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IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NA

APRENDIZAGEM CEREBRAL

Lucimar Marques Mendes1


Clério Cézar Batista Sena2

RESUMO

Em todo o processo de aprendizagem, corporal, ambiental, social, e intelectual,


milhares de conexões neurais estão sendo ativadas. As estratégias pedagógicas devem
utilizar recursos que sejam multissensoriais, para que haja ativação de múltiplas redes
neurais que estabelecerão associação entre si. O objetivo geral é ressaltar a
importância da Neurociências no processo de aprendizagem do cérebro. O objetivo
específico é enfatizar a relação entre Neurociências e educação. A aprendizagem é o
processo como um todo em que o cérebro responde aos estímulos realizados pelo
ambiente, gerando ativação de sinapses gerando armazenamento de informações que
podem ser acessadas quando se quiser ou precisar.

Palavras-chave: Neurociências. Cérebro. Aprendizagem.

1. INTRODUÇÃO

Durante um longo período de tempo, no início da existência da espécie humana,


não se preocupavam a respeito de como se pensavam ou tampouco o porquê pensavam.
A vida era voltada para a realização de tarefas que se centralizavam no preparo físico, a
fim de prover o alimento, defender-se de inimigos e domesticar animais (DA ROSA,
2014).
Havia menos exigência quanto ao que esperava-se do indivíduo no entendimento
do mundo social e do trabalho quando comparado aos dias atuais (HOUZEL, 2002).
Com o passar dos anos, houve o início da busca por teorias que fossem
suficientes na elaboração de competências que atendessem o avanço tecnológico do
1
Especialista em Neuropsicopedagogia e Educação Especial e Inclusiva. Faculdade CENSUPEG. E-mail:
2
Mestre em Educação: Psicologia da Educação, PUC/SP, Neuropsicopedagogia e Educação Especial
Inclusiva / Neuropsicopedagogia Clínica CENSUPEG; MBA: Gestão Empreendedora Educação,
UFF/SESI, Especialista em Gestão da Escola – FE/USP, Psicopedagogo Institucional e Clínico,
Especialista em Educação Infantil e Pedagogo. E-mail: cezar.sena@hotmail.com
mundo moderno. Assim, percebe-se a necessidade para que ocorra a mudança, não
apenas relacionadas às problemáticas escolares, mas ainda relacionadas ao
conhecimento de como se aprende e o que acontece quando se aprende, contribuição
esta que pode ser fornecida pelas Neurociências (SILVA; BEZERRA, 2011).
Segundo Relvas (2009) a neurociência estuda o sistema nervoso central através
de bases científicas, dialogando também com a educação. O estudo de tal sistema revela
a significância que o cérebro apresenta no processo de aprendizagem.
O objeto deste pesquisa é o cérebro, sua forma de aprender e a relação desse
processo com a neurociências.
O objetivo geral é ressaltar a importância da Neurociências no processo de
aprendizagem do cérebro.
O objetivo específico é enfatizar a relação entre Neurociências e educação.
Este estudo foi realizado com o intuito de enfatizar a significância que o cérebro
tem no processo de aprendizagem para que se torne possível aplicar práticas
verdadeiramente eficazes de assimilação de informações durante o estudo.
Foi feita uma pesquisa bibliográfica em artigos científicos e livros,
selecionando-se as informações relacionadas aos objetivos com pesquisa em
plataformas de busca de artigos científicos como Scielo e Google Acadêmico. Também
em pesquisa em livros. O levantamento foi feito em artigos específicos com palavras-
chave relacionadas ao objetivo geral: “neurociências, cérebro, aprendizagem”.

2. DESENVOLVIMENTO

As funções intelectuais que são: a linguagem, memória, atenção, emoções e o


ensinar e aprender, são produzidas pela atividade dos neurônios no encéfalo que é
composto por aproximadamente 86 bilhões de neurônios, que são as células nervosas.
Tais células interagem entre si e com outras células gerando uma grande rede neural que
armazenará as informações que são os aprendizados (SPRENGER, 2008).
É importante ressaltar que a ligação existente entre os neurônios, é através de
linguagem eletroquímica, ou seja, através de neurotransmissores que são substâncias
químicas que modulam a atividade celular, transmitindo ou inibindo a comunicação
entre os neurônios. A maioria dos neurônios possui três regiões responsáveis por
funções especializadas: corpo celular, dendritos e axônio, como mostra a Figura 1
(MACHADO, 2013).
FIGURA 1: Partes do neurônio
FONTE: http://www.sogab.com.br/anatomia/sistemanervosojonas.htm

As sinapses, ou seja, as conexões existentes entre as células nervosas que


compõe as diversas redes neurais vão sendo bem mais estabelecidas, à medida em que,
quem está no processo de aprendizagem, interage com o meio ambiente interno e
externo. Desta forma, pode-se considerar que crianças que são pouco ou que não são
estimuladas durante a infância podem ter dificuldade de aprendizagem.

Ainda que, devido às limitações técnicas e éticas impostas para o estudo do


comportamento humano, grandes progressos foram conseguidos, incluindo
descobertas que permitiram uma abordagem mais cientifica do processo
ensino-aprendizagem, uma vez que esclarecem alguns dos mecanismos
responsáveis por funções mentais importantes na aprendizagem,
ultrapassando o meio acadêmico, estendendo-se às outras áreas do
conhecimento entre elas, a educação (GERRA, 2011).

Aprender consiste em tomar conhecimento de algo, retê-lo na memória, em


consequência de observação, estudo, experiência, advertência e acontecimentos
(FERREIRA, 2010).
É importante aqui destacar o desenvolvimento de uma criança. Segundo Tecklin
(2002), ao nascer, o recém-nascido é chamado de neonato; período que dura duas
semanas. A postura do neonato é caracterizada pela flexão. No primeiro trimestre,
controle de cabeça, o bebê pode desenvolver uma das mais importantes habilidades,
levantar a cabeça e girar a cabeça de um lado para o outro. Na posição supina, a maioria
dos bebês é capaz de virar a cabeça de um lado para o outro. Enquanto na posição
prona, os bebês muitas vezes são capazes de erguer a cabeça o suficiente para virar-se.
Conseguem levantar a cabeça cada vez mais alta, chegando a rolar, entre 2 a 3 meses.
No segundo trimestre, inicia-se o controle de mão, o bebê começa com a
capacidade de manter a cabeça alinhada em relação ao corpo e avança até a habilidade
de sentar sozinho por curtos períodos de tempo e de empurrar as mãos e joelhos. Essas
posturas dependem diretamente de uma grande interação que a criança tem com o meio
ambiente. Sentar e levantar-se com as mãos e com os joelhos são importantes marcos no
caminho da independência física. No terceiro trimestre, o bebê torna-se móvel e
desenvolve a habilidade de movimentar-se pelo ambiente. No final do terceiro trimestre,
os bebês são capazes de puxar-se para levantar. Nesse estágio o bebê desenvolve a
capacidade de rolar da posição prona para a posição supina (TECKLIN, 2002).
Os neonatos nascem com o reflexo de preensão. Ao acariciar a palma da mão de
um bebê, sua mão fecha-se com força. Aproximadamente aos 3 meses e meio de idade,
a maioria dos bebês consegue pegar um objeto de tamanho moderado, como um
chocalho, mas tem dificuldade para segurar mantidamente um chocalho pequeno.
Depois, eles começam a pegar os objetos com uma mão e passá-los para outra e depois
seguram (mas não recolhem) pequenos objetos. Entre os 7 e os 11 meses suas mãos
adquirem coordenação suficiente para pegar um objeto diminuto, como uma ervilha,
com um movimento semelhante de uma pinça. Depois o controle de mão, torna-se mais
preciso (TECKLIN, 2002).
Em todo o processo de aprendizagem, corporal, ambiental, social, e intelectual,
milhares de conexões neurais estão sendo ativadas. Todas estas células, sejam elas
neurônios ou células da glia, fazem a composição do tecido nervoso, que é a base de
construção do encéfalo.

O encéfalo humano é um órgão único, nobre, que juntamente ao cerebelo e


tronco encefálico formam o encéfalo. O encéfalo é todo o conjunto de
estruturas localizadas no interior do crânio. O cérebro é responsável pelas
emoções, raciocínio, aprendizagem, é a sede das sensações e movimentos
voluntários (MACHADO, 2013).

O cérebro possui áreas responsáveis por funções específicas e globais, conforme


mostra a na figura 2.
FIGURA 2: Funções do cérebro humano
FONTE: LENT, 2010.

O cérebro humano é constituído de cinco divisões anatômicas que são os lobos


cerebrais: frontal, parietal, temporal, insular e occipital. No quadro 1 estão apresentadas
as relações de cada lobo cerebral:
LOBO CEREBRAL FUNÇÕES RELACIONADAS

Frontal É responsável por tomadas de decisão,


memória recente, julgamento, crítica e
raciocínio.

Parietal Responsável por sensações e


interpretação das sensações. Responsável
também pelo senso de localização do
corpo e do meio ambiente.

Temporal Responsável pela audição

Responsável por processos emocionais


Insular que são fortemente influenciados pelos
órgãos dos sentidos.

Occipital Responsável pela visão

QUADRO 1: Funções dos Lobos Cerebrais


FONTE: MACHADO, 2013.

Além desta divisão anatômica, nota-se que a superfície do cérebro humano


apresenta depressões que são denominadas sulcos, que delimitam os giros cerebrais. A
existência dos sulcos permite de forma considerável, o aumento de superfície sem que
haja grande aumento do volume cerebral, sabendo-se que cerca de dois terços da área
ocupada pelo córtex cerebral estão "escondidos" nos sulcos (MACHADO, 2013).
Em relação ao Funcionamento do Sistema Nervoso Central, tem-se que este é o
local do corpo capaz de receber as informações, analisá-las e integrá-las. Através de tal
sistema, é possível sentir emoções, agir, adquirir conhecimento, aprender e armazenar
informações (ROSA, 2014).

A formação das diferentes regiões do SNC ocorre durante o desenvolvimento


embrionário, como também a reprodução de células neurais. Essa reprodução
é limitada, em razão de que os neurônios apresentam quantidade definida e
limitada de ciclos reprodutivos. O que define quantos neurônios cada região
terá é o genoma de cada espécie (STUTZ; RELVAS, 2011).
Quando chega uma nova informação no cérebro, há a ativação do sistema
responsável pelo prazer e pelo aprendizado, que é o sistema límbico. Este processo de
aprendizado, tem início no hipocampo, que é a região capaz de converter a informação
ou memória de curto prazo em memória de longo prazo.

O hipocampo reconhece a informação, filtra e seleciona os aspectos mais


relevantes, envia a informação para o córtex cerebral, que descarta a
informação de curto prazo e a informação de longo prazo é enviada para o
lobo frontal que a arquiva de acordo com o seu aspecto. Essa informação
arquivada origina a capacidade de raciocínio que evidencia premissas e, por
conseguinte, a capacidade de emitir conclusões (ROSA, 2014).

Dessa forma, considera-se que a aprendizagem é o processo onde o cérebro


responde aos estímulos do ambiente, com ativações de sinapses que se tornam mais
“acentuadas”, possibilitando que o indivíduo recorra à informação, podendo usá-la no
presente.
Uma nova informação ativa o sistema responsável pelo prazer e pelo
aprendizado, o sistema límbico. O processo tem início no hipocampo, região
capaz de converter a informação ou memória de curto prazo em memória de
longo prazo. O hipocampo reconhece a informação, filtra e seleciona os
aspectos mais relevantes, envia a informação para o córtex cerebral, que
descarta a informação de curto prazo e a informação de longo prazo é
enviada para o lobo frontal que a arquiva de acordo com o seu aspecto. Essa
informação arquivada origina a capacidade de raciocínio que evidencia
premissas e, por conseguinte, a capacidade de emitir conclusões (ROSA,
2014).

De acordo com Relvas (2009), a neurociência estuda o sistema nervoso central


com bases científicas, gerando diálogo também com a educação. Este sistema revela a
significância que o cérebro tem no processo de aprendizagem.
Assim, considera-se que as estratégias pedagógicas devem utilizar recursos que
sejam multissensoriais, para que haja ativação de múltiplas redes neurais que
estabelecerão associação entre si.
As informações e experiências que forem repetidas, a atividade mais frequente
dos neurônios relacionados a elas, irá gerar como resultado a neuroplasticidade com
produção de sinapses mais consolidadas. Aprender, entretanto, não depende apenas dos
neurônios em suas redes neurais, do cérebro e seus lobos e das células da glia, mas, sim
também, das emoções e do estado de saúde em que o indivíduo se encontra.
É possível que a informação recebida seja modificada por outras informações
provindas de regiões ligadas à percepção, cognição, emoção, atenção e outros
(LENT, 2008).

O afeto não se resume apenas na relação existente entre professor e aluno, mas
também ao conhecimento do professor relacionado ao que ele está ensinando e ainda a
satisfação que ele demonstra de acordo com o que está fazendo.
De acordo com Lent (2008), a amígdala é a área responsável pela ligação entre
emoção e cognição. Este autor coloca como sendo um “botão” de disparo da modulação
da memória que ocorre a partir da experiência emocional; sendo que o hipotálamo seria
a região responsável por controlar as reações emocionais.

A modulação da memória pode fortalecer ou enfraquecer a consolidação de


uma informação no momento do seu armazenamento, por meio da amígdala,
que associa as emoções às informações do meio ambiente e as conecta com
as informações da memória já existente (RELVAS, 2009).

Lent (2008) elaborou uma lista de gravidade relativamente decrescente, de


fatores e acontecimentos significativos capazes de produzir transtornos emocionais,
podendo afetar o aprendizado:
1. Perda dos pais ou de um deles podendo ser por morte ou divórcio
2. Fazer xixi na roupa
3. Se perder ou ser deixado sozinho em algum lugar
4. Ser ameaçado por coleguinhas mais velhos
5. Ser ridicularizado na turma
6. Presenciar brigas dos pais
7. Mudar de escola ou de classe
8. Ir ao hospital ou ao dentista
9. Perder ou quebrar coisas

Assim, a neurociência e a educação, podem ser moldáveis aos estímulos do


ambiente, sendo que a neurociência pode informar a educação, ale de inspirar objetivos
e estratégias educacionais com a finalidade de se desenvolver mecanismos pedagógicos
mais adequados. Dessa maneira, a educação amplia sua base científica através das
pesquisas que visam demonstrar que o cérebro humano não tem seu desenvolvimento
finalizado, estando em uma constante reorganização e reestruturação a partir de
estímulos eficientes (OLIVEIRA 2013).
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir que a aprendizagem é o processo como um todo em que o


cérebro responde aos estímulos realizados pelo ambiente, gerando ativação de sinapses
gerando armazenamento de informações que podem ser acessadas quando se quiser ou
precisar.
Fatores podem influenciar este processo de aprendizagem como a emoção, a
atenção e a motivação. Entende-se que o SNC processa apenas aquilo a que está atento.
Para que o processo de aprendizado seja verdadeiramente eficaz, é preciso se
considerar o funcionamento do cérebro e as particularidades de cada aluno. Assim, os
objetivos traçados foram alcançados com sucesso.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Versão 5.0,


CR-ROM. Curitiba: Positivo informática Ltda., 2010.

FIRMINO, L. C. S.; BRAZ, M. N. S. Neurociência: Uma Revisão Bibliográfica de


como o Cérebro Aprende. Id on Line Rev.Mult. Psic., Dezembro/2020, vol.14, n.53, p.
999-1009. ISSN: 1981-1179.

GUERRA, L. B. O diálogo entre a neurociência e a educação: da euforia aos desafios e


possibilidades. Revista Interlocução, v. 4, n. 4, p. 3-12, 2011.

HOUZEL, S. H. O cérebro nosso de cada dia. Rio de Janeiro: Vieira e Lent, 2002.

LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de Neurociência. São


Paulo: Atheneu, 2001.

LENT, R. Neurociência da Mente e do Comportamento. São Paulo: Atheneu, 2008.

LENT, R. Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. 2. ed.


SP: Atheneu Ed., 2010.

MACHADO, A. B. M.; HAERTEL, L. M. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São


Paulo: Atheneu, 2013.

OLIVEIRA, G. G. Neurociências e os processos educativos: um saber necessário na


formação de professores. Educação Unisinos, v. 18, n. 1, p. 13-24, 2013.

RELVAS, M. P. Fundamentos biológicos da educação: despertando inteligências e


afetividade no processo de aprendizagem. 4. ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
ROSA, C. P. Neurociência: Uma Aliada no Processo de Aprendizagem Escolar.
Sananduva, 2014.

SPRENGER, M. Memória: como ensinar para o aluno lembrar. Tradução: Magda


França Lopes. Porto Alegre: Artmed, 2008.

TECKLIN, J. S. Fisioterapia pediátrica. 3. ed. São Paulo: Artmed. 479 p. cap.1-


4.2002.

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