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Idealizado, produzido e editado por Almir Chediak as contendo melodia, letra ¢ harmonia (acordes cifrados) guitarra, piano, 6rgao e outros instrumentos, m Todos os acordes cifracios esti representados graficamente viola e guitarra. Volume 2 SCENTS 7 OS SET ~Volume 1 __Parecer de Joo Gilberto. reficio de Almir Chediak n a oa) Biogralta a Entrevista de Caetano Veloso sobre — sua trajetoria musical a Roberto Benevides ... Discografia MUSICAS Alegria. a — Alguém cantando As varias pontas de ura es ‘A tua presenca morena — Avacandado Beleza Pura Beira Mar — Caja Caraacara ~Cavaleiro de Jorge .. __ Como dois ¢ dois De manha ~ Divino maravilhoso __ Dom de iludir Domingo ~ Eclipse aculto .. __Elaeeu. Ele me deu um beijo na boca ~ Enquante sew lobo nao vem Esse cara... | Eu te amo J Flor do cerrado Gema —| Gente. | Giulietta Masina Gravidade...... — Irene | Janelas aberias ne 2 Lingua poaaaecoocoecooaciaqgcaacooas pe “sao Joao, Xai London. London Loucn por voed Lua de Sao Jorge Mie Massa real Mel Menino do RIO... Meu bem, meu mi Muito Nao identificado Nii com minha mastea O amor O citime. Ohomem velho Onome da cidade Odara Onde andards Paisagem ttil Pelos olhos Qual é, baians?, Queda Quero fica Ouero ira Cc Rapte-me Salva vida Saudosismo Sim/nio Sol negro Ta combinado Tempo de estio Tropicatia Tudo de novo Um canto de afoxé para 0 bloco do i Um indio Uns Vai levandy. Vooé ¢ lina Discografia Guia musical c adoca 0 0 7 1 aa a a c Volume 2 Prefacio de Gilberto Gil 6 Apreciagio critico-criativa da obra de Caetano Veloso por Jose Miguel Wisnik .. 8 MUSICAS A filha da Chiquita Bacana 19 ‘A outra banda da terra 20 Ard 2 Atras do trio el 2B Baby a Cajuina... 5 26 Canto do povo de umn lugar . 2” Cinema Olimpia... 28 Chuva, sore cerveja 30 Comew 29 Coragao vagabundo, 32 Deixa sangrer... 33 Diamante verdadeiro.. 4 Drama 36 Fu sou neguinha? .. 38 Festa imodesta .. 40 Forca estranha 82 Génesis. 44 Jeito de corpo 46 Joa 48 José 49 Julia/Morene 30 Lua, lua, Tua, lua 4 Luz do sol Menino Deus Milagres do pove Minha mulher Miniia vor. minha vida Muito romantico Nenhumna dor en No dia em que eu virn-me embora 62 Noite de hote! Nosso estranho amor Obater do tambur Oledozinho Onde eu nasci passa um rio Oquereres «. Oragio a0 tempo Os urgonautas Os meninos danrgamr Outras palavras Pissaro proibido Paulae Bebeto Pecado original Peter Gast Podres poderes Qualquer coisa. Queixa . Quem me dera Remelexo Sampa Sete mil vezes. Shy moon Sorvete Superbacana Surpresa Tapete magico Tem que ser voce Tenda Terra Tigiesa soon Trem das cores Trilhos Urbanos Une dia Um fr Vaca prof Ver 2 novo, gat 8 niu entende nad Guia musical 4a 66 6 68 6 70 R 0 0 Copyright das compos Goes musieus inceridas neste itu esto indicados 10 ral de cada masica Capa: Brno Liberatt 2 Fotos: Frederica Mendes, Richard 1. Romero, Paulo Ricardo “Therera Eugenia © Diagramagso Femina Pena ¢ Franz Vals Direitas de edigdo para 0 Brasil: Lumiar Ediora. AY Noss Senltora de Copacabit wea, 195, sa 610 ~Rro de Ja eivo = Brasil ~ Tel (021) 5al-9189 | £ Caetano € 0 mais original .compositor/ctia- ‘dor musical da nossa geragio ¢ essa originali- dade reside no tratamento elegante ¢ delicado que dé & sua inequivoca ousadia poética, & ex- ploragao de um modernismo melédivo/larm ice que equilibra com perfeigdo signos da me- Ihor tradigdv da miisica popular nacional (sam. ba, cangao, baido, toada nordestina), utiliza- io dos clomentos arrojados da modernidade pop € rock (iucluindo ai, se quiscrmos, as in- fluéneias da Escola de Viena.a Stockhousen) Sua disposigdo trangiiila em correr riscos, desafiar dogmas, submeter a cocréncia a uma tlutuagao sadia, empurrar delicadamente a in- teligéncia para terreno da inspiracao puritica- dora, tudo isso confere a sua composigio um tonui olimpico que @ coloca ao lado das produ gies “fora de série”, em todos os tempos, em. todos os quadrantes. A miisica de Caetano € um convite e um estimulo & meditagao sobre a eterna tragédia da solido do ser ¢ da cuntin- géncia da vida, um estimulo ao cultivo da pala- ya sonora, huspedeira da verdade ¢ da menti- ra: pertenee, quase, ao plano de Filosofia. O lancamento desse dibum com diizias de cangées escolhidas de Caetano Velosy veu. niio's6 preencher um yazio na divulgacéo d: sua musica como preencher, ainda, um irri tante e inéompreensivel vazio na pratica edito rial do género no pais. Teremas com esse Songbook,. nds. torlos amantes da tmisica de Caetano ¢ todas a8 gera gocs futures, um registro editorial suficiente Inente abrangente do conjunto da sua obra at. agora, um registro 20 mesmo tempo cuidato 50. sofistieado e impecdvel. Como tuo que ca ractetiza esse grande artista baiano Almir Chediak teve 0 mérito-da iniciativ deste livrd de milsicas; teve também’o cuidiics de faz8-lo formalmente & altura da belezs & ‘material que reproduz Caetano © vinte anos de sues cans livro de registro impecave! Gilberto Gii Songbook U Caetano Veloso Letrasnsicas e acordes cifrados. 7. bom poiler tocar um instrument ter com a mdsica un gutta gran We intimidade. No meio do som, no caminho que vai de tom atom, cangdo abre methor as suas pétalas para juele que a toca (ndo interessa tanto seo Tumento desse toque € um violdo, um te: salu, ou simplesmente 0 ouvido interior orque a masica vai dar sempre li, ny Tugar srto entre o som real ¢ 0 som mental). Para juem sube canti-la, secuzi-ta e cultivicla. a masica da esse dom raro, talvez Gnicv entte ws artes, esse presente. Esse gosto fugz do presente, "som de sons a passar (...) que nao consegue durar”, — mis “parce que entre 0 arvoredo/ quando seu rumor é extin- ‘o} masce Outro som em segredo”. (Hi um Fernanda Pessoa entre Cactano Veloso ¢ @ lingua de Luis de Canides) ‘As cangoes de Caetano falam de praties nente tugo: € dificil lembrar um temet slay wiv tenham aflorado de alguma for ma; & dificil lembrar um género ow um se~ tor da musica popular que elas nao teaham revisitado com suas mnterpretagoes. A apli eacdo de Cactane Veloso an campo da can= gio. com intervencdes deslocantes, porte esperadas, © sua homenagem perm forga radiosa do que & belo ¢ torte. sua obra um comenciriy muitu an pla do mundo através das inumerdveis re- ragdes da palavra cantada, Mas entre toda essa yarn de motives © ssuntos, hi algo que retorna constante, © £ justamente © tema do cantar — u expe riéneia do fer unisiea, a eperiéneia de ser ¢ de estar dentro do tempo di mdsica — como convite. Experiéneia e convite que so, bem w propdsito. a razio (e mats: a ima do coragio) deste livia, “Ouca que mpo imenso’ dentro de cada som! miisics que nv penso/ passaro tao bom’: De Ca ia © dara ou ko Tapete migiew, 0 ouvinte € hamado @ entrar na musica, viajar peles suits duragdes ¢ escalas, colher 0 truto do Lempo (0 aqui e © agora subst caja), purificar © corpo € a mente vislu bbrar munclos. Tudo 1580 seria so fabula, se antivades no Haum Fernando Pessoa entre Caetano ealingua de Camoes Salvador, 1978 no fosse a coisa concreta da mdsiew, a for- ma estranhamente familiar da misica, as sociada a palavra poctica, Sabemos bem que unit a palav sica de um modo transparente é o segredo, nunca totalmente explicavel, da cangio. Mas ela se faz dessa descoherta reciproca entre letra e melodia, tensio flucuante sur- fando sobre a5 ondas das harmonias Exemplos desse trabalho. onde todo 0 arti- ficio nao deixa de visar_um estudy supe- rior de naturalidade da palavra, se encon tram todo 0 tempo nas musicas de Cac Podemos comecar por uma musica que no € dele, mas de Joao Donato, Ara, esse curiusu samba de quatro notas $6. que Joao Gilberto ja havia gravadu sem pala yrus (com 0 apoio da pura fonética). Ac letricla. Caetano traz para as palavras mesmo principio analégico, circular, recor rente ¢ sintético que passeia através d melodia em vai-e-vem, sobre uma cadénei rupweride dle “tiniea” © “subdominante” oscilagio harmonica entre @ primeien © quarto graus sugere una ambiqua circula dade, pois essas duas fungdes soam rever: veis, os duis acordes parecendo poder fu cionar seja com tensdo seja como repous 8 Cactano: poesia € pensamento aetano Veloso pertence a uma gera cho que despertou pars as profun- das preocupagoes filosoticas, so- 1 + espirituais e estéticas (tipicas dos extratos ,- _no-burgueses da sociedade contempora 2.30 final dus anos cingiienta, inicio dos ses- =", Salvador era, entdo, uma cidade transi- ; > da calmaria pré-industrial para-a inci- 18 ebuligio do cosmopolitismo Wo pos: ‘A cena cultural da cidade comeqava a intar sintomas de ayuecimento moderni- » universidade expandia seu campus; as das multiplicavam suas luzes e vitriues, 0 {2 > comegava a tocar a misica do mundo; © ma dos EE.UU. se consolidava como lin Lose do nosso tempo e a sétinw arte na "ca e Itdlia ousava avangar nessa lingua- <~ 0 existencialismo pavimentava uma estra- J. anca para as novas cangOes; pinturas tea~ F- cinemta e arquitetura montavam novas x23 de exploragéo ma Cidade da Babia. Ma- psvavamese, nessa época, os talentes inquic ; 2 Glauber Rocha, Kogerio Duarte, Ema~ +, Aratijo, Muniz Sodsé ¢ tantos outros, em de quem vao se estabelecer novas formas onviviv artistico e intelectual. Caetano Ve~ vem fazer parte dessas turmas de almas das de espiritos instrumentados do novo iv: agudo, suave, vivamente inteligente, stalentuso, espiritualmente ambicioso, comega a contribuir com a exceléncia do seu talento e a tluéneia prosaica do seu génio para a criagio da marca de uma nova geragio baiana. Depois de leve militancia intelectual, Caeta- no € induzido, quase que ieresponsavelmente ai Bxar-se na masica. Creio que, talvez, dois fa~ tores de natureza externa tenham contribuido para tal fixagiv. o encontro comigo e a entrada Tnesperada de Maria Bethinia na cena musical Up Sul. Os dois fatos como que retorgaram uma delinigio de destino poéticu-musical para ele. o Esse destino poético-musical tem [avarecido uma longa estrada de mais de vinte anos, em que a ousadia parcimoniosa, 0 génio Huente ea firmeza leonina tem se equilibrado em benefi- cio da producio de uma obra tanto fértil quan- to provocante, tantu exigente quanto simples, de um criador que consolida, av lado de Caym- mie Joao Gilherto, a mais grandiosa contibui- ao da musica buiana 8 modernidade ‘Abra de Castano, que extravasa os limites da mésica e da poesia, espraiando-se por tode © litoral cultural da contemporancidade brasi- leira, comega hoje a atingir os limites da visibi- lidade internacional: a planetaridade do al- cance vern juntur-se 4 universalidade de essén- cia que sempre a caracterizou ¢ encadeamento recorrente da int juc se torna objeto da fetra, tradu 11 quave-ideogramas, células em cir magens que voltiam sonoramen si mesmas: “ero de cor! sombra de vor”, de samba em samba em som! ni ¢ vem”, “de verde verde ver! pé de Embalada pelas idas e voltas do paisagem € irma do som: pois ver Jo movimentos ressumantes, que gendem em cada coisa o ritmo dos ‘os (imal-me-quer/ bem-me-quer! bem- 2). numa cavleia de aposicées onde se gia a tnue fusio © a diferenga do ulino e do feminino (coro/eor, som ra, sambaitlor). ticando os elementos os no masculina (coro/som/samba; & no feminino (cor, sombra, flor) 6A toa que depois se veja essa parsa- sonora (“a grama, a kunt, tude” como, ha irma”). Ver o verde se ouve como imento circular infinito se abrin esse ponto exato dat unisica, em mo- <0 harmdnica, para 0 objeto (visual € Fo) que anuncia 0 umanhecer (“bico ena pio de bem-te-vi! amanhecendo perto de amin! perto da chuidade ds mina num verdad rama © sapo 0 salto de uma ra vrizontalidade da melodia: sal na 0 sapo 0” to de umara nao lembrar 9 mats célebre dos +. de Bashi? (“0 velho tanque/ ra smbal rumor de dg: sadlugiio, roldo de Camp ecoa mente a rama do comego: uma solve musicalnente a longa te 2 concentrava sobre a mesi bem-te-vi) através de um salto mo io direto (de dé a bi mains): na wou Rio, 1973, Songbook = breve re/fragio do instante, © igual cai sobre o diferente. O evento mais minimo € umm isco na Agua do tempo, onde tudo vol tae cada fim & um camego. Nese pequeno momento, esti contido todo o movimento interpenetrado das mutagoes: o masculino €.0 feminino, a quictude € 0 impulso, a ra- ma e 0 salto, 0 sapo ¢ a ra. A poesitt, que bitha como cristal no fluxo dessa cangio, € a atencio infinitamente sutil para ax me- nores diferengas no grande espetho clo mes mo (que € © mundo em seu eterno retor no). Essa pereepgie advem da prépria Uansfarmagio da forga sem patave miisica em poesia ¢ seu tom: de me dizen= do assim serei feliz, Dom de Donato oiio, de Gilberto). Estou entrando de propdsito no assunto pelo seu lado m lado das avencs ocdstnico, minimal, peko € dos deuses pequenos (onde, para falar em circularidade, 0 me nor € 0 enorme). As vears Cactano sé € identificado pelo lado mais externo, apa- rentemente visivel €, digamos, yang, da a presenca. O que envolve o aspecta mportamental do misico popular, ao A poesia que brilha como cristal nofluxo das cancées tame Veloso qual alguns pretendem recuzir 3 Mas existe uma textura mais tins. & percorre desde ay manifesiagses vol para a intimidade da naturezs, par ez animica da materia, ate os pronunc mentus mais provocativos € polémie sobre 0 momento presente, passado ou 1 turo. Ja €um avango perceber que as di a coisas sia uma $6, ¢ supdem uma com preenséo do tempo ¢ daHistéria mum one hivel de vineulo. Vinculo que supde tosis as gradagdes cambiantes € camaleontes que se deixam filirar prismaticamente pol tu leonina ¢ solar. Os dtomos todos tsa gam no mun assiay musical (Hii tore de cores concentracas). Sua maxima yo téncia € 0 impulso de vida, energia capt de interpretar cnergia, € de engrenet! transformagdes Entender o que isso tem a ver com a nat sicw andas que se traduzem em ondas it pazes de abranger movimentos de signsti caguo de maior amplitude, na circulatictach do canto. Vale a pena visualizar a tinh me ica como Pecado ori Iddiea de wma mii SODRDOOIE GACUING WENO do di__da noi__da_ho da _ma my _to tw fat druga da_mo - “mento © ma aha do un ui ro do ve a eter ida de_ da, a po da te nos 7 ~ tem__serpen sa irma ma vi uo das 1 diz a o i dagen tors rao céu Thos quai te vol to_pa € TOs Thos, ‘| de eu sou eo de t a se 2 Songbook © Cacctano Veloso © encadeamento melédico da eangio se 2 pela figura da ondulagaw, que comega Ampito curto de um semitom (“tuo dia! sla noite/ toda hora”. ) ¢ vai se amplian- 2a (“olhos nos othios 1a imensidio”) até se Srir nos harpejos do desejo (“A gente nie sabe o lugar certo”...), retornando depois 2 recomeco da melodia, wa estenfe se- Fuinte (todo beijo/ todo medo’ todo corpo m movimento esta cheio de inferno e u"), A onda sonora se fiz t portadora o é, a metators, da onda pulsional, lo jie, que tem na serpente 0 sex simbolo rquetipico. Essa onda-pulsar reante, busea um lugar que nig estit senso sua volta a0 principio. no seu reeomego rarcisico, até que, num movimento compu rayel ao Salto de uma rA, a mulher a com 1, com 0 enigma do seu desejo ("a gente nunca sabe mesmo o que € que quer uma mulher”) A essa altura, @ superposigtio de esferas sentica j4 forma uma polifonia intrinca as inter pois trangam aqui varias Oenigmada mulher, os arpejosdo desejo. rextuais: a psteandlise (com a ideia do ser lugar do desejo, do qual a mulher sc faz protagonista privileginda), a Biblia (c 0m toda serpente da maga, 0 pecado original » aiqueda, para o qual o sujeito busea a supe ragio, se concebendo nav cumia o ser que mas como 0 ser erritico, errante que vive em permanente movimento Waldick Soriano e Chico Buarque (“athos nas olhos na imensidao/ eu nao sou chorro nfo”, combinagio disparatad. quanto as esferas do gosto ¢ do consum estético, “alto” ¢ “baixo”, recuperadas 1.1 economt paliforma da eangao populs que o tropicalismo fez questi de deix cxposta), Nelson Rodrigues (a cangio ¢ till do filme Adama da lotagao, especie de Bela da tarde do subinbin, expondo yizinhanea do desejo e da perversio — 7 pecado “original” — mas remetido por Caetano a0 seu fundamento simbolico ambivalentemen pecacin original co: génese), te sagrado e profane —9 10 questao limiar, sus 13, Songbook © Caetano Veloso Uma das peculiaridades do esti anuplitude las cangées de Caetana Velo ¢ dar um tratamento minim: nenores formantes) para um tere Ambito maximal (fore referéncias heteroyéneds.jue ele mia rando ofa ruido ort surpreendentes b monias, para apaziguau © prowocar os fni- mos € as Animas) Devo tular de Cajuina? “Existirmos a que sera que se destina’?: a entoagzie ind gativa Fessoando melodicamente por tod 1 eangao conduz mais uma vez ao fin que € comego — alirmagao da transparéneta (a eda I (atemto 20s A problemati: sajui perpetuamente recomegada pelo sentio a cristalina em Teresina’) © per da existénera, A letra ¢ percorrida de alto a buixo pela eieatriz sonora dat vogal i. mt neira de cicatristeza de Augusto de Cam pos. que se combinasse com a tristeresina de Turquaty Neto (chave para a enigma Sem resposta «less: mtisica) & mais a poesia nordestina, Cicatristeresina eristalina. A sina do menino infeliz ¢ a kigrima intacta (o dom em seu estat pure ute suspen: sdo) transparecem na limpidez da cajuina (refresco de caju piauiense que vem da cle puracio da massa da fruta. e sua cies. coa- da em renda de alguuio) através do tendi- Ihado sintatico © sonoro que faz a matéria da poesia nordestina. Alquimias que a cin: cio imita, © simples passeio por algunas letras & masicas permite ver @ extensio que o géne 40 popular” atinge com Caetano, nas menores ¢ tas matiores faixas de nny Isso envolve 0 modo Ue compor € taimbs ode intervir nos espagos de circulacao du pozsiwinisiea, espa dotasagens @ falgsiay entre os maiy dle rentes nives de producto, que vo do rap de-roda. dat vanguarda ao brega. A sensibilidale criativa dhe Caetano Velosi se desenvolveu no sentido de tocalizar a teridade. a simultaneidade da experiencia cultural contemporinea. contradicao (ir) reversivel entre arte © mercadoria, 0 alto © fo Baixo, 0 fino ev grosso, 0 chic ea k (nin no sentido de produzir dualidades par ralisantes. mrs de tespunder ao real manutengao prorrompendo fluxos mais abrangentes) A Tropicilio € um movimento de mari matizagio da simultanciddade rompenue ay fronteiras dos géneros, do sont e do ruido. a da historia em que pontas ¢ 3 e dy tavameate politico se numa dob moderniz: 4 Responder uo realem mutacao com fluxos abrangentes. Londres, 1970 combinam com a desagregagio radicafi zante do populismo no Brasil: choque centre cataclismas ¢ carnavais, ¢ seus rastros trigicos. a guerrilla ¢ u desbunde (prefigu. rados jsi em masicas como Divino maravi Ihoso. em parceria com Gil. ¢ a propria Tropivitia, visio alegérica do Brasil de IK a0 Al-3), Essa disposigio simultanefsta que irrompeu no tropicalismo, € que esti icita em toda a cangio de Cactana voita em certus momentos de maneira mais explicita: no disco Aragd azul, na cangao Outras palayras, e certamente em Ling Emborao fragmento, a montagemeosen so parodico sejam dados permanentes, & preciso entender que a parédia em Cactann Da Bahia _ titicto popular onde é vivo o senso ti! da verbo, alegoria de rmunde cama jo ido da musica (0 candomblé © ofetiche ———exitura negra como carnaval da belea barroca fea _ Noutrs gq letra ra. contraposto ao carnaval eatélico «1 | Ta reversio do teisdo gratesca do pecaddo). Tudo isso + ; ict sa musical. oe dur numa vocagio nietzscheana para o 2e | Sas cc ars iscuresepm — religide cisio eritico, i agudeza intelectual « da musica — smo tempo. « afirmagao da vida. ate fg dos Milugres do povo (“Quem € atv» viu milagres como eu! sabe que os deus sem Deus nao cessim de brotar! nem Sam de esperar”) Onde o Brasil se de cobre pelo outro lado: * Quem descobrit Brasil/ for o negro que viw/ a crueld fetiche da letra hom de frente/ e ainda assim erion mi rae toda ume de f€ no extremo ocidente” Songbook 5 Cactano Veloso O Brasil: trilha clara (Nu com minha mir sica) © fuude do poco (José) vergonlia & maravilha (todo 0 final do Cinema falado a0 som da lindissima Bancarrota blues de Chico Buarque), com todo 0 seu vabeual de brutalidade, bogalidade © incumpetén- cia para 0 salto correspondente a sua po- tencialidade transformadora, vem a sero campo de forcas desenhado pela utopia da cangdo popular, com seus hermetismos Paschoais, seus tons, tins, bens ¢ tais (Podres poderes), A multiplicidade dessas cangées que se oferecem ao deslizamento permanente do ser (O que re res) ndo comporta os limites de um género musical determinado. Elas Ado tém géncro: sé singularidade ¢ meta género. multigénero, multidio de géne- tos, Mas a multiplicidade centrifuga € contrabalangada pelo “respeito contrito” aquele aleph slas cangdes que se deixa sur Preender num certo modo de entod-las, a proximidade Wistante que hi em “alpuém cantando longe/ alguéi cantando muito,! alguém cantando bem” (onde Fernando Pessoa também divisava a superagv do seu drama, nume divisdo que hd em sentir! pensar). A certa altura, Caetano defini essa dialética pele jogo entre a tace qual- quer coisa e a face joia da mésica. Qual quer coisa: € © lado das camgoes que se identifica pela generalidaue dos yéneros, Oia: 0 lado clas cangdes que se mostra pela singularidade que 0 movimento da inspira- G40 e do artificio possa criar em cada uma Mas um movimento de avessos converte uma na outra, numa perpétua oscilagso in finitamente pessoal, aspiranclo aquele esta do de plena superacio que se encontra em quem eleva o esforgo a seu grau de maxima espontaneidade, e em quem € a repetigio sempre Unica do mesmo: Ino Gilberto (de onde tudo vem), © Jorge Bem (para onde tuddo vai), Joia € um disco sobre misivas modais — indigenas, norcestinas, afticanas — ter- minandy numa singela cangao tonal sobre © mundo modal: Canto do pove de um lu gar. Em todo lugar, us mundos musicais ¢ poéticos dialogam ¢ contracantam Muitas cangoes af: assim resumidas, ao alcance de quem queria decifri-las e seen. contrar nelas 0 codigo poética, melddico, harménico. Mas também 0 ¢édigo meta. puElivo, 0 e6digo mais-que-poetico. © me nOS-que-arte. 0 mais-que-a-vida, vddigos 16 Brasil, tritha clara efundo do pogo, vergonhae maravilha Séo Paulo. 1968 em que Caetano cifrou a prépria cangdo, 0 Brasil (sabendo que essa € a sua forma mais forte de tocar no mundo). Apesar U3 dor. O Brasil ainda nao acredita serena mente na inacreditvel riqueza que se for mou em sua misica popular. As cangdes € 0 que ressua delas Acordes cifrados. Testemunho e deseja Repouso sempre teso do arco da promessz A solidio é solida, Tudo ganha ein obje vidade. Ha uma universalidade interior Nuo tem onde carla, Pode-se ser livre José Miguel Wisnik 7 Afilha da Chiquita Bacana CAETANO VELOSO ce & = cf F fC f ssG 7] Ab /G / / GbF } jc mer f Wes Ee Me e/a aCe (Abr G7 Cc) BE oF sf ey [FT Job dH fo t ie cys PETES f Gf of fo ery ‘orth y [Ab7 G7 C —~yehyel yeh Entret Pra “women’s liberation front” ~ Coumiyht Ge oe "8 ProgugSes Anisticas Lita (som, por Bégées Musicas Satumo ida) SeepenETeREE Teer eeeereaeTOr L Aoutra banda daterra CAETANO VELOSO 7 vee Te we in , i + H L t ul TT 41 e L th cit Cit cies a Fin A709), nie Ely z y | v[gaebe vulpoaee 1 a . TW 1 tH ts ry, c7M() Fm? C7M@)FmT Fm ELTM() av Dmt(bs) 7 a Gm? = = IE “ rs na or 7 ae = 7009) Palau la 7 . . e - e LL e = e e — € = e e — Entrodugao: CPM(V) /f Emm /// CTM(9) ji Fun fff CTM(9) ff] Fi? ff! C7M(9) {1 Em 221 : . € — CTMIy) /1/ Fm7 f BoTI9)/ EBTM() | | ABTM/ ff DmitQh5pf_—/ 1G7HPCTME)! ff Fm7/ BbI(9)/ ED7M(9) 1 Am dar tudo Nao ter me—é0 Toett Cantar no mundo ‘ = Ppavrmy—[[Dmtes))— [FG7H/Gm7/ [CHO PRIM f [Fmé/ ETS 1 PATRI) J IT Foro ée——--€0 Noli Luss te Langae wer to Dey, ff EIQ) Ff DIG) Poort Ea) of DIF — ‘Onda branda da guerra Beira do ar Serra vale nvr Navet banda da teri utes Enio HO / fF) me ff GA(ES) 11) C7MMB) If Fm7 | BOT(9) | EOTM(9) | ‘ Nessa terra da banda Face ocuita azui do saga Falar ver———dade Ter 7 e 20 e — ee — e e od - e 7 «

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