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ATIVIDADES REFERENTES A DISCIPLINA DE FILOSOFIA

Prof. Mateus Peçanha


Nome do aluno(a):
Turma:

Feio ou bonito? Depende do gosto?

Feio não é bonito o morro existe mas pedem para se acabar. Canta, mas canta triste. Porque tristeza
é só o que se tem para cantar. Chora, mas chora rindo. Porque é valente e nunca se deixa quebrar.
Ama, o morro ama. Amor bonito, amor aflito que pede outra história.
Carlos Lyra e Gianfrancesco Guarnieri

A estética é um ramo da filosofia que se ocupa das questões tradicionalmente ligadas à arte, como o
belo, o feio, o gosto, os estilos e as teorias da criação e da percepção artísticas.

Do ponto de vista estritamente filosófico, a estética estuda racionalmente o belo e o sentimento que
este desperta nos homens. Dessa forma, surge o uso corrente, comum, de estética como sinônimo de
beleza. É esse o sentido dos vários institutos de estética: institutos de beleza que podem abranger do
salão de cabeleireiro à academia de ginástica.

A palavra estética vem do grego aisthesis e significa "faculdade de sentir", "compreensão pelos
sentidos", "percepção totalizante". Assim, retomando o que foi exposto no capítulo anterior, a obra de
arte, sendo, em primeiro lugar, individual, concreta e sensível, oferece-se aos nossos sentidos; em
segundo lugar, sendo uma interpretação simbólica do mundo, sendo uma atribuição de sentido ao real
e uma forma de organização que transforma o vivido em objeto de conhecimento, proporciona a
compreensão pelos sentidos; ao se dirigir, enquanto conhecimento intuitivo, à nossa imaginação e ao
sentimento (não à razão lógica), toma-se em objeto estético por excelência.

O belo

Vejamos, agora, as questões relativas à beleza e à feiúra.

Será que podemos definir claramente o que é a beleza, ou será que esse é um conceito relativo, que
vai depender da época, do país, da pessoa, enfim? Em outros termos, a beleza é um valor ob jetivo,
que pertence ao objeto e pode ser medido, ou subjetivo, que pertence ao sujeito e que, portanto,
poderá mudar de indivíduo para indivíduo?

As respostas a essas perguntas variaram durante o decorrer da história.

De um lado, dentro de uma tradição iniciada com Platão (séc. IV a.C), na Grécia, há os filósofos que
defendem a existência do "belo em si", de uma essência ideal, objetiva, independente das obras
individuais, para as quais serve de modelo e de critério de julgamento. Existiria, então, um ideal
universal de beleza que seria o padrão a ser seguido. As qualidades que tornam um objeto belo estão
no próprio objeto e independem do sujeito que as percebe.

Levando essa idéia a suas últimas conseqüências, poderíamos estabelecer regras para o fazer
artístico, com base nesse ideal. E é exatamente isso que vão fazer as academias de arte,
principalmente na França, onde são fundadas a partir do século XVII.
Defendendo o outro lado, temos os filósofos empiristas, como David Hume (séc. XVIII), que relativizam
a beleza, reduzindo-a ao gosto de cada um. Aquilo que depende do gosto e da opinião pessoal não
pode ser discutido racionalmente, donde o ditado: "Gosto não se discute". O belo, dentro dessa
perspectiva, não está mais no objeto, mas nas condições de recepção do sujeito.

Kant, ainda no século XVIII, tentando resolver esse impasse entre objetividade e subjetividade, afirma
que o belo é "aquilo que agrada universalmente, ainda que não se possa justificá-lo intelectualmente".
Para ele, o objeto belo é uma ocasião de prazer, cuja causa reside no sujeito. O princípio do juízo
estético, portanto, é o sentimento do sujeito e não o conceito do objeto. Apesar de esse juízo ser
subjetivo, ele não se reduz à individualidade de um único sujeito, uma vez que todos os homens têm
as mesmas condições subjetivas da faculdade de julgar. É algo que pertence à condição humana, isto
é, porque sou humano, tenho as mesmas condições subjetivas de fazer um juízo estético que meu
vizinho ou o crítico de arte. O que o crítico de arte tem a mais é o seu conhecimento de história e a
sensibilidade educada. Assim, o belo é uma qualidade que atribuímos aos objetos para exprimir um
certo estado da nossa subjetividade, não havendo, portanto, uma idéia de belo nem regras para
produzi-lo. Existem objetos belos que se tornam modelos exemplares e inimitáveis.

Hegel, no século seguinte, introduz o conceito de história. A beleza muda de face e de aspecto através
dos tempos. E essa mudança (chamada devir), que se reflete na arte, depende mais da cultura e da
visão de mundo presentes em determinada época do que de uma exigência interna do belo.

Hoje em dia, numa visão fenomenológica, consideramos o belo como uma qualidade de certos objetos
singulares que nos são dados à percepção. Beleza é, também, a imanência total de um sentido ao
sensível, ou seja, a existência de um sentido absolutamente inseparável do sensível. O objeto é belo
porque realiza o seu destino, é autêntico, é verdadeiramente segundo o seu modo de ser, isto é, é um
objeto singular, sensível, que carrega um significado que só pode ser percebido na experiência
estética. Não existe mais a idéia de um único valor estético a partir do qual julgamos todas as obras.
Cada objeto singular estabelece seu próprio tipo de beleza.

O feio

O problema do feio está contido nas colocações que são feitas sobre o belo. Por princípio, o feio não
pode ser objeto da arte. No entanto, podemos distinguir, de imediato, dois modos de representação do
feio: a representação do assunto "feio" e a forma de representação feia. No primeiro caso, embora o
assunto "feio" tenha sido expulso do território artístico durante séculos {pelo menos desde a
Antigüidade grega até a época medieval), no século XIX ele é reabilitado. No momento em que a ar te
rompe com a idéia de ser "cópia do real" e passa a ser considerada criação autônoma que tem por
função revelar as possibilidades do real, ela passa a ser avaliada de acordo com a autenticidade da
sua proposta e com sua capacidade de falar ao sentimento.

O problema do belo e do feio é deslocado do assunto para o modo de representação. E só haverá


obras feias se forem malfeitas, isto é, se não corresponderem plenamente à sua proposta. Em outras
palavras, quando houver uma obra feia, nesse último sentido, não haverá uma obra de arte.

O gosto

A questão do gosto não pode ser encarada como uma preferência arbitrária e imperiosa da nossa
subjetividade. Quando o gosto é assim entendido, nosso julgamento estético decide o que preferimos
em função do que somos. E não há margem para melhoria, aprendizado, educação da sensibilidade,
para crescimento, enfim. Isso porque esse tipo de subjetividade refere-se mais a si mesma do que ao
mundo dentro do qual ela se forma.

Se quisermos educar o nosso gosto frente a um objeto estético, a subjetividade precisa estar mais
interessada em conhecer do que em preferir. Para isso, ela deve entregar-se às particularidades de
cada objeto.

Nesse sentido, ter gosto é ter capacidade de julgamento sem preconceitos. É deixar que cada uma das
obras vá formando o nosso gosto, modificando-o. Se nós nos limitarmos àquelas obras, sejam elas
música, cinema, programas de televisão, quadros, esculturas, edifícios, que já conhecemos e sabemos
que gostamos, jamais nosso gosto será ampliado. É a própria presença da obra de arte que forma o
gosto: torna-nos disponíveis, faz-nos deixar de lado as particularidades da subjetividade para
chegarmos ao universal.

Mikel Dufrenne, filósofo francês contemporâneo, explica esse processo de forma muito feliz, e por isso
vamos citá-lo. Diz que a obra de arte "convida a subjetividade a se constituir como olhar puro, livre
abertura para o objeto, e o conteúdo particular a se pôr a serviço da compreensão em lugar de ofuscá-
la fazendo prevalecer as suas inclinações. À medida que o sujeito exerce a aptidão de se abrir,
desenvolve a aptidão de compreender, de penetrar no mundo aberto pela obra. Gosto é, finalmente,
comunicação com a obra para além de todo saber e de toda técnica. O poder de fazer justiça ao objeto
estético é a via da universalidade do julgamento do gosto".

Assim, a educação do gosto se dá dentro da experiência estética, que é a experiência da presença


tanto do objeto estético como do sujeito que o percebe. Ela se dá no momento em que, em vez de
impor os meus padrões à obra, deixo que essa mesma obra se mostre a partir de suas regras internas,
de sua configuração única. Em outras palavras, no momento em que entro no mundo da obra, jogo o
seu jogo de acordo com suas regras e vou deixando aparecer alguns de seus muitos sentidos.

Isso não quer dizer que vá ser sempre fácil. Precisamos começar com obras que nos estejam mais
próximas, no sentido de serem mais fáceis de aceitar. E dar um passo de cada vez. O importante é
não parar no meio do caminho, pois o universo da arte é muito rico e muito enriquecedor. Através dele,
descobrimos o que o mundo pode ser e, também, o que nós podemos ser e conhecer. Vale a pena.

Concluindo tudo isso que acabamos de discutir: os conceitos de beleza e feiú ra, os problemas do
gosto e a recepção estética constituem o território desse ramo da filosofia denominado estética.

EXERCÍCIOS

1. Compare o padrão de beleza feminina e masculina na Grécia, na Idade Média e no Renascimento,


através de esculturas e pinturas. Quais as alterações encontradas?

2. Compare os padrões de beleza de grupos étnicos diferentes, levantando seus valores. Esses
padrões são mostrados e respeitados em sua diversidade na nossa sociedade?

3. Levante o padrão de beleza divulgado pela TV. Ele está de acordo com a composição da nossa
população?

4. Qual o papel que a TV e a publicidade desempenham na formação do nosso gosto, no que diz
respeito ao padrão de beleza humana?

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