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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª COMARCA DE

SANTOS

Processo n. XXXX-XX

FELIPE PINHARES, empresário, solteiro, natural de Campinas, residente à Rua XXXX,


portador de RG XXXXXXXX, por seu advogado que abaixo subscreve, vem respeitosamente
à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos art. 95, II, do art. 74, §2º, do CPP, opor

EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA

Pelos fatos e razões de direito a seguir expostos:

I - DOS FATOS
O ora peticionário foi preso em flagrante após ter supostamente importado, sem os
devidos registros e trâmites burocráticos, 10 (dez) automóveis usados e, em seguida, os
registrado perante autoridade competente, utilizando-se de documentação falsa.

Foi decretada a prisão preventiva do acusado, bem como oferecida denúncia pelo
Ministério Público pela prática dos delitos de contrabando e falsificação de documento
público.

O processo atualmente tramita perante a 2ª Vara Criminal da Comarca de Santos/SP,


no qual o juiz comum determinou a citação para que fosse apresentada resposta à acusação no
prazo legal.

II - DO DIREITO

O foro geral ou comum, para o julgamento de todas as infrações em que não subsista
situações especiais, é, nos termos do art. 70 do CPP, o do local em que se reputa consumado
o delito ou, no caso da tentativa, o do lugar onde se deu por praticado o último ato da
execução.

Com efeito, a escolha do lugar da consumação foi realizada pelo legislador por duas
principais razões, quais sejam, uma de ordem funcional, porque é no local do resultado que,
nos crimes materiais, permanecem os vestígios, facilitando a colheita de provas; e uma de
ordem social, vez que é no local do resultado que ocorre, predominantemente, o strepitus
delicti e o desequilíbrio social decorrente da infração, devendo, daí, dar-se a reação social
consistente na repressão penal.

O conceito de consumação é tecnicamente definido no art. 14, I, do CP, em que se


entende estar consumado o delito quando se reúnem todos os elementos de sua definição
legal. Assim, via de regra, o local de consumação é aquele em que se esgotou a atividade
criminosa do agente, atingindo, ainda que parcialmente, o bem jurídico tutelado pela
descrição típica.

Ensinam os tratadistas de direito penal que o crime de contrabando, previsto no art.


334 do CP, consuma-se com a entrada ou saída da mercadoria proibida do território nacional.
Nada obstante, por questões de ordem prática, para esse crime, considera-se
competente o juízo da apreensão de bens, vide Súmula 151 do STJ, que assim dita: "A
competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-
se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens".

Tanto assim o é que firma-se o entendimento em jurisprudência:

CRIME ANTECEDENTE AO DE LAVAGEM DE DINHEIRO CUJO


PROCESSO E JULGAMENTO COMPETIRIA À JUSTIÇA
ESTADUAL. RECURSOS FINANCEIROS OBTIDOS COM O
DELITO DE CONTRABANDO. ALEGAÇÃO IMPROCEDENTE.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA PROCESSAR
E JULGAR O ILÍCITO PREVISTO NO ARTIGO 334 DO
CÓDIGO PENAL E AS INFRAÇÕES A ELE CONEXAS. 1. Ao
contrário do que sustentado na irresignação, a fixação da
competência da Justiça Federal decorre do contrabando de
máquinas fabricadas no exterior e de importação vedada pelo
ordenamento jurídico. 2. Assim, sendo o contrabando o crime
antecedente à lavagem de dinheiro, inviável o reconhecimento da
competência da Justiça Estadual para processar e julgar o recorrente.
(RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 39.468 - RJ (2013/0227083-
3) RELATOR: MINISTRO JORGE MUSSI) (destacamos)

Dessa feita, haja vista a imaginária ocorrência dos crimes de contrabando e


falsificação de documento público, faz-se evidente o interesse da União no processamento e
julgamento dos delitos supostamente cometidos, conforme supracitado, fazendo com que a
ação penal deva ser julgada pelo Juízo Federal.

Ainda, em razão da matéria, de cunho federal, a competência aqui discutida


configura-se absoluta, de maneira que não admite prorrogação e pode ser arguida a qualquer
momento processual, sob pena de nulidade, em conformidade com os arts. 69, III, e 564, I,
ambos do CPP.
III - DO PEDIDO

Diante do exposto, requer à Vossa Excelência:

(i) A abertura de vista ao Ministério Público, para que se manifeste;

(ii) A declaração da incompetência deste juízo, sob os fundamentos supramencionados;

(iii) A remessa dos autos ao juízo competente.

Nestes termos,

Pede deferimento.

São Paulo, 07 de abril de 2020

Advogado (a)
OAB n. XX/SP

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