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PRODUÇÃO

AUDIOVISUAL

Otavia Alves Cé
Modelos de roteiros
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir roteiro.
 Reconhecer os principais roteiristas da história do cinema.
 Aplicar roteiros para organizações.

Introdução
Neste capítulo, você aprenderá definições e conceitos a respeito do
roteiro, uma das peças fundamentais do processo de pré-produção de
qualquer peça audiovisual. Em um primeiro momento, conhecerá os
roteiros de cinema e, em seguida, os roteiros aplicados à comunicação
de empresas e marcas. Por fim, conhecerá alguns dos principais nomes
da construção do roteiro cinematográfico.

Roteiro: conceitos e definições


A figura do roteirista apareceu no cinema com a divisão do trabalho do meio
cinematográfico: ator, produtor, diretor e roteirista. A partir de 1912, Thomas
Harper Ince, o primeiro grande produtor, introduziu técnicas modernas de
produção e passou a exigir de seus diretores a apresentação e a execução de
roteiros perfeccionistas, elaborados em detalhes. No entanto, D.W. Griffith,
seu contemporâneo, não escreveu uma linha de seus roteiros, e, em filmes
como Intolerância, o diretor concretizou essa ideia, levando-a à gravação e
à edição. Nos filmes cômicos do cinema mudo, nenhum roteiro foi escrito,
havendo apenas um roteirista especializado em piadas (gagman), que pensava
nas cenas e nas piadas visuais que permeavam a história contada. Nos anos
1930, com a chegada do cinema sonoro, o roteiro passou a ser uma necessi-
dade, devido à introdução dos diálogos como elemento fundamental para a
construção da trama.
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Mas, afinal, o que é um roteiro? Também chamado de script, é a ferramenta


fundamental sobre a qual uma obra audiovisual é construída. É a materialização
em palavras do conjunto de imagens visualizadas na imaginação do autor
da ideia e com as quais ele construirá a história. Segundo Cook e Bernink
(1999, p. 322):

A história é entendida como uma série de eventos, personagens e ações inter-


-relacionados a partir dos quais a audiência cria uma diegese ou um mundo
ficcional mais lato. Uma vez que as histórias nos chegam com falhas e in-
formação narrada fora de ordem, uma das tarefas primárias do espectador é
reconstruir o conto em termos do seu tempo e espaço ficcionais, mas também
clarificar as relações de causa e efeito entre elementos.

Partindo-se do roteiro, pode-se iniciar a preparação da pré-produção (orça-


mentos, compra ou transferência de direitos, plano de localização, repartição,
plano de trabalho, etc.). O roteiro pode ser original ou fruto de uma adaptação,
seja esta originalmente uma peça de teatro, uma história ou um romance.
Todo roteiro deve possuir duas características intrínsecas: flexibilidade e
modificabilidade. Um roteiro nunca deve ser considerado como fixo ou fechado
(especialmente os para a TV). Um roteiro não possui diretrizes fixas, ou seja,
cada formato e cada roteirista é um caso particular.
Apesar de não haver uma fórmula fixa, os roteiros podem ser classificados
de acordo com a sua necessidade, de acordo com o tipo de produção ao qual
serão aplicados:

1. Aqueles que exigem um roteiro completo e total (drama, filmes, dese-


nhos animados) são os considerados “escrita de ferro”, também chamada
de “montagem a priori”. conceituados pelo diretor russo Vsevolod
Pudovkin. Nesse modelo, tudo é planejado e exposto.
2. Aqueles sem um script utilizam apenas uma escaleta simples, apresen-
tando um guia das intenções do que se pretende com a obra. Exemplos de
sua utilização são encontrados em reportagens de notícias, entrevistas,
etc. Inicialmente conceituado pelo cineasta russo Dziga Vertov como
“cinema-olho”, esse tipo de roteiro nasce com a montagem, a partir das
possibilidades que o material gravado apresenta.
3. Por fim, há roteiros que permitem scripts parciais. Serguei Eisenstein
fala de um roteiro em posição de equilíbrio em relação aos anteriores.
Esses roteiros seriam aplicados a documentários, grandes reportagens,
programas de variedades, competições, transmissões esportivas, etc.
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Fases da construção de um roteiro


Segundo Field (2001), as seguintes fases demarcam o processo de produção de
um roteiro. Cada uma delas possui sua função, bem como suas delimitações
técnicas e narrativas.

1. A ideia: a ideia é o princípio e a motivação de toda produção. Estará


presente durante todo o processo de produção. A narrativa estará a
serviço dela. É uma fase pré-literária, isto é, não documentada, é uma
declaração de intenção ou propósito. As fontes inspiradoras da ideia
serão tão amplas e ambíguas quanto a realidade ou a imaginação de
cada indivíduo.
2. O argumento: é a primeira fase literária no processo de escrever o
roteiro. Nela, desenvolve-se a ideia, conta-se brevemente o conteúdo,
a história e o objetivo futuro da produção. O enredo é contado no
tempo presente e deve descrever os eventos essenciais da história e
seus principais personagens.
3. Tratamento ou adaptação (roteiro sequencial): descreve os cenários,
a ação e os personagens, bem como seus relacionamentos. É estruturado
sequencialmente, sem diferenciar algumas cenas das outras. Ele omite
detalhes secundários da ação e não inclui diálogos. Com ele, pode-se
conhecer o plano de filmagem, os orçamentos preventivos, ter-se uma
ideia de localização, etc.
4. Sinopse: palavra que vem do grego e pode ser traduzida como algo que
“pode ser reconhecido de relance”. É uma narrativa breve e concisa da
história e seus personagens. Sua estrutura narrativa segue uma ordem
sequencial de eventos. Serve como uma forma de promoção de produ-
tos (de interesse para o departamento de promoção de publicidade ou
captação de patrocínios).
5. Escaleta ou sinopse técnica de produção: consiste em uma relação
ordenada das várias cenas com uma breve descrição da ação e dos
personagens envolvidos em cada uma delas. Deve-se incluir uma esti-
mativa de tempo para saber o quanto a ação deve durar. Pode facilitar
a preparação da produção em termos de preparação do plano de tra-
balho de filmagem, orçamento ou custo de produção. É essencial em
programas não dramáticos. Muito útil em gêneros de notícias de TV,
como reportagem.
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6. Roteiro literário: pode ser considerado como a fase final do script.


As ações, os relacionamentos e as localizações estão perfeitamente
desenvolvidos, assim como os diálogos. Não deve conter qualquer
indicação ou observação de natureza técnica. O diálogo deve enrique-
cer dialeticamente a imagem. Como em todo o processo de redação
do roteiro (a ideia, o enredo, etc.), no roteiro literário, frases simples
devem ser utilizadas, sem advérbios, sem subordinações, com adjetivos
essenciais e descritivos; deve haver padrões de pontuação para ritmo; e
utiliza-se a estrutura “abordagem-desenvolvimento-resultado”.
7. Script de trabalho: desenvolve a narração por cenas ou sequências
mecânicas (a ação ocorre em uma unidade de espaço e tempo). Todas as
ações e os diálogos são incorporados. Pode ser considerado um roteiro
técnico, ao qual são adicionadas todas as precisões necessárias para a
gravação: adereços, horas e ordem de gravação, efeitos especiais, etc.
8. Script técnico: é a base da realização das filmagens da peça audiovisual
e de responsabilidade exclusiva do diretor. O diretor adapta o conteúdo
do roteiro literário e incorpora as anotações técnicas precisas. É um
planejamento rigoroso, o qual deve ser segmentado em sequências, cenas
e planos. Deve ter duas características fundamentais para não afetar o
plano de trabalho e o orçamento final, que são: precisão (objetividade
no que será filmado) e concretude (possibilidade efetiva de realização
do que está descrito).
9. Roteiro gráfico: também chamado de storyboard, é um conjunto de
ilustrações mostradas em sequência, com o objetivo de servir como
guia para entender uma história, visualizar uma animação ou seguir a
estrutura de um filme antes de sua filmagem. É utilizado em publicidade,
animação e em sequências complicadas e caras.

Partes de um roteiro
Um roteiro é uma história contada em imagens, diálogos e descrições, loca-
lizada no contexto da estrutura dramática. Como tal, possui início, meio e
fim. Para sua realização, os roteiros seguem uma espécie de paradigma que
mantém a história coesa. O paradigma deve ser encarado como uma forma,
e não como uma fórmula. A Figura 1, a seguir, apresenta um modelo de
paradigma de um roteiro de cinema.
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Figura 1. Modelo de paradigma de um roteiro de cinema.


Fonte: Field (2001, p. 13).

 Ato I — a apresentação: é o começo da narrativa, a introdução do tópico.


Deve apresentar: a história, as personagens, a premissa dramática (o
assunto de que o filme trata), a situação (circunstâncias em torno da
ação) e a relação entre a personagem principal e as outras personagens
que habitam o cenário. Field (2001, p. 14) apresenta um exemplo:

Em Witness (A Testemunha), escrito por Earl Wallace e William Kelley, as


primeiras dez páginas revelam o mundo dos Amish (religiosos tradicionalistas
estabelecidos no norte dos Estados Unidos) em Lancaster County, Pensilvânia,
e a morte do marido de Rachel, que motiva sua viagem, com seu filho peque-
no, para a Filadélfia, onde o menino testemunha o assassinato de um policial
secreto, e isso conduz ao relacionamento com o personagem principal, John
Book, representado por Harrison Ford. O primeiro ato inteiro é concebido
para revelar a premissa e a situação dramáticas, e o relacionamento entre uma
mulher Amish e um duro tira da Filadélfia.

 Ato II — a confrontação: nessa parte, a personagem principal enfrenta


obstáculos após obstáculos, que a impedem de alcançar sua necessidade
dramática. A necessidade dramática é o que a personagem principal
quer vencer, ganhar, ter ou alcançar durante o roteiro. O que a move
através da ação? O que a personagem deseja? Qual a sua necessidade?
O roteirista, que conhece a necessidade dramática da personagem, é
capaz de criar obstáculos que ela deve ultrapassar. Há de se ressaltar
que todo drama é conflito. Sem conflito, não há personagem. Sem
personagem, não há ação. Sem ação, não há história. Sem história, não
há roteiro. Conforme ilustra Field (2001, p. 15):
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Em Chinatown, uma história policial, o Ato II mostra Jack Nicholson em


choque com pessoas que tentam evitar que ele descubra quem foi o respon-
sável pelo assassinato de Hollis Mulwray e quem está por trás do escândalo
da água. Os obstáculos que Jake Gittes encontra e supera ditam a ação dra-
mática da história.

 Ato III — a resolução: resolução não significa fim, mas sim solução.
Nela, a questão inicial apresentada no ato I é resolvida (de maneira
positiva ou não). Um roteiro que não resolva essa questão é um roteiro
falho, pois não atende às expectativas da sua audiência. Diferentemente
da resolução, o fim é a cena ou sequência que encerra a narrativa,
podendo deixar questões em aberto, para serem resolvidas em uma
possível sequência, ou somente instigar o imaginário do público. E
como são feitas as transições entre um ato e outro? Por meio dos pontos
de virada (plot twists/plot point). Pontos de viradas são incidentes,
episódios ou eventos que alinham a ação e a revertem em outra direção,
impulsionando a narrativa em direção à resolução. Por exemplo:

Em Witness (A Testemunha), após John Book ter tentado todas as acareações e


arquivos fotográficos policiais para identificar o assassino, ele está ao telefone
e seguimos Samuel, o menino, enquanto ele passeia pela delegacia. Ele para
diante da vitrine, examina os troféus enfileirados lá dentro e entrevê o recorte
de uma notícia de jornal pregada no interior. Ele olha mais próximo a foto do
recorte e identifica o homem retratado como o assassino do policial secreto
na página 10 do roteiro. Book olha o garoto, larga o fone, se aproxima do
menino em câmara lenta e se ajoelha ao lado dele. Samuel aponta o retrato e
Book meneia a cabeça em sinal de compreensão. Ele sabe quem é o assassino.
Agora ele tem que entregá-lo à justiça. Este é o Ponto de Virada I (Plot Point
I). Que ocorre na página 25 do roteiro (FIELD, 2001, p. 16).

É importante ressaltar que a espinha dorsal, o esqueleto e a história é que


determinam a estrutura, nunca o contrário. Ou seja, o formato do roteiro
sempre deve se adequar à narrativa a ser retratada, e não o contrário. Não
existe, por exemplo, um número correto de páginas a serem escritas para que
cada um dos atos seja eficaz.

De forma geral, uma página de roteiro equivale a 1 minuto de projeção.


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Roteiristas que marcaram a história


Quando perguntado sobre o que é necessário para a realização de um bom
filme, uma frase é atribuída à Alfred Hitchcock, o qual teria dito que, para
isso, “você precisa de três coisas: o roteiro, o roteiro e o roteiro”. Definir o que
é um bom roteiro é um papel essencial da produção audiovisual e tangencia
questões subjetivas.
Para compilar uma lista dos melhores e mais influentes roteiristas da história
do cinema, é preciso se questionar: qual é a essência da arte do roteirista?
Enredo? Diálogos? Personagens? Tudo isso e mais? Tomando como base os
critérios da American Film Association (AFI), entre eles a popularidade e o
nível de contribuição à estilística narrativa, alguns nomes podem ser citados
como representantes cujas obras devem ser levadas em consideração quando
se trata de escrita de roteiro cinematográfico. São eles:

 Ingmar Bergman (1918–2007): Bergman é amplamente considerado


um dos melhores autores do cinema. Qualquer aspirante a cineasta
deve estudar O sétimo selo e Persona, ambas marcas de direção e
escrita. As histórias de Bergman são sombrias e surreais, muitas vezes
chocantes, com foco no subconsciente. No entanto, foi seu trabalho de
drama seminal Fanny e Alexander que estabeleceu firmemente seu
status como um dos verdadeiros grandes.
 Woody Allen (1935): títulos como Annie Hall, Manhattan, Hannah
e suas irmãs e, mais recentemente, Meia noite em Paris conferem a
Woody Allen o título de mestre da sátira. Seu trabalho é permeado
por diálogos perspicazes. Contudo, o mais relevante em sua obra é a
temática frequentemente abordada: temas universais, como solidão
urbana, alienação e viver uma vida de fingimento.
 Billy Wilder (1906–2002): linhas memoráveis, personagens memorá-
veis, histórias honestas, essas são as marcas principais do trabalho de
Wilder. The Apartment, Some Like it Hot, Sunset Boulevard e Double
Indemnity são exemplos de sua narrativa.
 Jean-Luc Godard (1930): Godard definiu o movimento cinematográ-
fico chamado Nouvelle Vague francesa, apresentando obras-primas
como Breathless e A Band of Outsiders. Seu trabalho influenciou muitos
mestres modernos do cinema, como Martin Scorcese, Quentin Tarantino
e Steven Soderbergh.
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 Charlie Kaufman (1960): representante da nova geração hollywoo-


diana, Kaufman é considerado um dos roteiristas mais originais e
ousados da era moderna. Quero ser John Malkovich e Brilho eterno de
uma mente sem lembranças carregam a marca de seu trabalho: chocante,
surreal e, ao mesmo tempo, reconfortante.
 Stanley Kubrick (1928–1999): Kubrick era famoso por ser controlador,
exigindo nada além de perfeição absoluta. Duas de suas adaptações,
Laranja mecânica e O iluminado, são controversas no sentido de que
elas se desviaram significativamente do material original, muito para a
ira dos criadores originais. Todavia, foi a escrita adaptada de Kubrick
que conferiu aos filmes citados o status de clássicos e obras de arte.
 Quentin Tarantino (1963): considerado um dos maiores mestres mo-
dernos, Tarantino domina a arte do diálogo e da encenação, fazendo
uso da escalada de tensão com apenas algumas linhas. Exemplos de sua
escrita são os renomados Pulp Fiction e Bastardos inglórios.
 Francis Ford Coppola (1939): considerado um dos melhores diretores
de todos os tempos, Coppola também é celebrado quando se trata de
seu trabalho como roteirista. Entre suas obras de maior destaque estão
a trilogia de O poderoso chefão e Apocalypse Now.
 Joel (1954) e Ethan Coen (1957): os irmãos Coen aperfeiçoaram a arte
de escrever peças neo-noir com diálogos inteligentes. Considerados
mestres no roteiro técnico, também são celebrados por aspectos criativos
na escrita e na adaptação de suas obras. Um exemplo de seu trabalho
é a adaptação do romance Onde os fracos não têm vez.
 Akira Kurosawa (1910–1998): o mais conhecido e provavelmente o
mais celebrado cineasta do Japão, Akira Kurosawa foi uma presença
global e influente no contexto do cinema. Ele trouxe uma atenção
sem precedentes para os filmes asiáticos e abriu caminho para que
outros cineastas de seu país fossem reconhecidos mundialmente. Seus
filmes desafiavam todas as convenções, inaugurando um novo estilo
de entretenimento, com visuais arregalados e fascinantes sequências
de ação. Suas narrativas tinham elementos para perturbar, encantar e
surpreender, com seus personagens distintos e indeléveis. Ilustram seu
trabalho os filmes Os sete samurais e A fortaleza escondida.
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Ficou curioso para saber quais são considerados os melhores roteiros de cinema de
todos os tempos? Confira, por meio do link a seguir, a listagem feita pela Writers Guild
of America.

https://qrgo.page.link/5F6Hc

Roteiros na prática: além do roteiro de cinema


Apesar de ser o modelo mais representativo da categoria, o roteiro de cinema
(master scenes) é deveras complexo e, por vezes, muito subjetivo quando o
assunto se trata de comunicação de organizações. Sendo assim, outros mo-
delos, mais simples e objetivos, são utilizados quando o assunto é televisão
ou produção audiovisual comercial ou institucional.

Escaleta de televisão
Na televisão, o termo escaleta é utilizado para nomear o documento que define
esquematicamente a progressão de um programa, marcando os elementos que
compõem a continuidade — como a entrada de caracteres, vídeos, conexões
ao vivo ou quebras publicitárias — com uma descrição detalhada e o mais
precisa possível. A principal função da escaleta é sequenciar os elementos
que compõem a continuidade. Cada um desses elementos deve ser identi-
ficado de forma inequívoca (e única), para evitar confusão, principalmente
nos momentos ao vivo. Esses elementos dependem do gênero ou do tipo de
conteúdo, mas podem ser as seções que compõem o programa, as personagens
envolvidas, os vídeos que são lançados ou o conteúdo de cada segmento (p.
ex., notícias editadas anteriormente). Em certos programas multicâmera ao
vivo (como telejornais), a escaleta refere-se apenas à ordem dos blocos (ou
divisões primárias do programa) ou às seções (que são geralmente atribuídas
a um roteirista ou editor específico).
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Roteiro em duas colunas


O script audiovisual de duas colunas é um documento de preparação que é ge-
ralmente usado para estabelecer uma primeira abordagem ao que será colocado
na tela, em formatos como as notícias ou os filmes publicitários. No caso do
telejornal, com frequência evolui do que foi imaginado e gravado anteriormente
durante as filmagens, com adaptação às afirmações obtidas nas entrevistas, por
exemplo. Ele é separado em duas colunas, as quais descrevem o que é visto e
o que é ouvido. Ao confrontar o texto que está sendo escrito com as imagens
que são consideradas ideais para ilustrá-lo, tem-se uma ideia muito próxima
de como o produto será, o que permite que se prepare o material necessário
para completá-lo com mais precisão. Nas ocasiões em que o documento é
elaborado, mais colunas podem ser adicionadas para incluir o número de cada
corte (que corresponderia ao número de cada linha), o número do arquivo, o
código de tempos de início do material original e a duração, constituindo o
que poderia ser chamado de script de montagem. Também é útil, por exemplo,
quando um editor e um cineasta trabalham juntos e compartilham o trabalho,
de modo que o editor ou roteirista expressa a visão de como gostaria que o
trabalho audiovisual fosse desenvolvido, e o cineasta é responsável por obter
imagens e sons e para realizá-lo. O Quadro 1, a seguir, apresenta um exemplo
ilustrativo de roteiro em duas colunas.

Quadro 1. Exemplo ilustrativo de roteiro em duas colunas para filme publicitário

Cliente Nome do cliente

Produtora Nome da produtora audiovisual

Job Tipo de vídeo (p. ex., institucional promocional, etc.)

Serviço Roteiro

Data Data da realização

(Continua)
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(Continuação)

Quadro 1. Exemplo ilustrativo de roteiro em duas colunas para filme publicitário

Vídeo Áudio

1 Descrição das imagens. TRILHA SONORA: música


Exemplo: ambiente.
Menina chega em casa com olhar triste.
Mãe percebe. MÃE: O que houve, filha?
2 Quarto da menina. A porta está fechada. MÃE: Posso entrar?
Mãe bate na porta.
3 Interior do quarto. Menina está olhando MENINA: Meu colega não me
sua camiseta de futebol. deixa jogar futebol.
MÃE: E por que ele não deixa?
MENINA: Porque ele disse que
menina não joga bola.
4 Campo de futebol. Menina chega com LOCUÇÃO (OFF)
a mãe acompanhada de um time de Não deixe seus sonhos serem
futebol composto só por mulheres. Elas regrados pelos outros.
jogam bola.

Roteiro em duas colunas expandido


Em algumas bibliografias também referido como roteiro técnico, o roteiro
em duas colunas expandido é semelhante ao roteiro em duas colunas, porém
incorpora a segmentação das sequências e as cenas em planos com numeração
correlativa e todas as informações técnicas necessárias para planejar a gravação:
identificação do plano, objeto(s) enquadrado(s), tamanho do plano, ângulo de
filmagem, movimentos de câmera, iluminação, sons, decorações, acessórios,
etc. A unidade do script técnico é o plano, e a ordem em que são mostrados
os elementos é a ordem da montagem final. É um documento dirigido a toda
a equipe técnica e serve de base para o planejamento:

 O produtor expressa noções básicas ou gerais do estilo narrativo-expressivo.


 O produtor usa-o para desagregar, orçar, planejar e coordenar o plano
de filmagem.
 O assistente de produção, juntamente com a equipe de produção, usa-o
para estabelecer o plano de filmagem.
 Todos os outros técnicos envolvidos na preparação ou captura de imagem
e som o utilizam para planejar suas respectivas tarefas na gravação.
12 Modelos de roteiros

O diretor expressa, no roteiro técnico, todos os elementos que compõem o


filme, e a partir dos elementos refletidos e escolhidos, seu estilo de realização
é moldado. Ou seja, define o que será mostrado para o espectador e o que será
escondido; mostra uma certa porção do espaço e, consequentemente, esconde
o resto; mostra um tempo, dilatado ou comprimido, e elimina elementos
secundários.
Quando um roteiro técnico é preparado, o que se entende e o que se pretende
transmitir emocionalmente ao espectador é gerenciado. Cada plano deve ser
concebido em si mesmo, mas considerando o plano que o precede e o que o
segue e até mesmo sua posição no conjunto de filmes. Ao planejar uma sessão,
também é importante ter em mente a montagem do material, de modo que
um diretor artístico deve coordenar não apenas com o cineasta e o diretor de
fotografia, mas também com o editor. O Quadro 2, a seguir, apresenta um
exemplo ilustrativo de parte de um roteiro técnico.

Quadro 2. Exemplo ilustrativo de parte de um roteiro técnico

Ação Plano FX Tempo

Mãe assistindo Plano Som 5 segundos


à televisão. Filha conjunto ambiente
passa apressada (ruídos da
por trás do sofá. televisão e
barulho da
porta de
Cena 1 casa abrindo
e fechando)

Mãe, ainda Plano médio Som 3 segundos


sentada no ambiente
sofá, percebe (ruídos da
que algo está televisão)
errado.

Porta fechada Plano médio Som 2 segundos


do quarto da ambiente
Cena 2 menina. Mãe (batida leve
chega e bate na porta)
na porta.
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Roteiros aplicados a organizações


Apesar das diferenças nos formatos, a estrutura de roteiros aplicados à comu-
nicação organizacional é semelhante ao paradigma dos roteiros de cinema, ou
seja, conta com a exposição do problema/complicação/conflito (apresentação/
desenvolvimento), clímax (plot twist) e resolução (conclusão). Segundo Aumont
(1995, p. 106):

A narrativa fílmica é um enunciado que se apresenta como discurso, pois


implica, ao mesmo tempo, um enunciado (ou pelo menos um foco de enun-
ciação) e um leitor-espectador. Seus elementos estão, portanto, organizados
e colocados em ordem de acordo com muitas exigências: em primeiro lugar,
a simples legibilidade do filme exige uma “gramática” (trata-se aí de uma
metáfora), a fim de que o espectador possa compreender, simultaneamente,
a ordem da narrativa e a ordem da história.

Devido ao tempo curto da narrativa, se comparado com os longas-metragens


cinematográficos, esses elementos apresentam-se muito próximos (quando não
juntos). Em geral, uma certa personagem, durante a fase de apresentação, já está
em conflito. Todavia, o conflito também pode ser o clímax. Ou seja, a única
fase realmente clara na estrutura de um vídeo organizacional é a resolução.
E, normalmente, a instituição/produto/serviço é essa resolução. Assim como
no cinema, o paradigma não é uma fórmula imutável e inflexível, visto que
a estrutura que suporta a imaginação é maleável e mutável. Aumont (1995,
p. 106–108) destaca que:

Essa organização deve estabelecer o primeiro nível de leitura do filme, sua


denotação; [...] em seguida, deve ser estabelecida uma coerência interna do
conjunto da narrativa. [...] finalmente, a ordem da narrativa e seu ritmo são
estabelecidos em função de um encaminhamento de leitura que é, assim,
imposto ao espectador. É, portanto, concebido também em vista de efeitos
narrativos. [...] é um discurso fechado, porque comporta inevitavelmente um
início e um fim, porque é materialmente limitado.

Quando tratamos de audiovisual para organizações, em particular no que


tange à publicidade e às relações públicas, é necessário salientar que este
deve prezar por uma linguagem dinâmica. Este modelo audiovisual precisa
que algo interessante sempre esteja acontecendo. Nesses casos, o conflito/plot
torna-se uma ferramenta-chave.
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O conflito, de maneira geral, é entendido como a interação dos elementos e


aquilo que ocorre entre eles. É o que torna uma narrativa interessante, dinâmica
e instigante. Ao levar esse conceito para o universo da produção audiovisual,
pode-se concluir que toda história — seja institucional ou publicitária —
precisa de um conflito. Este é entendido como a ação, e sem ação, não existe
narrativa. Algo precisa acontecer. Por meio desse conceito fundamental, ocorre
a identificação da audiência versus roteiro, o que cria empatia pelo serviço/
produto/marca, etc. Assim, criar uma história, uma situação que poderia
ocorrer com o público-alvo de uma determinada empresa, estabelece uma
relação de cumplicidade entre ambos.
No cinema, nas novelas, no teatro e em séries, o plot pode ganhar força
quando aliado a conflitos e intrigas paralelas — pequenas histórias que di-
recionam o interesse do interlocutor. Entretanto, não é possível fazer isso em
um filme publicitário, por exemplo. Em 30 segundos, precisa-se prender a
atenção, fazer-se entender, conquistar e provocar uma ação. Nesse sentido,
escrever somente o estritamente necessário para completar a mensagem é
essencial, evitando, assim, colocar qualquer elemento no roteiro que possa
desviar a atenção do interlocutor para longe da mensagem principal. Afinal,
é mais fácil que uma mensagem seja memorizada se ela for única, e não mais
um elemento perdido entre diversos assuntos.
Quanto ao plot twist na comunicação de empresas, este mantém seu conceito
próximo ao original: pode ser qualquer incidente, episódio ou evento inesperado
que leve a ação dramática para outra direção ou apresente e uma situação que
o espectador não esperava. Todavia, nem todo filme publicitário possui um
plot twist. Contudo, quando este existe, ele é o clímax da narrativa, ou seja,
o momento de emoção acentuada (p. ex., surpresa, humor, drama, medo).
Quanto à resolução, esta mantém-se como a solução da história e do conflito.
No roteiro publicitário, geralmente é o produto/serviço/marca anunciado. É
importante que se seja o mais claro possível na resolução do roteiro aplicado
a organizações, mostrando com todas as letras, sons e cores qual é o “prota-
gonista” (ou seja, a marca/serviço/produto anunciado) da peça.
Segundo Barreto (2010), existem duas maneiras clássicas de se apresentar
a resolução em um filme publicitário:
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1. Pode-se fazer o produto (solução) acompanhar toda a narrativa, parti-


cipando das ações das personagens e interagindo com elas. Nesse caso,
o impacto é menor, mas o produto é mostrado durante todo o tempo de
projeção e inserido em uma ação do dia a dia do público-alvo. Isso faz
a marca parecer mais próxima, acessível e simpática.
2. O produto só se revela no final. Aqui, o impacto é maior. Após um plot
twist, o produto/marca surge como solução — seja apenas por intermédio
de um locutor, seja nas mãos de uma personagem.

Para o audiovisual aplicado a organizações e marcas, constituído por


imagens e sons, utiliza-se uma narrativa própria, que atrai e é percebida pelo
olho e pelo ouvido, simultaneamente, causando no público uma experiência
sensorial de alta complexidade. O roteiro é a base para que essa experiência
seja eficiente e alcance os objetivos comunicacionais desejados.

AUMONT, J. A imagem. Campinas: Papirus, 1995.


BARRETO, T. Vende-se em 30 segundos: manual do roteiro para filme publicitário. São
Paulo: Senac, 2010.
COOK, P.; BERNINK, M. (ed.). The cinema book. 2nd ed. London: BFI Publishing, 1999.
FIELD, S. Manual de roteiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Leitura recomendada
ISAIAS, T. 20 melhores roteiros da história segundo o Sindicato dos Roteiristas. 2019. Disponí-
vel em: https://www.vix.com/pt/bbr/2172/20-melhores-roteiros-da-historia-segundo-
-o-sindicato-dos-roteiristas. Acesso em: 20 ago. 2019.

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