onde” nas gramáticas) e com acusativo (“lugar para onde”).

mur06.p65 558 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 559

No grego não há confusão possível; o caso é bastante claro e signi-


ficativo. Assim:
¤n-pÛptv > ¤mpÛptv - eu caio dentro - locativo, em que o enfoque
é sobre o lugar da queda > locativo, e
eÞspÛptv - eu caio para dentro > acusativo em que o enfoque está
no movimento da queda.
Um outro exemplo: “gravar em pedra”:
Oß ƒAyhnaÝoi toçw nñmouw eÞw lÛyouw ¦grafon
Os atenienses gravavam as leis em pedras.

Em português não percebemos que no ato de gravar o gravador


introduz os caracteres dentro da pedra: há um movimento “para dentro”;
em grego esse movimento está bem expresso:
eÞw lÛyouw gr‹fein toçw nñmouw (acusativo)
gravar as leis nas [para dentro de] pedras.
mas,
¤n lÛyoiw gegramm¡noi [oß nñmoi] (locativo)
as leis estão gravadas em pedras [in-scritas].
tñte dƒ ¦mbh nhÛ Pælonde (D, 656)
então ele embarcou num barco [navio] para Pilos [não repete a pre-
posição: ¦mbh = ¦bh ¤n (enfoque na questão do lugar onde > locativo
e não para onde)]
Ërh ’n eàh . . . ²m¡aw ¤w tŒw n¡aw ¤mbaÛnein tŒw ²met¡raw
(Hdt., 5.109)
seria [era] o momento de nós embarcarmos nos nossos navios (enfo-
que na questão de lugar para onde > acusativo).
¤n¡bh ¤w aét¯n [t¯n penthkñnteron] (Hdt., 3.41)
ele embarcou [para dentro] nele [no navio de 50 remos].
taètƒ ra, eÞpeÝn tòn Kèron, kaÜ ¤neÅraw moi (Xen., Cir.,
1, 4, 27)
por essas coisas então, disse Ciro, tu me olhavas [olhavas em mim,
pousavas os olhos em, locativo].

mur06.p65 559 22/01/01, 11:39


560 os invariáveis: preposições

suni¡nai eÞw tò ßerñn


reunir-se no templo [a idéia da reunião supõe um movimento para,
contrariamente à idéia de estar reunido no templo, ¤n tÒ ßerÒ -
locativo].
lñgow diedñyh eÞw t¯n pñlin
o boato foi espalhado [distribuído, dado] pela [para] cidade.
eÞw tŒw ¤pistolŒw gr‹fei (Dem., Fil., 3, 27)
ele escreve [registra] nas cartas [para dentro].
¤sfagÛzonto eÞw tòn potamñn (Xen., An., 43, 3, 18)
eles imolavam [as vítimas] no rio [o sangue escorria para].
lÛskesyai eÞw ƒAy®naw (Xen., Hel., 1, 1, 23)
ser preso [e enviado] para Atenas.
lamb‹nesyai eÞw polemÛouw (Iseu, 7, 8)
ser preso [tomado e levado] para os inimigos.
eÞw t¯n êsteraÛan [²m¡ran] oék ´ken (Xen., An., 2, 3, 25)
para o dia seguinte [pelo, no dia seguinte] ele não veio.
eÞw êsteraÛan gÛgnetai xeimÆn polæw (Xen., An., 4, 1, 15)
no [pelo] dia seguinte aconteceu uma grande tempestade.
f‹tƒ ¤leæsesyai µ ¤w y¡rouw µ ¤w ôpÅrhn (J, 384)
ele disse haver de vir ou pelo verão ou pelo outono.
Sñlvn tòn d°mon ±leuy¡rvse kaÜ ¤n tÒ parñnti kaÜ eÞw
tò m¡llon (Arist., Gov. dos At., 6, 1)
Sólon libertou o povo no presente e também para o futuro.
¤dñkei eÞw t¯n ¤pioèsan §v ´jein basil¡a (Xen., An., 1, 7, 1)
parecia que o rei haveria de chegar na aurora seguinte [pela aurora].
eÞw trÛthn deipn®sv ¤n t» ²met¡r& (Xen., Cir., 5, 3, 27)
em dois dias [pelo terceiro dia] eu jantarei em nossa casa.
eÞw tñte (Plat., Leis, 845c)
até então, até aquele tempo.
¤k paidòw eÞw g°raw (Ésqn., C. Tim., 180)
desde a infância até a velhice.

mur06.p65 560 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 561

eÞw t¯n nækta oß ƒAkarnnew Žp°lyon (Xen., Hel., 4, 6, 7)


pela [na entrada da] noite os Acarneanos se retiraram.
eÞw ¥sp¡ran
pela tarde [para a tarde].
¦tow eÞw ¦tow
ano para ano [entra ano sai ano, de ano a ano].
eÞw kairñn
[cai, vem] no [para o] momento oportuno.
eÞw dæo
por dois, dois a dois.
eÞw d¡on
para o que é preciso.
eÞw kalñn
a propósito, caiu bem, para bem.
eäxe tojñtaw kaÜ sfendon®taw eÞw tetrakosÛouw (Xen., An.,
3, 6)
[Mitridates] tinha cerca de 400, [lá pelos, 400 mais ou menos] ar-
queiros e besteiros [fundibulários].
eÞw dænamin
na direção da capacidade [para a capacidade segundo a].
xr®simon eÞw tòn pñlemon
útil para a guerra [para a finalidade de]. Poderia ser também mera
relação nominal (complemento nominal, com dativo).
xr®simon tÒ pol¡mÄ: nesse caso não haveria a idéia de finali-
dade, intenção; seria complemento nominal (em português a dife-
rença é muito sutil).
xr®mata ŽnalÛskein eàw ti
gastar recursos para alguma coisa [com a finalidade de].
eÞw tòn pròw ²mw pñlemon pl¡on µ pentakisxÛlia t‹lan-
ta par¡sxe
para essa guerra contra nós [o rei dos persas] forneceu [aos esparta-
nos] mais do que 5.000 talentos.

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562 os invariáveis: preposições

eålon tri®reiw tŒw p‹saw ¤w tŒw diakosÛaw (Tuc., 1, 100, 1)


eles tomaram todas as trirremes até 200.
oék eÞw periousÛan ¤pr‹ttetƒ aétoÝw tŒ t°w pñlevw (Dem.,
Ol., 3, 26)
as coisas da cidade não se lhes faziam para enriquecimento.
eÞw x‹rin Žpodoènai (Tuc., 2, 40, 5)
pagar [retribuir] para agradecimento [em vista de].
eÞw ŽndreÛan …Ervti oéd¢ …Arhw ŽnyÛstatai (Plat., Banq., 196d)
para a coragem [em relação à coragem] para o Amor nem mesmo
Ares se coloca contra.
ƒAyhnaÝow eä, pñlevw t°w megÛsthw kaÜ eédokimvt‹thw eÞw
sofÛan kaÜ Þsxæn. (Plat., Apol., 29d)
tu és ateniense [de Atenas], da cidade que é a maior e a mais afa-
mada para a sabedoria e para o poder.
eÞw tñde ´komen
chegamos a isto [para isto].
eÞw toèto yr‹souw kaÜ ŽnaideÛaw ŽfÛketo (Dem., 21, 194)
ele chegou a isso [esse ponto] de audácia e impudência.
eÞw tosoètñn eÞsi tñlmhw Žfigm¡noi (Plat., Lís., 12, 22)
eles chegaram a um ponto tão grande de ousadia.
frñnimow eÞw tú t°w pñlevw
sensato [moderado, prudente] para as coisas da cidade [em relação a].
eÞw êmw l¡gein
dirigir a palavra a [para] vós.
YesmoforÛoiw Õxeto eÞw tò ßerñn (Plat., Lís., 1, 20)
nas Tesmofórias ele se dirigia ao templo.
ŽndrÇn sç faælvn örkouw eÞw ìdvr gr‹fe (Prov.)
Juramentos de homens levianos inscreve [tu] na água [para].
eÞw „Ell®sponton eÞs¡plei (Xen., Hel., 1, 1, 2)
[Dorieu] entrou [navegando, de barco] no Helesponto [para dentro do]

mur06.p65 562 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 563

Eàsv

Para dentro de, para dentro do espaço de.


Não é uma preposição, na medida em que não se presta a composição.
Mas tem um valor espacial, adverbial e se usa nas relações de tem-
po e espaço com complemento restritivo, limitativo.
Daí o emprego do genitivo.
O enfoque é sobre o complemento limitativo e não sobre o movimento.
tò M¡nvnow str‹teuma ·n eàsv tÇn ôrÇn (Xen., An., 1, 2,
21)
a expedição de Mênon estava dentro [no interior] das montanhas.
par°lyon eàsv aétoè [toè teÛxouw] (Xen., An., 2, 4, 12)
eles fizeram o caminho [acompanhando] por dentro da própria
muralha.
aß eàsv st¡ghw (Sóf., Traq., 202)
as [que estão] dentro da morada [teto]

ƒEk / ¤j
¤k diante de consoante; ¤j diante de vogal; de (oposto a eÞw), (la-
tim: ex/e): de dentro para fora (no espaço e no tempo), a partir de, de,
origem, ponto de partida, de iniciativa.
Naturalmente pede genitivo (genitivo-ablativo), porque significa
separação, origem, ponto de partida, parte. Concreto e abstrato (figurado).
¤k Sp‹rthw feægei
em exílio de Esparta [banido de Esparta].
¤k dejiw
à direita [a partir da direita].
¤k yal‹tthw
do mar [a partir do mar].
¤k paÛdvn
desde a infância [a partir da infância].
¤k palaioè [xrñnou]
desde antigamente, desde o tempo antigo.

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564 os invariáveis: preposições

¤k toè deÛpnou
da refeição [imediatamente] depois da refeição [de dentro de].
¤k patròw xrhstoè paÝdew faèloi gÛgnontai
de pai honesto nascem filhos vis.
·san aß ƒIvnikaÜ pñleiw Tissaf¡rnouw, tò ŽrxaÝon, ¤k ba-
sil¡vw dedom¡nai, (Xen., An., 1, 1, 6)
As cidades jônicas eram, antigamente, de Tissafernes, doadas pelo
rei [da parte do rei].
lñgon ¤k lñgou l¡gein
fazer um discurso a partir de outro [tirando do outro, segundo, se-
guindo o outro].
¤k tÇn õmologoum¡nvn
a partir das coisas acordadas.
¤j àsou
igualmente [a partir de igual, de igual].
¤j Ž¡lptou
de improviso [a partir do inesperado].
¤j Žprosdok®tou
de improviso [a partir do não conveniente].
tŒ ¤k t°w g°w fuñmena (Xen., Mem., 4, 3, 10)
as coisas que nascem da terra [a produção da terra].
paÝdew aétÒ oék ¤gÛgnonto ¤k t°w gunaikñw (Xen., Hel., 6,
4, 37)
não lhe nasceram filhos dessa mulher.
¤k xrusÇn pÛnomen fialÇn (Xen., Cir., 5, 3, 3)
nós bebemos de taças de ouro.
J¡rjew ¤k t°w „Ell‹dow ŽpexÅrei (Xen., An., 1, 2, 9)
Xerxes saia da Grécia [estava abandonando a Grécia].
pÇw ¦xei ¤k toè traæmatow ; (Xen., Cir., 5, 4, 10)
como ele está depois do ferimento? [a partir de].
¤bouleæonto ¤k tÇn parñntvn (Tuc., 3, 29, 2)
eles deliberavam a partir dos acontecimentos presentes.

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os invariáveis: preposições 565

boælontai ¤k pantòw trñpou kakÇw me poieÝn (Lís., 14, 1)


eles querem de toda maneira [a partir de] me prejudicar.
toçw ¤pistrateuom¡nouw ¤k t°w xÅraw ¤j¡bale (Licof. c.
Leócr., 98)
ele expulsou do país os que avançavam sobre ele [o país].
Žfiknoènto ¤k t°w „Ell‹dow aß presbeÝai (Xen., An., 6, 1, 4)
da Grécia chegavam as embaixadas.
¤j Žgorw ¤kp¡pratai taèta (Dem., Fil., 3, 36)
essas coisas são compradas no mercado (do mercado).
¤k t°w yal‹tthw ‘pasa êmÝn ³rthtai ² svthrÛa (Xen.,
Hel., 7, 1, 6)
toda a vossa salvação depende do mar [está dependurada, depen-
dente de, é a partir de].
¤j Žd‹mantow (Plat., Rep., 616c)
de aço [coisa dura].
¤j Žrx°w
desde [do] princípio.
¤j ÷tou
desde o que.
oß ¤j ¤keÛnvn gegonñtew (Lís., 2, 17)
os que nasceram deles.
oék ¤k xrhm‹tvn Žret¯ gÛgnetai, Žllƒ ¤j Žret°w xr®-
mata (Plat., Ap., 30b)
a virtude não se origina dos bens, mas os bens, da virtude.
toèto ¤poÛei ¤k toè xalepòw eänai (Xen., An., 1, 6, 9)
ele fazia isso por ser severo [do fato de, a partir de].
z°n ¤k toè sukofanteÝn
viver da delação [de ser sicofanta].
ploæsioi gegñnasin ¤k tÇn êmet¡rvn (Lís., 28, 8)
eles ficaram ricos às vossas custas [a partir de vossos bens].
¤j Žn‹gkhw
por necessidade, a partir da necessidade.

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566 os invariáveis: preposições

¤k xeirñw
de perto [ao alcance da mão, a partir da mão].
¤k tÇn parñntvn
a partir das coisas [circunstâncias] presentes.
¤k tÇn loipÇn
a partir do restante [para o futuro].
¤k toè ¤mfanoèw
a partir do manifesto, a descoberto.
Como as outras preposições, ¤k / ¤j se presta a composições com
verbos, semanticamente compatíveis; também nesse caso podemos ob-
servar duas “regências”, isto é, se a relação de lugar está expressa, ela está
no genitivo-ablativo:
¤j¡lyete dñmvn
saí dos aposentos.
mas se, além da relação espacial houver um complemento do verbo, esse
estará no caso conveniente:
¤j‹gete dñmvn tòn doèlon
retirai dos aposentos o escravo.
Pode acontecer também que o significado da preposição se funda
com o significado verbal e com ele produza um todo significativo; nesse
caso observamos que ¤k / ¤j trazem ao verbo uma idéia:
• ou de um início abrupto da ação:
¤kgel‹v irrompo numa gargalhada
• ou de um acabamento, esgotamento da ação:
¤jerg‹zomai eu executo, realizo, completamento (a obra).
Vê-se aí uma fusão de significados, o que leva alguns gramáticos a
denominar essas preposições de prevérbios vazios.
Não cremos que a multiplicação de epítetos contribua de maneira
eficiente para tornar claras as relações entre as palavras.
O que acontece nesse caso, como em muitos outros de verbos ou
nomes compostos, é uma ampliação do significado primeiro, original, do
advérbio/preposição; mas nunca há um esvaziamento do significado. A
linha semântica se mantém; só ela é a segurança do falante.

mur06.p65 566 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 567

„Ek‹w, §kaw

Longe, distante.
Genitivo, naturalmente.
lÛhn gŒr nhÇn ¥kŒw ·lyomen (J, 469)
pois chegamos bem longe das naus.

ƒEktñw [¦ktos-yen] fora de.

Relação espacial em que o enfoque não está na relação “para fora


de”, mas sim sobre o complemento restritivo, limitativo: fora do quê?
Genitivo, naturalmente.
¤ktñw tinvn ôlÛgvn Žposb¡nnuntai (Plat., Rep., 498a)
fora um pequeno número, eles se estinguem.
¤ktòw t°w ²met¡raw öcevw (Plat., Rep., 499c)
fora de nossa visão [do alcance de].
kæmatow ¤ktòw ¦erge n°a (M, 219)
segura a nau fora da onda [do alcance de].
zhlÇ sƒ õyoænekƒ ¤ktòw aÞtÛaw kureÝw (Ésquilo, Prom., 330)
eu te invejo pelo que te achas fora de culpa.

ƒEn

-¤g- antes de g,k,x, -¤m- antes de b,p,f - (Hom. ¤nÛ, eÞnÛ, eÞn)-
(latim: in, inter), em, dentro de (estático), no meio de (estático), nas rela-
ções de espaço e de tempo, sentido concreto ou figurado.
Locativo (dativo de lugar para as gramáticas).
¤n ƒAy®naiw
em Atenas.
¤n t» pñlei
na cidade [nesta cidade].
¤n t» „Ell‹di
na Grécia.

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568 os invariáveis: preposições

¤n †Aidou (oàkÄ)
no Hades [na casa de].
² ¤n SalamÝni naumaxÛa
a batalha naval em [de] Salamina.
² ¤n MarayÇni m‹xh
a batalha de [em] Maratona.
tñte t¯n ¤n NotÛÄ ¤nÛkhse naumaxÛan (Xen., Hel., 2, 1, 6)
Então [Lisandro] foi vencedor da batalha naval em Notium.
¤n d®mÄ l¡gein
falar no meio do povo.
¤n nomoy¡taiw nñmon y¡syai
colocar [estabelecer, fazer] uma lei, entre legisladores [nas mãos de],
[no meio de].
¤n m‹rtusin
entre as testemunhas.
¤n toætoiw
entre esses, entre essas coisas.
¤n p¡ltaiw, tñjoiw diagvnÛzesyai
combater em meio a escudos, arcos.
¤n ÷ploiw pareÝnai
estar em armas [de prontidão].
¤n ôfyalmoÝw õrn
ver diante dos olhos, nos olhos.
¤n toætÄ tÒ ¦tei
nesse ano.
¤n ôlÛgaiw ²m¡raiw
em poucos dias [dentro de].
¤n tÒ ¤mÒ lñgÄ me ¤legj‹tv (And., Mist., 35)
que ele me refute no meu discurso [meu tempo de falar].
¤n tÒ ¤mÒ ìdati (Dem., Cor., 139)
na minha água [durante o meu tempo da clepsidra].

mur06.p65 568 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 569

¤n ôrg» ¦xein tin‹


ter alguém em ódio [guardar raiva de alguém].
¤n soÜ p‹nta ¤stÛn (Xen., Ec., 7, 14)
tudo está [apoiado] em ti [tudo depende de ti].
¤n tÒ yeÒ tò t°w m‹xhw t¡low
o fim [êxito] da batalha está na divindade [apoiado em, nas mãos
de].
¤n soÜ túw ¤lpÛdaw ¦xousi t°w aêtÇn svterÛaw
Em ti eles colocam as esperanças de sua própria [deles mesmos]
salvação, (Isócr., 5, 55)
¤n tÒ dikaÛvw rxein ² pñliw sÅzetai
no governar com justiça a cidade é salva.
Kèrow ¤paideæyh ¤n PersÇn nñmoiw
Ciro foi educado nas leis dos persas.
¤n t¡xnú tinÜ eänai
ser [estar] hábil em alguma arte.
¤n kairÒ
no momento oportuno.
¤n t‹jei
em fileira, [em ordem unida].

Como as outras preposições, também ¤n se compõe com verbos


semanticamente compatíveis e acrescenta o seu significado ao do verbo.
Algumas vezes, contudo, há uma aparente inflexão à regra: nos
casos em que ¤n, que tem significado estático, se compõe com verbos de
movimento. Já vimos isso ao comentarmos a preposição eÞw (¤mpÛptv
/ eÞspÛptv); depende do ponto de vista, em que o enfoque se faz: sobre
o movimento ou sobre o lugar onde:
cair para dentro / cair dentro

mur06.p65 569 22/01/01, 11:39


570 os invariáveis: preposições

…En-anta / ¦nanti / ¤nantÛon

Em face de, em presença de.


Seriam dois acusativos adverbiais ou acusativos de relação, petrifi-
cados (¦nanta - ¤nantÛon) e um locativo petrificado (¦nanti).
O genitivo de complemento nominal delimitativo, restritivo, de
separação é natural.
¤nantÛon p‹ntvn l¡gein (Tuc., 6, 25, 1)
falar diante de todo o mundo, do lado oposto, contrário.
oß m¢n yeoÜ nta yeÇn àsan (U, 75)
os deuses foram contra deuses.
² kardÛa sou oék ¦stin eéyeÛa ¦nanti toè Yeoè (Atos Apóst.,
8, 21)
o teu coração não está direito diante de Deus.

†Eneka / eáneka / §neken

Por causa de, pela razão de ser de um fato, em vista de.


Também seria um acusativo petrificado e o genitivo se explica pela
necessidade do complemento delimitativo, determinativo, restritivo ou
de separação, na medida em que a idéia de “por causa de” implica tam-
bém na idéia de “em troca de”.
Sempre posposto ao nome.
Repousaria sobre um antigo tema significando vontade *Wekat-,
*Wekht-, §kati/§khti.
ìbriow §neka t°sde (A, 110)
por causa desta ofensa [em razão de].
dokeÝ... oðtow... dedhlvk¡nai ÷ti Žret°w g ƒ §neka kaÜ toè bel-
tÛvn gen¡syai pn ’n pantÜ proyumhyeÛh (Plat., Banq., 195b)
ele parece ter deixado claro que por causa da virtude e de se tornar
melhor desejaria tudo por tudo.
ƒApñllvnñw gƒ §khti (u, 86)
por vontade de Apolo.
¦rgou dƒ §kati toède mhnÛsaw (Sóf., Traq., 274)
tendo-se irritado por causa deste ato

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os invariáveis: preposições 571

ƒEntñw

Dentro de (latim - intus)


O enfoque está na relação locativa “dentro de”, situação de imobilida-
de, mas sobretudo no complemento limitativo, restritivo: dentro do quê?
Genitivo, naturalmente.
¤yn¡vn tÇn ¤ntòw †Aluow potamoè (Hdt., 1, 6)
dos povos de dentro do rio Hális [do lado de cá].
¤ntòw ¥sp¡raw (Xen., Cir., 4, 11)
dentro da tarde [antes da noite].
¤ntòw draxmÇn pent®konta (Plat., Leis, 953)
dentro de 50 dracmas [não passa de].
katoikoèmen ¤ntòw ÷rvn „HrakleÛvn (Plat., Tim., 24c)
nós habitamos dentro, [do lado de dentro, de cá] das colunas de
Hércules.
¤ntòw oé polloè xrñnou (Antif., Assas. de Her., 69)
dentro de [no decorrer de] não muito tempo.
¤ntòw triÇn mnÇn kekt°syai (Arist., Gov. dos At., 49, 4)
possuir [estar de posse de] dentro de (cerca de) 3 minas [não além de].

…Ejv

Fora de (latim foras, foris)


O enfoque não está na relação de lugar “de onde” no sentido de
proveniência, mas no enfoque sobre o complemento limitativo, restritivo:
fora do quê?
Genitivo, naturalmente.
¦jv teÛxouw Þ¡nai, (Plat., Fedro, 230b)
ir fora das muralhas [do lado de fora].
¦jv toætvn Ïn eàrhkaw (Xen., Hier., 1, 7)
fora dessas coisas que disseste.

mur06.p65 571 22/01/01, 11:39


572 os invariáveis: preposições

…Ejvyen
O mesmo que o anterior, apenas reforçado com a partícula -yen,
que enfatiza a idéia de separação.
Genitivo naturalmente.
sugkay®menoi ¦jvyen tÇn ÷plvn ¤jaÛfnhw Žkoæomen
yoræbou polloè (Xen., 5, 7, 21)
reunidos, instalados desarmados (fora dos equipamentos), de repen-
te ouvimos muita algazarra.

ƒEp¡keina
Do lado de lá, ultrapassando, ulteriormente; idéia de separação.
Genitivo, naturalmente.
Žn¡bainon toè „HerakleÛou ¤p¡keina (Xen., Hel., 5, 1, 10)
eles subiram além do [templo] de Heraclés.
õrmn eÞw tò ¤p¡keina t°w g°w (Plat., Féd., 112b)
dirigir-se até além da terra.

ƒEpÛ
¤p- diante de vogal não aspirada, ¤f- diante de vogal aspirada).
Em cima, sobre (contato pleno, estático) > locativo (dat. nas gra-
máticas), idéia de acréscimo, superposição.
Sentido figurado: acréscimo; sobre, apoio parcial (pontual) > geniti-
vo (partitivo).
Sobre / para cima de, com movimento, direção, intenção > acusativo.

Locativo:
¤pÜ xyonÜ sÝton ¦dontew
que comem pão no chão [sentados no chão].
oß ƒAyhnaÝoi eäxon ¤mpñrion ¤pÜ tÒ stñmati toè Strumñnow
os atenienses mantinham um entreposto na embocadura do Strimon.
¤pÜ t» yal‹ttú oÞkeÝn
habitar sobre o mar [à margem de, na orla, em cima].

mur06.p65 572 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 573

oß ¤pÜ psi
os sobre todos [os que seguem o exército], a retaguarda.
¤pÜ tÒ trÛtÄ shmeÛÄ §pesy¡ moi
[no] sobre o terceiro sinal, [em cima do terceiro sinal] acompanhai-me.
oß ¤pÜ toÝw kam®loiw
os sobre os camelos [os que vigiam sobre, os encarregados].
¤pÜ toÝw ¦rgoiw diatrÛbein
ocupar-se com os trabalhos [passar o tempo sobre os trabalhos].
¤pÜ toÝw polemÛoiw eänai
estar sobre os inimigos [sobre os inimigos, em cima de, em posição
de ataque].
xaÛrein ¤pÛ tini
alegrar-se com alguma coisa [baseado em].
ŽganakteÝn ¤pÛ tini
contrariar-se com [sobre] alguma coisa, [reclamar].
¤pÜ tñkoiw daneÛzein
emprestar sobre juros.
¤pÜ êmÝn keÝtai õ nñmow
sobre [contra] vós jaz [está disposta] a lei.
l¡gein ¤pÛ tini
fazer um discurso sobre algo/alguém.
tò ¤pƒ ¤moÛ
no que está sobre mim [quanto a mim, no que me concerne].
tò ¤pÜ psi toÝw sÅmasi k‹llow (Plat., Banq., 210a)
a beleza que está em [sobre] todos os corpos.
toÝw polemÛoiw Žp®nthsan ¤pÜ toÝw ôrÛoiw t°w BoivtÛaw
(Licof., C. Leócr., 47)
eles se encontraram com os inimigos sobre as fronteiras da Beócia
[perto de].
¤fƒ ‘pasin ²mÝn ŽnÛstatai Dhmosy¡nhw (Ésqn., Emb., 49)
sobre todos nós Demóstenes se sobrepõe [está por cima].

mur06.p65 573 22/01/01, 11:39


574 os invariáveis: preposições

semnænesyai ¤pÜ taÝw tÇn progñnvn ŽretaÝw, (Isócr., 16, 29)


orgulhar-se sobre as virtudes dos antepassados.
gevrgÛai ¤pÜ metrÛaiw misyÅsesi (Isócr., Aerop., 32)
arrendamentos sobre contratos [pagamentos] moderados.
¤pÜ àsú kaÜ õmoÛ& (Tuc., 1, 27, 1)
sobre [condição] igual e parecida [semelhante].
tÒ gŒr ¤pÜ fresÜ y°ke yeŒ leukÅlenow †Hrh (A, 55)
a este a deusa de braços alvos, Hera, pôs na mente [por inteiro].
fñnow ¤pÜ fñnÄ xea tƒ xesin (Eur., If. T., 197)
assassinato sobre assassinato, dores sobre dores.
Žp®ggellon oß pr¡sbeiw ¤fƒ oåw oß Lakedaimñnioi poioÝn-
to t¯n eÞr®nhn (Xen., Hel., 2, 4, 32)
Os embaixadores passaram a anunciar sobre que [condições] os La-
cedemônios fariam a paz.
¤pÜ soÜ m‹la pollƒ ¦payon (I, 492)
sobre ti [em cima de ti, por causa de ti] eu sofri muitas coisas.
t¯n genom¡nhn ¤pÜ tÒ M®dÄ summaxÛan (Tuc., 1, 102)
a aliança acontecida sobre o Medo [rei da Pérsia] [às custas de].
Éw ·n ´liow ¤pÜ dusmaÝw (Xen., An., 7, 3, 34)
como o sol estava sobre seu poente.
¤pÜ soÛ ¤sti l¡gein (Xen., Mem., 6, 36)
está sobre ti falar [tu podes, está em teu poder ...].
¤pÜ tÒ sÛtÄ eéyæw ŽrxÅmeya pÛnein ìdvr (Xen., Cir., 6, 2, 27)
sobre os alimentos [depois de] imediatamente [direto] comecemos a
tomar água.
¤pÜ toætoiw
em cima dessas coisas, sobre, depois.
plhgŒw labeÝn ¤pÛ tini (Xen., Cir., 1, 3, 16)
receber pancadas a propósito de algo [sobre, por causa de].

mur06.p65 574 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 575

¤pÜ m¢n ¤pÇn poi®sei †Omhron m‹lista teyaæmaka, ¤pÜ


d¢ tragÄdÛ& Sofokl¡a ¤pÜ d¢ ŽndriantopoiÛ& Polæklei-
ton ¤pÜ d¢ zvgrafÛ& Zeèjin (Xen., Mem., 1, 4, 3)
sobre [na] a poesia épica eu admiro [estou admirado] sobretudo Ho-
mero; sobre [na] a tragédia, Sófocles; sobre [na] a escultura [esta-
tuária] Políclito e sobre [na] a pintura [de animais] Zeúxis.

Genitivo: (partitivo, metafórico).


Kèrow proéfaÛneto ¤fƒ ‘rmatow
Ciro aparecia na frente sobre a carruagem (apoio parcial).
t» ¤pÜ Yr–khw
as regiões sobre a Trácia (limítrofes a/uma parte de).
¤pÜ S‹mou pleÝn
navegar sobre Samos (metonímia > um ponto qualquer de Samos).
O genitivo marca com freqüência a idéia contrária (contra), tam-
bém com outras preposições.
Há coerência nisso; na relação contra, além do impulso, movimen-
to (acusativo) podemos ver o espaço que separa, o ponto de partida ou a
diferença de cima para baixo (genitivo).
¤pÜ KroÛsou rxontow
sobre Creso reinante [num ponto qualquer do reinado de Creso, em
Creso reinante, no reinado de Creso].
¤pÜ toè prot¡rou pol¡mou
num momento, num ponto qualquer da guerra anterior.
oß ¤pÜ pragm‹tvn
os que estão sobre os negócios (metafórico).
ƒAlkibi‹dhw ¦plei ¤pÜ t°w ¤m°w neÅw (Lís., 21, 6)
Alcibíades viajava no meu barco (apoio pontual, parcial).
yæein ¤pÜ tÇn bvmÇn (Xen., Mem., 1, 1, 12)
oferecer sacrifício sobre os altares (apoio pontual).
õrn ·n ¤pÜ tÇn yurÇn gunaÝkaw (Licof. C, Leócr., 40)
era possível ver mulheres nas portas (apoio pontual).

mur06.p65 575 22/01/01, 11:39


576 os invariáveis: preposições

kat‹skopon p¡mcai ¤pÜ LudÛaw (Xen., Cir., 6, 1, 31)


enviar um espião à Lídia (metonímia, pontual).
ŽnexÅrhsan ¤pƒ oàkou (Tuc., 1, 30, 2)
eles se retiraram para casa (metonímia).
parelyÆn ¤pÜ Yr–khw (Dem., Cor., 87)
tendo-se apresentado na Trácia (metonímia).
¤pƒ ¤jousÛaw kaÜ ploætou poneròn eänai (Dem., Mid., 138)
ser malvado no poder e na riqueza (metonímia).
Žllƒ ¤pÜ p‹ntvn faÛnetai proúrhm¡now mƒ êbrÛzein (Dem.,
Mid., 38)
mas é visível que sobre todas as coisas ele, deliberadamente se dispõe
a me provocar (metafórico).
eäpen, ¤pÜ kaloè l¡gvn paidñw eélabeÝsyai (Plat., Cárm., 155b)
ele disse, falando sobre um belo rapaz, para tomar cuidado (metafórico)
¤pÜ tÇn ŽdelfÇn tò aétò toèto Žgnooèsin (Xen., Mem.,
2, 3, 2)
essa mesma coisa eles desconhecem sobre [seus] irmãos (metafórico).
“ ¤pÜ tÇn llvn õrte taètƒ ¤fƒ êmÇn aétÇn ŽgnoeÝte
(Isócr., Paz, 114).
as coisas que vós olhais [vedes] sobre os outros, essas vós ignorais
sobre vós mesmos (metafórico).
¤pÜ k¡rvn
em colunas [alas] (metafórico).
¤pÜ kairoè
a propósito [sobre a oportunidade] (metafórico).
¤pÜ kefalaÛvn
por capítulos [por resumos] (metafórico).
¤pÜ t°w ôligarxÛaw
sob a oligarquia, [na oligarquia] (num momento > pontual > partitivo).
¤pÜ t°w dhmokratÛaw
sob a democracia, [na democracia] (num momento > metafórico/
pontual).

mur06.p65 576 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 577

¤fƒ ²mÇn
nos nossos dias (num momento > metafórico/pontual).
¤pÜ kefal°w f¡rein ti (Xen. An.4.3.6)
portar algo sobre [na] cabeça (metafórico/pontual).

Acusativo: sobre, em cima de, associado à idéia de movimento, fi-


nalidade, intenção.
ŽnabaÛnein ¤fƒ áppon
montar a cavalo, subir no cavalo (movimento).
¤pÜ psan t¯n ƒAsÛan
por toda a Ásia (extensão).
¤pÜ d¡ka ¤tÇn misyoèn
contratar por dez anos (extensão).
strateæein ¤pÛ tina
fazer uma expedição contra [sobre] alguém (movimento).
bohyeÝn ¤pÛ tina
vir em socorro a alguém.
¤pÜ y®ran Þ¡nai
ir com intenção de caçar.
¤pƒ aétò toèto p‹reimi
é para isso mesmo que estou presente.
Éw ¤pÜ tò polæ
como muitas vezes, [como sobre outras vezes].
tò ¤pƒ ¤m¡
no que me concerne.
àtv tiw ¤fƒ ìdvr (Xen., Cir., 5, 3, 50)
alguém vá à água [vá buscar água, vá por água].
yuom¡nÄ aétÒ ¤pÜ treÝw ²m¡raw oék ¤gÛgneto tŒ ßer‹
(Xen., An., 6)
a ele [Cleandro] que oferecia sacrifícios por três dias [sobre três
dias] não aconteciam sinais sagrados [presságios].

mur06.p65 577 22/01/01, 11:39


578 os invariáveis: preposições

õ ƒEfi‹lthw kayÛzei ¤pÜ tòn bvmñn, (Arist., Gov. dos At., 25, 3)
Efialtes vai sentar-se sobre o altar (mov.).
¤pƒ Žret¯n gein toçw n¡ouw (Xen. Caça, 13, 1)
conduzir os jovens para a virtude.
¤pƒ ŽspÛda (Xen., Cir., 7, 5, 6)
sobre [contra] o escudo [isto é, sobre a esquerda]
¤pistrateæein ¤pÜ toçw ¤nageÝw, (Ésqn., C. Ctes., 108)
fazer uma expedição sobre [contra] os ímpios.
tò ömma dænatai ¤pÜ pollŒ st‹dia ¤jikneÝsyai (Xen.,
Mem., 1, 4, 17)
a vista é capaz de chegar [completamente] (alcançar) sobre muitos
estádios.
¤pÜ §j µ ¥ptŒ ²m¡raw ŽnyÅrmoun (Tuc., 2, 86, 5)
por [sobre = duração] 6 ou 7 dias eles estavam ancorados.
¤pÜ ¦th trÛa toçw tÇn tur‹nnvn fÛlouw Èstr‹kizon
(Aristót., Gov. dos At., 22, 6)
por três anos [sobre] eles exilavam os amigos dos tiranos.
aßroèntai d¡ka tÇn politÇn aétokr‹toraw ¤pÛ t¯n toè
pol¡mou kat‹lusin (Aristót., Gov. dos At., 38, 1)
eles escolhem dez plenipotenciários dentre os cidadãos para a ces-
sação da guerra.
oß YhbaÝoi p¡mpousin ¤pÜ duoÝn tri®roin ndraw ¤pÜ sÝton
(Xen., Hel., 5, 4, 56)
os tebanos enviam homens sobre duas trirremes para [buscar] tri-
go, [por trigo].
¤pÜ pn
sobre tudo [em relação a tudo].
¤pÜ pñda
pé sobre pé.
¤pƒ àson
[sobre igual] igualmente.
·lye ¤pÜ n°aw ƒAxaiÇn (A, 12)
ele chegou às [sobre] naus dos Aqueus.

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os invariáveis: preposições 579

÷ss‹ te gaÝan ¦pi pneÛei te kaÜ §rpei (P, 447)


quantos [seres] respiram e rastejam [por] sobre a terra.
²meÝw gŒr gnoÜ toépÜ [tò ¤pÜ] t®nde t¯n kñrhn (Sóf., Ant.,
889)
na verdade nós estamos puros no que se refere a [no que é sobre]
esta jovem.

EéyeÛan

eéyæ, eéyæw
Direto, rumo a, na direção de, com complemento limitativo, restri-
tivo, partitivo, pontual.
Genitivo, naturalmente.
eéyeÛan é um acusativo de relação e contém implícita õdñn (ca-
minho, rota, roteiro). Eéyæ é o neutro no acusativo de relação e eéyæw é
uma variante do anterior, apenas com o -w protegendo a vogal.
¦pleon eéyç L¡sbou (Xen., Hel., 1, 2, 11)
eles navegavam direto para Lesbos [para um ponto de Lesbos - noção
partitiva].

†Evw

Até, na direção de.


Com idéia de movimento sugere um acusativo de direção.
Mas quando prevalece o enfoque do ponto de chegada, a idéia de
contato sugere o genitivo partitivo.
§vw oð Žp¡dejan p‹saw aét‹w (Hdt., 2, 143)
até que (o que) eles fizeram a exposição de todas (as estátuas).

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580 os invariáveis: preposições

Kat‹

katƒ antes de vogal não aspirada, kayƒ antes de vogal aspirada.


• de cima para baixo, extensão sobre uma coisa, deslizante; daí às vezes
tem um sentido distributivo, em relação a alguma coisa, uma direção para
alguma coisa, no tempo e no espaço, acusativo (concreto e figurado);
• de cima para baixo, perpendicular (ou partitivo, contato com a super-
fície), abrupto (adv. k‹tv - em baixo), daí contra (concreto e figura-
do), genitivo.

Genitivo:
b° d¢ katƒ Oélæmpoio kar®nvn (A, 44)
ele desceu dos cimos do Olimpo.
taèta m¢n d¯ katŒ p‹ntvn PersÇn ¦xomen l¡gein (Xen.,
1, 2, 16)
são, na verdade, essas as coisas que temos a dizer contra os Persas todos.
katŒ xyonòw ¦kruce (Sóf. Ant. 24)
ela enterrou [o irmão] debaixo da terra [para baixo da terra >
partitivo].
tòn katŒ g°w (Xen., Cir., 4, 6, 5)
o debaixo da terra [para baixo > partitivo].
áento katŒ pranoèw ghlñfou (Xen., An., 1, 5, 8)
eles se lançavam da descida da colina.
¤leÛbeto aét» tŒ d‹krua katŒ tÇn pareiÇn (Xen. Cir.,
6, 4, 3)
As lágrimas escorriam-lhe pelas faces.
mæron katŒ t°w kefal°w kataxeÝn (Plat., Rep., 398a)
fazer escorrer perfume de sobre a cabeça.
² d¢ ƒAtlantÜw n°sow katŒ t°w yal‹tthw dèsa ±fanÛsyh
(Plat., Tim., 24c)
a ilha Atlantis [Atlântida] tendo mergulhado no mar [para baixo,
mar abaixo] desapareceu.
oék Êknoun katƒ aétoè l¡gein FilÛppou (Ésqn., Emb., 30)
eu não tinha medo de falar contra o próprio Filipe.

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os invariáveis: preposições 581

t¯n eÞr®nhn katŒ t°w patrÛdow throèsin (Dem., Cor., 89)


eles procuram a paz contra a pátria.
trñpaion st®somen kayƒ ²mÇn aétÇn (Isócr., Arq., 10)
nós levantaremos um troféu contra nós mesmos.
polçw ¦painow ·n katŒ t°w ²met¡raw pñlevw (Ésqn., C.
Ctes., 124)
havia um grande louvor “contra” nossa cidade (na direção de, a res-
peito de: metáfora].
katŒ t°w g°w êpodæomai épò t°w aÞsxænhw Žkoævn taèta
(Xen., An., 7, 7, 11)
eu me enfio na terra [sob a terra] sob efeito de vergonha ouvindo
[ao ouvir] essas coisas.
prÇton m¢n mnhsy®somai, Î ndrew, ù teleutaÝon katƒ
¤moè eäpe (Xen., Hel., 2, 32, 35)
em primeiro lugar vou relembrar, senhores juízes, o que por últi-
mo ele [Crítias] falou contra mim.
m‹rturaw parasxeÝsyai kat‹ tinow (Plat., Górgias, 472a)
apresentar testemunhas contra alguém.

Acusativo:
¦pleon katŒ tòn potamñn (Hdt., 3, 109)
eles navegavam descendo o rio.
katŒ t¯n poreÛan (Ésqn., Emb., 56)
no curso da expedição [acompanhando].
tò ìdvr katŒ toçw t‹frouw ¤xÅrei (Xen., Cir., 7, 5, 16)
a água se escorria pelas trincheiras.
proelyeÝn katŒ t¯n õdñn (Xen., An., 4, 2, 16)
avançar pelo caminho [seguindo o caminho].
¦sthsen „Ermw katŒ tŒw õdoæw (Plat., Híp., 228b)
ele erigiu Hermas ao longo dos caminhos.
plantai f®mh katŒ t¯n pñlin (Ésqn., C. Tim., 127)
um boato paira sobre a cidade (se estende).

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582 os invariáveis: preposições

¦xidnai katŒ psan t¯n g°n eÞsi (Hdt., 4, 44)


há víboras por todo o país.
katŒ g°n kaÜ katŒ y‹lattan (Xen., Hel., 2, 1, 10)
por terra e por mar.
¦kplhjin kat‹ te toçw Žgroçw kaÜ ¤n t» pñlei ¤poÛhse
(Xen., Hel., 4, 7, 3)
ele provocou uma estupefação nos campos [pelos campos: acusativo
de extensão] e também na cidade (locativo).
keÝtai ² KefallhnÛa katŒ ƒAkarnanÛan (Tuc., 2, 30, 2)
a Cefalênia está situada à altura da Acarnânia.
Éw katŒ ƒAbrad‹tan ¤g¡neto ¦sth (Xen., Cir., 7, 1, 13)
assim que ele “aconteceu” [chegou] à altura de Abradata, estacionou.
¦yento tŒ ÷pla katŒ t¯n õdòn t¯n ¤pÜ t¯n ŽkrŒn f¡rou-
san (Xen., An, 5, 2, 19)
colocaram as armas ao longo da rua que levava à parte alta da cida-
de [cidade alta].
oß katŒ toçw †Ellhnaw tetagm¡noi (Xen., An., 2, 3, 19)
os que estavam organizados [enfileirados] contra os gregos. Aqui o acu-
sativo enfoca mais o movimento, a intenção, do que o espaço que separa.
õ Lukoèrgow katŒ toçw „HrakleÛdaw l¡getai gen¡syai
(Xen., Rep. dos Lac., 10, 8)
dizem que Licurgo existiu no tempo dos Heráclidas.
m¡gistow ·n tÇn kay„ aêtñn (Xen., Hel., 6, 4, 28)
[ Jasão] era superior aos do seu tempo (relação).
¤‹n tiw kat‹ ti kakòw gÛgnhtai kolast¡ow ¤stÛn (Plat.,
Górg., 527b)
se alguém se torna mau em alguma coisa [segundo, quanto a] deve
ser punido.
eédaÛmonew gegñnasi katŒ p‹nta (Hipér., Or. Fún., 42)
eles se tornaram [estão] felizes sob todos os pontos de vista [segundo
todas as coisas].

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os invariáveis: preposições 583

tÇn kayƒ ¥autoçw ŽnyrÅpvn Žristeæsantew (Xen., Mem.,


3, 5, 10)
tendo-se distinguido como os melhores dentre os homens de seu
tempo [em relação a eles mesmos, segundo eles mesmos].
deÝpnon katŒ fÇw ¤poioèto purŒ d¢ næktvr oék ¦kaon
(Xen., Cir., 3, 3, 25)
eles faziam [tomavam] as refeições com a luz (do dia) e não acendi-
am fogueiras à noite.
poreæesyai katŒ tŒ àxnh (Xen., Caça, 8, 2)
marchar (caminhar) seguindo (segundo) as pegadas.
katŒ t¯n manteÛan toè yeoè (Ésqn., C. Ctes., 108)
segundo [conforme] o oráculo da divindade.
katŒ dñgma boul°w (Xen., Hel., 6, 5, 33)
conforme decisão [parecer] do Conselho.
katŒ PÛndaron (Plat., Fedr., 227b)
segundo Píndaro.
kayƒ ÷son oåñw te eÞmÛ (Plat., Banq., 212b)
o quanto eu sou capaz [segundo, conforme o quanto].
katŒ spoud¯n feægein (Xen., An., 7, 6, 28)
fugir com presteza.
¤gÆ y¡lv diabib‹sai êmw katŒ tetrakisxilÛouw õplÛtaw
(Xen., An., 3, 5, 8)
quanto a mim, eu quero vos passar à razão de 4.000 soldados por vez
(distributivo).
poina...dæo mn¡ai tatagm¡nai katƒ ndra aÞxm‹lvton
¤ktÛnein (Hdt., 6, 76)
estavam estipuladas como resgate duas minas a pagar por cada ho-
mem prisioneiro (distributivo).
kayƒ ¥k‹sthn t¯n ¤kklhsÛan (Dem., Emb., 170)
a cada assembléia (distributivo).
krin¡syvn oß ndrew kayƒ §na §kaston (Xen., Hel., 1, 7, 23)
que esses homens sejam julgados um por um (distributivo).

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584 os invariáveis: preposições

katŒ m¡row ful‹ttein (Xen., An., 5, 1, 9)


montar a guarda por partes [por destacamento > distributivo].
katŒ smikròn ŽpokrÛnesyai (Plat., Prot., 338c)
responder por partes [em detalhes] (distributivo).
toçw katŒ xilÛouw Žpoyn¹skontaw tÛw ’n Žriym®seien
(Isócr., Paz, 87)
os que morrem [morriam] aos milhares (distributivo) quem os con-
taria [poderia contar]?!
¤j¡pemc¡n me ‘ma katƒ ¤mporÛan kaÜ katŒ yevrÛan (Isócr.,
Trapez., 4)
ele me enviou em vista de comércio e ao mesmo tempo para observa-
ção (em relação a).
katŒ kr‹tow (Dem.)
à força.
katŒ mñnaw (Xen.)
a cada uma, separadamente.
katƒ ôlÛgouw (Tuc.)
pouco a pouco [aos poucos].
katŒ mikrñn (Aristót.)
pouco a pouco [aos poucos].
kayƒ ²suxÛan (Dem.)
em paz [em tranqüilidade].
katŒ m¡row (Tuc.)
em parte.
katŒ m¡rh (Plat.)
por partes [em detalhe].
katŒ trñpon (Isócr.)
com modo [de maneira conveniente].
katŒ braxæ (Tuc.)
aos poucos [pouco a pouco].
katŒ t‹xow (Tuc.)
às pressas [com pressa].

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os invariáveis: preposições 585

katŒ pñdaw (Tuc.)


rapidamente [segundo os pés].
aétòw kayƒ aêtñn (Isócr.)
ele por ele mesmo [ele por si].
katŒ =ñon
segundo [seguindo] a corrente.
katŒ tò eéÅnumon k¡raw
pela ala esquerda [seguindo a ala].
katƒ ¤keÝnon tòn xrñnon
naquele tempo, por aqueles tempos.
oß kayƒ ²mw
os no nosso tempo [os segundo nós].
tò katƒ Žrx‹w
do começo, quanto ao começo, pelo começo.
katŒ treÝw
três a três.
katŒ fèla
por [cada] tribo.
kayƒ ²m¡ran
durante o dia [segundo o dia].

Em composição com verbos, kat‹ significa para baixo descendo,


seguindo o processo, e por isso às vezes, “seguindo até o fim, esgotando o
processo verbal” (acusativo) ou então com enfoque sobre o ponto de partida
se exprime pelo genitivo-ablativo; nesses casos a idéia de contra aparece
naturalmente; com verbos de opinião ou sensação passa a exprimir opi-
nião ou sensação desfavorável, contrária.
Aqui também, como nos outros compostos, podem aparecer dois
casos: o exigido pela relação da preposição e outro exigido pela relação
do verbo com seu complemento.
katab®seo dÛfrou (E, 109)
desce da carruagem! (ponto de partida).

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586 os invariáveis: preposições

oéd¢n Žgenn¢w êmÇn katagignÅskv (Dem., 21, 152)


eu não penso contra vós nada infamante (julgamento desfavorável,
acusação, contra).
tÛnew kat°rjan, pñteron †Ellhnew, m‹xhw; (Ésq., Pers., 351)
quem começou [começaram] a guerra, acaso foram os gregos? (en-
trada no processo verbal).
oìtv l¡geiw µ ¤gÆ oék ôryÇw katamany‹nv; (Plat., Parm.,
128a)
tu estás afirmando assim ou sou eu que não estou entendendo bem
(extensão e acabamento do processo verbal).
pñteron... toçw fælakaw kayistÇmen (Plat., Rep., 421b)
ou nós vamos estabelecer (deliberativo) os guardiães [completamente].
katabaÛnein descer, (andar para baixo)
kat¡rxesyai chegar descendo, voltar
katakñptein abater, cortar completamente
katak‹ein pôr fogo, incendiar (e queimar) completamente
katafageÝn comer completamente, consumir
katagoreÝn acusar, falar de cima para baixo
katagoreæein de-clamar, de-nunciar, de-nominar (praedicare)
katageln rir de cima para baixo, zombar, ridicularizar
katadik‹zein proferir sentença contra (de cima), condenar
katapolemeÝn guerrear completamente, vencer na guerra
katadapann gastar tudo, esbanjar
katatiy¡nai de-por

Katantikræ (ver Žntikræ)

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os invariáveis: preposições 587

Katñpin

Atrás, depois, mais tarde.


Acusativo petrificado.
Idéia de separação no espaço e no tempo.
Genitivo, naturalmente.
katñpin ¥ort°w ´komen (Plat., Górg., 447a)
chegamos depois da festa.
katñpin ²mÇn ¤peis°lyon ƒAlkibi‹dhw te kaÜ KritÛaw
(Plat., Prot., 216a)
depois [atrás] de nós sobrevieram Alcibíades e Crítias.

Kræfa / kræpta

Às escondidas, à socapa.
Idéia de afastamento, separação.
Acusativo petrificado.
Genitivo, naturalmente.
êp¡sxonto kræfa tÇn ƒAyhnaÛvn (Tuc., 1, 101, 2)
eles prometeram às escondidas dos atenienses.
kræfa patrñw (Pínd., Pít., III)
às escondidas do pai.

L‹yra / l‹yr&

Escapando ao conhecimento de, sem o conhecimento de.


Idéia de separação.
Acusativo e instrumental petrificados.
Genitivo, naturalmente.
taètƒ ¤poi®sato l‹yr& toè Žndrñw (Xen., Cir., 6, 4, 2)
ela fez [fizera] essas coisas sem o conhecimento do marido.

mur06.p65 587 22/01/01, 11:39


588 os invariáveis: preposições

Met‹

metƒ antes de vogal não aspirada, meyƒ antes de vogal aspirada.


• no meio de, participação dos dois, contato físico de parte (partitivo), me-
tope: espaço (que se vê) entre dois triglifos
• no meio de, entre, com (alguém carregado, entre, no meio de pacotes >
com):
Genitivo, naturalmente.
Essa idéia favorece o emprego no sentido figurado igual a com, no
meio de, entre, contato, participação; sinônimo de em, dentro de com
enfoque sobre o espaço e não sobre o contato:
• Locativo (dativo locativo nas gramáticas); é pouco usado por haver ou-
tras preposições que exprimem essa idéia.
• Com movimento, mudando de um para outro, entrada num (outro) gru-
po; mudança de posição interna ou externa; transformação com idéia tem-
poral de seqüência e posterioridade, sucessão (depois de): Acusativo
Nos verbos compostos: mudança, transformação, participação.

Genitivo:
metƒ ¤moè xaÛrousi diatrÛbontew (Plat., Apol., 33b)
eles se comprazem passando o tempo comigo [entretendo-se].
meyƒ êmÇn kekinduneækamen (Xen., Hel., 2, 4, 20)
nós corremos risco convosco [no meio de vós, participantes].
metŒ parrhsÛaw l¡gv (Dem., Fil., 3, 3)
eu estou falando com franqueza.
d¡omai êmÇn metƒ eénoÛaw Žkro‹sasyai (Iseu, 6, 1)
eu vos peço [de vós] (de) me ouvirdes com benevolência.
metŒ toè nñmou Õmhn mllñn me deÝn diakinduneæein µ meyƒ
êmÇn gen¡syai (Plat., Apol., 32b)
eu pensava dever suportar os perigos mais com a lei (participante)
do que estar junto a vós [no meio de].
ƒIndÇn basileçw metŒ toè ±dikoum¡nou ¦stai (Xen., Cir., 2,
4, 7)
o rei dos hindus estará ao lado do injustiçado (participante).

mur06.p65 588 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 589

ßppeÝw ¤Œn ²meÝw metƒ aétÇn genÅmeya ¦sontai pleÛouw µ


xÛlioi (Xen., Hel., 5, 2, 14)
[em] cavaleiros, se nós estivermos junto com eles, seremos mais do
que mil.
aétòw kaÜ oß metƒ aétoè (Xen., Hel., 3, 3, 11)
ele e os com ele [ juntos].
metŒ tÇn summ‹xvn kinduneæein
combater [correr risco] junto com os aliados [em meio a].
oß metƒ ƒAriaÛou (Xen., An., 1, 10, 1)
os com Arieu [do bando de].
pleÝn metŒ d¡ka tri®rvn (Xen., Hel., 4, 9, 24)
navegar com dez trirremes [em meio a; a idéia do instrumental deve
ser afastada].
ßketeæein metŒ pollÇn dakrævn (Plat., Apol., 34c)
suplicar com muitas lágrimas [em meio a; não é instrumental].
metŒ kindænvn tŒw mel¡taw poeÝsyai (Tuc., 1, 18, 7)
exercer as atividades com perigo [em meio a perigos, no meio de].
toætvn oéd¢n ’n y¡loimi ktsyai metƒ ŽdikÛaw (Xen., An.,
2, 6, 18)
dessas coisas eu nada queria [quereria] possuir com injustiça [junto
com; não é instrumental].

Acusativo:
metŒ toèto Musòw eÞs°lyen (Xen., An., 6, 1, 9)
depois disso entrou um Mísio.
metŒ tŒ must®ria d¡ka naèw ŽpesteÛlate (Dem., Ol., 3, 4)
depois dos mistérios enviastes dez navios.

Em composição:
met¡xv tinñw eu tomo parte de, eu participo de alguma coisa ou
com alguém
metap¡mpomaÛ tina eu mando buscar alguém (mando atrás de)
metanoÇ (e) eu penso (reconheço) depois > eu lamento, me
arrependo, mudo de opinião

mur06.p65 589 22/01/01, 11:39


590 os invariáveis: preposições

metaf¡rv eu transporto, faço mudar


metafor‹-w, ² transporte
metatÛyhmi eu faço mudar de posição
met‹yesiw-evw, ² mudança, troca de posição (lit.: para o espaço
seguinte)
metab‹llv eu lanço um depois do outro, eu manipulo algo (ti),
eu lido com (tini)

Metajæ

No espaço interno entre dois pontos; idéia de partitivo, porque toca


os dois lados; no intervalo de (tempo e espaço).
Genitivo, naturalmente.
polçw xrñnow ¤g¡neto õ metajç t°w dÛkhw te kaÜ toè
yan‹tou (Plat., Féd., 58c)
um longo tempo aconteceu, o no intervalo da sentença e a morte
[entre a sentença e a morte].
FilÛppÄ ·n sumf¡ron Éw pleÝston tòn metajç xrñnon
gen¡syai tÇn ÷rkvn (Dem., Cor., 26)
para Filipe era interessante o maior tempo possível acontecer no
intervalo dos juramentos [até os juramentos, isto é, entre o momento
de Filipe e os juramentos; um dos pontos está implícito].
metajç toætoin mfoin ¤n m¡sÄ ön (Plat., Rep., 583c)
estando no meio, entre essas duas coisas (Gen. do dual).
metajç tÇn lñgvn (Plat., Fedro, 230a)
no intervalo dos discursos, durante a conversa.
skeu¯n metajç t°w te Persik°w kaÜ t°w Paktuik°w (Hdt.,
7, 85)
um equipamento entre o dos persas e o dos páctios.

mur06.p65 590 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 591

M¡xri ( -w ) (Hom., m¡sfa)

Até (que), idéia de contato, toque no ponto de chegada.


Genitivo (partitivo), naturalmente.
Žpò toè Pñntou m¡xri Sardoèw (Aristóf., Vespas, 700)
do Ponto até à Sardenha.
m¡xri t°w ¤keÛnou zv°w (Hdt., 3, 160)
até a vida dele (o ponto final de).
m¡xri mnw (Plat., Leis, 764)
até uma mina (o limite de).
m¡xri t°w t®meron ²m¡raw (Dem., Emb., 328)
até o dia de hoje.

Nñsfi (-n)

Longe de, separado de.


Seria um antigo locativo; o -n é apenas eufônico.
O complemento delimitativo, restritivo, pede o genitivo, naturalmente.
Não aparece no dialeto ático; apenas em Homero e em alguns líricos.
nñsfin ƒAxaiÇn (E, 803)
longe dos aqueus [afastado de].
oëte tiw oïn potamÇn Žp¡hn, nñsfƒ ƒVkeanoè (U, 7)
nem mesmo algum dos rios estava ausente, exceto Oceano.

„Omoè

Junto de, perto de; idéia de lateralidade.


Dativo, naturalmente. Ver ‘ma.
õmoè toÝw †Hllhsin ¤stratopedeæsanto (Xen., Hel., 3, 2, 5)
eles [os odrisos] acamparam junto aos gregos [perto de].
õmoè tÒ tÛktein pareg¡neyƒ ² kñrh (Plat., Teag., 129d)
a jovem tinha chegado perto de parir.

mur06.p65 591 22/01/01, 11:39


592 os invariáveis: preposições

õmoè pñlemñw te dam˜ kaÜ loimñw ƒAxaioæw (A, 61)


a guerra e a peste junto [juntas, ao mesmo tempo] domam os
aqueus (uso adverbial, sem relação: sem caso)
¦pipton nekroÜ õmoè TrÅvn kaÜ DanaÇn (R, 362)
caíam mortos juntamente dos troianos e dânaos [adverbial; os geni-
tivos TrÅvn - DanaÇn são complementos nominais de nekroÛ].

…Opisyen / öpisye
Literalmente: de trás, atrás (separado) a partir de trás.
Genitivo, naturalmente.
öpisyen p¡mpen oïron (O, 34)
de trás ele enviou um vento (uso adverbial).
öpisyen ¤moè eÞsi¡nai (Plat., Banq., 174e)
entrar de trás de mim, depois de mim.
Þd¡ fÇw kañmenon öpisyen aétÇn (Plat., Rep., 514b)
olha [com a mente] uma tocha acesa atrás deles [por de trás].

Par‹ (paraÛ)

Ao lado de (ao longo de, lado a lado) sem contato, com todas as
variantes espaciais (questões poè, onde?, poÝ, para onde? pñyen, de onde?),
respectivamente locativo, acusativo, genitivo-ablativo).
Locativo: junto a, ao lado de, na casa de (by, inglês; bei alemão;
chez, francês; apud, prae, latim).
oé parŒ mhtrÜ sitoèntai oß paÝdew ŽllŒ parŒ tÒ didas-
k‹lÄ (Xen., Cir., 1, 2, 8)
os meninos não fazem a refeição junto à mãe [em casa], mas junto
ao mestre [na casa do mestre].
oß parŒ basileÝ öntew (Xen., An., 1, 5, 1)
os que estão ao lado do rei [a corte, os áulicos, os chegados ao rei].
tŒ parƒ ¤moÛ (Xen., An., 1, 7, 4)
as coisas em casa [quanto ao que me concerne].

mur06.p65 592 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 593

timÇmai m‹lista p‹ntvn kaÜ parŒ yeoÝw kaÜ parŒ Žn-


yrÅpoiw (Xen., Mem., 2, 1, 32)
eu [a virtude] sou honrada muito mais do que todos, quer junto
aos deuses quer junto aos homens.
dokeÝw parƒ ²mÝn oé bebouleèsyai kakÇw (Sóf., Traq.)
tu pareces não teres deliberado mal junto a nós [entre nós].
parŒ nhusÜ korvnÛsi mimn‹zein (Hom.)
permanecer junto às curvas naus.
oé taétŒ parŒ toÝw M®doiw kaÜ ¤n P¡rsaiw dÛkaia õmolo-
geÝtai, (Xen.)
não as mesmas coisas são concordadas [acordadas] [serem] justas
junto aos Medos e entre os Persas.
kaÜ parƒ ¤moÜ tiw ¤mpeirÛa ¤stÛn
também [até] em mim [ junto a mim] existe uma certa experiência.
o㠒n paideuyÇsi parŒ toÝw dhmosÛoiw didask‹loiw, ¦jestin
aétoÝw ¤n toÝw ¤f®boiw neaniskeæesyai (Xen., Cir., 1, 2, 15)
é possível [permitido] aos que por acaso são educados (aoristo) junto
a mestres públicos passar a juventude entre os efebos.
oß parƒ ²mÝn (Plat., Féd., 64b)
os junto a nós [os nossos, a nossa gente, os do nosso tempo].
Acusativo: para junto de, para as vizinhanças de, passar ao lado de,
ao longo de
õ XeirÛsofow p¡mpei parŒ JenofÇnta toçw peltast‹w
(Xen., An., 4, 3, 27)
Querísofo envia seus peltastas para junto de Xenofonte
·n parŒ t¯n õdòn kr®nh (Xen., An., 1, 2, 13)
havia uma fonte ao longo do caminho [às margens, à beira].
parŒ gnÅmhn ¤m®n (Ésql., Supl., 454)
contra a minha exspectativa [ao lado, e não dentro, da minha opinião].
parƒ ¤l‹xiston d¯ ·lye tò ƒAyhnaÛvn kr‹tow t°w yal‹s-
shw Žfel¡syai, (Tuc., 8, 76)
faltou muito pouco (passou por muito perto, ao lado) de o poder
marítimo dos atenienses ser tirado [por Samos].

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594 os invariáveis: preposições

ÉmologeÝto parŒ toèton gen¡syai t¯n svterÛan aêtoÝw


(Isócr., 6, 52)
concordou-se que a própria salvação estava ao lado deles [passava
junto a eles].
parŒ tŒ lla zÒa Ësper yeoÜ oß nyrvpoi bioteæousin
(Xen., Mem., 1, 4, 14)
junto aos outros animais [comparando com] os homens vivem como
deuses.
parŒ taæthn t¯n pñlin ·n puramÜw liyÛnh (Xen., An., 3, 4, 9)
junto [ao lado, ao longo] dessa cidade havia uma pirâmide de pedra.
¦pemcan pr¡sbeiw parŒ …Agin (Xen., Hel., 2, 2, 11)
eles enviaram embaixadores para junto de Ágis.
·san llai kÇmai parŒ tòn TÛgrhta potamñn (Xen., An.,
3, 5, 1)
havia outras aldeias ao longo do rio Tigre.
÷ra parŒ toèto tò teixÛon f¡rontaw ŽnyrÅpouw skeæh
pantodap‹ (Plat., Rep., 514b)
observa ao longo dessa mureta homens portando toda espécie de
objetos.
m¯ parŒ tŒ deinŒ ¤gkatalipeÝn tòn d°mon (Ésqn., C. Ctes,
170)
não abandonar o povo no perigo [ao longo do perigo].
parŒ taæthn t¯n ŽpodhmÛan p‹nta tŽnantƒ ¦pratton
(Dem., Emb., 172)
durante [ao longo de] aquela viagem eu praticava todas as coisas
contrárias.
parŒ mikròn ·lyon ŽpoyaneÝn (Isócr., 19, 22)
por pouco [passando por perto] eu cheguei a morrer.
parŒ dæo c®fouw Žp¡fuge (Hipér., P. Eux., 28)
por dois votos [passando por perto] ele escapou [foi absolvido].
kaÜ parŒ dænamin (Tuc., 8, 2, 2)
mesmo além do seu poder [passando ao lado > ultrapassando].

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os invariáveis: preposições 595

sæ dƒ ƒAristñdhme parƒ ƒErujÛmaxon kataklÛnou (Plat.,


Banq., 175a)
e tu, Aristodemo, vai deitar-te ao lado de Erixímaco [ao longo de].
·ge toçw neanÛskouw parŒ tòn XeirÛsofon (Xen., An., 4, 3, 14)
ele levou os rapazes para junto de Querísofo.
¦pleon parŒ g°n (Xen., An., 3, 5, 1)
navegavam ao longo da terra [costeando].
² parƒ „Ell®sponton FrugÛa (Xen., Cir., 4, 2, 30)
a Frígia [situada] ao longo do Helesponto.
¥kÇn ¤pñnei parŒ toçw llouw (Xen., Ages., 5, 3)
ele trabalhava de boa vontade além dos outros [passando por].
parŒ toçw nñmouw
ao lado da lei [marginal > contra as leis].
parŒ pñton
durante a bebiba [bebendo, ao longo de].

Nos verbos compostos, essa preposição mantém o seu significado


de passar ao lado, ultrapassar, exceder.
pareÝnai estar ao lado, presente (ad esse)
parakaleÝn chamar para o lado de, invocar, (in vocare)
parapleÝn navegar ao lado, costear
par¡rxesyai passar ao longo, ultrapassar
parabaÛnein passar ao lado, marginar > transgredir

Genitivo-ablativo: da parte de, a partir do lado de, da casa de, con-


creto e figurado.
ƒHÆw dƒ ¤k lex¡vn parƒ Žgauoè TiyvnoÝo Êrnuyƒ (L, 1)
A aurora se levantava de seu leito, [a partir] do lado do radiante
Titon.
tŒ parŒ soè legñmena (Xen., Cir., 6, 1, 42)
as palavras que vêm de ti (ditas de tua parte, a partir de ti: não é
exatamente um agente da passiva; é um enfoque diferente).

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596 os invariáveis: preposições

taèta oß †Ellhnew puny‹nontai parŒ pursÇn (Hdt., 7,


182)
os gregos se informam dessas coisas a partir de sinais de fogo.
parƒ ¤keÛnou mayeÝn Éw xr¯ polemeÝn (Isócr., 16, 11)
aprender dele [de junto dele] como é preciso fazer a guerra.
² parŒ tÇn yeÇn eënoia
a benevolência dos deuses [da parte de, de junto de].
parŒ basil¡vw polloÜ pròw Kèron Žp·lyon (Xen., An.,
1, 9, 29)
muitos passaram, do rei [de junto do rei], para Ciro.
parŒ Kærou ¦labe trisxilÛouw dareikoæw (Xen., An., 5, 6,
18)
[Silanos] pegou três mil dáricos de Ciro [da parte de].
taèta parŒ soè ¤m‹yomen (Xen., Cir., 2, 2, 6)
essas coisas nós aprendemos de ti [de junto de, a partir de].
¤y¡lv parŒ soè ¤jagg¡llein (Xen., Cir., 7, 5, 54)
eu quero fazer o anúncio em teu nome [da tua parte].
parƒ ¥autoè prostiy¡naÛ ti (Xen., Hel., 5, 1, 3)
acrescentar algo de seu [de seus próprios bens].

P‹row

Diante de, antes.


Seria uma variante de par‹, mas em situação frontal, de separa-
ção; pedindo um complemento limitativo, restritivo.
Pede genitivo, naturalmente.
Seu uso é arcaico (Homero e alguns poetas líricos), e se pospõe ao
determinado.
oë tiw... DanaÇn... eëjato TudeÛdao p‹row sx¡men Èk¡aw
áppouw (Y. 254)
nem algum dos dânaos se vangloriou diante do filho de Tideu de
ter cavalos rápidos.

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os invariáveis: preposições 597

P¡ran / P¡ra / P¡r&

Construídas sobre a raiz pr / per / por significando passagem,


de um elemento para outro; mas p¡ran / p¡ra seriam um antigo acusa-
tivo e p¡r&, instrumental, petrificados, e por isso pedem depois de si um
complemento limitativo, restritivo.
Genitivo, naturalmente.
¦sti tò xvrÛon toèto p¡ran toè potamoè (Tuc., 5, 6)
essa região está do outro lado do rio (passando o rio).
p¡ra mesoæshw ²m¡raw (Xen., An., 6, 5, 7)
além do meio dia [passando de].
p¡ra toè d¡ontow (Plat., Górg., 487d)
além do que é preciso [para lá do necessário].
tÇn kakÇn pepeÛramai p¡r& toè pros®kontow (Antif.,
Assas. de Her., 1)
dos males eu já experimentei além do conveniente.

PerÛ

Em torno de (com idéia de passagem - nem sempre em redor de).


Construído sobre a raiz pr / per / por

Acusativo: direção, extensão, relação, movimento (para cercar, en-


volver) dar voltas, proximidade.
perÜ toçw pñdaw perieileÝn ti (Xen., An., 4, 5, 36)
enrolar alguma coisa em torno dos pés.
perÛ ti eänai
ocupar-se de algo (estar em volta de algo, às voltas com).
dikow perÛ tina
injusto em relação a alguém, para com alguém, em torno de.
perÜ tŒ Mhdik‹
no tempo das guerras médicas, por volta de.

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598 os invariáveis: preposições

¤k¡leuse toætouw y¡syai tŒ ÷pla perÜ t¯n aêtoè skhn®n


(Xen., An., l, 6, 4)
ele mandou-os colocarem as armas em torno de sua própria tenda.
³dh ·n perÜ pl®yousan Žgor‹n (Xen., An., 2, l, 7)
era já por volta [em torno] de o mercado se encher.
perÜ toçw aétoçw xrñnouw (Isócr., 16, 33)
por aqueles mesmos tempos [por volta de].
perÜ deÛlhn ôcÛan (Licofr. c. Leócr., 16)
por volta do cair da tarde, [em torno de].
perÜ tò fyinñpvron (Tuc., 3, 100, 2)
lá pelo fim [por volta de] do outono [ao desfazer-se].
Žp¡yanon perÜ pent®konta kaÜ diakosÛouw (Xen., Hel., 4, 5,
l7)
morreram por volta [ao redor] de duzentos e cinqüenta.
õ perÜ tòn áppon (Xen., Equit., 6, 3)
o cavalariço [o que se ocupa, que está em torno do cavalo].
kaÜ oðtoi m¢n perÜ taèta ·san (Xen., 2, 2, 4)
também esses estavam em volta dessas coisas [estavam preocupados
com, estavam voltados para].
spoud‹zein perÜ t¯n politeÛan (Isócr., 8, 5l)
ter interesse, solicitude em relação ao governo [quanto à forma de
governo, em torno de].
tŒ perÜ tòn pñlemon (Plat., Rep., 467a)
as coisas referentes [que concernem, em torno de] à guerra.
tŒ perÜ tŒw t¡xnaw (Plat., Rep., 467a)
as coisas referentes [que concernem] às artes.
perÜ tòn ßeròn tòn ¤n DelfoÝw ±s¡boun (Ésquin. c. Ctes., 107)
eles estavam em situação de impiedade [eram sacrílegos] em rela-
ção ao templo de [em] Delfos [em torno de].
perÜ toèton sfñdra ¤spoud‹kasin (Licofr. c. Leócr., 106)
eles já tiveram [e continuam tendo] muito interesse por ele [em
torno de, em relação a].

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os invariáveis: preposições 599

t¯n perÜ toçw n¡ouw ¤pim¡leian sunet‹janto (Licofr. C.,


Leócr., 108)
eles regulamentaram o cuidado [os assuntos, a educação] que con-
cerne aos jovens [referente aos jovens].
kakÛouw (kakÛonew) eÞsÜ perÜ ²mw (Xen., An., 1, 4, 8)
eles são piores em relação a nós [para conosco, em torno de].
tŒ perÜ toçw yeoæw (Xen., Cir., 1, 23)
as coisas referentes aos deuses [o culto dos deuses, que envolvem os
deuses, em torno de].
mayeÝn tŒ perÜ t¯n gevrgÛan (Xen., Econ., 20, l)
entender [aprender] as coisas referentes à agricultura [que giram em
torno].
oß perÛ tina
os em torno de alguém [os companheiros, os sequazes, a corte].
t‹fron Êrutte perÜ t¯n pñlin (Xen., Hel., 5, 2, 4)
ele cavava [mandou cavar] um fosso em torno da cidade.
² PenÛa ·n perÜ tŒw yæraw (Plat., Banq., 203b)
Pobreza estava às portas [rondava as portas].
eìroi n tiw aétŒw oék ¤l‹ttouw perÜ toçw barb‹rouw
(Plat., Rep., 544d)
alguém as encontraria [poderia achar] não menores entre os bárba-
ros [lá pelo meio de].
oß perÜ tò stu tÇn politÇn (Plat., Híp., 228b)
dos cidadãos, os em volta da cidadela [os do centro].
kÇmai pollaÜ perÜ tòn potamòn ·san (Xen., An., 4, 4, 3)
havia [existiam] muitas aldeias nas cercanias do rio.
Genitivo: figurado / poético / abstrato: sobre, a respeito de (< em
torno de).
A abstração, o sentido figurado, contém a idéia de distancia-
mento, dando uma visão global que só é possível pela distância; é isso
que explica o uso do genitivo.
perÜ toè dikaÛou diam‹xesyai (Lís., 2, 17)
lutar pela coisa justa, pelo direito [a respeito, em torno de].

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600 os invariáveis: preposições

perÜ tÇn koinÇn Émognñoun (Isócr., Aerop., 145)


eles estavam de acordo a respeito das coisas comuns [públicas].
² ²met¡ra pñliw ŽgvnÛzetai perÜ toè t°w patrÛdow ¤d‹-
fouw (Ésquin., C. Ctes., 132)
nossa cidade está lutando pelo solo da pátria [a respeito de].
l¡gein, bouleæesyai perÛ tinow
falar, deliberar sobre, [a respeito de] algo.
Demosy¡nouw êp¢r KthsifÇntow perÜ toè stef‹nou lñgow
o discurso de Demóstenes sobre a coroa, em favor de Ctesifonte.
k®rukaw ¦pemce perÜ spondÇn (Xen., An., 3, 1)
ele enviou mensageiros a respeito dos tratados.
õ perÜ t°w cux°w pròw toçw polemÛouw ŽgÅn (Xen., Mem.,
12, 1)
o combate a respeito da vida [pela vida] contra os inimigos.
¤foboènto perÜ t°w xÅraw ÷ti ³kouon dúoum¡nhn (Xen.,
An., 5, 5, 7)
eles temiam pelo país [estavam com medo a respeito], porque o ou-
viam devastado [que estava sendo devastado].
tetim°syai perÜ p‹ntvn (Y, 38)
estar honrado [receber honra] acima de todos [em conjunto] (sen-
tido figurado).
perÜ p‹ntvn ¦mmenai llvn (A, 287)
estar acima de todos os outros [de todos em conjunto] (sentido
figurado).
tŒ pleÛstou jia perÜ ¤laxÛstou poieÝtai (Plat., Apol., 30)
ele faz o menor caso das coisas dignas de mais valor [ele faz para si
muito pouco caso, faz de muito pouco].
õ Kèrow perÜ pantòw ¤poieÝto diapr‹ttesyai, (Xen., Cir.,
1, 4, 1)
Ciro fazia grande caso [fazia acima de tudo (sentido figurado) fazia
para si de muito valor] vencer [levar a cabo, executar].

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os invariáveis: preposições 601

Locativo: em torno de (sem movimento, estático, como um anel)


oß Yr˜kew xitÇnaw foroèsin oé mñnon perÜ toÝw st¡rnoiw
ŽllŒ kaÜ perÜ toÝw mhroÝw
Os trácios portam mantos não só sobre o peito [o tórax] mas tam-
bém sobre os membros [em torno de].
dedi¡nai, yarreÝn perÛ tini
temer, não temer [confiar em, sobre] alguém [algo].
perÜ toÝw filt‹toiw kubeæein
jogar dados sobre as coisas mais caras [os mais queridos].
yÅraka ¦xousi perÜ toÝw st¡rnoiw (Xen., Cir., 1, 2, 13)
eles portam uma couraça em torno do peito.
streptoçw eäxon perÜ toÝw trax®loiw kaÜ c¡lia perÜ taÝw
xersÛn (Xen., An., 1, 5, 8)
eles tinham [portavam] colares em volta do pescoço e braceletes em
torno das mãos [braços].
Zeçw ¦deise perÜ tÒ g¡nei ²mÇn m¯ Žpñloito pn (Plat.,
Prot., 322c)
Zeus temeu sobre [em torno] de nossa raça que não perecesse toda.
ptaÛein perÛ tini
tropeçar em algo [contra algo, em volta de].
sf‹llesyai perÛ tini
falhar [escorregar em] em torno de algo.
¤pÛstasye tòn b‹rbaron aétòn perÜ aêtÒ tŒ pleÛv
sfal¡nta (Tuc., 1, 69, 5)
vós sabeis que o bárbaro falhou nele [em si mesmo, em torno de si
mesmo] na maior parte das coisas.

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602 os invariáveis: preposições

Pl®n

Seria um antigo acusativo petrificado (J. Humbert), com signifi-


cado de “ao lado de, quase, perto de”, daí o significado mais comum de
“fora de, exceto, salvo”, com idéia de exclusão, separação.
O próprio significado exige um genitivo.
t°w ÞdÛaw ¤lpÛdow pl¯n ¥nòw Žndròw ‘pantew ¤ceæsyhsan
(Isócr., Elogio de Hel., 41)
todos foram desenganados [frustrados] de sua própria esperança,
exceto um homem só.
skuleæein... toçw teleut®santaw pl¯n ÷plvn (Plat., Rep.,
469c)
despojar os que morreram exceto as [das] armas.

PlhsÛon

É outro acusativo petrificado (de relação, adverbial) do adjetivo


plhsÛow,a,on, próximo, vizinho.
Por isso a necessidade de um complemento nominal restritivo, li-
mitativo, no genitivo.
tò dikast®rion plhsÛon ·n toè desmothrÛou (Plat., Féd.,
59d)
o tribunal estava próximo (perto) da prisão.

Pñrrv / Pñrsv / Prñssv

Para frente, na frente de (distante do objeto referente).


A situação de distanciamento sugere o genitivo de separação. Às
vezes prevalece a idéia de distância apenas, sem localização precisa.
Mas, com sentido figurado, é comum a idéia de avanço, ousadia; aí
o genitivo tem a característica de partitivo ou restritivo.
boulñmenow ¤mautòn Éw porrvt‹tv poi°sai tÇn
toioætvn êpociÇn (Isócr., Nicocl., 38)
querendo me colocar [fazer] o mais distante possível desse tipo de
suspeitas.

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os invariáveis: preposições 603

õ d¢ StrumÆn (eàh) oé pñrrv toè „Ellhspñntou (Hdt., 5,


13)
[ele dizia que] o rio Strimon não estaria distante do Helesponto [a
partir de].
dielegñmhn pñrrv tÇn nuktÇn (Plat., Banq., 217d)
eu discutia até bem tarde da noite [até uma avançada a partir do
começo da noite, noite adentro].
(¦doj¡ moi) prob®sesyai... pñrrv moxyhrÛaw (Xen., Ap., 30)
ele me pareceu que avançaria muito além no [de] vício.

Prñ

Diante de, na frente de > antes (de), (ante e pro em latim).


Lutar na frente de (pôr-se à frente de, para defender > pro-filaxia)
Genitivo de separação (espaço e tempo).
No sentido figurado significa: no interesse de, e de preferência a (sem-
pre com a idéia de interpor-se).
Mas, às vezes, em lugar do enfoque sobre a separação priviligia-se
a relação de estabilidade em uma posição.
Nesse caso pode aparecer o locativo, como neste exemplo:
toèto tò …Argow toèton tòn xrñnon proeÝxe psi (Hdt.,
1, 1, 5)
essa Argos por esse tempo estava à frente [na frente] de todos.
Mas é mais comum a idéia de em frente separando, antepondo-se a
alguém ou alguma coisa:

Genitivo:
prò tÇn teixÇn ¤peji¡nai toÝw polemÛoiw (Isócr., Paz, 77)
fazer uma incursão sobre os inimigos diante [separando, adiantan-
do-se] das muralhas.
prò ²lÛou dedukñtow (Ésquin., C. Tim., l0)
antes do sol posto [antes que o sol se pôs].

mur06.p65 603 22/01/01, 11:39


604 os invariáveis: preposições

loipoÜ ²mÝn eÞsin oß prò ²mÇn genñmenoi (Isócr., C. os Sof.)


restam-nos os nascidos [os que nasceram] antes de nós.
prò t°w patrÛdow Žpoyn¹skein (Licof., C. Leócr., 106)
morrer pela pátria [pondo-se na frente de].
oëte ¤gÆ Žrk¡sv pr‹ttvn ti prò êmÇn (Xen., Cir., 4, 5,
44)
nem eu cessarei de fazer algo em favor de vós [por vós].
m¯ perÜ pleÛonow poioè mhd¢n prò toè dikaÛou (Plat., Críton,
54b)
não faze muito (não faze para ti acima de mais nada) na frente do
que é justo [não dês mais importância a nada antes da justiça].
strateæesyai prò t°w xÅraw (Xen., Cir., 8, 8, 20)
fazer expedição militar pelo país [em defesa de, pondo-se à frente
de, diante do inimigo].
prò pollÇn xrhm‹tvn timsyai (Isócr., C. os Sof., 11)
ter valor [ser estimado] na frente de muitas riquezas [de preferência a].
prò toætou teyn‹nai ’n poll‹kiw §loito (Plat., Banq.,
178a)
antes disso [em lugar disso, de preferência a isso] ele preferiria mor-
rer muitas vezes.
tŒ prò podÇn (Xen., An., 6, 12)
as coisas diante dos pés [óbvias ?!].
teyam¡noi eÞsÜ prò tÇn pulÇn ¤n KerameikÒ (Xen., Hel., 2, 4,
33)
eles estão enterrados diante das portas no Cerâmico.
tò prò t°w KilikÛaw teÝxow (Xen., An., 1, 4, 4)
a muralha antes [diante de] da Cilícia.
MinÅan t¯n n°son ¶ keÝtai prò Meg‹rvn (Tuc., 3, 51)
a ilha de Minos que está situada diante de Megara.
Žn¯r pollŒ prò êmÇn Žgrupn®saw (Xen., An., 7, 6, 36)
um homem que fez muitas vigílias por vós [em vosso favor].

mur06.p65 604 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 605

p‹ntew ŽjiÅsousi s¢ prò ¥autÇn bouleæesyai (Xen., Cir.,


1, 6, 42)
todos acharão bom tu deliberares em favor deles [na frente deles].
¤n taÝw m‹xaiw aßreÝsyai prò ´tthw te kaÜ douleÛaw y‹na-
ton (Plat., Rep., 386b)
escolher nas batalhas antes da derrota e da escravidão a morte [pre-
ferir a morte à derrota e à escravidão].
prò polloè poihsaÛmhn n soi kexarism¡nvw eÞpeÝn (Isócr.,
5, 14)
eu faria [questão] antes de muito [de muito] falar de maneira a te
ter agradado.
tŒ prò tÇn MhdikÇn „Ellhnik‹ (Tuc., 1, 97)
as coisas [a história] gregas antes das [guerras] médicas.
÷ssa dƒ Žmfƒ Ž¡yloiw TimodamÛdai ¤joxÅtatoi prol¡gon-
tai (Pind., Nem., 2, 28)
em relação a quantas coisas se referem às lutas, os filhos de Timo-
demos são citados na frente [dos outros, como os primeiros].
gnÇmai... prol¡gousai KroÛsÄ µn strateæhtai ¤pÜ P¡-
rsaw meg‹lhn Žrx¯n min katalèsai (Hdt., 1, 53)
sentenças [oráculos]... que prediziam [diziam antes] a Creso se mar-
chasse contra os Persas que ele destruiria um grande reino.
prol¡gomen êmÝn ... Žpi¡nai ¤k t°w xÅraw (Xen., An., 7, 7, 3)
nós estamos vos prevenindo [falando antes] de sair do território.
oß ƒAyhnaÝoi prolelegm¡noi (N, 689)
os atenienses escolhidos antes [que estavam pré-escolhidos].
prò t°w m‹xhw kaÜ metŒ t¯n m‹xhn (Xen., An., 1, 7, 13)
antes da batalha e depois da batalha.
oß polç prò ²mÇn gegonñtew (Xen., Mem., 3, 5, 11)
os que nasceram muito antes de nós.
prò ²m¡raw (Xen., Cir., 4, 4, 14)
antes do dia.
prò toè
antes disto [outrora].

mur06.p65 605 22/01/01, 11:39


606 os invariáveis: preposições

Prñw

protÛ (Hom.), portÛ (cret.), potÛ (dór.) e outras variantes:


pr¢w, pertÛ, pñw.
Diante de, a partir de, ponto de partida da ação; em presença fron-
tal de.
Genitivo, naturalmente.
pròw tÇn yeÇn - (jurar) diante dos deuses (os deuses como teste-
munhas presentes; a tradução convencional: jurar pelos deuses não resti-
tui a idéia original de “na presença de).
Na direção (frontal) de, visando a, em vista de; questão poÝ (para
onde): Acusativo.
Na frente de (enfoque local; ausência de movimento); idéia de acrés-
cimo, aplicação, adição: Locativo ou dativo.

Genitivo:
oÞk¡ousi pròw nñtou Žn¡mou (Hdt., 3, 101)
eles habitam do lado do vento sul [face a].
prñgonoi µ pròw ŽndrÇn µ pròw gunaikÇn (Plat., Teet.,
173b)
antepassados quer do lado dos homens [diante de] quer do lado das
mulheres [diante de].
õ pat¯r pròw m¢n ŽndrÇn ·n EépatridÇn... pròw gu-
naikÇn dƒ ƒAlkmevnidÇn (Isócr., 16, 25)
o pai, da parte [do lado] dos homens era dos Eupátridas... da parte
das mulheres, dos Alkmeônidas.
ƒAlkibi‹dhw l¡getai pròw patròw m¢n ƒAlkmaivnidÇn
eänai pròw d¢ mhtròw „IpponÛkou (Dem., XXI, 144)
dizem que [é dito] Alcibíades, da parte do pai, é dos Alcmeônidas
e, da parte da mãe, de Ipônico.
ƒAyhnaÝñw eÞmi kaÜ tŒ pròw patròw kaÜ tŒ pròw mhtrñw
(Dem., LVII, 17)
sou ateniense quer por parte do pai quer por parte da mãe [da parte
de, diante de].

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os invariáveis: preposições 607

deinñn ti ¦sxe Žtim‹zesyai pròw Peisistr‹tou (Hdt., 1, 61)


ele tinha como algo terrível ser desonrado por Pisístrato [diante
de, a partir de Pisístrato].
dikaspñloi, oá te y¡mistaw pròw Diòw eÞræetai (A, 239)
juízes, os que da parte de Zeus [diante de] conservam as leis.
[goun‹zomai] prñw tƒ Žlñxou kaÜ patrñw (l, 66)
[eu imploro de joelhos] diante da esposa e do pai [em nome de].
pròw Diòw kaÜ yeÇn peirsye sundiamnemoneæein (Dem.,
Emb., 19)
diante de Zeus e dos deuses, tentai rememorar comigo!
Žkoæsate oïn mou pròw tÇn yeÇn; (Xen., An., 5, 7, 5)
ouvi-me, então, diante dos deuses! [pelos deuses].
sÅsate, ¥le®sate: ßketeæv, ŽntibolÇ pròw paÛdvn, pròw
gunaikÇn, pròw tÇn öntvn ŽgayÇn êmÝn; (Dem., XXVIII,
20)
salvai, tende piedade; eu vos suplico, eu vos conjuro, diante de vos-
sos filhos, de vossas mulheres [em nome de, por], dos bens que possuis!
pròw tÇn yeÇn patrÐvn paæsasye mart‹nontew (Xen.,
Hel., 2, 4, 21)
diante [em nome de] dos deuses de nossos pais, cessai de cometer
erros.
drÒmen ’n dikon oéd¡n oëte pròw yeÇn ôrkÛvn oëte pròw
ŽnyrÅpvn tÇn aÞsyanom¡nvn (Tuc., 1, 71, 5)
nós não faríamos nada de injusto nem diante dos deuses que presi-
dem os juramentos nem diante de homens de sentimento.
÷ ti dÛkaiñn ¤sti kaÜ pròw yeÇn kaÜ pròw ŽnyrÅpvn (Xen.,
An., 1, 6, 6)
o que é justo é diante de deuses e diante de homens.
topa l¡geiw, Î SÅkratew, kaÜ oédamÇw pròw soè (Xen.,
Mem., 2, 3, 15)
tu estás dizendo coisas descabidas, Sócrates, e de nenhum modo
da parte de ti.

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608 os invariáveis: preposições

¤leæyeron eänai kaÜ pròw patròw kaÜ pròw mhtrñw


ser livre tanto da parte do pai quanto da parte da mãe.
lñgon Žgayòn ¦xein prñw tinow
ter [levar, receber] uma boa palavra [um elogio] de alguém.
Žn¯r pròw p‹ntvn ¤ponomazñmenow kalòw kaÜ Žgayñw
(Xen., Econ., 6, 17)
um homem denominado da parte de todos [por todos/diante de to-
dos] belo e bom.
¦sti pròw tÇn ±dikhkñtvn mllon (Tuc., 3, 38, 1)
[isto] é mais do lado dos culpados [em proveito de].
¤stratopedeæonto pròw ƒOlænyou ¤n tÒ ÞsymÒ (Tuc., 1,
62, 1)
eles estavam acampados face a Olinto [perto de] no istmo.
pròw gŒr Diñw eÞsin ‘pantew jeÝnoÛ te ptvxoÛ te (Z, 207)
pois diante de Zeus [sob os olhares de] estão todos, estrangeiros e
mendigos.
kaÛ ken ¤n …Argei ¤oèsa pròw llhw àston êfaÛnoiw (Z, 456)
e talvez estando em Argos tu trabalharias o tear diante de uma ou-
tra [sob os olhares, sob as ordens de].
PenelopeÛh - tim®essa - pròw pñsiñw te kaÜ uß¡ow (S, 162)
Penélope, honrada, diante do esposo e do filho.
trñpow pròw yeÇn Žseb¯w pròw ŽnyrÅpvn aÞsxrñw (Xen.,
An., 2, 5, 20)
um modo [postura, comportamento] ímpio diante dos deuses, e ver-
gonhoso diante dos homens.
¦xvn ¦painon polçn pròw êmÇn (Xen., An., 7, 6, 33)
tendo [gozando de] grande consideração diante de vós.
pròw Žndròw Žgayoè mhd¢n ¤nnoeÝn kakñn (Prov.)
diante de homem bom nada pensar de ruim.
lloi pròw rktou te kaÜ bor¡v Žn¡mou katoik®menoi
(Hdt., 3, 101)
outros [hindus] habitando diante da ursa [norte] e o vento boreal.

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os invariáveis: preposições 609

§pesye tŒ m¢n êpozægia ¦xontew pròw toè potamoè tŒ de


÷pla ¦jv (Xen., An., 2, 2, 4)
segui, tendo as bestas do lado do rio [diante de] e os armamentos
do lado de fora.

Locativo e dativo:
pròw t» oÞkÛ& lÛmnh ìdatow ŽfyonÛan par¡xei (Xen., Rep.
dos Esp., 15, 6)
diante da casa [perto] um lago fornece abundância de água.
ŽeÜ pròw Ú eàhn ¦rgÄ toèto ¦pratten (Xen., Hel., 4, 8, 22)
sempre diante de que obra ele estava, essa ele executava.
str‹teuma polç pròw Ú eäxe prñsyen metep¡mpeto (Xen.,
Hel., 3, 4, 6)
ele fez juntar um grande exército àquele que ele tinha antes (adi-
ção, acréscimo, dativo).
pròw toætoiw many‹nousi kaÜ tojeæein (Xen., Cir., 1, 2, 8)
depois dessas coisas [exercícios, além desses exercícios] eles apren-
dem também a lançar dardos (adição, acréscimo, dativo).
Kèrow ·n pròw BabulÇni
Ciro estava diante de Babilônia (enfoque locativo).
õ FÛlippow oédenÜ pl¡on ¤kr‹thsen µ tÒ prñterow pròw
toÝw pr‹gmasi gÛgnesyai
Filipe em nada mais era superior do que pelo encontrar-se antes
[mais primeiro] diante dos fatos (enfoque locativo).
potÜ d¢ sk°ptron b‹lh gaÛú (Hom.)
e diante, na terra, ele jogou o cetro (enfoque sobre o ponto de che-
gada, locativo).
¤w m‹xhn kayÛstantai oß ƒAyhnaÝoi pròw aét» t» pñlei
(Tuc., 2, 79)
os atenienses se alinham para a luta na frente da própria cidade (en-
foque locativo).

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610 os invariáveis: preposições

oék ’n meÛzv pròw toÝw ÷rkoiw bebaÛvsin l‹boite (Tuc.,


4, 87)
vós não pegaríeis uma maior segurança acima dos juramentos (além
> adição, dativo).
pròw tÒ eÞrhm¡nÄ lñgÄ ·n (Plat., Féd., 84c)
ele estava em cima [se acrescentava] do argumento citado (adição,
dativo).
pròw toætoiw
em cima dessas coisas, além dessas coisas (adição, dativo).

Acusativo:
eämƒ aét¯ pròw …Olumpon (A, 420)
e eu mesma vou na direção do Olimpo.
² m‹xh M®dvn pròw ƒAyhnaÛouw (Tuc., 1, 18)
a batalha dos medos contra os atenienses.
oß ndrew pròw ŽndreÛan ¤paideæyhsan (Isócr., 16, 27)
os homens foram educados visando à coragem.
pròw t¯n öcin taæthn tòn g‹mon toi toèton ¦speusa
(Hdt., 1, 38)
foi em função dessa visão que eu apressei esse teu casamento.
tò ÷lon sÇma oìtv l¡gomen kalòn eänai, tò m¢n pròw
drñmon tò d¢ pròw p‹lhn (Plat., Híp. Maior)
o corpo inteiro nós dizemos ser belo assim: este para a corrida,
aquele para o pugilato.
¦rxontai pròw ²mw pr¡sbeiw
embaixadores estão chegando em nossa direção.
pròw tòn d°mon Žgoreæein
dirigir a palavra na direção do povo [falar ao povo].
ŽpologÛan poieÝsyai pròw toçw dikast‹w
fazer [sua própria] defesa diante dos juízes [na direção de, na inten-
ção de].
pròw Borrn
contra [na direção de] o vento norte.

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os invariáveis: preposições 611

¤peid¯ pròw ²m¡ran ·n


uma vez que estava para se fazer dia.
kaÜ ¤gÆ ´kv prñw se, Î „Hr‹kleiw (Xen., Mem., 1, 27)
também eu estou chegando a ti, ó Heraclés [na tua direção, diante
de].
êmeÝw pròw FÛlippon perÜ eÞr®nhw pr¡sbeiw ¤p¡mpete
(Dem., XVIII, 24)
vós estáveis enviando embaixadores a Filipe a respeito da paz.
Þ¡nai pròw toçw polemÛouw (Xen., An., 2, 6, 10)
marchar contra os inimigos.
di¡bainon tòn potamòn brexñmenoi pròw tòn ômfalñn
(Xen., Hel., 4, 3, 22)
passavam o rio molhados até o umbigo.
l¡jate oïn prñw me tÛ ¤n nÒ ¦xete (Xen., An., 3, 3, 2)
dizei-me então o que tendes em mente.
tÇn Žpñntvn fÛlvn m¡mnhso pròw toçw parñntaw (Isócr.,
1, 26)
lembra-te dos amigos ausentes diante [para] dos presentes.
¤n taÝw pròw meshmbrÛan blepoæsaiw oÞkÛaiw (Xen., Mem.,
3, 8, 9)
nas casas que olham para o meio dia.
¦ynow oÞkhm¡non pròw ±Ç te kaÜ ²lÛou Žnatol‹w (Hdt., 1,
201)
um povo que habita na direção da aurora e do nascer do sol.
katalèsai pròw riston (Xen., An., 1, 10, 19)
[desfazer] soltar as fileiras para o jantar [em função do jantar].
toÝw polloÝw pròw x‹rin l¡gein (Eur., Héc., 257)
falar à multidão na intenção de agradar.
pròw tÛ me taètƒ ¤rot˜w;
por que tu estás me perguntando isso?
pròw filÛan, pròw bÛan, pròw ôrg¯n poieÝn ti
fazer algo em função de [por] amizade, violência, cólera.

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612 os invariáveis: preposições

kiyarÛzein pròw t¯n Ód®n (Plat., Alc., 108a)


tocar a cítara para o canto [para acompanhar].
oé pròw Žrgærion t¯n eédaimonÛan ¦krinon (Isócr., Pan., 70)
eles não julgavam a felicidade em relação ao dinheiro [frente a, para
o dinheiro].
pròw dñjan oë moi dokeÝ kalòn eänai, (Plat., Apol., 34e)
não me parece ser belo para a glória [em relação à].
pròw taèta µ ŽfÛete µ m¯ ŽfÛete (Plat., Apol., 30b)
para essas coisas [dirigindo-vos para] ou vós me deixais ir ou não
deixai/deixeis ir [absolver].
¤pimeloèntai ÷pvw oß mulvyroÜ pròw tŒw timŒw tÇn
kriyÇn tŒ lfita pvl®sousin (Aristot., Gov. dos Aten., 51.3)
eles providenciam a que os moleiros vendam a farinha em relação
ao preço dos grãos.
l¡gv pròw toçw ¤moè katachfisam¡nouw (Plat., Apol., 38d)
eu estou falando aos [na direção de, na intenção de] que votaram
contra mim [me condenaram].
pròw cæxh kaÜ pròw y‹lph paraskeu‹sasyai (Xen., Rep.
dos Lac., 2)
preparar-se para o frio [as coisas frias] e para o calor [as coisas quentes].

Sun / jun

As duas são usadas no ático; a segunda é mais antiga do que a pri-


meira, que depois se generalizou.
Traz a idéia de lateralidade, companhia (não em contato, como met‹
com genitivo partitivo).
O uso mais comum é o comitativo: dativo, com pessoas.
Mas, a partir da idéia sçn toÝw yeoÝw = com os deuses > com a ajuda
dos deuses, desenvolveu-se a idéia do instrumental, mas de uso restrito,
porque a idéia do instrumental se baseia na “passagem da ação por um
objeto inerte: meio ou instrumento”.
Apenas Xenofonte a usa com alguma freqüência.
Nos verbos compostos às vezes significa a globalização da ação.

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os invariáveis: preposições 613

³luye dÝow ƒOdusseæw ... sçn ƒArhifÛlÄ Menel‹Ä (G, 206)


veio o divino Odisseu com [em companhia] de Menelau querido de
Ares.
¤gÆ t¯n p¡rsa meyormhyeÜw sçn ƒAy®nú (U, 192)
eu empreendi a devastação com Atena [com o auxílio de].
¤dÛvkon sçn pollÒ g¡lvti (Xen., Cir., 2, 3, 17)
eles perseguiam com muito riso [rindo muito, acompanhado de].
oß †Ellhnew sçn g¡lvti ¤pÜ tŒw skhnŒw ·lyon (Xen., An., 1,
2, 18)
os gregos chegaram às tendas com risadas [em meio a rizadas, rindo].
kñsmion meyeÝsa sun t‹xei moleÝn (Sóf., El., 872)
aviar-se com [acompanhada de] rapidez tendo deixado de lado a
conveniência.
sænagen nef¡law (E, 291)
ele reunia as nuvens [conduzia-as para ficarem juntas].
sumpñnei patrÜ sægkamƒ ŽdelfÒ (Sóf., El., 986)
sofre com o pai, cansa com o irmão!
sumparekteÛnein t¯n nñhsin toÝw legom¡noiw (M. Aur., 7, 30)
pôr lado a lado o pensamento com o que se diz.
KÇn... ŽteÛxiston oïsan kaÜ êpò seismoè jumpetvkuÝan
(Tuc., 8, 41)
Cós... sendo sem muralhas e completamente arrasada sob o efeito
de um terremoto (globalização da ação).
mÛan me meÝnai t¯ndƒ ¦ason ²m¡ran kaÜ jumpernai fron-
tÛdƒ à feujñmeya (Eur., Med., 340)
deixa-me ficar só este dia [hoje] e percorrer completamente o meu
pensamento de que maneira partiremos para o exílio.
aägaw Žp¡doto sçn aÞpñlÄ triÇn kaÜ d¡ka mnÇn (Iseu, 6,
33)
ele vendeu as cabras junto com o cabreiro por 13 minas.
kl¡ptei ... t¯n ¦ntexnon sofÛan sçn purÛ (Plat., Prot., 321d)
[Prometeu] rouba [de Hefesto e Atena] a sabedoria prática com o
fogo [ junto com o fogo].

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614 os invariáveis: preposições

sçn tÒ nñmÄ t¯n c°fon tÛyesyai (Xen., Cir., 1, 3, 17)


colocar o voto com a lei [de conformidade com].
sçn toÝw yeoÝw oédenòw Žpor®somen (Xen., Cir., 5, 3, 5)
com os deuses [em companhia > com o auxílio dos deuses], teremos
falta de nada.
¤paideæeto sçn tÒ ŽdelfÒ kaÜ sçn toÝw lloiw paisÛn
(Xen., An., 1, 9, 2)
ele era educado junto com o irmão e com os outros meninos.
sçn toÝw Ždikoum¡noiw ²meÝw ¤sñmeya (Xen., Cir., 3, 2, 22)
quanto a nós, estaremos junto com os injustiçados.
Ždikoènta peirasñmeya sçn toÝw yeoÝw Žmænasyai (Xen.,
An., 2, 3, 23)
junto com os deuses [com o auxílio de] tentaremos afastar o que nos
estiver causando mal.
basileçw kaÜ oß sçn aétÒ (Xen., An., 1, 10, 2)
o rei e os junto com ele [os acompanhantes, o séquito].

T°le

Longe, distante.
Genitivo, naturalmente.
É homérico; não é usado no ático.
t°le fÛlvn kaÜ patrÛdow aàhw (L, 817)
distante dos amigos e da terra pátria.
t°le Žpƒ aétoè aÞxm¯... bñmbhse (P, 117)
longe dele a lança... ressoou.

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os invariáveis: preposições 615

„Up¡r

Por sobre, por cima de, acima de (contato parcial: partitivo, genitivo).
A idéia de em favor de, por (pro com ablativo em latim), vem da
imagem de alguém cobrir o outro para protegê-lo e por isso morrer por
ele, como na cena da luta pelo cadáver e despojos de Pátroclo na Ilíada,
ou (visão latina) de alguém pôr-se à frente, para proteger (pro + abl.):
Genitivo em grego.
Por cima de, além (ultrapassagem, excelência, superioridade) com
idéia de movimento ou extensão:
Acusativo.

Genitivo:
tojeæontew êp¢r tÇn prñsyen (Xen., Cir., 6, 3, 24)
atirando [flechas] por cima dos de frente [vanguarda] (idéia de sepa-
ração (genitivo) e não de movimento, extensão).
oß SikeloÜ oß êp¢r krvn (Tuc., 4, 25)
os sículos que estavam sobre os cumes [por cima: toque: partitivo,
genitivo].
maxñmenoi p‹traw ìper (Eur., Fil., 1002)
combatendo pela pátria [em defesa de].
êp¢r tÇn ful‹kvn foboæmeya m¯... malakÅteroi g¡nvn-
tai, (Plat., Rep., 387c)
nós tememos pelos guardas... que [não] se tornem mais fracos/mo-
les [do que é necessário] (figurado, noção de distância).
õ ´liow toè y¡rouw êp¢r ²mÇn aétÇn kaÜ tÇn stegÇn
poreuñmenow skiŒn par¡xei (Xen., Mem., 3, 8, 9)
o sol do verão passando por sobre nós mesmos e por sobre os telhados
produz sombra (idéia de separação; a de movimento é deixada de
lado).
katalabeÝn tò êp¢r t°w õdoè kron (Xen., Hel., 4, 47)
apoderar-se da elevação que estava por sobre a estrada [acima].
êp¢r toætou ŽpoyaneÝn (Xen., An., 7, 4, 9)
morrer por essa [criança].

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616 os invariáveis: preposições

nèn êp¢r cuxÇn tÇn êmet¡rvn õ ŽgÆn kaÜ êp¢r g°w ¤n Ã


¦fute kaÜ êp¢r oàkvn ¤n oåw ¤tr‹fhte (Xen., Cir., 3, 3, 44)
agora o combate é por vossas vidas e pela terra em que nascestes e
pelos lares em que sois [fostes] criados.
¤gÆ êp¢r soè Žpokrinoèmai (Plat., Górg., 515c)
eu vou responder por ti [em teu nome, em teu favor].
¾reto tò ìdvr êp¢r tÇn yemelÛvn (Xen., Hel., 5, 2, 5)
a água se elevava acima das fundações.
¦sti lim¯n kaÜ pñliw êp¢r aétoè keÝtai (Tuc., 1, 46, 4)
há um porto e uma cidade está situada acima dele.
³rjato ¤j AÞyivpÛaw t°w êp¢r AÞgæptou (Tuc., 2, 48)
começou a partir da Etiópia, a [que se situa] acima [além] do Egito.
KleofÇn êp¢r êmÇn p‹ntvn ŽnteÝpen (Lís., 13, 5)
Cleofonte protestou [respondeu] em nome de [por] todos vós.

Acusativo:
¤pol¡mei toÝw Yr&jÜ toÝw êp¢r „Ell®sponton oÞkoèsin
(Xen., An., 1, 1, 9)
ele foi guerrear com os trácios, que habitam além [para lá] do
Helesponto.
êp¢r ´misu toè ÷lou strateæmatow (Xen., An., 6, 2, 10)
além da metade [mais do que] de todo o exército.
oß êp¢r tŒ strateæsima ¦th gegonñtew (Xen., Cir., 1, 2, 4)
os nascidos além dos anos do serviço militar [passaram da idade].
êp¢r ²mw faÛnetai ²mÝn tŒ eÞrhm¡na eÞr°syai (Plat., Parm.,
128b)
o que foi dito parece estar dito acima de nós [além de nosso entendimento].
toÝw êp¢r „HrakleÛaw st®law... katoikoèsin (Plat., Crítias, 108e)
aos que habitam além das colunas de Heraclés.
nñhson naæklhron meg¡yei kaÜ =Åmú êp¢r toçw ¤n t» nhÛ
p‹ntaw (Plat., Rep., 488a)
pensa um comandante acima de todos os que estão no navio, pelo
tamanho e pela força.

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os invariáveis: preposições 617

„Upñ

„Upƒ diante de uma vogal não aspirada, „Ufƒ diante de uma vogal
aspirada.
Sob, em baixo de, por baixo de.
• Associado à idéia de origem, de separação, de ponto de partida
ou de partitivo: Genitivo.
A construção da relação do agente da passiva e colaterais se enqua-
dra nesse uso do genitivo com êpñ.
Com freqüência usa-se a voz ativa: a idéia-base é “sob o efeito de”, à
qual está associado um verbo de ação.
O genitivo (ablativo em latim) se explica pela idéia de que a ação,
de que o sujeito é paciente, é desencadeada distante do sujeito, por uma
força estranha a ele. Esse “espaço” percorrido (entre o sujeito paciente e
o ponto de partida da ação, desencadeada pelo agente da passiva), natu-
ralmente, é figurado.
• Associado à idéia de lugar onde, sem movimento, estático: Locativo.
• Associado à idéia de movimento, de extensão, no tempo e no es-
paço: Acusativo.
Toda e qualquer expressão que contenha explícita ou implícita a
idéia de movimento para, de baixo de (aproximação no tempo ou no es-
paço), bem como a idéia de submissão ou tutela (figurado) também re-
quer o acusativo.

Genitivo:
phg¯ êpò t°w plat‹nou =eÝ (Plat., Fedro, 230b)
uma fonte corre de sob o plátano [sai de baixo de].
¤jepl‹ghsan êfƒ ²don°w (Plat., Fedro, 259b)
eles foram [ficaram] completamente batidos [per-plexos] pelo pra-
zer [sob o efeito de].
aétŒr ¤pÜ kratòw lim¡now =¡ei Žglaòn ìdvr kr®nh êpò
speÛouw (I, 140)
porém à entrada do porto flui uma água límpida, uma fonte de sob
a gruta [saindo de baixo de].

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618 os invariáveis: preposições

² kardÛa [mou] ped˜ êpò tÇn lñgvn tÇn toætou (Plat.,


Banq., 215e)
meu coração dá saltos sob o efeito dos discursos desse aí.
êpñ tinow llou ¤pelayñmhn (Plat., Prot., 310b)
eu me esqueci sob o efeito de alguma outra coisa.
oék ¦ti ŽpoxvreÝn oåñn te ·n êpò tÇn ßpp¡vn (Tuc., 2,
85)
ainda não era possível bater em retirada sob o efeito dos cavaleiros
[por causa de].
nyrvpoi ŽpÅllunto êpò tÇn yhrÛvn (Plat., Prot., 322b)
homens pereciam sob o efeito [sob, pela ação] das feras.
êpò tÇn tri‹konta ¤j¡peson (Isócr., 16, 45)
eles “caíram fora” sob o efeito dos 30 [foram banidos].
xvreÝn êpƒ aélhtÇn (Tuc., 5, 70)
marchar sob o efeito dos flautistas [ao som da flauta].
êpò tÇn =abdoæxvn plhgŒw ¦laben (Tuc., 5, 50, 4)
ele recebeu golpes sob o efeito dos portadores de varas [recebeu dos,
foi surrado com varas].
sofòw Žn¯r t‹ te met¡vra frontist¯w kaÜ tŒ êpò g°w
‘panta ŽnezhtikÅw (Plat., Apol., 18b)
um homem sábio, pensador nas coisas celestes e pesquisador de
todas as coisas sob a terra (partitivo, não é de toda a terra).
jifÛdia êpò m‹lhw eäxon (Xen., Hel., 3, 23)
eles portavam punhais [facas] sob as axilas (partitivo).
labÆn boèn êpò Žm‹jhw ¤sfagÛsato (Xen., An., 4, 25)
ele pegou um boi de sob o carro e degolou-o [de sob o jugo]
(partitivo).
oék ¤dænato sign êpò t°w ²don°w (Xen., Cir., 6, 1, 35)
ele não podia calar-se sob o efeito do prazer.
Žnñrousƒ êpò x‹rmatow (Hino a Dem., 371)
tendo saltado de alegria [sob o efeito da alegria].

mur06.p65 618 22/01/01, 11:39


os invariáveis: preposições 619

Acusativo:
Kl¡arxow oék ŽnebÛbazen ¤pÜ tòn lñfon Žllƒ êpƒ aétòn
st®saw tò str‹teuma p¡mpei Lækion ¤pÜ tñn lñfon (Xen.,
An., 1, 10, 14)
Clearco não estava subindo a colina, mas tendo feito estacionar o
exército ao pé dela [na direção de], manda Lucios subi-la.
Žp°lyon êpò tŒ d¡ndra nyrvpoi Éw ¥bdom®konta (Xen.,
An., 4, 7, 8)
uns 70 homens se foram sob [para baixo] as árvores.
ŽkontÛzei tiw aétòn êpò tòn ôfyalmñn (Xen., 1, 8, 27)
alguém o (Ciro) atinge sob o olho, com um dardo.
Aàguptow p‹lin êpò basil¡a ¤g¡neto (Tuc., 1, 110)
O Egito voltou a ficar sob o rei.
êpò toçw aétoçw xrñnouw (Tuc., 1, 110, 1)
por aqueles tempos [sob aqueles tempos].
êpò nækta (Tuc., 1, 115, 4)
sob a noite [à entrada da noite].
êpò t¯n Žpñlusin toè pol¡mou (Xen., Mem., 2, 8, 1)
lá pelo fim [solução] da guerra [proximidade].
tò Pelasgikòn kaloæmenon (teÝxow) tò êpò t¯n Žkrñpo-
lin (Tuc., 2, 17)
o muro chamado pelásgico, aquele sob [ao longo da] a acrópole.
÷ti sfÇn eéerg¡tai ·san êpò tòn seismñn (Tuc., 2, 27)
porque eles os tinham ajudado sob o terremoto [depois de].
·lyon êpò turannÛda (Plat., Carta 7, 329b)
eu fui [viver] sob uma tirania.
ŽniÆn ¤k PeiraiÇw êpò tò bñreion teÝxow (Plat., Rep., 439e)
subindo do Pireu sob o muro norte [ao longo de].
êpost°nai kÛndunon
ficar sob um perigo [submeter-se a um perigo].

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620 os invariáveis: preposições

Locativo:
pro¡trexen Žpò toè d¡ndrou êfƒ Ú ·n dæo µ trÛa b®mata
(Xen., An., 4, 7, 10)
[Calímaco] avançou dois ou três passos a partir da árvore sob a qual
estava.
oß katŒ t¯n ƒAsÛan êpò basileÝ öntew (Xen., Cir., 8, 1, 6)
os que na Ásia [na extensão da çsia] estavam sob o rei.
êpò paidotrÛbú ŽgayÒ pepaideum¡now (Plat., Láq., 184e)
educado sob um bom mestre [sob o olhar de; o enfoque não é sobre
o agente do ato verbal (genitivo), mas sobre a situação - sentido
figurado].
¾reto tò ìdvr êp¢r tÇn êpò tÒ teÛxei yemelÛvn (Xen.,
Hel., 5, 2, 5)
a água se elevava por sobre as fundações, sob a muralha.
¤Œn êpñ soi kataklÛnú ƒAg‹yvn oé d®pou ¤m¢ p‹lin
¤pain¡setai (Plat., Banq., 222e)
caso Agáton se recline abaixo de ti [depois de ti] certamente não
me tecerá louvores de novo.
¦xein ti êpò tÒ ßmatÛÄ (Plat., Fedro, 228e)
ter [portar, manter] alguma coisa sob o manto.
kinduneæsaimƒ ’n êpò t» dusxerest‹tú gen¡syai tæxú
(Lís., 24, 6)
eu correria o risco de me encontrar sob a sorte mais infeliz.
tÇn „Ell®nvn oß m¢n êfƒ ²mÝn oß dƒ êpò LakedaimonÛoiw
eÞsÛn (Isócr., Pan., 16)
dos gregos uns estão sob nós [nossa influência, poder] outros estão
sob os Lacedemônios.
tÇn êpò possÜ m¡ga stenaxÛzeto gaÝa (Hom.)
sob os pés deles a terra soltava grandes gemidos.
ƒAxilleçw êpò tÒ XeÛrvni ¤tr‹fh
Aquiles foi criado sob [a vigilância, os olhares de] Quiron.

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os invariáveis: preposições 621

Nas composições com verbos, êpñ, mantendo o seu significado


denotativo de sob, em baixo, de baixo de, assume um sentido figurado
(metafórico), mais diluído, menos concreto, mas nunca sai da linha do
significado primeiro:
êfƒ- õrn suspeitar (olhar de soslaio, por baixo)
ìp-optow suspeito (olhado por baixo)
êp-opteæein suspeitar, olhar por baixo (de soslaio)
êpo-p¡mpein enviar por baixo (à socapa, em segredo)
êp-agein sub-conduzir, sub-avançar (não inteiramente)
êpo-lamb‹nein pegar por baixo, sub-entender, perceber não concretamente,
não inteiramente
êpo-tiy°nai sub-ponere, sub-por - por apoiando em baixo, não chegando
ao fim (aproximação) - suposição, isto é, quase posição ou
posição tendo uma base: hipótese

X‹rin

É um acusativo (de relação, adverbial) petrificado e por isso neces-


sita de um complemento limitativo, restritivo, adnominal:
Graças a, por causa de (lat. gratia).
Genitivo, naturalmente.
toèto ¤poÛei duoÝn x‹rin (Arist., Gov. dos At., 16, 3)
ele fazia isso por duas razões.
Quando o delimitativo é uma pessoa (eu/tu; nós/vós) é mais fre-
qüente o adjetivo possessivo em lugar do genitivo do pronome.
sugxvrht¡on x‹rin s®n (Plat., Fedro, 234e)
deve-se concordar para te agradar [por amor de ti, por tua graça].

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622 os invariáveis: preposições

XvrÛw

Significa fora de, além de, exceto, à parte, sempre com a idéia de
exclusão, separação.
Genitivo, naturalmente.
xvrÜw t°w dñjhw oéd¢ dÛkaiñn moi eänai deÝsyai toè dikas-
toè (Plat., Apol., 35b)
fora da glória [exceto a glória] não me é justo precisar [pedir] do
juiz.
xvrÜw sofÛa ¤stÜn ŽndreÛaw (Plat., Láq., 195a)
a sabedoria está distante da coragem.
² cux¯ xvrÜw toè sÅmatow (Plat., Féd., 98c)
a alma, fora [separada, distinta] do corpo.
xvrÜw toætvn (Xen., Cir., 1, 5, 5)
fora essas coisas [exceto isso, além disso].

„Ww

Na direção de, para.


Pouco empregada, quase só no dialeto ático, em geral com nome
de pessoas, raramente com nome de países. Ver também §vw.
Acusativo, naturalmente.
sunelhlæyasin Éw ¤m¢ ŽdelfaÛ (Xen., Mem., 2, 7, 2)
minhas irmãs tinham-se reunido [estavam reunidas] na minha casa
[tinham vindo a mim].
ŽfÛketo Éw PerdÛkkan kaÜ ¤w t¯n Xalkidik®n (Tuc., 4, 79)
ele partiu para [ junto] de Perdicas e para a Calcídica.

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os invariáveis: conjunções e partículas 623

Conjunções - Partículas - Sændesmoi


Mais uma vez a nomenclatura gramatical fixa, petrificada, não nos
esclarece suficientemente sobre qual é a função da categoria denominada.
Cremos que a palavra grega sændesmow, amarra, ligação, coneti-
vo, seria suficiente para identificar o papel tanto das conjunções quanto
das partículas.
Na verdade são sændesmoi, isto é, conetivos, para usarmos do ter-
mo empregado com mais freqüência e propriedade.
São de fato ligações entre dois enunciados completos, isto é, frases
com sujeito e predicado, que originalmente são independentes. Essa in-
dependência primitiva aos poucos foi se estruturando e as partículas foram
surgindo para marcar essas ligações. Sabemos que em Homero - poesia
narrativa- predomina a parataxe, isto é, a coordenação, num enunciado
linear e as dependências, isto é, o que se poderia chamar “subordinação”,
se fazem sentir pelo significado e sucessão das partes, como nas narrati-
vas populares.
Essa coordenação, parataxe, foi feita inicialmente por partículas.
Inicialmente eram simples meios de insistência, apoios tônicos, verda-
deira pontuação oral, sem significado, e serviam para marcar a formação
de grupos dentro da frase, mas também a sucessão e a ligação entre elas. 1
É importante insistir sempre sobre a oralidade que predominou
não só antes da adoção da escrita (séc. VII a.C.), mas mesmo depois.
Todos os autores gregos, que conhecemos agora pelos livros, pensavam
na transmissão oral.2
Esse fato é extremamente importante. O autor (emissor) tinha em
mente que o “leitor” (receptor da mensagem oral) tinha “aquele momento”
para receber e fixar a mensagem. Por isso ela devia ser bem clara e refletir
exatamente o que e como o emissor queria que a mensagem fosse recebida.

1 A. Meillet, no Traité de grammaire comparée des langues classiques, § 916 e seguin-


tes, nos dá uma visão bastante clara sobre o assunto.
2 Talvez um autor que pensou numa obra para a escrita, isto é, pensou e escreveu,
foi Tucídides. Há também o caso de Isócrates, que nunca teria pronunciado seus
discursos. Mas, assim mesmo, um e outro não perderam de vista a oralidade.

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624 os invariáveis: conjunções e partículas

É essa a origem da pontuação expressiva da oralidade. É essa a ori-


gem tanto das “partículas” quanto das “conjunções”.
A diferença de denominação se deve talvez ao caráter átono e por
isso enclítico das partículas. Mas mesmo as enclíticas, isto é, formando
uma palavra fonética com a antecedente, ao ligarem expressões ou sin-
tagmas entre si, se contaminaram com o significado deles.
Não convém, contudo, dar um significado particular a essas partí-
culas; vamos identificar nelas o papel que exercem; o significado de cada
uma vai surgir do contexto. 3
Vamos, então, em primeiro lugar relacioná-las (partículas e con-
junções), identificando as partículas pelo papel que exercem no enunciado
e as conjunções pelo seu significado que condiciona a função que exercem.
Convém notar ainda que essa função - de coordenação ou subordi-
nação -, que elas exercem, é decorrente do seu significado e deve ser vis-
ta em sua organicidade, de modo concreto, lógico e coerente.
Isto tem grande importância para se entender o uso e o significado
dos modos verbais.
A visão teórica que as gramáticas nos transmitem é muito abstrata
e rígida, cheia de regras e muito mais, de exceções.
As partes do enunciado são independentes, e o uso dessa ou da-
quela expressão e sobretudo desse ou daquele modo verbal decorre do
valor semântico inerente, independente, autônomo dele.
Também o valor dos modos verbais não muda, porque o verbo está
na principal ou na subordinada: eles variam em função do contexto, do
quadro em que estão inscritos e da maneira como o ato verbal deve ser
expresso.
Vamos expor a seguir uma relação, em ordem alfabética, desses
conetivos (partículas e conjunções), identificando-lhes a função e tam-
bém o significado e daí indicar também o modo verbal, se for o caso.
Veremos que nessa relação constarão algumas palavras que estão
também na relação das preposições. É que o seu significado permite essa
dupla função.
Não deixaremos de assinalar os casos específicos.

3 Além de A. Meillet, acima citado, uma leitura de J. Humbert, Syntaxe grecque,


§ 657 e seguintes, e J. Denniston, The greek particles, dará uma visão ampla sobre
o assunto.

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os invariáveis: conjunções e partículas 625

ƒAll‹

Partícula adversativa por excelência. Marca a ruptura, oposição, con-


tradição, na ordem do enunciado; geralmente é a contradição da negação.
Etimologicamente está ligada a llow, outro.
Nem sempre, no entanto, a negação anterior está formalmente ex-
pressa; a oposicão (ruptura) pode ser na linha do significado. Traduz-se
por mas, ao (pelo) contrário, entretanto, não obstante etc. (lat. sed, verum).
Vejamos alguns exemplos:
1. mas, ao contrário (lat. sed, verum), freqüentemente associado a kaÛ
(também) nas oposições oé / m¯ mñnon... ŽllŒ kaÛ não só... mas
também.
taèta p‹nta g¡gone diŒ t¯n ²met¡ran ŽgnoÛan Žllƒ oé
diŒ t¯n ¤keÛnou dænamin (Isócr., 4, 1, 37)
todas essas coisas aconteceram por nossa falta de juízo, mas [e] não
pela capacidade dele.

2. entretanto, pelo menos, contudo. Associada a outras partículas enfá-


ticas ou restritivas.
Žll‹ ge mas, pelo menos
ŽllŒ oïn mas então, contudo
ŽllŒ oïn... ge mas então... pelo menos
many‹nv, · dƒ ÷w: Žllƒ eëxesyaÛ ge pou toÝw yeoÝw ¦jestin
(Plat., Féd., 117b)
estou entendendo, disse ele, mas pelo menos é possível orar aos deuses.
poll‹kiw m¢n Žgayoè aélhtoè faèlow ’n Žp¡bh poll‹-
kiw dƒ’n faælou Žgayñw: Žllƒ oïn aélhtaÛ gƒ ’n p‹ntew
·san Éw pròw toçw ÞdiÅtaw (Plat., Prot., 327c)
muitas vezes, de um bom flautista poderia nascer um mau; muitas
vezes também de um mau um bom; mas pelo menos poderiam to-
dos ser flautistas em relação aos leigos.
ŽpokteneÝ m¢n ’n boælhtai ŽllŒ ponhròw Ìn kalòn kŽ-
gayòn önta (Plat., Górg., 511b)
ele o matará se quiser, mas sendo [por ser] um mau (matando) o que
é um homem honesto [mas será um bandido matando um bom].

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626 os invariáveis: conjunções e partículas

3. Nas respostas, Žll‹ marca a surpresa pela pergunta, que, na mente


de quem responde, tem uma dúvida implícita.
– kaÛ moi ¤pÛdeijin t°w braxulogÛaw poÛhsai;
– ƒAllŒ poi®sv (Plat., Górg., 449c)
– então faça-me uma demostração de tua concisão.
– Pois bem, farei. (Mas, sim, farei!)

4. Žll‹ marca também um corte brusco do curso de uma exposição ou


de um diálogo (como em português).
tÛ deÝ ¦ti l¡gein: Žllƒ àte eÞw M®douw (Xen., Cir., 1, 5, 14)
[por] que é preciso falar ainda?! - Mas, ide contra os medos!
– oðtow öpisyen kat¡rxetai: ŽllŒ perim¡nete.
– ƒAllŒ perimenoèmen (Plat., Rep., 327b)
– esse aí está chegando atrás (de trás); (ele) mas esperai!
– Mas esperaremos.
Žllƒ õrte nèn eÞ toèton ¤rte (Plat., Banq., 192e)
mas vede agora se é esse que desejais.

5. Associado a ³ (ou / que, do que) marca o contraste entre dois ele-


mentos ou propostas: a não ser, senão que.
m¯ xr°syai ¤laÛÄ Žllƒ µ ÷ti smikrot‹tÄ (Plat., Prot., 334c)
não se servir de óleo, a não ser (senão) do mínimo possível.
Žrgærion oék ¦xv Žllƒ µ mikrñn ti (Xen., An., 7, 7, 53)
dinheiro eu não tenho, a não ser um pouquinho.

6. Associado a m®n tem o significado adversativo enfatizado, quase des-


dobrado: mas, não obstante; e no entanto.
ƒEpeid¯ dƒoé tñte ŽllŒ nèn deÝjon: eÞp¡ tÛw µ lñgow ÷nti-
na ¤xr°n eéporeÝn, µ kairòw sumf¡rvn êpƒ ¤moè pare-
leÛfyh t» pñlei: tÛw d¢ summaxÛa, tÛw prjiw ¤fƒ ¶n mllon
¦dei mƒ ŽgnoeÝn toutousÛ; ƒAllŒ m¯n tò parelhluyòw ŽeÜ
parŒ psin ŽfeÝtai. (Dem., Cor., 191-2)
Uma vez que naquela época não (mostraste), pelo menos mostra
agora: dize [me] ou que discurso [argumento] de que era necessá-
rio lançar mão ou que ocasião propícia à cidade foi deixada de lado

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os invariáveis: conjunções e partículas 627

por mim? Que aliança, que ação sobre a qual me era preciso desco-
nhecer mais do que o momento presente? Mas, ao contrário, o pas-
sado é sempre deixado de lado diante de outras coisas.
Obervação: constata-se em todos esses exemplos e muitos outros que
deixamos de registrar, por serem longos, que Žll‹ mantém sempre
seu significado de ruptura, oposição, contradição e que as outras par-
tículas quando se lhe acrescentam trazem também sua contribuição
semântica.

…Allvw

kaÜ llvw: de outro modo, também além disso, por outro lado.
llvw te kaÛ: de outra maneira / por outro motivo e também. Pode
vir seguido de µ, que, do que, numa relação entre dois termos.
llvw d¢: aliás.
´de ² teleut¯ toè ¥taÛrou ²mÝn ¤g¡neto Žndròw tÇn tñte
Ïn ¤peir‹yhmen ŽrÛstou kaÜ llvw fronimvt‹tou (Plat.,
Féd., 118a)
este foi o fim de nosso companheiro, homem dentre os com que
tratamos o melhor e por outro lado [além disso] o mais sensato.

†Ama

Ao mesmo tempo, juntamente.


Vimo-la no rol das preposições, construída com dativo. Aqui ela
liga um particípio infectum a um verbo infectum.
¤m‹xonto ‘ma poreuñmenoi oß †Ellhnew (Xen., 6, 3, 5)
os gregos combatiam enquanto [ao mesmo tempo] continuavam a
marcha.

mur07.p65 627 22/01/01, 11:39


628 os invariáveis: conjunções e partículas

ƒAm¡lei
Forma petrificada de imperativo singular de ŽmelÇ (e): não te-
nhas cuidado, fica tranqüilo, sossega; daí o significado de seguramente, sem
dúvida, certamente.
Funciona como uma frase intercalada; por isso muitas gramáticas
a ignoram.
– sç dƒ àsvw diŒ tò polumay¯w eänai perÜ tÇn aétÇn oéd¡-
pote tŒ aétŒ l¡geiw,
– ƒAm¡lei, ¦fh, peirÇmai kainñn ti l¡gein ŽeÛ, (Xen., Mem.,
4, 4, 6)
– Tu, talvez por seres muito instruído, nunca dizes as mesmas coi-
sas a respeito dos mesmos assuntos.
– Não tenhas cuidado [não te preocupes], estou tentanto sempre
dizer algo de novo.

…An (ken em Homero)


Partícula indicadora de:
• possibilidade ou afirmação atenuada:
Em grego: optativo com n;
Em português: “imperfeito do subjuntivo” e condicional. Simples /
“futuro do pretérito”.
• irrealidade:
Irreal do presente:
Em grego: eÞ com imperfeito e n com imperfeito;
Em português: se com “imperfeito do subjuntivo” na prótase e con-
dicional simples/”futuro do pretérito” na apódose.
Irreal do passado:
Em grego: eÞ com aoristo do indicativo e n com aoristo do indicativo.
Em português: se com “mais-que-perfeito do subjuntivo” na prótase
e condicional composto na apódose.
Não confundir esse n/ken com a forma contrata n/³n por ¤‹n,
partícula supositiva (hipotética) de eventualidade (subjuntivo/futuro em grego).
Nota: Os exemplos de possível e de irreal do presente e do passado se
encontram sob a rubrica de eÞ.

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os invariáveis: conjunções e partículas 629

…Ara / =a / r

Repousa claramente na raiz *r/ar, cujo significado é ajuste (har-


monia), numa simples transição (e, então).
Esse conetivo tem dois tempos:
1. Homérico (próximo do significado etimológico), com função mera-
mente aditiva, seqüencial, sem o enfoque de causa e efeito. Pode-se
traduzir por: e então, então, e (naturalmente).
Ëw fato b° dƒ ’rƒ …Oneirow (B, 16)
assim falou [Zeus] e Sonho se pôs a caminho.
nhle¡w, oék ra soÛ ge pat¯r ·n ßppñta Phleæw (P, 33)
impiedoso! então não é teu pai o cavaleiro Peleu.
Aqui já aparece o enfoque inferencial (causa e efeito).
Ónoxñei glukç n¡ktar Žpò krht°row Žfæssvn: sbestow
dƒ ’r ¤nÇrto g¡lvw mak‹ressi yeoÝsi (A, 598)
tirando da cratera [Hefesto] pôs-se a servir doce néctar; e um sor-
riso inextingüível surgiu nos deuses bem-aventurados.

2. Na prosa, sobretudo nos diálogos, prevalece, o sentido inferencial (causa


e efeito), com significado de: então, pois bem, ora, a seguir (conclusão
globalizante).
É usado sobretudo nos silogismos, para ajustar a primeira premis-
sa à segunda e para levar a uma conclusão. Pode aparecer às vezes acom-
panhado de outras partículas, sem que seu significado sofra grandes
danos.
¤nenñhsa tñte ra katag¡lastow Ên ²nÛka ¦fhn eänai
deinòw tŒ ¤rvtik‹ oéd¢n eÞdÆw ra toè pr‹gmatow (Plat.,
Banq., 198c)
naquele momento então eu pensei que eu era ridículo quando eu
disse que era entendido nas coisas do amor, ora, eu não entendia
nada da coisa!

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630 os invariáveis: conjunções e partículas

– tŽgayŒ oé kaÜ kalŒ dokeÝ soi eänai;


– ƒEmoÛ ge.
– EÞ ra õ …Ervw tÇn kalÇn ¤nde®w ¤stin k’n tÇn
ŽgayÇn ¤nde¯w eàh; (Plat., Banq., 201c)
– as coisas boas não te parecem ser belas?
– A mim, pelo menos, sim.
– Então, se o Amor é carente das coisas belas, ele não seria carente
também das coisas boas?
eÞ ra g¡gonen Éw oðtoi l¡gousin (Dem., LVI, 28)
se, então, essas coisas aconteceram como esses aí dizem.

3. Alguns gramáticos dissociam ra de ”ra, fazendo a segunda fundir-


se com a partícula interrogativa ·.
Foneticamente é difícil, porque a vogal longa absorveria a breve.
Dever-se-ia esperar uma contração em h e não em a. J. Humbert ad-
mite que os manuscritos são vacilantes: num mesmo texto ora regis-
tram ra, ora ”ra.
Mesmo assim, em função interrogativa, ”ra não se afasta do sig-
nificado de ajuste, inferencial de ra.
Em geral são perguntas que levam em conta o antecedente e o ajus-
tam ao conseqüente, para chegar a uma conclusão.
¦melon sƒ ”ra kin®sein ¤gÅ (Aristóf., Nuvens, 1301)
então [conclusivo] eu devia te fazer mover.
‰V fÛlh m°ter pñtƒ ”ra sòn öcomai d¡maw; (Eur., Íon, 503)
Querida mãe, quando então [afinal] eu verei a tua pessoa?
”ra katagel‹sesy¡ mou Éw meyæontow; (Plat., Banq., 212b)
rireis, então, de mim como de um bêbado! [a partir do que vedes].
”rƒ oé meg‹lhn Žrx¯n rxv; (Aristóf., Vespas, 620)
então não é grande o cargo que estou exercendo?! [inferencial].
TÛ oïn; õ naæthw ”ra m¯ ƒw prÇran fugÆn præmnhyen
hëren mhxan¯n svthrÛaw ; (Ésquilo, Sete contra Tebas, 208)
O que então? Será que o marinheiro fugindo da popa para a proa
não encontrou um meio de salvação?!

mur07.p65 630 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 631

ƒAt‹r / Aét‹r

São compostas de Žr- (significado de ajuste, adição) e de aïte,


com significado de uma simples transição (ora, pois), ou oposição fraca,
comparável às vezes ao conetivo de (e, por sua vez, aliás, contudo:
adversativa fraca).
ôktÆ, ŽtŒr m®thr ¤n‹th ·n (B, 313)
eles [os filhotes] eram oito, e a mãe [por sua vez] era a nona.
tÆ d¢ oß Êmv kurtÅ... aétŒr ìperye fojòw ¦hn kefal®n
(B, 218)
eram-lhe dois ombros curvados e ainda em cima era pontudo de
cabeça [ele tinha os dois ombros curvados e ainda tinha um crânio
pontudo].
kaÜ lloi tin¡w me ³dh ³ronto ŽtŒr kaÜ Eëhnow prÐhn...
(Plat., Féd., 60d)
alguns outros também me perguntaram, e ainda outro dia, Eueno.
†Ektor, Žt‹r pou ¦rhw Patrvkl°ƒ ¤jenarÛzvn sÇw
¦ssesyƒ (X, 331)
Heitor, aliás de algum modo tu dizias ao despojar [despojando]
Pátroclo que tu serias salvo.
tÇn kakÇn oávn ¤r˜w: ŽtŒr ¦sti gƒ õpoÛan l¡geton eé-
daÛmvn pñliw; (Aristóf., Aves, 144)
que males desejas ardentemente! aliás, existe uma cidade feliz do
tipo de que vós duas falais?!

†Ate - < ‘ te

Na verdade é um relativo (neutro plural) com sua função e signifi-


cado natural. Essa função e sentido anafórico fazem parte da natureza do
relativo; por isso a frase que se segue pode ter nuances de causal, compa-
rativa, explicativa (uma vez que, porque, como).
É claramente um acusativo de relação (adverbial) petrificado.
Essa causalidade freqüentemente é simultânea ao efeito; por isso é
comum o uso do particípio do infectum.
Ver também Ëste, ¤fƒ Ú te, ÷ste / ÷w te, oåñw te, ÷ti / ÷ ti.

mur07.p65 631 22/01/01, 11:39


632 os invariáveis: conjunções e partículas

‘te tòn xrusòn ¦xvn... ¤pikoærouw ¤misyoèto (Hdt., 1, 154)


em que [em relação ao que] ele tinha o dinheiro [porque tinha, em
tendo] ele contratava [pôs-se a contratar] mercenários.
õ d¢ Kèrow ‘te paÝw Ìn kaÜ filñkalow kaÜ filñtimow ´deto
tÒ stol» (Xen., Cir., 1, 3, 3)
Ciro em sendo menino [em que, por que] e amante do belo e das
honras se comprazia com sua veste.

Aï /aï te / aïte (aïtiw / aïyiw)

Marca uma sucessão, com uma idéia fraca de oposição: por outro
lado, por sua vez, (uma espécie de retomada do discurso).
Às vezes pode vir enfatizada por de, o que lhe dá uma versão de
alternativa.
kaÜ tÛ tiw ’n aï eÞpÆn §teron oék ¤jam‹rtoi (Plat., Sof.,
225e)
e, por outro lado, que outra coisa alguém tendo dito, não se enganaria
tòn m¢n... b‹le dourÛ, …Antifon aï... ¦lase (L, 108)
ele atacou um com a lança e... por outro lado atingiu ântifos.
dokeÝ... xr°nai... prñteron K¡bhtow akoèsai tÛ aï ÷de ¤g-
kaleÝ tÒ lñgÄ (Plat., Féd., 86e)
parece-me ser preciso ouvir primeiro [de] Cebes o que, por sua vez,
ele atribui ao argumento.
kaÜ àsvw aï êmeÝw ¤m¢ ²geÝsye kakodaÛmona eänai (Plat.,
Banq., 173c)
e talvez, por outro lado, vós pensais que eu sou infeliz.
oß †Ellhnew ¤p¹esan oß dƒ aï b‹rbaroi oék ¤d¡xonto (Xen.,
1, 10, 11)
os gregos atacaram, os bárbaros por sua vez, não aceitaram (não
esperaram o ataque).

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os invariáveis: conjunções e partículas 633

Aïyiw

De volta, em sentido contrário, de novo.


kayƒ ù ²d¡a ¤stÛn ”ra katŒ toèto oék Žgay‹; kaÜ aïyiw
aï tŒ ŽniarŒ oé kayƒ ÷son ŽniarŒ kak‹; (Plat., Prot., 351c)
segundo o que as coisas dão prazer, será que, segundo isso, elas
não são boas? e por outro lado, segundo o quanto são desagradá-
veis, elas são más? [pelo que as coisas são agradáveis por isso elas
não são boas? e por outro lado, as coisas desagradáveis, elas não
são más na proporção de desagradáveis?].

AétÛka

No ato, imediatamente; por exemplo, isto é.


´jei aétÛka Éw ¤gÙmai, [¤gÆ oämai] (Plat., Banq., 175b)
ele virá logo, como eu penso.
eÞ gŒr tiw aétÛka d¯ m‹la eàpoi Éw ¤k tÇn nevt‹tvn toçw
l¡gontaw eänai deÝ ŽpokteÛnaitƒ ’n aétñn (Dem., C. Aristóg.,
29)
na verdade se alguém, no ato, afirmasse que é preciso que os ora-
dores sejam dentre os mais jovens, vós o mataríeis.
¤dÛdaske m¡xri ÷tou d¡oi ¦mpeiron eänai ¥k‹stou pr‹g-
matow tòn ôryÇw pepaideum¡non: aétÛka gevmetrÛan
m¡xri toætou ¦fh deÝn many‹nein §vw... (Xen., Mem., 4, 7, 2)
[Sócrates] ensinava até o que era [fosse] preciso o homem educa-
do estar apto em cada coisa, por exemplo a geometria, dizia, era pre-
ciso entender até o ponto de...

Aïtiw (ver aïyiw)

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634 os invariáveis: conjunções e partículas

G‹r < ge Žr / ge ”ra

É uma somatória de uma partícula enfática, restritiva, intensiva ge,


e uma aditiva (de ajuste) r / ”ra.
É a partícula anafórica explicativa por excelência. Aristóteles a
usa constantemente para explicar ou demonstrar um postulado.
É muito próxima do car francês.
Podemos traduzi-la por pois, na verdade, com efeito, de fato.
Às vezes, poucas, ela pode ser meramente expletiva.
Nas respostas, muitas vezes ela sublinha o sim ou o não: pois é.
Por causa do ge (enclítico) g‹r nunca começa uma frase.
oéd¢n prgma, Î SÅkratew: ¤gÆ gŒr kaÜ Þ‹somai. FÛ-
low g‹r moi GorgÛaw (Plat., Górg., 447b)
não é nada, Sócrates, pois também sou eu que vou reparar. Na ver-
dade Górgias é meu amigo.
dihg®somai tŒ pr‹gmata: ¤moÜ g‹r, Î ndrew dikastaÛ,
pat®r ¤sti SvpaÝow (Isócr., Trap., 3)
vou expor os fatos: pois bem, meu pai, senhores juízes, é Sopeu...
dhloÝ d¡ moi tñde tÇn palaiÇn Žsy¡neian oéx ´kista:
prò gŒr TrvikÇn oéd¢n faÛnetai prñteron koin» ¤rgas-
m¡nh ² „Ell‹w (Tuc., 1, 3)
isto revela a mim, não minimamente, a fraqueza dos antigos [gre-
gos]: na verdade, antes dos feitos de Tróia, a Grécia aparece [é evi-
dente] antes não ter feito nada em comum.
– „OmologeÝw, oïn, perÜ ¤m¢ dikow gegen°syai;
– ‰H gŒr Žn‹gkh (Xen., An., 1, 6, 8)
– Então tu estás de acordo que tu te tornaste injusto comigo?
– Pois é, é forçoso.
– oëtoi kaÜ l¡gontai polç dienegkeÝn tÇn kayƒ ¥autoçw
ŽnyrÅpvn;
– L¡gontai g‹r, ¦fh (Xen., Mem., 3, 5, 11)
– e também não se diz [eles não são ditos] que eles se distinguiram
muitos dos homens de seu tempo?
– Pois se diz [são ditos], disse ele.

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os invariáveis: conjunções e partículas 635

– aß mht¡rew tŒ paidÛa m¯ ¤kdeimatoæntvn.


– M¯ g‹r, ¦fh (Plat., Rep., 381)
– que as mães não aterrorizem os filhos.
– Não, não, disse ele [na verdade não; de fato não].
taxç g ƒ ’n xarÛsainto; oé g‹r; (Dem., Mid., 209)
eles depressa iriam agradá-lo? Pois não é? 4
eàper tiw ŽpokteÛnei tin‹, oðtow d®pou poieÝ “ dokeÝ aétÒ;
· g‹r; (Plat., Górg., 468d)
se alguém mata um outro, esse com certeza está fazendo o que lhe
parece [bem]. Pois sim?

Ge

Partícula átona, por isso enclítica e pospositiva; chama a atenção


para a palavra anterior.
É uma das partículas mais empregadas em grego.
É nitidamente uma pontuação oral, que se põe depois de uma pa-
lavra para marcar uma pausa, uma inflexão e por isso mesmo pode ter
uma força restritiva e enfática.
Homero se serve dela juntando-a aos pronomes pessoais e
demonstrativos.
Muitas vezes fica intraduzível no contexto.
Nos diálogos (Platão) e no teatro, ge é de uso muito freqüente;
ela acrescenta muita vivacidade e intensidade à fala.
Poderíamos apresentar centenas de exemplos, que os gramáticos
colheram e tentam explicar, mas voltaríamos sempre à situação primeira,
isto é, à sua função de pontuação oral, enfática, restritiva, muito próxima
do sim, lançando uma luz especial sobre a palavra sobre a qual incide.
Alguns exemplos serão suficientes.

4 G‹r vem combinada com uma série de partículas; o que leva muitos gramáticos a
procurar um sentido especial para essas combinações. Não vemos muita necessida-
de disso. Essas combinações respeitam o significado base, denotativo de cada ele-
mento; portanto, basta respeitar o significado de cada um e enquadrá-los no con-
texto, e a solução aparecerá.

mur07.p65 635 22/01/01, 11:39


636 os invariáveis: conjunções e partículas

oéd¢ sƒ ¦gvge lÛssomai eánekƒ ¤meÝo m¡nein. (A, 173)


por mim, eu nem mesmo vou te pedir para permanecer.
naÜ d¯ taèt‹ ge p‹nta... ¦eipew (A, 286)
sim, sim, pelo menos essas coisas todas... tu disseste.
ŽtŒr m¡teimÛ g ƒ aétñn (Aristóf., Nuvens, 801)
a propósito, eu vou [sim] à busca dele.
makarÛa g ƒ ’r ² pñliw ¦stai (Aristóf., Assemb., 558)
então a cidade será pelo menos feliz.
fñbon ge, eÞ mhd¢n meÝzon, polemÛouw dænasyai parasxeÝn
(Plat., Leis, 806b)
poder inspirar nos inimigos, na falta de melhor, pelo menos o medo.
”rƒ oéx oðtvw; – p‹nu ge (Plat., Eutifr., 8e)
então não é assim? – Perfeitamente!
§terai d¡ g ƒ eÞsi tÇn texnÇn aã diŒ lñgou pn peraÛnousi
(Plat., Górg., 450d)
pelo menos há outras artes que realizam tudo pela palavra.

Goèn (ge oïn)

Mais forte do que ge; também pospositiva:


em todo caso, pelo menos, certamente.
²mw deÝ Ždikoum¡nouw, t°w goèn „Ell‹dow m¯ st¡resyai
(Xen., An., 7, 1, 30)
é preciso nós, sendo injustiçados, pelo menos então não sermos pri-
vados da Grécia.
êp‹rgurñw ¤sti safÇw yeÛ& moÛr&: pollÇn goèn pñlevn
paroikousÇn eÞw oédemÛan toætvn oéd¢ mikrŒ fl¡c
ŽrgurÛtidow di®kei (Xen., Rec. da Át., 1, 5)
[a Ática] tem o subsolo rico de prata, claramente por quinhão di-
vino; em todo caso [pelo menos], das muitas cidades vizinhas, para
nenhuma delas corre nem mesmo um pequeno veio de minério de
prata.

mur07.p65 636 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 637

‰V SÅkratew, ¤gÆ m¢n Õmhn toçw filosofoèntaw eédai-


monest¡rouw xr°nai gÛgnesyai : sç d¡ moi dokeÝw tŽnan-
tÛa t°w filosofÛaw Žpolelauk¡nai : z»w goèn oìtvw, Éw
oédƒ ’n eãw doèlow êpò despñtú diaitÅmenow meÛneie (Xen.,
Mem., 1, 6, 2)
Sócrates, eu pensava que os amantes da filosofia devessem se tor-
nar mais felizes; mas tu me pareces ter tirado da filosofia o contrá-
rio disso; pelo menos é assim que vives: como nem mesmo um es-
cravo, se levasse esse regime, permaneceria submisso ao patrão.
boælei skopÇmen Žrj‹menoi Žpò t°w trof°w Ësper Žpò
tÇn stoixeÛvn; kaÜ õ ƒArÛstippow ¦fh :
– DokeÝ goèn moÛ ² trof¯ Žrx¯ eänai (Xen., Mem., 3, 3, 5)
queres analisemos, começando da alimentação, como dos [primei-
ros] elementos? E Aristipo disse:
– pelo menos me parece a alimentação ser um princípio.
– F¡re, poÝai gŒr tin¡w eÞsin;
– oék oäda safÇw: eàjasin goèn ¤rÛoisin (Aristóf., Nuvens, 343)
– Vamos lá, na verdade de que tipo eram essas umas?
– Não sei com segurança; pareceram em todo caso com flocos de lã.

DaÛ
Seria uma partícula construída sobre a partícula de, mas, mais en-
fática, mais expressiva. Em geral sublinha um termo interrogativo, como
que?, como?
Podemos traduzi-la, por então.
tÛ daÛ; · dƒ ÷w, oé filñsofow Eëhnow; (Plat., Féd., 61c)
O que então?! disse ele, Eveno não é filósofo?!
tÛ l®kuyow kaÜ strñfion; tÛw daÜ katñptrou kaÜ jÛfouw
koinvnÛa; (Aristóf., Tesm., 141)
o que é um vaso de azeite e um porta-seio? O que há então de co-
mum entre um espelho e uma espada?!
tÛ daÛ; tòn DaÛdalon oék Žk®koaw ÷ti Žnagk‹zeto dou-
leæein; (Xen., Mem., 4, 2, 33)
o quê?! não ouviste dizer que Dédalo era obrigado a servir como
escravo?!

mur07.p65 637 22/01/01, 11:39


638 os invariáveis: conjunções e partículas

É também uma pontuação oral. É pospositiva.


Como todas as pontuações orais, não teria um significado próprio,
mas tem um valor aditivo-intensivo, às vezes com nuances opositivas de
desigualdade.
• Empregada sozinha, sem ter sido anunciada por m¡n, ela dá uma
leve inflexão à linha narrativa ou expositiva do segmento anterior do enun-
ciado.
Muitas vezes pode ser traduzida por e, ou então, se o significado
do segundo segmento encerra uma idéia contrária à do segmento anterior,
pode ser traduzida por mas.
Mas não há uma antítese; apenas uma nova idéia, marcada por uma
pausa, alguma coisa de diferente. Não há uma regra absoluta para seu
uso, nem ela tem um significado absoluto.
As traduções mais comuns são as seguintes: e, por outro lado, porém.
Ou então não se traduz; uma vírgula marca a pausa.
• Anunciada por m¡n, exprime um paralelismo, um contraponto. Ora
põe lado a lado enunciados paralelos, numa mesma linha de significado,
e não se traduz, ora o segundo segmento encerra uma idéia diferente ou
contrária e pode ser traduzida por mas, porém; por isso o uso de m¢n...d¢
é impossível em uma relação principal-subordinada.
oðtow dƒ Aàaw ¤stÜ pelÅriow... (G, 229)
E esse aí, é o Ajax, enorme.
Î P¡rsh, sç dƒ koue dÛkhw mhdƒ ìbrin öfelle (Hes., Trab.,
213)
Perses, tu [por tua vez] ouve a justiça e não alimentes a insolência.
Strep. – tÛ potƒ ¤w t¯n g°n bl¡pousin oêtoiÛ;
Disc. – Zhtoèsin oðtoi tŒ katŒ g°w.
Strep. – Bñlbouw ra zhtoèsin...tÛ gŒr oåde drÇsi oß
sfñdrƒ ¤gkekufñtew;
Disc. – oðtoi dƒ ¤rebodifÇsin êpò tòn T‹rtaron.
Strep. – porque [em relação ao que] esses aí estão olhando para a
terra [chão]?
Disc. – Eles estão procurando as coisas debaixo da terra [dentro].

mur07.p65 638 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 639

Strep. – Então eles estão procurando cebolas... E estes, os que es-


tão completamente curvados para o chão?
Disc. – Esses, [pausa=restrição] eles estão perscrutando o Érebo até
debaixo do Tártaro.
ƒIsymòn d¢ m¯ purgoète medƒ ôræssete (Hdt., 1, 174)
E o Istmo, (pausa=restrição) não o fortifiqueis com torres e nem
façais escavações.
oáh per fællvn gene® toÛh d¢ kaÜ ŽndrÇn (Z, 146)
exatamente qual a geração das folhas tal também a dos homens
(paralelismo).
eÞsÛn ¦fh M®dvn m¢n ßppeÝw m¢n pleÛouw tÇn murÛvn:
pelt‹stai d¢ kaÜ tojñtai g¡nointƒ ’n Éw ¤pÜ t°w ²met¡raw
¥jakismærioi. ƒArmenÛvn dƒ ¦fh par¡sontai ßppeÝw m¢n te-
trakisxÛlioi pezoÜ d¢ dismærioi (Xen., An.)
existem [nós temos] dos medos, de um lado, [m¡n], cavaleiros, [m¡n]
mais de dez mil, e [de] os peltastas e arqueiros de nosso país che-
gariam por volta de sessenta mil; E [de] dos armênios, por outro
lado, disse ele, estarão presentes cavaleiros [men] quatro mil e pe-
destres [infantaria] [d¡] vinte mil.
toÝw m¢n poihtaÝw polloÜ d¡dontai kñsmoi toÝw d¢ perÜ toçw
lñgouw oéd¢n ¦jestin tÇn toioætvn (Isócr., Evág., 9)
aos poetas (de um lado) foram dados muitos ornamentos e (por outro
lado) aos oradores nenhuma dessas coisas é permitido.
Žrxaiñtropa êmÇn tŒ ¤pithdeæmat‹ ¤stin: Žn‹gkh d¢ ŽeÜ
tŒ ¤pigignñmena krateÝn (Tuc., 1, 71, 2)
vossos métodos de administração são à moda antiga, ora [porém] é
necessário que os que sobrevêm levem a melhor.

mur07.p65 639 22/01/01, 11:39


640 os invariáveis: conjunções e partículas

É um conetivo forte, demostrativo; tem um valor intensivo, demons-


trativo, retomando (anafórico) e confirmando as indicações (de tempo e
outras) da frase anterior.
Enfatiza e ressalta a palavra anterior.
É uma partícula preferencialmente usada na prosa, por sua preci-
são: eis, então, precisamente.
Assim d® se juntou a inúmeros conetivos (partículas) e expres-
sões, formando conetivos novos, compostos, como: dhlond®, dhlad®,
d°ta, d°yen, d®pote, d®pou, d®pouyen, ¤peid®.
Trataremos deles todos na seqüência da ordem alfabética.
oéx oìtvw ¦xei; - ¦xei d®.
não é assim? – É, sim (é claro).
TÛ d®;
Por que então? (em relação ao quê?).
Aërion d® ¦fh àsvw Î FaÛdvn tŒw kalŒw taætaw kñmaw
Žpoker»; (Plat., Féd., 89b)
É amanhã, não é, disse ele, Fédon, que cortarás essa bela cabeleira?
Aìth d® ¦fh ² Svkr‹touw sofÛa; (Plat., Rep., 338b)
É essa aí, disse ela, a sabedoria de Sócrates?
Prñage d®; (Plat., Fedro, 227c)
Avança então!
PollÒ d¯ ·n Žsyen¡staton tÇn ¤yn¡vn tò ƒIvnikñn (Hdt.,
1, 143)
E em muito o mais fraco dos povos (helênicos) era o jônico.
Nèn aï mñna d¯ nÆ leleimm¡na; (Sóf., Ant., 58)
E agora nós duas estamos abandonadas sozinhas, não é?
nèn dƒ õrte d¯ kaÜ aétoÛ (Plat., Ap., 31b)
agora, vede então vós mesmos.
ƒAkoæeiw d® ¦fhn ¤gÅ... ProdÛkou toède (Plat., Prot., 341c)
Estás ouvindo o Pródico aqui, não é?, disse eu?!

mur07.p65 640 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 641

KoÛú d¯ krÛneiw T¡llon eänai ôlbiÅtaton; (Hdt., 1, 30)


Por que (de que maneira), então, tu julgas que Telos é o mais feliz?
÷tan eÞw tò aétò ¦lyvsin ¤rast®w te kaÜ paidikŒ... tñte
d¯ (Plat., Banq., 184e)
quando (sempre que) o amante e o amado chegam ao mesmo pon-
to... nesse momento então...
oékoèn ¤peid¯ oé didaktñn ¤stin, oédƒ ¤pist®mh d¯ ¦ti
gÛgnetai Žret®; (Plat., Mên., 99a)
não é verdade que, uma vez que não é algo ensinável, então, a vir-
tude não chega a ser nem mesmo ciência?
¤rvt˜w... ána d¯ eéyçw faÛnvmai aétòw ¤mautÒ tŽnantÛa
l¡gvn (Plat., Mên., 82a)
tu me estás interrogando para que eu apareça direto dizendo coisas
contrárias a mim mesmo, não é?!
fvn¯n ¦doja Žkoèsai... eÞmÜ d¯ oïn m‹ntiw (Plat., Fedro, 242c)
pareceu-me ouvir uma voz... pois então eu sou um adivinho.

D°yen (d® - yen)

A partir daí, então. É um reforço, uma ênfase sobre o sufixo adver-


bial de lugar de onde, com inferências causais ou temporais.
tÛ d¯ Žndrvy¡ntew d°yen poi®sousin; (Hdt., 6, 138)
tendo-se tornado adultos, a partir daí [então], o que farão?
oá min ±y¡lhsan Žpol¡sai d°yen... (Hdt., 1, 59)
os que então quiseram fazê-lo perecer...

Dhlad® (d°la d®) / dhlond® (d°lon d®)

Enfático sobre “é evidente, é claro, é manifesto”.


pñyen, Î SÅkratew, faÛnei ; µ dhlad¯ Žpò kunhgesÛou;
(Plat., Prot., 309a)
De onde, Sócrates tu apareces?! Não é evidente que é de caçada?!

mur07.p65 641 22/01/01, 11:39


642 os invariáveis: conjunções e partículas

D®pote (d® pote)

Então, por acaso.


Nas perguntas, é um acréscimo de uma noção de incerteza, pedin-
do confirmação.
tÛ d®pote nomÛzete t¯n tÇn PanayhnaÛvn ¥ort¯n ŽeÜ toè
kay®kontow xrñnou gÛgnesyai; (Dem., Fil., 1, 35)
Então por que por acaso pensais que as festas das Panatenías se rea-
lizam sempre na data conveniente?
÷stiw d® pote Ên (Plat., Fedro, 373c)
sendo enfim aquele que por acaso é.

D®pou (d® pou)

Com certeza, naturalmente, sem dúvida, associado à partícula -d®


acrescenta um tom confirmativo, conclusivo, com um leve toque de iro-
nia: certamente, na verdade, sem dúvida então, talvez, não é?
oé d®pou kaÜ sæ eä tÇn toioætvn ŽnyrÅpvn oã xrhsimñ-
teron nomÛzousi xr®mata µ Ždelfoæw; (Xen., Mem., 2, 3, 1)
Com certeza também tu não és desse tipo de homens que conside-
ram as riquezas [os bens] mais úteis do que os irmãos!?
– pñteron õ aétòw µ llow;
– „O aétòw d®pou (Plat., Íon, 531e)
– é ele mesmo ou um outro?
– É o mesmo, com certeza [naturalmente].
àste d®pou ÷ti oédeÜw pÅpote õmologÇn ŽdikeÝn ¥‹lv
(Dem., Emb., 215)
vós sabeis com certeza que ninguém jamais foi pego confessando
que é injusto [que é réu, culpado].
àste gŒr d®pou (Dem., 25, 15)
pois vós sabeis certamente.
oédeÜw d®pou ŽgnoeÝ (Dem., 356, 9)
ninguém ignora, sem dúvida.

mur07.p65 642 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 643

d®pouyen (d® pou -yen)

Pospositiva.
Poderíamos dizer que é uma composição confirmativa (d®) e ilativa
(-yen): sem dúvida então.
oédamÇw d®pouyen (Dem., 832, 15)
sem dúvida, de modo algum.
– tÇn kakÇn êmeÝw aàtioÛ ¤ste;
– oé d®pouyen (Lís., 6, 36)
– de nossos males os culpados sois vós?
– não, com certeza [é claro que não].

D°ta

É uma partícula de afirmação mais forte do que d®.


Nas interrogações insistentes, conclusivas, sublinha a palavra
anterior.
Então, com certeza.
– oédamÇw ra deÝ ŽdikeÝn;
– Oé d°ta (Plat., Críton, 49b)
– Então não se deve cometer injustiça de nenhuma forma?
– É claro que não. [não, evidentemente].
oé d°ta ¦gvge
eu não, com certeza [é claro].
tÛ oïn d°ta ’n eàh ¤pist®mh lekt¡on; (Plat., Teet., 164b)
pois bem, então o que deveria ser dito ciência?
Ëw me ŽpÅlesaw; ŽpÅlesaw d°ta (Sóf., El., 1164)
como tu me arruinaste! sem dúvida arruinaste.
– oék ra perÜ p‹ntaw ge toçw lñgouw ² =htorik® ¤stin;
– Oé d°ta (Plat., Górg., 449e)
– Então a retórica não é pelo menos em relação a todos os discursos?
– Não, com certeza.

mur07.p65 643 22/01/01, 11:39


644 os invariáveis: conjunções e partículas

Diñti (diƒ ÷ti)


Porque, por que razão.

ƒEŒn (eÞ ’n) / ’n / µn


Partícula supositiva de eventualidade.
Em grego: sempre com o subjuntivo.
Em português: presente ou futuro do subjuntivo: se, caso (no caso de);
eventual de repetição do presente (sempre que): subjuntivo em grego e
presente do indicativo em português.


É a partícula supositiva por excelência; em grego introduz sempre a
hipótese real, ou irreal, sempre no indicativo.
A tradução em português é se.
• Em português, há confusão e incerteza no emprego do se. A razão
disso é que os gramáticos consideram o se como uma conjunção regente
desse ou daquele modo verbal.
• Em grego, as coisas são bem claras:
A hipótese real e a irreal não trazem problemas.
A real só se realiza no presente:
“Se os deuses fazem algo feio, não são deuses.”
E a irreal no passado:
“Se os cidadãos votaram bem, não elegeram aquele presidente.”
• Em grego, coerentemente, o modo da realidade e o da irrealidade
é o mesmo: indicativo.
• Em português, há um certo equívoco entre o enunciado de uma
irrealidade presente (se com imperfeito do subjuntivo na condicionante,
e condicional simples na condicionada)e o potencial. Para o possível, o
português usa a mesma construção do irreal do presente. Só o contexto e
a entonação podem resolver o problema.
“Se eu tivesse dinheiro eu te emprestaria” tanto pode significar: “eu
não tenho dinheiro e não te empresto”, e escolho uma forma delicada (opta-
tivo grego e condicional português) para dizer isso, quanto o enunciado
de uma mera possibilidade sem insistir na realidade ou não.

mur07.p65 644 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 645

• No grego, a irrealidade do presente é expressa pelo imperfeito do


indicativo com eÞ na condicionante e imperfeito do indicativo com n na
condicionada; mas a possibilidade é expressa pelo optativo com eÞ na con-
dicionante e optativo com n na condicionada.
Numa situação narrativa do passado, quando há repetição do fato
(sempre que, cada vez que) e não um momento preciso (indicativo), en-
contramos eÞ com optativo, que as gramáticas denominam optativo oblí-
quo ou de subordinação.
eÞ tou fÛlvn bl¡ceien oÞketÇn d¡maw ¦klaen ² dæsthnow
eÞsorvm¡nh (Sóf., Traq., 908)
se [cada vez que] olhava um de seus queridos servos, olhando-os a
infeliz chorava.
potòn d¢ pn ²dç ·n tÒ Svkr‹tei diŒ tò m¯ pÛnein, eÞ m¯
dicÐh (Xen, Mem., 1, 3, 5)
toda bebida era agradável a Sócrates pelo fato de ele não beber se
não tinha sede [a menos que - repetição].
faÛh dƒ ’n ² yanoèsa eÞ fvn¯n l‹boi (Sóf., El., 548)
a que morreu [Ifigênia] diria [como eu] se retomasse a voz (irreal
do presente).
eÞ bouloÛmeya M¡nvna tñnde Žgayòn Þatròn gen¡syai
parŒ tÛnaw ’n p¡mpoimen didask‹louw; (Plat., Mên., 90c)
se nós quiséssemos que Mênon que aqui está se tornasse um bom
médico, junto a que mestres nós o enviaríamos? (possibilidade).
eÞ dƒ ŽnagkaÝon eàh ŽdikeÝn µ ŽdikeÝsyai ¥loÛmhn ’n mllon
ŽdikeÝsyai (Plat., Górg., 469c)
se fosse necessário cometer ou sofrer injustiça eu escolheria de pre-
ferência sofrer (possibilidade).
fÇw eÞ m¯ eàxomen ÷moioi toÝw tufloÝw ’n ·men (Xen., Mem.,
4, 3, 3)
se nós não tivéssemos luz (possibilidade), seríamos iguais aos ce-
gos (irreal do presente).
eÞ tò ¦xein oìtvw Éw tò lamb‹nein ²dç ·n polç ’n di¡fe-
ron eédaimonÛ& oß ploæsioi (Xen., Cir., 8, 3, 44)
se o ter fosse (irreal: não é) tão agradável como o tomar, os ricos se
distinguiriam muito em felicidade (possibilidade).

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646 os invariáveis: conjunções e partículas

oék ’n ¤poÛhsen ƒAgasÛaw taèta eÞ m¯ ¤gÆ aétòn ¤k¡leu-


sa (Xen., An., 6, 6, 15)
Agásias não teria feito essas coisas, se eu mesmo o não tivesse or-
denado [irreal do passado: ele fez porque eu ordenei].
eÞ tñte ¤bohy®samen =–oni kaÜ polç tapeinot¡rÄ nèn ’n
¤xrÅmeya tÒ FilÛppÄ (Dem., Fil., 1, 9)
se nós tivéssemos socorrido [os aliados], nós estaríamos tratando
agora com um Filipe muito mais brando e humilde (irreal no pas-
sado; irreal no presente).
eÞ oß lloi ³yelon toioètoi eänai ôry¯ ’n ²mÇn ² pñliw ·n
kaÜ oék ’n ¦pesen tñte toioèton ptÇma (Plat., Láq., 181b)
se os outros quisessem [agora irreal do presente] ser desse tipo
[como Sócrates], nossa cidade estaria (irreal do presente) em boas
condições e não teria sofrido na ocasião tamanha queda [mas so-
freu, irreal do passado].
Observação: Na verdade o modo a ser empregado depende do sujeito
do enunciado, que é o senhor da mensagem; o conetivo traz seu signifi-
cado e faz a ligação. Podemos ver isso também nos casos em que eÞ vem
associada a outras partículas. Há várias combinações:
eÞ kaÛ, kaÛ eÞ, Ësper eÞ, eÞ ’n, eà ge, eÞ m®, eàper, eÞ g‹r, eàye,
ktl
õ Kèrow eéyçw ±sp‹zeto aétòn Ësper ’n eà tiw p‹lai fi-
lÇn Žsp‹zoito (Xen., Cir., 1, 3, 2)
Ciro beijou de imediato (Astíages), como alguém beijaria amando
há muito tempo.
¤moÜ m¢n ŽrkeÝ oàkoi m¡nein kaÜ eàte Læsandrow eàte llow
tiw ¤mpeirñterow perÜ tŒ nautikŒ boæletai eänai oé kv-
læv (Xen., Hel., 1, 6, 5)
a mim me é suficiente permanecer em casa e se Lisandro ou um
outro qualquer quer ser mais competente nas coisas náuticas, eu
não impeço [se e se].

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os invariáveis: conjunções e partículas 647

EÞ g‹r (ver eàye)

EÞ d¢ m®

E se não, com modo volitivo (eventual) ou indefinido.


eÞ boælesye sunapi¡nai, ´kein ³dh keleæei t°w nuktñw: eÞ d¢
m¯ aërion prvÜ Žpi¡nai fhsÛn (Xen., Anáb., 2, 2, 1)
se vós quereis partir com ele, ele diz para chegar de noite [esta
noite]; se não, ele diz que parte amanhã cedinho.
m¯ oìtv l¡ge, eÞ d¢ m®, oé yarroènt‹ me §jeiw (Xen., Cir.,
7, 1, 35)
não fala [fales] assim, se não, tu me terás sem coragem.

Eàye

eàye e eÞ g‹r introduzem orações de expressão de voto ou desejo


(oxalá, tomara que) em que o uso do optativo diz que o sujeito duvida da
realização do voto, mas expõe como mera possibilidade.
eàyƒ, Î lÒste, sç toioètow Ìn fÛlow ²mÝn g¡noio (Xen., Hel.,
4, 1, 38)
oxalá, excelente homem, tu que és dessa qualidade, te tornasses
nosso amigo!
eàye m®pote gnoÛhw ùw eä (Sóf., Édipo R., 1068)
oxalá nunca soubesses quem és!
eàyƒ eäxew beltÛouw fr¡naw; (Eur., El., 1061)
ah! se tivesses melhores pensamentos [sentimentos, intenções].

EÞ m®

Exceto, se não (lat. nisi)


tò te str‹teuma õ sÝtow ¤p¡lipe kaÜ prÛasyai oék ·n, eÞ
m¯ ¤n t» LudÛ& Žgor˜ (Xen., Anáb., 1, 5, 6)
os suprimentos [o trigo] abandonaram a expedição e não era pos-
sível comprar, exceto no mercado na Lídia.

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648 os invariáveis: conjunções e partículas

EÞ m¯ ra

A menos, contudo que, se é que não (lat. nisi, forte).


pÇw ’n õ toioètow Žn¯r diafeÛroi toçw n¡ouw; eÞ m¯ ra ²
t°w Žret°w ¤pÛm¡leia diafyor‹ ¤stin (Xen., Mem., 1, 2, 8)
Como um homem dessa qualidade poderia corromper os jovens?!
a menos que o estudo da virtude é [seja] uma corrupção.

Eàper

Se é que, se é verdade que (lat. si quidem).

Eäta

E então, a seguir.
¦fasan oé dunam¡nouw eêreÝn tò llo str‹teuma oéd¢ tŒw
õdoçw eäta planvm¡nouw Žpol¡syai (Xen., An., 1, 2, 25)
eles disseram que, não podendo encontrar o resto do exército nem
as trilhas [de volta], então [a seguir] eles vagando, pereceram.
eäta oék aÞsxænei Î SÅkratew; (Plat., Apol., 28b)
e depois disso, não te envergonhas, Sócrates?!

Eàte... eàte

Se... e se; seja que... seja que; quer... quer; ora... ora.

ƒEpeÛ

Conjunção temporal: quando, depois que.


Causal: como, uma vez que, porque.
Concessiva: ainda que, se bem que, bem que, como.
Em geral o nosso como cobre os vários significados de ¤peÛ.

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os invariáveis: conjunções e partículas 649

ƒEpeid®

Mesmo significado do conetivo anterior, apenas enfatizado por -


d®; também pode ser traduzido por um como genérico. Às vezes pode vir
associado à partícula do eventual n, ¤peid‹n; o subjuntivo será
conseqüente.

…Epeita (¤peÛ eäta)

A seguir, depois disso.


O modo depende da idéia de realidade (indicativo), eventualidade
(subjuntivo) e possibilidade (optativo).

…Este

Até, até que.


Usa-se como sinônimo de m¡xri, m¡xri oð, §vw, t¡vw, xri,
xri oð.
Como preposição se constrói com o genitivo partitivo (de ponto de
contato), e como conjunção se constrói com o modo da relação do con-
texto: indicativo da realidade, subjuntivo da eventualidade e optativo da
possibilidade.
…Este é menos freqüente do que m¡xri, §vw e t¡vw
perim¡nete ¦stƒ ’n ¦lyv (Xen., Anáb., 5, 1, 4)
esperai até que eu chegue (a eventualidade está marcada por n).

…Eti (oék¡ti / mhk¡ti)

Ainda, enquanto.
Relação temporal de duração (acréscimo: e mais). Afirmativa.
Em geral se usa com indicativo: constatação da realidade.
¦ti moi m¡now ¤mpedñn ¤stin (E, 254)
há ainda em mim um coração firme.
¦ti kaÜ d¯ ¤m‹xonto (Hdt., 9, 102)
eles combatiam ainda naquele momento.

mur07.p65 649 22/01/01, 11:39


650 os invariáveis: conjunções e partículas

†Evw

Até, enquanto, enquanto que.


Sinônimo de m¡xri, m¡xri oð, t¡vw, xri, xri oð, ¦ste.
O modo depende da idéia de realidade (indicativo), eventualidade
(subjuntivo) e possibilidade (optativo) do contexto.
tò tettÛgvn g¡now... mhd¢n trof°w deÝsyai genñmenon Žllƒ
sitñn te kaÜ poton eéyçw ›dein §vw ’n teleut®sú (Plat.,
Fedro, 259c)
a raça das cigarras, tendo nascido para não precisar de nenhum ali-
mento; ao contrário, para cantar direto, sem comer nem beber, até
que morra (a eventualidade está marcada por n).
periem¡nomen oïn ¥k‹stote §vw ŽnoxyeÛh tò desmot®rion
(Plat., Féd., 59d)
nós esperávamos cada vez até que a prisão se abrisse (o optativo se
usa para exprimir um fato repetido no passado; não é nem um fato
real nem eventual).
§vw ge m¡nomen aétoè skept¡on moi dokeÝ eänai ÷pvw Žs-
fal¡stata menoèmen (Xen., Anáb., 1, 3, 11)
pelo menos até que [enquanto] permanecemos aqui parece-me que se
deve olhar para que [de modo a que] permaneçamos [permanece-
remos] com a maior segurança possível (indicativo da realidade:
durante o tempo em que).
m¯ oïn ŽnameÛnvmen §vw n pleÛouw oß pol¡mioi g¡nvntai
Žllƒ àvmen §vw ¦ti oÞñmeya eépetÇw ’n aétÇn krat°sai
(Xen., Cir., 3, 3, 46)
então não esperemos até que os inimigos se tornem mais numero-
sos, mas avancemos até que (enquanto ainda) pensamos que podere-
mos dominá-los facilmente (até que se tornem: subjuntivo even-
tual; enquanto ainda pensamos: indicativo).

mur07.p65 650 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 651

’€H / ±¢ / ±æte

Ou, do que: basicamente uma relação entre dois, de diferença (do


que) comparativo ou não.

³... ³
Ou... ou, quer... quer: paralelismo.
Também usado nas interrogativas disjuntivas. Às vezes pode fazer
contraponto com pñteron (qual das duas coisas: isto ou aquilo?)
Esse conetivo não traz em si o significado da diferença. É uma re-
lação entre dois. Ele apenas põe lado a lado as palavras ou expressões. A
comparação (diferença) para maior ou menor está nas próprias palavras,
no próprio conteúdo semântico dos segmentos.
Na ausência do conetivo, o complemento da comparação (diferen-
ça) vai naturalmente para o genitivo (ablativo em latim).
Quando se fala de conetivo é preciso lembrar que o conetivo conecta,
liga, mas não funde; ele é uma ponte entre dois, um registro apenas. Por-
tanto, se ele não funde, também não separa, não tem poder de disjunção,
não desconecta.
Essa disjunção está no conteúdo das frases ou segmentos ou em
palavras, como outro, contrário, diferente.
deÝ ƒEratosy¡nhn ŽpodeÝjai µ Éw oék Žp®gagen aétòn µ
Éw dikaÛvw toètƒ ¦prajen (Lís., 12, 34)
é preciso Eratóstenes provar que ou não o levou [preso] ou fez isso
dentro da lei.
eàte LusÛaw ³ tiw llow (Plat., Fedro, 277d)
se [foi] Lísias ou um outro qualquer.
§loimÛ ken ³ ken ¥loÛhn (X, 253)
eu te poderia pegar ou poderia ser pego.
gæpessin polç fÛlteroi µ Žlñxoisin (L, 162)
mais amigos dos abutres do que das esposas.
mel‹nteron ±æte pÛssa (D, 277)
mais negro do que o piche.

mur07.p65 651 22/01/01, 11:39


652 os invariáveis: conjunções e partículas

MhonÜw ±¢ K‹eira (D, 141)


é uma [mulher] meônia ou cária.
oék ¦jestin aétÒ eÞw ßeròn eÞsi¡nai µ ŽpoyaneÝsyai (And.,
Mist., 33)
não lhe é permitido entrar no templo, ou haver de morrer.
Ërisan toÝw ôstrakizom¡noiw ¤ktòw Geraistoè kaÜ Skul-
laÛou katoikeÝn µ ŽtÛmouw eänai kay‹paj (Arist., Gov. dos
Aten., 22, 8)
eles determinaram aos que eram exilados [ostrakizados] de residir
fora dos cabos Geraistos e Squileu, ou então perder a cidadania de
vez.
pñteron dokeÝ soi k‹kion eänai, tò ŽdikeÝn µ tò ŽdikeÝsyai;
(Plat., Górg., 474c)
qual das duas coisas te parece pior: cometer ou sofrer injustiça?
oék oàei aétòn ’n ²geÝsyai tŒ tñte õrÅmena Žlhy¡stera
µ tŒ nèn deiknæmena; (Plat., Rep., 515d)
não achas que ele julgaria as coisas que eram vistas então mais ver-
dadeiras [reais] do que as que estão sendo mostradas agora?
toçw ¤nantÛouw lñgouw µ aétòw katedñkee (Hdt., 1, 22)
discursos contrários a que [do que] ele mesmo suspeitava (o conetivo
não traz a idéia de diferença/comparação; ela está no significado de
“contrários”).

Também aqui:
polç oß lñgoi oðtoi ŽntÛoi eÞsÜn µ oîw ¤gÆ ³kouon (Xen.,
6, 6, 34)
essas palavras são em muito contrárias às que eu ouvia.
kaÛ moi deèro, Î M¡lhte, eÞp¡: llo ti µ perÜ polloè poieÝ
÷pvw b¡ltistoi oß neÅteroi ¦sontai; (Plat., Apol., 24c)
dize-me também aqui, Mêletos, há alguma outra coisa a que dás
mais importância do que para que os mais jovens sejam melhores?

mur07.p65 652 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 653

‰H

Exprime um idéia de confirmação, uma espécie de certeza decor-


rente de uma convicção a partir do que foi dito, projetando-se para o que
segue.
Desse modo também é usada na formulação de uma pergunta ba-
seada numa pré-condição de resposta afirmativa. Nesse caso, às vezes se
associa a ra/”ra, que exprime ajuste.
Em português podemos vê-la assim: “uma vez feitas as contas, en-
tão...”; o significado não muda nas interrogativas: “uma vez feitas as con-
tas, então / será que?...” exprime a convicção de uma resposta afirmativa.
· kalÇw l¡gete (Plat., Banq., 176b)
é, então vós dizeis bem.
XaÛreton: · fÛloi ndrew ßk‹neton (I, 197)
saudações aos dois; então vós dois viestes como homens amigos.
kaÛtoi eÞ ¤keÝnow Žp¡yanen · pou ƒAgñratñw ge dikaÛvw
ŽpoyaneÝtai (Lís., 13, 57)
pois bem, se aquele homem morreu, então certamente Agóratos
há de morrer por justiça.
· sæ gƒ ƒOdusseæw ¤ssi polætropow; (K, 330)
então és tu o engenhoso Odisseu?
ŽllŒ tÛw soi dihgeÝto; · aétòw Svkr‹thw; (Plat., Banq.,
173a)
mas, quem te contava isso? Acaso [não é] o próprio Sócrates?
· ti perÜ TrÅvn kaÜ ƒAxaiÇn mermhrÛzeiw; (U, 17)
sem dúvida tu te preocupas a respeito dos troianos e dos aqueus?
pÇw eäpaw; · t¡ynhke Pñlubow; (Sóf., Édip. R., 943)
como dizes? então [será que] Pólibos morreu?
kaÜ n¯ tòn kæna, Î ndrew ƒAyhnaÝoi, - deÝ gŒr pròw êmw
tŽlhy° l¡gein - · m¯n ¤gÆ ¦payñn ti toioèton; (Plat., Apol.,
22a)
e, pelo cão, senhores atenienses [pois é necessário dizer a verdade
diante de vós], será que, então eu percebi algo assim?

mur07.p65 653 22/01/01, 11:39


654 os invariáveis: conjunções e partículas

· se associa a várias outras partículas, onde atua como uma confir-


mação do sentido das outras; ela aparece aí como um enfático. As princi-
pais combinações são as seguintes:
· ra (r / =a), · g‹r, · d®, ³ toi / ·toi, · m¢n... · d¢ / ±m¢n...
±d¢, · pou, · pou d¯, · m¯n, ¤pei®, ti®, õti®
tÛ l¡geiw, f‹nai, Î Kère, · gŒr sç taÝw xersÜ toætvn ti
¤fæteusaw; (Xen, Ec., 4, 23)
o que estás dizendo, disse, Ciro? pois então tu, com tuas mãos plan-
taste alguma dessas [árvores]?
· pou, ·n dƒ ¤gÅ, Î Læsi, sfñdra fileÝ se õ pat¯r kaÜ ²
m®thr; (Plat., Lísis, 207b)
então, disse eu, Lísis, certamente teu pai te ama muito e também
tua mãe?
· ra sçn meg‹lú Žret» ¤kt®sv koitin; (V, 193)
então [estou vendo], tu fizeste uma aquisição de uma esposa com
grande virtude.
eÞ tŒ deinñtata tÇn kathgorhy¡ntvn perifanÇw ¤l¡g-
xontai ceudñmenoi · pou t‹ ge pollÒ faulñtera =&dÛvw
êmÝn ŽpodeÛjv ceudom¡nouw aétoæw (Andóc., Mist., 24)
se em relação às mais graves das acusações eles estão sendo muito
manifestamente persuadidos de estarem mentindo, então [com cer-
teza], pelo menos em relação das muito mais leves eu vos demons-
trarei que eles estão mentindo.
¤n eÞr®nú · pou d¯ ¤n pol¡mÄ (Tuc., 1, 142, 3)
na paz, então com certeza também na guerra.
deÝ aétoçw ³toi Žmayest‹touw eänai (Andóc., Sobre a volta, 2)
então com certeza é necessário eles serem bem ignorantes.
õ aétòw d¡ pou oïtow tugx‹nei Ìn kaÜ filoxr®matow kaÜ
filñtimow ³toi tŒ §tera toætvn µ Žmfñtera; (Plat., Fedro,
68c)
de alguma forma esse mesmo homem se encontra sendo por acaso
tanto amigo das riquezas quanto das honras, ou então [na verdade]
de uma delas ou de ambas.

mur07.p65 654 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 655

„HnÛka

Conjunção temporal relativa: quando, no momento em que, e corre-


lativa às conjunções demostrativas thnÛka (neste tempo), ou interrogati-
va phnÛka (quando?).

†Ina

Na origem é um advérbio relativo de lugar “lá onde” a que se asso-


ciou uma idéia de eventual; surge a partir daí a idéia de finalidade, do fato
futuro.
De uma superposição de expressões semanticamente independen-
tes (lugar onde e eventual) vem a idéia da finalidade.
No ático, ána aparece como o conetivo final por excelência. Como
a idéia de finalidade é uma eventualidade, as gramáticas estabelecem como
regra que ána se constrói com o subjuntivo (eventualmente com o opta-
tivo potencial ou de subordinação). Na verdade, mais uma vez, o modo
depende do conteúdo e da maneira como o emissor quer exprimir sua
mensagem.
Em geral encontramos o subjuntivo por causa da eventualidade la-
tente no significado de ána: lá onde; não é uma localização precisa, indi-
cativa, demostrativa.
Mas, se há uma idéia de possível ou atenuação da afirmação pode-
mos encontrar o optativo (com ou sem n); e se se insiste sobre a reali-
dade, podemos encontrar o indicativo.
Î yaum‹sie M¡lhte ána tÛ taèta l¡geiw; (Plat., Apol., 26c)
ó maravilhoso Mêletos, para que dizes essas coisas? [e aqui, porque
dizes essas coisas?].
kænaw tr¡feiw ána soi toçw lækouw Žpò tÇn prob‹tvn
Žperækvsin. (Xen., Mem., 2, 9, 2)
tu crias cães para que [no que] eles afastem os lobos dos rebanhos.
m¯ speède plouteÝn ána m¯ taxç p¡nhw g¡nú (Prov.)
não te apresses em enriquecer, para que não tornes rapidamente
pobre.

mur07.p65 655 22/01/01, 11:39


656 os invariáveis: conjunções e partículas

tŒ ploÝa tñte ƒAbrokñmaw proiÆn kat¡kausen ána m¯


Kèrow diab» (Xen., An., 1, 4, 18)
então Abrocomas avançando incendiou as embarcações a fim de que
Ciro não atravesse [no que não atravesse].
eÞ gŒr Êfelon Î KrÛtvn oäoÛ te eänai oß polloÜ tŒ m¡gis-
ta kakŒ ¤jerg‹zesyai ána oäoÛ te ·san aï kaÜ ŽgayŒ tŒ
m¡gista (Plat., Críton, 44d)
ah seria bom, Críton, o povo ser capaz de realizar os maiores males
a fim que também fosse [não é] por sua vez também capaz de reali-
zar os maiores bens. (imperf. do irreal do presente).
ána m® min limòw ákhtai (T, 348)
a fim de que a fome não me chegue.
toçw n¡ouw eÞw paidotrÛbou p¡mpousin ána sÅmata bel-
tÛv ¦xvsin (Plat., Prot., 326)
eles mandam os jovens ao mestre de ginástica para que tenham os
corpos melhores.
[õ tærannow] pol¡mouw ŽeÜ kineÝ ánƒ ¤n xreÛ& ²gemñnow õ
d°mow  (Xen., An., 2, 4, 17)
O tirano sempre provoca guerras para que o povo esteja em neces-
sidade de um comandante
dihrÅtvn ’n aétoçw tÛ l¡goien ánƒ ‘ma ti kaÜ many‹noimi
(Plat., Apol., 22b)
eu os interrogava [em relação a] o que diziam a fim de que ao mes-
mo tempo eu também aprendesse algo
polçn d¢ sçn ¤moÜ xrusòn ¤kp¡mpei l‹yr&
pat®r, ánƒ, eà potƒ ƒIlÛou teÛxh p¡soi
toÝw zÇsin eàh paisÜ m¯ sp‹niw bÛou (Eur., Héc., 10-2)
meu pai envia às escondidas muito ouro comigo a fim de que, se
por acaso Ílion caísse, não houvesse penúria aos filhos vivos, [num
quadro do passado, o fantasma de Polidoro conta, em cena, fatos
passados; por isso o optativo em lugar do subjuntivo].
oàxontai ána m¯ doÝen dÛkhn (Lís., 20-1)
eles estão viajando [foram embora] a fim de não enfrentar a justiça
[que possam não enfrentar; possível].

mur07.p65 656 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 657

boælointƒ ’n ²mw ¤jvl¡nai ána tŒw teletŒw l‹boien


aétoÜ tÇn yeÇn (Aristóf., Plut., 412)
eles [os deuses] gostariam de nos ver mortos a fim de eles entre os
deuses pegarem [pudessem pegar] as oferendas
p‹ntaw ’n bouloÛmhn perÜ ¤moè taæthn t¯n gnÅmhn ¦xein
ána ²g°sye... (Lís., 7, 12)
eu gostaria de todos terem a meu respeito essa opinião, a fim de
que penseis...
[Þxyæew] t°w aét°w [g°w] Žnt¡xontai ¤gxriptñmenoi kaÜ
caæontew Éw m‹lista ána d¯ m¯ m‹rtoien t°w õdoè diŒ
tòn =ñon (Hdt., 2, 93)
[os peixes] dessa mesma região se mantêm contra [à margem],
encostando-se e tocando-a o mais possível para que não falhem [pos-
sam falhar] da rota por causa da corrente [pela] (o optativo expri-
me a possibilidade de os peixes se afastarem da rota).
tÇnde d¢ eáneken Žn°gon tŒw n¡aw ána d¯ toÝw †Ellhsi mhd¢
fugeÝn ¤j» Žllƒ Žpolamfy¡ntew ¤n t» SalamÝni doÝen tÛsin
tÇn ¤pƒ ƒArtemisÛÄ Žgvnism‹tvn (Hdt., 8, 76)
eles (os persas) espalharam os navios por causa destas coisas: a fim
de que não seja possível nem mesmo fugir aos gregos ([eventual
para os gregos], mas se fossem tomados [tendo sido dominados]
em Salamina pagassem tributo dos combates em Artemísio.

KaÛ
É o conetivo horizontal por excelência; na origem é um advérbio:
também, mesmo, até, que depois se enfraqueceu.
Liga duas palavras, duas frases, duas orações que estão no mesmo
plano.
É o conetivo somatório, aditivo, e por isso separativo (na mesma
medida em que dois objetos precisam de um conetivo, nessa mesma medi-
da eles revelam que estão separados).
Quando se coloca à frente de uma palavra, uma frase, uma oração,
isto é, quando não reflete a horizontalidade, o paralelismo kaÛ assume o
significado de conetivo forte (de antigo advérbio, como ¦ti: também,
ainda, até, mesmo.

mur07.p65 657 22/01/01, 11:39


658 os invariáveis: conjunções e partículas

Fazendo contraponto com um outro kaÛ ele significa: de um lado...


de outro, tanto... quanto, não só... mas também.
Às vezes kaÛ pode vir acompanhado de outras partículas. Nesses
casos há uma combinação dos significados; sempre com uma ênfase ou
precisão; as diversas partes mantêm e combinam os significados.
As principais combinações são: kaÜ d®, kaÜ d¯ kaÛ, kaÜ m¢n d®,
kaÜ m®n, kaÛtoi, te...kaÛ, kaÛper, eÞ kaÛ.
Nesses casos kaÛ volta a ter o significado forte, adverbial.
ôlÛgou tinòw ŽjÛa kaÜ oédenñw (Plat., Apol., 23)
[a sabedoria humana] digna de pouca coisa, de nada [mesmo] até.
dielyñntvn ¤tÇn dæo kaÜ triÇn (Tuc., 1, 82)
passados dois, mesmo três anos [até]
kaÜ dÜw kaÜ trÜw pÛnein (Plat., Fedro, 63e)
beber duas, mesmo três vezes [até].
N¡stvr ²duep®w... toè kaÜ Žpò glÅsshw m¡litow glukÛvn
=¡on aéd® (A, 429)
Nestor de fala suave, de que até da língua fluindo uma voz mais
doce do que o mel.
oé dein‹; kaÜ p¡mpousin ³dh ƒpiskñpouw eÞw t¯n pñlin;
(Aristóf., Aves, 1033)
não é terrível?! eles até mandam inspetores para nossa cidade!
· kaÜ taæthn oïn ¦fhn ¤gÅ t¯n dikaiosænhn sç did‹skeiw;
(Xen., Econ., 14, 3)
então, disse eu, até essa justiça tu ensinas?!
„Hr‹kleiw kaÜ k¡ntrƒ ¦xousin. Oéx õr˜w d¡spota; (Aristóf.,
Vespas, 420)
Por Heraclés, até ferrões eles têm! Não estás vendo, patrão?!
kaÛ moi l¡ge t¯n graf¯n labÅn (Dem., 18, 53)
pois bem, pega o decreto e lê também para mim.
¤moÛ, Î riste, eÞsin m¡n poæ tinew kaÜ oÞkeÝoi (Plat., Apol.,
34d)
ó caríssimo, para mim existem em algum lugar alguns, mesmo da
família [até].

mur07.p65 658 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 659

oëtoi... dænamai m¯ geln: kaÛtoi d‹knv gƒ ¤mautñn


(Aristóf., Rãs, 43)
não! eu não consigo não rir; e ainda que eu mesmo me morda!
kaÛtoi ¦gvgƒ oämai kaÜ t¯n læran mou kreÝtton eänai Žnar-
mosteÝn µ §na önta ¤m¢ ¤mautoè Žsæmfvnon eänai (Plat.,
Górg., 482b)
pois bem, (Cálicles), por mim eu acho ser melhor até minha lira
estar desafinada do que, sendo um só, estar em falta de sintonia
comigo mesmo.
l¡gv d¯ kaÛtoi oék oäda õpoÛ& tñlmú... xrÅmenow ¤rÇ kaÜ
¤pixeir®sv (Plat., Rep., 414d)
sim eu digo, mesmo que não sei usando de que ousadia eu vou di-
zer; ainda assim vou tentar.
pantÜ yumÒ kaÜ fileÝ kaÜ miseÝ (Dem., Emb., 227)
de todo o coração ele ama e odeia [tanto ama quanto odeia].
teyaæmaka ù kaÜ prÅhn tinòw ³kousa (Dem., Quers., 4)
eu admirei o que mesmo antes eu ouvi de alguém.
Î K¡fale, xaÛrv ge dialegñmenow toÝw sfñdra pres-
bætaiw: kaÜ d¯ kaÜ soè ²d¡vw ’n puyoÛmhn ÷ ti soi faÛnetai
toèto. (Plat., Rep., 328d)
Kéfalos, eu me alegro discutindo com os bem idosos, e então tam-
bém com prazer eu poderia saber de ti o que te parece isso.
kaÜ m¢n d¯ oék ¤n t» oÞkÛ& Žllƒ ¤n õdÒ sullabÆn Žp®ga-
ge (Lís., 12, 30)
e também na verdade ele o levou preso tendo pegado não dentro de
casa, mas na rua.
ƒAghsil‹Ä ¥autòn kaÜ t¯n gunaÝka kaÜ tŒ t¡kna kaÜ t¯n
dænamin ¤nexeÛrise (Xen., Ages., 3, 3)
[o persa Spithridates] pôs à disposição de Agesilau e a sua pessoa,
e a mulher e os filhos e sua capacidade [tanto quanto].

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660 os invariáveis: conjunções e partículas

É uma intensiva forte; enfatiza, sublinha uma afirmação ou nega-


ção. É mais oral do que escrita. Em português nem sempre se traduz.
É bastante usada nas afirmações categóricas e nos juramentos.
Às vezes é substituído por n® (sim).
oé mŒ toçw yeoæw oék oäda (Xen., Cir., 5, 4, 12)
não, pelos deuses, eu não sei! [certamente].
ŽllŒ mŒ toçw yeoæw oék ¦gvge aétoçw diÅjv (Xen., Anáb.,
1, 4, 8)
mas, pelos deuses, eu não os perseguirei [certamente].
– Žp¡fugon oß krinñmenoi;
– MŒ tòn Kæna ¤peÜ yan‹tÄ ¤zhmiÅyhsan; (Plat., Rep., 591c)
– os que estavam sendo julgados escaparam?
– Sim, pelo cão, uma vez que foram condenados à morte! [claro].

M¡n

É pospositiva e a esse título podemos considerá-la enclítica. É um


dos conetivos mais fracos; ele isola, restringe a palavra anterior, ligando-a
ao que se segue (às vezes se confunde com m®n); ele se pospõe a um
nome, pronome, advérbio ou verbo, destacando-os, restringindo-os.
Funciona como uma verdadeira pontuação oral, e nesse caso pode-
ríamos “traduzi-la” por uma vírgula.
É um conetivo que tira seu significado do contexto. Por isso é em
vão que os gramáticos tentam encontrar-lhe uma tradução: na verdade,
sem dúvida, mas e outras.
Vem freqüentemente associada ou composta com outras partículas:
m¢n... d¢, m¢n oïn, m¢n d¯, kaÜ m¢n d¯, kaÜ m¢n, m¢n toi, m¡ntoi,
m¢n... te, m¢n... kaÜ
A associação mais freqüente é com d¢, em um paralelismo de dois
segmentos (frases, sintagmas) colocados em um mesmo plano, em uma
relação equivalente a “de um lado (m¢n)... de outro lado (d¢)”. As duas
partículas, pospositivas, realçam, restringem, enfatizam as palavras sobre
as quais se “encostam” (enclíticas).

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os invariáveis: conjunções e partículas 661

O caso mais significativo está no uso sobre o artigo: õ m¢n...õ d¢,


em que, ao enfatizar o artigo, faz com que ele volte ao significado pri-
meiro, de demonstrativo: este... aquele/um... outro. Quando o paralelismo
se estende, repete-se apenas o segundo conetivo (d¢).
aétŒr ¦peita, ƒAtreÛdh, sç m¢n rxe: sç gŒr basileæ-
tatow (I, 69)
mas então, Atrida, comanda tu [e não outro], pois és o maior rei.
Zeçw m¡n pou tñ ge oäde... (G, 308)
Zeus, ele, sabia isto...
¦sth sk°ptron ¦xvn tò m¢n †Hfaistow k‹me teæxvn (B,
101)
[Agamêmnon] de pé segura o cetro, aquele [mesmo] que Hefesto
fabricou trabalhando [se cansou fazendo].
– ”rƒ oé tñde ·n tò d¡ndron ¤fƒ ÷per ·gew ²mw;
– toèto m¢n oïn aétñ (Plat., Fedro, 230a)
– Então não era essa a árvore para a qual tu nos conduzias?
– Exatamente [era] essa mesma.
– Éw topon tò ¤næpnion, Î SÅkratew.
– ƒEnarg¢w m¢n Ëw g ƒ ¤moÜ dokeÝ, Î KrÛtvn (Plat., Críton, 44b)
– como é estranho esse sonho, Sócrates.
– e [também] claro, Críton, como, pelo menos a mim, parece.
p‹ntvn m¢n krat¡ein ¤y¡lei p‹ntessin dƒ Žn‹ssein (A, 288)
todos ele quer comandar, sobre todos ele quer reinar.
fhmÜ d¯ deÝn ²mw ‘ma toÝw m¢n ƒOlunyÛoiw bohyeÝn pròw
d¢ Yhttaloçw presbeÛan p¡mpein (Dem., 2, 11)
eu afirmo que é preciso ao mesmo tempo, de um lado socorrermos
os olíntios e de outro enviarmos uma embaixada aos tessálios.
[miw d¢ oëshw] t°w toè sÅmatow yerapeÛaw dæo mñria l¡-
gv t¯n m¢n gumnastik¯n t¯n d¢ Þatrik®n (Plat., Górg., 464b)
sendo uma só a cultura do corpo [mesmo que seja], eu afirmo que
há duas partes: uma a ginástica e outra a da cura [medicina].

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662 os invariáveis: conjunções e partículas

pñlin m¢n, eÞ kaÜ m¯ bl¡peiw froneÝw dƒ ÷mvw oá& nñsÄ


sænestin (Sóf., Édipo R., 304)
nossa cidade, ainda que não enxergas, mesmo assim compreendes com
que tipo de doença ela convive.
tò dƒ aàtion oäda m¡n, l¡gein dƒ oéd¢n d¡omai (Ésquines, C.
Ctes., 139)
a causa [o que causa] eu sei, agora [mas], nada dizer eu preciso.
tòn sæmbantƒ ¤n t» pñlei yñrubon àste m¢n p‹ntew: mikrŒ
dƒ Žkoæsayƒ ÷mvw (Dem., Coroa, 168)
o rumor que corre na cidade vós sabeis todos, mas, mesmo assim,
vós ouvis poucas coisas.
patròw m¢n d¯ l¡getai õ Kèrow gen¡syai Kambæsou: õ d¢
K‹mbusow toè PerseidÇn g¡nouw ·n (Xen., Cir., 1, 2, 1)
[por parte] de pai, diz-se que Ciro nasceu de Cambises; e [esse]
Cambises era da raça dos Perseidas.
¤gÆ d¢ sæneimi m¢n yeoÝw sæneimi dƒ ŽnyrÅpoiw toÝw ŽgayoÝw
(Xen., Mem., 2, 1, 32)
quanto a mim, eu estou [freqüento] com deuses, eu estou com ho-
mens, os bons.
¤ntaèya hêrÛskonto pollaÜ m¢n klÝnai pollŒ d¢ kibÅtia
pollaÜ d¢ bÛbloi gegramm¡noi (Xen., Anab., 7, 5, 14)
naquele lugar se encontravam muitos leitos, muitos cofres, muitos
volumes [livros] escritos.
– oäsya õpñsa aétÒ ¤sti;
– mŒ tòn DÛa, ¦fh õ Kèrow, oé m¢n d® (Xen., Cir., 1, 6, 9)
– tu sabes quanto [quantos bens] ele tem?
– Por Zeus, disse Ciro, não, é claro.

M¡ntoi
É a somatória da partícula intensiva, enfática, restritiva, m¢n com a
partícula afirmativa, subjetiva, toi.
Seria então uma “intensiva-confirmativa”. Ela pode estar em todo
tipo de proposições; afirmativas, negativas, interrogativas etc.
Traduções mais comuns: sim, é claro, certamente, então, entretanto.

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os invariáveis: conjunções e partículas 663

õ Kèrow ³reto:
– · oðtoi pol¡mioÛ eÞsin;
– Pol¡mioi m¡ntoi (Xen., Cir., 1, 4, 19)
Ciro perguntou:
– Será que esses aí são inimigos?
– Inimigos sim, é claro.
– oék oàei, Î SÅkratew;
– oé m¡ntoi mŒ DÛa (Plat., Menex., 235d)
– não achas, Sócrates?
– não, não acho, por Zeus.
– oé sç m¡ntoi „Om®rou ¤pain¡thw eä; (Plat., Prot., 309a)
– então tu não és um admirador [elogiador] de Homero?
– ¤n dikasthrÛoiw oß ŽntÛdikoi tÛ drÇsin;‘ oék Žntil¡-
gousin m¡ntoi; (Plat., Fedro, 261c)
– nos tribunais, o que fazem as partes contrárias? Elas, sem dúvida,
não fazem controvérsia?

M¡xri (-w ) (hom. m¡sfa)


Tem o significado de “até, até que...”.
Pode aparecer também como preposição (até, com genitivo parti-
tivo, significando o toque do ponto de chegada). O modo a ser usado
depende da relação de real (indicativo), eventual (subjuntivo) e possível
(optativo) que estiverem no contexto.
taèta ¤poÛoun m¡xri skñtow ¤g¡neto (Xen., Anáb., 4, 2, 4)
eles estavam fazendo essas coisas até que se fez escuro [noite].
¤naum‹xhsan m¡xri oð ¦fugon (Xen., Hel., 1, 5, 11)
eles travaram o combate naval até que [o ponto que] fugiram (gen.
partitivo oð da preposição e indicativo da constatação da realidade).
¦fh t¯n Žsf‹leian eänai mhd¡na ¤kb°nai ¤k t°w neÇw m¡xri
oð ploèw g¡nhtai (Tuc., 1, 137, 2)
ele afirmou que havia uma segurança de ninguém sair da embarca-
ção, até que aconteça a partida [navegação] - (relação de eventuali-
dade > subjuntivo).

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664 os invariáveis: conjunções e partículas

M® / mhd¡ / m®te...m®te

Não eventual, volitivo, indeterminado.


É a negação eventual por excelência, volitiva, subjetiva, nas expres-
sões de desejo, exortação, finalidade, ordem negativa, temor, apreensão,
inquietação. Não nega a realidade objetiva ou subjetiva (constatação ou
afirmação).
Quando introduz uma interrogativa usando o indicativo, espera uma
resposta afirmativa (lat. nonne).
m¯ tòn ƒAxill¡a oàei frontÛsai yan‹tou kaÜ kindænou;
(Plat., Apol., 28d)
acaso crês que Aquiles se inquietava da morte e do perigo?

Mhd¡

E não. Nem mesmo.


É a negação volitiva enfatizada, reforçada.

M®te

m®te... m®te: Não... e não; nem... nem.


Repetição da negação volitiva, eventual.

M®n / m‹n (m¡n)

É também uma partícula intensiva forte, muito próxima de m‹.


Ela enfatiza e sublinha uma afirmação, uma negação ou uma interroga-
ção: realmente, com certeza, de fato, então; às vezes essa ênfase ou desta-
que tem um caráter restritivo e daí adversativo, contraditório.
Por vezes mesmo introduz uma nova idéia sob forma de antítese:
contudo, não obstante, entretanto.
Por isso é muito usada nos diálogos (Platão, os trágicos e Aristófanes).
É uma partícula pospositiva.
Como outras partículas, ela também tem combinações:
kaÜ m®n, ge m®n, m®n ge, tÛ m®n, Žllú m¯n, oé m¯n Žll‹, · m®n.

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os invariáveis: conjunções e partículas 665

– tÛ oïn ’n eàh õ …Ervw; ynhtñw;


– †Hkista.
– ƒAllŒ tÛ m®n;
– o que então poderia ser o Amor? Mortal?
– Absolutamente não [minimamente].
– Mas, afinal, o quê?
tÛnow m¯n §neka ¤many‹nete tojeæein; (Xen., Cir., 1, 6, 28)
por causa do que então aprendíeis a atirar com arco?
– fhmÜ mhd¡na ’n ¤n braxut¡roiw ¤moè tŒ aétŒ eÞpeÝn.
– toætou m¯n deÝ (Plat., Górg. 449c)
– eu afirmo que niguém diria as mesmas coisas em menos palavras
do que eu.
– é disso precisamente que eu preciso.
dokeÝ yeòw m¢n Žn¯r oédamÇw eänai, yeÝow m®n (Plat., Sof.,
216b)
esse homem parece de nenhum modo ser um deus, (mas) divino é
certamente.
kaÜ m®n, Î fÛle ƒAg‹yvn, kalÇw moi ¦dojaw kayhg®sas-
yai, (Plat., Banq., 199c)
Pois bem, meu caro Agaton, tu me pareces começar bem o discurso.
– ¤mpeirÛaw §neka k‹llista tÇn ŽndrÇn krÛnei oðtow
– polæ ge. KaÜ m¯n metŒ fron®sevw mñnow ¦mpeirow gego-
nÆw ¦stai, (Plat., Rep., 582c)
– por causa da experiência esse homem julgará muito melhor do
que os outros homens.
– Muito melhor. E ainda mais, ele será o único que estará com
moderação.
– kinduneæv, Î SÅkratew, oéd¢n eÞd¡nai Ïn tñte eäpon
– kaÜ m¯n kalÇw ge eäpew (Plat., Banq., 201b)
– eu receio, Sócrates, que não sei nada do que disse então.
– entretanto [e na verdade] falaste bem.
Žgayòw õ yeòw tÒ önti kaÜ lekt¡on oìtvw; - tÛ m®n;
a divindade na realidade é boa e é assim que se deve dizer? – E o
quê, na verdade? [certamente]

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666 os invariáveis: conjunções e partículas

– ¦stin oé toè kaloè õ ¦rvw, Éw sç oàei


– ŽllŒ tÛ m®n;
– t°w gen®sevw ¤n tÒ kalÒ. (Plat., Rep., 585a)
– o amor não é do belo [não pertence ao belo], como tu pensas.
– mas, o que é, então?
– é da geração no belo.
õ áppow pÛptei eÞw gñnata kaÜ mikroè kŽkeÝnon ¤jetrax®-
lisen oé m¯n Žllƒ ¤p¡meinen õ Kèrow (Xen., Cir., 1, 4, 8)
o cavalo caiu de joelhos e por pouco não o estrangulou; Ciro no
entanto o esperou.
ŽeÜ m¯n oïn oß yƒ ²m¡teroi prñgonoi kaÜ oß Lakedaimñnioi
filotÛmvw pròw Žll®louw eäxon oé m¯n ŽllŒ perÜ kallÛs-
tvn ¤n ¤keÛnoiw toÝw xrñnoiw (Isócr., 4, 85)
Na verdade, sempre os nossos antepassados e os lacedemônios ri-
valizaram entre si em ambição [amor à glória], com certeza, naque-
les tempos, não pelos mais belos motivos.

MÇn (m¯ oïn)

Então não? Por acaso não? (lat. num); oïn traz a idéia de conseqüên-
cia, conclusão. Espera-se uma resposta negativa.

NaÛ

Sim. Está certo.


É a resposta afirmativa por excelência. Convive com outras expres-
sões mais enfáticas, como:
m‹lista: sobretudo, maximamente; sim, com certeza;
p‹nu m¢n oïn, p‹nu ge: mas sim, certamente que sim;
¦gvge: eu, por mim (está implícito o verbo condutor da pergun-
ta: tu pensas assim? - eu, por mim [penso], fhmi, f‹skv, eu digo, es-
tou dizendo [que sim]).

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os invariáveis: conjunções e partículas 667

Partícula de protesto, isto é, partícula enfática incidindo sobre uma


afirmação categórica, como um juramento.
Uso comum como m‹.
– · kaÜ dÛdvw p‹nta taèt‹ moi tŒ kr¡a;
– N¯ DÛa, ¦gvg¡ soi (Xen., Cir., 1, 3, 6)
– acaso tu estás dando toda essa carne para mim?!
– Sim! Por Zeus, estou te dando!

Nèn

Agora, neste momento, agora mesmo, há apenas um instante.


yæomai m¢n Éw õrte õpñsa dænamai, kaÜ nèn ¤yuñmhn pe-
rÜ aétoè toætou (Xen., Anáb., 5, 6, 28)
eu estou oferecendo sacrifício, como estais vendo, quantas eu posso
e há pouco eu estava oferecendo sacrifício a respeito disso mesmo.

Nèn d¡

Depois de um período condicional de irrealidade, a oposição ao


que precedeu se exprime por nèn d¡: mas agora, mas eis que, só que (lat.
nunc vero).
eÞ ¤gÆ toætvn tÇn pragm‹tvn aàtiow ·n eÞkñtvw ’n aé-
tÒ m¡llonti zhmiÅsesyai sun®xyesye: nèn dƒ oðtñw ¤stin
õ sukofantÇn (Isócr., 18, 37)
se fosse eu o culpado desses fatos seria normal que vós vos compa-
decêsseis com ele em vias de ser punido, mas na verdade é ele que
me está caluniando.

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668 os invariáveis: conjunções e partículas

Nun

Enclítica e pospositiva.
Então: partícula de afirmação, assentimento.
– j¡non se, Î ƒAgesÛlae, poioèmai.
– ƒEgÆ d¡ ge d¡xomai.
– M¡mnhsñ nun. (Xen., Hel., 4, 2, 3)
– Eu te faço meu hóspede, Agesilau.
– E eu aceito.
– Lembra-te então.
ƒEpÜ toætoiw p‹lin ¤p®reto tòn Mhdos‹dhn eÞ ¦lege taè-
ta. „O d¢ sun¡fh kaÜ taèta.
– …Iyi nun , ¦fh, Žf®ghsai toætÄ tÛ soi Žpekrin‹mhn...
(Xen., Anáb., 7, 2, 2)
A seguir ele voltou a perguntar a Medosades se dizia [tinha dito]
essas coisas. Este confirmou também essas coisas.
– Vai, então, disse ele, contar a ele o que eu te respondi.

†Omvw

Entretanto, contudo, todavia, apesar disso (lat. tamen). Em geral se


usa depois de uma concessiva.
kaÜ Kardoæxouw kaÛper basil¡vw oéx êphkñouw öntaw
÷mvw polemÛouw kths‹meya (Xen., Anáb., 5, 5, 1)
também os carducos, mesmo não sendo súditos do rei, contudo [as-
sim mesmo] nós os fizemos nossos inimigos.
· gŒr dokeÝ tÛw soi, Î M¡nvn, gignÅskvn tŒ kakŒ ÷ti
kak‹ ¤stin ÷mvw ¤piyumeÝn aétÇn; (Plat., Mênon, 77)
Mênon, não te parece que alguém, conhecendo os males no que
são males, apesar disso os deseje ardentemente?
sçn soÛ ÷mvw kaÜ ¤n t» polemÛ& öntew yarroèmen (Xen.,
Cir., 5, 1, 2)
na tua companhia, mesmo estando em país inimigo, nós temos
coragem.

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os invariáveis: conjunções e partículas 669

oék oädƒ ÷ti deÝ m‹rturaw parasx¡syai: ÷mvw d¡: ¤gÆ gŒr
d¡omai Žnapaæsasyai. (Lísias, 12.6)
eu não vejo em que é preciso apresentar testemunhas; apesar disso
[eu o farei], na verdade eu preciso descansar.
Lakedamñnioi ¦gnvsan ÷mvw tñte ¤xyroÜ öntew sÅzein
t¯n pñlin (Andóc, Mist., 14)
os lacedemônios souberam, mesmo na época sendo nossos inimi-
gos, salvar nossa cidade.

†Opvw
É basicamente um advérbio relativo de modo, o equivalente indefi-
nido do interrogativo pÇw - como? O significado seria então: como (inte-
grante), do modo que, de que modo (interrogativa indireta). Nesses sentidos
ele é catafórico. Mas, se o verbo da principal sugere uma eventualidade,
como querer, aconselhar, temer, precaver-se, ÷pvw deverá ser traduzido
por: de modo a que.
oék ¦stin ÷pvw ²m‹rtete, ndrew ƒAyhnaÝoi (Dem., Coroa,
20)
não há/não é possível como falhastes, cidadãos de Atenas.
oék ¦syƒ ÷pvw olÛgoi polloÝw eïnoi g¡noitƒ n (Dem., Lib.
dos R., 1)
não há como oligarcas se tornariam benevolentes para com o povo.
oék ¦syƒ ÷pvw oék ±nantiÅyh n moi tò eÞvyòw shmeÝon
(Plat., Apol., 40)
não há como meu sinal costumeiro não se me opusesse [opôs].
mllon µ prñsyen eÞs¹ei aétoçw ÷pvw ’n kaÜ ¦xont¡w ti
oàkade ŽfÛkvntai (Xen., Anáb., 6, 1, 1)
mais do que antes invadiu-lhes a mente de como voltarem para casa
tendo mesmo [que fosse] alguma coisa.
par®lyomen ÷pvw m¯ =&dÛvw perÜ meg‹lvn pragm‹tvn
xeÝron bouleæshsye (Tuc., 1, 73)
nós nos apresentamos de modo a que [para que] sobre negócios im-
portantes não delibereis mais levianamente [pior].

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670 os invariáveis: conjunções e partículas

[õ tærannow]... n g¡ tinaw êpopteæú ¤leæyera fron®ma-


ta ¦xontaw ÷pvw ’n toætouw metŒ prof‹sevw Žpollæú
(Plat., Rep., 566)
[o tirano]...quando ele suspeita [caso suspeite] que alguns têm pen-
samentos livres, de modo a que ele os faça perecer com pretexto [te-
nha pretexto para...].
M¡nvn d°low ·n ¤piyumeÝn rxein ÷pvw pleÛv lamb‹noi
(Xen., Anáb., 2, 6, 2)
Era evidente que Mênon tinha ambição de comandar, de modo a
que pegasse mais coisas.
frñntize ÷pvw mhd¢n Žn‹jion pr‹jeiw (Isócr., Nic., 3)
pensa de modo a que nada indigno faças (farás).
oß kiyaristaÜ ¤pimeloèntai ÷pvw ’n oß n¡oi mhd¢n kakour-
gÇsin (Plat., Prot., 326)
os citaristas se preocupam de modo a que [com que] os jovens não
cometam nenhum delito.
¤peidún d¢ p‹lin lisy» aétÒ ² stratiú oék ¦stin ÷pvw
oék ¤piy®setai ²mÝn (Xen., Anáb., 2, 4.)
assim que o exército estiver reunido, não há como ele não nos ata-
cará [ataque].
m¯ ÷pvw ôrxeÝsyai ¤n =uymÒ Žllƒ oédƒ ôryoèsyai ¤dænas-
ye (Xen., Mem., 2, 7, 11 )
vós não tínheis condições de [como] dançar no ritmo mas nem
mesmo de ficar de pé.
paragg¡llei õ yeòw ÷pvw oìtv sfñdra ful‹jousi mhd¢n
Éw toçw ¤kgñnouw (Plat., Rep., 415b)
a divindade prescreve de modo a que guardem [guardarão] nada [tão]
assim seriamente [quanto] como as crianças.

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os invariáveis: conjunções e partículas 671

†Oti (÷ ti)

Que, conjunção integrante depois de verbos declarativos ou de sen-


sação, quando o conteúdo da completiva completa objetivamente o sig-
nificado do verbo da principal (realidade objetiva), ver Éw.
Na verdade ÷ ti é o acusativo de relação (adverbial) do pronome
relativo indefinido ÷ti (em relação ao que, por que). Essa é a origem de
nossa “conjunção integrante” que.
Ver também o relativo latino quod com os mesmos significado e
função.
O modo verbal a ser usado depende do tom do enunciado: indica-
tivo da realidade objetiva, subjuntivo da eventualidade ou o optativo do
possível ou afirmação atenuada.

Oé / oék / oéx / oéxÛ

Não. É a negação objetiva, da realidade, do indicativo; faz contra-


ponto com m®, negação volitiva, subjetiva, da eventualidade, do subjuntivo.
Pode estar tanto numa oração declarativa quanto interrogativa e
pode vir associada ou composta com muitas partículas, sem que perca sua
identidade semântica:
”rƒ oé, oé g‹r, oéd¡, oéd¡pote, oédepÅpote, oé d°ta, oékoèn
/ oëkoun, oé m¢n d®, oé m¡ntoi, oé m®, oé m¯n Žll‹, oépv ktl.
Nesses casos, não é conveniente procurar um significado especial,
mágico para essas combinações; é melhor sempre somar as partes; cada
partícula tem o seu significado e função; na soma final aparecerá o signi-
ficado e o contexto dará a palavra final.
– ¦jesti d¢ ùn n tiw boælhtai trñpon toçw yeoçw timn;
– Oék: ŽllŒ nñmoi eÞsÛ kayƒ oîw deÝ toèto poieÝn (Xen.,
Mem., 4, 6, 2)
– é permitido alguém honrar os deuses segundo a maneira que
queira?
– Não, ao contrário, existem normas segundo as quais é preciso
fazer isso.

mur07.p65 671 22/01/01, 11:39


672 os invariáveis: conjunções e partículas

– oé tŒ politikŒ ¤yel®sei pr‹ttein;


– n® tòn Kæna ¦n ge t» ¥autoè pñlei (Plat., Rep., 591c)
– não quererá ele exercer a política?
– sim, pelo Cão, pelo menos na cidade dele.
”rƒ oék jiñn ¤stin eÞrhnofælakaw kayist‹nai; (Xen., Rec.
da Ática, 5, 1)
será que não vale a pena instituir guardiães da paz?
oé p‹lai àste ÷ti katechfism¡now ·n mou õ y‹natow êpò
t°w fæsevw; (Xen., Apol., 27)
sabeis não há muito tempo que minha morte estava decretada pela
natureza?

oé repetido / oé antecipado
Com o verbo fhmÛ (eu digo, afirmo) e seus compostos e derivados
(f‹skv) em lugar de a negação recair sobre o objeto negado, ela se an-
tecipa ao verbo, porque é o verbo que está sendo negado, e não o comple-
mento dele: oék ¦fasan significa “eles disseram não, ou, eles disseram
que não”.
oß ŽgayoÜ ndrew oék ¦fasan ¤pitr¡cai t¯n eÞr®nhn poi®-
sasyai (Lís., 13, 47)
os bons cidadãos disseram não dirigir-se para fazer a paz [se eles
não disseram que vão fazer, eles não vão fazer].
oß stratiÇtai oék ¦fasan Þ¡nai (Xen.)
os soldados disseram não ir [que não iriam].

oéd¡ / mhd¡

Nem mesmo, e não.


oéxÜ badÛzeiw oéd¢ presbeæeiw (Dem., Emb., 124)
tu não andas (vais embora) nem partes em embaixada.
êp¢r FilÛppou oéx oìtvw ¦xousin oéx †Ellhnow öntow
oéd¢ pros®kontow toÝw †Ellhsin (Dem., Fil., 3, 31)
não é dessa maneira que eles se comportam sobre Filipe, mesmo
ele não sendo grego, nem mesmo tendo parentesco com os gregos.

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os invariáveis: conjunções e partículas 673

‰V yaumasiÅtate nyrvpe, sæge oéd¢ õrÇn gignÅskeiw


oéd¢ Žkoævn m¡mnhsai (Xen., Anáb., 3, 1, 27)
ó homem mais admirável, tu, nem vendo estás entendendo, nem
ouvindo te lembras.

Oékoèn (oék oïn)

É a composição da negação oék e a partícula ilativa, inferencial


oïn com enfoque sobre a última, que se apóia sobre o que acabou de ser
dito e encadeia com o que se segue;
oékoèn se usa para introduzir uma pergunta conclusiva, cuja res-
posta só pode ser uma, isto é, a que o interrogante preparou (lat. nonne).
tÛ f®somen; · kaÜ toçw Žmænesyai keleæontaw pñlemon
poeÝn f®somen; oékoèn êpñloipon douleæein; (Dem., Quers.,
59)
o que diremos? diremos que os que aconselham defender-se estão
fazendo a guerra? então o que resta não é servir como escravos?
– Žllƒ Žmhx‹nvn ¤r˜w
– oékoèn, ÷tan d¢ m¯ sy¡nv pepaæsomai (Sóf., Ant., 91)
– mas tu amas, em sendo impraticável.
– Então, quando eu não tiver forças terei parado.
oékoèn oédƒ ’n eåw ŽnteÛpoi (Dem., 16, 4)
pois então nem mesmo um poderia se opor.
– õ tŒ tektonikŒ memayhkÆw tektonikòw µ oë;
– NaÛ
– Oékoèn kaÜ õ tŒ mousikŒ mousikñw;
– NaÛ (Plat., Górg., 460b)
– o que aprendeu as coisas da carpintaria é carpinteiro, ou não?
– Sim.
– Então, o que aprendeu as coisas da música é músico?
– Sim.
oékoèn oék ’n eàh tò m¯ lipeÝsyaÛ pote taétòn tÒ xaÛ-
rein; (Plat., Fil., 43)
então não seria o não sofrer a mesma coisa que o alegrar-se?

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674 os invariáveis: conjunções e partículas

Oëkoun (oék oïn)

Diferentemente da anterior, agora o enfoque é sobre a negação:


então não é? com certeza não é? portanto não é? Espera-se uma resposta
afirmativa.
oëkoun eÞkòw gƒ ¤j Ïn sç l¡geiw; (Plat., Fedro, 258c)
então não é natural, pelo menos a partir do que tu estás dizendo
[que]...?
oëkoun xr°n sƒ õmoioèsyai kakoÝw; (Eur., Med., 890)
então não era necessário tu [me] imitares nos males?
oëkoun, Promeyeè, toèto gignÅskeiw ÷ti ôrg°w nosoæshw
eÞsÜn ÞatroÜ lñgoi; (Ésquilo, Prometeu, 379)
então, Prometeu, tu não conheces isto que há palavras curadoras de
cólera enferma?
oëkoun ¤‹seiw oédƒ êpƒ eéf®mou bo°w yèsai me...; (Sóf., El.,
631)
então não me deixarás oferecer sacrifício nem mesmo sob um pres-
ságio favorável?

Oïn / În

No ático e em Homero, prevalece oïn; nos líricos em geral e em


Heródoto, În; em Hipócrates, que sofreu a influência do ático, ora é
oïn ora é În.
É pospositiva.
É a partícula conclusiva por excelência; liga conclusivamente um
fato ou um argumento concreto anterior ao que se segue: então, nessas
condições portanto, por isso, afinal.
De uma relação de seqüência temporal chega-se a uma conseqüên-
cia, um resultado. Ela se associa e se compõe com várias outras partículas:
m¢n oïn, dƒ oïn, gƒ oïn, gŒr oïn, Žllƒ oïn, oé m¢n oïn, toigaroèn
ktl.
Oïn pode ser acrescentado como sufixo a pronomes ou advérbios
relativos indefinidos; nesses casos, por causa de seu significado forte, ele
retira a função relativa do indefinido;

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os invariáveis: conjunções e partículas 675

õstisoèn um indíviduo qualquer, qualquer que seja ele


õpvsoèn de uma maneira qualquer, de qualquer modo que seja
oédƒ ôpvsoèn de maneira nenhuma, absolutamente não

dikastaÜ zÇntew ·san zÅntvn. KakÇw oïn aß dÛkai


¤krÛnonto.
†O te oïn Ploætvn kaÜ oß ¤pimeletaÜ ¦legon pròw tòn DÛa
÷ti foitÒ¡n sfin nyrvpoi ¥kat¡rvse Žn‹jioi.
Eäpen oïn õ Zeæw: Žllƒ ¤gÅ, ¦fh, paæsv toèto gignñmenon
(Plat., Górg., 523b)
Vivos eram juízes de vivos. Por isso [então, portanto] as sentenças
eram mal julgadas.
Plutão, por isso [então] e os assistentes começaram a dizer a Zeus
que homens indignos os cercavam de todos os lados.
Então Zeus lhes disse: Mas eu, disse, vou parar com isso que está
acontecendo.
ƒEpæajaw ¤l¡geto KærÄ doènai xr®mata poll‹. T» dƒ
oïn strati˜ tñte Žp¡dvke Kèrow misyòn tett‹rvn
mhnÇn (Xen., Anáb., 1, 2, 12)
Diziam que Epiaxes deu muito dinheiro a Ciro. Então é certo que
Ciro pagou ao exército o soldo de quatro meses.
eÞ mhdƒ õntinoèn misyòn prosait®saw Seæyhn sæmmaxon
êmÝn pros¡labon (Xen., Anáb., 7, 6, 27)
se eu, não tendo exigido antes nenhuma espécie de pagamento, vos
oferecesse Seutes como aliado...
eÞ ¦stin, Ësper oïn ¦stin, yeòw õ …Ervw oéd¢n n kakòn
eàh (Plat., Fedro, 242e)
se é, como na verdade é, uma divindade o Amor, não seria nenhum
mal.
kaÜ toèto toënoma ¦xonta eàtƒ oïn Žlhy¢w eàtƒ oïn ceud¡w
(Plat., Apol., 34e)
e que leva esse nome, então verdadeiro ou então falso.
oëtƒ În kainŒ oëte palai‹ (Hdt., 9, 26)
portanto, nem recentes nem antigas.

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676 os invariáveis: conjunções e partículas

– ¤j oïn toè zÇntow tÛ tò gignñmenon;


– tò teynhkñw, ¦fh (Plat., Fédon, 71d)
– por conseguinte [então], do ser vivo o que se origina?
– o morto, disse ele.
tò str‹teuma õ sÝtow ¤p¡lipe: kaÜ prÛasyai oék ·n... Kr¡a
oïn ¤syÛontew oß stratiÇtai diegÛgnonto (Xen., Anáb., 1, 5,
6)
o exército, o trigo lhe faltou; e não era possível comprar... Por isso
os soldados sobreviviam comendo carne.
Kl¡arxow m¢n oïn tosaèta eäpe. Tissaf¡rnhw d¢ Ïde
ŽphmeÛfyh (Xen., Anáb., 5, 5, 15)
Clearco, então, disse essas tantas coisas. Tissafernes por sua vez
respondeu assim:
fvn¯n ¦doja Žkoæein... eÞmÜ d¯ oïn m‹ntiw (Plat., Fedro, 242c)
parece que estou ouvindo uma voz [eu pareço]... então [por conse-
guinte] eu sou um adivinho.
pÇw oïn d¯ ÈfelimÅtatoi ¦sontai; (Plat., Rep., 459a)
como então eles serão mais úteis?
÷ m¢n oïn ¤gÅ fhmi t¯n =htorik¯n eänai Žk®koaw: ŽntÛs-
trofon ôcopoÛaw ¤n cux» Éw ¤n sÅmati (Plat., Górg., 465d)
então, o que eu digo que é a retórica tu acabaste de ouvir; é equiva-
lente na alma à cozinha no corpo.

Oëte... oëte / m®te... m®te

Não e não, nem... nem.


Mesmo emprego que oé e m®.

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os invariáveis: conjunções e partículas 677

Per

É uma enclítica usada como sufixo em algumas palavras.


Ele tem uma função de precisar, dar exatidão, enfatizar a palavra a
que se acrescenta (relativos e advérbios): ÷sper, ¤peÛper, ÷teper,
eàper, kaÛper.
Seria um antigo locativo, do qual se originou perÛ.
A tradução: justamente, precisamente.
oédƒ êmÝn potamñw per eërroow... Žrk¡sei (F, 130)
e nem o rio mesmo de belas correntes... vos defenderá.
nèn d® p¡r meu kouson (Z, 325)
agora pelo menos ouve-me.
gignÅskv safÇw kaÛper skoteinñw, t¯n s¯n aéd¯n ÷mvw
(Sof., Édipo R., 1326)
eu reconheço mesmo no obscuro, assim mesmo a tua voz.
oß d¢ kaÜ ŽxæmenoÛ per ¤pƒ aétÒ ²dç g¡lassan (B, 270)
e eles, ainda que envergonhados, riram com prazer sobre ele.
‘per tñtƒ ¤tñlma l¡gein... kaÜ nèn ¤reÝn (Dem., 21, 193)
[eu acho] que ele haverá de dizer agora exatamente as coisas que
ousava dizer naquela época.

Pote (pot¡)

É átona, portanto enclítica (pospositiva).


É o indefinido do advérbio de tempo relativo pñte (quando, no mo-
mento em que), portanto tem o significado:
certa vez, uma vez, então, por acaso, em algum momento.
Às vezes é apenas expletiva; serve para deixar um ar de dúvida na
frase, e ocupa o mesmo espaço de pou, pú.
Às vezes também pode vir reforçado da intensiva d®.
Pode vir num paralelismo; nesse caso, embora mantenha o signifi-
cado de tempo indefinido, não é enclítico.
tÛ d®pote oìtvw ¤p¹nese tòn ƒAgam¡mnona; (Xen., Mem.,
3, 2, 2)
por que então [por acaso] ele louvou assim Agamêmnon?

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678 os invariáveis: conjunções e partículas

poll‹kiw ¤yaæmasa tÛsi pot¢ lñgoiw ƒAyhnaÛouw ¦peisan


oß grac‹menoi Svkr‹thn Éw jiow eàh yan‹tou t» pñlei
(Xen., Mem., 1, 1, 1)
muitas vezes eu fiquei surpreso com que discursos [então, por aca-
so] os que acusaram Sócrates convenceram os atenienses de que
ele, para a cidade, era digno de morte.
tÛ potƒ ¤sti tò aàtion: (Dem., Emb., 208)
o que, então [por acaso] é o causador [culpado]?
taèta pot¢ m¢n Èfeloènta pot¢ d¢ bl‹ptont‹ ¤stin
(Xen., Mem., 4, 2, 32)
essas coisas são ora úteis ora prejudiciais.

Pou

Átona e pospositiva (enclítica)


É o indefinido correspondente à questão poè - onde? em que lugar?
Significa, então:
em algum lugar, por aí e por extensão:
de algum modo, pode ser, por acaso, talvez.
É preciso notar, contudo, que o significado original (em algum
lugar) é o ponto de partida para os outros.
Como indefinido ele ocupa mais ou menos o mesmo espaço de
pote, pú.
¤pÛstasy¡ pou ÷ti (Xen., 5, 7, 13)
vós talvez [por acaso] sabeis que...
oédeÛw pou toètƒ ŽnyrÅpvn ŽgnoeÝ (Plat., Fil., 64d)
ninguém dentre os homens talvez ignora isso.
Læsandrow toæw te frouroçw tÇn ƒAyhnaÛvn kaÜ eà pou
llon àdoi ƒAyhnaÛvn Žn¡pempen eÞw tŒw ƒAy®naw (Xen.,
Hel., 2, 2, 2)
Lisandro passou a enviar de volta para Atenas a guarnição ateniense
e também o que ele por acaso viu [visse] dos atenienses.
yeñw poæ soi tñgƒ ¦dvken (A, 178)
talvez é uma divindade que te deu isso.

mur07.p65 678 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 679

· poæ me TelamÅn... d¡jaitƒ ’n eéprñsvpow; (Sóf., Aj.,


1008)
Será que por acaso Telamon me receberia com boa cara?

Associado a d®
A partícula -d® acrescenta um tom confirmativo, conclusivo, com
um leve toque de ironia: certamente na verdade, sem dúvida então, talvez,
não é?
oé d®pou kaÜ sæ eä tÇn toioætvn ŽnyrÅpvn oã xrhsimñ-
teron nomÛzousi xr®mata µ Ždelfoæw; (Xen., Mem., 2, 3, 1)
Com certeza também tu não és desse tipo de homens que conside-
ram as riquezas mais úteis do que os irmãos!?
pñteron õ aétòw µ llow; – „O aétòw d®pou (Plat., Íon,
531e)
é ele mesmo ou um outro? – É o mesmo, com certeza [naturalmente].
àste d®pou ÷ti oédeÜw pÅpote õmologÇn ŽdikeÝn ¥‹lv
(Dem., Emb., 215)
vós sabeis com certeza que ninguém jamais foi pego confessando
que é injusto.

PrÛn

Antes que, antes de.


Provavelmente construído sobre um comparativo formado da pre-
posição prñ - diante de: prñ-ion (lat. prius).
• Por isso pode-se construir com a partícula de ligação entre dois
(disjuntiva) µ (lat. quam).
• Pode também ser anunciada por prñteron, prñsyen: mais, pri-
meiramente que.
• Além disso pode ser usado como advérbio de tempo absoluto:
antes, outrora.
Numa relação sintática de subordinação prÛn pode se construir
com qualquer modo. Isso depende do significado: realidade, constatação
(indicativo), eventualidade (subjuntivo) e possibilidade, afirmação atenua-
da (optativo); também pode vir construída com particípio ou infinitivo.

mur07.p65 679 22/01/01, 11:39


680 os invariáveis: conjunções e partículas

¤pÜ tò kron ŽnabaÛnei XeirÛsofow prÛn tina aÞsy¡syai


tÇn polemÛvn (Xen., Anáb., 4, 1, 7)
Querísofo sobe até o cimo antes de algum dos inimigos perceber.
polloÜ nyrvpoi Žpoyn®skousi prñteron prÜn d°loi
gÛgnesyai oåoi ·san (Xen., Cir., 5, 2, 9)
muitos homens morrem antes de tornarem-se evidentes [de se mos-
trarem] de que qualidade eram.
ôlÛgon prÜn ²mw Žpi¡nai m‹xh ¤gegñnei ¤n PoteidaÛ&
(Plat., Cárm., 153a)
pouco antes de nós irmos embora aconteceu [acontecera] uma ba-
talha em Potidéia.
kathgoreÝw gŒr prÜn mayeÝn tñ prgm‹ mou (Aristóf., Plut.,
376)
tu estás me acusando antes de entender o meu problema.
di¡bhsan prÜn toçw llouw ŽpokrÛnasyai (Xen., Anáb., 1,
4, 16)
eles atravessaram [o rio] antes de os outros responderem.
prÜn l¡gein ¤per®somaÛ ti smikrñn (Aristóf., Lis., 97)
antes de falar eu vou te perguntar uma coisinha.
oé prñteron ¤paæsato prÜn tòn pat¡ra ¤k toè strato-
p¡dou metemp¡mcato (Isócr., 16, 8)
Ele não descansou antes de [que] mandar de volta seu pai do acam-
pamento (fato real).
toætou toè ¦peow LudoÛ te kaÜ oß basileÝw aétÇn lñgon
oéd¡na ¤poieènto prÜn d¯ ¤petel¡syh (Hdt., 1, 13)
nem os lídios nem seus reis fizeram grande conta desse oráculo
antes que ele se realizou (fato real > indicativo).
Žpñmnusi mhd¢n pr‹jein prÜn ’n t¯n toè †Ektorow kefa-
l¯n ¤pÜ tòn toè Patrñklou t‹fon ¤n¡gkú (Ésquines, C.
Tim., 145)
ele jura que não fará nada antes de que leve (antes de levar) a cabeça
de Heitor sobre o túmulo de Pátroclo (fato futuro, eventual >
subjuntivo).

mur07.p65 680 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 681

deÝtai aétoè m¯ prñsyen katalèsai pròw toçw Žntis-


tasiÅtaw prÛn ’n aétÒ sumbouleæshtai (Xen., Anáb., 1,
1, 10)
ele exige dele não relaxar diante dos adversários, antes que com ele
tome conselho (fato eventual > subjuntivo).
oé prñteron kakÇn paæsontai aß pñleiw prÜn ’n ¤n aé-
taÝw oß filñsofoi rjvsi (Plat., Rep., 487e)
as cidades não terão sossego de seus males, antes que os filósofos
exerçam o poder nelas (fato eventual > subjuntivo).
oé prñteron oåñw te poieÝn [õ poiht®w] prÜn ’n ¦nyeow g¡-
nhtai (Plat., Íon, 534b)
[o poeta] não é capaz de criar, antes que se torne possuído do deus
(fato eventual, futuro > subjuntivo).
prÜn ’n ŽmfoÝn mèyon Žkoæsúw oék ’n dik‹saiw (Aristóf.,
Vespas, 725)
tu não poderias proferir uma sentença, antes que ouças [antes de
ouvires] a história de ambas as partes (fato eventual > subjuntivo).
prÜn t¯n boul¯n probouleèsai pw õ d°mow kay°to
(Dem., Cor., 169)
antes de a assembléia deliberar, todo o povo se sentou.
oé prñteron Žp°lyon prÜn µ tÒ limÒ Žp¡kteinan (Licur-
go, C. Leócr.)
eles não se afastaram, antes que os mataram pela fome (fato real >
indicativo).
Žphgñreue mhd¡na b‹llein prÜn Kèrow ¤mplhsyeÛh yhrÇn
(Xen., Cir., 1, 4, 14)
ele proibia alguém atirar, antes que Ciro se enchesse de caça. [como
em português, num quadro do passado o verbo da subordinada pode
ir para o subjuntivo imperfeito, ou condicional (optativo grego):
até que se encha de caça].

mur07.p65 681 22/01/01, 11:39


682 os invariáveis: conjunções e partículas

Pvw / pv / -pv

Átono e pospositivo.
É o indefinido do interrogativo pÇw; - como? de que modo? de
que maneira?
Significa então: de algum modo, mais ou menos, assim assim, quase.
Às vezes se aproxima do significado de pou.
Mas nesses dois casos é mero indeterminado, indefinido.
misyòw oédeÛw pv ¤faÛneto (Xen., Anáb., 7, 5, 16)
salário por assim dizer nenhum aparecia.
oék àsasi pv t¯n ²met¡ran summaxÛan (Xen., Anáb., 7, 3,
35)
eles quase não sabem de nossa aliança.
¤peÜ ¼syñmhn ÷ti tÒ önti pepaum¡now eàh mñgiw... pvw
¤mautòn ÉspereÜ sunageÛraw eäpon (Plat., Prot., 328d)
assim que eu vi que realmente ele tinha parado com alguma difi-
culdade... de algum modo, como tendo acordado a mim mesmo,
disse.

Te / T¡

t¡... t¡ / t¡... kaÛ (lat. -que);


Átono e pospositivo (enclítico): é um conetivo que pode coorde-
nar tanto duas palavras em uma frase quanto duas frases num período.
Mas a ação de te é mais globalizante, mais adicionante do que kaÛ, que é
mais enumerativa, mais solta.
A tradução mais comum é: e, também, e também.
pat¯r ŽndrÇn te yeÇn te (A, 344)
pai dos deuses e dos homens [tanto dos homens, quanto dos deu-
ses / e também...].
s‹kow m¡ga te stibarñn te (G, 335)
um escudo que era grande e sólido [e também].

mur07.p65 682 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 683

metƒ ¤keÝnow d¢ eÞw ìdvr b‹ptei p‹lin d¢ eÞw pèr aïyÛw te


eÞw ìdvr (Plat., Tim., 73e)
depois, ele [o] mergulha na água, de novo no fogo, e ainda nova-
mente na água.
Svkr‹thw toè sÅmatow aétñw te oék ±m¡lei toçw tƒ Žme-
loèntaw oék ¤p¹nei (Xen., Mem.)
Sócrates não se descuidava do corpo e não louvava os que descui-
davam [e também].
Žp¡bainon t°w n®sou ¥kat¡rvyen ¦k te toè pel‹gouw kaÜ
pròw toè lim¡now (Tuc., 4, 31, 1)
eles desembarcaram dos dois lados da ilha, a partir do mar e na
frente do porto [e também, ao mesmo tempo].
÷stiw te êmÇn toçw oÞkeÛouw ¤piyumeÝ ÞdeÝn memn®syv Žn¯r
Žgayòw eänai: ÷stiw te z°n ¤piyumeÝ peir‹syv nikn (Xen.,
Anáb., 3, 2, 39)
dentre vós o que deseja rever os familiares lembre-se de ser um
homem de bem e o que deseja viver tente vencer.
¤y®reuen Žpò áppou õpñte gumn‹sai boæloito ¥autñn te
kaÜ áppouw (Xen., Anáb., 1, 2, 7)
ele caçava a cavalo sempre que queria [quisesse] exercitar-se a si
mesmo e os cavalos [cavalo e cavaleiro juntos].
TeisÛan d¢ GorgÛan te ¤‹somen eìdein (Plat., Fedro, 267a)
nós deixaremos Górgias e Tísias repousarem [e também, juntos].

É freqüente o uso de te acoplado:


• às negações: oé, m®, (oëte... oëte / m®te... m®te).
• aos conetivos (conjunções): eÞ, ¤Œn / ’n / µn (eàte... eàte / ¤‹nte...
¤‹nte / ³nte... ³nte / nte... nte), Éw (Ëste consecutivo ou
comparativo).
• aos relativos: ÷ste, ´te, ÷te ktl.
Nesse tipo de construção te enfatiza, destaca ou sublinha o paralelismo.
oëte tiw m‹ntiw ¤Æn oëtƒ oÞvnÇn s‹fa eÞdÅw (A, 202)
nem sendo um adivinho nem sabedor de coisas seguras dos presságios.

mur07.p65 683 22/01/01, 11:39


684 os invariáveis: conjunções e partículas

tÇn oë ti... ŽlegÛzv eàtƒ ¤pÜ dejۃ àvsi... eàtƒ ¤pƒ Žrister‹
(M, 239)
[desses pássaros]... eu não me importo se eles vão para a direita...
se vão para a esquerda [quer... quer].
eÞ dƒ ¦tƒ ¤stÜn ¦mcuxow gun¯ eàtƒ oïn ölvlen eÞd¡nai bou-
loÛmeyƒ n (Eur., Alc., 140)
se essa mulher ainda está viva e se então já morreu nós gostaríamos
de saber.
eàte pou yeoÜ µ paÝdew yeÇn aét¯n oÞkoèsin (Plat., Leis, 739d)
se por acaso deuses a habitam ou filhos dos deuses.
àsoi öntew maxoæmeya ³nte ¤ny‹de ¤piñntaw aétoçw dexÅ-
meya ³nte ¤pƒ ¤keÛnouw sun‹ptvmen. (Xen., Cir., 3, 3, 17)
sendo iguais, nós combateremos quer os esperemos [aceitemos]
avançando aqui, quer partamos sobre eles para confronto.

Toi

Teria havido na origem dois toi:


• um, antiga forma átona de um dativo de posse que passou a dativo ético
do pronome de segunda pessoa sæ (soi, toi), que se usa bastante nos
diálogos, onde funciona como um intensivo, sublinhando a convicção
dos interlocutores: certamente, precisamente, às vezes muito próximo do
ge restritivo;
• outro, tônico, com função e significado semelhante ao primeiro; apenas
a posição do segundo, tônica, não enclítica faz a diferença.
Toi se associa ou se compõe com inúmeras outras partículas, quer
como primeiro quer como segundo elemento: toig‹r, toig‹rtoi,
toigaroïn, toÛnun, kaÜ g‹r toi, m¡ntoi.
eÞ ktenoèmen llon Žntƒ llon sæ toi prÅth y‹noiw n
(Sóf., El., 582)
se matarmos um pelo [contra] outro, então tu serias a primeira a
morrer!

mur07.p65 684 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 685

xalte... ÷pvw tò suggen¡w toi kŽpƒ ¤moè yr®nvn tæxú


(Sóf., El., 1469)
levantai o véu... de modo a que o que nasceu comigo pelo menos
também encontre de mim os lamentos.
ŽeÛ toi ¦fh õ K¡bhw lñgouw tinŒw Žnereun˜ (Plat., Fédon,
63a)
o Cebes pelo menos, disse ele, está sempre à procura de discursos.
– ¤piyumeÝ Svkr‹thw Žkoèsai GorgÛou;
– ¤pƒ aétñ g¡ toi toèto p‹resmen (Plat., Górg., 447b)
– Sócrates deseja ouvir Górgias?
– é exatamente por isso mesmo que estamos aqui.
õ Kèrow ³reto: · oðtoi pol¡mioÛ eÞsin;
– Pol¡mioi m¡ntoi (Xen., Cir., 1, 4, 19)
Ciro pergunta: acaso esses são inimigos?
- Inimigos com certeza. [Sim, inimigos].
– oék oàei Î SÅkratew;
– Oé m¡ntoi, mŒ DÛa (Plat., Menex., 235d)
– Tu não achas, Sócrates?
– Não, por Zeus, não acho.
oé sç m¡ntoi „Om®rou ¤pain¡thw eä; (Plat., Prot., 309a)
tu, então, não és um admirador de Homero?

Toigaroèn (toÛ gŒr oïn)

Conetivo forte, conclusivo.


Somatória dos significados de toÛ, g‹r, oïn: eis por que, então,
por conseguinte.
oß dikastaÜ tŒw oésÛaw aétÇn [tÇn met‹llvn] ¤n Žsfa-
leÛ& kat¡sthsan. Toigaroèn aß kainotomÛai nèn ¤nergoÛ,
(Hipér., P. Eux., 36)
os juízes colocaram em segurança o capital [as propriedades] das
minas. Em conseqüência, as concessões estão ativas agora.

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686 os invariáveis: conjunções e partículas

Toig‹rtoi (toÛ gŒr toi)

Conetivo forte, conclusivo-restritivo de acréscimo: eis por que também.


pareÝxon sfw aétoçw toÝw m¢n †Ellhsi pistoçw toÝw d¢
barb‹roiw foberoæw: Toig‹rtoi diŒ taèta metŒ tosaæ-
thw ŽsfaleÛaw di°gon. (Isócr., Aerop., 52)
eles se mostravam confiáveis [fiéis] aos gregos e temíveis aos bár-
baros; em conseqüência então, por esse motivo, eles viviam com
tamanha segurança.

ToÛnun (toi nun)

Pospositiva, composta de toÛ e næn.


É uma partícula de transição que liga dois membros de um racio-
cínio; por exemplo:
• a primeira premissa à segunda: ora;
• ou a segunda à conclusão: portanto, então, nesse caso.
Às vezes tem um sentido próximo do d¡: por outro lado, ora, então.
¦ti toÛnun kakeÝno skopeÝte (Dem., Emb., 221)
examinai então ainda esse ponto.
– l¡ge d¯ tÛ f»w eänai tò ÷sion;
– L¡gv toÛnun ÷ti tò ÷siñn ¤sti tÒ Ždikoènti ¤peji¡nai
(Plat., Eutifr., 5d)
– dize-me então o que afirmas ser o piedoso?
– Ora, eu afirmo que o piedoso é perseguir (pela justiça) o que
comete um crime.
soÜ tò m¯ sig°sai loipòn ·n ŽllŒ dhloèn toætoiw: oé toÛ-
nun ¤poÛhsaw (Dem., Cor., 232)
a ti restava não guardar silêncio mas prestar esclarecimentos a eles;
ora, tu não fizeste isso.
¤keÝnow õ kairòw ndrƒ ¤k‹lei parhkolouyhkñta toÝw pr‹-
gmasin... ¤f‹nhn toÛnun oðtow ¤n ¤keÛnú t» ²m¡r& ¤gÅ
(Dem., Cor., 173)
aquele momento pedia um homem que tinha acompanhado os
acontecimentos; ora, apareceu esse homem naquele dia, era eu.

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os invariáveis: conjunções e partículas 687

duoÝn m¢n toÛnun lñgoin Žkhkñate: boælomai d¢ kaÜ toè


trÛtou mikrŒ dielyeÝn (Isócr., 15, 67)
ora, pois bem, acabastes de ouvir [passagens] de dois discursos; eu
quero agora citar umas poucas do terceiro.
– õrÇ gŒr ²mw oéd¢n öntaw llo pl¯n eàdvlƒ ÷soiper
zÇmen µ kouf¯n ski‹n.
– Toiaèta toÛnun eÞsorÇn êp¡rkopon mhd¡n potƒ aétòw
eÞw yeoçw ¦pow (Sóf., Ájax, 125)
– na verdade eu vejo que nós, quantos estamos vivos, não somos
nada além do que imagens ou sombra vazia.
– então ao contemplares essas coisas não há nenhuma palavra arro-
gante contra os deuses.

‘Ww

1. Conetivo entre dois: na relação comparativa tanto ligando palavras


quanto frases: como, do mesmo modo que, na qualidade de.
kin®yh dƒ Žgor¯ Éw kæmata makrŒ yal‹sshw (B, 144)
movia-se a assembléia como as grandes ondas do mar.
Éw dƒ nemow xnaw for¡ei... Ëw tñt ƒAxaÛoi... (E, 499 )
como o vento carrega a palha... assim os aqueus...
Éw d¢ dr‹kvn ndra m¡núsin... Ëw †Ektvr (X, 93)
como uma serpente espera um homem... assim Heitor...
Éw polemÛoiw aétoÝw xrÇntai, (Xen., Cir., 3, 1, 22)
eles os tratam como inimigos.
Éw Ždænaton ön
como sendo impossível.
Žganaktoèsin Éw meg‹lvn tinÇn Žpesterhm¡nvn (Plat.,
Rep., 329a)
eles se zangam como estando privados de algumas coisas grandes
[como se estivessem].
Éw kævn nebròn (oìtvw) ¤kmasteæomen (Ésquilo, Eum., 237)
como um cão [persegue] o veado, [assim] nós estamos perseguindo.

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688 os invariáveis: conjunções e partículas

yeòw dƒ Íw ¤tÛeto (E, 78)


ele era honrado como um deus [e como deus era ele era venerado].
sæew Éw Žgridñntew (L, 413)
como porcos de alvos dentes.
³rte dƒ Éw ÷te tiw drèw ³ripe (N, 389)
ele caiu como quando cai um carvalho.
Éw pròw ŽstronomÛan ömmata p¡phgen Íw pròw ¤narmo-
nÛan forŒn Îta pag°nai (Plat., Rep., 530d)
como a vista está fixa para o movimento dos astros, assim [tam-
bém] fixar os ouvidos para condução harmoniosa.

2. em correlativo temporal
Enquanto, em quanto que, durante o tempo em que.
Em relação de quantidade: na medida em que.
tÆw Žpexy®sv Éw nèn sƒ ¦kpaglƒ ¤fÛlhsa (G, 415)
eu te odiarei tanto quanto estranhamente te amei até agora.
¥lÆn kr¡aw Ëw oß xeÝrew ¤x‹ndanon (J, 344)
tendo pegado carnes como [na medida em que] suas mãos podiam
conter.
braxætera ±kñntizon µ Éw ¤jikneÝsyai tÇn sfendonhtÇn
(Xen., 3, 3, 7)
eles lançavam os dardos mais curto do quanto alcançassem os
fundistas.

3. em relação; assim... como


oìtv nèn kaÜ ¤gÆ no¡v Éw sç ¤iskeiw (D, 148)
assim eu também penso agora como tu pensas.
Éw p‹ntew ¤pist‹meya (Xen., Hier., 10, 4)
como todos nós sabemos.

4. como, segundo, conforme


Éw õ m‹ntiw fhsÛn (Ésquilo, Sete, 24)
como [conforme, segundo] diz o adivinho.

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os invariáveis: conjunções e partículas 689

t¯n ¤pistol¯n dÛdvsi pistÒ ŽndrÜ Éw Õeto (Xen., Anáb.,


1, 6, 3)
ele entrega a mensagem a um homem de confiança, como ele pensava.
proshgñreue tŒ m¢n poieÝn tŒ d¢ m¯ poieÝn Éw toè daimo-
nÛou proshgoreæontow (Xen., Mem., 1, 1, 4)
ele aconselhava a fazer estas coisas e não fazer aquelas, como o nume
estava aconselhando.
Éw d¢ Skæyai l¡gousi neÅtaton p‹ntvn ¤yn¡vn eänai
tò sf¡teron (Hdt., 4, 5)
como dizem os citas o vosso povo é o mais jovem de todos.

5. na medida em que, tanto que, como, quanto a, à maneira de


Éw ¤moÛ
quanto a mim.
Éw Žpƒ ômm‹tvn [eÞk‹sai] (Sóf., Éd. Col., 15)
a imaginar como a partir da vista.
Éw ¤pÜ pleÝston
como [à maneira de] sobre o máximo [possível].
Éw ¤pÜ tò polæ,
como, quanto muito.
Éw ¤pÛ tò pl°yow,
como na maioria.
·san Éplism¡noi Éw ¤n öresin ßkanÇw pròw tò ¤pidrameÝn
(Xen., Anáb., 4, 3, 31)
eles estavam equipados de maneira a (quanto a) apropriadamente
correr sobre as montanhas.
Éw ¤m¢ eï memn°syai (Hdt., 2, 125)
na medida de eu me lembrar bem.

6. à maneira de, como se, dando a impressão de (freqüentemente com


particípios). Expressa a opinião da personagem e não do narrador, que
não quer passar a idéia de fato objetivo, real.
Essa construção se encontra também nas orações finais, em que o
verbo da principal é um verbo de movimento ou intenção.

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690 os invariáveis: conjunções e partículas

Nesses casos, o particípio futuro da subordinada pode vir enfatizado


por Éw.
Nas orações completivas dependentes dos verbos dizer e sentir (ver-
ba dicendi, sentiendi), é muito comum também o uso de Éw (opinião
do sujeito do verbo principal, subjetiva), em lugar de ÷ti (opinião do
narrador, fato real, objetivo).
Nessa mesma linha de raciocínio, podemos dizer que pode apare-
cer também uma relação de causa.
dedÛasin Éw eÞdñtew, (Plat., Apol., 29a)
eles temem como sabedores [como se soubessem, à maneira dos
que sabem].
Éw eÞw PisÛdaw boulñmenow strateæesyai (Xen., Anáb., 1, 1, 11)
como querendo [na vontade dele, Ciro] fazer um expedição contra
os pisidas.
suskeu‹zesyai Éw eÞw strateÛan (Xen., Hel., 3, 4, 11)
preparar-se como [se fosse] para uma expedição.
tÛ pote l¡geiw Î t¡knon; Éw oé many‹nv (Sóf., Fil., 914)
o que estás dizendo, criança?, é que, [na tua opinião], eu não estou
entendendo [porque].
ful‹jasyai deÝ tò ¤fƒ rpag¯n trap¡syai Éw õ toèto
poiÇn oék¡tƒ Žn®r ¤stin (Xen., Cir., 4, 2, 25)
é preciso precaver-se (guardar-se) de se dirigir para o roubo, por-
que o que faz isso não é mais homem.

7. Como conjunção final, para, para que, de modo a que, com subjuntivo
eventual, ou optativo, às vezes composta.
÷pvw krÝnƒ ndraw Éw fr®trh fr®trúfin Žr®gú (B, 363)
escolhe de algum modo homens para que uma tribo socorra outra.
eäxon dr¡pana Éw diakñpoien (Xen., Anáb., 1, 8, 10)
eles tinham foices de modo a que pudessem ceifar.

8. Como conjunção consecutiva: de modo a que (indicativo ou optativo


se a conseqüência é real ou hipotética respectivamente), e de modo a
(infinitivo, se a conseqüência fica em aberto, na intenção).

mur07.p65 690 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções e partículas 691

Também Ëste.
eïrow Éw dæo tri®reiw pl¡ein õmoè (Hdt., 7, 24)
largo de modo a duas trirremes navegarem ao mesmo tempo.
¤netægxanon t‹froiw pl®resin ìdatow Éw m¯ dænasyai
diabaÛnein (Xen., Anáb., 2, 3, 10)
eles encontravam fossas cheias de água, de modo a não poderem
atravessar.
oìtvw ¤moÜ ¤bñhsaw Éw nèn s¡svsmai (Xen., Cir., 5, 4, 6)
tu me socorreste de tal maneira, que agora estou salvo.
nomÛzv oìtvw ¦xein Éw Žpost®sontai aétoè aß pñleiw
(Xen., Hel., 6, 1, 4)
eu creio que a situação está em tal ponto, que as cidades se afastarão
dele.
oìtv ÞsxuraÜ [Éw]... ’n lÛyÄ paÛsaw diarr®jeiaw (Hdt.,
3, 12)
elas são tão resistentes que batendo com uma pedra [não] as
quebrarias.

9. Pode também significar: assim que, depois que, sobretudo precedida


de um termo que signifique tempo: eéyæw (direto, imediato), t‹xista
(rapidamente).
É uma espécie de consecutiva.
Éw eädon aétoçw, eéyçw ¦fugon (Xen., Cir., 3, 1, 4)
assim que os viram, direto fugiram [como viram].
Éw d¢ t‹xista ŽfÛketo, eéyæw... (Xen., Cir., 1, 3, 2)
assim que [imediatamente] chegou, direto...

10. Introduzindo orações ou expressões imprecativas (voto), ah! se, (co-


mo desejaria que!...)
Éw ¦riw Žpñloito; (S, 107)
ah se rixa perecesse!

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692 os invariáveis: conjunções e partículas

11. Introduzindo uma exclamativa: como!


Éw noon kardÛhn ¦xew; (F, 441)
como insensato tens o coração!
Éw kalñw moi õ p‹ppow; (Xen., Cir., 1, 3, 2)
como é belo o meu avô!
Ëw moi d¡xetai kakòn ¤k kakoè aÞeÛ (T, 290)
como para mim um mal sucede sempre a partir de um mal]!

‘WsaneÛ (Éw ’n eÞ)


Como se, por assim dizer.

‘Wsei (Éw eÞ)


Como se, como quando.

†Wsper (Éw per)


Como, do mesmo modo que, da maneira que etc.
Tem os mesmos sentidos e as mesmas funções de Éw, mas enfati-
zadas pela partícula -per.

‘WspereÛ (Ësper ei)


De alguma maneira, como se fosse, por assim dizer.

‘Wsperoèn (Ësper oïn)


Como então, como de fato, como na realidade.

†Wste (Éw te)


Como (comparativo), na qualidade de (apenas mais incisivo do que Éw).
Às vezes: Ësper ei : como se.
Que (consecutivo), de maneira que, de modo que.
Nas mesmas condições de Éw consecutivo (ver n. 8).

mur07.p65 692 22/01/01, 11:39


os invariáveis: conjunções
advérbios e partículas 693

Advérbios: - ¤pÛrrhma
Dionísio Trácio, 19.1. diz:
“ƒEpÛrrm‹ ¤sti m¡row lñgou kliton katŒ =®matow legñ-
menon µ ¤pÛlegñmenon =®mati”.
“Advérbio é uma parte não flexionada da frase, dita com referên-
cia ao verbo ou sobre ele aplicada (posta)”.
Podemos comparar essa definição com a que ele dá ao “önoma
¤pÛyeton”, “nome epíteto, sobreposto (adjetivo)”:
“ƒEpÛyeton d¡ ¤sti tò ¤pÜ kurÛvn µ proshgorikÇn õmv-
næmvw tiy¡menon kaÜ dhloèn ¦painon µ cñgon...,” (12, 64)
“Epíteto (adjetivo) é o que é colocado de maneira semelhante so-
bre nomes próprios ou apelativos e que revela elogio ou censura.”
Ele desdobra essa definição em 12, 80, quando fala dos epônimos:
“ƒEpÅnumon d¡ ¤stin ù kaÜ diÅnumon kaleÝtai tò meyƒ
¥t¡rou kurÛou kayƒ ¥nòw legñmenon Éw ƒEnosÛxyvn õ
PoseidÇn kaÜ FoÝbow õ ƒApñllvn”.
“Epônimo (sobrenome) é o que também é chamado duplo nome, o que,
com um outro nome próprio, é dito sobre um só, como Poseidon, o que
faz tremer a terra, e Febo, Apolo.”

É lamentável que nesse detalhismo sobre o nome, Dionísio Trácio,


e certamente outro gramático antes dele, tenham usado de um modo tão
específico a palavra ¤pÅnumon: sobrenome > epíteto > adjetivo, o que
daria um perfeito contraponto a ¤pÛrrhma: sobreverbo > advérbio.
“Sobreverbo / sobrenome” dariam a exata noção das funções do
“sobreverbo > advérbio” e do “ sobrenome > adjetivo”. Isto é: o advérbio
é para o verbo exatamente o que o adjetivo é para o nome: os dois trazem
noções acessórias, que não modificam a natureza do verbo ou do nome.
As diferenças são de categoria: os adjetivos acrescentam ao nome
noções secundárias nominais de qualidade ou estado, e os advérbios acres-
centam ao verbo noções secundárias circunstanciais de espaço e modo.
Segundo A. Meillet, “Pode-se definir o advérbio como uma pala-
vra invariável que se coloca ao lado das outras palavras da frase (sobretu-
do ao lado de verbos e adjetivos) para acrescentar uma noção acessória.”

mur07.p65 693 22/01/01, 11:39


694 os invariáveis: advérbios

Essa “noção acessória” é de natureza circunstancial, isto é, noção


ou idéia de modo, lugar ou tempo (genitivo partitivo, genitivo-ablativo,
instrumental-modal, locativo espacial-temporal e acusativo de relação).
É por isso que em grego há muitos advérbios que são formas nomi-
nais flexionadas, de relações concretas, que se petrificaram, adquirindo
um significado autônomo, a tal ponto que parecem casos absolutos.

1. No acusativo (de relação ou adverbial)


Žrx®n primeiramente, do começo, quanto ao começo
dvre‹n de graça, de presente, em vão
m‹thn em vão, debalde
proÝka de graça, de dom (doação)
sxedÛhn imediatamente, a seguir
prñfasin a pretexto, por pretexto
t¡low por fim, afinal, em fim de contas
makr‹n longe, distante, longo tempo
eéyeÛan direto, em frente, reto
ceèdow de mentira, falsamente
deæteron em segundo lugar, segundamente, em seguida
prÇton / prÇta em primeiro lugar, primeiramente
(tŒ) prÅtista em primeiríssimo lugar, antes de tudo
¦lasson menos (comparativo de ¤laxæ)
eï bem (de ¤æ, bom )
¸sson menos (comp. de ¸ka)
´kista minimamente, o menos possível
m‹la muito
m‹lista muitíssimo
mllon mais
pl¡on mais (em número)
ôlÛgon pouco
polæ muito
taxæ depressa, rápido
²dæ com prazer, agradavelmente
sofÅteron mais sabiamente,
sofÅtata muito sabiamente, sapientissimamente
dein‹ terrivelmente

mur07.p65 694 22/01/01, 11:39


os invariáveis: advérbios 695

dÛkhn na indicação de, à maneira de


x‹rin em favor de, graças a, por causa de
t¯n llvw de maneira contrária, em vão
m¡ga grandemente, grande
mñnon só, somente
oåon tal qual(mente), por exemplo
Podemos acrescentar a essa relação os advérbios construídos com
os sufixos -don / -dhn, que trazem a idéia de relação ou maneira:
botrudñn em cachos
Žgelhdñn com tropas, em massa
sxedñn (segurando) perto, quase
b‹dhn passo a passo
lægdhn soluçando, aos soluços
spor‹dhn esparsamente, disseminadamente
Depois dessa relação bastante extensa de advérbios expressos pelo
acusativo, não podemos deixar de fazer alguns comentários:
a) nas formas expressas por substantivos no acusativo femininos e neu-
tros, como Žrx®n, t¡low, ceèdow, não será difícil identificarmos
um acusativo de relação, ou acusativo adverbial;
b) nas formas expressas pelo acusativo do adjetivo feminino, como ma-
kr‹n, eéyeÛan, não será difícil identificar uma expressão elíptica, em
que há um nome implícito, como õdñn, o que leva novamente à iden-
tificação do acusativo de relação ou adverbial.
Essa relação adverbial de movimento, sempre presente no acusati-
vo, também pode ser expressa com o sufixo -de/-ze/-se.
¤keÝse para lá
llose para outro lugar, alhures (alio)
oàkade para casa
ƒAy®naze / ƒAy®naw- de para Atenas
c) contudo, cremos que é muito difícil entendermos como um acusativo
as formas expressas “pelo acusativo neutro do adjetivo”.
Na medida em que o uso de um caso deve corresponder sempre a
uma função, não poderemos encontrar aí uma função de acusativo. Cre-
mos que a língua emprega o adjetivo no neutro, diretamente sobre o
verbo a ser qualificado.

mur07.p65 695 22/01/01, 11:39


696 os invariáveis: advérbios

O uso do neutro se explica pelo fato de não haver nessa relação


nenhuma noção de modo, meio, lugar, ou tempo.
Isso corresponde a um uso muito comum em português, como:
ele canta bonito, ele anda torto, ou ele canta mais bonito, ele anda mais
torto. Não é nem “bonitamente, tortamente, ou mais bonitamente ou
mais tortamente”. A idéia de qualidade incide diretamente sobre a ação
verbal. Podemos ver isso em grego nas variantes: prÇton / prÅtvw.
É uma ligação direta da expressão de qualidade ao verbo; mas como a
forma verbal não tem gênero, o neutro se faz presente (em grego o ad-
jetivo neutro em -o com o -n eufônico se confunde com o acusativo mas-
culino dos adjetivos de tema em -o), e no português, “bonito, torto, mais
bonito, mais torto são neutros, embora a gramática não os registre assim.
Em grego temos mñnon, deinñn, kalñn ktl, em que o -n não é
desinência do acusativo, mas meramente eufônico.
Nos adjetivos gregos de tema em consoante ou semivogal consta-
ta-se o mesmo fato: é o tema puro (neutro) que se usa: polæ, eéyæ,
saf¡w ktl.
Quando alguns adjetivos de tema em semivogal ou consoante em
posição precária, isto é, que a língua grega não mantém em posição
final, são usados adverbialmente, com freqüência usa-se um -w para re-
forçar a vogal ou proteger a consoante. Assim às vezes podem conviver
duas formas, uma sem o -w, e outra com o -w.5
eéyæ / eéyæw direto, imediato (-mente)
likrifÛw oblíquo (-mente)
ŽmfÛ / ŽmfÛw de ambos os lados, em torno
m¡xri / m¡xriw até
‘paj uma vez
l‹j com o calcanhar
kourÛj pelos cabelos
ôd‹j com os dentes, a dente
pæj com os punhos, a soco

5 Já repetimos várias vezes no curso deste trabalho que a língua grega mantém em
posição final só três consoantes: -r, -w, -n e por eufonia o -k/-x na negação oé /
oék /oéx e na preposição ¤k/¤j.

mur07.p65 696 22/01/01, 11:39


os invariáveis: advérbios 697

p¡rij em redor
xvrÛw em separado, a parte
¤ggæw próximo, perto
metajæ no intervalo (met‹ - jun)
Žntikræ em frente, em face
‘liw bastante
poll‹ki / poll‹kiw muitas vezes
Dentro dessa mesma linha de raciocínio vemos também o compa-
rativo do advérbio expresso pelo tema do neutro: (acusativo singular) e o
superlativo do advérbio expresso pelo neutro plural (acusativo plural).
O tema neutro no singular do comparativo se explica pela relação
horizontal entre dois: um em relação ao outro; no superlativo, contudo, a
relação é partitiva no superlativo relativo (um entre muitos) e no superla-
tivo absoluto é um entre todos. Por isso a preferência pelo plural neutro -
a, que não é a desinência do acusativo plural, mas sim a marca do coletivo
indo-europeu.

2. No genitivo
nuktñw de noite (num ponto da noite)
²m¡raw de dia (num ponto do dia)
polloè muito (de muito) relação de valor, preço
timsyai polloè estimar muito, dar muito valor a
ôlÛgou deÝn faltar pouco, de pouco
mikroè de pouco
¤pipol°w na superfície (partitivo)
¤jaÛfnhw de repente (partitivo)
¥j°w direto, imediatamente (ponto de partida)
¤fej°w de imediato, na seqüência (ponto de partida)
Todos esses advérbios são genitivos petrificados, de delimitação.
As gramáticas costumam arrolar aqui uma série de advérbios em -
ou como se fossem genitivos.
Não são.
Todos eles se relacionam com a questão poè; - ubi? - onde? Essa
semelhança com o genitivo dos nomes em -o é enganosa. Nós vamos
relacionar todos esses advérbios, quando tratarmos da questão poè/poyÛ
- ubi? onde? (p. 703-4).

mur07.p65 697 22/01/01, 11:39


698 os invariáveis: advérbios

3. No genitivo-ablativo6
Nas relações de lugar “de onde” - pñyen - unde? - “de onde?” o grego
usa um sufixo -yen, que exprime origem e ponto de partida.
São numerosos esses advérbios e podemos dizer que não há um
“numerus clausus”; isto é, estão em aberto.
Mas os mais comuns são os seguintes:
oéranñyen do céu
±Çyen desde a aurora
Uma relação maior será fornecida quando tratarmos dos advérbios
dêiticos.

4. No locativo
Há duas marcas do locativo: -i/-yi. A primeira se manteve, e, na
flexão, se confundiu com o dativo, a ponto de as gramáticas não mais a
considerarem como locativo, mas como “dativo de lugar”. Contudo, esse
locativo em -i se manteve em algumas formas petrificadas, tanto no gre-
go como em latim.
Também aqui não há “numerus clausus”.
Quando tratarmos dos advérbios dêiticos, forneceremos uma lista
deles.
As formas com -yi também se mantiveram no período arcaico (so-
bretudo em Homero) e depois cederam o lugar para as formas em -ou; de
uma equivalência inicial poè/poyi - ubi? “onde?”, as formas em -ou
prevaleceram.
Trataremos delas quando tratarmos dos advérbios dêiticos.

5. No Instrumental
A marca do antigo instrumental era um -a longo ou -h (ático) e a
variante silábica -da / -dh.
Há inúmeras formas assim:

6 Não se trata de “caso genitivo-ablativo”, mas sim da relação “de onde”, que pode-
mos chamar de “genitivo espacial” ou “genitivo-ablativo” expresso pelo sufixo ad-
verbial -yen.

mur07.p65 698 22/01/01, 11:39


os invariáveis: advérbios 699

kruf° / kræpta em segredo


oédam° de modo algum, de nenhum modo
²sux° em repouso, calmamente
p‹nth de todas as maneiras
pantax° de todas as maneiras
pez° a pé
÷ph da maneira que, de que maneira
p® de alguma maneira
‘ma juntamente, ao mesmo tempo
l‹yra / l‹yrh às escondidas
sfñdra fortemente, intensamente
¸ra em favor de
§neka por causa de
ped‹ com os pés, a pé
kræbda em segredo, secretamente
mÛgda confusamente, tudo misturado
fægda em fuga
Esse instrumental em -a / -h se prestou a confusões por causa da
relação de lugar “por onde”, questão p»/phi/p° (qua, em latim).
Houve coincidência formal e semântica, uma vez que na relação
instrumental pode-se ver a idéia de o ato verbal passar pelo objeto/instru-
mento inerte; a partir daí torna-se fácil evoluir para a idéia de meio e
depois de modo.
Trataremos disso neste mesmo capítulo, quando estabelecermos o
quadro dos correlativos.
Há também um certo número de advérbios em -ka e -ya (²nÛka,
thnÛka, aétÛka, ¦nya) com significado de tempo ou lugar, mas que
serão tratados no quadro dos demonstrativos, dêiticos.
Além disso, há ainda uma antiga desinência-sufixo instrumental em
-fi, freqüente em Homero, mas que tendeu a desaparecer. As expressões
mais comuns são as seguintes:
ŽmfÛ / ŽmfÛw dos dois lados, em torno
bÛhfi/bÛafi com violência, violentamente
àfi com força
nñsfi separadamente

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700 os invariáveis: advérbios

Ver Homero: àfi (A, 38), com força, dakruñfi (R, 696), com
lágrimas, klisÛhfi (N, 168), na tenda, stratñfi (K, 347), com o exér-
cito, yeñfi (C, 347), com a divindade, fr®trhfi (B, 363), na fratria
(em comum) öresfi (D, 452), na montanha.
Nem sempre a relação instrumental está clara: às vezes se confun-
de com o locativo -yi e genitivo-ablativo -yen.
Havia um outro sufixo de instrumental/modal em -ti, que aos
poucos foi abandonado. Restam contudo algumas formas que se mantêm
vivas. Também aqui a lista não é exaustiva.
ônomastÛ pelo nome, nominalmente
dvristÛ à moda dos dórios
¥llhnistÛ à moda dos gregos, à grega
nevstÛ recentemente
Dentro desses instrumentais podemos incluir também os advér-
bios de modo, construídos com o advérbio Éw < Wvw: como, assim sobre
temas nominais, adjetivos, que é visto como sufixo -vw acrescentado ao
tema do adjetivo. Esse sufixo corresponde grosso modo aos nossos ad-
vérbios em -mente. Ele tem sua origem num sufixo indo-europeu *yo-,
de valor anafórico, de que derivam o relativo ÷w, ÷ e algumas conjun-
ções, como Éw.
Esses advérbios se constroem sobre temas de adjetivos (tema do ad-
jetivo + -vw), com as adaptações fonéticas necessárias.
T. sofñ- sofñw,®,ñn sofÇw sabiamente
T. pr˜o- pr˜ow,a,on pr–vw calmamente
T. sÅfron sÅfrvn,on svfrñnvw prudentemente
T. Žlhy¡w Žlhy®w,¡w ŽlhyÇw verdadeiramente
T. önt- Ên,oïsa,ön öntvw realmente
T. ²dW/²d¡W ²dæw,eÛa,æ ²d¡vw suavemente
T. pant- pw,psa,pn p‹ntvw totalmente
Assim também:
kalÇw bem, belamente
brad¡vw lentamente
eéprepÇw decentemente, convenientemente
õmoÛvw semelhantemente
õmÇw igualmente
oìtvw / oìtv dessa maneira, desse modo, assim

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os invariáveis: advérbios 701

tax¡vw em velocidade, rapidamente


êperfuÇw desmedidamente, maravilhosamente
Ïde assim, desta maneira
Paralelamente a essas formações de advérbios de modo em -vw,
que lembram vivamente a ligação com o significado da conjunção: como,
à maneira de, a língua formou inúmeros advérbios de lugar em -v, cons-
truídos sobre temas de significado espacial, sobretudo preposições, anti-
gos advérbios de lugar. 7
Assim:
nv acima, em cima
fnv de repente, subitamente
oëpv / m®pv ainda não
nvyen de cima, do alto
k‹tv abaixo, embaixo
perait¡rv mais distante, mais longe
thlot¡rv mais longe, mais distante
thlot‹tv muito mais longe
¦jv fora, do lado de fora
eàsv no interior de, dentro
ôpÛsv atrás
pñrrv à frente, na frente

7 Atenção para a acentuação desses advérbios:


1. Nos adjetivos de tema em -o a vogal temática sobre elisão antes do sufixo modal -
vw, como em tema oxítono: kalñ-vw > kalÇw, e o advérbio de modo será pe-
rispômeno; se o tema for paroxítono, o advérbio de modo será também paroxítono
ou proparoxítono, o advérbio de modo será paroxítono: diko-vw > ŽdÛkvw.
2. Nos adjetivos de tema em -w, o -s-, encontrando-se em posição intervocálica,
sofre síncope e as vogais em contato se contraem, prevalecendo o timbre -o-:
Žlhy¡s-vw > Žlhy¡vw > ŽlhyÇw, perispômeno, se o tema for oxítono, e paro-
xítono se o tema for paroxítono ou proparoxítono.
3. Nos de tema em outra consoante, dá-se o mesmo: sÇfron-vw > svfrñnvw:;
eëdaimon-vw > eédaimñnvw; önt-vw.
4. Nos de tema em eW-, o -W-, encontrando-se em posição intervocálica, sofre sínco-
pe, e as vogais em contato se contraem se são do mesmo timbre, e, se de timbre
diferente permanecem em hiato: tax¡W-vw > tax¡vw.

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702 os invariáveis: advérbios

Advérbios demonstrativos,
dêiticos, de lugar e tempo

Na mesma linha dos nomes e adjetivos demonstrativos, dêiticos,


que os gramáticos costumam chamar de “pronomes-adjetivos”, a língua
grega possui um grande número de palavras exprimindo noções de espa-
ço e tempo, chamadas comumente de “advérbios de lugar, de tempo, de
modo”.
Vamos dar a seguir o quadro delas, na mesma seqüência em que
demos o quadro dos nomes e adjetivos demonstrativos.

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mur07.p65

os invariáveis: advérbios
Interrogativos direto/indir. Demonstrativos Relativos Indefinidos Relativos - Indefinidos
703

poè; */pñyi; ÷pou; aétoè/aétñyi oð/oðper/÷yi/ ¦nya poæ / poyÛ *** ÷pou /õpouoèn / oêd®pote ÷pou
onde? aqui mesmo onde/em que em algum lugar em qualquer lugar (que seja)

poÝ; /pñse, ÷poi; / õpñse; aétoÝ/aétñse oå /÷se poÛ / pos¡ ÷poi / õpoioèn / õpoid®pote
para onde? para aqui mesmo para o lugar que para algum lugar que para qualquer lugar (que seja)

pñyen; õpñyen; aétñyen ÷yen poy¡n ÷poyen/ õpoyenoèn/ õpod®pote


de onde? do mesmo lugar do lugar que de algum lugar de qualquer lugar (que seja)

p»; / ÷pú; aét»** Ã p¹ ÷pú/õpúoèn/ õpúd®pote


por onde? por quê? pelo mesmo lugar pelo lugar q., pelo que por algum lugar por qualquer lugar (que seja)

pñte; / õpñte; tñte ÷te pot¡ õpotoèn / õpoted®pote


quando? em que tempo? então, naquele tempo quando, no tempo em que um dia, certa vez, em qualquer tempo (que seja),
22/01/01, 11:39

alguma vez em um tempo qualquer

phnÛka; õphnÛka; thnÛka thnik‹de ²nÛka õphnÛka õphnikoèn/ õphnikad®pote


em que hora? nesta hora na hora em que em algum momento em qualquer hora (que seja)

pÇw; / ÷pvw; Ïde /oìtv (w) Éw/Ëste pvw õpvsoèn / õpvsd®pote /÷pvw

703
como? deste modo como/assim, do modo que de algum modo de qualquer modo que
704 os invariáveis: advérbios

* Várias formas que respondem à questão poè se constroem com esse


sufixo, como veremos abaixo. Chamamos a atenção do leitor para não
denominá-las de “genitivo locativo” ou de “genitivo de lugar onde”.
Essa denominação não é lógica; ela se guia pelas aparências, isto é, o
sufixo -ou faz lembrar o genitivo singular dos nomes em -o. É mera
coincidência formal.
** Vale a mesma observação do item anterior. A resposta à questão p»
encontra resposta nos temas de adjetivos dêiticos, como aét», t»de,
aìtú, ¤keÛnú.
Também aqui não se trata de um “dativo de modo, ou dativo ins-
trumental”; trata-se de respostas à questão p», “por que lugar, por
quê?”; “qua”, em latim.
Ressalte-se, contudo, que, a partir da idéia “por onde, por que”,
passa-se facilmente para a idéia de instrumento ou modo. Mas, trata-
se de sufixo adverbial e não de flexão nominal.
*** É preciso notar que a acentuação dos indefinidos é meramente indi-
cativa, porque todos são enclíticos e só se acentuam quando formam uni-
dade tônica com a palavra anterior.

O quadro acima é apenas indicativo. Se a primeira coluna só tem


duas alternativas: pergunta direta e indireta, as outras colunas ficariam
longas demais com uma quantidade muito grande de formas. Preferimos,
então, alinhá-las verticalmente a seguir, ressalvando contudo que não são
listas exaustivas.

A. Respostas à questão poè;/ pñyi; - onde? em que lugar?


1. sufixo -oè e -yi
oédamoè em nenhum lugar, em parte nenhuma
pantaxoè em toda parte, em todos os lugares
pollaxoè em muitos lugares
llou em outro lugar
lloyi em outro lugar
¤keÝyi lá, naquele lugar
Žllaxoè em outro lugar
õmoè junto, juntamente
thloè longe, distante

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os invariáveis: advérbios 705

thlñyi longe, distante


ƒIliñyi em Ílion (Tróia)
Korinyñyi em Corinto

2. Alguns com sufixo locativo -i / si (-i longo)


oàkoi em casa
xamaÛ por terra, no chão “humi”
pedoÝ no chão, por terra
ƒAy®nhsi em Atenas
ƒOlumpÛasi em Olímpia
Plataisi em Platéias
MegaroÝ em Mégara
PuloÝ em Pilos
SalamÝni em Salamina
¤keÝ lá, naquele lugar
pandhmeÛ em massa, em todo o povo
p‹lai outrora, antigamente
rti há pouco, agora mesmo
¦ti / oék¡ti ainda, ainda não, não mais
prÐ / prvÛ bem cedo, cedinho
yærasi às portas, “foris”

3. Outros dêiticos que respondem à questão “onde?”


¦nya aqui, neste lugar, “hic”
t»de aqui, neste lugar, “hic”, por aquí
¤ntaèya nesse lugar, aí, “ibi”

4. Outros sufixos
par¡j fora, do lado de fora
¤ntñw dentro
¤ktñw fora, de fora
¤ggæw perto, próximo
p¡law perto, próximo
p¡rij em toda a volta, em torno
xvrÛw à parte, em separado
p¡ra além, do lado de lá

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706 os invariáveis: advérbios

B. Respostas à questão poÝ; -de / -ze / -se / ya: para onde? “quo”
¤keÝse para lá, “illuc, eo”
¤ny‹de para aqui, “huc”
oàkade /-ze/-se para casa
llose para outro lugar
ƒAy®naze para Atenas
oédamñse para nenhum lugar
oédamoÝ para nenhum lugar
pantaxñse para todo lugar
pantaxoÝ/se para todo lugar
pantñse / -oÝ para todo lugar
pollaxñse/ -oÝ para muitos lugares
õmñse/ -oÝ para o mesmo lugar, para junto
aétñse/ -oÝ para o mesmo lugar
xamze por terra, para o chão
Megar‹de para Megara
yæraze /-sde para a porta

C. Respostas à questão pñyen; de onde, “unde”


¤keÝyen de lá. “illinc”
oàkoyen de casa
lloyen de outro lugar “aliunde”
ƒAy®nhyen de Atenas
Megarñyen de Megara
¦nyen daqui “hinc”
¤ny¡nde daqui “hinc”
¤nteèyen daí, “inde”
oédamñyen de nenhum lugar, de lugar algum
pantaxñyen de toda parte, de todos os lados
p‹ntoyen de tudo, de toda parte
pollaxñyen de muitos lugares
õmñyen de junto, do mesmo lugar
aétñyen do mesmo lugar
xamyen do chão, da terra
¦mprosyen à frente, na frente (adiante)

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os invariáveis: advérbios 707

öpisyen atrás, de trás


nvyen de cima, a partir de cima
k‹tvyen de baixo, a partir de baixo
¦ndoyen de dentro
¦jvyen de fora
pñrrvyen de longe, a partir de longe
¦gguyen de perto, a partir de perto

D. Respostas à questão p»; - por que lugar?, por que meio?, por que modo?,
de que maneira, “qua/quo modo”.
t»de por aqui, “hac”, deste modo, desta maneira
taætú por aí, “istac” desse modo, dessa maneira
¤keÛnú por lá “illac”, daquele modo, daquela maneira
aét» pelo mesmo lugar, do mesmo modo,
da mesma maneira
llú por outro lado, de outra maneira
oédam» por nenhum lugar, meio, modo
pantax» por todo lugar, meio, modo
p‹ntú/p‹nth por tudo, de todo modo
pollax» por muitos lugares, meios, modos
Podemos incluir aqui alguns instrumentais petrificados, em geral
construídos sobre temas de adjetivos, que, aos poucos, dispensaram o
nome que fica implícito.
dhmosÛ& (taf») exéquias públicas (pelo erário público)
ÞdÛ& em particular
koin» em comum
komid» com cuidado, perfeitamente
pez» a pé, como pedestre
eÞk» ao acaso, à aventura, pela aparência
Žm» / Žm° ao acaso, de roldão, a rodo
²sux°/ -» com tranqüilidade, placidamente

E. Respostas à questão pÇw; - como? “quo modo”?


Ïde deste modo, assim “ita, sic”
oìtv(w) desse modo, assim “ita, sic”

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708 os invariáveis: advérbios

¤keÛnvw daquele modo


Ésaætvw da mesma maneira
llvw de outra maneira
oédamÇw de modo algum, de nenhum modo
mhdamÇw de modo algum, de nenhum modo
p‹ntvw completamente, totalmente
aÞfnidÛvw subitamente, de repente
Ver a formação dos advérbios de modo (p. 700).

F. Respostas à questão pñte; quando? em que tempo? “quando?”


tñte* então, naquele tempo “tum”
÷te quando (rel.) no tempo em que “cum”
¥k‹stote cada vez
pot¡ um dia, algum dia, “aliquando, unquam”
¤nÛote algumas vezes
oëpote em tempo algum, jamais, nunca (indicativo)
m®pote em tempo algum, jamais, nunca (eventual)
oéd¡pote em tempo algum, jamais, nunca (indicativo)
mhd¡pote em tempo algum, jamais, nunca (eventual)
llote uma outra vez
* Esses dêiticos de tempo podem vir compostos com a partícula eventual
-an (÷tan: quando, sempre que), com o modo eventual correspondente.
Outras respostas à questão: pñte; quando?
prvÛ / prÐ cedo, cedinho
ôc¡ à tarde, tarde
s®meron/t®meron hoje (este dia)
aërion amanhã
xy¡w ontem
nèn / nunÛ agora, neste momento
m¡xri nèn até agora
nèn d® agora mesmo
rti há pouco, ultimamente
eäta a seguir, em seguida
prÛn antes
³dh já
¦ti ainda

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os invariáveis: advérbios 709

aétÛka imediatamente, logo


næktvr de noite
‘ma ao mesmo tempo
prÅhn anteontem, há tempos
A idéia de quantidade, valor, dimensão, intensidade que se atribui
ao verbo ou ao adjetivo, se exprime pelo neutro dos nomes-adjetivos que
têm esses significados (ver advérbios no acusativo).
pñson quão grandemente, quanto
÷son (tão) quão grandemente
ôlÛgon pouco
mikrñn pouco
polæ muito
m¡ga grande(mente)
oåon qual(mente), por exemplo
pl¡on / pleÝn mais (quantidade, número)
mllon mais (valor, dimensão)
pleÝston muito mais (número)
meÝon menos (valor)
¦latton menos (número)
tosoèto(n) tanto
m‹lista muito intensamente, sobretudo
pleÝsta em grande quantidade, número
gan demais, em excesso
lÛan muito (intensamente)
‘dhn em abundância, abundantemente
‘liw assaz, bastante
p‹nu muito, intensamente
Com os verbos de valor ou de preço, freqüentemente se usa o ge-
nitivo dos nomes-adjetivos de quantidade-valor. É a idéia “em troca/troco
de quê?” (ŽntÛ) > pñsou; que explica o uso do genitivo.
Em troca:
de tanto, ÷sou,
de muito, polloè,
de pouco, ôlÛgou,
de mais, pl¡onow.

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710 conclusão

Conclusão

Ir a Ítaca é importante; mas, mais importante ainda é o caminho.


Este trabalho está chegando ao fim, e precisa de uma conclusão.
Mas ele terá um fim? Ou ele é como aqueles diálogos aporéticos de Platão,
em que o mais importante não é o fim, mas a m¡yodow, o caminho?
Como dissemos na Introdução, dizemos também agora: este traba-
lho não é um projeto fechado, ou uma tese programada. Se nós tivéssemos
feito deste trabalho um projeto ou se tivéssemos feito um projeto para
este trabalho, teríamos fracassado tantas vezes quantas tivéssemos co-
meçado; teriam sido tantos fracassos quantos os projetos. A razão disso é
que ele sempre foi uma m¡yodow, um caminho, e não um t¡low, um fim.
Mas, depois de chegarmos ao ponto em que estamos, algumas per-
guntas povoam a nossa cabeça: o que fizemos? O caminho percorrido valeu
a pena? O resultado é o quê? Foi apenas um passeio sem pretensão, sem
compromisso pela língua grega, ou ficou algo, ficou uma mensagem, em
suma, este trabalho foi útil e será útil. Enfim, há uma conclusão?
A resposta é sim, há uma conclusão.
Se o leitor está lembrado, no curso do trabalho insistimos sempre
sobre a relação significante-significado da nomenclatura gramatical. Cre-
mos que conseguimos o nosso objetivo.
Desde a apresentação do alfabeto, procuramos encontrar o porquê
dos nomes de certas letras (grafemas): preferimos chamar o e de e cilñn
“e psilón”, isto é, “e desguarnecido”, “e simples”, e não “êpsilon”, que
não diz nada. Fizemos o mesmo com o o mikrñn e com o v m¡ga, res-
pectivamente “ o pequeno” e “o grande”, o que eles são foneticamente, e
não “ômicron” ou “ômega”, que também nada dizem. Essas denomina-
ções das gramáticas se prendem à tradição descritivista, que já na gramática
grega alexandrina pronunciava ¤cilñn, ômikrñn, Èm¡ga; os gramáti-
cos latinos transcreveram os dois primeiros “êpsilon, ômicron”, transfor-
mando palavras gregas oxítonas em palavras latinas proparoxítonas, e o
último, por causa da penúltima breve, passou, de paroxítono em grego a
proparoxítono em latim.
Nossa opção é significante e clara.

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conclusão 711

No capítulo da Fonética Aplicada procuramos mostrar que os meta-


plasmos, isto é, os acidentes fonéticos que as palavras gregas sofreram no
curso de sua história, podem ser explicadas rigorosamente pelas funções
dos componentes do aparelho fonador, sobretudo na junção dos temas
nominais com os casos [as desinências dos casos] e dos temas verbais com
as desinências pessoais.
A língua grega, como qualquer outra língua, tem uma caraterística
fonética determinada, que é um idiotismo, uma peculiaridade que a dife-
rencia das outras. A língua grega como um todo sempre foi ciente e ze-
losa disso. Em toda a tradição oral, a unidade da língua grega foi perfei-
ta. As Olimpíadas foram testemunhas disso: lá todos se entendiam e não
precisavam de outro documento; o “falar grego” ¥llhnÛzein lhes dava o
direito de participar delas. As diferenças lingüísticas que nós chamamos
de dialetos, a que os gramáticos costumam dar grande importância, de-
masiada importância, não eram tão importantes assim para os gregos. Isso
pode ser notado, por exemplo, nas inúmeras citações que se encontram
nos diálogos de Platão. Há citações freqüentes de Homero, Hesíodo, Si-
mônides, Píndaro, Sapho, em que se misturam os dialetos jônico, eólico
e dórico, que os interlocutores absorvem naturalmente. Mesmo o meni-
no Lísis, que tem 12 anos, diz a Sócrates que conhece a passagem de
Sólon que ele cita (212a2), de Homero, Od., XVII, 218 (214a6) e de
Hesíodo, Os trabalhos e os dias, 25 (215c7). Protágoras (325e) diz que os
meninos atenienses aprendiam de cor os poemas de Homero, Hesíodo e
os dos líricos. Então os principais dialetos gregos não soavam estranho
ao menino ateniense do século V a.C., e o dialeto ático, formado pelos
sofistas e pela retórica, é a combinação do dialeto jônico, substrato na
Ática, e dialeto de todos os sábios da Jônia que acorreram a Atenas, e do
dialeto dórico, geograficamente fronteiriço.
Dentro dessa linha de raciocínio, tentamos, primeiro no capítulo
da Fonética Aplicada, e depois em todas as desmostrações fonéticas das
flexões nominal e verbal, mostrar ao leitor e eventual aluno, que todas as
formas “estranhas” que os gramáticos classificam em separado são formas
perfeitamente normais, que evoluíram naturalmente, dentro dos hábitos
fonéticos da língua grega; e muitas das formas intermediárias estão
registradas neste ou naquele dialeto.
Por isso, também aqui, não fomos econômicos nessas demostrações.
Todas as vezes em que julgamos que essas desmostrações seriam úteis ou
necessárias nós as fizemos.

mur07.p65 711 22/01/01, 11:39


712 conclusão

Dedicamos um espaço pequeno à acentuação. Registramos apenas


que os temas nominais têm tonicidade própria e que a sílaba tônica pode
deslocar-se, se a quantidade da última vogal sofrer alteração: registramos
também que os temas verbais não têm tonicidade própria, mas, por se-
rem a sede do significado virtual, atraem para eles a tônica, cuja posição
é regulada pela quantidade da última vogal; e que, tanto a acentuação dos
nomes quanto a dos verbos obedecem à “lei dos três tempos”, isto é, das
três notas musicais, a partir da última sílaba. Não há tônica anterior à
antepenúltima.
Quando tratamos da flexão nominal, procuramos mostrar, sempre,
a relação estreita entre significante e significado e procuramos resgatar o
significado original do nome dos casos.
Mostramos também que cada caso tem o nome da função da pala-
vra e que não há arbítrio algum nessa relação; há uma constante semân-
tica em tudo. Por isso, não há regras especiais para esse ou aquele caso.
Cada relação tem o caso da função das partes.

Na flexão verbal, demostramos que o verbo tem apenas dois com-


ponentes essenciais: o aspecto, que definimos como “tempo interno do
verbo” e o modo, que é a maneira como o dono do discurso quer passar
ao receptor o ato verbal.
Definimos também, em várias passagens, o que é “verbo-=°ma”.
„R°ma é “o verbo-predicado do sujeito”, isto é, é o tema verbal (do infec-
tum-inacabado, aoristo-pontual/futuro ou perfectum-acabado) acresci-
do das desinências pessoais, ativas, se o sujeito é agente; ou médias, se o
sujeito é agente envolvido, interessado no ato verbal, e passivas, se o su-
jeito é paciente do ato verbal. Demostramos também que essa presença
do sujeito no verbo é manifesta foneticamente.
Mostramos também que o tema verbal puro, original, é o tema
do aoristo, e que, por isso mesmo, se chama Žñristow, isto é “sem li-
mites, sem horizonte” e que por isso é pontual, tanto o chamado “aoristo
gnômico” quanto o “aoristo enquadrado, narrativo”, como nós o chama-
mos, e que sobre ele se constrói o futuro; demostramos também que,
dele, derivam o tema do infectum-inacabado e o do perfectum-acabado,
e que essa derivação pelo acréscimo de sufixos ou prefixos tem a ver com
o significado.
Verificamos também que o “tempo dêitico” não está no verbo, mas
sim no enquadramento do ato verbal, e que a única marca de tempo é o

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conclusão 713

aumento, que marca o passado, e é exterior ao verbo. O e não é uma


ptÇsiw, não é uma desinência; é apenas um apêndice; está fora do tema
verbal. Constatamos também que, por coerência, esse aumento só existe
no indicativo, porque só o indicativo comporta a noção de tempo dêitico.
Não há tempo no subjuntivo e optativo nem no particípio ou infinitivo.
Demostramos ainda que, formalmente, há apenas dois modos ver-
bais diferentes do indicativo: o eventual e o possível, e que cada um de-
les tem sua marca própria e que a tradução em português é fácil e sempre
a mesma: o subjuntivo presente ou futuro e indicativo eventual (da repe-
tição do ato presente) do português traduzem o eventual grego, e o im-
perfeito do subjuntivo ou condicional simples do português traduzem o
possível grego.
O imperativo é apenas o modo da interpelação ou do diálogo e só
o imperativo singular direto tem formas próprias. O imperativo direto
plural e os imperativos indiretos são construções analógicas e se baseiam
sobre o tema do indicativo.
Dedicamos grandes espaços para o verbo-adjetivo (particípio) e para
o verbo-substantivo (infinitivo).
A razão disso é que em português o uso dessas formas nominais do
verbo é muito confuso e mal tratado pelas gramáticas.
Insistimos sobretudo que, todas as formas verbais têm significado
autônomo (significante-significado), pouco importando o lugar em que
apareçam. Por isso não temos espaço reservado para a sintaxe desse ou
daquele modo, nem tampouco para esse ou aquele tipo de orações (coor-
denadas, subordinadas, adversavivas, causais, temporais etc.); entendemos
que essas denominações são etiquetas aplicadas por fora. Entendemos que
“sintaxe” é “ordenação”, e ordenação é um segundo tempo. Preferimos,
como sempre, insistir na organicidade da mensagem, na autonomia se-
mântica das formas. Na escolha dos modos vale a vontade do “dono do
discurso”, emissor da mensagem. Se há uma constatação ou afirmação
(indicação) de uma realidade objetiva ou subjetiva ou a sua negação (ir-
realidade), o modo será o indicativo, pouco importanto se está na oração
principal, coordenada, subordinada ou independente.

Os conetivos (conjunções, partículas) não “regem” esse ou aquele


modo; eles são a manifestação do modo com que a mensagem é enviada.
Se o emissor quer passar a idéia de um fato eventual, provável, futu-
ro, ele vai usar o modo eventual (subjuntivo presente ou futuro em por-

mur07.p65 713 22/01/01, 11:39


714 conclusão

tuguês). Afirmamos também que o termo “subjuntivo” é uma improprie-


dade semântica, porque nem sempre ele está ou sugere uma subordina-
ção. Contudo, mantivemos essa denominação, provisoriamente, porque
existe uma nomenclatura oficial prescritiva.
O mesmo acontece com relação às formas do “optativo”, que tam-
bém é uma impropriedade semântica.
Se o emissor quer passar a idéia de possibilidade, de afirmação ate-
nuada, de desejo (voto-suspiro-devaneio), mera operação do espírito, ele
usa o possível. Em português, ele usaria o “imperfeito do subjuntivo” ou
o “condicional simples” (futuro do pretérito).
Tudo isso está demostrado concretamente nos inúmeros exemplos
que arrolamos e traduzimos, explicando e justificando o emprego deste
ou daquele modo.

Terminamos o trabalho com o capítulo que denominamos “Os In-


variáveis”. Nele incluimos as preposições (proy®seiw), os conetivos (sæn-
desmoi), que são as partículas e conjunções, e os advérbios (¤pirr®ma-
ta), e demos a todos eles o mesmo tratamento semântico e orgânico
dado aos nomes e verbos.
Explicamos que a denominação prñyhsiw > praepositio > preposi-
ção é meramente formalista, descritivista e não leva à compreensão das
relações que as preposições estabelecem. Afirmamos que todas as prepo-
sições, na origem, são advérbios com significado espacial, e que a “regên-
cia” desta ou daquela preposição não vai além da relação espacial que ela
empresta ao verbo, e que o caso decorrente é o dessa relação:
a) lugar onde > locativo;
b) lugar para onde, e todas as relações de movimento > acusativo;
c) lugar de onde, em todas as suas acepções > genitivo.
Os exemplos citados demostram isso com clareza, mesmo quando
as preposições são empregadas metaforicamente.
Os conetivos também foram apresentados em ordem alfabética, e
cada um deles tratado individualmente sob o ponto de vista semântico, e
também aí mostramos que é o significado que vai determinar o modo
verbal que será empregado.
Finalmente estudamos os advérbios, também em ordem alfabéti-
ca, e mostramos como se formaram os advérbios de lugar e de tempo e os
de modo, que são os verdadeiros ¤pirr®mata > ad-vérbios e que eles

mur07.p65 714 22/01/01, 11:39


conclusão 715

são sobre-posições aos verbos, como os adjetivos, ¤pÛyeta, o são para os


nomes. O advérbio qualifica o verbo e o adjetivo qualifica o nome.
Eis aí, então, as conclusões do nosso trabalho; tememos, contudo,
que não sejam realmente conclusões, porque não há conclusões; há mui-
ta coisa ainda a ser feita; há desdobramentos de todas as questões coloca-
das, que podem, devem e serão retomadas. Este nosso trabalho é apenas
o começo de tudo.

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bibliografia 717

Bibliografia
Uma explicação necessária:

Costuma-se afirmar que uma das partes mais importantes de uma


tese é a bibliografia, isto é, a lista de livros e artigos que o pesquisador
afirma ter lido para redigir sua tese. Há algo contraditório nisso: se é
uma tese, isto é, uma posição, não deve apoiar-se em ninguém e em nada!
Mas, o que acontece é exatamente o contrário: é a partir de uma
bibliografia que se redige uma tese! Seria por antífrase?!
Na minha opinião são teses de compilação. Teriam o seu valor, é
claro! Elas teriam como finalidade apresentar o estado atual das pesqui-
sas na área estudada.
O caso em tela é especial, diferente. De início não se pretendeu
fazer uma tese! O autor nunca pretendeu escrever uma obra nesse senti-
do. O trabalho e o prazer dele começavam e se encerravam, começam e se
encerram ainda, na sala de aula. Era e é o enthousiasmós, isto é, aquele
estado de inspiração de que fala Platão no Íon, na discussão sobre a ins-
piração poética entre Sócrates e o rapsodo Íon.
O trabalho do professor era diuturno: a partir da língua, dos tex-
tos, encontrar e explicar todos os esquemas dela. Esses exemplos, na for-
ma de frases e textos, ou ele encontrava nas gramáticas ou encontrava
nos textos de leitura.
Os exemplos encontrados nas gramáticas foram usados para análi-
se, interpretação e conclusões na sala de aula. Seria injusto omiti-los.
Portanto, a lista bibliográfica a seguir não é exatamente uma lista
bibliográfica por antífrase, mas é uma lista bibliográfica que indica as fon-
tes de onde fomos haurir os exemplos usados. A interpretação e o uso
são nossos.
Procuramos também usar exemplos confirmados, abonados. Por is-
so, muitas vezes fomos aos originais e modificamos ou completamos as
citações.

mur08.p65 717 22/01/01, 11:39


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mur08.p65 723 22/01/01, 11:39


724 sumário

sumário
Introdução: Guia do leitor 9

O alfabeto grego 36
Exercício de leitura e transcrição 37
Normas de transliteração 40

Alguns dados de fonética aplicada 43


Considerações gerais 43
As vogais 47
Os ditongos 49
Alternância vocálica 50
Alternância qualitativa 50
Alternância quantitativa 51
Vogal de ligação ou de apoio 52
Encontro de vogais 54
Eufonia 56
Contração 57
Alteração de vogais 58
As consoantes 59
As soantes 62
Encontro de consoantes 65
Supressão de consoantes 68
Supressão da aspiração 70
A acentuação 71
As enclíticas 76
Acentuação das enclíticas 77
As proclíticas 78
A pontuação 78

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sumário 725

Flexão nominal 79

Casos e funções 83
O tema 85
Os casos: definições 88
Nominativo 88
Vocativo 93
Acusativo 97
Genitivo 104
Genitivo-ablativo 106
Dativo 107
Locativo 111
Instrumental 113
Os gêneros 115
Os números 116

A flexão nominal: os temas nominais 117

Temas em vogal 117


Quadro geral das desinências 120
Quadro de flexão: masculinos em -o 123
Quadro de flexão: femininos em -o 124
Quadro de flexão: neutros em -o 125
Nomes e adjetivos “contratos” de tema em -o 126
“Declinação” flexão ática 128
Quadro de flexão dos nomes femininos de tema em -a puro 131
Quadro de flexão dos nomes femininos
de tema em -h e -a impuro 132
Quadro de flexão dos masculinos de tema em -aw/-hw 134
Os adjetivos de tema em vogal 137
Quadro de flexão de adjetivos de tema em -o/-a 137
Quadro de flexão dos adjetivos de tema em -o/-h 138

Graus dos adjetivos 139


Adjetivos numerais 143
Flexão dos numerais 147

Relativos 148
Quadro de flexão dos relativos 148
Quadro de flexão dos dêiticos 150

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726 sumário

Interrogativos e indefinidos 153


Flexão dos interrogativos e indefinidos 154
Flexão dos relativos indefinidos 155
Flexão de ¤keÝnow 157
Flexão de õ aétñw 159
Flexão dos reflexivos 160

Os correlativos 161
Quadro dos correlativos 162

Pronomes pessoais 163


Quadro de flexão dos pronomes pessoais 164
Quadro de flexão do pronome de 3a pessoa 166

Temas em consoante e soante/semivogal 167


Quadro geral das desinências 167
Exercício prático de identificação dos temas 171
Quadro geral das dificuldades fonéticas 178
Quadros de flexão 182
1. Nomes de tema em oclusiva velar 182
2. Nomes de tema em oclusiva labial 184
3. Nomes de tema em dental (masc./fem.) 185
4. Nomes neutros de tema em dental 187
5. Nomes de tema em -nt 190
6. Nomes de tema em -n 193
7. Adjetivos de tema em -n (masc/fem. e neutro) 194
8. Nomes e adjetivos de tema em -r e -l 197
9. Nomes de tema em -r / -er 199
10. Nomes e adjetivos de tema em semivogal: -u / - i 201
11. Substantivos e adjetivos de tema em -es (masc./fem.) 203
12. Nomes e adjetivos neutros de tema em -w 205
13. Nomes de tema em -j 207
14. Nomes masculinos de tema em -hW 209
15. Nomes de tema em W / eW 211
16. Adjetivos de tema em W- / eW 212
17. Adjetivo de tema em W / o /a 214
18. Nomes de tema em -vW 215

Nomes heteroclíticos 216

mur09Sum.p65 726 22/01/01, 11:39


sumário 727

O verbo grego 223

Preliminares 223
Os aspectos verbais: tempo interno do verbo 226
Inacabado (infectum) 226
Significados do infectum 227
Aoristo 234
Acabado (perfectum) 239

Os modos 244
Indicativo 244
Realidade objetiva e realidade subjetiva 244
Expressão da irrealidade 245
Expressão da realidade 248
Expressão da condição 251
Subjuntivo 253
1. Nas orações independentes 254
a) delibertativo 254
b) exortativo 255
c) desiderativo 255
2. Nas orações dependentes 256
a) Intenção, finalidade: fato futuro, eventual 256
b) circunstâncias temporais de indeterminação 258
c) Interrogativas indiretas com idéia de eventualidade 260
Optativo 261
1. Desejo, voto possível 262
2. Afirmação atenuada 263
3. Nas orações supositivas 267
Imperativo 269
Ordem negativa, proibição 270

Formas nominais do verbo 272


O particípio 272
1) Definição 272
2) Aspecto e tempo no particípio 274
a) Generalidades 274
b) Particípio presente 275
c) Particípio aoristo 275
d) Particípio perfeito 276

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728 sumário

3) Concordância do particípio 277


Participio substantivado 282
4) Funções do particípio 284
a) Particípio nas orações completivas 284
. maneira de ser, estado 284
. começar, sofrer, cansar-se de 286
. estar certo ou errado, fazer o bem ou o mal,
ser superior ou inferior a 287
b) Particípio predicativo de sujeito oracional 289
c) Genitivo absoluto 293
d) O particípio com conetivo 295
. com idéia de causa e tempo 296
. com idéia de finalidade e concessão 297
. com idéia de condição 298
Infinitivo 299
I. O infinitivo é substantivo e verbo 302
II. Funções do infinitivo e da oração infinitiva 304
1. Infinitivo sujeito 304
2. Infinitivo predicativo 308
3. Infinitivo complemento do objeto direto
e orações completivas 308
4. Infinitivo com valor de possível 314
5. Infinitivo e oração infinitiva complemento nominal 315
6. Outros casos do infinitivo 317
a) Genitivo 317
. Complemento de substantivos 317
. Genitivo-ablativo 318
. Dativo 318
b) Instrumental 318
c) Locativo 319
d) Acusativo de relação 317
e) Acusativo de direção 317
III. Infinitivo com valor verbal 321
1. Infinitivo com valor imperativo 321
2. Infinitivo absoluto, livre ou independente 322

mur09Sum.p65 728 22/01/01, 11:39


sumário 729

A flexão verbal 324


Quadro das desinências verbais 327
As desinências e suas particularidades 328
Alguns problemas fonéticos 333
Características dos modos 334
Quadros da flexão verbal 341
Voz ativa
I. Presente 341
Indicativo 341
Subjuntivo 344
Optativo 347
Imperativo 348
Particípio 349
Infinitivo 351
II. O passado 351
Imperfeito 351
O aumento 352
Os aumentos temporais 353
O aumento nos verbos compostos 355
Voz média e passiva
Indicativo presente 356
Subjuntivo 357
Quadro demostrativo da flexão do subjuntivo médio/passivo 358
Optativo 360
Imperativo 361
Particípio 362
Infinitivo 363
Imperfeito 363
Verbos denominativos / “contratos” 364
Quadro de flexão dos verbos denominativos
de tema em vogal e sufixo -j- 366
Voz ativa
nikaj- dhloj-filej-peinaj-/peinhj 367
Voz média e passiva
nikaj- dhloj-filej-xraj-/xrhj 371
Quadro demostrativo da evolução fonética 375
Tema: nika-j- 375
Tema: peina- / peinh-j- 380
Tema: dhlo-j- 385
Tema: file-j- 390

mur09Sum.p65 729 22/01/01, 11:39


730 sumário

Quadro de flexão de verbos em -mi com sufixo nu/nnu 395


deÛk-nu-mi
Voz Ativa 395
Voz média e passiva 396
Aoristo ativo 397
Quadro demostrativo do subjuntivo 398
Aoristo médio 399
Futuro ativo 400
Futuro médio 401
Aoristo passivo 402
Aoristo passivo 403
Quadro de flexão de eä-mi 404
Quadro de flexão fh-mi 405
Quadro de flexão ±-mi 407

Verbo Ser 407


Quadro de flexão do verbo eänai 408
Quadro demostrativo de flexão 410
Compostos de eänai 411
Formação dos temas do infectum 412
Temas consonânticos, monossilábicos 413
Temas em vocalismo zero, com redobro no presente 414
Temas em semivogal -i-/-u- 414
Temas de raízes monossilábicas com redobro 414
Temas consonânticos com sufixos na-/nh-/nu-/nnu 415
Temas em consoante com sufixo/infixo -n- 416
Temas com dupla sufixação -sk-/-isk-+-n- 417
Temas com sufixo -sk-/-isk- 417
Sufixo iterativo no passado 418
Temas com sufixo t, y, k, x, g 418
Sufixo -j- 418

Aoristo 423
Quadro de flexão dos aoristos: voz ativa e média 426
Raiz-tema em consoante: id-, lip-, ely 426
Raízes-tema em vogal longa: -v, -h, -a, -u - (gnv/bh/dra/du) 433
Aoristo em -ka (só no indicativo) 438
Aoristo sigmático 445
Quadro de flexão 445
Voz ativa 445
Voz média 447

mur09Sum.p65 730 22/01/01, 11:39


sumário 731

Aoristo sigmático com temas em oclusivas 448


Temas em líqüida / soante / nasal: 453

O futuro 456
Flexão do futuro 459
1. Flexão do futuro dos temas em semivogal: -u-/-i- 459
2. Flexão dos temas monossilábicos em vogal longa 460
3. Flexão dos temas em oclusiva: - g,k,x / b,p,f /d,t,y 464
4. Flexão do futuro em -es- dos temas em líqüida / soante 468
5. Flexão do futuro ático 472
6. Flexão do futuro dos temas em vogal 474

Aoristo passivo 476


Quadro de flexão do aoristo passivo em yh 477
Temas em semivogal: lu-yh 477
Temas monossílabicos 479
Temas em oclusivas 483
Quadro de flexão do aoristo passivo em -h- 486
Quadro de flexão do futuro passivo em -yh- 488
Temas em semivogal (i, u) 488
Futuro passivo dos monossilábicos 489
Quadro de flexão do futuro passivo em -h-s- 490

O perfeito 492
Preliminares 492
Morfologia do perfeito: 495
Quadro de flexão do perfeito 498

Mais-que-perfeito 501
Particularidades fonéticas do sistema do perfeito 509
Perfeitos de flexão especial com alternância e/o 513
Voz média e passiva 517
Tema em labial 517
Tema em dental 518
Tema em velar 519
Perfeito dos temas em vogal 520
Outros modos do perfeito médio / passivo 520
Mais-que-perfeito médio / passivo 523
Verbos que têm só o perfeito 523
Futuro 528
Futuro anterior 529

mur09Sum.p65 731 22/01/01, 11:39


732 sumário

Os invariáveis: preposições, conjunções, partículas, advérbios 530


Preposições
†Ama 534
ƒAmfÛ 535
ƒAn‹ 537
…Aneu 540
ƒAntÛ 541
ƒAntikræ / kat-antikræ 542
ƒAntip¡raw / Žntip¡ran / kat-antip¡raw 543
…Anv 543
ƒApñ 543
…Apvyen 547
…Ater 547
…Axri (-w) 548
BÛ& 549
Di‹ - (dæo > dÛw) 549
DÛkhn 556
DÛxa 556
ƒEggæw / Meshgæ (-w) 557
EÞw / ¤w < ¤nw 558
Eàsv 563
ƒEk / ¤j 563
„Ek‹w, §kaw 567
ƒEktñw [¦ktos-yen] 567
ƒEn 567
…En-anta / ¦nanti / ¤nantÛon 570
†Eneka / eáneka / §neken 570
ƒEntñw 571
…Ejv 571
…Ejvyen 572
ƒEp¡keina 572
ƒEpÛ 572
EéyeÛan (eéyæ, eéyæw) 579
†Evw 579
Kat‹ 580
Katantikræ (ver Žntikræ) 586
Katñpin 587
Kræfa / kræpta 587
L‹yra / l‹yr& 587
Met‹ 588
Metajæ 590
M¡xri ( -w ) (Hom., m¡sfa) 591

mur09Sum.p65 732 22/01/01, 11:39


sumário 733

Nñsfi (-n) 591


„Omoè 591
…Opisyen / öpisye 592
Par‹ (paraÛ) 592
P‹row 596
P¡ran / P¡ra / P¡r& 597
PerÛ 597
Pl®n 602
PlhsÛon 602
Pñrrv / Pñrsv / Prñssv 602
Prñ 603
Prñw 606
Sun / jun 612
T°le 614
„Up¡r 615
„Upñ 617
X‹rin 621
XvrÛw 622
„Ww 622
Conjunções - Partículas - Sændesmoi 623
ƒAll‹ 625
…Allvw 627
†Ama 627
ƒAm¡lei 628
…An (ken em Homero) 628
…Ara / =a / r 629
ƒAt‹r / Aét‹r 631
†Ate - < ‘ te 631
Aï /aï te / aïte (aïtiw / aïyiw) 632
Aïyiw 633
AétÛka 633
Aïtiw (ver aïyiw) 633
G‹r < ge Žr / ge ”ra 634
Ge 635
Goèn (ge oïn) 636
DaÛ 637
D¡ 638
D® 640
D°yen (d® - yen) 641
Dhlad® (d°la d®) / dhlond® (d°lon d®) 641
D®pote (d® pote) 642
D®pou (d® pou) 642

mur09Sum.p65 733 22/01/01, 11:39


734 sumário

d®pouyen (d® pou -yen) 643


D°ta 643
Diñti (diƒ ÷ti) 644
ƒEŒn (eÞ ’n) / ’n / µn 644
EÞ 644
EÞ g‹r (ver eàye) 647
EÞ d¢ m® 647
Eàye 647
EÞ m® 647
EÞ m¯ ra 648
Eàper 648
Eäta 648
Eàte... eàte 648
ƒEpeÛ 648
ƒEpeid® 649
…Epeita (¤peÛ eäta) 649
…Este 649
…Eti (oék¡ti / mhk¡ti) 649
†Evw 650
ƒ€H / ±¢ / ±æte 651
³... ³ 651
‰H 653
„HnÛka 655
†Ina 655
KaÛ 657
M‹ 660
M¡n 660
M¡ntoi 662
M¡xri (-w ) (hom. m¡sfa) 663
M® / mhd¡ / m®te...m®te 664
Mhd¡ 664
M®te 664
M®n / m‹n (m¡n) 664
MÇn (m¯ oïn) 666
NaÛ 666
N® 667
Nèn 667
Nèn d¡ 667
Nun 668
†Omvw 668
†Opvw 669
†Oti (÷ ti) 671

mur09Sum.p65 734 22/01/01, 11:39


sumário 735

Oé / oék / oéx / oéxÛ 671


oéd¡ / mhd¡ 672
Oékoèn (oék oïn) 673
Oëkoun (oëk oïn) 674
Oïn / În 674
Oëte... oëte / m®te... m®te 676
Per 677
Pote (pot¡) 677
Pou 678
PrÛn 679
Pvw / pv / -pv 682
Te / T¡ 682
Toi 684
Toigaroèn (toÛ gŒr oïn) 685
Toig‹rtoi (toÛ gŒr toi) 686
ToÛnun (toi nun) 686
„Ww 687
„WsaneÛ (Éw ’n eÞ) 692
„Wsei (Éw eÞ) 692
†Wsper (Éw per) 692
„WspereÛ (Ësper ei) 692
„Wsperoèn (Ësper oïn) 692
†Wste (Éw te) 692
Advérbios: - ¤pirr®mata 693
Advébios petrificados 693
1. No acusativo 694
2. No genitivo 697
3. No genitivo-ablativo 698
4. No locativo 698
5. No instrumental 698
Advébios de modo em -vw 700
Advébios de lugar em -v 701
Advérbios demonstrativos, dêiticos, de lugar e tempo 702
Respostas à questão poè/pñyi 704
Respostas à questão poÝ/-de/-ze/-ya 706
Respostas à questão pñyen 706
Respostas à questão p» 707
Respostas à questão pÇw 707
Respostas à questão pñte 708
Conclusão 710
Bibliografia 717

mur09Sum.p65 735 22/01/01, 11:39


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