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ARTIGO ARTICLE
Alimentação escolar nas comunidades quilombolas:
desafios e potencialidades

School nutrition in ‘quilombola’ communities:


challenges and opportunities

Lucilene Maria de Sousa 1


Karine Anusca Martins 1
Mariana de Morais Cordeiro 1
Estelamaris Tronco Monego 1
Simoni Urbano da Silva 1
Veruska Prado Alexandre 1

Abstract The Brazilian School Nutrition Pro- Resumo O Programa Nacional de Alimentação
gram (PNAE) is a Food and Nutritional Security Escolar (PNAE) é uma estratégia de Segurança
(SAN) strategy for public school students. This Alimentar e Nutricional (SAN) para estudantes
article seeks to discuss the challenges and opportu- de escolas públicas. Este artigo tem por objetivos
nities of school nutrition in ‘quilombola’* com- discutir os desafios e as potencialidades da ali-
munities and report on the experience of the Co- mentação escolar nas comunidades quilombolas e
operation Center for Student Food and Nutrition relatar a experiência do Centro Colaborador em
of the Federal University of Goiás and the Mid- Alimentação e Nutrição do Escolar da Universi-
west Region (CECANE UFG/ Centro-Oeste). It dade Federal de Goiás e Região Centro-Oeste (CE-
includes a report on the experience with the sys- CANE UFG/Centro-Oeste). Relato de experiên-
tematization on PNAE, SAN and other policies. cia associado à sistematização da literatura sobre
Continued access and adequate social policies are o PNAE, SAN e outras políticas. O acesso perma-
a challenge for the ‘quilombola’* communities. nente e adequado às políticas sociais é um desafio
Some economic, structural and social barriers have para as comunidades quilombolas. Identificam-
been identified in PNAE. In this context, Law se na execução do PNAE entraves de ordem eco-
11.947/2009 encourages local development, with nômica, estrutural e social. Neste contexto, a Lei
the acquisition of food from the region, and it es- 11.947/2009 incentiva o desenvolvimento local,
tablishes differentiated values per capita, which por meio da aquisição de alimentos da região e
are translated into menus including products in- determina valor per capita diferenciado, traduzi-
herent to Afro-Brazilian culture that provide at do em cardápio com alimentos da cultura negra e
least 30% of daily nutritional requirements. In que atenda no mínimo 30% das necessidades nu-
the nutrition, health and quality of life project of tricionais diárias. O CECANE UFG/Centro-Oes-
‘quilombola’* schoolchildren, the CECANE UFG/ te no projeto alimentação, saúde e qualidade de
Midwest carry out food and nutritional security vida de escolares quilombolas realiza ações em
actions. The area of school nutrition has proven SAN. O campo da alimentação escolar mostra-se
1
Faculdade de Nutrição,
responsive to local needs and supports the develop- sensível às necessidades locais e apoia o desenvol-
Universidade Federal de
Goiás. Rua 227 s/no, Quadra ment and promotion of quality of life. vimento e a promoção da qualidade de vida.
68, Setor Leste Key words School nutrition, Group with ances- Palavras-chave Alimentação escolar, Grupo com
Universitário. 74605-080
tors from the African continent, Public policies ancestrais do continente africano, Políticas pú-
Goiânia GO.
lucilenemaria.sousa@ blicas
gmail.com
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Sousa LM et al.

Introdução agendas governamentais, onde se destacam: o


Plano Brasil sem Miséria10; a Política Nacional de
No Brasil, o Programa Nacional de Alimentação Saúde Integral da População Negra11 e o Progra-
Escolar (PNAE) é uma estratégia para a garantia ma Brasil Quilombola12. O PNAE está inserido
do Direito Humano à Alimentação Adequada no escopo destas políticas, sendo as ações pro-
(DHAA), cujos pressupostos reportam aos prin- postas reiteradas pelo Plano Nacional de Segu-
cípios da alimentação saudável discutidos no Guia rança Alimentar e Nutricional13.
Alimentar para a População Brasileira¹. Suas Di- Nesta perspectiva, este estudo tem como ob-
retrizes sugerem o respeito aos hábitos alimen- jetivo discutir os desafios e as potencialidades da
tares culturalmente referenciados, bem como o alimentação escolar nas comunidades quilom-
desenvolvimento local sustentável, traduzidas em bolas e relatar a experiência do Centro Colabo-
duas ações: a educação alimentar e nutricional e rador em Alimentação e Nutrição do Escolar da
a oferta de refeições que atendam às necessida- Universidade Federal de Goiás e Região Centro-
des nutricionais de estudantes de escolas públi- Oeste (CECANE UFG/Centro-Oeste) junto ao
cas durante o período letivo2,3. PNAE quilombola no estado de Goiás. Este estu-
A legislação vigente determina atendimento do foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesqui-
diferenciado aos escolares quilombolas como es- sa da Universidade Federal de Goiás.
tratégia de promoção do DHAA. Trata-se de me-
canismos de orçamento (com valor per capita di- O contexto das comunidades quilombolas
ferenciado), planejamento (orientação para que
o cardápio atenda às necessidades nutricionais Embora a preocupação com a qualidade de
específicas destes grupos e contribua para a supe- vida esteja refletida nas políticas públicas no Brasil,
ração da Insegurança Alimentar e Nutricional - inquérito nacional realizado pelo Ministério do
InSAN) e de garantia de geração de renda (priori- Desenvolvimento Social e Combate à Fome
dade na aquisição de alimentos oriundos da agri- (MDS) em comunidades quilombolas indica que
cultura familiar destas comunidades, pela gestão a maioria destas famílias encontra-se em situa-
do PNAE nos estados e municípios)2,3. ção de extrema pobreza. Apenas 29% têm acesso
Comunidades quilombolas constituem gru- ao serviço de coleta de lixo; 24,0% ao esgotamen-
pos de indivíduos, cuja descendência tem relação to sanitário e 56,0% à água encanada9. De forma
com grupos étnico-raciais, segundo critérios de similar, estudos realizados em comunidades do
autoatribuição, com trajetória histórica própria, Tocantins, Pará e Paraíba evidenciam que a In-
dotados de relações territoriais específicas, com SAN esteve presente em 85,0% das famílias6 com
presunção de ancestralidade negra relacionada uma frequência elevada de domicílios de adobe,
com a resistência à opressão histórica sofrida. palhoça ou taipa7,8.
Para fins de acesso a direitos diversos, estas co- Em relação às iniciativas econômicas e pro-
munidades devem estar cadastradas na Funda- dutivas, a produção de alimentos por meio da
ção Cultural Palmares4. agricultura tem destaque nestas comunidades,
No Brasil existem 1.711 comunidades qui- sendo prática usual para 93% das famílias, se-
lombolas certificadas pela Fundação Cultural guida pela pecuária (56,0%) e pela pesca
Palmares, das quais 7,7% (n= 131) na Região (32,0%)14. A maior parte dos produtos proveni-
Sul; 9,2% (n= 158) na Região Norte; 14,1% (n= entes destas atividades é utilizada como subsis-
241) na Região Sudeste; 62,8% (n= 1075) na Re- tência, com uma comercialização reduzida, seja
gião Nordeste e 6,2% (n= 106) na Região Cen- por dificuldades de acesso ou no transporte8,9.
tro-Oeste5. A maioria das comunidades (89,0%) dispõe
Embora reconhecidas e consideradas patri- de escolas9, porém, estudo realizado na Paraíba
mônio cultural brasileiro, as comunidades qui- evidenciou que apenas 34,5% das crianças qui-
lombolas enfrentam graves problemas relacio- lombolas estudam7. Em adição a esta informa-
nados não só aos aspectos culturais, como à ção, 43,6% das mães das crianças quilombolas
qualidade de vida e saúde de sua população. Es- de zero a cinco anos têm até quatro anos de esco-
tudos recentes em comunidades tradicionais e laridade, enquanto 47,0% dos chefes de família
étnicas evidenciam a InSAN como um dos pro- estudou até o quarto ano do ensino fundamen-
blemas de maior evidência nestas comunidades6- tal, evidenciando altos índices de analfabetismo
9
. Por esta razão, nos últimos anos diversas polí- funcional9.
ticas públicas buscam garantir a interlocução das Estudo denominado Chamada Nutricional
necessidades deste grupo populacional com as Quilombola9, investigou o estado nutricional de
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2.723 crianças menores de cinco anos, das quais nação das ações de Segurança Alimentar e Nutri-
11,6% e 8,1% apresentaram déficit de Altura/Ida- cional (SAN)13.
de e de Peso/Idade, respectivamente, sendo que as Na prática, o planejamento e a execução das
famílias menos favorecidas socioeconomicamente ações coordenadas de SAN desdobram-se em ar-
apresentaram uma pior situação nutricional. ticulações locais, tendo como referencial os terri-
Em relação ao consumo alimentar, foi obser- tórios destas comunidades tradicionais, onde o
vado que a maioria das crianças de três a 11 anos Setor Educação, incluídas as unidades escolares, é
e 7,5% da população de 11 anos e mais consumi- chamado a garantir a oferta regular e permanen-
am menos do que três refeições por dia, indicati- te de alimentos com atenção à identidade cultural
vo da presença de InSAN em famílias quilombo- dos estudantes quilombolas. Entretanto, a con-
las9. De forma similar, estudo realizado em 14 cretização desta responsabilidade se dá por meio
comunidades quilombolas do Tocantins obser- de articulações com outros setores, como o agrí-
vou reduzido consumo de alimentos tanto entre cola (buscando assistência técnica referenciada nas
adultos quanto em crianças, com cerca de 15,0% tradições culturais de cultivo de alimentos e o res-
de InSAN grave neste grupo social6. gate das formas tradicionais de cultivo, incluindo
Diante deste cenário, é possível supor que o aqui o uso de sementes crioulas e animais da re-
PNAE seja uma estratégia de enfrentamento da gião) e o setor saúde (com monitoramento dos
InSAN entre os estudantes quilombolas. Porém, indicadores de InSAN), dentre outros.
estudo realizado em comunidade do Pará evi- Com o objetivo de reduzir os desafios na arti-
denciou irregularidades na entrega, além de ali- culação entre os setores, as Diretrizes do PNSAN
mentos inadequados ao hábito dos estudantes, indicam ações capazes de promover a interface da
sendo comum a oferta de alimentos semipron- alimentação escolar com outras necessidades das
tos como sopas e mingaus8. Diagnóstico preli- comunidades quilombolas. Por esta razão, suge-
minar realizado pela equipe do CECANE UFG/ rem o aprimoramento, a qualificação e o moni-
Centro-Oeste em visita realizada a comunidade toramento da execução do PNAE nas escolas lo-
quilombola de Goiás, indicou a presença de pro- calizadas em comunidades quilombolas; a expan-
dutos industrializados alheios aos hábitos regio- são da participação de agricultores(as) familiares
nais, contrapondo-se ao grande potencial agrí- quilombolas nos mercados institucionais; a ga-
cola para produção de frutas e hortaliças, que rantia da regularização fundiária e a certificação
não estão presentes na alimentação escolar15. das comunidades quilombolas; além da proteção
e estímulo da agrobiodiversidade e do desenvol-
Políticas públicas, o Direito Humano vimento local sustentável13.
à Alimentação Adequada O Plano estabelece metas concretas e moni-
e as comunidades quilombolas toráveis para as ações e programas de SAN, e,
nesta perspectiva, tem como um dos objetivos o
A Política Nacional de Segurança Alimentar e fortalecimento da PNAN, cujo propósito é me-
Nutricional (PNSAN)16 a Lei Orgânica de Segu- lhorar as condições de alimentação, nutrição e
rança Alimentar e Nutricional (LOSAN)17, a Po- saúde, em busca da garantia da SAN da popula-
lítica Nacional de Alimentação e Nutrição ção brasileira. A PNAN, aprovada no ano de 1999
(PNAN)18 e a legislação do PNAE2,3 estabelecem e reformulada entre 2010 e 2011, é pautada nos
Diretrizes e articulam diferentes setores da socie- Princípios do Sistema Único de Saúde e do DHAA,
dade civil e órgãos governamentais em ações com destaque ao respeito à diversidade e à cultu-
universais e locais em prol da efetivação do DHAA ra alimentar, o fortalecimento da autonomia dos
no território brasileiro. indivíduos e a busca da segurança alimentar e
Do ponto de vista operacional, a PNSAN tra- nutricional com soberania18.
duz-se no Plano Nacional de Segurança Alimen- Tendo as comunidades quilombolas como
tar e Nutricional, cuja finalidade é a concretiza- eixo de discussão, identificam-se nas Diretrizes
ção do DHAA e a construção de um modelo sus- do Plano de SAN convergências com as reivindi-
tentável de produção e consumo de alimentos cações e as políticas voltadas a este grupo13:
no país, preconizado pelo Sistema Nacional de - Aprimoramento, qualificação e acompa-
Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN)16. nhamento da alimentação escolar nas escolas si-
Dentre as Diretrizes do Plano evidenciam-se tuadas em comunidades quilombolas; fomento
avanços relativos à garantia de direitos dos po- à aquisição, pelas escolas, de gêneros alimentí-
vos e comunidades tradicionais, com destaque cios da agricultura familiar quilombola; distri-
para a promoção, a universalização e a coorde- buição de alimentos às famílias vulneráveis à
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Sousa LM et al.

fome, dentre estas, aquelas situadas em comuni- diretamente da agricultura familiar e do empre-
dades remanescentes de quilombos [Diretriz 1]; endedor familiar rural ou de suas organizações,
- A ampliação do acesso aos serviços de as- priorizando-se os assentamentos da reforma agrá-
sistência técnica e extensão rural para os agricul- ria, as comunidades tradicionais indígenas e co-
tores familiares quilombolas, com conseqüente munidades quilombolas². A inclusão de agriculto-
aumento da participação dos mesmos no abas- res quilombolas neste mercado institucional é
tecimento de mercados institucionais [Diretriz 2]; fundamental para o desenvolvimento local sus-
- Regularização fundiária/certificação das co- tentável e para a possível superação da InSAN
munidades quilombolas e promoção da saúde e em suas comunidades.
SAN dos povos quilombolas, por meio do uso O benefício da alimentação para escolares
sustentável da agrobiodiversidade [Diretriz 4]; quilombolas inclui recurso financeiro diferencia-
- A ampliação da cobertura de ações e servi- do para execução do PNAE. O valor per capita
ços de saneamento básico e de abastecimento de atualmente repassado aos municípios com estu-
água em comunidades quilombolas, priorizan- dantes quilombolas matriculados no ensino fun-
do soluções alternativas que permitam a susten- damental e médio, além de jovens e adultos (EJA),
tabilidade dos serviços [Diretriz 6]. é de R$ 0,60 (sessenta centavos de real), enquan-
Ao evidenciar a priorização de ações do Esta- to para os demais estudantes é de R$ 0,30 (trinta
do, com foco na população quilombola, estas centavos de real)20. Já o cardápio elaborado para
políticas mostram sintonia com os condicionan- este grupo de estudantes deve atingir no mínimo
tes de renda, concentração da propriedade de ter- 30,0% das necessidades nutricionais diárias, su-
ra, dificuldade de acesso ao alimento, dentre ou- perior em 10,0% ao estipulado para o cardápio
tros, que historicamente determinaram uma alta destinado aos demais alunos da rede pública de
prevalência de InSAN nestas comunidades. educação matriculados em período parcial³.
O CECANE-UFG/Centro-Oeste é um espaço
Alimentação escolar de fortalecimento e consolidação de políticas pú-
nas comunidades quilombolas de Goiás: blicas em alimentação e nutrição, com ênfase na
para além da oferta de alimento SAN e no DHAA, cujo foco é o ambiente escolar.
As comunidades quilombolas são parte deste
Pelo exposto, é possível supor que as últimas universo, portanto, inseridas neste contexto. Um
décadas representaram um avanço, seja no au- dos projetos em execução pelo CECANE-UFG/
mento da visibilidade das questões relacionadas Centro-Oeste denomina-se Alimentação, saúde e
à qualidade de vida das comunidades quilom- qualidade de vida de escolares quilombolas, cujas
bolas, bem como nas políticas de apoio a este atividades iniciaram-se em 2010, com a identifi-
segmento. O desafio é compatibilizar o propos- cação de lideranças e entidades articuladas com
to ao executado, em especial pelas políticas rela- populações negras, povos e comunidades tradici-
cionadas à comunidade escolar e ao PNAE2,3 nas onais. Este grupo elaborou coletivamente um pro-
comunidades quilombolas. A ineficiência na im- jeto de ação, a partir de uma oficina que levantou
plementação local, em especial a irregularidade os temas de maior relevância, categorizados em
da oferta de alimentos saudáveis e adequados, oito possibilidades de ação, a partir de então con-
distantes dos hábitos regionais; a inadequação siderados como a espinha dorsal do projeto:
na distribuição dos recursos financeiros destina- (1) Condições de saúde e nutrição
dos ao Programa; as dificuldades na logística de Investigação sobre como vivem, adoecem e
distribuição, armazenamento e produção dos morrem os indivíduos das comunidades quilom-
alimentos oferecidos aos escolares quilombolas, bolas, com vistas a identificar a situação de saú-
são questões centrais nesta discussão19. de, nutrição e qualidade de vida.
Neste contexto, a Lei 11.947/2009 representa (2) Infraestrutura
um avanço por destacar em suas Diretrizes o Avaliação das condições das estradas; da es-
apoio ao desenvolvimento sustentável, com in- trutura física das escolas (unidades de alimenta-
centivo para a aquisição de gêneros alimentícios ção e nutrição) e domicílios; do saneamento bá-
diversificados, produzidos em âmbito local, com sico (acesso a energia elétrica, água, esgoto e lixo)
destaque no Artigo 14 que indica no mínimo e o estudo da cadeia de transporte do alimento
30,0% dos recursos financeiros repassados pelo para a escola.
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (3) Gestão
(FNDE), no âmbito do PNAE, deverá ser utilizado Estudo da aplicação do recurso do PNAE qui-
na aquisição de gêneros alimentícios provindos lombola; identificação do tipo de cardápio da zona
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urbana e rural, além da avaliação da atuação do A aproximação dos saberes popular e cientí-
manipulador de alimentos e nutricionista. fico, permitindo uma inserção no cotidiano das
(4) Controle social comunidades quilombolas possibilita a constru-
Identificação do Conselho de Alimentação ção de propostas de ações com potencial para
Escolar (CAE) e suas ações; mapeamento de ou- modificar a realidade local, e tem permitido à
tras organizações sociais na região, tais como equipe do CECANE UFG/Centro-Oeste viven-
cooperativas e associações. ciar aprendizados, conquistas e muitos desafios.
(5) Agricultura familiar Dentre os aprendizados, destacamos a cons-
Estudo da produção (tipo de alimento pro- trução compartilhada da proposta com mem-
duzido e beneficiamento) e da comercialização bros das comunidades quilombolas de Goiás;
(local e para o mercado externo), além do co- representantes de organizações sociais e órgãos
nhecimento do agricultor familiar da Lei 11.947/ governamentais envolvidos na temática do pro-
2009. jeto. E a relevância da aproximação com os sujei-
(6) Alimentos e alimentação escolar tos da ação, possibilitando assim a identificação
Avaliação do cardápio e dos alimentos ofere- de diferentes necessidades que condicionam a
cidos (qualidade, quantidade e regularidade); InSAN neste grupo social e como estes se expres-
estudo da cultura alimentar local e sua inserção sam no cotidiano destas comunidades.
no cardápio e currículo escolar. Os avanços contemplam a realização de ofi-
(7) Educação permanente cinas nos territórios das comunidades quilom-
Nos municípios estudados, identificação do bolas, para discutir com os agricultores familia-
processo de formação de manipuladores de ali- res a comercialização dos gêneros alimentícios
mentos, nutricionista, CAE, agricultor familiar e produzidos para a alimentação escolar, atenden-
gestores, dentre outros. do ao proposto na legislação do PNAE; bem como
(8) Mundo do trabalho a discussão com os escolares sobre o consumo
Identificação de alternativas de apoio aos jo- alimentar no ambiente escolar e familiar, ambas
vens e adultos em atividades cujo objeto seja a com boa repercussão entre os participantes.
manutenção dos mesmos junto a suas comuni- Por outro lado, os desafios existem e são tão
dades. complexos quanto a realidade deste grupo so-
Promover a SAN junto às comunidades qui- cial, seja na tradução do conhecimento produzi-
lombolas é um grande desafio, sobretudo pelas do em uma linguagem compreensível aos sujei-
peculiaridades destas comunidades. Neste con- tos da ação; seja no desafio de compreender que
texto, a identificação de parceiros em nível local, a um silêncio, um olhar, uma palavra, são sinais
compreensão deste processo como sendo de ca- de que há desejo de mudanças.
ráter interssetorial, e a necessária aproximação e Quando a gente tem o conhecimento, a gente
diálogo com as lideranças locais apresentam po- tem como cobrar expressou uma representante
tencialidade para que se constitua um espaço co- de comunidade quilombola presente em um de
letivo de construção e aprendizagens mútuas. nossos encontros15. Este é o nosso maior desa-
O projeto está em execução, com o estabele- fio: enquanto grupo que detém o saber técnico,
cimento de metas que, no curto prazo (segundo colocá-lo a serviço da promoção e proteção do
semestre/2011), traçou ações emergenciais e de DHAA e SAN nas comunidades quilombolas,
aproximação com as comunidades, com desta- num cenário de dificuldades no acesso a bens e
que para as oficinas de sensibilização para a ques- políticas sociais.
tão do PNAE, voltada para agricultores e estu-
dantes quilombolas e a participação na ação Ka-
lunga Cidadão, atividade articulada com diversas
áreas do conhecimento da Universidade Federal
de Goiás. No médio prazo (primeiro semestre/
2012) ocorreu uma oficina para validação do ins- Colaboradores
trumento, posteriormente aplicado nas 22 co-
munidades quilombolas goianas certificadas pela LM Sousa, KA Martins, MM Cordeiro, ET Mo-
Fundação Cultural Palmares. No longo prazo nego, SU Silva e VP Alexandre participaram de
(primeiro semestre/2013) estão previstas reuniões todas as etapas de elaboração do manuscrito:
locais para divulgação dos resultados e pactua- concepção, desenho, proposição de ideias, análi-
ção de ações de intervenção. se crítica e redação do manuscrito.
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Sousa LM et al.

Referências

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